conceitos para experimentação da cidade a partir de micropolíticas e singularidades Elaine Cristina Maia Nascimento Orientação: Prof. Dr. Rodrigo Gonçalves dos Santos
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. Nascimento, Elaine Cristina Maia URBGRAFIAS : Conceitos para experimentação da cidade a partir de micropolíticas e singularidades. / Elaine Cristina Maia Nascimento ; orientador, Rodrigo Gonçalves dos Santos, 2018. 166 p. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Florianópolis, 2018. Inclui referências. 1. Arquitetura e Urbanismo. 2. corpografias. 3. cidade. 4. micropolíticas. 5. arte. I. Santos, Rodrigo Gonçalves dos . II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. III. Título.
19
21
23
25
27
29
31
33
35
Trampolim Eduardo Srur “Senhor, fica calmo, que esse indivíduo que o senhor tá vendo aí é um boneco. Foi desta maneira que a Polícia Militar tranquilizou a população sobre a intervenção urbana Trampolim que esteve instalada em diversas pontes que cruzam o poluído rio Pinheiros desde o dia 19 de setembro - Dia Mundial da Limpeza da Água.
A obra composta por personagens realistas posicionados na ponta de pranchas azuis tinham por objetivo aludir à impossibilidade de mergulhar ou nadar no rio Pinheiros devido a sua contaminação. A resposta da cidade foi imediata: 300 ocorrências no Corpo de Bombeiros, selfies e grande número de posts nas redes sociais, mídia espontânea. Uma das esculturas levou um tiro de revolver e outra teve a cabeça decepada. Todas estas transformações foram incorporadas ao trabalho.”
Imagem da intervenção “Trampolim” do artista Eduardo Srur. Fonte: http://www.eduardosrur.com.br/intervencoes/trampolim, acesso 13 de março de 2017.
A obra fez parte da mostra As Margens do Rio Pinheiros e contou com uma ação educativa para grupos escolares em parceria com a Associação Águas Claras do Rio Pinheiros, ONG voltada para conscientização e recuperação da bacia hidrográfica do rio Pinheiros.
Ficha técnica Esculturas e pintura artística dimensões variadas, Rio Pinheiros, São Paulo, 2014 Descrição retirada do site do artista Eduardo Srur, sobre a intervenção “Trampolim”. h t t p : / / w w w. e d u a r dosrur.com.br/intervencoes/trampolim, acesso 13 de março de 2017, as 15 horas e 8 minutos, em Florianópolis – SC.
Imagem da intervenção “Trampolim” do artista Eduardo Srur. Fonte: http://www.eduardosrur.com.br/intervencoes/trampolim, acesso 13 de março de 2017.
“No dia 24 de junho de 2011, o grupo teatral Teatro da Vertigem realizou a intervenção intitulada “Cidade Submersa”. O experimento se constituía em uma proposta de uma ação de escavação de memórias do terreno da antiga Rodoviária da Luz, em São Paulo. A estação foi desativada e um dia antes de sua demolição para a construção do Teatro da Dança a ação foi proposta. Para suposta construção. O complexo cultural nunca foi construído, deixando a área inutilizada de 2011 a 2016, quando foi proposto um projeto em parceria público-privada para construção de moradias populares e área comercial. O projeto faz parte das ações de revitalização do centro de São Paulo. A proposta do grupo era de que o expectador/escavador se deparasse com um espaço cheio de memórias a serem descobertas, guiando a discussão para a significação dos espaços urbanos da cidade, das relações estabelecidas com esses espaços e da memória urbana. A intenção é proporcionar uma experiência sensorial, lúdica e afetiva aos participantes, que, por intermédio de recursos arqueológicos, descobrirão aspectos escondidos da metrópole. Esta pesquisa pretende fazer surgir, simbolicamente, camadas "submer o, tentar estimular possíveis reflexões
acerca da vida urbana e do cotidiano. “A proposta é tirar as pessoas do dia-a-dia comum e do tempo de uma grande cidade”, afirma Guilherme Bonfanti, coordenador do projeto.” (VITRUVIUS, agenda cultural publicada em 13 de junho de 2011, acesso em 22 de março de 2017 - http://www.vitruvius.com.br/jornal/agenda/read/2041)
Imagem da intervenção “Cidade Submersa” do grupo Teatro da Vertigem. Foto: Nelson Kao. Fonte: site do grupo.
10
13
13
SOMOS PARTE DA PAISAGEM
Camila Petersen e Fábio Yokomizo
“’Somos parte da paisagem’ é um projeto de intervenção urbana e criação de cartografias afetivas de ruas e avenidas da cidade – qualquer cidade. Coletamos histórias reais de pessoas reais e as escancaramos na rua, no lugar onde aconteceram. Cada história vira um pôster, que aplicamos no espaço urbano em forma de lambe-lambes, e cada pôster conta uma história em até três pequenas frases. Com a junção de diversas histórias, vividas por diversos protagonistas, criamos um percurso que dá forma a um mapa afetivo que, sobreposto ao mapa geográfico da rua, promove um olhar sensível dos transeuntes sobre o caminho cotidiano. A ação relembra que a cidade é feita primordialmente de pessoas e suas histórias: bonitas, trágicas, engraçadas e por vezes banais. A cidade é um emaranhado complexo e inesgotável da existência humana.” Descrição do projeto disponível na rede social do mesmo. <https://www.facebook.com/pg/somospartedapaisagem> A primeira intervenção foi realizada dentro do projeto Parte da Paisagem de Karin Serafim e Renato Turnes, que consistia em performances ao longo da avinida Hercílio Luz, em Florianópolis, que versavam sobre a história da avenida que, anteriormente, possuia um rio que hoje está canalizado. Porém, a artista Camila Petersen, responsável incialmente pela ideia da intervenção específica com os lambe-lambes, juntamente com o artista Fábio Yokomizo, resolveu dar continuidade ao projeto intitulando-o de “Somos Parte da Paisagem”. Hoje a intenção dos dois é criar uma rede de compartilhamento, convidando pessoas a participaram do processo de intervenção e levando a ideia para outras cidades. Recentemente eles fizeram um workshop em Primavera do Leste (MT), junto com adolescentes, onde realizaram a intervenção na cidade. Assim que cheguei em Florianópolis para as aulas do mestrado, esbarrei com essas descrições ao longo da via que liga minha casa a universidade. Em uma cidade desconhecida, ler esses relatos era como criar uma história daqueles espaços só minha, imaginando como cada cena se deu e como aquele espaço abria possibilidades para tais acontcimentos. Foto: Fábio Yokomizo
Foto: Fรกbio Yokomizo
Foto: Fรกbio Yokomizo
Foto: Renato Turnes
Foto: Fรกbio Yokomizo Foto: Renato Turnes
designs evolutivos
design
ambiente
15
Os Cegos Desvio Coletivo “LEANDRO BRASILIO - Um dos aspectos mais interessantes de CEGOS que é o coro de pessoas que participam da ação é oriundo do workshop sobre intervenção urbana e performance que ministramos em cada cidade que a ação é realizada. Qualquer pessoa interessada, mesmo que não tenha nenhuma experiência artística, pode participar e dar a sua opinião sobre o que considera a “cegueira” local, contribuindo assim para a criação de uma cartografia política e poética, a partir do pertencimento de quem vive naquele local, e não de uma visão do grupo, que na maioria das vezes só conhece a cidade por conta
da viagem para a apresentação. Nesse sentido, o trabalho ganha potência política por problematizar uma visão dos moradores em relação com o seu território. A partir disso, CEGOS pode ganhar várias leituras pois existem situação muito peculiares que somente os moradores reconhecem ou compreendem, como por exemplo, a indicação de uma casa de chá que é frequentada pela elite da cidade como um símbolo de poder.” Fragmentos de estrevista concedida ao site Esquerda Diario, site: http://www.esquerdadiario.com.br/Entrevista-com-o-Desvio-Coletivo
Os Cegos em Brasília Foto:: Acervo do grupo.
Os Cegos em Florianópolis, Foto: Thomas Fessel
“PRISCILLA TOSCANO - A intervenção urbana Cegos representa homens e mulheres condicionados a fomentar a existência de um sistema social petrificado, automatizado e aprisionado às normas impostas pelos poderes no eixo político, financeiro, religioso, jurídico e midiático de nossa sociedade. No atual contexto brasileiro é inevitável que essa imagem seja associada a uma elite política/empresarial suja, corrupta, criminosa e vendida ao capital financeiro. Trata-se de uma ação artística que só ganha sentido ao ser realizada na rua, por isso a classificamos como Performance Urbana. Ela acontece em deslocamento e elegemos o trajeto dessa caminhada levando em consideração uma rota onde possamos passar diante de edifícios símbolos de poder, como exemplo os prédios de serviços públicos (prefeituras, palácios de governo, secretarias, justiça federal, etc...) e, como nossa crítica está direcionada a diversos eixos do poder, também optamos por inserir em nossos trajetos, percursos nos quais hajam igrejas (independente da religião), bancos (públicos e privados), edifícios nos quais a mídia hegemônica opera, além dos edifícios onde nossos políticos exercem seus mandatos etc.”
Os Cegos em Fortaleza, Foto: Eduardo Bernardino
Foto: Autoria prรณpria.
EXPERIMENTOS GRAMÍNEOS Macyra Leão
Vestida com uma roupa de verde, que remete a grama, a performer anda pela rua com um regador, interagindo com os passantes. Sem falar, apenas existindo, a performer passa entre olhares curiosos, rega, é fotografada, intriga. Em um rápido diálogo com um senhor, descubro a impaciência por parte do público da falta de resposta sobre o sentido da ação, como solicitado por muitos. Eu: 'o que o senhor acha que é?' Ele: 'Ah, não tem como saber, ela não fala! Eu nos meus 60 anos de vida acredito que seja algo sobre ecologia, sustentabilidade... Mas ela não fala!' Em seu percurso, outra apreensão do espaço: a rua que é de uso predominantemente comercial se transforma em um espaço de debate. O que quer dizer? O
que é? É homem ou mulher? Porque ela não fala? O assunto não era mais a promoção ou o preço abusivo de mercadorias, mas a presença daquele ‘corpo estranho’, que certamente queria dizer algo. O contraste com o concreto trazia o questionamento mais óbvio. Logo, uma criança falou: “é uma árvore mamãe, tem que regar se não ela morre!” E assim seguia a performer se regando ao longo do percurso. São dois platôs que se interceptam e criam um espaço de debate sobre aquela presença e seu significado. A rua se torna um espaço de tribuna, onde se é discutido o experimento e a sustentabilidade. A simples copresença se transforma em interação, há enfim urbanidade.
Foto: Autoria própria.
16
16
â&#x20AC;&#x2018;