Julho
de
2010 - nº 1
Universidade Federal
de
Sergipe
Departamento
de
Comunicação Social
Temática
Cinema:
Do P&B Ao 3D
TEMÁTICA PROGRAMAÇÃO
Capa
Começo, fim?!
Editorial - 3 Enfim
TEMÁTICA
a
tem um tema!
meio e...
local - 4
Cinema
através de produções nacionais e locais
em
Sergipe: O
nome do estado levado
Saiba mais sobre a história da arte do movimento: O cinema
Opinião - 7 Tecnologia & Cinema:
um
Blockbuster
híbrido
A como se faz? - 8
arte que já foi comparada a uma
feira’ já conquistou a todos.
E... Corta!
Desde
‘atração
de
filmes infan-
tis a filmes terror, as pessoas ficam fascinadas em frente à tela do cinema.
Capa - 12
Começo,
Diversidade - 18 Cinema
e
Gênero: O
tecnológico
para fazer do cinema a espelho das diferenças
Festivais Glbt: Comunidade
premiações conematográficas
gay ganha espaço nas
Mercado - 24 Pirataria: “Não Mate
os
Grandes Filmes”
e o
Cinema Contemporâneo
Opinião - 27 A Iindústria Cultural
‘arte
foi
O
fundamental
das massas’.
É
ex-
atamente isso que você verá nas próximas páginas.
Mundo - 22
todo esse fascínio
pela imagem em movimento tem uma trajetória.
meio e... fim?!
desenvolvimento
Mas
Enfim
a
Editorial Bastidores
TEMÁTICA
tem um tema!
Depois de muito brainstorm e discussões, finalmente é concebida a TEMÁTICA. Uma revista que se propõe a trazer a cultura para o cotidiano dos jovens
Universidade Federal Sergipe
de
(e dos não tão jovens assim) da Universidade Federal de Sergipe. Esse experimento fruto de uma disciplina laboratorial já rendeu muita dor de cabeça... e ainda rende! Demorou para que, até mesmo tivesse uma identidade própria e finalmente ganhasse forma. Inicialmente a idéia era de que TEMÁTICA fosse uma revista nova a cada edição, ou seja, cada tema geraria uma revista diferente. Mas, como escrever coisas tão diferentes para o mesmo público? E como fazer que esse mesmo público continue fiel? Por isso mesmo, as primeiras reuniões de pauta não chegaram a definir pauta nenhuma.
Departamento Chefe
de
do
Comunicação Social Departamento
Profª Drª Messiluce
da
Rocha Hansen
Coordenadora
do
Projeto
Profª Michele Tavares
Em meio a tantas discussões e decisões a serem tomadas, cada um de nós
Projeto Editorial
desempenhou sua função dentro deste projeto, cada um seguindo a área que
Daniel Nascimento
mais se identificava, mas, no final das contas, não teve jeito. Todos deram pal-
Eloy Vieira
pites no trabalho do outro. Do planejamento visual até a edição de matérias,
José Leidivaldo
mas é assim mesmo que deve funcionar um trabalho em equipe.
JR
Enfim, TEMÁTICA ganhou uma cara, uma forma, um conteúdo e finalmente
Larissa Regina
uma linha editorial. Nós, sete alunos do curso de Comunicação Social com
Lorena Larissa
habilitação em Jornalismo da UFS orientados por tia Michele (mais conhecida
Maria Aparecida
como professora Michele Tavares), trazemos para você a primeira revista cultural universitária do estado de Sergipe. Nas próximas páginas você encontrará matérias que falam da magia do
Editor Gráfico Daniel Nascimento
cinema. Como ele se consolidou e porque muitos dizem que ele está ameaçado, uma viagem do cinematógrafo dos Lumière até o impressionante cinema
Revisão
digital. Além disso, você verá o passo-a-passo da produção de um filme, terá
Eloy Vieira
detalhes de tudo o que acontece por trás das telas de cinema até que um filme chegue nas salas de exibição ou até mesmo na sala de sua casa. A tecnologia também aparece por aqui, o cinema 3D da matéria de capa seria a salvação da 7ª arte? Confira as questões que mais intrigam sobre o futuro da “arte do movimento”. Fizemos questão de deixar um espaço para opinião, sua e dos nossos articulistas para que diferentes pontos de vistas tivessem espaço na nossa revista. Essas e outras questões pertinentes à nossa primeira edição estão aqui recheadas de curiosidades e detalhes que você só vê por trás das telas.
Reporteres Eloy Vieira José Leidivaldo JR Larissa Regina Lorena Larissa Maria Aparecida Revista Esperimental produzida para o Departamento de Comunicação como pré-requisito parcial para a disciplima Planejamento Visual
Local
CinemaemSergipe o nome do estado levado através de produções nacionais e locais
por Cida Marinho
O artista Arthur Bispo do Rosário posando ao lado de uma de suas obras feitas de material reciclado.
4
No ano de 2009, o estado de Sergipe apare-
Cerca de 10 anos depois de ter iniciado seu
ceu na grande tela como cenário do filme Orquestra
projeto social, Mozart passa a ser visto pelos coro-
dos meninos, filme que narra a história real do per-
néis da região como um oponente político, al-
nambucano Mozart Vieira (interpretado por Murilo
guém capaz de incentivar a comunidade a refle-
Rosa), um jovem com aspirações musicais que resolve
tir sobre o verdadeiro papel daqueles homens na
minimizar os impactos que a forte seca do sertão
região. Mozart é alvo de ameaças e ataques, o que
nordestino impõe à pequena cidade de São Caetano.
provoca a reação de renomados artistas nacionais, tais como Ivan Lins, Fagner e Gilberto Gil.
Os atores Priscila Fantin e Murilo Rosa, interpretando o musicista Mozart Melo e sua futura esposa, Creusa em Orquestra dos Meninos. Foto: Estevam Avellar
Um
conto de fadas nordestino.
Outro
filme
rodado
no
estado
pacitação tem
ai-
em
audiovisual,
além
de
cineclubes, mostras, fóruns e workshops.
oficinas, A
nda maior importância para os sergipanos, trata-
possibilidade de realizar cursos profissionalizantes
se de O Senhor do Labirinto, que homenageia a
gratuitos atraem até aspirantes de outros estados.
história do artista plástico sergipano Arthur Bis-
Os alunos interessados podem contatar o NPDOV
po do Rosário (interpretado por Flávio Bauraque).
para se informar a respeito dos cursos planejados para
Além de ter como personagem principal
cada semestre. Uma seleção é aberta para cada cursos,
um sergipano natural de Japaratuba, 95% das fil-
com análise curricular e entrevista com os professores. Para
magens ocorreram no estado, utilizando 80% de mão-de-obra local. A estréia, antes prevista para
te
o 2º semestre de 2009, período de comemora-
cebidos
ção do centenário de Bispo, ainda é aguardada. Um fator de grande relevância para o desenvolvimento do audiovisual no estado de Sergipe é que a capital abriga o Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira. O NPDOV, cujo nome foi escolhido para homenagear o ator sergipano, é um dos 11 do país e oferece oficinas voltadas á profissionalização de atividades de audiovisual. O Núcleo está integrado à rede Olhar Brasil, uma iniciativa da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. Tendo iniciado suas atividades em 2007, o
Núcleo
oferece
cursos
para
praticamente
to-
das as atividades relacionadas à formação e ca-
positiva, em
o os
estado,
a
resultados
amostras
Arthur Bispo
do
de
iniciativa já
é
podem
vídeos
e
bastanser
per-
festivais.
Rosário
Arthur Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba, Sergipe, no ano de 1911. Em 1925 ele mudase para o Rio de Janeiro, onde ingressa a Marinha brasileira e começa a trabalhar na companhia de eletricidade da cidade, a Light. Em 1938, Bispo começa a ter delírios e sai perambulando, guiado por um “exército de anjos”. Quando localizado em um mosteiro, é enviado ao Hospital dos Alienados na Praia Vermelha. Diagnosticado como esquizofrênico-paranóico, é internado na Colônia Juliano Moreira, conhecido centro de tratamento psiquiátrico no bairro de Jacarepaguá.
59
Entre 1940 e 1960 mantem tratamento na
ano, cinco mil pessoas puderam assistir aos 144 filmes
Colônia enquanto realiza pequenos trabalhos em
inscritos e distribuídos por salas montadas pela cidade.
residências. Vale ressaltar que o tratamento psiquiátri-
Na terceira edição mais mudanças acon-
co em uma Colônia pública no Brasil em meados
teciam no festival, que contava com o apoio da
do século XX era baseado em terapias de eletro-
Lei Rouanet, de incentivo e fomento à cultura; e
choque e doses colossais de fortes medicamentos.
que arrecadou cerca de uma tonelada de alimen-
No início da década de 1960, vai trabal-
tos destinados ao programa federal Fome Zero.
har para a Clínica Pediátrica Amiu, onde lhe é ofer-
Para a 10º edição do festival, 430 produções
ecido uma moradia modesta, na qual começa a tra-
foram inscritas em todas as categorias, superando os 403
balhar com materiais rudimentares e miniaturas de
vídeos inscritos na edição anterior e ficando atrás ape-
navios de guerra ou automóveis, e vários bordados.
nas da edição de 2007, quando 486 vídeos participavam
Para manter o rigoroso tratamento, volta para
do festival. O estado de Sergipe contará com 23 vídeos.
a Colônia em 1964 onde fica até sua morte, 25 anos
O júri do festival (três jurados para cada cate-
depois. Como muitos artistas criativos e incompreen-
goria) deverá selecionar 65 produções, serão 20 curtas
didos, Bispo não chega a ver sua obra reconhecida. Só
em 35 mm, 20 vídeos, 10 vídeos de bolso, 10 sergi-
pouco antes de sua morte, desperta o interesse da mí-
panos e cinco longas, conforme divulgou Dayse Ro-
dia para o seu acervo de aproximadamente 1.000 peças
cha, diretora operacional do festival. A divulgação dos
formadas por objetos do cotidiano e tecidos bordados.
vídeos selecionados é aguardada para o mês de julho.
No ano de sua morte, na Colônia onde passou a
Para os concorrentes, a premiação é um bom
maior parte de sua vida, foi fundada a Associação dos Ar-
atrativo. O três primeiros vídeos sergipanos selecio-
tistas da Colônia Juliano Moreira, que visa à preservação
nados serão premiados com R$10 mil, sendo R$5 mil
de sua obra, tombada em 1992 pelo Instituto Estadual
para o 1º colocado, R$3 mil para o segundo e R$2 mil
do Patrimônio Artístico e Cultural - Inepac. Na institu-
para o terceiro. Como nem todas as parcerias estão
ição foi montado um museu que leva o nome do artista.
fechadas, a organização do festival não pode divulgar
Curta-SE Um evento destaque no estado é o Festival
outras premiações, mas garante que trabalha para que mais participantes possam ser bem premiados.
Iberoamericano de Curtas-Metragens de Sergipe (Curta-SE). Em 2010, acontecerá entre os dias 14 e 18 de setembro paralelamente nas cidades de Aracaju, São Cristóvão, Estância e Laranjeiras. O Curta-SE, que inicialmente foi concebido
Casa Curta-SE Endereço: Rua Teixeira de Freitas, 175, bairro salgado Filho
como um pequeno festival de curtas-metragens volta-
Fones: 3302-7092 / 3041-8563
do para o público universitário, já está em sua 10°
E-mail: operacional@curtase.org.br
edição e muitas mudanças ocorreram nesse decano.
Website: www.curtase.org.br
Na primeira edição foi praticamente todo or-
Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira
ganizado e produzido pela idealizadora, a apaixonada
Endereço: Rua Lagarto, 2161, bairro Salgado
Rosângela Rocha. O então festival Brasileiro de Curtas-
Filho
Metragens teve 14 filmes sergipanos dentre os 50 in-
Fones: 3211-1490
scritos. Após o sucesso, já na segunda edição, passa a
E-mail: nporlandovieira@gmail.com
ser um festival Luso-Brasileiro e acrescenta às mostras
Horário de funcionamento: segunda à sexta
de curtas, a participação de longas-metragens con-
de 8h00 ás 12h00 e de 14h00 às 18h00
vidados e uma programação diversificada com workshops, seminários além de eventos culturais. Naquele
6
Serviço
um
Blockbuster
Opinião
Tecnologia &
Cinema: híbrido
por eloy vieira*
Nos seus primórdios, o cinema ainda era um campo plástico e vasto, que ainda não possuía características próprias, era experimental em sua essência. Não muito tempo depois, o cinema começou a lançar suas bases e a assumir suas singularidades, mas, na verdade nem tudo era tão original, pois a literatura massiva oriunda da burguesia do século XIX serviu de modelo para que o cinema pudesse manter seu público: a massa. Ao falar da relação entre cinema e literatura, Mirian Tavares, Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas, afirma que o cinema está domesticado, ou seja, que está preso às velhas estruturas das máquinas narrativas, contando sempre as mesmas histórias de formas diferentes. Foram os famosos folhetins que deram origem à linguagem, não só do cinema, mas também de novelas e seriados, pois todos estes possuem características básicas em comum. O primeiro deles é a linearidade, pois se utilizam de histórias com início, meio e fim bastante delimitados entre si para que não deixe lacunas para seu leitor/espectador oriundo da massa. Outra característica básica é o drama maniqueísta, presente de forma indiscutível em inúmeros filmes, pois muitas histórias são basicamente centradas entre o mocinho e o bandido, ou seja, a oposição entre o bem e o mal, que, na verdade, todos nós já sabemos como termina, e, nesse caso, o espectador tem a falsa sensação de controle sobre a narração, porém, ao mesmo tempo em que a estrutura narrativa do cinema é feita para prender o indivíduo, ela o tira do mundo real e o envolve num mundo alheio aos problemas cotidianos, o levando para o “mundo mágico do cinema”. Tendo em vista todas essas características, podemos observar que, desde o advento da televisão e, sobretudo do vídeo, é possível notar que, inclusive por necessidade de sobrevivência, o cinema começou a apresentar mutações que visavam o hibridismo (diálogo com outras plataformas, um traço tipicamente experimental). Desde as décadas de 60 e 70, o cinema começou a se libertar da literatura da qual se originou e passou a ser experimental de novo, influenciando até gêneros literários. Hoje em dia, já é notável que o cinema estabelece um contato constante com outras plataformas, sobretudo as digitais. São essas plataformas digitais, as tecnologias de ponta, que permitem ao cinema uma maior manipulação da imagem, de forma que, muitas vezes o digital se confunde com o ‘real’, ou seja, o grau de abstração pode ser muito grande, permitindo que a criatividade do cineasta, auxiliada pela tecnologia, consiga elaborar quase tudo. Estamos vivendo mais um momento de passagem entre ‘eras cinematográficas’, uma revolução, onde a o hibridismo está de volta e já atingiu muitos blockbusters (que em inglês significa ‘bomba arrasa-quarteirão’, mas na verdade o termo designa grandes sucesso de bilheteria), e com certeza, atingirá muito mais nos próximos anos.
*Eloy Santos Vieira é graduando em Comunicação Social, com abilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal de Sergipe.
7
Faz se
Como
E... CO Fazer,
ou cinematógraficamente
ecutar um filme, desde sua criação até
soas que tranformam o filme em realid ir filmes.
Conheça
nas próximas págin
do c
ORTA! falando, produzir, é o processo de ex-
é sua pós-produção.
Mas
quem são as pes-
dade, quando e onde começaram a produz-
nas a importância da produção no mundo
cinema.
9
A produção cinematográfica é o conjunto de todas as partes necessárias para a realização de um filme ou uma produção audiovisual, desde a sua idealização até a promoção e a distribuição. Esta pode ser dividida entre pré-produção, a própria produção e a pós-produção e é sobre estas partes que iremos falar nesta matéria, além de especificar a importância de um produtor para o cinema que muitas vezes fica esquecido em detrimento de outras profissionais que figuram no âmbito do cinema.
Pré-Produção É a primeira parte de um filme, geralmente nesta fase parte de uma história ou de uma idealização que será posteriormente roteirizada, porém primeiramente o estúdio deve aprovar a idéia do filme, que consiste em várias reuniões com executivos que decidem quando uma idéia é boa ou não é, no caso positivo eles
James Cameron filmando as cenas abertas de Avatar na Nova Zelândia.
designam um produtor para gerenciar o projeto e em parceria providenciar financiamento, geralmente com
há diferenciações nas utilizações tecnológicas e técni-
grandes marcas, multinacionais e em programas gov-
cas, havendo assim desigualdades no produto final.
ernamentais de apoio a cultura. A partir deste mo-
Um exemplo claro, é o grande sucesso dos cinemas:
mento, o produtor começa a dar forma a sua obra.
Avatar, com uma produção orçada em US$ 500 milhões, foi considerada a mais cara da história da
Produção
história do cinema. Foram investidos cerca de 237 mil-
Na produção convencional, isto é, uma produção des-
hões na execução do filme e outros 263 milhões em
tinada a filmes voltados para o grande público, filmes
novas tecnologias, marketing, etc. Devido ao sucesso
com grandes patrocínios e orçamentos gigantescos, é
da WETA Digital com cinema tecnológico em O Sen-
necessário o engajamento de dezenas, senão centenas
hor dos Anéis: O retorno do Rei, James Cameron, au-
de profissionais divididos em pequenos grupos, execu-
tor, diretor e produtor de Avatar, optou pela produ-
tando tarefas diversas, tais como: encontrar um local
tora pra executar todo o esquema de realidade virtual.
apropriado onde ocorrerão as filmagens, contratação
A maioria dos produtores faz um planejamento or-
de atores, diretores, figurantes, figurinistas, maquia-
ganizacional de tudo que será necessário para os re-
dores, coreógrafos, entre outros. Todo o processo de
sultados mais satisfatórios e, na maioria das vezes,
produção pode levar meses, senão anos para ser fi-
lucrativo. Esse planejamento é feito como um ro-
nalizado. No entanto, também há profissionais que se
teiro, que inclui desde a alimentação, transporte de
desdobram para realizar produções com orçamentos
maquinário, iluminação, além da storyboard (veja
limitados, condições precárias e riscos políticos, este
no Box) até a promoção e distribuição, entre outras.
último normalmente ocorre em países com regimes
10
fechados, unilaterais e/ou autoritaristas. Estes filmes,
Pós-Produção
denominados filmes independentes, geralmente são
É a parte final da criação de um filme, o acabamento.
realizados por poucos profissionais, em certos casos
Nesta fase é realizada a edição, ou seja, a adição ou
um indivíduo desenvolve múltiplas funções tanto na
subtração de imagens, além de montar e dar continui-
parte técnica quanto artística. Nestes dois casos não
dade, isto é, organizar as cenas de modo que dê mais
há uma variabilidade na qualidade do conteúdo, porém
sentido ao público, dando o filme um aspecto bruto,
pois a partir deste momento é adicionada a trilha sonora, revestimento digital, que nada mais é do que os efeitos especiais: sonoros e visuais. Neste ponto o filme está pronto para ser comercializado nos cin-
Storybord
emas. É contratada uma firma para pra a produção do treiler cinematográfico que é lançado de diver-
Storyboard são organizadores gráficos como uma
sas formas, sendo a mais comum antes das exi-
série de ilustrações ou imagens em uma sequência
bições de filmes diversos no cinema. O filme é exibido
específica fazendo uma alusão a ideia original do
em pré-estreia e logo após é lançado nos cinemas.
filme, animação, entre outros. Ela vem com todas as cenas para facilitar a preparação do set.
Tipos
Na forma que é conhecida nos dias de hoje, foi
de produtores no cinema
Existem várias formas de um produtor executar os
desenvolvido por Walt Disney Studios no começo
projetos propostos para o mesmo. Em geral, a ideia
da década de 1930.
já vem pré-concebida de um diretor que vem com um roteiro original pronto, propondo uma parceria ou co-produção com o produtor executivo, que na maioria das vezes é o dono ou sócio de uma empresa produtora, ou ainda, este último compra os direitos de autores de livros que, no caso, são adaptados por roteiristas pré-contratados. Este produtor é que lida com toda a questão burocrático-financeira dos filmes em questão. É importante ressaltar que, embora os produtores sejam responsáveis por boa parte da execução de um filme, o mesmo não tem competências técnicas para fazer tais tarefas e sem para supervisioná-las. A exemplo de figurino e maquiagem. Produtor de locação: cabe a ele organizar toda a parte das locações, achá-las, avaliá-las e por fim dar a autorização necessária para o começo das gravações. Produtor da
de
produtora
set: para
um
representante
supervisionar
o
set.
Produtor executivo: em geral ele é o dono ou sócio da empresa que está produzindo o filme. Ele cuida especialmente de orçamentos e financiamentos cinematográficos.
Benefícios
Diretor de produção: chefe da produção e de todos os
* Apoia o planejamento, informando o que deve
outros produtores, ele é o líder de todos os outros produ-
ser adquirido, para a realização do projecto.
tores tendo voz ativa para tomar decisões juntamente
* Informa visualmente todas as etapas do filme.
com o produtor executivo sobre prazos e orçamentos.
* Possibilita um maior controle e aumenta a prob-
Produtor:
abilidade de êxito no projeto.
este
“produtor”
trabalha
direta-
mente com todos os outros produtores, controlando os mesmos. Nos filmes independentes, estes
são
chamados
de
produtores
executivos.
Capa
Começo,
meio e... fim?!
Saiba mais sobre a história da arte do movimento: O cinema por Eloy Vieira
Do cinematógrafo ao cinema 3D: O cinema sempre se reinventou
Arte: Eloy Vieira
Máquina de refazer a vida, 7ª arte, morte em
rudimentar. Já no Renascimento, o famoso Leonardo
movimento, melodia do olhar, etc. Esses são só alguns
da Vinci enuncia o funcionamento da câmara escura,
dos nomes pelos quais o Cinema é conhecido. Mas,
mas só no século seguinte o físico italiano Giambat-
nem sempre ele agradou velhinhos e crianças. Até o
tista Della Porta projeta uma pequena caixa com um
começo do século XX, o cinematógrafo, considerado o
pequeno orifício coberto por uma lente. Raios lumino-
marco do surgimento do cinema, não passava de mais
sos refletidos por objetos externos penetram e se cru-
uma descoberta científica. Porém o aparelho não surge
zam, formando assim uma imagem invertida no fundo
do nada, afinal de contas, tudo tem um início, e no caso
da caixa. Ao contrário da câmara escura e um século
do cinema ele depende diretamente da tecnologia.
mais tarde, a lanterna mágica do alemão Athanasius
Além da tecnologia, diálogos com literatura foram imprescindíveis. Com a ascensão burguesa do
Kirchner, uma caixa cilíndrica iluminada a vela projeta imagens desenhadas numa lâmina de vidro.
século XIX, a literatura ganha novas formas e lingua-
Já no século XIX, a ciência percebeu que nosso
gens que influenciaram na construção do discurso e da
olho possui uma ‘falha’: imagens em movimento são
linguagem, mais tarde, isso também se refletiu nas te-
registradas por nossa retina como um movimento, é a
las. Foi só através dessa narrativa que as produções
chamada persistência retiniana apontada pelo jor-
cinematográficas conseguiram conquistar seu público:
nalista e crítico de cinema francês, George Sadoul. De
a massa.
acordo com ele, essa característica já havia sido descoberta na Antigüidade, mas só foi estudada a fundo na
Ciência
também é arte
A forma mais primitiva de se projetar o movi-
12
Europa iluminista. E é nela que nascem os primeiros aparelhos que registram e reproduzem o movimento.
mento pode ser considerada a pintura rupestre do
Lembra daquele truque de desenhar um desen-
homem das cavernas. Anos depois, por volta de 5000
ho semelhante em folha de caderno e depois passá-las
a.C., os chineses aprimoravam a projeção movimento
rapidamente e ver que o desenho está se mexendo? Pois
através do famoso teatro de sombras do Oriente com
é mais ou menos assim que nasce o fenacistoscópio.
bonecos feitos de tecido e varetas, de forma bastante
Criado pelo belga Joseph-Antoine Plateau, o aparelho
foi capaz de medir o tempo da persistência retiniana e
A
a partir disso o físico criou um disco com vários desen-
Um dos mais influentes historiadores do mundo,
hos semelhantes que, ao ser girado, dava impressão
Eric Hobsbawn, destaca o cinema como a ‘arte da mas-
de movimento. Pouco depois surge o praxinoscópio,
sa’ e defende que ele influenciava diretamente na ma-
que já aparentava uma máquina. De forma meio im-
neira que as pessoas enxergavam o mundo. Em con-
provisada com uma caixa de biscoitos e um espelho,
trapartida, outro renomado historiador, o francês Marc
o francês Émile Reynaud conseguiu projetar imagens
Ferro afirmava que no começo as pessoas despreza-
com a ilusão de movimento. No ano seguinte, outro
vam os avanços como o cinematógrafo e comparava o
francês, o fisiologista Étienne-Jules Marey, traz uma in-
cinema a uma ‘atração de feira’. Este embate de idéias
venção importantíssima baseada nas descobertas do
é inicialmente apresentado por Mônica Kornis, Dou-
inglês Muybridge, o fuzil fotográfico. Um tambor for-
tora em Ciências das Comunicações (Cinema, Rádio e
rado por dentro com uma chapa fotográfica circular que
Televisão) pela Escola de Comunicação e Artes (ECA)
registrava um movimento de forma decomposta. Cerca
da Universidade de São Paulo (USP), em seu artigo
de uma década depois, o mesmo fisiologista francês
‘História e Cinema: Um debate metodológico’.
arte do século
XX
desenvolve a base do cinema: a cronofotografia que
Inicialmente, os pequenos documentários mu-
consistia na fixação fotográfica de várias fases de um
dos introduzidos pelos irmãos Lumière retratavam a
corpo ou objeto em movimento.
vida cotidiana dos grandes centros, pois eram filmados Já prestes a se entrar
no
culo
XX,
célebre tista
séo
cienameri-
cano, Thomas Edison Auguste e Louis, os irmãos Lumiére
fazia
testes em seu estúdio, o pri-
meiro da história do cinema. Ele conseguiu com que um filme perfurado projetasse imagens em movimento dentro do cinetoscópio, ou seja, permitia que uma pessoa de cada vez observasse as imagens. Poucos anos depois, surge o cinematógrafo, que, muitos têm como o real começo do cinema. Mais uma vez o crédito vai para os franceses, mais precisamente para os irmãos Augustes e Louis Lumière, que aprimoraram o cinetoscópio americano e o transformaram numa espécie ancestral de filmadora. O equipamento movido à manivela, além de registrar o movimento de forma contínua, permitia que o mesmo fosse mostrado a várias pessoas ao mesmo tempo. É aí que o cinema passa a ter cara de cinema, começando se consolidar como o grande meio de comunicação de massa do início do século XX e começa a viver sua era de ouro.
Méliès atuando em mais um de seus filmes. Imagem: ASvideomaker’s Blog
em ambientes externos como ruas, estações de trem, praças, etc. Não demorou muito e outro francês já estava pronto para inovar e trazer a estética da arte para as grandes telas. Ele era Georges Méliès, um artista multifacetado que oscilava entre diretor, maquiador, figurinista, dançarino e mágico. Até hoje é considerado o pai dos efeitos especiais no cinema. Mas, como toda forma de arte, o cinema logo foi afetado pelo processo conturbado do pré-1ª Guerra Mundial. A Europa atingida pelos seus conflitos internos seguidos de crises profundas, agora deixava de ser o grande centro da produção cinematográfica. Começa aí a ascensão de Hollywood com seus grandes estúdios e estrelas. Durante os anos 20 o cinema americano oscilava entre o mudo e o falado, mas, mesmo assim fabricava sucessos
13
tidiana com a vida olimpiana”, defende em seu livro intitulado ‘Cultura de Massas no Século XX’. Era com essa visão quase mística do universo cinematográfico que as pessoas ficavam fascinadas. Além disso, a pesquisadora portuguesa, Mirian Tavares ressalta que Vista do letreiro no Mount Lee
a domesticação da
e consagrava novos gêneros como a comédia, com ex-
narrativa do cinema
poentes do porte de Charles Chaplin, o western (velho
foi importante para
oeste), o policial e o musical; todos ligados à produção
conquistar a massa
de blockbusters e estrelas.
durante esse perío-
A produção de grandes filmes continua e se con-
do. Segundo ela, a
solida quando Hollywood insere áudio em seus filmes.
linearidade, o dra-
Os grandes estúdios são consagrados e junto com eles
ma maniqueísta e o escapismo proposto pelas grandes
seus filmes e seus protagonistas. O novo adendo tec-
produções foram fundamentais para o estabelecimento
nológico dos anos 30 marca mais uma época de tran-
deste modelo de cinema.
Avatar, a grande vedete do cinema contemporâneo
sição do cinema, um prova disso é que vários profission-
14
ais envolvidos na produção como roteiristas, diretores
O
e até os atores não se acostumaram com a novidade.
Com a introdução da Televisão já em meados
Charles Chaplin foi um deles, mas pouco depois acabou
do século XX, o cinema perdeu seu status de grande
cedendo e dando continuidade à evolução. Algumas
veículo de comunicação, mas permaneceu e ainda per-
produção marcaram época: “Alvorada do Amor” (The
manece, até mesmo por questão de sobrevivência, se
Love Parade - 1929), de Ernst Lubitsch, “O Anjo Azul”
reinventando no cotidiano das nossas vidas. A partir
(Der Blaue Engel - 1930), de Joseph von Sternberg, e
da década de 70 o cinema retoma seu hibridismo e se
“M, o Vampiro de Dusseldorf” (M - 1931), de Fritz Lang.
liberta da literatura que por muito tempo o domesticou.
Entre os anos 30 e a 2ª Guerra Mundial o Esta-
“A relação entre Cinema e Literatura data do momento
dos Unidos entra na famosa recessão depois do crack
em que o cinema descobre seu potencial narrativo. As-
da bolsa de Nova York, e é claro, isso se reflete em
sim, ele absorve o modelo narrativo do romance do
Hollywod, que, apesar de continuar como grande cen-
século XIX para ajudá-lo a melhor contar histórias ao
tro produtor, agora abre espaço para outros pólos para
mesmo tempo que liberta a literatura desta ‘obriga-
países como França, Rússia e Alemanha. Mesmo as-
ção’”, relata a pesquisadora portuguesa.
futuro já começou
sim, os anos que antecedem à 2ª Guerra ainda são
Hoje em dia o cinema já inova e retoma um
considerados os anos áureos do cinema hollywoodiano.
pouco o ideal de Méliès, dialogando com outras mídi-
Obras como ‘...E o vento levou’, ‘Dama das Camélias’ e
as e plataformas. Uma prova disto são os filmes digi-
‘Casablanca’ são apenas alguns exemplos desta época.
tais tomados pela manipulação da imagem dotando o
Outra marca foi deixada por Orson Welles que quebrou
cineasta de uma abstração artística tamanha que o real
com a estética cinematográfica tradicional com filmes
se mistura com o real. Sucessos de bilheteria como
como ‘O cidadão Kane’ e depois algumas obras inspira-
‘Avatar’, ‘Alice’, ‘Percy Jackson’ e ‘Como treinar o seu
das nos escritos de Shakespeare como Othelo e Mac-
dragão’ são apenas alguns exemplos deste novo mo-
beth.
mento de adaptação do cinema. O filósofo francês, Edgar Morin, chegou a com-
Durante o Comic-Con de 2009 realizado em San
parar as estrelas do grande cinema aos deuses do
Diego, Califórnia, o diretor de Avatar, James Cameron
Olimpo. “Os olimpianos se tornam modelos de cultura,
disse que o cinema deve continuar investindo em novas
isto é, modelos de vida quando encarnam os mitos de
tecnologias. Ele revelou que o clássico Titanic já está
auto-realização da vida privada, combinando a vida co-
sendo transformado em 3D para ser relançado dentro
de mais alguns anos. Segundo o cineasta essa medida
a médica Letícia Rosa em entrevista ao jornal carioca
pode desencadear uma onda de modernização das sa-
Extra. Esse tipo de exibição ainda precisa de ajustes,
las de exibição e dos aparelhos de DVD, Blu-Ray e tele-
pois, em movimentos bruscos na tela, os espectadores
visores. Outra aposta apontada por ele é a chamada
vêem borrões e podem até mesmo sentir náuseas.
captura de performance que consiste na gravação dos
Mais uma vez, o cinema prova que o diálogo com
movimentos de um ator e aplicá-los num personagem
outras plataformas e a plasticidade de sua imagem são
criado pro computador. Mas o cineasta acredita que o
suas principais características. Ele, que já esteve ‘ameaçado‘ algumas vezes ao longo da história: TV, Vídeo, DVD, Blu-Ray, Computador, etc. Não deixou de conquistar as massas. Pelo contário, só serviu provou que apesar de já ter completado seu centenário, a arte do movimento não fica para trás e cada vez conquista novos espectadores. Afinal de contas, quem não gosta de assistir um filme na telona?
13th Street, primeiro filme de terror interativo. Reprodução
que deve melhoras de fato é qualidade da imagem. De acordo com ele a fotografia deve melhorar significativamente o que deve impactar uma captura mais eficiente da imagem e consequentemente uma melhora na exibição dobrando a quantidade de quadros por segundo e diminuindo o número de borrões na tela. Outras tendências cogitadas já estão praticamente presentes, a interatividade e o multiuso das salas de cinema podem ser apontadas como as mais significativas. Projetos como o ‘Last Call’ do canal de TV americano NBC prometem fazer com que cada sessão do mesmo fime seja única, variando de acordo com que for decidido pela platéia. Os produtores criaram um software que permite o reconhecimento da voz do
Cinema e computador: cada vez mais próximos Imagem: The Guardian
espectador que pode intervir através do telefone celular, o personagem, literalmente, dialoga com alguém da platéia.
Leia
mais:
Cinema 2.0. O Cinema
na
gia, mas também não ficamos tão distante. Neste ano
Universidade Beira
Interior
de copa do mundo vários torcedores puderam assistir
O
aos jogos da seleção em 3D. A transmissão ocorreu
A História
duarante o jogo entre a seleção brasileira e a seleção
dias.
portuguesa. Na verdade tudo foi promovido pela Rede
A História
Globo para apenas alguns convidados. A tecnologia foi
dias.
testada em apenas três cinemas, dois em São Paulo
A História
e um no Rio de Janeiro. “A gente esperava que a bola
Cinema
fosse na nossa cara. Não chegou a esse ponto, mas
res.
No Brasil ainda não temos esse tipo de tecnolo-
olhar antes do do
do
Era
da
Internet. Luís Nogueira.
Cinema. Ricardo Costa.
Cinema Mundial. Das
origens aos nossos
Geoger Sadoul Volume I do
Cinema Mundial. Das
origens aos nossos
Geoger Sadoul Volume II
e
do
Cinema. Almanaque Abril. 1998-2005.
Literatura: Desencontros
formais.
Mirian Tava-
Intermidias.
foi bem legal. O jogadores fica bem pertinho”, disse
15
Diversidade
Cinema e Gênero O espelho das diferenças Por José Leidivaldo
No fim do século XIX, a sexualidade passa a se mostrar cada vez mais central na constituição do sujeito moderno, num processo de valorização da intimi-
18
dos valores do homem euro-norte-americano, adulto, branco e heterossexual.
A partir desses elementos é que poder-
dade que já vinha se processando desde o romantismo.
emos entender a inserção dessa temática no cinema
Essa centralidade levou à proliferação de saberes que
e como ela é tratada pelos criadores da sétima arte. É
tratam da questão, como a psicologia, a psicanálise, a
nos anos sessenta, no contexto da contracultura, que
sociologia. É nesse sentido que devemos entender o
os movimentos gay e feminista passam de uma visão
surgimento dos movimentos feministas, gays, lésbicos
meramente integrativa para uma postura contestado-
e transgêneros politicamente organizados. No Brasil,
ra do modo de sociedade vigente. O debate feminista
surge na segunda metade da década de 70 do século
ganha força no universo acadêmico e político. A luta
XX. A chave para o surgimento desses grupos reside
pela igualdade dos direitos civis dos gays também se
na visibilidade pública para combater preconceitos e
fortalece. Essas lutas, num primeiro momento, visam
formas de exclusão e na busca pela igualdade de direi-
criticar as representações sociais estereotipadas, o
tos em uma sociedade marcada pela universalização
silêncio e as opressões sofridas por gays, lésbicas e
Imagem do Filme Madame Satã (2003). Sem aderir a narrativas hollywoodianos, sem didatismo piegas nem bom-mocismo
transgêneros. Isso foi fundamental para denunciar
belo) da história não terá um final feliz? Já o fim das
a misoginia e a homofobia presentes na sociedade,
personagens gays...?”
pelas violências físicas e simbólicas; na política, ao ser
considerado um tema menor nas transformações soci-
Com a preocupação de se afastar da
ais; e na universidade, ao não se legitimarem estudos
tendência de criar estereótipos muitos cineastas de
em pé de igualdade com correntes de pensamentos
várias partes do mundo se afastaram das produções
tradicionais.
hollywoodianas em favor de obras que concilie quali-
Essa preocupação leva ao question-
dade, mercado e público. Nomes como Chantal Aker-
amento das produções cinematográficas não como
man, Maya Deren,
criadoras, mas como reafirrmadoras dos clichês das
Frame, Claire Denis, vêm produzindo obras consis-
representações de gênero e de orientação sexual. Pelo
tentes na reflexão sobre gênero e numa perspectiva
seu impacto, o principal alvo passa as ser os filmes hol-
de quebrar fronteiras nacionais na busca por respostas
lywoodianos e a televisão, em razão de seu papel he-
narrativas não menos estimulantes. O próprio melo-
gemônico na indústria cultural cada vez mais transna-
drama, gênero pensado para um público feminino,
cional. Num primeiro momento, é necessário mapear
é desconstruído. Isso pode ser observado nas obras
as representações sociais da mulher e dos homossex-
de Rainer Werner Fassinder, Pedro Almodóvar e Todd
uais no cinema. Assim, inicialmente são identificados
Haynes.
clichês como o da sissy, personagem masculino afemi-
Marguerite Duras, Jane
Para alcançar se desvencilhar de Holly-
nado, normalmente em papéis pequenos em comé-
wood, todos esses nomes optam por uma estética lo-
dias e personagens lésbicas, como mulheres mascu-
calizada em vez de abstrata e universal. Uma estética
linizadas, na maior parte das vezes como vampiras ou
interessada, parcial e empenhada. Pop, indissociável
presidiárias. Outra vertente da representação gay no
de uma cultura de consumo, do afetivo e coloca no
cinema é a idealização dessa vez de personagens gays
mesmo lugar o que antes chamávamos de popular e
masculinos em comédias românticas como o herói ro-
erudito. É depois dessa compreensão que a estética se
manesco.
encontra, mais até do que com a homossexualidade,
Para o professor Romero Venâncio,
com o transgênero por meio do camp. Esse termo
professor do Departamento de Filosofia da Univer-
aponta para uma sensibilidade e uma estética mar-
sidade Federal de Sergipe, o cinema que explora a
cada pelo artifício, pelo exagero, presente também em
temática gay pode ser compreendido sob duas ver-
óperas, melodramas e canções românticas. O camp se
tentes: o produzido em Hollywood e as produções
situa entre alta e baixa cultura, como o kitsch, o trash
européias. “As personagens gays em filmes hollywoo-
e o brega. Como comportamento, a palavra remete à
dianos tendem a possuir características estereotipadas
fechação, ou seja, ao homossexual espalhafatoso, ao
socialmente. Geralmente são cômicas, não são enga-
transformista, por vezes criticado por vários ativistas e
jadas na luta pelos direitos civis, e por vezes servem
recusado no próprio meio gay, que busca uma imagem
de pano de fundo para uma história de personagens
mais masculinizada. O camp pode ser especialmente
heterossexual”. Ainda para o professor, esse tipo de
percebido na obra de Max Ophuls, Kenneth Anger e
filme serve para, sutilmente, reafirmar a condição so-
mesmo Derek Jarman, Todd Haynes, John Cameron
cial dos gays que serão eternamente subalternizados
Mitchell, Billy Wilder, Stephan Elliot, Neil Jordan, e os
ao modelo de vida heterossexual. “Ser ‘normal’ nos
brasileiros Paulo César Saraceni, Sérgio Toledo e Djal-
filmes norte-americanos é ser heterossexual. O toque
ma Limongi Batista.
de comicidade das personagens gays é proposital, pois
O estudante de Teatro da Universidade
além de jogar para eles toda a carga ideológica de
Federal de Sergipe, Estevão Andrantos acha que a for-
preconceito, sugere-se como modelo ideal de relacio-
ma com a qual o tema e as personagens são expostos
namento o heterossexual. Veja se o casal protagonista
nos filmes só acentua os preconceitos. “Observe bem
(geralmente uma bela mocinha e um rapaz também
as musicas que acompanha uma personagem gay no
19
cinema, geralmente contém notas musicais que nos
posto socialmente.” Um profundo conhecedor de cine-
remete a algo cômico. E as falas dessas personagens,
ma Caio Amado cita o cinema de Almodóvar como algo
então?! Os risos produzidos a cada ação espalhafa-
inovador, provocativo e sem o pedantismo ou a mil-
tosa da personagem demonstram claramente o pre-
itância exagerada do movimento gay. “O diferencial
conceito contido nesse tipo de filme” Estevão, que já
em Almodóvar está no fato de que suas personagens
produz peças teatrais com essa temática, ressalta a
são pessoas comuns: com problemas familiares, dra-
importância de assistir a filmes europeus, pois, se-
mas amorosos, dificuldade financeira, em suma prob-
gundo ele buscam retratar o gay com normalidade.
lemas do cotidiano contidos na maioria das pessoas.”
“Sinceramente são os melhores! Se o gay é tratado
Segundo o professor é justamente isso que fascina na
como alguém ‘engraçado’ aqui ele é comum. Não tem
obra.
graça nenhuma ri do preconceito alheio”, ressalta o estudante.
A ênfase ao resgate de narrativas de te-
stemunhos, autobiografias, diários também se tornou Outra tentativa, tanto política quanto
alternativa não só estética, mas política de experiên-
estética, no horizonte do boom multiculturalista, está
cias privadas de sujeitos excluídos da sociedade. Isso
em defender cada vez mais a necessidade de articular
não significa autobiografismo, mas busca de adesão e
gênero e orientação sexual com as questões de classe,
sofisticação. Enfocar um cinema de mulheres implica
nacionalidade, condição periférica ou metropolitana e
dizer que o corpo deixa de ser objeto do voyeurismo
etnia. Isso é traduzido no interesse por personagens
masculino e assume uma concretude, uma historia. Se
marginais no espaço urbano como nos filmes de Andy-
as falas sociais eram hegemonicamente masculinas,
Warhol e Paul Morrissey, de John Schlesinger (Perdidos
os espaços da intimidade da casa, do corpo deixam
na noite, 1969), Wilson de Barros ( Anjos da noite,
de serem lugares apenas de opressão e de uma fala
1986), Gus van Sant ( Garotos de programa, 1991) e
única. Para além desse trabalho historiográfico, temos
nos fimes de Gregg Araki. Stephens Frears bem tra-
o resgate da intimidade, da afetividade ao afirmar sua
duziu essas tensões em Sammy e Rose (1987), mas
relação com a ética. A intimidade deixa de ser prisão
Madame Satã ( Karim Ainouz, 2003) parece fazer uma
para emergir como possibilidade de resistência, de de-
síntese perfeita entre o camp e o multiculturalismo.
marcação da diferença. Uma linguagem feminina se
Madame Satã ao retratar o famoso malandro da Lapa,
constrói onde aparentemente só havia silêncio.
cruel e rebelde, humilhado e terno, nunca vítima,
Questionada sobre o tema, Joana Mas-
passa uma emocionante contribuição para uma out-
carenhas que é militante do movimento lésbico de
ra história do Brasil, pela suas margens e pelos seus
Sergipe, é bastante enfática: “Olhe, fico muito triste
excluídos. A força do protagonismo está na alegria,
quando vou ao cinema e ao aparecer uma cena com
em querer ser outro, livre, homem, mulher, madame
um gay (homem ou mulher) ouço os assobios, os
e satã. Esse filme realiza um cruzamento rico sobre o
sussurros e as risadinhas. Pra mim aquilo é tão ruim
que é ser negro, pobre e homossexual no Brasil.
quanto um xingamento. É o mesmo preconceito. E os
20
De acordo com o professor Caio Ama-
filmes só acentuam isso”, afirma Joana. Ela também
do, do Departamento de Ciências Sociais da Univer-
prefere os filmes europeus, ou para ela “os Cult, ou
sidade Federal de Sergipe, a produção de filmes com
alternativos”. Outro ponto que ela ressalta é o sex-
temática gay tem se modificado ao longo do tempo,
ismo existente em filmes hollywoodianos: “Parece que
principalmente nos filmes recentes. “A diferença é
gay só pensa em sexo, sexo, sexo. Meu Deus, nun-
clara: num filme em que os protagonistas são gays, a
ca vi tanta besteira. É como se fossemos movidos a
postura e os papéis sociais buscam mostrar ao público
sexo”, revela. As personagens são tratadas como se
a forma discriminatória e preconceituosa com que são
fossem viciadas em procurar parceiros para relações
tratados na sociedade. Enquanto em outros filmes em
amorosas eventuais. “É algo ruim para a comunidade
que essas mesmas personagens são coadjuvantes a
gay esse tipo de filme. Quando me descobri e assumi
‘voz’ é abafada pelo discurso oficial ou pelo modelo im-
minha homossexualidade passei a assistir aos filmes
europeus. Tem histórias lindas e com um fundo moral
uma forma de conduta diante do mundo em que apa-
muito bom. Encoraja a gente a encarar o preconceito
rece como contraponto às prisões patriarcais do amor
que existe na sociedade”.
romântico e do sexo-rei; Trata-se ainda de um lugar
Por fim, dois filmes refletem todo
de fala silenciado, com base numa política em que o
esse arcabouço do espaço ocupado pelo gênero nas
privado não seja apenas espetáculo midiático perman-
produções cinematográficas: Entre amigos (Joe Man-
ente. Não se trata de apenas de considerar oprimidos
tello, 1991); e Colcha de Retalhos (Jocelin Moore-
como um adjetivo, mas de afirmar uma experiência
house, 1995). Seria importante frisar que os filmes
substantiva que interliga arte e vida cotidiana. O cin-
que tratam de gênero por si só são diferenciados. Es-
ema nada tem de redutor, classificador; é, nesse sen-
ses filmes desmistificam o clichê da homossexualidade
tido, mas um ponto de partida, uma pergunta mais do
associada a promiscuidade, como também apontam
que uma resposta.
alternativas afetivas para além da submissão a mod-
elos tradicionais de família monogâmica estável.
Em Entre amigos, diferentemente do
modelo tradicional de narrativa da transitar do exterior para o interior, do macro para o micro, a voz do narrador, nos apresenta primeiro a casa por dentro e termina com um convite ao espectador. A casa distante da cidade, próxima da natureza, em que homens gays convivem. Tão escondida, mesmo demonizada, mas possuindo sutil genealogia histórica, incluindo amparo, camaradagem solidariedade, amizade e amor. Isso não significa que preconceitos contra pobres, latinos e afeminados não sejam explicitados por seus personagens nesse meio predominantemente branco de classe media.
Também em Colcha de retalhos há es-
paço quase monossexual, aqui majoritariamente feminino, representado por uma casa em que um grupo de amigas se encontram para costurar uma imensa colcha de retalhos,ao mesmo tempo juntando suas lembranças e suas vidas, num mesmo lugar, mas de forma diferente. A colcha de retalhos - como o arcoíris- refaz a própria sociedade norte-americana e sua história, não do ponto de vista do rancor, do ressentimento, mas da aposta, como na cena em que uma das personagens refaz seu gesto de juventude ao pular do trampolim mais alto na piscina. Trata-se menos de nostalgia do que de uma recuperação de possibilidade de futuro.
Portanto, a trajetória de personagens
femininas e gays no cinema faz pensar a identidade feminina e a homossexualidade não só como experiências que dizem respeito apenas essas minorias. Mas, sobretudo, nos remete a uma ética, entendida como
Cartaz do filme Chocolat (1988). Reflexão sobre gênero e etnia
21
Mundo
Festivais Glbt: Comunidade
gay ganha espaço nas premiações conematográficas
Os mais de 100 Festivais de Cinema GLBT ajudam no reconhecimento da “identidade homossexual” Por Júnior Santos
A comunidade homossexual nunca foi tão retratada pela
“Desde o início, houve uma ligação entre os Festivais e
mídia como nos dias de hoje. Novelas que abordam os
as Paradas de Orgulho Gay, não apenas pelo ponto de
dilemas de gays e lésbicas em suas relações sociais,
partida – São Francisco, na década de 1970 -, mas pela
reality shows com a presença da “tribo dos coloridos”,
referência à constituição de espaços de sociabilidade,
e um segmento não tão atual na sua origem, mas que
de encontro entre gays, lésbicas, transgêneros e bis-
vem ganhando cada vez mais espaço: os festivais de
sexuais.”, relata Karla Bessa, professora do Instituto de
cinema GLBT (acrônimo de gays, lésbicas, bissexuais,
História da Universidade Federal de Uberlândia.
travestis, transexuais e transgêneros).
O boom de produções com temática homos-
GLBT espalhados pelo mundo em um mercado para-
sexual é originário da década de 90, até então os
lelo. Um dos mais antigos é o Festival Internacional do
filmes eram raros e apenas sugeriam a existência da
Filme com Temática Homossexual, “De Sodoma a Hol-
homossexualidade. Com a epidemia do vírus da AIDS
lywood” de Turim. Em sua 25ª edição, teve dois filmes
Ao todo são mais de 100 festivais de cinema
e a necessidade de um controle maior da doença, a diversidade sexual passou a ser vista nas telas com uma maior frequência, sustentada pelo “mercado gay”. É neste contexto que começam a surgir os Festivais GLBT. “Festivais que funcionam como importante reconhecimento de identidade para seu público específico, mas que também revelam para um público mais amplo o outro cinema”, defende Luiz Nazario, historiador e critico de cinema, em seu artigo intitulado “O Outro Cinema”.
Nessa época, os festivais priorizam películas,
de formato e qualidade variada, sensíveis a temas como AIDS, discriminação, dificuldades de se “assumir” uma identidade gay, e tinha um forte apelo erótico, de melodramas pornográficos a comédias baratas. Tendo como um dos desafios iniciais criar um espaço de produção e exibição de filmes que estabelecesse um diálogo entre a pluralidade de sujeitos e subjetividade pertencentes à cena “homo”, por vezes, havia uma ligação entre o
22
evento cinematográfico e as Paradas de Orgulho Gay.
Festivais de cinema contribuiem para o reconhecimento da comunidade. Imagem:AGAL-GZ.org
brasileiros concorrendo a premiação de melhor filme:
dores em sua estréia.”, escreveu Luiz Nazario.
“Do Começo ao Fim”, de Aluisio Abranches, e “Quanto Dura o Amor?”, de Roberto Moreira. Outro evento que merece destaque é o San Francisco International Les-
Extras
bian & Gay Film Festival, onde o Gay Pride Day leva metade da população local às ruas. Aqui no Brasil, desde 1992, o Mix Brasil – o maior site de entretenimento GLBT do país promove o Festival Mix Brasil de Cinema e
∙ Durante a 3º Conferência Norte-Americana
Vídeo da Diversidade Sexual, dirigido por André Fischer
para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêne-
e Suzy Capó. Na sua 18ª edição, o Festival está aberto
ros Muçulmanos e Simpatizantes, no ano
a “qualquer produção que aborde as múltiplas facetas
de 2004 em Los Angeles, ocorreu a pri-
da sexualidade humana”, seja um curta ou um longa-
meira amostra de filmes gays muçulmanos.
metragem.
No presente ano, o Festival de Cannes teve
∙ A primeira “sugestão” da temática homos-
uma novidade especial: a premiação, não oficial, espe-
sexual ocorreu no filme The Gay Brothers
cífica para filmes ligados à comunidade GLBT. O Queer
(1898), de Thomas Edison, onde dois ho-
Palm teve as mesmas categorias do Festival, e foi co-
mens
dançam,
alegremente,
uma
valsa.
ordenado por Franck Finance-Madureira, repórter do site Yagg.com, e teve como júri críticos de cinema e
∙ A consagração cinematográfica do cine-
diretores de filmes voltados a temática homossexual.
ma GLBT foi no filme O Segredo de Broke-
O filme que ganhou a premiação foi o “Kaboom”, de
back Mountain (2005), de Ang Lee, indicado
Gregg Araki, que trata de um jovem universitário que se relaciona com rapazes e garotas e começa a ter estranhos sonhos e alucinações relacionados a seu passado familiar.
“Graças a esses festivais, filmes mais bem
produzidos ganharam o circuito alternativo, alguns arrecadaram fortuna e forçaram, pela lógica do mercado,
a 8 Oscars, e ganhador de outros 76 prêmios em todo o
mundo.
∙ O Festival de Tóquio é
obrigado
a
comprar
Cartaz do Filme Brokeback Mountain. Imagem:Divulgação
a introdução da temática também em seriados de TV,
cópias dos filmes programados, uma vez que, a
como Oz, Sex And The City, Will e Grace, e Queer as
censura japonesa proíbe a mostra de genitais.
Folk, produzida ao alto custo de um milhão de dólares por capítulo, e sendo vista por 4,5 milhões de especta-
Teaser de divulgação do filme Kaboom. Imagem:Divulgação
23
Mercado
Pirataria Grandes
filmes a preço de banana por Lorena Larissa
A pirataria ou pirataria moderna, como alguns
ram que 980 mil pessoas baixassem o longa-metragem
denominam se refere à cópia, venda ou distribuição de
em uma semana, e desta vez com uma novidade a
produtos sem o pagamento dos direitos autorais, de
cópia de Avatar estava sendo vendida pelos camelôs
marca e ainda de propriedade intelectual e de indús-
acompanhada de um óculos feito de cartolina e filme
tria. Os principais produtos pirateados são calçados,
vermelho e amarelo em cada olho, supostamente para
roupas, óculos, relógios, livros, remédios, softwares,
simular os efeitos 3D do filme. O filme é considerado
CDs e DVDs. A pirataria, considerada por muitos es-
hoje o mais baixado da década e campeão de bilhe-
pecialistas como o crime do século XXI, hoje con-
teria em todo o mundo, foram feitas 500.000 cópias
forme dados divulgados pelo Conselho Nacional de
piratas de Avatar em apenas 48 horas. Nos cinco dias
Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade In-
seguintes, conforme dados do site Torrentfreak.com,
telectual custa aos cofres públicos por ano cerca de
o número subiu para 980.000. O resultado impressio-
R$ 30 bilhões apenas com a arrecadação de impostos.
na ainda mais quando se leva em conta o fenômeno
Atualmente os DVD’s de filmes são um dos produtos mais falsificados e vendidos em
Lua Nova, da série Crepúsculo que agora caiu para o segundo mais pirateado da história
todo o mundo. Na grande maioria das vezes, as cópias falsificadas podem ser encontradas nas barracas de comércio ambulante antes mesmo do lançamento do filme. Exemplo disso foi o filme “XMen Origins: Wolverine”, que um mês antes de sua estréia nos cinemas já estava disponível para download, numa versão inacabada, nos sites de pirataria. O filme Tropa de Elite foi conhecido por bater to-
“C
ompram na minha
mão de policiais à
610.000 downloads. O site Charts-
alta autoridade: pro-
Bin divulgou uma lista que aponta
advogado, delegado,
de 2009. As informações, segundo o
curador da justiça, enfim do pobre ao
rico.
É
uma merca-
doria que não é legal
mais todo mundo com-
dos os recordes de pirataria no mundo.
24
em uma semana de estréia, com
pra”
os dez filmes mais pirateados no ano site, foram coletadas pelo TorrentFreak e são provenientes de diversas fontes de compartilhamento de arquivos. Confira a lista ao fim na matéria. O
DVD
pirata
traz
muitos
prejuízos não só para o consumidor,
Filme brasileiro de 2007, dirigido por José Padilha, que
mas para a sociedade, governo, indústria, meio ambi-
tem como tema a violência urbana na cidade brasileira
ente, etc. De acordo com dados da Interpol a pirataria
do Rio de Janeiro e as ações do Batalhão de Operações
está relacionada ao crime organizado, que fazem uso
Policiais Especiais (BOPE) e da Polícia Militar do Estado
desta prática para financiar outras atividades ilegais
do Rio de Janeiro. O número de DVDs piratas vendidos
como tráfico de armas, drogas, contrabando, roubo
pelo Brasil e pelo mundo chegou a um bilhão de có-
de carga, seqüestros, assaltos, entre outros. Para o
pias - isso, entretanto, não impediu que o filme fosse
consumidor, o filme pirata pode estragar o aparelho
um sucesso de bilheteria, alcançando a marca de 1.000
de DVD, e, caso fique constatado que o problema foi
espectadores por sala de cinema na primeira semana.
causado por mídia falsificada, o consumidor perde o
No começo desse ano com a estréia de Avatar
direito à garantia. Além disso a pirataria está intima-
não foi diferente: Os efeitos em 3D do filme não impedi-
mente ligada à exploração infantil, são mais de 250
milhões de crianças trabalhando em regime desumano.
acordo com a Lei 10.695 do Código Penal. As pessoas
No Brasil, de acordo com a Frente Parlamentar Contra
sabem disso, no entanto continuam praticando essa ir-
a Pirataria, esse comércio ilegal impede 2 milhões de
regularidade. E em meio a este contexto, Aracaju não
empregos formais no país e causa um grande rombo
é exceção; tornou-se cena corriqueira se deparar nas
nas contas públicas, sem contar os diversos prejuizos
ruas do centro da cidade, nos bares da Orla de Ata-
causados não só a indústria cinematográfica em
laia ou em bairros populares com vendedores ilegais de
todo o mundo como também o mercado de locação.
filmes pirateados. Geilison Santos, 26 anos, é vendedor
Segundo o Conselho Nacional de Combate à Pira-
ambulante de DVDs piratas há dois anos e diz gostar
taria (CNPC) do Ministério da Justiça, diversas medidas
do que faz. “Eu não gosto de trabalhar para ninguém
vêm sendo tomadas para coibir a pirataria desde 2005.
não, gosto de trabalhar por conta própria e também o
As medidas estão divididas em ações de educação; de
lucro é maior vendendo DVDs piratas. Enquanto der
repressão e esclarecimento da população; e de econo-
para vender e lucrar o meu, eu vendo. Mas quando não
mia para oferecer alternativas de redução dos preços
der mais eu procuro outro meio, que eu não vou vender
dos produtos alvos da pirataria. Outra medida consiste
DVD a vida toda”. Conta enquanto vende seus produtos.
na intensificação da segurança nas salas de cinema
Ao ser questionado sobre a quantidade de DVD’s
para evitar a entrada de câmeras de vídeo nas sessões.
vendidos e também sobre seu lucro diário, ele diz que
O comércio, a exposição à venda, ou a distri-
tudo pode variar muito em seu ramo. “Tem dias que eu
buição de pirataria é considerado crime no Brasil de
vendo cem, tem dias que eu vendo cinqüenta, sessenAmbulante no centro de Aracaju. Foto: Lorena Larissa
25
cipalmente em se tratando de som e imagem. Além disso, se houver algum problema não vou ter garantia de troca ou concerto”, defende. Mas ainda há quem discorde desse argumento e que reitere a atividade de Geilson, é o caso de Karol Campos, estudante de engenharia de Materiais também da Universidade Federal de Sergipe. “Eu só compro DVD pirata, pela questão financeira mesmo. Acho um absurdo o preço dos DVDs originais. Não vou pagar oitenta ou cem reais em um DVD original, sendo que posso comprar um pirata por três com a mesma qualidade de vídeo e áudio”, alega. A verdade é que a pirataria já se tornou algo corriqueiro no dia-a-dia das cidades. Muitos defendem que, se o preço dos originais fossem mais acessíveis, as camadas menos favorecidas da população não alimentariam esse tipo de prática, mas, isso é uma incógnita. Se dependêssemos da fiscalização em relação à prática da pirataria de diversos produtos, não chegaríamos a lugar nenhum, pelo menos é o que afirma Geilson. “Eu não me preocupo com a fiscalização mais não, tem dois anos que vendo DVDs piratas e nunca fui pego. Apesar de não ser de acordo com a lei, a pirataria para mim é um trabalho honesto como qualquer outro. Compram na minha mão de policiais à alta autoridade: procurador da justiça, advogado, delegado, enfim do pobre ao rico. É uma mercadoria que não é legal mais todo mundo compra”, desabafa em meio a sua banca de DVD’s. Ambulante no centro de Aracaju. Foto: Lorena Larissa
ta. Já teve dias de vender 150 DVDs, geralmente do final para o começo do mês as vendas são melhores; já os dias ‘mais fracos’, do dia quinze em diante as vendas caem mais, aí eu vendo de cinqüenta a oitenta DVDs. Meu lucro depende muito, geralmente é de mil, mil e duzentos reais por mês”. O vendedor ainda adiciona que a venda de filmes supera a de shows musicais e que todos os estilos de filmes vendem bem, o que varia é o gosto dos clientes. “Os filmes mais vendidos são os lançamentos, filmes com atores que tem nome no cinema, principalmente os de ação, os romances e os clássicos do cinema”. explica. A estudante de administração da Universidade Federal de Sergipe, Géssica Maria, diz ser contra a prática da pirataria. “Eu não com-
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pro DVDs piratas não; gosto de qualidade, prin-
TOP 10: Mais
baixados
1º Star Trek 10.960# 2º Transformers: A Vingança dos Derrotados 10.600# 3º A Grande Roubada (RocknRolla) 9.430# 4º Se Beber, Não Case (The Hangover) 9.180# 5º Lua Nova (Twilight) 8.720# 6º Distrito 9 8.280# 7º Harry Potter e o Enigma do Príncipe 7.930# 8º Intrigas de Estado 7.440# 9º X-Men Origens: Wolverine 7.200# 10º Presságio (Knowing) 6.930# #milhares de downloads | Fonte: ChartsBin
Opinião
A INDÚTRIA CULTURAL E O CINEMA CONTEMPORÂNEO
por larrisa regina*
Não se conhecia o termo Indústria Cultural antes da revolução Industrial ocorrida no século XVIII. Esse termo que a grosso modo significa a reprodução da arte, tentando se locupletar da mesma para assegurar lucros e garantir a continuidade desse processo, foi inventado pelos autores frankfurtianos Adorno e Horkheimer, autores da teoria crítica, que ferrenhamente defendiam a valorização da arte humanizada, ou seja, cultura feita do homem para o homem, individual, que estimule a capacidade crítica do ser humano, porém após a Revolução Industrial ocorreram alterações no modo produção vigente, o que disseminou a transformação da arte em comércio, assim construindo uma pseudo-necessidade de obter determinados produtos. Segundo os frankfurtianos, (termo utilizado para designar os pensadores da Escola de Frankfurt, criadores da teoria crítica, e totalmente contrários a Indústria Cultural) a arte criada pela, ou a partir da Indústria Cultural não pode ser considerada arte, já que para eles, a arte é algo que brota do ser humano, a partir de emoções próprias, que pode ou não agradar a seus pares, diferente do conceito artístico imposto pela Indústria Cultural, algo padronizado, sem emoção e individualidade, algo pré-fabricado que serve de “rosto” para uma possível ideologia mascarada e uma alienação que serve como um círculo vicioso de cultura. O cinema, por exemplo, é um meio de comunicação de massa, com um caráter teoricamente educativo e uma falsa proposta cultural, o cinema que conhecemos, segundo a visão frankfurtiana, não passa de uma mera reprodução da visão de mundo perfeito e estética que com o passar dos anos a Indústria Cultural nos afirmou como sendo a realidade almejada, realidade essa, muitas vezes inalcançável, o que acaba estimulando ainda mais um círculo vicioso, uma ideologia vendida a partir de seus próprios produtos. O cinema patrocinado é um modelo da mais pura preocupação com a estética, temas padronizados, de fácil assimilação e compreensão, com conteúdos pouco instrutivos, voltados para o entretenimento exigindo de seus telespectadores pouca ou nenhuma decodificação. As grandes produções cinematográficas exigem grandes patrocínios e capital, geralmente de grandes empresas que se utilizam desses mesmos filmes para disseminar suas ideologias para as grandes massas que aceitam todas essas informações sem sequer questioná-las. Um exemplo bem conhecido foi como Hitler propagou de forma rápida e abrangente o Nazismo por toda a Europa no século XX. Diante disto os filmes independentes, que não tem patrocínio, consequentemente não trazem consigo ideologias comerciais, trás temas como política, educação, conflitos sociais, violência nas grandes cidades, entre outros temas que instigam o pensamento crítico e a reflexão, são produzidos com recursos próprios, portanto tem sua produção e exibição de forma modesta, geralmente com um público seleto, mais intelectualizado do que a grande massa populacional. A alienação e a adaptação ao cenário caótico e ao mesmo tempo planejado da Indústria Cultural contribuem para que as salas de cinema fiquem repletas de mentes vazias sem interpretações e senso crítico. O cinema como marco inicial propõe uma via de mão dupla: recepção da informação, interpretação, análise e comparação e por fim as impressões, porém com a Revolução Industrial e consequentemente a transformação do ser humano em produto de compra, venda e troca, fazendo com que o mesmo não tenha mais tempo de analisar a sociedade e a si mesmo faz com que ele perca sua capacidade reflexiva não filtrando os produtos que ele mesmo irá consumir. Por fim, segundo os filósofos frankfurtianos, os produtos destinados as massa ou produtos da Indústria Cultural nunca serão arte, pois os mesmos não tem capacidade de causar reflexão e a arte tem características irreprodutíveis, fugindo assim,da padronização, coletividade e consumismo desenfreado praticado pela Indústria Cultural. *Larissa Regina Santos do Nascimento é graduanda em Comunicação Social, com abilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal de Sergipe.
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Universidade Federal Departamento
de
de
Sergipe
Comunicação Social