Aberto ao público

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ABERTO AO PÚBLICO um guia para a utilização do espaço público edificado



EILEEN ROSE WINTHER SAMBO ABERTO AO PÚBLICO: um guia para a utilização do espaço público edificado

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

Orientado pela Professora Doutora Karina Oliveira Leitão

SÃO PAULO 2016



agradecimentos A meus pais, Lucia e Randolph, sem o suporte de vocês eu não teria chegado tão longe. A minha orientadora, Karina, minha amiga, minha parceira e minha confidente. À Flávia, pela amizade de tantos anos, sintonia e apoio. À Sara Goldchmit e ao João Rovati por aceitarem participar da banca. E à Sara também pela ajuda na reta final para concluir este projeto. A meus amigos da FAUUSP, sobretudo os vice-trecos e nave das mulheres, vocês são o que levo de mais importante desta faculdade. A minha família espanhola, com a intensidade que vivemos juntos um ano se tornou uma vida. Agradecimentos extras aos que fizeram este trabalho possível: Diego, Eduardo, Jordana, Caio, Nicolas, Bruno e Daniella. Sem a colaboração de vocês o caminho teria sido muito mais difícil. E a todos que me ajudaram neste longo processo de formação acadêmica e pessoal.

Muito obrigada!



sumário MOTIVAÇÕES

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1. INTRODUÇÃO

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2. EM BUSCA DE UMA RESPOSTA ABERTA

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3. CONCEITUAÇÃO SOBRE O ESPAÇO PÚBLICO

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4. DESIGUALDADE MUNICIPAL - mapeamento

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5. RECORTE DE ESTUDO - Vila Mariana

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5. 1. Mapeamento

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6. EXPERIÊNCIAS PELA CIDADE

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6.1. Fechado ao público

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6.2. Os equipamentos

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7. CIDADE ABERTA

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8. BIBLIOGRAFIA

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motivações Em São Paulo, vivemos tão preocupados com nossas obrigações diárias, dedicados à rotina e ao trabalho, que usualmente nos fechamos à vida pública. Para além de ir do trabalho à casa, da casa ao trabalho, o lazer muitas vezes se resume a visitas a centros comerciais privados; assim, pouco se aproveita da rua, dos espaços públicos, tanto os livres quanto os edificados. Praças, parques, museus, cinemas de rua, bibliotecas etc. ficam em segundo plano. Este trabalho surge a partir do questionamento da não utilização destes espaços e da baixa frequência de uso de muitos deles em certas regiões da cidade. E isso é lamentável, já que os espaços públicos são fundamentais na formação da sociedade. Neles conhecemos nossos pares, podemos interagir e nos desenvolver como indivíduos e como grupo, para dizer o mínimo. Além da relevância destes espaços na formação da sociedade e do indivíduo, acredito na importância de todos os segmentos da sociedade para a criação deles. Os espaços públicos apenas serão realmente públicos quando a sociedade estiver neles presente. Portanto, incentivar o uso desses espaços, de maneira democrática, é uma forma de recriar a sociedade na qual vivemos. É com base nesta reflexão inicial que o presente trabalho se organiza.

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1. introdução Compilando as ideias das filósofas Silke Kapp (2005) e Hannah Arendt (2003), que serão explanadas ao longo desta obra, neste capítulo pretendese explorar as seguintes questões centrais para analisar a proposta deste trabalho: (i) entender as relações sociais que ocorrem nos espaços e analisálas quanto a suas origens e possibilidades, explorando analiticamente uma perspectiva de maior democratização destes; (ii) ir contra a máxima academicista na qual poucos participam das tomadas de decisões, enquanto a grande maioria da sociedade apenas aceita e reproduz estes princípios, e inserir toda a população no desenvolvimento do espaço público (iii) trabalhar o espaço público enquanto espaço em que se realiza a esfera pública e não necessariamente aquilo que é propriedade pública e (iv) entender que este espaço pode não ser público quando não envolve a produção cultural, construção da cidadania, do interesse público etc. A cidade é concebida a partir de relações sociais, o espaço é produzido pelo homem e o homem é produzido pelo espaço. Estas relações são sempre parte de uma totalidade, por mais contraditórias e truncadas que possam ser e estão sempre interligadas. Para entender a cidade é necessário entender essas relações, sendo importante realizar uma análise crítica de suas origens e evidenciá-las. Para tanto, o conhecimento deve estar disponível a todos, que devem estar cientes de seus direitos, não importando classe social, grupo étnicoracial ou escolaridade. As esferas acadêmicas muitas vezes acabam excluindo parte da população de certas decisões fundamentais para o desenvolvimento da sociedade, e em vez de empoderar a própria população e solucionar seus problemas, acabam reforçando a disparidade entre as partes.

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“(...) a filosofia deve ser discernimento tornado disponível a todos, não estagnado em esferas acadêmicas, nem imediatamente transformado em práxis. O intuito não é prescrever soluções, mas evidenciar problemas. ” (KAPP, 2005, p. 126). Neste contexto, entendo o espaço público como um agente disseminador de conhecimento. Um local de encontro onde trocas de ideias possam ser realizadas e soluções para os problemas da sociedade possam ser desenvolvidas em conjunto. Sendo o espaço público um local de suma importância para a criação da sociedade, é importante discorrer sobre as conceituações dele em suas diversas esferas. Os espaços públicos, segundo Arendt (2003), são o local onde ocorrem ações da esfera pública. Temos, portanto, pela concepção arendtiana, que a manifestação da esfera pública envolve a produção cultural, a construção da cidadania, do interesse público, do bem público constituído socialmente diante do conflito de interesses individuais ou de grupos. E teria a realização dos ‘espaços públicos’ onde ser visto e ouvido por outros é importante pelo fato de que todos veem e ouvem de ângulos diferentes. “A esfera pública, enquanto mundo comum, reúne-nos na companhia uns dos outros e contudo evita que colidamos uns com os outros” (ARENDT, 2003, p. 62). Entendo, a partir de uma análise empírica e pessoal, que o espaço físico que poderia ser de uso público existe. Existem praças, parques e equipamentos na cidade de São Paulo, mas estes estão concentrados nas zonas centrais (no quadrante sudoeste, como nos termos de Villaça, apresentado em Espaço intra-urbano no Brasil, 2001) e subutilizados. Assim sendo, não cumprem plenamente com sua função como espaço público. Por isso, para explorar essas relações, uma área foi elegida para o estudo. A Vila Mariana localiza-se no considerado centro expandido, é predominantemente branca e de classe média-alta. E, como na maioria dos bairros centrais, tem um estoque de equipamentos públicos significativo, que não é aproveitado em sua capacidade máxima e que se encontra, em sua grande parte, elitizado. Essas informações são melhor exploradas quando realizarmos a análise específica da Vila Mariana no item 5 (Recorte de estudo

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– Vila Mariana). Sabendo da importância dos espaços públicos na construção da cidadania, pretende-se explorar as razões de eles não serem utilizados pela maioria da população, tanto a que reside no bairro, como a de toda cidade, e como esses espaços poderiam ser redemocratizados, sendo mais utilizados pelos moradores do bairro e os de áreas periféricas de toda São Paulo. Se os moradores de São Paulo estão carentes de equipamentos e espaços públicos, por que, além de planejar novos equipamentos, não utilizamos os que já temos? O que nos faria utilizá-los? Por que não os estamos utilizando? Esses questionamentos permeiam o desenvolvimento do trabalho que segue. O mesmo apresenta-se em seis partes. Primeiramente propõese buscar respostas abertas e não pré-definidas sobre a cidade. Em seguida desenvolve-se uma leitura a respeito da conceituação sobre o espaço público, suas definições e qual definição será utilizada a fim de entendê-lo no contexto apresentado. A terceira e a quarta são realizadas a partir de mapeamentos, primeiro da cidade e suas dinâmicas e logo da área de recorte, que é o bairro Vila Mariana, nos quais pretende-se explicitar algumas desigualdades da cidade e como o bairro se insere nessa lógica. Na quinta parte, têm-se experiências pessoais de vivências e descobertas no bairro, desafios e aprendizados. E por fim o produto final que será apresentado como um anexo, que é um guia da Vila Mariana com pontos públicos de interesse, principalmente do espaço público edificado, que são os equipamentos culturais públicos. O objetivo é incentivar o uso desse pedaço de cidade, que apesar de pequeno tem muito para compartilhar com o resto de São Paulo.

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2. em busca de uma resposta aberta A lógica capitalista está inserida em todos os processos de nossa sociedade contemporânea. Busca-se, então, a partir da teoria marxista e do materialismo histórico, explorar como esse processo ocorre e qual o reflexo dele na sociedade. Partindo de que o conhecimento deve estar disponível para todos e que as pessoas devem estar cientes de seus direitos, não importando classe social, grupo étnico-racial ou escolaridade, percebemos que na prática isso não acontece. Vivemos em uma sociedade cada vez mais alienada, mais compartimentada, da qual o indivíduo não sabe que faz parte. As relações sociais entre homens se convertem em relações de mercadorias. Neste processo, a arquitetura também está inserida, pois o projeto imobiliário criado na cidade exclui parte da população – o formal versus informal, autoconstrução versus mercado imobiliário. Essa exclusão colabora para gerar uma desigualdade social muito presente na nossa sociedade. Silke Kapp (2005), em Por que teoria crítica da arquitetura?, foca em entender as relações sociais presentes na sociedade contemporânea que geram essa desigualdade e como arquitetos e urbanistas têm enfrentado estas questões. Esse questionamento surge a partir de uma percepção de que estes profissionais têm criado a cidade de uma maneira que aparenta contribuir para essa desigualdade. A cidade, da maneira como está organizada, não inclui toda a sociedade; ela exclui parte da população da utilização de certas infraestruturas, como por exemplo, os equipamentos culturais. Para explorar os porquês do esvaziamento de certos espaços tão importantes para a formação do indivíduo, foi importante realizar uma análise das contradições geradas pela própria arquitetura. Tenta-se criar uma cidade com infraestrutura e equipamentos culturais para todos, porém em algum lugar este objetivo se perde, pois, no final a cidade continua excludente.

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A princípio, é importante definir o que é arquitetura, e no caso faz-se um paralelo com a cidade. Para Kapp (2005), seria todo o espaço modificado pelo trabalho humano. As modificações no espaço geradas pelo trabalho humano são resultado de processos sociais e é no espaço modificado onde essas relações sociais são desenvolvidas. Essas relações na sociedade contemporânea geram grupos que fogem da lógica espacial imposta. Os que fogem dessa lógica são chamados de marginais, também segundo Kapp (2005), pessoas que não têm uma arquitetura “sua”, uma casa, um espaço para morar. O termo denota exclusão por parte de quem raciocina espacialmente. Aqueles que não se encaixam no padrão imposto pela sociedade acabam sendo excluídos também socialmente. A falta do espaço físico – casa, gera uma exclusão no espaço social. A arquitetura é um instrumento de comunicação e expressão nesta sociedade que se organiza espacialmente, não sendo só instrumento como também um meio de comunicação. A arquitetura comunica e pode-se passar uma mensagem através dela. E esse é seu valor de uso, pois satisfaz a necessidade humana de expressão, e tudo o que satisfaz alguma necessidade humana tem valor de uso, segundo Marx (1996), não importando se esta necessidade se origina do estômago ou da imaginação. Ela define possibilidades de percepção, uso e significado e, inversamente, é definida por tais possibilidades. O valor de uso na arquitetura está em solucionar um problema. O problema encontrado e que busca solução neste caso é a ordenação do espaço. Na arquitetura, as possibilidades de uso são cada vez maiores com menos empenho de trabalho social, ou seja, maior liberdade de criação com técnicas mais avançadas. Em tese, a arquitetura seria melhor aproveitada e mais facilmente feita. Porém não é isso que acontece. Neste cenário a teoria crítica, denominação cunhada por Max Horkheimer (1937), surge para responder por que não é possível realizar os ideais da sociedade burguesa na própria sociedade burguesa, a partir de uma linha de pesquisa interdisciplinar que associa bases históricas e materialistas com métodos de pesquisa modernos.

Existe, portanto, uma grande discrepância entre os ideais humanitários da burguesia liberal e a realidade política e social. E a teoria crítica é a primeira tentativa de compreender como, mais de um século depois do Iluminismo, as discrepâncias sociais persistem e até aumentam.

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Na lógica burguesa do mundo ideal de valores, os problemas tratados pela filosofia e os problemas sociais aumentam cada vez mais, reforçando assim essa incompatibilidade. A filosofia deveria ser, portanto, o discernimento tornado disponível a todos, não estagnado em esferas acadêmicas. Como já foi abordado antes, e como disse Kapp (2005), o intuito não é prescrever soluções, mas evidenciar problemas. Da mesma maneira que na filosofia o conhecimento deve estar acessível a todos, a arquitetura também deve se aproximar da sociedade ao pensar em soluções para o espaço. O conceito de “projeto” implica a determinação de uma solução – de preferência duradoura – para problemas ainda abertos, pois a sociedade está sempre em mudança. Portanto, é um conceito um pouco falho em si mesmo. Soluções fechadas para problemas abertos não resultam em soluções. O arquiteto que presume poder resolver todos os problemas do mundo através do seu projeto afasta-se da sociedade e termina por não a ajudar. Temos que inserir soluções abertas para problemas abertos, seja na construção de uma casa ou de uma cidade. Vamos em busca de respostas abertas. A intenção arquitetônica de determinar positivamente o estado futuro parte da intenção crítica de modificar o estado presente. Lúcio Costa (1995, p. 108) afirma que a nova arquitetura estaria “paradoxalmente ainda à espera da sociedade à qual, logicamente, deverá pertencer”, não estamos vivendo na época da arquitetura que estamos construindo. E é essa a importância de uma teoria da arquitetura em bases históricas e materialistas, capaz de mostrar as relações entre contradições sociais e problemas aparentemente isolados e específicos da disciplina formal. Não de forma imediata, mas que pode romper a inércia pelo esclarecimento e favorecer a percepção e o aproveitamento de oportunidades de modificações. A questão é saber se é possível abordar o problema de outra maneira, teórica e praticamente. Kapp (2005), sugere, então, três saídas para a lógica da produção arquitetônica formal. A primeira seria não pensar mais nas funções desenvolvidas nessa arquitetura e se concentrar apenas na forma, mantendo, assim, a integridade, mesmo que aparente, das obras. Como por exemplo o Memorial da América Latina, de Niemeyer (1989), que apresenta diversas formas, porém nenhuma função definida.

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A segunda saída seria abandonar a integridade da forma e deixar os objetos abertos, deixando as funções abertas (solução aberta para problemas abertos), como seriam as arquiteturas de Yona Friedman ou Lucien Kroll. Saída que Kapp (2005) considera a mais plausível e menos explorada. Concordo que seria a saída na qual o arquiteto se coloca como parte e resulta em soluções mais interessantes. E a terceira seria tentar manter integridade e funcionalidade, mediante uma seleção de funções que supostamente se deixam integrar com coerência, isto é, através da distinção entre necessidades “falsas” e “verdadeiras”. Na segunda metade do século XX, esee é o procedimento mais frequentemente adotado pelos arquitetos. Integrando forma e função, temos que as funções arquitetônicas são definidas antes da experiência do uso, primeiro se projeta e a obra é utilizada, quando está criada, definindo a forma antes de a função se apresentar em sua totalidade. Os usos específicos de arquiteturas específicas seguem criando soluções fechadas para problemas abertos. Devemos, portanto, interromper as tentativas de estabelecer funções legítimas, para depois fundamentar nelas projetos e construções. A estrutura da pergunta de todas essas teorias é a mesma: de que os usuários dos espaços “verdadeiramente” precisam? E como podemos incluir o usuário nessa resposta? De forma que ele realmente diga o que necessita e não fiquemos criando soluções para problemas não colocados. E como podemos desenvolver soluções para problemas que ainda não sabemos quais são? Quando relacionamos a função com a forma ficamos estagnados e contidos sem gerar soluções realmente úteis no ambiente construído e modificado pelo homem. Devemos, então, criar uma arquitetura consciente que assimila essas contradições. Desenhar pensando em um futuro que pode ou não ser como previamente estamos imaginando. Desenvolvendo uma arquitetura mais fluída e de fácil intervenção do usuário. Talvez modular, podendo ser modificada através do tempo. Entendendo as necessidades reais do indivíduo que irá utilizá-la. Há que considerar a forma empírica de projetar. Uma arquitetura não pode ter uma solução tabelada, pois não é um problema fechado, assim que necessita de uma solução aberta. Como a arquitetura é passível de

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modificação ao longo do tempo, as obras devem e podem ser modificadas se assim for necessário. Não podemos deixar a função nem a forma estagnada. A arquitetura e a cidade não devem estar fechadas para si mesmas. O arquiteto e/ou urbanista não é capaz de resolver todos os problemas, ele é apenas mais um indivíduo inserido no contexto social que dispõe de um conhecimento específico. Portanto, é de extrema importância a reflexão e crítica por sua parte para realizar arquitetura e criar uma cidade menos contraditória e mais coerente com o contexto social no qual se vive. A partir da teoria crítica, vemos como é importante considerar o contexto histórico e social antes de prescrever soluções. Temos que questionar as máximas do academicismo e criar com a sociedade e para a sociedade. Além de tentar romper com as imposições da lógica capitalista na criação desses espaços. No fim essa é a busca pela resposta aberta para criar uma cidade que ainda não sabemos como será e que nos apresenta novos desafios a todo momento.

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3. conceituação sobre o espaço público “[...] denominação de espaços públicos, o status de espaços imprescindíveis ao exercício da cidadania e à manifestação da vida pública, lugares onde deviam estar assegurados os direitos do cidadão ao uso da cidade, a acessibilidade à memória, segurança, informação, conforto, circulação, além do acesso visual á arquitetura e á estrutura urbana. Atribuíase, assim, à materialidade daqueles espaços uma realização sociopolítica identificada por atributos de concepções de espaço público - tais como cidadania, vida pública e direitos formulados em outras esferas do conhecimento.” (ABRAHÃO, 2008, p.16) Não é simples determinar o que é espaço público. O Código Civil Brasileiro (2002) denomina “espaço público” todo aquele espaço de propriedade pública: bens de uso comum do povo – ruas, praças, parques urbanos, praias etc.; bens de uso especial – escolas, hospitais, teatros, penitenciárias, cemitérios etc.; e bens de uso dominicais ou dominiais, os próprios dos diferentes entes públicos passíveis de alienação. Essa definição não é suficiente para este trabalho. Temos que ultrapassar essa barreira civilista para entender a funcionalidade do espaço público, já que se entende que este espaço tem uma função importante na formação da sociedade. Realizar essa análise é essencial porque é o pano de fundo para desenvolver uma cidade mais democrática e aberta. Entender o que é o espaço público nos faz ter consciência de que a cidade é um direito e que devemos lutar por ela. Manifestação da vida pública, esfera pública e espaço público aparecem na literatura de maneira a explicitar a importância das relações

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sociais nesses espaços. Exploram-se essas questões a partir do estudo da Livre Docência de Eugênio Queiroga (2012), Dimensões públicas do espaço contemporâneo, ideias de Hannah Arendt e Jürgen Habermas e do próprio Queiroga. Para Arendt (2009), os espaços públicos são aqueles nos quais as ações da esfera pública estão presentes, e para ela, essa conceituação qualifica a expressão vita activa, que é composta por três atividades humanas consideradas fundamentais: o labor, o trabalho e a ação. Essas atividades podem se manifestar de diversas maneiras e em diversas escalas. Mas basicamente, desenvolve relações sociais entre os cidadãos. É onde nunca se está só, é o local onde se é visto e se vê, onde ocorrem as trocas. “O termo ‘público’ significa o próprio mundo, na medida em que é comum a todos nós e diferente do lugar que nos cabe nele. ” (ARENDT, 2009, p. 62). Habermas (2003) divide a esfera pública em duas: o “espaço público” que envolve as questões de representação do próprio indivíduo e a visibilidade pública dos diversos grupos sociais; e “esfera pública política”, ou “espaço público político”, como o espaço de ação política, relacionando-se assim, com a Arendt (2009). Segundo Habermas (2003) apenas à luz da esfera pública aquilo que é consegue aparecer, ou seja, está visível a todos. Quando os cidadãos conversam entre si, as coisas se verbalizam e se configuram; na disputa dos pares, os melhores se destacam e conquistam a sua essência: a imortalidade da fama. Conflitos e contradições têm a esfera pública como seu espaço de excelência. Para Queiroga (2012) nela ocorrem manifestações, discussões e estabelecimento do movimento dialético entre dissenso e consenso, entre conflito e acordo. Esse é o espaço da cidade, onde se desenvolve a cidadania. Tanto Habermas (2003) como Queiroga (2012) utilizam-se de esfera pública política para constituir as ações relativas ao debate político, filosófico, científico e artístico. Queiroga (2012) propõe em sua tese denominar esfera pública geral a toda a vida “em público”, incluindo, portanto, o debate público (político e intelectual), a ação comunicativa, inclusive cotidiana, e qualquer outra ação que se compartilhe “em público”, seja no espaço real, seja no virtual.

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E desta maneira, esse conceito será utilizado neste trabalho. Atrelando


a esfera pública política com a esfera pública geral e percebendo que as duas acontecem de maneira concomitante, de forma sistêmica e dialética, concluise que a esfera pública política se insere na esfera pública geral e uma não ocorre sem a outra. As noções de espaço público são tantas que, para Rogério Leite (2004, p. 199), existem três noções distintas, mas intercomunicáveis para a expressão “espaço público”: - espaço urbano aberto, de propriedade pública do Estado; - espaço-signo das relações entre representações e poder que estruturam paisagens urbanas; - esfera pública, na qual os indivíduos como cidadãos engajados politicamente podem ver e ser vistos e se deparam com formas de solidariedade social. O espaço público caracteriza-se então a partir de ações da esfera pública. Assim, afirmar que o espaço público não é público, e nem mesmo um espaço, é um reflexo da falta de ações da esfera pública neste local. Desta forma, ele não será, um espaço público em sua essência. “Por razões históricas, relacionadas à formação socioespacial do país. A esfera pública no país sempre esteve mais associada às elites, [...]. Mesmo assim, busca-se demonstrar a relevância da esfera pública para o movimento da sociedade brasileira, notadamente na contemporaneidade. ” (QUEIROGA, 2012, p. 51). Ao tentarmos entender a esfera de vida pública, percebemos, além de uma clara desigualdade social na participação das mesmas, que elas são divididas em duas. Como explicita Queiroga (2012), há uma esfera pública “oficial”, reconhecida pelo Estado, que está ligada a uma elite branca e também à esfera pública popular, organizada por movimentos sociais e uma população de baixa renda, “bastante presentes na esfera do cotidiano popular, mas ainda “invisíveis” enquanto esfera pública para a grande mídia, para as elites e os estratos de renda média.” (QUEIROGA, 2012, p. 55). Estas esferas não se misturam; é visível que a população da camada popular utiliza com menos frequência os locais da esfera pública oficial. Para esclarecer as dúvidas sobre o que é o espaço em sua definição geográfica, usa-se as posições teóricas de Milton Santos.

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Para Santos (1978) o espaço é uma instância social, assim como a economia, a cultura e a ideologia. Participa, assim, da dialética social, ou seja, o movimento dialético da sociedade não se realiza no espaço, mas com o espaço. Esse espaço é um conjunto indissociável de sistema de objetos e ações, de fixos e fluxos. Um objeto “isolado” desse sistema é uma abstração, não possui existência concreta, pois não faz sentido isolá-lo de uma ação. Assim, a compreensão do espaço como conjunto de sistemas só é possível por meio do entendimento dialético das relações entre o todo e suas partes. O valor ativo na dialética espacial é dado simultaneamente pelos componentes de inércia – as rugosidades espaciais como a materialidade e os objetos – e os componentes dinâmicos – as espacialização das ações. Os elementos que configuram o espaço são os homens, as firmas (produtoras de bens), as instituições (produtoras de normas), o meio ecológico e as infraestruturas (trabalho humano geografizado). Os três primeiros são os agentes espaciais e os dois últimos se constituem nas rugosidades espaciais, na medida em que suas transformações são mais lentas que a dos agentes, na maioria dos casos. Esses elementos são interatuantes e se relacionam sistematicamente entre si, pois se afetam simultaneamente. Já as categorias analíticas do espaço se dão pela forma, função, estrutura e processo, sendo este último o dominante. As formas espaciais constituem-se como forma-conteúdo, pois na sociedade os sistemas de ações atribuem dinamicamente seus significados. Uma análise integrada dessas quatro categorias espaciais poupa reducionismos formais, funcionais ou estruturais que impediriam a compreensão total do espaço como sistema dinâmico. De acordo com Santos (1978), não há como confundir “espaço” com “esfera de vida”, pois a natureza de ambos é completamente distinta: enquanto o primeiro é uma instância social que converge materialidade e ação, o segundo é composto pelo campo de relações sociais do mundo vivido, abrangendo desde a vida familiar - a esfera mais íntima - até a pública arendtiana. Para tanto, denominaremos de “espaço público” todo espaço de propriedade pública, porém apontaremos que não são realmente públicos porque neles não se veem manifestações da esfera pública, com o intuito de

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explicitar a importância das relações sociais nesses espaços. O espaço público deveria estar aberto e acessível a qualquer um, para que seja possível a manifestação da esfera pública, seja ela estrita – esfera pública política – ou ampliada – esfera pública geral. Pois esses espaços existem para serem ocupados e para que as pessoas se vejam e sejam vistas e que neles se possa exercer a cidadania. Um denominado “espaço público” sem ações da esfera pública não é um espaço e muito menos público. A fim de evitar maiores confusões, utiliza-se “lugar público”, o local da esfera pública, assim “permite compreender relações entre os espaços e a vida pública onde e quando ela ocorre, não se limitando à questão jurídica – que sem dúvida é importante – da propriedade. ” (QUEIROGA, 2012, p. 216). E para além do espaço público este trabalho tem como objeto de estudo o espaço público edificado, que seriam os equipamentos públicos e de uso público, como por exemplo: bibliotecas, teatros, cinemas, museus etc.

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4. desigualdade municipal mapeamento São Paulo é uma cidade desigual, como toda cidade capitalista periférica. Cabe explorar aqui analiticamente este tema já tão abordado na literatura acadêmica. Os mapas a seguir, retirados do site Infocidade1, buscam, de forma gráfica, explicitar estas diferenças. A desigualdade se manifesta de diversas formas, segrega a população e muitas vezes chega a excluir completamente uma parcela desta. Educação, cultura, saúde e mobilidade não são para todos. A renda se reflete no modo como a cidade foi construída; o “centro expandido versus periferia” se percebe com facilidade e a elite acaba usufruindo com muito mais facilidade a infraestrutura da cidade. Como podemos observar no Mapa 1, a renda está concentrada na área central, no vetor sudoeste, ou seja, parte das subprefeituras de Pinheiros, Santo Amaro, Vila Mariana, Lapa, Mooca e Sé, pois a maior parte dos domicílios com renda de 20 ou mais salários mínimos está concentrada nessa área. Temos o distrito de Moema, na subprefeitura da Vila Mariana, com maior quantidade de domicílios com renda igual ou superior aos 20 salários mínimos. Ao compararmos o Mapa 1 com o Mapa 2, temos uma visão completa da desigualdade de renda municipal: não só os domicílios com maior renda estão concentrados na parte central, mas quase não há favelas nos bairros mais ricos; estas se encontram afastadas do centro, nos bairros mais periféricos.

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Plataforma digital da Prefeitura do Município de São Paulo. http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/.

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Mapa 1. Distribuição de Domicílios, segundo Faixa de Renda – Município de São Paulo – 2010. Fonte: InfoCidade.

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Mapa 2. Distribuição das Favelas Município de São Paulo – 2015. Fonte: InfoCidade.

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A mancha da desigualdade é sempre a mesma. Ao observar o Mapa 3 e o Mapa 4 vemos que a população com maior nível de educação está concentrada da mesma forma. A parte mais escura do mapa, as subprefeituras da Vila Mariana e de Pinheiros, que apresentaram os domicílios com as maiores rendas nos mapas anteriores, são também, as que apresentaram maior porcentagem de sua população com Ensino Médio ou Superior Completo, nos respectivos mapas abaixo.

Mapa 3. Proporção da População de 18 anos e

Mapa 4. Proporção da População de 25 anos e

mais com Ensino Médio Completo - Município

mais com Ensino Superior Completo - Município

de São Paulo – 2010. Fonte: InfoCidade.

de São Paulo – 2010. Fonte: InfoCidade.

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Mapa 5. Centros Culturais, Casas de Cultura, Espaços Culturais, Galeria de Arte e Museus Município de São Paulo - 2013. Fonte: InfoCidade.

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Contígua à educação, temos a cultura. Como se observa no Mapa 5, os equipamentos culturais também se localizam em sua grande parte na área central. Os pontos mais escuros são equipamentos particulares. Vemos que, além de pouco investimento governamental na área da cultura, o investimento privado concentra-se junto à renda. Esta centralização dos equipamentos reflete a desigualdade social na cidade, porém explicita o ponto central desse trabalho. Precisamos de mais equipamentos culturais na cidade, pois eles são essenciais ao desenvolvimento da sociedade. E é notável que temos um grande estoque de equipamentos culturais públicos e privados que estão disponíveis apenas para uma parte da cidade. Por isso é necessário incentivar e facilitar o acesso a eles, a fim de redemocratizá-los. Mesclando os dados de renda, escolaridade, saúde, condições de inserção no mercado de trabalho, o acesso aos serviços prestados pelo Estado e as oportunidades de mobilidade social, foi desenvolvido no estado de São Paulo o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS). O objetivo é ter uma visão global da desigualdade e construir políticas públicas condizentes com as necessidades da população. “Resultado de um tipo de crescimento econômico excludente e concentrador de riquezas, nossos grandes centros urbanos apresentam enormes desigualdades, com áreas de muita pobreza e condições de vida precárias. Elaborar políticas públicas eficazes para essas localidades demanda um conhecimento dos problemas específicos das comunidades a serem atendidas. O IPVS é uma tipologia que classifica os municípios do Estado de São Paulo em grupos de vulnerabilidade social a partir de uma combinação entre as dimensões demográfica e socioeconômica. Considerando um conjunto de variáveis, esse indicador permite melhor identificar os fatores específicos que produzem a deterioração das condições de vida numa comunidade, auxiliando na definição de prioridades para o atendimento da população mais vulnerável. ” 2 2

Retirado do ÍNDICE PAULISTA DE VULNERABILIDADE SOCIAL, Versão 2010.

Disponível

em

http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/pdf/ipvs/principais_resultados.pdf.

Acessado julho-2016.

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O Mapa 6, a seguir, mostra as áreas mais vulneráveis da cidade de São Paulo, de acordo com o IPVS, e nele vemos uma coerência com os outros mapas já apresentados. A região central apresenta baixíssima/muito baixa vulnerabilidade (áreas com tons de verdes) e as áreas com vulnerabilidade alta/muito alta (áreas com tons de vermelhos) estão localizadas nas periferias. Confrontando todos os mapas apresentados temos uma visão clara da dinâmica do capital na cidade de São Paulo. A renda e todos os benefícios que a acompanham (educação, cultura e mobilidade) estão concentradas na parte central da cidade, enquanto o resto da cidade não tem acesso ao básico. A renda e a infraestrutura devem ser distribuídas entre todas as áreas do município. Ou poderíamos adensar o centro e redistribuir a infraestrutura existente para toda a população. Seguindo a diretriz do adensamento, propõe-se então, adensar, mesmo que temporariamente, e redemocratizar a utilização dos equipamentos culturais das zonas centrais.

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Mapa 6. Índice Paulista de Vulnerabilidade Social - IPVS - Município de São Paulo 2010. Fonte: InfoCidade.

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5. recorte de estudo

Vila Mariana

Com base nas análises cartográficas percebemos diversas discrepâncias na relação de centro versus periferia. Para tanto pretende-se explicitar analiticamente as dinâmicas de um bairro com alta infraestrutura e sugerir como seria possível redemocratizar essa infraestrutura. Partindo dos espaços públicos edificados, no caso equipamentos culturais públicos: bibliotecas, museus, cinemas etc., o “redemocratizar” surge da ideia de que os espaços só serão realmente públicos quando se tornam de uso público, quando se tornam lugares públicos. Foi escolhido, então, um local com grande infraestrutura, tanto de equipamentos, como de transporte público. Desta forma, os acessos a esses locais podem ser facilitados. A subprefeitura da Vila Mariana é a área com maior número de domicílios com 20 ou mais salários mínimos. E o distrito da Vila Mariana é o segundo mais branco, com apenas 7,9% de afrodescendentes3. Ou seja, uma área elitizada, com grande concentração de renda e consequentemente com ampla infraestrutura. A partir de um trabalho empírico que consistiu em caminhar, explorar e registrar fotograficamente o bairro, foi constatado que, apesar do grande estoque de equipamentos culturais, muitos estão subutilizados. Assim, temos equipamentos sem pessoas e pessoas sem equipamentos. Exploraremos por que esses espaços, no caso, espaços públicos edificados, estão vazios e como poderíamos fazer para que eles sejam utilizados por toda a população carente de equipamento.

3

http://www.ceert.org.br/noticias/dados-estatisticas/9503/levantamento-mostra-

distribuicao-da-populacao-negra-em-sao-paulo. Acessado em julho-2016.

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5.1. mapeamento

Utilizando as bases do GeoSampa4 e o software Qgis 2.14.0 Essen, foi feito um mapeamento específico com os equipamentos da região da subprefeitura da Vila Mariana, com os distritos Moema, Vila Mariana e Saúde. É uma zona relativamente bem servida de todos os equipamentos em questão. Esse mapeamento tem como objetivo entender as relações entre os equipamentos a fim de que os mesmos possam ser utilizados de maneira mais ampla. Foram mapeados os equipamentos culturais de educação, saúde e esporte, além de uma análise dos serviços de transporte público da região, são os mapas 7 a 11. Todos os mapas estão na escala 1:25000. O mapa 7 apresenta os equipamentos culturais tanto públicos como privados da subprefeitura da Vila Mariana e regiões adjacentes. E o mapa 8 dispõe dos equipamentos educacionais. Percebemos que os equipamentos culturais estão mais distantes dos eixos de transporte, enquanto os equipamentos educacionais localizam-se mais próximos às estações de metrô. No mapa 9 temos equipamentos de saúde e vemos um grande polo na região da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), próximo ao metrô Santa Cruz, onde os cursos de saúde (medicina e enfermagem) estão localizados. No Mapa 10 dispõem-se os equipamentos de esporte que se encontram mais pulverizados pela região de maneira geral. E o mapa 11 apresenta a rede de transporte público da região, com corredores de ônibus, estações de metrô e infraestrutura para o uso de bicicleta. 4

GeoSampa reúne informações públicas detalhadas e georreferenciadas sobre o

município, oferecendo disponibilidade dos dados em formato aberto. Disponível em http:// geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx. Acessado em Julho-2016,

31


Mapa 7. Equipamentos culturais na subprefeitura da Vila Mariana. Fonte: elaboração própria.

Equipamentos culturais Corredor de ônibus

Estação de metrô

32

N


Mapa 8. Equipamentos de educação na subprefeitura da Vila Mariana. Fonte: elaboração própria.

Equipamentos de educação

N

Corredor de ônibus

Estação de metrô

33


Mapa 9. Equipamentos de saúde na subprefeitura da Vila Mariana. Fonte: elaboração própria.

Equipamentos de saúde Corredor de ônibus

Estação de metrô

34

N


Mapa 10. Equipamentos de esporte na subprefeitura da Vila Mariana. Fonte: elaboração própria

Equipamentos de esporte

N

Corredor de ônibus

Estação de metrô

35


Mapa 11. Malha de transporte público simplificada na subprefeitura da Vila Mariana. Fonte: elaboração própria.

Ciclovia/ciclofaixa/ciclorota Corredor de ônibus

Estação de metrô

36

N


6. experiências pela cidade registros pessoais “Um bairro urbano não é determinado apenas pelos fatores geográficos e econômicos mas pela representação que seus moradores e os outros bairros têm dele” (LAUEW, 1952, apud JACQUES, 2003, p. 87) A partir da técnica de deriva, que, segundo Paola Berenstein Jacques (2003), se apresenta como uma técnica de passagem rápida por ambiências variadas, realizei diversos passeios pelo bairro e pelos equipamentos, registrando por meio de fotografias. A princípio caminhei sem rumo, apenas observando o que o bairro teria para me oferecer: as vilas, os sobrados, a grande movimentação nas vias coletoras e ruas desertas a menos de 50m. Um misto de prazer e receio em não saber o que surgiria ao virar a próxima esquina. Ao caminhar, acabei me deparando com os equipamentos culturais. Tinha que viver a rua, porém me sentia mais segura nos espaços fechados. Entrei, então, para vivenciar esses espaços. E a partir desses passeios fui capaz de, empiricamente, perceber o quão vazios estes locais estavam. Frequenteios em diversos dias e horários, com pouca variação de quantidade de público. É importante salientar que todos os equipamentos têm entrada gratuita. São grandes potenciais culturais e de desenvolvimento da sociedade, porém não estavam sendo utilizados. Essa percepção resultou em uma série de fotografias que registram apenas uma pessoa frequentando cada um desses espaço. A seguir, algumas imagens selecionadas do meu acervo pessoal. Note-se que não conseguimos no âmbito desta pesquisa dados sobre a frequência nos espaços relacionados, apesar dos pedidos às suas coordenações. Por isso, as observações listadas a seguir são realizadas com base na observação através das visitas aos locais em horários diversos da semana e fim de semana.

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Foto 1. Casa Modernista. Acervo da autora, 2016.

Foto 2. Museu Lasar-Segall. Acervo da autora, 2016.

38


Foto 3. Biblioteca Municipal Viriato CorrĂŞa. Acervo da autora, 2016.

Foto 4. Cinemateca Brasileira. Acervo da autora, 2016.

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Foto 5. Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP). Acervo da autora, 2016.

A Casa Modernista tem horário e programa bem restrito. Além da casa de autoria do arquiteto russo Gregori Warchavchik, há um parque projetado por Mina Klabin. O público que frequenta a casa é predominantemente de arquitetos e estudantes de arquitetura, pois não é desenvolvido nenhum outro programa cultural para outros públicos. Na foto 1 observa-se um estudante de arquitetura realizando um croqui da fachada posterior da Casa. Já o parque é frequentado por pacientes e acompanhantes do Hospital Santa Cruz que passeiam pelo parque enquanto aguardam atendimento (o hospital encontra-se a poucos metros). É difícil para os moradores da região frequentarem o parque e a casa por dois motivos principais: i. um muro branco de dois metros de altura cerca o lote, e apenas um dos dois portões dá acesso ao local, dificultando que um transeunte entre espontaneamente; ii. o horário, que é das 9h às 17h, faz com que as pessoas que trabalham em horário comercial não tenham como frequentá-lo.

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O Museu Lasar Segall, também projetado por Gregori Warchavchik, conta com maior diversidade de programação, com cursos de fotografia, gravura e criação literária, porém os cursos são pagos. Por exemplo, o curso de gravura desenvolvido em setembro e outubro de 2016 custava R$350,00. A localização da entrada em uma rua pequena de baixo fluxo de pessoas dificulta que alguém chegue até ele espontaneamente – ele não parece querer ser encontrado. E apesar de estar em frente à Escola Estadual Brasílio Machado não há nenhuma programação específica para os estudantes. Na foto 2 temos um segurança, que era o único que frequentava o museu. A Biblioteca Municipal Viriato Corrêa encontra-se integrada à malha da cidade, porém mesmo sendo de fácil acesso, tendo um acervo interessante e uma boa área de estudo, nas três visitas realizadas, não havia mais de três pessoas, além dos funcionários. Na foto 3 uma jovem estuda sem se preocupar em ser incomodada, já que é a única utilizando o salão. No segundo andar havia mais duas pessoas estudando. A Cinemateca Brasileira tem um público bem específico, a programação de cinema alternativo e independente, tanto brasileiro como internacional. Mas a ausência de uma aproximação prévia do cidadão comum dificulta o contato com o público de maneira geral. A parte mais utilizada é o jardim, mas mesmo aos finais de semana, como pode-se observar na foto 4, poucas pessoas frequentam o local. E por estar mais próximo ao Parque Ibirapuera, mais distante do metrô e já mais afastado das ruas principais, o público em geral é de classe social mais elevada, aparentemente majoritariamente brancos, o que condiz com a população do bairro. A única pessoa negra que se encontrava no local era o segurança da entrada. As visitações realizadas no âmbito da pesquisa demonstraram que o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) é o equipamento com público mais variado, isso se deve provavelmente ao fato de que ele absorve parte do público do Parque Ibirapuera. Recentemente alocado no edifício projetado pelo Niemeyer, antiga sede do DETRAN-SP, o MAC-USP tem tentado melhorar o acesso e aumentar seu público, segundo Sérgio Miranda, responsável pela comunicação

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institucional do museu. Porém como dispõe de uma área muito grande e diversas exposições, o potencial é enorme e acaba não sendo explorado em sua totalidade. Na foto 5 vemos um segurança observando a vista panorâmica da cobertura do edifício – um dos atrativos do museu. O Museu do Instituto Biológico na realidade é um zoológico, pois tem animais vivos: abelhas, baratas, bichos de seda etc. A programação é muito interessante, porém grande parte do público é específico de excursão escolar. Com poucos recursos estaduais, eles acabam fazendo parcerias com outras organizações, tanto públicas como privadas, a fim de se manterem. Foi realizada, nos meses de novembro e dezembro, uma reforma no jardim com o objetivo de atrair mais visitantes. Uma das dificuldades é a quantidade de monitores à disposição, pois a visita só é completa quando se tem um monitor acompanhando, podendo-se tocar e interagir com os animais. Depois das derivas e da definição do objeto de estudo, o espaço cultural edificado na Vila Mariana, comecei a realizar registros que formaram uma cartografia desses espaços, ao ir propositalmente para esses locais a fim de registrar o que ocorria neles e como as pessoas se relacionavam com eles. Na busca de reativar esses espaços, fiquei pendente de eventos que fossem acontecendo nos locais, pois não obtive resposta dos administradores dos espaços para minhas insistentes solicitações de entrevistas ou conversas. Consegui participar de uma festa junina no dia 03 de julho de 2016 na Cinemateca, e seguir apresento algumas fotos da celebração. Realizei quatro visitas ao local e essa foi a única vez que presenciei este equipamento realmente sendo utilizado. Foi muito interessante notar esta mudança, porém era perceptível que apenas a população do bairro frequentava o local.

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Foto 6. Festa Junina na Cinemateca Brasileira brincando de roda. Acervo da autora, 2016.

Foto 7. Festa Junina na Cinemateca Brasileira namorados. Acervo da autora, 2016.

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Enquanto a Cinemateca abria seu espaço para o público, em uma festa gratuita, a cobertura do MAC-USP havia sido alugada pela Corona5, no mês de outubro de 2016, para uma festa exclusiva para a qual ingressos custavam a partir de R$80,00, valor que seguramente só permite acesso a pessoas de mais alta renda. A música podia ser escutada de dentro do Parque Ibirapuera, porém o acesso à cobertura era exclusivo aos pagantes. O pôr-do-sol havia sido privatizado, a festa, que se chamava “Corona SunSet” (Corona pôr-do-sol, tradução livre) e acontecia nos finais de semana do mês em questão, permitia apenas aos pagantes o acesso àquela bela vista. O público do MAC, que normalmente se veste casualmente e com roupas de esporte, pois, em sua grande maioria, é o público que frequenta o Parque Ibirapuera, havia sido substituído por mulheres de salto alto e maquiagem e homens de calça jeans e camisas de marca. Essa observação não pretende ser uma análise superficial nem preconceituosa sobre a frequência de um público mais elitizado no MAC, mas sim, um olhar crítico sobre a privatização de um espaço que a meu ver deveria ser mais utilizado gratuita e publicamente. O MAC, apesar de seu importante acervo artístico, é pouco frequentado. Sua inserção na região, apesar de muito bem servida de transporte público, via ônibus, não é lá das mais cômodas para o pedestre. Quando se dificulta ainda mais o acesso, fechando o espaço público para um público elitizado, este espaço se torna cada vez menos público. Há que incentivar que todos os públicos frequentem esse espaço, de maneira gratuita. Registro também que no dia 16 de outubro de 2016, enquanto ocorria uma festa privada em um local de administração pública (MAC-USP), no SESC (Serviço Social do Comércio) Vila Mariana, que apesar de ser aberto ao público é uma instituição de administração privada, ocorria um evento muito mais democrático. Um tango ao vivo fazia senhoras e senhores de todas as idades e classes sociais dançarem e se divertirem naquele fim de domingo. Os frames, que se apresentam em sequência a seguir, foram retirados de dois vídeos: no SESC o plano médio estático contrasta com a movimentação de duas senhoras dançando tango e no MAC o movimento da câmera hand held se opõe a rigidez do público. Tem-se a intenção aqui de demonstrar o que se espera de um espaço público e democrático. Um local onde o público seja diversificado e realmente aproveite o espaço e a programação.

5

44

Corona Extra: marca de cerveja mexicana.


SequĂŞncia 2. Corona Sunset. Acervo da autora, 2016.

SequĂŞncia 1. Tango no SESC. Acervo da autora, 2016.

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6.1. fechado ao público

“É museu, é público, é grátis, pode entrar” Sérgio Miranda - responsável pela comunicação institucional no MAC-USP (citação verbal) No empenho de entender os usos dos espaços, por quem eles são utilizados e com qual frequência, além de frequentar os espaços, ocorreu uma tentativa de conversar com a organização dos equipamentos. Busquei entender um outro ponto de vista, com o objetivo de criar uma conectividade entre os diferentes locais. Recebi uma negativa, algumas desculpas e muitos simplesmente não responderam. O que a princípio me pareceu ruim, porém em parte ajudou a construir este trabalho. Se ao começar insistia que a utilização dos espaços deveria ocorrer de forma horizontal, criar um grande projeto a fim de relacionar os equipamentos não era muito coerente. Uma única pessoa aceitou me receber e conversar comigo. Foi o jornalista Sérgio Miranda responsável pelos eventos e comunicação institucional do Museu de Arte Contemporânea – MAC USP, que me concedeu entrevista no dia 28 de setembro de 2016, e a partir da qual explorarei algumas reflexões a seguir. A conversa, que durou certa de uma hora, criou grandes questionamentos tanto em mim, quanto nele. É importante contextualizar que o museu antes se encontrava na Cidade Universitária – Butantã, e agora está inserido no meio da cidade, no bairro da Vila Mariana, ao lado do Parque Ibirapuera. Isso gerou uma mudança muito significativa de público.

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Apesar dessa mudança ter ocasionado um grande aumento de público, Sérgio também entendia que um esforço maior deveria ser feito para que as pessoas frequentassem mais o museu, não só o MAC, mas museus em geral e outros equipamentos culturais. Dentre as possibilidades que pensamos em conjunto seriam projetos de integração dos acervos, de forma a criar uma temática que gerasse um interesse em todos os centros culturais. Já que alguns recebem mais verba para divulgação que outros. E também mais público em comparação. Outra ideia seria melhorar a programação visual dos espaços, a fim de acolher melhor o público, para que ele perceba que o espaço é público e está disponível, que é grátis e todos podem entrar. Ele me apresentou o projeto da ExCompanhia de Teatro chamado “Jornada” que com áudios guia as pessoas a descobrir a cidade. O primeiro projeto desenvolvido por eles também foi no bairro da Vila Mariana. “Nós vamos levar você, através de uma áudio-dramaturgia, para conhecer diversos lugares inesperados na capital paulista. Você vai viajar sem sair da cidade. Você vai se perder para, quem sabe, se encontrar. Você vai e vai sem saber onde termina. Porque isso não importa. O que importa está entre aqui e lá. Pode ser até que você sorria. Ou chore. Ou nada disso. ” Desta conversa surgiu a ideia do mapeamento com o objetivo de que seja usado como base para que o cidadão saiba que estes espaços estão disponíveis para todos e que todos podem participar da criação deles. O mapeamento já havia sido iniciado em uma fase anterior deste projeto, a partir de fichas que analisavam o entorno de cada equipamento cultural.

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As fichas servem para contextualizar cada equipamento. E cada uma é composta por: 1. Nome do equipamento; 2. Visão satélite do Google Maps; 3. Ficha básica de informações sobre o equipamento; 4. Mapa em 1:5000 com o equipamento cultural centralizado e os outros equipamentos mapeados anteriormente com legenda respectiva; 5. Avaliação da inserção urbana do equipamento, sendo caracterizada por: a. Adequação à malha b. Muros c. Grades 6. Texto resumo retirado do site do equipamento 7. Fotografias realizadas durante as Derivas. Foi pensado, então, em transformar esse mapeamento junto com as informações dispostas nas fichas em um guia de papel, suporte que acredito ser mais acessível. Em um formato prático e de bolso que convide as pessoas a utilizarem o espaço.

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6.2. os equipamentos

A seguir estão as fichas detalhadas de cada equipamento cultural público edificado selecionado na região da Vila Mariana, que foram utilizados como base para o produto final que será um guia da área. 1. Casa / Parque Modernista 2. Museu Lasar Segall 3. Biblioteca Viriato Corrêa 4. Cinemateca Brasileira 5. Museu do Instituto Biológico (Planeta Inseto) 6. Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP)

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Casa/parque Modernista

Esfera administrativa: Municipal Tipo: Museu Horário de funcionamento: Terça a domingo, das 9h às 17h Preço: Gratuito

Casa Modernista

Localização: Rua Santa Cruz, 325

Escola Estadual Lasar - Segall Escola Estadual Brasílio Machado

200 m

05

100 m

Linhas de ônibus

0

100 150 200m

Ambulatório especializado municipal - Clinica Odontologica Hospital Santa Cruz

Fluidez urbana

Centro de Referência e

Tratamento de DST Aids

adequação à malha

muros grades


A Casa Modernista da Rua Santa Cruz, de autoria do arquiteto de origem russa Gregori Warchavchik (1896–1972), foi projetada em 1927 e construída em 1928, e é considerada a primeira obra de arquitetura moderna implantada no Brasil. O tombamento em 1984, pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), resultou em um rápido processo de deterioração inicial. Comprado pelo Estado em 1994 as primeiras obras de recuperação foram feitas nos anos 2000, Em março de 2008, a prefeitura do município de São Paulo passa a ser permissionária do imóvel. Trabalhos emergenciais foram realizados para a reabertura do parque e da casa em agosto de 2008, contando com programação musical e equipe de educadores patrimoniais, sob coordenação da Divisão do Museu da Cidade de São Paulo. Em dezembro de 2011 foi contratado projeto executivo para o restauro e adequação da casa e edículas, contemplando a valorização dos bens existentes, a implantação de espaços de convivência no parque, adequação à acessibilidade e criação de um espaço de referência para o estudo do modernismo em São Paulo, buscando diversificar o público visitante. A casa e o parque permanecem abertos e oferecem serviço educativo aos visitantes. Adaptado de: http://www.museudacidade.sp.gov.br/casamodernista.php

476A-10 - Ipiranga 5103-10 - Moema 4709-10 - Jd. São Saverio N505-11- Term. Sacomã 4706-10 - Jd. Maria Estela II 4708-10 - Jd. Climax 476G-10 - Jardim Elba N506-11 - Term. Sacomã Linha 1 - Azul Metrô Santa Cruz (5oom) 1

3 1. Entrada - portão de acesso. Acervo da autora, 2016.

2

2. Painel informativo sobre o restauro. Acervo da autora, 2016. 3. Jardim projetado por Mina Klabin. Acervo da autora, 2016.

51


Museu Lasar Segall

Esfera administrativa: Federal Tipo: Museu Horário de funcionamento: Quarta a sábado, das 11h às 19h Preço: Gratuito Localização: Rua Berta, 111

Escola Estadual Lasar - Segall Escola Estadual Brasílio Machado

05

0

100 150 200m

200 m

Ambulatório especializado

100 m

municipal - Clinica Odontologica

Linhas de ônibus

Fluidez urbana

Faixa exclusiva para ônibus

adequação à malha

muros grades


O Museu Lasar Segall, idealizado por Jenny Klabin Segall – viúva de Lasar Segall – foi criado como uma associação civil sem fins lucrativos, em 1967, por seus filhos Mauricio Segall e Oscar Klabin Segall. Está instalado na antiga residência e ateliê do artista, projetados em 1932, por seu concunhado, o arquiteto de origem russa Gregori Warchavchik. Em 1985, o Museu foi incorporado à Fundação Nacional Pró-Memória, integrando hoje o Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM do Ministério da Cultura, como unidade especial. Além de seu acervo museológico, o Museu constitui-se como um centro de atividades culturais, oferecendo programas de visitas monitoradas, cursos nas áreas de gravura, fotografia e criação literária, projeção de cinema, e ainda abriga uma ampla biblioteca especializada em artes do espetáculo e fotografia. O Museu, como órgão federal, é apoiado pela Associação Cultural de Amigos do Museu Lasar Segall – ACAMLS, uma sociedade civil sem fins lucrativos, viabilizada pela colaboração de instituições públicas e privadas, além de pessoas físicas que cooperam com o Museu. Adaptado de: http://www.museusegall.org.br/mlsTexto.asp?sSume=34.

5106-10 - Lgo. São Francisco 5791-10 - Metrô Vergueiro 875A-10 - Perdizes 5290-10 - Pca. Joao Mendes 574A-10 - Lgo.cambuci 4706-10 - Jd. Maria Estela II 4708-10 - Jd. Climax 476G-10 - Jardim Elba N506-11 - Term. Sacomã Linha 1 - Azul 1

Metrô Vila Mariana (600m) Metrô Santa Cruz (550m)

3 1. Exposição Idas e vindas | Segall e o Brasil. Acervo da autora, 2016. 2. Entrada - portão de acesso. Acervo da autora, 2016.

2

3. Exposição Tátil. Acervo da autora, 2016.

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Biblioteca Viriato Corrêa

Esfera administrativa: Municipal Tipo: Biblioteca Horário de funcionamento: Segunda a sexta, das 10h às 19h Sábado e domingo, das 11h às 18h Preço: Gratuito Localização: R. Sena Madureira, 298

Hospital Israelita - Unidade Vila Mariana

05

0

100 150 200m

200 m 100 m

Fluidez urbana

Linhas de ônibus Faixa exclusiva para ônibus Ciclofaixa / Ciclorrota

adequação à malha

muros grades


A biblioteca iniciou suas atividades em julho de 1952, em virtude das condições precárias de funcionamento, por muito tempo se cogitou a construção de um prédio mais adequado às necessidades de uma biblioteca, que finalmente foi entregue à população em 4 de abril de 1965, na Rua Sena Madureira, onde permanece até hoje. A construção, de concepção arquitetônica moderna, ampla e iluminada, foi projetada para as atividades de leitura e programação cultural da biblioteca. Em maio de 1969 a Biblioteca de Vila Mariana recebeu a denominação de Biblioteca Infantil Viriato Corrêa, em homenagem à significação histórica deste ilustre escritor, falecido em 1967. Em novembro de 2008 a biblioteca passou a se especializar em livros com a temática de Literatura Fantástica. A ambientação temática foi criada pelo escritório Rossi Barbosa Arquitetos Associados. Tem como base referências ao universo da literatura fantástica e busca gerar “estranhamento” – uma característica fundamental deste gênero literário – e tornar o espaço descontraído. É composto por reproduções de gravuras e desenhos ligados ao universo da literatura fantástica em paredes, teto e janelas. O mobiliário, de peças antigas reformadas, é composto por estantes tortas e mesas redondas. E foram criadas falsas pilastras, iguais às de sustentação do prédio, porém levemente inclinadas. Adaptado de: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_m_z/viriatocorrea/

677A-10 - Term Jd Ângela 5106-10 - Lgo. São Francisco 5791-10 - Metrô Vergueiro 875A-10 - Perdizes 5290-10 - Pca. Joao Mendes 574A-10 - Lgo.cambuci Linha 1 - Azul Metrô Vila Mariana (650m) 1

3 1. Sala de leitura - pavimento superior. Acervo da autora, 2016.

2

2. Piso térreo - corredor temático. Acervo da autora, 2016. 3. Entrada da biblioteca. Acervo da autora, 2016.

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Cinemateca Brasileira

Esfera administrativa: Federal Tipo: Cinema Horário de funcionamento: Segunda a quarta, das 08h às 18h Quinta a domingo, das 08h às 21h Preço: Gratuito Localização: Lgo. Sen. Raul Cardoso, 207

Faculdade de Tecnologia Senai Anchieta

05

0

100 150 200m

200 m 100 m

Fluidez urbana

Ciclofaixa / Ciclorrota

adequação à malha

muros grades


A origem da Cinemateca Brasileira remonta à criação, em outubro de 1946, do Segundo Clube de Cinema de São Paulo, que buscava estimular o estudo, a defesa, a divulgação e o desenvolvimento da arte cinematográfica no Brasil. No ano de 1976 a Fundação Cinemateca Brasileira tem o reconhecimento de seu caráter de utilidade pública pelo município de São Paulo. Em 1988, o prefeito Jânio Quadros cede à instituição o espaço do antigo matadouro da cidade. Após nove anos de reformas, sua sede é definitivamente instalada na Vila Clementino. Entre 2008 e 2013, a Cinemateca Brasileira dá um grande impulso nas suas atividades de preservação e difusão de acervos, bem como na infraestrutura, graças a recursos investidos pelo Ministério da Cultura, por meio de Planos de Trabalho, no âmbito de uma parceria estabelecida entre o Ministério e a Sociedade Amigos da Cinemateca. Após esse profícuo período, a instituição passa por uma crise, cujos desdobramentos levam à drástica redução das equipes e, por conseguinte, da sua capacidade operacional, sobretudo do Laboratório de Imagem e Som. Adaptado de: http://www.cinemateca.gov.br/pagina/a-cinemateca-historia

677A-10 Term. Jd. Ângela 7710-10 Term. Guarapiranga 475R-10 Term. Pq. D. Pedro II 5106-10 Lgo. São Francisco

1

2 1. Fachada frontal. Acervo da autora, 2016. 2. Corredor interno - projeto de restauro. Acervo da autora, 2016.

3

3. Telão ao ar livre. Acervo da autora, 2016.

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Museu do Instituto Biológico

Esfera administrativa: Estadual Tipo: Museu/Zoológico Horário de funcionamento: Terça a domingo, das 9h às 16h Preço: Gratuito Planeta Inseto

Localização: Av. Dr. Dante Pazzanese, 64

Fluidez urbana

adequação à malha

muros grades

05

0

200 m 100 m

Ciclofaixa / Ciclorrota

100 150 200m


O Instituto Biológico tem como missão desenvolver e transferir conhecimento científico e tecnológico para o negócio agrícola nas áreas de sanidade animal e vegetal, suas relações com o meio ambiente, visando a melhoria da qualidade de vida da população. O Museu do Instituto Biológico realiza a exposição permanente planeta inseto, mostrando a importância desses organismos na vida humana. A mostra retrata, de forma lúdica e interativa, os diversos aspectos sobre os insetos, sensibilizando o público para sua importância na sustentabilidade ambiental, produção de alimentos e saúde pública. É único Jardim Zoológico de insetos do Brasil, autorizado pelo IBAMA e Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. O visitante pode ver de perto abelhas produzindo mel, lagartas produzindo o fio da seda utilizado em nossas roupas, formigas trabalhando em um sistema organizado, cupins reciclando material orgânico. O projeto é coordenado pelo Instituto Biológico (IB-APTA), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, tendo como parceiros a Secretaria da Cultura e o Catavento Cultural e Educacional. Adaptado de: http://www.biologico.sp.gov.br/museu.php

677A-10 Term. Jd. Ângela 695V-10 Metrô Ana Rosa 7710-10 Term. Guarapiranga Linha 1 - Azul Linha 2 - Verde Metrô Ana Rosa (1km)

1

3 1. Fachada principal - entrada. Acervo da autora, 2016.

2

2. Fachada lateral. Acervo da autora, 2016. 3. Bicho-pau. Acervo da autora, 2016.

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MAC-USP

Esfera administrativa: Estadual Tipo: Museu Horário de funcionamento: Terça-feira das 10 às 21h Quarta a domingo das 10 às 18h Preço: Gratuito

MAC-USP

Localização: Av. Pedro Álvares Cabral, 1301

Instituto Biológico

05

0

100 150

200 m 100 m

Fluidez urbana

Linhas de ônibus Ciclofaixa / Ciclorrota

adequação à malha

muros grades


O Museu de Arte Contemporânea foi criado em 1963 quando a Universidade de São Paulo recebeu o acervo do antigo MAM de São Paulo, de posse desse rico acervo o novo museu passa a atender aos principais objetivos da Universidade: busca do conhecimento e sua disseminação pela sociedade. Em seus primeiros anos o MAC USP tratou de preservar, estudar e exibir o acervo, ao mesmo tempo em que se tornava um dos principais centros no hemisfério sul a colecionar, estudar e exibir trabalhos ligados às várias vertentes da arte conceitual, às novas tecnologias e obras que problematizavam a tradição moderna. Nas últimas décadas, o MAC USP continuou ampliando suas coleções modernas e contemporâneas. Instalado em um complexo arquitetônico criado nos anos 1950 pelo arquiteto Oscar Niemeyer e equipe, o MAC USP possui um acervo de cerca de 10 mil obras, entre pinturas, gravuras, tridimensionais, fotografias, arte conceitual, objetos e instalações. É considerado um centro de referência de arte moderna e contemporânea, brasileira e internacional, mantendo à disposição de estudantes, especialistas e do público em geral uma biblioteca e um importante arquivo documental. Adaptado de: http://www.mac.usp.br/mac/conteudo/institucional/institucional.asp

647C-10 Hosp. Das Clínicas 5178-10 Pça. João Mendes 5164-21 Pq. Ibirapuera 5154-10 Term. Princ. Isabel 857A-10 Term. Campo Limpo 6366-10 Term. Bandeira 5318-10 Pça. Da Sé 5630-10 Metrô Brás 6455-10 Lgo. São Francisco 175T-10 Metrô Santana 5317-10 Pça. Do Correio 5611-10 Pça. João Mendes 1

3 1. Marquise da cobertura. Acervo da autora, 2016.

2

2. Hall de entrada. Acervo da autora, 2016. 3. Escultura - gato gigante. Acervo da autora, 2016.

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7. cidade aberta E como fazer com que a população utilize a cidade? Como informar que a cidade é dela, que é grátis e que ela pode fazer parte? A proposta é dar o suporte para que ela possa utilizar e se sentir parte do todo. Para isso pensei em desenvolver um guia da área, no qual os principais equipamentos culturais públicos edificados estejam identificados. Além disso, relacionar esses locais com o transporte público e, assim, demonstrar que o acesso não é tão difícil e que todos são bem-vindos – não importando o bairro de origem. Como foi feito um recorte da cidade para desenvolver esse estudo, o guia trata apenas deste recorte. Uma ampliação seria necessária para que possamos utilizar a cidade como um todo. Com o mapeamento feito anteriormente transformado em guia, um cidadão pode se transformar em usuário. E utilizar a cidade a sua maneira. Descobrir o que há “por aí” que é público, é grátis e está disponível, sendo isso apenas o ponto de partida para uma cidade mais democrática. O guia se apresenta em uma lâmina A3 que se reduz a um A6, ou seja, um tamanho ideal para levar no bolso ou na bolsa quando dobrado e contém com um mapa em uma escala confortável para leitura quando aberto. O produto deste trabalho encontra-se anexado a este caderno e inclui os principais equipamentos culturais da Vila Mariana, que são o Museu Lasar Segall, Casa Modernista, Biblioteca Viriato Corrêa, Cinemateca Brasileira, Museu do Instituto Biológico (Planeta Inseto) e o MAC-USP, com informações sobre o equipamento, incluindo um breve resumo, valores e horários de funcionamento e como acessá-los a partir da rede de transporte público local.

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O guia foi elaborado a partir das visitas, conversas e experiências realizadas, a fim de falar com todos os públicos de maneira universal, para que tanto o professor, o estudante e o cidadão comum possam, em parceria, utilizar esse espaço. A proposta seria que este material fosse disponibilizado tanto nos pontos de interesse (equipamentos públicos em gerais) como distribuído junto a jornais do bairro e em comércios locais. Considero esse guia um convite à utilização da cidade.

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