Ciclo Litúrgico. O Ano da Igreja, qual a importância? Ano Litúrgico é o conjunto das celebrações através das quais são refletidos, orados e celebrados todos os principais acontecimentos cristãos (festas cristãs). Nele se considera um Deus prometido que é esperado. Esse mesmo Deus foi feito homem e depois morreu numa cruz e, o mais importante, ele ressuscitou! O Ano Litúrgico segue uma ordem lógica: encarnação, nascimento de Jesus, ministério de Jesus, paixão, morte, ressurreição, etc. Por meio dele se reflete a ação do Deus Triúno na vida da humanidade. Mas há, ainda, espaço para que se celebre a colaboração que foi dada ao plano de Deus por parte de outras tantas pessoas: Maria, José, João Batista, os apóstolos. Trata-se de uma caminhada de ensino, teológica e espiritual, tendo em vista a parusia ou a liturgia na vida eterna (Ap 21—22). É interessante que se considere, embora brevemente, a formação do Ano Litúrgico e seu estado atual. Formação do Ano Litúrgico A formação foi do ciclo litúrgico foi lenta, mas contínua. O ponto de partida foi a Páscoa que era celebrada todos os domingos, isto é, o “primeiro dia da semana” (Cf. At 20.7-11). Uma vez fixada sua data da Páscoa para celebrá-la com mais solenidade, automaticamente foram surgindo os dias das festas a ela relacionadas: • Ascensão (40 dias após a ressurreição (At 1.6-11); • Pentecostes (50 dias depois da comemoração da Páscoa (Lv 23.15-16; At 2.1-4). • Do mesmo modo foram escolhidos os dias para Domingo de Ramos, Última Ceia, Paixão e Morte de Jesus. • A Quaresma surgiu para dar oportunidade aos que estavam sendo instruídos, de melhor se prepararem para o batismo, na Páscoa. Mas existem outros acontecimentos, ligados à vida de Jesus, que são mais difíceis de serem colocados no calendário com exatidão. Por exemplo, a comunidade cristã estava interessada em celebrar o nascimento de Jesus, e os evangelistas não disseram uma só palavra a respeito do dia e do ano. Tinham consciência de que não escreviam a biografia do Mestre. Mais que dados cronológicos, se interessaram pelos acontecimentos, pelos fatos do Emanuel (Deus-conosco). Circunstâncias históricas levaram a escolher o dia 25 de dezembro como a data do nascimento de Jesus. Na ocasião, os romanos celebravam o solstício1 do inverno. Para eles, aquela noite começava a ser menos longa. Era a vitória da luz sobre as trevas. Havia, então, uma festa pagã de Natalis invicti, isto é, do deus-menino-sol que nascia e crescia para impor o domínio da luz. O significado se prestava para a mensagem do Natal: Jesus, o sol da justiça (Ml 4.2), Jesus, a luz do mundo (Jo 8.12). Deste modo, a festa pagã foi cristianizada e se passou a celebrar o nascimento do Senhor no dia 25 de dezembro. As primeiras notícias que temos dessa celebração estão no Cronógrafo de 354.
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Cada uma das duas datas do ano em que o Sol atinge o maior grau de afastamento angular do equador, no seu aparente movimento no céu, e que são 21 ou 23 de junho (solstício de inverno no hemisfério sul e de verão, no hemisfério norte) e 21 ou 23 de dezembro (solstício de verão no hemisfério sul e de inverno, no hemisfério norte). [Houaiss Eletrônico]
Como consequência lógica, é escolhido o dia 25 de março para o Anúncio do Nascimento de Jesus (Lc 1.26-28.) e outros dias, perto do Natal, para celebrações como: A visita dos Magos (Mt 2.1-2) no dia 6 de janeiro. Mais ou menos da mesma maneira foram sendo escolhidos dias especiais para se comemorar outras datas importantes. Assim foi se formando o atual Ano Litúrgico. Ano litúrgico, hoje A natureza repete anualmente as quatro estações e, repetindo, parece renovar-se. É uma caminhada cíclica onde se sente a retomada de forças. Por meio destas estações entramos avançamos nos acontecimentos da vida e de suas manifestações. A vida se repete anualmente, mas não de maneira idêntica: ela traz sempre algo novo. É como repassar num mesmo lugar, porém num período diferente e sempre a caminho do que está por vir. Assim acontece com o Ano Litúrgico. Ele volta sempre ao ponto de partida. Anualmente é apresentado o mesmo acontecimento, por exemplo, o Natal. Só que cada vez ele é iluminado diferentemente pelos textos paralelos dos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Este último, preenche determinados espaços vazios deixados pelos Evangelhos Sinóticos2. Exemplo: só o Evangelho de João fala do lava pés, passagem proclamada na Quinta-feira Santa: Jo 13.1-5.). Além disso, o cristão que hoje medita deverá estar mais enriquecido do que quando o fez no ano anterior, pois a Palavra de Deus não deixa de produzir o seu fruto: (Is 55.10-11). Com isto, de celebração em celebração, de ano em ano, se encaminha para a concretização, para o encontro com Cristo, para a liturgia sem fim: (Ap 21—22). O desenho, a seguir, pode ilustrar o que se está dizendo. Como não poderia deixar de ser, o Ano Litúrgico começa com o Advento, que é a preparação para o Natal, e termina com o Último Domingo do Tempo Comum (após Pentecostes). A partir daí, começa um outro Ano Litúrgico.
Advento são as quatro semanas que antecedem o Natal e prepara nosso coração para melhor entendermos os acontecimentos e nos maravilharmos com eles. A seguir vem o Natal e festas a ele relacionadas. A Semana Santa é precedida pela Quaresma. São cinco semanas preparatórias para as grandes celebrações do cristianismo: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Começa na Quarta2
Os evangelhos de Mateus, Marcos, e Lucas são conhecidos como Evangelhos Sinóticos devido ao fato de conterem uma grande quantidade de histórias em comum, na mesma sequência, e, algumas vezes, utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras. Tal grau de paralelismo relativo ao conteúdo, narrativa, linguagem e estruturas das frases, somente pode ocorrer em uma literatura interdependente. Muitos estudiosos acreditam que esses evangelhos compartilham o mesmo ponto de vista e são claramente ligados entre si.
feira de Cinzas. Na Semana Santa, além de Ramos, se celebram a Última Ceia, a Morte do Senhor Jesus e a sua Ressurreição. Após a Ressurreição, seguem seis semanas nas quais se rememora a vitória da vida sobre a morte, o triunfo de Cristo, o triunfo da humanidade. Na Quinta-feira após o 6º Domingo de Páscoa é a 5º solenidade da Ascensão. No Brasil, por não ser feriado, a Ascensão é celebrada no domingo seguinte, que seria o 7º de Páscoa. Também as solenidades de Pentecostes e Santíssima Trindade ocupam domingos de Tempo Comum, sendo que com a primeira festa se encerra o ciclo pascal. As restantes 34 semanas do ano constituem o Tempo Comum. Ele está entre o ciclo natalino e a Quaresma, assim como entre o ciclo pascal e o Advento posterior. Estas duas partes, a saber, a que intermedeia o ciclo natalino e a Quaresma, e a que intermedeia o ciclo pascal e o Advento posterior, variam de tamanho, de ano para ano, conforme a Páscoa, que é festa móvel, isto é, que não tem data fixa, está mais próxima ou mais distante do Natal. Exemplo: 1991 - Páscoa: dia 31 de março; 1992 - Páscoa: dia 19 de abril. Com isso, em 1991, entre o ciclo natalino e a Quaresma foram colocados cinco domingos do Tempo Comum. Entre o ciclo pascal e o Advento, os restantes 29 domingos. O mesmo não se dá em 1992, pois a Páscoa está mais perto do Natal do mesmo ano. Portanto, sobrará mais espaço entre o ciclo do Natal e a Quaresma. Justamente por esta razão, entre ambos foram colocados oito domingos do Tempo Comum. Os restantes 26 ficaram entre o ciclo pascal e o Advento. Nessas alturas é de se recordar que o 1º Domingo do Tempo Comum é substituído pela celebração do Batismo de Jesus, assim como o 34º é pela solenidade de Cristo Rei. Durante o Tempo Comum acontecem solenidades como Santíssima Trindade, Corpo de Deus. a) início do Advento e do Ano Litúrgico que não coincide com o ano civil. Durante quatro semanas (Advento) a Igreja se prepara para o mistério natalício do Senhor. Tem início o ciclo natalino. b) Natal. Até a solenidade do Batismo do Senhor, a liturgia respira o ambiente da gruta de Belém. c) Batismo de Jesus. Com esta celebração se encerra o ciclo natalino. A partir daí, tem início o Tempo Comum. d) Tempo Comum. O espaço entre o Batismo de Jesus e a Quaresma é preenchido por um determinado número de domingos. A quantidade varia conforme a localização da Páscoa no ano em curso, como se falou acima. É a primeira parte do Tempo Comum. e) Com a Quarta-feira de Cinzas começa a Quaresma. São cinco semanas que culminam na Semana Santa. f) Páscoa. A ela segue uma série de sete domingos, chamados domingos de Páscoa. g) Pentecostes. Termina o ciclo pascal que começou com a Quaresma. h) Tempo Comum. Continua a partir da interrupção acontecida por ocasião da Quaresma, como se vê na letra d. i) Último domingo do Ano Litúrgico (também chamado de Festa do Cristo Rei). Seria o 34º Domingo do Tempo Comum. Depois desta solenidade começa um outro Ano Litúrgico, começa o Advento. Numa leitura apressada e superficial um culto é cópia do outro. Porém, não é o que acontece; cada culto está localizado num determinado ponto do Ano Litúrgico. Portanto cada culto é portador de mensagens próprias. Além da Santa Ceia, que teve início na Páscoa, mas é celebrada durante todo o ano, cada culto tem acontecimentos próprios da época a serem recordados. O exemplo, embora singelo, pode ilustrar o que afirmamos: é possível comer arroz todos os dias; a variação do tempero deixará a impressão de se estar comendo alimento diferente. O
tempero ou o modo diferente de se preparar o arroz dão o toque especial, deixando a impressão de se comer algo completamente novo. Ignorar o momento litúrgico que se vive é empobrecer sobremaneira a riqueza dos acontecimentos. As memórias próprias das festas ou do tempo litúrgico são melhor detectadas e evidenciadas pelas chamadas partes móveis do culto: orações, leituras, cânticos. São como o tempero que dá o sabor especial à comida. Conhecer o Ano Litúrgico é condição fundamental para melhor entrar na alma das celebrações. Seria uma gafe verdadeiramente desastrosa, no convívio social, confundir um aniversário ou um casamento com um funeral. Para cada ocasião existe uma celebração e é importante que se saiba qual é o acontecimento que está sendo celebrado. E é precisamente o evento que faz com que uma celebração seja diferente da outra. Então, o conhecimento do evento celebrado faz com que se assuma este ou aquele ritual. ADVENTO E NATAL Se na vida social existem tantos eventos, o mesmo se dá no Ano Litúrgico. É perfeitamente compreensível que ele comece com o Natal. Com esta solenidade meditamos, para viver, o grande dom do Pai para a humanidade, Cristo vem a nós, para que por meio dele possamos chegar ao Pai: Jo 14.6. A celebração deste acontecimento cria condições para se viver o Natal eterno. Sendo uma solenidade tão marcante no Ano Litúrgico, é antecedida pelo Advento, que é o período de preparação. Advento significa chegada. Tudo conclama pela especial vinda do Senhor: cânticos, orações, leituras. Assim a Igreja se prepara igualmente para a vinda definitiva de Cristo. Há uma conotação de penitência, no Advento, pois é como se sentisse ainda a falta de alguém. A cor litúrgica é azul ou roxo. Ao lado da ausência daquele pelo qual se clama, há uma certeza: ele vem, ele está cada vez mais próximo, não se espera em vão. Então se faz presente também um clima de alegria. Por isso é comum o uso do paramento rosa no 3º Domingo do Advento, também conhecido como Domingo Gaudete = alegrai-vos. Do início do Advento até o dia 16 de Dezembro, o clima é de preparação remota, enquanto que a partir do dia 17, respira-se a proximidade do Natal com textos e antífonas especiais. O Natal é o ponto alto do ciclo natalino que começa com o Advento. Nele se celebra o mistério do “Deus-conosco”, o qual será vivido um dia plenamente na separação entre o Pai e a humanidade, levantado pelo pecado: Gn 3.23-24. É a manifestação da predileção divina para com o povo de Israel, e a Epifania mostra que este amor se abre para todos os povos. Outras solenidades como Maternidade de Maria, Sagrada Família, celebradas na ocasião, de maneira alguma rompem o clima amoroso da gruta de Belém. A partir do Natal, a cor é festiva: branco. Após a Epifania seguem-se uns domingos do Tempo Comum. Quanto ao número destes domingos, como já se falou, depende da maior ou menor proximidade da Páscoa. A cor do Tempo Comum é o verde. TEMPO COMUM O que é o Tempo Comum? Antes de se responder, é importante distinguir o mistério Cristo do mistério de Cristo. Por mistério Cristo se celebra alguém que se tornou o único em nossa vida: Cristo. No Ano Litúrgico o Senhor é diferentemente celebrado: ora como criança, ora como alguém torturado e morto na cruz, ora como ressuscitado, ora como exaltado junto do Pai. Tudo é feito nas diversas solenidades, nos ciclos dos quais se falou.
Todavia, o Ano Litúrgico reflete também o que Jesus fez e ensinou. Por exemplo, o mandamento do amor, o perdão, a preocupação com os sofredores, com os pecadores. Então, se o mistério Cristo se celebra Jesus, no mistério de Cristo se celebram os ensinamentos de Jesus, o que fez e como viveu. Durante o Tempo Comum não celebramos os mistérios de Cristo. Este período da liturgia é bastante rico e variado, completando as celebrações dos ciclos e dos tempos especiais. PÁSCOA A Páscoa, como o Natal, é precedida por um período dilatado de preparação: a Quaresma. São cinco semanas que antecedem a Semana Maior (Semana Santa) a partir da Quarta-feira de Cinzas. O espírito deste período é marcadamente penitencial. No passado a Quaresma se reduzia a uns dias de oração, de jejum e abstinência antes da Páscoa. Recordando o prolongado período de recolhimento feito por Jesus (Mt 4.2), a Quaresma passou a ter 40 dias. A cor é o roxo. As orações e as leituras quaresmais insistem no tema da redenção onerosa do Filho de Deus. Depois do 5º Domingo da Quaresma começa a Semana Santa. O ponto alto é o Tríduo Sacro: Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Páscoa, com grande destaque para a Vigília Pascal. Na Quinta-feira Santa (paramentos brancos) se celebram: a Última Ceia, o Lava-pés, a Instituição da Santa-Ceia. É um dia carregado de sentido e de acontecimentos. Sexta-feira Santa: paramentos pretos. Toda a atenção da Igreja se volta para o drama de amor do Filho de Deus que é injustiçado, torturado, assassinado, levado à pior das mortes (cruz), num esforço de ser apresentado como maldito de Deus: Dt 21.22-23. No Sábado Santo, os paramentos pretos. À noite tem início a Vigília Pascal. É reconhecida como a mãe das vigílias. A cada momento cresce o clima de esperança, de alegria e de festa. A celebração é movimentada e carregada de sentido. Lamentavelmente a maioria dos cristãos, incluindo tantos que se consideram engajados e mais esclarecidos, não descobriu a solenidade e a riqueza desta noite das noites, que com suas trevas é capaz de iluminar o mais claro dos dias. Vem a seguir a Celebração da Ressurreição ou Culto de Aleluia. Celebra-se não só o triunfo de Jesus, como o da humanidade, em Cristo. Sabe-se que não vivemos em vão. Por muitos anos e para aliviar o período rigoroso de jejum, passou-se a celebrar a Vigília Pascal no Sábado Santo pela manhã. Tanto que era conhecido como Sábado de Aleluia. Reformas litúrgicas restituíram o antigo horário noturno, evocando os cristãos que passavam a noite em vigília, rezando, cantando, proclamando a Palavra, iluminados e aquecidos pela fogueira. Até o raiar da aurora, quando celebravam com júbilo a ressurreição do Senhor. Atualmente a celebração da Páscoa é antes da meia-noite. É que para os judeus o dia não começa à zero horas e sim com o surgimento da primeira estrela. Então, ao escurecer do Sábado Santo, para todos os efeitos, começam os primeiros momentos do Domingo. Com a Páscoa, maior solenidade cristã, tem início o período pascal. São sete domingos, por sinal, chamados de Páscoa: 2º, 3º Domingo de Páscoa etc. A cor é a branca. O ciclo pascal, que inclui a Quaresma, termina com a solenidade de Pentecostes celebrada com paramentos vermelhos. Ascensão e Pentecostes ocupam os últimos domingos de Páscoa. O Tempo Comum, que foi interrompido pelo início da Quaresma, recomeça a partir do Ciclo Pascal. Esta segunda parte termina com a solenidade de Cristo Rei, que é celebrada com paramentos brancos. E como já se falou, com esta festa termina o Ano Litúrgico.