Diagramación Cuaderno LAtinoamericano FAL UNILA / BRASIL

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1 Edição outubro 2018

Caderno Latino-Americano Inspirações das aulas de Fundamentos de América Latina na UNILA

Aqui se respira

lucha Organização Júlio Da Silveira Moreira Patricia Sposito Mechi


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UNILA... UNILA... Um lugar para aprender a sonhar E aprender sobre a vida de quem aprendeu a sonhar Para sentipensar os povos, as culturas, as ciências e as artes Aprender sobre quem faz a América Latina E sobre o que é sermos latino-americanos. Localizada na Foz, o lugar onde o rio termina Para onde as águas fluem E onde elas se encontram. O lugar para onde vão diferentes pensamentos, jovens, desejos de vida. O lugar da fronteira. Lugar para transformar a vida Começar novas histórias.

2010… A UNILA em construção Por onde começar uma universidade latino-americana? Por onde começar uma experiência universitária Única e diversa Transnacional e multicultural Começar com três pilares: Bilinguismo, interdisciplinaridade, latino-americanismo Andando e se trançando no caminho. No ensino, na pesquisa, na extensão e na vida. Em sua proposta pedagógica inovadora, O Ciclo Comum de Estudos. Conjunto de matérias estudadas em todos os cursos Ao longo de vários semestres, Nos estudos das línguas, nas filosofias e nos Fundamentos da América Latina.

Cada país, época, coyuntura tiene una singularidad que lo distingue de los otros. Pero también hay semejanzas, convergencias y resonancias. De ahí surge la idea de América Latina, como historia concreta y como imaginación. La formación del pensamiento latinoamericano puede considerarse como la historia del nacimiento de la idea misma de América Latina… (la que) sintetiza temas diversos, distintas perspectivas explicativas, diferentes visiones de la historia… Es como si un conjunto de autores, escritos científicos, filosóficos y artísticos, temas e interpretaciones, diera forma un pensamiento que no solo expresa sino también constituye a América Latina. Octavio Ianni


3 Pois essa matéria, que até aqui tem sido conhecida como FAL, surgiu com seminários temáticos, que juntavam as primeiras turmas de uma universidade ainda pequena. Com a chegada de novos cursos e novas turmas, a matéria foi curricularizada ao longo dos quatro primeiros semestres de todos os cursos. Cada turma tinha uma equipe de três professores, que dialogavam ao longo do semestre.

Essa experiência pedagógica incrível foi questionada internamente e suprimida em 2016. Também foi retirado o quarto semestre. Ao fim, o que acontece com FAL também explica todos os desafios e processos que vive essa experiência histórica chamada UNILA em Construção. O que segue nas próximas páginas é fruto de um esforço coletivo de reunir expressões dessa América Latina una e diversa, apresentando a matéria Fundamentos de América Latina na 1ª Mostra de Cursos da UNILA, em novembro de 2018. Alguns textos são composições especiais para essa edição, e outros são fragmentos literários e históricos cuja riqueza semiótica torna este livreto uma caixa de emoções, ideias e narrativas para ser lida, guardada, relida, declamada e repassada durante muitos anos. É trabalho em muitas línguas, como é Nossa América. É memória presente, viva e em construção. Assim como a música Latinoamérica, de Calle 13, esses textos trazem os corações pulsando, os inúmeros rostos sedentos de vida, os passos, as caminhadas e os sonhos. Agradecemos a todas as vozes, traços, cliques, pensamentos, letras, dúvidas e sorrisos que se juntaram através dos corpos de estudantes, professores e demais seres que contribuíram para esta publicação. “ A Unila terá como objetivo ministrar ensino superior, desenvolver pesquisa nas diversas áreas de conhecimento e promover a extensão universitária, tendo como missão institucional específica formar recursos humanos aptos a contribuir com a integração latino-americana, com o desenvolvimento regional e com o intercâmbio cultural, científico e educacional da América Latina, especialmente no Mercado Comum do Sul - MERCOSUL. Art. 2 ó da Lei n. 12.189/2010. A nova universidade não é um projeto, mas sim, uma realidade resultante de mudanças estruturais. A nova universidade emergiu com novas formas de ensino, métodos de organização e novos tipos de docência, investigação e difusão, funcionais à ordem existente. Hélgio Trindade.


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Projeto Pedagógico do Ciclo Comum “O Ciclo Comum foi pensado para ser o grande diferencial da UNILA em relação a outras Universidades brasileiras, pois visa incentivar o pensamento crítico, o bilinguismo e um conhecimento básico da região latino-americana e caribenha.”

“Em relação a um conhecimento básico sobre América Latina é proposta a disciplina Fundamentos de América Latina, a qual, através de uma construção coletiva, propõe compartilhar conhecimentos de caráter interdisciplinar sobre o desenvolvimento da região latino-americana, começando com estudos que introduzem as condições históricas de seu desenvolvimento para, ao final, alcançar um debate que consiga sustentar. um olhar crítico sobre os problemas atuais.”

“A proposta de conteúdos de Fundamentos de América Latina orienta-se pela abordagem da história latino-americana, o aprofundamento em sua diversidade cultural, econômica, política e social, bem como as problemáticas que delimitam seu atual modelo de desenvolvimento, convidando o estudante a rever a sua própria história nacional, com vistas a refletir e promover a integração latino-americana.”

Objetivos dos três semestres de FAL • Estudar a disjuntiva entre os processos

• Propiciar espaços de interlocução,

de integração e desintegração como

tendo como objetivo analisar as traje-

componentes contraditórios da História

tórias, experiências de vida e visões de

da América Latina.

mundo dos estudantes.

• Conhecer

a

diversidade

territorial,

• Analisar as especificidades do mode-

econômica, cultural e social na região

lo de desenvolvimento dos diferentes

latino-americana, tendo como objeti-

países da América Latina a luz de qua-

vo analisar as diversas formas de inte-

tro eixos temáticos: cidade, campo, in-

gração.

fraestrutura e meio ambiente.


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Poema Para Guay Mano Zeu

Hermanita, ja fiz minha mala

São Martinho y Aruba

Fazemos artesanias,

Me voy para Guatemala

De cielo azul-turquesa

Nos vamos para as Antilhas

De coração partido

Querida queridíssima Guay

Acampamos pelos mares

Por conta de una pana má

Viene comigo sem medo

Jogamos uns malabares Na linha do

Que já nem quiero lembrar

Pegamos carona a dedo

Ecuador

Todo lo acontecido

Chegamos no Uruguay

Passamos en El Salvador

Salimos de mochilita

E por fim, quien lo sabe

De Iguazu a Peru

Encontremos alguiém que nos ame

Perambulei com mi curaçao nú

En la veneza Venezuela

Peito abierto em dolores

Encontrei numa favela, de

Cargado de dissabores

surpresa

Tenemos un couch en Chile

Bebendo una cana

Gui y Ana, la francesa

Alguns panas na Bolivia

Na República Dominicana

Dizem que vão pra Colômbia

Una mina en Argentina

Depois Mexico, depois Cuba

Que conocí no Brasil

Bueno saber que ainda existe

São Martinho y Aruba

Un avion pra Honduras

Personas como ti

De cielo azul-turquesa

Mirar el pueblo a las alturas

Que abrigastes mis sonhos Por las calles de Haiti

Em Trinidad Tobago ou Suriname

Para olvidar de las mágoas Querida queridíssima Guay Viene comigo sem medo

Salimos al toque

En la veneza Venezuela

Pela costa de Costa Rica

Com nuestros sonhos a reboque

Encontrei numa favela, de

Nos quedamos um tico

Com alegria em estoque

surpresa

Y despues passamos un dia

Antes que sea tarde

Gui y Ana, la francesa

rico en Puerto Rico

Na tierra en que el solo arde

Dizem que vão pra Colômbia

Un almuerzo saboroso

Na areia que o mar enxagua

Depois Mexico, depois Cuba

Pôr-do-sol bien hermoso

Antes que se acabe la hierba en Jamaica y el água en Nicarágua.


LA MADRE

TIERRA

EDUCA EN

SILENCIO

Por: Jessica Misajel


7 Una gran educadora, un gran ejemplo de maestra. No hay duda de su amor y de su eternidad. No hay duda de su capacidad de creación y de purificación. Ella sola sin decir algo siquiera, nos va enseñando el camino a nosotros mismos. Ella va purificando y mostrándonos lo contradictorio que es vivir haciéndonos daño. Ella es una observadora que nos bendice todo el tiempo, nos acompaña en el aprendizaje, pues a pesar de haber tenido hermanos que nos enseñaron a cómo vivir en naturaleza, algo nos fue alejando de nuestra esencia. Ahora creemos que el mundo se va a desplomar, muy por el contrario, pasamos a un punto donde vemos que todo lo que habíamos creado, se ha ido en nuestra contra. Todo lo que había saltado los procesos de la naturaleza nos han servido por cierto tiempo, no habíamos considerado la sabiduría de nuestros ancestros, porque éramos jóvenes, creyendo que todo lo podíamos, que todo lo sabíamos. Estamos en una época donde la madre en silencio nos hace observadores de las consecuencias de nuestra elección y nosotros mismos nos empujamos a tomar los conocimientos que dejamos de lado pues ahí está la solución de todos nuestros problemas. Volver a nuestro estado natural es a dónde vamos. Ella no se queja, solo espera en silencio nuestra sabiduría que empieza a despertar en cada ser humano. Ella no va a morir, sabe muy bien cómo poner todo en su lugar en cuestión de horas, pero no

lo hace, nosotros lo haremos, pues somos nosotros los que nos vemos afectados de nuestras propias acciones. Ahora los cambios son inminentes, es algo natural que se venía venir, por eso nos prepararon nuestros ancestros, nos dejaron ese legado para estos tiempos, para tomar todos esos conocimientos e ir rumbo a la fuente de amor y naturaleza que siempre hemos sido. Si hay algo que morirá en todo esto proceso de reconciliación, será la ambición, será la individualidad, será la deshumanización, será el sistema egoísta, será la flojera, serán las enfermedades, serán los conocimientos vacíos, todo lo que esté lejos de su estado natural, morirá. Pero como toda cura de enfermedad, la verdadera cura, primero elimina hacia afuera, primero le da fiebre, primero vomita, primero expira todo, para luego inhalar vida, solo así se sana realmente. Solo así se es libre. La muerte nunca ha sido el final, la muerte siempre ha sido la purificación (El inicio). La madre tierra nunca nos ha castigado, por el contrario, su templanza, su sabiduría nos ha ido enseñando en silencio. Nos dejó ser, nos dejó caer y ahora solos, ya más sabios, más vividos volvemos a casa: A la fuente de eternidad de amor infinito que somos. Nunca perdemos nada aquí, pues cuando comprendemos que somos naturaleza también descubrimos que estamos unidos todos con todos y con todo. Todo uno solo. Ahí vamos, por eso estamos yendo bien.


As ditaduras militares na AmĂŠrica Latina Por: Patricia Sposito Mechi (Doutora em Historia Social Professora de Fundamentos de AmĂŠrica Latina na Unila.)


9 América Latina e Ditaduras

Regimes autoritários ou abertamente ditatoriais não são incomuns na América Latina. Desde as independências, a região foi pródiga em produzir ditadores de matizes distintos, por vezes, defendendo interesses antagônicos. Personagens como José Gaspar Rodriguez de Francia, “ditador perpétuo” do Paraguai, retratado na literatura por Augusto Roa Bastos,NOTA1. inspirava-se na revolução francesa para combater a aristocracia rural e implementar o ensino público e paralelamente, fomentava a agricultura, a industrialização, não cedendo à influência inglesa. Por outro lado, a profusão de caudilhos ao longo do século XIX e início do século XX, garantia, também por meios ditatoriais, o controle da sociedade pelas aristocracias rurais e, em muitos casos, uma franca submissão ao capital inglês. Com objetivos diferentes, os governantes recorrem frequentemente a soluções autoritárias ao longo da história latino-americana. Como lembra Octavio Ianni, ao fazer a crítica sobre o tema da nação na América Latina, “a o Estado é forte, a democracia episódica, a ditadura recorrente. São as elites deliberantes — militares, civis, oligárquicas, empresariais, tecnocráticas — que sabem e podem”.NOTA 2.

O povo entra em cena

Entre as décadas de 1940 e 1960 em diversos países latino-americanos a predominância dos autoritarismos foi abalada. Surgiram movimentos e manifestações populares, rurais e urbanas e pela primeira vez as massas populares passaram a entenderem a si mesmas como sujeitos de direitos, agentes de sua própria história. Uma das reivindicações mais frequentes era pela democratização, demanda que era fruto das modificações internas pelas quais passavam alguns países da região, baseadas em processos de industrialização, mas impulsionadas também pela derrota do nazi-fascismo na segunda guerra mundial; pela primeira vez, em muitos países latino-americanos, as formas ditatoriais de governo foram questionadas. O trabalhismo no Brasil, cujos mais conhecidos representantes são Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola e o peronismo na Argentina, são apenas dois exemplos do poder que as massas populares NOTA 1. BASTOS, A. R. Yo el Supremo. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 1.974. NOTA 2. IANNI,Octavio. A questão nacional na América latina. Estudos avançados. São Paulo, vol.2, ne 1,1.988. Disponivel em: <http://www.scielo.brscielo.php?script=sci_art text&pid=SO10340?41988000100003&Ing=en&nrm=iso>. Acesso em 07/10/18.


10 adquiriram

no perío do, pressionando os governos para o atendimento de suas demandas; ainda

que com conformações autoritárias – trabalhismo e peronismo são entendidos também como “populismos” – eram movimentos que admitiam uma margem de negociação entre Estado e classe trabalhadora. Neste cenário, os partidos comunistas, mesmo perseguidos e postos na ilegalidade eram importantes forças sociais, com milhares de militantes engajados nas causas populares. Era um momento em que esta ascensão popular se refletia nas artes: o povo, seus temas, seus sonhos e desejos passaram a ser cantados pela Nueva Cancion Latino Americana, Nuevo Cine Latino Americano, pelo Cinema Novo, entre outros movimentos artísticos.

Povo, uma categoria social tão imprecisa, talvez fosse a que melhor captasse o desejo generalizado no campo das artes de dialogar, incluir e refletir sobre tantos grupos sociais marginalizados. Personagens, atores e autores populares aparecem também na literatura, na poesia, no teatro, no cinema. Em

1958,

Carolina

Maria

de

Jesus,

catadora

de

papéis,

publica

Quarto

de

Despejo:

diário de uma favelada; na música, Mercedes Sosa, Violeta Parra, Silvio Rodrigues, Pablo Milanês e Victor Jara cantam as raízes indígenas, a vida, a resistência camponesa e popular, fazendo da arte também um ato de denúncia da violência e um chamamento à unidade. Uma América democrática

Latina

mais

justa

e

Estas importantes experiências culturais davam o tom das novas possibilidades que se abriam: por toda a América Latina, projetos de sociedades mais justas, igualitárias e democráticas

eram

debatidos

publicamente.

Em 1959 a revolução cubana vinha aprofundar as esperanças populares, demonstrando ser possível sair da esfera de domínio estadu-

LIBERDADE!

nidense, buscando, ainda que com muitas dificuldades, construir um caminho de maior autonomia e um outro tipo de desenvolvimen


11 to. O antimperialismo cubano, inspirou direta e

tervenção que tinha nas Forças Armadas e

indiretamente vários movimentos sociais e or-

nos serviços secretos seus principais pilares.

ganizações políticas na América Latina que, de

Durante a guerra fria, desenvolveu-se a Dou-

diversas maneiras, tentavam construir uma al-

trina

ternativa social contra a pobreza extrema em

nizava que o “mundo livre” estaria sob a

que vivia a maior parte das pessoas na região.

ameaça de um novo tipo de guerra e, con-

Entretanto, os povos latino-americanos que pas-

sequentemente, um novo tipo de inimigo.

de

Segurança

Nacional,

que

preco-

saram a entender-se como sujeitos do seu próprio destino, acreditando serem capazes de decidir

Segundo

suas formas de vida sem serem tutelados e buscan-

da

do justiça social, passaram a ser vistos pelas cama-

se desenvolvia contra um inimigo externo

das dirigentes latino-americanas e pelos sucessi

e declarado, passara a ser contra um ini

vos

Unidos,

migo que podia se camuflar no interior da popu-

continental.

lação do “país alvo” como explicava o chefe do Esta-

como

governos ameaças

dos à

Estados

segurança

União

esta

doutrina,

Soviética,

a

com guerra,

a

ascensão que

antes

do-Maior do Exército brasileiro, Breno Borges ForA ameaça que vem do sul: o temor dos Estados

tes, na X Conferência de Comandantes em Chefe de

Unidos da autodeterminação dos povos lati-

Exércitos americanos, em Caracas, no ano de 1973:

no-americanos.Logo após o fim da segunda gue-

“O inimigo é indefinido, serve-se do mimetismo

rra mundial, os Estados Unidos modificaram sua

e adapta-se a qualquer ambiente, utilizando to-

forma de manter a hegemonia sob o continente

dos os meios, lícitos ou ilícitos, para atingir seus

americano; com a ascensão da União Soviética

objetivos. Mascara-se de padre ou professor, de

como liderança do chamado “Bloco Comunista”,

aluno ou camponês, de vigilante defensor da de-

estabeleceu-se um tipo de conflito que ficou ge-

mocra cia ou de intelectual avançado”NOTA 3.

nericamente conhecido como “guerra fria”. Trata-

A guerra, não declarada, não se desenrola-

va-se, em linhas gerais, de um conflito que tinha

va mais em seu modo clássico, num campo de

como base a disputa entre capitalismo e socialis-

batalha, longe de civis. A guerra passoua ser

mo pelo domínio dos espaços e atores na geopo-

concebida como uma atividade que se des-

lítica mundial.

envolvia por todos os meios e espaços possí

A América Latina, que desde o século XIX sempre esteve na mira expansionista esta-

NOTA 3. FORTES,B.B. apud COMBLIN, Joseph, A ideología da Segurança Nacional ®O Poder Militar na América Latina, Río de Janeiro, Civilização Brasileira, 1.978, p.78.


12 veis: o conteúdo escolar, o sermão na igreja, a as-

O golpe militar em 1964 no Brasil foi o pri

sembleia estudantil ou sindical, o protesto contra

meiro que estabeleceu um Estado de Segurança

o governo, a canção crítica, entre outros. Qualquer

Nacional na América Latina, baseado nos prin-

manifestação de desacordo com os regimes po-

cípios de uma doutrina de guerra centrada na

dia ser entendida como uma tentativa de deses-

guerra fria, transformando todos os cidadãos

tabilização a ordem e enquadrada de acordo com

do país em potenciaisinimigos. Para chegar ao

os preceitos da Doutrina de Segurança Nacional.

poder, os militares deram um golpe de Estado contra o presidente legítimo, João Goulart e es-

Este foi um dado comum na instalaçãodas ditadu-

tabeleceram uma ditadura que durou 21 anos.

ras militares na América Latina que, em maior ou menor grau, estavam influenciadas por esta doutri-

Os Estados Unidos não foram observadores que

na. Muitos oficiais latino-americanos se formaram

se mantiveram à distância. Ajudaram na cons-

nas escolas de guerra estadunidenses e lá se fami-

piração para instalação da ditadura com recur-

liarizaram com esta nova doutrina militar. Entre-

sos financeiros e estavam preparados para in-

tanto, a influência estadunidense não era a única.

tervir militarmente, caso houvesse resistência.

Oficiais franceses também colaboraram na formação de oficiais na chamada “Escola das Amé-

A experiência adquirida pelos Estados Unidos no

ricas”NOTA4– mas também em outras escolas

apoio ao golpe brasileiro, foi ampliada e apri-

militares latino-americanas. Baseando seus ensina-

morada no golpe chileno, que derrubou o go-

mentos na experiência de repressão das ex-colô-

verno eleito de Salvador Allende. Por meio de

nias francesas, a Doutrina da Guerra Revolucionária

Covert Actions (Ações Encobertas) agentes esta-

ensinava os militares latino-americanos a como

dunidenses ajudaram a desestabilizar o regime

extrair, sob tortura, informações de seus inimigos.

de Salvador Allende, financiando milícias, greves, protestos, colaborando no desabastecimento do

Golpes militares e Estados de

país e na paralização dos transportes.NOTA 5.

Segurança Nacional na América Latina

A presença estadunidense no momento do gol-

NOTA 4.De acordo com o site da School of the Americas, a escola é um instituto do Departamento de Defensa dos E.E.U.U. fundado em 1.946. Com a denominação inicial de Centro de Adestramento Latinoamericano-Divisão da terra. Sua principal missão era a de fomentar cooperação ou servir como instrumento para preparar os paises latino-americanos a cooperar com os E.E.U.U.

pe é retratada no filme “Estado de Sítio”, que conta a história de um repórter estaduniden NOTA 5. A participação dos E.E.U.U. no golpe militar chileno tratado com riqueza de detalhes no livro: BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz.Fórmula para o caos: a derrubada de Salvador Allende 1.970-1.973.


13 se que “soube demais” sobre a participação de

Quem é o inimigo interno?

seu país no golpe e foi as sassinado pela recém instalada ditadura de Pinochet. Uma terceira ex-

Estes golpes militares colocaram fim às expe-

periência ditatorial que pode também ser con-

riências populares ou à possiblidade

ceituada como Estado de Segurança Nacional, é a da Argentina. Foi a que menos tempo ficou no

de sua realização como a bela experiência chile-

poder – sete anos – mas que, no cone sul, foi a

na do governo de Salvador Allende, a tentativa de

que produziu o maior número de mortos e des-

reformas sociais no Brasil de João Goulart e a in-

aparecidos – 30.000. Neste país, identificou-se a

tensa mobilização dos trabalhadores argentinos.

existência de 340 campos de extermínio.NOTA 6. Sobre todos eles, se abateu uma brutal repressão. Além de fortalecer o aparato repressivo, a Dou-

Sob a mão de ferro dos governos militares, per-

trina de Segurança Nacional tinha outros traços

seguiram-se estudantes, sindicalistas, artistas, po-

comuns nas ditaduras chilena, brasileira e argenti-

líticos de oposição, camponeses e todos aqueles

na. Tratam-se de regimes que desenvolveram um

que, segundo as ditaduras, poderiam ser “inimi-

caráter profundamente antipopular e que reforça-

gos internos.”

vam a submissão ao capital externo no campo econômico.

Entre Brasil, Argentina e Chile, apenas o governo

A repressão exacerbada que se abatia sobre a po-

deste último país tinha uma proposta de camin-

pulação oferecia ao empresariado nacional ou es-

har para o socialismo. Os outros, pretendiam des-

trangeiro a “paz social” e um baixo custo de mão

envolver uma forte política nacionalista capaz de

de obra, permitindo elevar seus lucros. Na defi-

aumentar sua autonomia frente ao países centrais

nição do sociólogo Florestan Fernandes sobre o

do capitalismo.

Brasil, mas que certamente vale para outros paí-

No entanto, esta busca de autonomia e de for-

ses da América Latina, aqui o capitalismo é difícil.

talecimento do capitalismo nacional não agradou

NOTA 7.

à setores da burguesia desses países que – em detrimento do desenvolvimento econômico e de

NOTA 6. Para mais informações sobre os campos de concentração na Argentina ver: CALVEIRO Pilar. Poder e desaparecimento: os campos de concentração na Argetina.

uma melhor distribuição de renda em seus países

NOTA 7. FERNANDES, A Revolução Burguesa no Brasil, Río de Janeiro, Editora Globo, 2005 p. 251.

mica.

– optaram por aprofundar a dependência econô-


14 Fim das ditaduras e justiça

Já no Brasil, temos a triste condição de ser o único país no cone sul em que nenhum torturador,

Algumas

décadas

nos

separam

do

fim

das ditaduras e muito já foi feito para elucidar

sequestrador ou assassino à mando do Estado brasileiro durante a ditadura preso. Em 1979 os

os crimes de lesa-humanidade cometido por agentes do Estado naquele período.

militares impuseram uma lei de “autoanistia”, que tinhaa intenção de “colocar uma pedra sob

A Argentina avançou muito na investigação e

o assunto” ou seja, esquecer o passado e seguir

punição dos responsáveis, com a prisão de inú-

em frente.

meros genocidas e torturadores, o mais emblemático deles, a maior liderança da ditadura ar-

Entretanto, para seguir em frente, é necessário

gentina, general Jorge Rafael Videla, morreu na

conhecer sua história e lidar com uma passado

cadeia. Atualmente a Argentina se debruça cada

individual e socialmente traumático. Para que

vez mais sobre a conivência e colaboração.

nunca se esqueça, para que nunca mais aconteça!

O Chile também avançou, possuiu alguns importantes ações de direito internacional através das ações do juiz espanhol Baltazar Garzón, que decretou a prisão do ditador Augusto Pinochet.

Apesar de não ter sido julgado, foi a primeira vez expressou publicamente que um ex-chefe de Estado não teria imunidade diante de crimes de grande repercussão internacional. O caso tam bém abriu espaço para ao menos 100 julgamentos contra violadores de direitos humanos nos últimos 15 anos. NOTA 9. NOTA 9. O GLOBO on line. Prisão de Pinochet foi o caso mais famoso de aplicação de jurisdição universal. Dipon vel em: https://oglobo.globo.com/mundo/prisao-de-pinochet-foi-caso-mais-famoso-de-aplicacao-da-jurisdicao-universal-11576896.Acessado em: 08/10/18.


A guerra contra o Paraguai: uma guerra que nĂŁo termina Paulo Renato da Silva


16 Diz-se muitas vezes que a história é escrita pelos

Existe um grande debate sobre as causas da gue-

vencedores. Eles podem dar-se o luxo de esquecer,

rra, não necessariamente excludentes entre si.

enquanto os perdedores não conseguem aceitar o que aconteceu e são condenados a remoê-lo, revi-

A Tríplice Aliança alegava que Solano López tin-

vê-lo, refletir sobre como poderia ter sido diferente.

ha um projeto expansionista sobre os países vi-

Peter Burke (2000, p. 83).

zinhos, o que é endossado por alguns estudiosos.

Entre 1864 e 1870 ocorreu uma das maiores gue-

Outros apontam que a Tríplice Aliança aten-

rras da história latino-americana, a Guerra da

deu aos interesses da Inglaterra, então prin-

Tríplice Aliança contra o Paraguai.

cipal potência mundial e que estaria preocupada em acabar com o “desenvolvimento”

Em por

1864,

o

brasileiro

Paraguai

apreendeu

Marquês

de

o

va-

e a “autonomia” do Paraguai naqueles anos.

Olin-

da e invadiu a Província de Mato Grosso.

Uma terceira linha importante de interpretação

oi uma resposta à invasão do Uruguai pelo Brasil.

destaca que disputas entre os países da região provocaram a guerra – e não apenas o suposto

O Brasil tinha invadido o território uruguaio com

projeto expansionista de Solano López.

o objetivo de depor o presidente Atanasio Aguirre, avesso à crescente influência brasileira no país.

Um exemplo disso é a citada intervenção brasileira no Uruguai.

Aguirre era aliado de Francisco Solano López,

Há muitas outras explicações. Independentemen-

o governante paraguaio. Em 1865, o Paraguai

te da responsabilidade pelo início do confronto, o

invadiu a Argentina com o objetivo de che-

Paraguai foi o principal prejudicado pela guerra.

gar à província brasileira de São Pedro do Rio Grande do Sul e, posteriormente, ao Uruguai.

Em La Paraguaya (c. 1879), o pintor uruguaio Juan Manuel Blanes (1830-1901) representou as duras

Brasil, Argentina e Uruguai se uniram na Trípli-

consequências da guerra para o Paraguai:

ce Aliança e declararam guerra ao Paraguai. O conflito militar durou até 1870 e dizimou a população paraguaia e a economia do país.

(Veja a imagem na próxima página)


17 É necessário considerar, ainda, os que ficaram do

doentes

país

foram

e

feridos.

devastados

Os

campos

pela

guerra,

o que tampouco se recupera prontamente. Para pagar dívidas e levantar recursos no pós-guerra, as terras públicas foram vendidas e compradas sobretudo por empresas e investidores estrangeiros, estabelecendo vínculos de dependência em relação aos países vizinhos.

O Paraguai é um país pobre, desigual e dependende dos seus vizinhos em virtude da GueÓleo sobre tela, 100 x 80 cm. Disponível em: <http://m.mnav. gub.uy/cms.php?o=1083>. Acesso em: 4 out. 2018.

O Paraguai é um país pobre, desigual e dependende dos seus vizinhos em virtude da Guerra da Tríplice Aliança? A pergunta é adequada e necessária, mas a resposta não é simples. É inegável que a guerra prejudicou bastante o Paraguai.

rra da Tríplice Aliança? A pergunta é adequada e necessária, mas a resposta não é simples. É inegável que a guerra prejudicou bastante o Paraguai. Ainda que os números variem muito, a guerra matou parte expressiva da população adulta masculina, o que diminuiu a oferta de mãode-obra para reconstruir o país. Além disso, muitos sobreviventes migraram para os países vizin-

Ainda que os números variem muito, a guerra matou parte expressiva da população adulta masculina, o que diminuiu a oferta de mãode-obra para reconstruir o país. Além disso, muitos sobreviventes migraram para os países vizinhos, o que agravou o problema da mão-de-obra.

hos, o que agravou o problema da mão-de-obra. É necessário considerar, ainda, os que ficaram doentes e feridos. Os campos do país foram devastados pela guerra, o que tampouco se recu pera prontamente. Para pagar dívidas e levantar recursos no pós-guerra, as terras públicas foram

1. Doutor em História (2009) pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) desde 2010, onde também atua no Mestrado Interdisciplar em Estudos Latino-Americanos (IELA). E-mail: paulo.silva@unila.edu.br 2. Apesar da Tríplice Aliança ter se formado em 1865, consideramos que os episódios anteriores estão intimamente relacionados com a assinatura do acordo entre os três países, motivo pelo qual consideramos 1864 como o início do marco temporal da guerra.


18 vendidas e compradas sobretudo por empresas e López por tropas brasileiras, é o feriado nacional investidores estrangeiros, estabelecendo vínculos do “Dia dos Herois”. de dependência em relação aos países vizinhos.

Por mória

um

lado,

honra

a os

manutenção que

caíram,

dessa os

me-

sobrevi

Porém, outros fatores devem ser considera- ventes e os seus descendentes. Por outro, é um dos. Entre 1932 e 1935, Paraguai e Bolívia lu- instrumento usado por essas elites para “unir” o taram entre si na Guerra do Chaco. Apesar da país, conter questionamentos à sua atuação eresvitória paraguaia, o confronto trouxe perdas ponsabilizar os países vizinhos pelos problemas econômicas putas

e

políticas

humanas internas

e em

estimulou um

dis- que não conseguem ou não querem resolver.

contex- Contudo, o uso político da memória da Guerra da

to internacional que já era conturbado em Tríplice Aliança não existe somente do lado paravirtude da crise internacional de 1929. Enquan- guaio. Peter Burke considera que os vencedores to outros países da região adotavam medidas “podem dar-se o luxo de esquecer”. Podem, mas para diversificar a economia naquele pós-cri- nem sempre o fazem, pois lembrar as vitórias ajuse de 1929, Paraguai e Bolívia precisaram cana- da a legitimar nomes e grupos políticos, econôlizar os seus esforços na guerra que travavam. micos e sociais representados pelos vencedores.

As elites paraguaias também precisam ser Um responsabilizadas

pelos

problemas

do

pequeno

passeio

por

Foz

do

país, Iguaçu, cidade de fronteira com o Paraguai, indica

seja por serem coniventes ou omissas em re- a presença da memória da guerra entre nós brasilação à pobreza, desigualdade e dependên- leiros. Almirante Tamandaré, vencedor na Batalha cia do país em relação aos seus vizinhos. Naval do Riachuelo (1865) contra o Paraguai, não Essas elites fizeram e fazem uso político da me- por acaso é patrono da Marinha brasileira e, em Foz mória da Guerra da Tríplice Aliança. Em qual- do Iguaçu, é homenageado com busto, praça e nome quer cidade do país, os nomes das ruas e os de escola. Uma rua paralela à praça se chama D. monumentos são repletos de referências a personagens e batalhas da guerra – talvez um Pedro II, justamente o governante brasileiro dudos melhores exemplos desta celebração seja rante o confronto. O colégio mais conhecido da o Panteão Nacional dos Herois no centro de Asun cidade se chama Bartolomeu Mitre, que governou ción. 1o de Março, dia do assassinato de Solano a Argentina nos anos iniciais da guerra. Paralelo


19 ao

colégio

encontramos

a

Rua

Almiran-

te Barroso, outro nome de destaque na Batalha

Naval

Batalha Marinha

é do

do

Riachuelo.

comemorada Brasil.

A

propósito,

anualmente outros

pela

exemplos

Conocer el país, y gobernarlo conforme al conocimiento, es el único modo de librarlo de tiranías.

na cidade.

La universidad europea ha de ceder a Outros exemplos existem por todo o Brasil, in-

la universidad americana.

terferindo até os dias atuais na forma como lida-

La historia de América, de los Incas

mos com esse episódio de nossa história e nas

a acá, ha de enseñarle aldedillo,

a

aunque no se enseñe la de los arcon-

imagens

que

projetamos

sobre

os

nos

sos vizinhos paraguaios, sua história e cultura. Referências bibliográficas: BURKE, Peter. Variedades de ral. Rio de Janeiro: Civilização

tes de Grecia. Nuestra Grecia espreferible a la Grecia

História CultuBrasileira, 2000.

Para conhecer mais sobre a Guerra do Chaco: CHIAVENATO, Júlio José. A Guerra do Chaco: leia-se petróleo. São Paulo: Brasiliense, 1979. RIVAROLA, Milda. El Paraguay liberal. In: BOCCIA PAZ, Alfredo; RIVAROLA, Milda. Historia General del Paraguay. Asunción: Fausto Ediciones, 2013. t. III. Para conhecer mais sobre a guerra contra o Paraguai: ALCALÁ, Guido Rodríguez. Ideología Autoritaria. Asunción: RP Ediciones, 1987. CHIAVENATO, Júlio José. Genocídio Americano: a Guerra do Paraguai. São Paulo: Brasiliense, 1979.

que no es nuestra. Nos es más necesaria. Los políticos nacionales han de reemplazar a los políticos exóticos. Injértese en nuestras repúblicas el mundo; pero el tronco ha de ser el de nuestras repúblicas. Y calle el pedante vencido; que no

DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: nova história da

hay patria en que pueda tener el

Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

hombre más orgullo que en nuestras dolorosas repúblicas americanas. José Martí, Nuestra América, 1891


20

LA MEMORIA ES EXISTENCIA Y RESISTENCIA.. Fundamentando UNILA.. Cuando llegué a la UNILA en 2011 e inicié el curso de grado en Historia – América Latina, la disciplina Fundamentos de América Latina abarcaba gran parte de la curricula en los primeros semestres. Aún recuerdo la primera prueba escrita que tuvimos, allá por junio del 2011, cuando toda la turma 2011 se encontraba en los refeitorios de las Moradias I y II estudiando las tardes y noches enteras para preparar la evaluación – más de unx lo recordará-. Así iniciaron muchos grupos de estudio, de compañerxs y amigxs. Pero ¿por qué será que quedó ese recuerdo tan marcado en mi memoria? Sin dudas hay varios motivos aunque destaco dos de ellos por sobre todo. Por un lado, la relevancia de la materia para nuestra formación y para el proyecto UNILA y, por el otro, el desafío que significaba para jóvenes de todas partes de América Latina y el Caribe cuestionar este extenso territorio que habitamos y la historia que emana de él y que nos habita.

cido e identifique el para quién es producido. Y creo que es allí justamente donde FAL posee su mayor fundamento de existencia en la UNILA. La Universidad, en su estatuto, establece como responsabilidad el producir conocimiento que permita contribuir al desarrollo y la integración regional solidaria, a la construcción de sociedades más justas, con equidad económica y social y desta ca su compromiso con una so-

ciedad democrática y solidaria. Estos objetivos sólo pueden ser cumplidos con profesionales que conozcan el territorio que pisan y del cuál provienen, que comprendan las trayectorias históricas que nos conforman, las contradicciones que nos habitan y las problematicas profundas y estructurales que nos determinan en lo singular de cada pueblo, nacionalidad, etnia y cultura y en lo general del continente. Es a partir de sus objetivos y de su misión que la UNILA cobra sentido y es la materia FAL una de las El contenido que estudié y apren- principales herramientas para llevarlos a cabo. dí me hizo comprender que este continente al mismo tiempo que no puede ser homo Asi mismo, el conocimiento que incorporé a través geneizado en una única definición porque su esen- de esa materia me ha servido – y sirve- tanto a cia es diversa, posee ciertos rasgos históricos, eco nivel general de la formación humana y profresio nómicos, sociales y culturales que permiten pen nal como en la práctica laboral de investigadora sarlo como un todo. Un todo diverso y múltiple. y docente. Desde que retorné a Uruguay el año pasado – 2017- vengo ejerciendo ambas laboEstos contenidos que van, por ejemplo, desde el res – investigación y docencia - y muchos de los estudio de las poblaciones originarias hasta la si- contenidos curriculares que debo enseñar a mis tuación geopolítica actual del continente me per estudiantes se vinculan tanto con la historia de mitió construirme como una profesional de pen- mi país como con la del continente. Lo aprensamiento crítico, comprometida socialmente con dido en FAL se ha tornado una herramienta las mayorías de este continente y que a la hora- por demás útil para la ejecución de mi trabade producir y reproducir conocimiento científi- jo y me hapermitido continuar desarrollando co logre situarlo en el contexto donde es produ los objetivos de la UNILA en mi país de origen.


21 A modo de cierre dejo una anécdota que viene como “anillo al dedo” para este breve relato. Actuando como docente de la enseñanza media técnica y tecnológica en Uruguay, estoy dictando una materia para estudiantes de 2do año de Bachillerato (2do ano do Ensino Medio) que se llama Ciencias Sociales – Economía y se trata sobre la historia económica del Uruguay. En el mes de octubre iniciamos el mó dulo que trata sobre el proceso de industrialización por sustitución de importaciones que desarrolló Uruguay a mediados del siglo XX. Al preparar las clases sobre el tema coloqué como ejemplos comparativos los casos de Argentina y de México que también desarrollaron esos modelos de industrialización en el mismo período. Estos procesos los estudié, aprendí y comprendí principalmente en las clases de Fundamentos de América Latina que cursé en los primeros semestres de mi graduación, y si bien a lo largo de estos años los he profundizado, es necesario destacar que sin FAL mi formación poseería grandes faltas. Considero que me conformado como una profesional orgánica y necesariamente latinoamericana, crítica y comprometida socialmente, con lo que estoy satisfecha – aunque reconozca que sigo en constante construcción y crecimiento – y eso se lo debo a la UNILA de manera general y a la experiencia de FAL en particular. La UNILA ya es parte de la historia de nuestro continente y FAL es su esencia.

Por: Tania Rodriguez Ravera


22

São índios de verdade? São índios mesmo!! Desde la retomada, nos llegó la invitación para

enfado. Pero lógico que somos índios de verdad!

participar del encuentro da Romaria en Maran-

casi perdí la cabeza. Les respondí: nosotrxs somos

hão, la lucha por la tierra en el Cerrado contra el

Ava origen, ustedes vinieron después, y para ma-

agronegócio. Cuando llegamos al encuentro no-

tar una pregunta del “por qué comemos animales

sotrxs Guarani Kaiowa, el director de la universi-

salvajes?” Levante la mano y le respondí: Para qué

dad local nos invitó a visitar la institución, para

comemos animales salvajes? Porque no son vacu-

hablar sobre nuestra historia con lxs estudiantes.

nados con veneno como la que ustedes consumen,

Fuimos con Ñande Ru, Ñande Sy y un grupo de

por el cual ustedes se enferman a menudo, les da

jóvenes, yo entre ellxs, teníamos que visitar cada

piedra en la vesícula e inclusive mueren, porque

sala, empezamos a cantar y luego a contar la his-

lo que consumen es puro veneno. Y lo que no-

toria sobre la retomada, lo que pasamos en ese

sotrxs consumimos es del bosque natural, lo que

proceso y a continuación surgieron las preguntas.

nosotrxs cosechamos no son envenenados, nosotrxs cosechamos batata dulce, mandioca, maíz.

Ah!! Cuando entramos en la sala hicieron estos comentarios: “São índios de verdade? São ín-

Nosotrxs

vivimos

dios mesmo!” Estábamos con collares y des-

go

calzos. Bueno, la primera pregunta fue: “¿Qué

que usamos celular? La tecnología va avan-

uds. Comen?”, “¿cómo uds viven?”, varias per-

zando

sonas hicieron preguntas y al final respondería-

des, y nosotrxs jóvenes podemos usar, pero sin

mos, otro pregunto: “¿Para qué usan celulares?”,

dejar de lado nuestra cultura. Algún día pue-

“¿Para qué quieren estudiar?”, “¿Por qué quie-

do ser advogada, hasta po dría ser una persona

ren ingresar en las universidades?”. Ñande Ru

del gobierno, pero no voy a abandonar mi cul-

trató de responder algunas preguntas contan-

tura, la reza, todo. Eu sou índia! Falei mesmo! Y

do nues tra vida. Yo no hablé, pero al final para

todxs me miraban sorprendidxs. Así fuimos de

matar aquel comentario que hicieron al entrar en la

sala en sala, y los mismos comentarios, “São ín-

sala, la cual me hizo sentir con rabia, como que si me

dios!” Las mismas preguntas, mi cabeza iba a

habían colocado fuego por el cuerpo al escuchar:

explotar, ya no respondía nada. Lxs que respon-

São índios de verdade? São índios mesmo! eso me

dían eran Ñande Ru y Ñande Sy con paciencia.

ustedes.

en

plenitud,

consumen

inclusive

en

sin

veneno.

nuestras

embarY

por-

comunida


23 Vamos a lugares como ese a compartir lo que cumento de lo que se ha discutido en el encuentro pasamos, creo que no es en vano, algunxs y enviamos a la televisión para que publiquen nuesno creen, pero es importante porque la lu- tra posición. En eso los fazendeiros se enteraron y cha es muy grande, muy grande de verdad. crearon también el Agro Joven. Pero como ellxs son hijitos de papá con dinero, empezaron a organizarHay días que viene en la cabeza desistir de se y manifestarse contra nosotrxs por todo lado, todo, pero ahí pensamos en Ñande Ru y Ñande estamos como cabo de guerra con ellxs, que en Sy que siguen en la lucha aún con edad avan- cualquier momento puede explotar, somos Mbarezada, y nosotrxs jóvenes tenemos que levan- te y ellxs también. Pareciera que ellxs nos van a gatarnos. Pero a veces pienso en desistir de todo. nar, eso parece. Pero sólo nos podrán ganar si nos mataran a todxs. Es eso, eso digo, puede pasar por Nossa! A Luta já é desde 1500, y ahora ya estamos mi cabeza desistir, pero la realidad es que lucharé en 2017, 517 años y seguimos lo mismo. Continua hasta el último momento de mi vida. En cuanto viva lo mismo, sin respeto hacia nosotrxs hacia todxs jamás desistiré. Sólo tengo miedo de perder a mi los seres, si paramos para pensar viene en la cabeza padre, puedo perderle por enfermedad que es nadesistir de todo. Pero nuevamente pienso en lo que tural, pero como lideranza que es, sabemos que hay Ñande Sy nos dice, tenemos que luchar, tenemos otros peligros. También me da miedo por mi abueque defender la naturaleza, que todo ese agrone- la. Nuestra anciana tiene 107 años y ella está ahí en gocio está matando pasando veneno, ahí comen la retomada, con ella siempre busco conocimientos. zamos a pensar de nuevo. Vamos Lá!Somos jó- En septiembre celebramos sus 107 años. Ella es para venes, por eso creamos el RAJ (Retomada Aty nosotrxs jóvenes un buen ejemplo estando en la reJoven) para organizar nuestros pensamien- tomada luchando, ella ya no ve con los ojos, está cietos y compartir con Ñande Sy y Ñande Ru lo ga, pero con la voz nos pasa mucho conocimiento. que pensamos, les preguntamos lo que no sabemos, si es correcto o no, siempre les con- Es muy difícil para nosotrxs conseguir recursos sultamos todo, para recibir consejos, porque para participar en los ATY GUAZÚ, pero buscamos a veces también nos equivocamos. Esto está la forma de juntarnos, vendiendo nuestras artesanías, cada vez tenemos menos recursos con FUFluyendo, año que viene nuevamente vamos a NAI, CIMI. Ellxs (el agronegocio) buscan la manera organizar, en el RAJ anterior preparamos un do de acabar con nosotrxs, reduciendo los pocos re


24 cursos económicos que tenemos para llegar hasta estos encuentros. Hoy día la principal arma de ellos es caneta y papel, con la demarcación temporal, los desalojos. Ahora el arma de ellos no sólo son pistolas sino las leyes. Esa ley es el arma principal de ellos, eso les hace fuerte. Y nosotrxs? Nosotrxs por nosotrxs. La lucha sólo terminará si cada unx de nosotrxs fuera muertx. Si sobra unx de nosotrxs la lucha continuará. Y no somos pocxs, estamos en varios lugares. Estamos en todxs los lugares.

Relatado por Daniela Kuña Miri – 17 años Aty Guazú Guaraní Kaiowa – Pirakua - MS Noviembre de 2017

Traducción Jopara del guaraní al español por Patricia García. Video por André Sabino. https://www.youtube.com/watch?v=GChcNkdCiYg


25 O Cântico da Terra

Quero um amor agroecológico

Eu sou a terra, eu sou a vida. Do meu barro primeiro veio o homem. De mim veio a mulher e veio o amor. Veio a árvore, veio a fonte. Vem o fruto e vem a flor.

quero um amor agroecológico sem veneno um amor molhado de sereno que adube a vida e frutifique

Eu sou a fonte original de toda vida. Sou o chão que se prende à tua casa. Sou a telha da coberta de teu lar. A mina constante de teu poço.

um amor que brote em mim minha ancestralidade amor campo minado de nascentes

Sou a espiga generosa de teu gado e certeza tranqüila ao teu esforço. Sou a razão de tua vida. De mim vieste pela mão do Criador, e a mim tu voltarás no fim da lida. Só em mim acharás descanso e Paz.

quero um amor orgânico um agro onde eu possa ser cultor cultivar o amor e as sementes

Eu sou a grande Mãe Universal. Tua filha, tua noiva e desposada. A mulher e o ventre que fecundas. Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

um amor que resista aos maus tempos nutrido da seiva crescendo junto com minha floresta de sentimentos

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu. Teu arado, tua foice, teu machado. O berço pequenino de teu filho. O algodão de tua veste e o pão de tua casa.

quero um amor que me sirva de alento uma cultura permanente pancs, resistentes construindo juntos um amor alimento

E um dia bem distante a mim tu voltarás. E no canteiro materno de meu seio tranqüilo dormirás.

(Mano Zeu)

Plantemos a roça. Lavremos a gleba. Cuidemos do ninho, do gado e da tulha. Fartura teremos

En tus ojos de agua infinita Se bañan las estrellitas mamá

e donos de sítio felizes seremos. ( Cora Coralina )

Agua de Estrellas

Agua de luz, agua de estrellas Pachamama vienes del cielo Limpia, limpia, limpia corazón, agua brillante Sana, sana, sana corazón, agua bendita Calma, calma, calma corazón, agua del cielo, mamá (Ravi Ramoneda)


26

La creación Eduardo Galeano La

mujer

y

el

hombre

soña-

ban que Dios los estaba soñando. Dios los soñaba mientras cantaba y agitaba sus maracas, envuelto en humo de tabaco, y se sentía feliz y también estremecido por la duda y el misterio. Los indios makiritare saben que si Dios sueña con comida, fructifica y da de comer. vida,

Si nace

Dios y

sueña da

con

la

nacimiento.

La mujer y el hombre soñaban que en el sueño de Dios aparecía un gran huevo brillante. Dentro del huevo, ellos cantaban y bailaban y armaban mucho alboroto, porque estaban locos de ganas de nacer. Soñaban que en el sueño de Dios la alegría era más fuerte que la du da y el misterio; y Dios, soñando, los creaba, y cantando decía: —Rompo este huevo y nace la mujer y nace el hombre. Y juntos vivirán y morirán. Pero nacerán nuevamente. Nacerán y volverán a morir y otra vez nacerán. Y nunca dejarán de nacer, porque la muerte es mentira.


27

La Yerba Mate Eduardo Galeano La luna se moría de ganas de pisar la tierra. Quería probar las frutas y bañarse en algún río. Gracias a las nubes, pudo bajar. Desde la puesta del sol hasta el alba, las nubes cubrieron el cielo para que nadie advirtiera que la luna faltaba. Fue una maravilla la noche en la tierra. La luna paseó por la selva del alto Paraná, conoció misteriosos aromas y sabores y nadó largamente en el río. Un viejo labrador la salvó dos veces. Cuando el jaguar iba a clavar sus dientes en el cuello de la luna, el viejo degolló a la fiera con su cuchillo; y cuando la luna tuvo hambre, la llevó a su casa. «Te ofrecemos nuestra pobreza», dijo la mujer del labrador, y le dio unas tortillas de maíz. A la noche siguiente, desde el cielo, la luna se asomó a la casa de sus amigos. El viejo labrador había construido su choza en un claro de la selva, muy lejos de las aldeas. Allí vivía, como en un exilio, con su mujer y su hija. La luna descubrió que en aquella casa no quedaba nada que comer. Para ella habían sido las últimas tortillas de maíz. Entonces iluminó el lugar con la mejor de sus luces y pidió a las nubes que dejasen caer, alrededor de la choza, una llovizna muy especial. Al amanecer, en esa tierra habían brotado unos árboles desconocidos. Entre el verde

oscuro

de

las

hojas,

asomaban

las

flores

blancas.

Jamás murió la hija del viejo labrador. Ella es la dueña de la yerba mate y anda por el mundo ofreciéndola a los demás. La yerba mate despierta a los dormidos, corrige a los haraganes y hace hermanas a las gentes que no se conocen.


28

Herborizando Rafaell Barrett, 1908 Sobre este comercio sutil entre los vegetales y la población, reina el mate como soberano de antiquísima estirpe. Por el mate de absorben casi todas las medicinas silvestres. Mediante el mate se enamora, se mata y se embruja. Un signo, un polvo, un pelo bastan para lo irremediable. Y del fondo del Chaco, de donde un tentáculo de humanidad se hunde en el seno de la Esfinge, vienen fórmulas fatídicas. Si de pronto os hierve el cerebro y echáis gusanos por la nariz, u os acomete otra dolencia igualmente monstruosa, recordad qué blanca mano, trémola de odio, os ha ofrecido el mate. Todo lo malo y lo bueno de la historia está en el mate, hueca geoda en que duermen los siglos, fulgor inextinguible, calor de sangre que se pasan de palma en palma las generaciones. El mate lo ha escuchado todo, lo ha adivinado todo, confidencias terribles, esperanzas siempre abatidas, juramentos sombríos. Aplicadle el oído y percibiréis en él las mil voces confusas del inmenso pasado, como en el viejo caracol los rumores del mar.


29

Lo que son los yerbales Rafael Barrett, 1908 Es preciso que sepa el mundo de una vez lo que pasa en los yerbales. Es preciso que cuando se quiera citar un ejemplo moderno de todo lo que puede concebir y ejecutar la codicia humana, no se hable solamente del Congo, sino del Paraguay. El Paraguay se despuebla; se le castra y se le extermina en las 7 u 8.000 leguas entregadas a la Compañía Industrial Paraguaya, a la Matte Larengeira y los y a los arrendatarios y propietarios de los latifundios del Alto Paraná. La explotación de la yerba-mate descansa en la esclavitud, el tormento y el asesinato. [

.

.

.

]

El mecanismo de la esclavitud es el siguiente: No se le conchaba jamás al peón sin anticiparle una cierta suma que el infeliz gasta en el acto o deja a su familia. Se firma ante el juez un contrato en el cual consta el monto del anticipo, estipulándose que el patrón será reembolsado en trabajo. Una vez arreado a la selva, el peón queda prisionero los doce o quince años que, como máximum, resistirá a las labores y a las penalidades que le aguardan. Es un esclavo que se vendió a sí mismo. Nada le salvará. Se ha calculado de tal modo el anticipo, con relación a los salarios y a los precios de los víveres y de las ropas en el yerbal, que el peón, aunque reviente, será siempre deudor de los patrones. Si trata de huir se le caza. Si no se logra traerle vivo, se le mata. Así se hacía en tiempos de Rivarola. Así se hace hoy. Es sabido que el Estado perdió sus yerbales. El territorio paraguayo se repartió entre los amigos del gobierno y después la Industrial se fue quedando con casi todo. El Estado llegó al extremo de regalar ciento cincuenta leguas a un personaje influyente. Fue aquella una época interesante de venta y arriendo de tierras y de compra de agrimensores y de jueces. Pero no nos importan por el momento las costumbres políticas de esta nación, sino lo referente a la esclavitud en los yerbales.


30

Último Mensaje de Cuauhtémoc Nuestro sol se ha ido. Nuestro sol se ha ocultado y en completa oscuridad nos ha dejado. Pero sabemos que volverá a salir; que otra vez saldrá y nuevamente nos alumbrará. Pero mientras permanezca allá en la mansión del silencio, reunámonos, estrechémonos y guardemos en lo más profundo de nuestros corazones, todo lo que amamos y consideramos un tesoro. Destruyamos nuestros recintos sagrados, nuestros recintos para pensar, nuestras escuelas de canto y de danza, nuestros campos de pelota. Que queden desiertas las calles y que nuestros hogares nos resguarden,hasta cuando salga nuestro nuevo sol. Y de hoy en adelante padres y madres que nunca olviden guiar a sus jóvenes. Y hacer saber a sus hijos mientras vivan, cuan buena ha sido hasta ahora nuestra amada madre tierra Anawak Al amparo y protección de nuestro destino, y por orden de nuestras tradiciones que con tanto cariño y empeño dejaron para nosotros nuestros venerables abuelos, hemos de inculcárselo a nuestros hijos, para que ellos lo enseñen a los hijos de los hijos de sus hijos. Y no olvidemos decirles y enseñarles: cómo será, cómo se reunirá, cómo tomará fuerza y cómo concluirá nuestra grandiosa Anawak, su glorioso destino.


31 ¡KUTISAQ!

¡VOLVERÉ!

Sapaynipim

El aire en silencio

Wayra … ¡ripukuy! Niwaq, Wiqsaymanta hasapakuspa Yarqaymanta kapti. Ripusqay punchawñataqmi, Urqukuna, sachakuna waqarqa; Rumikuna, sachakuna, mayupas,

Que me vaya, Bostezando desde mis entrañas, Cuando tenía hambre. El día de mi partida lloraron Los cerros, las chacras, Las piedras, los árboles, el rio, Los cuyes, las ovejas, los zorros, Hasta el búho que presagiaba mi muerte.

Quwikuna, uwihakuna, atuqkunapas, ¡wañuyni unanchaq tukupas!.

Los aullidos de mi perro parecían Cuerdas de charango hechas de mi propia carne,

Allquypa anyayninkunam rikchakapwaq

Que poco a poco se arrancaban,

Aychaymanta ruwasqa charangu kuyrdakuna

Con la distancia y el dolor.

Nanaywan siptikuq

Entonces me fui,

Karunchakusqayman hina.

Pero en mi pueblo quedó mi alma, Mis hermanos que aún los imagino

Ripuytaqa ripukurqanim, Chu, llaqtaypim sunquyta saqirqani, Yuyarisqay wawqiykunatapas Sara ukupi pukllachkaq Qalachaki warmakunata hina. Mamaytapas yuyarinim Waqasqampi sutuschkaq wiqiyuqta; Chakraykunata, uwihaykunatapas,

Niños descalzos Jugando en el maizal; También recuerdo a mi madre, Con sus ojitos llorosos Por mi partida Mis chacras y ovejas aun llorando, Y mi amor en el rio, Con su aliento Llena de candor.

Yanaytañataq mayu patampi Samayninwan kuyayninta

Y en esta ciudad lejana

Chayachimuwachkaqta hina.

Ciudad de gente sin alma, Siento el aire venido de mi tierra

Kunanñataqmi kay karu llaqtapi,

Queriendo llevarme de regreso;

Mana almayuq runapa llaqtampi,

Te siento a ti amor mío

Musyanim llaqtaymanta hamuq wayrata

En todo lo que toco;

Kutichikuwayta munaspa, Musyaykim yanallay Lliw ima hapisqaypi Musyanim qamwan sunquy kasqanta Chay raykum ¡KUTISAQ! Llaqtayman.

Siento que mi corazón, quedó contigo, Y por eso ¡VOLVERÉ! ¡A MI PUEBLO!

Poema en Quechua y español. Ciro Galvez.


32

Manifiesto zapatista en náhuatl Al pueblo de México: A los pueblos y gobiernos del mundo: Hermanos: No morirá la flor de la palabra. Podrá morir el rostro oculto de quien la nombra hoy, pero la palabra que vino desde el fondo de la historia y de la tierra ya no podrá ser arrancada por la soberbia del poder.

Nosotros nacimos de la noche. En ella vivimos. Moriremos en ella. Pero la luz será mañana para los más, para todos aquellos que hoy lloran la noche, para quienes se niega el día, para quienes es regalo la muerte, para quienes está prohibida la vida. Para todos la luz. Para todos todo. Para nosotros el dolor y la angustia, para nosotros la alegre rebeldía, para nosotros el futuro negado, para nosotros la dignidad insurrecta. Para nosotros nada.

Nuestra lucha es por hacernos escuchar, y el mal gobierno grita soberbia y tapa con cañones sus oídos. Nuestra lucha es por el hambre, y el mal gobierno regala plomo y papel a los estómagos de nuestros hijos. Nuestra lucha es por un techo digno, y el mal gobierno destruye nuestra casa y nuestra historia. Nuestra lucha es por el saber, y el mal gobierno reparte ignorancia y desprecio. Nuestra lucha es por la tierra, y el mal gobierno ofrece cementerios. Nuestra lucha es por un trabajo justo y digno, y el mal gobierno compra y vende cuerpos y vergenzas. Nuestra lucha es por la vida, y el mal gobierno oferta muerte como futuro. Nuestra lucha es por el respeto a nuestro derecho a gobernar y gobernarnos, y el mal gobierno impone a los más la ley de los menos. Nuestra lucha es por la libertad para el pensamiento y el caminar, y el mal gobierno pone cárceles y tumbas. Nuestra lucha es por la justicia, y el mal gobierno se llena de criminales y asesinos. Nuestra lucha es por la historia, y el mal gobierno propone olvido.Nuestra lucha es por la Patria, y el mal gobierno sueña con la bandera y la lengua extranjeras. Nuestra lucha es por la paz, y el mal gobierno anuncia guerra y destrucción. Techo, tierra, trabajo, pan, salud, educación, independencia, democracia, libertad, justicia y paz. Estas fueron nuestras banderas en la madrugada de 1994. Estas fueron nuestras demandas en la larga noche de los 500 años. Estas son, hoy, nuestras exigencias.


33 Nuestra sangre y la palabra nuestra encendieron un fuego pequeñito en la montaña y lo caminamos rumbo a la casa del poder y del dinero. Hermanos y hermanas de otras razas y otras lenguas, de otro color y mismo corazón, protegieron nuestra luz y en ella bebieron sus respectivos fuegos. Vino el poderoso a apagarnos con su fuerte soplido, pero nuestra luz se creció en otras luces. Sueña el rico con apagar la luz primera. Es inútil, hay ya muchas luces y todas son primeras. Quiere el soberbio apagar una rebeldía que su ignorancia ubica en el amanecer de 1994. Pero la rebeldía que hoy tiene rostro moreno y lengua verdadera, no se nació ahora.

Antes habló con otras lenguas y en otras tierras. muchas montañas y muchas historias ha caminado la rebeldía contra la injusticia. Ha hablado ya en lengua náhuatl, paipai, kiliwa, cúcapa, cochimi, kumiai, yuma, seri, chontal, chinanteco, pame, chichimeca, otomí, mazahua, matlazinca, ocuilteco, zapoteco, solteco, chatino, papabuco, mixteco, cuicateco, triqui, amuzgo, mazateco, chocho, izcateco, huave, tlapaneco, totonaca, tepehua, popoluca, mixe, zoque, huasteco, lacandón, maya, chol, tzeltal, tzotzil, tojolabal, mame, teco, ixil, aguacateco, motocintleco, chicomucelteco, kanjobal, jacalteco, quiché, cakchiquel, ketchi, pima, tepehuán, tarahumara, mayo, yaqui, cahíta, ópata, cora, huichol, purépecha y kikapú. Habló y habla la castilla. La rebeldía no es cosa de lengua, es cosa de dignidad y de ser humanos.

Por trabajar nos matan, por vivir nos matan. No hay lugar para nosotros en el mundo del poder. Por luchar nos matarán, pero así nos haremos un mundo donde nos quepamos todos y todos nos vivamos sin muerte en la palabra. Nos quieren quitar la tierra para que ya no tenga suelo nuestro paso. Nos quieren quitar la historia para que en el olvido se muera nuestra palabra. No nos quieren indios. Muertos nos quieren. Para el poderoso nuestro silencio fue su deseo. Callando nos moríamos, sin palabra no existíamos. Luchamos para hablar contra el olvido, contra la muerte, por la memoria y por la vida. Luchamos por el miedo a morir la muerte del olvido. Hablando en su corazón indio, la Patria sigue digna y con memoria. Subcomandante Insurgente Marcos. EJÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERACIÓN NACIONAL.


35

Poema por nuestras hermanas Marcha contra los feminicidios en Tepoztlán, 2018 Mara, Andrea, Natalia, no llegaran a la clase de danza. Lorena, Graciela, Mariana, se quedarán sin palabras por lo que nos queda de vida. En mi país a las mujeres se les restriegan penes erectos en el dominio de la oscuridad y de la luz. Nos agarran las nalgas como si fueran un bien público. Nos amenazan, y su palabra cumplen. Nos siguen. Nos cazan. En este despellejadero de hermanas, cada 8 minutos violación al por mayor y sobre todo dentro de nuestras casas. Tiradas en un canal, besando la banqueta, a la vera de la colina. Vestidas con la modas en curso, bolsa negra, grande, de basura. 14 mujeres asesinadas en un día. Nos callan. Nos obligan a aceptar que es nuestra culpa por usar falda, pintarnos la cara. Si no, feminazi, tortillera. Te vamos a enseñar la lección. Aprenderás a ser mía y a ser de cualquier señor. Nos gritan. Nos pegan. Nos humillan. A los 8 nos venden, a los 11 nos violan, a los 15 nos embarazan y abandonan, a los 20 nos mutilan. Hay quien se divierte penetrando mujeres ebrias y drogadas por sus propias manos. Ah pero luego, nos difaman en difusión viral de sus agravios. Gabriela, Dafne, Malinali, Getzemaní. Todas ellas con cuerpa joven, tremendas ganas. Cynthia, Lesby, Jessica, Raquel. Sueños por montones, vigorosas trazas. Indíra, Mónica, Cristina. Con el puño arriba, pero en cenizas disgregadas. Todas en la lucha, pero bajo tres metros de graba.


36 Las siempre incómodas, las desterradas. Nos querrán exponer. Seremos violentas. La mala mujer. La que mastica el coraje y le doma entre letras. Y esque quizá se opongan diciendo que este no es el mejor poema. No para el académico de la butaca, ni para el señor que nos malimira desde la barra y cuyo mejor talento es denostar la forma de pensar que sostengo. Quizá el pensar el las úteras destrozadas de las niñitas mercadas. En las zapatitas talladas. En las mujeres en tambos calcinados sea incómodo, grotesco, poco poético. Pero la pulsión de la vida en la vulva hierbe, y venimos a parir la revolución porque para eso sirve el vientre.

Hila, crea la revuelta, ivagina y distoca. Enséñate a andar descalza. Aquí se vino a ser feliz, a ser silvestre. Aquí se vino a ser feliz, a ser silvestre. Nunca subsumida, nunca amaestrada. Aquí se vino a luchar, a ser feliz a ser silvestre. Nunca subsumida, nunca domesticada. Aquí se vino a ser la que nunca, nunca se calla.


Este trabalho foi realizado para a amostra de 1 curso, e as seguintes pessoas participaram da equipe: Equipe de trabalho Docentes: Júlio da Silveira Moreira (proponente) Endrica Geraldo Patrícia Sposito Mechi Discentes: Cliver Ccahuanihancco Arque Gregorio Hernando Maizares Munoz Luana de Almeida Rafael de Jesus Matos Elson André de Lima Anjelica Jackeline da Silva Maycon Melrilane Farias Sarges Jessica Agüero Misajel Dayane Paola Benalcazar Emel Glorys Herasme Hernadez Betina de Paula

Desenho / Diagramação: Paola Ramirez P. Impressão: Gráfica MGM


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