Praças sensoriais

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PRAÇAS SENSORIAIS A VALORIZAÇÃO DOS CINCO SENTIDOS NO ESPAÇO PÚBLICO SENSORY SQUARES THE VALORIZATION OF THE FIVE SENSES IN THE PUBLIC SPACE

Ellen Mariana Barbosa Resumo O presente artigo empenha-se a analisar as praças públicas brasileiras, especificamente a Praça 1° de Maio da cidade de Timóteo-MG, a partir da percepção dos usuários e a relação dos mesmo com a praça. Pretende-se com base no estudo da história, usos e tipologias, discutir como a requalificação da praça pôde construir uma nova relação com os seus usuários, através dos fatores culturais, sociais, econômicos e ambientais. Como metodologia, utilizou-se: visita in loco, observações de uso da praça e conversas com os usuários sobre as experiências vivenciadas ali. Mediante os estudos realizados, foi possível entender o corpo inserido no espaço público contemporâneo, a importância da Praça 1° de Maio para a cidade e para os moradores, e, para compreensão desta análise utilizouse como referência autores que discutem a formação das praças e a relação sensorial do corpo com a arquitetura, através dos sentidos, texturas, experimentações e sensações. Palavras-chave: Praças, Percepção, Sensorial, Experiências, Usos. Abstract This article is dedicated to analyzing the Brazilian public squares, specifically the 1st Square of May of the city of Timóteo-MG, based on the perception of the users and their relationship with the square. It is intended, based on the study of history, uses and typologies, to discuss how the requalification of the square was able to build a new relationship with its users, through cultural, social, economic and environmental factors. As a methodology, it was used: on-site visit, observations of use of the square and conversations with the users about the experiences lived there. Through the studies carried out, it was possible to understand the body inserted in the contemporary public space, the importance of Place 1 ° of May for the city and for the residents, and, to understand this analysis, authors were used as reference that discuss the formation of the squares And the sensory relationship of the body with architecture, through the senses, textures, experimentations and sensations. Key words: Squares, Perception, Sensory, Experiences, Uses.


Introdução A palavra Praça recebe diversas definições e especificações de uso, em sua maioria voltada para a classificação como um espaço público e urbano presente em diversas cidades. Com diferentes tipologias e livre de edificações, configuram espaços ideais para os pedestres mantendo sempre o conceito de encontro. Ao longo dos anos, e com o crescimento exacerbado das cidades, o papel das praças se modificou. O que antes era um espaço de convivência e importância econômica/militar passou a ser local de circulação, curta permanência, prática de esportes, lazer, estética, referência, troca de experiências e valores. A partir da integração de novos usos e de apropriações efêmeras, as praças contemporâneas surgem como um território a ser explorado, com novas formas de experimentações, texturas, materiais e linguagens. Passam a dialogar com as necessidades do homem e coloca-o como ser ativo nesse espaço. Desta forma, passa a ser um ambiente não apenas construído, mas um espaço que oferece sensações, experiências e imaginação. Para Pallasmaa, “A arquitetura significativa faz com que nos sintamos como seres corpóreos e espiritualizados. Na verdade, essa é a grande missão de qualquer arte significativa.” (PALLASMAA, 2011, p.11) O tema explorado nesse artigo é a tentativa de entender a relação da arquitetura e das praças públicas brasileiras vinculadas aos cinco sentidos do corpo. Dentro dessa ótica, este trabalho foi desenvolvido ressaltando a importância da Praça 1° Maio para a cidade de Timóteo-MG e sua relação com os indivíduos que freqüentam o local, explorado de forma sensorial e a partir da vivência. No momento em que as construções se tornam mais significativas quando incorporadas ao cotidiano, este artigo tem como objetivo: analisar o processo de formação das praças brasileiras, mostrar como a requalificação da Praça 1° de Maio alterou sua função, compreender a percepção dos usuários em relação à praça a partir da memória, identidade, usos, cheiros, sons, experiências, gostos e imaginação. Visitas in loco e conversas com os freqüentadores da praça, permitiram maior entendimento de como os usos e valores conseguem interferir na rotina da praça. Dessa forma foram desenvolvidas entrevistas com usuários da praça para entender quais os usos e a importância da praça, além de registros fotográficos.


1 .Praças brasileiras na sua história e tipologias Vários entendimentos em relação à definição de praças são discutidos, uma vez que envolvem funções, usos e valores. Mas sempre se chega à um ponto comum e claro, descrito por Robba e Soares Macedo, ”As praças são espaços livres públicos urbanos destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livre de veículos.” (ROBBA E SOARES MACEDO, 2002, p. 17). Ainda descrito por Robba e Soares Macedo, no Brasil há muitos espaços ajardinados que são associados às praças, geralmente incluindo rotatórias e canteiros de transito. Na cidade contemporânea costumam relacionar praças as áreas de lazer esportivo em bairros. No período colonial os projetos de praças tinham como característica a predominância de igrejas e edifícios importantes em seu entorno. Era um espaço versátil com manifestações de costume e hábitos, permitindo atividades religiosas, profanas, militares e civis. Influenciados pela urbanização européia, houve um período de transição do modelo de urbanização colonial para um novo modelo de cidade, as praças então, tiveram como marco o ajardinamento, minimizando suas funções e estabelecendo relação de lazer contemplativo, passeio e convivência. Ainda nesse contexto, com o crescimento das cidades, adensamento populacional e com a diminuição dos espaços públicos, viu-se que as praças eram uma opção de lazer. Estabeleceu-se então, um novo jeito de pensar o paisagismo: o Modernismo. Os projetos passaram a ser alterados, sobrepondo diversas linguagens existentes, e as praças englobaram no seu programa, o lazer ativo através das atividades esportivas e recreação. “Naturalmente, a crescente valorização do uso de vegetação na cidade, de forma a amenizar os efeitos da urbanização intensa dos grandes centros, fortaleceu ao longo desse século a tipologia da praça ajardinada, sendo encontrados no Brasil poucos projetos de espaços livres públicos que não fazem uso de vegetação. (Praças Brasileiras. ROBBA E SOARES MACEDO, 2002, p. 30). Tal integração da praça com atividades da população, aumentou sua visibilidade e levou a uma supervalorização do espaço público, surgindo então à linha contemporânea. No entanto, esse cenário levou a um novo programa de necessidades das praças, com maior liberdade de concepção, variando de acordo com o local inserido e adquirindo valores, sendo eles ambientais, funcionais, estéticos e simbólicos.


1.1 Categorias de praças quanto aos períodos e estrutura Segundo Robba e Soares Macedo, as praças podem ser classificadas por períodos (Colonial, Eclético, Moderno e Contemporâneo) e por sua estrutura interna (Ajardinadas, Azul e Seca). Períodos: Colonial: Tipicamente brasileiro, sem funções pré-estabelecidas. Serviam para atividades religiosas, econômicas, convívio e militares. Eclético: No período eclético as funções se resumiam em convívio, contemplação e passeio. Moderno: As praças modernas adquirem novos significados, incluindo novos programas de necessidades. Ao mesmo tempo em que distanciam do comércio e serviços, exigem uma participação mais ativa da população, através do convívio, recreação (playground), lazer esportivo e cultural. Contemporâneo: Há uma maior liberdade de criação em relação aos conceitos e desenho. Podem incluir elementos artísticos. Em relação aos usos, voltam com o comércio e incluem outras atividades, o que a torna um local mais movimentado. Contemplação, circulação, lazer cultural e esportivo, recreação são funções características. O quadro abaixo mostra a transição das praças desde o período colonial até o contemporâneo,

Período

Colonial

Eclético

Moderno

Contemporâneo

Função Social das Praças

exemplificando as relações de usos.

Convívio Social

Contemplação

Contemplação

Contemplação

Uso religioso

Passeio

Recreação

Recreação

Adaptação: Função Social das Praças. Fonte: (Praças Brasileiras ROBBA E SOARES MACEDO, 2002, p. 152).

Estrutura: Segundo a estrutura interna, as praças podem ser definidas pela vegetação e por outros elementos construidos. Segundo (ROBBA E SOARES MACEDO,2002), podem ser classificadas em:


Praças Ajardinadas: Surgiram através de uma campanha de modernização e embelezamento das cidades. É o modelo mais difundido no Brasil e o mais conhecido como praça. Possuem alguns elementos: coretos, canteiros, quiosques, fontes; além de funções de contemplação e passeio. Praça Azul: Definida por apresentar pontos de água: chafariz, lagos ou espelho d’água. Praça Seca: Geralmente não possuem vegetação e são mais usados para comércio, serviços e circulação.

1.2 Categorias de praças quanto aos seus valores As praças além de desempenharem o papel de convívio e interação social, podem atribuir valores aos espaços. Segundo (ROBBA E SOARES MACEDO,2002, p.44), podem-se classificar em três categorias: ambientais, funcionais, estéticos/simbólicos. Valores Ambientais: Trabalham na melhoria da ventilação e insolação de áreas mais adensadas; a vegetação promove o sombreamento das ruas, possibilitando o controle da temperatura; e a proteção do solo contra a erosão. Valores Funcionais: Correspondem ao lazer urbano. Possui função de encontro, apreciação da paisagem e geralmente atrativos destinados a população. Valores Estéticos e Simbólicos: Exercem papel de referência, símbolo e identidade de um bairro, cidade ou país. São parte do embelezamento da cidade, através da cor, textura e forma. No entanto, estes valores contribuem para definir o tipo de praça a construir; qual a sua relação com a cidade/bairro e utilização.

1.3 Praças na Contemporaneidade Com o crescimento das cidades, o acelerado processo de urbanização e a velocidade com qual o mundo contemporâneo se transforma e modifica, as praças surgem como áreas de grande alivio, em meio espaços cinza e maciços, desde praças de bairros até grandes complexos de circulação.


As praças hoje são consideradas como um dos espaços públicos mais visíveis, pois além das suas variações de usos, é parte integrante da cidade ou bairro, e carregam em si, a história e a identidade do local inserido e da sociedade. Percebe-se que a forma de atribuir valores as praças contemporâneas faz com que estas apresentem estruturas mais flexíveis e programas que as torna mais utilizadas, seja por mobiliários, segurança, iluminação, espaços ou esculturas. Nelas acontecem ações que se modificam a cada instante, que se adaptam a necessidade de cada individuo, e que são capazes de trazer novas experiências. Associadas as suas diversidades de usos, valores, mobiliários e paisagismo, se tornam atrativas e fazem com que os indivíduos se apropriem e tem a percepção do espaço potencializada através das sensações, imaginação e memórias. “Os elementos móveis de uma cidade, especialmente as pessoas e as suas atividades, são tão importantes como as suas partes físicas e imóveis: Não somos apenas observadores deste espetáculo, mas sim uma parte ativa dele, participando com os outros num mesmo palco. Na maior parte das vezes, a nossa percepção da cidade não é íntegra, mas sim bastante parcial, fragmentária, envolvida noutras referências. Quase todos os sentidos estão envolvidos e a imagem é o composto resultante de todos eles.” (A imagem da cidade. KEVIN LYNCH, p.11). Observa-se que o papel das praças evoluiu juntamente com a sociedade. Surgiram novas formas de ocupar esses espaços aliados aos novos modos de vida. Tiveram sua evolução tanto no projeto construtivo, através de requalificações e reformas, quanto tecnológico (tecnologia de materiais). Desvincularam das limitações de uso e ao agregarem funções de acordo com as necessidades de cada usuário, criando relações de corpo x tempo x espaço. Dentro desse contexto, percebe-se que o homem é capaz de ocupar o espaço de diferentes formas, utilizando de elementos sensoriais (memória, percepção, sentimentos, experiências) e o espaço é capaz de acolher o corpo, fazendo com que ele se identifique e tenha prazer em ocupá-lo. Neste momento a arquitetura contemporânea se torna mediadora das sensações experimentadas no espaço físico, tornando o homem ativo e corpóreo. 1.3.1 Obras e Projetos Referenciais Referências de obras e projetos relevantes no urbanismo contemporâneo, que contribuem para um melhor entendimento das questões sensoriais que a arquitetura é capaz de oferecer.


SUNDANCE SQUARE | Fort Worth, Texas Distrito comercial localizado no Texas com aproximadamente 800m². É um espaço público onde sedia diversos eventos culturais e atividades da cidade. Uma praça onde o passado e o futuro se juntam, a partir de características modernas e art-deco. Possui um bosque de árvores nativas, um espetáculo de luzes, espaço confortável e funcional. Tratase de uma reabilitação de um espaço que se tornou eficiente na vida cotidiana, acolhedor e interativo.

Fonte: Landscape Performance Series, disponível em http://landscapeperformance.org/case-study-briefs/sundancesquare-plaza, acesso: 13/12/16

SUPERKILEN | Copenhagen, Dinamarca Arquiteto: BIG Architects, Topotek1, Superflex Parque multidisciplinar, com características da mistura da arquitetura, paisagens e artes criativas. Tem como objetivo ponto de referencia e unificar diferentes povos da região. A divisão dos setores é feita por cores: Zona vermelha (elementos contemporâneos urbanos, esportivo e cultural), Zona preto (promove encontro das pessoas, e local para jogos) e Zona verde (lazer, atividades em família e com animais de estimação).


Fonte: Arch daily, disponível em: http://www.archdaily.com/286223/superkilen-topotek-1-big-architects superflexFICHA, acesso: 13/12/2016

2. Plano de Estudo Além de ter seu projeto desenvolvido juntamente com a cidade de Timóteo-MG, a Praça 1° de Maio possui valores referenciais, simbólicos e culturais. A partir dessa análise, foi realizado um estudo de caso, com base na história, usos e percepção dos usuários, visando ressaltar a importância da praça para a cidade, o sentimento de pertencimento e memória. As relações observadas nessa pesquisa ajudam a trabalhar a importância das adaptações desses locais para receber novos usos, novas formas de vivenciar e atender as necessidades do homem; uma vez que o espaço construído traz consigo identidades individuais e coletivas, além da historia da cidade. O seguinte mapa tem o objetivo de localizar o município de Timóteo em escala macro. E situar a praça estudada dentro do município.

Timóteo

Praça 1° de Maio

Centro Norte/ Acesita

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tim%C3%B3teo#/media/File:MinasGerais_Municip_Timoteo.svg

2.1 Timóteo e sua história Os conhecidos índios Botocudos foram os primeiros moradores da região onde hoje fica a cidade de Timóteo. Com a chegada dos portugueses pelo Rio Doce na região, em busca de riquezas minerais e escravos, essa população de índios foi completamente extinta. Próximo a esse período, com a chegada do português Francisco de Paiva e Silva Santa Maria, foi fundada a Fazenda do Alegra, próxima ao ribeirão “Timóteo”.


O nome da cidade tem origem em duas hipóteses: Segundo (SÁ, 2014) a primeira delas foi com a chegada de um comerciante, na década de 1920, chamado Manoel Timóteo, que deu seu nome ao“Povoado Timóteo” por ter grande influencia na região. A segunda é a origem em relação ao ribeirão “Timóteo”. O desenvolvimento da Fazenda do Alegre levou na Fundação da Vila de Timóteo, provavelmente em 1840. Mas em 1940 ainda não passava de um vilarejo com apenas sete ruas em torna de uma igreja e um cemitério, onde hoje é a Praça 29 de Abril. Posteriormente, quando o Eng. Alderico Rodrigues viu o entorno da região, encontrou o lugar ideal para a instalação de uma das maiores siderúrgica da América Latina, a Aços Especiais Itabira (Acesita). Com o início da construção da usina, em 1942, os moradores de Timóteo começaram a chegar, em busca de oportunidades de emprego. Foram erguidas então as primeiras ocupações, mesmo sem planejamento urbano, as chamadas: Mundo Vira, Vai Quem Quer e Vila dos Caixos. Foram erguidos, junto à recém inaugurada capela São Jose, o que hoje é a Praça 1° de Maio, os primeiros galpões comerciais, o que ainda hoje é chamado pelos moradores de “praça”, quando se referem ao centro comercial da cidade. Mais tarde com o crescimento, houve o inicio de um projeto de urbanização baseado nos conceitos de cidade jardim, criando uma proximidade dos moradores e da cidade com a natureza, avenidas abertas e com natureza local. Havia uma preocupação com o bem estar social e familiar, sempre com lotes grandes para o cultivo de horta e pomar; e na parte frontal o uso de jardins. Hoje ainda pode-se perceber que algumas características dessa urbanização conseguem se manter; principalmente no centro comercial da cidade, com avenidas abertas bem arborizadas, passeios largos possibilitando melhor circulação de pedestres, e um grande espaço público referência da cidade.

Inauguração da Igreja São José, 1947

Centro Acesita


Fonte: ACECIVA – Associação Cultural do Vale do Aço

2.2 A Praça 1° de Maio Situada no centro norte da cidade de Timóteo, a Praça 1° de Maio, popularmente conhecida como Praça do Coreto; foi criada na década de 60 com a chegada dos moradores na cidade. A princípio existia apenas uma praça pequena com o coreto. Mais tarde foi sofrendo modificações baseadas nas características das cidades jardins, recebendo atribuições de usos de acordo com a história da cidade. Ali, seria um ponto de convívio, namoro, contemplação e descanso; já que o projeto de urbanização da cidade foi pensado de forma a se preocupar com o bem estar da população, levando um contato maior com a natureza. Desde então, foi realizado na praça um processo de requalificação. Anteriormente, havia uma forte presença de canteiros ajardinados, arborizados, com caminhos que levavam a percorrer toda sua extensão. Atualmente essas características se mantêm associadas a “nova” estruturação; com a presença de um pátio para convivência, mobiliários, locais para descanso espalhados por toda praça, espaço para exercícios físicos e praça de jogos, além de contar com melhor iluminação e equipamentos. Segundo ROBBA E SOARES MACEDO: “As reformas e as reconfigurações e praças são ações das mais comuns no cotidiano das cidades brasileiras. Muitas vezes, uma reforma é indispensável para readequar o projeto a uma nova dinâmica urbana, que se estabelece com a transformação e o crescimento da cidade.” (Praças Brasileiras ROBBA E SOARES MACEDO, 2002, p. 164).


Ao se pensar nesse contexto de requalificação, podem-se destacar algumas utilidades, que foram acrescentadas nesse processo e relacioná-las aos valores ambientais, funcionais e estético/simbólico. Anteriormente Convívio social

Atualmente Convívio social

Circulação

Circulação

Passeio

Passeio

Contemplação

Contemplação Comércio Lazer cultural Lazer esportivo

Dentro dos valores definidos por (ROBBA E SOARES MACEDO, 2002, p.44) diversas qualidades podem ser atribuídos a Praça 1° de Maio: Valor Ambiental: Estabelece relação de ventilação e aeração urbana; por se situar no centro comercial, adentra um espaço com bastantes edificações, e um grande fluxo de veículos e pessoas. Funciona também no controle da temperatura e dispersão de poluentes, devido à próxima localização da empresa siderúrgica; hoje Aperam. Valor funcional: A praça ainda consegue atrair grande número de freqüentadores. Funciona como um espaço de lazer cultural e esportivo, recreação e convívio social. Valor estético e simbólico: Em meio à urbanização do centro, a praça é associada a um ponto de bem estar. Seu ajardinamento e equipamentos fazem parte do embelezamento da cidade. A Praça 1° de Maio tem forte relação simbólica por estar rodeada de diversos patrimônios históricos da cidade (Igreja São José, Ginásio Coberto, Escritório Central, Fundação Acesita, Prédio do Antigo Dom Bosco), além do caráter referencial. No entanto, após as modificações realizadas, entende-se que a Praça é de grande utilidade para a cidade de Timóteo e para o centro comercial; sendo palco de festas populares, lazer, convivência, circulação, comércio e serviços, além de estar cercada de edificações importantes da cidade (Ginásio, Fundação Acesita, Escritório Central Aperam, Igreja São José, Prédio do Antigo Dom


Bosco, Hotel Green Valey). Pode-se perceber um melhor aproveitamento desse espaço, partindo tanto de princípios populares, quanto de iniciativas públicas/privadas.

Praça 1° de Maio (Coreto) antes da reforma.

Praça 1° de Maio antes da reforma.

Coreto após reforma

Praça 1° de Maio após reforma

2.2 Desbravando a Praça Pode-se definir a Praça 1° de Maio como um símbolo referencial para a cidade de Timóteo. Quando se fala em praça, referem-se ao centro como um todo, e a praça fica conhecida como coreto. Nessa relação percebe-se um exemplo de influência cultural antiga, criando uma relação de identidade entre a praça e a cidade. Segundo Pallasmaa, “O significado final de qualquer edificação ultrapassa a arquitetura; ele redireciona nossa consciência para o mundo e nossa própria sensação de termos uma identidade e estarmos vivos.” (PALLASMAA, 2011, p.1) A praça possui diferentes usos, alguns que se tornaram elementos culturais. Ainda nessa relação de identidade, os usuários por terem o hábito de freqüentarem todos os dias, no mesmo horário acabam


sendo seres corpóreos, fazem parte do lugar, criando laços de pertencimento. A casa vira praça e a praça vira casa. Dentro desse contexto, se constrói relações corpo + espaço; uma vez que o corpo utilizando dos cinco sentidos ocupa o espaço, e o espaço edificado pelo homem, proporciona atividades em seu meio. Sendo assim, os espaços construídos têm a função de aproximar o homem, que ao se identificar, terá prazer em ocupar. Nessa ótica, foi feito um mapeamento a partir dos usos e relações dos indivíduos com a Praça 1° de Maio, para entender quais os sentimentos e sensações vivenciadas no local. Foram realizadas entrevistas com pessoas in loco, a fim de entender quais as relações de usos e experiências vivenciadas, com foco na importância da praça para a cidade e moradores. Dessa forma é possível observar as conexões sensoriais do corpo com o espaço, através da memória, sentimento de pertencimento e sensações.

Relações do entorno com a Praça 1° de Maio



Paulo César, 52 anos Uso/ relação: Convívio Social “A praça do coreto é o lugar onde eu gosto de bater-papo. Ambiente tranqüilo, onde eu consigo descansar e encontrar os amigos. Fazemos amizade até com quem não conhecemos.”

José Carlos, 55 anos Uso/ relação:Lazer esportivo “Passo por aqui, quase todo dia. E sempre que tenho tempo utilizo os equipamentos. É bom pra descansar, ver gente diferente.” Maria das Dores, 54 anos Uso/ relação: Valor de memória “Representa o tempo da minha adolescência, da minha mocidade. O tempo em que eu ia para namorar, bater um papo com a amiga. Era um local de lazer, e continua sendo. Antigamente era uma das poucas opções.”

Ilza Brasileiro, 51 anos Uso/relação: Lazer “Para mim é o lugar de descanso, ao mesmo tempo de lazer. Um lugar apropriado para reunir e fazer exercícios físicos. Onde eu sempre uso como passagem..”


Sr. Raimundo Uso/relação: Lazer e comércio “Eu freqüento essa praça, desde quando eu era criança. Vendo aqui todos os dias vender picolé, e aproveito para assistir as partidas de baralho. Geralmente o pessoal começa a chegar aqui 6:00h da manhã e as 17:00h quando começa a escurecer, eles começam a ir embora”.

Nicolly Christine, 22 anos

Edilson Barbosa, 52 anos

Uso/relação: Descanso

Uso/relação: Circulação

“Eu trabalho aqui no centro, então quando saio para almoçar, sempre venho aqui para descansar um pouco.”

“Eu trabalho no prédio do antigo Dom Bosco. O coreto para mim tem uma relação de circulação. Todos os dias passo por ele para almoçar. É bom ter um local arborizado e aberto no centro da nossa cidade.”

3. Analise Conclusiva A pesquisa realizada neste artigo possibilitou o melhor entendimento da formação de cidade de Timóteo e como se deu sua ocupação e planejamento urbano. Nesse contexto a Praça 1° de Maio surgiu juntamente com a construção da Usina Siderúrgica (Acesita) e com o crescimento do centro comercial. Foram discutidos os valores e as funções das praças públicas; fazendo um panorama desde as praças coloniais até o período contemporâneo. Dentro desse panorama, foi apresentada a relação de diversas formas de apropriação do espaço público, como o homem é capaz de perceber, ter sensações e experiências. Passa a ser ativo dentro da praça, configurando espaços ideais para convívio, e não apenas locais construídos.


Por meio da análise da Praça 1° de Maio, e pelo mapeamento dos usos e relações, percebe-se uma conexão da praça com os indivíduos que ali permeiam, capazes de agregar valores. A praça por estar cercada de comércios, receber atividades de diferentes usos, ter em seu entorno patrimônios da cidade e ser um ponto referencial, reforça sua história construtiva e cultural. Dessa forma ela permite que o usuário seja ser ativo, criando laços de pertencimento e apropriação. Através de obras análogas de requalificação e a reforma da própria Praça 1° de Maio, fica evidente que é possível agregar usos, melhorar as relações entre quem habita e o espaço construído, e aproximar as pessoas desse ambiente para que eles se sintam parte da cidade e tenham prazer em ocupar. Nesta ótica a arquitetura deve se identificar com os usuários, despertar os sentidos e explorar emoções. Concluiu-se que a Praça 1° de Maio possui grande potencial explorativo, e que a população busca cada vez mais dialogar e usufruir desse espaço de forma atrativa, seja através do mobiliário urbano ou promovendo desenvolvimento sociocultural e econômico para o centro da cidade.

4. Referências Bibliográficas CARMEM MALUF. Espaço, tempo e lugar. Pós 070 ROBBA Fabio/ SOARES MACEDO Silvio. Praças brasileiras (2002) Importância dos espaços públicos de convívio. Disponível em: http://www.arquiteturadaconvivencia.com/blog/2014/5/30/importncia-dos-espaos-pblicos-deconvvio JUHAMA PALLASMAA. Os olhos da Pele – A arquitetura e os sentidos KEVIN LYNCH. A imagem da cidade. MONICA PACIELLO VIEIRA. A provocação sensorial na arquitetura de Sergio Bernardes O espaço público, esse protagonista da cidade. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-162164/o-espaco-publico-esse-protagonista-da-cidade


Paisagismo: a chave para o futuro de nossas cidades. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/772473/paisagistas-a-chave-para-o-futuro-das-nossas-cidades SÁ, Alessandro de, Atlas Histórico, Geográfico e Cultural do Municipio de Timóteo, 1° Edição, Ipatinga, GáficaArtPublish, 2014. Vídeo: A touroflandscapearchitect James Corner’splantotransformPublic Square


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