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ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 23 - Edição: 6/02/2009 - Impresso: 5/02/2009 — 22: 15 h

Sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

ECONOMIA

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ABALO GLOBAL

Custo de crédito pode variar mais de cem vezes BC divulga ranking de juros cobrados por instituições financeiras. Taxa de crédito pessoal vai de 13% a 1.418% ao ano Editoria de Arte

Eduardo Rodrigues e Ronaldo D’Ercole ● BRASÍLIA, SÃO PAULO e SÃO SALVADOR DO TOCANTINS (TO). Uma

mesma modalidade de crédito pode ter custo anual para o consumidor cem vezes maior em um banco do que no seu concorrente. É o que mostra o ranking simplificado com a comparação dos juros cobrados nas principais modalidades de crédito que o Banco Central (BC) destaca em sua página na internet desde ontem. O caso do crédito pessoal, que pode sair mais caro que o cheque especial, é exemplar. Enquanto a financeira Crefisa, em média, cobra 1.418% ao ano (25,44% ao mês) para o empréstimo, o banco Société Générale cobra 13% ao ano, em média, (1,02% ao mês). O Société só oferece este empréstimo a funcionários, mas, mesmo considerando o próximo no ranking, a diferença seria enorme. A financeira Barigüi tem a segunda menor taxa, com 22,3% ao ano (1,69% ao mês). Os juros da Crefisa, portanto, são 63 vezes maiores. Instituições menores tendem a cobrar taxas mais altas O ranking do BC leva em conta taxas cobradas entre 19 e 23 de janeiro e pode ser consultado no endereço eletrônico (www.bcb.gov.br), logo na capa, na seção “Destaques”. Pelo levantamento, que apresenta tabelas para cheque especial, crédito pessoal, aquisição de veículos e aquisição de bens, de forma geral, financeiras e instituições de menor porte — aquelas que não são reconhecidas como bancões de varejo — têm as taxas mais elevadas. Na comparação entre instituições financeiras públicas e privadas, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal levam

Quanto os grandes bancos cobram (taxa média ao mês) Cheque especial

35 instituições pesquisadas HSBC

Crédito pessoal

50 instituições pesquisadas

52 instituições pesquisadas

Bradesco

Unibanco

Santander

5,97% Itaú HSBC

Real ABN Amro

Santander 8,77%

Itaú

Banco do Brasil 8,04% Caixa 6,78%

Bradesco

HSBC

Itaú 3,44%

Banco do Brasil 2,03%

Real ABN Amro 3,31%

Real ABN Amro 3,99%

Santander 1,97%

Banco do Brasil 2,73%

Banco do Brasil 2,80%

Itaú 1,92%

Unibanco 2,71%

4,26%

Caixa 2,60%

Em um sinal de retorno de estrangeiros à Bolsa, as ações ordinárias (ON) da Vale subiram 4,35%, e as preferenciais (PN), 4,33%. A empresa vem sendo beneficiada por expectativas positivas sobre a renegociação dos preços do minério de ferro com a China. A Petrobras comunicou ter emitido títulos no mercado internacional no valor de US$ 1,5 bilhão, com prazo de dez anos. A taxa foi de 8,125%. A captação influenciou no câmbio. — Ela servirá de referência para várias empresas que querem captar lá fora. Existe uma expectativa de entrada de dólares no Brasil — disse Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez. Ontem, o Banco Central informou que, em janeiro, os saques da poupança superaram os depósitos em R$ 486,630 milhões. Foi a maior perda desde abril de 2008, quando houve perda líquida de R$ 1,84 bilhão, e o primeiro déficit desde outubro (em que a perda foi de R$ 411,9 milhões).

Caixa 1,92% Fonte: Banco Central

vantagem sobre os bancos privados nas quatro modalidades. Transpondo os juros para um financiamento real, é possível ter uma noção melhor da diferença. Tomando-se a taxa mais alta para aquisição de bens entre as 52 apuradas pelo BC — da financeira Itaucred, de 11,15% ao mês — um refrigerador de R$ 900, parcelado em 24 meses, sairia a R$ 1.736,70. O mesmo produto, com os juros mais baixos do ranking — de 1,01% ao mês, do banco Ourinvest — , sairia a R$ 1.029,36. — Chega a ser um absurdo. Não há nada que justifique determinados valores de juros. O ranking, neste sentido, é importante para estimular a competição entre as instituições — afirmou o diretor de Economia

da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Frank Storser. Ele lembra, porém, que os juros cobrados pelas instituições em cada modalidade variam de acordo com o valor do crédito e o perfil de risco dos clientes. O ranking usa como parâmetro a taxa média mensal cobrada por cada instituição. Lula volta a defender ações para reduzir ‘spreads’ Para o diretor de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, Carlos Alberto dos Santos, o acesso facilitado aos dados permitirá também às empresas tomadoras de crédito — especialmente as pequenas — melhores condições de nego-

ciação com os bancos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem ações para reduzir os spreads(diferença o custo de captação e quanto o banco cobra ao tomador) e os juros bancários, mas afirmou que o governo agirá com responsabilidade: — Não haverá um gesto de irresponsabilidade da parte do governo, porque sabemos como foi difícil chegar até aqui. Não vou tomar nenhuma atitude que seja insana e que possa jogar fora o patrimônio de credibilidade que construímos. O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fábio Barbosa, elogiou a iniciativa do BC. — É superimportante que se dê visibilidade (às taxas) para

Empresas podem ter até US$ 36 bi Montante é quanto o BC pode usar para emprestar a companhias com dívidas no exterior Valter Campanato/ABr/19-1-2009

Gustavo Paul ● BRASÍLIA. O governo poderá usar até US$ 36 bilhões das reservas internacionais para financiar a quitação de dívidas de empresas brasileiras no exterior. A expectativa do Banco Central, porém, de acordo com seu presidente, Henrique Meirelles, é que a demanda seja de cerca de US$ 20 bilhões. A medida, anunciada em dezembro e formalizada na quarta-feira por uma circular, beneficiará cerca de quatro mil companhias que têm dívidas lá fora registradas no BC vencidas e ainda a vencer entre 1 o- de outubro de 2008 e 31 de dezembro de 2009. As empresas poderão usar parte dos recursos para capital de giro e investimento. As grandes exportadoras nacionais, como Petrobras e Vale, deverão ser as maiores beneficiadas. As reservas brasileiras somavam ontem US$ 200 bilhões, depois de atingirem o pico de US$ 208 bilhões em 2008. Com o objetivo de restaurar as linhas de crédito em moeda estrangeira para empresas brasileiras — que viram a fonte secar depois do agravamento da crise, em setembro —, a medida também deve aumentar a oferta de recursos bancários no Brasil. Nos últimos meses, sem finan-

3,48%

2,06%

Unibanco

8,38%

4,45%

2,21%

4,59%

8,58% Unibanco

5,95%

2,50%

4,92%

● RIO e BRASÍLIA. A melhora do humor no mercado internacional trouxe a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) de volta aos 41 mil pontos. O Ibovespa, seu principal índice, subiu 2,44%. O dólar caiu 0,87%, para R$ 2,288.

HSBC

4,98%

9,1% Bradesco

2,72% Bradesco

9,90% Real ABN Amro

Aquisição de bens

97 instituições pesquisadas

10,02% Santander

Aquisição de veículos

Bolsa sobe 2,44% e dólar cai a R$ 2,28

MEIRELLES: “É uma boa aplicação. Esse é o uso perfeito das reservas”

ciamento externo, as empresas recorreram ao mercado nacional, reduzindo a oferta interna. Por isso, parte dos recursos poderá ser utilizada como capital de giro ou para novos investimentos pelas companhias que conseguirem, na hora da quitação, condições mais vantajosas, como alongamento de prazo para uma parcela do endividamento. — A expectativa é que a empresa consiga rolar uma parte dessa dívida. Com essa operação, vamos normalizando a oferta de crédito — disse Meirelles. A liberação dos valores será feita em datas estabelecidas pre-

viamente pelo BC. As três primeiras serão 27 de fevereiro, 13 de março e 27 de março. As próximas serão mensais, podendo ocorrer até duas vezes ao mês, segundo a demanda. Segundo Meirelles, a medida não afetará o volume das reservas internacionais, que estão entre as principais responsáveis pela atenuação dos efeitos da crise no Brasil. A taxa cobrada pelo BC ao banco será a Taxa Libor (baseada em empréstimos interbancários na Europa, hoje em torno de 2% ao ano) mais 1,5% ao ano. A garantia do crédito é o contrato que o banco comercial faz com

a empresa, ou seja, o BC não irá cobrar diretamente das empresas o volume emprestado. — É uma boa aplicação, uma vez que a taxa é melhor que a média de remuneração das reservas. Esse é o uso perfeito das reservas, que é feita para isso. Bancos sem operação no país serão incluídos em 40 dias As empresas beneficiadas devem ser constituídas no Brasil, sem restrição se a origem do capital for estrangeira, o que permite a inclusão de multinacionais. A princípio, também serão autorizados a operar apenas os bancos que atuam no mercado de câmbio com sede no país, o que não exclui instituições financeiras estrangeiras. Segundo o presidente do BC, em no máximo 40 dias será dada autorização para que bancos sem operações no Brasil possam intermediar os empréstimos. O objetivo é aumentar a competição bancária e reduzir os spreads (diferença entre o custo do empréstimo para o banco e o quanto ele cobra do tomador final). A condição será que estes bancos tenham rating a partir de A (sem risco) e que a legislação do país de origem permita que o valor emprestado seja devolvido à autoridade monetária em caso de falência. ■

que as pessoas façam a escolha que melhor lhes convier. Em seu primeiro balanço incorporando o banco Real, o Santander anunciou ontem que encerrou 2008 com lucro líquido de R$ 2,8 bilhões, valor 3,7% maior que a soma dos resultados das duas instituições em 2007. Terceiro maior banco privado do mercado brasileiro, o Santander contabilizava ativos totais de R$ 315 bilhões no final de dezembro, com patrimônio líquido de R$ 23,5 bilhões. ■ COLABOROU: Luiza Damé, enviada especial

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a íntegra das tabelas de a Confira juros oglobo.com.br/economia

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Madoff: lista de vítimas de fraude é divulgada

Relação contém milhares de nomes, de celebridades a fundos de caridade e pensão ● NOVA YORK. Os nomes de milhares de supostos clientes vítimas do gestor de fundos Bernard Madoff foram revelados quarta-feira, numa lista que inclui de atores e esportistas famosos a fundos de pensão e caridade. A relação traz ainda Ira Lee Sorkin, um dos advogados que está defendendo Madoff das acusações de fraude, num esquema de pirâmide, cujo prejuízo total pode chegar a US$ 50 bilhões. O documento de 162 páginas, apresentado ao Tribunal de Falências de Manhattan, não revela valores. O fundo Fairfield, onde há dinheiro de muitos investidores brasileiros, aparece várias vezes na lista. Individualmente, há o nome de uma residente do Brasil, moradora de Mendes. Alguns nomes de celebridades estão na lista, como o apresentador da CNN Larry King; Fred Wilpon, dono do time de beisebol Mets, e o astro do beisebol Sandy Koufax. Larry Silverstein, incorporador que construiu o World Trade Center, também fazem parte das celebridades da lista. Entre milhares de outros nomes estão o do senador americano Frank Lautenberg e dois filhos de Madoff, Mark e Andrew, além de seu irmão, Peter. Apesar de ter sido

apontado como uma das vítimas da fraude, o ator Kevin Bacon não aparece na lista. O documento foi divulgado na ação que faz parte da liquidação da Madoff Investment Securities, firma do acusado, que será administrada por um interventor apontado pela Justiça para tentar recuperar ativos para pagar as vítimas do gestor de fundos. Advogado de Madoff também aparece na lista Ao todo, cinco listas foram apresentadas ao Tribunal com as indicações: clientes, vendedores, empregados, corretores e outros. A lista de clientes contém nomes e endereços de indivíduos e instituições. Não há referência a valores na relação. A lista foi feita pela firma AlixPartners, que assessora o interventor da firma de Madoff. Sorkin não revelou se investiu com seu cliente: — Disseram que há uma lista de clientes e outra de e-mail. Então é preciso ver se esses indivíduos são clientes ou simplesmente recebiam e-mails. ■

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Veja a lista completa dos clientes de Madoff oglobo.com.br/economia


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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 25 - Edição: 13/02/2009 - Impresso: 12/02/2009 — 22: 13 h

Sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

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ABALO GLOBAL

o Lucro da Caixa recuou 8,74% no 4 trimestre

Na linha de frente do governo para estimular o mercado de crédito, banco teve que elevar provisões para eventuais calotes Editoria de Arte

Eduardo Rodrigues BRASÍLIA. Um dos pilares da política do governo para injeção de liquidez no mercado de crédito nacional, a Caixa Econômica Federal viu seu lucro cair 8,74% no quarto trimestre de 2008 em relação ao mesmo período de 2007, para R$ 619,057 milhões, devido ao aumento da reserva de recursos para cobrir eventuais calotes nos financiamentos. O chamado provisionamento para créditos duvidosos triplicou, de R$ 413,663 milhões para R$ 1,260 bilhão. No ano fechado, porém, o lucro de R$ 3,883 bilhões foi 62,3% maior do que o de 2007 (R$ 2,392 bilhões), puxado pela alta de 43,3% do volume de empréstimos concedidos. A decisão de reforçar o caixa contra possíveis calotes foi tomada em outubro, quando começou a atuação agressiva dos bancos públicos diante da estiagem de crédito no mercado. O provisionamento adicional definido foi de R$ 635 milhões — ou seja, a Caixa praticamente dobrou a proteção que pretendia fazer inicialmente no trimestre. O vice-presidente de Controle e Risco da Caixa, Marcos Vasconcelos, disse que a medida foi tomada na esteira das incertezas causadas pela crise mundial e representou uma queda de R$ 360 milhões no lucro do banco no último trimestre do ano. Indagada se o aumento do provisionamento não significa que a Caixa está relaxando nos critérios de empréstimo para sustentar o desejo do governo, a presidente da instituição, Maria

O resultado da instituição 4º TRIMESTRE/2007

TOTAL 2008 Resultado com intermediação financeira

R$ 11,285 bilhões

Receita com prestação de serviços

R$ 7,366 bilhões

Resultado operacional

R$ 2,992 bilhões

Lucro líquido

R$ 3,883 bilhões

Lula e CNI se queixam de banco público

4º TRIMESTRE/2008 R$ 1,545 bilhão R$ 2,199 bilhões

Martha Beck, Eliane Oliveira e Gustavo Paul

R$ 1,757 bilhão R$ 1,847 bilhão

BRASÍLIA. Os bancos públicos, apesar da agressividade dos últimos meses para elevar o volume de crédito no país, ainda despertam críticas do setor privado e do Executivo. Ontem, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, afirmou que as empresas estão com dificuldade para obter recursos do BNDES para capital de giro. O presidente Lula também anda insatisfeito com o desempenho das instituições. Segundo um ministro, Lula estaria aborrecido com o fato de pequenos e microempresários continuarem alijados dos recursos oficiais. Em conversas reservadas, comentou que considera insuficientes as reduções de juros anunciadas pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil (BB). Ontem, Monteiro também se queixou: — O financiamento direto do BNDES sai rápido, mas é destinado às grandes empresas. As menores têm acesso ao dinheiro via agentes financeiros, que estão mais seletivos — disse Monteiro, após se reunir com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. — A informação que temos sobre essa linha de capital de giro (do BNDES) é que o volume ainda é pequeno. Os bancos públicos rebatem as críticas. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, diz que os desembolsos para infraestrutura vão dobrar até 2010. A Caixa afirma ter “fôlego para ir até o fim do ano”. E o presidente do BB, Antônio Lima Neto, diz que o volume de crédito alcançado em dezembro de 2008 superou a expectativa. Segundo fontes internas, a expectativa é que em 2009 cresça mais 20%. ●

R$ 538,260 milhões R$ 51,907 milhões

CARTEIRA DE CRÉDITO Total Financiamento em habitação Pessoa física Pessoa jurídica Financiamento a saneamento e infraestrutura

R$ 673,175 milhões R$ 619,057 milhões 2007 R$ 55,888 bilhões R$ 32,475 bilhões R$ 11,063 bilhões R$ 8,071 bilhões R$ 3,585 bilhões

-8,74%

2008 R$ 80,062 bilhões R$ 45,075 bilhões R$ 13,747 bilhões R$ 15,107 bilhões R$ 5,445 bilhões

A CAIXA EM NÚMEROS (fim de 2008) Clientes Empregados Agências Ativos próprios

46,9 milhões 78.175 2.544 R$ 641,653 bilhões Fonte: Caixa Econômica Federal

Fernanda Coelho, respondeu: — O lucro não é o mais importante. O que importa para a Caixa, como banco público, é a sustentabilidade e a eficiência na capacidade de prestar serviços a cidadãos e empresas, para minimizar os efeitos da crise mundial na economia brasileira. Financiamento para casa própria cresceu quase 40% A reserva extra ocorreu a despeito de os indicadores de inadimplência estarem em queda para quase todos os segmentos. A exceção é o crédito para pessoas físicas, que registrou aumento dos atrasos superiores a

90 dias, passando de 5,4%, do total em julho, para 5,9% em dezembro. No mesmo período, o indicador das empresas caiu um ponto percentual, para 2,2%. Apesar do resultado do último trimestre, a Caixa apresentou expansão significativa em 2008, sobretudo na área de crédito, com ampliação de carteiras e aumento da participação no mercado. O saldo das operações passou de R$ 55,8 bilhões em 2007 para R$ 80,1 bilhões no ano passado. A meta deste ano é crescer 30%, para R$ 105 bilhões. O crédito comercial foi 50% maior em 2008, totalizando R$ 28,854 bilhões, sendo R$ 13,747 bilhões para pessoas físicas, um

aumento de 24,3%. O destaque ficou por conta do aumento do crédito para pessoas jurídicas, que acumulou R$ 15,107 bilhões ao longo do ano, valor 87,2% superior ao de 2007. A expansão da carteira de empresas foi inflada pelo polêmico empréstimo à Petrobras em outubro. Segundo a Caixa, sem a operação, o crescimento em relação a 2007 cairia para 50%. O financiamento para a casa própria cresceu 38,8% em 2008 e atingiu recorde de R$ 45,1 bilhões. Os empréstimos com recursos do FGTS lideraram as contratações, com montante de R$ 11,3 bilhões. O ritmo de expansão do crédito habita-

cional continua em 2009. Em janeiro, foram assinados 45,9 mil contratos, com R$ 1,91 bilhão, valor 155% mais do que em janeiro de 2008. As receitas com tarifas aumentaram 7,3%, para R$ 7,366 bilhões. Segundo a Caixa, a expansão reflete o aumento da base de clientes, que chegou a 46,9 milhões (8,8% de alta). Os ativos totais da Caixa somaram no ano passado R$ 295,9 bilhões, crescimento 14,5% em relação ao ano anterior. ■

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Blog Sociedade Anônima: crise é como fogo na casa oglobo.com.br/economia

Lula quer mais incentivos para classe baixa ‘Este ano é o ano mais delicado, este ano é o ano mais perigoso (da crise)’, diz presidente Eliane Oliveira e Martha Beck e Isabela Martin* BRASÍLIA e ESCADA (PE). Os adiamentos do anúncio do pacote de habitação pelo governo têm sido motivados pela falta de medidas destinadas às famílias com renda até dois salários mínimos, responsáveis por 60% do déficit habitacional, ou seja, 4,7 milhões de moradias que faltam no país. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria ficado insatisfeito com as propostas apresentadas até agora, que contemplam apenas a faixa de dois a dez salários mínimos. Ontem, em discurso no município pernambucano de Escada, onde visitou obras de duplicação da BR-101, Lula afirmou

que 2009 será um ano perigoso para o país por causa da crise. — Este ano é o ano mais delicado, este ano é o ano mais perigoso. (...) Esse primeiro trimestre e o primeiro semestre de 2009 serão o trimestre e o semestre mais delicado de toda essa crise — disse Lula, comparando a economia à uma rodagigante. Se ela para de rodar, prejudica todos, apontando que “se não houver produção e consumo, o governo não arrecada e faltará dinheiro para obras”. No caso da habitação popular, e as propostas que estão sendo avaliadas para atender a essa parte da população, destaca-se a necessidade de o governo federal dobrar os subsídios de R$ 2,5 bilhões atuais

nos próximos dois anos. Isso se o número de famílias no corte mais baixo de renda a serem atendidas corresponder à metade das 500 mil novas moradias que o governo pretende ajudar a construir este ano e das outras 500 mil em 2010. Os recursos viriam do Orçamento da União, tendo em vista o altíssimo risco que o grupo representa para o sistema financeiro. Uso de imóvel público também está emperrado Lula também determinou que seja feito um levantamento de imóveis da União que estão desocupados. No entanto, na visão do presidente do Fórum Nacional de Secretários de Habitação

e Desenvolvimento Urbano, Carlos Marun, trata-se de uma medida burocrática e demorada. Segundo ele, estados e municípios estão dispostos a apoiar o projeto com concessão de terrenos e outras facilidades, mas esperam participação maior do governo federal. Os recursos da União seriam distribuídos da seguinte maneira: R$ 12 mil por unidade em cidades de até 20 mil habitantes e na área rural; R$ 15 mil por unidade a cidades de até 100 mil habitantes; R$ 20 mil a cidades com mais de R$ 100 mil habitantes; e Rio, São Paulo e Brasília contariam com R$ 25 mil por unidade. De acordo com uma fonte que está trabalhando no pacote, o

Com EUA, Bolsa recua 5% na semana Incerteza sobre pacote de bancos preocupa investidores. Dólar cai a R$ 2,288 Sebastião Moreira/EFE

Felipe Frisch* ● RIO e NOVA YORK. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve ontem o quarto dia consecutivo de queda e instabilidade, devido às incertezas sobre o plano do Tesouro americano para o setor financeiro. O Ibovespa, principal índice da Bolsa, chegou a subir 0,58%, mas acabou fechando em baixa de 0,84%, aos 40.500 pontos. Na semana, acumula queda de 5,27%. O dólar acompanhou a falta de direção, recuando 0,09%, a R$ 2,288. O Banco Central (BC) fez o primeiro leilão de rolagem dos contratos de swap cambial (em que paga a variação do dólar e recebe juros) com vencimento em março, tendo vendido 99% dos 51 mil contratos oferecidos, somando US$ 2,5 bilhões. Na Bovespa, os investidores pessoas físicas lideram as vendas de ações em fevereiro, atuando em 17,7% das operações. Já as compras são puxadas pelos estrangeiros, com 18,78% das aquisições no pe-

NERVOSISMO NA BM&F Bovespa: pessoas físicas lideram vendas

ríodo. Em fevereiro, o saldo de investidores estrangeiros na Bolsa está positivo em R$ 2,195 bilhões, com saldo de R$ 1,548 bilhão no ano. Para o chefe de análise da Modal Asset, Eduardo Roche, é cedo para dizer que o investidor externo está montando operações de longo prazo: — Pode ser que alguns queiram aproveitar o giro de curto prazo. Já a pessoa física, menos ágil nas quedas do ano pas-

sado, pode estar aproveitando para colocar algum ganho no bolso, com as altas recentes. Apesar da queda do Ibovespa, as ações do setor de telefonia, consideradas mais defensivas, foram os destaques de alta. Os papéis da Brasil Telecom (BrT) subiram 4,84% e os da Telemar, 4,05%. Roche lembra que o segmento teve fortes quedas no início de ano, com a recuperação de ações como as da Vale

e da Petrobras. O movimento agora se inverteu: o investidor vende os papéis destas duas e compra os das telefônicas. As ações da Cesp também subiram com força, 4,98%, com novos rumores sobre a privatização, motivados por declarações do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, segundo Hersz Ferman, economista da Um Investimentos. Nos EUA, com a votação do pacote de estímulo do governo Barack Obama prevista para hoje, os mercados responderam aos dados econômicos. As vendas no varejo subiram 1% em janeiro, contra expectativa de queda de 0,8% após seis meses de perdas, mas os preços dos imóveis caíram 12,4% no quarto trimestre, devido ao aumento da retomada das casas por inadimplência. O Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, passou o dia em baixa e fechou em queda de 0,09%. Já Nasdaq e S&P subiram, respectivamente, 0,73% e 0,17%. ■ (*) Com agências internacionais

argumento de que não há como reduzir o déficit habitacional sem atender a famílias com renda até dois salários mínimos — cobrindo parte ou totalmente o valor do imóvel com subsídios — vem sendo defendida pelo Ministério das Cidades e tem a simpatia do Palácio do Planalto, mas não da área econômica. Segundo técnicos da Fazenda, o pacote é voltado para geração de empregos, estímulo ao setor da construção civil e aumento do crédito. Para quem ganha até R$ 2 mil, seria preciso um programa social, cujo foco é diferente. A equipe econômica está fazendo os ajustes finais no pacote para anunciá-lo em breve. ■ *Enviada especial a Escada

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RENAULT VAI DEMITIR 9 MIL, na página 27


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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 37 - Edição: 15/02/2009 - Impresso: 14/02/2009 — 00: 50 h

Domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Rumores sugerem troca na cúpula da Receita

Secretária é acusada de desarticular estrutura de arrecadação do órgão, que teria recuado R$ 30 bi em 2008 Martha Beck e Eduardo Rodrigues

BRASÍLIA. A escolha de Lina Vieira para comandar a Receita Federal desencadeou uma rede de intrigas no órgão. A secretária é alvo de boatos e acusações, que têm origem na dança de cadeiras que ela promoveu ao assumir, em julho de 2008. As disputas tomaram grande proporção e já chegaram ao gabinete do ministro da Fazenda, Guido Mantega. A queda de R$ 30 bilhões na arrecadação com fiscalização no ano passado e sua subs-

tituição pelo secretário-executivo da pasta, Nelson Machado, podem ser anunciadas em breve, segundo fontes consultadas pelo GLOBO. Procurada desde terça-feira, a secretária não quis se pronunciar. Nos últimos sete meses, Lina substituiu não apenas adjuntos que trabalhavam com ela, mas também superintendentes de quase todas as regiões fiscais. As mudanças provocaram insatisfação entre boa parte dos auditores. Como a categoria é fortemente sindicalizada, trocas de comando normalmente resul-

tam na indicação de funcionários do mesmo grupo político para cargos importantes. O problema é que a turma de Lina vem sendo acusada por opositores de escolher nomes com base em interesses sindicais e desmontar uma estrutura eficiente, criada por Everardo Maciel e continuada por Jorge Rachid, que o sucedeu. Greve de auditores também teria afetado arrecadação Funcionários graduados do Fisco afirmam, por exemplo, que a estratégia de fiscalização — que deveria ter sido concluída

— A fiscalização está desarticulada — afirma o técnico da Receita. Lina chegou ao comando da Receita por indicação do secretário-executivo Nelson Machado, que tem tido influência cada vez mais direta no órgão. Tanto que os indicados para ocupar cargos de chefia são entrevistados hoje não apenas por Lina, mas também por Machado. — Quem manda na Receita hoje é o Nelson Machado. Isso é muito claro — afirma um funcionário graduado. A força de Machado é tal que

em outubro — ainda não ficou pronta, o que sinaliza para os contribuintes que o combate à sonegação está enfraquecido. Uma prova disso seria o fato de que, no ano passado, a Receita registrou uma queda de mais de R$ 30 bilhões nas autuações feitas a pessoas físicas e jurídicas por sonegação fiscal. Em 2007, as autuações somaram R$ 108 bilhões. Segundo um técnico, a redução dos resultados de 2008 se deve à greve dos auditores ocorrida no primeiro semestre, mas também à falta de eficiência na segunda metade do ano.

são cada vez mais fortes os rumores de que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve efetivá-lo no comando da Receita em abril ou maio. A avaliação no ministério é de que Lina pode não ter sido uma boa escolha. A preocupação com um eventual desequilíbrio na Receita já chegou ao Congresso Nacional. Segundo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), o processo de sindicalização do Fisco é perigoso: — Corre-se o risco de desarticulação de um órgão que hoje funciona muito bem. ■

Reestruturação gerou polêmica internamente www.casasbahia.com.br

Processo de seleção cria constrangimento e acaba cancelado BRASÍLIA. Um dos principais pontos de discórdia hoje na Receita Federal é o processo de reestruturação do órgão, que administrou quase R$ 700 bilhões em tributos em 2008. Segundo técnicos, a desorganização do Leão chega ao ponto de ainda não haver um regimento interno. Ao assumir, Lina trocou nomes de cargos e subdividiu coordenações. Vários auditores já foram nomeados, mas ainda não têm uma atribuição definida. — Tem gente que chega para trabalhar sem saber o que tem que fazer — acusa um funcionário. Para minimizar o descontentamento dos grupos rivais no Unafisco (sindicato da categoria), Lina propôs aos auditores um novo plano para a indicação a cargos de chefia. Ele se subdivide em diversas etapas para chegar ao final numa lista de cinco nomes. Um deles, então, seria escolhido para a função pela secretária. No dia 10 de fevereiro, Lina publicou uma portaria afastando delegados e inspetores de uma série de cidades, afirmando que os cargos estavam vagos e entrariam no novo processo de seleção, o que deve levar 90 dias. Entre os locais em que isso ocorreu estão Niterói, Manaus, Fortaleza e Cuiabá. — Essas delegacias ficarão sem comando durante três meses — disse um técnico.

Visita ao Paraguai foi criticada A secretária teria considerado submeter ao processo de seleção até mesmo os nomes indicados para o cargo de adido tributário. Jorge Rachid, por exemplo, foi indicado por Mantega para a função em Washington. No entanto, o ex-comandante do Fisco teria sido informado de que seria obrigado a participar de processo seletivo. Além da avaliação dos currículos dos candidatos, a seleção também exigiria proficiência em idiomas, o que acabaria com as chances de Rachid, que não é fluente em inglês. A decisão de submeter os indicados à seleção constrangeu os candidatos e desagradou Mantega. O processo acabou cancelado na semana passada, antes mesmo da publicação da portaria na intranet da Receita. Segundo um auditor, a indicação de Rachid foi política, e não técnica. Porém, por ter comandado o Fisco por muito tempo, ele estaria preparado para assumir o posto. A nomeação oficial ainda deve demorar, pois a atual adida tributária nos EUA fica no cargo até junho. O estilo de Lina também não ajuda. Embora evite dar entrevistas, a secretária já foi questionada por ter ido ao Paraguai quando visitou Foz do Iguaçu para um evento da Ponte da Amizade no fim de 2008. A defesa de Lina veio da própria delegacia de Foz, que informou que “nenhum cidadão é impedido de ir ao outro lado da fronteira desde que declare seus bens e não compre mercadorias ilegais”. (Martha Beck e Eduardo Rodrigues) ■

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O GLOBO

30

ECONOMIA

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PÁGINA 30 - Edição: 19/02/2009 - Impresso: 18/02/2009 — 21: 57 h

ECONOMIA

Quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O GLOBO

.

BC impõe condições para fusão Itaú Unibanco Tarifas devem ser unificadas pelo menor valor e não podem subir por um ano. Depois, têm que ficar abaixo da média Eduardo Rodrigues BRASÍLIA. O Banco Central aprovou ontem a fusão entre o Itaú e o Unibanco, negócio anunciado no dia 3 de novembro que cria o maior banco do país e da América Latina. Mas condicionou seu aval ao compromisso de que a nova instituição compartilhe os ganhos operacionais com a sociedade. Por isso, o BC “enquadrou” a política de tarifas do conglomerado e instituiu compromissos a serem honrados pelo grupo. O principal deles é a obrigatoriedade de unificação das tarifas pelo menor

valor cobrado hoje nas duas instituições, tanto no caso de pessoas físicas quanto no das jurídicas. A unificação dos preços de serviços bancários de Itaú e Unibanco passa a valer a partir do dia 1 o- de março e os valores devem ser mantidos por um ano. A partir de então, nos cinco anos seguintes, qualquer aumento de tarifas só poderá ocorrer se os preços praticados pelo novo grupo estiverem abaixo da média cobrada pelos cinco maiores bancos em operação no país. A contrapartida foi exigida

porque o BC reconheceu, em sua análise, que é grande “o poder de mercado do novo conglomerado em alguns mercados relevantes de produtos financeiros”, ainda que os diretores tenham concluído que os efeitos não são suficientes para implicar em riscos à concorrência no sistema financeiro nacional. De acordo com o BC, os compromissos assumidos pelo novo banco contribuem para a redução de tarifas bancárias e elevam a eficiência do Sistema Financeiro Nacional. A autoridade monetária afirmou ainda que o negócio é uma “iniciativa

que contribui para a solidez do SFN na atual conjuntura do mercado financeiro internacional”. Decisão do BC beneficia clientes dos dois bancos Para Miguel de Oliveira, vice-presidente da associação que reúne os executivos de finanças (Anefac), a exigência de nivelar por baixo as tarifas traz vantagens para clientes dos dois bancos. Ele lembra que, até então, era usual que em uma fusão fosse adotada a tabela praticada pela maior instituição, no caso o Itaú. — O problema é que algumas

tarifas cobradas pelo Itaú são mais caras, o que prejudicaria quem já possui conta do Unibanco — diz Oliveira, que acredita que a atitude do BC sinaliza que medidas semelhantes devem ser tomadas em relação a novas fusões e aquisições bancárias que ocorram no futuro. Segundo nota conjunta divulgada pelas assessorias dos bancos, a nova instituição tem o compromisso de se tornar “um parceiro vital para o desenvolvimento das empresas, tanto no Brasil quanto no exterior”. “Vemos enormes possibilidades de melhorar ainda mais a

posição relativa do país no cenário global. Consideramos de vital importância que se faça, nessa etapa de crescimento sustentável do Brasil, movimentos de fortalecimento das empresas, como este, ampliando continuamente nossa capacidade competitiva”, afirma na nota Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco. Segundo Itaú e Unibanco, o novo banco — cujos ativos totalizam mais de R$ 575 bilhões — tem 4,8 mil agências e postos de atendimento e 14,5 milhões de clientes de conta corrente, o que equivale a 18% do mercado. ■

ABALO GLOBAL

Anfavea: 115 mil carros a menos nos pátios

Devolução de cheques cresceu Estoque cai, entidade espera recuperar vendas, mas oferta só deve se normalizar em março 20% em janeiro Bruno Villas Bôas

● Os estoques de automóveis nos pátios das montadoras e concessionárias começam a se regularizar este mês, após férias coletivas de milhares de trabalhadores entre dezembro e janeiro, e a recuperação das vendas neste início de ano. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, os pátios estão atualmente com cerca de 190 mil veículos estocados, 115 mil a menos que as 305 mil unidades de novembro de 2008, quando a escassez de crédito provocou uma brusca queda nas vendas de automóveis no país. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) no fim do ano passado foi decisiva para baixar os estoques. A medida dura até 31 de março. Segundo Schneider, a venda média diária de carros, que recuara de 12 mil veículos para 6,6 mil entre setembro e dezembro do ano passado, está atualmente em dez mil unidades. Schneider acrescentou que as montadoras devem regularizar o suprimento de automóveis ao mercado a partir de março, quando as filas por alguns modelos devem terminar. Para ele, não houve um ajuste excessivo na produção pelos fabricantes: — As filas são para modelos e cores específicas. Existem 450 modelos de automóveis no país, cada um com três mil peças. É natural que, após férias coletivas, montadoras e fabricantes de peças precisem de um tempo para retomar a oferta.

Embarques de carros ainda demoram para retomar O presidente da Anfavea evitou comentar ontem os planos de recuperação da General Motors (GM) e Chrysler — que preveem 50 mil demissões e a necessidade de US$ 21,6 bilhões em financiamento. Ele disse, no entanto, que serão necessários ajustes “mundo afora” diante da retração nas vendas. Neste ano, serão vendidos no mundo 20 milhões de carros a menos que em 2007, disse Schneider, sendo os Estados Unidos responsáveis por sete milhões dessa queda: — Temos mercados encolhendo e aumento na ociosidade das montadoras. Isso significa que teremos uma disputa muito mais acirrada nos mercados internacionais. Em janeiro, ante o mesmo mês de 2008, as vendas de automóveis encolheram nos EUA (36,8%), Japão (-19,9%), Alemanha (-18,8%), França (-10,8%), Itália (-32,6%), México (-28%) e Argentina (-38,9%). O único em crescimento é o chinês, com alta de 2,5% em janeiro, mostra levantamento da Anfavea. ■

Estudo da Serasa atribui aumento à crise do crédito

Gabriel de Paiva

O crédito para compra de carros novos também dá sinais de recuperação, embora a oferta de financiamento seja menor que antes da piora da crise, em meados de setembro. Dados da Anfavea mostram que 60% dos carros novos vendidos em janeiro foram negociados a prazo. Em novembro de 2008, quando o aperto do crédito era maior, essas vendas eram de 54% do total, abaixo dos 65% do período anterior à crise.

JACKSON SCHNEIDER, presidente da Anfavea: montadoras não exageraram no ajuste e oferta se regulariza em março

GM: lucro na Europa só em 2011 Analista avalia que concordata é melhor opção para a montadora pleiteia mais US$ 16,6 bilhões e afirma que poderá demitir mais 47 mil empregados. Alguns analistas de Wall Street ficaram decepcionados com as propostas de reestruturação da montadora e de sua rival Chrysler, que pleiteia uma injeção de US$ 5 bilhões. A principal crítica é a falta de concessões por parte dos sindicatos e acionistas. David Leiker, analista da Robert W. Baird, vê a concordata como a melhor opção para uma reorganização. — Apesar de dolorosa a curto prazo, continuamos a acreditar que os desafios para reestruturar GM e Chrysler são complicados demais para serem enfrentados fora de uma concordata — afirmou.

● FRANKFURT e DETROIT. A projeção da General Motors (GM) é que seus negócios na Europa só voltarão a apresentar lucro em 2011, após uma redução de US$ 1,2 bilhão nos custos de suas operações, o que poderá incluir fechamento de fábricas e demissões. As informações constam do plano de reestruturação entregue pela empresa ao governo americano na terça-feira. De acordo com o documento, o principal problema para os negócios na Europa é a falta de liquidez a curto prazo. Para driblar essa dificuldade, a GM mantém conversas com os governos alemão e sueco sobre um possível auxílio estatal para suas marcas Opel e Saab. No plano entregue à Casa Branca, a GM .

INDICADORES ÍNDICES SETEMBRO

OUTUBRO

NOVEMBRO

DEZEMBRO

JANEIRO

FEVEREIRO

-11,02%

-24,80%

-1,77%

+2,60%

+ 4,66%

N.D.

R$ 415

R$ 415

R$ 415

R$ 415

R$ 415

R$ 465

R$ 470,34

R$ 470,34

R$ 470,34

R$ 470,34

R$ 512,67

R$ 512,67

Salário mínimo (Federal) Salário mínimo (RJ)

TR 15/02: 0,0667%

IMPOSTO DE RENDA 16/02: 0,0653%

IR na fonte • Fevereiro/2009

17/02: 0,0553%

Selic: 12,75%

Base cálculo

Alíquota

Parcela a deduzir

Correção da Poupança

R$ 1.434,59

Isento

De R$ 1.434,59 a R$ 2.150,00

7,5%

R$ 107,59

De R$ 2.150,01 a R$ 2.866,70

15%

R$ 268,84

De R$ 2.866,71 a R$ 3.582,00

22,5%

R$ 483,84

Acima de R$ 3.582,00

27,5%

R$ 662,94

Dia

13/02 14/02 15/02 16/02 17/02 18/02 19/02 20/02 21/02 22/02 23/02 24/02 25/03 26/02 27/02 28/02 01/03 02/03 03/03 04/03

Índice Dia

0,7355% 0,7558% 0,7086% 0,6927% 0,6823% 0,7101% 0,7367% 0,7285% 0,7136% 0,6776% 0,6411% 0,6076% 0,6076% 0,6442% 0,6660% 0,6697% 0,5453% 0,5505% 0,5622% 0,5585%

05/03 06/03 07/03 08/03 09/03 10/03 11/03 12/03 13/03 14/03 15/03 16/03 17/03

Índice

0,5371% 0,5370% 0,5407% 0,5407% 0,5444% 0,5714% 0,5641% 0,5672% 0,5585% 0,5670% 0,5670% 0,5656% 0,5556%

Obs: Segundo norma do Banco Central, os rendimentos dos dias 29, 30 e 31 correspondem o ao dia 1 - do mês subseqüente.

Deduções: a) R$ 144,20 por dependente; b) dedução especial para aposentados, pensionistas e transferidos para a reserva remunerada com 65 anos ou mais: R$ 1.434,59; c) contribuição mensal à Previdência Social; d) pensão alimentícia paga devido a acordo ou sentença judicial. • Obs: Para calcular o imposto a pagar, aplique a alíquota e deduza a parcela correspondente à faixa. • Esta nova tabela só vale para o recolhimento do IRRF este ano. Correção da oitava parcela: 7,21% Fonte: Secretaria da Receita Federal

Salário de contribuição (R$)

Alíquota (%)

Até 911,70 de 911,71 até 1.519,50 de 1.519,51 até 3.038,99

8 9 11

Obs: Percentuais incidentes de forma não cumulativa (artigo 22 do regulamento da Organização e do Custeio da Seguridade Social).

Trabalhador autônomo Para o contribuinte individual e facultativo, o valor da contribuição deverá ser de 20% do salário-base, que poderá variar de R$ 465 a R$ 3.038,99

Ufir

Ufir/RJ

Fevereiro R$ 1,0641

Fevereiro R$ 1,9372

Índice (12/93=100)

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro

0,28% 0,26% 0,45% 0,36% 0,28% 0,48%

4,48% 4,76% 5,23% 5,61% 5,90% 0,48%

6,17% 6,25% 6,41% 6,39% 5,90% 5,84%

Índice (08/94=100)

No mês

406,127 406,557 410,524 412,104 411,575 409,782

-0,32% 0,11% 0,98% 0,38% -0,13% -0,44%

Variações percentuais No ano Últ. 12 meses

8,35% 8,47% 9,53% 9,95% 9,81% -0,44%

13,63% 12,31% 12,23% 11,88% 9,81% 8,15%

IGP-DI (FGV) Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro

oglobo.com.br/economia/indicadores

Dólar Variações percentuais No mês No ano Últ. 12 meses

IGP-M (FGV)

Unif Obs: A Unif foi extinta em 1996. Cada Unif vale 25,08 Ufir (também extinta). Para calcular o valor a ser pago, multiplique o número de Unifs por 25,08 e depois pelo último valor da Ufir (R$ 1,0641). (1 Uferj = 44,2655 Ufir-RJ)

2854,13 2861,55 2874,43 2884,78 2892,86 2906,74

O GLOBO NA INTERNET

Veja mais indicadores e números do mercado financeiro

CÂMBIO

IPCA (IBGE)

Trabalhador assalariado

Obs: foi extinta

a

INFLAÇÃO

INSS/Fevereiro

Bovespa

SÃO PAULO. O número de cheques devolvidos a cada mil compensados em janeiro cresceu 20,5%, na comparação com janeiro de 2008, revela o Indicador Serasa Experian de Cheques sem Fundos. Segundo o indicador, no primeiro mês do ano foram devolvidos 22,9 cheques por mil compensados, ao passo que em janeiro de 2008 foram 19 devoluções a cada mil cheques. No mês passado, 2,41 milhões de cheques foram devolvidos por falta de fundos no país, de um total de 104,98 milhões de compensados. Já em janeiro de 2008, foram devolvidos 2,44 milhões de cheques, e compensados 128,38 milhões. Em relação a dezembro de 2008, a inadimplência com cheques aumentou 13,4%. Naquele mês, foram devolvidos 20,2 cheques para cada mil compensados, num total de 2,48 milhões, contra 122,82 milhões de cheques compensados no país. Os técnicos da Serasa afirmam que esse aumento se deve ao choque no crédito no último trimestre de 2008, com a redução de liquidez decorrente do agravamento da crise financeira global. “A menor oferta de crédito levou o varejo a privilegiar o parcelamento com cheque prédatado. Nos estabelecimentos menos organizados financeiramente, o cheque pré-datado não é visto como venda a prazo e é confundido com o cheque à vista, o que amplia o risco das transações”, diz o estudo. ■ ●

Índice (08/94=100)

No mês

399,870 401,327 405,707 405,982 404,185 404,244

-0,38% 0,36% 1,09% 0,07% -0,44% 0,01%

Variações percentuais No ano Últ. 12 meses

7,93% 8,32% 9,51% 9,58% 9,10% 0,01%

12,80% 11,90% 12,29% 11,20% 9,10% 8,05%

Dólar comercial (taxaPtax) Paralelo (São Paulo) Diferença entre paralelo e comercial

Compra R$ 2,3388 2,25 - 3,79%

Venda R$ 2,3396 2,45 4,71%

Dólar-turismo esp. (Banco do Brasil) Dólar-turismo esp. (Bradesco)

2,26 2,23

2,40 2,46

Obs: A cotação Ptax do dólar americano de dias anteriores pode ser consultada no site do Banco Central, www.bc.gov.br. Clicar em “Sala de imprensa” e, posteriormente, em “Séries temporais”.

Outras moedas Cotações para venda ao público (em R$) Euro Franco suíço Iene japonês Libra esterlina Peso argentino Yuan chinês Peso chileno Peso mexicano Dólar canadense

2,94563 1,99525 0,0250542 3,34156 0,666796 0,342374 0,00396444 0,160357 1,85713

Fonte: Mercado

Obs: As cotações de outras moedas estrangeiras podem ser consultadas nos sites www.xe.com/ucc e www.oanda.com.br.

BOLSA DE VALORES: Informações sobre cotações diárias de ações e evolução dos índices Ibovespa e IVBX-2 podem ser obtidas no site da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), www.bovespa.com.br. CDB/CDI/TBF: As taxas de CDB e CDI podem ser consultadas nos sites de Anbid (www.anbid.com.br), Andima (www.andima.com.br) e Cetip (www.cetip.com.br). A Taxa Básica Financeira (TBF) está disponível no site do Banco Central (www.bc.gov.br). É preciso clicar em “Sala de imprensa” e, posteriormente, em “Séries temporais”. FUNDOS DE INVESTIMENTO: Informações disponíveis no site da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), www.anbid.com.br. Clicar, no quadro “Rankings e estatísticas”, em “Fundos de investimento”. IDTR: Pode ser consultado no site da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg), www.fenaseg.org.br. Clicar na barra “Serviços” e, posteriormente, em FAJ-TR. Selecionar o ano e o mês desejados. ÍNDICES DE PREÇOS: Outros indicadores podem ser consultados nos sites da Fundação Getulio Vargas (FGV, www.fgv.br), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, www.ibge.gov.br) e da Andima (www.andima.com.br).


O GLOBO

26

ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 26 - Edição: 21/02/2009 - Impresso: 20/02/2009 — 21: 07 h

ECONOMIA

Sábado, 21 de fevereiro de 2009

O GLOBO

.

ABALO GLOBAL

Investimentos estrangeiros caem à metade Entrada de US$ 1,8 bi em janeiro é a menor desde fevereiro de 2008. Venda de fatia do Citi na Brasil Telecom pesou Eduardo Rodrigues BRASÍLIA. Em janeiro, os desdobramentos da crise financeira internacional afastaram do Brasil os investimentos estrangeiros diretos (IED), que somaram US$ 1,886 bilhão, menos da metade dos US$ 3,824 bilhões do mesmo mês do ano passado. Com o desempenho, o superávit de US$ 465 milhões da conta de capital (registros financeiros, de empréstimos e aplicações) não foi suficiente para cobrir o déficit de US$ 2,75 bilhões em transações correntes (comércio, serviços, remessas e transferências) e, pela quarta vez consecutiva, o balanço de pagamentos brasileiro encerrou o mês com saldo negativo, de US$ 2,23 bilhões. O IED teve o menor resultado desde fevereiro de 2008 e frustrou as expectativas do Banco Central (BC), que previa ingresso total de US$ 2,5 bilhões. A autoridade monetária atribuiu o evento à venda da participação do Citibank na operadora de telefonia Brasil Telecom, no valor de US$ 600 milhões, que foram remetidos à sede do banco nos Estados Unidos. — Os fluxos são bastante positivos, mesmo para um período como esse de crise aguda. É um resultado forte para janeiro, ainda que tenha ficado abaixo da nossa previsão por força de uma operação expressiva no setor de telecomunicações no fim do mês — defendeu o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. O setor de serviços foi o mais afetado pela relutância dos investidores em trazer capital pro-

Conheça os números

O investimento estrangeiro direto

Janeiro/2009

4,826

Serviços 3,913 3,266

Janeiro

Abril

Julho

Sem alardes, o Tribunal Regional Federal da Segunda Região concedeu na última quartafeira habeas corpus para o sócio da Casa&Video Attílio Milone, última das 13 pessoas presas na operação “Negócio da China”, da Polícia Federal (PF), que permanecia atrás das grades. Milone estava preso desde o fim de novembro no presídio especial da Polinter em Neves, São Gonçalo (RJ), acusado de crimes de evasão de divisas, formação de quadrilha, descaminho e lavagem de dinheiro. O habeas corpus foi concedido em segunda instância, com votos dos desembargadores Messod Azulay Neto e Liliane Roriz. Na primeira instância, o pedido fora negado em janeiro pelo juiz

Em US$ 1,350 bilhão

Janeiro/2008

Outubro 2008

1,930

Novembro Dezembro

2,216 bilhões

INDICADORES DE JANEIRO (US$) INDICADORE

Janeiro 2009

Balanç comercial Balança Ba rcial déficit de dé milhões 524 mi 52

Juros Ju déficit de dé 1,347 bilhão 1,34 1, 347 bi

Viagens Vi déficit de dé milhões 251 mi 25

Remessa de lucros Re dividendos e di dividend déficit de 698 milhões dé FONTE: Banco Central FON

dutivo ao país, com redução de 75,3% sobre janeiro de 2008, puxada por quedas nos segmentos financeiros, do comércio e de construção de edifícios. Já a indústria registrou queda de 19,1% no IED, sobretudo para a produção de máquinas, alimentos, itens de madeira e minerais não-metálicos. Por outro lado, montadoras, metalúrgicas e refinarias de biodiesel conseguiram um aumento nos aportes de recursos estrangeiros. Investimento em ações teve saldo negativo Até ontem, o IED em fevereiro acumulava US$ 1,5 bilhão, e a expectativa da autoridade monetária é fechar o mês com US$ 1,8 bilhão, superior a igual pe-

ríodo do ano passado, quando os investimentos totalizaram US$ 890 milhões. Apesar da projeção de mercado estimar em US$ 23 bilhões o volume de recursos para o setor produtivo, o BC trabalha com a previsão de US$ 30 bilhões, inferior aos US$ 45 bilhões registrados em 2008. Os investimentos estrangeiros em ações encerraram janeiro com saída líquida, de US$ 542 milhões. Mas, até ontem, o fluxo em fevereiro estava positivo em US$ 483 milhões. A última vez em que este resultado fechou um mês com superávit foi em maio de 2008 (US$ 1,5 bilhão). No lado das transações correntes, o déficit de US$ 2,8 bilhões recuou frente a janeiro de 2008 (US$ 4 bilhões). O principal

responsável foi o recuo das remessas de lucros e dividendos, indicador que respondeu pela deterioração da conta a partir do fim de 2007. Em janeiro, os envios de multinacionais somaram US$ 698 milhões, contra US$ 3,025 bilhões no primeiro mês de 2008. Este foi o menor volume de remessas desde setembro de 2005 (US$ 644 milhões). Com dólar alto, despesa com viagem cai A balança comercial registrou déficit de US$ 524 milhões no primeiro mês de 2009, e o pagamento de juros consumiu US$ 1,347 bilhão. Apesar do período de férias, com a alta do dólar, as despesas líquidas com viagens internacionais também caíram,

de US$ 380 milhões em janeiro de 2008 para US$ 251 milhões este ano. Houve queda de 23,8% nos gastos de turistas lá fora e de 17,3% nas receitas geradas por estrangeiros em visita ao Brasil. Para o economista Júlio Gomes de Almeida, a queda dos investimentos estrangeiros diretos como consequência da crise não afetará o balanço anual de pagamentos em 2009, pois o déficit em transações correntes deve ser amenizado pela menor remessa de lucros e dividendos das multinacionais para o exterior. O BC prevê um déficit de US$ 25 bilhões em transações correntes em 2009, mas Almeida cogita um valor menor, de US$ 20 bilhões. ■

Montadora aposta em carro de US$ 200 mil para alavancar vendas

da 2 a- Vara Federal Criminal do Rio, Rodolfo Kronemberg. Ele havia se baseado em uma escuta telefônica na qual Milone teria dito: “Nós vamos ter que viajar ou não?”, o que foi entendido como um sinal de que o empresário poderia sair do país. Nélio Machado, um dos advogados de defesa, afirmou que houve erros de avaliação das conversas telefônicas e a frase não teria sido dita por Milone, mas por seu interlocutor. — O importante é que ele está em casa desde quarta-feira e voltou à vida normal. O operação da PF investigou um esquema de importação ilegal de produtos chineses pela rede varejista que, na última terça-feira, entrou em recuperação judicial com dívidas de R$ 300 milhões e mil credores. ■

Bloomberg News

cialmente na Feira de Automóveis de Genecomo uma marca de albra, na Suíça, que será tíssimo luxo, a Rolls-Royrealizada em março ce resolveu se adaptar deste ano. aos novos tempos. Mes“O 200EX é uma exemo com as melhores vencução moderna da eterdas da sua história em na elegância da Rolls2008, como informou o Royce, quebrando algusite CNNMoney, a empremas tradições, mas mansa decidiu lançar um veítendo valores fundamenculo para os não tão ritais que tornam nossa cos: o modelo 200EX, que marca única. Nós espedeve custar em torno de ramos que o design mais US$ 200 mil. O preço — informal e ágil amplie o quase seis vezes o de um apelo do Rolls-Royce, carro comum — pode ser atraindo pessoas que salgado para muitos, mas apreciem a fusão de rese trata de uma verda- LANÇAMENTO: MODELO 200EX da Rolls-Royce chega ao mercado em 2010 finamento, nova tecnolodeira pechincha para uma fabricante de veículos em que o Rolls-Royce, com amplas portas e um gia e estilo contemporâneo”, afirmou, em carro mais barato hoje custa US$ 340 mil. teto panorâmico que permite a entrada comunicado, o diretor-executivo da RollsÉ o caso do Phantom, o único modelo de de luz natural em seu interior. Segundo a Royce, Tom Purves. imprensa especializada, o carro deve A marca Rolls-Royce é de propriequatro portas da Rolls-Royce. O novo veículo começará a ser pro- atrair pelo menos o dobro dos con- dade da montadora alemã BMW e seus veículos são produzidos em uma fábrica duzido no mês de agosto deste ano e sumidores que o Phantom. O lançamento será apresentado ofi- na cidade de Goodwood, na Inglaterra. será menor que os outros modelos da ●

NOVA YORK. Conhecida

SETEMBRO

OUTUBRO

NOVEMBRO

DEZEMBRO

JANEIRO

FEVEREIRO

-11,02%

-24,80%

-1,77%

+2,60%

+ 4,66%

N.D.

R$ 415

R$ 415

R$ 415

R$ 415

R$ 415

R$ 465

R$ 470,34

R$ 470,34

R$ 470,34

R$ 470,34

R$ 512,67

R$ 512,67

TR 17/02: 0,0553%

IMPOSTO DE RENDA 18/02: 0,0287%

IR na fonte • Fevereiro/2009

19/02: 0,0590%

Selic: 12,75%

Base cálculo

Alíquota

Parcela a deduzir

Correção da Poupança

R$ 1.434,59

Isento

De R$ 1.434,59 a R$ 2.150,00

7,5%

R$ 107,59

De R$ 2.150,01 a R$ 2.866,70

15%

R$ 268,84

De R$ 2.866,71 a R$ 3.582,00

22,5%

R$ 483,84

Acima de R$ 3.582,00

27,5%

R$ 662,94

Dia

15/02 16/02 17/02 18/02 19/02 20/02 21/02 22/02 23/02 24/02 25/03 26/02 27/02 28/02 01/03 02/03 03/03 04/03 05/03 06/03

Índice Dia

0,7086% 0,6927% 0,6823% 0,7101% 0,7367% 0,7285% 0,7136% 0,6776% 0,6411% 0,6076% 0,6076% 0,6442% 0,6660% 0,6697% 0,5453% 0,5505% 0,5622% 0,5585% 0,5371% 0,5370%

07/03 08/03 09/03 10/03 11/03 12/03 13/03 14/03 15/03 16/03 17/03 18/03 19/03

Índice

0,5407% 0,5407% 0,5444% 0,5714% 0,5641% 0,5672% 0,5585% 0,5670% 0,5670% 0,5656% 0,5556% 0,5288% 0,5593%

Obs: Segundo norma do Banco Central, os rendimentos dos dias 29, 30 e 31 correspondem o ao dia 1 - do mês subseqüente.

Deduções: a) R$ 144,20 por dependente; b) dedução especial para aposentados, pensionistas e transferidos para a reserva remunerada com 65 anos ou mais: R$ 1.434,59; c) contribuição mensal à Previdência Social; d) pensão alimentícia paga devido a acordo ou sentença judicial. • Obs: Para calcular o imposto a pagar, aplique a alíquota e deduza a parcela correspondente à faixa. • Esta nova tabela só vale para o recolhimento do IRRF este ano. Correção da oitava parcela: 7,21% Fonte: Secretaria da Receita Federal

Salário de contribuição (R$)

Alíquota (%)

Até 911,70 de 911,71 até 1.519,50 de 1.519,51 até 3.038,99

8 9 11

Obs: Percentuais incidentes de forma não cumulativa (artigo 22 do regulamento da Organização e do Custeio da Seguridade Social).

Trabalhador autônomo Para o contribuinte individual e facultativo, o valor da contribuição deverá ser de 20% do salário-base, que poderá variar de R$ 465 a R$ 3.038,99

Ufir

Ufir/RJ

Fevereiro R$ 1,0641

Fevereiro R$ 1,9372

Índice (12/93=100)

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro

0,28% 0,26% 0,45% 0,36% 0,28% 0,48%

4,48% 4,76% 5,23% 5,61% 5,90% 0,48%

6,17% 6,25% 6,41% 6,39% 5,90% 5,84%

Índice (08/94=100)

No mês

406,127 406,557 410,524 412,104 411,575 409,782

-0,32% 0,11% 0,98% 0,38% -0,13% -0,44%

Variações percentuais No ano Últ. 12 meses

8,35% 8,47% 9,53% 9,95% 9,81% -0,44%

13,63% 12,31% 12,23% 11,88% 9,81% 8,15%

IGP-DI (FGV) Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro

oglobo.com.br/economia/indicadores

Dólar Variações percentuais No mês No ano Últ. 12 meses

IGP-M (FGV)

Unif Obs: A Unif foi extinta em 1996. Cada Unif vale 25,08 Ufir (também extinta). Para calcular o valor a ser pago, multiplique o número de Unifs por 25,08 e depois pelo último valor da Ufir (R$ 1,0641). (1 Uferj = 44,2655 Ufir-RJ)

2854,13 2861,55 2874,43 2884,78 2892,86 2906,74

O GLOBO NA INTERNET

Veja mais indicadores e números do mercado financeiro

CÂMBIO

IPCA (IBGE)

Trabalhador assalariado

Obs: foi extinta

a

INFLAÇÃO

INSS/Fevereiro

Salário mínimo (RJ)

.

Rolls-Royce lança modelo ‘baratinho’ para a crise

ÍNDICES Salário mínimo (Federal)

- 75,3%

547 milhões

INDICADORES Bovespa

● XANGAI e BRASÍLIA. O governo chinês informou ontem que um de seus quatro grandes bancos estatais, o China Development Bank, concordou em emprestar à Petrobras US$ 10 bilhões em troca de garantia de que a estatal brasileira fornecerá petróleo ao país, informou o “New York Times”. O acordo foi fechado após acertos similares com Rússia e Venezuela, elevando o total de investimento da China em petróleo este mês para US$ 41 bilhões. Paralelamente, em um estudo do Japan Bank for International Cooperation (JBIC), o BNDES japonês, o Brasil aparece no 6 o- lugar entre países promissores para receber investimentos do país. À frente estão China, Índia, Vietnã, Rússia e Tailândia. O estudo foi apresentando ontem pelo vice-ministro da Indústria e do Comércio do Japão, Hiroyuki Ishige, em Brasília. Para o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, a pesquisa mostrou desconhecimento sobre o Brasil. (Eliane Oliveira, com agências internacionais)

- 19,1%

1,092 bilhão

Janeiro/2009 2,174

Preso em novembro na operação ‘Negócio da China’, Attílio Milone conseguiu habeas corpus ●

( Na comparação com janeiro de 2008) Indústria Janeiro/2008

Justiça solta último sócio da Casa&Video Bruno Villas Bôas

A DISTRIBUIÇ DISTRIBUIÇÃO POR SETOR

8,117

US$ bilhões

3,872

China: crédito a Petrobras por petróleo

Índice (08/94=100)

No mês

399,870 401,327 405,707 405,982 404,185 404,244

-0,38% 0,36% 1,09% 0,07% -0,44% 0,01%

Variações percentuais No ano Últ. 12 meses

7,93% 8,32% 9,51% 9,58% 9,10% 0,01%

12,80% 11,90% 12,29% 11,20% 9,10% 8,05%

Dólar comercial (taxaPtax) Paralelo (São Paulo) Diferença entre paralelo e comercial

Compra R$ 2,3908 2,26 - 5,47%

Venda R$ 2,3916 2,49 4,11%

Dólar-turismo esp. (Banco do Brasil) Dólar-turismo esp. (Bradesco)

2,30 2,28

2,44 2,51

Obs: A cotação Ptax do dólar americano de dias anteriores pode ser consultada no site do Banco Central, www.bc.gov.br. Clicar em “Sala de imprensa” e, posteriormente, em “Séries temporais”.

Outras moedas Cotações para venda ao público (em R$) Euro Franco suíço Iene japonês Libra esterlina Peso argentino Yuan chinês Peso chileno Peso mexicano Dólar canadense

3,07216 1,074 0,0256809 3,4548 0,683208 0,34946 0,00393126 0,161569 1,91044

Fonte: Mercado

Obs: As cotações de outras moedas estrangeiras podem ser consultadas nos sites www.xe.com/ucc e www.oanda.com.br.

BOLSA DE VALORES: Informações sobre cotações diárias de ações e evolução dos índices Ibovespa e IVBX-2 podem ser obtidas no site da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), www.bovespa.com.br. CDB/CDI/TBF: As taxas de CDB e CDI podem ser consultadas nos sites de Anbid (www.anbid.com.br), Andima (www.andima.com.br) e Cetip (www.cetip.com.br). A Taxa Básica Financeira (TBF) está disponível no site do Banco Central (www.bc.gov.br). É preciso clicar em “Sala de imprensa” e, posteriormente, em “Séries temporais”. FUNDOS DE INVESTIMENTO: Informações disponíveis no site da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), www.anbid.com.br. Clicar, no quadro “Rankings e estatísticas”, em “Fundos de investimento”. IDTR: Pode ser consultado no site da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg), www.fenaseg.org.br. Clicar na barra “Serviços” e, posteriormente, em FAJ-TR. Selecionar o ano e o mês desejados. ÍNDICES DE PREÇOS: Outros indicadores podem ser consultados nos sites da Fundação Getulio Vargas (FGV, www.fgv.br), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, www.ibge.gov.br) e da Andima (www.andima.com.br).


O GLOBO

14

ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 14 - Edição: 23/02/2009 - Impresso: 22/02/2009 — 23: 20 h

ECONOMIA

2ª edição • Segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O GLOBO

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ABALO GLOBAL

Obama quer reduzir à metade déficit fiscal dos EUA, hoje em US$ 1,3 tri

GEORGE VIDOR

Governo dos EUA estuda aumentar sua fatia no Citi para até 40%, diz ‘WSJ’ Charles Dharapak/AP

Gilberto Scofield Jr.

O novo Cenpes O maior desafio tecnológico enfrentado pela Petrobras foi ultrapassar a lâmina d’água de 300 metros de profundidade para abertura de poços de exploração e produção de óleo e gás, no fundo do mar. Os reservatórios descobertos na camada de pré-sal estão em águas ultraprofundas (lâminas d’água de mais de dois mil metros), o que não assusta mais os pesquisadores da empresa.

Essa é, em resumo, a mensagem que o superintendente do Centro de Pesquisas da Petrobras, Carlos Thadeu Fraga, passou durante uma visita que fiz às atuais e futuras instalações do Cenpes, na Ilha do Fundão, junto à Cidade Universitária. É claro que explorar petróleo e gás nessas profundidades, distantes 200, 300 quilômetros da costa, ainda tendo de atravessar uma barreira de sal acumulada há milhões de anos, não é nada trivial. Mas, na visão do pessoal do Cenpes, trata-se de uma extensão do trabalho que eles já vinham executando há pelo menos dez anos. Portanto, todos estão mais do que confiantes sobre a viabilidade de os grandes reservatórios do pré-sal na Bacia de Santos entrarem efetivamente em produção a partir do ano que vem. A visita ao laboratório de testemunhos do Cenpes deixa arrepiados até os técnicos habituados a descobertas de campos gigantes de petróleo. “Este aqui é hoje o mais importante laboratório do Cenpes”, comentou envaidecido o Ph.D Rogério Schiffer. Lá estão, muito bem protegidas, as amostras de rochas e materiais retirados de poços exploratórios, que permitem fazer simulações sobre o que poderá ser produzido dentro em breve (na indústria do petróleo isso sempre significa vários anos pela frente). O óleo muitas vezes está em fissuras microscópicas, não perceptíveis a olho nu. A doutora Dolores, considerada uma das maiores especialistas no tipo de rocha encontrada no présal, está exultante com a aproximação do primeiro teste de longa duração no campo de Tupi, pois dali serão retirados 240 metros de amostras, material precioso para o laboratório. Recebi das mãos dela um fragmento do tipo de rocha encontrada no pré-sal (extraído de uma área chamada Lagoa Salgada, no Estado do Rio). A comitiva em volta ficou morrendo de inveja... O pré-sal é a bola da vez, mas o Centro de Pesquisas da Petrobras tem 140 diferentes laboratórios em atividade, onde trabalham cerca de duas mil pessoas (750 delas pós-graduadas). Por isso, suas instalações estão sendo substancialmente ampliadas, numa obra cujo orçamento atinge R$ 1 bilhão. A Petrobras aproveitou para construir também, junto ao novo Cenpes, o seu centro de processamento de dados, reunindo num só lugar os computadores dispersos por vários prédios no Rio e em outras cidades. O Cenpes saiu da casca, de certo modo, e a obra é o ponto alto desse processo. Não são poucas as universidades brasileiras que recebem hoje dotações espeE-mail: vidor@oglobo.com.br

US$ 40 bilhões para proteger moeda na Ásia

Correspondente

cíficas, chegando a construir novos laboratórios, para interagir com os pesquisadores que trabalham na Ilha do Fundão. E essa malha de pesquisas se desdobrou para outras instalações da Petrobras. Não por acaso o novo Cenpes, com projeto arquitetônico arrojado mas funcional, terá um centro de convenções capaz de reunir mil pessoas, o que certamente se transformará em uma atração a mais na Cidade Universitária. Além do pré-sal, merecem destaque nas pesquisas o que tem sido feito para aproveitamento do óleo pesado brasileiro e os horizontes abertos para os biocombustíveis. O futuro Comperj, em Itaboraí, transformará óleo pesado extraído do Campo de Marlim (Bacia de Campos) em insumos petroquímicos e diesel. A tecnologia teve que ser desenvolvida no Brasil — a China tinha algo próximo, mas não aplicável ao tipo de óleo pesado brasileiro — e os testes feitos com fornecedores de equipamentos da refinaria petroquímica deram resultados surpreendentes. A Petrobras consegue extrair petróleo ultrapesado na Bacia de Campos (12 graus API, no Campo de Siri), cujas primeiras mostras eram manuseadas com pá, de tão viscoso. Nos biocombustíveis, o Cenpes deu um passo importante ao possibilitar o maior aproveitamento de mamona (na proporção de 30%) na fabricação de biodiesel. A Petrobras Biocombustíveis recebeu o projeto, devidamente testado e comprovado, e já está em condições de montar uma unidade industrial com essa tecnologia em algum estado do Nordeste. O Cenpes entrou também na corrida para produção de etanol com bagaço de cana. O Brasil está atrás dos Estados Unidos nessa disputa fundamental para o futuro do etanol como substituto de derivados de petróleo. Como os projetos básicos (plataformas, por exemplo) da Petrobras são desenvolvidos dentro do Centro, pesquisadores e projetistas trabalham ombro a ombro, com auxílio de sofisticados sistemas em três dimensões, com software lá desenvolvido. Assim, as soluções para os problemas são encontradas mais rapidamente. Já olhando mais para a frente, o Cenpes estará envolvido na busca de opções que facilitem a produção de óleo e gás na Bacia de Santos. O mais provável é que no meio do caminho, em pleno mar, haja instalações intermediárias, seja como bases de apoio para as plataformas avançadas ou mesmo como industriais que possibilitem, por exemplo, a transformação do gás em diesel.

WASHINGTON. Apesar do pacote de US$ 787 bilhões em investimentos e renúncia fiscal para estimular a economia dos EUA, o governo do presidente Barack Obama vai anunciar esta semana um programa de redução do gigantesco déficit nas contas públicas do país. A redução será do atual US$ 1,3 trilhão — herdado de George W. Bush e equivalente a 9,2% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de bens e serviços produzidos no país) americano — para US$ 533 bilhões até o fim do mandato, em 2013, equivalentes a 3% do PIB. O governo americano também avalia aumentar sua fatia de 7,8% no Citigroup para 25% a 40%, segundo o “Wall Street Journal”. Os detalhes do projeto de corte do déficit ficarão mais claros quinta-feira, quando a Casa Branca anuncia o orçamento para o próximo ano fiscal, que começa em 1 o- de outubro. Mas, ao menos nos primeiros anos, a economia virá de duas fontes: o corte nas despesas com a guerra no Iraque e a cobrança maior de impostos de americanos que ganham mais de US$ 250 mil por ano (o que significa que os incentivos fiscais dados por Bush aos mais ricos, e que terminam em 2010, não serão renovados). Segundo integrantes do governo, Obama está preocupado com a bola-de-neve em que se transformou o endividamento do país e teme que este déficit elevado dificulte a capacidade do país de gerar empregos e crescer no médio prazo. Mas as medidas não devem parar por aí, e vão incluir um enorme programa para reduzir o desperdício e melhorar a eficiência dos gastos públicos federais — incluindo o encerramento de programas federais que não dão resultados con●

● BANCOC. Os ministros de Finanças asiáticos prometeram ontem, em encontro realizado na Tailândia, manter o livre comércio em meio à recessão econômica mundial e afirmaram que vão destinar US$ 40 bilhões adicionais para proteger suas moedas. Os representantes econômicos de dez países asiáticos, entre eles China, Japão e Coreia do Sul, concordaram em aumentar o financiamento para a Iniciativa Chiang Mai, um acordo firmado após a crise asiática de 1997 para enfrentar o déficit nas reservas cambiais por meio do intercâmbio bilateral de recursos. De acordo com os ministros, o financiamento passará de US$ 80 bilhões para US$ 120 bilhões. Os dez membros da Associação de Países do Sudeste Asiático (Asean) fornecerão 20% dos recursos. O resto será aportado por China, Japão e Coreia do Sul. Espera-se que o plano seja aprovado no encontro de cúpula da Asean em Hua Hin, na Tailândia, de 27 de fevereiro a 1 o- de março. Em outubro, os ministros da Asean demostraram confiança de que o grupo passaria ileso pela recessão global, por ter base econômica sólida.

OBAMA: governo pode cortar gasto no Iraque e subir imposto de mais ricos

cretos. Assim como aumentar os impostos cobrados sobre os ganhos de fundos de investimento sofisticados, como os de hedge (que investem em diferentes mercados) ou de private equity (apostam em participações em empresas de capital fechado, algumas novas, de alto risco). Hoje, eles pagam 35% de imposto, mas devem passar a pagar 39,6%, segundo reportagem do jornal “The New York Times”. Bank of America nega negociação com governo Apesar de o pacote de estímulo elevar o déficit público dos EUA este ano para algo como US$ 1,5 trilhão, segundo especialistas, a administração Obama acredita que os gastos, únicos, podem ser compensados com cortes em outras áreas e aumento de receitas, ambos em base permanente. — Não conseguiremos gerarcrescimento sustentável sem colocar nossos déficit sob controle — disse Obama em seu programa de rádio no sá-

bado. O presidente se reúne com sua equipe de orçamento hoje para acertar detalhes do plano e deverá nomear o exagente do serviço secreto Earl Devaney como supervisor do pacote de US$ 787 bilhões. Ontem, em sua edição eletrônica, o “Wall Street Journal” disse que o governo dos EUA analisa ampliar sua fatia no Citigroup, para até 40%. A ampliação seria feita por meio de compra de ações ordinárias (com direito a voto), aumentando a influência governamental sobre o banco. Hoje, o governo detém apenas ações preferenciais (sem direito a voto) na instituição. De acordo com fontes ouvidas pelo “WSJ”, a proposta foi feita pelo Citi às autoridades reguladores do país, mas estas ainda não teriam indicado seu apoio ou sua recusa à ideia. O Bank of America, por sua vez, negou negociações com o governo nesse sentido. ■ ● HILLARY: EUA E CHINA NO MESMO BARCO, na página 17

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NA CONTRAMAO DA CRISE

Brasil deve receber US$ 23 bi em 2009 Áreas de telefonia, bancos, alimentos e combustível concentrarão investimentos Marco Antonio Teixeira/Arquivo

Patrícia Duarte e Eduardo Rodrigues BRASÍLIA. Diante da escassez internacional de crédito, os setores de serviços e industriais saem na frente, no Brasil, na disputa pelos US$ 23 bilhões que, segundo projeção do mercado, deverão ingressar no país em 2009 na forma de investimentos estrangeiros diretos (IED). De acordo com especialistas, setores como telefonia, bancário, de alimentos e de combustíveis serão atraentes aos olhos de fora porque seu desempenho está primordialmente atrelado ao mercado interno. E, enquanto o mundo mergulha em profunda recessão, o Produto Interno Bruto (PIB) doméstico crescerá, em uma aposta pessimista, 1,5% este ano. Para analistas de mercado, este é o principal motivo para o Brasil se destacar como destino de investimentos produtivos. O patamar de IED de 2009 é considerado excelente em meio ao freio global, embora inferior aos US$ 45 bilhões registrados em 2008 — um resultado excepcional, superior até a momentos históricos, como a privatização no setor elétrico e telefonia.

Nações emergentes são um oásis de crescimento O Brasil, porém, não está sozinho. Acompanha a tendência das grandes nações emergentes, que representam hoje praticamente um oásis de crescimento no cenário internacional. Mercados como China e Índia têm, igualmente, grande potencial de

O SETOR de alimentos: líder no ranking de fusões e aquisições no país

consumo. Além disso, os países em desenvolvimento estão implementando agressivos programas de investimento público ou de obras. Caso do Brasil, que tem grandes projetos de longo prazo, por exemplo, no setor elétrico. — Há uma tendência de o IED ser realizado entre, de e para os emergentes. E a crise deve acelerar esse movimento — avalia o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima. O setor industrial é um dos que mais podem receber investimentos de fora quando a fase mais turbulenta da crise arrefecer. Isso porque, argumenta Lima, ainda há muito espaço para crescer. Exemplo, acrescenta, é o fato de nos Estados Unidos, para cada mil habitantes, existirem 800 carros. No Brasil, essa proporção

despenca para 130 por mil. Ele reconhece que esse é um setor muito afetado pela crise. Mas acredita que, quando os cenários melhorarem, se tornará altamente atrativo. Especialistas acreditam que também o segmento financeiro pode atrair mais recursos. O Brasil, neste ramo, é avaliado como uma boa alternativa de investimento sobretudo depois da crise, já que o sistema financeiro nacional não apresentou riscos sistêmicos mesmo com a quebradeira vista em países ricos. Além disso, passa por um momento de consolidação, como os serviços educacionais, de saúde e públicos, que também se apresentam como alternativas. O presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes), Gabriel Mário Rodrigues, acredita que os investimentos no

setor educacional estarão voltados para a fortalecer e manter inversões já realizadas. A avaliação é que o número de novas matrículas deve ficar estável, mas os incrementos com foco na estrutura e nos níveis de excelência dos cursos continuarão crescentes. Laticínios devem atrair investimentos Outros ramos são os de alimentos e combustíveis, que dependem muito pouco das exportações. O interesse nesses setores começou já em 2008. De acordo com dados parciais da PricewaterhouseCoopers, o ramo de alimentos liderou o ranking de fusões e aquisições (considerando capital estrangeiro e nacional), com 78 operações no ano, seguido de educação (49). Serviços públicos e bancos/instituições financeiras apareceram empatados com 28 operações. Segundo o diretor de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia), Denis Ribeiro, o segmento de laticínios deve ser o principal destino dos investimentos no setor, substituindo os frigoríficos e abatedouros, duramente afetados pela contração do comércio internacional. — A crise afeta muito a demanda interna por bens duráveis, mas tem impacto reduzido sobre alimentos — diz Ribeiro. Para o economista Júlio Gomes de Almeida, se o ano fechar com US$ 22,5 bilhões de investimentos, será mais do que suficiente para financiar o déficit corrente do Brasil. ■


O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 17 - Edição: 10/03/2009 - Impresso: 9/03/2009 — 22: 13 h

17

Terça-feira, 10 de março de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

ABALO GLOBAL

Nocaute na indústria

Receita do setor tem queda recorde de 13,4% em janeiro. CNI espera retração em 2009 Eduardo Rodrigues e Patrícia Duarte*

N

BRASÍLIA e RIO

ocauteado pelos efeitos da crise financeira internacional desde outubro, o faturamento do setor industrial apresentou em janeiro, na comparação anual, a maior queda já registrada na série dos Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que começou em 2003. As vendas desabaram 13,4% em relação a janeiro de 2008. Na comparação com dezembro do ano passado, o recuo foi de 4,3%. Diante dos fracos indicadores e da elevada base de comparação de 2008 (quando o Produto Interno Bruto ainda teve desempenho bastante positivo, na casa de 5%), a CNI acredita que a atividade industrial poderá ficar estagnada ou até mesmo apresentar retração em 2009. Os dados sobre emprego e renda também confirmam o quadro de desaceleração aguda. O nível de emprego caiu pela terceira vez consecutiva (- 0,7% sobre dezembro). E, pela primeira vez na série histórica, não houve expansão das contratações sobre o mesmo mês do ano anterior. — Ainda é cedo para fazer previsões quantitativas, mas mesmo que a atividade industrial recupere parte do patamar no segundo semestre de 2009, dificilmente vai recuperar a média do ano passado — afirmou Flávio Castelo Branco, chefe da unidade de Política Econômica da CNI. O faturamento da indústria ficou 12% abaixo da média registrada em todo o ano de 2008. A primeira queda de dois dígitos na história do indicador revela um retorno das vendas ao nível de 2006. A retração atingiu 15 dos 19 segmentos pesquisados. Os mais afetados foram metalurgia básica (- 43,4%) e produtos químicos (27,3%). Na contramão, o ramo de eletrônicos e comunicação cresceu 36,7% frente a janeiro de 2008.

Emprego tem recuo inédito no mês O uso da capacidade de instalada recuou pelo quarto mês consecutivo, desta vez um ponto percentual sobre dezembro. O índice (78,4%) voltou ao nível de novembro de 2003, quando a economia ficou praticamente estagnada. Sobre janeiro de 2008, o indicador recuou 5,1 pontos percentuais. Em setembro, antes do aprofundamento da crise global, estava em 83%. Devido ao fraco desempenho em dezembro, quando muitas fábricas recorreram a férias coletivas, as horas trabalhadas em janeiro tiveram alta de 1,3% nesta comparação. Em relação a igual mês de 2008, houve queda de 6,5%. O emprego, em fato inédito, teve

recuo frente a janeiro de 2008, de 0,1%. O resultado só não foi pior porque o setor de alimentos, com maior peso no índice de vagas, avançou 3,7% no número de funcionários. — O setor alimentício está ligado à demanda por bens básicos, que até o momento vêm mantendo o desempenho — afirmou Castelo Branco. A massa salarial caiu 17,8% em janeiro sobre dezembro, o que é normal devido ao pagamento do 13 o- salário e de bônus distribuídos a funcionários no fim do ano. Na comparação com janeiro de 2008, a folha de pagamento no setor cresceu 2,1%.

O DESEMPENHO DO SETOR

(Em janeiro de 2009)

FATURAMENTO

Focus: freio na indústria este ano ● Apesar da retração na indústria em janeiro, dados divulgados ontem pela Anfavea — associação que reúne empresas do setor automotivo — mostram uma tendência de recuperação. Ainda que estejam longe de retornar aos patamares de 2008. A produção de veículos no Brasil atingiu 201,7 mil unidades, alta de 9,2% em fevereiro ante o mês anterior. Em relação a fevereiro de 2008, porém, foi registrada queda de 20,6%. As vendas internas de veículos novos subiram 1% na comparação mensal, mas recuaram 0,7% na base anual, para 199,4 mil unidades. E as exportações cresceram 28,1% sobre janeiro, mas desabaram 52,3% em relação a fevereiro de 2008. Diante desse panorama, o risco de recessão começa a se configurar nas projeções de 2009. Na pesquisa Focus do Banco Central (BC), analistas já preveem retração da produção industrial em 2009, de 0,04%. Uma semana antes esperava-se expansão de 1,24%. A expansão do PIB teve a estimativa média cortada, de 1,5% para 1,2%. E o mercado espera agressividade na política de juros, que pode cair 1,5 ponto percentual amanhã. Acredita-se cada vez mais que a Taxa Selic, hoje a 12,75% ao ano, fechará 2009 com apenas um dígito, algo inédito. Quanto ao IPCA, espera-se 4,57% neste ano, próximo ao centro da meta (4,5%). Para 2010, o mercado manteve a expectativa de alta de 4% na produção industrial e de 3,5% para o PIB: — O cenário para a atividade é bastante negativo e a produção industrial vai sofrer muito — afirmou a economista da consultoria Tendências Marcela Prada, que calcula uma redução de 2% na indústria em 2009. ■

-4,3%

-13,4%

Em relação a DEZ/2008

FATURAMENTO

-13,4%

-4,3%

Metalurgia básica

-43,4%

-1,6%

Produtos químicos

-27,3%

-10,2%

Madeira

-25,3%

1,1%

Eletrônicos e comunicação

36,7%

-45,3%

EMPREGO

-0,1%

-0,7%

Madeira

-16,3%

-6,1%

Eletrônicos e comunicação

-9,6%

-2,9%

Couro e calçados

-8,7%

-0,2%

Alimentos

3,7%

-1,1%

Em comparação com dezembro de 2008

Em comparação com janeiro de 2008

HORAS TRABALHADAS

-6,5%

Madeira

-32,1%

-16,8%

Máquinas e equipamentos

-14,6%

0,6%

Veículos

-12,5%

41%

Eletrônicos e comunicação

16,6%

39,8%

1,3%

MASSA SALARIAL

2,1%

-17,8%

Borracha e plástico

-8,3%

-18,6%

Papel e celulose

-7,7%

-7,8%

Outros equip. transporte

33,7%

-3,5%

Têxteis

9,9%

-28,5%

USO DA CAPACIDADE

-5,1 p.p.*

-1,4 p.p.

Metalurgia básica

-21,1 p.p.

1 p.p.

Refino e álcool

-17 p.p.

-14,7 p.p.

Madeira

-9,9 p.p.

-8,2 p.p.

Outros equip. transporte

2,2 p.p.

2,3 p.p.

*Pontos percentuais

FONTE: CNI

PIB do fim de 2008 pode recuar mais de 3% BC deve reduzir juros em até 1,5 ponto percentual esta semana ● A queda no faturamento da indústria em janeiro e o fraco resultado da produção de automóveis em fevereiro reforçou, entre analistas, a expectativa de que o Banco Central vá reduzir em até 1,5 ponto percentual a taxa básica de juros Selic na próxima reunião do seu Comitê de Política Monetária (Copom), que termina amanhã. A aposta num corte de juros mais ousado pelo BC pode ganhar força se o crescimento da economia brasileira em 2008, que o IBGE divulga hoje, vier abaixo do esperado. A previsão dos economistas é de que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país ao longo de um ano), tenha avançado entre 4,9% e 5,2% no ano passado. Depois de crescer a um ritmo de 6% ao ano nos três primeiros trimestres de 2008, os últimos três meses do ano devem mostrar números negativos. O recuo do PIB entre outubro e dezembro, frente ao trimestre anterior, pode chegar a 3,4%, prevê Roberto Padovani, economista do WestLB. — Meu cenário é pessimista porque a indústria no último trimestre do ano passado veio muito ruim — explica Padovani que, no entanto, prevê um corte de

(*) Com agências internacionais

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Em relação a JAN/2008

INDICADOR

.

só um ponto percentual na Selic, porque acredita que haverá recuperação da economia brasileira no segundo semestre deste ano. Zeina Latif, do ING Bank, é mais otimista. Ela estima que o PIB tenha recuado 2,2% no último trimestre, na comparação com o terceiro trimestre. Para Zeina, a principal contribuição para a queda no PIB virá dos investimentos que, nas suas contas, podem ter recuado até 8%: — A economia estava crescendo de forma até exagerada antes da crise e, de repente, houve uma parada brusca, o que suspendeu investimentos. Mas o consumo das famílias ainda deve mostrar números positivos, porque a massa salarial (soma dos rendimentos de todos os trabalhadores) cresceu. O Unibanco estima um recuo de 2,8% no PIB e um corte de juros de um ponto percentual pelo BC. Já a LCA Consultores prevê um corte de juros de 1,5 ponto percentual diante dos fracos números da indústria que, em janeiro, registrou o mais baixo nível de utilização da capacidade instalada desde novembro de 2003, conforme divulgou ontem a CNI. (Luciana Rodrigues)


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20

ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 20 - Edição: 12/03/2009 - Impresso: 11/03/2009 — 22: 14 h

ECONOMIA

Quinta-feira, 12 de março de 2009

O GLOBO

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ABALO GLOBAL

Bancos reduzem juros cobrados no crédito a consumidores e empresas

MÍRIAM LEITÃO

Corte chega a 0,12 ponto percentual ao mês. No varejo, efeito da Selic será limitado Editoria de Arte

PANORAMA ECONÔMICO

Juros não salvam A queda dos juros não faz milagres. Faz parte da solução, mas não vai nos tirar do buraco onde entramos. Ela reduz o gasto do governo; tem algum impacto na estrutura dos juros bancários; afeta as expectativas. A queda de 1,5 ponto percentual decepcionou alguns, mas se eles caíssem mais, por imposição do governo, os juros de mercado subiriam. O efeito seria o oposto.

Uma taxa de juros de 11,25% ao ano continua sendo alta. Havia muitas previsões no mercado de que a queda poderia ser de até 2 pontos percentuais. O IPCA divulgado ontem foi alto, de 0,55%, mas 60% do índice foi a alta sazonal dos preços de educação e material escolar. Para o mês que vem, o economista Luiz Roberto Cunha prevê uma volta aos níveis de 0,15% a 0,20%. Hoje, a inflação em 12 meses está alta, perto de 6%, mas ele prevê que até junho o índice deve convergir para o centro da meta. Criticar o Banco Central, ter outra visão, avaliar de forma diferente o que ele pensa, todo mundo faz. O que seria um desastre, com efeitos opostos ao desejado, seria uma intervenção política no BC para decidir a taxa de juros. Neste sentido, a declaração do senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, feita na véspera da decisão, foi espantosamente inepta. Mostra que os tucanos não entenderam seu próprio governo. O senador oposicionista disse que como o Banco Central não é independente, o presidente Lula é que deveria baixar os juros. Ora, a autonomia do BC, iniciada no governo tucano, é parte do remédio, e não da doença. A taxa de juros que vale para uma grande parte da economia é decidida pelo mercado privado. Se ficasse claro que a Selic é decidida politicamente, os juros subiriam na prática. — Esse é um ponto importante. Se os juros forem politizados, o mercado vai concluir que a inflação subirá no futuro, o prêmio de risco sobe e isso impacta os juros futuros. E são os juros futuros que fazem efeito na economia, e efeito imediato — explica o economista chefe da Febraban, Rubens Sardemberg. O mercado de juros futuros já tinha derrubado a taxa, mesmo antes de o Banco Central reduzir a Selic. O alívio, portanto, já estava fazendo efeito na economia. É o que explica também o economista Fábio Giambiagi, especialista em contas públicas. — Os juros já despencaram, porque a percepção é que o Banco Central será levado, pelas circunstâncias econômicas, a um ciclo mais longo de taxas de juros. No mercado secundário, em outubro, as taxas eram de 15% para uma selic de 13,7%. Em fevereiro, antes do corte da Selic, já estavam em 11%. Em outubro, o leilão de NTN-F para vencer em 2017 pagou 18,3%, e no último leilão, agora em março, a taxa caiu para 12,9%. Se houver a percepção, explica Fábio, de que não é o Banco Central que de-

cide os juros, aumenta o temor de que haja inflação, descontrole da conta corrente, e essas expectativas fazem com que os juros futuros subam. Tudo é mais complicado do que parece, e Rubens Sardemberg resume: — O Banco Central controla muita coisa, mas não controla tudo. Fábio Giambiagi explica que o próprio impacto da queda dos juros na redução do custo da dívida é mais complexo do que parece, porque parte da dívida é formada por títulos prefixados ou indexados a índices de preços. Há outras complicações no mercado de crédito brasileiro. Parte das empresas tem vantagens determinadas pelo governo e pagam juros subsidiados. É o crédito direcionado. Os bancos são obrigados a emprestar a juros menores para o setor rural. Tentam fugir dessas exigências, que recaem mais sobre os bancos públicos. Quando alguma coisa acontece de errado na economia, os produtores pedem rolagem da dívida. O risco do não pagamento desses empréstimos e a obrigação de oferecer a taxas menores recaem sobre os tomadores do mercado livre. O chamado mercado livre tem 45% do total do crédito no Brasil. Grandes empresas são tomadoras de crédito diretamente do BNDES e pagam apenas a TJLP, de 6,25% ao ano. É o BNDES direto. Empresas menores têm que ir aos agentes repassadores, e pagam essa TJLP mais um spread de 4%. O crédito ao consumidor tem as mais diversas faixas de preços. O consignado com taxas menores; o das financeiras com taxas altíssimas. Por ter tido juros sempre muito altos, o mercado de crédito no Brasil foi criando esses atalhos de juros mais baixos para grupos específicos: as grandes empresas, os produtores rurais, os funcionários públicos e aposentados. Continua tendo o dinheiro mais caro do mundo, mas o preço varia de acordo com o freguês: de juros negativos a preços de agiota. Uma redução da taxa Selic, por maior que seja, não corrige essa confusão. Comparada com o resto do mundo, a taxa básica de juros em 11,25% é muito alta; comparada com nossa história, é até baixa; confrontada com a queda forte do nível de atividade, parece um exagero. Mas se os juros caíssem mais drasticamente, não trariam de volta o ritmo de crescimento perdido. Será preciso mais do que derrubar os juros. As taxas vão continuar caindo nas próximas reuniões.

oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br

COM LEONARDO ZANELLI

Eduardo Rodrigues e Aguinaldo Novo ●

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os maio-

res bancos que atuam no país anunciaram reduções de juros após o Comitê de Política Monetária (Copom) cortar a taxa básica Selic em 1,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. O ajuste leva em conta a diminuição do custo de captação de crédito para as instituições com o corte da Selic, mas não significa uma redução do spread (diferença entre este custo e os juros cobrados dos clientes) onde, entre outros, é computada a margem de lucro dos bancos. No quarto corte de taxas desde novembro, o Banco do Brasil reduziu em 0,12 ponto percentual o juro mensal na linha empresarial de capital de giro, que, a partir de amanhã, passa a variar entre 5,11% e 7,69%. No cheque especial (pessoa física), o juro máximo caiu de 7,91% para 7,85% ao mês. A Caixa Econômica Federal reduziu os juros em mais de dez modalidades de crédito. O cheque especial, por exemplo, passou de 6,89% para 6,83%. Na linha de capital de giro, a taxa mínima para pequenas e médias empresas caiu de 2,15% para 2,04%. — Essa redução é extremamente importante porque ajuda no crescimento da economia e melhora o ambiente para novos negócios — disse o vicepresidente de Finanças da Caixa, Márcio Percival. O Bradesco baixou o juro mínimo do cheque especial de 4,78% para 4,70%, e o máximo, de 8,56% para 8,44%. As modalidades CDC e leasing de veículos também tiveram redução de juros. Para as empresas, a linha de capital de giro só recuou 0,02 ponto (1,98% a mínima e 5,02% a máxima). Itaú e Unibanco, que anunciaram fusão em novembro mas ainda operam em separado suas carteiras de crédito, anunciaram cortes de 0,12 ponto em cheque especial, crédito pessoal e capital de giro. Mas só a partir de segunda-feira. O grupo Santander, que inclui o Real ABN Amro, só repassou o corte da Selic para o crédito à pessoa física. O cheque especial caiu de 9,70% para 9,57%, na taxa máxima, e o crédito consignado passou de 1,65% para 1,52%, na mínima. Numa geladeira em 12 vezes, economia só de R$ 14,16 Nos juros cobrados por bancos e lojas no varejo, o efeito da redução da Selic será limitado. De acordo com simulação da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), na hipótese de repasse integral do corte, a taxa média para pessoas físicas passará dos atuais 7,57% ao mês para 7,45% — uma queda de 1,59%. Em 12 meses, essa taxa equivale a uma mordida de 136,85%. No caso das empresas, o juro médio cairá de 4,44% para 4,30% (redução de 3,15%). Pela simulação, as operações de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) terão a maior redução, de 3,14% para 3,02% ao mês (-3,82%). No cartão de crédito, os juros devem cair de 10,56% para 10,44%, e no cheque especial, de 7,91% para 7,79%. Segundo a Anefac, o impacto ainda é pequeno para o consumidor porque existe hoje uma diferença muito grande entre a Selic e as taxas cobradas no varejo. Na compra financiada em 12 meses de uma geladeira com preço à vista de R$ 1.500, o total poderá cair de R$ 2.190,72 para R$ 2.176,56. Ao fim do período, a economia do consumidor será de apenas R$ 14,16. No cheque especial, essa economia é ainda menor. O correntista paga hoje R$ 52,73 de juros pelo uso de mil reais por 20 dias. Com as novas taxas, essa despesa deverá cair em R$ 0,80, para R$ 51,93. ■ COLABOROU Geralda Doca

O custo dos empréstimos

BANCOS QUE REDUZIRAM OS JUROS (taxas máximas ao mês) Cheque especial Capital de giro

Taxa anterior (%) 7,91 7,81

Cheque especial Capital de giro Cheque especial Capital de giro

Nova taxa (%) 7,85 7,69

Cheque especial Capital de giro

6,83 2,63

Cheque especial Capital de giro

6,89 2,80 8,56 5,04

Taxa anterior (%) 8,87 7,01

Nova taxa (%) 8,75 6,89

9,70 -

9,57 -

OBS: O Unibanco cortará, a partir de segunda-feira, em 0,12 ponto percentual a taxa máxima do Crédito Pessoal Parcelado (CPP) e do cheque especial, para pessoa física. Para empresas, serão reduzidas as taxas máximas do cheque especial e da linha de financiamento de Capital de Giro (Unigiro).

8,44 5,02

COMO FICAM OS JUROS, EM MÉDIA (Taxas mensais cobradas por bancos e varejo)

Juros comércio Cartão de crédito Cheque especial CDC bancos

Hoje 6,37% 10,56% 7,91% 3,14%

Como deve ficar* 6,25% 10,44% 7,79% 3,02%

Hoje

Como deve ficar*

EMPRÉSTIMO PESSOAL 5,58% 5,70% Bancos 11,60% 11,74% Financeiras 7,45% 7,57% TAXA MÉDIA *Se a redução da Selic for repassada de forma integral

O impacto nas prestações Compra de uma geladeira

Cheque especial

Preço à vista R$ 1.500

Utilização de R$ 1.000 por 20 dias Antes (taxa de R$ 52,73 7,91% ao mês)

Agora (juros 7,79%)

FINANCIADA EM 12 VEZES ANTES (juros de 6,37% ao mês) Prestação: R$ 182,56

R$ 51,93

Redução de R$ 0,80 no período

Total

Cartão de crédito

Utilização do rotativo de R$ 1.000 por 30 dias Antes (juros de R$ 105,60 10,56% ao mês) Agora (juros de R$ 104,40 10,44% ao mês) Redução de R$ 1,20 no mês

AGORA (juros de 6,25% ao mês) Prestação: R$ 181,38 Total

R$ 2.176,56

Redução na prestação: R$ 1,18. Economia total: R$ 14,16

Fontes: Anefac e bancos

CORPO

R$ 2.190,72

A

CORPO

FERNANDO CARDIM DE CARVALHO

‘A essa altura, a principal alavancagem é fiscal’ ● Um estudioso de sistemas monetários e financeiros, o economista Fernando Cardim de Carvalho, da UFRJ, acredita que um corte de juros, agora, é pouco eficaz porque já houve “um colapso da confiança”. O BC chegou atrasado, diz Carvalho. Na sua opinião, é preciso ampliar investimentos públicos.

Luciana Rodrigues

O GLOBO: Como o senhor avalia a eficácia do corte de juros diante da crise atual? FERNANDO CARDIM: A política monetária, neste momento, tem importância secundária. O que não quer dizer que não foi bom os juros terem sido reduzidos e que não seria melhor se o corte fosse ainda maior. Mas a política monetária atua sobre agentes privados, sobre a decisão de empresários e consumidores. E, neste momento de colapso da confiança e do otimismo, surte pouco efeito. A essa altura da crise, a principal alavancagem é fiscal. É preciso uma atuação mais agressiva para sustentar a demanda, e só quem pode ser agressivo o suficiente é o governo. Então, o grande papel da política monetária é reduzir os encargos do endividamento público e, assim, aumentar a latitude da política fiscal. É preciso mais gastos públicos? CARDIM: É preciso mais investimentos públicos. Já passou a hora da política monetária. Teria surtido efeito em setembro ou outubro, quando o setor privado ainda estava disposto a investir e consumir, mas houve a contração do crédito. Agora, a preocupação dos consumidores é com o emprego, e a dos empresários, com a ociosidade de suas indústrias. E o setor bancário não vai emprestar mais só porque os juros caíram, até porque não vai emprestar para quem pode ir à falência ou perder o emprego. E também não haverá demanda por esse crédito. Até nos EUA o momento da política monetária já passou. ●

Então deveríamos seguir aqui o exemplo do presidente Barack Obama e ampliar investimentos públicos? CARDIM: Sim, porém com muito mais liberdade, porque lá o presidente precisa da aprovação do Congresso para cada novo gasto. Aqui, nossos investimentos públicos são muito baixos, de 2% ou 3% do PIB. E este é o gasto público mais eficaz do ponto de vista de aumentar a demanda da economia. Existem mil boas justificativas para as políticas sociais mas, do ponto de vista de incentivar a economia, esse gasto não é tão importante quanto o investimento público. Quem recebe uma ajuda do governo, num momento de crise, ●

pode optar por guardar, ou emprestar para um parente em dificuldades. Mas investimento público significa mais compra de asfalto, de maquinário, de força de trabalho. Com a economia crescendo menos, a arrecadação deve cair. Será necessário reduzir a meta de superávit fiscal para ampliar os investimentos públicos? CARDIM: Essa é uma discussão precipitada. Se a economia vai crescer menos, e será inevitável uma contração no PIB este ano, o corte de juros também vai diminuir as despesas financeiras, que hoje são enormes. O ideal neste momento é continuar reduzindo a Selic e talvez nem seja necessário reduzir a meta de superávit fiscal, porque a economia com encargos financeiros está longe de ser desprezível. Nossa dívida pública atrelada à Selic está perto de 40% do PIB. E uma redução dos juros acaba, indiretamente, barateando o custo dos outros títulos públicos também, por arbitragem no mercado financeiro. Um corte de 1,5 ponto percentual na Selic não é dinheiro que se jogue fora. ●

● O senhor acredita que o corte feito pelo BC ontem poderia ter sido maior? CARDIM: O corte em si, de 1,5 ponto percentual, não foi pequeno. O problema é de onde partimos, de uma taxa muito elevada. E ainda a demora que levou para isso ocorrer. Nosso Banco Central é muito lento quando se compara ao resto do mundo. Caminha a passos de cágado. Aqui, o BC se convenceu de que a atividade econômica e o emprego não é problema dele. E se vier com declarações e explicações naquele ramerrame de que está atento a sei lá o quê, aí o efeito positivo na confiança será nenhum. O problema aqui é que, cada vez que o Banco Central dá um pulo desse (ou seja, faz um corte maior de juros), fica depois um ano e meio parado para se recuperar da vertigem. ● Há perspectivas de alívio na crise internacional? CARDIM: Estamos indo para o terceiro ano de crise, pois os problemas do subprime americano começaram a ficar mais evidentes em março de 2007. Isso em si já é uma indicação de que estamos no campo da excepcionalidade. Estamos muito mais próximos do que ocorreu na década de 30 (a Grande Depressão) do que em qualquer crise anterior. Os EUA não devem se recuperar antes de 2010 ou 2011. A União Européia, que não tinha entrado ainda no abismo, começa a mostrar um colapso em Alemanha e França. Os novos países do bloco estão falidos. Há problemas bancários na Itália e na Áustria. Este é o segundo ato da crise.


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ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 29 - Edição: 21/03/2009 - Impresso: 20/03/2009 — 22: 13 h

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Sábado, 21 de março de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

ABALO GLOBAL

FGTS no vermelho

Aumento do desemprego eleva saques em até 35%. Retiradas podem superar depósitos este mês Geralda Doca, Eduardo Rodrigues e Luiza Damé

O

BRASÍLIA

desemprego já atinge as contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que poderá registrar mais saques do que depósitos este mês. Segundo dados da Caixa Econômica Federal, os desembolsos com demissão sem justa causa em janeiro e fevereiro já superaram os registrados em iguais períodos de 2008 em 20% e 35%, respectivamente. Foram gastos em janeiro deste ano R$ 2,336 bilhões para pagar a 1,3 milhão de trabalhadores e, em fevereiro, R$ 2,623 bilhões, para 1,459 milhão de desempregados. Mesmo assim, o governo conta com o dinheiro do Fundo para o pacote habitacional a ser lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima quarta-feira: R$ 12 bilhões para subsidiar famílias de baixa renda. Embora a arrecadação líquida do FGTS no bimestre continue positiva, explicou um técnico da Caixa, essa realidade deve mudar. Em janeiro, o recolhimento do décimo terceiro salário ajudou a engordar as receitas do Fundo. Ainda não foi absorvido totalmente o impacto das demissões dos trabalhadores temporários (fim de

ano), o que só deve acontecer neste mês. A Caixa espera o fechamento dos dados do trimestre para previsões. — A arrecadação continua positiva, mas o impacto (do desemprego) vai chegar em março — disse o superintendente nacional do FGTS da Caixa, Joaquim Lima. Além do desemprego, a decisão do governo de elevar de R$ 350 mil para R$ 500 mil o limite de avaliação dos imóveis financiados pelo FGTS vai aumentar os saques. A medida também constará do pacote habitacional. Desde 1999, quando registrou na saldo negativo de R$ 215,9 milhões, o FGTS vem fechando suas contas no azul. O desempenho favorável do mercado formal de trabalho nos últimos anos favoreceu fortemente as contas. Em 2008, as receitas superaram as despesas em R$ 6,7 bilhões — resultado de uma arrecadação de R$ 48,616 bilhões e despesa de R$ 41,914 bilhões, com saques.

R$ 12 bi do pacote sairão em 3 parcelas De olho nesse cenário, o Conselho aprovou, na última quinta-feira, uma proposta que permitirá à Caixa, agente operador do FGTS, utilizar na gestão da carteira de títulos públicos federais do FGTS as mesmas condições cria-

das na época do pagamento dos expurgos inflacionários dos planos econômicos. Em vez de resgatar os papéis do Tesouro Nacional antes do prazo, a Caixa poderá obter papéis de outros bancos com compromisso de se desfazer desses papéis no futuro para quitar obrigações do Fundo. — Aprovamos esse voto para não correr o risco de precisar vender os papéis antes do vencimento, numa condição desfavorável — disse Joaquim Lima. Diante da previsão de aumento de despesas do FGTS e queda na arrecadação, o governo quer passar aos participantes do Conselho Curador do Fundo a idéia de que é preciso tomar medidas urgentes para gerar emprego e renda. Vai nessa direção a proposta de elevar os subsídios para habitação para R$ 12 bilhões. O Fundo e a caderneta de poupança são as principais fontes de recursos para o setor e para obras de saneamento básico. Os R$ 12 bilhões que serão usados no pacote superam em mais de sete vezes a verba que o Fundo destina a essa finalidade este ano e serão liberado em três parcelas iguais de R$ 4 bilhões, para o triênio 2009, 2010 e 2011. Para convencer os participantes do Conselho Curador do FGTS a votarem a favor da proposta — pois esse dinheiro pertence aos trabalhadores — o Executivo se comprometerá a entrar com pelo menos mais R$ 12 bilhões. Esse dinheiro deverá vir do Fundo Soberano

e ajudará a cobrir também as desonerações de impostos, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados sobre materiais de construção. A elevação do subsídio será discutida pelo conselho na terça-feira, véspera do lançamento do pacote.

Prestações ficarão entre R$ 50 e R$ 150 ● Para aumentar drasticamente os subsídios do FGTS na habitação, o governo terá de propor a revogação de uma norma criada pelos próprios conselheiros, que vincula a aplicação desses recursos ao resultado do Fundo no exercício anterior. Por essa regra, o subsídio máximo a ser concedido neste ano é de R$ 2,5 bilhões. Deste montante, foi garantido R$ 1,6 bilhão para evitar desequilíbrios nas contas do Fundo. Depois de se reunir ontem com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e o ministro Márcio Fortes (Cidades), dirigentes das principais centrais sindicais do país afirmaram que as casas não sairão de graça, porque o FGTS precisa ser remunerado. Segundo eles, as prestações subsidiadas em discussão deverão ficar entre R$ 50 e R$ 150, dependendo da faixa de renda — serão beneficiadas famílias com renda mensal de até dez salários mínimos. Além disso, o mutuário que receber o imóvel nessas condições ficará um período proibido de revendê-

lo a terceiros. Segundo os sindicalistas, outra proposta em discussão diz respeito à isenção do seguro sobre o valor da prestação, que deverá ficar em 100% para quem ganha de zero a três salários mínimos. — Defendemos que o imóvel esteja sempre no nome da mulher. E há um consenso de que por pelo menos 80% do período de pagamento as pessoas não possam transferir, para que se evite a atuação de espertalhões — revelou o representante da Força Sindical, Antônio de Sousa Ramalho. A principal reivindicação das centrais diz respeito aos contratos dos trabalhadores que construirão as moradias. O pedido é para que o governo obrigue as construtoras a empregarem apenas mão-de-obra formal, evitando que o programa cause um aumento da informalidade na construção civil. — O dinheiro público não pode gerar trabalho degradante — disse o representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Valdemar Pires de Oliveira. A Caixa adotou novas regras para a compra de material de construção por meio do programa Carta de Crédito FGTS. Entre elas, estão a dispensa da garantia de fiança/aval e a ampliação do prazo de amortização, que passou de 96 para 120 meses. Atualmente, a renda máxima para esta modalidade é de R$ 1.900. O GLOBO NA INTERNET

a As possibilidades de saque do FGTS oglobo.com.br/economia

VOL LUME TOTAL DAS RETIRADAS... VOLUME

R$ 1,936 bilhão R$ 2,336 bilhões

JAN/2008 JAN/2009

R$ 1,944 bilhão R$ 2,623 bilhões

FEV/2008 FEV/2009

...E QUANTOS TRABALHADORES SACARAM

1,283 milhão 1,377 milhão 1,250 milhão 1,459 milhão

JAN/2008 JAN/2009 FEV/2008 FEV/2009

8,7%

O FGTS no governo Lula (R$) ANO 2003 2004 2005 2006 2007 2008

ARRECADAÇÃO 24,956 bilhões 28,269 bilhões 32,247 bilhões 36,505 bilhões 41,630 bilhões 48,616 bilhões

SAQUES 20,372 bilhões 22,088 bilhões 25,951 bilhões 29,683 bilhões 38,379 bilhões 41,914 bilhões

8,5%

FEV

RECEITA LÍQUIDA 4,584 bilhões 6,180 bilhões 6,296 bilhões 6,821 bilhões 3,251 bilhões 6,702 bilhões

ABR

8,6%

Desemprego mês a mês

(Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE)

MAR

8%

JAN/2008

8,1% JUL

SET

7,9% 7,9% MAI

JUN

7,7%

7,6% AGO

8,2% JAN/ 2009

7,6% NOV

7,5% OUT

6,8% DEZ

FONTES: Caixa Econômica Federal e Ministério do Trabalho

Aliados querem meta de superávit primário menor Petistas vão levar proposta às discussões da LDO, com objetivo de liberar mais recursos para investimentos Cristiane Jungblut e Bruno Rosa BRASÍLIA e RIO. Depois de reorganizar o Orçamento de 2009 devido à crise econômica, o governo começa a discutir o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2010 e a sofrer pressões de aliados para reduzir oficialmente a meta de superávit primário (receitas menos despesas, descontados os juros da dívida) para o ano que vem. Os defensores da proposta dizem que o objetivo é liberar mais recursos para investimentos. Na última quinta-feira, o governo já fez uma mudança: apesar de ter mantido a meta oficial de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB), abateu do cálculo, pela primeira vez, o 0,5% do PIB destinado ao Programa Piloto de Investimentos (PPI), que reúne basicamente os recursos do Programa

de Aceleração do Crescimento (PAC). O deputado Gilmar Machado (PT-MG), vice-líder do governo e responsável pelas questões orçamentárias, disse que o PT irá lançar o debate sobre o superávit, assim que a LDO chegar ao Congresso. — Vamos trabalhar para reduzir o superávit do próximo ano. Em tempos de crise, esse percentual não tem mais sentido, porque se empatam recursos que trazem investimentos. Temos que reduzir o superávit para investimentos. O PT, não o governo, vai debater isso na LDO. Sou vice-líder do governo, mas esta é uma posição minha — disse Machado. O prazo para o envio da proposta é 15 de abril. A LDO estabelece os parâmetros macroeconômicos que nortearão a elaboração do Orçamento do ano seguinte. A questão do

superávit primário já vem dividindo a equipe econômica, como em outros assuntos. Segundo integrantes do governo, o Ministério da Fazenda é contra qualquer alteração formal no percentual, enquanto o Planejamento é favorável. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, estaria estimulando o debate e seria simpática a uma flexibilização. Para economistas, meta pode cair para até 2,5% do PIB Uma das preocupações técnicas é que a redução do percentual da União, hoje de 2,2% do PIB (já descontado o PPI), traria uma pressão pela redução da parcela de estados e municípios, sendo que o governo precisa desses recursos regionais. De outro lado, a pressão aumenta à medida que ocorre a redução dos juros. Isso porque, com

a queda, a dívida também cai. — Se a taxa de juros cair, inevitavelmente essa discussão virá, porque a dívida também vai cair — afirmou o senador Delcídio Amaral (PTMS), relator do Orçamento de 2009. Segundo economistas, a redução da meta do superávit primário é uma realidade e vista como positiva, se aumentar o investimento em infraestrutura. De acordo com Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC) e economistachefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o país pode conviver com um superávit menor, pois a relação entre dívida pública e PIB está em queda nos últimos anos. — A arrecadação de impostos já caiu, e a trajetória é de queda, pois a a atividade econômica está em desaceleração. A redução dos juros

básicos, que alivia o pagamento da dívida, vai compensar apenas em parte o menor recolhimento de tributos. Mesmo com uma redução do superávit primário para 2% do PIB, não haverá desconfiança por parte dos investidores — diz Freitas. Para Fernando Rezende, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, a meta menor do superávit é válida se houver transferência para elevar investimentos e criar mais empregos. Para ele, ela pode ficar entre 3% e 3,5% do PIB. Joaquim Eloi Cirne de Toledo, ex-diretor da Nossa Caixa e exprofessor da Universidade de São Paulo (USP), concorda com a argumentação de Rezende. Ele estima que a meta poderia cair para entre 2,5% e 3% do PIB. ■


O GLOBO

O PAÍS

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 3 - Edição: 23/03/2009 - Impresso: 22/03/2009 — 22: 22 h

Segunda-feira, 23 de março de 2009

3

O GLOBO

O PA Í S

O vaivém do Senado

Roberto Stuckert Filho/20-03-2009

Grupo de diretores sem concurso será demitido, mas há planos para recriar cargos extintos

O

BRASÍLIA

Senado deve anunciar ainda esta semana a extinção de mais diretorias, desta vez tendo como alvo principal os funcionários comissionados — admitidos sem concurso —, mas já estuda uma forma de compensar, em parte, a extinção dos 50 cargos anunciada na sexta-feira. A ideia é recriar uma “remuneração de chefia”, que existia no passado e foi extinta na gestão de Agaciel Maia, o ex-diretor geral da Casa, para dar lugar a quase duas centenas de secretarias e subsecretarias que abrigaram nos últimos anos as 181 pessoas com status de diretor. De menor valor, essa gratificação seria oferecida aos servidores que tiveram as diretorias extintas, mas que exercem, de fato, funções de chefia, coordenando equipes. Segundo um diretor do Senado que participa das discussões sobre as mudanças da estrutura, a alternativa está sendo cogitada para garantir o funcionamento de áreas técnicas importantes que ficaram sem comando, e também para aplacar a revolta dos funcionários, que estão inconformados com a forma como foi anunciada a extinção das diretorias. Os servidores destituídos na sexta-feira — todos de carreira, à exceção de um — se sentiram desrespeitados, porque foram pegos de surpresa. Não foram comunicados previamente de que as diretorias seriam extintas, e alguns teriam ficado sabendo que tinha perdido a função de diretor pela imprensa. O senador Heráclito Fortes (DEMPI), 1 o- secretário do Senado, confirmou ontem que novas diretorias serão extintas esta semana, mas em grupos menores. Ele evitou falar em números, que, segundo especulações, poderia chegar a mais 50, e explicou que o assunto será discutido na reunião da Mesa diretora, marcada para amanhã. É nesta reunião que a Mesa terá que aprovar a extinção das 50 diretorias já anunciada anteriormente. — Vamos fazer os cortes em grupos, ainda nesta semana, mas não temos os números — disse Heráclito. A nova lista de diretorias extintas deve atingir os cargos em comissão e este é mais um problema político a ser superado, uma vez que muitos dos comissionados foram indicados pelos próprios senadores. A lista das novas demissões deverá ser montada considerando as peculiaridades de cada área, se o diretor de fato coordena uma equipe ou se recebeu o cargo apenas para ter aumentado o seu salário com a gratificação. No esforço para enxugar as diretorias, a cúpula do Senado determinou a algumas áreas técnicas que reduzam esses cargos à metade. Já a remuneração de chefia, que está em estudo, segundo fontes do Senado, deve ser recriada imediata-

mente e pode ser submetida à Mesa do Senado também na reunião de terça. O que se discute internamente é que é preciso tomar uma decisão sobre o assunto rapidamente e, portanto, não dá para esperar a conclusão do plano de reestruturação encomendado à Fundação Getúlio Vargas (FGV). O próprio Heráclito Fortes confirmou que não vai aguardar os estudos da FGV — contratada sem licitação pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) — para fazer uma avaliação e reformulação da administração da Casa.

Clima tenso entre os funcionários ● No passado, o Senado tinha uma divisão de cargos que previa chefes de seções, chefes de setor e os diretores. Agaciel Maia, que era diretor-geral desde 1995 e foi afastado no início de março, acabou com as chefias de sessão e de setor, criando as 181 secretarias e subsecretarias, com titulares com direito a status de diretor. O clima interno no Senado ficou tenso depois do anúncio da extinção das 50 diretorias, na sexta-feira. Os funcionários consideram que a divulgação da lista foi feita de forma atabalhoada, para responder à pressão política. O esforço no dia de hoje, disse ontem um servidor graduado, será para reaproximar o corpo funcional dos senadores. Várias reuniões estão agendadas com essa finalidade. Os funcionários consideram que as áreas técnicas estão pagando um preço alto pela crise e pelo desgaste político da Casa. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse que é preciso apressar a entrega do estudo da FGV, mas defendeu que, em alguns casos, os cortes podem antecipar o levantamento da fundação. Sobre as demissões de cargos em comissão, Álvaro Dias afirmou não ver inconvenientes: — É mais fácil. Eu imaginava até que os cargos de diretor tivessem de ser preenchidos por concursados. Demóstenes Torres (DEM-GO) defendeu que Heráclito dê uma resposta à sociedade e continue promovendo os cortes nos cargos de diretores da Casa. — À medida que se verificar os excessos, tem de cortar. Tem de agir como um comitê anticrise. A Mesa tem de agir sem esperar os casos (novas denúncias) aparecerem — afirmou Demóstenes.

O GLOBO NA INTERNET

que o Senado deveria fazer para conter a Ogastos? oglobo.com.br/pais

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DISTORÇÕES NO SENADO

181 FUNCIONÁRIOS com status de diretor nas secretarias e subsecretarias, que incharam na chamada "Era Agaciel"; em 1995, eram 23. Com o corte anunciado de 50, sexta-feira passada, agora são 131. AGACIEL MAIA, que foi diretor-geral por 14 anos e perdeu o cargo no início de março depois de omitir do seu patrimônio uma mansão de R$ 5 milhões, tem muitos protegidos na Casa; um deles, uma telefonista concursada, perdeu seu cargo de diretora sexta-feira.

SÂNZIA AGACIEL, mulher de Agaciel, também tinha cargo de direção na Casa, que perdeu por força da lei antinepotismo, no fim de 2008. ENTRE OS CHAMADOS "diretores de fantasia", um responsável pelo check-in de senadores, seus familiares e amigos no Aeroporto de Brasília; outro para organizar o serviço de transportes na garagem.

O DIRETOR-GERAL do Senado, Alexandre Gazineo, ao lado do senador Heráclito Fortes, quando foram divulgadas as 50 exonerações

Apenas uma votação de projeto Pauta do Senado é ocupada mais por homenagens em 2009 Eduardo Rodrigues BRASÍLIA. Em meio ao vendaval de denúncias que atinge o Congresso, a produtividade no Senado está em baixa. Desde o início do ano legislativo, em fevereiro, os senadores votaram, em plenário, apenas um projeto de lei e algumas indicações de novos embaixadores e diretores de agências reguladoras. Em março, foram apenas três dias de sessão deliberativa, ou seja, com os parlamentares votando propostas. E em apenas um dia, 5 de março, os senadores aprovaram automaticamente a chamada votação simbólica, 18 requerimentos homenageando fatos que não estão mais em evidência, como o aniversário de 90 anos do expresidente sul-africano Nelson Mandela, que aconteceu em julho do ano passado. A lista das votações do dia 5 de março também inclui congratulações aos atletas brasileiros que ●

disputaram as Olimpíadas de Pequim, na China, e à ex-refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Ingrid Betancourt, libertada também em julho do ano passado. Até mesmo um discurso de John McCain, no qual o candidato republicano derrotado na eleição norte-americana reconheceu a vitória do democrata e hoje presidente Barack Obama, m e re c e u a a p ro v a ç ã o d e u m a mensagem de aplauso dos senadores brasileiros. Requerimento de solidariedade aos americanos por vítimas do 11/09 A falta de conexão entre as votações do plenário e o período de turbulência fica mais evidente quando os anais da Casa registram, em março, a aprovação de uma “nota de solidariedade ao povo americano pela perda de milhares de entes queridos no atentado terrorista que derrubou as torres gêmeas do World Trade Center,

ENQUANTO ISSO, NO PLENÁRIO ...

JOÃO CARLOS ZOGHBI, diretor de Recursos O SENADOR TIÃO VIANA NA Humanos, outro (PT-AC) emprestou à filha poderoso da era um celular do Senado para Agaciel, perdeu o cargo após denúncia ela usar durante viagem ao México; o senador diz que de que o apartamento pagou a conta, mas não funcional destinado disse quanto foi. a ele estava sendo usado pelo filho. EM JANEIRO, em pleno recesso parlamentar, mais de 3.300 DEPOIS DE DEMITIR, funcionários receberam no fim do ano passado, dezenas de funcionários que horas extras que somaram eram parentes de servidores R$ 6,2 milhões, "uma sobra no orçamento para do Senado, novos parentes distribuir", segundo teria foram contratados na Casa dito Agaciel Maia, à época, por meio de empresas aos chefes de gabinete. terceirizadas.

10 DE MARÇO: ÚLTIMA VOTAÇÃO

Nos últimos 30 dias, só foram aprovadas indicações de novos embaixadores e diretores de agências reguladoras, além de mensagens de solidariedade, como a de apoio às vítimas do World Trade Center.

3 DE FEVEREIRO: INÍCIO DO ANO LEGISLATIVO Só aprovou um projeto de lei, que tratava da isenção de recolhimento sobre juros e dividendos da Caixa Econômica, que retornou à Câmara.

em Nova York (...)”, ocorrido em 2001. Com um detalhe: o requerimento, de autoria do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), foi proposto em 2007. Nesses quase dois meses de atividade, o plenário do Senado também aprovou os nomes de dez embaixadores e diretores de agências reguladoras, que só podem assumir os cargos após votação nominal dos parlamentares. Neste caso, a apreciação das indicações também ocorreu a toque de caixa, com nove aprovações em apenas uma sessão. Alguma produtividade tem se verificado nas comissões técnicas do Senado, que tentam se distanciar da crise e aprovar algumas propostas, como a que altera o regime das prisões especiais. Mas são matérias que dependem ainda de votações definitivas em plenário, onde a crise está instalada sob a presidência do senador José Sarney (PMDB-AP). ■

ALGUNS NÚMEROS

R$ 2,8 2,8 BILHÕES • É quase o total do orçamento em 2009, sendo que cerca de R$ 2,3 bilhões é gasto com a folha de pagamento. 10 MIL • É a quase qu o totalidade de funcionários, sendo 3,4 mil concursados (ativos e inativos inativos); 3,1 mil comissionados e cerca de 3 mil terceirizados. 402 • É o número estimado de funcionários graduados ganhando mais que os R$ 16,5 mil pago pagos aos senadores. R$ 500 • É a co cota mensal para a conta de telefone da residência dos 81 senadores, que aainda têm gastos livres com celular, sendo que os integrantes da Mesa têm direito a duas linhas. R$ 300 • É a conta co mensal paga pelos celulares dos 122 servidores comissionados. UM CARRO • É o que todos os 81 senadores e grande parte dos diretores (número não forn fornecido) têm direito, com motorista.

DESDE O INÍCIO DA CRISE, O SENADO ANUNCIOU:

Corte de 10% nas despesas despe de custeio e investimento, o que significa R$ 55 milhões de um orçame orçamento de R$ 550 milhões nesta rubrica; corte de 300 linhas telefônicas que fazem ligações interurbanas, reduzindo-as para 3 mil, além da redução em cota de tel telefone celular e a extinção de cargos de diretores.

Editoria de Arte

Regina Alvarez e Chico de Gois


O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 19 - Edição: 25/03/2009 - Impresso: 25/03/2009 — 01: 07 h

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Quarta-feira, 25 de março de 2009 • 3ª edição

O GLOBO

ECONOMIA .

ABALO GLOBAL

Gasolina e água não se misturam Presidente da Petrobras diz que preço do combustível não cairá porque já é baixo

Ailton de Freitas

Eduardo Rodrigues e Ramona Ordoñez

presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, descartou ontem qualquer redução, a curto prazo, dos preços dos combustíveis no Brasil, argumentando que a gasolina das refinarias brasileiras custa menos do que água. Muito questionado pelos senadores que comandaram audiência pública sobre investimentos da estatal, Gabrielli afirmou que a companhia não aumentou os preços quando a cotação do petróleo disparou no mercado internacional — chegando próximo a US$ 150 por barril — e, portanto, não deve repassar às bombas a queda recente do produto, cujo barril está custando hoje perto de US$ 50. — O preço não vai baixar porque não subiu. O litro da gasolina que sai das refinarias é mais barato que o litro de água engarrafada. O que encarece para o consumidor é a margem de lucro das distribuidoras e os altos tributos — defendeu, na sessão conjunta das comissões de Infraestrutura e de Acompanhamento Econômico. Porém, uma rápida consulta a supermercados e lojas na internet mostra que o preço da água mineral é mais baixo que o da gasolina. Um litro de água custa entre R$ 0,79 e R$ 0,90, dependendo da marca (referência a embalagens de 1,5 litro). Nas refinarias da Petrobras, o litro de gasolina sai por R$ 1,10, segundo as distribuidoras. Apesar dos apelos dos parlamentares, Gabrielli garantiu que reajustes só ocorrerão após a estabilização dos preços internacionais. O senador Tasso Jereissati (PSDBCE) questionou os argumentos de Gabrielli, que apresentou tabela mostrando que, em 2008, o preço médio do combustível ao sair das refinarias da Petrobras estava no mesmo nível de países como EUA e China, onde o valor final ao consumidor é menor. — Eu quero saber é de 2009. Temos hoje uma defasagem gigantesca em relação à média internacional — protestou o parlamentar, que contestou o

ÁGUA MINERAL, preço por litro

Minalba R$ 0,90

Pouso Alto R$ 0,79

Petrópolis R$ 0,86 GASOLINA, preço ço médio édio por litro itro naa refinaria re na

BRASIL R$ 1,10 E EUA R$ 0,88 R FONTE: Petrobras, Sindicom e supermercados Zona Sul

argumento de que o lucro dos postos é que encarece o combustível, lembrando que a Petrobras Distribuidora, da estatal, é responsável por grande fatia do mercado brasileiro.

Estatal detém 35% da distribuição A Petrobras Distribuidora detém 35% do mercado nacional de distribuição, e o presidente da empresa, José Eduardo Dutra, também estava presente na audiência pública no Senado. Gabrielli enfatizou que a Petrobras não mudará os rumos de sua política de preços para atender a pressões, pois a empresa ainda estaria se recuperando do prejuízo de não ter aumentado os preços no período em que o petróleo alcançou as alturas. Hoje, os preços da gasolina pura — sem a adição de 25% de álcool — nas ●

DUTRA, GABRIELLI, Garibaldi e Collor: presidente da Petrobras foi questionado no Senado por defasagem em preço da gasolina

refinarias da Petrobras estão 20% mais elevados do que o cobrado nas refinarias dos Estados Unidos. De acordo com o vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, no último dia 23, a gasolina estava sendo vendida nos Estados Unidos a R$ 0,88 o litro, contra o R$ 1,10 da Petrobras, sem impostos. Reportagem do GLOBO de 18/3 revelou que essa defasagem já chegou a ser de 33% em meados deste mês. Segundo o vice-presidente do Sindicom, dos R$ 2,54 pagos, em média, pelos consumidores cariocas pelo litro da gasolina, 40% se referem ao custo do produto, sendo 32% da Petrobras e 8%, o álcool anidro. Os impostos representam 45% do preço final, enquanto as margens da distribuição, revenda e custos de transporte respondem pelos 15% restantes. Hoje, os trabalhadores da Petrobras entram no terceiro dia de greve e,

segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a paralisação vai até sexta-feira. No fim do dia, a direção da Petrobras e os grevistas retomaram as negociações. Antes disso, no Senado, Gabrielli afirmou que havia a possibilidade de a companhia aumentar a proposta de participação nos lucros e resultados da empresa (PLR). O valor oferecido, de R$ 1,3 bilhão, é equivalente a 4% do lucro líquido da companhia, mas não agrada aos grevistas. Gabrielli garantiu que a paralisação não causou impacto sobre a produção e o fornecimento de combustíveis. Para evitar cortes na atividade, a estatal conta com equipes de contingência. Ontem, segundo a FUP, a adesão à greve foi grande e teria havido redução na produção.

a

O GLOBO NA INTERNET

Especialista analisa o monopólio da Petrobras

oglobo.com.br/blogs/adriano

Eike Batista quer construir estaleiro de US$ 600 milhões Homem mais rico do Brasil diz que financiar projetos em tempo de crise é ‘simples assim’ Bruno Villas Bôas ● O empresário Eike Batista, homem mais rico do Brasil segundo a revista “Forbes”, decidiu agora ser dono de estaleiro. Ele comprou um terreno de 1,3 milhão de metros quadrados em Biguaçu (SC), a 28 quilômetros de Florianópolis, onde quer montar por US$ 600 milhões uma base de construção de plataformas de petróleo. Em tempos de fuga de capital estrangeiro e escassez de crédito, o dono do grupo EBX afirma que está negociando a entrada .

de um sócio sul-coreano no projeto e garante que financiamento não será problema. — Tudo que tem demanda, tem recursos. Só não queira dinheiro para fazer algo que já exista demais. É só isso. É muito simples assim. Essa lógica rendeu uma injeção de R$ 150 milhões do BNDES em outra companhia do empresário, a LLX Logística. O principal projeto dessa empresa, o Porto do Açu, tem “garantido embarque de 26 milhões de toneladas de minério de ferro por 20 anos”, explica Eike.

O estaleiro deverá ficar pronto em três anos e será voltado para atender à demanda do braço petrolífero do grupo, a OGX, que precisa de oito a dez plataformas até 2018. — Queremos também construir para terceiros, como a Petrobras. Acreditamos que o mercado terá demanda pelos próximos 30 anos. Tem a descoberta do sal (pré-sal). O estaleiro se chamará “alguma coisa com X”, disse Eike, fazendo referência aos nomes com os quais costuma batizar suas empresas.

O LEITOR OPINA

O

COMPARE OS PREÇOS

BRASÍLIA e RIO

"Deveria ser perguntado ao Gabrielli então por que a Petrobras não dá o exemplo e baixa seus preços na bomba. Com certeza a concorrência faria o mesmo, mas a Petrobras é a primeira a puxar os preços pra cima" — Do leitor Roberto da Silva Gomes Junior, em comentário no site do Globo

"Onde está o mercado? O preço não subiu, mas caiu. Por uma simples questão de lógica, nada mais: o preço tem que descer" — Do leitor Fernando de Barros Filgueiras, em comentário no site do Globo

"A Petrobras podia vender água então. Água é muito mais fácil de encontrar que petróleo. Aí, muda o nome da empresa pra Aguabrás. Só não sei como os carros vão andar..." — Do leitor Romeu Flores, em comentário no site do Globo


O GLOBO

22

ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 22 - Edição: 26/03/2009 - Impresso: 25/03/2009 — 22: h

ECONOMIA

Quinta-feira, 26 de março de 2009

O GLOBO

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ABALO GLOBAL

Construtores apoiam pacote, mas alertam que coordenação é problema

MÍRIAM LEITÃO

Para especialistas, falta de parceria entre envolvidos pode inviabilizar plano Editoria de Arte

PANORAMA ECONÔMICO

Teto público Quem merece subsídio para comprar a casa própria é mesmo quem ganha até três salários mínimos. Ninguém nessa faixa de renda conseguiria comprar uma habitação decente sem a ajuda de recursos que saem dos impostos de todos nós. A melhor forma de fazer isso é através de recursos orçamentários explicitados de forma transparente, e num pacote que não seja parte de propaganda política.

O governo anunciou ontem que vai investir R$ 34 bilhões num programa habitacional. Os números são de R$ 25,5 bilhões da União, R$ 7,5 bi do FGTS e R$ 1 bi do BNDES. Os R$ 34 bi, na verdade, estão inflados porque embutem dinheiro que será liberado nos próximos anos para cobrir o subsídio concedido agora ao comprador. O prazo de construção das casas seria inicialmente de dois anos, e agora não está mais definido, mas o de realização do gasto em si vai se estender por muitos anos, muito além do atual mandato e do próximo. Se tivesse que dispor de R$ 25 bilhões agora, o governo não teria esses recursos, porque ele está em temporada de cortar o orçamento para que ele caiba no que vai realmente acontecer com a arrecadação. E ainda trabalha com projeções de crescimento fora da realidade, como a divulgada ontem pelo cada vez mais desacreditado Ipea, de 2%. Isso, aliás, foi o que disse o ministro Guido Mantega ontem, de que o pacote seria responsável pelo crescimento do PIB em 2 pontos percentuais. Só que, para chegar lá, o setor de construção teria de crescer cerca de 40%, já que ele tem um peso médio no PIB de 5%, segundo o IBGE. Ou seja, o crescimento é inverossímil. O chefe do governo reclamou da morosidade e da burocracia do próprio governo que lidera, como se não fosse ele o responsável pela máquina e pela incapacidade gerencial e administrativa que faz com que todos os planos pareçam muito bonitos no papel, mas não se realizem. É uma das técnicas do presidente Lula para ficar só com o bônus de ser governo, e não com o ônus. O PAC, por exemplo, jamais conseguiu gastar tudo o que tem para investir em cada orçamento, e isso porque projetos são mais difíceis de serem executados do que o aumento do gasto corrente, como já vimos. O programa habitacional demorou meses sendo desenhado e tem várias boas ideias, como a de garantir ao comprador de baixa renda que só pague quando estiver morando, para não ter que somar o custo da prestação ao do aluguel. Outro é o subsídio à taxa de juros que varia de acordo com a renda, maior quanto menor for a capacidade de pagamento do comprador. Um bom programa de moradia popular era necessário, mas isso, sozinho, não é um plano de combate à crise. Enfrenta um dos lados do enorme déficit de moradias do Brasil. A crise econômica também é grave demais para que as soluções do governo fiquem prisioneiras de objetivos políticos de 2010. Todo governo lança pla-

nos habitacionais, anuncia que a Caixa destinará bilhões para construção da casa própria, e usa o dinheiro do FGTS para isso. O atual já fez isso algumas vezes. Nada garante que esse seja o plano que acabará com todos os planos, mas há grande risco de que esse incorra em alguns erros perigosos. O FGTS vai ser cada vez mais requerido nos próximos meses pelos saques dos trabalhadores que perderão o emprego. É uma poupança compulsória e mal remunerada (3% ao ano), que tem sido usada como funding para programas que querem pagar um custo pequeno. Mas o fundo tem compromissos com os trabalhadores que estão hoje com emprego e amanhã podem não estar, e que sacarão recursos do FGTS. As últimas notícias dão conta de que tem aumentado o saque, mas isso se agravará nos próximos meses. A melhor forma de o governo usar os recursos públicos para favorecer qualquer setor é explicitar esse custo no orçamento. Mas isso raramente é feito. O economista Alexandre Marinis acha que o plano é correto no sentido de o governo alocar recursos para quem precisa, e não ficar socorrendo grande empresa, como fez na injeção de R$ 100 bilhões no BNDES. Mas ele alerta que o governo vem usando demais os recursos do FAT e do FGTS para fazer a política econômica. — Se o governo não tivesse errado, contratado tanto e aumentado as despesas de pessoal, teria mais R$ 70 bilhões para investir. O pacote de habitação, por exemplo, poderia ser três vezes maior. Uma qualidade do programa é ser, como explicou o presidente da Ademi-RJ, Rogério Chor, um programa que tem incentivos à demanda. Normalmente, os planos habitacionais subsidiam a construtora e incentivam a oferta, quando o correto é financiar o comprador final de baixa renda para que ele, com a garantia de uma prestação mais baixa, se disponha a comprar. Mesmo assim, há detalhes que precisam ser analisados. O presidente do Sinduscon-SP, Sérgio Watanabe, disse que o pacote tem qualidades e deve ajudar o setor, mas citou que nenhum detalhe sobre como os estados e municípios vão apresentar os projetos de habitação foi citado. — O governo deve regulamentar os princípios básicos, a Caixa vai normatizar. Só que a articulação entre estados e municípios será o grande trabalho para fazer os projetos de infraestrutura. As entidades de classe devem cobrar os projetos. Se isso não acelerar, vai atrasar o início e o andamento das obras.

oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br

COM LEONARDO ZANELLI

Gustavo Paul, Eduardo Rodrigues e Luciana Casemiro ●

A DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS

BRASÍLIA e RIO. Os construto-

res brasileiros ficaram satisfeitos com o pacote habitacional lançado ontem, mas não disfarçam a apreensão com a capacidade de sinergia entre os atores envolvidos. Sem a atuação coordenada dos governos federal, estaduais e municipais, a Caixa Econômica Federal, os cartórios e os órgãos de licenciamento ambiental, os empresários temem que o pacote não seja bem-sucedido. Os ingredientes para ele dar certo, porém, estão presentes. — O conjunto do pacote é abrangente, os gargalos foram atacados e há recursos suficientes. Mas será preciso uma sinergia. Hoje o licenciamento ambiental é um dos grandes entraves — afirmou Roberto Senna, presidente da Bairro Novo, empresa do Grupo Odebrecht. Um dos principais articuladores do pacote, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady, lembrou que o momento é histórico para a indústria da construção e que traduz muito do que o setor vinha defendendo. Ele alerta, porém, que outro desafio para o plano dar certo é ter terras suficientes para construir as casas: — A União tem terrenos suficientes e os estados e municípios também deverão contribuir. Esse não deverá ser um problema para a Construtora Tenda, voltada ao público de quatro a dez salários mínimos. Segundo seu presidente, Carlos Trostli, seu estoque de terrenos é suficiente para erguer 54 mil unidades nos próximos anos, atendendo parte do público do programa do governo. Para Trostli, o plano é capaz de transformar o setor, mas é fundamental manter a interação entre empresas e governo: — O pacote funciona e tem de ser operacionalizado pelo governo e pela iniciativa privada. Não existem soluções espontâneas. Cassio Audi, diretor de Relações com Investidores da Rossi, diz que a participação dos empreendimentos econômicos, com unidades até R$ 130 mil, vem crescendo na empresa: — Em 2007, eram 13% do orçamento; no ano passado, 29% e, este ano, o plano era chegar a 50%, mas com o pacote esse número pode ser superado — avisa Cassio, que celebra o fato da regionalização do investimento. — O projeto é ambicioso, o governo precisa pôr energia e foco para que seja efetivo. Especialistas destacam impacto na economia Para Luiz Antônio França, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o principal ponto do pacote é definir uma política clara para a habitação direcionada à baixa renda: — Era necessário uma política clara para esse segmento, o que significa subsídio. E isso acontece num momento importante para o país e o setor vai dar um grande reforço ao PIB, estimulando a indústria como um todo — destaca França, que diz estar esperando o detalhamento do pacote até o fim da semana. O presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, reforça o fato de que o pacote pode ajudar na recuperação dos setores prejudicados pela crise internacional. Mas a falta de desoneração tributária para materiais de construção frustrou o presidente da Associação das Indústrias de Material de Construção (Abramat), Melvin Fox. Ainda assim, ele garante que não haverá problemas no fornecimento de insumos para a construção das moradias. ■

QUANTO CADA FAIXA DE RENDA TERÁ Até 3 salários mínimos (até R$ 1.395) Casas: 400 mil Subsídios: R$ 16 bilhões (Orçamento) Prestação: até 10% da renda por 10 anos, ou seja, com prestação mínima de R$ 50 por mês, corrigida pela TR e em nome da mulher Seguro: isento

3 a 6 salários mínimos (de R$ 1.395 a R$ 2.790)

6 a 10 salários mínimos (de R$ 2.790 a R$ 4.650) Casas: 200 mil Subsídios: não haverá, os financiamentos terão juros de mercado (ou seja, da linha de financiamento, com recursos do FGTS e da poupança) Seguro: queda no percentual, de acordo com a idade

Casas: 400 mil Subsídios: R$ 10 bilhões (R$ 7,5 bilhões do FGTS e R$ 2,5 bilhões do Orçamento da União) Prestação: comprometimento de até 20% da renda para pagamento da prestação Valor máximo do imóvel: R$ 130 mil Prazo de pagamento: até 30 anos Taxa de juros: entre 5% e 6% ao ano Seguro: queda no percentual, de acordo com a idade

O FUNDO GARANTIDOR O QUE É

COBERTURA

refinanciamento de parcelas em caso de inadimplência temporária

3 a 5 salários: até 36 prestações sem ônus 5 a 8 salários: até 24 prestações sem ônus 8 a 10 salários: até 12 prestações sem ônus

CONTRIBUIÇÃO

0 a 5 salários: isento 5 a 10 salários: 0,5% do valor da prestação

COMO VAI FICAR O SEGURO DE VIDA NOS FINANCIAMENTOS

35,09

(Em % da prestação)

EXEMPLOS: Como é hoje Como vai ficar 4,13

1,50

5

18,28 8,32

1,82

3,02

6,64

6,64

21 anos 36 anos 46 anos 56 anos 61 anos

IDADE

FONTE: Governo federal

Programa terá cadastro Seleção será de estados e municípios Martha Beck e Geralda Doca ● BRASÍLIA. Os trabalhadores que ganham entre zero e três salários mínimos terão que esperar para poder usufruir do pacote de estímulo à habitação anunciado ontem pelo governo. Segundo o vicepresidente de Governo da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, primeiro será necessário que construtoras e cooperativas apresentem ao banco projetos de construção de moradias destinadas a essa faixa de renda. Quem quiser adquirir esses imóveis (que serão subsidiados quase em sua totalidade) precisará entrar num cadastro organizado pela prefeitura ou pelo governo estadual — mas este sistema

ainda não está fechado. Segundo Hereda, essa seleção seguirá critérios semelhantes aos do Programa de Arrendamento Residencial (PAR). No caso das famílias que ganham acima de três salários mínimos, bastará procurar uma agência da Caixa ou os estandes de venda de novas unidades. Segundo Hereda, o governo definiu 13 de abril como a data para o início da vigência do pacote para dar a agentes financeiros, construtoras e governos um tempo de adaptação às novas regras. A Caixa provavelmente também será responsável por apontar terrenos — que tenham sido levantados por estados e municípios — para os projetos privados.

O conjunto do pacote é abrangente, os gargalos foram atacados e há recursos suficientes. Mas será preciso uma sinergia. Hoje o licenciamento ambiental é um dos grandes entraves

ROBERTO SENNA, presidente da Bairro Novo, empresa do Grupo Odebrecht

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PALAVRA DE ESPECIALISTAS

Rodrigo Daniel dos Santos • consultor da ABMH

Alexandre Espírito Santo • diretor da ESPM

Preocupação é como a conta será paga ● Quem vai pagar a conta, e como? Essa é a preocupação de Alexandre Espírito Santo, diretor do curso de Relações Internacionais e chefe de departamento de Economia da ESPM-Rio, e de Rodrigo Daniel dos Santos, consultor jurídico da Associação Brasileira de Mutuários da Habitação (ABMH). Enquanto o economista está preocupado com o fato de o pacote habitacional do governo estar baseado em subsídios, em época de retração da arrecadação, o advogado diz não estar claro como serão os contratos para os compradores. — O governo acertou ao apostar na habitação para impulsionar a economia, pois é o setor com maior poder de multiplicação. Mas, como nos

demais governos mundo afora, a preocupação é salvar o moribundo (a economia). Ninguém está preocupado no efeito colateral dessa medicação, baseada em muito subsídio, quando tudo leva à redução de arrecadação. Essa conta quem vai pagar é o próximo governo — analisa Espírito Santo. Ele preocupa-se ainda se a Caixa Econômica, gestora do FGTS — um dos principais fundos do pacote —, terá estrutura para executar o plano: — É algo bastante complicado, até porque envolve estados e municípios, que tenho dúvidas que estejam preparados — diz Espírito Santo, que teme ainda pela burocracia. — Quase 40% dos recursos estão direcionados ao Sudeste, onde a burocracia é maior. O governo acenou

com a “descartorização” do processo, resta saber se isso vai sair do papel. Para Santos, da ABMH, a exclusão do prazo para a construção de um milhão de moradias enfraquece o pacote: — Achei tudo muito evasivo. Como será esse financiamento? Que tipo de contrato? Será PAR (Programa de Arrendamento Residencial), que funciona como um leasing? Ainda segundo o advogado, o pacote cria duas categorias de mutuários: — O governo admitiu que os seguros distorciam as prestações e vão reduzi-lo no âmbito do pacote. Mas, como ficam os mutuários com os financiamentos em curso? Seguro, aliás, é um item frequente de discussão nas ações judiciais. (Luciana Casemiro)


O GLOBO

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ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 24 - Edição: 2/04/2009 - Impresso: 1/04/2009 — 22: 16 h

ECONOMIA

Quinta-feira, 2 de abril de 2009

O GLOBO

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Cartão: taxas no país são as mais altas do mundo Estudo de instituição americana mostra que lojistas do Brasil têm os maiores custos entre 17 países analisados Editoria de Arte

Fernando Quevedo

Camila Nobrega, Eduardo Rodrigues e Ronaldo D’Ercole ● RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO. Já conhecido por ser o primeiro no ranking mundial de juros reais (descontada a inflação), o Brasil aparece no topo de outra lista: a de taxas de administração mais altas cobradas dos lojistas pelas administradoras de cartão de crédito e débito. Segundo estudo da Unfair Credit Card Fees, entidade americana que congrega lojistas, em 17 países, a cobrança média não passa de 2%. No Brasil, a média é de 2,9% por transação, mas pode chegar a 5%, de acordo com a Associação das Empresas Lojistas em Shopping Centers do Rio (Aloserj). Na última terça-feira, o Banco Central (BC) divulgou estudo pelo qual expressa descontentamento com o setor no Brasil e antecipa que tentará estabelecer nova regulamentação. O levantamento mostra que o segmento é comandado por poucas empresas, não repassa ganhos de escala e tecnológicos para os lojistas e trabalha com uma rentabilidade acima do justificado pelo risco das operações. De acordo com o analista de varejo Ulisses Reis, as variações nas taxas ocorrem, porque elas são negociadas com base nas taxas de juros do país, além do grau de risco e do número de operações: — Os juros no Brasil são

OS CUSTOS NO MUNDO

Taxas pagas por lojistas a cada transação realizada em cartão de crédito ou débito (média) Em %

0,45 Austrália 0,79 a rr Inglate 0,9 Itália 0,95 lândia 1,04 Nova Ze Kong 1,1 Hong Índia 1,35 Suíça 1,6 2 Grécia 2,9 Unidos s o d ta s E BRASIL

ANTÔNIO LOUZADA usa um dos seis cartões de crédito que possui para comprar uma bola de futebol na Saara

FONTES: Unfair Credit Card Fees, National Retail Federation e Aloserj Obs: Dados de 2006; dos Estados Unidos e do Brasil, de 2009

ses e, após este período, as autoridades vão avaliar as providências que serão tomadas. Ênio Bittencourt, presidente da Saara, reclama das taxas: — Se não tiver cartão, não vendo. Tenho cinco máquinas aqui e pago de R$ 70 a R$ 90 de aluguel por mês. As taxas estão próximas dos 5% e, além disso, só recebo 30 dias depois. Preciso pagar mais de 10% se pedir antecipação. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) informou que avalia a possibilidade de pedir ao BC que am-

plie os canais de comunicação para a consulta pública sobre os dados do estudo. — Parece que o BC finalmente acordou, porque de fato há problemas na relação entre as empresa de cartões e os lojistas, que acabam se refletindo sobre os consumidores — disse Marcos Diegues, assessor jurídico do Idec. Em comunicado divulgado no início da noite, a Abecs, associação das empresas de cartões de crédito, limitou-se a dizer que suas associadas pretendem “colaborar para o apri-

muito altos e as margens de inadimplência também. Em muitos países, não se paga, por exemplo, anuidade do cartão. No Rio de Janeiro, mais de 80% das transações são feitas por meio de cartões, segundo a Aloserj. O pedreiro Antônio Louzada, por exemplo, foi ontem à Saara, no Centro, e usou um de seus seis cartões para comprar uma bola de futebol: — Eles me salvam na hora que preciso. Ninguém anda mais com muito dinheiro no bolso. O estudo divulgado pelo BC contém pesquisa com 500 em-

China passa EUA e se torna o maior importador de produtos brasileiros

Nem crise financeira escapa do 1-o de abril

País asiático impulsionou superávit comercial de US$ 1,771 bi em março

‘Economist’ anuncia parque temático ●

LONDRES. A imprensa bri-

tânica adora uma piadinha de 1 o- de abril. Ontem, para marcar a data, o jornal “Guardian” fez um apanhado de algumas das pegadinhas, tanto da mídia impressa como da eletrônica. As manchetes variavam de notícias estapafúrdias como uma ovelha xadrez à inauguração de um parque temático da crise financeira. Esta foi a piada da revista “Economist”: a construção do parque temático Econoland. Com um tom sério, a revista afirmava que o parque teria atrações como a montanha-russa do câmbio, a câmara dos horrores da dívida e a ilha da fantasia fiscal. Segundo um porta-voz da “Economist”, o parque “vai despertar a criança que existe em cada um de nós, apesar de não ser permitida a entrada de crianças”. Como a revista é semanal e só sai às quintas-feiras, a brincadeira ficou só no site, com direito a mapa interativo do parque.

presas usuárias desses meios de pagamento, em que 47,21% defenderam reduções nas taxas, enquanto 20,30% cobraram melhor atendimento. Outros 15,23% defenderam o fim da cobrança do aluguel das máquinas de cartões. A pesquisa mostrou também que 492 estabelecimentos (98,4% do total) disseram que usam a bandeira Visa. Usam Mastercard 95,4% deles. Os dados foram coletados entre 15 de setembro e 3 de outubro de 2008. O estudo ficará na página do BC (www.bcb.gov.br) para receber sugestões e críticas por três me-

Eliane Oliveira

O “Daily Mail” anunciou que colocaria à disposição dos leitores um serviço via iPhone que permitiria, com um clique, informar movimentos suspeitos de imigrantes ou gays. O “Times” anunciou a criação uma ovelha tartan — o padrão de xadrez usado pelos escoceses. Já o “Independent” saiu com a revelação de que a rainha egípcia Nefertiti teria feito uma plástica, e o “Daily Telegraph” afirmou que os peixes podiam ser usados como fonte de energia. O site da BBC mostrou “imagens exclusivas” de um tubarão-baleia. A apresentação era do comediante Stephen Fry. O serviço de notícias pelo celular Twitter mandou ontem mensagens sobre... o assassino de Kennedy em Dallas. O site de vídeos YouTube, por sua vez, colocou as telas todas de cabeça para baixo. Já o diário de negócios “Financial Times” preferiu se abster da brincadeira.

BRASÍLIA. Taxada até recentemente de vilã pelos produtores nacionais, em razão do altíssimo volume de importações em diversas áreas, a China desbancou os Estados Unidos em março deste ano e se tornou, pela primeira vez na História, o maior comprador de produtos brasileiros. Minério de ferro, soja, aeronaves e açúcar são os grandes líderes da pauta dirigida ao mercado chinês. A Ásia, aliás, foi a maior responsável pelo superávit global de US$ 1,771 bilhão na balança comercial brasileira do mês passado. Esse valor — 79,3% maior do que registrado em março de 2008 e praticamente o mesmo nível de fevereiro — resulta da diferença entre US$ 11,809 bilhões em exportações e US$ 10,038 bilhões em importações. No primeiro trimestre de 2009, foi contabilizado superávit de US$ 3,012 bilhões, com exportações em US$ 31,177 bilhões e importações em US$ 28,165 bilhões. No caso específico da China, que comprou 134,6% a mais do Brasil, a balança comercial bra●

sileira de março voltou a registrar superávit com aquele país, após cinco meses consecutivos de déficits. O saldo foi positivo em US$ 508 milhões. — A China tem sido um parceiro fundamental, ao lado de outros países como Coréia e Índia — analisou o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, ao divulgar os números da balança comercial. Governo dá alívio fiscal para exportadores Barral também anunciou sua previsão de exportações para 2009: US$ 160 bilhões, montante 20% inferior ao registrado em 2008, que ficou em US$ 197,9 bilhões. O motivo é o desaquecimento da demanda mundial, por causa da crise. As exportações continuaram em queda em março, mas em ritmo menor do que o das importações. Em relação a igual mês de 2008, os embarques caíram 14,9% e as compras externas, 21,5%. Na comparação com fevereiro de 2009, as vendas externas aumentaram 23,1% e os gastos no exterior, 28,3%. Por blocos econômicos, as

exportações brasileiras só não caíram para Ásia (alta de 45,8%), África (15,1%) e Oriente Médio (16,1%). As vendas para a Europa Oriental recuaram 43%; para os EUA, 40,4%; para o Mercosul, 36,7%; e, para a União Europeia, 20,8%. Os produtos básicos salvaram as vendas externas, com alta de 14,2%. Os embarques de semimanufaturados e manufaturados tiveram retração de 25,8% e 27,1%, respectivamente. Entre os básicos, os destaques foram soja em grão, algodão em bruto e minério de ferro. Os exportadores serão beneficiados com uma portaria que será publicada hoje, no Diário Oficial, suspendendo a cobrança de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), PIS/Pasep e Cofins nas compras de produtos usados na exportação. Esse dispositivo consiste no chamado drawback integrado, para estimular as vendas externas. Ele foi anunciado em maio do ano passado, mas só agora entrará em vigor. Até então, só as importações de insumos destinados à fabricação de bens exportáveis eram livres dos tributos. ■

INDICADORES ÍNDICES NOVEMBRO

DEZEMBRO

JANEIRO

FEVEREIRO

MARÇO

ABRIL

-1,77%

+2,60%

+ 4,66%

-2,84%

+7,18%

N.D.

Salário mínimo (Federal)

R$ 415

R$ 415

R$ 415

R$ 465

R$ 465

R$ 465

R$ 470,34

R$ 470,34

R$ 512,67

R$ 512,67

R$ 512,67

R$ 512,67

Salário mínimo (RJ)

TR 29/03: 0,0413%

IMPOSTO DE RENDA 30/03: 0,0849%

IR na fonte • Abril/2009

31/03: 0,1045%

Selic: 11,25%

Base cálculo

Alíquota

Parcela a deduzir

Correção da Poupança

R$ 1.434,59

Isento

De R$ 1.434,59 a R$ 2.150,00

7,5%

R$ 107,59

De R$ 2.150,01 a R$ 2.866,70

15%

R$ 268,84

De R$ 2.866,71 a R$ 3.582,00

22,5%

R$ 483,84

Acima de R$ 3.582,00

27,5%

R$ 662,94

Dia

27/03 28/03 29/03 30/03 31/03 01/04 02/04 03/04 04/04 05/04 06/04 07/04 08/04 09/04 10/04 11/04 12/04 13/04 14/04 15/04

INFLAÇÃO

INSS/Abril

Bovespa

Índice Dia

0,5913% 0,5875% 0,6445% 0,6445% 0,6445% 0,6445% 0,6738% 0,6649% 0,6487% 0,6486% 0,6090% 0,6016% 0,6342% 0,6586% 0,6431% 0,6076% 0,5868% 0,5487% 0,5484% 0,5791%

16/04 17/04 18/04 19/04 20/04 21/04 22/04 23/04 24/04 25/04 26/04 27/04 28/04

Índice

0,6093% 0,6022% 0,6030% 0,5799% 0,5412% 0,5537% 0,5537% 0,5980% 0,5621% 0,5719% 0,5477% 0,5190% 0,5213%

Obs: Segundo norma do Banco Central, os rendimentos dos dias 29, 30 e 31 correspondem o ao dia 1 - do mês subseqüente.

Deduções: a) R$ 144,20 por dependente; b) dedução especial para aposentados, pensionistas e transferidos para a reserva remunerada com 65 anos ou mais: R$ 1.434,59; c) contribuição mensal à Previdência Social; d) pensão alimentícia paga devido a acordo ou sentença judicial. • Obs: Para calcular o imposto a pagar, aplique a alíquota e deduza a parcela correspondente à faixa. • Esta nova tabela só vale para o recolhimento do IRRF este ano. Correção da oitava parcela: 7,21% Fonte: Secretaria da Receita Federal

Salário de contribuição (R$)

Alíquota (%)

Até 965,67 de 965,68 até 1.609,45 de 1.609,46 até 3.218,90

8 9 11

Obs: Percentuais incidentes de forma não cumulativa (artigo 22 do regulamento da Organização e do Custeio da Seguridade Social).

Trabalhador autônomo Para o contribuinte individual e facultativo, o valor da contribuição deverá ser de 20% do salário-base, que poderá variar de R$ 465 a R$ 3.218,90

Ufir

Ufir/RJ

Abril R$ 1,0641

Abril R$ 1,9372

Índice (12/93=100)

Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro

0,26% 0,45% 0,36% 0,28% 0,48% 0,55%

4,76% 5,23% 5,61% 5,90% 0,48% 1,03%

6,25% 6,41% 6,39% 5,90% 5,84% 5,90%

IGP-M (FGV) Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março

Índice (08/94=100)

No mês

410,524 412,104 411,575 409,782 410,849 407,808

0,98% 0,38% -0,13% -0,44% 0,26% -0,74%

Variações percentuais No ano Últ. 12 meses

9,53% 9,95% 9,81% -0,44% -0,18% -0,92%

12,23% 11,88% 9,81% 8,15% 7,86% 6,27%

IGP-DI (FGV)

Unif Obs: A Unif foi extinta em 1996. Cada Unif vale 25,08 Ufir (também extinta). Para calcular o valor a ser pago, multiplique o número de Unifs por 25,08 e depois pelo último valor da Ufir (R$ 1,0641). (1 Uferj = 44,2655 Ufir-RJ)

2861,55 2874,43 2884,78 2892,86 2906,74 2922,73

Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro

Índice (08/94=100)

No mês

401,327 405,707 405,982 404,185 404,244 403,737

0,36% 1,09% 0,07% -0,44% 0,01% -0,13%

Variações percentuais No ano Últ. 12 meses

8,32% 9,51% 9,58% 9,10% 0,01% -0,11%

11,90% 12,29% 11,20% 9,10% 8,05% 7,50%

Dólar comercial (taxaPtax) Paralelo (São Paulo) Diferença entre paralelo e comercial Dólar-turismo esp. (Banco do Brasil) Dólar-turismo esp. (Bradesco)

Rede Insinuante quer comprar o Ponto Frio ● SÃO PAULO. O diretor-presidente do grupo Insinuante, Luiz Carlos Batista, disse ontem que a empresa prepara proposta de compra a ser apresentada à Globex, controladora do Ponto Frio, que anunciou no sábado a intenção de vender a rede. Desde então, grandes empresas do setor, como Pão de Açúcar, Lojas Americanas, Magazine Luiza, RicardoEletro e a própria Insinuante passaram a ser apontados como potenciais interessados. Terça-feira, o Grupo Silvio Santos, que controla as lojas Baú Crediário, entrou na disputa pelo Ponto Frio, controlado por Lily Safra, viúva do banqueiro Edmond Safra. Para o grupo, a aquisição permitiria avançar no projeto de tornar a Bau Crediário uma rede nacional. Ontem, a Insinuante, que tem sede na Bahia, formalizou a sua intenção. — Formamos um consórcio com o Banking & Trade Group (BTG), do empresário André Esteves, e estamos avaliando a situação da companhia para fazermos a nossa oferta formal para a rede — disse Batista. Com faturamento de R$ 2 bilhões em 2008, a Insinuante é líder no varejo no Nordeste. (Lino Rodrigues e Ronaldo D’Ercole) ■

oglobo.com.br/economia/indicadores

Compra R$ 2,2891 2,25 -1,70% 2,23

Venda R$ 2,2899 2,45 6,99% 2,37

2,20

2,42

Obs: A cotação Ptax do dólar americano de dias anteriores pode ser consultada no site do Banco Central, www.bc.gov.br. Clicar em “Sala de imprensa” e, posteriormente, em “Séries temporais”.

Outras moedas Cotações para venda ao público (em R$) Euro Franco suíço Iene japonês Libra esterlina Peso argentino Yuan chinês Peso chileno Peso mexicano Dólar canadense

COLABORARAM: Juliana Rangel, Patrícia Duarte e Ramona Ordoñez

O GLOBO NA INTERNET

Dólar Variações percentuais No mês No ano Últ. 12 meses

Ações da Redecard têm maior queda da Bolsa: 8,52% As ações da Redecard sentiram os efeitos da possibilidade de mudanças nas regras do setor e tiveram a maior queda da Ibovespa, índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), com recuo de 8,52%. O Banco Goldman Sachs divulgou um relatório alertando para a instabilidade regulatória no setor. O Ibovespa fechou com ganhos de 2,57%, aos 41.976 pontos, diante de notícias positivas sobre a economia americana. O dólar caiu 1,64%, para R$ 2,280. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse ontem que a Petrobras melhorou tanto seu caixa que poderia até mesmo dispensar a captação de novos recursos no mercado externo. No fim do ano passado, a estatal foi obrigada a tomar R$ 2 bilhões junto à Caixa Econômica Federal (CEF) para pagar impostos. Gabrielli afirmou que, se os preços do petróleo ficarem em US$ 37 por barril na média do ano, a Petrobras terá uma geração de caixa da ordem de US$ 10 bilhões, que serão aplicados nos investimentos para 2009 que totalizarão US$ 28,6 bilhões. ■

Veja mais indicadores e números do mercado financeiro

CÂMBIO

IPCA (IBGE)

Trabalhador assalariado

Obs: foi extinta

a

moramento dos trabalhos” para a “modernização e aperfeiçoamento da indústria”.

3,0095 1,98333 0,0230412 3,28755 0,612231 0,332485 0,00390354 0,163509 1,80481

Fonte: Mercado

Obs: As cotações de outras moedas estrangeiras podem ser consultadas nos sites www.xe.com/ucc e www.oanda.com.br.

BOLSA DE VALORES: Informações sobre cotações diárias de ações e evolução dos índices Ibovespa e IVBX-2 podem ser obtidas no site da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), www.bovespa.com.br. CDB/CDI/TBF: As taxas de CDB e CDI podem ser consultadas nos sites de Anbid (www.anbid.com.br), Andima (www.andima.com.br) e Cetip (www.cetip.com.br). A Taxa Básica Financeira (TBF) está disponível no site do Banco Central (www.bc.gov.br). É preciso clicar em “Sala de imprensa” e, posteriormente, em “Séries temporais”. FUNDOS DE INVESTIMENTO: Informações disponíveis no site da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), www.anbid.com.br. Clicar, no quadro “Rankings e estatísticas”, em “Fundos de investimento”. IDTR: Pode ser consultado no site da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg), www.fenaseg.org.br. Clicar na barra “Serviços” e, posteriormente, em FAJ-TR. Selecionar o ano e o mês desejados. ÍNDICES DE PREÇOS: Outros indicadores podem ser consultados nos sites da Fundação Getulio Vargas (FGV, www.fgv.br), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, www.ibge.gov.br) e da Andima (www.andima.com.br).


O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 14 - Edição: 6/04/2009 - Impresso: 5/04/2009 — 21: 35 h

14

Segunda-feira, 6 de abril de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

Saindo do fundo do poço

Parte das empresas e governo vê reação no 2 o- trimestre, outros só no 2 o- semestre sação é também de que o pior pode já ter passado. O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, diz que os lojistas devem refazer seus estoques, após as liquidações estendidas até março, que os ajudaram a levantar capital de giro diante da falta de crédito. Mesmo assim, o crescimento de 9% em 2008 ficará entre 2% e 3,5% este ano. Um dos segmentos mais otimistas é o de supermercados. O presidente da associação do setor (Abras), Sussumo Honda, estima alta de 2,5% do faturamento, que se expandiu 9% em 2008. Os alimentos são gêneros essenciais — cujas marcas podem ser trocadas para evitar corte — e pouco dependentes do crédito. — Todo mundo precisa comer. Na indústria elétrica e eletrônica, a queda de vendas do início do ano foi estancada. De acordo com Humberto Barbato, presidente da Abinee (entidade que representa o setor), no mês passado 55% das empresas disseram que as encomendas estavam menores do que um ano antes. Em fevereiro, o percentual era de 70%. — A recuperação está vindo, mas ela só vai se firmar mesmo quando a confiança do consumidor melhorar. Para quem fabrica bens duráveis, isso é vital — afirmou ele.

Patrícia Duarte e Eduardo Rodrigues

O

BRASÍLIA

s próximos três meses serão decisivos para a economia brasileira. Diante de diversos sinais de retomada de fôlego — embora todos ainda abaixo do excelente ano de 2008 — boa parte do governo e do setor produtivo acredita que a atividade dará sinais ainda mais claros de recuperação entre abril e junho, deixando o pior da turbulência para trás e evitando a estagnação em 2009. O trabalho, porém, não será fácil, o que leva muitos agentes a acreditar que a recuperação definitiva virá apenas no segundo semestre, já que ainda existem obstáculos importantes puxando a atividade para baixo. Em comum, essas correntes têm a convicção de que é possível ao Brasil fechar o ano crescendo 2%, impulsionado pelos estímulos do governo. — O segundo trimestre vai marcar o tom do que vai acontecer neste ano. Já há alguma recomposição, como no crédito, mas as dificuldades permanecem grandes — afirmou o gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, referindo-se, por exemplo, à confiança do empresariado ainda em níveis baixos, aos 47,4 pontos em janeiro, o menor em dez anos. A expectativa dele é de que haja recuperação “muito pequena” neste mês, o que pode antecipar o retorno dos investimentos, que têm sido adiados, e não cancelados. Esse adiamento é um dos principais argumentos dos mais otimistas, como o governo federal, para acreditar na retomada da economia. Desde a divulgação de que a economia havia parado bruscamente no fim de 2008, na Esplanada dos Ministérios e no Palácio do Planalto há um discurso único de que abril marca o início do fim da crise no Brasil. O primeiro setor citado para sustentar o discurso é o automobilístico. Carregado pela mão do governo, que isentou por seis meses o IPI de carros populares, foi um dos primeiros a reagir e registrou este ano seu melhor primeiro trimestre da história do setor. Somente em março foram vendidas 271,3 mil unidades, alta de 36,1% frente a fevereiro. O presidente da federação dos distribuidores (Fenabrave), Sérgio Reze, disse que os estoques se normalizaram no período. As encomendas devem voltar agora, garantindo a expansão das montadoras: — Para a economia como um todo, a crise não acabou e nem está perto do fim. Mas não existe mais aquela visão de que o mundo vai acabar. Para o comércio varejista, a sen-

CORPO

(a recuperação da economia a curto prazo)

PONTOS POSITIVOS

PONTOS NEGATIVOS

Recuperaçã do crédito e juros Recuperação aos consumidores consumidores em queda (neste caso, para os menos otimistas, o movimento ainda é muito lento) Prazos dos eempréstimos, mpréstimos, sobretudo ao setor produtivo, ainda muito baixos Dificuldade de pequenas e médias empresas terem terem acesso a crédito Mercado de capitais ainda tiran uma fonte fechado, tirando d financiamento para importante de investimenos produtivos

Conf Co nfia ianç nça nç a do consumidor con onsu sumi mido dorr e Confiança empr em pres esário ios ai aind nda a dos empresários ainda abalada Nível de emprego se recuperando de forma ainda muito lenta Forte redução de estoques ainda pode levar a desemprego e menos renda Necessidade de reformas estruturais (trabalhista e tributária) Quedas expressivas na produção industrial

O COMPORTAMENT COMPORTAMENTO DA ECONOMIA

Produção industrial

(% sobre o mesmo mês do ano anterior)

a Dos 76 subsetores da indústria acompanhados pelo IBGE, apenas 11 cresceram em fevereiro. Categoria

Agosto Setembro

Geral Bens de capital

Embalado pelas boas perspectivas para o setor da construção civil, com o pacote do governo de R$ 34 bilhões, o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Penna, está otimista porque o abalo global não afetou o consumo das construtoras em areia, saibro e brita. Além do mercado interno aquecido, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ajudaram a manter as vendas. E já há sinais de recuperação das exportações: — É um quadro adverso, mas parou de piorar. Em março, o volume vendido ao exterior superou as 22 milhões de toneladas, próximo ao patamar negociado nos meses que antecederam a crise — disse Penna, lembrando que ainda é cedo para prever o resultado de 2009, pois o comércio exterior é muito volátil. De forma geral, a balança comercial ainda não deu mostras de reação. Mas há luz no fim do túnel. Em março, a média diária de exportações foi de US$ 536,8 milhões contra US$ 532,6 milhões do mês anterior. Além disso, no mês passado, as importações de máquinas e equipamentos (indicadores de investimentos) cresceram 2,5% sobre um ano antes. ■

Bens de consumo

9,8

0,8

12,1

25,8

1,5

6,6

-6,2

-14,5

-17,2

-17,0

15,8

3,6

-13,1

-13,4

-24,4

-2,4

-7,5

-18,2

-20,4

-21,0

-0,1

8,8

0,1

-7,4

-10.2

-13,7

-8,7

2,8

14,9

-1,5

-22, -22,1

-42,2

-30,9

-24,3

-1,1

7,0

0,6

-2,8

-1,8

-8,3

-3,3

Duráveis Semiduráveis e não duráveis

Outubro Novembro Dezembro Janeiro/09 Fevereiro

2,0

Bens intermediários

A

etroeletrônicos; Vendas de eletroeletrônicos; rego se Nível de emprego recuperando, mesmo que lentamente Rend nda a e ma ssa salarial Renda massa as pouco afetad afetadas Adiantamento de Adiantamento investimentos do setor investimentos produtivo, e não cancelamentos cancelamentos Recuperação de exportação no setor de mineração

Recuperação do crédito e juros aos consumidores em queda Recuperação do setor automotivo Vendas do varejo no azul, ainda que menores Recuperação da linha branca, estimulada pelo programa do governo de troca de eletrodomésticos Pacote da construção civil, que m dos setores que estimulará u um mais emp mpre rega gam m mais empregam

Importação de máquinas cresceu

EMPREGO (geração líquida de vagas com carteira assinada)

COMÉRCIO VAREJISTA

(% sobre o mesmo mês do ano anterior) Nov -1,1 •Geral 0,4 super e hipermecados -5,2 tecidos, vestuários e calçados -3,5 móveis e eletrodomésticos veículos e motos, peças e partes -4,0 -2,7 material de construção

CRÉDITO (saldo em R$ bilhões)

Recursos livres 828,703 Setembro/08 871,464 Janeiro/09 868,938 Fevereiro/09 -0,3% Variação em 2009 (%)

Dez 0,4 0,7 0,9 -4,8 4,2 -5,9

109,8 95,9 (fim de dezembro)

1º trimestre/09

106,6 94,2 (fim de março)

Jan 1,4 0,6 2,2 7,1 11,1 -2,8

61.401 OUT

9.179 FEV

-40.821 NOV

-101.748 JAN/2009 -654.946 DEZ

Total 1.153 1.229 1.231 0,3%

JUROS MÉDIOS (% ao ano) Setembro/08 Dezembro Janeiro/09 Fevereiro

Empresas 28,3 30,7 31,0 30,8

EMPLACAMENTOS, SEGUNDO A FENABRAVE CNI FGV

268.734 SET/2008

FONTES: IBGE, Caged, Banco Central, setores, governo e mercado

CORPO

282.841 SET/2008

Recursos direcionados 324,089 357,764 361,928 1,6%

CONFIANÇA DO CONSUMIDOR 4º trimestre/08

Papel-cartão Produção Janeiro-fevereiro 2009 frente 1º bimestre de 2008 -24,8% Fevereiro 2009 frente a janeiro 2009 -4,4%

239.329 OUT

‘O pior da crise já passou’

Alguns fornecedores de matéria-prima ainda estão sem fôlego

Eliane Oliveira

O GLOBO: Por que o senhor acredita que o pior já passou? MIGUEL JORGE: Você viu os números relativos ao consumo de energia em março? Cresceu 2,9% sobre fevereiro. Na segunda-feira passada, em São Paulo, eu apostei com o Jackson (Jackson Schneider, presidente da Anfavea) que a produção de automóveis chegaria a 265 mil no trimestre. Deu 271 mil, o melhor resultado da História. No caso da balança comercial brasileira, o desempenho tem sido negativo... MIGUEL JORGE: Em março, o comércio exterior reagiu.

● BRASÍLIA. Para os mais céticos, a economia só vai desafogar no segundo semestre. Enxergam que a queda abrupta da produção industrial nos últimos meses — 17% só em fevereiro, recuando a quantidade produzida aos níveis de 2004 — ainda vai contaminar outras áreas, como o varejo. E o crédito, apesar da recuperação, ainda está longe dos patamares de antes da crise. Sem contar a dificuldade que pequenas e médias empresas enfrentam para se financiar. Para o professor da Unicamp e consultor do Iedi Júlio Gomes de Almeida, o mercado de crédito ainda é um problema. A recuperação está sendo sustentada pelos recursos públicos (direcionados), mostrando que os bancos privados ainda relutam em emprestar. — Não há recuperação digna do nome. Alguns setores pararam de cair e, aos poucos, acomodam-se em um nível mais baixo — afirma. Segundo o Banco Central (BC), entre janeiro e fevereiro, o saldo dos empréstimos com recursos livres recuou 0,3%, enquanto o de direcionados cresceu 1,6%. Dentro do governo, porém, a recuperação do crédito é vista como um fator positivo, inclusive com os juros em queda e a expectativa de que continuem neste rumo. As projeções gerais são que o BC vai continuar cortando a Selic, a taxa básica de juros, hoje em 11,25% ao ano. Desanimam os prazos dos financiamentos, que recuaram após o agravamento da crise, em setembro, e ainda não deram sinais de melhora. No mercado, especialistas estão pessimistas e acre-

● Há risco de redução de investimentos no país? MIGUEL JORGE: As empresas podem não estar ampliando investimentos, mas não estão recuando. A Wal-Mart anunciou que vai investir mais de R$ 1 bilhão no Brasil. A Volks está negociando o trabalho aos sábados com seus funcionários. E a Mitsubishi vai levar para a fábrica de Catalão (GO) a produção de um novo carro. .

271.393 MAR

177.906 NOV

Crédito escasso atrasa recuperação

● O senhor considera que a indústria está se recuperando, apesar de só 11 dos 76 setores pesquisados pelo IBGE terem crescido em fevereiro ? MIGUEL JORGE: A indústria, de modo geral, não vai se recuperar rapidamente. Há setores se reerguendo, como o automotivo, o de linha branca, de TV de plasma, e outros em vias de se expandir, como a construção civil, contemplada com medidas de estímulo e incentivos fiscais. As indicações que temos é que, em março, veremos estabilidade no emprego.

Famílias 53,1 58,1 55,1 52,7

199.402 194.550 197.524 FEV JAN/2009 DEZ

MIGUEL JORGE

● BRASÍLIA. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, reconhece as dificuldades para que a economia brasileira se recupere a médio prazo. Mas se diz otimista com os sinais de recuperação: “O pior da crise já passou”.

O QUE INFLUENCIA PARA O BEM E PARA O MAL

06ec140a+ Larg.:17.1295cm Alt.:28.6086cm

ditam numa reação mais tardia. O economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, diz que a ação do governo é a saída de curto prazo, com mais investimentos. Mas este é um esforço só para evitar que a economia fique menor este ano. Expansão só em 2010: — Estamos prevendo 3% de crescimento (em 2010). Na linha de frente da equipe econômica, porém, há quem acredite que o Brasil poderá chegar ao fim do ano já crescendo a um ritmo de 4%. No mercado, a expectativa é de apenas 2%. Setores fornecedores de matéria-prima ainda estão sem fôlego. O coordenador de Economia da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Claudio Chaves, diz que a crise praticamente fez parar a produção no último trimestre do ano passado: — Prevemos uma queda de 5,6% este ano. A presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Elizabeth Carvalhaes, explica que a produção de papel-cartão — largamente usado em embalagens e um importante termômetro de atividade — despencou quase 25% no início do ano. O emprego, apesar dos sinais tímidos de retomada em fevereiro, é fonte de preocupação. O diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, calcula que, para absorver a mão de obra que entra no mercado todo o ano, a economia teria de crescer, pelo menos, 3%: — Se isso não acontecer, a taxa de desemprego vai subir e afetar a produção, já que o consumo vai diminuir — disse. (Patrícia Duarte e Eduardo Rodrigues)


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ECONOMIA

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PÁGINA 19 - Edição: 9/04/2009 - Impresso: 8/04/2009 — 23: 17 h

19

Quinta-feira, 9 de abril de 2009 • 2ª edição

O GLOBO

ECONOMIA .

PRESSÃO OFICIAL

EVOLUÇÃO DO CUSTO DO CRÉDITO Taxa (% ao ano)

Spread (pontos percentuais)

43,9

22,9

11,9 DEZ/2007

26,6

13,9

28,3

31,4

(% do total bruto)

Para consumidores

Spread é a diferença entre o custo de captação dos bancos e as taxas cobradas dos clientes

Para em empresas mp mp pres reessas s

Composição dos ‘spreads’

53,1

49,1

58,3

52,7

Inadimplência (risco)

37,4

Lucro dos bancos

26,9

30,8

Impostos

18,3

14,7

18,4

31,9

18,9

38,6

34,7

43,2

41,5

Custos administrativos

13,5

Compulsórios JUN/2008

SET/2008

NOV/2008

DEZ/2007

FEV/2009

JUN/2008

SET/2008

NOV/2008

FEV/2009

3,5

Juros baixos na marra

Governo muda presidente do Banco do Brasil, que terá como meta conceder mais crédito barato Givaldo Barbosa

Patrícia Duarte, Geralda Doca e Eduardo Rodrigues

A

Média praticada de 20 a 26 de março

BRASÍLIA

o confirmar ontem a demissão de Antonio Lima Neto da presidência do Banco do Brasil (BB), antecipada pelo colunista Ancelmo Gois na edição de ontem do GLOBO, o governo deu início a uma nova e mais agressiva fase para tentar derrubar os juros e os spreads bancários (diferença entre o custo de captação de dinheiro e a taxa cobrada dos clientes nos empréstimos) e provocar uma verdadeira “guerra de preços” no mercado. Para isso, explicou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, serão impostas ao novo comandante do BB, Aldemir Bendine, metas de desempenho, uma espécie de contrato de gestão. Entre elas, acelerar as concessões de crédito, reduzir os custos de financiamento, ampliar a atuação no mercado de seguros e ganhar market share. A intenção é fazer o BB influenciar os bancos privados. Com o anúncio da decisão, as ações do banco despencaram 8,15% ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Bendine, que tem fortes ligações com o PT e ocupa hoje a vice-presidência de Cartões e Novos Negócio de Varejo, assume no próximo dia 23. — O Aldemir Bendine assume com um contrato de gestão em que vai se comprometer a agilizar a liberação de crédito, concorrer com os grandes bancos e incorporar novos clientes, aproveitando essa vantagem que tem o Brasil em relação a outros países — disse Mantega. Segundo ele, nos próximos dias serão divulgadas as novas metas. O BB terá de apresentar ao governo um levantamento detalhado dos juros cobrados em todas as linhas para definir onde serão feitos os cortes, de acordo com uma fonte. — Vai ter uma política mais agressiva do que a que vinha sendo feita. Vamos ampliar a concorrência, que no sistema financeiro é incipiente e insatisfatória, e um dos motivos para os spreads elevados — afirmou Mantega.

Dilma: pensam que são de banco privado ● A utilização do BB — o segundo maior banco do país — para aumentar a concorrência no setor bancário é a principal medida do pacote no qual o Executivo trabalha para reduzir o custo dos empréstimos. Outras ações, de menor alcance, serão anunciadas em breve, como a criação do cadastro positivo, via medida provisória, e a adoção de mecanismos para elevar a segurança jurídica dos contratos. O poder de fogo do BB é grande. Só a carteira de crédito ultrapassa R$ 200 bilhões, detendo entre 30% e 40% do segmento de pessoas físicas e se expandindo na área de veículos, após a compra do Votorantim. O BB controla ainda o crédito rural e o financiamento às exportações. — Como funciona em todo oligopólio, um grande baixa o preço e força os demais a fazerem o mesmo.

RANKING DAS TAXAS PESSOA JURÍDICA (% ao mês) Conta garantida HSBC Santander Itaú Banco do Brasil Bradesco ABN Amro/Real

8,67 6,48 5,82 5,33 3,80 2,86

Aquisição de bens Itaú Bradesco Banco do Brasil ABN Amro/Real HSBC Santander

2,63 2,06 2,02 1,97 1,86 1,58

PESSOA FÍSICA (% ao mês) Cheque especial Santander HSBC ABN Amro/Real Bradesco Itaú Banco do Brasil Caixa

GUIDO MANTEGA (ao centro) anuncia a saída de Lima Neto (à direita) e a escolha de Bendine para o cargo: guerra de preços

Aquisição de veículos

Lula: ‘Reduzir o spread é uma obsessão minha’

Itaú ABN Amro/Real Santander Banco do Brasil HSBC Caixa

‘Quem tem bancos públicos pode começar com essa tarefa’, diz presidente Evandro Éboli ● BRASÍLIA. Mesmo sem ter assumido a demissão de Antonio Francisco Lima Neto do comando do Banco do Brasil (BB), atribuindo ao executivo o pedido para sair, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou ontem que o nível do spread bancário o incomoda muito e que reduzi-lo virou uma obsessão. O elevado spread, que é a diferença entre o custo de captação de recursos para os bancos e o que essas instituições cobram do tomador final de empréstimo, foi a principal razão do afastamento de Lima Neto. — A redução do spread bancário neste momento é uma obsessão minha. Nós precisamos fazer o spread bancário voltar à normalidade no país. O Guido Mantega (ministro da Fazenda) sabe disso, o Banco do Brasil sabe disso, a Caixa Econômica e o Banco Central também sabem disso. Não há nenhuma ne-

cessidade de o spread bancário ter subido tanto no Brasil de julho para cá — disse Lula, à saída de encontro nacional de comunicadores. O presidente lembrou que foi criado um grupo de trabalho para apresentar proposta para a redução dos spreads bancários. O pacote — costurado pelo assessor especial da Fazenda Bernard Appy — deverá ser divulgado em breve: — Estamos numa fase em que Banco Central e Ministério da Fazenda estão estudando isso (o comportamento dos spreads). Quem tem bancos públicos pode começar com essa tarefa de reduzir a taxa do spread bancário. Lula disse que foi informado da saída de Lima Neto por Mantega e que o ex-presidente do BB foi quem decidiu deixar o cargo: — Não trato dessas coisas diretamente. O que sei é que Lima Neto foi falar com o Mantega da disposição de sair.

.

O BB vai sofrer, vai ter de reduzir o spread, vai perder rentabilidade, vai ter de diminuir despesas administrativas — explicou ao GLOBO um interlocutor da equipe econômica. Apesar dos lucros nos últimos anos, o governo avalia que o BB é ineficiente e que isso é mascarado por seu tamanho. Há também queixas, principalmente de empresas, sobre entraves burocráticos para concessão de crédito. Com a piora da crise, em setembro, o governo passou a pressionar o BB para ousar na concessão e na queda de custo do crédito. Lima Neto não atendeu e foi fritado. A posição do Planalto foi verbalizada ontem pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em reunião com centrais sindicais. — Nós não aguentamos mais discutir com presidentes de bancos públicos, porque eles pensam que são presidentes de bancos privados — disse a ministra, segundo relato do deputado Paulo Pereira da Silva (PDTSP), presidente da Força Sindical. Mantega negou interferência política. Argumentou que não haverá perda de rentabilidade. No ano passado, o

BB registrou lucro recorde de R$ 8,8 bilhões. Bendine argumentou que os futuros cortes nos spreads serão compensados pelo aumento no volume de crédito. Para ele, a solidez da economia permite custos menores: — (Corte nos juros) já é algo estabelecido. O que vamos combater, do ponto de vista da rentabilidade, é a queda do spread com aumento do volume de crédito.

Em algumas linhas, perde para privados Lima Neto negou pressão do governo para reduzir juros: — É um ciclo que se completa e temos de seguir adiante. Estou satisfeito de ter concluído passos importantes da gestão do BB com o apoio do governo, em especial da Fazenda. Bendine também terá de explicar a Mantega por que os cartões de crédito aumentaram a taxa de administração cobrada dos lojistas, já que ele preside a associação do setor, a

Abecs. A solicitação saiu ontem de reunião do Grupo de Acompanhamento da Crise (GAC), na Fazenda. As críticas aos spreads encontram eco nos juros que o BB cobra das empresas. Apesar de ter o crédito mais barato entre os grandes bancos no desconto de duplicatas, na modalidade de conta garantida, por exemplo, o BB cobra em média 5,33% ao mês, bem acima de concorrentes privados, como ABN Amro/Real (2,86%) e Bradesco (3,80%). Os dados constam do ranking de juros do Banco Central. O BB fica atrás de Santander, HSBC e ABN, nessa ordem, na linha corporativa para aquisição de bens. Já em capital de giro o BB é competitivo: só Santander tem taxas melhores. O BB, nesse caso, é tão vantajoso quanto a Caixa. Nas principais modalidades de crédito para o consumidor, como cheque especial e crédito pessoal, os juros do BB só são maiores que os da Caixa. Estes, ao contrário dos grandes bancos privados, já reduziram as taxas para patamares inferiores aos de antes da crise global, seguindo orientação do governo. Na comparação entre agosto

9,25 8,97 8,80 8,64 8,60 7,98 6,31 2,30 2,05 1,71 1,69 1,63 1,46

TRAJETÓRIA DOS JUROS

Taxas máximas cobradas no empréstimo pessoal (% ao mês)

7,01

Itaú

6,64

Banco do Brasil

5,99 99 5,93 93

5,91 Bradesco

4,49 49 Caixa Caix AGO/2008

4,6 4, 4,39 MAR/2009

FONTES: Banco Central, Febraban e Procon

de 2008 — antes da explosão da crise — e março deste ano, a taxa máxima do cheque especial no BB caiu 0,65 ponto percentual, de 8,56% para 7,91%. As críticas ao banco se referem, porém, à decisão de aumentar os juros, que chegaram a 8,62% entre outubro e dezembro, no auge da turbulência, influenciando o resto do mercado. — Não existe explicação técnica para os altos spreads no Brasil. É preciso usar ainda mais o poder de fogo dos bancos federais para fomentar o crédito e acirrar a competição no setor — disse o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a maior demanda por crédito interno de grandes companhias, que antes da crise se financiavam no exterior ou no mercado de capitais, inflacionou o custo do dinheiro para tomadores menores. ■ COLABORARAM Luiza Damé e Martha Beck ●

BENDINE TEVE ASCENSÃO METEÓRICA, na página 20


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ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 17 - Edição: 10/04/2009 - Impresso: 9/04/2009 — 22: 11 h

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Sexta-feira, 10 de abril de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

Editoria de Arte

BB já vale R$ 5 bi a menos

LADEIRA ABAIXO PERDA NO VALOR DE MERCADO DO BANCO DO BRASIL EM DOIS DIAS

Saiu de R$ 48,491 bilhões Para R$ 43,280 bilhões

R$ 5,211 bilhões

Queda das ações em dois dias, devido à troca na presidência, reduz valor de mercado a R$ 43 bi Felipe Frisch, Eduardo Rodrigues e Lino Rodrigues RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO

A

ingerência política sobre o Banco do Brasil (BB) já custou R$ 5,211 bilhões em valor de mercado à instituição em apenas dois dias. Essa é a desvalorização do BB na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) — considerando o preço de todas as suas ações — depois que o governo demitiu Antonio Lima Neto da presidência do banco e o substituiu por Aldemir Bendine, ligado ao PT, com o intuito de forçar a queda do spread (diferença entre o custo de captação e os juros cobrados nos empréstimos). Na terça-feira, os acionistas do BB foram dormir com papéis de um banco que valia R$ 48,491 bilhões. Ontem, depois da queda acumulada das ações de 10,75% em dois dias (de 8,15% na quarta e mais 2,82% na quinta-feira), o banco passou a valer R$ 43,280 bilhões. No mesmo período, a Bolsa subiu 3,91% pelo Índice Bovespa (Ibovespa). Para analistas, as ações do BB sofreram um baque irreversível: mesmo que recuperem o que perderam nos últimos dias, serão por muito tempo avaliadas com um “desconto” maior frente a seus concorrentes. Isso já ocorre com a Petrobras em relação a similares estrangeiras. — Parece que o mercado não estava dando atenção para o fato de que o BB era controlado pelo governo. Isso, com certeza, pode mudar a forma de avaliar a ação. Se você é acionista do banco, você quer lucro. Se o governo tira isso, o preço já mudou — disse Hersz Ferman, economista da Um Investimentos. Para Álvaro Bandeira, economistachefe da corretora Ágora, o caso é mais gritante pelo fato de o BB fazer parte do Novo Mercado da Bolsa, segmento de companhias com relações mais transparentes com os acionistas. E a empresa deve se pautar pela competitividade, para dar retorno ao investidor, afirmou. Para o coordenador técnico da consultoria Tendências, Márcio Nakane, a simples troca da presidência do BB não levará à queda do spread. Esta é a intenção do governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a afirmar que reduzir o spread tinha se tornado sua “obsessão”. — Na marra a coisa não vai funcionar. O empréstimo é um contrato financeiro com o banco, e a taxa de juros é um de seus elementos. Já para o professor de economia da

Unicamp e diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Júlio Gomes de Almeida o governo precisa “dar um empurrãozinho” para que os bancos estatais baixem suas taxas: — Se pedir muita licença, os bancos não vão baixar os juros.

Analistas veem maior exposição a risco O BB liderou, no período agudo da crise, a expansão do setor público no mercado de crédito. A participação das três principais instituições federais — BB, BNDES e Caixa Econômica Federal — na concessão de novos financiamentos passou de 46,9% em dezembro de 2007 para 48,7% no fim do ano passado, segundo a Austin Rating. — É normal que os bancos privados tomem mais precauções ao emprestar em um momento de forte estresse econômico. Os bancos públicos, então, ficaram responsáveis por destravar o crédito — disse Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating. Mas Rodrigues ressalta que o aumento na concessão de crédito pelo BB ameaça ultrapassar os limites de exposição a risco estabelecidos pe●

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VARIAÇÃO NOS ÚLTIMOS DOIS DIAS Ibovespa Ações do Banco do Brasil

- 10,75%

+3,91

BANCOS PÚBLICOS AUMENTAM SUA FATIA NO CRÉDITO

Participação no estoque das operações de crédito (empréstimos concedidos e ainda não quitados, em R$ bilhões) AGOSTO DE 2008 - ANTES DA CRISE Bancos Bancos nacionais públicos privados

Bancos estrangeiros

380,323 (34,25% do total)

494,093 (44,5%)

235,877 R$ 1.110 (21,25%) trilhão

FEVEREIRO DE 2009 Bancos públicos

Bancos nacionais privados

Bancos estrangeiros

456,566 (37,10% do total)

520,245 (42,26%)

254,056 (20,64%)

R$ 1.230 trilhão

PESO NO MERCADO

(em % das concessões de novos empréstimos) 12/2007

12/2008

BNDES

OPINIÃO

19,6

CUSTO E BENEFÍCIO

A INTERVENÇÃO do governo no

BB se enquadra no conhecido enunciado de que, para todo problema complexo, há uma solução simples, objetiva — e errada. O SEGREDO do fascínio dessas fór-

mulas salvacionistas está em levar o idealizador delas a achar que evitou uma alternativa complicada, trabalhosa. Mas sempre, como se sabe, esta é a correta. NO CASO, em vez de colocar uma

instituição do porte do banco na rota do prejuízo e do descrédito, deveria o governo trabalhar com afinco em outras frentes, para reduzir de forma consistente, sem mágicas, os spreads e juros. DÁ TRABALHO, mas cortar gastos em custeio, com isso reduzir a dívida interna e, por tabela, o custo (juros) de sua rolagem, é

mais produtivo do que demitir o presidente do BB e trincar a imagem do banco.

O MESMO vale para a aprovação definitiva do cadastro positivo único de clientes. Sua inexistência obriga banco a cobrar juros mais altos, para financiar as perdas do sistema com os contumazes inadimplentes. Implica trabalho político no Congresso, mas de resultado imediato nas taxas. OUTRA DECISÃO, também traba-

lhosa mas efetiva, é reduzir a carga tributária sobre os juros. Significa ter de compensar a medida com redução de gastos. Por isso, há custos políticos, mas produziria efeitos positivos e rápidos no mercado. TUDO O que não acontecerá com a

intervenção no banco.

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Mas instituição é criticada pela burocracia BRASÍLIA. Apesar das constantes reclamações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação aos bancos públicos, a troca de comando na Caixa Econômica Federal está descartada por ora, afirmaram fontes ao GLOBO. O entendimento é que a Caixa tem atuado de forma mais alinhada à política de governo, que quer reduzir juros e spreads na marra. Ainda assim há insatisfação com a instituição. Para várias esferas do governo, Palácio do Planalto incluído, e de setores que dependem do banco, a Caixa tem problemas burocráticos sérios na liberação de recursos. Algo considerado grave para uma instituição que intermedeia a relação entre União e municípios em áreas como saneamento e habitação e projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Sem contar que o banco tem a missão de tocar a construção de um milhão de moradias do pacote habitacional. Outras críticas são a centrali-

Na contramão da Bolsa

20,8

CEF: sem troca de comando ●

lo Acordo de Basiléia. Estes dizem respeito à relação entre o crédito concedido e o patrimônio líquido de um banco. Atualmente, essa relação no BB estaria em torno de 15%, e não poderia ficar abaixo de 11%. A avaliação dos analistas é que, para o BB expandir muito o crédito e derrubar juros e spreads, o banco teria de ser capitalizado pelo Tesouro. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou ontem ao GLOBO haver estudos nesse sentido. — Nada mais justo do que o governo capitalizar os bancos públicos para ampliar o crédito. Mas é preciso tomar cuidado para não comprometer a qualidade das carteiras — disse Rodrigues, da Austin. Um aporte de capital do Tesouro no BB esbarraria num obstáculo. O banco precisa aumentar seu percentual de ações em circulação, para atender ao que é exigido pelo Novo Mercado, de pelo menos 25%. Hoje, o BB tem 21,7% de seus papéis em livre circulação. E recentemente pediu mais prazo, até 2011, para se adequar a esses 25%, devido ao cenário adverso do mercado. Agora, os investidores estão ainda mais arredios às ações do banco. E, se o Tesouro fizer um aporte de capital, o BB terá de vender ainda mais papéis para atingir os 25%.

zação de decisões e o excesso de garantias exigidas, por medo de calote. Entretanto, a posição com que trabalhavam ontem a Esplanada dos Ministérios e interlocutores do Planalto era que a dirigente da Caixa, Maria Fernanda Coelho, tem se esforçado mais para seguir as determinações de Lula do que o presidente demitido do Banco do Brasil, Antonio Lima Neto. Argumenta-se que a Caixa não elevou juros no auge da crise — como fez o BB — e fez três cortes significativos em linhas de crédito desde janeiro. O vice-presidente de Finanças da Caixa, Márcio Percival, afirmou ao GLOBO que novas reduções estão previstas, caso a taxa básica Selic caia ainda mais. Ontem, em reunião sobre o PAC, Maria Fernanda foi alvo de brincadeira. Quando Lula pediu explicações sobre o programa habitacional, alguns ministros exclamaram: “Ihhh! É a próxima!”, em referência à demissão de Lima Neto. (Geralda Doca)

Banco do Brasil

19,2 22,1 Caixa

6,9 7

PARTICIPAÇÃO DOS BANCOS POR ATIVIDADE ECONÔMICA

(em % do estoque)

08/2008

02/2009

17,57 55,98 26,45

19,31 55,46 25,23

IN INDÚSTRIA Pú Públicos Na Nacionais privados Es Estrangeiros

40,05 43,05 16,9

40,89 42,15 16,96

CO COMÉRCIO Pú Públicos Na Nacionais privados Es Estrangeiros

24,27 47,91 27,82

26,82 45,75 27,43

CO CONSUMIDORES Pú Públicos Na Nacionais privados Es Estrangeiros

Fontes: Economática, Banco Central e Austin Rating

Fundos públicos estão na mira Corte de ‘spreads’ deverá ter início nas linhas de FAT e PIS/Pasep Geralda Doca ● BRASÍLIA. O primeiro passo do Banco do Brasil (BB) na direção de reduzir os spreads (diferença entre o custo de captação e o valor cobrado dos clientes nos empréstimos) será nas linhas de crédito abastecidas por fundos públicos. Essa é a orientação do Ministério da Fazenda à instituição. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse ao GLOBO que todos os novos repasses de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) aos bancos oficiais, para financiar pequenas e médias empresas, serão renegociados dentro de novas bases, com juros e spreads mais baixos. Ontem, a cúpula do BB — incluindo o novo presidente, Aldemir Bendine — se reuniu com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O grupo começou a discutir as metas a serem cumpridas pelo BB para ampliar o crédito e reduzir o custo dos financiamentos. — Vamos exigir que todos os créditos oriundos do FAT tenham um spread menor — afirmou Lupi. O FAT é um dos principais fundos

de apoio ao setor produtivo, tendo R$ 146,3 bilhões emprestados, dos quais R$ 91,3 bilhões por intermédio do BNDES e outros R$ 45 bilhões distribuídos entre BB, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia. Caixa cobra menos no capital de giro com dinheiro do FAT Segundo Lupi, o Conselho Deliberativo do FAT — formado por representantes de governo, trabalhadores e empregadores — vai exigir, tanto da nova diretoria do BB como dos demais bancos, que todos os financiamentos com origem no fundo público tenham o spread reduzido. O custo desses empréstimos, na avaliação de Lupi, é alto, principalmente para micro e pequenas empresas, segmento que, com a crise, tem enfrentado dificuldade no acesso a crédito. Levantamento do Ministério do Trabalho, gestor do FAT, constatou que, na linha de capital de giro para micro e pequenas empresas do BB com recursos do fundo, o spread está em 24 pontos percentuais ao ano.

Segundo um técnico, haveria espaço para que o spread caísse a 15 pontos, ainda com lucro para o BB. A Caixa tem spread de 12 pontos nessa linha. A explicação se baseia no custo de captação do banco, de 6,25% ao ano, pois o FAT é remunerado pela TJLP, a taxa básica de juros de longo prazo. Se o recurso fosse buscado no mercado, o custo seria em torno de 11%. Segundo Lupi, há consenso no Conselho de que um fundo público tem de dar o exemplo. Ele disse ainda que os conselheiros querem fixar um spread máximo conforme a linha, de capital de giro ou investimento. Outro fundo no qual o BB terá de reduzir o spread é o PIS/Pasep, que tem patrimônio de cerca de R$ 30 bilhões emprestados via bancos públicos. O BB utiliza esses recursos em linhas de capital de giro para microempresas e o BNDES, para investimentos em infraestrutura. ■

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O GLOBO NA INTERNET

Bancos brasileiros têm ações mais valorizadas nas Américas em 2009 oglobo.com.br/economia


O GLOBO

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ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 20 - Edição: 28/04/2009 - Impresso: 27/04/2009 — 22: 37 h

ECONOMIA

2ª edição • Terça-feira, 28 de abril de 2009

O GLOBO

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ALERTA NA SAÚDE

Dez países suspendem compra de carne suína. Comércio é ameaçado

MÍRIAM LEITÃO

Produtos de México e Estados Unidos são alvo de barreiras protecionistas Reuters

Eduardo Rodrigues e Eliane Oliveira

PANORAMA ECONÔMICO

Dois fantasmas O mundo não se recuperou da crise econômica e, agora, o fantasma de uma pandemia aflige os países. A gripe suína não poderia chegar em pior momento. Ela agrava a incerteza, diminui o comércio mundial, que este ano já está encolhendo, afeta preços das commodities e espalha o vírus do medo, o pior companheiro da economia. O México enfrenta várias calamidades.

Com medo, o consumidor, de qualquer país, paralisa decisões econômicas, posterga viagens e compras, adota posições defensivas que, em geral, têm efeito paralisante na economia. O mundo estava começando a ver sinais de luz no horizonte. A revista The Economist alerta, inclusive, que nem se pode ainda concluir desses sinais que “o pior passou”. A revista aconselha esquecer a expressão, porque ela desmobiliza os esforços governamentais e empresariais de superação da crise econômica. Dois terços dos 42 mercados de capitais que a Economist acompanha registraram altas de mais de 20% nas últimas seis semanas. Apesar disso, a crise bancária não foi resolvida, e o PIB mundial vai encolher pela primeira vez em 60 anos. O FMI alerta para a devastação que a crise vai provocar entre os pobres. É sobre este corpo debilitado pela crise econômica que recai o risco de uma pandemia. Controlar e debelar este risco é um desafio de saúde pública e uma emergência econômica. Num mundo globalizado, tudo se espalha como rastilho de pólvora: o pânico econômico, os vírus de uma doença. O México está em recessão, teve ontem um terremoto e enfrenta o pânico da gripe suína cancelando a vida normal: foram fechados cinemas, museus, teatros, escolas. Mas o problema não é mexicano. Houve reflexos e tensão no mundo inteiro. Como isso afeta a economia brasileira? Os especialistas divergiam ontem. Os produtores de carne suína se esforçavam para esclarecer que a doença está sendo transmitida de pessoa a pessoa, não através da carne do animal. Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, acredita que o preço da carne suína não deve ser impactado e se irrita até com o nome da doença. — Esse é um erro grosseiro para ser reparado. Este é um problema muito sério de saúde pública, mas a propagação é de homem a homem. É um equívoco esta denominação e as coisas vão se esclarecer. É um problema de saúde pública, não dos rebanhos. A preocupação é não infectar pessoas. O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de carne suína e amarga uma queda de 20% no preço por causa da crise econômica. Em termos de volume exportado, a situação estava começando a se normalizar. Outra reação instantânea, que pode nos afetar, é nos preços das commodities, que ontem reverteram o movimento de recupera-

ção dos últimos tempos. Fábio Silveira, da RC Consultores, não se surpreendeu com o movimento. — A reação instantânea, óbvia, é a queda no preço e nas exportações de suínos. O maior prejudicado deve ser o estado de Santa Catarina, o maior produtor nacional de carne suína. Outra queda óbvia é nos preços dos grãos. Isto porque cerca de 80% do custo de produção dos suínos é com os grãos, grande parte com farelo de milho e outra parte com soja. Então, a demanda desses produtos deve ceder momentaneamente, pela restrição ao consumo de suínos, que deve ser global. David Kirby, jornalista que está escrevendo um livro sobre produção animal em escala industrial, descreveu no blog HuffingtonPost as condições de produção de carne suína no México. É uma produção em confinamento, em galpões enormes, com milhares de porcos criados em condições sanitárias precárias, com muita circulação de trabalhadores. Como os galpões são abertos, pássaros entram e criam-se as condições ideais para a mistura de vírus de gripes humana, aviária e suína. Há uma região no sul do México em que a gripe suína é endêmica, e o que aconteceu agora foi a mistura dos patogênicos. Kirby entrevistou especialistas, como Ellen Silbergeld, professora da Johns Hopkins, e ela disse que esses galpões de criação, chamados “cafos”, não são “biosseguros”. O especialista em comércio exterior Joseph Tutundjian disse que não acredita que isso terá grande impacto na exportação brasileira. — O Brasil já acumula US$ 5 bilhões de superávit comercial e nem entraram ainda os grãos, que só entram em maio. O preço da soja está caindo hoje, mas os preços das commodities têm recuperado seu valor. É uma reação momentânea. Acho que essa preocupação não vai afetar tanto o comércio como se imagina. Mas confesso que se tivesse que pegar hoje um avião para fazer negócio no México, eu não iria. Aliás, uma viagem longa, dentro de um avião, neste momento, parece mesmo perigosa — admitiu. As empresas aéreas e de turismo, o comércio de alimentos, são áreas econômicas sob grande incerteza e, por isso, as ações de empresas como a Friboi e a Tam caíram ontem. Laboratórios que têm remédios que já se provaram efetivos em conter a enfermidade estão com a demanda explodindo em todo o mundo. Tudo o que não precisava acontecer, aconteceu. O mundo vive o medo de dois fantasmas.

oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br

COM LEONARDO ZANELLI

BRASÍLIA. A eventual ocorrência de uma pandemia de gripe suína complicará o processo de recuperação da economia global, chacoalhada por uma crise financeira sem precedentes. No ano passado, o Banco Mundial (Bird) estimou que o impacto de uma pandemia de gripe custaria US$ 3 trilhões e reduziria o Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 5%. E antes mesmo dessa hipótese se confirmar, o primeiro canal de transmissão já foi acionado: o comércio exterior. Pelo menos dez países anunciaram ontem barreira à entrada de carne suína e derivados em seus territórios. China, Rússia (dois dos maiores consumidores globais), Ucrânia, Cazaquistão, Filipinas, Tailândia, Emirados Árabes Unidos e Jordânia suspenderam total ou parcialmente as importações de carne suína e derivados de México e EUA. Neste caso, o alvo das barreiras são os estados americanos Texas, Kansas e Califórnia. Outros países, como Indonésia e Líbano, foram além e proibiram qualquer entrada de produtos de origem suína em suas fronteiras, não importando a procedência. Os efeitos negativos, porém, não devem se restringir a isso. Os setores de turismo e de transportes, sobretudo o aéreo, podem ser afetados, bem como a indústria petrolífera. — (O agravamento) poderia levar a restrições do trânsito de bens e pessoas devido a rígidos controles em portos e aeroportos — afirmou James Auger, analista sênior da consultoria IHS Global Insight. ●

Pânico pode afetar consumo da população Um problema adicional é a reação dos agentes econômicos ao pânico, num momento em que muitos acreditam que a economia global dá sinais de recuperação. — Basta apenas um pouquinho de más notícias agora

CRIADOR NA província de Sichuan alimenta porcos: China suspendeu importação de suínos vivos do México Editoria de Arte

Consequências econômicas EFEITO GLOBAL GLO Mundial estima em O Banco Mu US$ 3 trilhões trilhõ o custo dee uma pandemia e uma queda de 5% no PIB mundial. Especialistas Especialista temem umaa piora da recessão mundial rec ial TURISMO Setor pode ser s muito afetado tado por cancelamentos de cancelam viagens. As ações de companhias aéreas e empresas dde hotéis têm sido as primeiras a cair em surtos urtos de gripe

para uma mudança de humor — disse Auger. Dependendo do grau de pânico, com a população evitando sair às ruas, até mesmo o consumo pode ser desacelerado, sobretudo nos EUA e no México. Foi o que ocorreu na época da gripe aviária, que atingiu a economia de 12 países asiáticos. — O que existe, por ora, são expectativas e vários canais de contágio, como comércio mundial e turismo — disse o economista sênior do banco WestLB, Roberto Padovani. — Na época da gripe aviária ocorreu dessa forma, e as exportações mundiais de frango caíram. O impacto certamente é negativo

MÉXICO A indústria de turismo é forte no país, que em 2008 recebeu 22,6 milhões de viajantes estrangeiros INDÚSTRIA INDÚSTRI SUÍNA Produtores dos EUA e México podem sofr sofrer quedas nas vendas. De Dez países já suspenderam suspendera suas importações PETRÓLEO ÓL Preços pod podem cair ainda mais se viagens e at atividade econômica forem afetad afetadas. Ontem preço do barril caiu 4%

para a economia global, mas o quadro ainda não está claro. Para o economista Fábio Silveira, da RC Consultores, não há parâmetro para medir os efeitos da gripe suína sobre a economia mundial. Um dos reflexos prováveis, disse ele, será a queda das cotações de soja e milho, insumos importantes na área de suínos, e cujos preços internacionais vinham subindo: — Isso não vai fazer com que o PIB americano, ou o mexicano, caia meio ponto percentual. Há um imenso pânico que, a curto prazo, causará danos localizados nos setores de transporte aéreo e turismo. O presidente da Associação

Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, lamentou a suspensão das importações de carne suína e derivados de México e EUA. Para ele, não há argumento técnico que justifique a medida. Epidemia provoca corrida entre farmacêuticas Umas das primeiras reações nas bolsas internacionais foi a queda das ações de companhias aéreas e redes hoteleiras que operam no México. Os gastos de visitantes estrangeiros no país somaram US$ 13,3 bilhões em 2008 e são a terceira maior fonte de dólares da economia mexicana, atrás da exportação de petróleo e das remessas de dinheiro dos emigrantes. Segundo o diretor de assuntos internacionais da Associação Brasileira de Agências de Viagem, Leonel Rossi Júnior, os turistas do mundo todo estão sendo aconselhados a evitar o México. Para Rossi, não há motivos para cancelamento de visitas aos EUA e à Europa, onde só há casos isolados. Já o setor farmacêutico, cujas ações subiram nas bolsas europeias nos últimos dias, tende a acelerar a produção, na corrida pelo lançamento de um medicamento contra a gripe suína. ■

Mercado prevê corte de 1 ponto nos juros Pesquisa do BC mostra previsões melhores, mas retração maior na indústria Patrícia Duarte ● BRASÍLIA e RIO. A aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai desacelerar o ritmo de corte dos juros básicos amanhã se consolidou no mercado. Após duas reduções consecutivas de 1,5 ponto percentual, os analistas estão unânimes ao apostar em queda de 1 ponto da Selic. Os números estão na pesquisa semanal Focus do Banco Central divulgada ontem. Por ela, houve ligeira melhora nas previsões para a economia em

2009. Manteve-se a expectativa de recessão, mas, em vez de contração de 0,49%, o mercado estima agora queda de 0,39%. As projeções para a indústria, porém, se deterioraram: a retração passou de 3,75% para 4%. — Já passou um pouco aquele senso de urgência para cortes de juros maiores. O BC quer deixar espaço para, se a situação piorar, poder usar a política monetária de novo — diz o economista sênior da Unibanco Asset Management José Luciano Costa, cuja projeção era de corte de 1,5

NOTA

Oi é multada em R$ 2,9 milhões A pedido do Ministério Público Federal, a 5 a- Vara da Justiça Federal do Rio multou a Oi (ex-Telemar) em R$ 2,915 milhões por descumprir acordo com a Anatel. Ele prevê atendimento nas agências dos Correios para emitir segunda via de conta da Oi e corrigir cadastro. Segundo a empresa, a decisão é passível de recurso. ●

ponto e passou para 1 ponto. A balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 880 milhões na quarta semana de abril, resultado de US$ 2,493 bilhões em exportações e US$ 1,613 bilhão em importações. No mês, o saldo é de US$ 2,545 bilhões, e no ano, de US$ 5,557 bilhões. Em igual período de 2008, o superávit foi de US$ 4,094 bilhões, indicando reação do comércio exterior. O consumo de energia elétrica em março totalizou 32.302 Gigawatt/hora, o que representa

alta de 5,2% em relação a fevereiro. Já ante março de 2008, a demanda caiu 0,4%. No acumulado do ano, o consumo recuou 3,1% em comparação a igual período do ano passado. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) destacou, contudo, que março registrou a menor queda mensal desde dezembro. ■ O GLOBO EM SMS

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Lula diz que ‘pânico na sociedade’ acirrou crise BRASÍLIA e NOVA YORK. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a crise econômica contaminou o país porque “houve pânico na sociedade” e parte dos brasileiros deixou de comprar. Lembrando que os efeitos da crise chegaram mais tarde ao Brasil do que aos grandes países, Lula disse que parte dos problemas se deve ainda à ausência de crédito no mercado internacional. Segundo ele, 30% do crédito ao setor produtivo brasileiro eram em dólar, que, com o estouro da crise, evaporaram: — De tanto falar em crise e mostrar o que estava acontecendo nos EUA, na Europa, no Japão, houve, numa parte dos ●

brasileiros, um bloqueio na compra de produtos que, em situação normal, eles continuariam comprando — disse Lula no programa semanal de rádio “Café com o presidente”. Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo brasileiro ainda trabalha com a perspectiva de crescimento para 2009 em torno de 2% do PIB. Em encontro com empresários em Nova York, Mantega ironizou as previsões feitas pelo Fundo Monetário Internacional de que a economia brasileira iria encolher 1,3% em 2009: — Eles já erraram várias vezes com o Brasil e desta vez não será diferente. ■


O GLOBO

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ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 20 - Edição: 5/05/2009 - Impresso: 4/05/2009 — 22: 02 h

ECONOMIA

Terça-feira, 5 de maio de 2009

O GLOBO

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SINAIS DA ÁSIA: Aumenta peso da venda de itens básicos, como minério e soja

China passa Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil Negócios do país com chineses somaram US$ 3,2 bilhões mês passado

MÍRIAM LEITÃO

Editoria de Arte

Eduardo Rodrigues

PANORAMA ECONÔMICO

Hoje se improvisa Foi-se o tempo em que se dizia “o Itamaraty não improvisa”. Hoje, tudo acontece. Presidente não é avisado do lado de quem vai se sentar, o país se omite na condenação a um genocida, demora a reagir ao discurso do presidente iraniano e o convida a visitar o Brasil em momento tão errado que ele mesmo cancela. O ministro da Energia admite que vai ceder ao Paraguai, o da Fazenda ofende a Espanha. ●

O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad cancelou a visita. Ufa! Menos constrangimentos a todos. O Brasil tem negócios com o Irã e quer mantê-los, mas montar escada para o proselitismo dele é que não pode fazer. A atual fase da diplomacia confunde as coisas, como na visita do presidente Lula à Líbia, em que ele elogiou a “democracia” de Muamar Kadafi. A diplomacia brasileira tem sido palco de trapalhadas seriais. A pior delas, que parece anedota, é a de o presidente Lula ter descoberto que se sentaria ao lado do presidente do Sudão, Omar al-Bashir, acusado de genocídio, crimes de guerra e contra a Humanidade. O Brasil já tinha feito um papelão no Tribunal Penal Internacional ao se omitir na condenação e na ordem de prisão emitida contra ele pelo TPI. Bashir é acusado de ser o responsável pela morte de 200 mil a 400 mil pessoas na guerra étnica de Darfur. Logo depois, houve a reunião árabe com os países do Mercosul. A diplomacia árabe tentou arrancar um sinal positivo em favor do presidente do Sudão. Nada é por acaso em diplomacia, nada é sem significado: a distribuição de pessoas à mesa de um jantar oficial, por exemplo. A regra mais elementar do protocolo de qualquer chancelaria é verificar onde o presidente vai se sentar num jantar oficial. Trata-se de evitar constrangimentos, sinais de desprestígio ou prepará-lo para os temas que interessem ao comensal do lado. Os árabes foram profissionais, o Brasil mostrou um desleixo inacreditável e o presidente Lula teve que resolver ele mesmo o problema, da pior forma: levantar-se e sair do jantar para não ficar ao lado de um delinquente político. Mas aí vem o preço da ambiguidade: se o Brasil não quis condená-lo no Tribunal Penal Internacional, por que então o presidente não pode tê-lo na cadeira ao lado? Uma trapalhada de quinta, num país que sempre teve tradição de ter uma diplomacia de precisão. Está entre as funções clássicas do Itamaraty evitar as trapalhadas dos outros ministros através de providência simples, como: informar o chefe da delegação brasileira de qualquer assunto delicado, e destacar secretários o u c o n s e l h e i ro s p a r a acompanhar esses ministros e socorrê-los em determinados temas. Pelo visto, não houve socorro a tempo para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que provocou uma gafe e um fiasco na

última reunião do FMI. A gafe foi com a Espanha, com quem o Brasil tem comércio e relações políticas intensas. Mantega disse que o G20 não deveria ter mais nenhum integrante, e isso quando a Espanha estava tentando entrar no grupo. Em seguida, veio o fiasco: ele pediu a volta de Cuba ao FMI. Mas Cuba saiu do Fundo porque quis. A reação ao discurso do presidente Mahmoud Ahmadinejad contra Israel foi imediata. Os árabes aplaudiram, um número grande de países repudiou. O Brasil nada fez na hora e só três dias depois soltou uma nota repudiando o discurso. A ambiguidade paralisante da política externa em relação ao assunto tem razão de ser. Em entrevista concedida à revista “Piauí”, Marco Aurélio Garcia, um dos ministros das relações exteriores que o Brasil tem, foi claro sobre Israel: “Temos de parar com essa diplomacia de punhos de renda. Os judeus têm o hábito de achar que qualquer crítica é uma manifestação contra a existência de Israel. Se um cara entra aqui e detona uma bomba e mata dez pessoas, é terrorista, mas quando Israel bombardeia duas escolas da ONU e mata crianças não é terrorista?”. Depois de dizer que o governo de Israel apoiou o apartheid, a ditadura de Somoza e a de Salazar, terminou afirmando: “Não me venham (os israelenses) agora bancar os bacanas para o meu lado.” Garcia pode até ter razão em alguns pontos, mas é contraditório, porque o Brasil nada tem a opor a outras ditaduras, como a chinesa, a saudita, a cubana. Além disso, é um linguajar inapropriado. Ele é, neste momento, uma das vozes da diplomacia brasileira. E esse é um dos piores lados da diplomacia do governo Lula. O Itamaraty, sob Celso Amorim, aceitou o inaceitável: dividir o comando da diplomacia. Aí, virou terra de ninguém, ou de todo mundo. Terra dos amadores, por exemplo, como o ministro Edison Lobão, que antes de iniciar uma negociação com o Paraguai, e sabedor de que o presidente Fernando Lugo, em suas peripécias sexuais, precisa desesperadamente se fortalecer, já começa a conversa dizendo em que pode ceder. Evidentemente, Lugo respondeu que não é o suficiente, e quer mais. Crescer para cima do Brasil é sua única saída. Quem viu a sutileza, a firmeza e o profissionalismo com que foi negociado o Acordo de Itaipu, pela equipe do então chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro, tem uma desagradável sensação de retrocesso.

oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br

COM LEONARDO ZANELLI

BRASÍLIA. Após quase 80 anos de liderança inabalável, os Estados Unidos perderam para a China, em abril, o título de principal parceiro comercial do Brasil, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento. Depois de se tornar o maior comprador de produtos brasileiros em março, conforme O GLOBO mostrou na ocasião, o país asiático agora domina a corrente de comércio, ou seja, a soma dos negócios — exportações e importações. O comércio com os chineses alcançou US$ 3,232 bilhões no mês passado, enquanto as transações com os americanos ficaram em US$ 2,817 bilhões. A China é o quarto país a alcançar o status de parceiro preferencial. Portugal exerceu essa hegemonia por mais de 300 anos, desde o Descobrimento até 1808, quando a Inglaterra assumiu a liderança com a abertura dos portos às nações amigas, na esteira da chegada da Família Real ao Brasil.

Superávit comercial do país totalizou US$ 3,7 bilhões Mais de cem anos depois, em meados da década de 30, foi a vez de os EUA se estabelecerem como principal fonte do comércio internacional brasileiro. Agora, o gigante asiático chegou ao topo do ranking. Os americanos, no entanto, continuam sendo os maiores fornecedores de mercadorias para o Brasil. A liderança da China na soma do comércio se deve ao crescimento de 41,3% nas exportações para o país, que somaram

Saiba mais sobre o comércio exterior Os maiores parceiros comerciais do Brasil

(Em US$, em abril de 2009)

Corrente de comércio (soma de exportações com importações)

3,232 bilhões

Exportações e importações em abril de 2009 PRINCIPAIS MERCADOS COMPRADORES DE PRODUTOS BRASILEIROS US$ 2,231 bilhões China US$ 1,340 bilhão Estados Unidos US$ 820 milhões Argentina PRINCIPAIS MERCADOS FORNECEDORES AO BRASIL Estados Unidos US$ 1,477 bilhão China US$ 1,001 bilhão Argentina US$ 852 milhões

2,817 bilhões 1,672 bilhão

Evolução das exportações brasileiras para a China (Em US$)

Janeiro a abril de 2009 5,6 bilhões

6,834 bilhões 4,533 2,520 bilhões 1,902 1,085 bilhão bilhões 5,441 bilhão bilhões China

EUA

Argentina

2000

2001

2002

2003

2004

2005

10,748 bilhões

16,403 bilhões

8,402 bilhões 2006

2007

2008

FONTE: Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex)

US$ 2,231 bilhões em abril, enquanto as vendas para os EUA aumentaram 16,1% no mesmo período, para US$ 1,340 bilhão. Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, a crise financeira acelerou o movimento de mudança nas relações comerciais brasileiras, com o aumento da relevância de países asiáticos, africanos e do Oriente Médio. Parceiros tradicionais, como União Europeia e EUA, foram mais fortemente abatidos pelas turbulências: — Além da China, a Ásia também se tornou o maior destino

dos produtos brasileiros. É uma mudança histórica, pois a região será o novo centro dinâmico da economia mundial. Mas o secretário fez um alerta. Enquanto a China inunda o mercado brasileiro com eletroeletrônicos, o Brasil embarca principalmente produtos naturais, como soja e minério de ferro. — Ao mesmo tempo, (a mudança) é uma fonte de preocupações, pois queremos não só aumentar exportações como diversificar e agregar valor a essas mercadorias exportadas. A preocupação do governo é justificada pelos números glo-

bais da balança comercial. Os produtos básicos já representam 45,4% das exportações brasileiras. Em abril do ano passado, respondiam por 32,8%. O superávit comercial brasileiro totalizou US$ 3,7 bilhões em abril, resultado de exportações de US$ 12,3 bilhões e importações de US$ 8,6 bilhões. Segundo Barral, o resultado foi muito bom e mostra a tendência de recuperação das exportações. No ano, o saldo acumula US$ 6,722 bilhões, 49,4% superior ao de igual período de 2008. ■ COLABOROU Eliane Oliveira

Mantega: economia teve ‘ligeira melhora’ em abril ● BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou ontem, na reunião de coordenação de governo, que a economia mundial teve “uma ligeira melhora” no início do segundo trimestre deste ano, um movimento acompanhado pelo Brasil. Segundo Mantega, houve recuperação do crédito, mas isso não significa que os “problemas tenham sido superados”. — Sentimos uma melhoria do sistema financeiro, mas isso não significa que os problemas tenham sido superados, apenas que aumentou um pouquinho o crédito na economia internacional e que está havendo um equacionamento dos problemas dos bancos americanos e europeus — disse Mantega. Os principais indicadores do relatório Focus, pesquisa com analistas feita semanalmente pelo Banco Central (BC), confir-

mam a tese de Mantega. Na opinião dos economistas, a queda do PIB brasileiro em 2009, antes calculada em 0,39%, agora pode ser de 0,3%. É a segunda melhora seguida na avaliação do mercado, que há três semanas chegou a prever queda de 0,49%. Para 2010, a projeção continua estável, de expansão de 3,5%. De acordo com o Focus, para a produção industrial, a previsão é de recuo de 3,84%, melhor que a projeção anterior, de 4%. O ministro também reafirmou que o governo ainda não definiu as novas regras para a remuneração da poupança. — Não há uma definição, mas eu posso garantir aos poupadores que fiquem absolutamente tranquilos, porque o governo cuida da poupança dos pequenos poupadores. Não haverá nenhuma mudança que implique qualquer perda. ■


O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 19 - Edição: 8/05/2009 - Impresso: 7/05/2009 — 22: 11 h

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Sexta-feira, 8 de maio de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

No meio do caminho, a poupança

BC indica que não poderá reduzir mais os juros se regra de remuneração da caderneta não mudar Editoria de Arte

Eduardo Rodrigues

A

BRASÍLIA

O QUE DIZ O BANCO CENTRAL

OPINIÃO

ata da última reunião do CoPrincipais trechos da ata da reunião do Comitê di 28 e 29 de abril de Política Monetária dos dias mitê de Política Monetária (Copom) — que na semana CRISEE passada cortou em um INTERNACIONAL ponto percentual a Taxa Selic, “O período desde a reunião anterior do para 10,25% ao ano — indica POUPANÇA Copom foi marcado pela continuidade do que o Banco Central (BC) “A continuidade do processo de continuará a reduzir os juestresse nos mercados financeiros internacionais flexibilização monetária torna premente ros, ao menos no próximo (...) contudo, ações governamentais inéditas por parte a atualização de aspectos, resultantes do encontro, em junho. Para o de autoridades americanas e européias, utilizando colegiado, apesar dos silongo período de inflação elevada, que ampla gama de instrumentos, com vistas a nais de recuperação das subsistem no arcabouço institucional assegurar condições mínimas de funcionamento e economias brasileira e glodo sistema financeiro nacional” bal, o ritmo da atividade ainda liquidez nos mercados monetários, têm liq é fraco, aqui e lá fora. Consemoderado a percepção de risco quentemente, não há pressões insistêmico” flacionárias. Porém, o BC advertiu no documento, de forma velada, que reFUTURO solver a questão da remuneração da DOS JUROS poupança é elemento-chave para a “A melhora do cenário prospectivo spectivo continuidade da queda dos juros. para a inflação em 2009 e em 20100 O texto, divulgado ontem pela auATIVIDADE ECONÔMICA ICAA toridade monetária, reforça que “a não foi, até o momento, incorporadaa “As perspectivas para a evolução da continuidade do processo de flexina estrutura a termo bilização monetária torna premente atividade econômica mostraram melhora da taxa de juros” j a atualização de aspectos, resuldesde a última reunião do Copom, ainda tantes do longo período de inque os dados sobre a indústria sigam flação elevada, que subsisem parte refletindo processo de tem no arcabouço instituINFLAÇÃO redução de estoques” cional do sistema financei“A probabilidade de que ro nacional”. A frase é baspressões inflacionárias inicialmente tante similar ao alerta que localizadas venham a apresentar o presidente do BC, HenA evolução da Selic A captação líquida q da p poupança p rique Meirelles, fizera na riscos para a trajetória da (ao ano) (Depósitos menos 2008 2009 véspera em videoconferênretiradas, em R$*) inflação segue diminuindo” 13,75% 13,75% 13,75% cia com empresários gaúchos: SET OUT DEZ JA JANEIRO — Evidentemente que tudo 13% JUL 12,75% +23,351 milhões tem custo e já começamos a ver JAN/2009 12,25% alguns dos problemas causados por -900,873 milhões 11,75% JUN isso, (...) fundos de pensão que têm ABR FEVEREIRO rentabilidades mínimas que estão 11,25% 11,25% 11 revisando isso, a caderneta de pou+1,119 bilhão JAN/2008 MAR pança que tem questões fiscais e de 11,25% 11 +863,158 milhões rentabilidade... Então é interessanMAR 10,25% te, na medida em que os juros coMARÇO RÇ ABRIL meçam a cair começam a se en+981,450 milhões frentar os problemas de uma so-888,843 milhões ciedade toda estruturada para operar com juros muito mais altos.

Copom vê inflação abaixo da meta Com os cortes consecutivos na taxa básica de juros, a caderneta tem se tornado mais rentável do que as aplicações em fundos de investimento com taxa de administração acima de 1% ao ano — o que inclui a maior parte das aplicações oferecidas no varejo —, preocupando a equipe econômica, que, por isso, estuda mudanças no cálculo da remuneração da poupança. O enfraquecimento dos fundos atrapalha, por exemplo, a administração da dívida pública, já que eles são grandes compradores de títulos federais. — O Copom usou o termo “premente” para explicitar o interesse, a necessidade e a urgência de uma solução para a poupança que via●

As projeções do BC na ata

PREÇOS PROJEÇÃO ATUAL Gasolina Estável Gás de botijão Estável Telefonia fixa 5% Energia 6,3% Preços administrados 5% FONTE: Banco Central

bilize os novos cortes. É claro que o Comitê não ficará limitado por isso, mas ele sempre evita tomar decisões que causem distorções na economia — analisou o estrategista-sênior do banco WestLB, Roberto Padovani, que aposta em nova queda de um ponto na próxima reunião. Já foram estudadas pelo governo diversas fórmulas de rendimento. Uma das mais fortes é remunerar a poupança com parte da taxa básica de juros, a Selic (por exemplo, 65% da taxa). Outra é zerar a TR, e uma terceira é criar uma escala para a remuneração dos poupadores, de

ABRIL

PROJEÇÃO ANTERIOR Estável Estável 5% 7,6% 5,5%

-2,015 bilhões -526,285 milhões EM 2009 -1,452 bilhão *Pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, exclui poupança rural

acordo com o valor do depósito, recebendo mais quem tem menos depositado. Ainda poderia ser instituída a cobrança de IR sobre depósitos acima de R$ 500 mil. Na avaliação macroeconômica, que já leva em consideração a redução da meta de superávit primário (a economia do governo para pagar os juros da dívida) de 3,8% para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país), a ata considera que houve leve redução, “ainda incipiente e sujeita a reversão”, da aversão ao risco de investidores, com retorno do mo-

vimento nas bolsas, elevando preços de ações e commodities. Além disso, o aumento do fluxo de capitais tem causado um aumento da cotação das moedas emergentes — o real entre elas — em relação ao dólar. O Copom, no entanto, ressalta que a evolução dos preços em diversas economias aponta para uma significativa redução das pressões inflacionárias. “Dessa forma, o efeito líquido da desaceleração global sobre a trajetória da inflação doméstica segue sendo, até o momento, predominantemente benigno”. Segundo o economista-chefe da

Dólar cai frente a outras moedas globais Recuo nos últimos quatro dias chega a 11,74%. Frente ao real, desvalorização é de 3,20% Juliana Rangel RIO e BRASÍLIA. A forte desvalorização do dólar nos últimos dias, que chegou a ser negociado abaixo de R$ 2,10 e fechou ontem a R$ 2,11, estável em relação ao fechamento anterior, pode ser apenas um refresco momentâneo. A moeda perdeu valor no mundo todo por causa de notícias menos negativas sobre a economia americana. Especialistas explicam que os investidores saíram de aplicações em renda fixa nos Estados Unidos (EUA), consideradas as mais seguras em tempos de crise, e foram em busca de mais risco — e ganhos — em outras regiões. No Canadá, por exemplo, a queda do dólar foi de 11,74% frente ao dólar canadense, só nos últimos quatro dias. Na Austrália, de 3,75%. Frente ao real, a queda foi de 3,20%. Mas, se novas notícias ruins forem divulgadas sobre a economia global, nada impede que a moeda volte a subir. No Brasil, grande parte do fluxo de dólares tem ido para a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O saldo

entre compras e vendas de ações por estrangeiros foi positivo em R$ 3,778 bilhões em abril, e já chegava a R$ 1,433 bilhão em maio, até o dia 4. Outra fonte de entrada de recursos são as exportações. O sócio da Cenário Investimentos, José Alfredo Lamy, diz que a valorização dos preços das commodities contribuiu para a alta maior da moeda de países exportadores, caso de Brasil, Austrália e Canadá. — A atividade econômica estava em queda livre e agora há um certo alívio. A Austrália e o Canadá são grandes exportadores de minério e produtos agrícolas e se beneficiaram mais. Porém, toda vez que há menor aversão a risco, o dólar se desvaloriza e outras moedas perdem valor — diz. Ele acha que a queda do dólar pode ser temporária: — A recuperação da economia global será demorada. Olhando para o curto prazo, no Brasil, o dólar pode cair a R$ 2. Mas até o fim do ano o real tende a se desvalorizar — diz, ressaltando que movimento similar

acontecerá com outras moedas. O analista de câmbio da Fair Corretora Mário Battistel concorda: — O estrangeiro é muito rápido. Se ele perder algo lá fora ou se surgir qualquer boato, ele sai de uma hora para outra e volta para os EUA — diz. Ministro diz que alta do real frente ao dólar é uma ’bolha’ Outro fator pontual que contribui para a desvalorização do dólar é a venda da moeda por exportadores. Segundo o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, muitos dos contratos foram fechados com o dólar a R$ 2,30. — Todos achavam que o câmbio ficaria naquele nível, mas ele foi caindo até R$ 2,10. É melhor garantir agora uma taxa mais alta que esperar até que o dólar caia mais — diz. O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Mário Mesquita, negou que o BC tente direcionar o câmbio. Segundo ele, o objetivo das operações do BC no mercado é mo-

nitorar excesso ou falta de moeda em circulação. Na última terça-feira, o BC fez leilões de swap cambial reverso. Na prática, comprou dólar no mercado futuro pagando em troca uma taxa de juros. O diretor explicou que o objetivo foi “zerar” operações contrárias (de venda de moeda no mercado futuro), feitas na época mais aguda da crise. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, afirmou ao GLOBO que considera “uma bolha” o atual movimento do dólar. — Há sinais importantes de recuperação no Brasil. Houve aplicações grandes de dinheiro na Bolsa. Não acreditamos que esse movimento persista — afirmou. Ontem, o volume de negociações com o dólar foi pequeno, em torno de US$ 1 bilhão. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 2,80%, para 50.058 pontos, com investidores embolsando lucros dos últimos dias. ■ COLABORARAM: Felipe Frisch e Eliane Oliveira

ALÉM DOS MANUAIS ● MUITO SE criticou o BC por não baixar os juros a canetadas, para impedir a valorização do real causada pela enxurrada de dólares que entravam atraídos pelo rentável mercado financeiro interno.

AGORA, OS juros caem como

jamais caíram, e os dólares voltam a entrar em abundância. Um paradoxo? CLARO QUE as taxas no Brasil continuam elevadas em comparação com o mundo, evidente que a demonstração de resistência do país à crise aumenta o atrativo de aplicações financeiras aqui. MAS A valorização do real en-

quanto os juros caem serve para mostrar como a complexidade da economia não cabe em certos manuais seguidos em Brasília e em alguns partidos políticos.

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Corretora Concórdia, Elson Teles, o BC deixou claro que continuará a afrouxar a política monetária: — O cenário é tranquilo, com todas as projeções de inflação ao fim do ano apontando para patamares abaixo da meta (de 4,5% pelo IPCA). Há espaço para novas reduções nos juros, mas como a distensão monetária já é longa, deve haver sim uma desaceleração nos próximos cortes. Em meio ao debate sobre a mudança na remuneração da poupança, a captação da caderneta ficou negativa em R$ 526,285 milhões em abril, segundo o Banco Central (BC). O resultado é bastante inferior às perdas registradas até o dia 29 (R$ 1,878 bilhão), devido a um aporte de R$ 1,351 bilhão no último dia do mês. Segundo o diretor de Economia da Associação dos Executivos de Finanças (Anefac), Andrew Frank Storfer, apesar do clima de incerteza em relação às alterações nas regras do rendimento, o movimento dos poupadores no mês foi causado por outros fatores, como o pagamento de dívidas e tributos anuais. Os principais partidos de oposição divulgaram ontem uma nota conjunta condenando a intenção de alterar o rendimento da poupança. Assinada pelos presidentes de PSDB, DEM e PPS, a nota afirma que a atual estrutura de remuneração — Taxa Referencial (TR) mais 6,17% de juros ao ano, com isenção do Imposto de Renda — deve ser mantida para todos os depositantes.

A MOEDA NO MUNDO

Segundo especialistas, a tendência de desvalorização do dólar nos últimos dias foi generalizada e pode ser atribuída à redução na percepção de risco do investidor. Entre as moedas que mais se valorizaram no mundo estiveram aquelas de países que são exportadores de “commodities”, como Brasil, Canadá e Austrália. Veja as quedas acumuladas nos últimos quatro dias:

Dólar li Dólar australiano ca canadens ns nse Libra bra canadense

Euro ro

Real Re Iene ne

-0,49% -0,4 -0 ,49% 9%

-1,50% -1 0%

-1,19% -1,1

-3,20% 0% -3,75% -3 5%

-11,74%


O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 27 - Edição: 9/05/2009 - Impresso: 8/05/2009 — 22: 23 h

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Sábado, 9 de maio de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

ONDA VERDE Editoria de Arte

A EVOLUÇÃO DA MOEDA AMERICANA

R$ 2,536

04/12/2008 Maior cotação desde 28 de abril de 2005

ONTEM R$ 2,068

R$ 2,442

02/03/2009

08/05/2009 Queda de 2,04% no dia. Menor cotação desde 03/10/2008, quando o dólar fechou a R$ 2,046

R$ 2,180

06/01/2009

R$ 1,559

Um dólar que cai

01/08/2008 Menor cotação desde janeiro de 1999 (quando houve a maxidesvalorização cambial)

BC compra US$ 250 milhões mas moeda fecha no menor nível desde outubro Juliana Rangel, Felipe Frisch e Eduardo Rodrigues

D

RIO e BRASÍLIA

tetos ou pisos para o dólar. O BC lembrou que o fato de o país ter reservas trouxe “benefícios inegáveis”, permitindo o enfrentamento da “mais severa crise financeira observada na economia mundial desde os anos trinta”, sem rupturas de política ou quebra de contratos. E ressaltou a importância das reservas para dar liquidez ao financiamento do comércio exterior. O ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria Gus-

tavo Loyola lembra que o fluxo cambial está positivo tanto na conta comercial quanto na financeira, o que provoca a queda da moeda, apesar das atuações do BC. — Do ponto de vista macroeconômico, o Brasil passou pelo teste da crise. E se beneficiou, na medida em que os agentes de mercado passaram a achar que o pior nos EUA já passou e procuraram novos ativos para investir. Além disso, os indicadores da China

melhoraram, o que beneficia o Brasil, que exporta para o país. Para o especialista, são pequenas as chances de o dólar voltar às máximas. A moeda chegou a R$ 2,536 em dezembro. — Naquela época houve a quebra do Lehman Brothers, e empresas brasileiras tiveram problemas pois investiram em derivativos de câmbio (apostaram na valorização do real). Foi uma incerteza grande, e a sensação foi de pânico. O dólar pode até voltar a subir se algo acontecer lá fora, mas não nesse nível.

iante do derretimento do dólar, que caiu 5,18% apenas esta semana, o Banco Central (BC) mudou radicalmente de estratégia, na comparação com os últimos oito meses. Depois de comprar dólares no mercado futuro na terça-feira, com operações de swap cambial reverso (em que paga juros em troca da variação cambial), a autoridade monetária se concentrou ontem no mercado à vista e comprou US$ 250 milhões para enxugar o excesso em circulação. Ainda assim, o dólar Morgan e Wells Fargo obtêm capital vendendo ações fechou em queda de 2,05%, a que cobrisse um buraco de US$ 13,7 bilhões, R$ 2,068 — a menor cotação Do New York Times e Morgan Stanley, com necessidade de US$ do dia, e também a mais baixa ● NOVA YORK. Um dia após as autoridades 1,8 bilhão, parecem ter conseguido, pelo desde o começo de outubro. A última vez que o BC comdos EUA ordenarem a dez dos maiores menos por enquanto, sinalizar que os bancos prou dólar no mercado à vista bancos do país que levantem um total de US$ conseguirão levantar recursos no mercado. A dúvida maior recai sobre o Bank of foi em 10 de setembro, antes 75 bilhões em capital extra, dois deles vendo recrudescimento da crise deram ontem mais de US$ 15 bilhões em America, cuja necessidade de capital é de global. Após 15 de setembro, ações para reforçar sua reserva de capital e US$ 34 bilhões, segundo o teste de estresse. quando o cenário se detetranquilizar os reguladores americanos. Mor- Os bancos têm que entregar aos reguladores riorou, com a quebra do bangan Stanley vendeu US$ 4 bilhões em ações e seus planos para elevar capital até o dia 8 de co Lehman Brothers, o BC fez US$ 4 bilhões em títulos de dívida, e o rival junho e levantar o dinheiro até novembro. Outro bom sinal foi a divulgação da taxa de o inverso. No auge da crise, Wells Fargo, US$ 7,5 bilhões. Ambas opechegou a vender US$ 14,5 rações superaram as expectativas do mer- desemprego. A economia do país perdeu 539 bilhões de suas reservas. cado, mas as duas instituições ofereceram os mil empregos em abril, e a taxa de depapéis com descontos de mais de 11% em semprego chegou a 8,9%, revelou o governo. Objetivo das compras é Mas a deterioração do mercado de trabalho relação ao fechamento de quinta-feira. recompor reservas, diz BC O resultado do teste de estresse sobre os foi mais suave que o esperado pelos anaO BC divulgou um comu19 maiores bancos americanos, divulgado listas, alimentando esperança de melhora. Em Washington, o presidente Barack Obanicado repetindo que a compelo governo na quinta-feira, foi bem mais pra de dólares deve ser vista positivo do que muitos temiam quando os ma classificou o aumento do desemprego como um esforço de recomtestes foram anunciados, em fevereiro. Mes- como um “preço amargo” da recessão e posição das reservas, no conmo assim, criou-se uma pressão para que dez alertou para novas demissões. Segundo ele, texto de um regime de metas das instituições mais afetadas pela crise uma recuperação no mercado de trabalho de inflação com câmbio fludemonstrassem ter capacidade de levantar pode demorar meses ou anos, mas a motuante. E que não deve ser novo capital. Wells Fargo, a quem foi pedido deração no ritmo de cortes é um bom sinal. confundida com a fixação de

EUA: dois bancos passam no teste

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Bovespa acumula alta de 8,68% na semana O gerente de câmbio da corretora Liquidez, Francisco Carvalho, avalia que o mercado estava esperando a volta do BC ao mercado à vista. A atuação via mercado futuro havia sido criticada por alimentar especuladores e não tirar o eventual excesso de dólares do mercado: — O BC vai acabar acumulando reservas novamente, acho positivo. O fato de termos acumulado reservas lá atrás foi muito bom, não sentimos tanto o efeito da crise. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 2,67% ontem, para 51.395 pontos, com investidores aproveitando a queda da véspera para comprar ações. Com isso, subiu 8,68% desde segunda-feira e completou a nona semana seguida de alta, período em que acumula 38,51%. Um dos indicadores positivos veio do mercado de trabalho americano. Apesar do corte de 539

Como o Banco Central (BC) intervém no mercado de câmbio ENTENDA A ATUAÇÃO DESTA SEMANA

Compra de dólar à vista

A autoridade monetária compra moeda no mercado à vista, aumenta as reservas cambiais do país e desacelera a queda da moeda americana

Leilão de swap reverso

O BC compra contratos futuros de dólar (assume o compromisso de comprar dólar numa certa data a uma certa cotação) e paga uma taxa de juros em troca. Ou seja, recebe a variação cambial, e paga juros. A ação do BC equivale à compra de dólar, que tende a subir com esta intervenção, já que cresce a demanda pela moeda americana

mil vagas em abril, o número é inferior ao esperado, de 600 mil, e aos 700 mil de março, diz o economista da Um Investimentos Hersz Ferman. O Tesouro Nacional abriu mão de emitir o título Global 2019 no mercado asiático. Na quinta-feira, o papel foi emitido nos mercados americano e europeu, representando captações de US$ 750 milhões, com taxas de 5,8% para investidores. A operação seria estendida à Ásia num total de US$ 37,5 milhões mas as taxas pedidas como remuneração não foram atraentes. ■ COLABOROU: Martha Beck ● PACOTES PARA O EXTERIOR FICAM ATÉ 40% MAIS BARATOS, na página 28

a

O GLOBO NA INTERNET

A trajetória de valorização do real oglobo.com.br/economia


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ECONOMIA

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PÁGINA 17 - Edição: 14/05/2009 - Impresso: 13/05/2009 — 22: h

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Quinta-feira, 14 de maio de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

ENGENHARIA FINANCEIRA

Poupança tributável

Projeto do governo cria IR para cadernetas com saldo acima de R$ 50 mil em 2010 Editoria de Arte

Geralda Doca, Martha Beck e Eduardo Rodrigues

O

BRASÍLIA

governo anunciou ontem que enviará ao Congresso Nacional uma proposta instituindo, a partir de 2010, a cobrança de Imposto de Renda (IR) sobre parte dos rendimentos dos depósitos em caderneta de poupança acima de R$ 50 mil. A tributação, se aprovada, obedecerá a uma intrincada equação, estará diretamente ligada ao comportamento da Taxa Selic e só ocorrerá se os juros ficarem abaixo de 10,5% ao ano. A Selic está hoje em 10,25%. A alíquota de IR que vai incidir sobre o rendimento será a mesma que o contribuinte já paga sobre as demais fontes de renda, como o salário. A tributação abrangerá um contingente muito pequeno de poupadores — 894.856 pessoas, ou menos de 1% das 89,9 milhões de contas ativas no país. Mas eles representam um total de 41% do estoque de dinheiro depositado na caderneta, que ultrapassa os R$ 270 bilhões e é a principal fonte de financiamento da casa própria. Foi uma solução paliativa diante da resistência do Palácio do Planalto em mudar a fórmula de rendimento às vésperas de um ano eleitoral. O governo desistiu temporariamente de mexer na remuneração, que fica em Taxa Referencial (TR) mais 0,5% ao mês. Também ficam mantidos a garantia de depósitos até R$ 60 mil e a proibição de cobrança de taxa de administração. — Poderíamos aproveitar esta oportunidade para fazer uma simplificação nos cálculos do redutor da TR. Mas a conclusão a que se chegou é de que, de fato, isso não se justifica em função de que uma mudança dessa magnitude deve prevalecer e, portanto, não é necessário no momento mexer na TR — justificou o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. — Não estamos mexendo nas regras básicas da poupança. O objetivo é garantir que ela continue sendo o investimento mais importante para o grosso da população brasileira. Os ajustes vão no sentido de impedir que grandes investidores migrem para a poupança de modo a distorcer esse mecanismo, feito para pequenos poupadores e não para grandes investidores — disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Como prevê o início de uma tributação, a medida da poupança só terá efeitos a partir de 2010. Para tornar a poupança menos atraente frente aos demais fundos de investimentos ainda este ano, o governo também reduzirá o IR sobre esses investimentos. Sem dar detalhes (que ainda estão sendo fechados), Mantega afirmou que a alíquota do imposto pode ser reduzida dos atuais 22,5% — no caso dos fundos de renda fixa — para 15% ou menos caso os juros continuem baixos. — Se a Selic vai de 10,25% para 9,25%, nós vamos ter que reduzir o IR em 7,5 pontos percentuais, de 22,5% para 15% — afirmou o ministro, lembrando que a alíquota seria restabelecida a partir de 2010 e representaria uma renúncia fiscal de R$ 2 bilhões. As mudanças na poupança envolvem uma complicada engenharia financeira. Serão tribu-

ENTENDA AS MUDANÇAS COMO É A TRIBUTAÇÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA HOJE

A TABELA DO REDUTOR DE ACORDO COM A TAXA SELIC

COMO FICARÁ A PARTIR DE 2010

Para uma Selic entre

Os depósitos em poupança são isentos do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)

Haverá cobrança de IR sobre os rendimentos de depósitos acima de R$ 50 mil, de acordo com a Taxa Selic vigente dois meses antes do aniversário da caderneta. Para cada intervalo alcançado pelos juros básicos, haverá um redutor a ser aplicado sobre o rendimento. Além disso, haverá um limite de isenção fixo de R$ 250 por mês, que deverá ser abatido da base de cálculo. Se o resultado final ficar abaixo desse valor, o poupador não paga nada. Isso ocorrerá exatamente para quem tiver saldo de até R$ 50 mil. A partir daí, começa o recolhimento.

Como funciona

A tributação incidirá sobre o que exceder R$ 50 mil. Por exemplo, para um saldo de R$ 200 mil, o IR será aplicado sobre o rendimento gerado por R$ 150 mil. Considerando a Taxa Selic a 9% ao ano, TR de 0,03% mais os juros de 0,5%, confira abaixo como será feita a conta:

R$50 MIL Explicação:

1

Sobre esse rendimento gerado por R$ 200 mil, deve-se descontar o que for remuneração obtida com a TR. A base de cálculo do IR será composta, portanto, apenas pela remuneração de 0,5% ao mês

2

Excluída a TR, o poupador deve abater do rendimento os R$ 250 de limite fixo de isenção Rendimento referente ao adicional de 0,5%: R$ 1.000

3

Sobre o valor que restar será aplicado então o redutor determinado pela Taxa Selic do mês. Por exemplo, se os juros básicos estiverem entre 8,75% e 10% ao ano, deve-se reduzir os rendimentos em 70%

4

R$ 200 MIL

R$ 150 MIL,

ONDE O IR SERÁ APLICADO

Esse montante final será a base de cobrança do IR mensalmente. Ao fim de um ano, os valores devem ser somados e adicionados aos rendimentos tributáveis na declaração anual de ajuste do Imposto de Renda

tados apenas os rendimentos de depósitos acima de R$ 50 mil auferidos com o adicional mensal de 0,5%. O que for ganho com a TR continua isento. Se um poupador tiver R$ 80 mil, por exemplo, só serão tributados os ganhos sobre R$ 30 mil. Há, no entanto, uma exceção: quem tem a poupança como única fonte de renda terá direito uma isenção maior, dependendo da Selic. A base de cálculo do imposto também vai variar de acordo com o nível da taxa básica de juros. Remuneração será somada a demais rendimentos tributáveis na declaração do IR O pagamento do imposto da poupança será feito de acordo com a tabela do IR da pessoa física. Ao apresentar a declaração do IR à Receita Federal, a pessoa deverá somar os ganhos da caderneta a seus demais rendimentos e declará-los como tributáveis. Sobre esse montante, será aplicada a tabela que, em 2010, terá limite de isenção de R$ 17.989,80. Segundo o Ministério da Fazenda, com a Selic em 9%, o rendimento líquido da poupança ficará em 6,6% para depósitos de até R$ 50 mil. O valor cairá para 6,1% em valores acima de R$ 50 mil. Neste cenário, os fundos renderiam entre 6,1% e

RENDIMENTO NO MÊS GERADO PELOS R$ 200 MIL

SALDO DA POUPANÇA

R$ 67,07

RENDIMENTO TRIBUTÁVEL

R$ 1.000

LIMITE DE ISENÇÃO

R$ 250

BASE DE CÁLCULO JÁ DESCONTADA A ISENÇÃO APLICAÇÃO DO REDUTOR, COM BASE NA SELIC

BASE DE CÁLCULO FINAL PARA INCIDÊNCIA DO IMPOSTO

R$ 750,00 R$ 525,00

70%

R$ 225,00

5,3%, dependendo da taxa de administração. Existe a possibilidade de um pronunciamento à nação do Executivo para explicar as mudanças. Mantega rebateu insinuações de que poderia haver confisco: — Eu não sei quem levantou essa hipótese absurda de falar em confisco. O governo deverá apresentar a medida ao Congresso por meio de um projeto de lei. Já a mudança na tributação dos fundos deve sair por meio de uma medida provisória, publicada antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em junho. Segundo Mantega, as alterações na tributação da poupança permitirão ao BC reduzir a Selic para até 7,25%. Meirelles jogou aos congressistas a responsabilidade sobre as condições para os juros continuem caindo: — O Congresso representa a população e, portanto, tem o poder final. ■ ●

a

DECISÃO LEVOU EM CONTA CUSTO POLÍTICO, na página 18

O GLOBO NA INTERNET

A íntegra das explicações do Ministério da Fazenda oglobo.com.br/economia

80% 70% 60% 40% 20%

10% e 10,5% 8,75% e 10% 8,25% e 8,75% 7,75% e 8,25%

7,25% e 7,75% Para uma Selic abaixo de 7,25% Não haverá redução A base tributável será de 100%

EXCEÇÃO

O poupador que tiver a caderneta de poupança como única fonte de renda terá um limite mais elevado de isenção, que dependerá da Taxa Selic. Para uma Selic de 8,5% ao ano, por exemplo, o rendimento só será tributado caso o saldo da poupança seja maior que R$ 986 mil.

R$ 1.067,07

RENDIMENTO REFERENTE À TR

A redução da base de cálculo será de

Assim como ocorre com os salários, poderá haver retenção mensal do Imposto de Renda na fonte sobre os rendimentos tributáveis da poupança. Essa retenção vai ser feita pelos bancos e obedecerá às faixas da tabela do IR da pessoa física vigente em 2010. No ano que vem, por exemplo, o limite de isenção será de R$ 1.499,15 por mês. Isso significa que só haverá retenção para valores acima desse limite. Mesmo que o contribuinte não tenha retenção mensal do IR na fonte, ele poderá ter que pagar imposto. Caso a soma dos rendimentos da poupança com os demais rendimentos seja superior ao limite de isenção - que será de R$ 17.989,80 em 2010 -, haverá tributação

CADERNETAS DE POUPANÇA POR FAIXA DE SALDO (em dezembro de 2008, inclui poupança rural)

68.620.251 contas Faixa: até R$ 1 mil Saldo: R$ 7.183 milhões

15.842.800 contas

Faixa: de R$ 1 mil a R$ 10 mil Saldo: R$ 55.862 milhões

A DIVISÃO DO BOLO

(destinação obrigatória nos bancos onde os recursos estão depositados) Aplicação livre 5% Compulsório 30% Habitação 65%

4.622.811 contas

Faixa: de R$ 10 mil a R$ 50 mil Saldo: R$ 96.445 milhões

894.856 contas

Faixa: de R$ 50 mil a R$ 1 milhão Saldo: R$ 110.505 milhões

FONTES: Banco Central e Ministério da Fazenda


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PÁGINA 19 - Edição: 20/05/2009 - Impresso: 19/05/2009 — 23: h

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Quarta-feira, 20 de maio de 2009 • 2ª edição

O GLOBO

ECONOMIA .

Mantega engole juro alto do BB

Ministro cobra explicação do presidente do banco, aceita justificativa e diz que dados do BC são ‘truncados’ Givaldo Barbosa

Eduardo Rodrigues e Gustavo Paul

O

BRASÍLIA e RIO

ministro da Fazenda, Guido Mantega, teve ontem o primeiro encontro de trabalho com o recém-empossado presidente do Banco do Brasil (BB), Aldemir Bendine, e cobrou explicações para o aumento, entre os dias 14 de abril e 5 de maio, dos juros médios praticados pela instituição federal nas quatro modalidades de crédito para consumidores acompanhadas semanalmente pelo Banco Central (BC). A evolução das taxas do BB foi mostrada ontem pelo GLOBO. Bendine assumiu a presidência do BB no dia 23 de abril com a missão de forçar a queda dos juros cobrados pelo banco. Ele substituiu Antonio Lima Neto, que entrou em rota de colisão com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Fazenda e o BC por não ceder à pressão para uma redução mais agressiva das taxas no auge da crise, entre outubro e dezembro. — É claro que eu cobrei explicações. Nós almoçamos juntos, e enquanto eu almoçava ele explicava — afirmou o ministro. Mas Mantega aceitou as explicações de Bendine: — Não foi necessário dar puxão de orelha, porque eles merecem elogios. O desempenho da nova equipe é muito bom. O Banco do Brasil está expandindo crédito e cobrando juros mais baixos do que os outros líderes do sistema. Eles estão cumprindo os objetivos que estabelecemos. Segundo o ranking do BC, a taxa média mensal do cheque especial subiu de 7,92%, em 15 de abril, para 7,98% em 5 de maio. Já a do crédito pessoal passou de 2,31% para 2,52%. O custo do financiamento de veículos aumentou de 1,65% para 1,79%. O único item acompanhado que não aumentou sistematicamente desde 15 de abril, quando estava em 2,09% mensais, foi a taxa da aquisição de bens. Chegou a 2,66% no encerramento de abril, mas recuou a 2,52% na primeira tomada de maio.

Câmara aprova cadastro positivo Para Mantega, os dados divulgados pelo BC são truncados e abordam apenas algumas linhas de financiamento enquanto, na verdade, as taxas do BB estariam em queda. O ministro lembrou que a instituição cobra juros menores que outros grandes bancos do mercado (com exceção da Caixa), oferece prazos mais longos e tem expandido o volume de crédito em um ritmo maior que os concorrentes. Mas disse que a cobrança continuará, pois gostaria que o banco baixasse “mais ainda as taxas correntes”. — Agora, o presidente (do BB) vai explicar sobre esses dados truncados que foram divulgados do ranking do BC — disse Mantega. Coube, então, a Bendine dar uma

MANTEGA, após almoço em que cobrou explicações de Bendine: “Não foi necessário dar puxão de orelha, porque eles merecem elogios. O desempenho da nova equipe (do Banco do Brasil) é muito bom”

Meirelles: ‘Desemprego é preocupante, estamos retrocedendo 2 anos’ Presidente do BC alerta que a partir do meio do ano trajetória de emprego deve ser comparável à de 2007 Liana Melo

Um dia depois de o governo anunciar a criação de 106 mil novas vagas de emprego em abril — três vezes mais que no mês anterior — o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, admitiu estar preocupado com os dados de desemprego no país. A crise financeira global, disse, vai provocar um retrocesso no mercado de trabalho, que deverá retomar os níveis de 2007 no segundo semestre. Os dados de emprego de abril são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). — A previsão do índice de desemprego no segundo semestre vai levar a uma trajetória, a

partir do meio do ano, comparável à de 2007. É preocupante, já que estamos retrocedendo dois anos. Mas não devemos esquecer que existem países que dados de desemprego comparáveis às das décadas de 40 e 60 — disse Meirelles, que esteve ontem, no Rio, participando do XXI Fórum Nacional. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa média de desemprego em 2007 foi de 9,3%. No ano seguinte, em 2008, este percentual caiu para 7,9%. Em março deste ano, último dado disponível, ficou em 9%, após atingir o menor patamar histórico, de 6,8%, em dezembro passado. Alguns economistas já vinham alertando pa-

ra o aumento da taxa de desemprego em 2009. Analistas não descartam a possibilidade de a taxa de desemprego voltar a dois dígitos, ou seja, acima dos 10%. Apesar de sua preocupação quanto ao mercado de trabalho, Meirelles reafirmou que o Brasil tem todas as condições de sair “mais forte da crise econômica”. O presidente do BC comentou ainda que até o fim do ano a dívida pública brasileira deverá girar em torno de 38% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). O mercado, por sua vez, comentou ele, está trabalhando com projeções que giram entre 37,5% até cerca de 39%.

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explicação técnica sobre discrepância entre o ranking do BC e a trajetória dos juros praticados pelo BB. Ele garantiu que o BB não aumentou os juros em nenhuma modalidade em 2009. O banco opera com taxas mínimas e máximas em cada linha, mas a taxa cobrada de cada tomador é calculada com base no histórico individual e nas condições do contrato. Após afirmar que não contesta o ranking, argumentou que a média ponderada das operações publicada pelo BC não leva em conta uma série de variáveis, como prazos dos contratos, perfil de risco e a linha de crédito: — Ampliamos os prazos de financiamento de uma série de linhas. Com prazo mais dilatado, é natural que o impacto dos juros seja maior do que se você tomar em um prazo mais curto. Além disso, o aumento na média

dos juros cobrados também seria reflexo de um crescimento no número de empréstimos para pessoas com maior risco de inadimplência. A presidente da Caixa, Maria Fernanda Coelho, disse ontem, no XXI Fórum Nacional, que os bancos públicos são aliados fundamentais do governo no combate à crise. Ela lembrou que a Caixa já reduziu os juros cinco vezes este ano e garantiu que as taxas “vão continuar caindo, como o spread (diferença entre os juros pagos pelos bancos ao captarem recursos e o que é cobrado do cliente)”. A Câmara dos Deputados aprovou na noite de ontem por 307 a 79 votos o projeto que cria o Cadastro Positivo de consumidores, um banco de dados que centralizará as informações dos bons pagadores do país. Enviado pelo governo em setembro de 2005, o texto

é considerado pela equipe econômica uma ferramenta importante para redução dos juros e do spread no país. Com esse cadastro, bancos e financeiras poderão medir o grau de endividamento total do consumidor e seu histórico de pagamento, pois todos os financiamentos concedidos serão registrados. Para valer, o projeto ainda precisa passar pelo Senado e ser sancionado pelo presidente Lula. Para o Ministério da Fazenda, com essa ferramenta em mãos, os bancos vão disputar os bons clientes, oferecendo taxas menores, jogando-as para baixo. Segundo o relator do projeto, deputado Maurício Rands (PT-PE), a medida resolve uma distorção do sistema brasileiro de proteção ao crédito, que usa apenas dados negativos como parâmetro. Instituições como Serasa e Serviço Nacional de Proteção ao Cré-

dito (SPC) oferecem ao mercado de crédito e de varejo informações se um indivíduo ou firma está ou não com uma dívida em atraso. — Na prática, os bons pagadores acabam pagando pelos maus devedores — disse Rands. O projeto também disciplina o cadastro negativo, que é o banco de dados dos maus pagadores. O registro de uma pessoa como má pagadora, por exemplo, deverá ser comunicado previamente. A notificação tem que ser feita via AR (aviso de recebimento). Ou seja, o consumidor terá que assinar um documento dos Correios antes de ser incluído no cadastro negativo. No cadastro positivo, o consumidor deverá autorizar expressamente a inclusão de seu nome. ■ COLABOROU: Liana Melo


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ECONOMIA

PÁGINA 23 - Edição: 22/05/2009 - Impresso: 21/05/2009 — 22: 12 h

Sexta-feira, 22 de maio de 2009

cerca de seis mil visitantes por dia, 5% a mais que em 2008. A venda de 180 embarcações movimentou R$ 80 milhões.

Inferno astral

‘Top’ em quatro meses Lançado em janeiro, o Club Social Recheado já é líder no segmento de biscoitos recheados salgados. Tem 57,2% de participação no país, segundo dados de abril da ACNilesen. Em segundo está o Hot Cracker, da Parati. A versão recheada do Club Social bateu o sabor Pizza, no mercado há dois anos. Terça-feira, a marca lança promoção. Quem comprar dois multipacks de qualquer versão do Club Social e mais um do recheado ganha de brinde uma latinha metálica para guardar os biscoitos.

Divulgação

A Chrysler foi condenada pela 10 a- Vara Cível do Rio a indenizar em R$ 190 mil Mônica Dias de Pinho Gomes. A consumidora comprou, em 1999, um Jeep Cherokee, que veio com defeito de fábrica. A ação foi ganha pelo escritório José Marcos Gomes e Advogados Associados. A montadora americana, em dificuldades financeiras, pediu concordata semanas atrás. ●

Estreia com YSL ● A Citroën vai aproveitar a abertura da exposição “Yves Saint Laurent — Viagens extraordinárias”, que patrocina, para lançar no Brasil o C5. É a nova geração de um modelo top da marca. Até aqui, só estava à venda no país a primeira versão. O automóvel chega ao mercado em junho.

LIVRE MERCADO e Samoa abrem, ainda este mês, a iogurteria Shake, no Leblon.

• A TOUR HOUSE, de gestão de despesas de viagens, abriu novo escritório no Rio. A mudança, orçada em R$ 250 mil, foi feita para abrigar novos departamentos: lazer, eventos e incentivos.

• O PROJETO “Revelando os Brasis” chega ao Rio na terça. São 40 vídeos produzidos por cineastas de municípios com até 20 mil habitantes. Parceria do Instituto Marlin Azul com o MinC.

• A LOCAWEB, de serviços hospedados de TI, abriu escritório na capital fluminense. A empresa já tem 36 mil clientes no estado e espera dobrar a presença em data center até o fim do ano. • OS SÓCIOS das redes Bibi Sucos

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O RIO BOAT Show 2009 teve o maior público em sete anos. Foram

HISTÓRIA DE LÍDER

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

• O SHOPPING da Gávea abre, ainda em maio, um salão de eventos. A circulação deve aumentar em 15%. Até setembro, inaugura expansão, com 16 lojas.

COM MARIANA DURÃO E FLÁVIA MONTEIRO E-mail: negocios&cia@oglobo.com.br

NOTAS

Twitter ‘está passando Google’ ● Larry Page, cofundador da Google, admitiu esta semana, em uma conferência, que a empresa está perdendo para o Twitter a corrida do fornecimento de notícias em tempo real. Ele disse que o Twitter tem feito “um grande trabalho”. Já o diretor-executivo da Google, Eric Schmidt, aventou a hipótese de uma parceria com o site.

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Executivos da Sadia e da Perdigão se antecipam e conversam com Cade hoje Presidente do órgão diz não considerar caso ‘especialmente desafiador’ Eduardo Rodrigues e Ronaldo D’Ercole ● BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os presidentes dos Conselhos de Administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan, e da Perdigão, Nildemar Secches, vão se antecipar à obrigação legal e farão, hoje de manhã, uma apresentação informal sobre a fusão no plenário do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A informação é do presidente do Cade, Arthur Badin, que adiantou que um acordo de preservação da reversibilidade da operação (Apro) deve ser firmado para que as empresas continuem operando em separado até uma decisão final do órgão sobre a criação da Brasil Foods (BRF). Perdigão e Sadia também devem apresentar ao Cade nos próximos 15 dias toda a documentação exigida por lei, mas a decisão só deve sair no fim do

Argentina compra 20 jatos da Embraer ● BUENOS AIRES. Depois de meses de negociações, o governo argentino anunciou a compra de 20 jatos Embraer 190 para renovar a frota da Aerolíneas Argentinas e da Austral. Embora ambas as companhias aéreas ainda estejam em processo de reestatização (o projeto já foi aprovado pelo Congresso, mas a Casa Rosada ainda não chegou a um acordo com o grupo espanhol Marsans), o governo decidiu avançar numa operação estimada em US$ 700 milhões, dos quais 85% serão financiados pelo BNDES. Em plena campanha eleitoral (em junho será renovada a metade da Câmara e um terço do Senado), a presidente argentina mostrou-se eufórica pela assinatura do acordo com Embraer. A Aerolíneas não adquiria aviões novos desde sua privatização, na década de 90. — Estamos recuperando uma parte de nossa dignidade nacional — declarou a presidente. (Janaína Figueiredo, correspondente) ■

ano, após todas as instâncias de análise, incluindo pareceres das secretarias de Acompanhamento Econômico (Seae, do Ministério da Fazenda) e de Direito Econômico (SDE, do Ministério da Justiça). — Não vejo esse caso como especialmente desafiador. É grande pelo tamanho das empresas, pela concentração de alguns mercados, mas posso garantir que será analisado com as mesmas tranquilidade e tecnicidade de todos os outros — disse Badin, ressaltando haver outros fatores, além do mercado, na análise. — Muitas vezes, uma elevada concentração não necessariamente gera poder econômico, que é a capacidade de determinar de forma unilateral a quantidade ofertada no mercado e, portanto, os preços. Depende também de outros fatores, como as barreiras de entrada em certos mercados ou o volume de im-

portações desses produtos. O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, disse que a operação é boa para as exportações brasileiras de alimentos, porque a fusão criará eficiência em termos de marketing e redes de distribuição. Furlan também conversará hoje com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em São Paulo. Fusão pode afetar cesta básica, dizem especialistas A criação da BRF, na verdade a venda da Sadia à Perdigão, lembra em muitos aspectos a da AmBev, união de Brahma e Antarctica. Como naquele caso, haverá a junção de marcas muito populares, com inevitável concentração de mercado em certos produtos. Mas, para especialistas, agora há uma diferença essencial: em vez de cerveja, a BRF terá muito poder de influir nos preços e na oferta de pro-

dutos da cesta básica, como frango e carnes processadas. — As duas empresas têm pelo menos dez produtos de largo consumo na cesta do brasileiro, e esse aspecto vai exigir muita atenção de órgãos como o Cade — diz Pedro Dutra, conselheiro do Instituto Brasileiro de Defesa da Concorrência (Ibrac), que acredita que o processo deve levar de 12 a 18 meses. A BRF já constituiu uma tropa de choque de especialistas para o embate no Cade. A Perdigão contratou o escritório Fontes, Tarso Ribeiro Advogados, do exministro da Justiça e ex-titular da SDE Paulo de Tarso Ribeiro, que será assessorado pelo economista Jorge Fagundes, da UFRJ. Pela Sadia, foi destacada a advogada Barbara Rosenberg, do escritório Barbosa, Mussnich & Aragão, que será assessorada pela ex-presidente do Cade Elizabeth Farina, hoje sócia da Tendências Consultoria. ■


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Sábado, 23 de maio de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

Dólarembaixa,governoemalerta

Mantega diz que alta do real é ‘fonte de preocupação’. Para analistas, câmbio não influenciará juros Aguinaldo Novo, Eduardo Rodrigues e Felipe Frisch SÃO PAULO, BRASÍLIA e RIO

O

ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a valorização do real frente ao dólar é “fonte de preocupação” para o governo e empresários. Ainda assim, ele disse ver um “lado positivo” nesse quadro, por indicar que a alta seria resultado “do entusiasmo dos investidores com o Brasil”. Ontem, a moeda americana fechou em queda de 0,49%, a R$ 2,027. Em maio, já caiu 7,06% e no ano, 13,15%. — Essa valorização do câmbio já é resultado do entusiasmo de outros países (dos investidores) para virem para o Brasil, porque o Brasil oferece condições mais seguras, mais estáveis, a oportunidade de negócios — disse Mantega, após seminário em São Paulo. — É claro que essa valorização atrapalha o setor produtivo, os exportadores, a agricultura. Então, de fato, é uma fonte preocupação. As operações conhecidas como carry trade têm elevado fortemente o fluxo de recursos externos no país. Nessas transações, os investidores vendem moeda ou títulos de um país com juros baixos, para comprar de outro com taxas altas. Enquanto países desenvolvidos praticamente zeraram suas taxas básicas, o Brasil o juro real está em 5,8%, entre os maiores do mundo. Perguntado se o Banco Central (BC) poderia acelerar a queda dos juros como forma de dificultar a arbitragem de taxas, Mantega respondeu que essa é “a direção indicada pelo BC”. — O BC tem sinalizado que vai dar continuidade à queda dos juros, o ministro (presidente do BC, Henrique) Meirelles tem falado isso, e portanto acredito que esta é a direção correta — declarou, acrescentando que o governo “já está comprando mais (dólares no mercado) e recompondo reservas, o que é muito bom porque neste momento seríamos um dos poucos países aumentando nossas reservas”. Para economista, país está refém do mercado por causa de juro alto Ontem, o BC voltou comprar dólares no mercado à vista. Adquiriu US$ 46 milhões, segundo fontes de mercado. Desde o começo do mês, a autoridade monetária já comprou US$ 2,498 bilhões por meio de seus leilões diários. Mas analistas não acreditam que o câmbio será um indicador-chave na decisão da taxa básica Selic, hoje em 10,25% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 11 e 12 de junho. Para eles, as intervenções do BC no câmbio e os alertas de Meirelles sobre a rápida

CAUSAS E EFEITOS DA QUEDA DA MOEDA

COMMODITIES

A cotação das matérias-primas comercializadas internacionalmente (commodities) está se recuperando. Como respondem por mais de um terço da pa pauta de exportações, o país está recebendo mais dólares ppor suas exportações. po aç

INVESTIDORES ESTRANGEIROS ROS

SOFRE IMPACTO DO DÓLAR CAUSA IMPACTO AO DÓLAR

EXPORTADORES EXPO

Apesar de estar em seu mais baixo patamar, a Taxa Selic (10,25% ao ano) ainda é um dos juros maiss altos res no país e o real re se do mundo. Assim, chovem dólares fortalece rapidame mente. rapidamente.

Com me medo de o dólar cair mais ainda, muitos exportadores estão antecipando a entrad entrada de seus dólares no país, elevan ando a oferta da moeda. m elevando

BANCO CENTRAL/JUROS ROS

AÇÕES AÇÕE AÇ

ad dos ade Para reduzir a atratitividade investimentos no país, o BC poderia acelerar ac a queda dos juros, segundo analistas, li listas, e ul ulativo. reduzir a entrada de capital especulativo.

A enxurrada enxu de investidores externos pode gerar uma valorização excessiva de ativos (como ações de valoriza empres empresas), que não está lastreada na realidade (é fruto da especulação e não do lucro gerado por novas fábricas, por exemplo).

DÓLAR

Projeções de analistas são de que a moeda pode chegar à faixa entre R$ 1,80 e R$ 1,90

BANCO CENTRAL/CÂMBIO MBIO

Quando o fluxo cambial vira rapidamente, o Banco Central se vê obrigado a intervir no mercado do para interromper o movimento brusco – de alta ta ou de queda – do câmbio. O BC tem feito compras sucessivas de moeda para contrabalançar o efeito da enxurrada de dólares

COMÉRCIO COMÉ MÉ EXTERIOR

O dólar valorizado torna mais baratos os produtos brasileiros brasilei eiro no exterior. Este é um importante fator de compet competitividade etit em meio à fraquíssima demanda mundia ia A derrocada da moeda americana ameaça mundial. an esta van vantagem, podendo gerar desemprego no setor.

ONTEM: -0,49%, para R$ 2,027 Na semana: -3,93% No m mês: -7,06% 06% No aano: -13,15% 5%

GANGORRA ORRA CAMBIAL CAMBI BIAL

INFLAÇÃO INFL FLAÇÃO

Quando a oscilação do câmbio é forte, as empresas mpresas não conseguem estabelecer um patamar sobre o qual fazer contas de compras de insumo no exterior, custo utos no financeiro de captações, venda de produtos panhias mercado internacional. No limite, as companhias sadas. podem ficar paralisadas.

Quanto menor a cotação do dólar, mais baratas ficam as importaç importações, forçando para baixo os preços no mercado doméstico. domést As projeções de inflação já estão abaixo da meta oficial o de 4,5% e o objetivo do BC é não deixar que o s afaste muito deste patamar. Com isso, o BC IPCA se poderia interromper a queda da Selic antes do necessário rea para reativar a economia.

INDÚSTRIA NACIONAL

Mais importados no mercado interno eleva elevam a concorrência com a indústria nacional, que entrou em recessão por causa da crise.

CORPO

A

CORPO

DELFIM NETTO

‘Brasil é, outra vez, o peru com farofa do mercado’ SÃO PAULO. O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto costuma recorrer a metáforas irônicas para explicar movimentos do mercado. Sobre o aumento no fluxo de capital externo para o Brasil, diz que o país virou “o peru com farofa do mercado internacional”. E adverte que isso diminui a competitividade das exportações.

O GLOBO: O real ensaia forte movimento de valorização frente ao dólar. Devemos nos preocupar? ANTONIO DELFIM NETTO: Claro. Estamos repetindo o que fizemos no passado: o Brasil está sendo, outra vez, o grande peru com farofa do mercado internacional. Estamos dando nestes desvalorização do dólar revelam apreensão com a volatilidade excessiva da moeda americana. Do ponto de vista da política monetária, avaliam, mesmo em baixa a cotação continua no intervalo previsto pelo BC: entre R$ 2 e R$ 2,20. Além disso, esse movimento do dó-

últimos meses uma taxa de retorno em dólares de 6% ao ano, e já descontados os impostos. É uma extravagância. O que o país teria a temer com isso? DELFIM: É preciso intervir nesse processo. Este tipo de valorização é muito prejudicial para a exportação. E todo esse entusiasmo está ligado à expansão das Bolsas. Mas é uma coisa que tem um limite. ●

Acelerar o corte dos juros seria o melhor fazer? DELFIM: É o que o Banco Central deveria fazer. (Aguinaldo Novo) ●

lar não representa risco de a inflação se afastar muito, para baixo, do centro da meta de 4,5% pelo IPCA estipulada pelo governo, o que também é função do comitê evitar. Além disso, como as pressões inflacionárias têm se mantido baixas e estáveis, o colegiado estaria

concentrado em tomar decisões de olho nos indicadores de produção. — As intervenções do BC devem segurar a cotação da moeda muito próxima do patamar atual — afirma o professor de mercado financeiro da Trevisan, Alcides Leite.

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo Sarney, afirma que um corte mais forte de juros não puxaria a a inflação. — O governo tem de fazer cortes mais ousados, de dois a três pontos na taxa Selic. O essencial é colocar os nossos juros em linha com o conjunto de taxas internacionais. Já o professor da Unicamp e exsecretário de Política Econômica Julio Gomes de Almeida acredita que, com estes juros convidativos à especulação, o país fica refém dos mercados internacionais e pode ser vítima de uma fuga de dólares com a mesma intensidade dos ingressos em massa. — A única maneira de sair dessa gangorra cambial é ter juros compatíveis com a realidade. Mas, infelizmente, o dólar não deve influenciar as decisões do Copom, o que é uma pena, porque os setores produtivos do país é que sofrem com isso — analisa. Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 0,96%, para 50.568 pontos. Na semana, acumula alta de 3,18%, e, no mês, de 6,93%. No ano, a recuperação já é de 34,67%. ■


O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 15 - Edição: 26/05/2009 - Impresso: 25/05/2009 — 22: 14 h

15

Terça-feira, 26 de maio de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

E o BB baixou os juros

6

CRÉDITO AUTOMÁTICO 5,50

5,29

Banco diminui taxas de 9 linhas de crédito e amplia limites de empréstimos Eduardo Rodrigues

O

BRASÍLIA

Banco do Brasil (BB) anunciou ontem a ampliação dos limites de empréstimos para 10 milhões de correntistas e cortes nas taxas de juros cobradas em nove linhas de financiamento pessoal para todos os seus clientes. Na última terça-feira, o GLOBO mostrou que, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central (BC), os juros médios para pessoas físicas cobrados pela instituição vinham aumentando desde 15 de abril, na contramão do que foi exigido pelo governo. No dia 23 do mês passado, Aldemir Bendine havia substituído Antonio de Lima Neto na presidência do BB justamente com a missão de ampliar o crédito e reduzir as taxas. O corte nos juros mínimos e máximos — que beneficiará todos os clientes do banco, incluindo os da Nossa Caixa — ocorre nos segmentos que financiam a compra de bens (material de construção, veículos, eletrodomésticos) ou têm as parcelas descontadas em folha de pagamento (crédito consignado), com menor risco de inadimplência para o banco. O percentual médio de reduções chega a 6,19%. A instituição, no entanto, alegou que as mudanças nas taxas e nos limites já estavam em estudo há mais tempo e teriam sido antecipadas pela nova gestão para aproveitar oportunidades no mercado. Dependendo do valor do empréstimo, as reduções das taxas corresponderão a pequenas alterações nas prestações. Considerando apenas os juros (sem levar em conta outros impostos e taxas cobrados pelo banco), por exemplo, um financiamento de R$ 5 mil em 24 meses, com desconto em folha de pagamento, para trabalhadores da iniciativa privada, teria uma prestação de R$ 251,34 pela taxa mínima anterior, de 1,86% ao mês. Com a nova taxa mínima, de 1,70%, a prestação cairia para R$ 247,01. Segundo o vice-presidente de Crédito do BB, Ricardo Flores, a decisão de ampliar os limites em 5,25%, em média, para um terço dos cerca de 30 milhões de clientes que compõem a carteira do banco não foi tomada devido à pressão do governo. Na última terça-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a cobrar esclarecimentos de Bendine, mas acabou aceitando a justificativa do executivo, de que o ranking de juros do BC é “truncado” porque aborda apenas algumas linhas de financiamento. O BB também diz que o ranking não significa que o BB

REDUÇÕES VÁLIDAS PARA TODOS OS CLIENTES TAXA ANTIGA

TAXA NOVA

CRÉDITO PARA MATERIAL DE CONSTRUÇÃO

(trabalhadores de empresas privadas)

CREDIÁRIO 3,39

TAXA MÁXIMA

CREDIÁRIO ELETRODOMÉSTICOS

2,89

2,99

SÃO PAULO. Em um novo lance pela

disputa do mercado, o Bradesco anunciou ontem a ampliação do prazo de seu financiamento para a casa própria, de 25 para 30 anos. A alteração vale para todas as modalidades enquadradas no Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Além disso, o banco decidiu reduzir os juros em diversas operações do SFH. Nos contratos pósfixados para imóveis novos e usados com valor de avaliação de até R$ 120 mil, por exemplo, a taxa caiu de 10% para 8,9% ao ano. Isso equivale a juros de 0,7% ao mês mais a variação da TR. — Essa taxa é a menor do mercado para imóveis nessa faixa financiados com recursos da caderneta de poupança — afirmou o diretor-executivo do Bradesco, Ademir Cossiello. No ano passado, a instituição financiou a compra de cerca de 50 mil imóveis residenciais, no valor total aproximado de R$ 6 bilhões. A meta para este ano é alcançar 70 mil imóveis. Com isso, afirmou Cossiello, o Bradesco espera au-

4,48 4,46 4

(linha branca)

2,89

3,20

3,19 2,99 3

VEÍCULOS 2,63 2,44

2,57

EMPRÉSTIMO COM DESCONTO EM FOLHA

(servidores públicos)

2,29

1,97

1,92

1,99 1,99 (12 meses) (24 meses)

TAXA MÍNIMA

1,86

1,74 1,69 está praticando taxas mais altas ou mais baixas porque divulga a taxa média ponderada pelos volumes contratados em determinado período. — Não foi uma decisão da noite para o dia, mas o processo foi acelerado nas últimas semanas, para colher os bons frutos do momento econômico do país e expandir a carteira do banco. Nosso objetivo é fidelizar clientes e ampliar nossa participação de mercado nestes segmentos — disse Flores.

Instituição pode elevar reserva contra calote O vice-presidente explicou que a mudança nos limites foi possível devido ao aperfeiçoamento da metodologia de análise de risco dos tomadores, que, a partir de agora, será confrontada com outra análise, que mede o potencial de consumo de crédito desses correntistas. A estimativa é oferecer R$ 13 bilhões a mais para empréstimos, dos quais R$ 3 bilhões devem ser contratados já nos próximos 12 meses. — Estamos abrindo uma margem maior para clientes tradicionais com bom histórico de operações com o banco, que estão com seus limites medianamente usados e ainda têm apetite para tomar crédito — afirmou. ●

1,69

mentar, dos atuais 22% para 26%, sua participação no mercado de crédito para a compra da casa própria. O aumento dos índices de inadimplência, como efeito da crise financeira global, vem levando os bancos, desde o início do ano, a engessarem a liberação de crédito e elevarem suas taxas de juros. Movimentos como o anunciado ontem pelo Bradesco parecem indicar uma melhora de cenário. Antes do Bradesco, o Itaú e a Aymoré Financiamentos, ligada ao Santander Brasil, já haviam anunciado a volta do prazo de 72 meses (equivalente a seis anos) para o financiamento de carros novos. Instituição financeira vê estabilização da inadimplência Perguntado sobre o calote nos empréstimos, Cossiello, do Bradesco, respondeu que há uma percepção de estabilização dos índices de inadimplência — o que era previsto pelo mercado apenas para o último trimestre. — Essa estabilização foi antecipada, talvez pela sensação de que o pior da crise já passou — afirmou.

1,70

1,62

2

1,99 1,83 1,60 1,58

1,31 1,22

1

AUMENTO DO TETO DE FINANCIAMENTOS

O vice-presidente de Relações com Investidores, Aldo Mendes, revelou que o BB pretende aumentar o tamanho da carteira de crédito para consumidores dos atuais R$ 60 bilhões para R$ 100 bilhões em 2012. Para o presidente da consultoria Austin Rating, Erivelto Rodrigues, o movimento do BB, além de ter um componente de marketing, segue uma tendência do setor bancário, cuja concorrência tem aumentado nos últimos meses. — Como os spreads (diferença entre o custo do banco para captar dinheiro e os juros cobrados dos clientes, que inclui o lucro do banco) estão caindo, a solução para as instituições é mesmo aumentar o volume emprestado. O segredo é não comprometer a qualidade da carteira, correndo riscos maiores — alertou Rodrigues. Segundo a diretoria do BB, a provisão para devedores duvidosos (espécie de reserva que o banco faz para cobrir calotes na carteira de crédito), atualmente equivalente a 3,8% da carteira, pode ser elevado para até 4,2% em 2009. Ele afirmou que a inadimplência — atrasos acima de 90 dias — está abaixo da média dos outros grandes bancos do mercado.

(para um terço dos clientes)

10 milhões de correntistas, de um total de

30 milhões da carteira do banco (incluindo a Nossa Caixa)

Aqueles com um bom histórico de relacionamento com o banco e ainda têm apetite para tomar mais crédito, ou seja, já estão perto do limite de endividamento com o banco A ampliação média será de 5,25% dos limites atuais de cada um desses clientes A estimativa é de R$ 13 bilhões a mais disponíveis para emprestar

Dos quais R$ 3 bilhões já devem ser contratados nos próximos 12 meses

A inadimplência (90 dias) do BB está abaixo da média dos outros grandes bancos do mercado (março/09)

Pessoa física BB Pessoa física (em todo o sistema financeiro)

O Bradesco encerrou o primeiro trimestre com inadimplência de 4,3% da carteira total, considerando os empréstimos vencidos há mais de 90 dias, contra 3,6% no fim de 2008. No caso do segmento imobiliário, o índice de atrasos é de 2%. Mas o banco mantém uma postura conservadora ao comentar se vai seguir a decisão do Banco do Brasil (BB), que anunciou uma redução de juros para diversas linhas de financiamento e ainda aumentou o limite de crédito para mais de dez milhões de clientes. — Precisamos ver qual foi a motivação do Banco do Brasil. Não conhecemos qual foi o critério utilizado por eles — disse Cossiello. — O banco continua atento aos índices de inadimplência. E quando há espaço para avançar, o banco tem aproveitado isso. Procurados ontem, Itaú e Santander não quiseram comentar os anúncios feitos por BB e Bradesco. Já o HSBC disse, por meio de sua assessoria, que sempre analisa as possibilidades de redução de taxas e que a tendência é acompanhar “o movimento da concorrência”. ■

2,1% 2,6% FONTE: BB

Bolsa sobe 0,49% e dólar cai para R$ 2,026 em dia fraco Gestor americano vê ano eleitoral sem sobressaltos

Banco também decide cortar juros para contratos pelo SFH ●

4,104,06

EMPRÉSTIMO PARA APOSENTADOS E PENSIONISTAS

3,23

3,23

CRÉDITO PESSOAL

3,75

Bradesco amplia financiamento da casa própria para 30 anos Aguinaldo Novo e Lino Rodrigues

EMPRÉSTIMO COM DESCONTO EM FOLHA

(Em % ao mês)

5

Juliana Rangel e Felipe Frisch

O feriado do Memorial Day, nos Estados Unidos, fez a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ter um dia fraco ontem: o volume de negociação ficou em apenas R$ 1,57 bilhão, contra média diária de R$ 5,5 bilhões no mês. Seu principal índice, o Ibovespa, subiu 0,49%, para 50.816 pontos. Já o dólar teve leve baixa, de 0,05%, para R$ 2,026, também com montante negociado baixíssimo, em torno de US$ 200 milhões. O Banco Central voltou a comprar moeda americana no mercado à vista. Desta vez, apenas US$ 45 milhões. Se este ano a Bolsa vem se recuperando do agravamento da crise mundial, no último trimestre do ano passado, em 2010 também não são esperados sobressaltos devido às eleições presidenciais. O gestor do fundo de investimento americano BlackRock voltado para América Latina, Will Landers, diz que o Brasil tende a se recuperar antes dos demais, porque o seu sistema financeiro se manteve saudável, e ainda tem a vantagem de não ter o mesmo risco eleitoral de 2002: ●

.

— A eleição de 2010 não traz nenhuma grande preocupação, se os candidatos forem José Serra ou Dilma Rousseff, pois um partido criou o Plano Real e outro assumiu as mudanças — diz Landers, que participa hoje e amanhã do 5 oCongresso Anbid de Fundos de Investimento, da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), em São Paulo. Landers acredita que o Ibovespa pode chegar a 65 mil pontos neste ano. Trata-se de um ganho de quase 30% em relação a ontem. Um fator que pode ajudar a alta é a entrada de fundos de pensão mais ativamente na Bolsa, já que ficará mais difícil atingir suas metas apenas com títulos públicos, diante de juros em queda. Em 2009, Landers acredita que a economia brasileira deverá ter crescimento zero, mas em 2010 pode voltar aos 4%. Para ele, que administra uma carteira de US$ 4,5 bilhões voltada para a América Latina (do total de US$ 1,28 trilhão da gestora), as principais apostas no Brasil são as ações de empresas ligadas à economia doméstica.


O GLOBO

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ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 20 - Edição: 27/05/2009 - Impresso: 26/05/2009 — 22: 10 h

ECONOMIA

Quarta-feira, 27 de maio de 2009

O GLOBO

.

ONDA VERDE: Mas, para maio, BC estima déficit em torno de US$ 2,3 bi

Contas externas tiveram saldo positivo em abril, após 18 meses no vermelho Balança comercial e queda nas remessas de lucros de empresas puxam resultado

MÍRIAM LEITÃO

Editoria de Arte

Eduardo Rodrigues

PANORAMA ECONÔMICO

O teste de Obama Os testes nucleares da Coreia do Norte são o primeiro desafio grave de política externa do presidente Barack Obama. Temia-se que ele viesse do mundo muçulmano, mas veio de outro país hostilizado pelo velho governo. É também um desafio para a liderança da China na região. Do ponto de vista econômico, mesmo pequena e isolada, a Coreia do Norte cria mais um peso num organismo debilitado.

Ontem, caíram as moedas do Japão, Nova Zelândia, Indonésia, Malásia, Tailândia, Índia, Cingapura e Coreia do Sul. O mundo está em crise e há fundamentos econômicos para qualquer instabilidade, mas o aumento do risco não ajuda em nada o momento atual, que estava começando a ser visto como de superação do pior. O mercado ficou de manhã preocupado com a nova fonte de problemas, mas à tarde estava comemorando a elevação da confiança dos consumidores americanos. Os dados são ambíguos porque ontem mesmo saiu a informação de queda de 19,1% dos preços dos imóveis no primeiro trimestre nos EUA. Mas o sentimento do consumidor falou mais alto e o mercado melhorou ao longo do dia. O assunto, entretanto, não é tão trivial quanto parece pelos voláteis indicadores das bolsas de valores. O presidente norte-coreano pode estar se aproveitando da crise econômica para fazer seu jogo. Os economistas já estão preocupados com a questão fiscal americana, com o déficit batendo em 13% até o final do ano. Tudo que Obama não precisa agora é mais uma frente de gastos, mais uma frente de batalha, mais um pântano no qual se afundar. Afinal, já há problemas suficientes internamente: todas as complicações que ainda sangram a economia. Por isso, e por tudo o que ele se propõe a ser na política americana, Obama tentará a todo custo evitar um conflito, mas ao mesmo tempo não pode correr o risco de um moral hazard na área diplomática, porque se passar fraqueza, isso o fragilizará na disputa política interna. A embaixadora de Obama nas Nações Unidas, Susan Rice, fez um sinal de endurecimento, dizendo que o país está trabalhando com outros integrantes do Conselho de Segurança para uma rápida resposta que leve a Coreia do Norte “a pagar o preço” de seu desafio, mas ao mesmo tempo circulam informações de que os EUA estariam abertos a uma volta do governo da Coreia do Norte à mesa de negociação. Por outro lado, a atitude da Coreia do Norte é um tiro contra a liderança que a China quer construir na região. É ela a promotora das negociações para a desnuclearização do país vizinho. Por isso, o desafio de Pyongyang provocou reação imediata dos chineses. Eles também não precisam, no meio de seus esforços de retomada do crescimento, de mais uma instabilidade. A tragédia causada pelo governo norte-coreano é que ele atrapalha o futuro

do seu próprio povo e também de outros países. Um governo stalinista em pleno século XXI é uma velharia espantosa. Tudo parece mofado, como os boatos sobre a saúde do ditador Kim Jong-il. Lembram o regime soviético e as doenças, sempre negadas, de seus governantes. É um país tão frágil economicamente, que aumentar seu isolamento pode produzir o que a China teme: a implosão do país com milhares de pessoas saindo por suas fronteiras, disse ontem o editor diplomático do "Telegraph", de Londres, David Blair. A tese do analista é que a Coreia do Norte joga com o Ocidente usando a estratégia de ameaçar para conseguir concessões. O país fez um teste em 2006 e depois negociou o acordo de fevereiro de 2007, no qual prometia desmontar um dos seus reatores em troca de comida e combustível. O regime é um fantasma de si mesmo, tentando ameaçar o mundo, enquanto submete sua população ao sofrimento, à fome, ao isolamento e ao culto à personalidade. Na primavera de 2007, o país enfrentou inundações que reduziram ainda mais a oferta de alimentos interna, que é crítica pela falta de terras cultiváveis. O deplorável agora é que, desta vez, o país parecia caminhar para alguma racionalidade, até que, de novo, sacou do mesmo arsenal para ameaçar o mundo e ferir a si mesmo. A Coreia do Sul tem um PIB per capita 15 vezes maior que o da Coreia do Norte. Não deixa de ter problemas políticos, como o suicídio do ex-presidente, ou problemas econômicos, com a recessão que enfrenta este ano e a crise de 1997 e 1998. Mas é um país pujante, de tecnologia de ponta, uma economia exportadora. Nos últimos 18 anos, o PIB da Coreia do Norte ficou estagnado, o da Coreia do Sul multiplicou por três. O PIB da Coreia do Sul é o 16º do mundo; o da Coreia do Norte é o 96º. Obama tem que encontrar uma forma de tirar a economia da crise, mostrar que seu discurso de estender a mão ao mundo muçulmano, chamar adversários para a mesa de negociação e suspender a tortura e fechar Guantánamo tornarão o mundo um lugar mais seguro. Por isso, essa frente de problemas é tão indesejável e perturbadora. O teste nuclear de uma ditadura desesperada, nos seus estertores, ameaçando o mundo, é um dado a mais de incerteza, numa economia que está justamente tentando superar o cenário nebuloso para iniciar a recuperação.

oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br

COM ALVARO GRIBEL

BRASÍLIA. Após 18 meses consecutivos registrando déficits, a conta de transações correntes, que é o resultado de todas as operações do Brasil com outros países, ficou positiva em US$ 146 milhões em abril, de acordo com dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o superávit é decorrente do bom desempenho na balança comercial — diferença entre exportações e importações, com saldo de US$ 3,712 bilhões — e da queda no volume de remessas líquidas de lucros e dividendos de empresas para suas matrizes para exterior, US$ 1,716 no mês. — As remessas vêm caindo de forma expressiva e foram a metade das registradas em abril do ano passado (US$ 3,686 bilhões). Além disso, o saldo comercial foi muito positivo, extrapolando aquela sequência de resultados da ordem de US$ 1 bilhão dos primeiros meses do ano — disse. No entanto, Lopes afirmou que o superávit no mês não significa mudança de tendência na conta. A estimativa do BC para maio é de um novo resultado negativo, na casa de US$ 2,3 bilhões, entre outros fatores, porque a valorização do real nas últimas semanas favorece uma retomada nas remessas. No quadrimestre, as transações correntes acumulam um saldo negativo de US$ 4,874 bilhões. A despesa líquida com viagens internacionais caiu para US$ 382 milhões, contra US$ 500 milhões em abril de 2008. Em maio, até ontem, o gasto líquido dos brasileiros em trânsito no exterior chegava a US$ 367 milhões. Os desdobramentos da crise econômica mundial ainda causam impacto na conta capital e financeira, que registra o fluxo de entrada e saída de valores

O balanço de pagamentos

AS TRANSAÇÕES CORRENTES

+146 milhões

Em US$

(US$)

-591 milhões

-976 milhões

-1,099 bilhão

Indicadores BALANÇA COMERCIAL

3,712 bilhões

-1,455 bilhão

VIAGENS

-382 milhões JUROS

-607 milhões

-1,645 bilhão -2,168 ,168 ,1 bilhões lhões lh JUL/ 2008

-2,767 bilhões AGO

SET

OUT

-2,753 bilhões

-2,922 bilhões NOV

DEZ

JAN/ 2009

FEV

O DESEMPENHO DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO Em US$ bilhões/mês

REMESSAS DE LUCROS E DIVIDENDOS

-1,716 bilhão MAR

ABRR

O comportamento das aplicações financeiras

8,117

Em US$, na comparação com abril de 2008 ABR/2008

4,826

ABR/2009

(ações negoci negociadas no país) EM BOLSA B (aç

3,872

JAN/2008 ABR

3,266

JUL

3,913 2,174 OUT

NOV

5,865 bilhões

3,409 1,930 1,968 DEZ JAN/2009 FEV

1,444 MAR

630 milhões -1,497 bilhão

EM RENDA FIXA

-392 milhões

ABR

FONTE: Banco Central

que não se destinam ao comércio de bens e serviços. Essa parte do balanço de pagamentos brasileiro obteve superávit de US$ 1,905 bilhão em abril, bem inferior aos US$ 8,291 bilhões apurados no mesmo mês do ano passado. Os investimentos estrangeiros diretos totalizaram US$ 3,409 bilhões no período, com destaque para a indústria farmacêutica. O resultado ficou próximo do registrado no quarto mês de 2008 (US$ 3,872 bilhões). A autoridade monetária estima o ingresso de US$ 2,6 bilhões em maio deste ano. — O número foi positivo e

também teve uma distribuição setorial boa, bastante dispersa, um sinal de que a melhora do dinamismo dos investimentos tem se acentuado — afirmou Lopes. Investimento em ações quadruplica em maio Já o investimento estrangeiro líquido em carteira somou apenas US$ 247 milhões em abril, frente a US$ 4,408 bilhões no mesmo período do ano passado. O saldo em ações negociadas no país ficou em US$ 639 milhões (contra US$ 5,865 bilhões em abril de 2008). Mas, com a enxurrada de dólares que desem-

Consumidor dos EUA surpreende e faz Bolsa de SP atingir nível de setembro

barcou na Bolsa de Valores nas primeiras semanas de maio, o resultado, apurado até ontem, praticamente quadruplicou, e já chega a US$ 2,365 bilhões. As intervenções do BC no mercado de câmbio em abril somaram US$ 1,301 bilhão. Para tentar conter a valorização do real frente ao dólar em razão da forte entrada de moeda estrangeira no país em maio, a autoridade agiu mais agressivamente e já havia comprado US$ 2,408 bilhões no mercado à vista até o dia 22. No início da noite, o BC emitiu nota informando que passará a divulgar semanalmente o volume das intervenções. ■

Economistas sugerem mais poder aos BCs

Com expectativa de que pior já passou, Bovespa sobe 2,2% e Dow Jones, 2,37% Grupo de acadêmicos Juliana Rangel* ● RIO, WASHINGTON, NOVA YORK e LONDRES. A inesperada alta da

confiança do consumidor americano animou ontem os investidores, levando a alta aos mercados e fazendo com que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechasse em seu maior patamar desde 19 de setembro do ano passado, aos 51.840 pontos, com alta de 2,2%. O índice de confiança compilado pelo Conference Board passou de 40,8 em abril para 54,9 pontos este mês, o nível mais elevado em oito meses. A alta, a maior desde abril de 2003, ampliou as esperanças de que o pior já da crise já ficou para trás. — Os consumidores estão consideravelmente menos pessimistas que no início deste ano — disse Lynn Franco, diretora de Pesquisa do Conference Board. Na pesquisa do Conference Board, os consumidores afirmaram que a situação atual está apenas um pouco melhor que há um mês, mas as expectativas para o futuro saltaram de 51 para 72,3 pontos. A melhora deveu-se à percep-

ção de que o mercado de trabalho está se recuperando. Em Nova York, o Dow Jones fechou em alta de 2,37%, enquanto Nasdaq avançou 3,45% e S&P, 2,63%. Os dados americanos também animaram os mercados europeus. Londres subiu 1,06%, Frankfurt, 1,37%, e Paris, 1,05%. Na Ásia, os mercados refletiram as preocupações com o teste nuclear da Coreia do Norte, na véspera, e fecharam em baixa. Tóquio caiu 0,4%, Cingapura, 0,8%, e Seul, 2,1%. Barril do petróleo avança 1,3% em NY, para US$ 62,45 O Ibovespa, principal índice da Bolsa paulista, chegou a cair 1,46% de manhã, com os mesmos temores sobre a Coreia e diante do desempenho das bolsas europeias, que ainda operavam em queda. — A divulgação da confiança do consumidor mudou o cenário. O dólar, que até então estava subindo, passou a cair já que os investidores venderam a moeda para comprar commodities. A recuperação dos preços desses produtos no mercado internacional acabou puxando vários papéis da Bol-

sa brasileira — disse Gustavo Alcântara, da SLW Gestão. Entre os destaques do dia estiveram as ações da VCP e da Aracruz, com altas de 8% e 5,4%, respectivamente. Ações ligadas ao varejo e à construção civil também fecharam em forte alta. Os papéis da Cyrela subiram 5,7%; os da Rossi, 4,9%; e os da Gafisa, 4,7%. O dado sobre a confiança do consumidor ofuscou a queda de 18,7% nos preços dos imóveis nos Estados Unidos em abril, conforme o índice Standard & Poor’s Case-Schiller. Além disso, a confiança contribuiu para o avanço das cotações do petróleo. Em Nova York, o barril do tipo leve americano fechou a US$ 62,45, uma alta de 1,3%. Já o do tipo Brent, negociado em Londres, avançou 1,7%, para US$ 61,24. Outro fator foi a Arábia Saudita ter afirmado que a demanda pelo petróleo voltou a crescer. O ministro saudita de Petróleo, Ali al-Naimi, disse que o barril deve atingir US$ 75 no terceiro ou quarto trimestre deste ano. ■ (*) Com agências internacionais

recomenda limitar nível de risco de bancos Gilberto Scofield Jr. Correspondente WASHINGTON. O grupo de trabalho Squam Lake — formado por 15 acadêmicos de nove universidades e várias orientações políticas — do centro de estudos Council on Foreign Relations, uma equipe de economistas que vem abastecendo o Congresso e o Tesouro dos EUA com sugestões sobre a reforma no sistema financeiro internacional pretendida pelo G-20, fez ontem recomendações para aumentar a segurança. Todas, no entanto, giram em torno de reforçar e aumentar o papel dos bancos centrais dos países — entidades que devem ser totalmente autônomas — como reguladores. Talvez por reunir num grupo economistas de perfis tão diferentes quanto Frederic S. Mishkin, da Universidade de Columbia, Kenneth French, da Faculdade Dartmouth, John Y. Campbell, de Harvard, ou John H. Cochrane, de Chicago, o Squam não vê necessidade de se criar um mecanismo supranacional. Para eles, basta criar um sistema de informações sobre todos os setores financeiros, estabelecer trocas constantes entre os BCs dos países e limitar a fatia de aplicações das instituições (sejam bancos, seguradoras e fundos), garantindo que, caso a instituição deseje correr risco maior, tenha capital para isso. Problemas entre correntistas e bancos passariam para o cuidado de agências especiais de proteção ao consumidor. ■ ●


O GLOBO

24

ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 24 - Edição: 28/05/2009 - Impresso: 27/05/2009 — 22: 05 h

ECONOMIA

Quinta-feira, 28 de maio de 2009

O GLOBO

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Inadimplência aumenta e atinge o maior nível desde outubro de 2000 Empresas puxaram alta de 5,2%. Atrasos de consumidores recuam em abril

MÍRIAM LEITÃO

Editoria de Arte

Eduardo Rodrigues

PANORAMA ECONÔMICO

Passado, futuro No dia em que o presidente Barack Obama indicou o nome de Sonia Sotomayor para a Suprema Corte, o escritor William Gibson, fundador da cibercultura, postou em seu Twitter: “Lembram-se quando parecia que o primeiro hispânico na Suprema Corte de Justiça seria Alberto Gonzales?” A diferença entre os dois é que enquanto ele tentava dar base legal para a tortura, ela desbravava o Ciberdireito.

Os poucos toques do recado de Gibson disseram tudo. A diferença é enorme. Além de atuar em uma nova fronteira do Direito, até então inimaginada, Sonia representa o futuro por vários outros pontos de sua biografia. Alberto Gonzales foi nomeado por Bush para o cargo equivalente ao de ministro da Justiça, no Brasil, e se tornou o “justificador-geral” do governo. Quando seu nome começou a circular para a Suprema Corte, 200 professores de Direito escreveram uma carta aberta ao Congresso e à Casa Branca, dizendo que “Gonzales e outros advogados do governo não cumpriram com sua mais elevada obrigação de defender a Constituição”. Saiu de um memorando de Gonzales a tese, vitoriosa no governo Bush, de que a Convenção de Genebra sobre os direitos de prisioneiros de guerra não se aplicava à luta contra o terrorismo. Foi ele, também, quem definiu com pouquíssimos termos o que seria considerado prática de tortura por parte de militares e agências de segurança. Gonzales deixou de incluir o afogamento simulado. A indicação de Sonia Sotomayor, a primeira pessoa de origem hispânica a chegar à Suprema Corte também está agitando os Estados Unidos. Os republicanos tentam comprovar que ela seria uma juíza partidária. Seu nome ainda terá que ser aprovado pelo Senado. Na blogosfera, ela é um dos temas mais quentes do momento, mas por outras razões: ela é o oposto de Gonzales e é isso que explica a pergunta de Willian Gibson. Sotomayor nasceu em uma família porto-riquenha no South Bronx, em Nova Iorque, um bairro de latinos e negros empobrecidos nos anos 60 e 70, período em que era violento e discriminado. Famoso por ser o local do celebrado Yankee Stadium, do conhecido time de beisebol, o bairro começou a ser objeto de políticas de renovação, nos anos 80. Com isso, atraiu jovens profissionais de classe média para seus novos condomínios. Sonia viveu no velho e pesado South Bronx, em um projeto habitacional de baixa renda da prefeitura, onde normalmente o sonho americano acabava em drogas ou à bala. Seu pai era um operário e morreu pouco antes de a menina completar nove anos. Logo depois, Sonia teve a confirmação do diagnóstico de diabetes, numa época em que o tratamento da doença era muito menos desenvolvido. A mãe, enfermeira, trabalhou duro para criar os dois filhos: Sonia e o irmão. Para escapar das dores da perda

do pai e da vida em um ambiente tão inóspito, refugiou-se nos livros, que a levaram ao Direito. Não foi uma aluna qualquer. Nos dois colégios em que estudou antes da faculdade, Blessed Sacrament e Cardinal Spellman, foi a primeira da classe. Ganhou uma bolsa de estudos para Princeton, onde se formou Summa Cum Laude e Phi Beta Kappa, que são duas das maiores consagrações possíveis do mérito acadêmico. Foi uma das ganhadoras do prêmio M. Taylor Prize, a maior honraria concedida por Princeton a um aluno de graduação. Durante a pósgraduação na escola de Direito da universidade Yale, foi editora do “Yale Law Journal” e do Yale Studies in World Public Order. Ela ainda foi procuradora-geral assistente em Nova Iorque e atuou como litigante comercial da cidade. Considerada uma liberal — progressista na acepção do termo liberal nos Estados Unidos — a opinião geral é de que é pragmática. Depois de Nova Iorque, fez uma carreira sólida na magistratura, que a levou até a Corte de Apelações, nomeada pelo presidente Bill Clinton e aprovada pela esmagadora maioria do Senado. Sonia é a mais progressista na lista que o presidente Obama examinou. Por suas decisões, pode ser julgada como mais ao centro, ora pendendo para o lado conservador, como em duas decisões sobre o aborto, ora pendendo para os liberais, como nos casos relacionados a censura, privacidade e direito de opinião na Internet. A blogosfera está encantada com a nomeação porque ela é considerada a primeira pessoa a chegar à Suprema Corte que conhece e pratica o Ciberdireito. Para seus antigos chefes, é justa e pragmática. Em um artigo, o “The New York Times” a definiu como uma pessoa de opinião forte, que não se intimida na tribuna, nem diante da imprensa. O presidente Obama disse que queria alguém sensível aos interesses das pessoas comuns. Isso ela tem de sobra, afinal, é uma pessoa comum, que chegou às altas cortes da Justiça dos EUA, pelo esforço enorme da mãe para educar os filhos, por seu talento e méritos, e pelas políticas afirmativas que permitiram aos talentos das minorias chegarem às universidades da elite. Quem nasceu no South Bronx em 1954 e viveu lá as duas mais turbulentas e sombrias décadas do bairro, especialmente a crise dos anos 70, que empobreceu Nova Iorque, levando-a quase à falência, e chegou à Suprema Corte, é uma pessoa comum, mas com uma biografia incomum.

oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br

COM ALVARO GRIBEL

BRASÍLIA. A inadimplência nas operações de crédito, correspondente a atrasos superiores a 90 dias, voltou a aumentar. Subiu 0,2 ponto percentual em abril e chegou a 5,2%, o maior nível desde outubro de 2000, quando bateu 5,3%. De acordo com dados do Banco Central (BC), desde dezembro o indicador vem crescendo no mesmo ritmo. O avanço foi puxado pelos calotes de empresas, com alta de 0,3 ponto percentual no mês, para 2,9%, o mais alto índice desde maio de 2001 (4,2%). Já a quantidade de atrasos dos consumidores caiu 0,2 ponto percentual, para 8,2%, voltando ao patamar de janeiro. — A inadimplência ocorre em contratos antigos, pois durante a crise os bancos se mantiveram em situação defensiva. O fato é que as empresas ainda estão com dificuldade para acessar o mercado de crédito em função da situação geral de contração de liquidez, o que dificulta a rolagem das dívidas — afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Calote em alta

Meirelles diz que há sinais de inversão da alta do calote Uma consequência dos atrasos é a alta dos spreads (diferença entre o custo de captação e as taxas cobradas pelos bancos) para pessoa jurídica. Ainda que os juros tenham registrado leve queda, de 0,1 ponto percentual em abril, o spread médio cobrado das empresas subiu 0,3 ponto, para 18,3 pontos. — As taxas caem com a queda no custo de captação dos bancos (os cortes na Selic acumulam 3,5 pontos no ano), mas os spreads para as empresas so-

Bradesco amplia prazo para veículos

ATRASOS SUPERIORES A 90 DIAS Geral 8%

7,3%

4%

Set

Dez

2008

Jan

Fev

2009

● SÃO PAULO. Dois dias após alongar os prazos e reduzir as taxas para financiamento imobiliário, o Bradesco anunciou ontem mudanças também no crédito a veículos. O banco estendeu de 60 para 80 meses o prazo máximo de financiamento para a compra de automóveis novos e cortou a taxa mínima de 1,52% para 1,2% ao mês. Segundo o diretor-executivo do Bradesco, Ademir Cossiello, o objetivo da instituição com a medida é elevar sua carteira de financiamento de automóveis em cerca de 15% até o fim do ano. — Pretendemos aumentar nosso market share (participação) no setor — disse o executivo, explicando que essa fatia hoje é de 5% do mercado. Na segunda-feira, o banco já havia reduzido juro e esticado de 25 para 30 anos o prazo máximo do financiamento para a compra da casa própria. Para Cossiello, embora ainda não tenha percebido uma retomada mais forte da demanda, o banco vê sinais de melhora na economia, com a estabilização dos índices de emprego e renda. — Esses são sinais que nos dão conforto. Já enxergamos a curva da inadimplência se estabilizando — afirmou. Com essa avaliação, outros bancos também têm anunciado medidas para tentar ampliar suas principais linhas de financiamento para o varejo. Na segunda-feira, o Banco do Brasil anunciou a ampliação da oferta de crédito para pessoas físicas em R$ 13 bilhões e reduziu o juro para os clientes. No dia 15, o Itaú Unibanco já havia anunciado a ampliação do prazo máximo do financiamento para a compra de automóveis zero quilômetro de 60 para 72 meses.

2,9%

2,6%

2,3%

2%

1,8%

1,6%

Empresas 8,2%

5,2%

5%

4,8%

4,6%

4,4%

Consumidores 8,4%

8,3%

8,2%

Mar

Abr

JUROS AO CONSUMIDOR 2008 (% ao ano)

Set 170,2 56,3 33,1 28,9

Cheque especial Crédito pessoal Veículos Consignado

2009

Dez 174,9 60,4 36,5 30,8

Abr 166,3 48,8 29,9 28,7

Mar 169,1 50,8 29,7 28,8

Fev 166,7 54,5 31,8 29,3

VOLUME DE CRÉDITO (média diária de empréstimos, em R$ bilhões)

7,379 6,367 Dez/2008

6,860

Jan/2009

Fev

7,078

7,164

Mar

Abr

Fonte: Banco Central

frem elevação em linha com a evolução da inadimplência. Para os consumidores, os spreads continuam caindo, 1,3 ponto, para 38,5 pontos. No ano, a queda chega a 6,5 pontos. Com juros menores, o volume de operações para pessoas físicas aumentou 1,8% em abril, para R$ 288,7 bilhões. Já no setor produtivo o valor caiu 0,5%, para R$ 386,3 bilhões. O estoque total de crédito cresceu 0,4% e chegou a R$ 1,248 trilhão (42,6% do PIB). Em audiência pública no

Congresso, o presidente do BC, Henrique Meirelles, comentou os resultados. — A inadimplência tem subido, mas tenho obtido dados de que já existe uma inversão de tendência — afirmou, citando renegociações e a retomada de concessões de crédito. ■ COLABOROU Martha Beck

O GLOBO NA INTERNET

a As taxas de juros do país oglobo.com.br/economia

Compra de motos em até quatro anos

Crédito subsidiado do FAT beneficiará trabalhador e empresa de turismo Geralda Doca BRASÍLIA. Os trabalhadores que quiserem comprar ou trocar de motocicleta de até 150 cilindradas poderão obter financiamento com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) nos bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal). Serão destinados a essa modalidade de crédito R$ 100 milhões, com taxas de juros que variam de acordo com o prazo de pagamento do empréstimo: em 24 meses, a taxa será de 6% ao ano, mais a Taxa de Juros de ●

Longo Prazo (TJLP), atualmente em 6,25% ao ano; em 36 meses, o percentual sobe para 12% ao ano; e, em 48 meses, 18% ao ano, mais a TJLP. A linha permitirá o financiamento de 100% do bem, inclusive o seguro. Nesse caso, o principal beneficiado será o trabalhador formal, autônomo e terceirizado. As empresas do segmento de turismo também terão acesso à nova linha de crédito com recursos do FAT no valor de R$ 200 milhões. Foi fixado um teto para a taxa de juros de 9,22%, mais a TJLP.

Poderão se beneficiar agências de viagens, operadoras, pousadas e hotéis cadastrados no Ministério do Turismo. As duas modalidades foram anunciadas na semana passada pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e aprovadas ontem pelo Conselho Deliberativo do FAT (Codefat). Segundo Lupi, os juros cobrados nas duas linhas, que entrarão em vigor em uma semana, poderão cair ainda mais: — Essas são taxas máximas. Isso significa que tentaremos junto aos agentes operadores uma diminuição do valor. ■

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FGV: fim da recessão ainda está longe A contração veio após o mais longo ciclo de expansão dos últimos 30 anos Fábio Rossi / 15-5-2007

Cássia Almeida ● O Brasil entrou em recessão no último trimestre do ano passado, iniciando um período de contração ainda sem prazo para acabar, de acordo com o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), ligado à Fundação Getulio Vargas (FGV), que começou identificar os ciclos econômicos no Brasil, prática comum em países como os Estados Unidos. O primeiro anúncio foi feito ontem. Baseado em metodologia usada em 32 países, o comitê coordenado pelo ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore, encontrou o pico da expansão brasileira no terceiro trimestre do ano passado. Nesse período, o país crescia a um ritmo de 6,8%, desabando no trimestre seguinte, quando a economia do país recuou 3,6%. Os números do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) do primeiro trimestre serão divulgados pelo IBGE em junho. O comitê analisa além do PIB, indicadores de renda, emprego, uso da capacidade da indústria e

AFFONSO PASTORE, ex-presidente do BC, coordena grupo da FGV

produção para fixar o início e o fim das expansões e recessões. Apesar de haver apenas um trimestre de queda no PIB já registrado pelo IBGE, Marcelle Chauvet, relatora do Comitê e pesquisadora da Universidade da Califórnia, afirmou que “se houvesse dúvidas, o comitê não teria decretado o início da recessão no último trimestre”. O resultado do primeiro trimestre de 2009 pelo IBGE só sai em junho. Pelo conceito de contração, o recuo deve estar

espalhado por todas as diferentes atividades e durar no mínimo seis meses. No Brasil, a queda mais brusca aconteceu na indústria, mas os outros setores acabaram acompanhando, segundo os economistas do Comitê, que é formado também pelos economistas Dionísio Carneiro, Marco Bonomo, Paulo Picchetti e Regis Bonelli. Segundo Vagner Ardeo, vicepresidente do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV,

“não há informações suficientes, no momento, de que o país sairá do estado atual”. — Está bem claro que a recessão já dura pelo menos seis meses e não há indicações de que estamos perto de sair dela — afirmou João Victor Issler, professor da Escola de PósGraduação em Economia (EPGE) da FGV que também faz parte do comitê. Recessões no Brasil duraram em média 1 ano e 3 meses Trabalhando desde 2004, o grupo vem analisando o histórico da economia brasileira desde então e datou o terceiro trimestre de 2008 como o fim do mais longo período de expansão do país nos últimos 30 anos — entre o terceiro trimestre de 2003 e o terceiro do ano passado — com um crescimento acumulado de 30%. Na análise dos últimos 30 anos, o país passa pelo oitavo período recessivo. Em média, a economia diminuiu de tamanho durante um ano e três meses. A mais longa aconteceu durante o governo Fernando Collor, quando o Brasil viveu quase três anos em recessão. ■


O GLOBO

ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 27 - Edição: 29/05/2009 - Impresso: 28/05/2009 — 23: 02 h

Sexta-feira, 29 de maio de 2009 • 2ª edição

ECONOMIA

O GLOBO

27

Economia para pagar juros cai à metade em 2009 Com queda de arrecadação por causa da crise, superávit ficou em R$ 33,4 bilhões no primeiro quadrimestre Editoria de Arte

Eduardo Rodrigues

Saiba mais sobre as contas públicas

BRASÍLIA. A queda de 7,11% na arrecadação federal nos primeiros quatro meses do ano reduziu quase à metade o superávit primário (economia do governo, incluindo empresas estatais, estados e municípios, para o pagamento dos juros da dívida) no primeiro quadrimestre, para R$ 33,4 bilhões, ou 3,57% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país), segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC). O resultado foi 45,8% menor que o do mesmo período de 2008, quando a diferença entre receitas e despesas alcançou R$ 61,7 bilhões, equivalentes a 6,89% do PIB. A meta estipulada pelo governo para este ano é de 2,5%.

Parcela da dívida aumentou por causa de queda do dólar Em abril, o resultado fiscal do setor público somou R$ 12,494 bilhões, dos quais R$ 10,862 bilhões se referem ao esforço do governo central e R$ 1,807 bilhão corresponde à economia de estados e de municípios. Já as empresas estatais registraram déficit, de R$ 172 milhões, que deve ser ampliado a partir da exclusão — prevista para maio — da Petrobras desse cál-

NO 1º QUADRIMESTRE

Superávit primário (em R$ bilhões)

61,7

REDUÇÃO DE 45,8%

33,4

EM ABRIL

DÍVIDA LÍQUIDA DO SETOR PÚBLICO Saldo (R$ trilhão)

Superávit primário do setor público

R$ 12,494 bilhões

1,150

Juros pagos

R$ 12,182 bilhões

1,069

3,57% do PIB

6,89% do PIB

Gustavo Paul

1,124

1,091

1,098

Fev/09

Mar/09

Abr/09

37,6

38,4

Mar/09

Abr/09

● BRASÍLIA. Um levantamento da ONG Contas Abertas mostra que 74% dos empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ainda não saíram do papel nos últimos dois anos e apenas 3% foram concluídos. Tendo como base publicações específicas para cada uma das 27 unidades da federação, distribuídas pela Casa Civil em abril, o estudo relaciona 10.914 obras, das quais 9.838 são da áreas de habitação e saneamento. As informações englobam investimentos previstos pela União, por empresas estatais e pela iniciativa privada entre 2007 e 2010 e após 2010. Apenas 319 estavam concluídas até dezembro passado. Segundo o levantamento, apesar de representar 90% do programa, o eixo de infraestrutura social e urbana, que inclui projetos de saneamento, habitação, transporte urbano e recursos hídricos, apresenta um desempenho fraco. Apenas 126 obras foram efetivamente finalizadas até o fim de 2008 (1% do total). Dos empreendimentos previstos no setor, 7.560 (70%) estão em fase de contratação, contratado, licitação ou apenas de ação preparatória (estudo ou licenciamento). Outros 2.152 empreendimentos de infraestrutura social e urbana, ou 22% do total, estão listados como “em andamento”. Segundo o economista Gil Castelo Branco, responsável pelo levantamento, os dados mostram que os velhos problemas das obras públicas brasileiras continuam. O PAC esbarra em legislação ambiental, áreas indígenas, recursos interpostos às licitações e paralisações determinadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Resultado nominal: R$ 313 milhões (após pagamento de juros)

Contribuição por segmento

Dez/07

(Em R$ bilhões)

2008 2009 A meta do governo para 2009 é de 2,5% do PIB

Só um terço das obras do PAC avançou

10,862

União* Estados e municípios

1,807

Dez/08

% do PIB 42 37,1

36

Empresas estatais -0,174 *Inclui governo federal, Banco Central e INSS

Dez/07

Dez/08

Fev/09

FONTE: Banco Central

culo. A retirada da contribuição da estatal ainda depende da aprovação do Congresso Nacional. De acordo com o diretor do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a economia fiscal em abril foi mais do que suficiente para rolar a dívida pública, pois o resultado nominal — já descontado o pagamento de R$ 12,182 bilhões em juros — foi superavitário em R$ 313 milhões.

— As receitas caíram em função da crise financeira internacional, que levou a uma contração da atividade econômica no país. O resultado foi menor do que os registrados nos últimos anos, mas ainda assim foi suficiente para manter a dinâmica da dívida sob controle: estável, com tendência de queda ao longo dos anos — afirmou Lopes. A dívida líquida do setor

público atingiu R$ 1,125 trilhão em abril, equivalente a 38,4% do PIB. A relação dívida/PIB ficou 0,9 ponto percentual maior no mês, sendo 0,8 ponto — correspondente a R$ 23,1 bilhões — resultado da valorização de 5,92% do real em relação ao dólar. — O câmbio é um fator importante, mas é pontual. A longo prazo, a dinâmica da dívida responde por um comportamento fiscal mais eficiente,

que independe do valor do dólar — disse Lopes. Além disso, como 68,5% da dívida estão atrelados à Selic (atualmente em 10,25% ao ano), os cortes sucessivos na taxa básica também devem impactar o endividamento. Segundo Lopes, cada redução de um ponto percentual na taxa de juros corresponde, em 12 meses, a uma economia de 0,28% no endividamento. ■

Mantega: recessão não reflete quadro atual ‘Estamos olhando com retrovisor. O importante é que já estamos em processo de recuperação’ Martha Beck e Cristiane Jungblut BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, minimizou o fato de o país ter fechado o primeiro trimestre em recessão técnica (retração do PIB por dois trimestres consecutivos). Em audiência no Senado, afirmou que isso não reflete o quadro atual da economia, que já está em recuperação e deve fechar o ano com crescimento. Para 2010, previu alta entre 3% e 4%, inferior aos 4,5% projetados na Lei de Diretrizes Orçamentárias: — No último trimestre de 2008 houve queda forte do nível de atividade, e, no primeiro trimestre deste ano, já sabemos que houve crescimento negativo. Mas esse conceito de recessão técnica, me desculpem os economistas, sou um deles, são conceitos que po-

dem ser adotados ou não. Segundo ele, o conceito não diz nada sobre o que está acontecendo na economia agora: — Estamos olhando com retrovisor, e com retrovisor nós tivemos esse período de baixo nível de atividade. O importante é que já estamos em processo de recuperação. Assim como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Mantega disse que o momento atual — com o real se valorizando — é uma oportunidade para o Brasil aumentar reservas, hoje em US$ 205 bilhões. Para o ministro, o dólar está enfraquecido em relação a várias moedas, e o fortalecimento do real mostra a confiança de investidores no Brasil. Mantega considerou “anomalia” os juros ainda muito altos no país. Mas disse que as taxas

Ailton de Freitas

caminham para a normalidade nos próximos dois anos. Sem conseguir aprovar na quarta-feira a medida provisória (MP) 452, que trata do Fundo Soberano e altera o licenciamento ambiental em rodovias, o Ministério da Fazenda analisa alternativas. Segundo o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), o governo editará uma nova MP, mas “com outra roupagem” e “sem pressa” — apesar de a atual MP perder a validade na segundafeira. O discurso é de que a MP já cumpriu seu objetivo: permitir a emissão de títulos da dívida pública para capitalizar o Fundo Soberano. ■ O GLOBO NA INTERNET

mais sobre o fundo a Saiba soberano oglobo.com.br/economia

MINISTRO DIZ que juro alto é “anomalia”, mas caminha para normalidade

Fiesp: indústria encolherá 5% no ano No quadrimestre, queda atinge 14,6%. Segundo CNI, crise afeta 70% dos exportadores Aguinaldo Novo e Geralda Doca SÃO PAULO e BRASÍLIA. No cenário “mais otimista”, o nível de atividade da indústria paulista deve cair 5% em 2009. Será o pior resultado desde 2000, quando a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) começou a calcular o Indicador de Nível de Atividade (INA). A entidade admite que o tombo poderá ser ainda maior: para ficar só nos 5%, o INA terá de crescer 2,4% ao mês, com ajuste sazonal, pelos próximos oito meses. — São níveis de crescimento difíceis de ser atingidos. É uma sequência que nunca se conseguiu na história da indústria — disse o diretor-adjunto do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, Walter Sacca. Em abril, o que se viu foi estagnação nas linhas de produção. Feito o ajuste sazonal, o INA variou só 0,1% sobre março. Mantido esse ritmo, a indústria paulista fecharia 2009 com queda de 11,8%. Sem ajuste sazonal, o INA apresentou recuo de 1,6% em abril frente a março. No ano, a queda acumulada é de 14,6% e nos últimos 12 meses, de 3,6%. A Fiesp acredita que, encerrado o atual ciclo de ajuste de estoques, a indústria poderá retomar parte da produção nos próximos meses.

— Há indícios de que, realmente, o pior da crise já tenha passado para o Brasil. Mas a recuperação da indústria será gradual — afirmou Sacca. Já o Sensor Fiesp, índice que funciona como um antecedente e mede o sentimento dos empresários sobre a atividade industrial, caiu para 51,8 pontos na segunda quinzena de maio — contra 53,2 pontos na primeira metade do mês. O patamar de 50 divide otimismo

de pessimismo. Num sinal de reação do setor, o indicador vem se mantendo acima dessa linha há três quinzenas. Exportadores buscarão novos mercados A queda da demanda internacional, na esteira da crise financeira, afetou sete em cada dez empresas exportadoras brasileiras, segundo pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). De

Férias forçadas no ABC Mercedes dá licença a mil em São Bernardo SÃO PAULO. A Mercedes-Benz concedeu licença remunerada a cerca de mil trabalhadores de sua linha de produção em São Bernardo do Campo (no ABC paulista). Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a montadora afirmou que a medida foi necessária para adequar a produção ao menor volume de vendas para o mercado externo. “A direção do Sindicato informa que não há qualquer previsão de demissões na Mercedes-Benz e que licença remunerada é um dos vários mecanismos de preservação do emprego reconhecidos pelo Sindicato e negociados com as empresas para evitar dispensa de funcionários”, diz nota divulgada pela entidade. A Mercedes-Benz tem cerca de 12 mil trabalhadores na sua unidade de São Bernardo do Campo, onde são produzidos os caminhões, chassis e plataformas para ônibus da Mercedes-Benz. (Aguinaldo Novo) ●

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um universo de 1.307 empresários ouvidos, 84% deles se queixaram da redução nas encomendas ao exterior. Outros 7% atribuíram as dificuldades nos negócios ao encarecimento do crédito para os embarques. Já a desvalorização do real frente ao dólar foi citada por 6% das indústrias. A pesquisa foi realizada entre os dias 1 o- e 27 de abril, envolvendo empresas de pequeno, médio e grande portes. Entre as empresas que tiveram as vendas externas prejudicadas, 60% responderam que pretendem buscar novos mercados para seus produtos, como forma de compensar os efeitos negativos da crise. Nesse mesmo universo, 51% disseram que pretendem reduzir custos e promover ganhos de competitividade. O restante indicou que vai exportar novos produtos e investir em qualidade, além de reduzir preços. Segundo o levantamento da CNI, na avaliação dos exportadores brasileiros o mercado externo será menos importante neste ano em termos de faturamento bruto. Para 17% deles, a participação das exportações no faturamento da empresa cairá acentuadamente. Outros 31% disseram que haverá queda nas receitas, e 34% acreditam que o faturamento será mantido. ■

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Bovespa sobe 2,41% e retorna a 53 mil pontos No ano, alta já é de 41,25%. Petróleo acima de US$ 65 impulsiona papéis de ‘commodities’ Juliana Rangel* RIO e NOVA YORK. O sentimento dos investidores de que o pior da crise já passou levou ontem à volta do apetite por risco em busca de ganhos. As commodities tiveram forte alta no mercado internacional, o que impulsionou as cotações das empresas mais negociadas da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O Ibovespa, principal indicador da Bolsa, subiu 2,41%, passando dos 53 mil pontos, e já tem ganhos de 41,25% no ano. O dólar caiu 0,30%, a R$ 2,009. Para Daniella Marques, da Mercatto Gestão, os investidores estão reposicionando seus recursos: — Os dados econômicos estão mostrando acomodação, o término da piora. E o mercado começa a antecipar uma efetiva melhora lá na frente e passa a tomar mais risco — explica Pela manhã, o Departamento de Comércio americano divulgou que as vendas de casas novas cresceram 0,3% em abril, na base anualizada, para 352 mil unidades. A expectativa era que subissem para 360 mil. — Juntando esse dado às vendas de imóveis usados, que saiu no dia anterior (alta de ●

2,9% em abril), já dá para acreditar que o segmento imobiliário americano pode, quem sabe, estar começando a se estabilizar — disse Álvaro Bandeira, da Ágora Corretora. No mercado de commodities, o preço do barril de petróleo leve americano saltou 3%, fechando a US$ 65,36. A alta foi motivada pela decisão da Opep de manter sem alterações sua produção. A forte queda dos estoques americanos de petróleo foi outra influência. Em Londres, o Brent subiu 3,4%, a US$ 64,63. O índice Dow Jones, da Bolsa de Valores de Nova York, fechou em alta de 1,2%, enquanto o S&P ganhou 1,5%. O Nasdaq teve ganhos de 1,2%. No mercado de câmbio brasileiro, o Banco Central (BC) voltou a comprar moeda, mas não impediu a queda. — Existem US$ 3,4 bilhões em swaps cambiais reversos (operação em que o BC comprou dólar no mercado futuro em troca de juros) que vencem agora. Os bancos que venderam vão pressionar a cotação para baixo — diz Sidnei Nehme, da NGO Corretora. ■ (*) Com agências internacionais


O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 27 - Edição: 30/05/2009 - Impresso: 29/05/2009 — 22: 08 h

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Sábado, 30 de maio de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

ONDA VERDE

Ninguém segura esse dólar

Moeda fecha a R$ 1,97, pela 1 a- vez abaixo de R$ 2 desde outubro. Queda no ano é de 15% Felipe Frisch e Eduardo Rodrigues

E

RIO e BRASÍLIA

o dólar comercial, enfim, ficou abaixo de R$ 2. A moeda americana encerrou os negócios ontem a R$ 1,97, com perda de 1,94%, uma desvalorização forte até para os últimos dias, depois de chegar a bater R$ 1,967 durante a tarde. Assim, a divisa completou um ciclo de seis dias consecutivos de queda, que, acumulada, é de 3,29% desde o dia 22. Um dos motivos para a queda recente do dólar é a entrada de dólares no país, para investimento em ações e em operações atreladas à taxa básica de juros, a Selic, hoje em 10,25% ao ano, como os títulos públicos. Somente em maio, até o dia 26, o saldo (compras menos vendas) de investimentos estrangeiros na na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) está positivo em R$ 5,059 bilhões. No ano, a conta já chega a R$ 10,176 bilhões. No ano, o dólar já acumula perda de 15,59%, mas a perda foi bastante concentrada em maio, quando a moeda caiu 9,67%, tendo saído de R$ 2,181. No fim do ano, ainda era cotada a R$ 2,334. A cotação de ontem é a mais baixa desde o início de outubro, que deve ser mais difícil de ser alcançada: R$ 1,925. No turismo, a moeda foi vendida ontem no Banco do Brasil a R$ 2,04. No Bradesco, a R$ 2,09. Mas o movimento de desvalorização da moeda americana não é uma exclusividade brasileira. A divisa está caindo no mundo todo. Contra o dólar canadense, por exemplo, o dólar americano já caiu 10,20%. Em relação à libra inglesa, a perda é de 9,77%. Na comparação com o franco suíço, o dólar ainda se valoriza no ano. No entanto, a divisa americana já caiu 10,54% em relação à moeda suíça desde março. E é frente ao real que o dólar mais perde valor entre as principais moedas do mundo. — Não há um motivo só para a queda do dólar. Mas são muitas explicações possíveis, entre elas o ingresso maior de recursos — diz Mario Battistel, gerente de câmbio da Fair, lembrando ainda que ontem, último dia útil do mês, era data de formação da Ptax, taxa fixada pelo Banco Central (BC), que baliza os contratos de câmbio negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), motivo para a queda mais acentuada no dia. Nessas operações, há investidores que apostam na alta da moeda americana e os que apostam na baixa. Os estrangeiros estão na ponta da venda, ou seja, apostavam na queda do dólar.

Editoria de Arte

Outro evento no mercado futuro que tem pressionado a queda da divisa é o vencimento, na segunda-feira, dos chamados swaps reversos, operações em que o Banco Central (BC) acerta a compra do dólar a uma cotação, no caso em torno de R$ 2,14, e paga juros aos bancos que aderiram à operação. Estas instituições estariam forçando a queda do dólar, para ganhar a diferença entre a cotação que o o BC pagará e a do mercado.

A moeda no mundo

aç no ano frente às seguintes moedas: Variação

a A cotação dólar nos últimos 3 meses oglobo.com.br/economia

Euro

-1,13%

Dólar canadense ca

-10,20%

Franco suíço +0,72%

Libra (Reino (R Unido) -9,77%

Ie Iene (Japão) +4,95%

-3,61%

Em queda de 10,54% desde março

Enxurrada de dólares no país

Na Bolsa de Valores de São Paulo

Saldo (compras menos vendas) de investidores estrangeiros

R$ 3,778 bilhões

NO ANO R$ 10,176 bilhões

-R$ 646 milhões

O GLOBO NA INTERNET

-15,59%

Peso mexicano

Juros altos atraem investidores Apesar do esforço do BC, que vem comprando diariamente dólares para tentar suavizar a desvalorização, especialistas observam que o poder da autoridade monetária é pequeno diante do tamanho do capital internacional. O Banco Central adquiriu no mercado à vista US$ 2,408 bilhões este mês até o dia 22, mas não conseguiu conter a queda livre. Segundo o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o capital externo, diante da frustração com a economia americana — antes considerada inabalável — encontra no Brasil um local estável para ser alocado. — A desvalorização do dólar ocorre do mundo porque os investidores têm migrado para outros países. Como a mobilidade do capital hoje em dia é alta, quando o agentes se decepcionam, a reação é rápida. Mas, para reconquistar a confiança, é um processo bem mais lento e difícil — diz. O professor de derivativos e risco do Insper (ex-Ibmec-SP), Alexandre Chaia, aponta a recuperação dos preços da commodities (matérias-primas negociadas em bolsas mundiais) como outro fator que derruba o valor da moeda americana, por meio de um mecanismo natural de equilíbrio das contas globais: — A variação em relação ao real acaba potencializada pela atratividade do nosso mercado financeiro, em grande parte devido aos altos juros que ainda são aqui praticados. ■

Real

R$ 544 milhões

JAN/2009

R$ 5,059 bilhões

R$ 1,441 bilhão

FEV

MAR

ABR

MAI (até dia 26)

Saldo da conta financeira

Inclui as aplicações estrangeiras em títulos, em ações e até os investimentos diretos MAR

JAN/2009

R$ 361 milhões

FEV

R$ 481 milhões

R$ 2,680 bilhões

ABR

R$ 1,880 bilhão

JAN/ABR 2009

R$ 5,2 bilhões

JAN/ABR 2008

R$ 30,4 bilhões

FONTE: Bovespa, B Bl mb Banco B C tral e CMA Bloomberg, Central

Bolsa subiu 12,49% em maio Natura estuda nova oferta de ações

ONTEM

R$ 1,97

RIO e NOVA YORK. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve ontem quase três pregões em um: pela manhã, o Índice Bovespa (Ibovespa) subiu 1,44% e se aproximou dos 54 mil pontos. Segundo o economistachefe da Ágora, Álvaro Bandeira, o humor azedou com a divulgação do índice gerente de compras de Chicago, pior do que o esperado, e a Bolsa passou a tarde em queda. Só nos últimos minutos, acompanhou a melhora da Bolsa americana, com a divulgação do índice de confiança do consumidor de Michigan, melhor do que o esperado. E o Ibovespa encerrou o dia em alta de 0,30%, aos 53.197 pontos. É a maior pontuação do indicador desde 3 de setembro, anulando de vez as perdas obtidas desde o agravamento da crise, no meio de setembro. E garantiu à Bolsa ter uma alta de 12,49% no mês. Pela manhã, a Natura informou que seus controladores contrataram assessores financeiros para estudar uma eventual nova oferta pública de ações. A empresa abriu capital em 2004 e, desde então, suas ações quase quadruplicaram de valor: sobem 341%. Em Wall Street, as ações dos principais índices também se recuperaram no fim do pregão, após flutuarem a maior parte do dia. O Dow Jones avançou 1,2%, para 8.500 pontos. O Standard & Poor’s 500 subiu, por sua vez, 1,4%, para 919 e o Nasdaq, 1,3%, para 1.774. (Felipe Frisch, com agências internacionais) ●

(-1,94%)

Variação da moeda americana Em maio

-9,67% No ano

Desde 4 de dezembro de 2008 (pico da moeda, a R$ 2,536), o dólar acumula

-15,59% queda de 22,32%

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ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 25 - Edição: 5/06/2009 - Impresso: 4/06/2009 — 22: 11 h

25

Sexta-feira, 5 de junho de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

NA CONTRAMAO DA CRISE

A ponta do ‘iceberg’

Investimento estrangeiro direto, que somou US$ 4,6 bi até abril, é sinal da recuperação produtiva do país Editoria de Arte

Eduardo Rodrigues

O DESEMPENHO DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO

A

JAN/2008

US$ 4,826 bilhões ABR

US$ 3,872 bilhões JUL

US$ 3,266 bilhões OUT

US$ 3,913 bilhões NOV

US$ 2,174 bilhões DEZ

BRASÍLIA e SÃO PAULO

enxurrada de investimentos estrangeiros diretos (IED) em maio está por trás não só da desvalorização do dólar. Ela se apresenta como a ponta do iceberg da recuperação que se desenha no país após a recessão técnica provocada pela crise global. Motor da desaceleração desde novembro, a indústria encerrou o primeiro quadrimestre recebendo US$ 4,653 bilhões do exterior, valor equivalente aos US$ 4,886 bilhões de igual período de 2008, quando a economia estava em ritmo acelerado. Seis atividades lideram a retomada: veículos; farmacêuticos; informática, eletrônicos e ópticos; máquinas e materiais elétricos; produtos diversos; e edição/edição integrada à impressão. Somados, atraíram US$ 2,476 bilhões (53,2%). Os dados são do Banco Central, que acompanha 22 segmentos industriais. Além do sexteto que apresentou crescimento expressivo, outros quatro segmentos — produtos de fumo; reparação e manutenção de equipamentos de informática; bebidas; e outras indústrias — mantiveram o mesmo nível de investimentos de 2008. O destaque ficou por conta da produção de veículos, que na contramão do que acontece no resto do mundo, viu os ingressos de IED saltarem de US$ 607 milhões de janeiro a abril de 2008 para US$ 1,955 bilhão. O movimento é parte do novo ciclo de investimentos no setor. Segundo o presidente da associação do setor (Anfavea), Jackson Schneider, as montadoras, be-

US$ 8,117 bilhões JAN/2009

US$ 1,930 bilhão FEV

US$ 1,968 bilhão MAR

ABR

US$ 3,409 bilhões US$ 2,750 bilhões

Eliane Oliveira e Martha Beck

*segundo adiantou o presidente do BC, Henrique Meirelles, na quarta-feira

2008

US$ 45,060 bi 2007

US$ 34,585 bi 2009

US$ 18,146 bi

US$ 16,590 bi

US$ 25 bi

2006

(projeção)

US$ 18,822 bi 2003

US$ 10,144 bi

2005

US$ 15,066 bi

Os setores industriais no primeiro quadrimestre

(em US$)

JANEIRO A ABRIL/2008 INDÚSTRIA 4,886 bilhões Onde os investimentos mais subiram Veículos automotores 607 milhões Produtos farmacêuticos 73 milhões Produtos de informática e eletrônicos 21 milhões Onde os investimentos mais caíram Metalurgia 2,241 bilhões Produtos químicos 404 milhões Borracha e material plástico 246 milhões

BRASÍLIA e RIO. O mês de abril marcou, para o setor industrial brasileiro, um período de transição entre a fase aguda da crise internacional e a retomada da expansão da produção. Enquanto indicadores como faturamento, emprego e horas trabalhadas caíram em relação a março, houve aumento do uso da capacidade instalada em vários setores — incluindo o automotivo —, informou ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a pesquisa mensal da entidade, na comparação com março, o faturamento industrial recuou 1,9%, as horas trabalhadas diminuíram 0,1% e o emprego caiu 1,1%, a sexta queda consecutiva e o pior resultado desde o início da série histórica, em 2003. Mas os economistas da CNI apostam numa retomada mais firme da atividade no segundo semestre de 2009. “O resultado de abril sugere que a indústria passa por um processo de transição entre a abrupta queda registrada no quarto trimestre de 2008 e uma recuperação que ainda não está delineada”, diz o boletim da CNI. Na contramão das demais variáveis, o indicador dessazonalizado de utilização da capacidade instalada re●

2004

JANEIRO A ABRIL/2009 4,653 bilhões 1,955 bilhão 366 milhões 61 milhões 1,663 bilhão 6 milhões 41 milhões

TOTAL DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO ATÉ ABRIL 2008

● Na área farmacêutica, os recursos subiram de US$ 73 milhões entre janeiro e abril de 2008 para US$ 366 milhões. Segundo a federação da indústria (Febrafarma), os investimentos, postergados no fim de 2008, foram retomados. A Novartis, por exemplo, está investindo US$ 200 milhões para erguer uma fábrica em Pernambuco. — As economias avançadas vão mostrar, mesmo superada a crise, período longo de semi-estagnação e crescimento muito baixo do consumo das famílias. Já alguns países, como o Brasil, serão atrativos como mercado de consumo — disse o gerente-executivo de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. Por isso mesmo, diz, mesmo a retração nos ingressos não pode ser lida só com pessimismo. A queda no setor de metalurgia (de US$ 2,241 bilhões para US$ 1,663 bilhão), avaliou, ocorreu pela retração do mercado externo, não pela demanda doméstica. No setor químico, os investimentos também despencaram, para só US$ 6 milhões. Mas o presidente da associação setorial (Abiquim), Nelson Reis, garante: — Poucos desistiram de investir, os cronogramas foram reajustados. — A perspectiva era que o Brasil

COLABORARAM Eliane Oliveira, Lino Rodrigues e Martha Beck

Usiminas não demitirá no prazo de 30 dias

Uso da capacidade instalada subiu para 79,2% no mês. Mas faturamento e emprego no setor caíram

MAI*

2002

Especialista: ‘Não houve desistência’

voltaria a crescer tão logo a crise fosse superada. Por isso, as empresas não desistiram de investir — corroborou o professor da Unicamp Júlio Gomes de Almeida, para o qual o IED deve ser privilegiado pela política econômica por ser “aliado do crescimento”. O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, destacou que a entrada de investimento tende a se espalhar. E lembra que a atração de capital também se dá por compra de ações: — Várias empresas de construção civil, por exemplo, estão voltando a fazer IPOs (abertura de capital na Bolsa). Isso mostra a confiança no Brasil. Se alguma empresa do mercado americano for fazer a mesma coisa, no entanto, vai ter dificuldades. O presidente da Câmara Brasileira da Industria da Construção (Cbic), Paulo Safady, confirma: a queda de IED na construção de edifícios (de US$ 415 milhões para US$ 256 milhões) aconteceu só no ajuste de estoques, que está no fim. Segundo ele, os financiamentos imobiliários cresceram 10% desde janeiro e as construtoras já estão retomando investimentos, de olho no programa Minha Casa Minha Vida. Mas o setor de serviços, onde está a construção, demonstra fôlego fraco, com queda de 44,1% nos ingressos. Os investimentos em serviços financeiros, por exemplo, caíram de US$ 1,7 bilhão para US$ 206 milhões. — Com a crise, os bancos foram os mais afetados. Mas a retomada pode ser antecipada no Brasil devido à posição sólida dos nossos bancos — afirmou o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardemberg.

CNI: abril pode marcar início da retomada da indústria

US$ 1,444 bilhão

Nos últimos anos

neficiadas desde o fim de 2008 com redução do IPI, devem aplicar US$ 20 bilhões de 2008 a 2010: — Isso mostra que as empresas estão fazendo os investimentos previstos e se preparando para uma produção maior de veículos.

US$ 11,748 2009 bilhões US$ 8,75 8,756 bilhões

A Usiminas fechou ontem um acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga (Sindipa) pelo qual a siderúrgica se compromete a não efetuar novas demissões na unidade de Ipatinga, Minas Gerais, no prazo de 30 dias a partir de amanhã. Logo após o fim do Programa de Desligamento Voluntário (PDV) de 4 a 22 de maio último, a empresa demitiu 810 empregados nas suas duas unidades (Ipatinga e Cubatão em São Paulo). No PDV aderiram apenas 516 empregados ao todo nas duas unidades, número considerado aquém do desejado pela companhia. O presidente do Sindipa, Luiz Carlos Miranda, destacou em contrapartida que o sindicato desistiu do recurso judicial protocolado no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) para suspender as demissões e revisar as 810 dispensas. Segundo Miranda, o acordo foi bom para os trabalhadores. — Foi um acordo importante no curto prazo, na esperança de a situação econômica melhorar — disse Miranda. ●

gistrou em abril crescimento de 0,4 ponto percentual em relação ao mês anterior, para 79,2%. É a terceira alta seguida. Um dos destaques foi o setor automotivo, beneficiado com redução do IPI e ampliação do crédito. No primeiro quadrimestre, as vendas industriais caíram 8,4%, o mais elevado patamar já registrado. Nos quesitos emprego e horas trabalhadas, as quedas foram de 2% e 0,8%. IBGE: atividade industrial cresce em 7 de 14 regiões O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que a produção industrial está se recuperando. Citando dados do IBGE, ele afirmou que, embora tenha sido registrada queda de 3,9% nos últimos 12 meses, os indicadores vêm melhorando. — Os resultados deste quadrimestre, comparados com os do ano passado, são muito menores, mas pelo quarto mês consecutivo a indústria apresenta recuperação. Ontem, o IBGE informou que a atividade industrial cresceu em sete das 14 regiões pesquisadas em abril. O Espírito Santo teve a maior expansão (7,1%) na comparação com março. No Estado do Rio, houve retração de 0,5%, abaixo da média nacional, de 1,1%. ■

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O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 31 - Edição: 6/06/2009 - Impresso: 5/06/2009 — 22: h

31

Sábado, 6 de junho de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

Bancos disputam mutuários

Caixa reduz juros do crédito imobiliário, a exemplo de Banco do Brasil, Bradesco e HSBC Geralda Doca e Eduardo Rodrigues

N

BRASÍLIA

QUANTO CUSTA FINANCIAR A CASA PRÓPRIA

Editoria de Arte

Bradesco compra instituição por R$ 1,4 bilhão

CONDIÇÕES PARA OS EXEMPLOS ABAIXO um movimento iniciado peSistema Financeiro da Habitação (SFH) las instituições privadas e já aç SAC Sistema de amortização seguido pelo Banco do Brasil do proponente 35 Idade anos (BB), a Caixa Econômica Federal anunciou ontem a redução dos Às taxas efetivas de juros são acrescidos a variação da Taxa Referencial (TR) e outros custos, como seguros e taxas administrativas. ad Por isso, em m juros cobrados no crédito imobiliário enor pode não resultar na prestação mais baixa. b alguns casos, o juro menor O para novos contratos. No Sistema FiBanco do Brasil fez simulações mulações usando sua menor taxa, de 8,4% ao ano ano,, nanceiro da Habitação (SFH), limitado válida para funcionários os de empresas e órgãos públicos que têm convênios os a imóveis de até R$ 500 mil, o juro com a instituição. Para ra clientes tes individuais, os juros vão de 8,9% a 13% 3% cobrado pela Caixa cairá um ponto anuais dependendo do anuais, d valor financiado e da forma de reajuste percentual, saindo de 11,5% ao ano mais Taxa Referencial (TR) para 10,5%, S 240 MESE M E a mais alta, e de 9,4% para 8,9% ao ano, IL M 0 0 R$ 2 a mais baixa. Acima desIMÓVEL DE ta faixa de preço, a HSBC* queda será de 0,5 AÚ TO IT O NANCIAMEN R DO FIIN BRADESC NCO* LO ponto, de 12% paA VA IB O N D U 0 O 00 C 00 0.0 0. 60 BAN IVA (ao ano) R$ 16 0 00 00 0.0 0. ra 11,5% ao ano. CAIXA JUROS EFET 60 1 16 E $ D R XA BRASIL TA 0 00 0 00 11% R$ 160..0 0 00 Quem é clien00 0 0..0 80 11,50% R$ 18 0 0% 00 ,9 0. 10 18 $ R te da Caixa ou 8,40% 10,5% autoriza o desconto da prestação diretamente no contraPARCELA cheque tem direito a MENSAL redução adicional de R$ 2.138,77 0,5 ponto percentual, ,12 7 9 .1 2 $ R 0 5 . 33,5 R$ 2.1 cumulativo. A nova tabela vale a ES 1 6 ,6 6 6 MES 3 . .3 8 2 ,0 $ R partir de segunda-feira. As taxas 0 4 ENTO R$ 2.242 2 CIAM M N * E A C o) N não representam o custo total L O FI HSB ao an 0 MI 0 LOR D EFETIVA ( A 3 V dos empréstimos. Este, além dos juS 00 E R$ ITAÚ CO* JURO ros, inclui seguro e taxa de admi240.0 A DE N EL D X $ A A R V O T B C I Ó ES UN IM nistração, por exemplo. .000 11% BRAD $ 240 R O D Com a decisão, a Caixa, principal O % 0 C 0 0 5 N 0 , 0. 11 BA ASIL agente financeiro imobiliário, se aliR$ 24 BR % 0 0 IXA 0 9 A , 0 . 0 C 0 1 nhou ao BB, que na última quarta-feira R$ 27 0 0% anunciou um pacote de medidas para 0 4 , 0 . 8 0 R$ 27 o financiamento da casa própria, com 10,5% ses ampliação de prazos e limites. As 0 me ,99 m 36 0 e 0 es o 2 . t ç instituições federais mantêm agora as itui õ men R$ 3 : Instanceiras ancia S n i E f T a N n taxas mais baixas entre os grandes fi 18 FO oper ELA .283, *Não PARC AL bancos, com vantagem para a Caixa. 4 R$ 3 7 , 7 S 8 N

ME

Quem puder deve esperar, diz analista ● Nos financiamentos de valor mais baixo, para imóveis até R$ 150 mil, BB e Caixa cobram 8,9% ao ano. O crédito com o BB a partir de convênio cai para 8,4%. A partir daí, a Caixa leva vantagem, pois o Banco do Brasil reduziu a taxa cobrada entre R$ 150 mil e R$ 500 mil de 12% para 11% ao ano. Acima de R$ 500 mil, o BB cobrava 15,08% e agora, 13%. Na próxima terça-feira, antes mesmo da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa básica, a Selic (que sai na quarta-feira), a Caixa anunciará novo corte em seus juros. Desta vez, disse seu vice-presidente de Finanças, Márcio Percival, o foco será nas pessoas físicas. Os bancos privados, porém, foram os primeiros a embarcar na recu-

1 350,6 R$ 3.

3 476,4 R$ 3.

● O Bradesco anunciou ontem a compra do banco ibi, da rede de varejo C&A, por R$ 1,4 bilhão a ser pago em ações, aquisição com a qual quase dobra sua base de cartões de crédito, que passa de 35,5 milhões para 65,9 milhões. O acordo firmado na quinta-feira à noite inclui também uma parceria para a venda exclusiva de seus produtos financeiros nas 303 lojas da rede por 20 anos. Com a aquisição, os acionistas do ibi passam a deter cerca de 1,8% do capital do Bradesco. No fim do ano passado, o banco vendido tinha patrimônio líquido de R$ 928 milhões, com ativos totais de R$ 5,6 bilhões. O total de faturamento do seu segmento de cartões foi de R$ 9,9 bilhões e o do Bradesco, de R$ 46,6 milhões. Esta nova aquisição ocorre depois da fusão entre o Itaú e o Unibanco, em novembro, tirando a liderança do Bradesco entre os bancos privados brasileiros, e é a primeira na gestão do presidente Luiz Carlos Trabuco, que assumiu o cargo em março. Está também entre as aquisições da instituição de maior valor nos últimos tempos. O banco comprou a corretora Ágora em 2008 e o banco BMC em 2007, cada um por R$ 800 milhões. (Lucianne Carneiro e Vivian Nunes)

1 R$ 3.

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peração da construção civil, promovendo mudanças em suas carteiras de crédito imobiliário. O Bradesco anunciou no fim de maio a ampliação do prazo dos financiamentos de 25 para 30 anos pelo SFH. Além disso, reduziu de 10% para 8,9% os juros anuais nos contratos para compra de imóveis até R$ 120 mil, e baixou de 11% para 10,9% (mais a variação da TR) as taxas para as residências até R$ 500 mil. No dia 1º deste mês, o HSBC cortou em 1 ponto percentual a taxa de juros para imóveis entre R$ 150 mil e R$ 500 mil, passando de 12% ao ano para 11%. Para não perder o bonde, uma equipe de executivos e técnicos do Santander — o primeiro banco privado a financiar imóveis em até 360 meses no Brasil —

passou a tarde de ontem reunida estudando medidas que devem ser anunciadas na próxima semana. Procurado, o recém-fundido Itaú Unibanco não se manifestou sobre o assunto. O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos em Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, disse, que, na prática, os bancos estão voltando a conceder empréstimos habitacionais nas mesmas condições existentes antes do agravamento da crise internacional, em setembro de 2008. Ele afirmou que as linhas estão mais favoráveis aos mutuários e deverão melhorar ainda mais, nos próximos dois ou três meses, com a queda da Selic e a retomada do ritmo da atividade econômica. — Por isso, quem puder, espere um

pouco mais — disse Oliveira, acrescentando que, como esses financiamentos são de longo prazo e de valores elevados, qualquer ponto percentual significará grande economia. Empresários da construção confirmam que, passada a dificuldade inicial de acesso ao crédito por causa da crise, o que prejudicou os lançamentos, o setor da construção civil vem comemorando bons resultados a cada mês. Rogério Chor, dono da construtora CHL no Rio, contou que lançou há uma semana no Grajaú um empreendimento com 80 apartamentos, entre R$ 240 mil e R$ 250 mil e já vendeu 60%. — Se você considerar que não é um apartamento da Zona Sul, está muito bom — comemorou o empresário.

Segundo a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), em maio foram lançados 260 empreendimentos no Rio, número semelhante ao registrado no mesmo período do ano passado. De acordo com dados do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi), em março foram comercializados no estado 2.162 imóveis, contra 1.556 em fevereiro e 1.113, em janeiro. O número de lançamentos subiu de 1.211 em fevereiro para 1.561 unidades em março. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) informou que o número de unidades financiadas atingiu 78.552 no primeiro quadrimestre deste ano, somando a 304.345, nos últimos 12 meses, recorde histórico. ■


O GLOBO

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O PAÍS

PRETO/BRANCO

PÁGINA 4 - Edição: 8/06/2009 - Impresso: 7/06/2009 — 22: 10 h

O PAÍS

Segunda-feira, 8 de junho de 2009

O GLOBO

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Base aliada defende cargos para afilhados Especialista condena ‘aparelhamento do Estado’, e oposição acusa PT de inchar máquina com seus protegidos Givaldo Barbosa/26-02-2008

Ailton de Freitas/28-04-2008

Eduardo Rodrigues BRASÍLIA. Apesar das críticas de especialistas e da oposição, o aumento expressivo do número de cargos de confiança ocupados por profissionais sem vínculo com o serviço público, nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é considerado normal pela base do governo no Congresso. A despeito da visão de que a máquina pública esteja sendo inchada por apadrinhados para barganhar apoio parlamentar e reforçar o poder do PT, governistas alegam que o preenchimento dos cargos por pessoas indicadas — muitas vezes filiadas a esses partidos — é uma prerrogativa do governo eleito. Reportagem do GLOBO mostrou que a quantidade de vagas de Direção e Assessoramento Superior (DAS) preenchidas por não concursados cresceu 27,3% na atual gestão, chegando a 5.411 funcionários, enquanto a ampliação total desses cargos foi de apenas 10,6%. Segundo o Ministério do Planejamento, o aumento foi maior nos postos mais altos, que pagam mais. — O aparelhamento ostensivo do Estado é lamentável. Os

RODRIGO MAIA: “A máquina incha para o PT encaixar seus afilhados”

números revelam o resultado da estratégia do governo de fazer do serviço público uma carta de troca para ter a maioria no Congresso — avalia o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Otaciano Nogueira. Para o especialista, a contratação por competição, como o próprio nome define, recruta os profissionais que têm maior competência, e não aqueles com mais influência entre os que ocupam cargos superiores.

— O aumento no número de servidores acompanha o crescimento do número de ministérios durante a gestão do presidente Lula. Isso até justificaria a ampliação de vagas, desde que fossem ocupadas por concursados — afirma Nogueira. Um projeto de lei enviado pelo governo que cria as Funções Comissionadas do Poder Executivo — as quais exigem concurso — tramita desde 2008 na Câmara, mas segue emperrado

HENRIQUE ALVES: “A oposição também contrata quando é governo”

nas comissões da Casa. Segundo o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), os congressistas deveriam concentrar esforços para aprovar projetos que priorizem os servidores públicos, limitando os postos de livre escolha. — Estamos vendo a máquina inchar não para cumprir seu papel administrativo, mas para o PT encaixar seus afilhados sob a desculpa de fortalecer o Estado — protesta Maia.

O parlamentar defende que esses cargos representem uma fatia mínima do funcionalismo, o que facilitaria até mesmo a transição entre governos sem que a estrutura pública precisasse ser totalmente reconfigurada. Mas, de acordo com o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), os cargos de confiança não necessariamente devem ser ocupados por funcionários públicos de carrei-

Atendimento psiquiátrico em xeque

ra, pois muitas vezes pessoas com reconhecida atuação na iniciativa privada são contratadas para chefiarem projetos em áreas específicas. — Quem governa tenta recrutar os melhores quadros para compor a equipe. É natural que a oposição reclame, mas há também uma dose de preconceito, porque eles também vão contratar assim quando estiverem no governo — rebate Alves. Já o deputado Cândido Vacarezza (PT-SP) defende que a ocupação dos cargos por pessoas não concursadas dá agilidade à máquina pública, por permitir que sejam substituídas com rapidez. Ele diz que o aumento das vagas no governo Lula foi necessário porque a estrutura administrativa foi desmantelada nas gestões passadas. — A oposição queria que a gente vencesse as eleições e contratasse pessoas contra nossos projetos, como o Bolsa Família, para operá-los? Quem escolheu o PT foi a maioria do povo. ■ O GLOBO EM SMS

Receba as principais notícias de política no seu celular. Envie OGLPOL para 88435 (R$ 0,10 por notícia. Até 3 por dia) Efrém Ribeiro/29.05.2009

Justiça ordena que prefeitura de São Paulo aumente rede de saúde mental Com a decisão, a prefeitura de São Paulo tem um prazo de três meses após a citação para instalar 12 Caps, sendo pelo menos um do tipo III (com leitos e funcionamento dia e noite); um ano para implantar mais 23 Caps, incluindo pelo menos dois do tipo III; e dois anos para implantar 22 Caps, com pelo menos dois do tipo III. A decisão é do último dia 7 de maio, mas só sexta-feira o MPF pediu esclarecimentos sobre a medida e divulgou a decisão. Em relação às moradias terapêuticas, o município deve implantar em três meses nove unidades; em um ano, 14; e, por fim, em dois anos, mais 14. O Estado de São Paulo e a União Federal também são réus na ação, por serem responsáveis pela implementação do modelo de atenção à

Soraya Aggege SÃO PAULO. A Justiça Federal determinou que a prefeitura de São Paulo, junto com os governos estadual e federal, comece a ampliar em três meses a rede de atendimento para doenças psiquiátricas na cidade. O juiz José Carlos Motta, da 19 a- Vara Federal Cível de São Paulo, aceitou denúncia do Ministério Público Federal (MPF), que no ano passado apontou precariedades na rede de saúde mental do município. Pela decisão do juiz, terão que ser implantados 57 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), incluindo vagas para internações, e 37 Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), para abrigar doentes mentais que não têm mais necessidade de permanecer em hospitais.

saúde mental previsto na Lei 10.216/01 e pelo processo de implantação e cadastramento de Caps e SRT. A União, inclusive, libera os incentivos financeiros para a implementação desses serviços. Procuradora: houve várias tentativas de acordo As procuradoras da República Adriana da Silva Fernandes e Sônia Maria Curvello, autoras da ação, querem ainda que as equipes multidisciplinares de saúde mental acompanhem os processos de saída dos hospitais e pedem a inserção dos moradores nos serviços extra-hospitalares. — Antes da decisão do juiz, nós tentamos vários acordos e a prefeitura chegou até a reconhecer as deficiências. Esperamos que, em vez de recorrer

na Justiça, a prefeitura cumpra a decisão, e o caso sirva de estímulo para que a lei seja cumprida em todo o país — disse Adriana. A Secretaria municipal da Saúde, no entanto, informou que não foi oficialmente comunicada sobre a decisão tomada pela Justiça Federal. A assessoria de imprensa não soube informar se a prefeitura recorrerá da decisão. “De qualquer forma, cabe salientar que a atual gestão foi responsável pela maior ampliação já registrada nos serviços de saúde mental do município de São Paulo. Na segunda-feira (hoje), inclusive, será inaugurado o 55 o- Caps da cidade. Em 2004, existia apenas uma Residência Terapêutica e hoje já são 20 em funcionamento”, diz a secretaria, em nota. ■

CASAS destruídas pelo rompimento da barragem: 800 famílias afetadas

Piauí: prejuízo de vítimas chega a R$ 37 milhões Inundação provocada por rompimento de barragem exigirá reconstrução de 350 casas Efrém Ribeiro*

LOTERIAS MEGA-SENA: Ninguém acer tou as dezenas do concurso 1.080, que foram 11, 18, 20 , 34, 41 e 56. O próximo prêmio está estimado em R$ 16 milhões. A quina pagará R$ 24.305,19 a 59 acertadores, e a quadra, R$ 493,39 a 4.152 apostadores.

QUINA: Três apostadores (dois de SP e um do DF) acertaram as dezenas do concurso 2.062 (09, 10, 22, 34 e 72). Cada um receberá

R$ 1.780.349,13. A quadra dará R$ 3.753,93 a 261 acertadores, e o terno pagará R$ 105,94 a 17.615 apostadores.

LOTOMANIA: Não houve acertadores na faixa de 20 acertos (nem da de zero acerto) no concurso 938. As dezenas sorteadas foram 04, 05, 09, 11, 12, 33, 35, 36, 38, 51, 55, 56, 58, 69, 76 , 87, 94, 95, 96 e 98. A estimativa do próximo prêmio é de R$ 1,6 milhão.

•O leitor deve checar os resultados também em agências oficiais e no site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados.

UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR GABINETE DO REITOR

EDITAL DE SELEÇÃO ADMISSÃO DE PROFESSORES O REITOR DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR – UCSal, no uso de suas atribuições, torna público que se encontram abertas as inscrições para admissão de professores – pesquisadores para atuar na cidade de Salvador, Estado da Bahia, nos Cursos de Mestrado a seguir indicados, bem como no ensino de Graduação: a) Mestrado em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social e Mestrado em Planejamento Ambiental (05 vagas); b) Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania (02 vagas); e c) Mestrado em Família na Sociedade Contemporânea (01 vaga). I. As inscrições serão realizadas nos períodos de 04/06/09 a 04/07/09, mediante o envio de Currículo Lattes atualizado e de cópias das duas últimas produções bibliográficas para o e-mail sppg@ucsal.br ou para o endereço UCSal/SPPG, Av. Anita Garibaldi, 2981, Rio Vermelho, CEP 41940-450, Salvador – BA. II. O professor será admitido em regime de 40 horas semanais, sendo 28 horas dedicadas à pesquisa e/ou extensão e 12 horas destinadas à docência na Pós-Graduação e na Graduação, com salário mensal de R$ 5.619,67 (cinco mil seiscentos e dezenove reais e sessenta e sete centavos). III. O Edital completo encontra-se publicado no site www.ucsal.br e afixado na Superintendência de Pesquisa e Pós-Graduação. Salvador (BA), 02 de junho de 2009. Prof. José Carlos Almeida da Silva Reitor

Minc admite derrotas, mas diz que teve vitórias Ministro cita criação do Fundo da Amazônia e de áreas de preservação como conquistas de sua pasta ● BRASÍLIA. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, admitiu que foi derrotado na negociação dos decretos das cavernas e da compensação ambiental, mas disse ontem que, em um ano no cargo, também teve vitórias importantes. Segundo ele, no período em que está no ministério, o governo criou o Fundo da Amazônia, implantou o plano de mudanças climáticas, com metas de redução da emissão de CO2 e criou seis milhões de hectares de área de preservação, além da redução do índice de desmatamento na Amazônia. — Aí é que reside o perigo. Se fizer tudo certo e dobrar o desmatamento, Carlinhos Minc vira churrasco — disse.

Minc destaca mais rigor da punição a crimes ambientais Segundo o ministro, a previsão é que este ano o nível de desmatamento seja o menor dos últimos 20 anos. Ele atribuiu o resultado a medidas adotadas pelo governo, como a proibição de liberação de crédito nos bancos oficiais para quem desmata a Amazônia e o endurecimento da punição para os que cometem crimes ambientais, conforme decreto assinado em julho do ano passado pelo presidente Lula. Segundo Minc, esse decreto permitiu a realização de leilões de bois e madeiras piratas.

Minc disse que, desde que assumiu o ministério, em junho de 2008, o governo criou seis milhões de hectares de área de preservação. Sexta-feira, em Caravelas, Lula assinou o decreto criando quatro unidades de preservação no Ceará, na Bahia, no Pará e na Foz do São Francisco, entre Alagoas e Sergipe, num total de 500 mil hectares. — Quando cheguei, eram 72 milhões de hectares e lá se vão 50,60 anos — afirmou. No mesmo evento, também foi autorizado o pagamento por serviços ambientais, que vai beneficiar a agricultura familiar, e o manejo florestal comunitário, reivindicação de seringueiros, castanheiros, quilombolas e ribeirinhos. Minc disse que obteve do presidente o compromisso de que o Pantanal e a Amazônia ficarão livres de usinas de cana e que não haverá hidrelétricas no Rio Araguaia. — De fato, nesses dois casos (cavernas e compensação ambiental), não obtive o que pedi — afirmou o ministro, sobre o decreto de Lula que protege só as cavernas de “máxima relevância”, sendo que as demais poderão ser derrubadas. O outro decreto fixou em 0,5% o percentual de compensação ambiental que as empresas têm de pagar por obras de impacto na natureza. ■

● TERESINA. A presidente da Empresa de Gestão de Recursos do Estado do Piauí (Emgerpi), Lucile Moura, disse ontem que os danos pessoais das famílias desabrigadas pelo rompimento da Barragem Algodões I, em Cocal, a 270 quilômetros de Teresina, no dia 27 de maio, foram calculados em R$ 37 milhões, recursos que serão liberados pelo Ministério da Integração Nacional. Lucile informou que a inundação atingiu 800 famílias, o que representa um total de 2.973 pessoas. Pelo menos 11 pessoas morreram na tragédia. A inundação destruiu ou afetou a estrutura de 150 casas. Moradores de outros 200 imóveis alagados, mas não comprometidos, se recusam a voltar a residir no local. Por isso, o governo pretende reconstruir 350 casas. Segundo Lucile, a Agência de Desenvolvimento da Habitação (ADH) do Piauí fará o levantamento do novos locais onde as moradias serão reconstruídas.

Famílias desabrigadas vão receber R$ 5 mil do governo O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), decidiu pela entrega de R$ 5 mil para as famílias desabrigadas e atingidas pelas águas da barragem. Lucile Moura falou que, deste valor, as famílias irão receber uma parte em dinheiro e a outra em forma de crédito depositado, em conta de cada família no Banco do Brasil para a compra de geladeiras, fogões e outros utensílios domésticos. As localidades atingidas pela inundação são na zona rural de Cocal, e as famílias só têm acesso ao sinal das emissoras de TV por antenas parabólicas. Por is-

so, durante as reuniões com o governo do Piauí, elas lembraram que também foram destruídas as antenas parabólicas. Dias afirmou que fará uma reunião com as famílias, que saem hoje dos colégios públicos estaduais e municipais e irão para uma escola agrícola de Cocal, para decidir se uma nova barragem será construída para retenção das águas do rio Pirangi, que fica na divisa dos estados do Piauí e Ceará. Lucile informou que as famílias estão traumatizadas e não querem a reconstrução da Barragem Algodões I. Ela disse acreditar, porém, que em novembro e dezembro essas famílias poderão mudar de opinião porque suas vidas estavam ligadas ao vale banhado pelas águas do Rio Pirangi, retidas pela obra. Estado e Exército ainda fazem avaliação dos danos As avaliações dos equipamentos públicos e comunitários em uma área de 85 quilômetros nos municípios de Cocal e Buriti dos Lopes, atingida pela inundação provocada por ondas de até 20 metros, surgidas com o rompimento da barragem, continuam sendo feitas pelo Exército e secretarias da Defesa Civil e de Assistência Social e Cidadania. — Eu perdi tudo. As águas levaram até o puxado da minha casa, o freezer, as panelas e liquidificadores que usava para fazer bolos para vender e ajudar na sobrevivência de minha família — contou a dona de casa Raimunda Humbelina de Oliveira, que tinha um pequeno comércio de bolos, salgados e refrigerantes na sua casa em Cocal. ■ * Especial para O GLOBO


O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 19 - Edição: 13/06/2009 - Impresso: 12/06/2009 — 22: h

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Sábado, 13 de junho de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

A passos mais lentos

Apesar de desempenho econômico melhor que o de países ricos, Brasil perde para China e Índia Editoria de Arte

Eduardo Rodrigues

E

BRASÍLIA

m um quadro de recessão técnica, com dois trimestres consecutivos de retração na atividade econômica, o Brasil vem sentindo menos que as nações desenvolvidas os efeitos da crise financeira. Ao mesmo tempo, apresenta performance inferior à de emergentes como China e Índia. Estes países cresceram, respectivamente, 6,1% e 5,8% no primeiro trimestre de 2009, frente a igual período do ano passado, enquanto a economia brasileira recuou 1,8% na mesma base de comparação. Na avaliação de analistas ouvidos pelo GLOBO, porém, há sinais claros de que o Brasil já começou a se recuperar das turbulências. Só que a passos mais lentos do que os outros atores globais em fase de desenvolvimento. — Houve certo exagero no pessimismo em relação à capacidade dos países emergentes em combater a crise. Mas, olhando os bons resultados de China e Índia, nota-se que o Brasil agiu menos do que poderia — analisa o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

Diferenças na resposta à crise Segundo ele, apesar da redução dos juros para patamares inéditos (na quarta-feira a Taxa Selic caiu pela primeira vez a um dígito: 9,25% ao ano), o país está deixando passar a oportunidade de romper travas na política econômica. Agostini ressalta que China e Índia conseguiram segurar parte de seu crescimento, apoiados em enormes mercados internos e na rápida atuação das autoridades locais em adotar medidas de estímulo à produção. — A China ainda está em um ritmo insuficiente, mas está longe de um colapso, pois um escudo de mais de US$ 1 trilhão em reservas possibilitou ao país manter os fundamentos e adotar uma política agressiva de incentivos — explicou. — Já a Índia continuou investindo no capital intelectual e na prestação de serviços, pouco afetados pela turbulência. Na comparação regional, no entanto, o diretor do escritório brasileiro da Comissão Econômica para América Latina (Cepal), Renato Baumann, observa que o Brasil é o país em melhor situação. O economista aponta a forte entrada de investimento estrangeiro direto e na bolsa de valores como sinal de que o mercado nacional é bem visto pelo resto do mundo.

O DESEMPENHO BRASILEIRO

Lula: expectativa para 1 -a reunião dos Brics

VARIAÇÃO DO PIB DE PAÍSES EMERGENTES

Primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2008

6,1%

5,8%

PIB (US$)

Dados estimados para 2008

1,990 trilhão

Brasil

Joedson Teles*

2,225 trilhões

Rússia Índia

7,8 trilhões

China

China

Índia

OS BRICS

Sigla criada em novembro de 2001 pelo economista Jim O'Neill, do grupo Goldman Sachs, para designar os quatro principais países emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia e China

África do Sul

1,3% -1,3%

ARACAJU e BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Aracaju, que a viagem que fará ao exterior — Lula vai a Genebra neste fim de semana, e posteriormente à Rússia e ao Cazaquistão, retornando no dia 18 — será extremamente importante, porque participará da primeira reunião dos Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China. — Estes três países juntos têm quase um terço da população do planeta. Ou seja, são os países que têm um grande potencial de crescimento por causa dos seus mercados internos — disse Lula. A reunião dos Brics — acrônimo criado em 2001 pelo economista Jim O’Neill, do grupo Goldman Sachs, para designar os quatro principais países emergentes do mundo — ocorrerá em Ekaterinburgo, na Rússia. Com o propósito de tentar formular uma agenda comum nos grandes temas, como a crise financeira, o engessamento das negociações comerciais, o esgotamento energético e a produção de alimentos, os Brics querem reformas na ordem econômica mundial, a começar por um debate sobre o uso do dólar como moeda internacional. O presidente disse que está otimista quanto à oportunidade de os Brics trocarem experiência e, assim, chegarem à reunião do G-8 (grupo dos sete países mais industrializados, além da Rússia) com o discurso unificado: — Vamos discutir coisas importantes para que a gente chegue à reunião do G-8 mais fortalecido. Segundo Lula, o Brasil não pode desprezar o fato de ter uma balança comercial muito forte com a China — quase US$ 40 bilhões. Ele lembrou, no entanto, que o país ainda está distante do que já conseguiram, por exemplo, Rússia e Índia. ●

3,267 trilhões

BRASIL

Chile

1,8%

México

Rússia

-2,1% 2,1%

Representam quase 40% da população e do PIB mundial e ocupam 25% da massa terrestre

-8,2%

O encontro de chefes de Estado, que se reunirão pela primeira vez, acontecerá nos dias 15 e 16 de junho, na cidade de Ekaterinburgo, na Rússia Fontes: Austin Rating e Central Intelligence Agency (CIA)

-9,5%

OBS: A Argentina ainda não divulgou o resultado

CORPO

A

CORPO

CARLOS LANGONI

A comparação com China e Índia é desleal Se depender do presidente do Centro de Economia Mundial da FGV, Carlos Langoni, o país pode sepultar o sentimento de inferioridade em relação aos países ricos, o que levou o dramaturgo Nelson Rodrigues a cunhar a expressão “síndrome de vira-lata”. Mesmo o país passando por uma recessão técnica, Langoni aposta que o PIB pode voltar a crescer em 2010. ●

Liana Melo

O GLOBO: Como o país está enfrentando a crise? CARLOS LANGONI: A melhor forma de avaliar esta capacidade de resistência é comparar o país com ele mesmo. Em outras crises, o impacto do choque externo foi devastador: PIB em queda, descontrole inflacionário, desvalorização cambial forte. Hoje, o Segundo ele, a economia brasileira é relativamente fechada em comparação com a de nossos vizinhos e, portanto, o país foi menos afetado pela retração do comércio mundial. Ele citou o Chile, que computou queda de 2,1% no PIB, devido à queda das exportações. E a Argentina, cujo resultado ainda não foi divulgado, tem dificuldades em exportar produtos, como carne e trigo.

comportamento da economia brasileira é completamente diferente. Passamos no teste. O Brasil tem condições de voltar a crescer, porque tem um sistema financeiro sólido. O que mudou? LANGONI: É a primeira vez não somos obrigados a fazer uma mudança cambial drástica. O país não só está resistindo, com está emprestando US$ 10 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI). ●

E na comparação com outros países? LANGONI: Com exceção da Rússia, que é dependente de petróleo, a China e a Índia estão melhores. Mas como são economias que vinham crescendo a uma taxa de dois dígitos, a comparação é desleal.

— Entre os latinos, o caso mais grave é o do México, cujo PIB caiu 8,2%, devido à forte correlação com o ciclo de negócios americano e à queda das remessas de mexicanos, que perderam seus empregos — diz Baumann. Um novo ator de peso na economia global, com resultado pouco melhor que o brasileiro foi a África do Sul, com recuo de 1,3% do PIB. Já a Rússia viu

sua economia dependente das exportações do petróleo despencar 9,5%. O Brasil está à frente ainda de economias desenvolvidas, que sentiram de modo mais intenso a turbulência global. O PIB da zona do Euro recuou 4,8% no primeiro trimestre. EUA (-2,5%), França (-3,2%), Alemanha (-6,9% e Japão (-9,7%) também registraram fortes quedas. ■

(*) Especial para O GLOBO .


O GLOBO

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O PAÍS

PÁGINA 4 - Edição: 25/06/2009 - Impresso: 24/06/2009 — 23: 07 h

O PAÍS

O GLOBO

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

2ª edição • Quinta-feira, 25 de junho de 2009

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Quando o senador José Sarney disse que não fora eleito presidente do Senado “para ficar submetido a cuidar da despensa, ou limpar as lixeiras da cozinha da Casa”, além de revelar uma postura elitista, estava, intencionalmente, pois se trata de um intelectual, se referindo ao que Antonio Gramsci chamava de “pequena política”, a política do dia a dia, política parlamentar, de corredor, de intrigas. Em contraposição à “grande política”, que é o que Sarney disse que lhe cabia fazer, “comandar politicamente a Casa”. O blog Democracia e Novo Reformismo, de Gilvan Cavalcanti de Melo, ligado ao PPS, publicou ontem um texto de Antonio Gramsci que fala da pequena e da alta políticas que tem tudo a ver com nosso momento atual.

A “grande política”, segundo Gramsci, compreende, entre outras funções, “a luta pela destruição, pela defesa, pela conservação de determinadas estruturas orgânicas econômico-sociais”. Já a pequena política trata, dizia Gramsci, das “questões parciais e cotidianas que se apresentam no interior de uma estrutura já estabelecida em decorrência de lutas pela predominância entre as diversas frações de uma mesma classe política”. Justamente o que há no Senado no momento é uma disputa entre grupos de políticos e burocratas que vivem dessa “pequena política”, e o senador Sarney nunca foi alheio a ela. Ao contrário, foi ele quem, em 1995, quando presidiu o Senado pela primeira vez, nomeou Agaciel Maia como diretor-geral da Casa, cargo em que este permaneceu até que os escândalos jogados para baixo do tapete azul do Senado estourassem irremediavelmente, revelando uma casta de burocratas milionários acobertados por políticos, que por sua vez eram acobertados pelos burocratas. Os “decretos secretos” têm essa origem: Agaciel Maia e seus asseclas escondiam nomeações, demissões, faziam favores aos senadores permitindo que ultrapassassem suas cotas, que usassem indevidamente apartamentos funcionais, sem que as evidências fossem publicadas à luz do dia. Mas eles ficavam com as informações, e passaram também a se utilizar desses decretos para nomear seus próprios protegidos, muitas vezes à revelia dos próprios senadores, como revela o caso de Demóstenes Torres. Por isso é que Agaciel Maia já disse que nenhum senador pode alegar que não sabia dos atos secretos, pois, segundo garante, todos aceitaram que assim fosse. O poder burocrático cresceu tanto que mesmo os empréstimos consignados para os funcionários eram controlados por eles, que impunham uma taxa de juros que podia chegar a 4% ao mês, e ficavam com uma parte. Uma das primeiras medidas da nova administração foi baixar a taxa para 1,6% ao mês. O senador Heráclito Fortes, primeiro-secretário da Mesa do Senado e, a partir de terça-feira, principal responsável pela apuração das irregularidades que vêm sendo reveladas desde o início do ano — quando uma disputa entre PT e PMDB levou pela terceira vez à presidência da Casa o senador José Sarney —, é um homem cosmopolita, mas um político nordestino espirituoso, que faz questão de usar expressões regionais para definir certas situações. Ontem, por exemplo, para tentar minimizar o que pode

ser o mais novo escândalo, com o descobrimento de contas do Senado fora da contabilidade oficial, disse que elas poderiam ter uma explicação prosaica ou significar mesmo um grande escândalo. E advertiu: “Cachorro mordido de cobra tem medo de salsicha”. Pois, para usar um linguajar muito próprio dos políticos, especialmente os nordestinos, para definir a situação atual do Senado, pode-se dizer que ela está tão confusa a ponto de “vaca não reconhecer bezerro”. Ao abrir mão de tratar dessas “questões pequenas”, como se elas não fizessem parte fundamental de sua atuação política, Sarney vai perdendo aos poucos a autoridade do cargo, pois deixa claro que não tem condições de se afastar de seu “afilhado”, o diretor-geral afastado Agaciel Maia. Todos os movimentos acontecidos até o momento têm uma única finalidade, a de tentar desmontar o esquema Agaciel. A tal ponto que o senador Heráclito Fortes preferiu escolher dois funcionários que levantaram suspeitas por suas ligações funcionais, mas que têm uma vantagem inestimável hoje: são adversários de Agaciel Maia. Há, no momento, três grupos de burocratas no Senado em disputa pelo butim de R$ 2,7 bilhões de orçamento: o grupo de Agaciel Maia, o que quer derrubar esse grupo e um terceiro, que espera ficar com as sobras dessa disputa. O novo diretor-geral, Haroldo Tajra, servidor de carreira, é um piauiense como Heráclito e primo de ninguém menos que o seu suplente, Jesus Tajra. Para a área de Recursos Humanos, foi nomeada Dóris Romariz Peixoto, que já chefiou o gabinete de Roseana Sarney. O primeiro-secretário Heráclito Fortes sabe que a impressão na opinião pública não foi boa, mas garante que precisava buscar no grupo contrário a Agaciel os funcionários para desfazer o verdadeiro império que ele montou. Existe hoje cerca de uma centena de gestores dos contratos e terceirizações — onde se suspeita de muitas irregularidades —, todos eles nomeados e treinados por Agaciel Maia nesses 15 anos de poder. Poder tamanho que, mesmo afastado das funções, ele continua a frequentar o Senado e a usar sua sala, de onde continuava a fazer sua “pequena política”. Ontem foi nomeado um servidor para ocupar aquela sala, na tentativa de dificultar a presença física de Agaciel Maia no Senado. Como diz um antigo ditado político, desta vez mineiro, e não nordestino, a esperteza, quando excessiva, engole o esperto. É o que está acontecendo no Senado.

E-mail para esta coluna: merval@oglobo.com.br

Servidores exonerados por nepotismo foram nomeados por atos secretos Roberto Stuckert Filho

Chico de Gois, Regina Alvarez e Eduardo Rodrigues BRASÍLIA. Os atos secretos tornados públicos anteontem pelo 1 o- secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), demonstram que durante o mandato de José Sarney (PMDB-AP) na presidência da Casa entre 2003 e 2005 foram criados 67 novos cargos, realizadas 65 nomeações e 18 exonerações. Dos cargos criados, 42 constaram de um ato de 31 de janeiro de 2003, ou seja, um dia antes de ele assumir a presidência da Casa, mas que foram, depois, preenchidos em sua gestão. Os atos também demonstram que alguns servidores de cargos de chefia encontraram um jeitinho para não ter perdas financeiras com a decisão da Justiça contra o nepotismo: exonerados em boletins oficiais, acabaram ganhando, por atos secretos, outras funções comissionadas. Renan Calheiros (PMDB-AL), como presidente do Senado entre fevereiro de 2005 e janeiro de 2007, ultrapassou Sarney na criação de cargos. Sob sua anuência, por meio de boletim suplementar de 8 de agosto de 2006 foram criados 107 novos cargos: uma vaga a mais de assessoria para os gabinetes de senadores (81), membros da Comissão Diretora (10) e lideranças (16), sob pretexto de atender “à demanda de recursos humanos na área de assistência direta aos senadores”. ●

Cargos criados às vésperas da posse de Sarney Na véspera do Natal de 2004, a Mesa presidida por Sarney deu um presentão aos senadores: criou, por ato secreto publicado no boletim 3146 S, 25 novos cargos no Órgão Central de Coordenação e Execução, ligado diretamente à Diretoria Geral e para o qual muitos senadores têm nomeado afilhados. O ato que criou 42 novos cargos às véspera de Sarney assumir, em 2003 — tornado público com o boletim 2688 S3 — é irônico: argumenta a necessidade de reduzir despesas com mão de obra e, logo em seguida, acrescenta mais 42 cargos no Órgão Central de Coordenação e Execução.

SARNEY: filho e nora de Zoghbi ganharam cargos em sua gestão de 2003 a 2005 como presidente do Senado Ailton de Freitas/10.06.2009

RENAN: uma vaga a mais de assessoria para todos os gabinetes

Foi nessa gestão de Sarney que um ato secreto nomeou Carla Zoghbi, então nora de João Carlos Zoghbi, que era diretor de Recursos Humanos, assistente parlamentar no Órgão Central de Coordenação e Execução. O filho de Zoghbi, Ricardo, que foi casado com Carla e ocupou indevidamente um apartamento funcional, além de viajar a Paris com a cota de passagens de um deputado, também ganhou um cargo, em maio de 2004, na 2 a- vice-presidência. Bem antes, por ato secreto de 12 de setembro de 2001, um afilhado político de Sarney, Osvaldino Gonçalves de Brito, deixou de ser funcionário celetista para ter cargo efetivo, sem concurso. Ele entrou com um processo interno, e o seu pedido foi aceito pela Mesa, comandada pelo então presidente interino, Edison Lobão (PMDB-MA). Brito confir-

mou a solicitação e disse que não sabia que sua nomeação fora por ato secreto. Ele contou que fez isso depois que dois funcionários com casos semelhantes ganharam na Justiça o direito de ser efetivados. Chegou a ser aberto processo contra ele pelo Ministério Público Federal. Mas, em 2007, a ação foi considerada improcedente. Pelo menos dois diretores que pediram afastamento dos cargos em outubro de 2008, para preservar o emprego de parentes contratados sem concurso, foram nomeados dias depois para funções gratificadas por meio de atos secretos. Cláudia Tolentino, ex-diretora da Subsecretaria de Administração de Contratações de Estagiários, deixou o cargo em 17 de outubro de 2008, mas em 5 de novembro foi nomeada para função comissionada, nível 07, no

setor em que era diretora, retroativa à data do afastamento. Outro beneficiado foi Evandro Gomes Carneiro Filho, que pediu afastamento do cargo de chefia no Prodasen em 17 de outubro, para preservar o emprego de parentes, e foi nomeado para função comissionada, nível 07, em 6 de novembro, com data retroativa a 17 de outubro. Os dois atos, assinados pelo ex-diretor-geral Alexandre Gazineo, só foram publicados em 16 de abril deste ano. A função comissionada nível 07 reforçou os salários dos dois servidores em R$ 3.302. Blogueiro da Paraíba, Higino Brito Vieira sempre deu espaço ao conterrâneo Efraim Morais (DEM-PB), em sua página na internet, com fartos elogios. Em outubro passado, foi nomeado para um cargo comissionado no Interlegis, por indicação do senador. O ato secreto só foi publicado em abril deste ano. Na gestão Renan foram “editados” 80 boletins secretos, que nomearam 30 servidores. Em 18 de dezembro de 2006, um ato secreto nomeou a filha do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), Janaína Nava Cafeteira, como assessora técnica do Senado. ■ O GLOBO EM SMS

A crise no Senado e mais destaques de política no celular: envie OGLPOL para 88435 (R$ 0,10 por notícia. Até 3 por dia)

Câmara pode legalizar doação oculta Mecanismo permite que partidos repassem recursos a candidatos sem revelar fonte ● BRASÍLIA. O texto da reforma eleitoral, fechado ontem em reunião com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), mantém a regulamentação da pré-campanha a partir de maio do ano da eleição, libera totalmente o uso da internet nos três meses antes da disputa e diz, de forma expressa, que partidos poderão receber doações de pessoas físicas e jurídicas e repassá-las aos candidatos. Isso permitirá a doação oculta, que não vincula um candidato a um determinado doador.

Também irá obrigar, já nas eleições de 2010, que os eleitores apresentem, além dos títulos, documento com foto. O projeto será apresentado aos líderes partidários na terça-feira e a intenção é já iniciar, na quarta, a votação em plenário. O Tribunal Superior Eleitoral vem debatendo formas de fiscalizar doações ocultas feitas a partidos e não ao candidato. O texto acordado pelos políticos diz: “Em ano eleitoral, partidos poderão aplicar ou distribuir nas diversas eleições recursos

financeiros recebidos de pessoas físicas e jurídicas”. Acrescenta que devem ser observados limites legais e amplia as vedações, como doações de entidades beneficentes e religiosas ou concessionárias públicas. O texto permite doação de pessoa física via internet. Também foi ampliado o tempo de TV e rádio para as campanhas de senador (de 10 para 15 minutos), quando a eleição for para a escolha de duas vagas, como será em 2010. Governadores terão o tempo reduzido

de 20 para 18 minutos, e os deputados estaduais de 20 minutos para 17. Foi incluída uma reivindicação do PDT: o voto impresso. Isso, porém, só deverá entrar em vigor em 2014. A propaganda paga na internet será proibida, assim como o uso de imagem e voz de adversários e políticos que não integrem a coligação. Isso afeta, por exemplo, o uso da imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em campanhas que não estejam coligadas com o PT. ■ Não é ERRATA. A cadeira MANACÁ, anunciada neste jornal,

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O GLOBO

ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 29 - Edição: 28/06/2009 - Impresso: 27/06/2009 — 02: 51 h

Domingo, 28 de junho de 2009

ECONOMIA

O GLOBO

29

EFEITO NA DESIGUALDADE: Estudo da UFRJ mostra que 64% da

PREVIDÊNCIA SOCIAL: São 17,6 milhões de aposentados, pensionistas

redução da desigualdade entre 95 e 2005 vieram pelo mínimo

e beneficiários de programas sociais que ganham R$ 465 por mês

Mínimo, de piso salarial a instrumento social

Rendimento do trabalhador aumentou 144,5% desde 1994. São, pelo menos, 27 milhões de ocupados no piso Ana Branco

CONFIRA OS AVANÇOS

Cássia Almeida

O salário mínimo de US$ 100, bandeira sindical dos anos 80, ficou para trás. Hoje, o trabalhador brasileiro, com carteira assinada, não pode ganhar menos de US$ 200. Ainda longe de ser o suficiente para manter uma família de quatro pessoas, o valor atual de R$ 465 é 144,5% maior, já descontando o que a inflação comeu no período, do que o mínimo do início do real, em junho de 1994. Cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros, o que significa um contingente de 27 milhões de pessoas, ganham até um mínimo, e 67% dos aposentados, pensionistas e beneficiários de políticas sociais recebem hoje R$ 465. São 17,6 milhões nesse universo. Em 15 anos, muita coisa mudou nesse piso salarial. Além da valorização expressiva que começou em 1995, quando o mínimo pulou de R$ 70 para cem reais, e continuou ao longo desses anos, com alta de 12% em fevereiro último, o mínimo passou a ser a referência para os pisos de aposentadorias, pensões e benefícios sociais.

Na redução da pobreza, efeito maior até 2004 De balizador do mercado de trabalho a instrumento eficiente de redução da pobreza e da desigualdade, o salário mínimo, porém, perdeu seu papel de indexador da economia. Cobrar serviços em número de salários mínimos deixou de ser uma prática, diante dos sucessivos ganhos acima da inflação. — O mínimo está muito acima do sonhado em fins da década de 80. O seu papel transcendeu o mercado de trabalho — disse o economista Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Na redução da pobreza, o efeito foi imediato, lembra o economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas. Logo após o reajuste em 1995, a pobreza caiu de 35% em 1993 para 28,6%

Editoria de Arte

Valores do salário mínimo da época sem descontar a inflação

O PESO DO MÍNIMO NO MERCADO DE TRABALHO

465 Fev/2009

(Proporção dos trabalhadores que ganham até um mínimo) 1995 1999 2002 2003 2004 2005 2006 2007

SALÁRIO MÍNIMO

37,8% 35% 39,5% 40%

Em reais

415 Mar/2008

39,5% 42,8% 42,5% 38,6%

380 Abr/2007

PERCENTUAL DE BENEFÍCIOS DE UM MÍNIMO

350 Abr/2006

(Aposentadorias, pensões e benefícios sociais)

A CONTA-PRÓPRIA Viviane Andrade Portela ganha mais que o mínimo por mês, porém a incerteza impera

em 1995. E vem caindo desde então. Em 2007, último dado disponível, os pobres eram 18,11% da população. Até 2004, a ação do mínimo sobre a pobreza foi efetiva, mas começou a perder força desde então, diz Neri: — Nos últimos anos, pelo menos no mercado de trabalho, esse papel se diluiu. Com altas expressivas, começou a não alcançar os mais pobres. O programa Bolsa-Família passou a ser mais efetivo. Se na base da pirâmide de renda o mínimo perdeu poder, na redistribuição mantém seu papel. Estudo do diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, mostrou que, de 1995 a 2005, o mínimo foi responsável por 64% da redução da desigualdade. O economista lembra que a última Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada na quinta-feira pelo IBGE, foi a mais recente estatística a mostrar o papel do mínimo na manutenção de renda da população. O rendimento mediano, que indica até quanto ganha a metade dos trabalha-

O mínimo está muito acima do sonhado em fins da década de 80 Lauro Ramos, economista do Ipea dores das principais regiões metropolitanas, subiu 3,7% em maio, ficando em R$ 782. Já o rendimento médio real caiu 1,1% em relação a abril. — Com certeza, a alta do mínimo de fevereiro (de 5% descontando a inflação) ainda está tendo efeitos na melhoria da renda do brasileiro das faixas de renda menores — diz Saboia. A camelô Viviane Andrade Portela consegue ganhar um pouco mais que o mínimo na venda de produtos eletrônicos numa barraca em Botafogo. Mesmo reclamando da incerteza da rotina de conta-própria, diz

que a vida está melhor agora. Em 1994, a ocupação era mesma, mas o salário bem menor. — A gente depende do movimento. Em dia de chuva, por exemplo, não vem ninguém. Clemente Ganz Lúcio, diretortécnico do Dieese, lembra que a estabilidade de preços foi o primeiro ganho. Sem a corrosão da inflação, o poder aquisitivo da população de baixa renda foi mantido. E o acordo de 2007 entre as centrais sindicais e o governo, que fixou regras para o reajuste do mínimo, foi o marco recente. Pelo modelo, o reajuste é pela inflação passada mais o crescimento da economia de dois anos atrás. O projeto ainda está no Congresso. Para o secretário de Políticas da Previdência Social, Helmut Schwarzer, o reajuste do mínimo fez diminuir a desigualdade entre os rendimentos da Previdência. — Sem contar o efeito sobre a redução da pobreza. Ela seria 11 pontos percentuais maior sem os benefícios previdenciários. ■ COLABOROU Anna Luiza Santiago

1994 1999 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

300 Mai/2005

70,7% 63,9% 63,6% 62,8% 63,4% 64% 65,5% 65,6% 66,1% 67%

260 Mai/2004 240 Abr/2003 200 Abr/2002

180 Abr/2001 151 Abr/2000 130 136 Mai/1998 Mai/1999 112 120 Mai/1996 Mai/1997 70 Set/1994 64,79 Jul/ 53,68 1994 Jun/ 1994

100 Mai/1995

O ganho real do salário mínimo, de junho de 1994 até maio deste foi de 144,5% No início do real, em dólares o brasileiro que recebesse o mínimo ganhava US$ 65 Hoje, ganhando o mesmo mínimo, o trabalhador recebe

US$ 200

Fonte: Ipeadata, Previdência Social e IBGE

15 ANOS DO REAL: Amanhã, moeda brasileira ganha projeção internacional

Bancos financiarão os pequenos empreendedores A partir de quarta-feira, autônomos poderão regularizar suas atividades via internet a um custo baixo e obter crédito Domingos Peixoto

Editoria de Arte

Eduardo Rodrigues BRASÍLIA. Os brasileiros que tocam micronegócios finalmente poderão se regularizar a um custo acessível, com direito a benefícios previdenciários, como aposentaria e licenças remuneradas. A partir da próxima quarta-feira, esses profissionais até então informais poderão se tornar — em meia hora, via internet — empreendedores individuais (EI), garantindo, inclusive, o acesso a financiamentos em condições especiais em alguns dos maiores bancos do país, como Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal e Santander. Mas os membros da nova categoria precisam estar atentos às leis que regulam suas atividades em seus estados e cidades para não perderem as vantagens do trabalho legalizado. Qualquer profissional autônomo com renda bruta anual de até R$ 36 mil que empregue até uma pessoa poderá obter na página do Portal do Empreendedor o registro de pessoa jurídica (CNPJ) e as inscrições na Previdência Social e na Junta Comercial.

Medida beneficiará mais de um milhão Segundo estimativa do IBGE, mais de um milhão de manicures, artesãos, carpinteiros, costureiras, ambulantes, entre muitos outros, devem alcançar o status de empresários até o fim de 2010, em um universo de cerca de 11 milhões de pessoas aptas a ingressar no EI. — Para os pequenos, entrar no sistema legal significava apenas custo e burocracia. Mas agora existe uma equação de equi-

LEGAL EM 15 MINUTOS EMPREENDEDOR INDIVIDUAL (EI) A partir do dia 1º de julho os interessados poderão acessar a página www.portaldoempreendedor.gov.br para obter: • Registro no CNPJ • Inscrição na Previdência Social • Inscrição da Junta Comercial O documento gerado deve ser assinado e encaminhado em até 60 dias à Junta Comercial, com cópia da Indentidade e do CPF

Requisitos para se formalizar • Ter renda bruta anual de até R$ 36 mil • Ter até um funcionário, que receba salário mínimo ou piso da categoria, se houver • Não ser sócio de outra empresa

líbrio que é bastante convidativa e, inclusive, dá abertura para novas contratações formais — avalia o consultor previdenciário da IOB, Paulo Pirolla. Os novos empreendedores pagarão uma contribuição mensal equivalente a 11% do salário mínimo (R$ 51,15, hoje) mais tributo fixo referente à atividade exercida. Uma vez formalizado, o empreendedor poderá emitir nota fiscal e receber os benefícios da Previdência dentro de um prazo de carência a depender do tipo de auxílio. Também será mais barato regularizar o único funcionário permitido na modalidade jurídica. — Valerá a pena, sobretudo pelo acesso dessas pessoas a financiamentos para estruturar seus negócios, o que a informalidade não permitia — acrescenta Pirolla.

Contribuições mensais

• 11% do salário mínimo (R$ 51,15), para o INSS pessoal • R$ 1 de ICMS, para atividades de indústria ou comércio • R$ 5 de ISS, para prestadores de serviços • R$ 6 (ICMS + ISS), para atividades mistas • 3% do salário do empregado para o INSS, mais 8% para o Fundo de Garantia do Trabalhador O Documento de Arrecadação Simplificada (DAS) poderá ser pago em qualquer banco e também será emitido pelo Portal do Empreendedor

Vantagens

• Poder emitir nota fiscal • Participar de licitações • Ter acesso a oito benefícios previdenciários (como aposentadoria, licença maternidade e auxílio doença) • Linhas de crédito especiais

O BB está no esforço do governo para fazer decolar o projeto e foi o primeiro a divulgar a criação de produtos específicos para o EI. Ele poderá abrir uma conta pessoa jurídica cuja mensalidade será de R$ 5 e por meio da qual receberá um cartão de crédito empresarial e os demais serviços bancários. Para quem tiver faturamento anual de até R$ 25 mil, o crédito mínimo será de R$ 1 mil. Acima disso, o piso para os empréstimos será R$ 2 mil. — Além de oferecer crédito, o nosso trabalho é voltado à “bancarização” dessas pessoas. Muitas não têm acesso ao sistema bancário — afirmou o diretor de Micro e Pequena Empresa do BB, Ary Joel Lanzarin, que espera captar 200 mil clientes. A Caixa está concluindo os estudos para lançar produtos similares, cujo valor mínimo de

crédito deve ser de R$ 800. Deverá haver isenção das tarifas de cadastro e de manutenção por 12 meses. Já o Santander, além de oferecer linhas de R$ 500 a R$ 15 mil com juros entre 2% e 4% ao mês, fará o acompanhamento individual dos empreendedores. — Esse público não precisa apenas de crédito, mas também de orientação financeira — diz o superintendente de Microcrédito do banco, Jerônimo Ramos. Contadores que optaram pelo Simples vão assessorar O auxílio também virá dos contadores que optaram pelo Simples Nacional. Eles têm que dar assessoria gratuita no primeiro ano a todos os EIs que solicitarem, mesmo estando os pequenos empreendedores desobrigados de auditoria. — Quem está começando

CAMELÔS DO Rio fazem cadastramento na Secretaria de Ordem Pública

tende a confundir a receita da empresa com o lucro do dono. É preciso tomar cuidado com o fluxo de caixa, a reposição dos estoques e o pagamento dos custos fixos — lembra a presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Maria Clara Cavalcante Bugarim. Mas a formalização tributária não é suficiente para garantir a legalização total dos trabalhadores. Os candidatos a pessoa jurídica também precisam estar cientes da legislação que regula a atividade que será exercida. Os ambulantes, por exemplo, continuam subordinados às regras municipais que determinam os espaços apropriados para o comércio de rua. Quem trabalha com alimentos deve obedecer as normas da Vigilância Sanitária. A ideia do governo é publicar na internet as normas específicas

de todos os municípios do país até o início de 2010. O diretor de Comercialização do Sebrae, Bruno Quick, ressalta que, apesar de não ser necessária a apresentação de licenças prévias ou alvarás para a inscrição no Portal do Empreendedor, os profissionais serão fiscalizados como qualquer outra empresa: — O objetivo do projeto é valorizar estes trabalhadores, que para serem incluídos devem estar cientes de suas responsabilidades com a sociedade. A prefeitura do Rio já concede pela internet o alvará para atividades de baixo risco. E a secretaria de Ordem Pública está recadastrando desde o dia 22 os ambulantes da cidade. Serão distribuídas 18.400 licenças para trabalho em áreas que serão mapeadas. Estima-se que existam 30 mil camelôs no município. ■


O GLOBO

24

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 24 - Edição: 3/07/2009 - Impresso: 2/07/2009 — 22: 14 h

ECONOMIA

Sexta-feira, 3 de julho de 2009

O GLOBO

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N EGÓCIOS & cia

O BANK of New York Mellon foi escolhido pela Anheuser-Busch InBev como administrador de seu programa de lançamento de

Flávia Oliveira

ADRs, na Bolsa de NY. A operação foi anunciada esta semana.

Para cima 1

Do Japão

O Cartão BNDES já superou, em seis meses de 2009, o volume de operações de 2008. Foram R$ 993,9 milhões em empréstimos a micro, pequenas e médias empresas, contra R$ 933,5 milhões em todo o ano passado. O número de transações passa de 65 mil e o valor médio dos empréstimos é de R$ 15 mil.

Takashi Kubota, presidente da japonesa Chiyoda, inaugura este mês uma representação da empresa no Brasil. Especializada na construção de unidades de gás liquefeito, o GNL, a Chiyoda está hoje com o Qatargas. É nada menos que o maior projeto de GNL no mundo, com produção anual de 7,8 milhões de toneladas. Ano passado, a empresa concluiu a 1 a- planta de GNL da Rússia, em Sakhalin.

Para cima 2 ● Na Investe Rio, a demanda por crédito também é recorde. No primeiro semestre, as consultas e desembolsos somaram R$ 410 milhões, em 109 operações. Em 2008, 45 projetos movimentaram R$ 237 milhões, compara Maurício Chacur, presidente da agência de fomento do estado.

Sendas multada A 7 a- Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio acolheu recurso do governo contra as Sendas. A empresa terá de pagar multa de R$ 143 mil por compensação indevida do ICMS na energia. Os desembargadores concordaram que o benefício só vale para indústrias. A empresa pode recorrer.

Apetite A mineira Vilma Alimentos vai ampliar a produção mensal de massas de três mil para cinco mil toneladas. A medida deve elevar em 11% o faturamento. De quebra, reduzirá em 3% o preço dos produtos. A empresa concluiu plano de expansão e lançou 60 produtos em 2008. Faturou R$ 415 milhões.

Abismo produtivo

Da China Outra que chega ao Brasil é a Kerui Group. Trata-se da maior fabricante de sondas de perfuração da China. Vem ao país em busca de oportunidades de exploração de óleo no présal. Vai se instalar no escritório da Asian Trade Link, no Rio. ●

Habitação ● Na bagagem para a China, a equipe de Sérgio Cabral levou uma apresentação robusta sobre o pacote habitacional “Minha casa, minha vida”. A intenção era mostrá-la a potenciais investidores. O SindusconRio produziu o material.

Austrália O brasileiro Paulo Maia, vice-presidente do HSBC Brasil, assumiu anteontem a presidência do banco na Austrália. A unidade tem 36 agências e lucrou meio bilhão de dólares em 2008. Maia está no HSBC desde 1997. No Brasil, já comandou as áreas de pessoas jurídicas e físicas. ●

Um grande abismo De 27 setores industriais, só mais ligados aos separa o desempebens não duráveis nho industrial de se- 5 acumulam expansão sobre ficaram mais protetores atrelados ao gidos da crise”, diz setembro, início da crise mercado interno Isabella Nunes, ecodos que se relacionomista da Coordenam com exportanação de Indústria ções e bens de cado IBGE. O resultapital (leia-se investimento). Na pesquisa do, contudo, não ajudou muito a produção industrial de maio, o IBGE comparou a total, 13,8% abaixo do nível de setembro. É produção atual de 27 setores ao nível de que os top five não passam de 22% da setembro de 2008, o último a salvo da crise. indústria. No extremo inferior, com 30% da Dos cinco segmentos com variação positiva produção, estão fabricantes de equipamen(veja o gráfico), apenas um não está in- tos elétricos e de comunicação, maquinário, tegralmente atrelado ao consumo das fa- além de metalúrgicas e montadoras. As mílias. Trata-se de outros materiais de últimas estão reagindo em 2009. Bateram transportes, que inclui motocicletas, va- recorde de vendas em junho. Mas, em gões e aviões. “Está claro que os setores relação a setembro, têm perdas de 25%. ●

Editoria de Arte

OS EXTREMOS DA PRODUÇÃO

(Em variação de set/2008 a mai/2009) OS 5 MAIS +6,3% Perfumaria e limpeza +5,8% Bebidas +5% Farmacêutica +2,9% Alimentos +1,8% Aviões, motos e vagões -13,8% INDÚSTRIA GERAL OS 5 MENOS Máquinas, aparelhos e -23,1% materiais elétricos -24,1% Metalurgia básica -24,9% Veículos automotores Eletrônicos e comunicações -36,1% -37% Máquinas e equipamentos Fonte: IBGE

Divulgação/Ari Gomes

Clima de GP

Fidelidade dá lucro

A MODELO Natália

E

studo da CSU MarketSystem revela que programas de fidelidade para clientes de cartão de crédito são ferramenta poderosa para aumentar o faturamento. Aqueles que resgatam prêmios de fidelidade pela primeira vez aumentam em até 100% seus gastos com cartão. O consumo médio, Programas por sua vez, é chegam a dobrar 80% superior ao de clientes os gastos de que não têm clientes nos disponível esse tipo de be- cartões de crédito nefício. No último trimestre de 2008, auge da crise, chegou a 90%. Já a frequência no uso do cartão aumenta três vezes e meia. “Esse consumidor gera ainda um efeito secundário, pois tem 38% mais propensão a refinanciar o saldo das faturas, gerando mais receitas para as empresas de cartões”, diz o superintendente CSU MarketSystem, Thiago Nori.

Toghnarelli e o jóquei Jean Pierre estrelam a campanha publicitária do Grande Prêmio Brasil, um dos mais tradicionais do turfe nacional. O chapéu feminino, um clássico do evento, está na imagem. A competição será no domingo, 2 de agosto, no Jockey Club carioca. Mas os anúncios estarão nas ruas a partir do dia 15 deste mês, em outdoors, busdoors e cartazes. Helen Pomposelli assina a produção visual e a agência Eu Amo, a consultoria de moda.

Crise afasta mulheres do mercado de trabalho Trabalhadoras deixam de procurar vaga para cuidar de afazeres domésticos. Desemprego cresce mais entre homens Editoria de Arte

Marcelo Carnaval

Eduardo Rodrigues BRASÍLIA. A crise financeira internacional empurrou as mulheres para fora do mercado de trabalho brasileiro, segundo estudo da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM). O documento mostra que, de setembro de 2008 a abril de 2009, o tamanho da população feminina economicamente ativa, que engloba pessoas empregadas ou à procura de serviço, diminuiu nas seis principais regiões metropolitanas do país, enquanto o indicador masculino se manteve estável. Com a economia pisando no freio, o desemprego cresceu mais para os homens. A taxa de desemprego masculina aumentou 24% desde setembro, contra um avanço de 11,2% para mulheres. Isso porque a taxa reflete a quantidade de pessoas procurando emprego. E as brasileiras se refugiaram da crise na inatividade. Para Lourdes Bandeira, secretária de Planejamento da SPM, esse movimento se explica pela maior probabilidade de a mulher assumir atividades de casa, seja porque o empreendimento familiar no qual trabalhava não sobreviveu à crise, seja porque a perda de renda impossibilitou a manutenção de uma empregada doméstica

O resultado da pesquisa

Indústria demitiu mais mulheres e negras O levantamento — feito em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o IBGE — mostra que a indústria demitiu proporcionalmente mais mão-de-obra feminina (queda de 8,38% na ocupação) do que masculina (-4,81%), apesar de o setor empregar bem mais homens do que mulheres. E as dispensas foram maiores entre as mulheres negras (-9,96%) do que entre as brancas (-7,73%)

Juros em crédito do FAT vão cair

MULHERES DEIXAM O MERCADO DE TRABALHO

Queda entre setembro e abril na população economicamente ativa (quantidade de pessoas empregadas ou à procura de trabalho)

4,2

GERAL

HOMENS

MULHERES

2,6 1,8

(Em %)

3,4

BRASÍLIA. Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal e Banco do Nordeste vão ter de reduzir em até 29,6% os juros cobrados nas linhas de financiamento com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), como antecipou O GLOBO em abril. O Conselho Deliberativo do FAT (Codefat), formado por representantes de governo, trabalhadores e empregadores, se reunirá na terçafeira para aprovar uma norma com os novos limites em cada modalidade, que atende desde micro e pequenas empresas até profissionais liberais, pequenos empreendedores e cooperativas. — Quando o Conselho aprovar a proposta, os agentes operadores, que são bancos públicos, terão que cumprir — disse ontem o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Estudo do Ministério do Trabalho apontou que as instituições federais cobram juros indevidos, por considerarem o risco de inadimplência e o peso do compulsório (valor retido no Banco Central). Mas a maioria dos empréstimos do FAT conta com um fundo de aval e não há compulsório sobre os recursos do Fundo. (Geralda Doca)

2,5 1,7

1,3 0,3

1,1

0,7

Porto Alegre

1,4 1,2

1,3

0,3

0

Belo Horizonte Distrito Federal

0,9

Recife

0,7

Salvador

1,9

São Paulo

DESEMPREGO AUMENTA MAIS ENTRE OS HOMENS (Taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país)

SETEMBRO/08

ABRIL/09

9,8% 10,9%

7,7% 8,9%

VARIAÇÃO: 11,2%

VARIAÇÃO: 15,5% Geral

5,9% 7,2%

Mulheres

VARIAÇÃO: 24,1%

Homens

A DDESIGUALDADE SALARIAL 80,63% 80

81,26% (Por ano de estudo) 65,93%

Até 8 ADRIANA DE Souza concluiu o ensino médio e está à procura de uma vaga

Já o fechamento de vagas no serviço doméstico masculino — jardineiros, motoristas, caseiros — foi consideravelmente maior (-5,66%) do que no serviço doméstico desempenhado pelas mulheres (-0,89%). Os cuidados com casa e crianças, mais comumente sob responsabilidade delas, são considerados essenciais para as famílias. Até por permitir que outras mulheres mantenham seus empregos. — A taxa de desemprego das mulheres é sempre superior à dos homens. Em crise, esse dado fica mais forte. Se a mulher perde o emprego, assume afazeres domésticos. Já o homem

não recua para casa, pois se sente mais pressionado a ser o provedor — disse Hildete Pereira, professora da UFF. Os dados apontam alta de 2,96% no contingente de mulheres empregadas na construção civil, em um período em que houve queda de 3,54% na quantidade de homens no setor. — Há uma cultura empresarial de incorporar as especificidades femininas na construção civil, principalmente no cuidado com acabamento, no menor desperdício e no salário inferior — disse Lourdes. Assim como aconteceu com os homens, o impacto da crise

Entre 9 e 11 12 ou mais

Média da remuneração inicial feminina comparada à masculina, de outubro a abril

Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego/Dieese, Pesquisa Mensal de Emprego/IBGE e Ipea

foi maior no emprego das trabalhadoras sem carteira assinada (queda de 13,53% no número de empregadas). Salário menor explicaria contratação de mulheres De setembro a abril, o salário de admissão das mulheres foi menor do que o dos homens em todos os setores. A desigualdade foi ainda maior entre os mais escolarizados, cujo salário inicial feminino foi equivalente, em média, a 65,39% do masculino. — Quando a gente olha especificamente o mercado formal, houve uma maior contratação feminina que pode es-

tar associada à estratégia de substituição de trabalhadores que custam mais pelos que custam menos — completou a gerente de projetos da secretaria, Luana Pinheiro. Adriana de Souza sabe que a remuneração das mulheres é inferior à dos homens. Mas isso não a desanima. Aos 33 anos, concluiu o ensino médio para buscar um emprego. Ela não ignora as dificuldades que enfrentará em meio a crise: — As empresas estão exigentes. Experiência e formação são fundamentais — afirmou Adriana, cuja família tem sido sustentada pelo marido. ■

a

O GLOBO NA INTERNET

Como são e como ficariam as taxas oglobo.com.br/economia

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O GLOBO

4

O PAÍS

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 4 - Edição: 6/07/2009 - Impresso: 5/07/2009 — 23: 21 h

O PAÍS

2ª edição • Segunda-feira, 6 de julho de 2009

O GLOBO

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Manobra pode reduzir investimento em Saúde Relator da Lei das Diretrizes Orçamentárias abre brecha para que governo deixa de alocar R$ 480 milhões no setor Eduardo Rodrigues BRASÍLIA.O relatório final sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), apresentado à Comissão Mista de Orçamento do Congresso, abriu uma brecha para que governo deixe de investir em 2010 até R$ 480 milhões a mais na área de Saúde. Recorrendo a manobra contábil, um dos artigos do documento autoriza a transferência dos gastos públicos com hospitais universitários, tradicionalmente computados como despesas do Ministério da Educação, para área da Saúde. Dessa forma, ficará mais fácil para a União cumprir o dispositivo legal que prevê rea-

juste para o orçamento do setor, sem precisar desembolsar quase meio bilhão a mais. Até deputado da base governista critica desvio No texto, divulgado sextafeira, o relator Wellington Roberto (PR-PB) deu parecer favorável à mudança, que terá impacto no cumprimento da chamada Emenda 29. Esta obriga o governo federal a repassar à Saúde o total investido no ano anterior, acrescido da variação do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas os bens e serviços produzidos no país). Se o Brasil crescer 1% este ano, segundo as previsões mais otimistas de especialis-

tas, o governo teria que adicionar ao orçamento da Saúde em 2010 pouco mais de R$ 500 milhões, considerando que em 2008 os gastos federais para o setor somam R$ 59 bilhões. Só que, em vez de acrescentar, a LDO está transferindo o que já é gasto com hospitais universitários para a conta da Saúde pública. Para o líder da minoria na Câmara, Otávio Leite (PSDB-RJ), o valor que se pretende sonegar seria suficiente para manter o funcionamento de pelo menos quatro grandes hospitais pelo período de um ano. — O que mais nos preocupa é que o governo está propondo uma alquimia contábil para tirar uma fábula de di-

nheiro da Saúde com o objetivo de fazer caixa para gastar em outras coisas — afirmou Otávio Leite. Da base governista, mas um dos mais ativos integrantes da bancada da Saúde, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS ) considerou lamentável o parecer favorável do relator e garantiu que vai trabalhar para que o texto não seja aprovado. — Infelizmente, o governo trata o mínimo como o teto para os investimentos em Saúde. É triste verificar que o (Ministério do) Planejamento não privilegia a área, sabendo que somente neste ano faltaram quase R$ 2 bilhões no orçamento do SUS — disse Perondi.

O deputado Geraldo Magela (PT-DF), favorável à alteração, argumenta que este é um debate antigo dentro do governo, que não tem o objetivo de mascarar uma economia com a área. Além disso, como a lei que regulamenta a Emenda 29 — e especifica o que pode ser considerado gasto em Saúde e o que não pode — ainda não foi aprovada, não há nada que impeça a migração da contabilidade, segundo o petista. — Apesar de funcionarem como escolas, os hospitais universitários estão abertos à população como quaisquer outros e, portanto, devem ser incluídos na conta da Saúde. O relatório deve começar a ser discutido na Comissão de

No Brasil, 345 escolas públicas não têm água Censo Escolar do MEC revela a precariedade das instalações de ensino nas zonas rurais do país Hans von Manteuffel

Demétrio Weber e Efrém Ribeiro ● BRASÍLIA e TERESINA. A Escola Municipal Raimundo Antônio de Oliveira, localizada na zona rural do município de Oeiras (PI), a 316 quilômetros de Teresina, não tem água e nem banheiros. A professora e os 34 alunos do ensino fundamental dependem de um jegue para matar a sede e ter merenda. O animal que abastece o colégio percorre mais de dez quilômetros com dois galões no lombo. Quem conta essa história é a professora Adenísia Márcia de Sousa Silva. A falta de água é realidade em pelo menos 345 escolas públicas do semiárido no Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo. O número consta no Censo Escolar 2008, do Ministério da Educação. Mas a situação pode ser bem pior: enquanto o censo registra apenas quatro escolas sem abastecimento no Piauí, um levantamento coordenado pelo governo estadual já localizou 33 colégios sem água.

Além de água, também falta luz nas escolas públicas Um deles é a Escola Municipal José Teodoro, a 60 quilômetros do centro de Oeiras. De acordo com a supervisora de Educação Rural do município, Eliete Vitória dos Santos, um funcionário carrega água diariamente em baldes. A água vem de um poço com bomba movida a óleo diesel. A falta de energia elétrica é outro problema no semiárido. O Censo Escolar informa que 5.731 das 57.882 escolas públicas na região não têm eletricidade. No Piauí, elas são 932. — É um esforço muito grande aprender em uma situação como essa — diz a professora Francisca das Chagas. Na Escola Municipal Dr. Raimundo Campos, zona rural de Oeiras, há 150 alunos sem água nem banheiros, segundo a supervisora Eliete Vitória. — Na zona rural, as crianças e os professores usam as moitas como banheiros. Preocupado com a precariedade da rede pública de ensino,

Numa das escolas, água para a merenda chega de cacimba, levada por uma vizinha BUENOS AIRES (PE). Escola sem água não chega a ser uma realidade incomum no Nordeste. E não é nem preciso ir muito longe. O problema pode ser observado não só em cidades como Alagoinha e Buíque (no agreste) ou Santa Filomena (no sertão), como também naquelas que não ficam no semiárido. É o caso de Buenos Aires, na Zona da Mata, onde se concentra a agroindústria açucareira. Muito verde, a região é marcada por boas temporadas chuvosas. Mas nesse município, a 80 quilômetros

o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) procurou governos estaduais e a Presidência da República. O resultado foi um pacto nacional selado em 2007. A missão deve ser concluída em 2011. O primeiro passo é confirmar a veracidade das informações contidas no censo e localizar as

27, 20

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Em Buenos Aires, PE, faltam torneiras de Recife, quase todos os colégios não possuem água encanada. Alguns não têm nem torneira, como é o caso da escola municipal Nossa Senhora de Fátima, que funciona no engenho Novo Mundo, a dez quilômetros do centro da cidade. Com apenas três salas, a escola tem a água de cacimba garantida por uma vizinha, Ivonete Maria Gomes, de 36 anos. Com o filho Eduardo, de 14, e a ajuda da jumenta Rosely, ela anda meia hora para buscar quatro “tambores” para abastecer o colégio. São quatro fornecimentos por semana, pe-

escolas com problemas. A tarefa foi delegada aos estados, mas, de acordo com o Unicef, três governos não assinaram termo de compromisso nesse sentido: Maranhão, Paraíba e Pernambuco. Minas Gerais e Espírito Santo só firmaram o documento semana passada, segundo o Unicef. O resultado será enviado à

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MEGA-SENA: No concurso 1088, as dezenas sorteadas foram 06, 24, 31, 35, 42 e 57. Não houve acertadores, e o valor do próximo prêmio deve chegar a R$ 8 mi●

lhões. Na quina, 78 apostadores vão receber R$ 19.245,30; na quadra, 5.886 acertadores vão receber R$ 364,33. ●

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sorteadas no concurso 946 foram 03, 04, 06, 08, 20, 21, 24, 25, 26, 31, 36, 43, 52, 64, 74, 75, 79, 91, 98 e 00. Não houve acertadores nas faixas de 20 e zero acertos. O prêmio acumulado deve chegar a R$ 1 milhão. Na faixa de 19 acer tos, 14 apostadores vão receber prêmio de R$ 21.609,38.

•O leitor deve checar os resultados também em agências oficiais e no site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados.

los quais recebe R$ 200 mensais, como prestadora de serviço da prefeitura. Nem mesmo a gravidez de nove meses tem impedido a lavradora de fazer o roteiro diariamente. Além de abastecer a escola, vizinha a sua casa, ela também precisa da água da cacimba para banhar, alimentar, matar a sede e lavar roupa dos oito filhos. Para a merendeira da escola, Maria José Dias de Santana, o trabalho seria complicado sem a ajuda de Ivonete. — Água é tudo na vida. Preciso dela para lavar a escola e preparar a merenda.

Agência Nacional de Águas (ANA), responsável pelos projetos técnicos. Analisando mapas da região, a agência dirá se é melhor furar um poço, fazer um açude, captar água de um riacho ou construir uma cisterna. A coordenadora nacional do Programa de Educação do Unicef no Brasil, Maria de Salete

Silva, diz que é inadmissível que o país tenha uma única escola sem água ou eletricidade. Lembrando que o problema se concentra nas zonas rurais, Maria de Salete conclui: — Essa situação permanece porque é algo que está longe, as pessoas não veem. Imagine se fosse o seu filho. ■

Orçamento amanhã, com votação prevista para a próxima semana, a última antes do recesso — o Congresso não pode entrar oficialmente em recesso se a LDO não for aprovada. Compensação a estados ausente do texto da lei Outra crítica dos parlamentares ao texto do relator é à ausência na LDO de um compromisso do governo com a quitação de parte da dívida da União com os estados, estimada em cerca de R$ 1,3 bilhão, referente à compensação do ano de 2007 garantida pela Lei Kandir— que desonera de tributos estaduais os produtos destinados à exportação. ■

Petrobras explica viagem de seu gerente a Paris Santarosa foi levado por empresa para negociar patrocínio ● Em carta enviada ao GLOBO, a Petrobras informou que o gerente executivo de Comunicação Institucional da estatal, Wilson Santarosa, viajou à França — onde assistiu ao torneio de Roland Garros, convidado pela Koch Tavares — para negociar um torneio de tênis, na América Latina, válido para o ranking da Associação de Tenistas Profissionais. Na reportagem publicada ontem, o GLOBO informou que Santarosa viajou pelo menos em duas oportunidades a Paris, para assistir Roland Garros, com as despesas pagas pela Koch Tavares, que, desde 2004, recebe recursos da Petrobras sem que, para isso, tenha passado por processo de licitação. Sobre o fato de uma das filha de Santarosa, a bióloga Patrícia Lia Santarosa, ter sido contratada pela Fundação José Pedro de Oliveira, a estatal afirma que “a instituição não tinha mais o patrocínio da Petrobras desde o ano anterior” à contratação dela. No entanto, a ONG mantém até hoje, em seu site e no próprio projeto, o logotipo da Petrobras com a informação de que a estatal a apoia. A Petrobras nega que tenha havido favorecimento na escolha de projetos sociais, ambientais e culturais patrocinados pela empresa. Diz que houve uma seleção pública, “com participação de comissões externas integradas por nomes de reconhecida atuação nas respectivas áreas”. Porém, a reportagem nunca fez tal acusação, limitando-se a relatar as denúncias que já apareceram sobre o assunto. A Petrobras disse ainda que possui 4.910 gerentes, “mas a matéria pinça somente 22 pessoas (menos de 0,5%) que possuem histórico sindical”. Todavia, o critério para a produção da lista foi o envolvimento dos gerentes com o sindicalismo petista e as funções que o grupo exerce. ■

Alencar melhora e deve ter alta hoje

Presidente em exercício diz a médicos que tem muito trabalho em Brasília Adauri Antunes Barbosa

SÃO PAULO. Com um quadro de melhora significativa, o presidente em exercício José Alencar deve receber alta hoje pela manhã do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde foi internado às pressas no sábado. O vice-presidente estava sentindo fortes dores abdominais desde sexta-feira, provocadas por uma obstrução intestinal parcial que só foi descoberta depois de uma tomografia. Segundo os médicos que cuidam de Alencar, ele reagiu rapidamente ao tratamento a que foi submetido, à base de soro intravenoso, para hidra●

tar o intestino. Ontem pela manhã estava muito bem, tomou chá, depois almoçou uma canja e à noite fez uma refeição mais reforçada. Sentindose bem, à tarde ele pediu aos médicos para ir embora alegando que tinha muito o que fazer em Brasília. — O médico disse que o presidente já estava bem para ter alta enquanto eu conversava com ele — contou o senador Romeu Tuma (PTB-SP), que visitou Alencar ao meio-dia. — Ele está alegre, tranquilo, mas disse que tem dezenas de atos a serem assinados em Brasília. Os médicos pediram que ele ficasse até amanhã (hoje) cedo.

José Alencar assumiu a Presidência porque o presidente Luiz Inácio da Silva está na Europa para participar da reunião do G8, que começa na quarta-feira em Áquila, Itália. O vice-presidente faz tratamento contra o câncer desde 1997 e já foi submetido a 13 cirurgias para retirada de tumores. A última cirurgia, em janeiro deste ano, para a retirada de tumores no abdômen, durou cerca de 18 horas. No último dia 22, Alencar começou a segunda etapa do tratamento com um novo medicamento contra o câncer que está em fase de pesquisa, em Houston, nos Estados Unidos. ■


O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 21 - Edição: 7/07/2009 - Impresso: 6/07/2009 — 22: 09 h

21

Terça-feira, 7 de julho de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

Caderneta na mira do investidor

Aplicação capta R$ 1,78 bilhão em junho e analistas já veem migração dos fundos Editoria de Arte

Bancos reduzem taxa de administração O estrategista de investimentos pessoais do Santander Real, Aquiles Mosca, diz que não notou recentemente uma migração diferente da que já vem ocorrendo nos últimos oito meses: de cerca de R$ 12 milhões ao mês para a poupança. Mas, como medida preventiva, a instituição reduziu a partir deste mês a aplicação mínima de 14 fundos DI e de renda fixa que cobram taxa de administração mais baixa, em alguns casos de R$ 100 mil para R$ 30 mil, de R$ 50 mil para R$ 10 mil e de R$ 10 mil para mil reais. Recentemente, Bradesco, Itaú e HSBC anunciaram medidas semelhantes. E Banco do Brasil e Caixa reduziram suas taxas de administração em fundos DI e de renda fixa. De acordo com cálculos do matemático José Dutra Sobrinho, com a atual Selic, os fundos DI e de renda fixa que cobram taxas superiores a 1,5% ao ano já entregam ao investidor um ganho menor do que o da tradicional caderneta de poupança. Em maio, de olho no risco de migração de recursos da caderneta para os fundos, o Ministério da Fazenda anunciou duas frentes de atuação. De um lado, estabeleceu uma intrincada fórmula de tributação, a partir de 2010, de parte dos depósitos na caderneta que excederem os R$ 50 mil. De outro, adiantou que poderia reduzir a tributação sobre fundos de investimento. Mas, apesar do forte aumento dos depósitos da poupança nos últimos 60 dias, o governo entende que o movimento ainda não é significativo. Avalia-se que ainda não é necessário fazer mudanças na tributação dos fundos de investimento. Segundo um assessor do ministro da Fazenda, Guido Mantega, enquanto os fundos têm mais de R$ 500 bilhões em depósitos, a poupança tem cerca de R$ 200 bilhões. — Os depósitos líquidos na poupança nos dois últimos meses somam R$ 3,15 bilhões. Isso equivale a cerca de 0,6% do total existente nos fundos. Não é relevante — disse o técnico. Em junho, os fundos DI e renda fixa acumularam, em média, rentabilidade de 0,79%, segundo a Anbid. No ano, os fundos DI rendem 5,47%, em média, e os de renda fixa, 5,64%, enquanto a caderneta acumula ganho de 3,58%.

a

O GLOBO NA INTERNET

Veja a tabela completa com as comparações entre o rendimento dos fundos e da caderneta de poupança oglobo.com.br/economia

OS NÚMEROS DA POUPANÇA

Captação líquida em R$, pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (exclui poupança rural)

COMO FOI A CAPTAÇÃO ESTE ANO

Depósitos menos saques, em R$ milhões

MAR

981,450 milhões

Retirada de 2,015 bilhões

RENDA FIXA NO ANO

R$ 7,24 bilhões

-R$ 7,85 bilhões

1,156 bilhão

AGO

1,743 bilhão

SET

1,779 bilhão

1.374

459

0

-147 -888,843

-526,285

-1.580

Renda Rend Fixa Referenciado Refe DI Cambiais Camb Ações Aç Açõe Ibovespa FGTS Petrobras FGTS Vale COMPARE COMP Poupança Poup IGP-M IGPDólar Dóla Ibovespa Ibov

OUT

2,165 bilhões ões

NOV

1.788

A RENTABILIDADE DOS FUNDOS

1,627 bilhão

JUL

863,158

-2.109

R$ 1,71 bilhão

2.602

2.451

1.781

-900,873

POUPANÇA NO ANO

1,334 bilhão

JUN

Retirada de 411,980 milhões

93

FUNDOS DI NO ANO

ABR

MAI

2.382

JUN

1,119 bilhão

MAI

FEV

-1.847

ABR

23,351 milhões

JAN/2008

MAR

captação líquida (depósitos menos saques) da poupança voltou a crescer em junho e, pela primeira vez, o resultado acumulado no ano ficou positivo em R$ 1,71 bilhão. No mês passado, os depósitos na caderneta superaram os saques em R$ 1,788 bilhão, na maior captação líquida mensal do ano. Na opinião de especialistas, o movimento já pode ser um reflexo da migração de investidores dos fundos de renda fixa para a caderneta, que ficou mais atraente devido à queda dos juros básicos da economia para o inédito patamar de um dígito. Em junho, os depósitos na poupança somaram R$ 71,712 bilhões, enquanto as retiradas ficaram em R$ 69,923 bilhões. Em contrapartida, os fundos de investimento DI e de renda fixa, que compram títulos públicos atrelados à taxa básica de juros Selic, atualmente em 9,25% ao ano, têm perdido recursos. Os DI (pós-fixados, que acompanham a variação dos juros) perderam R$ 2,751 bilhões no mês passado. Foi o segundo mês consecutivo de resgates líquidos nesses fundos, que, no ano, já perderam R$ 7,847 bilhões. Como há a expectativa entre analistas de que os juros não vão cair muito mais, até os fundos de renda fixa, prefixados, que levam vantagem em caso de uma queda mais acentuada da Selic, começaram a perder aplicações. Em junho, R$ 1,847 bilhão deixou esses fundos, segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). No ano, essas carteiras ainda registram captação positiva de R$ 7,235 bilhões. — Apesar da negação do governo, o resultado já mostra claramente o início da migração da renda fixa para a poupança, principalmente de valores até R$ 60 mil. Acima disso, ainda é mais vantajoso permanecer nos fundos — diz o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Roberto Vertamatti. Além de não pagar taxa de administração, a caderneta é isenta de Imposto de Renda (IR). Com os recentes cortes nos juros básicos, a remuneração de muitos fundos acaba sendo menor do que o ganho garantido na poupança, de 0,5% mais Taxa Referencial (TR) ao ano. Mas alguns analistas acreditam que ainda é cedo para afirmar que está havendo uma migração. — Agora que as pessoas vão receber os extratos de seus fundos e começar a comparar — diz o administrador de investimentos Fabio Colombo, que cita o fato de os fundos terem rentabilidade diária como vantagem.

FEV

A

BRASÍLIA e RIO

JAN

Eduardo Rodrigues, Martha Beck e Felipe Frisch

-1.602 -2.751 EM JUNHO 0,79% 0,79% -1,01% -2,51% -6,97% -9,32%

NO ANO 5,64% 5,47% -15,28% 30,70% 44,80% 25,34%

0,56% -0,10% -0,30% -3,25%

3,58% -1,24% -15,85% 37,06% FONTE: Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), FGV, Economática e Banco Central

4,317 bilhões

DEZ

Retirada de 900,873 milhões

JAN/2009

863,158 milhões

FEV

Retirada de 888,843 milhões Retirada de 526,285 milhões

MAR ABR

1,374 bilhão

MAI

1,788 bilhão

JUN/2009

NO ANO

1,71 bilhão

SALDO EM 2008

SALDO EM 2009

Janeiro

Janeiro

Dezembro

Junho

188,805 bilhões 215,400 bilhões

215,817 bilhões 224,517 bilhões

FONTE: Banco Central

Moody’s melhora perspectiva para Brasil Agência pode elevar país a grau de investimento. Bolsa cai 0,61% e dólar sobe 0,41% Juliana Rangel* ● RIO, BRASÍLIA e NOVA YORK. A notícia de uma possível elevação da nota de classificação de risco do Brasil pela agência Moody’s teve pouca influência, mas ajudou a reduzir as perdas da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Faltando meia hora para o fim dos negócios, o Ibovespa, seu principal índice, saiu de um recuo superior a 1,50% para queda de 0,61%, aos 50.622 pontos. A Moody’s colocou em perspectiva positiva a nota do Brasil e, se melhorar sua avaliação, o país será considerado grau de investimento pela agência. A melhora na Bolsa brasileira ontem, porém, teve forte colaboração dos mercados americanos. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, recuperou-se no fim do dia e fechou em alta de 0,53%. Nasdaq caiu 0,51%, e S&P subiu 0,26%.

Investidores embolsam ganhos. Ações da Petrobras caem 2,18% e as da Vale, 1,80% Ontem, o dólar subiu 0,41%, para R$ 1,961. O Banco Central (BC) comprou a moeda a R$ 1,97. Ao longo do dia, o que deu o tom dos negócios nos mercados foi uma piora nas estimativas para a retomada da economia global. — Houve também uma realização de lucros (quando os investidores embolsam ganhos recentes), já que a Bovespa subiu 37% em real e 63% em dólar no primeiro semestre — explicou Álvaro Bandeira, economista da Ágora. Entre as quedas, estiveram ações ligadas a commodities. As ações preferenciais (PN) da Petrobras caíram 2,18% e as da Vale, 1,80%. A mineradora informou que pretende emitir duas séries de notas globais com vencimento em 2012. As notas poderão ser trocadas por ações negociadas nos EUA. Cada uma representará

uma ação ordinária (ON) ou PN da Vale. A Moody’s será a última das três maiores agências do mundo — as outras são Standard and Poor’s (S&P) e Fitch — a rever a nota do Brasil para dívida em moeda local e estrangeira, atualmente em “Ba1”. Se alterada, a nova nota sairá em, no máximo, três meses. Em três dias úteis, a balança comercial brasileira teve superávit de US$ 618 milhões na primeira semana de julho. O mercado reduziu sua

CORPO

projeção para a produção industrial brasileira este ano, para queda de 5,37%, contra 5,04% antes, segundo a pesquisa semanal Focus, do BC. ■ (*) Com agências internacionais

O GLOBO NA INTERNET

o que significa o grau de investimento para a umEntenda país oglobo.com.br/economia

A

CORPO

MAURO LEOS

‘O país lidou melhor com a crise’ ● Com mais de um ano de atraso em relação a outras agências classificadoras de risco, a Moody’s poderá elevar, em até três meses, o Brasil ao grau de investimento. Para o analista responsável pela América Latina da agência, Mauro Leos, o país passou no teste da crise, enquanto outros foram muito mal.

O GLOBO: Por que a Moody’s decidiu acenar com a elevação da nota do Brasil? MAURO LEOS: Principalmente porque houve uma mudança na estrutura da dívida pública. Antes, parte importante era atrelada a dólar e, quando havia desvalorização do real, isso afetava o governo. Agora, apesar de o real ter se desvalorizado, não afetou as contas. E o Banco Central se comprometeu com meta de inflação e câmbio flexível, o que permitiu que baixasse as

taxas de juros sem afetar as expectativas do mercado para o câmbio. Antes, quando havia um choque externo, o Brasil subia juros para evitar fuga de capital. Essa já não era a situação em 2008? LEOS: Em 2008 o Brasil tinha dívida fiscal muito maior que países com grau de investimento. E, até meados do ano, a economia mundial estava bem, mas achávamos que ia piorar e não sabíamos como as autoridades iriam agir. Meses depois, a economia está crescendo menos, o déficit está maior e as exportações ainda estão ruins, mas o Brasil lidou melhor com a crise que outros países. Os mercados doméstico e externo, depois de um período curto de saída de capitais, não perderam a confiança. (Juliana Rangel) ●


O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 15 - Edição: 8/07/2009 - Impresso: 7/07/2009 — 22: 11 h

15

Quarta-feira, 8 de julho de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

Carga recorde. De novo

Em 2008, mesmo sem a CPMF, peso de impostos sobre os brasileiros foi de 35,8% Fernando Alvarus e Alvim/Editoria de Arte

Martha Beck e Eduardo Rodrigues

M

BRASÍLIA

esmo diante da perda de R$ 40 bilhões em recursos da CPMF e da crise financeira mundial — que desacelerou bruscamente a atividade econômica entre outubro e dezembro e obrigou o governo a fazer desonerações de R$ 16 bilhões — a carga tributária brasileira atingiu o recorde de 35,8% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) em 2008. O número representa aumento de 1,08 ponto percentual 2004 sobre 2007, quando o peso dos impostos no bolso dos b r a s i l e i ro s c h e g o u a 34,72% do PIB. Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, além de a carga ser elevada, os recursos pagos pelos cidadãos são mal em1980 pregados pelo governo. Segundo estudo divulgado ontem pela Receita Federal, mesmo com a crise, a economia cresceu 5,1% em termos reais no ano passado. Isso contribuiu para reforçar a arrecadação do Imposto de Renda (IR) e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), que refletem a lucratividade das empresas. Além disso, o governo elevou as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e da CSLL para compensar a perda da CPMF.

TRIBUTAÇÃO CADA VEZ MAIS PESADA 2005

0,56

Imposto de Renda da

0,4 0,39

IOFF MS ICMS

0,25 0,23 0,19

Previdênciaa ns Cofins

2006

33,5%

LL CSLL

IPII

0,12 0,08 0,07

PISS

0,05

Imposto de Importaçãoo TS FGTS

2007

32,2%

34,7%

BRASÍLIA. Embora a carga tributária bruta tenha atingido valor recorde de 35,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2008, a carga líquida — quando são excluídos o pagamento de benefícios previdenciários, os programas sociais e a quitação de juros da dívida pública — ficou em 14,85% do PIB, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O trabalho afirma que a carga líquida mostra mais claramente com quanto dos impostos o governo fica para administrar os gastos públicos em geral. Segundo o Ipea, as transferências para o INSS e para pagar subsídios e programas como o Bolsa Família somaram 15,3% do PIB em 2008. Já os gastos com os juros da dívida pública ficaram em 5,61% do PIB. O estudo apresenta ainda uma série histórica pela qual a carga tributária bruta do país saltou de 24,5% do PIB em 1980 para 35,8% do PIB em 2008. — A carga bruta subiu 11,3 pontos percentuais entre 1980 e 2008. Isso se explica pela ampliação dos direitos sociais e também pela necessidade do governo de pagar os juros da dívida — afirmou o presidente do Ipea, Márcio Pochmann. Ele destacou que os gastos sociais e previdenciários do governo eram de apenas 7,3% do PIB em 1980. Já as despesas com o pagamento de juros da dívida pública somavam 1,7% do PIB na mesma época. Com isso, a carga tributária líquida era de 15,5% do PIB em 1980. Pochmann ponderou que, considerando o montante da arrecadação destinado à Previdência e a programas sociais, grande parte da carga retorna à população de baixa renda: — A maior parte do aumento da carga tributária retornou para os extratos de renda menores no Brasil. Numa comparação feita pelo Ipea com 18 países e com dados de 2007, a carga tributária bruta do Brasil está acima da registrada no Canadá (33,1% do PIB), na Coreia do Sul (26,8% do PIB) e na Polônia (36,5% do PIB). Porém, quando se observa a carga tributária líquida, a brasileira fica menor que a desses países: 13,1%, contra 22,5%, 24,7% e 17,7%, respectivamente. (Martha Beck)

0,24

is Demais

TRIBUTOS QUE CONTRIBUÍRAM PARA A REDUÇÃO DA CARGA TRIBUTÁRIA EM 2008

(em pontos percentuais)

2008

35,8%

24,5%

Ipea aponta peso de gastos sociais e juros

(em pontos percentuais)

Em % do PIB

33,3%

-1,377

CPMF

-0,100

A COMPOSIÇÃO DA CARGA TRIBUTÁRIA EM 2008

Cide

-0,022

Previdência dos Estados

-0,022

Demais

GOVERNO FEDERAL: RECEITAS X DESPESAS Em R$ milhões

UNIÃO

24,9% do PIB

No ano, União foi a que mais arrecadou Diante desse quadro, a União foi o principal responsável pelo aumento da carga no ano passado. As receitas do governo federal responderam por 24,9% do PIB — com alta de 0,56 ponto percentual sobre 2007. Em segundo lugar, ficaram os estados, com carga de 9,2% do PIB — 0,43 ponto maior do que em 2007. Já os municípios fecharam 2008 com carga de 1,6% do PIB, praticamente estável. — O esforço fiscal que o brasileiro está fazendo foi maior em 2008 do que em 2007 — reconheceu o coordenador-geral de Estudos, Previsão e Análise da Receita Federal, Marcelo Lettieri. Segundo ele, em 2009, a tendência é que haja uma queda na carga tributária. Isso porque a crise econômica diminuiu o ritmo da atividade no país e obrigou o governo a fazer grandes desonerações. O processo de elevação da carga tem sido crescente. A última vez em que houve redução da carga foi em 2003, quando ela caiu levemente de 32% para 31,4% do PIB. Segundo especialistas, a alta da carga está relacionada ao aumento de gastos do governo. Os gastos do governo federal, por

TRIBUTOS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O AUMENTO DA CARGA TRIBUTÁRIA EM 2008

2004 2005 2006 2007 2008

RECEITAS 419.615 21,61% do PIB 488.375 22,74% do PIB 543.505 22,93% do PIB 618.873 23,82% do PIB 716.647 24,90% do PIB

DESPESAS 302.759 15,59% do PIB 351.765 16,38% do PIB 401.977 16,96% do PIB 455.618 17,54% do PIB 497.927 17,23% do PIB

A CARGA TRIBUTÁRIA LÍQUIDA

Carga tributária total descontados o pagamento de benefícios previdenciários, programas sociais e juros da dívida pública

19 1980

1 14,85%

1 15,5% ESTADOS

9,2% do PIB

07 2007

MUNICÍPIOS

1,6% do PIB

2008

0 13,06% 2005

1 % 11,55% 04 2004

2006

11,3335 11,35%

11 85% 5% 11,85% FONTE: Receita Federal, Ipea, Tesouro Nacional

exemplo, saltaram de 15,59% do PIB em 2004 para 17,23% em 2008. A maior parte desses gastos é vinculada — à Previdência, aos salários do funcionalismo e aos programas sociais — o que dá à União pouca margem para fazer cortes e, com isso, devolver recursos aos cidadãos. O documento do Fisco enumera como os tributos que mais contribuíram para o aumento da carga em 2009 o Imposto de Renda (0,56 ponto percentual), o IOF (0,4 ponto) e o ICMS (0,39 ponto). Já o fim da CPMF ajudou a evitar um aumento ainda mais forte

da carga (reduzindo o peso dos impostos em 1,37 ponto). Lettieri destacou ainda que a carga tributária brasileira está fortemente ligada à arrecadação de impostos sobre o consumo — o que torna maior o fardo dos mais pobres do que o dos mais ricos. Segundo o ex-secretário da Receita Everardo Maciel, o crescimento da carga tributária seria ainda maior se a crise internacional não tivesse freado a expansão da economia brasileira a partir de setembro do ano passado. Para ele, no entanto, o foco não deve

estar apenas no tamanho da carga — cujo aumento já era esperado —, mas na forma como o volume arrecadado é empregado pelo governo. — O que verificamos são gastos equivocados com contratação de pessoal, aumentos de salários, desperdícios e corrupção — disse. — A administração pública precisa agir como uma empresa, utilizando recursos escassos da melhor maneira possível. Para isso, é urgente a conclusão das reformas tributária e previdenciária — disse Felipe Salto, economista da consultoria Tendências. ■

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O GLOBO

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ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 28 - Edição: 12/07/2009 - Impresso: 11/07/2009 — 11: 08 h

ECONOMIA

Domingo, 12 de julho de 2009

O GLOBO

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BC pode subir os juros por causa das eleições Com Dilma e Serra se opondo à atual política monetária, alta de taxa em 2010 teria como alvo inflação de 2011 Editoriade de Arte Arte Editoria

Patrícia Duarte ● BRASÍLIA. A equipe econômica avalia que os agentes de mercado já estão incorporando as eleições presidenciais de 2010 nas suas operações. O principal indicador desta “politização dos números” são as projeções para os juros básicos do país. Tanto no mercado futuro de juros quanto na pesquisa Focus realizada pelo Banco Central (BC) — que ouve semanalmente cerca de 80 instituições toda semana — as estimativas mostram que a Taxa Selic deverá voltar a subir no próximo ano. Esta curva, afirmam os técnicos, não tem fundamento macroeconômico. Reforça a avaliação interna o fato de os dois principais précandidatos à Presidência da República serem Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), críticos da atual condução da política monetária adotada pelo BC. A Selic está em 9,25% ao ano, menor patamar histórico, e a expectativa do mercado, segundo o Focus, é que ela feche 2009 em 8,75%. Para 2010, no entanto, os especialistas apostam que a taxa voltará a 9,25%. Nos mercados futuros, o movimento é o mesmo. As taxas para janeiro de 2010 estão em 8,71% e, para 2011, em 9,79%.

Inflação, na verdade, tenderia a desacelerar Esse cenário é importante, porque são justamente esses juros futuros que servem de parâmetro para o custo das operações de crédito, por exemplo. — Não tem outra coisa para pensar. Nós achamos que o processo político está influenciando essas projeções — disse uma fonte da área econômica do governo. A equipe lista suas evidências. Primeiro, a inflação está sob controle, com sinais de arrefecimen-

Saiba mais sobre os indicadores EVOLUÇÃO DAS EXPECTATIVAS DO MERCADO, VIA PESQUISA FOCUS*

TRAJETÓRIA DE INFLAÇÃO NO BRASIL EM 2009

Jan/09: 0,48% Fev: 0,55% Mar: 0,20%

9,30% 7,60%

Abr: 0,48% Mai: 0,47% Jun: 0,36%

Inflação pelo IPCA (%) Período 2009 2010

5,90%

5,69%

Período 2009 2010

3,14% 2004

2005

2006

2007

2008

PIB (%) Período 2009 2010

Desempenho do PIB

(frente ao trimestre anterior):

1,9

1º tri/08

1,4

3º tri 4º tri

Período 2009 2010

1º tri/09

Há uma semana 8,75 9,25

Atual 8,75 9,25

Há 4 semanas -0,71 3,50

Há uma semana -0,50 3,50

Atual -0,50 3,50

Há uma semana 4,30 3,90

Atual 4,33 3,90

Há 4 semanas 4,30 4,00

Taxa de câmbio no fim do ano (R$/US$)

-3,6

Período 2009 2010

-0,8

Há 4 semanas 2,00 2,10

Há uma semana 2,00 2,00

Fontes: Banco Central e IBGE. *Dados colhidos até 3 de julho, últimos disponíveis

to e dentro da meta prevista para os próximos anos, de 4,5% pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Pelo Focus, o mercado prevê o indicador em 4,42% neste ano e em 4,33% em 2010. Na semana passada, por exemplo, foi divulgado que o IPCA fechou junho com alta de 0,36%, contra 0,47% em maio. Outro ponto é a atividade econômica. Apesar da já constatada recuperação, ainda está longe do seu potencial — entre 3,5% e 4% ao ano. O que se diz é que o Produto Interno Bruto (PIB) pode avançar com folga entre oferta e demanda. Ou seja, sem pressões inflacionárias. O BC projeta que a economia vai crescer apenas 0,8% este ano, e a

olho na inflação de 2011, já que decisões de política monetária demoram até nove meses para surtir efeito na economia. Ao aumentar os juros, o BC encarece os custos dos financiamentos, inibindo o consumo e, consequentemente, segurando altas de preços. — O (atual) nível de juros é para estimular a economia. Quando o crescimento for maior, essa taxa pode ficar inflacionária — afirmou o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles.

Quando o crescimento for maior, esse juro pode ficar inflacionário Elson Teles, economista Fazenda, 1%. Para 2010, o mercado prevê expansão de 3,5%. Os especialistas avaliam que depois das eleições — marcadas para outubro de 2010 —, o BC vai ter de aumentar os juros básicos novamente. Mas muito mais de

Atual 4,42 4,33

Há 4 semanas 9,00 9,15

Preços administrados (%)

1,6

2º tri

Há uma semana 4,40 4,32

Taxa Selic no fim do ano (% anuais)

4,46%

2003

Há 4 semanas 4,33 4,30

Câmbio valorizado ajuda a criar ‘colchão’ de proteção Neste momento, a inflação sofre diversas influências. Em primeiro lugar, vêm os alimen-

Atual 1,99 2,00

Achamos que o processo político está influenciando essas projeções Técnico da área econômica do governo tos, cujas expectativas são de aumento nos preços das principais commodities, algo entre 5% e 10% até 2010. Até o BC já tem uma certa preocupação nesse sentido, mas há também avaliações que minimizam as projeções mais

pessimistas. Uma delas é o câmbio valorizado, com teto de R$ 2, que deve servir como uma espécie de colchão para essas prováveis subidas, além da queda nos preços dos principais insumos agrícolas, depois da arrancada no período mais agudo da crise internacional. O Banco do Brasil (BB), por exemplo, calcula uma queda entre 15% e 20% neste segmento. Outro fator importante, e também positivo, são os preços administrados que, no próximo ano, deverão crescer menos também por causa do câmbio. Pelo Focus, o mercado calcula que os preços dos serviços públicos vão subir 4,33% em 2009. Mas, em 2010, apenas 3,90%. ■

Brasil vive invasão silenciosa de empresas japonesas Em 2008, país asiático se tornou o quinto maior investidor direto, pulando do 16 o- lugar no ano anterior Eduardo Rodrigues ● BRASÍLIA. No embalo das comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil, as grandes corporações nipônicas silenciosamente desembarcaram no ano passado bilhões de dólares em investimentos no país. Com o crescimento de 81,35% nos investimentos em mineração (US$ 3,334 bilhões) e com a expansão de 168% na aposta no etanol brasileiro (US$ 145,49 milhões), o Japão tornouse, em 2008, o quinto maior investidor direto do Brasil (9,34% do total), após ocupar a 16 a- posição um ano antes e estar distante do grupo de elite dos investidores diretos desde 2003. O movimento demonstra o otimismo dos japoneses em relação ao mercado brasileiro e, na contramão da crise, a expectativa é de crescimento da participação nos próximos anos. A compra de 40% da Namisa — mineradora do grupo Usiminas — foi determinante para o salto na conta de investimentos japoneses no Brasil em 2008. O grupo Big Jump Energy, liderado pela Itochu Corp. e formado por cinco siderúrgicas japonesas e uma coreana, desembolsou US$ 3,08 bilhões no negócio. Para garantir o volume de exportações de minério para o país asiático, a Vale recebeu financiamento e incentivos do Banco do Japão para Cooperação Internacional (uma linha de até US$ 3 bilhões) e da Nippon Export and Investment Insurance (seguro de até US$ 2 bilhões para empréstimos). Além disso, a gigante brasileira recebeu um aporte de 78,4 bilhões de ienes (cerca de US$ 735 milhões) de um poderoso conglomerado japonês, a Mitsui. — Com o contínuo aumento da demanda por minério de ferro, sobretudo pela China,

Uma parceria com a Vale é quase a realização de um sonho

Editoria de Arte

A presença nipônica INVESTIMENTO DIRETO JAPONÊS NO BRASIL

MINERAÇÃO

POSIÇÃO % DO RANKING TOTAL

3,93

US$ MILHÕES

2001

826,60

Hideki Asano, da Mitsui chegamos a uma situação de aperto na oferta mundial. Nesse contexto, a oportunidade de uma parceria estratégica com a Vale é quase como a realização de um sonho — considera o diretor de Planejamento Estratégico da Mitsui no Brasil, Hideki Asano.

Projeto do trem-bala envolve transferência tecnológica A empresa também se juntou à Petrobras em uma jointventure — chamada PCBios — para produzir etanol e exportar até 3,5 bilhões de litros para o país asiático em 2011. Além da construção de destilarias no país, a parceria prevê a construção de um alcoolduto ligando o interior de Goiás à Refinaria do Planalto (Replan), em Paulínia (SP), e ao Porto de São Sebastião (SP). — O Japão é a segunda maior economia do mundo, com grande capacidade de financiamento e detentor de muita tecnologia. São investimentos importantíssimos, mas ainda muito ligados a garantias de atendimento das demandas japonesas por matérias-primas — avalia o presidente do Conselho de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José de Freitas Mascarenhas. Os investimentos em outros setores, com transferências de

11º

2,68

ONDE ESTÃO OS JAPONESES

2002

504,48

10,6

2003

14º

1,2

2004

10º

3,62

2005

779,08

11º

2,91

2006

647,52

16º

1,38

2007

O grupo Big Jump, formado por cinco siderúrgicas japonesas e uma coreana, comprou 40% da Namisa (do grupo Usiminas) por US$ 3,08 bilhões. A Mitsui investiu cerca de US$ 735 milhões na Vale, que também teve acesso a linhas de financiamentos do Banco do Japão para Cooperação Internacional (até US$ 3 bilhões) e da Nippon Export and Investment Insurance (US$ 2 bilhões)

1.368,35

ETANOL

Em parceria com a Petrobras, a Mitsui criou a “joint-venture” PCBios para produzir etanol e exportar para o Japão. A parceria ainda prevê a construção de um alcoolduto ligando o interior de Goiás ao Porto de São Sebastião (SP)

243,17

AUTOMÓVEIS

A Mitsubushi ampliará a linha de montagem em Catalão (GO) e a Toyota construirá uma nova fábrica em Sorocaba (SP) com capacidade para produzir 150 mil veículos por ano

464,63

ELETROELETRÔNICOS

9,34

4.098,78

2008

PRINCIPAIS SETORES INVESTIMENTOS (R$ milhões) Extração de minério de ferro Etanol Aço Automóveis

2007 0,26 54,28 39,33 125

2008 3.334,70 145,49 142,33 78,81

A Sharp voltou a fabricar no Brasil após nove anos e a Semp Toshiba também pretende aumentar a produção. Ambas de olho no mercado de TV digital

TREM-BALA

Mitsui, Kawasaki, Toshiba e Mitsubishi Indústrias Pesadas formam um grupo interessado em construir o trem-bala brasileiro, avaliado em US$ 11 bilhões

Fonte: Banco Central e empresas

tecnológicas, começam a entrar na pauta dos japoneses, como mostra o empenho do país para levar a licitação do trem-bala (avaliado em mais de US$ 11 bilhões). O grupo de companhias formado por Kawasaki, Toshiba, Mitsui e Mitsubishi — que já exportou a tecnologia para outros países asiáticos, como Taiwan e China — é um dos principais interessados.

— A Shinkansen (rede ferroviária de alta velocidade japonesa) é a mais conhecida do mundo, em operação há mais de 45 anos sem nenhum acidente fatal. O trem-bala será uma grande contribuição ao desenvolvimento do Brasil, além de ser um projeto simbólico, coroando a centenária relação entre os dois países — afirma o diretor de Projetos de Transporte da

Mitsui, Hayato Yanagisawa. Os nipônicos também pretendem decolar de vez na indústria de eletrônicos, aproveitando a popularização da TV digital e seus recursos, como a portabilidade e a interatividade. A Sharp — que após nove anos fora do país, voltou a fabricar televisores no Brasil em 2008, em outra parceria da Mitsui — estaria interessada na fabricação de

Esperamos boa resposta do mercado de TVs, devido ao sinal digital e à Copa Yasutoshi Miyoshi, da Primotech21

celulares de última geração, por considerar o padrão digital japonês adotado no Brasil uma vantagem competitiva em relação à concorrência.

Mitsubishi vai abrir linha de montagem em Goiás A Semp Toshiba, com 40% de capital japonês, também estaria interessada em se expandir. Nos dois casos, o Japão investe com um olho no Brasil e outro na América do Sul, que em breve também deve optar pelo padrão nipo-brasileiro de TV digital. — Apesar do volume tímido até o momento, esperamos uma boa resposta do mercado de televisores em 2009 e 2010, devido à ampliação da cobertura do sinal digital e à proximidade da Copa do Mundo de futebol, que estimula a troca de aparelhos — prevê Yasutoshi Miyoshi, presidente da Primotech21, fornecedora de componentes para os principais fabricantes de equipamentos que usam a tecnologia digital. Outros setores também estão no alvo japonês. A Mitsubishi brasileira, por exemplo, está criando com o aval da fábrica japonesa uma nova linha de montagem em Catalão, interior de Goiás, onde já fabrica um tipo de automóvel. A Toyota construirá uma nova montadora em Sorocaba (SP), para a produção de 150 mil veículos por ano, a partir de 2011. ■


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ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 15 - Edição: 15/07/2009 - Impresso: 14/07/2009 — 22: h

15

Quarta-feira, 15 de julho de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

TROCA DE COMANDO

CRONOLOGIA DA CRISE

No gabinete 19 FEV do ministro da Fazenda, Guido Mantega, não se admite a hipótese da saída de Lina. O presidente Lula declara à secretária em evento sua admiração por seu filho humorista, Mução

2008

O GLOBO revela que a 10 MAI Petrobras, usando uma manobra contábil, deixou de pagar R$ 4,3 bilhões em impostos e contribuições A oposição 15 MAI vence a queda de braço com o governo e consegue criar a CPI da Petrobras

A coluna de Jorge Bastos Moreno no GLOBO revela a de demissão de Lina por Mantega, qu ficara irritado por não ter que si informado sobre a sido in investigação da Receita sobre a ma manobra contábil da Petrobras, nu processo que acelerou as num ar articulações para a criação da CPI da Petrobras

11

JUL

2009 A nova secretária da Receita Federal diz considerar caótico o atendimento do Fisco ao consumidor. Ela atribui as dificuldades à fusão das estruturas de arrecadação de Receita e Previdência, ocorrida em 2007

7

AGO

A atuação de Lina desencadeia uma rede de intrigas no órgão. Opositores Jorge Rachid a acusam de escolher nomes para cargos de chefia com base em interesses sindicais e desmontar uma estrutura eficiente, criada por Everardo Maciel e continuada por Jorge Rachid, que o sucedeu

15

FEV

Nos bastidores do JUN Governo há gente arrependida com a troca de Jorge Rachid por Lina Vieira. A avaliação é que não há crise capaz de justificar a queda de 6,06% na arrecadação

27

JUN

Aos mais próximos, Lula teria declarado sua intenção em demitir Lina Vieira

9

JUL

O ministro Guido Mantega informa a Lina que vai afastá-la do cargo

Cinco dias após ter afastado Lina, Mantega ainda não anunciou o nome do novo secretário da Receita

ONTEM

Fazenda sob pressão

Superintendentes da Receita fazem exigências a Mantega para escolha de novo secretário Givaldo Barbosa

Martha Beck e Eduardo Rodrigues

A

demissão da secretária da Receita Federal, Lina Vieira, pode levar a um motim no Ministério da Fazenda. Comunicada de que está fora do governo, mas na prática ainda no cargo, Lina convocou ontem seus assessores e os superintendentes das dez regiões fiscais, que passaram o dia reunidos com a secretária em seu gabinete preparando um relatório sobre sua gestão e uma lista de demandas a serem apresentadas ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo fontes da Receita, os superintendentes exigem duas condições para que a saída de Lina não resulte numa demissão em massa no Fisco: que o sucessor dela não venha dos quadros da Previdência Social e que não seja remanescente da gestão do ex-secretário Jorge Rachid. Isso dificulta a escolha de alguns nomes que estão na mesa de Mantega. Valdir Simão, atual presidente do INSS e muito afinado com o secretário-executivo Nelson Machado, é auditor da Previdência. Já os exsecretários-adjuntos da Receita Paulo Ricardo Cardoso — atual diretor de gestão da Dívida Ativa da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) — e Carlos Alberto Barreto — que hoje comanda o Conselho de Administração de Recursos Fiscais — são nomes da gestão Rachid.

Exoneração deve ser publicada hoje Odilon Neves Júnior, atual subsecretário de Gestão Corporativa da Receita, também está sendo considerado para suceder Lina. No entanto, na avaliação da Casa Civil e da cúpula da Fazenda, ele seria um nome fraco para tomar as rédeas da máquina do Fisco. Um quinto nome teria surgido e sido convidado ainda ontem, mas não deu resposta a Mantega. Num ato público para demonstrar

Especialista critica atrasos em projetos

BRASÍLIA

RIO e BRASÍLIA. Especialistas e auditores que trabalham na área têm críticas à gestão de Lina Vieira na Receita Federal. Felipe Dutra, professor de Pós-Graduação em Direito Tributário do Ibmec-RJ, cita como ponto fraco na atuação da Receita nos últimos meses o atraso na entrega do programa da Declaração do Imposto Pessoa Jurídica (DIPJ). Dutra critica ainda a falta de definição em projetos que seriam ampliados este ano, como os sistemas de escrituração fiscal e digital e a nota fiscal eletrônica. Na sua opinião, esses problemas podem gerar um descrédito no trabalho realizado pela Receita: — As empresas se prepararam e tiveram que esperar (pelo DIPJ). Além disso, a escrituração fiscal e digital e a nota fiscal eletrônica são importantes na fiscalização. Para auditores da área, a gestão de Lina Vieira na Receita Federal representou um retrocesso do ponto de vista da fiscalização. Eles afirmam que a estratégia de fiscalização ainda não foi colocada em prática. Entre janeiro e junho de 2009, as autuações de pessoas físicas e jurídicas somaram R$ 26 bilhões. No mesmo período no ano passado, o montante foi de R$ 29,3 bilhões. Além disso, foram eliminadas metas de fiscalização e foi dada aos auditores a opção de escolher fiscalizar ou não uma empresa. (Erica Ribeiro e Martha Beck) ●

LINA VIEIRA (de blazer azul) na saída de almoço com os dez superintendentes regionais: ato para demonstrar solidariedade à chefe

a solidariedade de seus principais assessores, Lina almoçou ontem em uma galeteria à beira do Lago Paranoá com os dez superintendentes regionais do Fisco. Sete deles foram conduzidos ao cargo por Lina. A postura dos superintendentes colocou Mantega numa saia justa. O ministro, que até o início da noite de ontem ainda estava reunido em seu gabinete escolhendo o novo comandante da Receita Federal, demonstrou irritação ao ser perguntado sobre o assunto por jornalistas mais cedo: — Quando eu tiver novidade para dizer, falarei com os senhores. Mantega, que sai de férias amanhã, precisa dar uma solução para o impasse o mais rapidamente possível. Uma nota justificando a demissão de Lina já está pronta. Nela, a Fazenda argumenta que a Petrobras — que fez compensações bilionárias de impostos com base numa manobra tribu-

tária que está sendo alvo de investigação do Fisco — não foi o motivo. A queda da arrecadação também não é usada como justificativa para a dispensa de Lina. A exoneração dela — antecipada no sábado por Jorge Bastos Moreno em sua coluna no GLOBO — deve ser publicada ainda hoje. O motivo a ser apresentado, no entanto, ainda não é conhecido. A pressão que os superintendentes estão fazendo sobre o ministro da Fazenda vem do temor de que a saída de Lina traga de volta o grupo político que comandou a Receita por quase 14 anos — oito da era Everardo Maciel e cinco e meio da gestão Rachid, que foi adjunto de Everardo. Os auditores são uma das categorias mais sindicalizadas do país, e o grupo de Lina ficou enfraquecido e afastado do comando naquele período. Depois da reunião com a secretária, os superintendentes — que

não foram recebidos por Mantega, apesar de articulações nesse sentido ao longo do dia — tentaram evitar os jornalistas. Eles informaram que vão esperar que Lina se reúna com Mantega para saber qual orientação ela dará ao grupo. Entre as informações que constam no relatório elaborado por Lina está, por exemplo, um diagnóstico do sistema de compensações tributárias. Hoje, as empresas que querem aproveitar créditos fazem esse procedimentos automaticamente e somente depois a operação é analisada em detalhes pelo Fisco. Segundo os superintendentes, um levantamento mostrou que 50% das compensações feitas por contribuintes são indevidas. ■ COLABOROU Geralda Doca ●

LINA: ‘HOUVE FISCALIZAÇÃO EM PROFUNDIDADE’, na página 16

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Editoria de Arte

Fotos: Roberto Stuckert Filho e Givaldo Barbosa

A divulgação da da DEZ carga tributária de 2007, com atraso de A Receita Lina Maria Vieira mais de seis meses em relação NOV Federal passa a ao usual, usando dados 31 JUL assume o ter uma nova comando do Fisco, desatualizados do Produto substituindo Jorge Rachid, com estrutura, com apenas Interno Bruto (PIB, soma de um secretário-adjunto, bens e serviços produzidos no fama de durona e metas de fiscalização e arrecadação. Sua Otacílio Cartaxo. Até país), gera mal-estar no então, havia seis indicação divide opiniões. Ministério da Fazenda cargos como esse Lina Vieira


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ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 16 - Edição: 15/07/2009 - Impresso: 14/07/2009 — 22: 05 h

ECONOMIA

Quarta-feira, 15 de julho de 2009

O GLOBO

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TROCA DE COMANDO: Lina rebate críticas e cita aumento nos autos de infração

‘Houve fiscalização em profundidade, com foco nos grandes contribuintes’ Secretária diz não ter mágoas e que pediu a assessores ‘transição amena’

MÍRIAM LEITÃO

ENTREVISTA

Lina Vieira

PANORAMA ECONÔMICO

Depois da crise A OCDE tem um bom diagnóstico sobre o Brasil com boas e más notícias: o país não passou incólume pela crise internacional, mas está superando o momento bem melhor do que inúmeras economias, graças a reformas e mudanças que foram feitas ao longo dos últimos anos. Mas o governo está aumentando demais os gastos correntes e as despesas públicas não são eficientes.

Esse, em resumo, é o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre o Brasil. O longo documento, divulgado pelo próprio secretário-geral, Angel Gurría, tem muitos dados, mas todos mostram que o nível da carga tributária, despesas sociais, e custo do governo são muito mais altos do que de outros emergentes e têm dimensão às vezes próxima de países ricos. Entrevistei Gurría, em Brasília, para a GloboNews, e ele disse que espera que o país faça a reforma tributária. Elogiou os princípios da reforma do governo que é a unificação de impostos sobre valor agregado e simplificação: — O sistema tributário brasileiro é complexo, pesado, difícil de entender e permite práticas predatórias entre estados. Precisa ser simplificado. Eu espero que o governo aprove a reforma que propôs. Eu expliquei que o governo não tem demonstrado muito empenho para que a proposta seja aprovada. Ele disse esperar que o governo mude a atitude porque a redução do peso dos impostos sobre a economia é fundamental. A OCDE continua com a previsão de -0,8% para o PIB brasileiro deste ano. Isso é muito pior do que o governo está prevendo, que é +1%, e pior também do que a média do mercado, -0,34%. Mas para Gurría, um mexicano, o que é -0,8%? Nada! Seu México natal está tendo queda de 7% do PIB este ano. Nos corredores da TV, conversamos mais e ele disse que até no México, o pior passou: — Essa queda já não reflete o que está acontecendo, isso foi a profundidade do impacto que houve na economia no último trimestre de 2008 e começo de 2009. A queda chegou no primeiro trimestre a 24% em termos anualizados. O México exporta manufaturados para os EUA e foi exatamente nesta área que a crise foi mais forte. E além disso teve a gripe suína. Quando a gente ouve um mexicano falar, fica realmente mais calmo em relação à crise no Brasil. Com o comércio mais diversificado, economia mais dependente do mercado interno, o Brasil teve uma queda forte porque estava crescendo a 5% e sofreu uma retração de 1,8% no primeiro trimestre. Mas a situação definitivamente não está nem mexicana, nem russa. Conferi com Gurría a tabela das previsões da OCDE. A Rússia, que estava crescendo a 7%, vai cair 7% este ano. Ele define o que acontece por lá como “queda livre”. A Irlanda também teve queda semelhante: — Os pacotes fiscais fo-

ram enormes e estão tirando o mundo da crise. O Brasil deve crescer 4% em 2010, e, pela OCDE, neste segundo semestre já estará retomando o crescimento. O problema do Brasil detectado pela Organização é mais permanente: o da ineficiência do gasto público. A OCDE não fala por falar. Ela tem feito comparações como o PISA, um teste de desempenho dos estudantes. O Brasil tem sempre números sofríveis, apesar de ter um gasto público na educação em linha com o de inúmeros países onde a educação é muito mais eficiente. O relatório, apesar de citar todas as medidas de curto prazo tomadas pelo Banco Central e pelo governo contra a crise atual, joga luz sobre o crescimento sustentável de longo prazo, que tem sido o maior desafio nos últimos anos. O primeiro capítulo tem um título sugestivo: “Olhando além do desafio da crise financeira e econômica global, em direção ao crescimento sustentado”. De acordo com o texto “para retomar o forte desempenho dos últimos anos não há espaços para complacência”. Nem fiscal, nem de metas de inflação. Foi por isso que falando na coletiva em que lançou o documento, em Brasília, Gurría propôs que o país comece a reduzir as metas de inflação para 2011. O governo tem se mostrado satisfeito em eternizar a taxa de 4,5% ao ano, quando a média dos países desenvolvidos é muito menor. Entre os conselhos que dá ao Brasil é que o país tenha um marco regulatório para a exploração de petróleo. As últimas notícias, no entanto, não são encorajadoras. O governo está anunciando uma alteração da forma de exploração saindo do leilão de concessões, que tem a vantagem da transparência e da escolha objetiva, para o opaco sistema de partilha que é o favorito do chavismo. O documento se limita a aconselhar que o marco regulatório seja feito com clareza e rapidez porque o atraso pode atrapalhar a atração de novos investimentos. Para Angel Gurría, os resultados que sairão nos próximos dois trimestres serão bem melhores do que os dos últimos dois, mostrando o movimento de saída do pior da crise econômica. Inclusive os novos números da OCDE para os países que compõem o grupo são melhores do que os que foram feitos na última previsão. Mas, mesmo quando a crise passar, os desafios para o Brasil continuarão existindo. Foi esse olhar por cima e para além da crise que ele quis incentivar ao vir para o Brasil. Ontem mesmo ele já voltou para Paris.

oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br

COM ALVARO GRIBEL

Tentando transmitir o máximo de tranquilidade em meio à fritura a que foi submetida, a secretária da Receita Federal, Lina Vieira, contou ao GLOBO que foi avisada de sua demissão pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na quinta-feira passada. Lina garantiu que a forma como foi dispensada — a decisão do ministro se tornou pública no sábado, pela coluna de Jorge Bastos Moreno no GLOBO — e o silêncio de Mantega não a incomodam. ●

Eduardo Rodrigues BRASÍLIA

O GLOBO: Como a senhora avalia sua gestão na Receita? LINA VIEIRA: Muita coisa avan-

çou. Melhoramos o atendimento, facilitamos o acesso das pessoas à internet para regularizar sua situação. Hoje, apenas com um código de acesso, você tem informações, sabe se sua declaração está em malha e os motivos. Também avançamos na Certidão Negativa de Débito de obras, a parte da Previdência. Melhoramos muito a gestão, que é participativa, descentralizada. Melhoramos a tabela do Imposto de Renda para pessoas físicas, queríamos ter feito mais, mas já foi um grande avanço. Houve muitas críticas em relação à fiscalização. LINA: Houve todo um trabalho muito forte de fiscalização, e como eu disse desde que entrei, o nosso forte eram os grandes contribuintes. Isso nós conseguimos. Os números estão aí para mostrar isso. No primeiro semestre de 2008, a Receita fis●

calizou e lançou em termos de autos de infração R$ 800 milhões, e no mesmo período de 2009 nós lançamos R$ 4,8 bilhões. Então é uma fiscalização em profundidade, com foco nos grandes contribuintes. O que a senhora não conseguiu implementar? LINA: Deixo o projeto do Simples Rural. Deixo também a sinalização para a próxima declaração, que é na própria declaração você fazer a destinação para criança e adolescente (de até 6% do Imposto de Renda devido para uma cidade tocar projetos na área), cuja sistemática anterior era muito ruim. ●

Houve constrangimento no anúncio de sua saída? LINA: De forma alguma. O ministro conversou comigo na quinta-feira e, portanto, não houve nenhum problema em ter ●

sido divulgado na imprensa. Saio de forma tranquila, pedindo a todos os meus assessores que façam uma transição amena. Quero passar o cargo da minha forma, com muita educação, acima de tudo em respeito às decisões de nossos superiores. Não há qualquer mágoa. A senhora não considera que foi uma decisão política? LINA: (Com um gesto com as mãos indicando negativa) Somente meus superiores podem responder isso. ●

Quando será a reunião com Mantega? A senhora vai indicar um substituto? LINA: Não temos nenhum nome fechado, e essa é uma decisão do ministro. Sobre a reunião, o chefe de Gabinete do ministro ficou de me retornar para ver a agenda dele para realizarmos ainda esta semana. ●

Para Lula, Brasil está crescendo 4%

Depois da recessão técnica, país já estaria se recuperando, diz presidente Paulo Whitaker/Reuters/10-11-2008

Luiza Damé* e Lino Rodrigues MACEIÓ e SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a economia brasileira vai entrar o mês de agosto crescendo a um ritmo de 4% ao ano, consolidando o processo de retomada do vigor abalado com a crise financeira internacional. No primeiro trimestre, o país consolidou uma recessão técnica, configurada por seis meses de retração, com queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,6% entre outubro e dezembro de 2008 e de 0,8% de janeiro a março deste ano, na comparação com trimestres imediatamente anteriores. Lula, dessa forma, ampliou o discurso otimista da equipe econômica, que vem garantindo publicamente que o PIB vai en●

HENRIQUE MEIRELLES: risco para quem não investir

cerrar 2009 crescendo a um ritmo de pelo menos 3,5%. Na reunião ministerial de segunda-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou a previsão oficial de expansão de 1% em 2009, avançando 4,5% em 2010. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, citou que es-

pecialistas chegam a estimar expansão de 5% no ano que vem. Lula disse que o Brasil e a China são hoje os países mais bem preparados para superar a crise econômica e citou a geração de empregos no Brasil. Segundo Lula, em junho foram 136 mil vagas com carteira as-

sinada e, neste mês, o saldo será novamente positivo. — Este mês, vamos crescer (a geração de empregos) outra vez. E, quando chegar o mês que vem, para desgraça dos que não querem que o Brasil dê certo, a nossa economia vai crescer acima de 4%, e a gente vai voltar a gerar a quantidade de riqueza de que o país precisa — disse Lula, na inauguração das obras de revitalização da orla de Maceió. — Existe o risco, para quem deixar de investir na hora certa, de perder mercado quando o crescimento voltar de forma mais aguda — disse o presidente do BC, Henrique Meirelles, em almoço em São Paulo organizado por executivos de empresas alemãs no Brasil. ■ (*) Enviada especial


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ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 25 - Edição: 16/07/2009 - Impresso: 16/07/2009 — 00: 04 h

Quinta-feira, 16 de julho de 2009 • 2ª edição

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De olho na recuperação, montadoras investem

GM confirma R$ 2 bilhões em fábrica do Rio Grande do Sul. Já Toyota fará aporte de US$ 1 bilhão em Sorocaba Gustavo Miranda Berg Silva

Eduardo Rodrigues e Lino Rodrigues BRASÍLIA e SÃO PAULO. Confiante na recuperação da economia do país, a GM do Brasil confirmou ontem o investimento de R$ 2 bilhões na ampliação da fábrica da companhia em Gravataí (RS) para a criação de uma nova família de veículos. Em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da montadora no país, Jaime Ardila, apresentou o projeto Onix, que prevê a geração de cerca de mil empregos diretos e sete mil indiretos. Ainda assim, a GM não escapou de uma alfinetada de Lula, que criticou as demissões do início do ano. — O aumento daquele parque industrial (Gravataí) já estava previsto há meses. O presidente ficou feliz, porque os investimentos são uma forma de reconhecer o trabalho que o governo tem feito nos últimos anos para fortalecer a indústria automobilística — disse Ardila. Com a redução do IPI, a GM não é a única a manter investimentos no Brasil. A Toyota inicia no fim do mês obras de terraplanagem em terreno de 3,7 milhões de metros quadrados em Sorocaba (SP), onde investirá US$ 1 bilhão na construção de nova fábrica.

Lula: “Cidadão pensa em 1 o- carro antes da 1 a- mulher” A montadora japonesa já produz o modelo Corolla em Indaiatuba (SP), onde emprega três mil funcionários. A unidade de Sorocaba abrigará a produção de um novo modelo compacto, a partir de 2011. Com capacidade para fabricar 150 mil veículos/ano, a fábrica deve gerar 2.500 empregos diretos. A Volkswagen disse que os R$ 3,2 bilhões de investimento anunciados em 2007 estão man-

CARLOS GHOSN conversou com a Chrysler, mas não fechou negócio

O PRESIDENTE Lula e a ministra Dilma Rousseff recebem o presidente da GM do Brasil e do Mercosul, Jaime Ardila

Mudança de fábrica gerou crise Em 1999, ao suceder Antônio Britto (PMDB) no governo do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT) decidiu rever a concessão de incentivos fiscais do ex-governador para instalação de fábricas da General Motors e da Ford no estado. Com a perda de R$ 450 milhões em subsídios, a Ford anunciou a suspen-

tidos até 2011. A Fiat prevê investir R$ 5 bilhões até 2011. Na Ford, que vem batendo recordes graças aos benefícios do IPI, a previsão é de R$ 3,4 bilhões entre 2007 e 2012 na América do Sul, boa parte no Brasil. Em encontro com o presidente da GM, fechado à imprensa, Lula disse ter conver-

são de investimentos de R$ 1 bilhão no Rio Grande do Sul para construir uma fábrica em Guaíba. A montadora decidiu então instalar sua fábrica na Bahia, abrindo uma crise institucional. O governo gaúcho acusou a União de quebrar o pacto federativo ao intervir apoiando a transferência. sado com os presidente de Itália, Alemanha, França e EUA — na reunião do G-8 — sobre os bons resultados no país. Segundo ele, todos “ficaram boquiabertos com o resultado da indústria automobilística brasileira”. Mesmo assim, o presidente criticou os fabricantes: — A gente poderia estar me-

lhor se não fosse a precipitação do setor no fim do ano, possivelmente levada pelo pânico. O maior investimento da GM em 84 anos de Brasil prevê a produção de dois novos veículos Chevrolet de porte médio em Gravataí, com design e engenharia concebidos nos centros tecnológicos de São Caetano do Sul e Indaiatuba (SP). Com isso, a capacidade de produção da unidade gaúcha chegará a 380 mil veículos por ano em 2012, tornando-a a maior fábrica do grupo no Mercosul. Metade do valor a ser investido virá do caixa da subsidiária brasileira, e o restante de financiamentos. — O carro continua sendo, depois da mulher ou depois do homem, a paixão do ser humano. Às vezes o cidadão pensa em ter o primeiro carro antes de ter a primeira mulher, porque ele começa a querer ter carro com 14 anos, 15 anos de idade — afirmou Lula. ■

Renault pode trazer carro popular indiano para Brasil Preço na Índia será de US$ 2.500 Bruno Rosa ● A Renault-Nissan pode trazer para o Brasil um dos carros mais baratos no mundo. Ainda em fase de desenvolvimento com a indiana Bajaj, o modelo, chamado de ULC (sigla para preço ultra baixo, em inglês), deve chegar ao mercado indiano apenas em 2012 com o mesmo valor do rival Nano, da Tata, de US$ 2.500. Em evento na Câmara de Comércio França-Brasil, no Rio, Carlos Ghosn, presidente mundial da Renault-Nissan, ressaltou que a montadora quer dobrar de tamanho no Brasil, chegando a 10%, com o lançamento de automóveis menores. -— A parceria com a Bajaj pode render um fruto para a América Latina. Estamos prevendo que o mercado do Brasil irá crescer em 2010. O Brasil está passando muito bem pela crise — diz Ghosn, lembrando que a fábrica no Paraná tem capacidade para 200 mil unidades por ano. Segundo Ghosn, a Renault chegou a conversar com a Chrysler, mas não fechou negócio. Em junho, a companhia se associou à italiana Fiat. — Resolvemos nos concentrar para enfrentar a crise.

O GLOBO NA INTERNET

a A íntegra da entrevista com Carlos Ghosn oglobo.com.br/economia

Economia da China cresceu 7,9% no segundo trimestre Na contramão, PIB russo despencou 10,1% de janeiro a junho. No Brasil, analistas preveem melhora nos próximos meses Fabiana Ribeiro* PEQUIM, MOSCOU e RIO. A economia da China cresceu 7,9% no segundo trimestre, informou ontem o governo chinês, depois de uma expansão de 6,1% nos três primeiros meses do ano. O resultado no segundo trimestre ficou um pouco acima da previsão média de 20 analistas ouvidos pela Bloomberg News, que calcularam um crescimento de 7,8% para o período. Segundo reportagem do jornal “Beijing Times”, citando fontes próximas às autoridades do Escritório Na-

cional de Estatísticas do país, no primeiro semestre a expansão chinesa foi de 7,1%. A meta do governo chinês é um crescimento de 8% este ano. Anteontem, o governo chinês informou que as reservas internacionais do país chegaram a US$ 2,13 trilhões. Na contramão, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) da Rússia despencou 10,1% no primeiro semestre, informou ontem o governo russo. No Brasil, a economia dará sinais mais claros de retomada

nos próximos seis meses, dizem especialistas, que projetam um segundo semestre melhor do que o primeiro. Mas o ritmo de expansão da economia será menor do que aquele o esperado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que previu que a economia entraria em agosto com crescimento de 4% ao ano. No Brasil, recuperação gradual no 2 o- semestre Numa projeção preliminar da Tendências, o PIB avançaria 0,5% no segundo trimestre

frente ao primeiro. E, no terceiro, a expansão seria maior, de 2%. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), julho, agosto e setembro podem trazer uma alta de 1,1%. — Haverá um ritmo de crescimento ao longo de 2009, num movimento de recuperação da forte e abrupta queda de produção. A indústria ainda se ressente dos efeitos da crise, ainda há sequelas. Mas o comércio e o setor de serviços se recuperam — disse Flávio Castelo Branco, economista da CNI. Segundo Silvia Ludner, eco-

nomista do Banco Fator, essa expansão ainda não garante um PIB de 2009 com sinal positivo. As projeções do banco ficaram em torno de zero, mas com viés de alta. No terceiro trimestre, sua expectativa é de alta de 3%, após uma projeção de 1,5% para o trimestre anterior. — A fotografia que temos hoje é que a atividade econômica melhora gradativamente. No entanto, o mercado de trabalho ainda é uma dúvida — disse Sílvia. Para Francisco Pessoa, eco-

nomista da LCA, o pior já passou: a expectativa é de números melhores daqui para frente. Contudo, é preciso observar o ritmo de recuperação da economia mundial, já que parte do fôlego do Brasil vem de fora. Marcela Prada, economista da Tendências, acrescenta que há indicadores que pesam positivamente nessa retomada, como o avanço da renda do trabalhador, da produção e do consumo. ■ (*) Com Bloomberg News e agências internacionais


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PÁGINA 19 - Edição: 21/07/2009 - Impresso: 20/07/2009 — 22: h

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Terça-feira, 21 de julho de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

Otimismo de volta a empresários

Confiança sobe pela 1 a- vez desde setembro, diz CNI. Para Ipea, retomada de investimento demora Eduardo Rodrigues e Aguinaldo Novo

P

BRASÍLIA e SÃO PAULO

ela primeira vez desde setembro do ano passado, quando a crise financeira global se agravou, as indústrias brasileiras, que produzem cerca de um terço da riqueza nacional, estão enxergando a economia com otimismo. De acordo com a pesquisa trimestral da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem, a confiança do empresariado atingiu 58,2 pontos, voltando a figurar acima da média histórica do indicador (57,9) e deixando para trás o fundo do poço atingido em janeiro deste ano (47,4). Outra pesquisa divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), porém, mostra que a cautela ainda predomina entre o empresariado. Apesar de mais um avanço de seu indicador antecedente — o Sensor Econômico — em junho, o órgão reconhece que o aumento de confiança está longe de representar a curto prazo a retomada de investimentos ou a contratação de mais empregados. No levantamento da CNI, números abaixo de 50 representam pessimismo. Dos 27 setores acompanhados pela entidade, 25 apresentaram otimismo em relação à economia e seus negócios. Apenas os fabricantes de couros e produtos de madeira continuam pessimistas. Já na sondagem do Ipea, numa escala de -100 (pessimismo absoluto) a +100 (desenvolvimento econômico e social), o Sensor chegou a 9,82 pontos no mês passado, contra 7,79 em maio e 6,78 em janeiro — início da sondagem, realizada junto a 115 entidades ligadas a indústria, comércio, serviços e trabalhadores. Na média, esses empresários e trabalhadores continuam apreensivos com a situação econômica. Para a CNI, entre os fatores que motivaram a boa avaliação dos empresários estão a manutenção das desonerações por parte do governo, a redução dos juros — foram 4,5 pontos percentuais de queda desde janeiro — e a retomada do volume de crédito disponível no mercado. — A confiança generalizada mostra que os empresários já enxergam recuperação no horizonte. Esse otimismo pode significar o retorno dos investimentos — afirma o gerente-executivo da Unidade de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca.

OS NÚMEROS DAS PESQUISAS 60,1

Janeiro 2008

Julho 2007

58,1

Julho/08 56,6 57,1 59,9

Porte Pequenas Médias Grandes

558,2 88,22

Julho 2008

Por tamanho das empresas

Julho/09 56,2 58,5 59,4

Janeiro/09 46,8 48,8 51,8

Setor Outros Equip. de Transporte Ou Limpeza e Perfumaria Li Borracha Bo Equip. Hospitalares/de Precisão Eq Alimentos Al Veículos Automotores Ve

Julho/09 63,5 62,2 61,2 62,8 60,8 60,0

Sensor econômico (em pontos) Jan*

6,78 4,36 4,57

Fev Mar

5,74

Abr

Os mais pess pessimistas

47,8 49,0

Julho/08 Janeiro/09

42,2

47,5

maio 2009 x maio 2008 -7,7 -4,1 -8,7 -4,7 -2,6

Fonte: Co Confederação Nacional da Indústria

9,82

Jun *início da sondagem

Madeira

Desempenho industrial (variação em %) maio 2009 x abril 2009 1,1 Fa Faturamento -0,3 Emprego Em -0,5 Horas trabalhadas Ho -0,9 Massa salarial Ma 0,4 Uso da capacidade instalada Us (pontos percentuais) (p

7,79

Mai Couros

44,0 47,4

Julho/09 Indicador

Abril 2009

47,4

Julho/08 Janeiro/09 43,3 64,1 51,7 58,1 43,7 55,8 57,9 62,4 52,3 59,1 45,4 57,5

● BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em seu programa semanal de rádio que, com os sinais de recuperação da economia, o Brasil poderá repor os empregos perdidos por causa da crise financeira e passar a criar novas vagas com carteira assinada até o fim deste ano. Ele disse que as medidas fiscais, monetárias e de crédito adotadas pelo governo já mostraram resultado, e destacou o crescimento moderado da economia nos últimos cinco meses. — Eu e a equipe econômica toda trabalhamos com a hipótese de que o Brasil entre em 2010 numa situação altamente confortável, produzindo bem, recuperando a capacidade produtiva das nossas empresas — disse o presidente. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, houve aumento de vagas com carteira assinada em junho, pelo quinto mês consecutivo. Foram geradas no mês passado 119.495 vagas formais. Entretanto, o desempenho deste ano ainda está bem aquém do registrado em 2008. A economia brasileira acumula saldo líquido de 299.506 novos empregos com carteira assinada no primeiro semestre, uma queda de 78% em relação a igual período do ano passado (1,36 milhão). Foi o pior resultado em dez anos. Lula, porém, destacou o saldo positivo de vagas criadas este ano. — Já recuperamos metade dos empregos que perdemos na crise. Significa que até o fim do ano poderemos recuperar tudo que perdemos e começar a ter novos ganhos na geração de empregos — disse Lula.

Julho 2009

49,4

Janeiro 2009

Os mais confiantes

jan a maio 2009 x jan a maio 2008 -8,2 -2,4 -8 -1,7 – Divulgação

Fábrica da Renault em São José dos Pinhais, Paraná

Apesar da alta no período (44,8%), o Sensor ainda está no patamar de "apreensão" (os agentes econômicos não esperam crescimento nem melhoria social) No cenário considerado como provável pelo Ipea, o Sensor deve atingir a faixa superior a 20 pontos (que marca "confiança") a partir de novembro ou dezembro deste ano.

A escala do indicador

De +60 a +100

Otimismo (os agentes econômicos esperam claro desenvolvimento econômico e social)

De +20 a +60

Confiança (expectativa de baixo crescimento e pouca melhora social)

De -20 a +20

Apreensão (sem crescimento econômico e social)

De -20 a -60

Adverso (os agentes preveem piora nos cenários econômico e social)

De -60 a -100

Pessimismo (recessão e agravamento dos problemas sociais)

O Sensor por setores Agropecuária Indústria Comércio e serviços Trabalhadores

Jan 3,3 4,4 11,2 28,8

Jun 11,9 8,8 9,5 26,1

Fonte: Ipea .

Arrecadação menor, gasto inalterado

Mercado vê queda da Selic para 8,75% Um dos destaques da pesquisa da CNI foi a confiança da indústria de calçados, que saltou de 45,3 pontos em abril para 55 pontos. Segundo o diretor-executivo da associação do setor (Abicalçados), Heitor Klein, isso se deve à resposta do mercado doméstico nos últimos meses: — Houve crescimento de 5% nas vendas, na comparação com o primeiro semestre do ano passado. Isso deixa os fabricante com perspectivas de aumento des encomendas. A chegada do inverno também aqueceu a indústria têxtil e de vestuário, cujos índices de confiança aumentaram 8,5 e 9,6 pontos, respectivamente, para 58,6 e 59,1 pontos. — Esse salto positivo é uma combinação das boas notícias que começaram a surgir com o bom movimento no varejo. Além disso, o segundo semestre é sempre melhor para o setor, porque nosso forte é a primavera-verão — disse o diretorsuperintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel. No caso do Sensor Econômico do Ipea, a alta de junho foi a quarta consecutiva. Apesar disso, o indicador ainda não apresentou variação significativa para quesitos como utilização da capacidade instalada e novos investimentos. O resultado para a utilização da capacidade instalada, que estava na faixa de -2 em janeiro, apareceu em junho com -30. No mesmo período, a indicação para novos investimentos ficou estagnada. — Percebemos uma clara melhora nas expectativas dos empresários, que veem maior demanda e custos me-

(resultados acima dos 50 pontos refletem confiança na economia)

61,8

60,3

Janeiro 2007

Lula: Brasil vai repor empregos perdidos na crise

Confiança da indústria

Governo mantém previsão de execução do Orçamento, apesar da queda nas receitas devido à crise

Cristiane Jungblut BRASÍLIA. Apesar da queda na arrecadação federal este ano, o governo decidiu não fazer novos cortes de gastos ou novas liberações de recursos em 2009, mantendo inalterada a previsão de execução do Orçamento fixada anteriormente. A diretriz está no terceiro relatório bimestral sobre execução orçamentária, divulgado ontem pelo Ministério do Planejamento. Segundo o governo, “a revisão das estimativas das receitas primárias e das despesas obrigatórias não indica a necessidade nem de limitação nem de ampliação em relação à avaliação anterior”. Na prática, porém, houve queda na arrecadação, o que afetará o repasse a estados e municípios. Estes perderão cerca de R$ 1,4 bilhão em 2009. Em maio, o governo ampliou os gastos em R$ 9,1 bilhões, depois de ter promovido um corte de R$ 21,6 bilhões em março. Apesar da estimativa de uma perda de R$ 1,88 bilhão na receita líquida (o que sobra depois do repasse a estados e municípios), o governo decidiu manter esse quadro orçamentário inalterado, pois prevê uma ●

nores para financiamentos. Mas não há perspectivas de aumento de investimentos e de contratação de funcionários — afirmou o presidente do Ipea, Marcio Pochmann. Para ele, cortes de juros poderão aumentar o “espaço fiscal” do governo, que ganharia fôlego para conceder desonerações a novos setores. O presidente do Ipea defende também um entendimento entre governadores e prefeitos para a redução de ICMS. Em linha com a pesquisa do Ipea, a

redução de R$ 406,7 milhões nas despesas obrigatórias, em relação ao previsto em maio. O documento lembra que, no primeiro bimestre, devido à crise econômica mundial, o governo modificou os parâmetros macroeconômicos e promoveu um corte de R$ 21,6 bilhões. Já no segundo bimestre, conforme o relatório de maio, constatou-se a “possibilidade de ampliação dos limites de empenho e movimentação financeira em R$ 9,1 bilhões”, reduzindo o contingenciamento efetivo para R$ 12,5 bilhões. Agora, o Planejamento avaliou que as projeções “não indicam a necessidade” de alterações. A decisão de não promover novos cortes ocorreu mesmo diante da previsão de queda nas receitas administradas pela Receita Federal (exceto os recursos para a Previdência) em R$ 7,3 bilhões frente à avaliação anterior. A receita líquida do governo (descontado o repasse a estados e municípios) terá uma perda de R$ 1,88 bilhão. No caso do repasse para estados e municípios, a queda se deve, sobretudo, à diminuição na arrecadação do IPI, que ajuda a formar os Fundos de Participação de Estados (FPE) e Municípios

Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) vê “uma discreta retomada” do setor, puxada pela desoneração para itens da linha branca. Apesar da alta nas vendas em junho, 41% das empresas entrevistadas esperam queda no ano. No mercado financeiro, a estimativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), vá reduzir em meio ponto percentual a taxa básica de juros Selic, para 8,75% ao ano. Foi o que mostrou

(FPM). A previsão é que o repasse totalize R$ 123,47 bilhões, contra R$ 124,85 bilhões estimados em maio. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), em julho o repasse para as cidades será 13,46% menor em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo o relatório, o governo prevê taxas de juros e de câmbio menores. A Taxa Selic — hoje em 9,25% anuais e que será avaliada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central hoje e amanhã — fechará o ano a 9,98% ao ano, contra estimativa anterior de 10,25%. No caso do dólar, a projeção anterior para o fim do ano, de R$ 2,23, foi reduzida a R$ 2,08. Ontem, a moeda americana fechou a R$ 1,903. E, apesar das estimativas do mercado de retração econômica em 2009, o governo manteve em 1% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país), mas com valor nominal de R$ 3,047 trilhões, contra R$ 3,055 trilhões da revisão orçamentária anterior. A área econômica elevou as previsões para a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que passou de 4,3% para 4,42% em 2009.

ontem a pesquisa semanal Focus do BC, indicando que esse patamar de juros deve permanecer ao menos até o segundo semestre de 2010. Para 2009, os especialistas esperam que a inflação pelo IPCA feche em 4,53%, acima da estimativa anterior de 4,50%, centro da meta do governo. Para 2010, a previsão é de 4,41%. As exportações e as importações acentuaram ainda mais a queda nas primeiras semanas deste mês (até o dia 19), se for considerada a média

diária. Em relação ao mesmo período do ano passado, as vendas externas encolheram 30%, de US$ 889,2 milhões para US$ 689 milhões. O mesmo ocorreu com as compras, que recuaram 38,7%, para US$ 456,7 milhões. A balança comercial registrou em julho (até a terceira semana) superávit de US$ 2,151 bilhões, contra US$ 3,329 bilhões no mesmo período do ano passado. ■ COLABORARAM Patrícia Duarte e Geralda Doca


O GLOBO

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ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 24 - Edição: 26/07/2009 - Impresso: 25/07/2009 — 01: 43 h

ECONOMIA

Domingo, 26 de julho de 2009

O GLOBO

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CUSTO VERDE: Ministério do Meio Ambiente participa das discussões

Vasto mundo O velho império deu o alerta. Para quem achava que a crise econômica global já estava acabada, o péssimo resultado do PIB inglês no segundo trimestre mostrou que ainda há um longo caminho pela frente. O comércio mundial está encolhendo este ano 16%. A maioria dos países fechará o ano com um PIB menor. O mundo é vasto e os países estão todos ligados nessa era global.

Gastos para reduzir danos à natureza são estimados em apenas 1% do total Editoria de Arte

Catarina Alencastro e Eduardo Rodrigues

Há sinais de melhora, mas ainda há um longo caminho pela frente. Empresas americanas anunciaram, nos últimos dias, lucros, ou prejuízos menores. O mais brilhante dos resultados, o da Apple, prova apenas que, mesmo numa crise, uma empresa que está num setor dinâmico, com um produto novo e com um bom marketing, tem bons resultados. Quem puxou o resultado foi o novo iPhone e não a recuperação da economia. O que de fato melhorou? O fim do pânico financeiro que havia dominado o mundo no final do ano passado foi o primeiro passo. O segundo foi a redução do risco de uma nova depressão. O economista que ganhou fama de vidente por ter previsto a crise, Nouriel Roubini, até disse que a recessão começará a acabar no fim de 2009 e isso provocou comemorações. Apressadas. A segunda frase que ele sempre agrega a esta primeira afirmação é que o ano de 2010 será anêmico, o mundo vai ter um desempenho muito abaixo do potencial. Na terceira frase, ele volta a ser o Roubini assustador de sempre: alerta que há um risco de uma nova queda recessiva em 2011. Ele e vários outros economistas estão alertando que os excessos de liberação fiscal por meios ortodoxos, ou não, podem provocar bolhas e pressões inflacionárias. A OCDE em seu último relatório tem um gráfico impressionante do crescimento do déficit público e da dívida dos 30 países que compõem a organização. São enormes e crescentes. É impossível que não cobrem a conta, de uma forma ou outra. A economia americana continua produzindo desempregados: meio milhão no mês passado. O mercado de trabalho está fraco, com queda de renda e horas trabalhadas. Roubini diz que há uma relação direta entre emprego e mercado imobiliário. Os preços dos imóveis que já caíram 45% desde o pico, terão, segundo o economista, mais 13% a 18% de queda pela frente. Ele prevê também que oito milhões de devedores deverão chegar ao fim do ano sem renda para pagar a hipoteca. O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, falou que o maior desafio agora é evitar o pior no mercado de imóveis comerciais. Esse foi o ponto inicial da crise e ainda não parou de piorar. O mundo está longe de poder comemorar, ainda que já possa dizer que dois fantasmas foram evitados: o colapso financeiro e a nova depressão. A maneira superficial com que as autoridades brasileiras fazem a análise da situação econômica não nos ajuda em nada. A conjuntura tem sinais contraditórios. Aumentou o otimismo dos empresários e subiu a ocupação da capacidade ociosa. Mas não está no nível que garanta o retorno dos investimentos.

Eles continuam suspensos ou cancelados. Nos últimos meses houve uma queda da aversão ao risco, os investidores vieram principalmente para os países emergentes. Isso elevou a bolsa e os humores. Porém, comparados com os outros Brics crescemos menos nos anos de boom; e agora somos o segundo pior em crescimento econômico. À frente apenas da Rússia, que terá uma forte recessão no ano. O Brasil passou bem pelo pior da crise, por avanços conseguidos em anos anteriores, nas áreas fiscal, monetária, cambial. Mas o avanço fiscal está sendo revertido sem uma visão estratégica. Estamos gastando mais sem um propósito definido. Pior é a enorme dependência do setor privado ao setor público que se aprofunda no Brasil: nas mentes em geral e nas receitas das grandes empresas. O último dado de desemprego foi bom. Ele caiu pela primeira vez desde dezembro. Mas onde houve aumento do emprego foi no setor público civil e militar. As empresas e setores que estão melhores receberam dinheiro público, ou através dos bancos ou de renúncia fiscal. Quem ainda não recebeu está na fila. Esperando o governo. Nos Estados Unidos foi divulgada, na sexta-feira, uma pesquisa feita pela Atlantic Media que traz alguns pontos de reflexão. Sete em cada dez entrevistados disseram que a economia quando se recuperar vai parecer e funcionar diferente do que era. No Brasil, quais são os sinais de que a economia está se transformando, enquanto se recupera? Perguntados se as oportunidades seriam geradas pelo governo, pelas empresas ou por esforço pessoal, a maior parte dos entrevistados, 40%, disse que elas virão do esforço próprio. A maioria, 52%, acha que o governo mais atrapalha que ajuda, mas 38% acham que o governo pode ajudar. Curioso é que metade dos que acham que o governo pode ajudar explica que é ficando menor. Para quem imagina que é o espírito anglo-saxão funcionando, está enganado. Os hispânicos foram os que mais demonstraram acreditar que é esforço pessoal que leva às oportunidades. Aqui no Brasil, é difícil encontrar um grupo de jovens que não comente sobre concurso público. Eles esperam que o governo crie as oportunidades e um emprego estável. Da mesma forma como é difícil encontrar uma empresa no país que não esteja aguardando alguma facilidade a ser criada pelo governo. A crise global continua, apesar dos pequenos sinais de melhora. Aqui, muitos aguardam que o governo nos tire dela. O governo ajudaria bastante se não pusesse esqueletos nos armários. Custou muito limpar estes armários.

oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br

COM ALVARO GRIBEL

A nova ligação Rio-São Paulo

BRASÍLIA. O Brasil está apro-

veitando o trem-bala que ligará o Rio a São Paulo e Campinas para testar uma novidade que visa à redução dos custos para minimizar os impactos ambientais das grandes obras de infraestrutura. Desde o início das discussões sobre o trem-bala, a área ambiental acompanha e interfere no projeto, tendo mudado traçados e sugerido soluções para que o empreendimento cause o mínimo dano possível nos 511 quilômetros do trajeto, que corta a Serra das Araras. Para o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, a “catequese ambientalista” se provará eficiente: a estimativa é que quem vencer a licitação gastará no máximo 1% dos R$ 34,6 bilhões da obra em ações como adotar parques e implementar barreiras acústicas. Para se ter uma ideia de quanto o acompanhamento prévio pode reduzir desembolsos, esse mesmo custo na BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM), chega a 93,7% do valor da estrada. Como contrapartida pelo prejuízo que a rodovia de R$ 697 milhões trará à Floresta Amazônica, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) terá de bancar investimentos ambientais de R$ 653,5 milhões. — No caso do trem-bala, está sendo escolhido o trecho de menor impacto. Por onde ele passa e tem cidade, vai ter de botar uma barreira acústica, plantando árvores dos dois lados. O empreendimento vai ter de adotar parques e botar dinheiro em educação ambiental, que temos cobrado de todo grande empreendimento — disse Minc. O plano para minimizar os danos do trem-bala ao meio ambiente envolve a adoção de até sete unidades de conservação no trajeto, entre elas o Parque Nacional de Itatiaia e a Reserva Biológica Tinguá. Outras medidas estão sendo definidas. SOS Mata Atlântica: impacto menor que o do rodoanel Estudo prévio da Prime Engenharia identificou as áreas ambientalmente delicadas, como mangues, mananciais, várzeas e cavernas, além das de proteção e conservação. Todas as informações foram incluídas no software que simulou os caminhos possíveis, para a escolha do percurso mais viável. Portanto, a questão ambiental foi determinante desde o nascimento do traçado do trem-bala. — Não havia um traçado que depois foi alterado. Ele já foi criado levando em consideração as restrições ambientais — disse o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo. Ainda assim, já que o traçado final pode sofrer ajustes, a ANTT — que é a empreendedora do trem de alta velocidade (TAV) — já começou a trabalhar no EIA/Rima (estudo de impacto ambiental). A intenção é deixar encaminhado o processo de licenciamento antes da assinatura do contrato com o consórcio vencedor da licitação, que deve ocorrer em julho em 2010. — Se a gente puder entregar a obra já licenciada, melhor— afirmou Figueiredo, lembrando que o licenciamento ambiental é hoje a principal batalha das grandes obras, e que as principais ligações do trembala têm de ser entregues antes da Copa de 2014. — O mais importante é o percurso. Já sobrou tão pouquinho da Mata Atlântica, só faltava o trem cruzar o que sobrou dela — disse Minc, lembrando que o fato de o novo trem tirar da rota uma grande quantidade de carros e ônibus é outro ponto positivo do projeto. Para o diretor da SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, o trem-bala terá menos impacto que o rodoanel em São Paulo. ■

QUANTO CUSTARÁ O PROJETO

OS NÚMEROS DO TREM-BALA BRASILEIRO

(Em R$ bilhões)

Total: R$ 34,626 bilhões

Material rodante 2,739 (7,9%)

Obras civis 24,583

Sistemas e equipamentos 3,409 (9,8%)

(71% do total)

Desapropriação e medidas socioambientais 3,894 (11,3%)

Por onde trafegarão os trens Superfície Pontes Túneis

Extensão (Km) % do total

312,1 107,8 90,9

61 21 18

Comprimento Velocidade comercial máxima Extensão total do trajeto Preço da passagem*

* Rio-São Paulo, no horário de pico, classe econômica

O desafio ambiental na Serra das Araras:

O trem-bala terá que subir 400 metros em alta velocidade. A área de engenharia e a ambiental preferiram a passagem por túneis. Para evitar maiores impactos na montanha, a criação de aterros foi descartada, e a altura dos viadutos foi limitada. Assim, ao subir a serra, o trem passará por túneis e pontes antes de adentrar o túnel mais extenso e emergir em Piraí. Serra das Araras

Piraí

TEMPO DE VIAGEM (a partir do Rio) Destino Volta Redonda/Barra Mansa São José dos Campos São Paulo Campinas

Túneis Trajeto

Minutos 34 77 93 128

RIO DE JANEIRO

Resende

O TRAJETO Campinas/Centro Campinas/ Aeroporto de Viracopos

200 m 300 km/h 511 km R$ 200

Barra Mansa e Volta Redonda

Aparecida

Rio/Galeão

rr Se

Jundiaí

SÃO PAULO/ Campo de Marte

Piraí

Ara ras

PANORAMA ECONÔMICO

Projeto do trem-bala é pioneiro em planejamento na questão ambiental

ad as

MÍRIAM LEITÃO

São José dos Campos Guarulhos/Aeroporto de Cumbica

RIO DE JANEIRO/ Leopoldina Estações consideradas Estações opcionais Rota do TAV

SÃO PAULO

31-7-2008/Divulgação

Trem-bala CRH, que liga Pequim a Tianjin em 30 minutos numa velocidade de 350 km por hora FONTE: Casa Civil

Diferença de US$ 6 bi para 1 -o orçamento ANTT alega que houve mudanças técnicas e novos gastos ● BRASÍLIA. Quando o governo anunciou que o projeto da construção do trem-bala brasileiro sairia do plano das ideias e se tornaria realidade dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o orçamento era de US$ 11 bilhões. Mas com a proximidade do edital, previsto para setembro, os valores cresceram, e o custo que será apresentado aos potenciais empreendedores chega a US$ 17 bilhões (R$ 34,626 bilhões). Segundo o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, a diferença está na mudança das referências técnicas do projeto e na inclusão de outros gastos, como desapropriações e medidas de compensações socioambientais, que só podem ser calculados após encerrados os estudos técnicos e de demanda. Ele contou

que o primeiro orçamento do PAC surgiu a partir de duas propostas anteriores. A primeira, elaborada em 1997 por um consórcio reunindo Siemens, Odebrecht e Interglobal, utilizaria tecnologia alemã para um trem de média velocidade, aproveitando a malha já existente, por US$ 6,3 bilhões. A outra, da Italplan Engineering, de 2004, era de um trem-bala orçado em US$ 9 bilhões, sem paradas intermediárias e sem ir até Campinas. Figueiredo ressaltou que as obras civis do projeto definitivo, calculadas em R$ 24,583 bilhões, estão próximas do previsto inicialmente no PAC. O restante se refere a medidas socioambientais (R$ 3,894 milhões), sistemas e equipamentos de eletrificação, sinalização e comunicações (R$ 3,409 bilhões) e o próprio trem (R$ 2,739 bilhões). (Eduardo Rodrigues)

.

Em outras obras, dificuldades para obter licenças e custos mais altos

Usinas de Estreito, Belo Monte e Santo Antonio tiveram problemas ● BRASÍLIA. A área ambiental tem rendido uma conta salgada para grandes obras de infraestrutura. Além dos atrasos causados por questões ecológicas, que muitas vezes acabam nos tribunais, o preço final de projetos estratégicos pode superar em muito as expectativas iniciais dos empreendedores. A demora na concessão de licenças ambientais é reiteradamente criticada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última quarta-feira, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, condenou a dificuldade para cumprir o cronograma de hidrelétricas: — Eu acredito que é mais fácil subir num pau-de-sebo do que obter licenças ambientais para a construção de novas hidrelétricas, o que é lamentável. Porque a energia hídrica é a mais limpa e a mais barata para o consumidor brasileiro.

Lobão lembrou o caso da Usina de Estreito, no Rio Tocantins, na divisa com o Maranhão, que já foi interrompida sete vezes. Orçada em R$ 3,2 bilhões, o gasto para mitigar o dano ambiental será de R$ 280 milhões — 11,5% do total. Já a hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira (RO), teve de abrigar 28 programas socioambientais a um custo de R$ 900 milhões, ou 6,6% dos R$ 13,5 bilhões previstos para sua conclusão. — Hidrelétrica é sempre uma guerra: o governo quer todas, e os ambientalistas não querem nenhuma — reconheceu o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Outro exemplo: uma comissão formada por ONGs, religiosos, indígenas e ribeirinhos se encontrou com Lula na tentativa de impedir a licitação para a construção da Usina de Belo Monte, no Rio Xingu (PA),

cujo valor é de R$ 7 bilhões. Em alguns casos, como o da BR-319, os custos ambientais quase igualam os da obra. Com orçamento de R$ 697 milhões, a pavimentação de 400 quilômetros entre Porto Velho (RO) e Manaus (AM) custará mais R$ 653,5 milhões em ações de compensação ao meio ambiente. O cálculo foi feito pelo Ibama, que fez dez exigências para conceder a licença ambiental — como implementar 29 unidades de conservação no trajeto, ou 120,5 milhões de hectares de parque. Apesar de serem consideradas mais sustentáveis do ponto de vista ambiental, algumas ferrovias, como a Transnordestina, também têm dificuldade em obter licenças. (Eduardo Rodrigues e Catarina Alencastro) ■ O GLOBO NA INTERNET

a Um guia completo do trem-bala oglobo.com.br/economia


O GLOBO

ECONOMIA

AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

PÁGINA 17 - Edição: 29/07/2009 - Impresso: 28/07/2009 — 22: 16 h

17

Quarta-feira, 29 de julho de 2009

O GLOBO

ECONOMIA .

DEFESA DO CONSUMIDOR ONDE RECLAMAR • O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) funciona das 8h às 18h, na Esplanada dos Ministérios, Bloco T - Sala 520, Brasília (DF). Informações no www.mj.gov.br/dpdc ou pelo e-mail dpdc@mj.gov.br

Cobrança milionária na telefonia

Claro e Oi podem pagar R$ 300 milhões cada por danos morais coletivos a consumidores Editoria de Arte

Eduardo Rodrigues e Nadja Sampaio

Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), vinculado ao Ministério da Justiça, decidiu cobrar judicialmente das operadoras Claro e Oi/Brasil Telecom indenizações por danos morais coletivos, no valor de R$ 300 milhões cada uma, por terem violado as normas previstas no decreto 6.523, a chamada lei dos serviços de atendimento ao consumidor (SAC). A ação, proposta pelo Departamento Nacional de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), reúne pela primeira vez como signatários 33 entidades, entre elas 23 Procons estaduais, Ministério Público Federal, Ministério Público do Distrito Federal, Ministérios Públicos estaduais, Advocacia-Geral da União, Procuradorias e organizações civis. De acordo com dados divulgados ontem, o setor de telefonia é responsável por 57% das mais de seis mil reclamações que os Procons de todo o país receberam nos oito primeiros meses de vigência da nova lei. — Vários setores investiram e se adaptaram, mas há uma resistência muito grande no setor de telefonia. Nem as multas que foram aplicadas motivaram as empresas a tomarem providências, pois os administradores acharam mais barato pagá-las ou discuti-las na Justiça — disse o ministro da Justiça, Tarso Genro. Desde a entrada em vigor do decreto, em 1 o- de dezembro do ano passado, as duas empresas foram autuadas 99 vezes. A soma das multas aplicadas foi de R$ 3,618 milhões.

(Queixas registradas nos Procons entre 1° de dezembro de 2008 e 31 de maio de 2009 referentes a problemas com os SACs)

SETOR TELEFONIA FIXA

Brasil Telecom 11,54%

Outros 8,51%

Telefônica 5,72%

Cartão de crédito

Acompanhamento e resolução/pedidos de cancelamento

25

EMPRESA MULTADAS (Em R$ milhões)

Oi Celular 16,21% Outros 17,49% Oi/Brasil Telecom 59,31%

Banco Comercial

4,80% Tv por assinatura

TIM 20,77%

3,34%

3,01%

2,89%

Financeira

Plano de Saúde

Energia elétrica

1,36%

1,24%

0, 0,79%

Seguro

Transporte aéreo

Transporte terrestre

3,618

2,506

Claro 31,10%

7,71%

Telefonia

Má qualidade do atendimento

51 23

Vivo 11,87%

GVT 12,31%

17,86%

NÚMERO DE AUTUAÇÕES CONTRA OI/BRASIL TELECOM E CLARO Falhas no acesso ao SAC

TELEFONIA CELULAR

Embratel 5,17%

1,112

Claro Oi/Brasil Telecom TOTAL

$ Fonte: Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor - Sindec (Ministério da Justiça)

Anatel proíbe Telefônica de vender o Speedy Serviço de banda larga de internet teve apagões recentemente BRASÍLIA. Ainda não vai ser desta vez que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vai liberar a Telefônica para retomar as vendas do Speedy, serviço de acesso rápido à internet. Uma pesquisa coordenada pelo superintendente de Serviços Privados da Anatel, Jarbas Valente, já apresentada à empresa, encontrou problemas na rede que ainda não foram resolvidos e, por isso, o órgão regulador manterá a proibição. A empresa apresentou o seu plano de recuperação no último dia 17. A Telefônica decidiu não se pronunciar. No dia 23 de junho, a Anatel baixou cautelar proibindo a comercialização de novos pontos de

Atendimento não resolve os problemas ● No segmento de telefonia móvel, a Claro é a empresa mais reclamada, com 31% das demandas, bem à frente da segunda colocada, a TIM, com 20,7%. Entres as operadoras de telefonia fixa, a Oi/Brasil Telecom responde por 59% das queixas, enquanto a GVT aparece com 12%. — Constatamos que os graves problemas nos atendimentos não tratam necessariamente da figura do atendente mas, sobretudo, da decisão empresarial que estabelece um sistema de atendimento que não resolve as demandas dos consumidores — acrescentou o diretor do DPDC, Ricardo Morishita, referindose à transefrência de ligação entre os atendentes. Segundo ele, as empresas poderão futuramente serem proibidas de comercializar novos planos e assinaturas, caso não se enquadrem. Ele também anunciou a criação de uma página na internet onde os consumidores po-

AS RECLAMAÇÕES POR SETOR

acesso do Speedy devido à ocorrência de quatro apagões na rede de internet da operadora paulista, com graves consequências ao consumidor. O primeiro e maior dos apagões do Speedy ocorreu em 3 de julho de 2008, quando os clientes ficaram sem o serviço durante 36 horas. O órgão regulador decidiu solicitar, então, um plano de reparou e ampliação da segurança da infraestrutura do serviço antes de liberá-lo a novos usuários. Somente neste primeiro mês sem poder oferecer o Speedy, a Telefônica teria deixado de vender cerca de 100 mil acessos à banda larga, se observada a média da empresa nos períodos anteriores. (Monica Tavares)

O LEITOR OPINA

O

57%

BRASÍLIA e RIO

“Finalmente doeu no bolso” — Felipe Queiroz Drumond, em comentário no site do GLOBO

“Isso só aconteceu pois diversas pessoas reclamaram. Juntos temos muito mais poder que qualquer empresa” — Millene Alves de Oliveira, em comentário no site do GLOBO

“R$ 300 milhões não é nada para eles. A punição deveria ser muito mais severa!” — Enrico Araújo, em comentário no site do GLOBO

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derão registrar suas queixas. A Claro e a Oi informam que não foram notificadas e, portanto, não podem se pronunciar sobre a ação. A Claro ressalta que oferece vários canais de atendimento e investe constantemente no treinamento dos atendentes de call center. A Oi acrescenta que deve investir este ano mais de R$ 5 bilhões no país e que mantém equipes técnicas trabalhando em projetos de melhoria de atendimento. A Anatel diz que atua de forma conjunta com outros órgãos na defesa do consumidor, fiscalizando o cumprimento do decreto e que, desde 1997,

aplicou R$ 358 milhões em multas. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e os Procons de São Paulo e do Rio foram signatários da ação. Para Maíra Feldrin, advogada do Idec, esta ação é um marco histórico por reunir tantas entidades pelo cumprimento de uma lei: — Nos dá orgulho participar desta luta. O valor da indenização coletiva será recolhido ao Fundo dos Direitos Difusos e retornará à sociedade pelos programas do Sistema de Defesa do Consumidor. O subsecretário adjunto dos direitos do consumidor no Rio, José

Teixeira Fernandes, afirma que os setores vêm se adequando ao decreto, mas a telefonia não: — Tem que acabar esse negócio de a lei não pegar. É lei, tem que cumprir. Para Roberto Pfeiffer, diretor executivo do Procon/SP, o decreto criou parâmetros claros, tanto para o consumidor saber o que pode cobrar como para as entidades que fiscalizam. Já a coordenadora da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor Pro Teste, Maria Inês Dolci, ressalta que um ano depois, pouco há para se comemorar: — As empresas não estão respei-

tando. É preciso mudar a lei que permite a punição das empresas. Até para recorrer, a empresa deveria ser obrigada a depositar um valor de caução. Alexandre Diogo, presidente do Instituto Brasileiro de Relações com o Cliente (IBRC), que comandou testes sobre o cumprimento do decreto, afirma que a maior parte das empresas de Telecom, estava “pagando para ver”: — Para que esta ação funcione é preciso que a Justiça seja contundente e célere. ■ Hoje, excepcionalmente, não publicaremos a seção MALA DIRETA


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