O espaço da sala de aula no Ensino Fundamental I no Brasil

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC SANTO AMARO

O ESPAÇO DA SALA DE AULA NO ENSINO FUNDAMENTAL I NO BRASIL MARIA ELISA DE LIMA GRAGNANI

SÃO PAULO, 2020



CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC SANTO AMARO

O ESPAÇO DA SALA DE AULA NO ENSINO FUNDAMENTAL I NO BRASIL MARIA ELISA DE LIMA GRAGNANI

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac Santo Amaro como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Ms. João Yamamoto

SÃO PAULO, 2020



Não desejamos palácios luxuosos, mas construções econômicas e nítidas que apoiem, como uma simples e forte base física, a obra educacional entrevista pelos que acalentam os ideais de uma reconstrução da própria vida, pela escola. Anísio Teixeira



Resumo

O trabalho propõe um ambiente de sala de aula de ensino fundamental I (de 6 a 11 anos – 1° ao 5 ano°) no Brasil, composto por elementos que atendam a critérios de diferentes abordagens pedagógicas, priorizando sempre a liberdade de uso do espaço e interatividade entre alunos e professores. Para isso, foram investigados padrões de organização e uso através de experimentos com a modificação de arranjos de mobiliário existente, além do levantamento de referências sobre as abordagens pedagógicas selecionadas, tendo como critério para seleção aquelas que adotam o espaço como uma das principais ferramentas no ensino. Os experimentos realizados, por sua vez, tiveram como norte os fundamentos dessas abordagens, parâmetro que foi mantido para a proposição do novo ambiente.



Abstract

The work proposes an Elementary School I classroom (from 6 to 11 years old - 1 ° to 5 year °) in Brazil, composed by elements that attends different pedagogical approaches, always prioritizing the freedom of use from the space and interactivity between students and teachers. For this, patterns of organization and use were investigated through experiments with the modification of existing furniture arrangements, in addition to the survey of references on the selected pedagogical approaches, using as a criterion for selection those who adopt the space as one of the main teaching tools . The experiments were based on the foundations of these approaches, a parameter that was maintained for the proposition of the new ambience.



Lista de figuras

Figura 1: Pátio da unidade de Ensino Médio da Escola Viva. Fonte: https://www.pedronapolitanoprata.com/escola-viva, acesso em 08/06/2020. Figura 2: Cantina. Fonte: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/verso-arquitetura_/escola-de-ensino-medio/1004, acesso em 08/06/2020. Figura 3: Biblioteca. Fonte: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/verso-arquitetura_/escola-de-ensino-medio/1004, acesso em 08/06/2020. Figura 4: Espaço para atividades extracurriculares. Fonte: https://escolaviva.com.br/ensino-medio/, acesso em 08/06/2020. Figura 5: Sala de aula. Fonte: https://www.pedronapolitanoprata.com/escola-viva, acesso em 08/06/2020. Figura 6: Corte perspectivado da Fundação Bradesco Unidade Osasco III. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/872135/fundacao-bradesco-shieh-arquitetos-associados?ad_medium=gallery, acesso em 20/10/2020. Figura 7: Biblioteca. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/872135/fundacao-bradesco-shieh-arquitetos-associados?ad_medium=gallery, acesso em 20/10/2020. Figura 8: Sala de estudos. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/872135/fundacao-bradesco-shieh-arquitetos-associados?ad_medium=gallery, acesso em 20/10/2020. Figuras 9 e 10: Áreas comuns da escola. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/872135/fundacao-bradesco-shieh-arquitetos-associados?ad_medium=gallery, acesso em 20/10/2020.


Figura 11: Sala de aula. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/872135/fundacao-bradesco-shieh-arquitetos-associados?ad_medium=gallery, acesso em 20/10/2020. Figura 12: Espaço comum da escola XinMeng Montessori. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/924515/jardim-de-infancia-montessori-em-xiamen-l-and-m-design?ad_medium=gallery, acesso em 08/06/2020. Figuras 13 e 14: Sala de aula. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/924515/jardim-de-infancia-montessori-em-xiamen-l-and-m-design?ad_medium=gallery, acesso em 08/06/2020. Figura 15: Fachada da escola El Til¡ler. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/921003/escola-el-til-star-ler-eduard-balcells-plus-tigges-architekt-plus-ignasi-rius-architecture?ad_medium=gallery, acesso em 08/06/2020. Figura 16: Corte perspectivado. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/921003/escola-el-til-star-ler-eduard-balcells-plus-tigges-architekt-plus-ignasi-rius-architecture?ad_medium=gallery, acesso em 08/06/2020. Figura 17, 18 e 19: Ambientes nas salas de aula. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/921003/escola-el-til-star-ler-eduard-balcells-plus-tigges-architekt-plus-ignasi-rius-architecture?ad_medium=gallery, acesso em 08/06/2020. Figura 20: Diagrama das salas de aula. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/921003/escola-el-til-star-ler-eduard-balcells-plus-tigges-architekt-plus-ignasi-rius-architecture?ad_medium=gallery, acesso em 08/06/2020. Figura 21: Perspectiva expandida da escola. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/921003/escola-el-til-star-ler-eduard-balcells-plus-tigges-architekt-plus-ignasi-rius-architecture?ad_medium=gallery, acesso em 08/06/2020. Figuras 22, 23, 24 e 25: Varanda com bancos e vasos e ambientes com vasos na sala de aula. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/921003/escola-el-til-star-ler-eduard-balcells-plus-tigges-architekt-plus-ignasi-rius-architecture?ad_medium=gallery, acesso em 08/06/2020.


Figura 26: Fachada da escola Yellow Train. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/789387/yellow-train-school-biome-environmental-solutions, acesso em 08/06/2020. Figura 27: Crianças e professora em sala de aula. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/789387/yellow-train-school-biome-environmental-solutions, acesso em 08/06/2020. Figuras 28 e 29: Espaços comuns da escola. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/789387/yellow-train-school-biome-environmental-solutions, acesso em 08/06/2020. Figura 30: Corredor com escorregadores. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/789387/yellow-train-school-biome-environmental-solutions, acesso em 08/06/2020. Figura 31: Sala de aula. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/789387/yellow-train-school-biome-environmental-solutions, acesso em 08/06/2020. Figura 32: Fachada da escola St. Nicholas. Fonte: https://www.archdaily.com/800523/st-nicholas-school-aflalo-gasperini-arquitetos, acesso em 20/10/2020. Figura 33: Vista aérea 3D da escola. Fonte: https://www.archdaily.com/800523/st-nicholas-school-aflalo-gasperini-arquitetos, acesso em 20/10/2020. Figura 34: Corte perspectivado da sala de aula com varanda e corredor. Fonte: https://www.archdaily.com/800523/st-nicholas-school-aflalo-gasperini-arquitetos, acesso em 20/10/2020. Figura 35: Área externa com jardim e passagens. Fonte: https://www.archdaily.com/800523/st-nicholas-school-aflalo-gasperini-arquitetos, acesso em 20/10/2020. Figura 36: Sala de aula. Fonte: https://www.archdaily.com/800523/st-nicholas-school-aflalo-gasperini-arquitetos, acesso em 20/10/2020. Figura 37: Planta da escola. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/873827/escola-kalasatama-jkmm-architects?ad_medium=gallery, acesso em 08/06/2020.


Figura 38: Vista do corredor e área externa da escola Kalasatama. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/873827/escola-kalasatama-jkmm-architects?ad_medium=gallery, acesso em 08/06/2020. Figuras 39, 40, 41, 42 e 43: Salas de aula. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/873827/escola-kalasatama-jkmm-architects?ad_medium=gallery, acesso em 08/06/2020. Figura 44: Fachada da escola Beacon com pátio externo. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/914018/beacon-school-andrade-morettin-arquitetos, acesso em 12/09/2020. Figura 45: Pátio interno. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/914018/beacon-school-andrade-morettin-arquitetos, acesso em 12/09/2020. Figura 46: Corredor e espaços comuns. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/914018/beacon-school-andrade-morettin-arquitetos, acesso em 12/09/2020. Figuras 47, 48 e 49: Salas de aula. Fonte: https://www.beaconschool.com.br/tour-360o/beacon-campus/, acesso em 12/09/2020. Figura 50: Pátio da escola Wish School. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/891456/wish-school-grupo-garoa, acesso em 09/09/2020. Figura 51: Crianças em aula em ambiente criado a partir do mobiliário. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/891456/wish-school-grupo-garoa, acesso em 09/09/2020. Figura 52: Ambiente para aula. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/891456/wish-school-grupo-garoa, acesso em 09/09/2020. Figura 53: Área comum com diferentes mobiliários. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/891456/wish-school-grupo-garoa, acesso em 09/09/2020. Figura 54: Planta de sala de aula tradicional. Elaboração própria da autora, 2020. Figuras 55, 56,57, 58, 59 e 60: Plantas de sala de aula com arranjos modificados. Elaboração própria da autora, 2020.


Figura 61: Foto do novo mobiliário proposto – cadeira. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figura 62: Foto do novo mobiliário proposto – carteira. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figura 63: Foto do novo mobiliário proposto – conjunto de carteira e cadeira juntos. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figura 64: Foto do novo mobiliário proposto – conjunto de estante e mesas. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figura 65: Foto do novo mobiliário proposto – torre de aprendizagem. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figura 66: Foto do novo mobiliário proposto – lousa móvel. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figura 67: Foto do novo mobiliário proposto – Painel. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figura 68: Foto do novo mobiliário proposto – Cesto com tapetes de atividades. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figura 69: Diagrama da transformação no formato das carteiras. Elaboração própria da autora, 2020. Figura 70: Diagramas de comparação entre o uso de carteiras retangulares e dos novos formatos. Elaboração própria da autora, 2020. Figura 71: Planta da sala de aula proposta. Elaboração própria da autora, 2020. Figura 72: Foto da maquete da sala de aula proposta. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figura 73: Foto aproximada da maquete da sala de aula proposta. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figura 74: Foto da maquete da sala de aula proposta vista de cima. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020.


Figura 75: Planta da sala de aula proposta com outro arranjo. Elaboração própria da autora, 2020. Figura 76: Foto da maquete da sala de aula proposta vista de cima com outros usos dos espaços livres. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figuras 77, 78, 79 e 80: Fotos aproximadas de diferentes usos do espaço. Foto e maquete elaboradas pela autora, 2020. Figura 81: Planta da sala de aula proposta com novo arranjo. Elaboração própria da autora, 2020.


Sumário

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Introdução

23 25 28

Salas de aula tradicionais e suas problemáticas Escola Viva Fundação Bradesco

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Abordagens pedagógicas que utilizam o espaço como ferramenta de ensino Método Montessori Pedagogia Waldorf Pedagogia Construtivista

31 32 34 35

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Escolas que aplicam conceitos das abordagens estudadas no espaço da sala de aula Jardim de Infância XinMeng Montessori, Xiamen - China, L&M Design Escola El Til·ler, BELLATERRA - ESPANHA, Eduard Balcells + Tigges Architekt + Ignasi Rius Architecture Escola Yellow Train, Coimbatore – India, Biome Environmental Solutions St. Nicholas School, Santana de Parnaíba – Brasil, Aflalo / Gasperini Arquitetos Escola Kalasatama, Helsinki – Finlândia, JKMM Architects Beacon School, São Paulo - Brasil, Andrade Morettin Arquitetos + GOAA - Gusmão Otero Arquitetos Associados Wish School, São Paulo - Brazil, Garoa

55 56 58 60

Proposta para uma nova sala de aula em espaços já existentes Mantendo quantidade e usos do mobiliário existente Redução do mobiliário e alteração dos usos Nova proposta

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Considerações finais

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Referências bibliográficas

35 37 40 42 44 48



Introdução

Passamos boa parte de nossas vidas dentro de salas de aula. Desde o início de nossa formação, e conforme a mudança de faixa etária, a composição desse ambiente não parece mudar muito da fase em que somos alfabetizados até o ensino médio. Geralmente, a primeira imagem que nos vem à cabeça quando pensamos nesse ambiente, é a de um espaço repleto de carteiras e cadeiras organizadas em fileiras voltadas para a lousa, espaço protagonizado pelo professor. Esse modelo tradicional de sala de aula, geralmente com carteiras individuais retangulares, armários com trancas, dentre outros elementos tradicionais, pode ser um empecilho para tornar a criança ou o adolescente uma figura independente do professor nesse espaço. Além disso, a maior parte do espaço é ocupada por esse mobiliário, impossibilitando a criação de diferentes ambientes para diferentes usos. Maturana já relatava isso em sua “Teoria da Cooperação”1, onde ele deu novas perspectivas para uma sociedade mais solidária. Para ele, a cooperação se faz presente em nosso cotidiano e depende de confiança e respeito mútuo. Ou seja, faz parte da formação de indivíduos mais solidários, ambientes que proporcionem aos alunos mais possibilidades de compartilhamento e mais independência em relação ao professor. Quando se pensa em modelos de sala de aula que diferem daquele tradicional, onde cada elemento deve ser adequado à faixa etária do aluno (o que inclui cores, carteiras, mesas, armários, bancadas, dentre outros), que ofereça uso livre dos espaços, e que não tenha o professor como protagonista, é comum a associação às escolas que seguem uma linha pedagógica específica, como a Montessori, por exemplo. É significativo o número de escolas que adotam o Método Montessori ou a Pedagogia Waldorf no Brasil: segundo o site Lar Montessori, existem cerca de 35 escolas no Brasil que utilizam o Método Montessori, enquanto a Pedagogia Waldorf tem pelo menos 250 escolas distribuídas por 21 estados brasileiros (CEEB, 2018). Ambos priorizam a liberdade da criança, o contato com a natureza e experimentações através do espaço. O objetivo desse trabalho é propor um ambiente de sala de aula que atenda diferentes abordagens pedagógicas, princi19


palmente as que veem o ambiente da sala de aula como instrumento principal para proporcionar ao aluno uma experiência de aprendizado ampla e que valorize a individualidade de cada criança, reconhecendo que cada uma tem seu tempo e seus interesses. A adequação desses espaços dentro dos critérios mencionados, não implica necessariamente na instituição de ensino seguir uma linha pedagógica específica, e sim usufruir de fundamentos das diferentes linhas estudadas para compor o ambiente, podendo ser aplicados inclusive em instituições públicas, pois não depende de mudanças na estrutura nem de grandes investimentos além da mudança do mobiliário. O trabalho inicia estudando a utilização do espaço da sala de aula de forma tradicional, ainda majoritariamente presente nas escolas brasileiras, utilizando projetos atuais para destacar alguns elementos. Depois, estuda-se abordagens pedagógicas que utilizem o espaço como ferramenta de aprendizado a fim de entender como o espaço pode proporcionar uma melhor experiência no desenvolvimento das crianças, e os diferentes métodos que podem ser utilizados para isso. Feito isso, inicia-se a análise de projetos de escolas que apliquem conceitos das abordagens estudadas, com elementos que serviram de base para as experimentações projetuais realizadas a seguir. Foram selecionadas leituras que analisam a influência do espaço no aprendizado como fundamento destas experimentações. Ao escolher o tema para o desenvolvimento desse trabalho, tive como base experiências vividas como auxiliar de educação infantil e relatos, além de um interesse pessoal pelo assunto. Com isso, já tinha uma noção de quais abordagens pedagógicas utilizavam o espaço como instrumento e a partir disso, estruturei esse trabalho. Embasei o trabalho em materiais disponíveis na internet em que eu pudesse consultar pesquisas sobre o impacto do ambiente no aprendizado das crianças, assim como em referências projetuais com que tive contato a partir de publicações especializadas em arquitetura e sites de escritórios, com destaque para projetos que pudessem mostrar a utilização do espaço de forma tradicional e de forma diferenciada (como em escolas Waldorf, por exemplo) a fim de estudar os elementos que os compõe. Inicialmente o plano de trabalho envolvia visitas à diferentes escolas, com diferentes abordagens pedagógicas, e entrevistas com professores e coordenadores, mas infelizmente o cenário de isolamento que estamos vivendo em 2020 impossibilitou que eu pudesse incluir essa parte no trabalho. Escolhi trabalhar com o espaço do ensino fundamental I por 20


considerá-lo um meio-termo: nessa fase, a criança já possui independência física e busca por independência intelectual, porém sua percepção do ambiente ainda está sendo desenvolvida. No capítulo 1, serão levantadas as problemáticas encontradas no padrão tradicional de salas de aula e como estão presentes nas escolas brasileiras, mesmo naquelas que possuem uma arquitetura de edifício mais elaborada. Após identificar esses problemas, no capítulo 2 falarei sobre as abordagens pedagógicas que utilizam o espaço como principal ferramenta no ensino, explicando como o ambiente deve refletir a mensagem a ser passada de acordo com cada metodologia. O capítulo traz referências de escolas de diferentes países que aplicam esses conceitos em sua arquitetura, tanto na escola como um todo, quanto nas salas de aula. No capítulo 3, apresentarei uma série de experimentações utilizando um modelo de sala tradicional como base (mantendo ou alterando o mobiliário, mantendo ou alterando usos, mas sempre mantendo a estrutura do espaço), aumentando o repertório base para a proposta de novos elementos e composições para o ambiente. Existem diversas escolas projetadas fora do padrão tradicional, com temáticas e conceitos específicos, porém aqui se propôs modificar o espaço de sala de aula em escolas já existentes dentro do padrão. A ideia é mostrar como pode-se passar de uma sala de aula com carteiras fixas viradas para a lousa, para uma sala lúdica, interativa e que se adapta às necessidades dos alunos, utilizando o espaço já existente.

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1. Salas de aula tradicionais e suas problemáticas

Ambientes com maior interação e liberdade dos alunos impactam positivamente na aprendizagem em sala de aula. Disposições de carteiras fixas viradas para a lousa, falta de conectividade com o restante da escola e seu exterior, dependência do aluno perante o professor, dentre outros, fazem parte de um modelo tradicional que pode limitar o aprendizado dos alunos. Já em 1930, o educador Anísio Teixeira propunha um novo conceito para o ambiente escolar com a Escola-Parque, quando ocupava a Secretaria de Educação do Estado (1947-1951) em Salvador (BA), onde a socialização e acesso à cultura eram valorizadas através de espaços na escola dedicados a realização de atividades que fossem além do ambiente de sala de aula. Segundo ele, o ato de aprender foi ressignificado ao longo do tempo: passou de ser uma simples memorização, para incluir a compreensão e expressão do que fora ensinado, e então, ganhar um modo de agir. Ou seja, o espaço da sala de aula deve oferecer ao aluno os instrumentos necessários para tais experimentações, e a flexibilização dos usos do mobiliário e do espaço facilitam essa ação. A psiquiatra e pedagoga Maria Montessori já observava os impactos positivos de um ambiente que dá mais liberdade às individualidades do aluno e incentivo à independência, no aprendizado das crianças. Ela foi a responsável pelo projeto “Casa das Crianças”, onde pôde implementar e transformar seus métodos de acordo com o que era observado na reação das crianças ao que era proposto. Ela observou que ao oferecer liberdade à criança, fosse para escolher a atividade, o material ou o espaço para realizar atividades, gerava autodisciplina (MONTESSORI, 1965). O também psiquiatra William Glasser (1998 apud Mendes, 2020) explica em sua “pirâmide de aprendizagem” a importância da experimentação para o aprendizado. Dentre seus estudos, ele chegou a dividir em porcentagem a eficácia de cada método de aprendizagem, sendo: 10% quando lemos; 20% quando ouvimos; 30% quando observamos; 50% quando vemos e ouvimos; 70% quando discutimos com outros; 80% quando fazemos; 95% quando ensinamos aos outros. Ou seja: o espaço em que a criança está inserida no ambiente escolar tem grande influência na formação do 23


aluno ao ampliar ou limitar as interações e experimentações cotidianas. A Pedagogia Científica se baseia em observações feitas pelo professor em sala de aula para que se possa fazer transformações a fim de melhorar o desenvolvimento dos alunos. Para isso, é necessário que o professor não protagonize o papel de figura central na sala, como alguém superior e distante dos alunos, e sim parte do grupo e facilitador das experiências de aprendizado. Augustín Escolan e Antonio Frago tratavam o espaço-escola como um mediador, um elemento fundamental do currículo como fonte de experiência. “Em resumo, a arquitetura escolar pode ser vista como um programa educador, ou seja, como um elemento do currículo invisível ou silencioso, ainda que ela seja, por si mesma, bem explícita ou manifesta.” (Escolan e Frago, 1995). Com isso, alguns elementos de um padrão tradicional de sala de aula podem se tornar obstáculos para tais desenvolvimentos. No Brasil, apesar de já existirem escolas que implementem no ambiente elementos de abordagens pedagógicas específicas, a maioria ainda utiliza um padrão tradicional de mobiliário de disposições no espaço da sala de aula, principalmente nas escolas públicas, que ganharam uma forma padronizada para a reprodução em escala industrial no Brasil no final do século XIX (Kowaltowski, 2011). A arquitetura escolar tem papel fundamental na construção de um ambiente rico em experiências positivas para alunos e professores, e isso se aplica principalmente na sala de aula, onde se passa a maior parte do tempo. A escolha de materiais, cores e mobiliário é fundamental para tal construção. Dentro disso, pode-se destacar como problemática nos modelos tradicionais de sala de aula: a falta de independência do aluno perante o professor, quando utiliza-se armários fechados para armazenamento de material complementar, ou lousa fora do alcance das crianças; carteiras muito grandes em formatos retangulares, que limitam o aproveitamento do espaço disponível em sala e a fluidez de passagem, induzindo maior permanência dos alunos em lugares fixos; ausência de mesas/balcões de apoio para atividades livres e de fácil acesso pelo aluno; ausência de espaços livres em sala de aula para diferentes atividades simultâneas; ausência de espaços expositivos de uso livre; dentre outros. No Brasil, possuímos escolas arquitetonicamente bem elaboradas, com espaços destinados às artes e atividades físicas, 24


Figura 1 Pátio da unidade de Ensino Médio da Escola Viva.

áreas verdes, espaços de uso comum com mobiliário interativo e bem desenhado, porém muitas ainda não levam essa arquitetura do edifício para o interior das salas de aula. Um exemplo de escola que conta com uma arquitetura do edifício bem elaborada e ainda utiliza um padrão tradicional de composição em sala de aula, é a escola Viva. A escola tem um ensino onde se valoriza a cultura, a arte e o desenvolvimento sustentável. O projeto de ampliação da escola feito pelo Verso Arquitetura setorizou o programa por pavimentos. A escola agora conta com diferentes ambientes para cada tipo de atividade, como laboratórios, biblioteca, salas de aula, dentre outros. Possuem espaços diferenciados para atividades de ateliê como atividades extracurriculares, mas as crianças passam a maior parte do dia nas salas de aula.

Figura 2 Cantina.

Parte da ampliação conta com a cantina, localizada no térreo. Aqui, a materialidade do mobiliário, feito em madeira, foi pensada como contraponto à frieza da estrutura metálica e do branco predominante no ambiente.

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Na biblioteca, o projeto de design de interiores segue na mesma linha da cantina: teve como propósito romper a monotonia minimalista do espaço, contando com um pouco mais de cor, com cadeiras coloridas e luminárias pendentes. As salas para atividades extracurriculares contam com mobiliário versátil e espaços com livre acesso à diferentes atividades.

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Figura 3 Biblioteca. Figura 4 Espaço para atividades extracurriculares.


Já nas salas de aula, o mobiliário segue o tradicional já visto na grande maioria das escolas atualmente: carteiras individuais, dispostas em fileiras direcionadas para a lousa (fixa), tendo a mesa do professor à frente de todos.

Figura 5 Sala de aula.

Vale destacar aqui que a mesa do professor segue um modelo bem diferente das mesas dos alunos: é grande, retangular e separada da cadeira. Já a dos alunos, segue um padrão universitário que impõe dificuldades para os trabalhos em grupo.

Nota-se também a ausência de mobiliário de apoio para atividades alternativas desenvolvidas dentro da sala de aula e ausência de cores no ambiente, exceto pelo azul das cadeiras e o verde da lousa. 27


Outro exemplo de escola com arquitetura em destaque que utiliza salas de aula tradicionais é a Fundação Bradesco, com projeto do Shieh Arquitetos Associados. Segundo a equipe de projeto, “As plantas foram organizadas para melhor atender alguns dos desafios impostos em um edifício vertical: grande fluxo de estudantes e limitação de pátios. Dessa forma, as alas de aula foram organizadas nos pavimentos mais baixos – à exceção do térreo inferior, que é dedicado à praça de chegada e refeitório. Com uso mais esporádico, as salas de uso especial ficaram no 2º pavimento. (...) Assim, o Térreo Superior acomoda 7 salas de aulas, enquanto o primeiro pavimento abriga outras 10, totalizando 17 salas. As salas de usos especiais, – como biblioteca, laboratórios e salas de estudos – foram alocadas no segundo andar, tendo em vista o fluxo reduzido de pessoas nesses espaços.” [¹]

A biblioteca conta com mobiliário totalmente adaptado à altura dos alunos, com prateleiras baixas e de fácil acesso. Conta com diferentes tipos de ambientes e assentos, possibilitando trabalhos em grupo, individuais ou apenas leitura.

[¹ ] FUNDAÇÃO Bradesco: Shieh Arquitetos Associados. Shieh Arquitetos Associados. 2017. Disponível em: https:// www.archdaily.com.br/ br/872135/fundacao-bradesco-shieh-arquitetos-associados?ad_medium=gallery. Acesso em: 20 out. 2020.

Figura 6 Corte perspectivado da Fundação Bradesco Unidade Osasco III. Figura 7 Biclioteca.

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Figura 8 Sala de estudos

Figura 9 Área comum da escola..

A sala de estudos já oferece menos possibilidades de atividades por possuir apenas mesas coletivas, porém conta com bancadas e nichos de apoio.

Espaços de uso livre pelos alunos estão distribuídos pelas áreas comuns para compensar o espaço reduzido nos pátios, devido à pouca área disponível para o edifício. São espaços que possibilitam diversas atividades, e que incentivam a interação dos alunos.

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Já nas salas de aula de uso comum, nota-se grande semelhança com as salas de aula da Escola Viva: tanto o mobiliário (que aqui se diferencia apenas no modelo das carteiras, que segue um padrão retangular), quanto nas cores e disposições dos elementos.

Figura 10 Área comum da escola

Figura 11 Sala de aula.

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2. Abordagens pedagógicas que utilizam o espaço como ferramenta de ensino

Existem diversas abordagens, teorias e métodos pedagógicos de diferentes seguimentos com diferentes fundamentos. Para o propósito desse trabalho, foram selecionadas as principais abordagens pedagógicas que tenham o ambiente escolar como um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento da criança e do adolescente. Método Montessori O Método Montessori é uma abordagem pedagógica desenvolvida pela médica e pedagoga Maria Montessori que surgiu como resultado de uma série de experimentações e observações sobre o comportamento das crianças em ambientes estruturados e não estruturados. Ela se apoia em três pilares: a criança, o adulto consciente e o ambiente preparado. O objetivo desse método é ajudar o desenvolvimento da criança em suas diferentes fases, abordando diferentes aspectos, como o sensorial, cognitivo, social, emocional, dentre outros. E, a principal forma de fazer isso, segundo o método, é dando liberdade e autonomia para a criança. Montessori (1946 apud Pensar Contemporâneo, 2018) dividia o desenvolvimento do indivíduo em fases, chamadas de “planos de desenvolvimento”: no primeiro plano (0 a 6 anos), a criança é uma “mente absorvente”, passando pela “mente inconsciente e consciente”. Primeiro ela adquire conhecimento sobre o mundo ao seu redor inconscientemente, e depois desenvolve habilidades como linguagem, conscientemente; no segundo plano (6 a 12 anos), a criança já possui independência física e adquire o desejo de conhecer além daquilo que vê ou toca, adquirindo independência intelectual, com questionamentos de “como”, “por que” ou “quando”; no terceiro plano (12 a 18 anos), Montessori caracteriza um novo nascimento, onde o indivíduo como adolescente passa por mudanças físicas e psicológicas, preocupado em ocupar seu espaço no mundo adulto; por fim, o quarto plano (18 a 24 anos) é o momento do indivíduo ingressar no mundo adulto, mantendo estabilidade emocional e social. Por trabalhar o espaço da sala de aula do Ensino Fundamental I, este trabalho se insere no “segundo plano de desenvolvimento”. Para que a criança tenha liberdade e crie sua independência, o ambiente em que vive ou estuda deve estar preparado 31


para ela: a criança deve ser capaz de usufruir de tudo que é importante no ambiente, sendo capaz de executar tarefas independentemente. Sendo assim, o mobiliário deve ser menor, proporcional ao tamanho da criança, ou deve haver um “banquinho” ou “escadinha” para que alcance aquilo que for mais alto do que si mesma, sendo comum o uso da chamada “torre de aprendizagem”, um móvel específico para esse uso. Assim, ela terá acesso ao que precisa sem depender de um adulto para auxiliá-la. O ambiente deve também ter cores claras e neutras, visto que o mundo externo já possui muitas informações para serem processadas pelas crianças; ser organizado, de modo a facilitar a visualização da criança e a recepção dela às informações; possuir materiais disponíveis para diferentes atividades, para que a criança possa escolher a atividade que quer fazer, e é comum o uso de tapetes que delimitem espaços para desenvolver a percepção da criança quanto à organização e limites do espaço. A eficácia desse método se dá pela constante reestruturação do ambiente em que as crianças estão inseridas, com base em observações dos adultos às suas necessidades. Ou seja, no ambiente escolar o espaço da sala de aula precisa estar apto a mudanças constantes na disposição de mobiliário, sendo possível mudá-lo e adaptá-lo para cada tipo de atividade proposta, não só pelo professor, como pelas próprias crianças. Atualmente, há cerca de 45 escolas que utilizam o Método Montessori no Brasil, segundo o mapa elaborado pelo site Lar Montessori, com maior concentração no sul e sudeste. Pedagogia Waldorf A pedagogia Waldorf é norteada pelo pensamento filosófico antroposófico de Rudolf Steiner, e surgiu em um cenário pós-guerra na Alemanha no ano de 1919, onde buscava-se uma nova ordem social, econômica e cultural. A direção da fábrica de cigarros alemã Waldorf-Astoria convidou Steiner para fazer conferências com temas educacionais a seus funcionários, e não só foi bem recebida, como gerou nos funcionários a vontade de criar uma escola para seus filhos fundamentada nos pensamentos de Steiner. Assim, foi criada a primeira escola Waldorf, em Estugarda. O objetivo dessa pedagogia é desenvolver indivíduos livres, mas moralmente responsáveis, com elevada consciência social e capacidade criativa. Para isso, a formação do indivíduo deve integrar o pensar, o sentir e o agir. 32


A arquitetura da escola e seu interior possui muitas definições dentro dessa pedagogia, sendo um dos pilares principais para garantir que a filosofia antroposófica seja aplicada da maneira pretendida no ambiente escolar. O indivíduo deve se sentir livre para apropriar o espaço e vivenciá-lo. Assim como no Método Montessori, a Pedagogia Waldorf divide o desenvolvimento do indivíduo em fases, sendo aqui, chamadas de “setênios”: no primeiro (0 a 7 anos), a criança adquire habilidades por meio de exploração do meio. As salas destinadas para crianças nessa fase devem ser uma extensão do lar, tendo uma atmosfera aconchegante e acolhedora, o que torna a escola uma representação da comunidade externa. O projeto da escola sendo realizado por inteiro baseado nessa pedagogia, deve mudar a forma das salas de aula conforme a idade das crianças avança, introduzindo ângulos aos poucos. Nessa idade, a planta da sala de aula deve ter um formato mais orgânico; no segundo setênio (7 a 14), o desenvolvimento se dá através das emoções, criatividade e sentimentos, sendo o artesanato uma excelente ferramenta. Aqui, a planta da sala de aula já ganha ângulos e se articula um pouco mais; no terceiro (14 a 21), a pedagogia Waldorf defende ser o momento certo para introduzir pensamentos abstratos, visto que o indivíduo já amadureceu suas capacidades mentais e morais. As salas de aula destinadas a essa fase já possuem formato mais firme, angular e articulado. O traçado das plantas passa por essas alterações para fazer com que o indivíduo, ao longo de seu desenvolvimento, perceba o conceito da criação das formas. É comum observar formatos trapezoidais nas salas, pois em formatos quadrados ou retangulares, onde as paredes são convergentes, tende-se a direcionar o olhar do aluno para uma parte específica da sala. Como o intuito é vivenciar todo o espaço, o formato trapezoidal democratiza o ambiente. Outros elementos arquitetônicos específicos são muito presentes na arquitetura antroposófica das escolas Waldorf, como repetição de esquadrias e pilares de modo rítmico representando a música, contato direto com a natureza (seja por vasos de plantas presentes nas salas de aula, seja por jardins acessíveis para os alunos explorarem ou por janelas que permitam a visualização de áreas verdes). Outro meio de estar em contato com a natureza é a valorização da iluminação natural, que pode acontecer de forma horizontal ou vertical com grandes aberturas (Migliani, 2020). Os materiais construtivos devem ser naturais, remetendo a um ambiente mais acolhedor e aconchegante, e mais uma vez, aproximando a criança da natureza. 33


Assim como as plantas das salas de aula mudam conforme a idade da criança avança, as cores desses ambientes também seguem uma cronologia. Para as crianças menores, a paleta de cores recomendada possui cores quentes, que remetem a atividades mais ativas, enquanto as crianças de idade intermediária devem estar em ambientes com cores mais frias, que induzem a maior concentração. Já para as mais velhas, utiliza-se tons contrastantes (como preto e branco), que estão relacionados a formas abstratas. A primeira escola Waldorf do Brasil foi criada em 1956, em São Paulo. No Censo Escolar da Educação Básica de 2018 é possível ver que 250 escolas seguem a pedagogia Waldorf no país. Pedagogia Construtivista A pedagogia construtivista é baseada na obra de Jean Piaget, um biólogo e psicólogo suíço que fez diversos estudos em torno da construção do conhecimento. Seus estudos giravam em torno da ideia de que o conhecimento é construído por meio das interações entre o indivíduo e o meio. Deram origem à diversas teorias de educação, todas voltadas a utilizar características específicas de cada fase da criança para desenvolver metodologias específicas para cada uma delas, a fim de melhorar o aprendizado. O ambiente em que a criança está inserida é parte fundamental na metodologia proposta por Piaget, visto que ele defende a capacidade da criança em aprender sozinha, tirando suas próprias conclusões daquilo que vivencia com a menor interferência possível do professor. Para isso, trabalhos em grupo e interação com outros alunos são incentivados nessa abordagem, e o ambiente precisa estimular o aluno a querer refletir, questionar e experimentar. Essa teoria condena os métodos tradicionais de avaliação do aluno, pois defende que cada criança tem seu tempo de aprendizagem. Uma aluna de Piaget, Emilia Ferrero, foi além: incluiu na teoria a conclusão de que a criança é capaz de se alfabetizar sozinha, desde que o ambiente a estimule a ter contato com as letras e textos. O conteúdo não é passado de uma forma convencional, onde o professor o passa e o aluno cópia. Ele é inserido pelo professor, que estimula os alunos a terem suas próprias reflexões e experiências. Ou seja, o conhecimento não é dado: ele se constrói a partir das interações sociais e experimentações palpáveis com aquilo que o ambiente lhes oferece.

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3. Escolas que aplicam conceitos das abordagens estudadas no espaço da sala de aula

Foram selecionadas escolas que independentemente da abordagem pedagógica que utilizam, possuam elementos pertencentes aos conceitos estudados. Os projetos incluem diferentes faixa etárias e pertencem a diferentes países. Jardim de Infância XinMeng Montessori, Xiamen - China, L&M Design

Figura 12 Espaço comum da escola XinMeng Montessori

O projeto da escola utiliza conceitos do Método Montessori, pensando no espaço da escola como um todo. Um dos elementos principais é a fonte de luz natural no pátio central, que permite que as salas recebam luz natural dos dois lados. Os chanfros arredondados permitem que as crianças circulem com segurança livremente, sendo a independência da criança, um dos pilares do método Montessori.

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Nas salas de aula, pode-se destacar diversos elementos que possibilitam a independência das crianças: mesas e cadeiras em tamanho reduzido, ausência de armários de armazenamento trancados ou fora do alcance delas, estantes e atividades totalmente acessíveis e “banquinho” para auxiliar no acesso daquilo que for mais alto que elas. As paredes contam com grandes aberturas, que possibilitam não só a entrada da luz natural, como a visualização do restante da escola, integrando espaços e aumentando a interatividade das crianças com o ambiente fora da sala de aula. Até mesmo pias e geladeiras foram adaptadas à altura das crianças para que elas possam comer e lavar a louça sozinhas.

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Figura 13 Sala de aula. Figura 14 Sala para atividades culinárias.


Escola El Til·ler, BELLATERRA - ESPANHA, Eduard Balcells + Tigges Architekt + Ignasi Rius Architecture

Figura 15 Fachada da escola El Til·ler.

Figura 16 Corte perspectivado.

Feita a partir da revitalização de 5 pavilhões de estrutura pré-fabricada, possui estrutura em concreto e vedações em madeira, fazendo com que a escola se conecte com a paisagem ao redor e seu interior traga aconchego.

O acesso às salas de aula se dá por conexões internas ou acesso direto pela área externa, eliminando corredores internos.

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As janelas se expandem à medida que as crianças crescem, sendo assim, possuem alturas diferentes para cada fase escolar e permitem uma conexão com o exterior que, no caso, possui muito verde, além de oferecer a entrada de luz natural.

As janelas ganham molduras em destaque entre os pilares estruturais, criando ambientes que possibilitam diferentes usos. Além disso, o contorno destacado dessas esquadrias induz o olhar da criança numa redução da escala do edifício, conectando-a ao espaço com maior aproximação. Os ambientes criados nas molduras são acessíveis às crianças a qualquer momento, assim como tudo presente no ambiente, e surgem em diversas formas de distribuição do espaço.

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Figuras 17, 18 e 19 Ambientes nas salas de aula.

Figuras 20 e 21 Diagrama das salas de aula e perspectiva expandida da escola.


A natureza está presente não só na área externa do terreno, como também em pequenos detalhes distribuídos no espaço. Seja em pequenos espaços dedicados nas salas de aula, seja nos acessos aos edifícios, as crianças têm acesso ao contato com a natureza no cotidiano.

Figuras 22, 23, 24 e 25 Varanda com bancos e vasos e ambientes com vasos na sala de aula.

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Escola Yellow Train, Coimbatore – India, Biome Environmental Solutions A escola foi projetada pensando em como o espaço poderia ser usufruído por completo pelos alunos, possuindo muitos ambientes internos acessíveis o tempo todo para atividades de recreação, visto que está localizado em uma região muito quente.

As salas de aula possuem 3 ambientes, onde um é destinado as atividades que necessitam da lousa, com mesas, outro com área livre para atividades diversas perto de paredes usadas como expositoras dos trabalhos feitos pelos alunos e, por fim, um destinado a recantos individuais para as crianças. As paredes trazem a mesma textura de tijolos aparentes do exterior da edificação, e juntamente com os tons quentes aplicados nos elementos do interior, criam uma atmosfera acolhedora. Vale destacar, que a sala de aula possui alguns elementos tradicionais, como a lousa fixa na parede e mobiliário para o professor bem diferente do dos alunos, destacando o professor como figura central. 40

Figura 26 Fachada da escola Yellow Train.

Figura 27 Crianças e professora em sala de aula. Figuras 28, 29, 30 e 31 Espaços comuns da escola, corredor com escorregadores e sala de aula.


Conexões e espaços livres para utilização das crianças estão presentes por toda a escola, sempre com a presença de muitos materiais naturais, como madeira e pedra. Trabalhos expostos nas paredes também podem ser vistos pelos ambientes.

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St. Nicholas School, Santana de Parnaíba – Brasil, Aflalo / Gasperini Arquitetos A escola, que vai da pré-escola ao ensino médio, tem um projeto com preocupação voltada, dentre outros questionamentos, à setorização dos níveis escolares. Os blocos se distribuem no terreno de forma intercalada com áreas verdes, permitindo que, apesar dos alunos serem divididos em setores infantil, fundamental e médio, haja permeabilidade entre eles.

A implantação dos blocos de forma não paralela criou pátios triangulares, possibilitando a visão de um bloco ao outro de forma indireta através das varandas que percorrem o lado externo das salas de aula. As varandas surgem como corredores de ambos os lados das salas, sendo um destinado à circulação, e o outro, às atividades artísticas. O espaço destinado às atividades possibilita diversos tipos de uso, de fácil acesso às crianças.

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Figura 32 Fachada da escola St. Nicholas.

Figura 33 Vista aérea 3D da escola.


Figura 34 Corte perspectivado da sala de aula com varanda e corredor. Figura 35 Área externa com jardim e passagens.

Todas as passagens e aberturas da escola se integram com as áreas verdes, que se intercalam ou fazem parte de áreas de lazer, recreio e contemplação. É possível notar elementos que dão liberdade e proporcionam independência aos alunos nas salas de educação infantil. A sala possui áreas para atividades em grupo, áreas de fácil acesso a materiais e brinquedos, tapete de atividades e uma lousa à altura das crianças. A estrutura do ambiente possui cores neutras, destacando apenas alguns elementos coloridos que combinam com o mobiliário escolhido. Apesar das mesas serem em grupos fixos, há bastante espaço na sala para a inclusão de ambientes destinados à outras atividades, sejam individuais ou em grupo.

Figura 36 Sala de aula.

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Escola Kalasatama, Helsinki – Finlândia, JKMM Architects Não só a implantação do edifício segue influência das ruas em formatos ondulantes de seu entorno, como os patamares ganham forma à medida que crescem junto com os alunos. Ele começa a partir da creche, na parte térrea, até atingir 3 patamares destinados à ala dos mais velhos. As salas de aula foram projetadas de modo que houvesse mais interatividade dos alunos com o ambiente e o professor, além de mobiliários multifuncionais que podem ser dispostos de diferentes formas no ambiente, eliminando o uso de mesas e cadeiras convencionais.

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Figura 37 Planta da escola.


Figura 38 Vista do corredor e área externa da escola Kalasatama.

Todos os equipamentos e funções técnicas do edifício são aparentes, de modo que os alunos podem observar e entender o funcionamento dele. A estética da estrutura pode não parecer tão aconchegante, mas o mobiliário compensa com bastante madeira em cor natural. Os ambientes não têm começo e fim definidos, e são conectados através de espaços multiuso. Todas as salas, incluindo as dos funcionários e professores, possuem grandes aberturas de vidro, criando um ambiente comunitário e integrado. Esta integração de ambientes torna a permanência na escola mais dinâmica, além de aproximar alunos de professores.

Figura 39 Sala de aula

A materialidade do ambiente foi pensada para oferecer maior conforto aos alunos, com destaque para o piso, visto que o uso de sapatos dentro da escola é proibido.

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Figuras 40 e 41 Salas de aula

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Figuras 42 e 43 Salas de aula.

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Beacon School, São Paulo - Brasil / Andrade Morettin Arquitetos + GOAA - Gusmão Otero Arquitetos Associados A escola, localizada em São Paulo, está localizada em um antigo bairro industrial na área central da cidade e foi adaptada a galpões dessa época. A arquitetura da escola reflete a pedagogia adotada, onde se incentiva a interação de alunos de diferentes idades, não só entre si, mas com o corpo docente e funcionários, através de ambientes integrados.

Os novos elementos incorporados ao projeto se contrapõem à frieza dos galpões existentes, adaptando a escala do mobiliário à escala das crianças, com materiais leves que remetem ao aconchego. A madeira está presente desde o mobiliário, até à estrutura e vedações. A integração de alunos através dos espaços já pode ser percebida nos corredores das salas de aula: o ambiente criado em madeira para alocar mochilas fica ao lado de fora da entrada de cada sala, criando não só um senso de responsabilidade perante ao espaço que deve ser dividido com outros alunos da mesma turma, como possibilita momentos 48

Figura 44 Fachada da escola Beacon com pátio externo.


de interação com alunos de outras turmas. As salas de aula possuem muita madeira na materialidade, e dispõe de alguns elementos que se assemelham à elementos de uma sala de aula tradicional (carteiras retangulares individuais lousa fixa na parede), porém se diferenciam no modo como a sala é composta e os ambientes criados no espaço.

Figura 45 Pátio interno.

A ausência de mobiliário inacessível aos alunos dá liberdade para que escolham as atividades que desejam realizar, além de espaços expositivos por todas as paredes. Isso é possível através de escala reduzida à altura das crianças, além da ausência de portas ou trancas nos armários. As cores das salas se mantem neutras, com poucos pontos de cores em algumas mobílias e principalmente, pelos trabalhos expostos das crianças. 49


As salas contam com outros mobiliários além dos tradicionais, como pequenos sofás para uso livre com estantes baixas com livros e materiais diversos à disposição. Todo material é acessível às crianças, com salas que contam com uma quantidade menor de alunos por turma, o que dá mais espaço dentro da sala para outras atividades que não dependem da carteira.

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Figura 46 Corredor e espaços comuns. Figura 47 Sala de aula.


Figuras 48 e 49 Sala de aula.

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Wish School, São Paulo - Brazil, Garoa Localizada no Tatuapé, a escola Wish School tem uma educação holística. A arquitetura da escola procura acompanhar a pedagogia adotada. Os espaços da escola não possuem delimitação clara, e se conectam de forma contínua. Ambientes formais e informais se integram, cada qual com suas características. Os alunos e professores se apropriam dos ambientes de diferentes formas, para diferentes atividades: um canto embaixo da escada vira um canto para leitura, mesas do refeitório abrigam reuniões dos professores, bancos viram mesas para diversas atividades, e assim por diante.

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Figura 50 Pátio da escola Figura 51 Crianças em aula em ambiente criado a partir do mobiliário.


É possível ver através das fotos a clara integração que ocorre na escola como um todo, onde o próprio mobiliário, que é móvel, pode servir de divisória para criar ambientes. Os ambientes de sala de aula não precisam necessariamente serem fechados, nem contam com todos os elementos que usualmente vemos nesses ambientes, como lousa ou mesa do professor. Figura 52 Ambiente para aula. Figura 53 Área comum com diferentes mobiliários.

Os alunos se apropriam da escola como um todo, visto que o espaço não os induz a ocuparem um espaço específico para cada tipo de atividade. A escola como um todo funciona como sala de aula, criando um espaço dinâmico.

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4. Proposta para uma nova sala de aula em espaços já existentes

Para propor uma mudança dos elementos e suas composições, foi pensado em como o espaço da sala de aula poderia ser transformado de modo a proporcionar maior interatividade e liberdade ao aluno, estando apto a oferecer experimentações que contribuam no desenvolvimento cognitivo, emocional e intelectual. Para isso, a escola não precisa necessariamente seguir uma linha pedagógica como as estudadas anteriormente, mas a sala de aula pode surgir como protagonista ao fundamentar sua ocupação em alguns dos princípios das abordagens estudadas. Para isso, não há necessidade de grandes reformas em um espaço já existente, e sim uma mudança do mobiliário e disposição dos elementos tradicionais, podendo apenas alterar as cores das paredes, por exemplo. Para o início das experimentações, foi escolhida uma sala de aula tradicional com elementos e disposições padrões conforme o que foi levantado anteriormente. A escolha se deu com base na necessidade de o projeto atender aos critérios de uma sala de aula tradicional, servindo como base para uma série de experimentações que incluem a alteração na disposição do mobiliário, de usos, e compartilhamento. Figura 54 Planta de sala de aula tradicional.

A sala conta com uma lousa fixa disposta em uma das paredes, carteiras retangulares, mesa do professor diferente da dos alunos e um armário de armazenamento

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Mantendo quantidade e usos do mobiliário existente Na primeira série de experimentações, todo o mobiliário original foi mantido, alterando apenas a disposição, para entender como esse espaço pode oferecer mais usos e como isso pode alterar a dinâmica da aula. Ao utilizar o mobiliário existente, nota-se como é possível aplicar alguns conceitos das abordagens pedagógicas estudadas sem grandes mudanças ou com um custo zero, algo que pode ser muito benéfico para escolas públicas brasileiras, por exemplo. Nessa primeira parte da série, as carteiras estão em uma disposição que ainda se aproxima do tradicional, mas já mostra maior fluidez e interação entre os alunos. Esse layout e disposição mostra-se capaz de atender a atividades que necessitem do uso da lousa ou que exijam maior atenção do professor aos alunos (como em provas, por exemplo).

Aqui, as carteiras foram agrupadas em grupos de 6, tirando o professor da posição frontal da sala, inserindo-o mais próximo aos alunos. Também houve uma quebra da necessidade de todas as carteiras estarem viradas para a lousa, já incentivando maior dinamismo nas aulas. 56

Figura 55 Planta de sala de aula com arranjos modificados.


Figura 56 Planta de sala de aula com arranjos modificados.

Grupos maiores foram formados a fim de obter espaços sem mobiliário para que possibilitassem diferentes usos. As crianças podem se sentar no chão, criarem pequenos grupos de discussões ou simplesmente desenvolverem alguma atividade alternativa fora da carteira, tanto individualmente quanto em grupo. Figura 57 Planta de sala de aula com arranjos modificados.

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Redução do mobiliário e alteração dos usos Nessa série, o mobiliário original ainda é mantido, porém, há redução da quantidade dele, além da alteração de alguns usos. As carteiras são compartilhadas, o que possibilita essa redução e “sobra” de carteiras para diferentes finalidades. Aqui a disposição do mobiliário permite maior atenção ao professor. A redução do mobiliário permitiu a alteração do uso de algumas das mesas para que possam ser utilizadas como apoio, para compartilhamento de materiais, atividades alternativas ou que necessitem de mais espaço.

Figura 58 Planta de sala de aula com arranjos modificados.

Na próxima planta, as carteiras compartilhadas são divididas em trios, a fim de criar pequenos grupos, tornando a circulação mais fluida. As mesas de apoio aparecem centralizadas e de fácil acesso para cada um dos grupos, sendo uma superfície que possibilita diferentes usos, como: jogos, discussões em grupo, exposição de trabalhos, dentre outros.

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Figura 59 Planta de sala de aula com arranjos modificados.

Figura 60 Planta de sala de aula com arranjos modificados.

Ao alinhar as mesas de apoio no fundo da sala, cria-se também um ambiente para possível estudo individual mais reservado, além de liberar espaço no restante da sala para outros usos. É nítido o ganho de novas possibilidades dentro de um mesmo ambiente apenas alterando o uso do mobiliário existente, mostrando visualmente ser possível um maior compartilhamento entre alunos e professores. Um conceito interessante a ser observado nessa série de experimentos é o fato da mesa do professor ser igual as dos alunos, tirando o professor como figura protagonista do espaço e podendo ser facilmente incorporada às fileiras junto com os alunos.

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Nova proposta Para a proposta, manteve-se a estrutura da sala de aula, modificando apenas o mobiliário. Este, teve como princípio ter um formato que possibilitasse diversos layouts, de modo integrado e fluido. A lousa deixa de ser fixa e deixa de ser um elemento principal para ser um elemento móvel, tornando-a mais acessível ao uso dos alunos de acordo com a dinâmica da aula. Foi acrescentada uma estante baixa e fixa de armazenamento de fácil acesso a todos da sala, podendo ser usada como apoio, além de duas mesas em conjunto com esse móvel que podem ser facilmente movidas pela sala. Há também, tapetes disponíveis aos alunos que quiserem realizar atividades no chão, um painel na parede que serve como área expositiva dos trabalhos e uma torre de aprendizagem (móvel que serve como uma escadinha com proteção) para que os alunos possam utilizar esse painel livremente sem a necessidade de ajuda do professor. Os elementos incorporados nessa proposta são: - Carteiras de semi-círculo com pés em madeira natural e tampo de madeira branco - Cadeiras amarelas de plástico com pés em madeira natural

- Conjunto de estante e duas mesas, todas em madeira natural - Torre de aprendizagem em madeira natural - Lousa móvel em madeira natural

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Figura 61, 62 e 63 Fotos do novo mobiliário proposto. Respetivamente: cadeira, carteira e conjunto de carteira e cadeira juntos.


Figura 64, 65 e 66 Fotos do novo mobiliรกrio proposto. Respetivamente: Conjunto de estante e mesas, lousa mรณvel e torre de aprendizagem.

- Painel de cortiรงa fixo na parede - Cesto com tapetes para atividades - Paredes em tons neutros e frios, sendo uma azul claro e o restante branco.

Figuras 67 e 68 Fotos dos novos elementos propostos. Respectivamente: Painel e cesto com tapetes de atividades.

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No diagrama abaixo é possível ver a transformação que levou ao novo formato das carteiras, levando em consideração a área geralmente mais utilizada da superfície.

Além disso, o agrupamento das mesas neste formato integra mais os alunos, oferecendo um campo de visão maior com relação aos colegas

Figura 69 Diagrama da transformação do formato das carteiras.

Figura 70 Diagramas de comparação entre o uso de carteiras retangulares e dos novos formatos.

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Nas plantas abaixo é possível analisar como o novo formato das mesas favorece o fluxo da sala. Ele possibilita que os alunos se movimentem pela sala à medida que acharem necessário, podendo se desvincular dos grupos ou se integrar a outros sem dificuldades. O professor deixa de ter uma mesa necessariamente separada dos alunos, podendo se conectar aos grupos formados com mais facilidade, além de deixar de ser a figura em destaque no espaço. O balcão fixo induz melhor o seu uso por aparecer como um elemento em destaque, sem interferir o fluxo ou dinâmica da sala.

Figura 71 Planta da sala de aula proposta.

Uma das paredes será pintada com um tom suave de azul, seguindo critérios tanto da pedagogia Waldorf quanto do Método Montessori, por se tratar de uma cor clara e fria. O mobiliário se mantém em cores neutras e predominantemente em madeira. As possibilidades de layout aumentam muito com esse novo

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Figura 72 Foto da maquete da sala de aula proposta. Figura 73 Foto aproximada da maquete da sala de aula proposta.

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formato de carteiras. Elas podem ser agrupadas em 4, formando círculos; podem ficar separadas individualmente; podem formar fileiras contínuas ao redor da sala, dentre outras diversas possibilidades. Com isso, surgem muitos espaços livres na sala para uso dos tapetes, movimentação da lousa e utilização das mesas de apoio. Numa mesma disposição de carteiras, os alunos podem

Figura 74 Foto da maquete da sala de aula proposta vista de cima. Figura 75 Planta da sala de aula proposta com outro arranjo.

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desfrutar dos espaรงos livres de diferentes maneiras, utilizando diferentes elementos.

Figura 76 Foto da maquete da sala de aula proposta vista de cima com outros usos dos espaรงos livres.

Figuras 77 e 78 Fotos aproximadas de diferentes usos do espaรงo.

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Figuras 79 e 80 Fotos aproximadas de diferentes usos do espaço.

Figura 81 Planta da sala de aula proposta com novo arranjo.

Vale destacar que a altura de toda a mobília é reduzida por se tratar de mobiliário infantil, podendo ser a mesa do professor mais alta que o restante (mas do mesmo modelo das dos alunos).

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5. Considerações Finais

Ao decorrer das leituras e análises das referências, parecia ficar claro o quanto o ambiente pode influenciar no aprendizado das crianças, porém as experimentações projetuais é que possibilitaram uma melhor visualização de como pequenas modificações de layout e uso podem transformar a sala de aula em um espaço muito mais fluido e funcional. Ao utilizar o mobiliário existente na primeira série de experimentações, pôde-se notar como é possível aplicar alguns conceitos das abordagens pedagógicas estudadas sem grandes mudanças ou com um custo zero, algo que pode ser muito benéfico para escolas públicas brasileiras, por exemplo. Já na segunda série, é nítido o ganho de espaço e novas possibilidades dentro de um mesmo ambiente apenas alterando o uso do mobiliário existente, mostrando visualmente ser possível um maior compartilhamento entre alunos e professores. Um conceito interessante a ser observado é o fato da mesa do professor ser igual as dos alunos, tirando o professor como figura protagonista do espaço. Ao alterar o mobiliário na terceira série de experimentos, as possibilidades aumentam ainda mais, visto que o novo formato é favorável para trabalhos em grupos de diversos tamanhos e formas, e mesmo possuindo mesas individuais para cada aluno, ganha-se muito mais espaço. Isso facilita a mudança da disposição do mobiliário a todo instante, podendo se adaptar dependendo da atividade proposta no momento. Com isso, conclui-se que a arquitetura escolar deve considerar os elementos do espaço da sala de aula e não só a estrutura do edifício, não precisando necessariamente ter uma sala para cada tipo de atividade e sim, possibilitar diferentes usos no mesmo espaço.

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Novembro de 2020


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