UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA – UNIVERSO DESIGN DE MODA 3º Período
KARLA LORRANY TORRES Mª ÂNGELA SHIMONECK THAÍS COSTA GONÇALVES
Tendências de moda
GOIÂNIA – GO. 2014/2
TENDÊNCIAS
De acordo com Dario Caldas (2005, p.25) “Tender para” ou “ser atraído por” derivase do latim tendentia, particípio presente do verbo tendere. A palavra “tendência” ganhou novos significados a partir do século XIX, como “predisposição”, “propensão” ou “aquilo que leva a agir de uma determinada maneira”. Esse caminho em direção ao futuro, está presente no conceito de tendência, na forma como ela é empregada atualmente. Seguindo este raciocínio, pensar em tendências é pensar em futuro, ou melhor, em possibilidades de futuros – alguns mais distantes e outros bem próximos. Indicando o que virá a seguir, as tendências apontam uma convergência de escolhas que migram do eu para o coletivo. A cada estação, as pesquisas atualizam suas informações, acrescentando, confirmando e abolindo estilos, ou mesmo permitindo uma convivência híbrida entre o antigo, o novo e o novíssimo. Ira Matathia e Marian Salzman (2004, p.10) explicam as tendências comparando-as com o ciclo de vida humano. Segundo elas, tendências têm um ciclo de vida. Isto é, são semeadas ou fertilizadas, germinam, crescem, amadurecem, envelhecem e um dia morrem. Algumas são reencarnadas uma década ou mais depois, muitas vezes de forma um pouco diferente. Caldas (2004) afirma que existe uma grande variedade de classificações para as tendências. Relata ainda, que em relação ao ciclo de vida das mesmas existem as tendências de fundo, que influenciam o social por longos períodos de tempo, e em contrapartida há as chamadas tendências de ciclo curto, identificadas como fenômenos passageiros de moda.
MACROTENDÊNCIA / GLOBALIZAÇÃO
Dentro das tendências, temos as macrotendências que segundo Lindkvist (2010, p.12) são tendências com período de duração de cerca de uma ou duas décadas. Elas incluem mudanças e ciclos econômicos, assim como variações na política e surgimento de novas tecnologias. Esse tipo de tendência demonstrará se os setores econômicos estão favoráveis ou simplesmente desaparecendo. Estas, também servem para a construção de cenários, que permitem identificar a evolução dos sistemas sob diversos ângulos, e ajudam a medir as consequências acarretadas pelas diferentes escolhas. O estudo desses cenários é, portanto, a análise das macrotendências. Em sociologia as macrotendências também são chamadas de tendências de fundo. Já no aspecto mercadológico, são analisadas quando se quer estudar o posicionamento de determinada marca ou produto e qual é o seu melhor modo de entrada no mercado. Para Caldas, em entrevista à Dornelles (2010), as macrotendências “são grandes movimentos ou correntes socioculturais que influenciam as sociedades, a cultura, o consumo, por períodos de tempo mais longos”. Segundo o mesmo autor, na publicação Observatório de Sinais: Teoria e Prática de Pesquisa de Tendências (2004, p. 22), “o conceito de tendência que se generalizou na sociedade contemporânea foi construído com base nas ideias de movimento, mudança, representação de futuro, evolução, e sobre critérios quantitativos”. Os grandes movimentos ou correntes socioculturais, que influenciam as sociedades, a cultura, o consumo, por períodos de tempo mais longos. São também chamadas de tendências de fundo, em sociologia (...) As macrotendências são mais estratégicas, no sentido de permitirem a identificação de territórios de posicionamento e de novas oportunidades (para o desenvolvimento de novos produtos, por exemplo), um processo que geralmente demanda um tempo mais longo de maturação. (CALDAS, 2007, p.44)
MICROTENDÊNCIA
Microtendência é o oposto de macrotendência. Segundo Mark J. Penn (2008, p.56) a ideia de que pequenos nichos da população podem determinar o sucesso de empresas, campanhas políticas e movimentos sociais, define a microtendência – um padrão comportamental de um grupo de forte identidade, que está crescendo e tem desejos e anseios não atendidos pelas instituições que influenciam a vida cotidiana. Também chamadas de “tendências de ciclo curto”, as microtendências estão relacionadas com os eventos passageiros da moda e se comunicam com a dinâmica do consumo. Sendo assim, Lindkvist (2010) faz uma metáfora para exemplificar o que seriam as microtendências e o seu nível de alcance. Com isso ele sugere imaginar a situação de estar em pé em uma rua lotada em qualquer lugar do mundo: “Se olharmos para as pessoas ao nível da rua, veremos o que vestem e o que têm nas mãos. Poderemos até mesmo ouvir certas palavras em suas conversas referindo-se a eventos atuais. Estas são as microtendências ou tendências de moda. Costumam durar de um a cinco anos e ditam que roupa vestimos, que tipo de engenhocas eletrônicas usamos e que tipo de expressões do momento permeiam nossa linguagem.” (LINDKVIST, 2010, p.06)
Nesse sentido, Stone (2008) apresenta o termo fad quando se trata das tendências com relação ao vestuário e comportamento. Fad é uma moda passageira, que se dissemina facilmente, afetando grande parte da população e depois desaparece com a mesma velocidade em que se difundiu. Esse tipo de tendência inicia-se sendo rapidamente aceita e imitada por outros. Geralmente começam com preços baixos, com peças relativamente fáceis de copiar e distribuídas dentro do fluxo mercantil em curto período de tempo. Com essa saturação do mercado, o público se cansa e por isso a
queda abrupta dessas tendências. Fads seguem o mesmo ciclo que a moda, mas a sua popularidade, aceitação e declínio são mais velozes.
PESQUISADORES DE TENDÊNCIAS – COOLHUNTERS
A pesquisa de tendências engloba as macro e as microtendências, ela é abordada como um processo que se aprofundando na prospecção dos sinais emitidos pela sociedade, busca compreender a personalidade ou o estilo de uma época. Sua definição não se resume a uma imposição de regras à sociedade como defendido por Siqueira (2006). Com isto, não se trata de um processo que impõe a precisão como requisito para os seus resultados, mas sim, caracteriza-se como uma leitura do contexto de interesse para perceber o futuro e como a sua própria definição, com todas as incertezas. O objetivo da pesquisa de tendências é justamente entender todas as influências exercidas para minimizar as incertezas dos cenários futuros. A antecipação das tendências tornou-se atividade obrigatória para criadores, designers e empresas preocupadas com o futuro. Pesquisar tendências funciona como um investimento, sendo assim, a obrigação de antecipar tendências abre menor espaço para o erro. (WATSON apud BALDINI, 2006, p. 87). Para Vincent-Ricard (1980, p.88) os olhos dos pesquisadores de tendências são como uma máquina fotográfica. Poderosos por captar instantes exclusivos da vida. Esses instantes podem ser um gesto inusitado, uma atitude transgressora, um comportamento social que esteja sendo comum, igual entre alguns grupos de pessoas; um acessório em evidencia, uma cor, um elemento que se sobressai de todo seu cenário. Algo novo, ainda não medido, nem mencionado. Ainda virgem, sem violações ou intervenções. Algo que possa transcender os limites da realidade “para fazer dessa escolha um signo que fale, base de um tema prioritário”. O autor os define como “antenas”, pois esses captam os sinais emergentes e filtram o que será convertido em cores, tecidos e formas. Do mesmo modo eles localizam onde está a fonte dessas tendências e utilizam suas habilidades e conhecimento para retirar os conceitos emergentes.
Assim sendo, os coolhunters atuam em campo, em busca de novidades, de pessoas, de estilos e atitudes diferentes. Com câmera fotográfica, ou filmadora, e bloco de anotações, eles registram composições inusitadas e harmoniosas, que chamam a atenção, de maneira positiva. O objetivo é captar o que determinadas pessoas cool fazem que influenciam outras, para então se transformar em produtos de consumo. Para Irma Zand (2009), lugares como bares, raves, concertos e desfiles são ótimos lugares para entrar em contato com os jovens e manter-se conectado ao seu mundo e, com isso, estar atento às inovações.
CADERNO DE TENDÊNCIAS - BUREAUX DE ESTILO
Os pesquisadores de tendências são os responsáveis pela elaboração dos cadernos de tendências também chamados de bureaux de estilo. Leão (2005, p.41) afirma que os bureaux de estilo surgiram no mercado francês ao final da década de 1950, com o objetivo de organizar a indústria têxtil através de suas sugestões sobre cores, materiais e formas. Marins (2006) complementa que os bureaux de estilo surgem com a função de dar a interpretação mais direta para as indústrias onde se inicia o processo de produção da moda. “A principal função de um bureaux de estilo é descobrir as tendências que irão influenciar o comportamento do consumidor e transformá-las em orientação para criação de moda. Essas tendências são econômicas, culturais, políticas e estéticas.” (CARVALHO, 2011, p.45) Traduzindo estas tendências comportamentais e culturais, os bureaux de estilo surgem com a função de dar a interpretação mais direta para as indústrias onde tem início o processo de produção da moda. “Hoje, oferecendo muito mais que propostas, estes escritórios fundamentam e elaboram todas informações necessárias para criação das tendências de moda, as quais são organizadas em cadernos específicos chamados Cahiers de Tendances. Instrumentos de grande importância entre o meio empresarial fornecem a segurança necessária para o desenvolvimento de um produto de moda. No campo específico do vestuário atendem do
fio à confecção, mas podem atuar em muitos outros setores. Genericamente, o trabalho consiste em fornecer análises precisas à construção da imagem de um produto.” (WAJNMAN, 2005, p.64)
ELEMENTOS DA TENDÊNCIA – ÂMAGO De
acordo
com
o
Caderno
de
tendências
NOSSO
(2014),
na
macrotendência amago, o passado é redescoberto no presente para desenhar um futuro sustentável. Contando histórias que trilham os caminhos do tempo, revelando o que nos torna únicos e extraordinários e que desperta sentimentos de pertencermos a algo grandioso e eterno. A saturação de verdades, do tempo que passa cada vez mais desvairado e de excesso de exposições nas redes sociais tem tornado as pessoas invisíveis. Entre a luz e a escuridão, abre-se um caminho para a valorização de singularidades e identidades. Os segredos da alma aguçam o senso de que a beleza não se inventa, só precisa ser revelada. Em relação à nossa existência virtual, numa forma de compensar o tempo que passamos conectados, desenvolve a vontade de vivenciar outras experiências e fortalecem os vínculos emocionais. As narrativas que fazem parte do imaginário se assemelham a um conto de fadas, as marcas que se inspiram em livros e filmes, que integram passado, presente e futuro, temperado por um sentimento nostálgico que narra paisagens irreais e fictícias, tem despertado o interesse tanto de crianças quanto de adultos. Apesar de o crescente apelo por engenhocas futurísticas e tecnológicas, ainda existe a busca pelo conforto das origens de nossas raízes e nas singularidades que fazem parte da nossa própria história. Designers e fabricantes estão fortalecendo o renascimento do artesanato e a utilização de recursos locais que associados à tecnologia e às técnicas de produção, cria uma nova forma de produzir inovação. As texturas são desgastadas pelo tempo, com aparência antiga e ao mesmo tempo são suaves, promovendo um ar de mistério. Cores com variação de luminosidade
partem do escuro para o claro, tons envelhecidos revelam o esplendor das histórias acumuladas com o tempo. A combinação da tecnologia de ponta com o design artesanal permite uma identidade única para os produtos.
ELEMENTOS DA TENDÊNCIA – NEXO Ainda
de
acordo
com
o
caderno
do
SEBRAE,
NOSSO
(2014),
a
macrotendência nexo nos revela que em meio a um bombardeio de informações, há uma saturação de imagens e de sons que levam nossas mentes quase à exaustão; com tantas mídias que trabalham incansavelmente para que acreditemos que tudo é obsoleto e descartável, a qualidade dos relacionamentos e os momentos da existência passam a ter uma importância vital para a sociedade. O diálogo promove encontros e é na convivência que encontramos respostas para muitas dúvidas, aprendemos a contornar a fragilidade e a vulnerabilidade das incertezas. Na busca por recuperar a tranquilidade, os sentimentos são harmonizados e a aceitação das diversidades intensificada, novos laços sociais são aceitos entre indivíduos, permitindo maior interação entre os seres humanos. Composta por cores coadjuvantes conduz o olhar para os sentimentos mais saborosos, tons adocicados, terrosos e pasteis, ilustram esse momento em que paira no ar um novo romantismo. Aspectos romanticamente empoeirados, desbotados, translúcidos com aparência frágil e tecnológicos com detalhes manuais. Superfícies que brincam com luzes e reflexos, efeitos prismáticos e bolhas flutuantes.
ELEMENTOS DA TENDÊNCIA - BIG BANG
Segundo o Caderno de tendências NOSSO (2014), o Big Bang está dentro das macrotendências de inverno 2015 com a proposta de trazer uma sensação louca, inventiva e transgressora, detonando códigos antigos e velhos mapas. Numa espécie de
criação e recriação coletiva, cômica e muitas vezes absurda, a fórmula é não ter mais fórmula; todos são livres para escolher e mudar seus caminhos o tempo todo. Composto por uma simbiose de arte, artesanato, diversão, engenharia, ciências e tudo mais. No âmbito da recriação, o óbvio, os esquemas, as classificações, os gêneros e as hierarquias se tornam definitivamente coisas do passado. Estabelece-se uma nova dinâmica sem precedentes. Uma concepção de estilo livre que requestiona as formas, recriam significados e expressam, sem qualquer concessão, formas híbridas de produzir emoções e movimento. A macrotendência Big Bang permite liberdade de fazer, transgredir, misturar e colidir referências, palavras, tempo e signos; a cena criativa da atualidade é um playground para brincar com toda a espécie de influências, estar com as portas abertas do imaginário para qualquer expectador repensar, desconstruir, misturar e reinventar o mundo com liberação, explosão, transgressão e mutação. As cores são vibrantes, luminosas, quentes e suas formas futurísticas misturam tudo: metalizados, couro, jeans e seda materializando um mix de referências carregadas de intensidade e personalidade. “Assim como na natureza, a destruição é necessária para a construção de uma nova ordem. Esse momento é irreversível.” (Vicent DuBourg)
BIBLIOGRAFIA
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