Meu castelo, minha vida

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DIARIOdePP ER NA M BUCO Recife, sábado e domingo, 15 e 16 de abril de 2017

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MEU CASTELO, MINHA VIDA

Reportagem: Ed Wanderley / Fotos: Paulo Paiva / Projeto gráfico: Jaine Cintra / Infografia: Silvino / Arte: Jarbas

EXPEDIENTE

diretora de redação: Vera Ogando edição executiva e revisão: Paulo Goethe edição de fotografia: Teresa Maia edição de vídeo: Roberta Cardoso, Rafael Marinho e Eduardo Travassos desenvolvimento em web: Jota Bosco

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Moradia é, desd desdee sem semp pre, um do dos inindiccati di tiv vos mais imedia imediattos do do des desen en-volvim vimen entto de de uma re região gião,, da eco economia à or organização social. social. O lugar lugar em quee se qu se viv vive se se faz faz re reflex exo o e algo algo tão fundam fun damen ental tal para para o ser ser nela nela habi habitan tan-te que que co cons nsti titui tui a base base da pirâmi pirâmid de de de nec ecessi essida dad des pr propo possta pelo pelo psicól psicólo ogo nort rtee-am ameri ericcan ano o Abr Abraham Maslo Maslow, ao lad lado de de alimen alimentação tação ou ou sex sexo o, por por exem ex emp plo, em teo teoria ria estuda estudada da em tod todo o o mun mund do. Em Pernamb Pernambu uco, alguns des des-ses imóveis imóveis assum assumem em traço traçoss medi medieevais ais.. Há pou pouco mais de de meia meia dúzia de de cas asttel elo os espalha espalhad dos pelo pelo esta estad do, cujas cujas cons nstruções truções são toc tocaadas por por pessoas pessoas consi nsid der eraadas heróis heróis,, uns pelo pelos ou outr tro os, ou lo loucos, por por parte parte de de familiar familiares es.. A maio mai oria é utiliza utilizada da co como resi residên dência cia e

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CONFIRA NA WEB

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O REINO DE PEDRA QUE ARIANO NÃO VIU quase possível ouvir os pífanos e rabecas soarem ao adentrar o grande portão vermelho de um castelo encravado no coração de São José do Belmonte, no Sertão Central de Pernambuco. O museu nãooficial da cidade é a maior apropriação do movimento armorial para a arquitetura que se tem notícia e foi concebido com incentivo e opiniões do escritor Ariano Suassuna, ao longo de quase uma década. Nas paredes, gárgulas e colunas gregas cedem espaço para a poética nordestina, com traços que reproduzem formas de argila trajada de azul ou vermelho, em alusão às cruzadas que dividiam mouros e cristãos, numa Idade Média não vivida mas reverenciada pelo imaginário local. “É uma obra mítica e poética do movimento armorial nordestino”, resume, com orgulho, o comerciante Clécio de Novaes Barros, 49. A pedra fundamental da empreitada foi colocada em junho de 2007 e a inauguração do local, 90% concluído, foi realizada em 2013. São três andares que comportam xilogravuras de J. Borges, fotografias raras, incluindo o projeto para a urbanização do município, de José Pires Ribeiro, do ano 1900, e até uma cidade cenográfica em argila, do artesão vitoriense Zezinho de Tracunhaém. “Eu ouvia Ariano. Ele dizia ‘No castelo das pedras sertanejas briha o sonho do povo brasileiro’. Eu segui o meu. Certa vez ele me disse ‘o povo me chama de doido também, nem por isso eu deixo de fazer as coisas’”, garante Clécio. A tal “loucura” sempre foi motivo de desavenças familiares, que aceitaram, ainda que sem concordar, com o investimento de cerca de R$ 3 milhões na obra, jamais aberta ao público. “O pessoal prefere pegar dinheiro assim, comprar de voto e multiplicar em quatro anos. Esse é o dinheiro jogado

Festival de cores num Sertão quase desconhecido Castelo de São José do Belmonte é um dos mais próximos de ser considerado 100% concluído, mas segue fechado à visitação, segundo o dono, Clécio Barros, por falta de interesse do poder público

fora, não o aplicado em cultura. Para abrir, teria que contratar gente, moro no Recife... Ninguém se interessou ainda e preciso do poder público porque isso aqui foi feito para o povo. Mas cultura não deve ser cobrada. Para pedir entrada, prefiro manter fechado”. Particular, o castelo-museu pode até ser para o povo, mas carrega mais que o lirismo de Ariano nos detalhes que ornam cada coluna, sendo um pedaço do próprio Clécio, “o louco”, para alguns. O projeto veio de um esboço num caderno, hoje perdido. Admirador confesso do Centro de Artes e Comunicação, da UFPE (onde ensina-se letras e arquitetura), inspirou-se no prédio para conceber o seu: arriscava um cálculo e arredondava os resultados para cima, usando

doses extras de ferragens. Colunas, batentes e para-peitos foram sendo talhados à luz da mitologia sertaneja, em vez da grega, como imagina ser o comum. “Agride, para algumas pessoas, mas é um belo diferente. É nosso”, explica. A localização do imóvel, a 474 km do Recife, passa longe de por acaso, já que o pequeno município de 34 mil habitantes sedia, na Serra do Catolé, a Pedra do Reino, espécie de santuário a céu aberto repleto de esculturas em alusão ao movimento sebastianista, cuja liderança, no final da década de 1830, coube a João Antônio dos Santos, que se autoproclamou rei. O local, imaginado por Suassuna, deu origem a uma de suas obras mais reconhecidas, A Pedra do Reino, e tornou a cidade capital

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de cultura armorial do movimento criado em 1974. Com 1.026 m , o imponente castelo faz uma grande sombra na principal avenida de Sao José do Belmonte. É também uma das poucas construções acima dos 15m de altura. Não há como se manter indiferente. E. no entanto, segundo o criador, não foi “achado” por quem pode fazê-lo um patrimônio tão pernambucano quanto ele, de anseios e visões superlativas. A cultura nele guardada, literalmente a várias chaves, segue como realização pessoal de um homem só, tal qual reino sem reinado. “Sinto que meu dever foi cumprido. O tempo se encarrega da obra ter er ffinalidade inalidade ou não”, diz, com uma certeza bem distinta de um armorial “só sei que foi assim”...

SÃO JOSÉ DO BEL-MONTE Distância A 474 474 km Recif Recifee Dimensões 38m x 27m 27m x 15m Diferenciais 3 andar andarees 1° andar andar Xilo Xil ogr graavur vuras as do dos Bo Borges 2° andar andar Exposição Expo sição de de fo fotos, história história da cida cidad de e bib iblilio otec ecaa de de Ariano Ariano 3° andar andar Cida Ci dad de cen ceno ográfi gráficca Início da construção 20077 200


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SÃO JOSÉ DO BELMONTE PESQUEIRA RECIFE

TRIUNFO

SAIRÉ

GARANHUNS

SILVINO SIL VINO/DP /DP

POR UMA NOBREZA BEM NORDESTINA

TRËS ANDARES ANDARES DE DE PURA CULTURA NO INTERIOR Ao longo longo de trës amplos amplos andare andares, part artee da história história do Sertão e da cons construção trução do imaginário popular retr retratada atada nas obras obras de Ariano Suassuna Suassuna vão sendo sendo expo exposstas em detalhess cons detalhe construtiv trutivo os, escultur culturas as coloridas coloridas e xilograavur xilogr vuras as de artistas artistas locais locais,, em ambiente ambiente que virou virou símbolo do moviment movimento o armorial na arquit arquitetur etura. a.

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Se houve algo que pode ter servido de combustível para os incontroláveis desejos de materializar castelos em terras pernambucanas, este foi o movimento armorial. Uma de suas bases, de exaltação da nobreza, com direito a brasões familiares de uma tradição sertaneja quase imaginária, foi, inclusive, um dos motivadores das críticas mais ferrenhas quando da gênese da proposta cultural. “Desde o início, até hoje, se fala mal do armorial pelo ideal de nobreza, ligado à nascença, mais ligado ao poderio galego-português e lusitano que habitava o imaginário popular”, explica o doutor em ciência literária da Universidade Federal de Pernambuco, Lourival Holanda. A nobreza armorial pode até ter influenciado sonhos de reinado, mas se passa num terreno fértil o bastante para que agruras e mágicas convivam em sintonia para formar uma moral de história de superação de um sertanejo mítico, artístico até na concepção, graças ao contexto descrito pelo próprio Ariano Suassuna. “A arte armorial brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos ‘folhetos’ do romanceiro popular do Nordeste, com a música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus cantares e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como o espírito e a forma das artes e espetáculos populares com esse mesmo romanceiro relacionados”, afirmou, em maio de 1975, ao Jornal da Semana, do Recife. Para Holanda, a manifestação cultural sertaneja representada nesse contexto se aproxima de um imaginário medieval, como ocorre em sociedades do Marrocos e da Tunísia, mas que fazem parte de um inventário memorialístico. “Há uma nostalgia de um passado que não é bem nosso e o Sertão, por assim dizer, passa a ser apenas uma questão geográfica, mais ligado à cultura local, já que, hoje, muito já mudou na região. A arquitetura, nesse caso, é muito mais a manifestação do imaginário nordestino espontâneo do que a apropriação do movimento em si”, afirma. Membro da Academia Pernambucana de Letras, Holanda defende ainda a necessidade de ressignificação do próprio movimento armorial, originalmente concebido como uma resposta à norte-americanização homogeneizadora. “Ele não continua com a mesma força por não ter a mesma função, hoje. Até a ideia de nobreza, que muitos atribuem às finanças, passa a ser a capacidade de criar arte, a criatividade”, defende, concluindo ainda que novas formas de manifestação do movimento, adaptando-o à realidade do nosso tempo, podem mantê-lo relevante. “Como a Semana de Arte foi necessária naquele momento, em 1922, o armorial também foi em seu tempo. E, para ser preservada, tem que mudar. Expressões assim, na arquitetura, como os castelos que temos no estado são exemplos dessa criatividade proposta pelo movimento e que tornam a cultura do Sertão viva”.


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POR DENTRO DO REINO DAS ALMAS

Memória de juiz visionário continua preservada Num dos quartos do imóvel, fardamento e acessórios queridos pelo falecido Francisco de Assis ficam permanentemente em exibição

Casa e castelo se misturam em cenário cinematográfico Castelo de pedra circunda não apenas a residëncia marcada por decoração única, mas um cemitério em estilo bizantino que recebeu gerações das famílias Timóteo e Rodrigues e hoje servem de locação para gravação e exibição de filmes de terror

o alto de uma das colinas de Triunfo, no Sertão do Pajeú, uma grande muralha de pedra crua rodeia uma torre, quartos, um casarão e até um cemitério em estilo bizantino. Acima do portão, o local assume o nome pelo qual a vizinhança popularmente o chamava: Casa das Almas. No interior da propriedade, com parte dela já em território paraibano, uma centenária residência divide espaço com a estrutura de um castelo ainda em processo de construção, uma continuidade da mais profunda vontade do “desembargador do sertão”, que não viveu tempo suficiente para vê-lo concluído. Ex-delegado de polícia, o juiz aposentado Francisco de Assis Timóteo Rodrigues era um admirador confesso de castelos em todo o mundo. Era dos poucos pernambucanos a conhecer todos os projetos do gênero no estado, além de vários fora dele. O sonho de ter um imóvel desses para si veio ainda da infância, repleta de histórias fantásticas contadas no andar térreo da residência rica em madeira em que sua família se revezou a tomar tempo e oportunidade de esuecrever um pouco da história da pequena cidade de 15 mil habitantes. Quando chegou sua vez, sem filhos, Francisco adotou para si a missão de tirar dos papéis de escola os rabiscos, que transformou em projeto e obra. Tudo desenhado por ele, conforme mandava a imaginação o que, segundo familiares, contrariava o jeito simples do homem sempre visto de bengala, botas e chapéu de construção, enquanto verificava cada detalhe do mais significativo bem de seu inventário. Quem abre as portas é a bacharela em direito Consuelo Maria Timóteo Bernardo, 48, sobrinha e viúva do “menino de sonhos medievais”. Caminha pela área de meio hectare que vem sendo repaginada desde 2010 e supervisiona as pouco mais de 10 pessoas envolvidas na obra. “Meu objetivo é concluir o sonho dele. Foi o compromisso que assumi. Falta a parte elétrica e desenvolver mais a parte interna, que tem capela, salão e outros quartos e banheiros”, afirma. Próximo à torre principal, um amplo quarto, com banheiro e uma pequena janela dão o tom de como Francisco tinha planejado passar

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TRIUNFO

Distância A 407 407 km Recif Recifee Dimensões 60m x 90m Diferenciais Casa, fo fort rtee e cemi cemitéri tério o bizan bizantin tino o Início da construção 2010

Consuelo assume o compromisso de concluir o castelo de Triunfo após a morte do idealizador, Francisco seus últimos dias. Duas espadas, em estilo medieval, também foram adquiridas para ornar a parede na qual será encostada a cama. Ainda longe da conclusão, a construção já consumiu pouco mais de meio milhão de reais. Eventos e locação como estúdio fotográfico ou para festivais de cinema vão auxiliando o orçamento. “O cemitério privado, onde está toda a família, é aberto para o Festival de Cinema de Triunfo, para exibição de filmes de terror e sempre tem gente por aqui querendo conhe-

cer o castelo”, acrescenta Consuelo. A curiosidade tem razão de ser. Muito antes da morte do idealizador do castelo”, que sucumbiu, aos 70 anos, a um câncer metastático no fígado, em agosto de 2014, o imóvel estimulava o imaginário popular: de ter supostamente sido esconderijo onde Lampião passava dias jogando cartas antes de se refugiar em terras paraibanas, fora da área de atuação da polícia pernambucana, até histórias de assombração, com direito a televisores desligando sozinhos e “presen-

ças” inexplicáveis. As enormes fotos e pinturas retratando os “galhos” da família, roupas arrumadas em cima de camas e o ranger da madeira dos assoalhos completam o ar de mistério que faz muitos evitarem a colina da Casa das Almas. Há quem diga que o dono não abandona seu castelo até que esteja pronto. “Eu acredito que ele ainda esteja aqui”, asserta Consuelo, sem titubear ou temer reações - e, desconfio, não se referia ao conteúdo no interior do arco de pedra do jardim bizantino...


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história de João Cahistória Capão se confunde com a do cast castelo de Garanhuns Gar anhuns e, para para ser just justo, mereceria mereceria começar com um “Era “Era uma vez”. vez”. João Fer Ferrreir eiraa da Silvva viveu Sil viveu sete sete de suas oito oito décadas como se lenda fosse. fosse. Aos Aos oito oito anos, disparou dispar ou para para a mãe “vou “vou constr construir uir um reinado reinado bem bonito bonito para para a nós (sic) morar”. morar”. “E o que que é um reina reina-do?”, ela retr retrucou. ucou. “Eu disse ‘Sei não’. É que que a palavr palavraa nasceu dentro dentro de mim”, lembra, lembra, acrescent acrescentando ando ter concordado concordado com a exigência da senhoraa de que senhor que ela dev deveria est estar viviva para para ver ver a obra obra sair das cores cores borborradas em giz de cera. cera. Aos Aos nov nove, ele começou a trabalhar trabalhar.. Um Um ano dedepois, numa sessão no Cinema EldoEldorado, descobriu o que que seria o tal tal rei rei-nado. Corr Correu para para casa, deixando deixando sandálias no caminho para, para, esbafo esbaforido, promet prometer: er: “Deixa “Deixa eu virar virar ra ra-

paz, crescer crescer e ter ter dinheiro dinheiro para para fa fazer (o tal tal reinado)”. reinado)”. E fez. fez. Eraa 1979, Er 1979, quando quando o encanador e eletricistta, já conhecido pela alcueletricis alcunha de João Capão (dos tem tempos pos de goleiroo de futebol), goleir futebol), compr comprou ou o priprimeiroo dos cinco lotes meir lotes de ter terrreno que hoje é a sede de seu eter eterno no rei rei-no pessoal. O cav cavar dos alicerces alicerces paraa a constr par construção, ução, localizada no Agres estte pernambucano, pernambucano, a 201 201 km do Recif Recife, e, te teve início dois anos dedepois. Desde então, por 36 anos, a obraa foi obr foi sendo lev levant antada, ada, diariadiariamentee supervisionada em cada dement detalhe pelo menino. “Ainda “Ainda está está na metade”, met ade”, disse, como quem quem desdescreeve o prepar cr preparoo de um bolo. “Na “Na dédécada de 1980, 1980, minha mãe conheceu meu cast castelo. Ficou Ficou feliz feliz demais. Orgulhosa. Or gulhosa. Algum tem tempo po depois, faleceu”, lembrou. lembrou. Trocar o lápis pela condução de 1,6 mil m em alv alvenaria exigiu

uma vida de sacrifícios. Do dinheidinheiro mensal, separa separava a quantia quantia desdestinada à feir feiraa e o res restto aplicav aplicava no casttelo, digno de cort cas cortes reais. reais. São 10 quar quarttos de 3m x 9m, salão de fes esttas, cozinha e toda toda uma área, área, onde a adaptação adaptação dos planos pre previa a abertur aberturaa de uma pousada, para para viabilizar o cust custeio da própria ouousadia. A sala de est estar é ornada ornada com um jacaré em cimento, cimento, lareir lareiraa e até um trono, trono, em que que João, para para as fot otos, os, nunca se opôs a posar senta sentado, de capa, cetro cetro e coroa. coroa. Par araa isso, conta contava com trabalho trabalho e simpatia. sim patia. “O pov povo gost gostava de mim. Tinha vez vez que que eu est estava trabalhan trabalhan-do em 10, 10, 12 12 obras obras ao mesmo tem tem-po, tant tantoo como encanador quant quantoo como eletricist eletricista. Aí dav dava para para fazer fazer dinheiro”, dinheir o”, contou, contou, sobre sobre como, além do cast castelo, conseguiu erguer erguer 12 12 cacasas, cinco present presenteadas eadas aos filhos filhos e as demais, vendidas vendidas para para cust custear o

UM IMPÉRIO DE SAUDADE

Visitas são comuns e estimuladas durante toda a semana Obra de João Capão é frequentemente visitada por escolas da região e por excursões turísticas que passam pelo município de Garanhuns, no Agreste

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andamento do cast andamento castelo e a compr compraa do Cruzeir Cruzeiroo de Garanhuns, Garanhuns, time de futebol, fut ebol, sua outra outra paixão, que que diz ter mantido por quase quase 30 anos. “Jo“Joguei por quase quase 60 anos. Até Até minhas pernas per nas entronc entronchar harem. em. Ando difícil agora, agor a, mas porque porque joguei muito”, muito”, contou, cont ou, gar garantindo antindo que que não troca troca-ria a própria história história nos gr gramados por uma velhice velhice menos penosa. “Me arrrependo não. Me arr ar arrependo é de ter pedido ajuda ajuda para para quem quem podia ajudar judar,, aqui aqui na cidade, e ver ver gent gentee rindo da minha cara. cara. Não tenho tenho cocomo fazer fazer sozinho. Não sei se chego chego a ter terminar minar.. Mas sou o trabalhador trabalhador da minha vida”. Se rei rei bom é aquele aquele que que conhece cada part parte de seu reinado, reinado, João pre prefer eree guardar guardar conquis conquisttas e dados, em vez vez de mágoas. “Pus 31 31.299 cacaçambas de barr barro aqui aqui na frent frente. e. Usei 1,26 1,26 milhão de tijolos. tijolos. Vendi Vendi 5 mil cordéis cordéis sobre sobre o meu cast castelo.

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Sempree dizendo que Sempr que não tinha pre preço, é de R$ 1 a R$ 1 milhão, para para que que cada um fizesse fizesse sua part parte aqui”, aqui”, elencou. As dimensões de cada paparede, o preço preço de cada font fonte, e, cada esestátua, ia dizendo de cor, cor, emendanemendando que que dev deveria ser milionário a esessa altura. altura. Silenciou, olhou em vol vol-ta, passou a mão em uma cadeira cadeira e depois numa das gr grossas paredes. paredes. Sorriu. Sor riu. Não precisa precisavva dizer. dizer. Era Era mais rico que que os milhões seriam capazes de dimensionar. dimensionar. “Vou “V ou trabalhar trabalhar nesse cast castelo até o último dia da minha vida”. Disse e cumpriu, cumpriu, durant durantee a última entre entrevistta cedida por João Capão. Ele fa vis faleceu no dia 12 12 de maio de 201 2016, vívítima de um infar infartto, no Hospital Hospital da Res esttaur auração, ação, no Recif Recife. e. Despediuse, aos 81 81 anos, com um sorriso sorriso no ros ostto e, há quem quem diga, diga, tra trajando a tal tal coroa cor oa imaginária que que acompanha acompanha seus sonhos desde os oito. oito.

GARANHUNS Distância A 201 km Recif Recifee Dimensões 64m x 25m 25m Diferenciais 1,1,226 milhão de de tij tijolos 31.2299 caçambas 31. caçambas de de barro barro Início da construção 1979

Segundo cálculos do proprietário, obra demandou cerca de 1.3 milhão de tijolos em sua construção, ao longo de 36 anos


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Recife, 15 e 16 de abril de 2017

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ARREPENDIMENTO TALHADO EM CONCRETO e você nunca entrou no castelo de Pesqueira, no Agreste pernambucano, provavelmente não terá mais oportunidade. Talvez o monumento mais conhecido do interior de Pernambuco, a residência de 14,4 mil m2, não é e, possivelmente, não será aberta a visitantes num futuro próximo. Conhecido pelo exterior multicolorido e repleto de gárgulas, ameias, correntes e inúmeros outros ornamentos, o imóvel desafia as noções imagéticas de limite, sendo impossível concebê-lo em detalhes em apenas um olhar para sua fachada, espremida entre outras residências, no centro da cidade a 202 km do Recife. Edvolnaldo Torres, 53, abre a porta principal do palacete e conduz os olhares por cada detalhe que planejou desde 1999. Um pouco a contragosto. Há anos, evita ceder entrevistas ou falar do próprio castelo. Aponta para abóbadas em estilo grego e vai mostrando os desenho a lápis, que viraram formas de isopor, antes da peça de concreto, espalhada pelos cantos de toda a construção, ser concebida. “É uma arquitetura espontânea. Desenhei e fiz. Às vezes, não conseguia dormir até colocar no papel. Não tem um padrão, um norte. Vejo coisas bonitas, ponho aqui. Em fotografias, filmes, o que for. É algo que não tem explicação. Comecei a fazer e fui sendo levado com isso”, resume o empresário do ramo de móveis, eletrônicos e eletrodomésticos. Na casa, vive metade do tempo, quando não está no Recife, mas o imóvel é sempre ocupado pelo filho Nathan Nikolai, 27, (um dos quatro rebentos, todos com nomes estrangeiros os por sua influência inf luência da literatura russa) que vive com a família num dos quatro andares da construção. A residência está na família há, pelo menos, 30 anos e já era embebida em cultura. Rica em madeira, tinha detalhes entalhados com o tema Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos sobre a vida de retirantes de regiões castigadas pela seca. A vocação do imóvel foi unida ao desejo do proprietário em construir algo que pudesse ser presenteado à cidade. “Eu queria fazer algo parecido com Brennand e ‘passar’ para Pesqueira, pensando no turismo”, afirma, inspirando certa reciprocidade do município com o sucesso pessoal do filho de um operário da Fábrica Peixe, destaque entre 10 irmãos criados na pobreza, mas com uma filosofia que estudos poderiam reescrever o destino familiar. O primeiro passo foi, aos 18 anos, ser aprovado em concurso da Caixa Econômica Federal, de onde vieram os primeiros investimentos em sua arte. Edvolnaldo vai lembrando do início, dos primeiros desenhos - que bebiam na fonte do modernista espanhol Antônio Gaudí. Também trata das motivações e fala devagar, quase arrastado. Cada palavra pensada, mas cheia de pesar. O monumento nunca foi muito bem recebido pela população local. Anônimo, chegava a ficar do outro lado da rua quando caravanas em ônibus de turismo paravam na rua apenas para se martirizar a cada vez que ouvia um “que desperdício de dinheiro” ou um “não deve ter com que gas-

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Uma Odisseia psicológica das mais particulares

Edv dvolnaldo olnaldo Torr Torrees diz ter feito feito a construção construção pensando em criar um ponto turístico turístico arte artesanal sanal para para a cidade de Pe Pesqueir queiraa PESQUEIRA Distância A 202 202 km do do Recif Recifee Dimensões 10m x 36m x 40m Diferenciais 8 salas, salas, 4 banheir banheiro os, 3 quarto quartos Insp Ins pir iraçõe açõess gre grega, ro romana e jônic jônica Início da construção 1999

Obra no Agreste é o caso mais famoso do interior Superlativo em todos os sentidos, castelo abusa, em pouco espaço, do máximo possível de referências arquitetônicas presentes na história

Castelo não fica disponível para visitação de curiosos Expansão planejada, que incluiria uma biblioteca pública, foi cancelada e parte do imóvel dará espaço a apartamentos residenciais

Interior da construção é marcada pelo luxo

A relação entre entre cons construçõe truçõess de grande grande porte porte e uma posstur po turaa de dominação e da nece necessidade de ex exer erccer influência não é das mais difíceis difíceis de faz fazer er,, mas mas,, de acor acordo do com o pro professor de psic psicologia ologia da Univer Universidade sidade Feder Federal al de Pernambuc ernambuco o Sylvio Sylvio Ferr Ferreir eira, a, par araa a psic psicanális análisee, os sonho sonhoss são manife manifestaçõe taçõess de des desejo ejoss se sexuais ou agre agressiv sivo os dessen de envvolvido olvidoss na infância de quem sonha. sonha. No cas caso o dos dos cas asttelo eloss, avalia, a projeção projeção seria seria por um des desejo de poder, poder, que encontr encontraa na projeção projeção de pers personag onagens ens que sequer sequer fizer fiz eram am part partee da história história local, local, à figura figura de senhor senhorees feudais e de uma nobre nobreza apenas ass associada a um imaginário de poder. poder. “É como como se se, do cas casttelo elo,, a pes pessoa pudes pudesse ex exer erccer seu seu domínio e poder sobr sobree as pes pessoas as,, sendo um ideal ideal de vida, ou ao menos menos um norte norte, a condição condição de julgador julgador ou juiz da vida humana. A cons onstrução trução vira vira a materializ materialização ação dessse sonho de sonho,, que toma toma dimensão de abs absolut oluto” o”,, explic xplica. a. Nessse cont Ne conteext xto o, a teoria teoria do des desen envvolviment olvimento o individual, do psic psicanalis analista ta austríac austríaco o Adler Alfr Alfred, ed, apontaria par paraa uma espécie de neuro neurose por part partee do sonho sonho quase quase inalcançáv inalc ançável el de cons construção trução,, no sentido sentido de que o objetivo objetivo pré-esstabelecido pré-e tabelecido,, no cas caso o de conc conceber eber es estrutur truturas as milionárias como como cas casttelo eloss, seria determinant determinantee do comportament omportamento o como como forma forma de saciar saciar a busc busca e sede sede por poder ou notoriedade notoriedade - e o proc proceesso não complet completo o des dessa tareefa des tar desen envvolv olveesse um comple complexxo de inferioridade inferioridade.. “Todas “T odas as pes pessoas faz fazem em ou busc buscam es essa transição transição,, que pode ser ser uma posição posição de re referência na pro profis fissão são,, por exemplo emplo.. Mas es esse é um des desejo que se se des desen envvolv olvee da primeiraa par primeir paraa a segunda segunda infância (do (do ter tercceir eiro o ao quarto quarto ano), ano ), mas na forma forma de um des desejo que nunca nunca se se satis satisffaz” az”,, deffende Ferr de Ferreir eira. a. Nas pala palavr vras as do pro profis fissional sional de psic sicologia, ologia, é como como se se os os cons construt trutor orees fize fizessem des desse sonho a única única maneira maneira de transição transição par paraa a superioridade, superioridade, no sentido sentido de uma dimensão de superioridade social: social: “É o comportament omportamento o de Penélope Penélope,, esper sperando ando Uliss Ulisses, em A Odis dissseia (ao tec tecer er um sudário par paraa o pai pai do marido à vista vis ta de todo todoss, dur durant antee o dia, e des desfaz azer er o trab trabalho alho à noitee, par noit araa não concluir concluir o trab trabalho alho até o amado ret retornar ornar,, livrando-s livr ando-see da obrigação obrigação impos imposta pelo pai pai de cas casar ar-s -see quando do trab trabalho alho concluído concluído). ). Talv alveez por iss isso, muitas vezes, quando da conclusão conclusão dos dos cas casttelo eloss, a vida de seus seus cons onstrut trutor orees se se encerr encerre” e”.. Mas em suas av aventur enturas as particular articularees, os Homero Homeros pernambucano pernambucanoss, ric rico os ou pobrees, vão seguindo pobr seguindo bordando bordando em concr concret eto o e cimento cimento, meio Penélope Penélope,, meio Uliss Ulisses, cativ ativo os das ninfas ninfas Calips Calipso, a quem chamam de sonho sonho..

Tendo como como re referëncia museus museus de grande grande porte porte como como o Louvr Louvree, int interior erior do cas casttelo é replet repleto o de bust bustos, armadur armaduras as,, ins instrument trumento os musicais musicais e detalhes detalhes nas par parede edess, como forma forma de atrair atrair a atenção atenção de um público público que já não tem tem ace acesso a ele

Do chão ao alto de seus 40m de altura, construção é rica em cores e em peças artesanais em gesso tar”. Para um pouco. Boca seca. “As pessoas não valorizam. Isso deveria ser um museu, algo bom para a cidade. Eu estava construindo uma expansão, em outro prédio, para ser uma biblioteca pública. Parei. Meus filhos é que vão tocar a obra, que deve ser um prédio residencial”, diz. Por dentro da obra, é possível identificar a falta de definição do destino do prédio. Diferente da fachada, não há divisões definidas, no aguardo por um novo rompante criativo, caso os desejos construtivos voltem. Uma estátua de leão em tamanho real faz companhia a inúmeras peças de concreto à espera de uso. Em apenas um dos corredores, entre os vários concluídos, vê-se quatro luxuosos lustres, vários bustos e quadros. É quase difí-

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cil de andar, mesmo em lugar tão amplo. A exceção se faz em parte do primeiro andar, reservado a um piano quase não tocado. Torres não faz qualquer cálculo sobre quanto gastou na concretização do sonhos. Sabe que foram alguns milhões, mas as contas se perderam junto à antiga satisfação ilimitada em ver a materialização dos próprios desenhos - “Se o cara fizer conta, não faz”. Evita os papéis agora, tanto quanto falar em números - prefere ater-se a dois ensinamentos que diz nunca esquecer: “Dinheiro é o melhor empregado e o pior patrão” e “Quem termina um castelo morre”. A vontade vai e vem. Em alguns meses, considera a obra concluída, em outros, sabe, terá vontade de mudar e ampliar. Admite ar-

repender-se, ao menos uma hora. “Isso não é obra para uma vida. Antigamente, faziam em 400 anos. Galileu dizia que quando ia numa galeria, queria ir com pincel, para terminar o quadro já exposto”, diz. Por enquanto, o castelo de Pesqueira segue sem obras e os portões, fechados ao público. Rei sábio dá conta que corte rebelada só depende da motivação correta para voltar. Há de chegar o tal dia em que o patrimônio poderá fazer parte de uma cidade que o admira. Edvonaldo não sabe se terá essa satisfação. Por ora, também não sabe precisar se o castelo chegará ao fim até o fim de sua vida. Muito menos diz se os filhos dariam prosseguimento ao que, um dia, foi seu maior desejo: “Tomara que não continuem. Não desejo isso para eles...”.

Adaptações inspiram mais status que originais Ainda que não sejam sejam as cons construçõe truçõess mais comuns comuns,, a es estétic téticaa de cas casttelo eloss influenciou a arquit arquitetur eturaa local. local. As ameias,, por ex ameias exemplo emplo,, estrutur truturas as intermit int ermitent entees acima de muro muros e par parede edess, são facilment facilmentee encontr encontradas adas em imóveis imóveis da capital capital pernambucana. pernambucana. De acor acordo do com a hist historiador oriadoraa da UFPE Christine Christine Dab abat, at, o recur recursso era era utilizado utilizado par paraa ataque e def defesa e das fendas fendas (flecheiras (flecheir as), ), atir atiraava-s a-see com com bes bestas e arccos e flechas. ar flechas. Hoje Hoje,, são detalhes detalhes sem sem qualquer função além de ev evoc ocar ar status status.. Especialis specialista ta em história história mediev medieval, ela traz tr az à luz que, que, ainda que inspirado inspiradoss por cas asttelo eloss de outro outros tempo temposs, os de Pernambuc ernambuco o re respeitam es estrutur truturas as e ideais ide ais apenas no visual e no interior interior..

“Quando se se pensa pensa neles neles, é num começo começo com elev elevação artificial, em madeira, madeira, e em pedra, pedr a, par arede edess bem gro grossas etc etc. Mas há rec ecorrências orrências,, como fo fossos com com água, pontees lev pont levadiças e o local local da cons construção trução,, normalmentee território normalment territórioss elev elevado adoss, que torna ornavvam quase quase impos impossív sível el tomá-lo tomá-loss, excet eto o por traição traição ou falta falta de alimento alimentos” s”.. Histtoric His oricament amentee, os cas casttelo eloss funcionav funcionavam como sede sedess de poder político político, tendo no palácio a conc concentr entração ação da ge gestão sobr sobree terr erras as,, homens e es estado tado.. Os ideais ideais de distinção dis tinção,, de um pas passsado longínquo que sequer é nos nosso, e de nobre nobreza não corr orreespondem ao que eles eles repr repreesenta entavvam - muito muitos deles deles reduzido reduzidoss a funções funções saz azonais onais,, ac acolhendo olhendo pov povoado adoss itinerant itiner antees. As torr torrees, por ex exemplo emplo,,

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serviam só par paraa permitir atirar atirar em várias direçõe dir eçõess, não sendo sendo classific classificadas adas como como funcionais em termo termoss re residenciais sidenciais.. Nem na época, época, nem agor agora. a. “D “Deeve ser ser um inferno inf erno mobiliar uma cons construção trução redonda. Imagine” Imagine”,, brinc brincaa Dab Dabat. at. Par araa o especialis especialista ta em arquit arquitetur eturaa Ênio Eskinazi, esse fenômeno fenômeno local local dos dos cas asttelo eloss merec merecee es estudo tudo,, ainda que seja seja uma arquit arquitetur eturaa espontâne espontânea, a, log logo o, sem aval de pro profis fissionais sionais da Academia, que que,, lembra, lembr a, sequer exis existia tia nos nos anos anos 1300 1300.. “Palafitas “P alafitas e cas casas as de palhas palhas não es estão no cabedal ou enciclopédia oficial. oficial. Não podemoss dizer podemo dizer que não é arquit arquitetur etura. a. Está cons construído truído e não cai. cai. A gent entee, burgue bur guesia, sia, pode não consider considerar ar com com valor alor,, mas há. e ele dev deve ser ser discutido". discutido".

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ESPECIAL

de P E R N A M B UC O DIARIOd

SONHOS COM PREÇO E DATA MARCADA iferentemente dos demais castelos do interior de Pernambuco, a construção localizada em Sairé, no Agreste, tem função bem definida e foi construída, sim, com base num sonho, mas amparada também em pesquisa de mercado. De pequeno porte, o município de pouco mais de 10 mil habitantes a 94 km do Recife não contava com qualquer salão de festas. Debutantes e casamentos tinham Caruaru como destino prioritário. Foi nesse cenário que um desejo infantil encontrou respaldo para sair do papel - desta vez, sem qualquer alcunha de louco, mas de “esperto” - e materializar-se na forma do Castelo Pergentino. No latim, pergentino significa “caminhante, andarilho”. A ironia de fincar um imóvel dessa magnutide com tal nome bebe na mesma fonte de batismo de um dos mais tradicionais sobrenomes da vizinhança. O terreno onde funcionava a antiga fazenda de criação de gado está na família há nada menos que cinco gerações. O pretenso salão de festas, para ocupar os 22 mil m disponíveis, deu forma à promessa “um dia vou fazer um castelo”, que Fernando Pergentino repetia desde a infância. Aos 48 anos, tem uma ligação profunda com a cidade, bem como com as oportunidades que ela oferece. Acaba de reeleger-se prefeito, pelo PSB, e possui um império de panificação na região. Justamente por isso, o reino foi herdado mais cedo pelo filho, Fagner Pergentino, 27, responsável pelo negócio e por nos apresentar os detalhes do monumento medieval. “O arquiteto aqui, sem formação, foi o meu pai. Ele era aficionado pela Idade Média e aproveitou as inspirações nas viagens a Fazenda Nova (Brejo da Madre de Deus) e ao castelo de Brennand (Recife) para desenhar a visão dele e aproveitar para explorar o nicho de mercado”, explica. Muitos dos apetrechos encontrados pelos grandes salões do castelo já estavam em posse da família. “Ele gostava muito de coisas antigas, aí ficou mais fácil”. A obra, que hoje é praticamente um marco nos limites entre Sairé e Bezerros, já recebeu mais de 300 casamentos. A maior parte deles do Recife e próprio Agreste, mas a estrutura já recebeu festas de 15 anos de aniversariantes de São Paulo e até dos Estados Unidos. “Quem não iria querer fazer uma comemoração num castelo? O que a gente vende é o sonho”, diz Fagner. A comercialização desse desejo varia de R$ 1,8 mil a R$ 4,8 mil, a depender de qual dos três salões seja cedido para o evento - o maior deles, para até 500 convidados. Com obras iniciadas em 2004, o castelo ficou concluído em tempo recorde: 2,5 anos. Há capela, estacionamento e cinco minicampos de futebol na estrutura, que conta ainda com uma espécie de torre, que serve de camarim para noivas e aniversariantes. Quem responde ao questiona-

Recife, 15 e 16 de abril de 2017

SAIRÉ Distância A 94 km do do Recif Recifee Dimensões 22 mil m2 Diferenciais Três salões salões e ca capela Início da construção 2004

A poucos minutos do Recife, um desejo concretizável Casa de festas apostou em arquitetura de castelo real para chamar a atenção de pessoas de todo o estado

O diferencial nos pequenos detalhes em concreto Fontes, estátuas, almeias e janelas com metais esculpidos enchem os olhos de pessoas de dentro e fora de Pernambuco, que buscam o espaço para casamentos, formaturas e festas corporativas em um dos três salões do local

mento de Fagner, sobre quem não gostaria de comemorar num castelo, é Tairine Kelly França, 25, de Bezerros. “As meninas que cresceram já conhecendo o lugar não se imaginam mais em outro lugar. A gente tem o sonho de ter um dia de princesa e ter esse dia num castelo é unir o útil ao agradável”, garante, com um grande sorriso nos lábios - o mesmo que esbanjava ao ver realizado o tal sonho: em janeiro de 2016, casou-se com Fagner, o candidato a príncipe de Sairé. Ambos concentram o foco agora na busca pela parte menos concreta da fábula: o tão sonhado “felizes para sempre”.

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Tairine Kelly casou-se no Castelo Pergentino, lugar que, segundo ela, é o sonho de todas as jovens que crescem na região




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