Escritores da Periferia

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Todos os direitos desta edição pertencem aos organizadores da obra. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a autorização dos mesmos. Editor Geral Eduardo de Araújo Carneiro Editor ArteSAM Capa, Diagramação, Preparação do Texto, Projeto Gráfico, Revisão e Arte Final Eduardo de Araújo Carneiro

L732e

LIMA, Adriana Alves [et al.]. Escritores da periferia: textos de alunos das escolas públicas do Acre. \ Organizado por Adriana Alves de Lima; Francisca Freitas da Silva Pinheiro; e Margarida Silva Melo; – 1ª ed. – Rio Branco: EAC Editor; São Paulo: ArteSam, 2016, 182 p.: il. ISBN 978-85-5697-104-3

1. Língua Portuguesa; 2. Escola pública; 3. Texto; 4. Linguagem; I. Título CDU 469.0469

http://eaceditor.blogspot.com.br/ eac.editor@gmail.com


Como será a escureza, Desse mato-virgem do Acre? Como serão os aromas, A macieza ou a aspereza, Desse chão que também é meu? Mário de Andrade, 1928.

Mas já que se há de escrever, que ao menos não esmaguem as palavras nas entrelinhas. Clarice Lispector, 1969.



Aos alunos escritores da periferia, Que em meio às mazelas sociais e às adversidades persistentes no processo de leitura e de escrita, no ensino da rede pública, se permitiram aos múltiplos diálogos com suas professoras de língua portuguesa, mediante diversos gêneros textuais, deixando de serem meros reprodutores da palavra alheia, situando-se como indivíduos que têm algo a dizer a partir do contexto cultural em que são inseridos e do lugar que ocupam na sociedade, construindo assim, suas identidades como autores.



AGRADECIMENTOS Aos alunos escritores, que construíram suas identidades como autores. Ao gestor Valdemir Nicácio Lima, da escola Edilson Façanha, que acreditou neste trabalho e nos proporcionou apoio. À coordenadora pedagógica Simone do Nascimento Barbosa (Coordenou na escola em 2014), da escola Edison Façanha e Francisca Claudete Silva Amorim, da escola Leôncio de Carvalho, que grandiosamente contribuíram com orientações no processo de leitura e escrita na sala de aula. À Fundação de Amparo à pesquisa do Acre - FAPAC, pelo auxílio financeiro da bolsa de Mestrado da professora Adriana Alves de Lima em parceria com a CAPES. Ao editor Eduardo Carneiro, que pacientemente realizou a revisão do livro. Ao fotógrafo Jairo Souza, pelo seu talento e amizade. Aos professores Elson Mariano Silva e Francisca Luana C. Santos, por sempre torcerem pelos mais ousados projetos e serem donos de uma sensibilidade tão necessária nos dias de hoje.



SUMÁRIO PREFÁCIO (Prof. Dr. Eduardo de Araújo Carneiro) APRESENTAÇÃO (Organizadoras da obra)

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PRIMEIRA PARTE RESULTADO DA PRÁTICA DE OFICINAS DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA ESCREVENDO O FUTURO CAPÍTULO 1 DOS GÊNEROS 1.1 MEMÓRIA LITERÁRIA De frente para o rio (Rodrigo Verus da Silva) A ladeira (Juliana Mariano) A biblioteca de Vila Pia (Bárbara Falque de Araújo) Festa junina em 1981 (Katrielle Silva) Folhas (Andressa Rogério da Silva) O novo Mercado Velho (Nycolle Hidall de Souza) Água cristalina (João Victor Silva Viana) Lembranças do carnaval (Thaís Falque de Araújo) O poço da cobra grande (Taynara Oliveira, participação especial) Tempos de criança (Andressa Braga de melo) Ares de esperança (Aline Carla Silva de Morais) De frente para o Iaco (Beatriz Dias de Souza) De seringal a cidade: adeus ao rio Acre! (Carlos Eduardo Marcelino da Silva) Só restaram os pés de açaí (Eliane Marques Lima) Doces lembranças (Elissandra Oliveira) Vestígios da vida (Félix Caetano da Silva) Sorte não, determinação! (Giulliana Pinho) Medos perdidos (Jaqueline Freitas Camilo) Minha infância (Jeiciane Oliveira Martins)

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São João no seringal (Poliana Souza Francelino) 66 Lembranças da vida (Raissa Pinheiro da Silva) 68 “Pula – tábua - pula”: voando nas alturas (Sabrina Rodrigues 69 Marcelino) Em tempos de alagação (Wendell Santos) 71 1.2 CRÔNICA Novidade de malabarista (Luiz Fernando Aguiar de Souza) Vermelho laranja (Andressa Amorim de Oliveira) A rua das pepetas (Carlos Felipe Lopes) Zé Carlos, soa o apito! Nawanda Lima S. Nascimento (participação especial) Aconteceu na Gameleira. Hillary Heloisa S. Barros e Sandy Araújo Alencar (Participação especial) Sandálias para o alto (Ana Caroline Aragão Silva) O beco (Alan Alves das Chagas) Não foi aquele aniversário (Érica da Conceição Moura) Campinho de areia (Emerson Lima Fontes) Desigualdade (Gabriel de Oliveira Sussuarana) Mãe noite (Kennedy Willian Santos Silva) No asfalto é melhor (Kelvin Pinheiro) Olinda da tarde linda (Maria Clara Santos Silva) Os meninos do skate (Melre Bezerra da Costa) Fim de tarde (Pedro Henrique Brasil) Gameleira (Sabrina Dias da Silva)

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1.3 POEMA Vem e vai (Taisson Souza Vitório) Parque Chico Mendes (Rafaela Moreira) Viver no Acre (Taisson Souza Vitório) No meu bairro (Amilton José S. Ferreira) Meu Acre (Giulliana Pinho) A enchente no Acre (Letícia Almeida Magalhães) Chuva no Acre é assim (Marcelo Correia de Lima) Rio Branco (Rafaela Moreira de Santana) O rio Acre (Renam Felipe Silva de S. Lima) Calafate (Ronaldo de Sousa Vanderlei) Fazendo poema (Henrique Silva)

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A lua (Paula Vitória) A morte (Poliana Pires de Morais) A mais linda que já vi (Jonh Wesley dos Santos) Minha morada (Karolaine de Araújo Miranda) Vida (Luiz Fernando Aguiar de Souza) Minha cidade (Paulo de Souza Araújo) A verdadeira amizade (Rute Nascimento da Silva, Raquel Nascimento da Silva, Késia Cristina da Silva) Lugar pra se viver (Maiara Bento, Naiara Bento) Ironia do destino (Abigail Sunamita) Rumo ao hexa (Maria Nathália, Adriane Silva e Giulliana Pinho)

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1.4 ARTIGO DE OPINIÃO

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Alguém tem que ceder (Andressa de Souza Martins) Feijó, do Purus ao Juruá é a mais bela que há (Ana Luísa Cardoso) Feijó e os furtos (Christian Braga) Entre sonhos e devaneios: Feijó (Christian Sousa) Feijó: orgulho pela simplicidade (Daiana Gonçalves da Silva) Além das raízes (Denilson Lima do Nascimento) Nossas raízes (Eduarda de Freitas Pereira) Minha terra, minha aldeia: a cidade da florestania (Gabriel M. Feitoza) Vivo bem em Feijó (Genis Eduardo) Os trâmites da Exploração Florestal (Jonatas Lima Freitas) Lugarzinho abençoado (Luana Moura da Silva) Glória de Raimundo! (Lucas Luís) Feijó, onde está o gigante? (Luís Gustavo) Entre cultura e tradição: história de um povo (Luciana Rocha Ferreira) Pequena grande, Feijó! (Maria Ana) As atitudes de hipocrisia (Maria Josélia) Feijó: lugar de muitas riquezas (Naiane Pereira) Outra maneira de cogitar (Natasha Rodrigues) Minha terra (Yara Maria)

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SEGUNDA PARTE DOS TEXTOS FINALISTAS DA COMPETIÇÃO ESCOLAR INTERNA (ALUNOS DO 9º ANO) CAPÍTULO 2 DOS GÊNEROS 2.1 CONTO O sumiço dos livros (Graziela Silva Viana) Por que comigo? (Larissa Ferreira) A princesa guerreira (Participação especial) 2.2 REDAÇÃO ESCOLAR Quem pode estar do outro lado da tela? (Bárbara Falque de Araújo) As pessoas se montam e se desmontam como se fossem bonecos (Thalita Maria Grube L. Miranda) Os dois lados das redes sociais (Diego Barbosa) A busca pela perfeição física (Antônia Paula da Silva) Bullyng virtual (Bruna Silva) Alienação precoce (Gabriel de Oliveira Sussuarana) Quem sofre deve denunciar (Andressa Amorim de Oliveira) Publicidade exagerada (Nilton Adonias e Rodrigo de Jesus) Quem não é vítima também pode denunciar (Kelvin Pinheiro e Graziely Silva Queiroz) A influência da internet na vida das crianças e jovens (Thaís Falque de Araújo)

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PREFÁCIO O Acre é periferia da Amazônia, a Amazônia é periferia do Brasil e o Brasil é periferia do Mundo Ocidental. Produzir textos a partir da periferia do Acre é o mesmo que fazer uso da linguagem a partir da periferia da periferia. E a existência dessa relação de poder de caráter geopolítico é fundamental para compreendermos o valor da iniciativa das organizadoras desta obra. Somos ensinados a ler e a significar o mundo a partir do “centro” e não da “margem” em que vivemos. A nossa formação acadêmica está saturada de autores e livros europeus e norteamericanos. Ainda hoje o currículo escolar brasileiro é eurocêntrico. Nossos referenciais teóricos e epistemológicos estão sempre localizados no “centro” do mundo ocidental. Essa situação só reproduz nossa condição de colonizados, desta feita, no campo do conhecimento. A escola do “subúrbio”, mais que as outras, precisa fomentar uma postura autoral nos alunos. Que devem ser ensinados a pensar o mundo a partir dos paradigmas vivenciados por eles na periferia, quais sejam, os da injustiça e desigualdade social. Assim sendo, o ato da escrita assume um caráter emancipatório. E o maior mérito das organizadoras desta obra está exatamente nisso: ajudar os alunos a pensarem o mundo e a materializarem suas ideias por meio da escrita a partir do lugar de onde vivem. Afinal, na periferia, à margem do centro, também existem autores, mesmo que não tenham visibilidade, eles existem, e este livro é uma prova disso.

Prof. Dr. Eduardo de Araújo Carneiro (UFAC), escritor e editor de livros.


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APRESENTAÇÃO Um novo olhar vem sendo lançado sobre a produção escrita no contexto escolar ao longo dos anos, e tornou-se um grande desafio para o ensino, principalmente aos professores de língua portuguesa. O que se configura um problema, pois a prática de escrita normalmente é realizada apenas no âmbito escolar, e muitas vezes associada simplesmente como uma obrigação, e não por fruição. Sendo o trabalho do professor de língua materna árduo, diante de todas as dificuldades encontradas, seja por parte dos alunos, que passam por sérios problemas de alfabetização e chegam ao ensino fundamental com dificuldades básicas, como: estrutura, paragrafação, ortografia até o reconhecimento dos gêneros textuais, sua finalidade, seu contexto de produção. Seja pela necessidade dos outros professores de outras áreas em reconhecer que grande parte de nossas produções têm um caráter social, profissional, acadêmico, e por seu turno o aluno não escreve somente na disciplina de língua portuguesa, as outras disciplinas também assumem um caráter de obrigatoriedade em reforçar a motivação da produção desses alunos. E esta função também repousa sobre os demais professores. A escrita escolar tem um papel relevante e não pode simplesmente ser vista como mais uma atividade sem uma finalidade comunicativa concreta, ou sem fazer sentido para aquele que escreve. Conforme as Orientações Curriculares o aluno tem que tornar-se capaz de expressar as suas ideias,


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deixando de ser “(...) um mero reprodutor da palavra alheia, mas antes situar-se como um indivíduo que tem algo a dizer (...), a partir do conhecimento da sua realidade e do lugar que ocupa na sociedade” (BRASIL, 2006, p.151). 1 Com esse objetivo é essencial proporcionar o trabalho com a leitura e a produção escrita na aula e principalmente pela exploração dos gêneros textuais. O ensino na educação básica tem sido pautado com objetivo de formar sujeitos críticos e pensantes, e entendemos que proporcionar mecanismos de comunicação reais, orientados, contribui para a ampliação do conhecimento. Ensinar a funcionalidade da língua por meio do estudo dos gêneros textuais é um caminho possível no ensino de língua, propor atividades de produção escrita, mostrar o gênero, levar vários textos semelhantes, proporcionar a esse aluno não só a reflexão e aproximação ao gênero estudado, mas que eles possam observar às características, a estrutura, a linguagem utilizada, a que público se destina. Como aborda Marcuschi “entendemos que os gêneros são a manifestação de como a própria sociedade se organiza em termos de atividades enunciativas, intenções e valores” (2006, p.30). 2 Seguindo o pressuposto de Marcuschi, observa-se que ao escrever um texto, temos uma função comunicativa, ou seja, um propósito a ser atingido, e essa função só será atingida por 1

BRASIL/MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/SECRETARIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA. Orientações Curriculares para o Ensino Médio: volume 1 – Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_01> 2 MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A.; BEZERRA, A.; MACHADO, A. (Org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003. p. 19-36.


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meio dessas diferentes práticas discursivas, e para isso há uma necessidade de conhecer vários gêneros, orais ou escritos, assim como seu contexto, e competência para compreendê-los e posteriormente sua capacidade para produzi-los. Desse modo, o texto passa a ser visto como uma construção cultural, e não como um produto isolado, observa-se que imbricado ao conceito de gênero textual, está à dimensão cultural e política. Assim, tudo o que falamos ou escrevemos está carregado da ideologia do falante/escritor, vemos o discurso sendo carregado de intenções. Mikhail M. Bakhtin em seu livro intitulado Estética da criação verbal, ao abordar os gêneros do discurso destaca que, Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. 3

Os textos verbais – falados ou escritos – que circulam nas mais variadas esferas sociais, são inúmeros, e eles estão relacionados socialmente pelas nossas necessidades e

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BAKHTIN, Mikhail M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina G. G. Pereira. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. P. 279.


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intenções, ou seja, em cada circunstância que esse sujeito se insere, irá surgir uma intenção particular. E trazendo o gênero textual para o âmbito escolar, quando o aluno compreender o gênero textual, mais elementos ele terá para compreender o texto, isso acontece, com a notícia, com poema, por exemplo. Quando o aluno sabe quais os elementos que caracterizam um poema, a sonoridade, as rimas, a linguagem figurada, mais facilidade ele terá para interpretá-lo. E trazendo para a produção textual, isso irá facilitar as escolhas gramaticais, os elementos articuladores, o contexto, o público a qual se destina o texto. E é nesse contexto que entregamos à comunidade escolar e ao público em geral, a coletânea Escritores da Periferia, fruto de um trabalho planejado em sequências didáticas e de múltiplos diálogos entre as professoras e os alunos da rede pública do Estado do Acre. Ademais, essa primeira publicação representa um ganho tanto para os professores quanto para os alunos que têm a oportunidade de divulgar as ações e os resultados alcançados dentro da sala de aula. Na organização deste volume, privilegiamos os gêneros trabalhados para as Olimpíadas de Língua Portuguesa, do Programa Escrevendo o Futuro. Desse modo, grande parte das produções selecionadas aborda a temática “O lugar onde vivo”, como também conto e redação escolar focalizada no ENEM. Os diversos textos apresentados neste livro, em suma, narram, argumentam, contam fatos da nossa terra, no olhar e na vivência dos sujeitos que interpelados pelo contexto histórico assumem como afirma Eni Orlandi (2003) a funçãoautor, que com suas intenções, objetivos e argumentação


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constroem as suas identidades como autores e marcam cada escrita textual. Nessa perspectiva esses autores tornam-se sujeitos, porque dominam certos domínios discursivos e assumem a responsabilidade pelo o que diz. Para Eni Orlandi (2003, p. 76). Não basta falar para ser autor. A assunção da autoria implica uma inserção do sujeito na cultura, uma posição dela no contexto histórico – social. Aprender a se representar como autor é assumir, diante das instâncias institucionais, esse papel social na sua relação com a linguagem: constituir-se e mostrar-se autor.

Seguindo esse viés teórico, nossos alunos se constituíram em sujeitos quando foram afetados pelo contexto histórico – social e assumiram a função-autor ao organizar ao organizar a dispersão num todo coerente – o discurso materializado no texto. Aos leitores que desejam desfrutar de uma leitura agradável, permear pelos diversos gêneros textuais, convidamo-los a conhecer o trabalho dos nossos escritores da periferia de Rio Branco (Escola de Ensino Fundamental II Edilson Façanha, localizada no Calafate), da periferia do município de Feijó (Escola E. M. José Gurgel Rabelo) e da zona rural de Rio Branco (Escola E. F.M. Leôncio de Carvalho) que se faz como participação especial nos gêneros crônica e artigo de opinião, também tem participação significante no gênero memória literária a Escola Profª Marina Vicente Gomes (Baixada da Sobral, periferia de Rio Branco) que mesmo em meio a essas condições de produção deram o seu melhor e


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culminou em alunos dessa realidade a serem escolhidos para representar o Acre nacionalmente como finalistas da Olimpíada de Língua Portuguesa. O livro está dividido em duas partes, por gênero textual. No primeiro, consta o Resultado da prática de oficinas da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro (Gêneros específicos da Olimpíada). Nele está o texto medalha de prata (Olimpíada de 2014) que faz a abertura do gênero Memória literária, assim como os textos selecionados pela Comissão escolar Julgadora, para representação das escolas (Edilson Façanha e Leôncio de Carvalho) na Olimpíada de 2016. O segundo capítulo é constituído dos textos finalistas da competição escolar interna (Alunos do 9º ano), da escola Estadual de Ensino Fundamental II Edilson Façanha.

Profa. Adriana Alves de Lima Profa. Francisca Freitas da S. Pinheiro Profa. Margarida Silva Melo Organizadoras


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PRIMEIRA PARTE RESULTADO DA PRÁTICA DE OFICINAS DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA “ESCREVENDO O FUTURO” (8º e 9º Ano/ 2013, 2014, 2015 e 2016)


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CAPÍTULO 1 DOS GÊNEROS 1.1. MEMÓRIA LITERÁRIA

TEXTO 1 DE FRENTE PARA O RIO Aluno: Rodrigo Verus da Silva No meu tempo era assim: as brincadeiras e os brinquedos eram inventados pela própria criança. Eu fazia carrinhos com roda de sandália e lata de óleo, trator com cabo de vassoura, lata de conserva e de goiabada. A de conserva servia como pá e a de goiabada como volante. Também tinha competição com aro de bicicleta. Meus irmãos e eu ficávamos livremente nas ruas empurrando o aro com uma vareta. Saudáveis tempos, em que todos brincavam sem receio de um carro desenfreado ou de algum “lobo mal” interromper a diversão. Era tudo mais tranquilo. Mas, o que me enche a memória de alegria é lembrar o lugar onde esses momentos aconteceram. Morava numa casinha situada de frente para o Rio Acre. Naquela época sua água era mais fresca, por ser rodeado de árvores frondosas, pois o homem ainda não lançara tantos dejetos. Essa casinha situava-se na Rua Beira Rio, no Bairro Cidade Nova, em Rio Branco, no Acre, que ainda aparentava ser um bairro dentro da


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floresta, de tanto verde que o cercava. Lembro-me como se fosse hoje: o lar sendo construído de madeira nova, retirada ainda verdinha, com aquele aroma puro e natural que só a floresta tem. Acredito que esse era o motivo de suas paredes serem resistentes. Cansei de bater os pés nelas quando fazia o embalo de “vai e vem” na rede. Empurrava com força e não estremecia. Na casa residiam doze pessoas: meu velho pai, homem trabalhador, minha mãe, a rainha sábia e os dez filhos (cinco meninos e cinco meninas). A hora da refeição era a mais divertida para nós. A comida era servida em bacia. Eram duas bacias, divididas em dois grupos de três crianças e um de quatro. Isso dava uma confusão daquelas, com direito a colheradas na testa e mordidas no braço. Nesse momento éramos competidores. O mais esperto levava vantagem. Tal atitude acontecia porque por maior que fosse a porção de arroz, feijão e ovos com carne seca fritos, se tornava pequena pela quantidade de crianças. No entanto, minha mãe resolvia a situação num piscar de olhos. Tinha em mãos o cinto do papai. Apartava os rebeldes para a divisão da refeição ser justa. E tudo acabava bem. Todas as manhãs, levantávamos cedinho. Antes de irmos tomar aquele café preto que só minha mãe sabia fazer, tínhamos que arrumar nossas dormidas. Dobrávamos nossas velhas redes todos os dias. Somente nossos pais tinham cama, sendo que, nesse tempo, uma cama trabalhada em madeira custava os “olhos da cara”. As horas da tarde eram as mais gostosas para nós. Íamos tomar banho no rio. Eram pulos, gritos, “caldeiradas”. A alegria irradiava sem limites naquelas águas.


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As noites me encantavam. Como todo menino sonhador de heróis, ficava sentado na porta, que dava de frente para o rio, com um bonequinho de madeira. Era o meu guerreiro. Fantasiava-o em várias batalhas, nas quais o monstro era a sombra de uma das minhas mãos. A lua iluminava a batalha e jorrava seu reflexo no rio, deixando-o ainda mais belo. Energia vinda diretamente do céu, pois não existia eletricidade para os pobres. A casa era iluminada por velas ou lamparinas. Somente os ricos ocupavam suas noites assistindo televisão. Era o recurso tecnológico mais atraente da época. Nem celular, vídeo game, muito menos computador existia para nós. Mesmo assim, éramos felizes e saudáveis porque ocupávamos nosso tempo gastando energia e não acumulando gordura com brinquedos que a criança nem precisa se mexer. Se me pedirem para dar detalhes daquele lugar, atualmente, apresento ruas, avenidas lotadas de carros, ônibus, motos, caracterizando um trânsito estafante com “fonfons”, palavrões e insultos constantes, num sol escaldante, logo pela manhã e pessoas apressadas, correndo contra o tempo para chegarem ao trabalho. As paredes de tábua da casinha foram trocadas pela areia e o cimento. O rio ficou ainda mais barrento com muito lixo boiando em suas águas não mais frescas, as árvores que o rodeava foram substituídas por inúmeras casinhas. Tudo mudou. Porém, podem mudar tudo, só o que não podem mudar é o que tenho comigo: as lembranças. Essas estão guardadas e com elas posso voltar ao passado à hora que desejar e vê-lo e senti-lo no presente. Texto Medalha de Prata na Olimpíada de Língua Portuguesa de 2014, baseado na entrevista feita


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com o Sr. Rubemilson Batista da Silva, de 47 anos. Escola Estadual Edilson Façanha. Professora Francisca Freitas Pinheiro.

TEXTO 2 A LADEIRA Aluna: Juliana Mariano Tarde que não findava... Lá estava minha mãe pilando o arroz no terreiro, mais precisamente em frente à casa. Estava na posição que ficava de lado para a ladeira, que por sinal, marcou a vida de todos daquele seringal: o Seringal Esperança, situado em Xapuri, no Acre. O Esperança era o único lugar que minhas três irmãs e eu conhecíamos. Não tinha mundo mais belo do que aquele. A mata rodeava o terreiro. Até se ouvia a onça avisar que estava por perto. No silêncio da madrugada, amedrontava os macacos da noite, o gado se achegava ao terreiro e acordávamos tremidos. Lembro-me bem, apesar de pequenina: a casa coberta de palha, o jirau pendurado em suas paredes de paxiuba, o nosso quarto com colchão de palha, única repartição que tinha porta. Amanhecia, entardecia, anoitecia e a ladeira continuava ali. Que ladeira aquela! Tão inclinada! E a castanheira? A árvore imponente da Amazônia, situada em seu topo, completava sua beleza. Lembro-me que quando os cachorros latiam todos olhavam para a ladeira. Era sinal de visita chegando. Sempre que podia ficava sentada na varanda admirando-a, na expectativa de alguém chegar. Era apaixonada pela ladeira. “Ai,


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que saudades de subir e descer a ladeira!” Mas, voltando àquela tarde que ainda não teve fim, afinal, continuo respirando. Recordo que minha mãe soltou bruscamente o pilão, fixou o olhar rumo à ladeira. Eu, que estava na varanda como de costume, gritei que alguém descia. Uma senhora vistosa e um rapaz com feição diferente da nossa raça desciam silenciosamente. Minha mãe correu. Era uma pressa que nunca a vi ter. Fiquei intrigada. Muitas pessoas já tinham descido e subido aquela ladeira enorme e minha mãe continuava tranquila. No entanto, naquela tarde foi diferente. Ela gritava: - Mamãe! Mamãe! Minha mãe parecia ser uma menina pedindo proteção. Um abraço iniciou-se, envolto de lágrimas. A tarde continuava e o abraço em frente à ladeira também. Minhas irmãs e eu não entendíamos nada. A senhora também nos abraçou, porém não sabíamos o motivo desse carinho. Somente dizia que era nossa avó. Não sabíamos nada a respeito. Ainda continuava sendo uma estranha. A tarde não terminava. Era conversa que não tinha fim. Escutei palavras que nunca ouvira: avó, avô, tia, tio, primas, primos... eram estranhos para mim, pois em meu conhecimento existiam somente meus pais, minhas irmãs e alguns conhecidos da colocação. Uma das falas de minha avó, no diálogo com meus pais chamou-me a atenção. - Ah, lá vocês terão vida melhor! Insistia: - Minhas netas vão estudar! No caminho do igarapé. Aliás, resplandecente, suave aos pés por ser coberto de folhas marrons, verdes, amarelas –


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divertidas-, minha recém- apresentada avó me acompanhava. Fazia-me perguntas sobre o meu mundo. Eu, balançando as panelas, suadas da frescura de água natural, respondia cantarolando. - Como não gostar desse lugar de alegria, de pureza da floresta, encantos e soberania? Na manhã seguinte aquela tarde continuava... Corre para lá, corre para cá! Eu sabia que devia obedecer. Ajudei minha mãe a arrumar as malas. Quando dei por mim, estávamos subindo a ladeira. Lá do topo avistei o lugar que tanto amava. Tão sublime! Mal sabia que aquele seria meu último olhar a ele. A ladeira não podia ir. Creio que nela ficaram pedaços de lembranças, dos pés que iam e vinham a qualquer hora por ela. - A viagem será longa. Apressava-nos a minha mãe. Nessa manhã ensolarada, parti sem saber para onde ir. Parti sem saber exatamente o que sentia. Fui com o olhar a gotejar: lagrimava como um rio cheio. Texto segundo colocado na Comissão Escolar de 2014, baseado na entrevista feita com a Senhora Francisca Freitas S. Pinheiro, de 30 anos. Escola Edison Façanha. Professora Francisca Freitas S Pinheiro.


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TEXTO 3 A BIBLIOTECA DE VILA PIA Aluna: Bárbara Falque de Araújo Como no seringal em que passei parte de minha infância não tinha escola, tive que ir para um pequeno vilarejo, que ficava a poucas horas do local em que morava, no mesmo interior de Rio Banco, Acre. Fui morar com minha irmã que já era casada. Ela era jovem, mas na época, na zona rural, as moças mal ficavam moças e já eram “levadas”. Apaixonavamse pelo primeiro rapaz galanteador e logo juntavam os panos. Modo de dizer da região. No novo lugar os costumes eram outros. Nas noites frias as pessoas se recolhiam mais cedo. Não faziam fogueira no terreiro para se esquentar. Recordo que nessas noites, no seringal, ficávamos ao redor da fogueira ouvindo as histórias que só meu pai sabia contar. Meus cinco irmãos e eu, pequenos curiosos, ficávamos concentrados para sabermos o final, principalmente das de assombração. Também, escutar essas histórias num lugar onde a cerca era a mata fechada tinha que ter coragem! Pois nesse meu tempo de criança acreditava-se muito nas aparições de “almas penadas” ou bichos estranhos e encantadores na floresta, principalmente durante as caçadas. O que posso contextualizar com meu velho seringal é que ainda via-se homens passeando nas ruas montados em seus cavalos. Porém, as pessoas eram mais animadas. Todo final de semana tinha aquele forró. Era um arrasta pé danado!. Também tinha os típicos bares, onde os homens se reuniam para jogar sinuca e falar asneiras. Mas, o que me encantou naquele vilarejo foi a biblioteca comunitária que ficava aos


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cuidados de enfermeiras italianas e professoras da região. Foi nela que eu descobri a leitura. Ficava horas viajando através dos livros. A cada leitura, uma nova descoberta. Todavia, o que tornava a biblioteca ainda mais nobre era a igreja situada de frente a ela. Era o lugar solidário, onde as pessoas se refugiavam de seus estresses e enriqueciam-se de conhecimentos. Uma vez li sobre enfermeiras do exército que assistiam pessoas em áreas isoladas. A partir daí começou o meu sonho. Queria ser enfermeira. O que elas faziam era um serviço nobre e extremamente humano. Dedicavam suas vidas aos necessitados, a qualquer hora, em qualquer lugar. Desde então, os meus livros favoritos passaram a ser os de ciências. Não me importava se estavam velhos e empoeirados, o que queria mesmo era o conhecimento. Com o passar do tempo, percebi que já não havia estante nova para mim. Já tinha lido todos os livros dessa área. Porém, todos os dias eu estava na biblioteca. Era minha alegria. Fazia o mesmo trajeto: primeiramente ia à igreja e rezava de frente para a imagem de Jesus, situada no altar e, em seguida partia às carreiras para a biblioteca, gostava de ver a poeira subir, e depois, voltava para a igreja. Acreditava que dentro dela completaria minha sabedoria. Às vezes mudava a rotina e sentava na porta da biblioteca para ver as pessoas passarem como também, admirar a igreja estruturalmente tradicional e ouvir a batida do sino, todas as santas dezoito horas, de cada fim do dia. O tempo passou e o vilarejo tornou-se mais populoso, menos rústico e calmo, passando a ser uma Vila – a Vila Pia. Nome dado em homenagem a uma das enfermeiras voluntárias que atuou na época em que o local mais precisou: a malária atuava fortemente na região. Eu, ainda continuava meu trajeto.


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As mudanças aconteceram, no entanto, os livros continuavam nas estantes da biblioteca, prontos para serem devorados por alguém apaixonado por leitura. Só tinha que dividir meu tempo, já estava atuando na área da saúde. Em busca de progresso tive que deixar a Vila. Porém, sempre que posso vou visitá-la e rever as pessoas que fizeram parte de minha jornada, principalmente matar a saudade da biblioteca – a biblioteca de Vila Pia, que passou por mudanças, está mais moderna. E a igreja continua de frente para ela. São dois santos imóveis! Toda vez que os revejo vislumbro meu passado e me vejo correndo: hora chegando na porta da igreja, outrora na porta da biblioteca. Mas, os santos que me perdoem, a biblioteca era a minha favorita. Texto terceiro colocado pela Comissão Escolar em 2014, baseado na entrevista feita com a Sra. Waldete Falque das Chagas, 40 anos. Professora Francisca Freitas Pinheiro. Escola Edilson Façanha.

TEXTO 4 FESTA JUNINA EM 1981 Aluna: Katriele Silva Como de costume, antes do anoitecer já começávamos a juntar os gravetos. Precisávamos fazer nossa fogueira. Era noite de Santo Antônio. O Santo católico “casamenteiro”. Naquele mês de junho de 1981, no município de Tarauacá, Acre, todos os Santos eram homenageados. Sem contar que as pessoas acreditavam que eles poderiam ajudá-las em suas


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dificuldades do cotidiano. O santo “casamenteiro” era famoso, pois os jovens ficavam ansiosos, na expectativa de encontrarem sua cara metade, nesse dia santíssimo. Nesse tempo, o município era praticamente rural. Mas, simplesmente, sensacional! A maior parte das pessoas residia no seringal. E as poucas que ficavam no centro demonstravam atitudes e costumes típicos do meio rural. As crenças, o devoto aos santos- não era à toa que todos tinham na parede a imagem de um -, a alimentação, as rezas de Ave Maria e Pai Nosso que eram repetidas por várias vezes numa missa feita na maior casa, pois nos seringais não havia igreja. Meus amiguinhos e eu juntávamos os gravetos o mais rápido possível. Tínhamos pressa para apreciarmos a bela fogueira e para competirmos. O grupo que conseguisse fazer a maior fogueira, mais acesa e estrondosa, ganhava elogios, reconhecimento dos pais e dos vizinhos. Era uma satisfação sem tamanho. Lembro que ficávamos até meia noite ao redor do fogo que parecia querer nos falar por meio de estalos. Conversávamos, brincávamos. Quando o fogo estava brando, iniciavam-se os pulos. Todas as crianças passavam pela fogueira. Eram gritos: - Pula, pula! Era a nossa dança. Nossa festa no mês de junho. Como toda menina sapeca, no desejo de ganhar a competição da mais bela fogueira, lancei nela um frasco de um produto químico, muito utilizado na época, nomeado por Detefon. Ele servia como inseticida, até contra pragas na agricultura. Sem noção do que poderia acontecer, cito o risco, porque acreditava que serviria apenas para aumentar o fogo, após o lançamento vi que a consequência foi maior. Houve


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uma explosão na fogueira. Eram pedaços de gravetos para todos os lados. As crianças corriam e gritavam. Mas, foi apenas um susto repentino. Retornaram e a travessura acabou sendo o foco da alegria naquela noite linda. Um dos meus encantos por aquela noite de santo era a comida típica: mandioca, banana e milho eram assados na própria fogueira. Não tínhamos que irmos de barraca em barraca para comprarmos comida. Nem tinha barraca. Providenciávamos o nosso alimento conjuntamente. As pessoas se uniam e contribuíam com o que podiam. No final, todos ficavam satisfeitos e até sobrava para o dia seguinte. Porém, o meu encantamento maior era a alegria e a paz que reinavam à nossa festa. Elas purificavam o espirito festivo de todos. O mais curioso dessas noites de junho era que enquanto as crianças saltavam a fogueira e os adultos se apadrinhavam. Era o batismo na fogueira. Cada um escolhia o seu padrinho e a sua madrinha e estendiam os braços, seguravam-se pelas mãos e rezavam. Eu não entendia a reza, no entanto, eles se benziam e demonstravam-se respeitosos uns com os outros por toda a vida. Era um pacto abençoado que perdurava. Esse era nosso arraial. Não tinha competição de dança, a música ficava por conta da viola e das crianças que faziam questão de cantar suas cantigas ao redor da fogueira. Nossa bebida era o suco natural. Tudo era nos moldes do catolicismo. Havia um respeito religioso pleno em cada atitude demonstrada durante a festividade. Assim, acontecia nossa festa junina. Simples e abençoada, diferente da contemporaneidade, na qual os


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destaques são outros. Não há mais fogueira, muito menos batismo de fogueira. O que ocorre é uma publicidade marcante, na qual reina a competição de barracas, quem vende mais, que grupo dança melhor: o fato mais famoso e atraente das festas juninas de hoje é a mistura de bingos, sorteios e até consulta às cartas. Constata-se uma multiplicidade numa festa que antes era tão mais singela e totalmente católica, voltada extremamente aos santos. Mesmo com todas as mudanças, ainda prefiro as que marcaram minha infância. As que foram festejadas sob a benção do padre e enfeitadas com a fogueira. Texto baseado na entrevista feita com Dulcilene Souza Aguiar Vieira, 43 anos. Professora Francisca Freitas Pinheiro. Escola Edilson Façanha

TEXTO 5 FOLHAS Aluna: Andressa Rogério da Silva Era uma manhã linda. As flores do campo exalavam perfumes. Ainda sinto o cheiro doce das rosas. O vento forte vinha de várias direções e os passarinhos estavam mais animados que as outras manhãs que já vira ali. Estava certa: O lugar em que morava era mesmo um sonho. Situava-se no interior de Rio Branco, no Acre. Naquela manhã resolvi fazer o que mais gostava: pescar. Isso mesmo. Pescar não era somente para os meninos. Naquela época, na zona rural não tinha praticamente divisão de serviços ou de brincadeiras. A mulher fazia trabalhos de “macho”. O


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exemplo disso era minha mãe: mulher guerreira. Tinha uma “força de Sansão”. Não sei como conseguia ser mãe, esposa, cozinheira, ajudar na roça, no corte de seringa e até mesmo na caça. Ela sempre foi minha admiração maior. Não contei conversa, chamei meus companheiros de sempre para a pescaria: um dos meus irmãos e o colega mais próximo de nossa “colocação”. Era assim que nomeavam as colônias, ou fazendinhas. Seguimos rumo ao riozinho do local e claro, aproveitávamos a ida para subirmos nas árvores e pegarmos algumas frutas. Ficávamos embaixo delas e comíamos ali mesmo, saboreando o gosto de tudo aquilo tão natural. Nada se compara a esses momentos que vivi. Quando chegamos à beira do riozinho cada um escolheu um lugar mais conveniente para realizar a pescada. Queria pegar o maior peixe possível, porém, nesse rio o que mais tinha era piaba, o menor peixe. O maior era a traíra, que para mim seria difícil segurar o anzol, caso o pegasse. E nessa escolha, procurei o cantinho mais distante. Desejava que fosse a pescada dos meus sonhos. Pois toda vez meu irmão e meu colega pegavam mais peixes do que eu. Não queria ficar para trás dessa vez. - Não. Chega! Essa manhã de pesca é minha! Cantarolava eu, na beira do riozinho. Eu, pequenina, menina de oito anos, franzina e indefesa, meio que assustada com os “zumbidos” estranhos no meio da mata, continuava distante. De repente, ouvi “chiados” e percebi que viam das folhas secas caídas à beira do riozinho. Não smente chiavam como também se moviam. Mesmo assustada fiquei curiosa. O que seria aquilo? O vento quando leva as folhas secas, ele o faz com força, que elas chegam a voar,


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e naquela manhã acontecia o inverso, elas iam devagar, de mansinho e pareciam cada vez mais próximas de mim. Imediatamente levantei-me do lugar e fiquei observando, no entanto, as folhas começaram a “andar” com maior velocidade. Gritei para meu irmão imediatamente. - João, João! Fiquei ali, perplexa. Não sabia se corria ou se continuava parada. O pior é que eu não via nada, apenas as folhas secas se movendo. Devia ser o medo que me impedia de ver algo. Nesse instante, meu irmão chegou juntamente com nosso colega. Lembro que só consegui dizer que as folhas se mexiam e nada mais. Saí correndo para casa, gritando, assustada. Deixei o caniço e o anzol. Deixei minha pescaria. Meu desejo de pegar o maior peixe não se realizou. Quando meu irmão e nosso colega chegaram em casa, disseram que resolveram a situação. Mataram-na a pauladas. Forma que nossa mãe nos ensinou. Ela dizia que quando nos deparássemos com tal situação, pegássemos um galho maior, que estivesse próximo para matar à distância. Assim, evitaria dela dar o bote que é a sua principal defesa. Depois disso, minha mãe não permitiu que eu fosse pescar. Fiquei na vontade e com medo das folhas secas que o vento derrubava, quando forte estava. O problema não era exatamente as folhas. Elas enfeitavam o caminho no meio da floresta e a beira do riozinho, mas infelizmente, nelas se escondiam os bichos venenosos. Mas faz tempo que isso aconteceu. Minha família findou por ir embora daquela mata sublime. Hoje, vivo na cidade. Não vou negar que tenho saudade de lá. Sinto falta do cheiro doce da flor do mato. Da pescaria principalmente. Mas


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lamento que tão loog foi interrompida enquanto criança. Adulta, voltei a pescar, mas desconfiada, fico atenta a qualquer movimento brusco nas folhas, no capim do sítio do meu tio Luiz. Texto baseado na entrevista feita com Rute Lima de Freitas, 43 anos. Professora Francisca Freitas Pinheiro. Escola Edilson Façanha.

TEXTO 6 O NOVO MERCADO VELHO Aluna: Nycolle Hydall de Sousa Ao contrário dos meus antepassados – mãe, pai e avós - que vieram do seringal - eu nasci na capital do Acre, no bairro Centro, onde vivo até os dias de hoje. São muitas, as lembranças que estão comigo desse centro de Rio Branco. Assim, cutucando o meu baú de memorias, encontro minha coleção de momentos, de quando ainda era uma criança explodindo em sonhos e deparo-me com um centro bem curto, das ruas de um chão de barro puro, formado de casas comerciais rústicas, próximas à beira do rio Acre. Foi nesse cenário que minha infância aconteceu. Recordo-me do teto que me cobria – aliás, muito modesto – as paredes de madeira e a varanda rodeada de plantas e flores coloridas. Minha mãe era quem montava essa singela paisagem para embelezar o nosso lar! Sinto saudades das doces e saudáveis brincadeiras que a meninada fazia no quintal – ah, aquilo sim era alegria, não esses vícios


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tecnológicos de hoje em dia! Meus amigos e eu adorávamos brincar de bambolê, pega-pega, voleibol e futebol. Corríamos, subíamos em árvores. Ainda consigo nos ver terminando o dia: suados, alegres, jogando conversas ao vento à beira da calçada, recuperando o fôlego. Fui mesmo uma menina que aproveitou todas as brincadeiras que talvez as futuras gerações jamais conheçam. Nessa minha coleção de memórias estão algumas peculiaridades do meu lugar que não me afeiçoavam: carregava as marcas de um pequeno vilarejo explorado pelos seringalistas no auge da borracha. As praças eram todas no barro batido, a Casa Rosada com uma pintura desgastada e suja, em nada representava a pompa e o luxo do Palácio atual, considerado um dos monumentos históricos do Estado. Porém, isso não era o foco desse cenário pacato, porque nele continha também um único mercado que despertou minha curiosidade de menina. Ficava de olhos duros ao observá-lo quando ia para lá fazer a feirinha da semana com mamãe ou quando, na necessidade, ia com meu irmão mais velho trabalhar como carregadores de mercadorias. Como o comércio não era tão organizado e as vendas eram livres, também colhíamos laranja, tangerina, bananas nos quintais de nossos vizinhos e vendíamos na beira do Porto em um carrinho de mão, enquanto as balsas descarregavam os seus produtos destinados ao Mercado. Esse grande armazém me fascinava, era uma arquitetura que representava um marco para o desenvolvimento urbanístico da pequena capital, nesse tempo. Estou a falar do Mercado Velho. Hoje, renomeado de O Novo


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Mercado Velho, é ponto turístico, por fazer parte da história e da cultura do lugar onde vivo. O Mercado Velho vendia de tudo: tecidos, mantimentos como: arroz, feijão, farinha, carne seca, até ervas medicinais para diversas doenças, além de abastecer os aventureiros viajantes que adentravam os lugares mais distantes da capital. Era um mercado agitado, cheio de todo tipo de gente, por isso minha mãe sempre dizia: - Fique perto de mim, menina! Posso recriar a cena num papel, em rabiscos de lembranças estão os comerciantes salgando os peixes de variados tamanhos, para que a durabilidade fosse maior, enquanto gritavam: - Olha o peixe fresquinho! Nos corredores era possível sentir o mau cheiro vindo dos restos de carne e dos peixes que eram tratados na hora para os clientes, frutas e verduras podres também compunham o cheiro desagradável. Assim, o mercado era o lugar onde se reunia de tudo um pouco: consumidores, ratos, miseráveis mendigos que pediam esmolas em meio ao lixo e à sujeira. Por fora, a vista era outra, o Mercado situado na Gameleira – calçadão à beira do Rio Acre – era envolto de barrancos tão altos que pareciam montanhas, aos meus olhos de menina. A fluidez das águas barrentas e o vai e vem da correnteza do rio levavam as balsas e barcos abastecidos de óleo, frutas, ‘peles de borracha’, além dos seringueiros a esse Mercado, onde se contém as muitas histórias do povo acriano. Mas isso durou pouco tempo! Depois o Mercado Velho passou por uma grande reforma de revitalização. Por isso o nome de o Novo Mercado


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Velho. É um mercado velho que foi renovado- agora, novo -; O mercado ficou lindo! Além de organizado, bem mais tranquilo e legalizado. Sempre que posso, sento-me em um banco à beira do rio Acre e lembro-me de como já foi à constante movimentação desse lugar. O vai-e-vem das balsas, as pessoas falando em voz alta, as abundantes águas barrentas do rio que se moviam com a correnteza, dando a entender que dançavam naquela agitação. Os anos passaram e muita coisa mudou, mas o Novo Mercado Velho é o local que representa o berço da minha história. Sem ele não haveria o comércio e muito menos a identidade do meu povo. Os anos podem passar, mas sei que sempre lembrarei os detalhes da minha boa infância, que apesar de breve, deixou momentos memoráveis dentro de mim, que levarei eternamente. Se me perguntarem qual a diferença dessa época para os dias atuais, responderei: no meu tempo, as crianças gostavam de se olhar, brincar, conversar, enfim, só quem realmente teve infância será capaz de ler, ouvir e concordar com minhas memórias. Texto escolhido pela Comissão Julgadora para representar a Escola Estadual Edilson Façanha na Olimpíada de Língua Portuguesa 2016. Texto baseado na entrevista feita com a senhora Joisse Fernandes de Amorim, 33 anos. Professora Adriana Alves de Lima.


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TEXTO 7 ÁGUA CRISTALINA Aluno: João Victor Silva Viana Morava no bairro Seis de agosto na cidade de Rio Branco, nossa casa ficava numa rua de barro com muita lama, o quintal das casas era muito grande, o lugar ideal para as crianças brincarem de pega- pega, esconde-esconde e muitas outras brincadeiras que hoje infelizmente não brincam mais. A minha casa era de madeira, muito humilde, parecia com aquelas casas que a prefeitura hoje em dia dá para as pessoas que precisam de um lar. Por trás dela passava o Rio Acre, ainda lembro até hoje da cor da água daquele rio, que apesar de barrenta era livre de poluição. Quando fazia bastante sol, eu e meus amigos íamos ao rio nadar, era a melhor hora do dia, lá a gente brincava tanto, que esquecíamos de voltar ou melhor só lembrávamos que tínhamos casa quando nossas mães gritavam nos chamando para entrar. Bons tempos aqueles, onde as crianças só pensavam em brincar. À noite, apesar do calor, porque na nossa casa só tinha um ventilador que ficava no quarto do meu pai, eu dormia tranquilamente, porque não tinha o barulho de muitos carros, motos, nem tampouco pessoas fazendo festas como no tempo de hoje onde os vizinhos “empatam” de a gente dormir. Quando o dia aparecia era hora de acordar e ir para a escola que era legal e chata ao mesmo tempo, porque como não tinha livros a professora escrevia muito, passava muitas atividades e tarefas para casa.


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Quando chegava em casa tomava banho, almoçava, fazia rapidamente a tarefa que a professora mandava, ajudava nas tarefas de casa e saía correndo chamar meus amigos para irmos tomar banho no rio até escurecer. Quando ficava chateada por algum motivo ou pegava “carão” da minha mãe ia para o rio sozinha pensar na vida, entrava na água e ela ficava brilhando como cristal, era tudo silêncio, esse momento era só eu, meu lugar preferido, o vento soprando meus cabelos e o som das águas se movendo, por alguns instantes tinha certeza que existia paraíso, então ficava paralisada contemplando a beleza daquele lugar que para mim era mágico, até escurecer ou minha mãe gritar para voltar para casa. Mas como nem tudo pode ser como a gente quer, tivemos que mudar de bairro, fomos morar no bairro Nova Esperança, bem mais longe do meu rio, como foi difícil para eu me acostumar sem meu rio, passava horas e horas lembrando aquelas tardes maravilhosas, da água gelada, do brilho que ela tinha quando o sol se punha, das brincadeiras que fazíamos dentro d’água, dos quintais enormes, dos meus amigos e dos momentos que vivi naquele lugar encantador. Hoje, o bairro Seis de agosto está muito diferente a tranquilidade não existe mais, as pessoas devido a correria do dia a dia não são mais gentis como antes, não existe mais vizinhança, as árvores foram derrubadas para que casas fossem construídas e o meu rio, ah o meu rio está poluído, com pontes sobre ele, as águas já não são mais puras e cristalinas e aquele paraíso que era o meu refúgio, o lugar onde eu esquecia da vida, ficou só nas minhas lembranças, ah estas, jamais serão esquecidas.


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Texto escolhido pela professora para participar na Comissão Julgadora Escolar da Olimpíada de Língua Portuguesa 2016, redigido a partir da entrevista feita com Jucélia Silva, 34 anos. Professora Margarida Melo Escola Estadual Edilson Façanha.

TEXTO 8 LEMBRANÇAS DO CARNAVAL Aluna: Thaís Falque de Araújo Lembro-me dos meus dezoito anos, jovem e animada, porém com grandes responsabilidades. Sempre que podia adorava me divertir com amigos e familiares. Na época do carnaval era sempre uma alegria, as festas eram tão animadas que podíamos ver nos rostos das pessoas a felicidade ali “estampada” e por pelo menos um segundo esquecer a dureza da vida na roça. Ah como eu adorava o carnaval daquela época, as pessoas não tinham a malícia que as de hoje têm, não criticavam ninguém, elas estavam ali apenas para divertir-se sem arrumar brigas ou encrencas, queriam apenas aproveitar com os amigos todos os minutos das festas. Na cidade Rio Branco, capital do Acre, na margem do Rio Acre, na Gameleira acontecia as festas de carnaval, com desfiles de blocos, as bandas tocavam marchinhas, como era de costume todos os anos, mas não podíamos ir, porque morávamos na zona rural e para chegarmos até a cidade tínhamos que enfrentar uma estrada esburacada, lamacenta e perigosa, além da distância que


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era enorme, onde levaríamos horas e mais horas para chegarmos até lá. Mas o espírito de carnaval não morria dentro de nós, reuníamos vários jovens e fazíamos a festa ali mesmo na colônia que era bastante grande e tinha espaço suficiente para realizarmos o nosso carnaval. Depois de realizarmos as tarefas diárias, saíamos nas colônias vizinhas convidando os jovens para prepararmos a nossa festa, confeccionávamos nossos próprios enfeites, que às vezes misturávamos com festa junina e enchíamos de bandeirinhas, correntes e balões, fazíamos serpentinas de papéis coloridos e deixávamos o lugar bem bonito. Como não tinha luz elétrica na colônia não podíamos esquecer as lamparinas que além de enfeitar o nosso baile servia também de iluminação e por último escolhíamos os discos que seriam tocados na vitrola. A hora de nos arrumarmos era a mais divertida como não tínhamos roupas e máscaras chiques e bem feitas, fazíamos as nossas próprias fantasias. Com plásticos e papéis coloridos confeccionávamos nossas roupas e máscaras, usávamos também tintas para pintarmos nossos rostos. As moças queriam se enfeitar cada uma mais que as outras para impressionar os rapazes. Depois de tudo pronto, chegava a tão esperada hora, a hora de começar o baile, aí era só alegria e animação, dançávamos tanto até o dia amanhecer que víamos a poeira do terreiro subir. Naquele momento esquecíamos que morávamos numa colônia, e que na quarta feira de cinzas as nossas vidas voltariam a ser como antes, os trabalhos, a colheita e toda a rotina de quem vive na roça. Só pensávamos em nos divertir e aproveitar cada segundo do nosso carnaval que apesar de simples, era o melhor carnaval do mundo.


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Quando a noite chegava acendíamos as lamparinas e a festa continuava mais divertida ainda. Hoje, o carnaval na Gameleira ainda existe, mas mesmo morando na cidade não tenho vontade de participar muito menos ir olhar, as músicas não são mais como antes, as marchinhas deram lugar para outros ritmos como frevo, pagodes, funk e até algumas versões de sertanejos mais animadas, as fantasias deslumbrantes foram tomadas por roupas mínimas e até nudez, as brincadeiras deixaram de ser ingênuas e divertidas e passaram a ser recheadas por bebidas alcoólicas e outros tipos de violências. Como gostaria que o carnaval voltasse a ser como o que realizávamos na colônia, onde nosso maior objetivo era a diversão, não era pomposo como o da cidade, era simples mais repleto de pessoas humildes e trabalhadoras que por algumas horas conseguiam esquecer a vida dura da roça e se entregar a magia do carnaval. Agora com o passar dos anos não tenho mais disposição para participar dessas festas, prefiro ficar com as lembranças de cada brincadeira, das fantasias que confeccionávamos e toda diversão que vivemos. E de uma coisa tenho certeza, daquela época para hoje a única coisa que não mudou foram as serpentinas, ah essas continuam alegrando os carnavais e deixando lembranças na vida de muitas pessoas.

Texto escolhido para participar da Olimpíada de Língua Portuguesa 2016, baseado na entrevista feita com a senhora Waldete Falque de Araújo, 51 anos. Escola Estadual Edilson Façanha. Professora Margarida Melo.


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TEXTO 9 O POÇO DA COBRA GRANDE Aluna: Taynara Oliveira Honorato - Num certo dia, uma família ia numa pequena canoa com destino a uma colocação vizinha. Aconteceria do outro lado do rio, uma festa. No meio da travessia formou-se um tempo de chuva: céu escurecido, vento forte, águas agitadas. Todos estavam apavorados. Aquele momento parecia não mais abolir. A canoa virou. Nadaram forçosamente. Apenas um deles, não conseguiu chegar à margem. Era um rapaz ‘portudo’, porém a correnteza rápida e engolidora o levou para a parte mais profunda do rio: o poço. Nunca mais fora visto. Encantara-se numa grande cobra d´água. E esse poço ficou conhecido como “O poço da cobra grande!” Sentado num tronco bruto, meu pai sempre contava essa história. Meus quatorze irmãos e eu ficávamos impressionados. Confesso que era uma menina corajosa, mas à primeira vez que a ouvi, fiquei com medo de entrar no rio, que por sinal, abastecia a todos dos muitos seringais do lugar onde vivi minha infância. Depois, o medo foi passando, minha mãe dizia que isso era lenda, principalmente quando era para eu buscar água no rio. Enchia-me de panelas. Quem não conhece a lenda da cobra grande não conhece minha cidade. Nasci e me criei no Seringal Iracema, em Xapuri, Acre, a terra de Chico Mendes, defensor da floresta amazônica, reconhecido internacionalmente. Orgulho de nosso povo! Nosso seringal era um império verde e ao fechar os olhos estou a vê-lo neste instante: o terreiro cercado de ripas


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de açaí, a casa coberta de palha, assoalhada com tábua de paxiúba, toda dividida por dentro, formando labirintos fascinantes, convite perfeito para as brincadeiras de escondeesconde. Naquele paraíso, logo cedinho, o despertador chegava aos nossos ouvidos assim... -Cocoricó, cocoricó ! Cantava o galo numa manhã manhosa. Já sentia o aroma do café! Meu pai era o primeiro a levantar-se. A brisa aproveitava para sacudir as folhas no terreiro. Esse terreiro, ah, que pedaço de barro batido! Era nele que aconteciam, ao entardecer, as comemorações de datas queridas. Pulávamos intensamente, fazendo a poeira entrar ao nosso embalo. - Oh, forrozinho bom! Gritavam meus pais, animando os outros seringueiros. Assim, engasgávamo-nos de alegria naquele cenário perfeito, cheio de fantasias. Estou a ver neste momento também, as brincadeiras feitas por meus irmãos e eu no roçado. Escondíamo-nos por entremeios do milharal de papai ou subíamos em mangueiras para dificultar a percepção de quem estava a nos procurar. Porém, a nossa principal diversão acontecia justamente no tão temido poço da cobra grande. -Ah, o poço me fascinava! Ai, você pode me perguntar: e a cobra grande, não tinha medo de ela aparecer? - Medo? Não sabíamos o porquê, mas éramos arrastados para o poço por uma força sobrenatural. Vai ver, o rapaz encantou-se numa cobra bondosa, que nos ajudava nos mergulhos e nos protegia para não nos afogarmos também. Assim, eu preferia


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acreditar. Refugiei-me nesse pensamento para aproveitar as belas tardes naquelas águas. - Meninos, olhem a cobra grande! Chamava-nos a atenção nossa mãe, lavando nossas roupas do lado esquerdo do rio. Creio em ser mais um truque de mamãe para não demorarmos dentro daquele poço. Afinal, mãe é mãe. É natural se preocupar com os filhos, naquela profundidade de água. Já dizia ela: “Água não tem cabelo!”. Mas, as “caldeiradas” seguiam ao ritmo do “bate-bate” de roupas feito por ela, na tábua de paxiúba, fincada à beira do rio por nosso pai. A cada esfregada brusca que fazia, formava uma grande espuma na água fria, eram “nuvens de sabão”, que se achegavam até nós, enfeitando ainda mais nossa diversão. Em meio à vegetação de cipós passávamos por cima do poço, pendurados no maior de todos os cipós dali. Num vai-evem do grande cipó, pluft! Caíamos nele, num mergulho corajoso. Nossos pés não alcançavam o chão, ficávamos flutuando, disputando com a força da água. - Deixa de medo! Meu irmão mais velho nos atiçava para nos soltarmos do cipó! Também escorregávamos nos barrancos. De tantos subirmos e descermos neles, já todos molhados, estavam enlameados. O barro parecia chiclete, de tanto que grudava em nós. Escorregávamos ao suntuoso cantar de minha mãe, que continuava a lavagem. - Morena você lembra... ô lavadeira. Da noite que se passou... ô lavadeira. Madrugada madrugou... ô lavadeira...” Quando o sol já queria dar lugar á lua nossa mãe colocava na cabeça a bacia cheia de roupa enxaguada e gritava: - Bora, meninos!


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Dávamos o mergulho de despedida, em agradecimento à cobra grande, por nos permitir mais uma emoção naquele poço profundo, cheio de mistérios. Se pudesse voltar à infância, faria tudo outra vez! Mas, como isso não pode acontecer tenho que me conformar com a decisão do tempo que passou ligeiro, arrastando-a. Com ele, se foi também a naturalidade do meu lugarzinho. Consequência do progresso urbano. Saudades! É o que posso sentir tão somente. E são delas que vêm as lembranças. Ainda nítidas, me fazem desaguar em lágrimas, formando em mim um poço: o poço de lembranças. Texto baseado na entrevista feita com a senhora Valentina da Silva. 40 anos. Professora Francisca Luana da Costa Santos. Escola Profª. Marina Vicente Gomes. O texto é dedicado ao gestor da escola Edilson Façanha, Sr. Valdemir Nicácio Lima e à professora Francisca Freitas S. Pinheiro, ambos xapurienses.

TEXTO 10 TEMPOS DE CRIANÇA Aluna: Andressa Braga de melo No meu tempo de criança era muito difícil, a primeira vez em que fui à escola tinha sete anos de idade, morava na zona rural e para poder chegar à escola era preciso enfrentar um frio muito forte que predominava no Estado do Paraná, muita vezes ia para a escola pisando em muito gelo (Geada), acordávamos bem cedinho, assim que o sol raiva, ouvindo os


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pássaros a cantar, à espera de mamãe preparar aquele delicioso café quentinho para poder ir à escola. Era um tempo muito difícil, mas de muita alegria. Recordo-me que naquela época existiam várias brincadeiras: pega-pega, carrinho de rolamento, entre muitas outras. Os meus tempos de criança eram muito bons, não era preciso se preocupar com nada, apenas aproveitar aquele momento. Fazíamos travessuras sem se importar com o que iria acontecer depois. Vivíamos com muita alegria não nos importávamos com classes sociais, nem se era feio ou bonito, a única coisa que queríamos era apenas brincar, conhecer novos amigos. Muitos adultos têm que aprender com as crianças, pois são puras, inocentes e verdadeiras não ligam pra beleza nem classe social. Na escola cada aluno contribuía com alguma coisa, só assim era feita a merenda, mas tudo mudou e se modernizou. Nas escolas dos dias de hoje tem lanchonetes próximas às escolas, comida de boa qualidade preparada na própria escola, mas mesmo com toda essa ajuda que o governo dá, muitos não valorizam o que tem. A modernidade foi muito boa por um ponto, mas ruim por outro, pois ao mesmo que trouxe facilidades, acabou por deixar os alunos mais acomodados. Um exemplo disso são as avaliações realizadas nas escolas, o nível de dificuldade era tão grande que forçava o estudo, além do mais se não conseguisse a aprovação repetiram todo o ano letivo novamente. Ao contrário dos dias atuais que a escola busca facilitar a caminha escolar do aluno. O vestibular para cursar a universidade foi substituído pelo ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – que é mais uma forma de ajudá-los.


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A vida naquele tempo poderia ser até difícil, mas sempre podíamos contar com uma ajuda de um amigo, pois não importava o que estivesse se passando ele sempre estava disposto a ajudar. Sempre irei me lembrar e guardar com muito carinho tudo isso, pois são tempos da minha infância que não irão mais voltar, então o que só resta agora e recordar os momentos bons e ruins que vivi, pois a vida não é feita apenas de tempos bons e coisas boas, temos que ter variações, pois só dessa forma que a nossa vida será repleta de histórias e com um passado bem marcante que jamais será esquecido. Texto baseado na entrevista feita com o senhor Adão Borges de Melo, 57 anos. Escola Edilson Façanha. Professora Adriana Alves de Lima.

TEXTO 11 ARES DE ESPERANÇA Aluna: Aline Carla Silva de Morais Onde a imensidão da floresta Amazônica começa ou termina reflete também a minha dura infância. Nasci no seringal Pelota no Amazonas. Aquele lugar era rodeado por uma frondosa floresta, que com sua magnitude nos proporcionava o sustento de nossa família. Naquele tempo o seringal era o lar de muitas famílias, que assim como eu iniciavam no trabalho pesado muito cedo. Lembro-me que ainda pequeno, com 10 anos de idade comecei a cortar seringueira. Primeiramente meu pai ensinou-


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me o processo de extração do látex, depois trabalhei ao lado do meu tio. Nossa rotina era regada de muito trabalho, acordávamos, às 06: 00 da manhã tomávamos um café preto e depois saímos para a mata. Fazíamos o corte na árvore, esperávamos escorrer e ficávamos um tempo na “boca da estrada”. Ao meio dia voltávamos para fechar o corte. Depois desse longo processo o final do dia se aproximava e às 16:00 horas, pegávamos a lenha para fazer o fogo e defumar a borracha na colocação “Paperi”. A rotina para sobreviver no seringal não era fácil, dormia-se pouco e trabalhava-se muito, depois de poucas horas de sono, a madrugada fria, escura da mata fechada não nos intimidava. Acendíamos a poronga – uma espécie de lamparina que o seringueiro usava na cabeça para percorrer as estradas de seringa – e saímos na estrada para limpar, retirando em média 300 a 500 toras de madeiras, dependendo do lugar da floresta que estávamos. Minha vida de criança foi uma extensa rotina de trabalho, não recordo de ter momentos para brincadeiras, pois os parcos momentos livres eu estava exausto de tanto cortar seringa. Passei grande parte da minha vida, repetindo todos os dias a mesma rotina de trabalho. Depois de algum tempo, o processo da transformação do látex mudou, deixou de ser defumada para ser prensada. O que não diminuía nosso trabalho. Continuávamos abrindo e fechando o corte, depois colocávamos o leite numa bacia para qualhar, para posteriormente prensar. Lembro-me que às vezes ao meio dia, pegávamos a borracha prensada, colocávamos nas costas porque naquela época não tinha animal para carregar, andávamos quase 04 horas para chegar à colocação.


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Depois de muitos anos isolados dentro de um seringal, e com poucas oportunidades, minha família e eu viemos para a cidade de Rio Branco, no bairro Esperança. Esse lugar acendeu literalmente um pouco de esperança, para uma vida muito sofrida, regada de um trabalho árduo para sobreviver. Quando chegamos a esse lugar, a diferença foi assustadora, pois no seringal não havia ruas de tijolos, água encanada, e muito menos energia elétrica. Senti-me como um bichinho fora do seu habitat natural, pois não sabia o que era tecnologia. Só tive acesso a esses recursos quando cheguei à cidade. Daquele lugar, fora o extenso trabalho a única coisa que pude realmente aproveitar era o ar fresco, sem fumaça, sem poluição, são esses breves resquícios que estão prestes a se desfazerem em minha memória, quando vejo que a cidade aniquilou as árvores, o clima destruído com tanta poluição. A natureza que não encontro na cidade, é a única lembrança que me faz ter saudade daquele lugar. Texto baseado na entrevista feita com o senhor Antônio Ribamar Saturnino de Morais, 54 anos. Escola Edilson Façanha. Professora Adriana Alves de Lima.


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TEXTO 12 DE FRENTE PARA O IACO Aluna: Beatriz Dias de Souza No meu tempo de criança, minha mãe, meus seis irmãos ficávamos em casa, enquanto meu pai trabalhava. O trabalho duro começou cedo em sua vida. Lembro-me de vêlo chegando a casa, cansado do roçado e do corte da seringa quando eu era menino. Minha única irmã e eu para chegarmos à escola, andávamos quilômetros e quilômetros pela parte da manhã. No caminho passávamos pelo rio Iaco, que com suas águas cristalinas nos seduziam a tomar banho, além disso, era rodeada por inúmeras árvores, que com sua imponência davam o realce amazônico a esse lindo rio. Recordo – me, que por várias vezes saíamos apressados da escola para passarmos horas e horas brincando e tomando banho no grande Iaco. Essas águas nos proporcionavam de tudo, desde a diversão até a alimentação, pois, vez ou outra, atrevíamo-nos a lançar nossos caniços e pegar peixes. Nesse lugar que era o meu cantinho, onde a minha casinha, parecia uma caixinha de fósforo de tão pequenina, era feita de madeira de paxiúba, coberta de palha, e localizava-se à beira do Iaco, município de Sena Madureira. Naquela época, não existia ruas, mas sim, extensas estradas de barro. Nesse lugar era possível a tranquilidade imperava ao ponto de dormirmos com as portas e janelas abertas, sentido a ventilação proporcionada pelo ar fresco e sem poluição da cidade interiorana. Essa falta de movimentação nos permitia ficar até tarde na estrada de barro, meus amigos e eu brincávamos da:


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barra, da manja, de peteca, de bola. Ficávamos tão despreocupados, pois sabíamos que nenhum motorista embriagado iria aparecer e nos atingir. Essa sensação nossos filhos nunca sentirão. Essa é minha maior saudade daquela época, a paz que não temos nos dias de hoje, o noticiário que só anuncia tragédias. Hoje, só me resta a saudade de ficar de frente para o rio Iaco. Texto baseado na entrevista feita com o senhor Josué Moreira de Souza, 44 anos. Escola Edilson Façanha. Professora: Adriana Alves de Lima.

TEXTO 13 DE SERINGAL A CIDADE: ADEUS AO RIO ACRE! Aluno: Carlos Eduardo Marcelino da Silva Trazer à tona as minhas lembranças de infância encheme de emoção e transportam – me há tempos remotos, são memórias das noites sombrias do seringal onde passei parte da minha vida, localizado na zona rural depois de Rio Branco, na Foz do Jurupari, o que não esqueço é da infância marcada por muito trabalho no roçado. Naquele tempo seguíamos a um ritual rigoroso. Acordávamos cedo, tomávamos um café preto e depois papai mandava eu e meus seis irmãos prepararmos o chão para plantar: milho, arroz, mandioca e feijão, dali tirávamos o sustento da nossa família. O trabalho duro não nos intimidava. Eu gostava muito de ajudar meus pais na plantação, mas minha aventura


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preferida era quando saíamos para caçar os animais que eram a mistura em nossa alimentação – veado, tatu, paca, quexada, aqui é o porquinho – da – mata, quatipuru. Nossos aliados nessa empreitada arriscada e desesperada em busca da presa eram os cães de caça. Com ajuda dos cachorros ficava bem mais fácil a localização dos animais. Lembro-me que uma vez nessa caçada, saímos eu e me pai, à noite. Pegamos uma espingarda e uma lamparina e subimos em uma árvore e ficamos a espera. Os cachorros localizaram rapidamente um veado, o imobilizaram e nos esperaram para recolher o animal ensanguentado. Os animais treinados para caçar não matavam, ao contrário, encurralavam e esperavam alguém aparecer. Outras vezes, por conta da distância e do sofrimento do animal, eu pegava o veado e afogava-o no rio para matá-lo. Quando não conseguíamos, eu e meu pai subíamos o barranco e matávamos com o terçado. Eu, menina destemida, só vivia para o trabalho juntamente com meus pais e meus irmãos. Depois de uma noite cheia de peripécias em busca de comida, o trabalho não tinha acabado. Quando chegávamos a casa, tínhamos que acender o fogão à lenha. Um pegava a madeira, outro acendia o fogo, mamãe e papai preparavam a carne do animal para ser cozido. Enfim, para nos alimentar tínhamos que trabalhar muito. Depois de um dia cheio de trabalho duro, a noite era o recanto para o nosso corpo cansado. Em uma casinha simples, feita com madeira de paxiúba tirada na mata, coberta de palhas. Esse era o melhor lugar que existia para mim. O sol mal raiava nas frestas das paredes, tínhamos que levantar para mais um dia regado de muito trabalho, o raiar do dia ainda estava friozinho, mas tínhamos que levantar para podermos pegar água no rio


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Envira, preparar o arroz, limpar as panelas tisnadas do fogão à lenha e também lavar a casa. Quando o sol baixava íamos regar as plantações. Porém, nos poucos momentos vagos aproveitávamos para viver alguns momentos da vida de criança. Essas lembranças me levam a uma natureza sem poluição, igarapés límpidos, com uma água geladinha, eu e meus irmãos víamos nesse lugar um parque de diversões que se realizavam todas as nossas brincadeiras de criança, mesmo escondidos de nossos pais. Passei minha vida inteira no seringal, só conheci a cidade de Rio Branco aos 54 anos de idade, minha casa fica localizada no bairro Portal da Amazônia, que por sinal perdeu muitas características da nossa Amazônia. Ah, seu eu pudesse voltar no tempo, traria de volta a tranquilidade e as riquezas naturais daquele lugar que hoje não vejo na cidade. Minha memória está viva, esqueci algumas coisas, mas jamais me esquecerei daquela natureza imponente que vi no seringal, dos igarapés com abundância de águas. A cidade que teve sua origem os seringais tem ares modernos, porém essa urbanização não destruiu só o cantinho da minha memória, mas a cidade também. Destruíram aquele mundo e também estão destruindo o único rio que sustenta nossa cidade, hoje dou um adeus ao Rio Acre, que estão matando e não posso fazer nada. Texto baseado na entrevista feita com a senhora Terezinha Gomes da Silva, 67 anos. Escola Edilson Façanha. Professora Adriana Alves de Lima.


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TEXTO 14 SÓ RESTARAM OS PÉS DE AÇAÍ Aluna: Eliane Marques Lima Lembrar de minha velha infância é voltar no tempo, principalmente no lugar onde vivi. Meus sete irmãos e eu nascemos e nos criamos no seringal São Francisco, localizado no interior do Acre, no município de Tarauacá. A vida nesse lugar foi muito difícil. Lembro-me que aos 10 anos de idade eu já era uma dona de casa. À beira do Rio Envira cresci executando uma dura rotina de trabalho diariamente. Acordava muito cedo, lavava louça, roupa, depois voltava para casa para preparar o almoço, para quando papai e mamãe voltasse do roçado estivesse tudo pronto. A rotina dos meus pais não era diferente da minha. Minha mãe passava o dia inteiro no roçado ajudando meu pai na produção de farinha. Então, sentia-me na obrigação de dar conta de tudo dentro de casa para que quando eles chegassem tudo estivesse impecável. O trabalho e o cansaço se multiplicaram quando alcançamos a idade de ir para a escola. Era outro momento difícil, já que para se deslocar até a escola, meus irmãos e eu andávamos duas horas de ramal. Sobravamnos poucos momentos para brincar, e quando eu tinha um tempo livre chamava as minhas primas para brincar de bonecas – feitas de litro de plástico – que eram enfeitadas com as roupas de nossas mães. Eram os únicos momentos bons, que me fazia esquecer-se do trabalho duro. Gostava tanto de brincar, e que quando minha mãe chamava-me para casa, eu saia correndo no


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“meio da mata”, subia nos pés de açaí e ficava escondida por um bom tempo. Essas lembranças ficaram lá no seringal, pois tivemos que nos mudar para Rio Branco, fomos morar no bairro Sobral. Esse lugar assim como o seringal apresentava muitas dificuldades quando cheguei. A vida foi muito difícil comparada aos dias de hoje. Nesse tempo não tinha posto de saúde, restaurante, comércio, maternidade. Hoje, a Sobral cresceu tanto que é considerado quase um município. A diferença desse lugar é que antes não havia tanta violência, hoje a criminalidade assim como bairro cresceu bastante. Texto baseado na entrevista feita com a senhora Maria Rosiane Cataiana Marques, 34 anos. Escola Edilson Façanha. Professora Adriana Alves de Lima. .

TEXTO 15 DOCES LEMBRANÇAS Aluna: Elissandra Oliveira Anos e anos se passaram e de repente vejo-me recordando como era o lugar em que nasci e me criei. Não sou natural de Rio Branco, em minha infância morei em um seringal, cujo nome era “Caraperi”, no município de Pauiní, no Amazonas. Tive uma infância difícil, comecei a trabalhar muito cedo na roça ajudando o meu pai. Estudava em uma escola chamada de Presidente Médici, sem muita estrutura, bem simples. Lá estudei apenas até a 4ª série – atualmente 5º ano.


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A escola era bastante longe de casa, saíamos às 11:00 horas da manhã para chegar a tempo. Esse caminho, apesar de longo, sempre era feito com brincadeiras. No meio do trajeto pegávamos as frutas que achávamos e comíamos alegres e satisfeitos em meio ao sol escaldante. Minha casa lá no seringal era bem humilde. Tinha o telhado coberto de palhas e suas paredes eram bem firmes, embora já estivessem se desgastando por causa do tempo. Nessa casinha morava minha mãe, meus dez irmãos e eu, além de meu velho e trabalhador pai, que tinha as mãos calejadas do árduo trabalho que nos sustentava. Apesar da vida simples, ainda arrumávamos tempo para as brincadeiras que também eram simples, tais como: cantiga de roda, esconde-esconde, futebol com bola feita de sacola. Se contar as pernas de pau improvisadas de madeiras velhas. Ainda me lembro das casinhas que as meninas adoravam fingir que eram de verdade. Esses lares infantis eram feitos de folhas de bananeiras. Mas, minha brincadeira preferida era pular dentro do rio, e não era qualquer rio, era aquele com as características tropicais da Amazônia: águas barrentas e geladas. Quando cheguei a Rio Branco, no Acre, morei numa ruazinha chamada 1º de Maio, localizada no bairro 6 de Agosto – esse bairro teve sua origem como um varadouro por onde passavam burros, cavalos carregando borrachas e mercadorias no auge da borracha. Anos mais tarde esse bairro se tornaria a data referência da Revolução Acriana e hoje é um dos bairros mais antigos de Rio Branco. Naquela época as ruas não eram asfaltadas, tinha poucos prédios. Depois de alguns anos construíram a 4ª ponte


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que foi muito importante para facilitar a travessia de um distrito a outro. Moro até hoje nessa cidade que se desenvolveu ao passo que eu ia crescendo, hoje o que me resta são as doces lembranças de uma época que estão apenas em minhas memórias. Texto baseado na entrevista feita com a senhora Zenaide Delfino de Oliveira, 32 anos. Escola Edilson Façanha. Professora Adriana Alves de Lima.

TEXTO 16 VESTÍGIOS DA VIDA Aluno: Félix Caetano da Silva Lembro-me com muita saudade do lugar dos meus tempos de criança, foi um lugar que ficou marcado e que jamais esquecerei. Bons tempos aqueles! Recordo-me de uma casinha pequena que era rodeada por árvores frondosas, o verde tomava uma imensidão de terras. Nossa vida era simples, porém cheia de harmonia em nosso seio familiar. Naquele tempo, a vida de criança era totalmente diferente dos atuais. As crianças desde cedo eram ensinadas a valorizar as pequenas coisas, principalmente, meus irmãos e eu que não tínhamos muito, qualquer coisa tinha um imenso valor. Nossa família não tinha muito recurso e tivemos que largar a escola, por causa dos longos quilômetros que tínhamos que andar, porque além da distância, papai e mamãe precisam de ajuda no roçado e nos afazeres de casa.


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Vem-me a memória como se fosse hoje aquela cena do sol mal raiando, e já tínhamos que estar de pé para “pegar” a estrada para mais um dia inteiro de um árduo trabalho. Embora sejam tempos difíceis, tenho saudades daquele tempo. O que mais me emociona é saber que aprendi a viver e a valorizar as coisas simples da vida, nesse lugar das minhas lembranças: Sena Madureira, no interior do Acre. Mas, depois de algum tempo, nossa família teve que mudar para a capital, Rio Branco, cidade que nos acolheu muito bem. Essa cidade também era muito simples, as ruas eram tomadas pela poeira, não havia asfalto e muito menos eletricidade. Ou seja, não existia muita diferença do interior para a capital, continuávamos a usar nosso velho instrumento, que iluminava as noites escuras em nossa casinha de palha nesse lugar: a lamparina – essa espécie de lâmpada a base de querosene – era o único instrumento que nos ajudam naquela imensa escuridão. São muitas as lembranças, mas se alguém me perguntar qual a diferença de antigamente para os dias de hoje, irei dizer que: a educação das crianças. Antes as crianças eram ensinadas a obedecer aos pais, não se envolviam com drogas e muito menos com violência. Texto baseado na entrevista feita com a senhora Diolinda da Silva, 75 anos. Escola Edilson Façanha. Professora Adriana Alves de Lima.


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TEXTO 17 SORTE NÃO, DETERMINAÇÃO! Aluna: Giulliana Pinho A minha infância foi muito diferente de muitas de hoje em dia. Morava no interior de Tarauacá, município do estado do Acre. Filho de família pobre passávamos muitas dificuldades, às vezes faltava até o leite para minha irmã mais nova, tínhamos que percorrer uma longa distância até o barracão onde os seringalistas vendiam os produtos, para comprarmos o leite e os outros alimentos que faltavam. Quando chegava a noite era o maior problema não tínhamos cama, dormíamos em um casco de barco forrado com panos que maltratava muito nossas costas, amanhecíamos bastante doídos, mas essa era a nossa vida. Em busca de dias melhores, meu pai resolveu que mudaríamos para o interior de Feijó, também no Acre. Para nossa infelicidade ao invés de melhorar piorou cada vez mais, o lugar era esquisito, no meio de uma mata virgem, sem escola, a única alternativa que tínhamos era cortar a seringueiras para extrair o látex, saímos de madrugada com a poronga na cabeça, só levávamos farinha para comer e uma garrafa com água, que misturávamos e formávamos uma espécie de pirão que comíamos para saciar a nossa fome. Fomos crescendo nesse ritmo. Colhíamos o látex e vendíamos para os seringalistas. Lembro-me do dia que meu pai ficou com saldo e resolveu nos presentear, como éramos muitos filhos ele escolhia um por vez para receber o presente, e essa era minha vez, ganhei um violão,


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um relógio com o mostrador azul, uma calça de terbrim e um sapato durabel, como fiquei feliz com aquele presente. Com 15 anos mudamos para a cidade de Rio Branco, capital do Acre, foi ai que meu pai conseguiu nos matricular na escola no prejeto AEIOU de educação integrada, como meus irmãos e eu já éramos grandes e não sabíamos ler nem escrever, viramos motivos de piadas, mas isso não foi suficiente para me desestimular, cada vez mais aumentava a minha vontade de aprender, muitas vezes estudava nas férias para quando as aulas recomeçassem eu estivesse melhor. Infelizmente por causa da “dureza” da vida tive que adiar várias vezes o meu sonho de estudar, fui ser ajudante de pedreiro para ajudar a sustentar minha família, fiquei um tempo parado e só voltei a estudar depois que casei, quatro anos depois terminei o Ensino Médio através dos provões, estudava em casa sozinho e aprendi a escrever com letra cursiva para me inscrever no Enem que apesar de muito estudo e esforço fiquei reprovado várias vezes, mas nunca desestimulei. Continuei estudando em casa e comecei a me inscrever em concursos, com ajuda de amigos que me emprestaram dinheiro consegui inscrever-me em um concurso do Banco do Brasil e com o apoio da minha esposa consegui passar. Nem podia acreditar que aquele menino que cortava seringa no interior do Acre, que foi humilhado na escola por não saber ler agora iria trabalhar no Banco do Brasil, nesse momento não pude conter a emoção e as lágrimas “rolaram” do meu rosto. Apesar de ter conseguido um bom emprego, ainda não tinha realizado o meu sonho, ter um curso superior, então continuei estudando em casa, depois de passar o dia trabalhando, à noite ficava até tarde estudando para me


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preparar para o ENEM e como as coisas só acontecem na hora certa, consegui passar no curso de direito e pretendo ser um juiz para oferecer uma vida bem melhor da que eu tive para os meus filhos e minha adorada esposa. E se um dia meus filhos me perguntarem se tenho saudades da minha infância, direi com toda certeza, que apesar da minha vida ter sido sofrida, cheia de trabalho e pobreza mesmo assim sinto saudades. Saudades da determinação das pessoas em lutar por seus objetivos, infelizmente hoje em dia os jovens se acomodaram e não buscam melhorar de vida, antigamente não, nós éramos incentivados por nossos pais a corrermos atrás dos nossos sonhos, ah disso eu sinto saudades... Texto baseado na entrevista com o senhor Gilson da Silva Pinho, 45 anos. Escola Edilson Façanha. Professora Margarida Silva Melo.

TEXTO 18 MEDOS PERDIDOS Aluna: Jaqueline Freitas Camilo Recordo-me que antigamente era tudo diferente: as árvores, os pássaros, lagos, rios e igarapés. Tudo existia em grande quantidade, o que não vemos mais na natureza que restou. Agrada-me muito lembrar a minha casa de paxiúba, coberta de palha de jaci e um quintal imenso que eu amava varrer todas as tardes, já que pela manhã tinha que “agoar” – expressão usada para se referir a regar as plantas e canteiros.


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Lembro com muito gosto as vezes que meus irmãos e eu brincávamos nos pés de fruteiras, outras vezes nos igarapés ou então nos lugares distantes da colônia que ficava localizada na estrada de Sena Madureira, interior do Acre. Apesar da simplicidade, éramos felizes do nosso jeito. Brincando de esconde – esconde, onde os trapaceiros na hora de procurar os escondidos iam buscar lagartas, para assustar os pequenos que tinham medo do gosmento animal. E onde tinha muito mato eles começavam a jogar as lagartas uma a uma no esconderijo secreto e nesse momento a brincadeira tornava-se um correcorre crianças correndo para todos os lados. Por morarmos na roça, existia muito trabalho pesado, mas isso não nos impedia de nos divertimos com as brincadeiras e principalmente a preparação quando se aproximava o arraial. As festas juninas sempre regadas pela fartura de comidas, tinha de tudo: pamonha, canjica, rapadura, mação do amor, milho assado, além de uma deliciosa galinha caipira. Uhumm... Que tempos bons! Esses tempos maravilhosos deram lugar a momentos difíceis, quanto mais eu e meus irmãos crescíamos, mas a despesa financeira aumentava, foi quando a minha mãe decidiu vender nossa pequena terra que era a colônia. Confesso que sair da zona rural e chegar à cidade de Rio Branco deixou-me muito assustada, nunca tinha visto tantos carros, mas se compara ao meu espanto ao atravessar a primeira ponte metálica, era tão longa. Tive que supera o meu medo de olhar para baixo e ver o rio Acre com sua imponência de águas barrentas, superei e caminhei lentamente atravessando a ponte. Hoje não tenho mais medo dessas gigantes pontes que foram construídas na cidade para facilitar o transporte de um


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distrito a outro. Embora, eu tenha me acostumado com as regalias que a vida urbana oferece, não posso apagar as boas lembranças de minha infância na colônia. Lembro-me com saudade desse tempo ao revelar minhas lembranças aos meus netos. Texto baseado na entrevista feita com a senhora Nai da Silva, 34 anos. Escola Edilson Façanha. Professora Adriana Alves de Lima.

TEXTO 19 MINHA INFÂNCIA Aluna: Jeiciane Oliveira Martins Quando era criança morava num seringal Alto Iaco em Sena Madureira, apesar das dificuldades éramos muito felizes eu, meus pais e meus irmãos. Vivíamos da caça de animais e da pesca. Meus pais trabalhavam na lavoura, mas apenas para nosso sustento. Minha irmã mais velha cuidava da gente, ou seja, dos irmãos menores enquanto nossos pais estavam trabalhando. Para brincarmos fazíamos nossas próprias bonecas que eram de pano ou de espigas de milhos. Não tínhamos uma vida luxuosa, tudo era simples, a nossa casa, a nossa vida que apesar de tanta simplicidade éramos muito felizes, tínhamos uns aos outros e isso nos bastava. Quando a noite era de lua cheia que deixava tudo claro, minha mãe varria o terreiro, que era bem grande, para gente


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brincar de roda, nesse momento ela também virava criança, passávamos horas e horas brincando, como era divertido. Toda noite depois do jantar nossa mãe contava várias histórias, sentávamos todos no chão, como tivéssemos brincando de roda, minha irmã mais nova sempre ganhava o colo da nossa mãe, mas nem ligávamos queríamos apenas ouvir aquelas histórias que se misturavam entre terror e romances até que do nada parava e dizia que era hora de dormirmos. Depois de algum tempo mudamos para Rio Branco, pois nossos pais queriam que a gente estudasse e não tivesse uma vida igual à deles aí foi mais dureza, meu pai trabalhava muito para nos sustentar, inclusive aos domingos vendendo picolés para complementar a renda da família e não passássemos fome. Acabaram-se as brincadeiras, as histórias, as cantigas de rodas nas noites enluaradas, as nossas vidas se resumiam em trabalhos e escolas. Como tudo passa o tempo passou, crescemos e cada um foi viver a sua vida e daquele tempo simples mais maravilhoso só ficaram as lembranças e estas nem o tempo conseguirá apagar... Texto baseado na entrevista com a Maria Clemilda Ferreira de Oliveira, 35 anos. Escola Edilson Façanha. Professora Margarida Silva Melo


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TEXTO 20 SÃO JOÃO NO SERINGAL. Aluna: Poliana Souza Francelino Recordo-me das festas juninas do mês de junho... Qualquer garota da minha idade se abateria com a vida dura nos seringais, mas eu não! Contava os dias para comemorar o dia de homenagem do grande santo: São João. O cantinho que toma minhas lembranças foi o lugar que passei maior parte da minha vida, o lugar em que esses grandes momentos aconteceram, o lugar em que vivo. Morava no seringal “Vai quem quer”, no interior do Acre, situado próximo a Sena Madureira, na colocação “Torno da lua”. Essas terras eram rodeadas por uma mata bruta, verde, exuberante e enigmática. O rio que banhava esse lugar era o Iaco – suas águas eram fonte de vida para as pessoas que viviam nessa região do Purus – pois, plantávamos, lavávamos roupa, louça, tomávamos banho. Enfim, sem as águas barrentas do Iaco não era possível viver nesse seringal. Lembro-me como se fosse hoje: o lar construído com muita dificuldade. Passávamos muita necessidade, muita fome, mas com muito amor. Morava em uma casa de paxiúba coberta de palhas que ficava bem no centro da colocação, junto com minha mãe, meu padrasto e meus oitos irmãos, que pareciam a sequência de uma escadinha, já que minha mãe dava a luz todos os anos. Só contava a quantidade de filhos na hora de dormir. Na hora do almoço era a maior confusão, minha mãe na sua sabedoria e humildade, nos colocava para comer numa bacia de alumínio sentados no chão de paxiúba, e quem era mais esperto enchia a barriga. Minha irmã Neide – mais nova – com


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sua indolência sempre comía menos. E não adiantava chorar, não tinha mais comida. Mas, os dias de São João alteravam a rotina no seringal, o festejo alegrava os dias duros de trabalho cortando seringa. Meus primos, meus padrinhos e eu adorávamos as brincadeiras, principalmente a de pular fogueira. Lembro com muita saudade que ora corríamos ao redor do fogo, ora pulávamos, só parávamos quando nossos pais nos chamavam para casa. Essas boas lembranças ficaram lá no seringal quando mudei para cidade de Rio Branco, deparei-me com uma vida mais difícil ainda, pois não conhecia ninguém no bairro Tancredo Neves – que foi construído a partir da invasão de terras – Minha vida dura continuava, trabalhava como doméstica nas casas de estranhos. Minha casa na cidade se parecia muito com a do seringal. Era de paxiúba, porém com maior degradação, quando pisava na ponta de uma tábua levantava outra. Mas, hoje, só saudade... Daquele lugar, das grandes festas de São João que não vejo na cidade. O que era lugar de diversão, amizades, parentescos jurados a beira da fogueira, deram lugar a amizades virtuais, as comidas típicas foram substituídas por drogas e bebidas, os namoricos da época deram lugar a violência. O tempo pode passar, os valores e as tradições podem ser alterados, mas jamais apagarão as boas lembranças e o significado da festa de São João para as minhas memórias. Texto baseado na entrevista feita com a senhora Mariza Souza Marciano da Silva, 40 anos, Escola Edilson Façanha. Professora Adriana Alves de Lima.


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TEXTO 21 LEMBRANÇAS DA VIDA Aluna: Raissa Pinheiro da Silva Lembro-me de quando era criança, morava em Porto Velho, no estado de Rondônia, em casas flutuantes à beira do rio Madeira. Aquela diferente casa era feita de madeira, possuía dois quartos, um banheiro, uma sala e uma pequena varanda na frente. Nesse lugar sobre as águas, moravam minha mãe, meu padrasto, meu irmãozinho e eu. A maior parte da minha infância foi vivida nesse lugar. E ali, vivi muitas travessas às escondidas de minha mãe. Quando ela saía, eu gostava de pegar a canoa para ver até onde terminava o rio. Nessa aventura eu nunca estava sozinha, minhas amigas e eu, saímos juntas, ora de canoa, ora nadando. Ah, adorávamos nadar! Mesmo sabendo que existiam muitos bichos perigosos, isso não nos impedia de atravessar o rio Madeira, mesmo sem o consentimento de minha mãe. A ideia da aventura, admirar o vento batendo nas árvores, ver os bichos mais fortes voando alto e depois baixinho para matar a sede com as águas do rio, vislumbrar o sol se pondo era emocionante. Não me recordo dos tempos que passei na escola, pois, além de ter começado a estudar tarde, não durei muito tempo em uma sala de aula. Minha memória parece apagar lentamente esses poucos momentos, o que sobrou foram resquícios da lembrança que um lugar que embora, rodeado por um pé de goiabeira, não tinha cerca, era velho, de madeira, sem nome, sem farda e pouquíssimos alunos para estudar.


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Só lembro que tive que vir embora para Rio Branco, no Acre, no Bairro Tancredo Neves. Nessa época tanto a cidade quanto o bairro eram poucos desenvolvidos, seu aspecto rural tinha aparência de uma colônia, poucos habitantes, sem luz elétrica, sem água encanada, ruas sem pavimentação. Porém, um povo acolhedor e solidário, os anos que aqui vivo conheci pessoas inesquecíveis. O tempo passou e só restaram às lembranças da cidade de Rio Branco que cresceu muito, diferente de antigamente. Hoje além da urbanização, temos: luz elétrica, água, meios de comunicação. Texto baseado na entrevista feita com a senhora Eliana Bezerra da Silva, 34 anos. Escola Edilson Façanha. Professora Adriana Alves de Lima.

TEXTO 22 “PULA – TÁBUA - PULA”: VOANDO NAS ALTURAS Aluna: Sabrina Rodrigues Marcelino Morava na vila Extrema, em Rondônia. A cidade era bastante pequena: as ruas eram muita estreitas e davam acesso a um ramal, havia humildes casas bem pequenas, simples e com a tinta gasta por conta da chuva, não havia hospital, banco, comércio e nem muitas escolas na cidade. Mas, lembro – me com detalhes, que a vida era bastante difícil. A escola onde eu estudava era bem distante do lugar onde morava. Caminhávamos bastante até chegar à escola, que na época era chamado de colégio. Recordo-me da sua aparência humilde, pequeno, pintura desgastada. A sala de aula onde


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estudava era bastante pequena, havia apenas uma professora, que ensinava quatro séries que era da primeira até a quarta série. Os conteúdos eram todos iguais e a sala era bastante barulhenta. Confesso não aprendi quase nada! Ah, lembro-me com os mínimos detalhes quando chegávamos da escola, meus irmãos e eu nos dividíamos para cumprir uma única missão: arrumar a casa. Depois que terminávamos com toda a limpeza poderíamos sair para brincar com os nossos amigos. Aquelas brincadeiras eram as mais saudáveis que existiram, dentre elas: pula-corda, bolinha de gude, pega-pega, futebol e “pula – tábua - pula”- nessa brincadeira tínhamos que colocar uma madeira bem grande e larga, um troco debaixo da madeira, e subia uma pessoa em cada ponta da tábua, uma pessoa começa dava impulso e outra voava –. Essa brincadeira era a minha preferida, pois, voávamos nas alturas e podíamos sentir o vento na face e cabelo balançando. Nossa! Como eram legais aquelas brincadeiras de antigamente, em nada se comparam com as brincadeiras da juventude de hoje, que passam horas e horas entretidas com toda a tecnologia disponível. Na minha pequena e humilde casa morava meu velho pai, minha mãe e os meus cinco irmãos. Papai trabalhava de cozinheiro em uma pedreira e mamãe trabalhava de empregada doméstica, e eu como irmã mais velha tinha como obrigação cuidar e educar os mais novos. Os anos passaram e viemos para o Rio Branco, capital do Acre. Chegamos aqui no ano de 1996, ao chegar aqui me lembro com todos os detalhes que a cidade que me deparei não tinha ruas, comércios, hospitais e maternidades. Viemos para Rio Branco em busca de melhorar de vida, pois meu pai e a


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minha mãe tinham se separado, e como a vida era bastante complicada naquele lugar, não tinha como mamãe cuidar e sustentar cinco filhos. Por isso meu irmão mais velho começou a trabalhar para ajudar nossa mãe a trazer alimento para casa. Ao chegar a Rio Branco fomos morar em um dos bairros mais antigos de nossa capital: Seis de Agosto. Naquela época com as frequentes alagações, fomos obrigados a nos mudar mais uma vez, pois todos os anos nossa casa alagava, e perdíamos o pouco que tínhamos conseguido com passa do tempo. Tempo depois viemos para um novo bairro de nossa capital o Calafate, como era novo também não tinha muitas ruas, mais o que tinha mesmo era bastante mato e árvores. Com o passa dos anos, o Calafate foi melhorando e agora tem bastantes ruas e temos acesso aos comércios e posto de saúde e escolas, coisas que na minha época não tinha. E agora sentada, na sala de minha casa posso contar e viajar no tempo, contando minha historia de criança para a nova geração da família. Texto baseado na entrevista feita com a senhora Leonir Mello Rodrigues, 39 anos. Escola Edilson Façanha. Professora: Adriana Alves de Lima.

TEXTO 23 EM TEMPOS DE ALAGAÇÃO Aluno: Wendell Santos Na minha infância eu ajudava meus pais na roça, colhíamos arroz, milho e feijão. Quando minha mãe começou


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a trabalhar, meu pai saia para pescar, e eu tinha que cuidar dos meus irmãos. Lembro-me de uma rotina dura, que começava com a arrumação da casa, lavar louças, preparar o almoço e por fim, tinha que lavar a escada que dava acesso à porta – essa escada era enorme por causa das alagações. Quando mamãe saia dizia: “quero encontrar a casa um brinco!” A casa em que eu morava era bem simples, feita de madeira e ficava de “frente para o rio” no bairro Cidade Nova, na cidade de Rio Branco, estado do Acre. Recordo-me que não era fácil quando as águas do rio subiam, era tempo de alagações, e todos que moravam as margens do rio se alvoroçavam na busca de um lugar para ficar. Todavia, eu em meio a esse “Deus nos acuda” adorava sentar na porta da sala e admirar as águas subindo lentamente, até a invasão dos quintais. Minha não deixava nem meus irmãos e eu descermos para o quintal por causa dos bichos peçonhentos que apareciam nas águas que tomavam conta dos quintais e até mesmo dos bairros inteiros. Quando faltavam poucos centímetros para as águas entrarem em nossa casa, tínhamos que preparar a mudança para casa de uma tia, embora lá também alegasse as águas não entravam em casa. Era realmente difícil esse período de alagação. Meu pai carregava os móveis para a parte mais alta da casa e a noite ainda tinha que vigiá-los para não serem roubados. Depois da agitação, as águas do rio Acre começavam a baixar. E antes de voltarmos, tínhamos que lavar a casa, pois estava cheia de lama, essa labuta durava o dia inteiro, até que estivesse limpa, cheirosa e com móveis todos em seus lugares, e finalmente poderíamos voltar para nossa casinha.


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Essa insegurança nunca passava, pois na primeira chuva forte, tínhamos medo de uma nova alagação. Hoje, tudo mudou, o governo doa casas populares para quem vive na beira do rio, porém muitos preferem continuar na beira dos barrancos. Nada é como antigamente, já aconteceram muitas enchentes históricas que destruíram os bairros perto do rio. O nosso maior problema não é mais a força devastadora das águas, mas sim, a seca histórica que assola nossa cidade. Texto baseado na entrevista feita com a senhora Maria José Silva, 38 anos. Professora Adriana Alves de Lima.

1.2 CRÔNICAS

TEXTO 24 NOVIDADE DE MALABARISTA Aluno: Luiz Fernando Aguiar de Souza “Toda novidade traz uma nova realidade.” Parece o primeiro verso de um poema, mas para a realidade do meu lugar seus últimos versos não seriam tão poéticos assim. Em meio aos pés apressados do Terminal Urbano, no coração da minha cidade – parece que todo mundo passa por aqui-, desde ontem se achega aos meus ouvidos o enredo dado -pela gente carecida deste local- a uma novidade que passeia nessa cidade em mutação. Por sinal, moderna, mas também um paradoxo estendido nesse chão de blocos A, B e C. Novidade, novidade, novidade... Como chiclete na boca, num só movimento, mistura-se à rotina dos transportes.


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O sinal dos ambulantes do lado de cá me convidando a mastigar bananinhas crocantes, salgadinhas, daquelas que nem sei há quantos dias estão no saquinho traz um pouco dela também. O cheiro de sabores que vêm das lanchonetes do lado de lá não deixam de participar. Nem tão pouco os que ganham a vida do lado de fora: camelôs, mototaxistas, engraxates, artesões, artistas proseiam a “nova sensação!” Também os brotinhos de mochila, aos alaridos, aos empurrões e ao roçar dos lábios dão ar da “graça” e “desgraça” vinda com a novidade. Nem os passageiros com destino ao Calafate e Sobral, amontoados mecanicamente às portas dos ônibus qual bichos, se contiveram a fazer parte do blá-blá-blá. - Ora, bem que passou no jornal! Não encurta prosa, um senhor de calça social bege, acompanhada de havaianas, com as mãos abastecidas de um saco do Mercado dos Colonos. Até os filhos do vento que não marcam hora para apreciar bolsas, carteiras, celulares... lançam olhares ao novo ritmo. Mas são nas latas oponentes sobre pneus volumosos que se vão desse lugar, num tique-taque de caramujo, que a novidade feita tempestade se invade de verdade. Não leva telhados. Arranca um labutador e multiplica o outro. Já repousado no banco do passageiro deparo-me com o vento sentado frente à roleta. Mas aí, dá outra crônica! No volante, há um homem que reflete em seus olhos cor de jabuticaba a escuridão da sua própria atuação. Há um homem laborando sozinho na lotação. Dirigindo como um animal desamparado deixa escorrer o suor do rosto ao pescoço porque seu trapo de pano, no tom café com leite - de poeira, água e sal que se misturam- está alagado. Assim também está sua farda, embebida dos seus ombros caídos, tinidos pelo sol equatorial.


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Aliás, peço licença ao Rio de Janeiro, mas esse nosso sol, tingindo a cidade de ouro, faz dela “Rio Branco 40 graus”. O homem divide-se, multiplica-se como num processo de mitose, de meiose. Na sua mente povoa somente o batente. Ora no volante, ora na cobrança. Outrora retrovisor, outrora auxiliar de cadeirante. Freia, acelera, abre e cerra as portas no tempo certo, pois o sobe e desce nos degraus que voam no chão são constantes. Definitivamente, essa novidade fez do motorista um malabarista. Suas mãos aguçadas exibem extrema habilidade. A destreza nas oscilações de seu corpo contorna situações adversas, na duplicidade da função. Seus olhos espertos dançam aos murmúrios embrulhados ao Vrom do motor: - Olha o troco! Olha o troco! Advertem os passageiros. Em buracos que não são de borracha, no entanto, donos das minguadas ruas do meu lugar, os pneus seguem bambos, passageiros suprimidos se tocam, reclamam: - Cuidado, motora! E o malabarista no volante sendo metade e metade vai bêbado de zigue-zague. É pau. É pedra. É pedestre. Carro, motocicleta, bicicleta no meio do caminho. Da janela quase borrada do ônibus sigo ‘curiando’ a movimentação das pessoas que se enrosca com a paisagem central. Cutucando os meus pensamentos... “Quem é mais feliz que o malabarista no ato?” O motorista malabarista sem o “braço direito” que não é! Não tem bolas coloridas para lançar e divertir o público. Tem somente as mãos a se dobrarem e desdobrarem para o passageiro não retrucar. Faz a mesma coisa, dirige. Mas isso, agora, não é a mesma coisa. Assim, essa tal novidade que invade os ônibus da minha cidade, que


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deixa meus olhos encharcados dela, faz-me lembrar dos versos de Teixeirinha e dou-me a enfeitá-los: - São Cristóvão, salve, salve o motorista, nessa novidade de malabarista, quando vai e quando vem deslizando sobre a pista. Crônica escolhida pela Comissão Julgadora Escolar para representar a escola Edilson Façanha na Olimpíada de Língua Portuguesa 2016. Professora Francisca Freitas Pinheiro.

TEXTO 25 VERMELHO LARANJA Aluna: Andressa Amorim de Oliveira E é assim... Quando o sol começa a sumir no horizonte na Rua João de Barro do Calafate, uma movimentação se inicia na sua pequena praça. Só sei que nessa troca do sol pela lua, da alegria vem a desgraça. Em passos lentos, observando tudo ao meu derredor, vou rumo à padaria tradicional do Seu Zé. - Seu Zé, por favor, uma fatia de bolo de cenoura com aquele suquinho de laranja. - É pra já! Respondeu ele, sorridente. Sentada, saboreando a fatia, concentro-me na movimentação. A praça me chama a atenção. Meu olhar se vai, se vem entre manobras, gols, brincadeiras, zoeiras. As crianças e jovens se entretêm. Mas, ao lado esquerdo da praça, há um poste com a lâmpada apagada. Escora-se nele um grupo, que para mim é atrevido por demais!


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Do lado esquerdo, no meio do grupo apertado entre si, em plena ‘boca da noite’, um pontinho vermelho laranja , exala fumaça que sobe devagar, flutua sobre a praça, ameaçadora, indica perigo. Isso realmente me intriga. Essa fumaça polui, maldosamente, a mente. Quando está no ar, toda a gente parece relaxar, logo depois vem o agitar e tudo fica a amedrontar no meio da criançada, que brinca sem saber a realidade que a cerca. Acho até que sabe, mas prefere não saber. Essa rotina acontece todos os dias na pracinha da João de Barro. Assim, nem o próprio passarinho João de barro consegue voar nesse bairro de fumaça e risco, de perdição da inocência, da vivência e do saudável. E assim se vão nossas tardes de todos os dias, entre manobras, gols, zoeiras, embaixo da nuvem de fumaça de risco que se vem da pontinha vermelho laranja , “agarrada” pelo grupo que prefere a escuridão do lado esquerdo da pracinha. Crônica escolhida pela professora para participar Olimpíada de Língua Portuguesa 2016. Professora Francisca Freitas Silva Pinheiro. Escola Edilson Façanha.

TEXTO 26 A RUA DAS PEPETAS Aluno: Carlos Felipe Lopes Sempre nas férias da escola, no meio e no final do ano, os meninos soltam pepetas. É assim que chamamos as pipas


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que para nós também é papagaio. Correm atrás delas com velocidade. Parecem participantes de maratona. Gritam pela rua “Peguei!”. “Essa é minha!”, “Corta, corta!”. Assim, divertem-se: alguns com vara de bambu. Outros com bolebole, uma linha amarrada na pedra para capturar outras pepetas que “vacilam” pelo local. Todas as tardes das férias são de pepetas. O céu que cobre a minha rua ganha vida com várias cores. Umas apagadas. Outras brilhantes, “estilosas”. Nem sei quem dança mais: ora o sol, ora as pepetas coloridas! A alegria corre na rua ao passo que voa o céu. O sol escaldante brinda a sensação. O momento é delas: das pepetas. E eu não podia ficar de fora. Sentado no meio fio, já com os olhos cansados de olha-las no ar, passei a observar quem estava no chão. Tudo agitado e tranquilo ao mesmo tempo. A pureza nos olhos dos meninos, a ansiedade para o vento fazer as pepetas subirem mais e mais, a paixão pelo papel colorido refletia na pele bronzeada dos soltadores de papagaios que pareciam “conversar” do céu. Eu, apreciando o gingado das pepetas no ar, ouço gritos intensos. Ao meu lado direito um menino acabara de pular a cerca de Dona Maria não sei o nome dela e quando não sabemos, todas as donas são Marias e todos os donos são Joãos. O menino tentava se safar de uma boca valente que cumpria o seu batente: cuidava do quintal. Outros meninos também gritavam, pediam socorro. - Arrego! Então veio dona Maria e o livrou do perigo. De certa forma sim, porque seu braço já estava machucado e a sua


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pepeta, devorada. O animal não quis brincadeira. Não contou conversa, mas conto nesse momento esse verdadeiro acontecimento, lamento! Pronto! Por agora encerrou-se a brincadeira. Chegou ambulância faceira. - Ufa! O menino parou de lamentar. Com o braço lavado foi levado pelas rodas velozes do chão. Foi-se no barulho da sirene. Desse jeitinho de periferia é a minha rua. Ela pertence às pepetas. Nela a meninada solta, corta, salta, sorri e também chora quando alguém ou algo resolve acabar com a diversão. A rua das pepetas pertence ao Calafate, bairro popular de Rio Branco, onde quando o vento está favorável, as pepetas tomam conta do céu. Crônica escolhida para participar da Olimpíada de Língua Portuguesa 2016. Professora Francisca Freitas da Silva Pinheiro. Escola Edilson Façanha.

TEXTO 27 ZÉ CARLOS, SOA O APITO! Aluna: Nawanda Lima S. Nascimento (primeiro ano do Ensino Médio) Assim que o sol invade as frestas da parede do meu quarto corro para a varanda. Pensativa, fico a ouvir o coral de passarinhos amarronzados que zelam por seus ninhos. Felizes,


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a cada dia novo, compõem nova canção no meu ramal Zé Carlos, de Santa Maria. Oh, Vila de cantoria! Da varanda, os dias observo as árvores numa dança com o vento que sempre passeia por aqui. Fresquinho, intenso, levanta poeira ligeira e arrasta as folhas secas, fazendo uma chuva de folha, bagunçando o meu terreiro. Também contemplo o céu azulado com resquícios do branco, enfeitado de plumas de algodão. Oh, que graça, o céu de Rio Branco! Mas é só por um momento, porque todo enredo tem um conflito para chegar-se ao desfecho. De repente, meus ouvidos despertam com um barulho, por hora, ensurdecedor. Chaaan! Chaaan! O apito anuncia mais um dia de serviço na cerâmica. - Ai, ai, vai começar né, minha filha! Grita minha mãe, fechando bruscamente as janelas. É do fundão que vem com pressa a fumaça devoradora. A chaminé como um vulcão jorra lava branca que não se pega, porém se sente. Não queima, mas asfixia disfarçadamente. Num passo de mágica o verde que contorna minha varanda de ripas velhas vai ficando apagado. O céu que cobre o ramal se torna esfumaçado, acinzentado. O Zé Carlos fica desoxigenado! Os passarinhos inquietados, num canto maior, voam apressados. Da varanda, vejo portas e janelas em sintonia. Fechamnas. A Dona Joana, moradora mais antiga do ramal, pela janela entreaberta, inconformada, sempre diz as mesmas palavras: - Essa chaminé! O Seu João não deixa de graça também não! E lança do portão, num jeito turrão: - Oh, fumaça do cão! E ele tem razão!


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Da varanda vejo que em meio à fumaça, a criançada continua a diversão. Pedala para lá e para cá numa competição sobre rodas de bicicletas que dão carona a essa ameaça ao pulmão, que insiste por aqui morar, afogando o nosso ar. O seu Amadeu também os acompanha. Em sua bicicleta cargueira faz entrega para o Zé Carlos inteiro. Quem não deixa de aparecer com o seu peculiar grito: “Olha o açaí!” é o homem do açaí. Em pedaladas lentas, na magrela cansada de sacos cor de lilás, meio que tonto, faz sua venda no oxigênio deturpado. Quem não fica para trás também é a Dona Maria. Aposentada, numa vagareza, porém com a boca apressada, abanando-se com a toalhinha encarnada – ela insiste que a toalhinha é dessa cor- se encarrega de deixar o ramal de Santa Maria a par das novidades! Só sei que com a chegada dessa ganância de tijolos e mais tijolos, passamos nossos dias assim. Nem o vento dá conta de atuar na ação. Até ele, ela consegue sufocar. Toda a gente segue a sua rotina sob um teto branco poluidor que se forma pela fábrica de tijolos. O jeito é esperar a ‘boca da noite’ chegar. Nela, ouço o apito encerrar mais um dia de fumaça. Meu pulmão, ela vem aliviar, pois a fumaça engolidora do ar se vai com a escuridão. Só que no dia seguinte... - Zé Carlos, soa o apito! Crônica escolhida para representar a escola Leôncio de Carvalho na Olimpíada de Língua Portuguesa 2016. Professora Francisca Freitas Da Silva Pinheiro.


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TEXTO 28 ACONTECEU NA GAMELEIRA Alunas: Hillary Heloisa S. Barros e Sandy Araújo Alencar (1º ano do Ensino Médio) Logo pela tarde, daquelas em que o sol tem preguiça de se pôr, mas vai assim... lentamente, sinto vontade de saborear o delicioso tacacá. Caldo de tucupi no jambu que treme o beiço com aquele camarão laranja intenso que todo acreano degusta. -E ai, menina, vai um tacacá? Grita a dona Dora, toda faceira em sua barraca. Sentada no banco de madeira, já me deliciando no jambu quentinho, sozinha, passo a admirar a enorme árvore Gameleira. Sua altura, sua copa... e os anos de vida? Nem sei quantos! Mas ela está ali, grandiosa, sobrevivente em meio ao centro, perto do rio, rodeada por um calçadão onde o povão circula, se diverte, se estressa, brinca, corre e até dança quando tem festa na famosa Gameleira do meu lugar. - Oh, tacacá bom demais da Gameleira! Tanto tempo frequentando este lugar e ainda não havia percebido a beleza dessa árvore amazônica. Por instantes conversei com ela pelos pensamentos. Porém, o foco num piscar de olhos foi desviado. Notei uma ser que se aproximava meio tonto, apoiou-se na Gameleira. Um pano velho o cobria. Nas mãos levava um saco de pano. Parecia desgastado. Semblante triste. Notei que passavam por ele outros seres humanos, sorridentes, apaixonados, nem o viam. Esse ser existia, mas também não existia.


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Quando voltei para mim, a cuia já estava fria. Perdi a vontade do tacacá. Paguei a dona Dora, saudando-a meio melancólica. Sei lá! Senti algo estranho no peito. Fiquei sem saber o que fazer e como fazer. Não sei explicar. Assim, não me exija isso, por favor, caro leitor. Creio que um dia desses aí, isso já lhe aconteceu ou lhe acontecerá. Nunca se sabe. Deixei a cuia no banco e antes da dona Dora pegar: - Peraí, me deixe beber esse restinho que a moça não quis? Pediu aquele ser com olhar de tristeza. - Tá! Mais beba logo, tenho que lavar a cuia. Respondeu a dona Dora toda avexada! Calada na boca, no entanto gritando pelo pensamento, vou embora sem saber o motivo, a razão daquele ‘ser’ mesmo sendo humano viver de um jeito sub-humano. Ao mesmo tempo me contento em vê-lo lambendo os lábios com o resto de caldo frio na cuia. Mas também sei que existem outros além dele. A Gameleira os acolhe. Os protege. - Oh, Gameleira! Professora Francisca Freitas S. Pinheiro Escola Leôncio de Carvalho.

TEXTO 29 SANDÁLIAS PARA O ALTO Aluna: Ana Caroline Aragão a Silva Pedalando na minha magrela velha pelo Calafate, vejo que assim como eu, outros adolescentes pedalam contentes


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nesse bairro agitado. Logo, decido dar uma descansada no portão de uma colega. Colocar as fofocas em dia! Palavras vão, palavras vêm... Mas, também fico a observar a criançada contente brincar. Nossa, inventam qualquer brincadeira para se divertirem. É meninada de toda qualidade. Uns mais tímidos, outros mais estilosos dos cabelos oxigenados e cortes malucos! Vejo competição de bicicleta. Pelada no meio da rua. Corrida maluca, é a nossa maratona! Subida m árvores. Corte de pepetas. A Gritaria e os escândalos tornam as brincadeiras mais chamativas. Também acontece tapa na cara para apimentar as brincadeiras. As meninas rebeldes discutem e acusam-se de roubo de namorado. Já se viu! Acho isso besteira. Mas, uma dessas brincadeiras me chamou a atenção. Percebi que é a que a criançada mais gosta: jogar sandálias havaianas para o alto. É cada uma. Risos! A competição consiste em quem consegue jogar a sandália o mais alto possível. Tem sandália que até faz manobras no ar. Não sei exatamente a graça existente nessa brincadeira, uma vez que a pessoa deve ficar com a cabeça para cima, observando a altura da sandália, mas sei do sorriso, das gargalhadas dos competidores quando conseguem vencer. Sei também, dos carões que levam quando as sandálias caem num quintal de uma dona enjoada. - Pegue. E não jogue mais essa sandália no meu quintal. Se não dou para o cachorro! Logo vai anoitecendo e as brincadeiras “dormem”. A criançada já cansada, descansam na calçada. Vozes de suas mães chamam-nas. - Bora, já tá escuro, menino.


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Antes do sono vir, negociam com as mães um tempo maior para as brincadeiras do dia seguinte. E eu, para mais tempo de pedalada. O que mais gosto de fazer! Escola Edilson Façanha Professora Francisca Freitas Pinheiro.

TEXTO 30 O BECO Aluno: Alan Alves das Chagas Este beco sem a criançada correndo, gritando, se espremendo uma na outra virou um tremendo lugar escuro, cheio de olhos malvados. Até ontem a meninada brincava. Mas hoje, passando por ele, caminho de minha casa, me deparo com um vazio. Sinto medo. Sinto frio em pleno sol intenso. O beco apertado do Calafate acomodava todas as brincadeiras. Desde as ligeiras a demoradas. Quando o vento estava forte as pepetas subiam e desciam nele. Saiamos do terreiro e pulávamos no beco o dia inteiro. O aperto não importava. Nos abraçávamos, nos cumprimentávamos, nos beijávamos. Essa era a parte mais legal! Mas ás dezessete horas em ponto, nossas mães gritavam da janela: - Já pra casa, menino! E a nossa animação era encerrada. Íamos pensando no dia seguinte. Porém, isso foi ontem. Porque hoje veio a malandragem e tomou conta do recado. No beco passou a


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reinar a maldade. O comando veio comandar. São olhos em busca de uma nova isca. Eles nos apreciam na passagem apertada, são bocas famintas que nos chamam. Ameaçam se não lhes damos a atenção que acham merecer. Moram nele agora, risos disfarçados, olhos fingidos, gestos cautelosos no vai e vem de aviõezinhos. Vigiam, organizam-se, ao passo que desfazem a pureza de nosso chão. Assim, da janela do meu quarto fico admirando esse corrimão de barro. Somente observo, preso nessas paredes que me escondem e me fazem em solidão. Ninguém, nem o João que era o primeiro a correr pelas beiradas do beco, não se atreve não. Escola Edilson Façanha Professora Francisca Freitas Pinheiro.

TEXTO 31 NÃO FOI AQUELE ANIVERSÁRIO Aluna: Érica da Conceição Moura Com a continuação da noite, depois de tomar a sopa que somente a minha mãe sabe o tempero certo, me apoiei na janela com o fim de admirar as estrelas. Não resisto à tentação de observar a noite na minha Rua Copaíba, no Calafate. Bairro de periferia da cidade de Rio Branco. Superpopulação de todos os valores, culturas e também dissabores, pois é conhecido como um bairro então violento, agitado, conturbado. Mas claro, também mora muita gente de bem. Tranquila, me refrescando na janela, percebo uma movimentação na puxadinha da casa da vizinha. Como uma


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mágica a meninada vai chegando. Uns quietos, sentados no chão. Vi que não tinha assento para todos. Outros brincando com os balões coloridos que poucos estavam pendurados nas colunas da puxadinha. Mas, não faltavam os gritos, claro! Ainda tinham os chorões! Amontoados naquele pequeno e singelo espaço arengavam como também sorriam. De repente se aproxima uma mãe bem vistosa com uma menina de sorriso meigo, com vestido rosa e laço azul, parecia um pacote de presente. O homem ao lado tomava cuidado com as duas. Ele organizou a criançada. Pôs na mesa meio bamba um pequeno bolo da cor do vestido da menina bonequinha e começaram a cantar: - Parabéns pra você, nessa data querida... Era um aniversário! Me dei conta. Os olhinhos da aniversariante brilhavam. Vi tão perto a alegria correndo naquela puxadinha de casa. Tudo singelo, mas caloroso. Não era aquele aniversário cheio de pompas, de regalias, que para mim se trata apenas de frescuras, principalmente quando demoram para cortar o bolo. Vão enrolando a gente com balas, pirulitos, pula-pula, enfim... Esse foi diferente. Foi direto ao aniversário. Não tinha doces, somente bolo caseiro com cobertura de Nescau e suco amarelo, mas de doce tinham a integração, a animação, a união, a intenção de comemorar mais um aninho de vida daquele anjinho. - Ainda não tinha visto um aniversário tão humilde, mas com muita gente feliz! Escola Edilson Façanha. Professora Francisca Freitas Pinheiro.


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TEXTO 32 CAMPINHO DE AREIA Aluno: Emerson Lima Fontes Este campinho de areia já ficou sem graça. Não tem mais pelada legal, daquelas de gritos, empurrões, torcida e blusas coloridas dos times. Agora, quando tem pelada é “morta”. Os meninos ficam desanimados, pois o campinho está desestruturado. As traves? Ah, somente de um lado tem. O outro já caiu. Os bancos da torcida, nem existem. Se quiser, fiquem em pé! Hoje, resolvi chamar a galera do meu Calafate. Mesmo nessa decadência do campinho. Um pequeno grupo insistiu em ver alguma graça no campo. Montaram as traves com sandálias! Jogamos, pulamos com a bola que consegui emprestada. Fizemos a escalada e eu acabei ficando como reserva. Então, o jeito era apreciar aquela jogada pobre e feliz ao mesmo tempo. Chute para todos os lados. E eu, impressionado com o gol lindo do meu time. - Yes, uhuuuuu Depois da alegria do meu time, o Juninho, do time adversário, apimentou a pelada. - Queimou, oh! Ele deu um baita de um chute torto que a bola foi parar no meio da rua. Um carro, sem dó passou por cima dela. Pronto. Acabou-se a pelada com a bola emprestada agora estourada. Os meninos eufóricos gritavam com o Juninho: - Perna de pau! Recolhi a bola vazia. Segui triste para casa, sem saber como pagar a bola emprestada.


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No dia seguinte, tristonho, passando perto do campinho vi os meninos lá novamente com uma bola velha. - Nem me convidaram. - A gente foi na tua casa, tu não tava, cara! - Senta ai, espera a escalada. Sentei-me. Mas ainda triste com o prejuízo. De repente, um carro parou frente ao campinho e saiu um homem apressado. Fiquei com medo. Mas logo, me entregou uma bola nova. - Pegue, desculpas por ontem. Agradeci alegremente. Conclui que ainda tem gente boa nesse mundo! Escola Edilson Façanha. Professora Francisca Freitas Pinheiro.

TEXTO 33 DESIGUALDADE Aluno: Gabriel de Oliveira Sussuarana Era somente uma manhã como as outras. Acordei ainda com sono de uma noite que passou num piscar de olhos. Rapidinho, me organizei para a caminhada de todas as manhãs: rumo à escola. Já fazia o mesmo trajeto há três anos e nada mudava. Porém, nessa manhã, acordei mais crítico, creio, pelo menos no modo de olhar o que me rodeava. Observei atentamente as casas, as lojas do Calafate. A panificadora, claro já aberta. Mas, um pet-shop me balançou os pensamentos. Tão cedo já vi uma


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cachorra toda pomposa, estilo “madame” saindo dele. Sua dona fora buscá-la. Vi que seus pelos brilhavam. Laço vermelho. Coleira brilhante. Uma cachorra da realeza. Toda bem cuidada e recebendo carinho e atenção de outras pessoas que também passavam e admiravam-se com sua beleza. Meu pensamento crítico veio e elaborei a frase “ Beleza comprada.” Alguém pagou caro por isso. E quantos não pagam? Todos os dias. Sei que os cachorros merecem cuidados, vacinas, mas pompa demais para mim é exagerado. Faltaria meu pão de cada dia e a ração do cachorro. Não cabe no meu bolso. Aliás, o meu “xorrinho” é feliz do jeito natural e singelo que cuido dele. Mais na frente, vejo um menino. Andava triste pela rua. Solitário com as roupas sujas e descalço. Pelo ritmo ainda não tomara o café da manhã. De repente ele parou em um portão e uma mulher saiu, olhou para ele, demonstrando uma indiferença com um olhar frio. O menino saiu às pressas. Alguns passos adiante, pensei comigo mesmo sobre os dois lados da humanidade: o justo e o injusto. Oh, desigualdade sem igual! Uns têm tudo, independente de raça, outros nada têm. Escola Edilson Façanha. Professora Francisca Freitas S. Pinheiro


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TEXTO 34 MÃE NOITE Aluno: Kennedy Willian Santos Silva Perto da meia noite chego em casa. Cansado da caminhada da igreja para casa sento na varanda querendo ainda uma nova canção. Olho para o céu e busco estrelas para maior inspiração. - Que noite linda essa! Falo em tom baixo comigo mesmo. Fico admirando a serenidade da noite. O vento levemente, assim friozinho, bate em meu rosto. Com o violão em mãos, atiço os meus pensamentos. Mas nenhuma ideia no momento. De repente vejo meu vizinho saindo de casa. Todas as frias noites ele caminha pela rua. Mora sozinho. Naquele instante resolvi observá-lo e dei-me a perguntar o motivo daquele homem solitário ficar assim... andarilhando sem rumo na escuridão da madrugada. Ponho-me a lembrar do dia em que ele chegou ao Calafate. Parece que veio de muito longe. Não é de alargar prosa. O que ele esconde? Ou o que se esconde nele? Parece misterioso, todavia percebo em seus passos uma humildade. Ele olha para mim fixamente quando se encosta no único poste da rua para pitar um cigarro. Assusto-me, já com os olhos duros. Por segundos nos olhamos, mas ele baixa a cabeça bruscamente como se não quisesse contato. Em seguida, levanta o olhar e deparo-me com uma solidão que dele grita por uma simples amizade. Tímido, não tem coragem de puxar assunto. Sai devagar. Vez ou outra olha para trás. Talvez amanhã ele resolva falar. Isso me trouxe mil ideias à cabeça.


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Concentrei-me com os dedos no violão, arrastando um leve som. Retornei ao vizinho solitário que continuava vagando pela rua quieto e inquieto ao mesmo tempo. Agora sentado no meio fio. E me veio à conclusão de que a noite é uma mãe. É o descanso de seus filhos cansados, atordoados, solitários. Nela estão os viajantes procurando refúgio aos pensamentos. Ela, tão calma, calada dá alento aos que sonham, aos que buscam realizações, aos que sofrem, aos que carregam fardos, aos que querem inspiração para mais uma composição como eu. E com certeza me trouxe inspiração ao mesmo tempo em que deu sossego ao homem que vive sozinho. - Mãe noite. Essa é a minha última composição desse fim de noite. Soaram meus lábios, animados! Escola Edilson Façanha. Professora: Francisca Freitas Pinheiro.

TEXTO 35 NO ASFALTO É MELHOR Aluno: Kelvin Pinheiro A caminho de casa me deparo com uma quantidade de lixo exacerbada no meio da rua. Logo me vem ao pensamento: por que as pessoas têm o mau hábito de jogar lixo na rua? Continuo um trajeto na minha Rua São João, na periferia do Calafate, bairro e Rio Branco cheio de peculiaridades, e avisto logo à frente uma caixa de metal enorme, é a abrigadora de lixo.


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Pronto! Tem o local certo para os moradores jogarem seus lixos. E por que assim não fazem? Será falta de ética? De educação? Será a cultura da sujeira? Será a pura maldade para com a natureza? Falta de disciplina, suponho. Desse jeito, hora ou outra a São João parece que é habitada tão somente por porcos. Nem sei também, porque nem os porcos são tão porcos assim. Eles ficam somente no seu pedaço de sujeira por natureza deles. Então a natureza da maioria dos seres humanos é essa também? Não. O ser humano tem noção da sujeira que faz. O lixo toma conta do asfalto da São João num piscar de olhos. Os cachorros, gatos e outros bichos singulares como o urubu agradecem! O homem pensa que “No asfalto é melhor”. Porém, tudo que vai , volta. Então ficam rodeados pelo odor do lixo espalhado e contaminado de bactérias pairadas no ar que respiram. O que posso fazer é jogar o meu lixo no lixo. E os outros que não fazem o mesmo, o que posso fazer? Sair de porta em porta reclamando. Não, tem pessoas ignorantes ainda. Vai dar confusão ou barraco, como chamamos aqui. Já parado o meu portão, pensativo, escuto um barulho forte e gritos vêm... - Pega o de lá, e eu o de cá! - Bora, já recolhi! São eles, os garis. Na sua profissão honrosa, catam o que dá, naquela rua de sujeira. Os que ainda estão em sacos, fica mais fácil de colocar no carro. Os que não, permanecem no asfalto a se decompor. Até eles têm regras a cumprir: recolher o lixo que está corretamente ensacado. Ainda assim,


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deixam o asfalto bem melhor. Aos poucos e o sol vai queimando o odor do chorume do lixo bagunçado, dissolvido na cor preto brilhante, na minha São João, onde mora pessoas de um tudo, até morador porcão! Escola Edilson Façanha Professora Francisca Freitas Pinheiro.

TEXTO 36 Olinda da tarde linda Aluna: Maria Clara Santos Silva Da porta da minha casa feita de madeira e janelas simples, mas cheia de vida, observo a molecada se reunindo para aquela pelada da tarde, no momento em que o sol dá tchau. Alguns meninos combinam estratégias. Dividem os grupos. Outros vão em busca de tijolos para demarcar o gol. Quando não tem tijolos, um par de havaianas cabe bem. Quando tudo fica pronto começa a pelada com sorrisos soltos em cada rosto dos meninos. - Apita! Grita um dos meninos todo entusiasmado. Durante o jogo, eles se cumprimentam, se elogiam, se machucam, mas não seria pelada verdadeira se não tivessem os empurrões, chutes, abraços, dribles, gritos, cuspidas, risos e principalmente o gol que traz tanta alegria. Nessa hora, desejaria saber jogar tão bem quanto eles, porém me nomearam a outras atividades que dizem ser


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somente para meninas. Mas estou bem sendo o que sou: menina. Logo a lua diz “oi” , dando ar de sua luz de graça. E lá se foi mais um dia. Lá se foi mais uma pelada com direito a gargalhada e comemoração do time ganhador. Os meninos vão se despedindo aos poucos já aguardando o por do sol do dia seguinte, para mais uma pelada alegre, divertida, cheia de fantasia. E eu, mais uma vez vendo essa alegria, sentada na porta. Assim é a minha Rua Olinda da tarde linda. - Ah, Olinda! Escola Edilson Façanha. Professora Francisca Freitas Pinheiro.

TEXTO 37 OS MENINOS DO SKATE Aluno: Melre Bezerra da Costa Todo dia, no Calafate, na mesma rua, na mesma praça, nas mesmas flores. Minto. Não tem mais flores! Mas tem skate, os meninos se reúnem para fazer desafios. Manobras de todas as formas são feitas por eles. Cada um com seu gingado, com o seu entendido. Passos decorados em cima da madeira com rodas são efetuados. Eu e as outras meninas ficamos na torcida. Tudo divertido! As meninas e eu ficamos impressionadas. Tem manobra que mais parece que o objeto tem vida própria. Eu já me arrisquei a fazer “manobrinhas”, mas deu perna de pau


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mesmo. Acho que o skate escolhe quem ele quer e não a pessoa que o escolhe. Só acho. Risos! É claro, que em meio à gritaria e agitação, também tem as manobras mal resolvidas. Daquelas de deixar os joelhos vermelhos. Já teve menino com costela fraturada. - Caiu de mau jeito, o coitado! É um esporte radical! Principalmente quando o salto chega a ser bem alto. Nossa, dá um arrepio, pois o medo do menino levar um tombo fatal é evidente. As mães nem se arrisquem a assistir. Vez ou outra, um acaba chorando, fazendo careta de dor com um machucado por se atrever a voar alto demais na rampa. Mas, a galera vai ao delírio com as proezas que os meninos acostumados na brincadeira fazem. Assim, fico somente observando, babando todo o gingado em cima do skate. Quereria eu ter coragem de me arriscar novamente, mas sei que isso pode me custar um dente! Por isso, deixo essa proeza para os meninos do skate. Escola Edilson Façanha. Professora Francisca Freitas Pinheiro.

TEXTO 38 FIM DE TARDE Aluno: Pedro Henrique Brasil Como de costume lá estavam eles na Rua São Luiz. Uma rua bastante movimentada do Calafate. Eram meninos e meninas que arrumavam o gol fazendo as traves com ripas


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deitadas nessa rua de tijolos que por todo fim de tarde se fazia de campinho para uma boa partida de futebol. Meninos contra meninas. O time estava formado. Aqui, as meninas não ficam para trás, driblam também. E eu, assistia de camarote na beirada da rua, aguardava a próxima escala. E sorriam, gritavam, escorregões não faltavam. A maioria preferia jogar descalça. - Tira a sandália , Maria! As coleguinhas do time das meninas não deixavam de dar uma boa bronca na Maria que insistia em jogar bola como “madame”. Mas nessa jogada sempre acontecia o mesmo: tínhamos que fazer e desfazer nosso campo improvisado, pois os carros e motocicletas também queriam passar por ali. Essa parte é a mais chata para nós. Porém , a vontade de gastar energia, de aproveitar nosso fim de tarde era maior do que essa chatice. Rapidinho corremos para o meio da São Luiz, devolvendo as ripas e sandálias para o gol. Assim, a tarde que já findava se ia de vez. A criançada precisava voltar para casa. Íamos sujos, suados, descalços, com as sandálias nas mãos, preparados para uma bronca de sempre: a das nossas mães. Sempre a mesma frase, parece que elas combinam: - Menino, a casa tá limpa! Eu preferia calar-me e tomar um banho gelado. Sujo ? Isso não importa. Nem a mim, muito menos aos outros meninos. O melhor de tudo isso é dormir imaginando o amanhã: teremos mais um fim de tarde. Escola Edilson Façanha. Professora: Francisca Freitas Pinheiro.


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TEXTO 39 GAMELEIRA Aluna Sabrina Dias da Silva Era sábado à tarde, de um sol que teimava em se ir. Lá estava eu, passeando calmamente no calçadão da Gameleira, point de encontro dos rio-branquenses como também patrimônio histórico do meu Estado do Acre. A gameleira fica no centro da capital. É sensacional ficar sentada à beira do rio observando os arcos que vão e vem num embalo só. Mas nesse sábado vi o que em outros sábados ainda não havia percebido ou dado a atenção maior. Porque, claro, nesse point tem de tudo. E na movimentação que a compõe, eles também fazem parte. Vejo um casal na escuridão de suas próprias vidas. Estão no chão, em cima de papelões. Suas roupas rasgadas, sujas, amarrotadas comprovam que estão largados à própria sorte! Mas, o que me levou até eles foram seu olhos: refletiam como um espelho, uma tristeza. Dei-me conta de que são pessoas ignoradas pelos outros, pelos representantes de nossa sociedade. Enfim, são doentes, famintos, sedentos. Mas, uma dona de uma lanchonete resolve “quebrar” esse abandono e lhes dá um algum alimento de sobra dos fregueses. Pelo menos isso! Penso. O casal sorri e faz sinal com a cabeça em agradecimento. Curiosa, continuo observando a moradia daquele casal. O jeito de conversarem, timidamente. Estranhos, parecem não estar nesse mundo. Logo, se aproxima um homem todo ‘malaganhado’, vestido de um trapo com feição lenta. Olhava como se estivesse viajando... e pelo o que levava em mãos, realmente estava. Ele trouxe cigarros ao casal. Esse cigarro é forte, daquele que faz a pessoa viajar, ficar louca. Fiquei indignada. Perplexa. Não sei se


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sentia pena, ou raiva, mas fiquei impotente naquela cena: fumam, sedentos! Prefiro crer que algo bem forte os levou a viver daquele jeito: como moradores de rua, provam e vivem de todas as formas. Acredito que se drogam para esquecer da situação em que se faz a vida. Abandonados pela família, depressivos, rebeldes, loucos, são vários os motivos que levam o ser humano a ser assim, a viver assim, na escuridão, sendo o teto , ora o sol, ora as estrelas. O que me revolta é o olhar de muitas pessoas: repudiam. Infelizmente, estamos em uma sociedade preconceituosa, onde os usuários de drogas, abandonados, confinados naquela fumaça são tratados menos que bicho. Cadê os assistentes nessa hora? Cadê o Centro de recuperação que não se compadece? Todo dia, na Gameleira é assim: tem gente que existe, porém tem gente que parece fumaça. Vai-se com vento, rapidamente.

Escola Edilson Façanha. Professora Francisca Freitas Pinheiro.

1.3 POEMAS

TEXTO 40 VEM E VAI Aluno: Taisson Souza Vitório (6º Ano) Quando a chuva vem, No meu lugar bailar. Rio Acre a sapatear. Faz a enchente.


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Afoga as moradias. Chora nossa gente. E o meu peito dar-se a apertar! Quando a chuva vem Ouço o zum, zum, zum... É o vento a assustar. Colchões a molhar. Minha escola a trancar. Janelas do alto a espiar. Chi... bocas a calar. E o meu peito dói de verdade! Quando a chuva vai, O meu lugar, O sol vem beijar. O céu tem cor de caju. A lua é cheia. O Seis de Agosto passeia. Taquari, Baixada da Sobral brincam no quintal. O meu rio segue vazando. A TV fica anunciando: Economize água, povo acriano! Quando a chuva vai, Crianças a estudar. Expoacre sem lona. Praça da Revolução com graça. Gameleira com festa. Calçadão com agitação.


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Na beira do rio ouço assovios. Mercado Velho toca o violão, Hum! Tem sabor de carne de sol, arroz com feijão. E o meu peito bate de felicidade! Quando a chuva vai, O ribeirinho, Na boca da noite a sorrir, Tem cri...cri...cri... Tem farinha. Tem castanha, Açaí com banana. Tem estrela no céu. Pra contar a lenda do Mapinguiri. Pós-vazante, minha Rio Branco é fascinante! Poema escolhido para representar a escola Edilson Façanha na Olimpíada de Língua Portuguesa 2016. Professora Francisca Freitas da Pinheiro.

TEXTO 41 PARQUE CHICO MENDES Aluna: Rafaela Moreira (6º Ano) No parque Chico Mendes Há todo tipo de animal Onça, leão e gavião real Macaco, porco da mata e cobra coral.


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No parque Chico Mendes As onças ficam presas nas jaulas, Os peixes nadam comendo algas. No parque Chico Mendes Tem beleza natural Mostra a casa de Chico Mendes Um defensor nacional. Defendeu a nossa floresta De muitos homens maus Por isso recebeu homenagem Até internacional. O Parque Chico Mendes É um lugar bom para passear As crianças se divertem conhecendo o lugar. Poema escolhido pela professora para participar da Olimpíada de Língua Portuguesa 2016. Professora Margarida Melo.

TEXTO 42 VIVER NO ACRE Aluno: Taisson Souza Vitório O Acre é o meu lugar, Canto bom de morar Se você vir pra cá, Vai se apaixonar!


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Aqui o meu bairro é ‘manero’. Meus amigos e eu, Jogamos bola o amanhecer inteiro, Porque à tarde vamos pra escola. Depois da escola Corro no quintal. Saboreio açaí, ‘Pici’ quando minha tia tira do pé. Se você quiser vir pra cá, A porta da minha casa Fica aberta o dia inteiro. Moro virando a esquina, No Ilson Ribeiro. Escola Edilson Façanha Professora Francisca Freitas Pinheiro

TEXTO 43 NO MEU BAIRRO Aluno: Amilton José S. Ferreira No meu bairro tem brincadeiras, Tem mercado, Tem praça, Tem parque, Tem campo bom pra jogar futebol


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Tem escola Tem tudo de especial. Escola Edilson Façanha. Professora Francisca Freitas Pinheiro.

TEXTO 44 MEU ACRE Aluna: Giulliana Pinho Rio Branco, minha Terra, meu pedacinho de chão. Tenho tanto orgulho de ti, Com todo meu coração! Rio Branco é minha casa feliz É super cheia de belezas Todos que vieram aqui Não se arrependeram Disso eu tenho certeza. Rio Branco é uma cidade bonita, Infelizmente desconhecida, Pelo restante do país, Quem nem se preocupa, Em procurar no mapa do Brasil. Acre vem do termo Aquiri Pessoas que o conhecem Não querem sair daqui.


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Terra de Chico Mendes, Marina Silva e Arimateia Um homem de muitas ideias. Chico Mendes é um exemplo Pena que morreu Mas será lembrado para sempre Pelo que aconteceu. Era um simples seringueiro Que lutou com muita garra Pra defender nossa floresta Por causa de dinheiro, Por isso foi morto por um pistoleiro. Chora flora florescente Quero te ver voar É o vento que me consola Sem poder te abraçar. Mas um dia, penso assim Será que o Acre terá fim? Com toda essa natureza E tanta gente brigando por essa beleza? Acre Terra de gente guerreira, Lugar de pessoas hospitaleiras, Que carrega no peito o orgulho De Lutar pra ser Brasileira. Adeus Rio Branco Algum dia isso direi, Pois minha jornada está começando


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E nem sei Se eu mais te reconhecerei. Tenho coisas pra fazer Tenho sonhos pra seguir Chorarei no avião Quando estiver longe daqui. Acre Terra da paz Aqui sempre estive feliz Mas terei que te deixar Para meus estudos buscar! Mas um dia irei voltar Para minha terra querida, Exercer minha profissão E ajudar essa gente sofrida, Só serei feliz na minha cidade esquecida! Escola Edilson Façanha Professora Margarida Silva Melo

TEXTO 45 A ENCHENTE NO ACRE Aluna Letícia Almeida Magalhães A enchente que vem do rio Acre Ninguém gosta dela não. O pobre fica sofrendo, Na mais triste solidão. A enchente invade as casas


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De muitos bairros da minha capital. Em Rio Branco só se vê o riozão, E também a agitação! Clamam a Deus um socorro Aos entendidos pedem solução. Mas respeitamos a obra da natureza. Contentes ficamos com o que dá de fazer. Falo com certeza! Escola Edilson Façanha Professora Francisca Freitas Pinheiro

TEXTO 46 CHUVA NO ACRE É ASSIM Aluno: Marcelo Correia de Lima No ano que tem muita chuva, O acreano fica preocupado. Por causa de suas casas, Que a enchente leva de um bocado. Mas quando a chuva se vai, Vem julho de festival. O acreano afoga suas lágrimas Na Expoacre. Que legal! O acreano tem cantorias. O acreano tem comidas típicas


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Tacacá, milho pra mungunzá. E a quadrilha pra brincar! Escola Edilson Façanha Professora Francisca Freitas Pinheiro

TEXTO 47 RIO BRANCO Aluna Rafaela Moreira de Santana No município de Rio Branco. Tem muitas praças. Onde as pessoas podem se conhecer. E também acharem graça. No município de Rio Branco Tem muitos bandidos E os policiais armados Esperam escondidos. No município de Rio Branco Tem muitas coisas legais. Mas eu gosto mesmo É de ver os animais. No município de Rio Branco Tem uma grande passarela Eu sei porque eu vi. Oi! Eu me chamo Rafaela. Escola Edilson Façanha. Professora Margarida Silva Melo


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TEXTO 48 O RIO ACRE Aluno: Renam Felipe Silva de S. Lima Um dia está cheio, Outro dia está seco. Um dia está bem cuidado, Outro dia maltratado. Um dia tem fartura, Peixe de todas as cores. De vários sabores. Pesco o sábado todo. Escola Edilson Façanha Professora: Francisca Freitas Pinheiro

TEXTO 49 CALAFATE Aluno: Ronaldo de Sousa Vanderlei Calafate É um bom bairro para morar. Com muitas pessoas honestas Que só pensam em trabalhar. Mesmo tendo poucas coisas, Não temos que reclamar, Até porque depois que morrermos


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Nada vamos levar. Tem também a bandidagem Que só pensa em roubar Sem falar dos viciados Que só querem “viajar.” Gosto do meu bairro Não tenho que reclamar. Todo dia jogo bola, Quando chego da escola Pro meu dia terminar. Escola Edilson Façanha. Professora Margarida Silva Melo

TEXTO 50 FAZENDO POEMA Aluno: Henrique Silva Fazendo poema Tento fazer um poema Não consigo me concentrar Falta assunto não consigo me inspirar. Ando pra lá ando pra cá Tentando uma forma de criar Não consigo pensar O barulho não para de me atormentar.


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Tento pensar, mas está difícil de escolher As palavras pra começar Pensei, pensei e me lembrei E o quebra – cabeça começa a encaixar As palavras parecem se juntar E o meu poema eu vou montar. Escola E. F. Edilson Façanha. Professora Margarida Silva Melo

TEXTO 51 A LUA Aluna: Paula Vitória A lua está lá no seu lugar Às vezes grande ou pequena Tem dias que não aparece Apenas me entristece Quem me dera ser astronauta E chegar bem pertinho da lua Fico imaginando como seria A minha alegria. A lua nunca está só Com tantas estrelas ao seu redor Faz a minha imaginação esgotar Tentando contar quantas estrelas Existem ao seu redor.


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Queria ver a lua agora Mas o sol não quer deixar Agora o que me resta É esperar a noite chegar. Escola. Edilson Façanha. Professora Margarida Silva Melo.

TEXTO 52 A MORTE Aluna: Poliana Pires de Morais O pouco que eu sei da morte Não me vem bem forte Uns dizem que é melhor Mas outros falam que é pior. Muitos falam que vamos Para um lugar bem diferente Mas dessa opinião Eu particularmente Estou indiferente Mas de fato é que ninguém sabe O que acontece de fato Porque essa vida ninguém viu um morto ressuscitado. Todas as mortes são temíveis, É o que todo mundo sabe, Mas eu no caso prefiro


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Morrer mesmo de velhice. Escola Edilson Façanha. Professora Margarida Silva Melo

TEXTO 53 A MAIS LINDA QUE JÁ VI Aluno: Jonh Wesley dos Santos Quando cheguei em casa Eu logo reparei Que lá não estava como eu deixei. Já procurei a minha mãe Para rapidinho lhe perguntar Porque aquela menina Acabava de chegar. Perguntei o seu nome Ela logo me respondeu Com muita suavidade Quase me surpreendeu. Achei que era preguiça Mas ela me disse assim: Meu nome é Larissa Filha do seu Joaquim. E eu ali parado Completamente apaixonado E a menina ali achando Que eu tinha endoidado.


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Quando a minha mãe chegou Vi que já a conhecia Percebeu a minha cara de bobo E o que meu coração dizia Que era a menina mais linda Que na terra existia. Escola Edilson Façanha Professora Margarida Silva Melo

TEXTO 54 MINHA MORADA Aluna: Karolaine de Araújo Miranda Moro num lugar Onde todos querem morar, Pois há muitas comidas E muito tacacá. Moro num lugar Onde todos querem morar. Cheio de muitas belezas Que enfeitam a natureza. Moro num lugar, Onde todos querem morar. Terra de gente hospitaleira Que por amor a nossa bandeira Ajudam a quem precisar.


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Moro num lugar, Que não é muito conhecido, Mas quem vem nos visitar Não quer deixar de morar No Acre esquecido. Escola Edilson Façanha. Professora Margarida Silva Melo

TEXTO 55 VIDA Aluno: Luiz Fernando Aguiar de Souza Vida cheia de esperança; Poço de alegria que contagia nossos dias; Vida é carinho, vida é amor Vida tem que ser cuidada Como uma bela flor. Viva sua vida como se fosse seu último dia na Terra Viva com carinho e o amor se rega. Viva sua vida sem se importar Com a opinião de quem não lhe ama. Dizem que chorar limpa a alma Mas pra mim acalma. Viva a vida sem desprezar ninguém Tenha muito amor na alma.


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A vida é muito curta Não guarde ressentimentos Procure viver o momento Sem causar descontentamento. Escola Edilson Façanha. Professora Margarida Silva Melo

TEXTO 56 MINHA CIDADE Aluno: Paulo de Souza Araújo Eu gosto de estudar na escola Edilson Façanha No bairro Calafate que é bem conhecido na cidade Tem pessoas perigosas, mas tem pessoas de bem. O bairro é organizado tem muitas coisas legais Tem muita gente trabalhadeira, mas tem muito marginal. Tem muitas igrejas e isso eu acho legal. Mas o que eu gosto mesmo é do açude do Vaz. Meu bairro é distante do centro da cidade. Gosto de ir para o terminal apreciar a paisagem. A Praça da Gameleira é a minha favorita Tem uma bandeira bem alta e uma calçada bonita. Gosto quando minha mãe me leva pra passear No Parque Chico Mendes pra gente caminhar. Queria morar lá perto pra todo dia visitar Os animais ferozes e o gato maracajá.


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Esse é o lugar onde eu vivo Um lugar bem visitado Quem quiser nos visitar Não vai se arrepender De Rio Branco conhecer. Escola. Edilson Façanha Professora Margarida Silva Melo

TEXTO 57 A VERDADEIRA AMIZADE Alunas: Rute Nascimento da Silva, Raquel Nascimento da Silva, Késia Cristina da Silva. A amizade verdadeira é o melhor sentimento, Quando se tem amizade se tem contentamento, A verdadeira amizade não pode ser esquecida, Faz parte da vida, não passa despercebida. Pra ter amizade não se pede permissão, Precisa-se de amor, carinho e compreensão. Amizade é tão importante, que não sei nem dizer, Se eu não tivesse amigo, não saberia o que fazer. A falta de amizade é igual poluição, Se espalha pelo mundo trazendo degradação. Faz com que o ser humano se isole,


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Causando preocupação. Uma amizade sincera guardamos no coração. Deixa a vida mais alegre e ganhamos um irmão, Que sempre nos diz a verdade e segura a nossa mão, Em caso de precisão. Escola Edilson Façanha Professora Margarida Silva Melo

TEXTO 58 LUGAR PRA SE VIVER Alunas: Maiara Bento e Naiara Bento Quero um lugar Onde a fome seja zero Onde a amizade dure muito E o amor seja eterno. Quero um lugar onde a vida prevaleça Onde a dor desapareça E as palavras verdadeiras permaneçam. Não quero um lugar perfeito Mais sim um lugar de respeito. Onde cada cidadão ajude seu irmão A ter seu próprio pão. E se em algum tempo esse lugar existir Que os homens não falem em maldade apenas em caridade


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Fé e liberdade, vivendo em comunhão. Será a nossa felicidade viver sem guerra, sem fome e sem miséria. Escola Edilson Façanha Professora: Margarida Silva Melo

TEXTO 59 IRONIA DO DESTINO Aluna: Abigail Sunamita (6º Ano) Ele era o meu amigo. Mais amizade eu não queria. Quando eu olhava pra ele, meu Coração se derretia. É difícil te esquecer Mais o amor fala mais alto. Toda vez que eu chego em casa Corro logo pro meu quarto. Quando entro no meu face, Vou logo te visitar, Vejo logo as tuas fotos e não paro de pensar. O que aconteceu comigo? Prometi não me apaixonar. Com a ironia do destino Não se pode brincar. Hoje sei que a amizade vai permanecer


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E o amor que sinto por ti Sempre irá prevalecer. Oro todas as noites pro meu sonho se realizar que um dia possamos ser felizes e chegarmos ao altar e uma família linda iremos formar. Escola Edilson Façanha Professora: Margarida Silva Melo.

TEXTO 60 RUMO AO HEXA Alunas: Maria Nathália, Adriane Silva, Giulliana Pinho. Sou brasileiro com emoção E vamos gritar hexa Pra nossa seleção. Com a marcação do Brasil Nosso coração bate a mil. Essa copa vai pegar O Brasil pode ganhar Esperamos com prazer Ver o Brasil vencer! Neymar é o cara Thiago Silva o capitão Júlio César na defesa


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E o hexa tá na mão! Escola Edilson Façanha Professora Margarida Silva Melo

1.4 ARTIGO DE OPINIÃO

TEXTO 61 ALGUÉM TEM QUE CEDER Aluna: Andressa de Souza Martins (Aluna do 2º ano Ensino Médio) O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que entrou em vigor neste ano de 2016, despertou na população do meu lugar um caloroso debate quanto à grafia do gentílico “acreano”. Com a reforma, retira-se do substantivo próprio a vogal final átona “e” e acrescenta-se o sufixo “iano”. Assim, quem nasce no Estado do Acre passa a ser “acriano”. Porém, o povo, em sua maioria, deseja legitimar o seu tradicional “acreano”, pois o gentílico não é uma mera palavra. Trata-se de valores históricos. Possui conteúdo e sentimento regional. Sendo assim, por que a regra deve se sobrepor à cultura? De um lado, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Assinado em Lisboa, no ano de 1990), promulgado pelo Decreto N° 6.583, de 29 de setembro de 2008, que em seu Art. 1º decreta que o Acordo será executado e cumprido inteiramente como nele se contém. E do outro, o gentílico que carrega a identidade de um povo em seu valor


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histórico e cultural. Em meio à polêmica, consequentemente, alguém tem que ceder! No cenário midiático, o assunto já ganhou destaque em telejornais de audiência como no Jornal Nacional da Rede Globo: “Reforma ortográfica da língua portuguesa provoca polêmica no Acre”, informou o editor-chefe e apresentador do referido Jornal, Willian Bonner em 12 de fevereiro de 2016. No cenário acadêmico, a presidenta da Academia Acreana de Letras (AAL) Luisa Karlberg em entrevista ao G1 (Globo Notícias) esclareceu que foi encaminhado à Academia Brasileira de Letras (ABL) um recurso contendo oito pontos em defesa do gentílico “acreano”. Entre eles, a questão histórica, cultural e a regra do próprio Novo Acordo da Língua, a de que não altera nomes registrados. “É um acordo de gabinete que não conhece todas as questões, todas as minúcias da região brasileira”, ressalta a presidenta. Soma-se ao argumento da mesma, as palavras manifestas à polêmica, do professor doutorado em educação, da Universidade federal do Acre (UFAC), Gilberto Dalmolin que afirma nas redes sociais: “O mundo traduzido nas falas cotidianas é infinitamente maior e mais relevante à vida das pessoas. Valorizo as culturas locais que se manifestam em linguagens próprias. Elas constituem patrimônio que deve ser preservado. Assim, sou a favor da manutenção do acreano, que está incrustado na nossa cultura.” Por outro lado, alguns estudantes aceitam passivamente o novo gentílico. É o caso de Izaac Barroso que em matéria do Jornal Nacional disse: "Nós temos que nos adaptar com o que há de novo. Não vai mudar em nada sendo a letra 'e' ou 'i'. Não vai fazer nenhuma diferença." Se olharmos cruamente pelo lado morfológico , realmente é uma simples troca de letras. No entanto,


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para mim que cresci sendo chamada de acreana, que “vivi” nos livros de História a “Revolução Acreana” e não a “Revolução Acriana”, na qual Plácido de Casto comandou a luta para o meu apetecido Acre ser “ Brasileiro”, que passei os anos iniciais da escola cantando o Hino Acreano (Adotado em 1903), em que na letra do médico e poeta Francisco Mangabeira o eu lírico poetiza “ [...] Sobre as matas que o veem com amor, encha o peito de cada acreano, de nobreza, constância e valor[...]” , ser apática a isso é confrontar a minha identidade regional. Logo, com a mão no peito, esbravejo que o gentílico com “e” tem mais valor. Tem história. Tem muito amor. Buscando resolver o impasse referenciado pelo desejo da população, o governador do Estado, Sebastião Viana, já prepara uma consulta pública online. Se o termo “acreano” for ratificado como preferido, o próximo passo será tomar as medidas legais cabíveis para oficializá-lo. Ademais, as postagens nas redes sociais comprovam a preferência pelo o que posso chamar de “Raiz regional”. Dentre as respostas a mais criativa, que ilustra o bom humor do povo “do pé rachado” (Termo de nosso regionalismo) está essa fina flor da indignação: “É melhor devolver o Acre pra Bolívia do que escrever ‘acreano’ com ‘i’”. Postou uma cidadã comum. Além disso, o próprio governador ressalta a sua preferência pelo antigo gentílico: “Acreano está nas escolas, nos livros, nas instituições públicas, nas ruas, nos bairros..”. Confirma, ele. É certo que o Acordo quer manter a norma que já existia para os adjetivos gentílicos e que o mesmo constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional, entretanto é um equívoco mudar o que já é símbolo de nosso Estado, marca de


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nosso povo desde a Revolução Acreana. Por isso, 113 anos depois, os acreanos têm o direito de continuar sendo chamados de acreanos. Além do mais, os baianos, na Reforma Ortográfica ocorrida em 1971, defendendo sua tradição, também não aceitaram a retirada da letra “h” do nome de seu Estado Bahia”. Penso que, assim como eles, não devemos ficar indiferentes a essa mudança do nosso querido e velho gentílico, pois a ortografia é puramente periférica. Ela não é a língua viva em plena atuação, apenas representa a feição escrita da parte fônica dela. Consequentemente uma ortografia pode ser mudada, reformada. Todavia, isso não pode implicar mudança na ordem linguística. Acredito que o viável é sempre conservar o padrão tradicional da nossa língua portuguesa “brasileira” , enriquecendo-o, naturalmente, ao esforço cultural em cada variedade de língua. Como dizia o renomado gramático Fernão de Oliveira: “Os homens fazem a língua e não a língua os homens”. Portanto, em meio a essa polêmica, em que alguém tem que ceder, o que mais pesa na balança da nossa língua portuguesa é a identidade, o contexto cultural em sua diversidade linguística, que por sinal, é a riqueza da língua. O valor histórico deve ser posto acima de normas, regras e reformas ortográficas. Sendo assim, que ceda o povo de lá e não povo de cá. Artigo escolhido para representar a escola Leôncio de Carvalho na Olimpíada de Língua Portuguesa 2016. Professora: Francisca Freitas Da Silva Pinheiro


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TEXTO 62 FEIJÓ, DO PURUS AO JURUÁ, É A MAIS BELA QUE HÁ Aluna: Ana Luísa Cardoso (2º ano do Ensino Médio) Feijó, município acreano de nome em homenagem ao Padre Diogo Feijó. Cidade pacata que anos atrás vivia praticamente isolada da capital Rio Branco e demais municípios. O único meio de locomoção para sair da cidade era os pequenos e caros “teco-tecos”, pois não havia estradas com acesso. Entretanto, anos se passaram e ares de modernidade chegaram à cidade. Estradas foram abertas, a população cresceu segundo dados do IBGE 2010 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) somos aproximadamente 32.411 habitantes, é um número pequeno comparado as grandes metrópoles, porém, para a pequenina Feijó, isso representou um crescimento nos índices de violência que vão desde roubos, furtos e homicídios. Apesar do aumento dos números a respeito da violência, nossa cidade continua com seu aspecto de interior, sem grandes movimentações, rodeada de índios que habitam tanto na cidade como nas aldeias e seringais na beira do rio e tentam conviver pacificamente. A cidade fica agitada com a principal festa cultural, que nesse ano de 2014 será realizada pela XV edição – o Festival do Açaí, com shows de artistas famosos, atrações como a escolha da garota e garoto açaí, assim como as comidas típicas.


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Pessoalmente acho que como todas as outras cidades também têm seus problemas, porém tem a história, a cultura de um povo que ao mesmo tempo em que anseiam por modernidade, estão acostumados com o estereótipo de povo carismático e hospitaleiro. Concluindo, Feijó é uma cidade de cultura viva, preserva sua história, caminha gradualmente aos encantos da modernidade, não apresenta entretenimento, festas aos finais de semana, praças, teatro, bibliotecas, o que deixa os dias ociosos, o tempo insiste em passar lentamente, mas os feijoenses têm começado a indagar, a questionar por melhorias, e tentam mudar a situação da cidade, mesmo diante de todas as fragilidades, considero-a mais bela que há. Escola. José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora Adriana Alves de Lima

TEXTO 63 FEIJÓ E OS FURTOS Aluno: Christian Braga (2º ano do Ensino Médio) Hoje não é mais novidade assistirmos aos jornais e ouvirmos nas rádios, notícias que só evidenciam os frutos às residências em Feijó. Essa pequena cidade localizada no interior do estado do Acre, conta com aproximadamente 32. 411 habitantes segundo o IBGE em 2010. Comumente conhecida por suas belas paisagens e praias no verão, um dia já foi chamada de “Princesinha do Acre”, lugar este que os


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turistas locais queriam conhecer não só por suas belezas naturais, mas também por suas tradições culturais. O reino encantado dos feijoenses vive dias de grande labuta, pois uma onda de furtos às residências tem se expandido de forma intensifica, conforme o jornalista local Antonio Messias, o qual entrevistou várias vítimas e afirma “que a porcentagem de assaltos e furtos aumentou em média 75%, média de 04 por dia”. No entanto, as pessoas que reclamam, são as próprias vítimas, pois alegam “ser castigo da vida e de Deus” Várias pessoas dizem “que só Deus pode resolver”. Eu acho errado, pois a população pode sim fazer algo, como: acionar a polícia, colocar cadeado em casa e entre outros. Concluindo, mesmo diante dessa onde de furtos, Feijó não deixa de ser bela e nem acolhedora. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora Adriana Alves de Lima

TEXTO 64 ENTRE SONHOS E DEVANEIOS: FEIJÓ Aluno: Christian Sousa (2º ano do Ensino Médio) A cidade onde vivo esconde belezas incomparáveis, apresenta uma variedade na fauna e flora, uma natureza caracterizada como exuberante, simplesmente linda! Estou falando da cidade de Feijó, que originou-se em homenagem ao padre da época que se chamava Diogo Feijó.


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Cidadezinha do interior do Acre possui de acordo com o IBGE de 2010 aproximadamente 32.411 habitantes. Além de ser um dos mais populosos do Estado do Acre, possui uma grande extensão territorial. Essa cidade também possui uma das maiores e melhores festas do Acre, o Festival do Açaí, que atualmente já é considerado o segundo maior evento estadual. Esse evento reúne milhares de pessoas que todos os anos vêm prestigiarem essa grande festa, que além da curiosidade, também apreciam a cultura do feijoense e tomam a famosa fruta típica da região – o açaí. Dentre as qualidades destacadas, a cidade de Feijó também possui aspectos negativos. Um bom exemplo são as alterações políticas que a prefeitura vem sofrendo ao longo de cada mandato, a cada troca de prefeito, não vemos nenhum assumindo os problemas estruturais que a cidade possui. Por isso, nossa cidade encontra-se com um grande número de ruas não pavimentadas, não há coleta de lixo com periodicidade e o maior de todos é quando se fala em saúde pública. Portanto, a única forma de mudar essa situação somos nós elegermos governantes que pensem em melhorias, traga benefícios e melhore a qualidade de vida desse povo para que a cidade seja um bom lugar para viver. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora Adriana Alves de Lima


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TEXTO 65 FEIJÓ: ORGULHO PELA SIMPLICIDADE Aluna: Daiana Gonçalves da Silva (2º ano do Ensino Médio) A cidade de Feijó situa-se no estado do Acre, na região norte do Brasil. Com aproximadamente 32. 411 habitantes de acordo com o IBGE 2010. Temos orgulho de sermos conhecidos como o povo da “Terra do açaí”. Podemos afirmar que Feijó pode ser vista de várias formas, mas para quem realmente a conhece é símbolo de paz. Pessoalmente acho que a cidade de Feijó é uma das melhores cidades para se viver, pelo fato de ter uma população pequena e um povo humilde. Esse lugar maravilhoso pode ser apresentado de duas maneiras. Primeiramente pelos pontos negativos, como: a falta de recursos para educação, não temos uma universidade com opções de cursos que sonhamos e almejamos para uma formação completa. Na área da saúde é muito pior, a falta de médicos para atender a necessidade da população, além da falta de estrutura física. Contudo, os pontos positivos são: a nossa tradicional festa do açaí – atrai pessoas não só de Feijó, mas também de outras cidades brasileiras. Não sofremos com a seca, nossa abundância em água é diferente de alguns estados nordestinos, que sofre com a falta de água, de chuva. Outro ponto positivo é que podemos cultivar frutas o ano inteiro, não há a necessidade em esperar o outono como em outras cidades. Concluindo, mesmo diante de tantos pontos negativos, aprendemos que não temos tudo o que queremos, mas sabemos viver e somos um povo feliz com o que temos. É uma cidade


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pouco conhecida, mas que muitos um dia irão procurar, por sua tranquilidade e por sua simplicidade na maneira de se viver. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora: Adriana Alves de Lima

TEXTO 66 ALÉM DAS RAÍZES Aluno: Denilson Lima do Nascimento (2º ano do Ensino Médio) Feijó é uma cidade situada no interior do Acre, que segundo o senso do IBGE de 2010 tem cerca de 32 mil habitantes e, é a quinta cidade mais populosa do Estado. Está claro, que apesar dos traços de modernidade começar a aparecer, este é um lugar muito bom para quem gosta de viver em família, pois a cidade ainda consegue preservar sua história e cultura, além de ter um povo muito hospitaleiro, que é fruto da miscigenação de indígenas e nordestinos. Conhecida também como terra do açaí (por causa da grande produção e consumo dessa fruta típica), Feijó também ostenta belas praias no verão e uma grande diversidade em sua fauna e flora. Mas, apesar de todas as suas belezas, é uma cidade que ainda deixa a desejar em alguns aspectos, como por exemplo: as ruas e a BR 364 com uma grande quantidade de buracos, além disso, há falta de médicos na rede pública de saúde que está um verdadeiro caos, os pacientes passam horas e horas


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esperando atendimento e muitas vezes não são atendidos por falta de médicos. Concluindo, penso que os governantes tanto da cidade quanto do Estado deveriam tomar providências que vão desde trazer médicos de outros estados, países, como o programa “Mais Médicos” do Governo Federal, até incentivos para os que pensam em serem médicos. Além disso, também investir na pavimentação, infraestrutura das ruas e estradas da cidade e do Estado. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora Adriana Alves de Lima

TEXTO 67 NOSSAS RAÍZES Aluna: Eduarda de Freitas Pereira (2º ano do Ensino Médio) Feijó sendo considerado o quinto município mais populoso do Acre traz consigo uma cultura exuberante e muito diversificada. As pessoas que vêm de outros municípios, estados e países ficam fascinados com estas terras por preservar a natureza e ter um belo pôr-do-sol. Aspectos estes que os próprios feijoenses não valorizam, menosprezam os indígenas e ignora-os como se eles não tivessem a menor importância. Todavia, porque esconder e se envergonhar dos índios, se eles fazem parte de nossas raízes?


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Tenho orgulho dos indígenas de minha cidade, pois eles representam os resquícios da cultura onde nasceu o Acre, além de tentarem manter a floresta amazônica feijoense intocável, tarefa esta que não é fácil, já que o homem urbano tentar destruí-la a todo custo e transformá-la em fonte de renda. Por um lado, temos uma cidade que mesmo com um alto crescimento populacional, não deixa seus ares de cidade tranquila, sem grande movimentação, comparada a nossa capital. Por outro, é justamente essa calmaria, que se torna palco para o aumento da criminalidade. Roubos, assaltos, homicídios têm literalmente roubado a cena e ultimamente elevado os índices de violência na cidade. Diante dos pontos citados, observam-se dois problemas: o primeiro é que os feijoenses precisam valorizar a cultura da terra, para que não exista preconceito e discriminação entre o povo da cidade e os indígenas. Segundo, essa mesma observação também seria de grande importância às pessoas que cometem crimes, que precisam de tratamento, conscientização para largar essa vida marginal, pois, em sua maioria além de adolescentes, são dependentes químicos. Em vista disso, temos que buscar alternativas tanto para a valorização da nossa cultura na cidade, quanto para os problemas sociais, as mazelas que alcançam grande parte da população feijoense. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora Adriana Alves de Lima


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TEXTO 68 MINHA TERRA, MINHA ALDEIA: A CIDADE DA FLORESTANIA Aluno: Gabriel M. Feitoza (2º ano do Ensino Médio) Todos os dias, ou quase todos os dias, nos deparamos com sátiras que ridicularizam o lugar onde vivo. As redes sociais, como, por exemplo: o Facebook, soltam piadas que dão a entender que nós não existimos, e que somos tão primitivos que andamos com onças nas ruas. Bem, já basta! É hora de nos defendermos e dar um ponto final nisso tudo. Moro em uma pequena cidade do interior do estado do Acre, Feijó. É um lugar simples, pacato, bom de se viver. Claro que com alguns problemas: a violência tem crescido muito, furtos, as agressões chegaram até a escola. Mas, independente dos problemas, existem coisas boas que recheiam a cidade, e tornam-na bela. Temos uma extensa flora, rios que para várias pessoas servem de fonte de renda, pois, a pesca é uma atividade comum em minha terra. Ainda temos o açaí, que é abundante, gera lucros aos pequenos produtores feijoenses e é exportado para outros municípios acrianos. Outra característica marcante de minha cidade é o famoso Festival do Açaí, é um evento que atrai pessoas de diversas localidades. Então, lanço a seguinte pergunta: como um lugar tão belo, rico em tantos aspectos, que vão desde a cultura às grandes festividades, pode ser tão desprezado e ridicularizado? Até mesmo a história desse lugar encanta, a luta travada por vários homens, para expulsar os bolivianos; a exploração


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dos seringueiros na extração da borracha – que foi a grande geradora de renda no auge do ouro negro. Dado isto, a única resposta que consigo dar a minha própria pergunta é que: a pessoa que critica, fala mal, faz piadinhas tentando ridicularizar o povo acriano não passa de um ser insolente e desabrido, sem conhecimento algum da linda história de nossa terra. Enfim, a única coisa que podemos fazer é esperar que os que fazem isto, tenham ou passem a ter mais respeito com cada acriano. Assim, como os acrianos precisam acender um crepitar de uma chama que nos faça bater no peito e dizer: sou acriano com muito amor e tenho orgulho do lugar em que vivo. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora: Adriana Alves de Lima

TEXTO 69 Vivo bem em Feijó Aluno: Genis Eduardo (2º ano do Ensino Médio) Vivo bem aqui – em um lugar que posso andar a cidade inteira, durante o dia ou à noite somente de bicicleta e não me acontece nada. Acho um lugar tranqüilo, bom para se viver. Todos os dias, desfruto dessa tranquilidade com meus amigos jogando bola. O povo feijoense é muito educado e de bom coração. Gosto tanto desse lugar que não me vejo morando em outro lugar, outra cidade. Tenho vontade de conhecer outros lugares fora do estado do Acre, mas, somente para conhecer,


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viajar e depois voltar para minha terra. Possa até ser que quando eu for adulto eu mude para um lugar mais bonito, mas nunca esquecerei Feijó. Feijó se situa no norte do Brasil, é no cento do Estado do Acre. Tem como tradição forte o Festival do Açaí, que traz muitas pessoas para conhecer nossa cidade, aumentando a economia, gerando renda, além disso, diverte inúmeras pessoas. Atrelado a isso, temos os índios em toda parte, mas o convívio é pacífico de ambos os lados. Um ponto negativo é antigamente a cidade vivia em completo isolamento, porque o único meio de transporte para locomoção era os pequenos aviões: teco-tecos. A BR 364 era intrafegável para carros, caminhões. Mas, hoje a BR 364, encontra-se asfaltada no trecho de Feijó a Rio Branco e em outros municípios como: Tarauacá, Cruzeiro do Sul. Acabando com o isolamento. Nossa cidade é composta por uma população com aproximadamente 32.411 habitantes, não só na cidade, mas também nas colônias, seringais e aldeias. Ou seja, com a abertura da BR 364 houve maior acessibilidade para todos. Escola: José Gurgel Rabelo, Feijó, Acre, 2014. Professora Adriana Alves de Lima.


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TEXTO 70 Os trâmites da Exploração Florestal Aluno: Jonatas Lima Freitas (2º ano do Ensino Médio) Feijó é uma cidade que está localizada no interior do Acre, fronteira norte com Amazonas, com população abaixo dos 40 mil habitantes. O município tem a economia baseada em produtos extrativistas e madeira, nessas terras é produzido o melhor açaí da Amazônia, e anualmente a cidade é palco da segunda maior atração festiva do estado – o Festival do Açaí. Fundada em 03 de maio de 1906, as terras antes incumbidas a tribos indígenas Jaminawás, Kaxinawás e Chacauwás deram lugar aos nordestinos, em sua maioria cearense.Apesar dos conflitos entre os nordestinos e índios, a cultura indígena encontra-se difundida na cultura local. Recentemente a agência de notícias britânica Reuters divulgou imagens de índios isolados, que vivem na região do alto rio Envira, que banha a cidade de Feijó e entrecorta toda a área territorial do município. Os índios não contatados juntamente com a tribo dos Ashaninkas, chamaram a atenção de ONGs e autoridades para a ação de madeireiros ilegais peruanos, alegando que estavam sofrendo pressão e invasão territorial. A notícia colocou em pauta a atividade de madeireiros legais e ilegais no estado, respectivamente também em Feijó. Por ser bastante lucrativa a extração de madeira, é um imã para ações ilegais, e a falta de fiscalização por parte das autoridades competentes facilita a ação dos madeireiros, que atuam fortemente na fronteira Acre- Peru.


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Agindo clandestinamente, muitas madeireiras acabam desmatando grandes áreas de selva, explorando impiedosamente aquilo que temos de maior riqueza, retirando madeiras nobres como: amarelinho, macacaúba, argelin e aguano. Algumas protegidas por lei, além de prejudicarem a fauna e flora local, ainda interferem nas condições de vida dos povos indígenas. Boa parte dessa madeira ilegal passa por minha cidade, tornando-a um grande corredor do tráfico ambiental. O que é mais revoltante, é que além de desmatarem áreas de preservação ambiental e invadirem terras dezenas de tribos indígenas, não só as de Feijó, mas também de todo o estado, muitas vezes as suas ações passam impunes aos olhos da lei. Isso acontece porque esses criminosos atuam dentro de um sistema de camuflagem bem eficiente, que funciona de determinada maneira: donos de concessões florestais compram madeira ilegal e usam as guias de autorização concedidas pelo Estado para a comercialização, tal sistema é conhecido como branqueamento. Os mais prejudicados nesse sistema são evidentemente os índios, que novamente estão sofrendo a invasão que outrora sofreram. Os órgãos de defesa têm criado maneiras de protegerem as tribos, mas isso, não está trazendo resultados positivos. Em minha opinião, a única forma de acabar com esse mercado ilegal, é que o Estado pressione as autoridades responsáveis pela fiscalização municipal das madeireiras locais, aliado a essa intervenção a mobilização federal é de grande importância, pois a situação envolve não só as forças governamentais, mas também as federais. Há a necessidade do


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diálogo entre o governo brasileiro e peruano para que entrem em consenso e tomem iniciativas que protejam as nossas florestas e os povos indígenas, preservando nossas fronteiras dos ataques dos madeireiros peruanos. Desse modo, colocaremos um ponto final nessa exploração pusilânime. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora Adriana Alves de Lima

TEXTO 71 SIMPLICIDADE x NATURALIDADE Aluno: José Carlos (2º ano do Ensino Médio) A cidade de Feijó é localizada na região central do Acre e para alguns é considerado um verdadeiro seringal, esquecendo-os das verdadeiras qualidades que existe. E os habitantes preocupam-se apenas com os defeitos, esquecendo que nossa cidade tem uma natureza linda e exuberante, caracterizada pela sua famosa fauna e flora que abrangem e valorizam essa terra. Antigamente era conhecida como Seringal Porto Alegre, foi nomeada a partir do nome de um padre chamado Diogo Feijó, por isso que é chamada desse modo. Banhada pelo Rio Envira, Feijó possui aproximadamente 32.411 habitantes segundo o IBGE em pesquisa feita em 2010. É famosa por ser a terra do açaí e produz um evento anualmente conhecido com o nome do mesmo, valorizando ainda mais sua tradição. Em tempos passados, a vida nessa cidade era simples e pacata, mas


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comparada aos dias atuais, a cidade se tornou mais ampla, civilizada e com ares de desenvolvimento. Hoje a maior parte da população tem acesso às informações, seja em todos os tipos de mídia, seja nas escolas – onde os alunos estão tornando-se ainda mais capacitados e se tornando donos de um conhecimento mais amplo. Contudo, do meu ponto de vista apresento algumas possíveis soluções para nos tornarmos ainda melhores, valorizando mais a nossa cultura mostrando que somos dotados de capacidade, mesmo sendo criticados por vários estados de outras regiões, que o estado não existe, pois, desse modo não teremos argumentos para nos defendermos. Primeiramente, o governo poderia investir mais em educação, saúde e saneamento básico. E que esses investimentos chegassem de fato, para que a cidade melhorasse e nos tornássemos uma cidade mais moderna. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014 Professora Adriana Alves de Lima

TEXTO 72 LUGARZINHO ABENÇOADO Aluna: Luana Moura da Silva (2º ano do Ensino Médio) A cidade de Feijó está localizada no interior do Acre. Recebeu este nome em homenagem ao Padre Diogo Antônio Feijó, nome que é conservado até hoje.


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Inicialmente, somos privilegiados por morar em um lugar que hoje em dia é raro de se encontrar. Uma cidade pacata onde apesar da violência não se iguala ao nível das grandes cidades. Em segundo lugar, Feijó tem uma linda e tradicional festa, que é o Festival do Açaí, evento que reúne pessoas de diversos lugares. Além disso, as lindas praias e o maravilhoso pôr-do-sol que somos consagrados de ainda ter uma paisagem natural tão bela. Contudo, a cidade apresenta alguns problemas, como: ainda não tem total estrutura para oferecer saúde de qualidade, lazer e entretenimento para a nossa população. Enfim, a perfeição não existe, ainda precisamos de melhorias, para que a cidade fique cada vez mais linda, mas que essas melhorias sejam no desenvolvimento de uma melhor estrutura, seja na parte cultural, para que tenha opção de divertimento para os feijoenses, para suprir as necessidades básicas da população. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora Adriana Alves de Lima.

TEXTO 73 Glória de Raimundo! Aluno: Lucas Luís (2º ano do Ensino Médio) No interior acriano situa-se de forma harmoniosa e hospitaleira a cidade feijoense. Antigamente conhecida por


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Seringal Porto Alegre, porém, depois foi nomeado Feijó, em homenagem ao Padre Diogo Feijó – um nome de grande importância para a Revolução Acriana. A pequena cidade de povo ledo conta com aproximadamente 32. 411 habitantes que contribui para o desenvolvimento e progresso, além de aptos da boa vizinhança. Um dos eventos que contribuem para a ascensão feijoense é o Festival do Açaí, capaz de reunir pessoas de todos os lugares do estado, como de outras nacionalidades. Outro evento que também tem grande relevância de público é o Festival de Praia, que reúne várias pessoas com um único objetivo: desfrutar e contemplar o Rio Envira. Porém, nem tudo é perfeito nesse lugar. A violência tem crescido consideravelmente. Com a abertura da BR 364, o isolamento deu lugar a furtos e roubos. E a pouco tempo atrás a cidade vivia em completo isolamento, mesmo não estando completa, facilitou a vida daqueles que precisam deslocar a outros lugares, pois nem todos têm condições de comprarem uma passagem de avião. A abertura da estrada melhorou o deslocamento, porém não resolveu outros problemas. Primeiro o aumento da violência, segundo uma obra inacabável, pois a terra cede e os buracos se espalham por causa da constante chuva e solo úmido. Partindo disso, acredito que é um dos melhores locais para se viver, pois, apesar disso das adversidades, que poderiam ser amenizadas com apoio do governo. É uma região pacata que transcende grandes tesouros. É com absoluta certeza, que Raimundo Augusto de Araújo – fundador da cidade teria orgulho de ver seu povo prosperando cada vez mais.


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Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora: Adriana Alves de Lima

TEXTO 74 Feijó, onde está o gigante? Aluno: Luís Gustavo (2º ano do Ensino Médio) Pequena cidade do interior do Acre, Feijó é um município com aproximadamente 32 mil habitantes. Com vasta riqueza natural, era para ser uma das cidades mais belas e organizadas do estado. Mas, infelizmente não é. Eu poderia iniciar esse texto expondo nossas melhores características, tais como: a bela paisagem vegetal da cidade, o clássico Festival do Açaí, a cultura indígena, dentre outros, porém nenhuns destes adjetivos refletem a nossa realidade. Acredito que nosso município está longe de ser admirável. O que adianta ter inúmeras riquezas naturais se não às aproveitamos? Se nos deparamos com o crescimento urbanístico da cidade é possível observar que isso tem acontecido sem planejamento e sem compromisso algum. Ruas inacabadas, repletas de buracos, péssima iluminação pública, inexistência de saneamento básico, além de um único hospital, sem a mínima estrutura física e pessoal. Não é porque queremos mostrar para os demais estados brasileiros que o Acre não é isso ou aquilo que vamos continuar usando qualidades utópicas e ocultar a verdadeira face. É querer “tapar o sol com a peneira”. Não dá para tentar esconder que os problemas existem e somos nós feijoenses que


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vamos arcar com as conseqüências. Porém, esse não é minha única motivação a escrever sobre o fato de nossa cidade está em péssimas condições, mas também, o nosso comportamento alienado. Somos bons em falar mal, criticar, mas na hora de agir, nossas palavras são vazias, sem ações. Conforme Denis Diderot “é fácil criticar corretamente e difícil executar mediocremente”. Diante disso, penso que se faz necessário entender que as palavras não modificam situações como essa. Recentemente houve uma manifestação nas ruas de Feijó, onde todos os adolescentes foram convidados a participar do manifesto que tinha como finalidade chamar a atenção dos órgãos governamentais, para a reforma da Universidade Federal do Acre – Campus Feijó. Nossa luta consistia na aprovação de mais opções de cursos para aqueles que almejam ingressar na educação superior. Quando foi preciso deixar lado a teoria e partir para a prática não fizemos absolutamente nada! No momento que deveríamos reivindicar por uma universidade de qualidade para a cidade, poucos compareceram. Do meu ponto de vista, Feijó é uma cidade rica, no que se refere à fauna e flora, mas não aproveitamos corretamente nossos recursos naturais. O açaí, por exemplo, outrora já fora tão abundante, hoje não existe tanta produção, o que eleva os preços da fruta típica, tornando-se escassa na região. Diante do exposto, sabemos que as grandes mudanças em uma sociedade sempre vieram após grandes revoluções, e o povo feijoense ainda não percebeu isso. Pensam que não existe uma solução ou ignoram o assunto como se não fosse seus problemas, fato este, que é uma visão errônea. A população


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precisa acordar e mobilizar-se em prol de melhores condições para a cidade, tais como: segurança, saúde e educação. Entretanto, para conseguirmos isso, a mudança deve começar primeiro em nós cidadãos feijoenses, para que conseguintemente alcance nossa cidade. Precisamos despertar o gigante que jaz em nosso interior e buscar nossos direitos amparados como condição básica para a vida em nossa Constituição Federal de 1988, para que então, possamos nos orgulhar do lugar onde nascemos e vivemos. Escola: José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora Adriana Alves de Lima

TEXTO 75 ENTRE CULTURA E TRADIÇÃO: HISTÓRIA DE UM POVO Aluna: Luciana Rocha Ferreira (2º ano do Ensino Médio) Uma cidadezinha que antes era pacata com o passar do tempo desenvolveu-se, aumentou e cultivou assim todas as culturas existentes. É de admirar-se que um lugar antes seringal tenha crescido em tamanha proporção, tornando-se uma cidade em crescimento. Essa pequena e bela cidade conta com aproximadamente 32. 411 habitantes segundo dados do IBGE 2010. Com uma cultura permeada de tradições, ainda é desconhecida até mesmo dos demais conterrâneos acrianos. Até a abertura da BR 364 vivia em completo isolamento dos


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demais municípios, somente com a pavimentação da rodovia foi possível o deslocamento para outras cidades, o que intensificou o turismo em nossa cidade. Assim, nossas festividades tomaram outras proporções, o Festival de Praia e do Açaí, tornaram-se grandes eventos, sendo repetidos anualmente. Com os grandes festivais a beleza da pequena cidade foi encarada de outra maneira, o que antes era sinônimo de isolamento, seringal, hoje ganhou visibilidade de inúmeras pessoas, pois a cultura começou a ser valorizada. Um dos motivos que feriam nosso “calcanhar de Áquiles” eram as piadinhas nos ridicularizando em redes sociais, por até hoje termos índios e aldeias próximos e dentro da cidade de Feijó, não nos ofendemos mais. Portanto, usufruir de nossa cultura e de nossa cidade é nosso objetivo principal, segundo devemos cuidar de nossas riquezas naturais para que não venhamos perder tudo por nos envergonharmos de nossas origens, nos restando apenas boas lembranças da história de nosso povo. Escola: José Gurgel Rabelo, Feijó, Acre, 2014 Professora Adriana Alves de Lima


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TEXTO 76 PEQUENA GRANDE, FEIJÓ! Aluna: Maria Ana (2º ano do Ensino Médio) Feijó, lar doce lar, cidade harmoniosa e bem diversificada. Ganhou esse nome em homenagem ao Padre Diogo Feijó, onde tornou-se município e passou a exercer sua autonomia política somente em 21 de dezembro de 1939. Com 32. 411 habitantes, Feijó é o quinto maior município do Acre. Também tem suas belezas e é palco de um dos eventos mais conhecidos do estado – o Festival do Açaí. É um evento que atrai muitos visitantes que aproveitam para conhecer os pontos turísticos e degustar as comidas típicas do nosso município. Assim como toda cidade, Feijó também tem seus problemas, como: aumento da violência nas escolas que tem tornado-se comum. Como exemplo, podemos citar a primeira semana de aula na Escola José Gurgel Rabelo, onde ocorreram três brigas, uma delas com o uso de arma branca. Na busca de uma solução, a escola resolveu então criar o projeto “Não à violência”, com um ciclo de várias palestras, conversas entre alunos e professores, cartazes, passeatas, blusas caracterizadas. Considero que o projeto foi um sucesso, os níveis de violência baixaram muito. São atitudes como essas que podem ser estendidas à comunidade. Assim concluo: apesar dos problemas nossa cidade segue a passos lentos e graduais ao desenvolvimento, são pequenos projetos como esse que nos fazem ter orgulho desse lugar.

Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014 Professora: Adriana Alves de Lima


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TEXTO 77 AS ATITUDES DE HIPOCRISIA Aluna: Maria Josélia (2º ano do Ensino Médio) Situada no interior do Acre, localiza-se uma pequena cidadezinha que se denomina Feijó, ou como é mais conhecida “Terra do Açaí”, cujo nome foi dado em homenagem do Padre Diogo. Ao longo dos anos a cidade tem aparentado grandes mudanças, tanto no meio urbano, quanto no rural. Principalmente no aspecto populacional, pois o IBGE 2010 afirma que somos aproximadamente 32. 411 habitantes. Isso mostra o quanto a cidade cresceu desde a sua fundação até os dias atuais. Embora, um índice populacional pequeno em relação a outras grandes cidades, isso não é um fator que tem impedido os grandes problemas sociais de adentrarem a cidade, tais problemas não são poucos e nem favoráveis. Exemplo disso foi o início as aulas na escola José Gurgel Rabelo, que se deparou com situações constrangedoras, com alunos se agredindo e desrespeitando as regras da escola. Na tentativa de resolver os problemas, a gestão tomou algumas providências. A primeira foi a criação do projeto intitulado “Não à violência”, onde os estudantes desfrutaram de longos dias de debates e conversas. Penso que a atitude da escola não foi incorreta, no entanto, as autoridades deveriam ter apresentado uma solução mais eficiente. As instituições locais deveriam admitir que existe um sério problema na comunidade escolar, e não sabem como resolvê-lo, pois as pessoas que se intitulam “autoridades”


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deixar a hipocrisia de lado e olhar para frente com tomada de iniciativas que realmente mude a realidade dos jovens feijoenses. Enfim, só há uma possibilidade de mudança contra esse surto violento na escola, quando todos deixarem de fingimento e que importam – se com tais problemas e permitirem-se a mudança de atitudes com o próximo e que tenham consciência de suas ações. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora Adriana Alves de Lima.

TEXTO 78 FEIJÓ: LUGAR DE MUITAS RIQUEZAS Aluna: Naiane Pereira (2º ano do Ensino Médio) Feijó é uma cidade muito bonita, tem suas riquezas inseridas no convívio da população feijoense, que mantêm atuais suas crenças e tradições. Mesmo sendo fruto dessa mistura entre nordestinos e indígenas, a cultura destes últimos é predominante em minha cidade. Por ser uma cidade pertencente ao interior do Acre e longe de sua capital, as dificuldades de locomoção ainda fazem parte do cotidiano dos cidadãos feijoenses. Outro ponto negativo que enfatizamos é o mercado local, que por ser às margens do rio Envira, serviu como único meio de abastecimento da população, que por sua vez sofreu por muitos anos com os preços abusivos das mercadorias.


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Isso acontecia por conta do período chuvoso que interditavam as estradas, sendo permitido o acesso à população apenas no verão, o que fazia os lojistas aproveitar para abastecer os comércios. Esse problema só melhorou com a inauguração da BR 364, o que foi um marco para a melhoria da cidade, as mudanças foram notáveis: na estrutura da cidade, nas variedades dos supermercados. Com a estrada veio à esperança de uma melhor expectativa de vida para o jovem feijoense. Porém, nem tudo são flores. Se por um lado a abertura da estrada foi sinônimo de progresso. Por outro, houve um aumento considerável na criminalidade. Feijó, antes considerada uma cidade pacata, onde era possível ficar até tarde da noite sentado nas calçadas, hoje essa cena foi trocada por crianças e adolescentes usando drogas, com isso o aumento de furtos e assaltos à população. Mas, esse é o preço a se pagar para que o desenvolvimento chegue ao acesso de todos. Portanto, a população deveria tomar uma atitude, não podemos aceitar esses acontecimentos violentos, deveríamos fazer reuniões e criar um projeto de combate e conscientização da violência para os jovens da nossa cidade. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014. Professora Adriana Alves de Lima.


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TEXTO 79 OUTRA MANEIRA DE COGITAR Aluna: Natasha Rodrigues (2º ano do Ensino Médio) Há um lugar ainda desconhecido por muitos, longe das grandes capitais do Brasil, localizado no interior do estado do Acre, com 32. 411 habitantes de acordo com dados do IBGE de 2010. Esse lugar que particularmente acho agradável para se viver, chama-se Feijó ou como muitos preferem “Terra do açaí”. Minha cidade dispõe de um rico acervo cultural começando pelas festividades comuns em todo o Brasil, a realização do carnaval, festas juninas, capoeira, e também o Festival do Açaí e o Festival de praia, ambos se realizam em agosto. O evento é um dos mais conhecidos no estado do Acre, nele há um grande consumo da fruta tipicamente do norte do Brasil – açaí. Além do consumo do açaí, ainda podemos assistir aos shows de bandas locais e nacionais gratuitamente. O que cresce ainda mais o turismo e assim ajusta a economia da cidade. Do meu ponto de vista, não tem lugar melhor para habitar do que Feijó. Essa cidade onde tem tranquilidade, índices de violência baixos comparados as grandes metrópoles, um pôr-do-sol incomparável, natureza diversificada e alguns lugares ainda não foram desbravados. Porém, nem tudo é tão bom quanto queremos, Feijó tem problemas como outras cidades do Brasil, como: corrupção, pouco desenvolvimento, poucas oportunidades de emprego, ainda não possuímos uma boa universidade.


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Mas, não é por causa desses problemas que vamos mudar ou fazer dessa cidade um lugar ruim para se residir. Existe a necessidade de que nossos representantes políticos criem políticas públicas, investindo na educação, na saúde e na segurança. Assim sendo, nossa cidade continua sendo admirável, seja pelas pessoas que aqui moram, seja pelos turistas que admiram a variedades de plantas, animais, sobretudo, pela abundância de água em nosso rio. Além disso, valorizar as maravilhas proporcionadas por essa terra. Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014 Professora Adriana Alves de Lima

TEXTO 80 MINHA TERRA Aluna: Yara Maria (2º ano do Ensino Médio) Feijó, cidade abençoada e hospitaleira. Localizada no interior do Estado do Acre é banhada pelo rio Enviara. Tem cerca de 32.411 habitantes que na maior parte do tempo convivem harmoniosamente. Porém, nos últimos três anos tal harmonia tem sido abalada por uma série de roubos localizados na zona urbana e também na zona rural. Como toda cidade pequena, quase todo mundo se conhece e não se escolhe local para se bater um bom papo. Mas também, estamos expostos aos olhos de curiosos e a língua afiada


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de meia dúzia de fofoqueiros que “apurrinham” a paciência de muita gente. Nossa cidade é popularmente conhecida no Estado como a “cidade do açaí” – fruta típica, encontrada com abundância. Anualmente a cidade reúne centenas de pessoas que vêm dos quatros cantos do Acre para prestigiar o Festival do Açaí. Até certo tempo, nossa cidade vivia certo isolamento, só podíamos ir a capital Rio Branco de avião, e mesmo assim as passagens não eram acessíveis. Hoje em dia temos a BR 364 que liga Cruzeiro do Sul a Rio Branco e que felizmente passa por nossa cidade nos tirando do degredo. A estrada ainda não foi inaugurada, pois alguns trechos não foram concluídos. Particularmente acho que não serão finalizados tão cedo, pois quando ajeita uma parte, outra está desabando. Sua finalização seria de grande valia para os feijoenses poderem deslocar-se. Mas, mesmo com inúmeras dificuldades enfrentadas por causa do isolamento, a cidade permanece com suas marcas de cidade pacata, tranquila e permite que sua população durma bem, porque ao final de um dia de trabalho nada melhor que ver e contemplar um divino pôr-do-sol, pois nascer feijoense não é sorte, antes um privilégio.

Escola José Gurgel Rabelo, Feijó, 2014 Professora Adriana Alves de Lima


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SEGUNDA PARTE TEXTOS FINALISTAS DA COMPETIÇÃO ESCOLAR INTERNA 2015-2016 (ALUNOS DO 9º ANO E OUTROS)


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2.1 CONTO

TEXTO 81 O SUMIÇO DOS LIVROS Aluna: Graziela Silva Viana Albert, magricelo, alto, porém vaidoso. Com seus olhos azuis encantava as moças do bairro onde morava. Já nos seus 25 anos, resolveu, por gostar de ler, investir numa biblioteca. Estrategicamente, a biblioteca foi inaugurada próxima à escola, situada no centro da cidade. Semanas se passaram e Albert demonstrava-se confiante em obter bons lucros, pois a biblioteca sempre estava repleta de jovens à procura de um livro interessante. Os negócios iam bem até que... Albert notou algo estranho. Alguns de seus melhores livros não estavam na prateleira. Intrigado, sem lembrar se os tinha vendido, verificou no sistema as últimas vendas, já que no dia anterior ainda estavam na prateleira e confirmou sua suspeita: os livros haviam sumido. Semanas passaram e a cada novo dia, Albert confirmava mais livros desaparecidos. Aquilo lhe inquietava. Como estariam sumindo? - Quem pode estar levando esses livros? Fico atento a quem entra e sai daqui e não percebo ação suspeita. Questionava todos os dias. Mas isso chegou ao limite quando o seu considerado livro de “ouro” também sumira. - Oh, não! Isso é o fim da picada! Passou dos limites. Meu livro mais caro e precioso que não vendo por nada sumiu? Assim não suporto.


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Antes do sumiço do seu livro de “ouro” Albert não via a necessidade de instalar câmeras na sua simples biblioteca. Não lhe passou pela cabeça que alguém quisesse roubar tantos livros. Mediante a situação ainda sem resposta, pôs câmeras nas partes mais estratégicas e visitadas pelo público: as fileiras dos mais caros livros. Entrava e saia clientes. Folheavam livros avulsos, liam e admiravam capas interessantes. Comentavam os títulos, imaginavam o conteúdo deles até decidirem levar pelo menos um. Essa era a rotina que Albert passou a ver no registro das câmeras. Só não via o que queria ver: livros sendo roubados. Mais uma vez encafifado com o sumiço de seus melhores livros, chegou a passar noites em claro na sua biblioteca, já não confiava na potencialidade das câmeras. Pensou: com certeza esse ladrão de livros vem na calada da noite e faz alguma “mágica” para enganar a câmera. Mais uma tentativa sem sucesso. Não viu nada de anormal. Nem a olho nu, muito menos pelas imagens. Meses se foram, o seu negócio já não estava dando lucro. Sem os melhores livros, sem capital suficiente para repor, a clientela foi diminuindo. Continuavam nas prateleiras os velhos livros. Esses não foram levados. Com a decisão de casar-se, mais por pressão da namorada Eulália, pois beirando seus três anos de noivado, decidiu mudar o rumo de sua vida. Fechou a biblioteca e fez dela sua casa. Porém, o que mais lhe afligia não era o insucesso da sua biblioteca e sim, o sumiço dos livros. Cerrou as portas de seu negócio sem saber o que para ele se tornara um mistério: o sumiço dos livros.


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Eulália, entusiasmada com a nova moradia, cantarolando fazia uma faxina reforçada para dar um novo visual naquele lugar já triste, sombrio e empoeirado. Afinal, seria seu novo lar. Aproveitou, folheou alguns livros, mas não se encantou com um se quer. Foi quando teve a ideia de guardálos num quartinho que ficava aos fundos do casarão, parecia mais um porão. Era lá, que estavam objetos velhos sem serventia. Ao chegar no quartinho encontrou um baú velho e empoeirado. Teias de aranha complementavam seu estado de calamidade. Eulália, curiosa, pegou uma ferramenta e libertou o baú de seu pequeno cadeado. Ficou surpresa ao encontrar um belo livro cor de ouro. Folheou-o cautelosamente e foi amor à primeira vista. De repente, lembrou-se do que Albert lhe contara a respeito de sua frustração: o mistério do sumiço dos livros. Eulália iniciou uma procura por mais livros naquele quartinho. E obteve resultado: uma boa quantidade de livros valiosos. Encontravam-se guardados numa caixa bem lacrada com fita. Para ela, parte do mistério estava esclarecido: - Os livros não foram roubados! Exclamou com ar de alegria. Mas como vieram parar aqui? Albert mal passou pela porta quando sua noiva lhe contou a novidade. Demonstrou-se alegre em ter novamente seu livro cor de ouro em mãos. Mas para ele, o mistério se complicara. - Como assim? Estava num baú? E os outros numa caixa? Mas... não entendo! Isso é loucura! - Será que o ladrão levava e quando terminava a leitura devolvia? Sem ideia logica no momento, sugeria Eulália.


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- Não, isso é loucura. Como entraria? Esqueceu-se de que tem câmeras aqui? - Sinceramente não tenho uma resposta concreta no momento, meu amor. Mas, o importante é que todos estão com você novamente. Não se estresse mais com isso, dizia sua noiva dando-lhe um suave beijo. No entanto, o mistério ainda não terminara para Albert. Terminada a reforma na que era biblioteca, o casou tratou de efetuar a mudança o mais rápido possível. Já com alianças em seus dedos esquerdos, passaram sua primeira noite no novo lar. Tudo ia bem, até que... Numa dessas noites inquietantes para Eulália, que forçava a chegada do sono lendo um livro, percebeu que seu esposo se movia muito na cama. Estava a tentativa de levantarse e não conseguia. O estranho é que ela o chamava e ele continuava de olhos fechados. Eulália ficou intrigada com a cena. Já havia escutado antes movimentação na cama e seu esposo saindo do quarto durante madrugadas anteriores, mas não dava importância, para ela, Albert iria tomar água ou ir ao banheiro. Porém, nessa madrugada, ficou atenta à situação. Albert levantou-se de súbito. Foi até o armário. Pegou uma pequena chave na gaveta. Desceu as escadas. Pegou o seu livro cor de ouro e o guardou no baú. Eulália ficou pasmada. Não sabia como proceder. Devia acordá-lo ou deixá-lo “zumbi” como estava? Achou perigoso mexer com um sonâmbulo. Para ela, o mistério fora revelado. O próprio esposo, por gostar tanto de livros, principalmente o de “ouro”, os guardava com intenção de mantê-los perto de si.


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- Meu Deus! Isso é uma loucura! Como farei para Albert deixar de ser sonâmbulo? Agora quem está intrigada sou eu. Ao amanhecer, Eulália não esperou a hora do café e já contou para o esposo sobre a madrugada em claro. Comprovou sua afirmação mostrando o livro dentro do baú. Albert ficou surpreso e desacreditando na esposa disse-lhe que se fosse ele, o ladrão de livros, as câmeras teriam registrado na época em que sumiam das prateleiras. Diante da situação, Eulália puxou da memória que Albert lhe contara que depois de instalar as câmeras não sumiram mais livros. Ele, sem palavras, concordou com a esposa: - Realmente, após eu pôr as câmeras os livros que ainda restavam continuaram nas prateleiras. - Albert, isso porque você já havia guardado os mais interessantes. Os mais velhos e simples não lhes eram importantes. - Lembra que você sempre escolhia os livros renomados de grandes autores da literatura brasileira? Insistiu a esposa. - Sim, mas... não, sonâmbulo eu não sou. Não pode ser. - Ah, já sei! Veremos as imagens gravadas de ontem. Depois disso, não tem como você duvidar de mim. - Um momento, Eulália. Esqueceu-se de que as câmeras estão com defeito? - Sério? Não acredito? - Você não lembra? Depois eu que sou o esquecido sonâmbulo!


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Eulália, em sua última tentativa foi verificar. - Verdade, não tem imagem alguma registrada no sistema. - Eulália, só sei que não sou sonâmbulo. Isso é um absurdo. Como minha família não notou todo esse tempo? Sinceramente, você quer encontrar uma forma de fazer-me esquecer desse mistério que ainda “cutuca” o meu cérebro de homem inteligente! Eulália, cabisbaixa e certa do que vira na noite anterior fingiu ter posto um fim nessa história de mistério. Agora, quem estava com um mistério a ser revelado era Eulália. A mesma manteve-se decidida a confirmar sua afirmação, que soou como acusação ao esposo, tornando o conflito ainda mais caloroso. A partir daquele dia, ficaria noites em claro. Com o celular em mãos, gravaria a próxima noite sonâmbula de Albert. . 1º lugar na categoria conto de mistério. Escola Edilson Façanha Professora Francisca Freitas Da Silva Pinheiro.

TEXTO 82 POR QUE COMIGO? Aluna: Larissa Ferreira - Oh, meu Deus! Olha o tamanho dessa espinha no meu rosto. Como irei assim para a escola? Aquela espinha no rosto da vaidosa Tati significava a maior inquietação do dia dela. Nem as notas baixas em


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matemática lhe afligiam tanto quanto o pontinho vermelho e inflamado em sua face de 15 anos. Ele fragilizava a sua beleza. - Tati, vamos. Você já está atrasada. Estou lhe esperando. - Mãe, não posso ir com a senhora. Tenho algo no rosto que o está deformando. - Como assim? Retrucou a mãe, assustada. - Mas... isso é apenas uma pequena espinha, Tati. - Nada, é um baita de um problema. - Tati, com ou sem a espinha você vai para a escola. Tati, chateada, andava de um lado para o outro. Pegava um creme, passava no rosto. Fez uma maquiagem reforçada, mas a espinha continuava ali, incomodando. Chegando à escola, ela perdeu o chão à medida que suas colegas se aproximavam . Naquele momento, seu desejo era esconder o rosto num saco ou num buraco. A menina transpirava de estresse. - Tati, o que você tem? Está tão estranha... - Ah... está tudo bem, Maria. Não se preocupe. Estou apenas apressada. Respondeu Tati com voz desanimada. Logo, saiu correndo. Mil coisas passavam na sua mente. - Tati, espera! A aula já vai começar. A nossa sala não fica nessa direção. - Quem se importa com a aula quando se tem uma espinha enorme no rosto? Tati, agitada, se refugiou no banheiro. Talvez lá, ficaria longe dos olhos alheios e de certos comentários. Falava sozinha.


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- Não vou entrar na sala desse jeito. De maneira alguma. Achando estar sozinha, se lamenta através da imaginação. Quando de repente quebrou-se o silêncio. - Tati, o sino já bateu. Por que você não foi para a sala? - Fica difícil, professora Juliana. - O que foi? Brigou com o namorado? Levou uma bronca da sua mãe? Já sei, a mesada foi cortada? Está de castigo sem poder usar o celular? E por que a mão no rosto? Com tristeza no olhar, Tati, tirando a mão do rosto, mostra seu desespero. - Qual é o problema mesmo, Tati? Intrigada, sem perceber a espinha, insiste a professora. - Essa espinha chata. A senhora não está vendo? - Nossa, isso não é problema, mocinha. Que exagero para uma simples “carne” pontudinha e vermelhinha. É normal na sua idade. Todos os adolescentes passam por isso. Para quê o desespero? - Professora, definitivamente essa espinha enfureceu a minha vaidade, a minha beleza. Faço de tudo para não ficar feia. Já planejei até as cirurgias plásticas que irei fazer quando adulta for. - Que exagero, menina. Pense no seu futuro, na realização profissional, social, individual e familiar. Tati não ouvia os conselhos da professora e insistia: - A senhora já teve uma espinha assim? - Sim. - E como curou? - Ah, ela aos poucos foi murchando e sem eu perceber desapareceu.


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- Fique tranquila, nem se nota essa espinha no seu rosto. Vá para a sala de aula. Tudo bem? - Sim. A senhora me convenceu. - Isso mesmo, se preocupe mais com o seu conhecimento. Falava Tati para ela mesma. Depois de pedir licença, meio desconfiada e inibida, Tati sentou-se no fundo da sala. Como de rotina era aula de ciências, no primeiro horário de quarta-feira. Ela fixou os olhos para o quadro e leu, pausadamente: “A alimentação saudável traz benefícios para a pele”. Seus olhos arregalados e seu semblante assombrado indignaram-se. - Aff, essa situação continua me sufocando. Conto moderno 2º lugar em 2015. Escola Estadual Edison Façanha. Professora Francisca Freitas S. Pinheiro.

TEXTO 83 A PRINCESA GUERREIRA Aluna: Izabel Souza (6º Ano) Era uma vez um reino muito distante e lá morava uma bela princesa muito linda, mais ela não era feliz com sua vida, pois queria ser uma bela guerreira, sair pelo mundo conhecer vários lugares e várias pessoas. A princesa havia pedido aos seus pais, mas eles ficaram confusos com a ideia e não gostaram do jeito como ela agia e falava. Sua mãe, a rainha, queria que ela se tornasse uma das


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mais belas princesas e se casasse com um príncipe e fosse muito feliz, porém seu pai era totalmente a favor, pois a única coisa que ele queria era vê a filha feliz. Um dia ele chamou a filha e falou: - Minha princesa, acho você muito nova para ser uma guerreira apesar de ser linda e forte, prometo que quando você completar vinte anos deixarei você ir viver a sua vida. A princesa Isabel ficou muito feliz e correu para contar a sua mãe, que ficou muito triste e disse que iria perder a sua única filha, a herdeira de todos os seus bens. E assim passaram - se cinco anos e o rei e a rainha fizeram um grande baile para comemorar os vinte anos da princesa e como ele tinha prometido avisou a Isabel que no dia seguinte ela poderia partir e fazer o que quisesse da sua vida. Assim que a princesa partiu, seus pais ficaram muito tristes, mas aceitaram a decisão da filha. Ela passou três dias viajando até que encontrou uma aldeia muito grande, parou, pediu para ficar, só não contou que era uma princesa. As pessoas a receberam muito bem, deram-lhe de comer e ofereceram um lugar para dormir. Foi a melhor noite da vida dela. Os dias foram passando e Isabel foi ficando cada vez mais à vontade naquele humilde lugar, lá ela descobriu o verdadeiro amor da sua vida, um rapaz trabalhador, forte, guerreiro que lutava para defender sua aldeia e trazer caça para a alimentação de todos. Com o passar dos dias ela contou para ele que era uma princesa e que tinha saído de casa para se tornar uma guerreira, o rapaz contou para seus pais que não aceitaram mais o namoro dos dois, pois ela era uma princesa e ele apenas um guerreiro,


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então seu pai disse que ela não poderia ficar mais naquele lugar. Os jovens não se conformaram e decidiram fugir. Certa noite ele e a princesa fugiram para viver o seu grande amor, passaram vários dias viajando até que chegaram a um reino muito distante e estranho que era governado por uma bruxa muito má que obrigava todas as pessoas a trabalhar para ela. O jovem guerreiro quis sair dali para proteger sua amada, mas a bruxa ordenou que os guardas não os deixassem sair e que fossem imediatamente levados para o campo para trabalhar para ela. A princesa quando estava sozinha com seu amado bolou um plano para derrotar a bruxa, conversou com todos os outros escravos que trabalhavam para a rainha má e convenceu-os a lutarem contra os soldados que ela entraria no palácio e mataria a bruxa, um velhinho que trabalhava como escrava a muito tempo, alertou a princesa que para ela conseguir matar a bruxa teria que enfiar uma estaca em cima do seu coração. Assim foi feito, os escravos se revoltaram contra os soldados, a princesa aproveitou que eles estavam distraídos entrou no palácio e enfiou uma estaca no coração da bruxa. Todos os moradores do reino que viviam escravizados tornaram o rapaz e a moça o rei e a rainha daquele reino. Eles se casaram tiveram dois filhos um menino e uma menina e foram felizes para sempre. Escola Edilson Façanha. Professora Margarida Silva Melo.


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2.2 REDAÇÃO ESCOLAR

TEXTO 84 O MUNDO VIRTUAL Aluno: Adriel Silva Nos últimos anos, houve um acréscimo do público jovem e infantil no acesso excessivo nas redes sociais. São adolescentes e crianças viciadas nessa conexão moderna. Isso ocorre, porque os pais ou responsáveis colaboram, quando presenteiam seus filhos com celulares, tabletes, notebooks, smartphones modernos e consequentemente lhes dão autonomia para usarem da forma e no tempo que quiserem. Acreditando que terão maturidade em manter os cuidados na internet, os problemas dão início. Que a internet é um meio moderno e rápido para buscar informações, trocar ideias, conhecer pessoas interessantes, para se manter atualizado nos acontecimentos do mundo, através de redes como e-mail, facebook, blogs, twitter e sites em geral não tem como negar, todavia, adolescentes e crianças se empolgam nas postagens de dados e troca de informações, por não terem exatamente a noção das consequências ou por atitudes espontâneas, características da faixa etária. Assim, acabam não separando o mundo real do virtual. Por influência de postagens contidas nesse universo de informações da internet, os usuários juvenis mudam o comportamento, tomam como referência e modelo de vida atitudes que possam desviar o caráter, quando visitam sites inadequados com cenas de pornografia, de uso de drogas, de


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crueldades e de brincadeiras inconvenientes e “loucas”, apresentando assim, rebeldias, atos mais inconsequentes e violentos, principalmente quando fazem amizades com desconhecidos que os influenciam, os convidando para um “mundo novo”, aproveitando-se dessa fase de curiosidade, que é a da juventude. Plugados em seus smartphones, os jovens mudam suas rotinas, àquelas horas de lazer, numa partida de futebol, num passeio com colegas, numa descontração com a família e com amigos da escola presencialmente, praticamente não acontece. A conversa “cara a cara” não rola. A comunicação é feita pelo watsapp, por exemplo. Hoje, o que vale é ficar parado em frente ao celular, sem piscar os olhos diante do colorido de imagens e letras da internet. Estão virtualmente “viciados”. Infelizmente, assim como famílias, do passado não tão distante, aquele que retrata o auge das redes sociais tiveram dificuldades para lidar com os riscos oferecidos pela internet, as famílias do presente e do futuro têm e terão o mesmo, pois a tendência é a cada dia essa tecnologia chamativa se inovar e renovar. Cabem aos pais e governantes intervirem com medidas protetivas como palestras bem fundamentadas e punição rigorosa àqueles que ludibriarem nossas crianças e adolescentes por meio do “mundo virtual”. Texto 1º lugar na competição interna da escola Edilson Façanha em 2015. Professora Francisca Freitas Da Silva Pinheiro.


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TEXTO 85 QUEM PODE ESTAR DO OUTRO LADO DA TELA? Aluna: Bárbara Falque de Araújo A internet facilita muito a vida das pessoas. Ela tem seus benefícios, como troca de informações interessantes, contato rápido com amigos distantes, busca de conteúdos para os trabalhos escolares, dentre outros. Porém, há também o lado ruim de estar conectado, principalmente, no que diz respeito à privacidade nas redes sociais. A superexposição da vida pessoal na internet é um perigo, pois não sabemos quem está do outro lado da tela. Se suas informações e afirmações durante um bate papo, por exemplo, são verdadeiras. Se é ou não uma pessoa de bom caráter, já que na maioria das vezes, o vilão virtual se passa por um honesto, quando na realidade pode ser um psicopata ou um pedófilo. Outro ponto negativo na internet é a falta de respeito manifestado através de comentários maldosos que afetam a vida social e pessoal dos usuários. Situação essa, que atinge especificamente os jovens, na busca incessante, ato típico da idade, de fazer novas amizades e paqueras. Nesse aspecto, o usuário erra, ao passo em que não limita suas trocas de informações. Portanto, temos que ter cuidado com quem conversamos na internet. Os pais devem ficar atentos às informações postadas nas redes sociais de seus filhos. As escolas podem promover campanhas para informar aos alunos sobre os riscos da exposição exacerbada nessas “teias” virtuais.


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Saber administrar com cautela sua vida social, utilizando as ferramentas de forma limitada é importante para evitar problemas. Segundo lugar na competição interna da escola Edilson Façanha Pinheiro em 2015. Professora Francisca Freitas da Silva.

TEXTO 86 AS PESSOAS SE MONTAM E SE DESMONTAM COMO SE FOSSEM BONECOS Aluna: Thalita Maria Grube L. Miranda Quando pensamos em beleza o que vem à cabeça são os famosos e seus corpos sarados. Mulheres querem ter a boca da Angelina Jolie, o corpo da Beyonce. Homens se inspiram nos artistas mais musculosos com elevado peitoral. Querem parecer com seus ídolos. Andar, falar, se vestir, se alimentar igualmente a eles. No entanto, nenhum famoso é idêntico ao outro, pois cada um tem a sua beleza. Devemos ter noção de que ninguém é perfeito. Essa frase parece clichê, mas faz sentido porque cada um é cada um com seu valor e forma de ser interna e externamente. Assim, não precisa ir direto ao bisturi quando perceber que está acima do peso, ou quando há insatisfação com o tamanho do nariz ou das orelhas, do modelo da face, do corpo, etc. As pessoas se “montam” e se “desmontam” como se fossem bonecos. “Arruma aqui”, “tira dali”, “coloca acolá”, pronto! Tudo vale para acompanhar as tendências estéticas


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corporais daqueles que vivem financeiramente disso na mídia. E Esquecem-se dos riscos relacionados à saúde com tantas mudanças radicais no corpo. Devemos ser bem mais que aparência e, se tem algo que precisa de cirurgia é a alma. Pois hoje, as pessoas são taxadas de feias por serem altas demais, por serem mais “cheinhas” ou pelo tipo de cabelo. Pare e pense no que realmente importa: ser um boneco humano ou ter um diploma na mão? Terceiro lugar na competição interna da escola Edilson Façanha. Professora Francisca Freitas da Silva Pinheiro.

TEXTO 87 OS DOIS LADOS DAS REDES SOCIAIS Aluno: Diego Barbosa Redes sociais: são ótimas ferramentas pelas quais os internautas compartilham momentos bons de suas vidas com parentes e amigos distantes. Também compartilham ideias, noticias da última hora, divulgam propagandas de seus negócios, postam vídeos engraçados, brincadeiras com colegas e realizam aquele bate papo. Mas nem tudo é bom e saudável nessas ferramentas sociais. Jovens se empolgam, ficam conectados com desconhecidos, correndo riscos, sendo que pedófilos ficam á espreita de uma nova conquista. Há também aquela que agora já se tornou “velha” e comum, de tanto ocorrer, é a exposição de fotos e/ou vídeos de situações intimas gravadas durante o


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namoro. Isso acontece quando um dos parceiros resolve, por revolta ou por pura maldade, divulgar os momentos íntimos do casal. Assim, é essencial que todos usem e abusem das redes sociais em prol de boas práticas, como ações de cidadania, de ajuda ao próximo. Que cliquem em fotos que demonstram o carinho entre a família, ou um final de semana alegre com amigos, uma premiação na escola, um louvor na igreja e outros que podem proporcionar a paz. Que limitem a exposição nessas redes. Texto 4º colocado na competição interna da escola Edilson Façanha em 2015. Professora Francisca Freitas da Silva Pinheiro. .

TEXTO 88 A BUSCA PELA PERFEIÇÃO FÍSICA Aluna: Antônia Paula da Silva Estamos no auge da busca incessante pela perfeição física. Pessoas de todas as idades estão insatisfeitas com suas aparências de modo geral. Com isso, exageram nas cirurgias plásticas e mesmo assim, não ficam totalmente contentes e saciadas no quesito “beleza física”. Procuram ficar parecidas com o artista favorito e até com o boneco predileto, como no caso do Quen humano: o rapaz que passou por procedimentos “loucos” para se igualar a um boneco, literalmente.


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Mas, tudo tem um preço. E o preço desse exagero são complicações na saúde, pois o corpo pode não suportar muitas intervenções. Temos como exemplo, a famosa Andressa Urack, que por uma aplicação de hidrogel nas coxas, passou por uns “mals bocados”, por conta de uma inflamação forte, causada por bactéria. Incluindo a esse caso, lembremo-nos do líder de transformações, o cantor pop Michael Jackson. Ele também passou por várias complicações. Por fim, é preferível ser perfeito naturalmente a procurar uma beleza forçada, manipulada e mantida por meios arriscados. Texto 5º colocado na competição interna da escola Edilson Façanha em 2015. Professora: Francisca Freitas da Silva Pinheiro.

TEXTO 89 BULLYNG VIRTUAL Aluna: Bruna Silva Como sabemos, o bullying virtual é aquele efetuado através da internet. Muitos praticam como também são vítimas. Por isso, a internet está cada vez mais perigosa de se utilizar. Moças postam fotos ousadas, rapazes produzem vídeos com conteúdo “pesado” para a idade, se expõem ao máximo, tendo como consequência comentários maldosos, seguidos de xingamentos, palavras de baixo calão e calunias a respeito de quem está presente no vídeo ou na foto. Mas o pior disso é


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quando fazem montagem, desvios das informações, já que atualmente, usar imagens de outros para fazer hackers , contas falsas, fakes, nas redes sociais é comum e fácil. Nunca sofri cyber bullying , mas amigos meus já, em redes como o Facebook, uma das mais utilizadas. Passar por constrangimentos mediante informações falsas e deturpações de imagens ou falta de respeito com palavras ofensivas e apelidos ridículos que normalmente os jovens têm mania de fazer, com certeza não é nada agradável. Seria bom se todos os jovens que sofressem esse bullying covardemente feito pelas telas de um computador, contassem aos seus pais, porém, a maioria esconde, por medo de ficar sem seu preciso aparelho moderno ou por uma pressão psicológica de ameaça. Eu uso as redes sociais, mas diferente de outros, que se expõem demais, me controlo e separo o que posso postar ou informar porque sei que qualquer “vacilo” serei mais uma vítima do bulIlying virtual. Texto 6º colocado na competição interna da escola Edilson Façanha em 2015. Professora: Francisca Freitas da Silva Pinheiro.

TEXTO 90 ALIENAÇÃO PRECOCE Gabriel de Oliveira Sussuarana Hoje, é comum presenciarmos cenas impulsivas de crianças mimadas. No shopping principalmente, os pais não conseguem controlar. Tudo o que vêm querem levar. Claro, já


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estão acostumadas ao consumo de brinquedos. Mas, já se passou pela sua cabeça o motivo desta “mimação”? A razão desse consumo precoce? Para obter mais clientes a mídia elabora propagandas exclusivas, criativas por demais. São modelos novos de brinquedos, luzes e cores, heróis que, na tela realmente parecem ter vida, aparecem se movendo na luta contra vilões. Por isso, as crianças se impressionam e a vontade de ter um é grande. Com certeza a mídia sabe o que fazer e como fazer para atrair o seu público infantil. E os pais sabem lidar com essa publicidade? Não. A maioria opta por satisfazer todas as vontades de seus filhos. Estes, não mais pedem, e sim, exigem quando estão numa loja, por exemplo. Pulam, gritam, esperneiam, choram, ou quando é adolescente, faz caras e bocas de extrema rebeldia e os pais por receio da “birra”, ou dos olhares das demais pessoas, ou para suprir certa ausência na vida dos filhos, fazem seus caprichos. Os pais, nesse século conturbado, perderam as “rédias”" da boa educação aos filhos. Desse modo, deve partir dos pais primeiramente a mudança. Afinal todos os caprichos afetam na economia familiar. Sai de seus bolsos. Cabe conversação com os filhos. Trabalhar o psicológico deles para terem noção de que nem tudo que aparece na mídia deve ser acatado. Também, cabe aos governantes uma medida maior. Uma punição, multa, por exemplo, ao exagero das propagandas na televisão, ainda mais aquelas em que os protagonistas são as próprias crianças. Texto 1º colocado. Elaborado a partir dos textos motivadores do ENEM de 2014 cujo tema foi “Publicidade infantil – as


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propagandas direcionadas ao público infantil”. Professora Francisca Freitas Da Silva Pinheiro. Escola Edilson Façanha, 2016.

TEXTO 91 QUEM SOFRE DEVE DENUNCIAR Aluna: Andressa Amorim de Oliveira Nos jornais, notícias de violência contra a mulher vêm se tornando cada vez mais comum. Não por falta de lei, nem falta de conscientização. Mas quem sofre tal ato tem medo de denunciar. No nosso país temos a famosa lei Maria da Penha, serve tanto para vítimas femininas quanto masculinas. Porém, o índice de denuncia elevado, mesmo com aquelas que preferem calar-se, é o da violência contra a mulher. Mas, se tem a lei, por que a violência continua? Ainda há o receio de algumas mulheres. Não denunciam por medo, tendo em vista que a lei parece branda. Além do mais, sofrem ameaças. Sabemos que tão logo o agressor sairá e na liberdade pode fazer o mal que desejar. Todavia, no momento em que o agressor não é denunciado, torna-se mais confiante. Com isso, a violência doméstica vira rotina, principalmente nos finais de semana quando o parceiro retorna ao lar embriagado e também “endiabrado.” Por isso, mesmo correndo “riscos”, a mulher sofredora de abusos, agressões verbais e sexuais, psicológicas deve ver uma forma de procurar socorro, de proteger-se. Deve ser inteligente nessas horas e buscar não somente a lei, mas pessoas


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que sempre estão dispostas a ajudar, mudar de vida, de lugar, etc. Acredito que nessa vida não há solução apenas para a morte, pois tudo requer conserto, basta acreditarmos. Portanto, as leis deveriam ser mais severas e quem sofre deve denunciar. Texto 2º colocado. Texto elaborado a partir dos textos motivadores do ENEM 2015 com o tema “A persistência da violência contra a mulher”. Professora: Francisca Freitas Da Silva Pinheiro. Escola Edilson Façanha.

TEXTO 92 PUBLICIDADE EXAGERADA Alunos: Nilton Adonias e Rodrigo de Jesus Com o capitalismo, o mercado de publicidade cresceu, principalmente as propagandas voltadas para as crianças. Sendo um público mais sensível, vulnerável são convencidas facilmente. Aquilo que for chamativo, colorido, animado e divertido vai chamar a sua atenção. Ao ver um comercial de brinquedos, as crianças, logo, serão persuadidas a pedirem aos pais. Estes por sua vez, para de certo modo satisfazer os gostos dos filhos, compram , sendo que, os pais tentam justificar a ausência na vida dos filhos, nesse século de agitação e muito trabalho. Sem tempo para acompanhar cada fase da infância, os pais tentam “compensar” e liberam tudo a eles. O problema é que, sempre farão pedidos, tornando-se consumistas alienados.


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Nessa situação, pode-se considerar também o abuso e exagero das publicidades ao público infantil. Até os adultos se encantam com uma propaganda bem “bolada” de uma boneca, um carro moderno, um boneco herói, enfim, são elaboradas estrategicamente para iludir os consumidores. Por conta disso, em abril de 2014, uma resolução que considera abusiva esse tipo de publicidade foi aprovada. Em alguns países europeus tem efeito de certa forma, já no Brasil, o foco voltou-se somente à participação de crianças , por exemplo, como apresentadoras de programas televisivos e outros, e as propagandas , comerciais continuam a todo vapor de forma bem lúdica e convincente. Portanto, cabe ao governo fazer jus à resolução. “Pressionar” os fazedores de propagandas com linguagem direcionada ao público infantil com o fim de amenizar, pois sabemos que, a propaganda sendo a “alma do negócio”, os empresários não vão abrir mão totalmente desse recurso de lucro. Nisso, cabem aos pais também colocar seus filhos em atividades extracurriculares, para que não fiquem tempo maior frente á televisão, ao computador, ao celular, por exemplo. É uma boa solução para “quebrar” essa publicidade exagerada. Texto 3º colocado. Elaborado a partir dos textos motivadores do ENEM 2014 com o tema “Publicidade infantil – as propagandas direcionadas ao público infantil”. Professora Francisca Freitas da Silva Pinheiro. Escola Edilson Façanha.


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TEXTO 93 QUEM NÃO É VÍTIMA TAMBÉM PODE DENUNCIAR Kelvin Pinheiro Graziely Silva Queiroz Apesar da lei Maria da Penha, que tem a função de coibir e punir a violência praticada à mulher, ainda, em pleno século XXI, as mulheres sofrem algum tipo de violência. Os agressores parecem não ter medo da lei. E as mulheres de certa forma colaboram, a partir do momento em que não denunciam. São movidas pelo medo da vingança do parceiro. Ele não vai passar a vida toda atrás das grades. Bofetões, porradas, empurrões, além de palavrões, termos pejorativos, que baixam a estima é a rotina de muitas brasileiras. Muitas são estupradas por desconhecidos, ou até por conhecidos. Tem casos horrendos em que o próprio pai comete o ato. Algo alastrador que merece total repúdio e punição. Mas, o pior é que na última década 43,7 mil mulheres foram mortas por seus companheiros. Isso é assustador. Os empurrões ficam sendo o de menor grau. Pessoas alegam que eles matam a companheira logo após a denúncia. Isso pode explicar o medo da maioria ter receio de procurar amparo na lei. Infelizmente a punição não é severa. A mulher se sente desprotegida com a saída do agressor. Mas alguém que porventura não seja vítima dessa violência cruel pode denunciar. Fazer algo por elas. Amparar de algum modo e não simplesmente calar. Os representantes do nosso país deveriam


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sair das poltronas aconchegantes e se colocarem no lugar dessas mulheres desprotegidas. Texto 4º colocado. Elaborado a partir dos textos motivadores do ENEM 2015 com o tema “A persistência da violência contra a mulher”. Professora Francisca Freitas Da Silva Pinheiro. Escola Edilson Façanha.

TEXTO 94 A INFLUÊNCIA DA INTERNET NA VIDA DAS CRIANÇAS E JOVENS Aluna: Thaís Falque de Araújo. Hoje, todo mundo é bastante “antenado” com a chegada da internet. Ela é extremamente utilizada por diferentes grupos de pessoas e idades, por ser um meio muito fácil de acessar e de compreender. As crianças e adolescentes são as que mais podem se beneficiar e se prejudicar com essa nova ferramenta. Muitos jovens e crianças têm dificuldades para entender algum conteúdo de uma determinada matéria. Antigamente a vida na escola para eles era bastante complicada, não que hoje ainda não seja, mas antes quando um aluno não entendia um conteúdo tinha que ‘’correr atrás’’ para entender, perguntava para professor, relia anotações, mesmo assim não conseguia entender. Hoje quando ele tem alguma dúvida, pesquisa na internet, acessa vídeo aulas e entende o conteúdo. Ela, além de ajudar nos conteúdos não entendidos, mostra


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vários outros conteúdos e dá dicas para ter um bom desenvolvimento escolar. Além de ajudar nos estudos, a internet é um meio de comunicação completo nela você pode ter conhecimento de tudo o que está acontecendo no mundo e também pode ter contato com qualquer pessoa, fazer amizades, começar um relacionamento, confiar em alguém que te entende e dividir seus gostos e sonhos com elas. Pode se formar grandes laços de amizades com pessoas que você nunca viu também. A internet pode trazer realmente muitos benefícios e ajuda no nosso dia a dia, porém ela também tem seus males. Muitos pedófilos, estupradores, aproveitadores e bandidos estão escondidos nesse meio de comunicação. Eles criam uma nova personalidade, fingem ser outra pessoa e acabam enganando muitos adultos, jovens e crianças. Ela também pode prejudicar os jovens na escola, por eles não terem limites e horários em casa, acabam ficando até tarde da noite no meio virtual. Esse meio de comunicação pode ser nossa aliada, desde que tenhamos limites. Se os pais das crianças e jovens determinarem horários, e proibirem alguns sites, não vão prejudicar seus filhos, e sim ajuda-los a terem um melhor desempenho. Devemos ficar atentos para não nos tornamos reféns nem dependentes da vida virtual. Texto 1º lugar. Professora Margarida Silva Melo. Escola Edilson Façanha.


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ORGANIZADORAS DESTA OBRA

ADRIANA ALVES DE LIMA É professora efetiva de Língua Portuguesa e respectivas literaturas na rede pública de ensino da educação básica do estado do Acre, na Escola Edilson Façanha, em Rio Branco. Leciona nos 8º anos do ensino fundamental II. Mestranda em Letras pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR (2015); Especialista em Educação Especial Inclusiva pela Faculdade Acriana Euclides da Cunha - INEP (2014). Graduada em Letras Português e respectivas literaturas, pela Universidade Federal do Acre - UFAC (2012). Bolsista Top Espanha (2012). Atualmente desenvolve a pesquisa intitulada “Artigo de opinião: o gênero, a sequência didática e a produção textual em Feijó", orientada pela professora Dra. Lusinilda Carla Martins.


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FRANCISCA FREITAS S. PINHEIRO

Graduada em Letras Português e Respectivas Literaturas, pela Universidade Federal do Acre – UFAC (2013). Bolsista PIBIC- UFAC (2012). Pós-graduando em Educação Especial Inclusiva pela Faculdade Acriana Euclides da Cunha – INEP (2016). Finalista da 4ª Edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, na categoria Memórias Literárias (2014). Leciona na rede pública de ensino da Educação Básica do Estado do Acre, nas escolas Edilson Façanha (Ensino Fundamental II) e Leôncio de Carvalho (Ensino Médio).


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MARIA MARGARIDA DA SILVA MELO É professora efetiva de Língua Portuguesa e respectivas literaturas na rede pública de ensino da educação básica do estado do Acre, na Escola Edilson Façanha, em Rio Branco. Leciona nos 6º e 8º anos do ensino fundamental II. Especialista em Planejamento, Implantação e Gestão da Educação à distância pela Universidade Federal Fluminense (UFF- 2016). Graduada em Letras Português e respectivas literaturas, pela Universidade Federal do Acre - UFAC (1992).


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