o p o c s ó Hor a
Saib
seu ge o
te á pro
orix qual
sígno
es
o Rodrigu
ri Foto: Má
Quem são elas ? MC Soffia e outras mulheres que são o reflexo da luta e da independência feminina
Edição 001 | novembro 2016
Coloris mo A discr da cor iminação a pa da pele rtir . como c Aprenda ombate r
a s r e Convfranca
a o coma, a p a p Bate a da Raç ara itor ta p ex-ed eira revis o Brasil prim negros d
TURBANT ES Apre seu pró nda a fazer o com a prio turban t blogue ira Carl e Domini a que
Rap e z i S s u l P
que po de rapabús u r g o a ç Conhe á quebrando t est
N
Editorial
esta primeira edição procuramos desvendar os motivos da dupla opressão vivida pela mulher negra. Ser mulher e negra em uma sociedade atualmente machista e racista é algo que deve ser questionado. A falta de representatividade, o limitado acesso à educação e as precárias condições de trabalho são somente alguns itens dentre outros mil que compõem a longa lista da interminável luta da mulher negra. Não somente a negra porque toda mulher sofre alguma opressão. A mulher branca, a indígena, a albina, a oriental, a sua vizinha, a moça que foi simpática com você na padaria... A luta não é de uma só. Somos uma por todas e todas por uma. É assim que a sociedade precisa nos ver, unidas. Unidas pela igualdade social e racial, pela representatividade, pela independência, pela liberdade, pela vida. Precisamos viver. Vida esta que precisamos mudar para dar as nossas filhas novas chances de lutar pelos seus sonhos, por mais igualdade, por mais espaços destinado às mulheres e, acima de tudo, precisamos acreditar em nossa capacidade e sempre exigir mais. Não é fácil ser mulher. Não é fácil ser mulher negra. E somente com a união de todas nós é que será possível aumentar o nível de igualdade. Precisamos reconhecer que esse desnível existe e ele precisa o quanto antes ser banido. É por essa e outras tantas razões que esta edição foi produzida. Para que você, cara leitora, possa encontrar visibilidade, autoconfiança e determinação. Sonhe sempre e nunca deixe de lutar. Divirta-se! Letícia Tibério
Expediente Diretores e idealizadores Elias Brown Letícia Tibério
Orientadora Tânia Trajano
Colaboraram nesta edição Yago Saraiva Roni Delfino
Diagramação Elias Brown Letícia Tibério
A revista eteenia foi produzida como Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo (UNIP) Impressa na 3A Gráfica Rua José da Rocha Vita, 433 - Anália Franco. CEP: 03373-015, São Paulo - SP.
Idealizadores Letícia Tibério
Elias Brown
Sumário À flor da pele
saiba a diferença entre 4 Colorismo: discriminação por raça e cor feminino: como se empoderar 8 Poder (Extra: História de grandes mulheres)
Bate-papo
franca com a ex-editora 14 Conversa da primeira revista afro do Brasil de quem? Existe atividade 18 Esporte específica pra menino ou menina?
Tombei
mulheres de idades bem 22 Três diferentes, mas com algo em comum são as meninas que estão 30 Quem quebrando paradigmas no rap?
Alerta!
torna o mundo mais 32 Ojustofeminismo para as mulheres. Confira!
Vitrine
passo a passo a fazer e a 38 Aprenda amarrar turbantes os produtos de beleza 44 Conheça especiais para a pele negra
Canal 3
seleção com três seriados que 52 Uma abordam questões raciais.
Canto da cultura
literárias e 58 Recomendações cinematográficas intelectuais que fizeram 64 Negros história no Brasil e no mundo
Horóscopo
orixá protege o seu signo? 70 Qual Descubra aqui!
Colorismo
À flor da pele
Você sabe o que é? Por Letícia Tibério
V
ocê provavelmente deve estar relacionando colorismo com um livro infantil de colorir, ou algo ligado à arte, talvez? Mas não, a pigmentrocracia ou colorismo, como é popularmente conhecido, vai muito além disso. O termo colorismo foi criado pela escritora e ativista negra Alice Walker para se referir a discriminação pela cor da pele. Ao contrário do racismo, o colorismo se concentra somente na cor da pele da pessoa, ou seja, ainda que essa pessoa seja negra ou afrodescendente, a pigmentação da sua pele será um aspecto fundamental para o tipo de tratamento que a sociedade dará a ela. Eduardo Januário, pes6
revista eteenia | novembro 2016
quisador do Laboratório de Economia Política e História Econômica do Departamento de História da Universidade de São Paulo (LEPHE-USP),
na área de Finanças Públicas, Políticas Públicas e Relações Étnico-Raciais, define como o
“racismo com preconceito de cor. É um termo que tem um caráter histórico baseado no projeto de branqueamento no Brasil que se inicia em meados do século XIX”. Os atributos natos do negro, como o cabelo crespo, nariz arredondado ou largo, entre outros aspectos físicos, são fatores que implicam no convívio social das pessoas, principalmente as mulheres e em sua maioria, as adolescentes. Tânia Soares, professora doutora em História Social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), acredita que isso pode influenciar no modo como as meninas se veem no espelho desde cedo. “Na formação das identidades, crianças, adolescentes e jovens com o
Fotos: Internet/Divulgação
tom de pele mais claro, não se reconhecem como negros, pela ilusão aparente de serem mais aceitas no universo dos brancos”. Mesmo que a pessoa negra de pele escura ainda sofra com o preconceito, a mulher negra com pele mais clara – mas com características semelhantes à negra de pele escura – se vê obrigada a se enquadrar em um padrão de beleza socialmente imposto. “A hierarquia de cor, ou o colorismo, favorece as negras de pele mais clara, tornando-se um problema maior para as mulheres negras da pele mais escura”, afirma Januário. O colorismo também traz conflitos dentro da comunidade afrodescendente. O negro de pele mais clara usufrui de privilégios sociais mais próximos ao padrão de vida das pessoas brancas quando comparado ao negro de pele mais escura, causando injus-
tiça. Mas essa relação de branquitude e pessoa negra de pele clara não param por aí. O importante dessa questão não é convencer que a pessoa seja na verdade branca, mas
a pessoa ignorar suas características que evidenciam suas raízes. Está aí um fato importante do colorismo: a pessoa negra é tolerada, mas não é aceita, porque, para os brancos, aceitá-la seria de alguma forma reconhecer que
existe de fato uma diferença, e essa diferença teria que ser vencida. Dentre muitos outros termos conhecidos hoje em dia, o colorismo se tornou mais uma lição de casa que a sociedade deve resolver. A professora de história, Heloisa Ribeiro, sugere que “os espaços educacionais devem promover ações que valorizem e enalteçam a identidade das culturas africanas nas escolas, como forma de fortalecer a autoestima dos jovens para que se reconheçam nessas culturas e tenham um sentimento de orgulho por suas origens”. A educação tem a grande função de promover a diversidade, pois tem grande impacto no convívio das pessoas e influência diretamente no tratamento e nos privilégios sociais de cada indivíduo na sociedade. É algo que você, leitora, deve conhecer e buscar um mundo sem definição de cores.
“As escolas devem promover ações que fortaleçam a autoestima dos jovens para que se orgulhem de suas origens” revista eteenia | novembro 2016
7
8
revista eteenia | novembro 2016
As feministas. Créditos: Internet/Divulgação
O poder
feminino A luta das mulheres por uma sociedade mais igualitária
Por Elias Brown
E
mpoderamento é basicamente a união de pessoas para que juntas consigam lutar por algo de interesse comum a todos do grupo. Imagine que na sua escola uma garota gosta de jogar futebol, mas é impedida por um grupo de meninos que se consideram “os donos da bola”. Essa
menina dificilmente vai conseguir brigar pelo direito de participar do time, sozinha, porém se outras se unirem a ela, além de ter uma força de expressão muito maior, podem montar o próprio time e não ser dependentes dos garotos para mais nada. Isso certamente seria muito mais interessante. revista eteenia | novembro 2016
9
Simone de Beauvoir Nome completo: Simone L. de Beauvoir Nascimento: 9 de janeiro de 1908 Local: Paris, Ilha de França Morte: 14 de abril de 1986 Ocupação: Filósofa, escritora e feminista Resumo: Simone foi uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento da teoria existencialista feminista. Suas obras são fundamentais para quem deseja se aprofundar nas teorias feministas.
A
s conquistas femininas continuam acontecendo e muitas mulheres vêm conquistando espaços antes inimagináveis. Um exemplo delas é Sarah Brito, 33 anos, gestora cultural, fundadora da empresa Puro Movimento que trabalha com mentoria de projetos socioculturais. Fundadora do partidA, um movimento de ocupação politico-feminista, Sarah conheceu o feminismo dentro da própria casa. De família matriarcal, aprendeu desde cedo com a mãe a ser independente e fazer tudo que tivesse vontade, sem aquele papo de “isso não é coisa de mulher”. Seguindo os conselhos de sua heroína, Sarah trilhou um caminho fabuloso, desenvolvendo projetos de empoderamento afro brasileiros, culturas africanas entre 10
revista eteenia | novembro 2016
outros. Ao se deparar em um relacionamento abusivo, percebeu que a única forma de solucionar o problema era se apegar com todas as forças no empoderamento feminista. – Vivi um relacionamento abusivo como muitas mulheres infelizmente vivem e reparei que nos meus trabalhos e engajamentos sociais, lutava contra algo que eu estava vivendo dentro de minha própria casa. Foi ao me libertar deste relacionamento que eu percebi a importância do feminismo na minha vida e a importância da mulher nos espaços sociais. Para aprender sobre feminismo, de acordo com
Frida Kahlo Nome completo: Magdalena Carmen Frida Kahlo Nascimento: 6 de julho de 1907 Local: Coyoacán, Distrito Federal do México Morte: 13 de julho de 1954 Ocupação: Pintora Resumo: Se destacou durante o século XX ao valorizar em suas obras a cultura asteca, opondo-se ao sistema imperialista europeu.
a feminista, a melhor fonte é a internet. Existem muitos blogs, sites e portais que possuem um vasto conteúdo sobre o tema. Uma forma mais específica de aprendizado de acordo com a gestora é conhecer as principais filósofas deste ramo. – Eu poderia citar vários nomes, mas existem duas mulheres que eu considero fundamentais para o estudo do feminismo, uma delas é Simone de Beauvoir e Angela Davis. Angela principalmente, pois
trata do assunto de forma mais ampla, ela explica que lutar contra o patriarcado é lutar contra todo um sistema econômico e político. Ao estudar sobre feminismo, automaticamente as garotas acabam conhecendo umas as outras, justamente por terem este assunto em comum e isso é muitíssimo importante, pois juntas podem combater o machismo dentro da escola, através do conhecimento e depois, da luta, explica. – Outra forma além dos estudos, para combater o machismo dentro das escolas e cursinhos, é estudar sobre mulheres que foram esquecidas. Dentro das escolas, aprendemos muito pouco sobre mulheres cientistas, filosofas e historiadoras, enfim, todas as mulheres que contribuíram revista eteenia | novembro 2016
11
Coco Chanel Nome completo: Gabrielle Bonheur Chanel Nascimento: 19 de agosto de 1983 Local: Saumur, Pays de la Loire Morte: 10 de janeiro de 1971 Ocupação: Estilista Resumo: Revolucionou o mundo da moda ao incorporar peças de roupas masculinas ao estilo feminino autêntico que criara, como por exemplo o uso de calças.
para a evolução da humanidade, mas que até hoje são pouco lembradas. Acho que esta é uma ótima forma. Nas aulas de química, procurem sobre alguma mulher química que ganhou bastante destaque, nas aulas de história, pesquise sobre historiadoras, e assim você vai se contraponto aos ensinamentos machistas e patriarcais das escolas. Ao ser indagada sobre o que é ser empoderada, ela explica que o assunto é muito delicado e significa muita coisa, para muita gente. – Para mim, particularmente falando, existem dois pontos. O primeiro é ser empoderada enquanto ser humano, ser dona do meu próprio corpo, estar feliz comigo mesma, me sentir hábil e capaz
12
revista eteenia | novembro 2016
para fazer o que eu quiser ou usar o que eu quiser, me comportar como eu quiser. O outro ponto é o empoderamento econômico, eu luto muito por isso. Quantas mulheres estão presas às dependências econômicas do marido e tendo de aguentar coisas horríveis por não terem condições de se sustentar. O empoderadamento na vida das mulheres, principalmente negras (que além de lutar contra o machismo, lutam contra o preconceito racial) é tão importante que a gestora deixa dicas de como se empoderar e como aprender a se aceitar, do jeitinho que você é. – Particularmente acre-
“Não importa o lugar de onde você vem. O que importa é quem você é! E quem você é? Você sabe?” - Coco Chanel dito que as garotas devem se aceitar da forma que quiserem, do jeito que se sentem a vontade. Saiba que você é linda do jeito que veio ao mundo, teu cabelo é lindo independente de qualquer coisa ele é perfeito, você é perfeita. Para conhecer o movimento PpartidA, acesse: Facebook.com/sigapartida. A estudante Larissa Ferreira, de 19 anos, também nos contou em uma breve entrevista, como conheceu o feminismo e como a união das mulheres ajudou-a em sua aceitação. - Conheci o feminismo pela internet, no cursinho, e também através de amigos da universidade. Feminismo para mim é liberda-
de, depois que descobri que não preciso mais me moldar ao que a sociedade espera, eu evolui. Me sinto livre, estou melhor psicologicamente e espiritualmente. Sobre as mudanças que aconteceram em sua vida após ter conhecido o feminismo, Larissa completa: - Hoje faço o que quero, uso a roupa que eu quero, namoro somente se eu tiver vontade, faço minhas próprias escolhas sem ligar para padrões ou qualquer coisa do tipo. Sou quem sou e sou feliz assim. Como podemos ver, o feminismo é libertador e pode lhe ajudar a lutar contra o machismo e o preconceito.
revista eteenia | novembro 2016
13
Bate Papo
com
o รฃ รง i e c n Co renรงo u o L
io
ar
:M
to
Fo te
i Le
Conversa franca A ex-editora da revista Raça conta como conseguiu ser pioneira na produção de conteúdo para esse público. Confira! Por Elias Brown
“Tem que deixar essa gente bronzeada mostrar seu valor” Qual a importância de revistas voltadas exclusivamente para os negros? Num mundo ideal, não seriam necessárias revistas divididas por etnias. Mas no Brasil, ainda precisa. As revistas brasileiras ignoram o negro em todos os sentidos. É como se não existíssemos. E, em 1996, (ano de fundação da Raça), era muito pior. A Raça vendia tanto, que obrigou todas as outras revistas femininas fazerem matéria de cabelo crespo e de maquiagem. Todas se uniram e fizeram, um dos motivos da Raça enfraquecer. Não existiam modelos, nem homem nem mulher, negros no Brasil. A Revista Raça lançou todos. O que lhe motivou a trabalhar na Revista Raça? Não fazia parte dos meus sonhos nem de meus planos. A dona da editora me convidou, era uma promoção, melhora de salário, fui sem ideologia alguma. Tanto que tive medo de não 16
revista eteenia | novembro 2016
conseguir. Um amigo me disse: “Somos jornalistas, se nos chamarem para fazer uma publicação sobre peixes a gente aprende”. Fui massacrada pelo “Movimento Negro”, por que eu não frequentava as rodinhas deles. Eles acharam que eu não era séria. Sou Profissional, além de séria. Você considera as atuais revistas femininas excludentes, a respeito da mulher negra? As revistas quase nos ignoram. E eu acho isso falta de visão de mercado. Qual a importância da representatividade na vida das crianças negras? Criança é minha maior preocupação. Minha mãe não ligava, mas meu pai era muito ligado às questões raciais e nos fortaleceu muito. Ele proibia até minhas irmãs de namorar brancos. (Quando ele faleceu eu tinha 7 anos, não precisei obedecer) [risos]. Criança precisa de boa ali-
mentação, amor, paciência, educação, rotina e referências! Na minha adolescência, descobri Angela Davis, e posso lhe garantir: Devo tudo a Deus, à minha mãe e Angela Davis. Se uma negra pode ir pra universidade, eu também posso. Por que algumas mulheres se consideram morenas ou pardas e não negras? (Risos). Só sei que é muito mais fácil ser branca. Jennifer Lopez, Halle Berry não se sentem moreninhas, fazem questão de dizer que são negras. É a cultura do país. Mas se Neymar, Ronaldo Fenômeno, Anitta assumissem, seria muito bom para todos, principalmente para as crianças. Algumas pessoas consideram a Revista Raça preconceituosa em relação aos brancos. O que você acha? Uma bobagem sem tamanho. As outras revistas não têm negros… Tem que deixar essa gente bronzeada mostrar seu valor.
Foto: Mario Leite
Você se considera uma ativista? (Risos). Não me considero. Mas sei que represento alguma coisa. Acho ativista em São Paulo é um tipo chato, fala, fala, fala. Mas já peguei um táxi e o motorista não abriu a porta para mim (Jesus, engoli). Percurso curto, 15 minutos. Quando chegou, eu desci do carro e fui pagar a corrida na janela dele, coisa que não se faz. Depois que paguei, falei: “O senhor nunca abre a porta pras passageiras?”, ele ficou “passado”. Disse que estava distraído, se desculpou. Sou assim. Já me ofereci pra ser testemunha de batida de carro porque a moça era negra. Dei meu
cartão de visitas para ela e disse: “Se precisar, pode ligar, eu vi tudo”. Acredita em Racismo Reverso? Não! Você é a favor das cotas raciais? Acho que está um pouco tarde, mas é reparação. Estamos pedindo pouco… muito pouco. Sou a favor sim, só precisamos rever os critérios. Quais as suas conquistas no combate ao racismo? Minhas? (Risos). Já fui editora em revistas não-negra. Não tenho conquistas, mas cada vez que sou premia-
da, sinto toda a comunidade premiada. Cada vez que o taxista se assusta, sei que nunca mais ele vai fazer isso. Em 2003, quando o dentista Flávio Santana, negro, foi assassinado pela polícia, fui na casa dele entrevistar o pai. Em 2005, no julgamento, a família tem direito a 10 lugares, o pai dele decretou que um dos lugares era meu, essa história me emociona muito. Assisti a sentença ao lado do pai e da mãe, porque o pai quis. Todos os policias foram condenados, até o tenente que comandava a viatura, tenente negro. Gosto desta história.
revista eteenia | novembro 2016
17
Esporte d Foto: Internet/Divulgação
18
revista eteenia | novembro 2016
Em pleno século XXI há quem ainda diga que existe esporte específico para meninas ou para meninos. Aqui você encontra três pessoas que não deixarão você acreditar nessa bobagem. Por Letícia Tibério
de quem? revista eteenia | novembro 2016
19
“A paixão pela arte fala mais forte” Fotos: Arquivo pessoal
Gabriela luta Jiu-Jitsu desde os 12 anos
20
revista eteenia | novembro 2016
V
ou lhe contar uma coisa: não tem coisa melhor do que fazer o que a gente gosta. Seja trabalhar com aquilo que nós amamos ou praticar o nosso esporte favorito. Nós fazemos melhor porque nos entregamos de corpo e alma. E hoje, infelizmente, ainda existe distinção de gênero quando o assunto é atividade física. Tenta-se definir qual esporte é apropriado para as meninas e para os meninos. Você provavelmente já deve ter ouvido de alguém frases do tipo “essa brincadeira é de menina” ou “onde já se viu menina ficar se agarrando com menino no chão?”, não é mesmo? Felizmente, esse padrão tem mudado nos últimos tempos. Um exemplo recente disso é a participação dos atletas brasileiros, Arthur Nory e Diego Hypólito, medalhistas em ginástica artística na Olímpiada do Rio 2016. Coisa de menina, né? Mas claro que esse pa-
Danieli é capoeirista desde os 8 anos.
drão não muda da noite para o dia. E como falei no início do texto, fazemos melhor porque nos entregamos de corpo e alma. A Gabriela Neves, de 17 anos, luta Jiu-Jitsu desde os 12 anos, além de Boxe e Muay Thai, e conta como é praticar um esporte considerado masculino. “Hoje em dia não ligo mais para críticas, acho um esporte bem diferenciado onde você descarrega sua energia, trabalha o seu psicológico, onde me sinto bem! Aprendi a lidar com todos os maus comentários durante o tempo, tentando mostrar para as pessoas que por ser um es-
porte considerado masculino, as mulheres também se sobressaem nele!”. A vontade de fazer aquilo que se ama é o melhor remédio quando o assunto são as críticas. Danieli An-
“Uma mulher que luta é mais segura” drade de 19 anos, pratica capoeira desde os 8 anos e recentemente ficou em 2º lugar nos Jogos Abertos do Interior. Aprendeu que a luta deve ser praticada por todos. “Grandes mestres, como Bimba e Pastinha, deixaram o legado de que ca-
poeira é para homem, menino e mulher. Dentro da roda e nos treinos, nós mulheres mostramos o nosso valor, treinamos com garra, com coragem, portanto, poucas vezes somos discriminadas dentro da capoeira”. Mas como ninguém está imune, Danieli ainda sofre com machismo dentro da roda. “Às vezes um ou outro faz um comentário do tipo ‘mulher é mais fraca’, mas não me abalo muito”, garante. Por vivermos em uma sociedade machista, há quem pense que só as meninas sofrem com esse preconceito e isso não é verdade. Os meninos também passam pelo processo de reprovação. “Sofro e vou sofrer principalmente da família, mas estou feliz. Orgulho-me de ser bom em algo”, diz Gustavo Ramos, 20 anos, que dança Jazz e pratica Circo desde os 15 anos. Determinado, Gustavo não se importa com as críticas e sim em ser feliz. “Se você gosta de algo, corra atrás, sem ligar para o que vão pensar. O orgulho em vencer será maior que qualquer reprovação”, conclui o malabarista. Escolha algo que você se identifique, que dê vontade, motive, matricule-se na aula de dança de salão que você tanto quer, mas acha que não tem o “gingado”.
Além do Circo, Gustavo Ramos também dança Jazz
revista eteenia | novembro 2016
21
Tombei
Quem sĂŁo
elas?
ção
ivulga Fotos: D
Que o empoderamento feminino está em alta, todas sabemos, mas três mulheres de gerações diferentes mostram que estamos mais independentes e conquistando nosso espaço.
Três gerações de mulheres negras que lutaram por um sonho A caçula tem 12 anos, fala sobre racismo e empoderamento feminino em suas músicas. A mais velha é a primeira delegada negra do estado de São Paulo, seguida pela jovem jornalista do periódico espanhol El País. Elas mostram que você pode ser o que quiser. Por Elias Brown e Letícia Tibério
O
que uma delegada, uma cantora e uma jornalista têm em comum? Além das três serem negras; Clementina, Soffia e Beatriz contrariaram as estatísticas e conseguiram realizar o sonho de trabalhar com aquilo que amam. Parece utopia nos dias de hoje poder trabalhar com o que gosta. Ainda mais quando se é negro e pobre, mas a história delas mostra que a gente pode ser tudo o que quiser. Clementina, a mais velha de todas, com mais de 60 anos, carrega o título de Primeira Delegada Negra da Polícia Civil de São Pulo. Foi a responsável por retirar o bairro do Jd. Ângela, localizado na região da zona sul, da lista de bairros mais perigosos do mundo, segundo a ONU. De família humilde, nasceu no interior de Minas Gerais, trabalhou pesado durante a adolescência e saiu de casa muito nova, com 19 anos. Chegou a São Paulo com uma ideia fixa, se formar em direito e virar delegada de polícia. Aos 24 anos já havia concluído os dois objetivos e 24
revista eteenia | novembro 2016
de lá pra cá foi ganhando cada vez mais notoriedade e reconhecimento pelo excelente trabalho prestado à sociedade. Beatriz Sanz, de 22 anos, ainda não se formou, mas está totalmente à vontade na carreira jornalística. Assim como Clementina, Beatriz também veio de família humilde. Apesar de ter nascido em Diadema, São Paulo, viveu alguns anos em Malhada, no sertão da Bahia. Quando decidiu que queria entrar em uma faculdade, Beatriz também teve que largar tudo para ir atrás de seu sonho. Voltou para São Paulo com a ideia de se tornar jornalista e depois de perder bolsas e ser reprovada em alguns vestibulares, conseguiu um estágio no jornal espanhol El País onde está atualmente. A jovem também contribuiu com grandes entrevistas para o coletivo Jornalistas Livres. Soffia, a mais nova das três, ainda nem concluiu o ensino médio, tem apenas 12 anos, mas isso não significa que ela já não tenha objetivos. Incentivada pela mãe, a menina co-
meçou a pegar gosto pelo rap aos três anos de idade e com seis já começava a fazer algumas pequenas apresentações. Atualmente possui dois clipes na internet e está trabalhando para o lançamento de seu primeiro CD. Criada pela mãe e pelas avós, aprendeu desde cedo a valorizar a sua cultura e isso se reflete em suas músicas e na sua construção ideológica. Menina Pretinha, seu primeiro single, conta com mais de 500 mil visualizações no YouTube. Seu último feito foi ter cantado na abertura das Olimpíadas do Rio ao lado de ninguém menos que Karol Conka. Ficou curiosa? Fizemos uma entrevista exclusiva com cada uma delas para que você possa se inspirar. Vem com a gente!
Maria Clementina, o que lhe motivou a seguir carreira de delegada?
Em casa, a gente sempre comentava sobre o preconceito social e a violência poli-
cial. Um dia eu brincando com meu irmão: Olha, para combater a violência policial eu vou pertencer à polícia. Como vou fugir da policia? Pertencendo a ela (risos). E eu espero ter dado uma contribuição para mudar esse quadro da violência.
E como foi o começo da carreira dentro da polícia?
Comecei como agente de telecomunicações policial em 1976. Ao mesmo tempo ingressei na faculdade de Direito de Guarulhos. Fui a última turma da faculdade que se formou em apenas 4 anos. Em 1977 iniciei o curso, terminei em 1980 e no ano seguinte passei no concurso para delegada de polícia. Dei sorte de passar na primeira tentativa. Já fui trabalhar no interior, na região de Campinas. Eu era titular de município da sub-região de e era interessante porque os meus funcionários tinham idade para serem meus pais (risos). Eu era a delegada com 24 anos e meus funcionários tinham em torno de 40 ou 50 anos.
Como você fez para reduzir o índice de criminalidade do Jardim Ângela, um dos bairros mais perigosos de São Paulo?
Eu fui até a comunidade, conversei com a população,
Maria Clementina de Souza, primeira delegada negra de São Paulo. Foto: Nalva Maria.
aos poucos, eles passaram a confiar em mim e no meu trabalho, e nós conseguimos em pouco tempo baixar o índice de criminalidade de 36% para 6%. Eu combati principalmente o homicídio praticado pela polícia. Aí eu já tive uma ajuda, foi um trabalho conjunto com o Ministério Público.
“O importante é a gente ter o psicológico bem trabalhado” Nós conseguimos erradicar as mortes por resistência, alegada por policiais. Eles primeiro atiravam para depois ver se era bandido ou não e eu acabei com isso. Eu conversei com todos os lados, com a população, com o Ministério Público
e inclusive com os policiais militares da região. Aliás, boa parte deles foram todos para a cadeia e os que sobraram começaram a ter a consciência de que não era mais assim que funcionava.
Quando você começou como delegada, existia preconceito por parte dos seus funcionários?
Chamava bastante atenção (risos). Na época a própria imprensa local destacava o fato, a manchete era “Itupeva tem um xerife de saias”. O importante é a gente ter o psicológico bem trabalhado. Tive que lidar uma vez com um delegado titular que era extremamente racista e que me tratava com indiferença. Éramos cinco delegados plantonistas além do titular, mas para ele apenas os outros 4 eram autoridade, eu não. Acabei processando revista eteenia | novembro 2016
25
Ela tem que ler bastante. Não existe um processo que faça você esquecer aquilo que você aprendeu, então é importante ler muito, pesquisar bastante e através disso ela vai conhecer muitas histórias, vai viajar o mundo sem sair do lugar. É importante também que ela sonhe bastante, tem que querer. É importante que ela saiba que é possível, mas precisa ser firme no propósito dela, tem que focar. Essa é a receita (risos). Foi a minha receita, para ser hoje o que eu idealizei com 15 anos.
Beatriz, por que decidiu cursar jornalismo?
Beatriz Sanz, jornalista do jornal espanhol El País. Foto: Arquivo pessoal.
ele. Antes de ser delegada eu era advogada. Acabei constituindo duas advogadas e entrei com uma ação contra ele que veio me pedir desculpas posteriormente.
Qual a melhor forma de tirar de letra o preconceito?
É importante conhecer a história para que tenhamos argumentos para debater com os racistas. É importante colocarmos que se somos maioria da população, a maioria de negros tem que ocupar todos os espaços e não apenas na 26
revista eteenia | novembro 2016
favela. Quando um estrangeiro vem ao Brasil, não encherga 50% de negros lá para recebê-lo. Nós vivemos num país que insiste em não querer ser negro, nós temos em São Paulo a maior população negra do Brasil, há mais negros aqui que na Bahia e o que vemos aqui? A invisibilidade do negro, essa é a nossa grande luta, querer colocar o nosso povo em todos os lugares.
Que conselho você daria para uma menina negra e pobre, mas que é cheia de sonhos?
Eu vim para São Paulo com 14 anos, estudar o primeiro ano do ensino médio. Quando fiz 15 anos, minha mãe me levou de volta para a Bahia, contra a minha vontade e eu
“Nós vivemos num país que insiste em não querer ser negro. A visibilidade do negro é nossa grande luta”
apresentei um quadro depressivo. Nesse tempo fiz terapia. Durante a terapia fiz um teste vocacional que, no fim das contas, acabou sendo inconclusivo. Porém, minha psicóloga sabia que eu gostava de
ler e escrever e sugeriu que eu fizesse jornalismo. Aquilo mexeu comigo e desde então nunca mudei de opinião. Nos dois últimos anos do ensino médio eu era a única aluna da sala que sabia o que queria cursar.
Há 5 anos você imaginava que estaria onde está hoje?
Eu jamais imaginaria estar onde estou. Terminei a escola aos 16 anos, prestei a FUVEST duas vezes e não passei. Perdi uma bolsa do Enem por conta da burocracia. Achei que nunca fosse entrar na faculdade. Quando entrei foi em uma pequena e sem prestígio que fechou antes mesmo que eu concluísse. Eu precise transferir a bolsa em outro processo muito burocrático. Muitas pessoas me perguntam como consigo esses “empregos chiques” e eu não sei como responder. Eu sempre trabalhei duro e estudei bastante. O período do término da escola e início da faculdade foi de 2 anos. Ao invés de ter “anos sabáticos”, eu trabalhava 8h por dia, 6 dias por semana. Hoje, eu me encontro no melhor momento da minha vida e, por isso, talvez as pessoas que não conhecem a minha história pensem que foi fácil pra mim. Não foi.
Você se enxerga como um exemplo às meninas
pobres e negras que vêm de onde você veio?
alguém que valia a pena. Elas me tratavam como gente, quando eu nem sabia o valor disso. Sou muito sortuda por ter tido essas mulheres na minha vida. Em relação à militância, é importante ouvir as mulheres mais velhas. Eu leio muito o que Djamila Ribeiro, Angela Davis, Joice Berth, Juliana Gonçalves e Grada Kilomba escrevem.
“Talvez as pessoas que não conhecem a minha história pensam que foi fácil pra mim. Não foi”
Que dica você daria para as adolescentes negras que tem o sonho de um dia poder fazer faculdade e crescer profissionalmente?
Eu não gosto de pensar em mim como exemplo. Ainda sou muito nova. Mas procuro conversar com minhas primas e minhas ex-alunas (já trabalhei de educomunicadora em uma ONG em Diadema). Eu tento inspirar nelas a vontade de estudar, de se dedicar e de saberem de onde elas vieram
e que ninguém é melhor que elas. Essas garotas precisam de oportunidade, de pessoas que cuidem delas e que as vejam como pessoas pensantes. Eu gostaria de conhecer mais garotas assim e conversar com elas. É sempre enriquecedor.
Quem são suas principais influências?
Minhas influências são minhas tias, minha mãe, minhas professoras e minhas irmãs. Mulheres que não desistem. As mulheres da minha família, por exemplo, não tiveram oportunidade de estudar, mas elas trabalham, correm atrás de seus direitos. São mulheres inspiradoras. Minhas professoras sempre viram em mim
Eu digo que elas podem. Educação é um direito constitucional e eu vou lutar para que elas façam isso. Espero ver mais minas pobres e pretas alcançando o topo, porque a gente sempre se lembra de quem deu a mão para a gente subir.
Soffia, como você descobriu que levava jeito para ser MC?
Algumas pessoas na minha família são do ramo musical, minha família é bem artística e como a oficina era de hip hop e eu já levava jeito. Aí minha mãe chegou um dia e perguntou: é isso mesmo que você quer? Eu disse que era e ela falou: então vamos atrás, aí a gente começou. Existem revista eteenia | novembro 2016
27
muitos problemas no mundo artístico por conta de eu ser criança, existem alguns lugares que eu não podia fazer shows e tal, mas hoje em dia são eles que pedem para eu ir cantar lá (risos).
Onde você aprendeu sobre os assuntos que aborda em suas músicas?
Aprendi dentro de casa, porque minha família sempre foi disso. Minha vó Lêssami ia a eventos culturais antes de todo mundo, ela participava de marchas, minha vó Makena faz bonecas de pano negras para crianças. Elas iam me falando sobre como eu poderia me aceitar. Algumas vezes, passei por alguns problemas com preconceito e racismo na
“Empoderamento é acreditar em você, é lutar” escola. Hoje em dia as minhas músicas são exatamente pra essas crianças que vão passar pelo que eu passei, dessa aceitação.
Em quem você se inspira na hora de cantar?
Eu gosto de pessoas de outros países e daqui do Brasil também. Gosto de Beyonce, Nick Minaj, Rihanna, Jenifer Lopez, Alicia Keys, Willow Smith, Carol Conká, Flora Matos, 28
revista eteenia | novembro 2016
A rapper MC Soffia tem 12 anos e já pensa como gente grande. Foto: Divulgação.
Divas do hip hop, Dina Di, Negra Li. Tem homens também. Eu gosto do Racionais, do Dexter, Emicida, Criolo entre outros.
Depois que você começou a cantar, o que mudou na sua vida?
Eu vejo que estou influenciando algumas crianças, mas espero poder influenciar cada vez mais. Na escola eles sabem que eu canto e faço shows, mas a maioria é amigo, então não tem muita diferença de antes, eles não dizem que são meus fãs, mas dizem que
me viram em tal programa, em tal rádio.
quete; veterinária, acho que por enquanto só.
O que é Empoderamento?
Ouvimos dizer que você tem uma coleção de bonecas negras. Fale um pouco delas para a gente.
É não ficar dando bola pro que os outros dizem, é acreditar em você, ir a marchas, lutar... Acho que é isso (risos). Ainda não conheço muito, mas acho que o básico é isso.
O que você quer ser quando crescer?
Assim, minha lista é muito grande. Quero ser cardiologista, cantora, atriz, modelo, jogadora de futebol, vôlei e bas-
Tenho muitas bonecas, na minha casa, na casa da minha avó e na do meu pai. Tenho as bonecas de pano, as Abayomis e as Makenas, tenho também alguns bebês que parecem de verdade. São todas neguinhas (risos). Acho que tenho umas três brancas só, o resto tudo negra, de cabelo crespo, trançado ou de dread.
Como as meninas da sua idade podem lutar contra o racismo e o bullying, dentro das escolas?
As escolas deveriam falar mais sobre o assunto. A minha escola, a Projeto Âncora fala. Lá a gente trabalha muito com a pesquisa, vemos alguns filmes sobre bullying. No final tem a pauta de todas as crianças. Vejo que elas ficam interessadas. Mas, se caso esteja acontecendo uma situação desagradável dessas, a primeira coisa é contar, não adianta ficar escondendo.
Foto: Eduardo Enomoto/Divulgação revista eteenia | novembro 2016
29
p a R
e z i S s u l P Brown Por Elias
30
revista eteenia | novembro 2016
V
ocê já ouviu falar de RAP feminista? Não? Então está na hora de conhecer Sara Donato, uma garota do interior de São Paulo que através da sua música, luta contra padrões estéticos e o machismo que cercam nossa sociedade.
Fotos: Internet/Divulgação
Apesar de afirmar que o seu som não é exclusivamente para mulheres, Sara concorda que por conta do conteúdo, as garotas são a grande maioria nos shows. “Na real, meu trampo é voltado para todo público, pois procuro dialogar com meus manos também, porém é notável que quem se identifique mais são mulheres. E trabalho bem chegando de um jeito muito bonito e servindo de ferramenta de transformação na vida das mulheres e isso é ma-
ravilhoso”, afirma. Com alguns clipes no YouTube e cerca de 15mil visualizações, Sara tem um trabalho com outra MC, Issa Paz, que se chama RAP PLUS SIZE. O trabalho das garotas vai um pouco além da luta contra o machismo, elas batem de frente com a imposição estética social, que objetiva as mulheres em padrões eurocêntricos, para elas, as mulheres podem sim ser gordas, lindas e sexys.
Lutando contra os padrões, grupo de rap feminista busca igualdade e aceitação no rap.
Sara afirma que “Ser linda é ser livre! Chega de aceitar os padrões impostos, chega de querer se moldar”. E ainda completa deixando um recado para as leitoras: “Você é linda! ” Ao ser questionada sobre quem é a sua maior inspiração, a MC diz que busca se espelhar sempre nas mulheres que estão próximas, como por exemplo, sua mãe e grandes amigas que também ‘estão no corre’ lutando por uma sociedade mais justa para com as meninas. Para finalizar, a menina de fala puxada, que vem de São Caetano para o mundo, dá dicas de trabalhos de outras garotas para que você possa conhecer e mergulhar mais neste universo.
Issa Paz
Souto MC
Bia Doxum
Gabi Nyarai
Integrante do Rap Plus Size junto com Sara Donato
Rapper de 20 anos atua no cenário underground
Seu albúm mais recente de chama Maquina Que Gira
Além de seu trabalho solo, participa de batalhas de Rap.
“Chega de aceitar os padrões, chega de se moldar” revista eteenia | novembro 2016
31
We Can Do It! de J. Howard Miller, 1943
Alerta
We Can Do
o It!
O
movimento por trás do
O M S I N I FEM
Termo popular para definir a luta das mulheres desde o fim do século XIX, o feminismo busca a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Por Letícia Tibério
Chimamanda Ngozi Adichie 34
revista eteenia | novembro 2016
F
eminismo. Termo muito discutido nas redes sociais e nos encontros com as amigas, o feminismo é por muitas vezes confundido com o termo “machismo”. Poucos sabem o que significa e muitos desconhecem seu movimento. Em poucas palavras e somente uma frase, feminismo é o termo usado para definir o movimento social e político que tem como foco a luta por igualdade de direitos entre homens e mulheres. O movimento busca enfrentar a desvalorização no mercado de trabalho, os assédios – físicos e moral – nas ruas, a violência contra a mulher, etc. Bia Cardoso, coordenadora do site Blogueiras Feministas, define o objetivo do movimento feminista como “forma de promover mudanças sociais que possam trazer mais autonomia, segurança e amor para a vida das mulheres”. O movimento feminista também visa mudar a sociedade que vivemos por uma sociedade composta por igualdade e liberdade. “Feminismo é um sistema de pensamento e de luta que tem por objetivo promover a construção de uma sociedade completamente distinta da que vemos hoje, promovendo uma sociedade mais diversa e igualitária”, explica Charô Nunes, autora e coordenadora do site Blogueiras Negras. O feminismo é também uma forma de combater as diversas opressões que as mulheres sofrem. “[Combater] de acordo com os lugares de fala de cada mulher que dele
se apropria para combater o machismo, o racismo, a lgbtfobia, o capacitismo, o ageísmo, gordofobia, psicofobia e violências e opressões afins”, conclui. Vale lembrar que o feminismo não é o mesmo que femismo. Femismo é o oposto do machismo e definido como a superioridade da mulher sobre o homem. O femismo e o machismo defendem a ideologia de que um gênero sexual (homem ou mulher) deve estar acima do outro. Por outro lado, o machismo
“Feminismo é uma forma de promover mais amor para a vida das mulheres”
nada tem a ver com o feminismo. O termo machismo é usado para definir a superioridade imposta pelo homem sobre a mulher, de forma a repudiar a igualdade de direitos entre os sexos. A diferença dos termos é comentada por Bia. “O feminismo é um movimento social e político. O machismo é uma estrutura social baseada no ideal patriarcal”, explica a blogueira. Charô define o machismo como “um sistema de opressão e violência, alimentado e que alimenta uma relação desigual de poder entre os gêneros e as identidades de gênero, que incide sobre quem não é homem”.
Porém, existe também a mulher machista e definida por Bia como quem “concorda com a maneira que a sociedade está estruturada”. E reflete sobre a posição da mulher machista dentro de uma sociedade onde as mulheres são as que mais sofrem com o machismo excessivo. “[Ao se dizer machista] também é uma forma de ganhar pontos com homens que valorizam o machismo, porém, sabemos que na primeira vez que essa mulher não agir da maneira que eles querem, ela será tratada exatamente como todas as outras”, completa. O discurso machista empregado pelas mulheres não são delas. O discurso é uma influência do machismo sobre suas vítimas de forma a culpá-las pela opressão que sofrem. “Não existem mulheres machistas. Existem mulheres que reproduzem o discurso machista, porque os autores dessas falas não somos nós mulheres” defende a autora do Blogueiras Negras. “O machismo tem por estratégia colocar seu discurso na boca das próprias vítimas. É o disfarce perfeito porque a própria vítima profere palavra contra si mesma muitas vezes sem ter ciência disso”, observa. Maria Júlia é mestrando em Educação: História, Politica e Sociedade e ativista do movimento feminista e assim como as militantes do movimento feminista do qual participa, acredita que é possível a sociedade ser menos machista. “Nós da Marcha acreditamos que temos que mudar a socierevista eteenia | novembro 2016
35
“Foi despertado o desejo de luta nas mulheres” dade de maneira radical. Para acabarmos com desigualdade entre homens e mulheres nós precisamos reorganizar a sociedade, acabar com a divisão sexual do trabalho que divide os trabalhos para homens e mulheres, com as hierarquias desses trabalhos, exploração capitalista, com o racismo”. A militante reconhece que o processo é longo e, assim como outras sociedades conseguiram diminuir o machismo, no Brasil também é possível. “Acreditamos que o ser humano pode ser melhor. Nós podemos criar uma sociedade com novos homens e mulheres, baseada nos valores da solidariedade, humanidade e do feminismo”, espera Maria Júlia.
Maria Júlia vê essas subdivisões como uns dos motivos para os surgimento do movimento do feminismo negro. “A tentativa de compreender as mulheres na sua totalidade e não só compreender a diversidade das mulheres, mas as relações complexas entre as próprias mulheres foi um dos motivos para o surgimento do
Feminismo negro
movimento”. A militante também compara o surgimento do movimento das mulheres negras com as Sufragistas, movimento de mulheres inglesas e americanas que se mobilizaram para ter o direito de votar em eleições políticas nos meados do século XIX. “As mulheres sufragistas não podiam participar politicamente e isso desperta nelas a necessidade de luta enquanto mulheres, então imagino que as mulheres negras sintam a mesma coisa ou algo semelhante, enxergando dificulda-
D
entre as vertentes do feminismo existe a luta das mulheres negras. Mas o que seria isso? Uma luta por igualdade entre as mulheres, principalmente a mulher negra. O feminismo abrange a igualdade para todas as mulheres, porém, dentro do gênero feminino ainda existe subdivisões, sendo elas de classe, raça, sexualidade, etc. 36
revista eteenia | novembro 2016
“Nós podemos criar uma sociedade com novos homens e mulheres”
des de se colocar em um movimento misto e vendo isso também como um reflexo do racismo”, avalia. A mulher negra sofre uma dupla discriminação: por ser negra e por ser mulher. E sofre principalmente com a violência, sendo a mulher negra a maior vítima de feminicídio entre 2003 e 2013, com aumento de 54,2% nesse período, segundo o Mapa da Violência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil, realizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flasco), com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres Brasil, da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do governo brasileiro. A urgência do movimento feminista negro é buscar diminuir essa porcentagem. “Nesse momento precisamos parar de morrer. Essa é a primeira questão. Precisamos denunciar que esse estado estruturalmente racista tem trabalhado com afinco para nos destruir. E agora, com a ameaça de tantos tipos de retrocesso, precisamos ficar ainda mais vigilantes. Nossa juventude precisa viver, nós mulheres negras precisamos viver”, implora Charô Nunes. Infelizmente, ainda há muito o que lutar.
Vitrine
TURBANTES com Carla Dominique
Por Elias Brown
Os turbantes pelo Mundo. Foto: Internet/Divulgação
M
uito comum em alguns países do Oriente Médio, Ásia e principalmente na África, o turbante é muito mais que um simples acessório de moda. Em diversas culturas ele é o responsável por transmitir informações como status social, características regionais e religiosidade. Numa época em que empoderamento é a palavra chave no movimento negro, ele se faz
“procure aquelas blusas que não usa mais e deixe a sua criatividade rolar solta.” mais presente do que nunca. Não raro vemos muitas meninas e meninos usando turbantes coloridos, com di-
versas amarrações e com cores alegres e chamativas, por isso decidimos mostrar um passo a passo de como amarrar e até mesmo criar os seus próprios turbantes. Para isso, contaremos com a ajuda da Carla Dominique que publica muitas dicas bacanas sobre moda, estética e tudo que faz parte do universo negro feminino no seu blog pessoal carladominique.com.br
“O primeiro passo é unir as pontas em triângulo.” Vamos começar usando um lenço tradicional com aproximadamente 55x60 cm. Ele é geralmente usado como cachecol ou lenço palestino, mas possui textura fina, igual a esse da foto à esquerda. O primeiro passo é unir as pontas em diagonal, para que ele se transforme em um triângulo.
Fotos: Elias Brown
40
revista eteenia | novembro 2016
Segure as duas partes maiores e passe o lenço por trás da cabeça com a terceira ponta para cima. Para conseguir ajustá-lo, mantenha a sua cabeça levemente inclinada para frente. Cruze as duas pontas maiores na frente do rosto, fazendo os devidos ajustes para que fique firme no cabelo.
Puxe as pontas para trás, sempre mantendo os dois lados alinhados e cruze novamente. Leve as extremidades para frente mais uma vez e encaixe-as dentro do próprio turbante. Uma dica legal para o acabamento e ajustes é esconder as pontas para dar um ar de perfeição.
Tcharam! Amarração concluída com sucesso! Agora é só montar o look combinando com o turbante, se empoderar e arrasar no trabalho, na escola ou na faculdade. O turbante ajuda muito na caracterização e identidade da pessoa negra. É como se essa peça fosse feita sob medida para nós.
“Agora é só montar o look e desfilar empoderada!” revista eteenia | novembro 2016
41
aproveitando!!! e R Caso você não tenha um lenço em casa, temos uma alternativa que é feita a partir de uma camiseta velha (de preferência com elasticidade). Você também precisará de uma régua e uma tesoura.
42
revista eteenia | novembro 2016
Estique a camiseta numa superfície rígida, meça aproximadamente 22 cm partindo da barra (sentido oposto à gola) e corte em linha reta. Depois faça um corte na lateral para abrir o tecido na região da barra, isso ajuda a esconde -la quando o turbante estiver pronto.
Passe-o atrás da cabeça e una as pontas na frente. Cruze as pontas e entrelace-as outra vez. Leve as pontas para trás escondendo -as, como no primeiro tutorial. Está pronto! Agora procure todas as camisetas que não usa mais e deixe a criatividade rolar solta!
“Reaproveite as camisetas que não usa mais.” revista eteenia | novembro 2016
43
t
Fo os : te
In iv
D
t/
rn e ão
aç
ul g
THE
POWER
A mulher negra tem diversos tons de pele e os mais variados tipos de cabelo. Isso a torna única de diversas formas. Separamos algumas novidades que irão ajudar você a valorizar ainda mais a sua beleza negra. Confira! 44
revista eteenia | novembro 2016
R OF BLACK Por Letícia Tibério
revista eteenia | novembro 2016
45
Para seu cabelo!
LINHA DE PRODUTOS DA SALON LINE PARA CABELOS CRESPOS E CACHEADOS Gel Vai Ter Volume Sim
A Salon Line lançou a linha #todecacho com cinco produtos para cabelos crespos e cacheados. Abaixo você encontra o ideal para o seu tipo de cabelo!
O gel ativador é fácil de usar e ideal para controlar o volume, pois é só misturar com um dos cremes de pentear da linha. É indicado para todos os tipos de cachos. Sonho de qualquer cacheada não é mesmo?
Crespo Divino Com Cera de Abelha, mix de aminoácidos e Queratina, o creme de pentear é ideal para cabelos tipo 3B e 3C.
Crespíssimo Poderoso Destinado para cabelos da família 4ABC. A composição tem Óleo de Coco, Óleo de Manga e Colágeno para garantir hidratação. Fotos: divulgação
Como se fosse a 1ª vez Conhecido como Day After, é um produto com D-Pantenol e Óleo de Abacate e de Buritie. Sem efeito umidificado para manter os cachos. Ideal para os cabelos de todas as categorias. 46
revista eteenia | novembro 2016
Cachos dos Sonhos
Creme de pentear para cabelos do tipo 2ABC e 3A. O produto conta em sua composição, óleo de Amêndoas, Tutano e óleo de Moringa que ajudam a combater o frizz.
Veja qual categoria é ideal para você! Tipo 2A, 2B, 2C: Cabelos ondulados e cacheados Tipo 3A, 3B, 3C: Cabelos crespos Tipo 4A, 4B, 4C: Cabelos crespíssimos
Para sua pele!
Igual pele de bebê
C
onversamos com a dermatologista Priscila Soni Marin sobre os cuidados com a pele. Ela diz que não existe um produto específico para as meninas brancas e negras. “Tanto a mulher negra quanto a branca podem usar o mesmo hidratante. Indico para minhas pacientes principalmente o protetor solar, de qualquer marca, FPS 30 para cima”, explica. Acnes e manchas na pele são as principais queixas das meninas que vão ao consultório da dermatologista. O tratamento depende de cada pessoa. “É genética,
não dá para dizer que uma menina tem mais chance que a outra porque depende do tipo de pele. É possível evitá-las usando protetor solar, principalmente”. Deu para notar que além da hidratação, o protetor solar é essencial. A doutora sempre o indica para seus pacientes, principalmente para evitar o câncer de pele que também é possível na adolescência e alerta: “Pintas, manchas e feridas que não cicatrizam são alguns dos sintomas. Algumas pacientes não reparam até chegar no consultório”. Em relação à falta de pro-
dutos para a pele negra, a doutora acredita que a falta de estudo e o processo da liberação são alguns dos motivos que limitam esse mercado. “Falta de estudos. O processo para colocar um produto no mercado dura uns seis anos, acredito que essa burocracia impede muita coisa”. Mesmo o Brasil sendo um país com a população predominantemente negra, Priscila vê outro foco. “Acredito que seja marketing”, completa. Já está mais do que na hora de mudar esse mercado, não é?
Separamos alguns protetores solares para você não abrir mão dos cuidados com a sua pele:
Protetor Avon Sun – FPS 50, protege contras os efeitos do cloro da piscina e água salgada. Preço sugerido: a partir de R$ 22,00.
Boticário Cuide-se Bem – FPS 50, sem óleo, com vitamina E e antioxidantes. Preço sugerido: R$36,54.
Protetor Solar Nivea Sun – FPS 30, aprova d’água e com efeito hidratante. Preço sugerido: R$38,90
Fotos: divulgação revista eteenia | novembro 2016
47
Para sua pele!
Para quem mora em São Paulo já está acostumado com a mudança constante do tempo. Quando a temperatura diminui sempre nos esquecemos de manter nossa pele hidratada. É por isso que reunimos alguns cremes para você manter sua pele sempre macia e evitar o ressecamento e descamação.
Fotos:Internet/Divulgação
“Tanto a mulher negra quanto a branca podem usar o mesmo hidratante”
Além de maquiagem, a Avon também investe em produtos para a pele negra. O hidratante Avon Care Morena & Negra é enriquecido com óleo de coco e manteiga de karitê, duas fórmulas que prometem hidratação intensa no dia a dia. O preço sugerido é de R$8,00 para a embalagem de 200 ml. 48
revista eteenia | novembro 2016
A Nivea tem a loção hidrante Nivea Body Milk para pele seca e extra seca. É enriquecida com minerais e óleo de amêndoas. Sua textura é um pouco densa, mas promete intensa hidratação. O preço sugerido é de R$7,50 para a embalagem de 200 ml.
Neutrogena é outra marca que também tem produtos que prometem longa hidratação, como creme Intensive Body Care para pele extra seca. O produto possui proteínas e glicerina em sua fórmula. Custa em média R$7,20 para a embalagem de 200 ml.
Para ficar linda no dia a dia!
Dica de ouro: maquiagem para pele negra 4
5
Marrom
6
Marrom
8
Marrom
9
Marrom
pó
base líquida
Marrom
As marcas Avon e Vult estão mostrando interesse na mulher negra e esse ano lançaram em seus catálogos maquiagens exclusivas para pele negra. Confira alguns produtos:
A base BB Cream da Vult é uma mistura de maquiagem, pois contém pigmentação bem leve, com tratamento cosmético. Sua fórmula é composta por protetor solar e primer (controla a oleosidade da pele) e pode ser usada após a lavagem do rosto. Infelizmente, a Vult não possui corretivo para a região dos olhos.
Marrom
bb cream
A Vult oferece base e pó compacto em vários tons para a pele negra. Os produtos são fáceis de encontrar nas lojas de cosméticos e os precinhos são bacanas. A base líquida pode ser usada depois de feito o acabamento da pele, com BB Cream por exemplo. O pó compacto é indicado para finalizar a cobertura e acertar o seu tom de pele.
revista eteenia | novembro 2016
49
Para ficar linda no dia a dia!
A
marca Avon tem em seu catálogo a linha Ideal Face com vários produtinhos para a pele negra. Tem base, pó compacto, corretivo, BB Cream e pó 3 em 1, que tem em um único produto base, pó e corretivo. Bem prático, não é? É possível encontrar os produtos nas revendedoras autorizadas. Vale o lembrete: antes de comprar qualquer produto, teste em sua pele! A cor do catálogo pode ser diferente do produto real. Você não vai querer esperar para usar esses produtos, né?
Foto: divulgação.
Acesse o site usando o leitor de QR Code do seu celular para encontrar um revendedor autorizado próximo de você!
50
revista eteenia | novembro 2016
Novidade para você!
Lançamento exclusivo para mulheres negras
Você, sua mãe e suas amigas irão amar essa novidade!
Uma das “caixas de beleza” Afro Box. Imagem: divulgação.
V
isando atingir um público que sofre com a falta de produtos exclusivos para a mulher negra, a empresa Afrô lançou recentemente uma ideia inovadora chamada de “caixa de beleza”, que são clubes de assinaturas de cosméticos. As assinantes recebem em casa uma caixa Afrô Box com amostras de produtos recém-lançados no mercado, todos baseados nas informações dadas no ato da inscrição. O pro-
jeto é uma ótima ideia na hora de ajudar as mulheres negras a escolherem a cor certa daquela base ou aquele shampoo novo, não é mesmo? E o legal é que as assinantes poderão experimentar as amostras antes de chegarem às prateleiras! A opinião das assinantes é muito importante para as empresas, pois ajuda no desenvolvimento de novos produtos e mostra para a indústria de cosméticos que a mulher negra precisa de produtos exclusivos!
O projeto ainda está no início e é novidade no Brasil. Ele foi pensado e desenvolvido pelos jovens empreendedores Élida Aquino, Bárbara Vieira, Graucianna Santos e Saulo Batista, além de contar com o apoio da ONG Think Olga e ONU Mulheres. A iniciativa está em fase de financiamento coletivo (a nossa famosa “vaquinha”) na Benfeitoria, uma plataforma de mobilização de recursos que procura ajudar projetos de impacto social a saírem, literalmente, da caixinha. Você pode conhecer mais sobre o projeto Afrô no site www.benfeitoria. com/apoiafrobox.
Acesse o site usando o leitor de QR Code do seu celular para conhecer mais sobre essa novidade!
revista eteenia | novembro 2016
51
l a n a C Cultura
3
: In
itos
Créd
a r a p s a c i r a d r s e ê d r o T p o m d e n e se v
ão
lgaç
Divu
et/ tern
V T Por Elias Brown
Um Maluco no Pedaço
A série chegou ao Brasil no início dos anos 2000 e foi sucesso entre os jovens de classe baixa. Foi comprada pelo SBT e pelo Cartoon Network
V
ocê provavelmente já deve ter assistido a série Um Maluco no Pedaço, que foi sucesso no início dos anos 2000. A série foi a responsável por revelar o ator Will Smith, que recentemente participou do filme Esquadrão Suicida, lançado no Brasil em 04 de agosto deste ano. A série tem muitos momentos de humor, mas também faz algumas críticas interessantes ao racismo. Em um episódio, Will e seu primo Carlton, 54
revista eteenia | novembro 2016
ambos negros, dirigem um carro caro até uma cidade vizinha e são parados pela polícia que suspeita de roubo. Por serem filho e sobrinho de um juíz, Carlton e Will são soltos algum tempo depois, mas a crítica que Will faz, em uma conversa com seu primo, ao comportamento da polícia perante as pessoas negras, é de arrepiar. (Confira o episódio através do QR Code que está na página.)
Super Choque O nome do heroi (Virgil) foi inspirado no primeiro afroamericano a cursar uma faculdade de Direito
S
uper Choque, um garoto que por conta de um acidente com lixo tóxico, adquiriu superpoderes relacionados a eletricidade. Ele mantém os superpoderes em segredo e quando não está com seu uniforme é apenas Virgil Hawkins, um jovem negro que vive em Dakota nos E.U.A. Em um episódio, Virgil, seu pai e irmã viajam para
o continente africano e em uma ligação de telefone para um amigo branco que ficou em Dakota, ele conta como é ser negro num continente de negros. Ele conta que se sentia oprimido em Dakota, mas que lá, na Àfrica, podia ser quem realmente era. Para acompanhar o episódio, acesse o QR Code da página.
revista eteenia | novembro 2016
55
56
revista eteenia | novembro 2016
The Get Down O seriado mistura fatos reais e ficcionais. Alguns dos curadores são grandes nomes do hip-hop americano, como o DJ Gran Master Flash, o inventor do “scratch”
R
ecentemente estreou na Netflix uma série que conta a história do surgimento do hip-hop no Bronx dos anos 70. A série é muito rica em detalhes visuais e sonoros e é capaz de levar o telespectador à uma verdadeira viagem no tempo. Em uma cena, o ator principal, um jovem afro-latino,
viaja até o outro lado da cidade para poder ir trabalhar em um estágio. Ele se sente desconfortável por ser um jovem negro convivendo no ‘mundo dos brancos’ e isso é representado em um take musical com uma trilha sonora feita sob medida. Confira no QR Code.
revista eteenia | novembro 2016
57
C
o t adna a r u t ul Um espaço reservado ao aprendizado de nossa cultura. Afinal, se não conhecermos nosso passado, não saberemos da nossa própria história.
58
revista eteenia | novembro 2016
Por Letícia Tibério e Elias Brown
a revista eteenia | novembro 2016
Foto: Internet/Divulgação
59
Dicas de filmes Retrata a história real de Solomon Northup (interpretado por Chiwetel Ejiofor), um homem negro que é sequestrado e forçado a trabalhar por 12 anos até conseguir a liberdade com o auxílio de um advogado. O filme é ótimo para conhecer sobre o racismo e escravidão do negro nos Estados Unidos.
Ali - 2002 O filme conta a história do eterno ex-boxeador Muhammad Ali (interpretado por Will Smith) em sua difícil trajetória esportiva até se tornar o ídolo dos ringues. No filme também é retratado a morte de dois ídolos negros: Malcolm X e Martin Luther King.
Mandela: O Caminho Para a Liberdade - 2014 Idris Elba interpreta Nelson Mandela, um dos principais personagens da história da luta contra o preconceito racial no mundo. A história do líder sul-africano desde sua infância até se tornar democraticamente o presidente da África do Sul no ano de 1994. 60
revista eteenia | novembro 2016
Fotos: Adoro Cinema/Divulgação
12 anos de escravidão - 2013
A negação do Brasil - 2000 Interessante documentário sobre o papel do negro nas telenovelas brasileiras, incluindo depoimentos e relatos de preconceitos de atores como Milton Gonçalves e Zezé Motta. Trata também dos estereótipos que giram em torno do negro da televisão. Vale a indicação.
Raça - 2013 Documentário brasileiro que retrata a luta por igualdade racial de três afro-brasileiros: Paulo Paim, único negro senador da república; Netinho de Paula, cantor e apresentador de TV e Miúda dos Santos, ativista quilombola e neta de escravos. Para quem tem curiosidade sobre a luta contra o racismo no Brasil, é uma ótima pedida.
Quilombo - 1989 Alô aula de história?! O filme é o retrato de uma das maiores revoluções do período colonial no Brasil liderado por Zumbi dos Palmares (interpretado por Antônio Pompêo) em sua luta contra a escravidão. A história do heroi negro Brasileiro, contada do ponto de vista do negro. revista eteenia | novembro 2016
61
Dicas de livros Pluralismo Étnico e Multiculturalismo Racismo e Anti-Racismos no Brasil - (Jacques d’Adesky) Editora Pallas Este livro trata da questão dos vários Brasis que existem em nosso país. A autora percorre extensa bibliografia para mapear a origem do racismo, seu mecanismo e sua ocorrência na Sociedade Brasileira, que apesar de aparentemente tolerante, está muito longe do paraíso que representa. Fonte: Livraria da Folha
O Espetáculo das Raças: Cientistas, Instituições e Questão Racial no Brasil do Século XIX - (Lilia Montez Schwarcz) Editora Companhia das Letras
62
revista eteenia | novembro 2016
Fotos: Internet/Divulgação
Com base em documentos raros e muitas vezes inéditos, a autora busca a compreensão da mentalidade de uma época em que conviveram o liberalismo político e o racismo oriundo das várias escolas darwinistas. Um paradoxo que marca até hoje e põe em xeque o país da democracia racial. Fonte: Extra.com.br
Raça e Diversidade (Lilia Moritz Schwarcz e Renato da Silva Queiroz) Editora Edusp O objetivo fundamental deste livro é entender o racismo a partir de sua construção histórica, sua expressão nas artes e suas manifestações e repercussões no plano individual e psicológico; e, como não poderia deixar de ser, de considerar os cenários políticos e sociais em que se insere. A publicação buscou preservar a oralidade das falas dos participantes, com o intuito de conservar o clima informal que caracterizou o curso. Fonte: Livraria Cultura
Carnavais, malandros e heróis (Roberto Da Matta) Editora Rocco Os ensaios de Carnavais, malandros e heróis foram considerados, na época do lançamento, como uma visão inovadora e um esforço definitivo para o entendimento do Brasil. Embora o carnaval tivesse sido tema de alguns estudos, pela primeira vez um antropólogo considerou a sociedade através dessa e de outras festividades, transformando-as em janelas privilegiadas para as interpretações do Brasil. Fonte: Livraria Cultura revista eteenia | novembro 2016
63
Gran persona
ndes alidades Infelizmente sempre que ouvimos falar de pessoas negras na TV, nos livros ou até mesmo em histórias ficcionais, eles são sempre retratados como serviçais, empregados, músicos ou atletas. Isso faz com que criemos um estereótipo de que negro nasceu para servir ou entreter, mas não é bem assim que as coisas funcionam. Existem grandes negros na história que ganharam notoriedade através de seus conhecimentos intelectuais. Vamos conhece-los? Por Elias Brown
Dr. Mae Jemison Mae C. Jemison foi a primeira mulher negra a viajar no espaço, em 12 de setembro de 1992. Mae estudou em escola pública e formou-se no ensino médio aos 16. Entrou na Universidade de Stanford, na Califórnia. Saiu com duas graduações: bacharel em Engenharia Química e em Estudos Africanos e Afros americanos. Mae tinha um sonho: ir ao espaço e, indo contra todos que diziam que ela não conseguiria ser uma astronauta por ser mulher, foi aceita pela NASA e após cinco anos de treino teve a oportunidade de viajar para o espaço onde conduziu experimentos como médica, analisando células ósseas.
Ficha técnica: Nome : Mae Carol Jemison Nascimento: 17 de outubro de 1956 Nacionalidade: americana Profissão: Médica e ex-astronauta
66
revista eteenia | novembro 2016
Foto: Internet/Divulgação
Dr. Carl Hart Foi o primeiro professor titular de neurociência da universidade de Colombia nos E.U.A. Hart desenvolveu uma pesquisa aprofundada sobre o efeito do crack nas pessoas. Com seus resultados desmistificou diversas ideias e revolucionou o combate à droga. De origem humilde, lançou um livro em que conta como conseguiu superar as dificuldades e se tornar um cientista social de sucesso. Aqui no Brasil também temos algumas personalidades negras muito importantes para a história do nosso país, algumas inclusive com reconhecimento mundial.
Ficha técnica: Nome : Carl Hart Nascimento: 22 de junho de 1966 Nacionalidade: americana Profissão: Prof. de Neurocientista
D ternet/ Foto: In ão
ivulgaç
revista eteenia | novembro 2016
67
Dr. Abdias do Nascimento Nascido no interior de São Paulo, Abdias foi um dos intelectuais negros mais importantes do nosso país. Ele era poeta, ator, escritor, professor universitário e político. Foi professor emérito em duas faculdades de Nova York e professor titular do Centro de Estudos Porto Riquenhos. Publicou mais de dez livros, além de ter sido Deputado Federal e Senador da República. Foi homenageado com o prêmio jornalístico Abdias do Nascimento que premia produções afro centradas. Faleceu em 2011 com 97 anos.
Ficha técnica: Div
net/
r : Inte Foto
68
ção ulga
revista eteenia | novembro 2016
Nome : Abdias Nascimento Nascimento: 14 de março de 1956 Nacionalidade: Brasileiro Profissão: Professor e político
Dr. Maria Clementina
aM alv :N
Nome: Maria C. Souza Nascimento: 14 de novembro de 1965 Nacionalidade: Brasileira Profissão: Delegada
Fo to
Ficha técnica:
ari
a
Primeira delegada negra do estado de São Paulo, veio de Minas Gerais com 17 anos. Com 24 já era formada em direito e Delegada da polícia civil. No início dos anos 2000, Clementina foi responsável pelo bairro Jd. Ângela, localizado na zona sul de SP. O local estava na lista da ONU como um dos três bairros mais perigosos do mundo. Durante sua gestão, que durou três anos, a criminalidade no local foi reduzida em cerca de 30%. As mortes por resistência seguida de morte foram erradicadas e ela ganhou reconhecimento internacional. Atualmente Clementina atua na Delegacia do Idoso, localizada em Santo Amaro.
revista eteenia | novembro 2016
69
Horóscopo
Os Orixás de Foto: Internet/divulgação
e cada signo Por Elias Brown
Reza a lenda que os orixás chegaram ao Brasil encarnados nos corpos dos escravos
Foto: Internet/Divulgação
O
s orixás são deuses que pertencem à mitologia africana, mais especificamente surgiram da cultura dos Iorubás, um povo africano que surgiu na região da Nigéria. Embora muitas vezes eles sejam tratados de forma preconceituosa, são fascinantes deuses africanos que possuem uma relação com o horóscopo bem interessante. Eles governam um ou mais signos, ou seja, todos nós temos um orixá que nos guia em nossas vidas. Segundo os líderes religiosos que são chamados pais e mães-de-santo, são três os tipos de orixás presentes em nossa vida: o de frente ou 72
revista eteenia | novembro 2016
de cabeça, que corresponde ao signo solar: o ajuntó, que é o nosso ascendente; e o de herança, associado ao signo lunar. Apesar de existirem mais de 100 orixás, para efeito de associação com os signos, somente 16 deles ganham importância porque apresentam características semelhantes às dos planetas e estrelas do céu astral e também por causa de sua ligação com os quatro elementos básicos da natureza, Fogo (Ogum, Iansã e Xangô), Ar (Oxumaré, Logum-Edé e Exu), Água (Oxum, Obá, Nanã e Iemanjá) e Terra (Oxóssi, Ossâim, Euá, Oxalá, Iroko e Omu-
lu ou Obaluaê). Hoje, independente da raça, cor e credo, os orixás, esses fascinantes deuses negros, são reverenciados por todo o país nos terreiros de Umbanda e Candomblé. E há quem os associe aos arcanos do Tarô, aos enigmáticos hexagramas do I Ching e à Astrologia. Neste último caso, a semelhança com os astros que brilham no céu do Zodíaco. Os orixás governam um ou mais signos, isso significa que todos nós temos um orixá que nos guia e nos imprime suas características. Confira a tabela que fizemos a seguir descubra qual orixá protege o seu caminho.
Oxum
Rege TOURO e LIBRA. É orixá da fertilidade e da riqueza, símbolo também da sexualidade e por isso mesmo está associado ao signo de Touro. É ainda vaidoso, diplomata e tem muita ambição social.
Xangô
Rege LEÃO e SAGITÁRIO. Autoritário, dominador, é um líder nato, característica dos leoninos. É sociável e aproveita o melhor da vida, o que o associa ao signo de Sagitário.
Ogum
Rege ÁRIES. É o orixá da guerra. Ativo, está sempre procurando alguma coisa para fazer. É um tanto instável e emotivo. Chega a ser briguento. Por tudo isso, está ligado ao signo de Áries.
Obaluaê Ossâim
Rege ESCORPIÃO e CAPRICÓRNIO. É o orixá das mortes e das doenças. Insondável, tem grande forma mental e é vingativo, peculiaridades de Escorpião.
Iemanjá e Nanã Regem CÂNCER. Iemanjá é fértil, sensual e muito preguiçosa. Nanã é a avó, que gosta de ser adulada, é cheia de dengo e de mágoas. Um perfeito retrato de Câncer.
Iansã
Rege LEÃO, SAGITÁRIO e AQUÁRIO. É alegre, sociável, mas temperamental, como os leoninos. É aventureira, impulsiva, atrevida como Sagitário. Mas tem também o desprendimento de Aquário.
Rege VIRGEM e GÊMEOS. É crítico, meticuloso, sensível, o que o aproxima do signo de Virgem. Mas é também mutável, inquieto, irônico e superinventivo – qualidades de Gêmeos.
Oxóssi
Rege VIRGEM, CAPRICÓRNIO E AQUÁRIO. É o protetor das matas. Tem o humor instável de um virginiano, Mas é responsável, coisas dos capricornianos. E apresenta ainda todo o exotismo e a originalidade de Aquário.
Oxalá
Rege CAPRICÓRNIO, PEIXES e TOURO. É o pilar da família e da sociedade, como Capricórnio. É um sábio, sensível à bebida e a outros vícios, o que o liga a Peixes. Sua analogia com Touro vem de sua sensualidade.
revista eteenia | novembro 2016
73