6ª Edição
Jornal do NEDF/AAC
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Editorial Incontornavelmente, e como não poderia deixar de ser face às mudanças que ocorreram em Maio último, esta é uma edição do Antimatéria diferente das anteriores. Não só por ter havido uma reformulação quase total na equipa de produção, mas também porque, consequência dos tempos de contenção financeira a que a economia nos obriga, estas páginas estão também impressas em papel de jornal, solução esteticamente não tão agradável, mas que em contrapartida nos permitirá alcançar um universo de leitores muito mais abrangente em termos quantitativos. No entanto, apesar destas mudanças, os objectivos são os de sempre: manter uma publicação de qualidade, onde os temas abordados vão ao encontro dos interesses dos estudantes do departamento. Ou, pelo menos, essa é a meta que nos guia em cada edição. Em relação a este número, em virtude de algum tempo de ausência, ficou com um espectro temporal algo alargado: desde o longinquo Abril - mês de realização do ENEEB - ao muito recente Novembro, que data o recorde de energia resultante da colisão de partículas. Pelo meio falar-se-á da Escola de Verão da UC e teremos também a perspectiva de alguém que acaba de chegar ao nosso departamento. Há também espaço para os artigos intemporais: contamos com uma explicação sobre Antimatéria, com uma descrição sobre a estadia de duas alunas finalistas de Física no CERN Luís Antunes Aluno de Eng. Física Maria Pires Aluna de Física
que certamente será marcante para ambas, bem como com algumas colunas já habituais - a de jazz ou a review sobre cinema. Seria algo estranho que uma mudança a nível de produtores não se fizesse sentir no conteúdo do jornal. Assim sendo, é com imenso prazer que anunciamos que teremos a partir desta edição um cronista oficial, o Artur Castro, que dará conteúdo ao espaço “O CERN da questão”. Ele darnos-á, periodicamente, a sua visão crítica sobre o que achar pertinente. Por último, resta dizer que estamos receptivos a receber artigos de quem quiser colaborar connosco, bem como eventuais críticas e/ou sugestões dos nossos leitores. Desejamos que tenham tanto prazer em ler esta edição tanto quanto o que tivemos em produzi-la.
Ficha Técnica Redactores: Luís Antunes, Maria Pires, Ricardo Gafeira, Mário Gomes, Mariana Monteiro, João Carvalho, Miguel Fiolhais, Inês Ochoa, Susana Santos, André Santos, Miguel Borges, Sílvia Fraklim, José A. Paixão, Natacha Leite, Afonso Sousa, André Cortez, Rafael Jegundo e Artur Castro. Capa: Pedro Silva Paginação: Luís Antunes e Bruno Galhardo Produção: Pelouro da Divulgação do NEDF/ AAC - Luís Antunes, Maria Pires, Pedro Melo, Raquel Ferreira, Margarida Guerra Revisão: Maria Pires, Luís Antunes Propriedade: NEDF/AAC Email: anti-materia@nedf.org Tiragem: 150 examplares Sede: Rua Larga, Departamento de Física, Sala B13, 3004-516 Coimbra
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O Teu Núcleo Podes e deves passar pela nossa sala (sala B13 do departamento de Física)! Aqui tens apontaEsta é a primeira edição do antimatéria desta mentos de outros alunos à disposição, podendo direcção do NEDF! consultá-los ou mesmo tirar fotocópias. Tens também um espaço confortável para poder conQuero aproveitar para dar, mais uma vez, as viver, jogar e conhecer novas pessoas. boas vindas a todos os novos alunos do nosso departamento, desejando boa sorte para este No nosso site nedf.org podes consultar toda a ano lectivo cheio de mudanças! Para os an- informação relativa às actividades do núcleo. fitriões, deixo uma palavra de agradecimento Podes também colocar todas as tuas dúvidas e pela confiança que depositaram nesta equipa, sugestões, porque são bem vindas! É do nosso sublinhando que faremos tudo para cumprir as interesse conhecer a tua opinião de modo a sanossas propostas. bermos se estamos a fazer o mais importante:
Caros colegas!
defender e ajudar os alunos. Durante o ano lectivo que decorre iremos realizar actividades para ti. Esperamos, por isso, Contamos contigo tanto para participar como contar com a tua presença no ciclo de palestras, para colaborar na realização das nossas activinos torneios desportivos, nas actividades cult- dades! urais, no projecto de voluntariado no hospital pediátrico, entre outras. Ricardo Gafeira Aluno de Astrofísica
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Física@UC istrados, os quais tivemos oportunidade de conhecer, tendo estes últimos participado activamente na Universidade de Verão como guias na visita ao departamento. Para além disto, paralelamente com as actividades relacionadas com Física (as palestras e o desenvolvimento de um projecto numa área da Física), foram também bastante interessantes as actividades desportivas Entre os dias 19 e 24 de Julho decorreu no (BTT e canoagem) e as actividades interDepartamento de Física a segunda edição da disciplinares, as quais reforçaram a coopUniversidade de Verão de Física, na qual eu eração entre todo o grupo e levaram ainda a participei. Esta iniciativa, anteriormente real- um maior interesse e entusiasmo durante o izada apenas pelo departamento em questão, decorrer da semana... alargou-se no presente ano a toda a Universidade de Coimbra. Com isto aumentou tam- Felizmente, apesar das desvantagens da bém o número de alunos participantes, cre- organização desta iniciativa a tão larga esscendo de poucas dezenas em 2008, até mais cala, esta alteração trouxe também alguns de cento e cinquenta em 2009. Infelizmente, pontos positivos importantes de referir. De este alargamento teve como consequência facto, devido à colaboração da Universidade uma menor interacção dos participantes com de Coimbra na sua íntegra, foi possível a os membros do departamento (tanto alunos realização de actividades como o jantar na Reitoria, a visita à AAC, entre outras, cujo como professores). sucesso teria sido impossível de outro modo. No entanto, não deixou de ser uma óptima experiência a semana que passámos no mun- Por fim, termino este relato congratulando a do da Física, bem como o convívio entre os Universidade de Coimbra por esta excelente alunos participantes, os professores do de- iniciativa, e em particular todos os membros partamento e os alunos dos cursos aí min- do Departamento de Física e os nossos monitores (da AAC), sem os quais a UV não teria tido o sucesso verificado. Assim, espero que esta iniciativa se prolongue durante os próximos anos, de uma forma igual ou ainda melhor à que decorreu nesta edição. Mário Gomes Participante da UV Dezembro 2009 :: Anti-Matéria
Próxima Etapa: Coimbra!
Férias de Verão, festas e risadas com os amigos e a família, as mesmas que até então marcavam o inicio de mais um normalíssimo ano lectivo, transformam-se num ensurdecedor alarme de virar de página que, indubitavelmente, nos leva a mergulhar num novo capítulo da nossa vida. Sentimo-nos postos à prova em todos os sentidos, temos de começar sozinhos, do zero, do ponto mais baixo da fasquia. O dia da partida chega cada vez mais rápido, os dias diminuem no nosso calendário e, numa luta incontornável contra o tempo, entre malas e tralhas pessoais vamos alinhavando os últimos pormenores daquela que será a nossa nova vida. As simples saídas dão lugar a festas de despedida e os almoços e jantares de família conduzem à tristeza de imaginar um lugar vazio à mesa; sentimos necessidade de levar convosco tudo o que nos pertence, que nos completa, mas a realidade é outra, temos de aprender a viver com o essencial, numa nova casa, numa nova cidade. Coimbra. A escola dá também lugar à assustadora faculdade e o círculo de amigos que havíamos formado até então abre-se de repente, pronto a receber outros mais. Aprendemos a conviver com novas pessoas a quem nos vamos adaptando lentamente, vamos distinguindo os amigos dos colegas e a tornálos a nossa família fora de casa. São eles que nos vão acompanhar, é com eles que vamos partilhar os melhores momentos da Dezembro 2009
nossa vida. Pois, afinal de contas, o barco que partilhamos é o mesmo. Parece assustador, e na realidade é. No entanto, numa cidade como Coimbra, a cidade do “sonho e da tradição”, o viver de todos estes momentos tem um significado bastante especial, é como se a cidade se moldasse realmente a nós, as ruas são nossas, os transportes públicos enchem-se de juventude, os olhos das pessoas brilham sempre que alguém perdido pergunta “Sabe onde fica a faculdade? Não sou de cá”. Sentimos a cidade especialmente nossa e inexplicavelmente algo preenche o nosso vazio. E, quando tudo isto parece minimamente encaminhado, eis que surge o verdadeiro motivo da nossa mudança, os primeiros dias de aulas na faculdade. Majestosa e imponente, espera-nos todos os dias lá bem no alto da cidade, de costas voltadas para o rio. Não somos mais alunos do secundário e a voz interior de que somos capazes grita-nos ao ouvido todos os dias. Como qualquer caloiro, aproveitamos ao máximo os primeiros dias, considerados dias de praxe, são eles o ponto de partida para a convivência e a criação dos primeiros laços de amizade. Divertimo-nos e festejamos à nova vida, sentindo sempre o cheiro da responsabilidade que nos espera. Estar longe é difícil, “ser novo” é difícil também, mas “ser novo”, abraçando uma nova cidade e esperando novos desafios é especialmente desafiante. É um processo de crescimento sem igual. O que sentimos, o que aprendemos e o que crescemos como pessoas não tem explicação. Pomos um ponto final com tristeza na etapa que vivemos até então, mas damos início a uma nova etapa que nos promete um futuro bastante mais risonho. Mariana Monteiro Aluna de Eng. Biomédica :: Anti-Matéria
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Antimatéria Afinal o que é a antimatéria? Numa definição física, um pouco árida, a antimatéria difere da matéria nos números quânticos a ela associados, por exemplo a carga eléctrica: a um electrão negativo corresponde um positrão positivo. Hoje sabemos que o nosso Universo é constituído essencialmente por matéria, sendo a quantidade de antimatéria nele presente muito escassa apesar de, aquando do Big Bang, deverem tido sido criadas na mesma quantidade! Desde a previsão da sua existência a antimatéria tem exercido um enorme fascínio sobre a humanidade, em particular devido ao facto de que do seu encontro com a matéria resulta a aniquilação mútua, e a transformação completa da sua massa em energia (constitui a máxima eficiência possível de conversão de massa em energia). Muitas experiências demonstraram que a partir de energia podemos criar apenas pares partícula-antipartícula, não podemos criar somente matéria ou antimatéria. Como a massa é energia numa forma muito concentrada, a aniquilação de apenas 5g de antimatéria é o suficiente para gerar uma energia de 9x1015 J = 250 GWh, que corresponde à produção média anual da barragem da Aguieira! A antimatéria também é um tema muito explorado pelos escritores de ficção científica, que criaram visões de antiestrelas e de antiuniversos, e recorreram à aniquilação matéria-antimatéria como uma poderosa fonte de energia para a propulsão de naves espaciais. Talvez o exemplo mais famoso seja a nave Enterprise, da série Star Trek, que para conseguirem atingir uma velocidade superior à da luz (!) os motores são alimentados a antihidrogénio sólido, o qual é manipulado por campos magnéticos de forma a nunca tocar na matéria da nave. Mas para utilizar a antimatéria esta primeiro tem de ser produzida, e isto é muito difícil. Todos os antiprotões produzidos no laboratório CERN durante um ano, ao serem aniquilados com protões, permitiriam alimentar
uma lâmpada de 10 W durante 3 segundos. Actualmente a eficiência de produção de energia por antimatéria será algo como 0.00000001% (tendo em conta todos os consumos necessários). Até uma máquina a vapor é milhões de vezes mais eficiente. Em virtude da enorme quantidade de energia libertada, uma bomba de antimatéria seria muito mais destrutiva do que uma nuclear. Essa hipótese, considerada no projecto “Guerra das Estrelas” e no livro “Anjos e Demónios”, faz parte apenas do reino da ficção científica. História da antimatéria A Relatividade e a Mecânica Quântica foram descobertas no início do séc.XX, mas a teoria quântica inicial não era relativística. Este problema foi resolvido por Paul Dirac em 1928, cuja famosa equação descreve o comportamento do electrão. Mas dela resultam dois pares de soluções: um electrão com energia positiva e um electrão com energia negativa! Dirac interpretou a segunda solução como correspondendo a uma antipartícula do electrão, de carga positiva. Na sua lição Nobel, Dirac especulou acerca da possibilidade da existência de um novo Universo, constituído apenas por antimatéria. Em 1932 Carl Anderson estava a estudar raios cósmicos (partículas de alta energia com origem extraterrestre que produzem chuveiros de partículas quando interagem com a nossa atmosfera), com uma câmara de nevoeiro, quando observou uma partícula de carga positiva e a mesma massa que o electrão. Após um ano de esforço teve de chegar à conclusão de que eram mesmo antielectrões, produzidos juntamente com electrões, na interacção dos produtos dos raios cósmicos na câmara de nevoeiro. Foi baptizado de “positrão” e seria a primeira antipartícula a ser descoberta. Em 1930 Ernest Lawrence inventou o ciclotrão, uma máquina com capacidade de acelerar partículas a altas energias. Em
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1954 construiu o Bevatrão, em Berkley, capaz de colidir dois protões a uma energia de 6,2 GeV, para a procura de antiprotões. Estes seriam descobertos em 1955 por Emile Segré e um grupo de colaboradores. Um ano mais tarde um segundo grupo anunciou a descoberta do antineutrão. Em 1965 foi observado o antideuterão, um núcleo de antimatéria formado por um antiprotão e um antineutrão, provando que a matéria é simétrica da matéria. Em 1995 foram produzidos os primeiros antiátomos, no CERN. Para isso foi necessário construir uma máquina especial, o Low Energy Antiproton Ring, que “trava” antiprotões, de forma a se poder “juntar” um positrão e assim formar um átomo de antihidro-
utilização de antiprotões em radioterapia. Cosmologia Nos anos 1950 a quantidade de antimatéria presente na nossa galáxia foi calculada como inferior a uma parte em 100 milhões, mas se existir uma região de antimatéria no Universo, isolada da matéria, não é possível distingui-la a partir da Terra. Actualmente acredita-se que o Universo é constituído essencialmente por matéria. Para explicar a ausência de antimatéria existem duas teorias: ou a antimatéria desapareceu completamente ao longo da história do Universo, ou a matéria e a antimatéria estão completamente separadas em diferentes regiões do Universo. No
génio (que constitui verdadeira antimaté- segundo caso, vivemos numa região de ria, e não apenas simples antipartículas). matéria mas alguma antimatéria com origem numa antiregião fora da nossa galáxia Nos anos 1980, em virtude do desenvolvi- pode chegar até nós sob a forma de antinúmento de técnicas de “arrefecimento”, sur- cleos (como antihélio, anticarbono, etc.). giu o controlo da antimatéria. Actualmente existem duas linhas de investigação parale- Conclusão las: o uso de antipartículas para o estudo das componentes fundamentais da matéria (por O estudo e utilização da antimatéria é cerexemplo, em colisionadores electrão-posi- tamente uma área de investigação fascitrão ou protão-antiprotão), e a antimatéria nante, e com muito futuro à sua frente. As como objecto de estudo das suas proprie- aplicações potenciais são inúmeras e fandades (por exemplo, o estudo do antihidro- tásticas, onde o limite será apenas a nossa génio). A observação da simetria de Carga- imaginação. A tecnologia da produção e utiParidade-Tempo (CPT), até agora nunca lização da antimatéria têm evoluído muito violada, implica que, para qualquer nível rapidamente, e poderão haver boas surprede precisão, a matéria tenha exactamente as sas, com a descoberta de novos processos mesmas propriedades do que a antimatéria. para a criação de antimatéria, e até a descoberta de fontes de antimatéria no cosmos. A antimatéria pode ter aplicações práticas mais próximas. Como seja a utilização nas ciências da vida de substâncias emissoras de João Carvalho positrões no PET, Tomografia por Emissão de Positrões, que permite exames funcioProfessor do Dep. de Física nais para investigação e diagnóstico, ou a Dezembro 2009
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The Final Countdown Vá lá pessoal, não façam essa cara! Até é uma coisa boa...”. A hora prevista para a chegada do feixe era algures entres as 17h e as 20h mas nada de notável ocorreu até um pouco antes das 21h.
Rolhas de champanhe a saltar, abraços, sorrisos, êxtase, histeria e suspiros de alívio... foi assim que se celebrou a chegada do feixe na sala de controlo de ATLAS, uma das quatro experiências do LHC. 14 meses após o grave acidente que danificou seriamente o acelerador, o feixe de protões voltou a circular com sucesso no túnel de 27km do LHC ao início da noite de sexta-feira, 20 de Novembro. À medida que a sala de controlo se enchia ao longo da tarde de cientistas, engenheiros, jornalistas e curiosos, os habituais atrasos deixavam toda a gente à beira de um ataque de nervos. Ao final da tarde o runleader ainda tentava, sem grande sucesso, animar os presentes “Temos feixe em CMS!
“Precisamos de mais 20 minutos!” comunicava a spokesperson, e se alguns aproveitavam para comer um jantar rápido, outros recusavam-se a arredar pé. Os atrasos sucediam-se e alguns já não acreditavam que o feixe chegaria naquela noite ao ATLAS, a etapa final do circuito, até que algo inesperado aconteceu. O feixe avançou para além do CMS em direcção ao ATLAS enquanto alguém ia fazendo uma contagem decrescente, ou neste caso crescente: “o feixe está no ponto 6... temos feixe no ponto 7... já está no ponto 8 (último antes do ATLAS)”. Ninguém, porém, poderia antever o que viria a acontecer, o event display deixou de funcionar subitamente provocando um frenesim na sala. É como preparar uma missão espacial à Lua e a câmara de filmar avariar no derradeiro momento!
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Os olhos viraram-se então para os ecrãs dos calorímetros à espera de alguma evidência do beam splash. A excitação dava agora lugar a um silêncio angustiante até que o painel principal começou a piscar assinalando a chegada do feixe. Uma explosão de euforia tomou a sala: o esforço de milhares de pessoas que dedicaram anos de carreira à experiência era finalmente recompensado! Os dias seguintes seriam ainda mais excitantes, poucos dias depois deram-se as primeiras colisões e recentemente bateuse o recorde de energia (1,18 TeV) que pertencia a Tevatrão (0,98 TeV). Ainda há um longo caminho a percorrer até aos 7 TeV mas a maior máquina do mundo já está a funcionar e certamente pronta para nos surpreender num futuro próximo! Miguel Fiolhais Investigador no CERN Dezembro 2009
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AAnossa estadia no CERN nossa estadia no CERN Chegámos a Genebra num Sábado. Fomos logo espreitar a cidade!
Os dias no CERN passaram a correr numa nova rotina: hotel-gabinetecantina... Um círculo de 30m de raio repetido inúmeras vezes.
.... e outros passados a trabalhar....
Entre Fins-desemana a passear...
Ficámos a conhecer Genebra de dia e de noite: o lago, os jardins, alguns restaurantes e bares... Fizémos amigos de várias nacionalidades, dentro e fora do CERN.
Mas, olhando para trás, não me lembro de conhecer suíços...
Lá italianos e portugueses não faltavam!
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Susana Santos Inês Ochoa Alunas de Física Dezembro 2009
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Encontro Nacional de Estudantes Universidade de Lisboa, Universidade de Trásos-Montes e Alto Douro, Instituto Politécnico de Bragança e Instituto Politécnico de Setúbal. Os dois primeiros dias foram destinados ao desenvolvimento científico e cultural, realizandose no auditório da reitoria do Departamento de Física dois ciclos de conferências. O ciclo Foi entre os passados, bem passados, dias 16 e 19 de Abril do corrente ano civil que Coimbra abriu as portas num acto de grande hospitalidade para receber o IV Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Biomédica (IV ENEEB). Estes encontros realizam-se desde 2005, sempre com uma organização rotativa e centram-se num princípio fundamental: a reunião de estudantes com um interesse comum, a Engenharia Biomédica. Os ENEEB caracterizam-se por congregarem em quatro dias actividades didácticas e lúdicas, sendo estas distribuídas equitativamente, salvaguardando-se desta forma o desenvolvimento científico, cultural e pessoal entre todos os participantes. Este ano a organização pertenceu ao Núcleo de Estudantes do Departamento de Física da Universidade de Coimbra, o qual teve a enorme responsabilidade de não defraudar as expectativas que são anualmente geradas em torno deste evento. A organização definiu desde logo como objectivos principais: a redução do preço dos ingressos e a realização do encontro mais participado de sempre, mantendo-se contudo a qualidade que está associada ao historial destes eventos.
científico, no primeiro dia, que contou com a presença de conceituadas personalidades como: Graça Minas (UM), Pedro Granja (INEB), Miguel Castelo Branco (CNC), Rui Cortesão (ISR), que em muito contribuíram e continuam a contribuir para a evolução da Engenharia Biomédica no panorama nacional e internacional.
Já no segundo dia realizou-se um ciclo empresarial com o intuito de dar a conhecer aos participantes o que poderão fazer no seu futuro e ainda para apelar ao espírito empreendedor que cada um possui dentro de si. Neste sentido, realizaram-se conferências com Engenheiros Biomédicos recém licenciados na UC (Paulo Barbeiro (BlueWorks), Catarina Pereira (ISA)), com o Centro de Simulação Biomédica que representa uma nova evolução nesta área, com a SieDesta forma, e depois de um árduo esforço de mens, que figura como um das maiores empresas todos os membros da comissão organizadora, de dispositivos médicos no mercado, e por fim que durou uns singelos 10 meses, foram alcan- com um dos grandes empreendedores de sucesçadas todas as metas inicialmente predefinidas. so dos nossos tempos, António Câmara, presidente da YDreams. Este último foi sem sombra O IV ENEEB contou com a participação re- de dúvida o mais acarinhado por todos como se corde de 220 participantes, dos quais 70 perten- constatou pela apoteótica e monumental salva centes à Universidade de Coimbra e os restan- de palmas que recebeu no final da sua palestra. tes 150 provenientes dos quatro cantos do país - Universidade do Minho, Universidade Nova Para completar a componente didáctica realde Lisboa, Universidade Técnica de Lisboa, izaram-se ainda dois workshop, nos dias 17 e Dezembro 2009 :: Anti-Matéria
s de Engenharia Biomédica 18. O primeiro foi dedicado a expressão corporal sendo o seu palco as “Docas” de Coimbra, já o segundo foi no Centro de Simulação Biomédica onde os participantes puderam experienciar uma situação crítica em ambiente cirúrgico na qual tinham que apelar aos seus conhecimentos para tentarem resolver os problemas que iam surgindo com o manequim.
cada equipa que continha 8 elementos, tinha que angariar o máximo de pontos nestas duas vertentes. Com a vantagem de jogar em casa (conhecendo bem o relvado enlameado das “docas”) a equipa número 13 preenchida por estudantes de Coimbra ganhou a competição. Apesar de toda a competição o fair play reinou e para a última noite ficou reservada a
Contemplando agora a outra face do IV ENEEB, a componente lúdica, a qual foi uma constante e sempre recheada de bons momentos bem à maneira coimbrã. Desde logo, chegados à cidade dos estudantes, os participantes foram conduzidos através de uma pequena visita aos locais mais emblemáticos da Universidade de Coimbra. Como não poderia deixar de ser e porque também é sempre de louvar a interacção e criação de relações interpessoais entre todos, os jantares e noites temáticas não faltaram. Tudo começou na primeira noite quando houve um arraial, num local bem tradicional as “Químicas”, com porco no espeto, muita música e, claro…a diversão até mais não com as diversas universidade e politécnicos a entrarem em “cantares ao desafio” para demonstrarem qual delas tinha mais espírito académico. Mas como “nem só de febras no pão vive um homem” na sexta-feira o glamour, a classe, o charme e a mítica história da fonte dos amores de Pedro e Inês confundiram-se numa noite de gala na quinta das lágrimas. Mesmo sem dress code os participantes trataram de se adornar com toda a pompa e circunstancia para a ocasião. Depois de uma noite fabulosa como a de gala, nada mais propositado do que ir à guerra e rebolar na lama no sábado desportivo…. Lama? Sim, infelizmente e como o orçamento não dava para mais, a organização não pode pagar os “serviços de sol” a S. Pedro e este dia foi um pouco “encharcado”. Apesar da água que teimosamente ia caindo, os participantes não arredaram pé, competindo animadamente entre si. Esta competição continha duas provas: o paint-ball e de peddy paper, onde Dezembro 2009
“noite verdadeiramente coimbrã” onde os participantes, começando na baixa, tiveram oportunidade de percorrer diversos bares e tascas escolhidos pela organização, acabando esse trajecto na tão afamada Associação de Estudantes. Por fim lá chegou o momento menos desejado, a despedida… os beijos e abraços foram trocados entre todos e assim terminou o IV Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Biomédica com a simbólica foto de família. Por tudo isto os ENEEB podem ser classificados como o clímax na vida destes estudantes, onde passados quatro dias num turbilhão de experiências deixam todos os participantes enriquecidos em todos os aspectos… Para o ano há mais e a organização está a cabo do núcleo de estudantes de Engenharia Biomédica da Universidade Técnica de Lisboa, aproveitem e não percam mais uma oportunidade de conviver e trocar experiencias com outros alunos de Engenharia Biomédica do pais! André Santos Aluno Eng. Biomédica :: Anti-Matéria
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ENEEB - Parte II Saudações académicas!
Sou um estudante no 2º ano de Engenharia Biomédica e Biofísica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). No entanto, no início do ano lectivo 2008/2009, fui colocado em Engenharia Física na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra. Em segunda fase, recandidatei-me ao curso de Engenharia Biomédica na UC e na UL, uma vez que era este último o curso onde realmente desejava estar. Quis a sorte que eu fosse colocado em Lisboa e foi com o coração pesado que deixei Coimbra, apenas três semanas depois de ter chegado. O pouco tempo que estive na cidade parece-me hoje maior do que realmente foi e a minha experiência em primeira mão mostrou-me que o fascínio que tantos estudantes nutrem pela cidade não é irracional. Coimbra tem um espírito único, difícil de reproduzir, de deixar ou relatar, e tanto a cidade como as pessoas que lhe dão vida são capazes de nos marcar. Foi o meu primeiro contacto com o mítico “espírito académico” e foi, sem dúvida, inesquecível. Foi portanto com alegria que recebi a notícia que a FCUL iria participar no 4º Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Biomédica (ENEEB), organizado pelo Núcleo de Estudantes do Departamento de Física da Universidade de Coimbra. Seria uma oportunidade para regressar à cidade e mostrar aos estudantes de Engenharia Biomédica da FCUL em que é que realmente consistia tudo o que relatava de Coimbra. Olhando para trás, assumo que o mais provável seria pensarem que exagerava ao descreverlhes o que vivera em apenas três semanas na cidade dos estudantes, ou que estava
insatisfeito com a mudança para Lisboa. Não estava. Pelo menos no que toca ao exagero. O tempo que passei em Lisboa ajudou-me a ganhar perspectiva - tinha agora algo com que comparar as três semanas que passei em Coimbra. A experiência já não estava em vácuo. Lisboa é uma excelente cidade, no entanto, as suas (várias) universidades são apenas mais uma componente - mais um órgão entre tantos outros que nos apelam à curiosidade. Enquanto que Coimbra vive da e para a universidade que acolhe. Foi o que o ENEEB permitiu, a mim e aos outros estudantes da FCUL e de todo o país – tomar contacto com o ambiente que permite que classifiquemos Coimbra como cidade dos estudantes. Em Abril de 2009 voltei a Coimbra. O programa prometia uma divisão do tempo em aprendizagem, com palestras e workshops, e em diversão, com uma “noite tipicamente coimbrã” incluída. Prometeu e cumpriu. A organização do evento certificou-se que tudo funcionou como devia: palestras genuinamente interessantes e diversão, muita diversão. “É uma pena o ENEEB em Coimbra não ser um evento recorrente”. Foi com este pensamento que eu e muitos colegas deixámos a cidade. Tive oportunidade de quebrar nostalgias e os meus colegas puderam finalmente perceber porque tanto lhes falava de Coimbra no início do meu ano lectivo em Lisboa. Cada um reteve qualquer coisa do ENEEB. Mas se há algo que em comum aprendemos, foi a dizer saudade. Saudade de Coimbra.
Miguel Borges Aluno da FCUL
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Livros: O Caos e a Harmonia O Caos e a Harmonia Porque a ciência não está, nem pode, estar desgarrada da sociedade onde se insere, para nós cientistas, ou aspirantes a cientistas, é urgente repensar a função e o impacto da ciência no mundo do século XXI. Esta reflexão ultrapassa a discussão trivial de que a ciência rodeia toda a actividade humana através da maquinaria por intermédio da qual se faz representar. É essencialmente uma reflexão sobre como fazer ciência, é também trabalhar a forma de pensar e de organizar o mundo, é constatar que fazer ciência é imprimir marcas profundas na organização social, na cultura, nas relações humanas, na história da nossa civilização. É reencontrar a radicalidade da ciência, a sua génese e motivo, é redescobrir como ela se funde com a filosofia, reencontrar o cordão umbilical entre a curiosidade humana e a experimentação e a fabricação do real. Não é por acaso que os grandes cientistas andam quase sempre a par dos grandes sociólogos e filósofos, dos escritores e artistas plásticos, dos políticos e antropólogos… As criações humanas são processos globais!
terminado apenas por leis físicas rígidas aplicadas a condições iniciais particulares, mas que este é moldado por acontecimentos contingentes e históricos que abalam e toldam profundamente a realidade. Foi introduzido no mundo científico um factor que à primeira e descuidada análise parece desestabilizador da ordem e do método da ciência pois confere-lhe uma característica que nunca teve, a aleatoriedade. Esse factor, o Caos, apenas lhe confere maior elasticidade e em nada lhe retira rigor. Com a introdução do Caos por altura do nascimento da mecânica quântica, as leis físicas perderam a sua rigidez, a amplitude do efeito deixou de ser invariavelmente proporcional à intensidade da causa, o caos entrou no mundo da ciência e, consequentemente, conquistou também o seu lugar na vida quotidiana.
Trinh Xuan Thuan, um físico vietnamita actualmente professor de astronomia na Universidade da Virgínia, descreve habilmente as teorias do Caos, as repercussões que elas tiveram na concepção da ciência e as contribuições que deram na construção de um novo paradigma social. Desde os fractais, passando por temas como a inflação, a meteorologia e a evolução das espécies, Thuan leva-nos numa fascinante viagem pelo caos e faznos reencontrar as experiências de Lorenz e as reflexões de Pioncaré: ”Uma causa muito pequena, A evolução dos conceitos origina, inevitavel- que nos escapa, determina um efeito considerável mente, uma evolução nos actos concretos, nas que não conseguimos ver, e então dizemos que formas de estar, de observar e de questionar. O esse efeito é devido ao acaso. […] A previsão torheliocentrismo, o evolucionismo e a teoria da rel- na-se impossível.” atividade são disso excelentes exemplos. Assistese hoje a mais um renovar da forma de pensar a Porque o Caos não se limita ao bater de asas de ciência, como tantas vezes aconteceu no passado. uma borboleta que causa um tornado do outro lado Se ao longo do século XVIII no florescer da ciên- do globo, porque Caos nem sempre é sinónimo de cia enquanto tal, ultrapassando os domínios do ausência ordem e quebras de simetria, porque o misticismo, do oculto e da magia, começou o es- Caos pode ser padronizado (vejamos o caso do partilhamento da natureza acompanhando a visão movimento Browniano), porque sem caos não há newtoniana de um universo fragmentado, meca- harmonia, aqui fica a sugestão - um dos meus livnicista e determinista, hoje sente-se a necessidade ros preferidos - um livro que aconselho a todos os de voltar ao global, de voltar a colocar no todo seres pensantes deste mundo, para que não nos esaquilo que dele foi retirado e dividido em infinitas queçamos que fazer ciência está muito para além partes. das paredes dos nossos laboratórios… Surge no nosso contexto actual a urgência de uma observação com base em factores que eram até agora ignorados na abordagem científica porque temos hoje consciência de que o real não é de-
Sílvia Franklim Aluna de Física
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Jazz: Ano Mirabilis Celebra-se em 2009 a passagem de 50 anos sobre aquele que é, talvez, o ano mais produtivo da história do Jazz - 1959 -, verdadeiro “ano mirabilis” onde vieram a lume trabalhos que marcariam o rumo do Jazz na segunda metade do século XX. Podemos até estabelecer um paralelo na história da Física com o ano de 1905, em que Albert Einstein publicou os seus trabalhos seminais, e cujo centenário foi amplamente celebrado por todo o mundo em 2005 como “Ano Mundial da Física”. Exemplifiquemos com algumas das obras mais importantes desse ano. Kind of Blue, do primeiro quinteto de Miles Davis é consensualmente um dos melhores – se não o melhor – disco de jazz de todos os tempos. Num estilo modal, o disco que se inicia com o inolvidável “So what” foi inovador e inspirador para sucessivas gerações de músicos, não só da música improvisada mas também de outros estilos musicais. Este LP é hoje quádrupla platina e o disco de Jazz mais vendido de todos os tempos. The shape of Jazz to come, de Ornette Coleman, justificou plenamente o título, abrindo as portas a um novo estilo na música improvisada em que as harmonias clássicas são abandonadas em favor de uma forma mais livre, conhecida, precisamente, por free jazz. Sem instrumentos harmónicos como o piano, Ornette fazia-se acompanhar apenas pelo trompete de Don Cherry, o contrabaixo de Charlie Haden, e a bateria de Billy Higgens. Arbert Ayler, Archie Shepp ou o contemporâneo John Zorn, vieram beber deste novo estilo que surpreendeu, em 1959, o mundo do Jazz. Giant steps, de John Coltrane, é outro marco importante na história do Jazz e na forma de tocar saxofone. As estruturas harmónicas complexas de composições como “Giant steps” e “Countdown” e o ritmo frenético com que eram executadas pelo “mestre” apontavam já o novo rumo de Coltrane na direcção de uma estética free, característica dos seus últimos trabalhos. Time out, do quarteto de Dave Brubeck, foi um estrondoso sucesso comercial vindo da West Coast – Brubeck foi capa da Time com este disco – devido em grande medida aos inusitados tempos das composições, como o compasso 5/4 do tema “Take Five,” e aos solos arrebatadores do saxofonista alto Paul Desmond. Portrait in Jazz, do trio do pianista Bill Evans, que contava com o malogrado contrabaixista Scott LaFaro (viria a falecer aos 25 anos de idade, em 1961, num acidente de automóvel) e o baterista Paul Motion, apontou para um renovado rumo do trio clássico de piano, contrabaixo e bateria. A empatia do trio de Bill Evans é fantástica e a o seu legado influenciou decisivamente grupos como os trios de Keith Jarrett, Brad Meldhau e Esbjörn Svensson. Boa escuta! José António Paixão Professor do Dep. Física Dezembro 2009
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Séries: A Outra Realidade Podemos nunca ter feito origami ou provado sushi, mas certamente nos lembramos de clássicos como Dragon Ball ou Heidi. Actualmente, este mercado encontra-se em crise relativamente à explosão de há alguns anos, visível nas apenas 288 estreias nos canais televisivos japoneses em 2009. Um ano compreende quatro temporadas de anime, estreando novas séries (de 12/13 episódios com vinte e poucos minutos de duração) no início de cada uma ou dando-se seguimento Este tipo de animação nasceu há mais de a produções populares, como a continuação meio século com a produção de pequenos de Inuyasha ou Kiddy Grade, deixadas para filmes por admiradores dos primeiros trab- a última temporada deste ano. alhos da Disney. Grande parte dos animes mais célebres são Cresceu até se tornar uma indústria forte, adaptações de manga – banda desenhada com conceituados estúdios de animação e japonesa, caracterizada por formas anguloconstituir um dos principais veículos de di- sas e personagens de olhos grandes e brilhantes. Foi graças ao manga que o anime vulgação da cultura japonesa. tomou esse estilo de desenho tão próprio. Também é habitual um anime ser inspirado em jogos, como Devil May Cry, ou em livros, como Gankutsuou, baseado no Conde de Monte Cristo. Anime é o nome dado à animação japonesa, no Ocidente. Enquanto, semana após semana, muitas atenções se prendem aos lançamentos de episódios de séries televisivas, outras tantas aguardam os próximos episódios de anime a sair. De tão fácil acesso como qualquer série, o anime deve também a sua actual popularidade à enorme quantidade de géneros disponíveis, abrangendo todos os gostos e faixas etárias.
Tal como em séries não animadas, os animes contam com produções complexas e equipas de trabalho alargadas, o que lhes confere uma grande vantagem: a liberdade que os criadores têm para explorar a sua imaginação, já que a materializam facilmente por usarem como recurso principal o desenho, compondo os cenários mais exóticos e as situações mais improváveis. É isso que torna as obras de anime uma opção de entretenimento tão rica e atraente, considerada por muitos uma arte.
Natacha Leite Aluna de Física
Dezembro 2009 :: Anti-Matéria
Cinema L’armée du crime Realizou-se no TAGV, de 4 a 10 de Novembro do corrente ano, a 10º festa do cinema francês com, no mínimo, duas sessões diárias. No dia 6 de Novembro a sessão principal foi ocupada pelo filme “L’armée du crime”, a meu ver o melhor filme de toda a festa. “L’armée du crime” é um drama histórico escrito por Serge Le Péron e Gilles Taurand, realizado por Robert Guédiguian e com actores como Virgine Ledoyen, Simon Abkarian, Robinson Stévenin e muitos outros. Passado na Paris ocupada pelos nazis, este filme conta-nos a história não dos soldados que a ocuparam, nem dos soldados que a defenderam, mas das pessoas do povo que se uniram para defender as suas famílias, as suas casas e os seus ideais. O poeta arménio Missak Manouchian, interpretado por Simon Abkarian é nomeado chefe de um pequeno grupo de comunistas e, apesar da sua relutância em enveredar pela violência na sua luta, vê-se obrigado a conspirar e a tirar a vida de outros
seres humanos. O seu grupo é constituído por pessoas de várias nacionalidades, desde polacos a espanhóis, e os seus actos começam a provocar tanto impacto que os nazis e os polícias franceses que se uniram a estes começaram a usar todos os seus meios e tácticas para os apanhar, enquanto os membros do grupo fazem de tudo para sobreviverem e manterem as suas famílias longe dos problemas. Aconselho a todos que gostarem de cinema francês, ou de filmes da II Guerra Mundial, a ver este filme, até porque o sonho de uma das personagens é ser físico.. E para quem não teve oportunidade de ir a esta festa do cinema fica a nota de que todos os anos se organiza uma, não percam a próxima!
Afonso Sousa Aluno de Eng. Física
DVD Review
Che – O Argentino, Che – Guerilha
Na secção de DvDs chega até nós uma das melhores biografias de Ernesto Guevara feitas até ao momento. Realizada por Steven Soderbergh, é uma autêntica obra prima que relata a epopeia de um dos maiores revolucionários de sempre. Pensador e líder, Che, é-nos apresentado de uma forma muito próxima da sua personalidade e ideologia que nos permite uma visão ampla do contexto da sua vida e obra. O relato aparece-nos num filme dividido em duas partes Dezembro 2009
e que arrecadou imensos prémios, entre eles a Palma de Ouro do Festival de Cinema Internacional de Cannes para a melhor interpretação masculina, ao cargo do já conceituado Benicio Del Toro – com efeito, tem uma das suas melhores interpretações de sempre no papel de Che neste filme. Um filme intrigante, arrebatador e provocador. Esta edição peca apenas pela ausência de alguns extras que dariam outra dimensão ao conjunto, verificando que, de facto, é uma edição algo simples - muito longe da dimensão quer das actuações de Benício Del Toro, quer da realização de Steven Soderbergh. Ainda assim um pack de filmes obrigatório a ter nas vossas videotecas. André Cortez Aluno de Eng. Física :: Anti-Matéria
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Cultura entre paredes… Será cultura emparedada? Ao transpor as portas do edifício da Associação Académica de Coimbra, a cidade do Mondego habituou-se a encontrar ao longo dos seus corredores uma atmosfera de sons e de cores vinda de vozes que repetem escalas em tom maior ou menor, de falas de teatro repetidas até à exaustão, de guitarras que soltam acordes por vezes dissonantes, de sapatos que acompanham o movimento de pés que dançam, de filmes que se projectam nas paredes e gravam na memória as bobines e as fitas magnéticas, de placas de madeira e panos pretos que passam velozmente por entre portas e corredores apertados, máscaras em rostos, luzes que projectam sombras nas paredes maiores que os objectos que as formam, ampliando o seu efeito e o seu significado… Em cada sala pessoas diferentes, gestos diferentes. Em cada sala uma fábrica de sonhos, uma linha de montagem de desejos e vontades, medos e receios que serão oferecidos a quem quiser ver o resultado final num desses palcos que também existem por lá, pequenos e acolhedores, chamados teatros de algibeira. É a isto que o ritmo daquele edifício nos habituou, a uma cultura entre paredes, com as paredes. Hoje, quando transpomos a mesma porta, hoje totalmente de vidro como que criando a ilusão de uma transparência, como se de fora víssemos tudo o que lá dentro se passa, ouviremos os mesmos sons, veremos as mesmas cores, sentiremos a mesma atmosfera? A esta pergunta só responde quem por lá passa e olha com olhos de espectador e, por isso, a ela não sei responder… Para quem está na fábrica de sonhos, para quem nela trabalha, tentar responder a esta questão, pensando sempre de um ponto de vista diferente, não é uma tarefa fácil, a resposta não é imediata só porque é complexa, não porque não saibamos o que dizer. O que diremos é que nos puseram pauzinhos na engrenagem, que nos desaceleraram a linha de montagem, que nos baixaram o volume dos sons e nos esbateram as cores… O lirismo destas palavras é apenas isso mesmo, lirismo. O que se passa, dentro daquelas paredes, de romântico nada tem, de eufemístico já perdeu o carácter. A função que têm aquelas
paredes hoje é a mais triste das funções que se podem atribuir a uma parede, a função pura e simples de emparedar. Os Organismos Autónomos e Secções Culturais da AAC, instituições produtoras de cultura de e para a associação académica de Coimbra foram empurrados para dentro das suas paredes para se protegeram da avassaladora batida da discoteca que se instalou no piso térreo, e que ganhou uma irmã gémea nos jardins do edifício (hoje mais quintal das traseiras que um jardim) para conseguirem manter a fábrica a funcionar. O constante corropio de pessoas que percorre os corredores do edifício não aflui àquele local para conhecer o trabalho que lá se faz, nem para ver espectáculos. Aflui para a diversão, o que não seria necessariamente mau, se não interferisse grandemente com a produção cultural e não a condicionasse cada vez mais. As vozes calam-se cada vez mais cedo, as luzes estão acesas durante cada vez menos tempo – os ensaios acabam prematuramente… Vai vencendo o lucro desenfreado sobre a fábrica que labora com cada vez mais dificuldade e os espaços que outrora foram de cultura vão sendo substituídos, devagarinho, quase sem se dar por isso, por espaços de diversão de massas, como vulgares discotecas. E lá vamos entrando, acotovelando-nos com os transeuntes que não sabem quem somos, mostrando um cartão à entrada como se devêssemos pedir autorização para entrar num espaço que aparenta, ao primeiro vislumbre, não ser o nosso, pedindo licença para passar com cenários entre a multidão que não imagina para que serve tudo aquilo, que faremos com tudo aquilo que carregamos. Aquelas paredes não são para emparedar, são somente para criar a diversidade e só continuarão assim se continuar a haver quem olhe para elas e nelas ainda consiga ver as cores e ouvir os sons de que são feitos os sonhos naquela fábrica que é de todos nós.
Sílvia Franklim Aluna de Física
Dezembro 2009 :: Anti-Matéria
Times are changing... Times are changing, já dizia o Bob Dylan em 1963, mas o present continuous usado na sua mitica expressão perpetuou a sua veracidade. Desde o inicio da década de 90 até então, com a proliferação da auto-estrada da informação, aka internet, eles mudam cada vez mais depressa. O último efeito desta evolução avassaladora a atingir a nossa comunidade é o velho facebook. Velho, porque nasceu no ano da graça de 2004, e na World Wide Web isso já é história. Nos últimos tempos tem mudado seriamente os hábitos de vida das pessoas que lhe dedicam o seu tempo. Exemplo disso são as miticas FarmVilles. Estou seguro que nunca houve tanta gente dedicada à agricultura no nosso país... Mudou também o padrão de interacção social entre as pessoas. Para pior, dirá o velho do restelo, para melhor, dirá o sonhador early-adopter. Contudo, e como a energia atómica, o facebook é uma ferramenta entregue às mãos do homem: e este fará dele o que bem entender. Seja isto usar o facebook para aproximar pessoas, reencontrar amigos e marcar eventos sociais ou então vibrar avidamente com as vacas na quinta do FarmVille, ou os conselhos da bidente.
O Facebook é, contudo, muito mais que isso. Foi a primeira rede social (segunda, se acharem que o twitter é uma) onde o Dezembro 2009
seu âmbito extravasou a interacção social e pessoal, para uma comunidade onde também as entidades institucionais publicitam os seus serviços. Existem óptimos exemplos da capacidade do Facebook criar laços entre o cliente e o fornecedor, colocando-os mais perto do que nunca.
Isto tudo graças Mark Zuckerberg, um estudante de Harvard, que ao bom estilo da idilica startup americana resolveu a sua necessidade de potenciar a rede de amigos ficando milionário no processo. Hoje, o facebook não só é bem sucedido internacionalmente, tendo milhões de utilizadores, mas é também um local onde todos querem trabalhar. Isto sobretudo pela sua extraordinária e meritocrática cultura startup. Como qualquer startup de Silicon Valley, é tudo baseado em talento, criatividade e risco. Os colaboradores são incentivados regularmente e através de iniciativas da empresa como hackatons, a reinventar e procurar novas formas de ligar o mundo. Para além disso, e para terem certeza que têm os melhores e mais talentosos, todos os colaboradores são avaliados regularmente de 1 a 5, e quem tem menos de 2 é convidado a sair. Mais dificil que ser contratado para a Facebook é ficar por lá.
Rafael Jegundo Aluno de Eng. Física :: Anti-Matéria
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O CERN da questão O Bom e o Mau Exemplo O engenheiro Sócrates diz que é necessário investir. A doutora Manuela diz que os riscos são muitos. O engenheiro diz que o maior risco está em adiar o investimento. A doutora diz que não podemos investir desmesuradamente endividando o futuro. Pois eu proponho a estas duas almas torturadas politicamente um ponto médio que tanto jeito nos dava (e a eles que nesta legislatura terão de saber combinar-se para que algo seja feito) – invistam na educação! É um investimento, tal como o engenheiro tanto demonstra pretender e não dá lugar a riscos como os que tanto teme a doutora, assim o provam os países mais ricos e civilizados do mundo, não por coincidência os mais letrados. O engenheiro e PrimeiroMinistro apregoa aeroportos, comboios de alta velocidade, pontes e auto-estradas, para acelerar os caminhos da economia nacional. Soube portanto atrair os geralmente atraídos pela direita e manter a lógica de esquerda do investimento público perante os que lhe podiam fugir. Por outro lado, a doutora, que rege um partido de direita, não esquece que vive num país que oscilando politicamente não abdica de certos princípios socialistas, por isso nunca a ouvimos dizer que preferia acabar com o ensino público ou adoptar aqueles estranhos modelos em que o bom ensino é o privado e o público é de recorrência aos miseráveis. Mas a doutora não precisa de se arriscar ao dizer estas coisas, pois o nosso governo socialista, tão dado ao investimento público, vai lentamente (ou não) deteriorando o nosso ensino superior como se lhe quisesse fugir pela calada. É que a diferença entre o ensino público e o privado está no pagamento, mas neste país ambos se pagam. A diferença entre o público e o privado no nosso país até aos dias de hoje estava na qualidade, mas o público vê-se desprezado pelo seu patrono estatal e, portanto, lutando para manter a sua devida qualidade, entrega-se ao financiamento privado - estranha lógica de direita quando afinal de contas me parece que o país por al-
guma razão elegeu um partido da esquerda. Partido socialista esse que deveria, segundo os seus próprios princípios, assegurar não só a igualdade de oportunidades através da gratuidade do ensino como salvaguardar todo o vasto leque do mesmo, pois a mim me parece que se o estado o abandonar não falta indústria para financiar as ciências e engenharias, nem falta medicina privada para financiar o ensino desta (digo privada porque seria estranho que a medicina pública financiada pelo estado fosse pagar na vez do estado o ensino da Medicina); a faculdade de direito seria milionária, pagos os seus livros e suas poltronas pelas firmas interessadas, mas e a história e as línguas, por exemplo? Que clube de poetas mortos financiaria estes campos do ensino para não serem esquecidos? Mas não faltam liberais muito pragmáticos para nos dizerem que se o ensino destes temas não pode ser directamente rentabilizado, tornando-se somente o dispêndio de alguém, então deve ser abandonado. Mas felizmente não somos governados por liberais, mas sim por um glorioso partido socialista que, enfim, parece não lembrar dos seus cânones ideológicos. Mas que promete investir, investir e mais investir, em coisas de tão elevado risco que a doutora
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Manuela não consegue dormir à noite, ao invés de investir tão simplesmente na educação, na igualdade de oportunidades, na acção social que a permite, na própria sustentação da economia que pode passar pelas pontes e auto-estradas e passear-se em comboios velozes e apanhar aviões, mas que só pode ser conduzida da melhor forma por pessoas bem formadas, e muitas.
sim da melhor forma culminou o seu mandato. Assim podemos ter orgulho nesta Coimbra universitária mais do que quando gabamos as suas festas, belezas e tradições, que muito louvam o passado e sua história e pouco fazem pelo futuro (e já agora, por coerência, pelo ensino da História). Assim soubemos ser mais unidos que o parlamento e soubemos investir mais rápido que o Sócrates.
Chegamos então ao bom exemplo dos estudantes de Coimbra – a associação cumpriu com o que prometeu (coisa que parece difícil a nível nacional, talvez seja mais ainda a nível associativo), e mais do que forrar a cidade de fantasmas revolucionários de papelão que pouco servem ao presente, mobilizou para dia 17 uma das mais vistosas manifestações do ensino superior dos últimos tempos. Quatro mil alunos de todo o país foram até Lisboa demonstrar o seu descontentamento para com o governo e tudo partiu de uma proposta da nossa conhecida Sílvia Franklim para uma manifestação local, conjugada com a espectacular aceitação e melhor reformulação da proposta para algo de nível nacional por parte da presidência da Assembela Magna, que as-
Mas Novembro não acabaria sem o mau exemplo das eleições de 25 e 26 para a presidência da AAC/DG. Não estou a falar dos resultados ou dos vencedores, se é o que pensam, nem da salganhada ao longo da noite da contagem nas cantinas dos grelhados, mas sim da participação dos estudantes. Costumo dizer que nós, estudantes universitários, planeadores e orientadores do futuro, deveríamos dar melhor exemplo do que esse que damos através das nossas praxes, boémias excessivas, diletantismos vergonhosos que esbanjam dinheiro a pais e contribuintes; contudo, desta vez, o mau exemplo traduz-se não por análises sociológicas baratas, mas numericamente. Há sindicatos de pessoas com metade ou mesmo um terço da nossa escolaridade cujas eleições são bem mais participadas, o país é como sabemos pouco escolarizado e ainda assim a abstenção não chega aos cinquenta por cento. E nós, educados a usufruir da informação, conhecedores das mais-valias históricas da democracia, detentores do mais científico conhecimento político e com muito tempo para o discutir no café, nós, futuros políticos, juízes, gestores e professores do país, abdicamos do nosso direito e dever de voto, dando o triste, desculpem, o mau exemplo de uma fantástica abstenção de 70% a 80% num momento crítico em que a melhor escolha para liderar a voz estudantil é tão fulcral.
Artur Castro Aluno em Sabática Dezembro 2009
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Curiosidades O Centro Ciência Viva funciona no Departamento de Física da Universidade de Coimbra (UC) com característica de centro de recursos para o ensino e aprendizagem das ciências e difusão da cultura científica. O CCVRC apresenta na sua base de dados sete mil livros, trinta revistas de ciência e divulgação científica, duzentos filmes em formato digital sobre temas científicos (que poderão ser vistos no espaço do CCVRC ou emprestados aos utentes) e quinhentos CD’s de software.
É ainda possível requisitar livros à distância através de www.nautilus.fis.uc.pt/rc/.Este Centro possibilita a visita de escola decorrendo nestas uma palestra de um docente da Universidade de Coimbra sobre um tema a combinar.
Neste espaço pode-se… • Estudar; • Ler e requisitar livros de divulgação científica; • Visualizar e requisitar filmes de divulgação científica; • Ler revistas de divulgação científica; • Explorar software didáctico; • Usar os jogos didácticos disponíveis.
Partículas e subpartículas Descobre as 12 partículas ou subpartículas escondidas na sopa de letras.
Electrão; Taquião; Gluão; Muão; Fotão; Tao; Neutrino; Bosão; Pião; Fermião; Quark; Neutrão
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