Joinville - 10 de maio de 2013 - 1ª edição - Ano 01 - Venda proibida
ViaLáctea ERUPÇÕES SOLARES O que elas causam na Terra e na atmosfera
Biodiversidade
Conheça a história da mulher que vive para observar e estudar os chimpanzés
Entrevista
Especialista Hiroshi Ishiguro fala sobre criação de robôs com sentimentos
Cartola
S um á ri o 4 Entrevista - Androides têm sentimentos 6 Universo - Após as erupções
solares Terra pode ter tempestades geomagnéticas
9 Biodiversidade - Jane Goodall: Uma história de amor
11 O que você acha? -
Preocupação com o meio ambiente não é consciência ambiental
Ex p e di e nte ViaLáctea
Redação - Ana Paula Ponick, Eluana Mello Imagens - Ana Paula Ponick, Eluana Mello Diagramação - Ana Paula Ponick Revisão - Lucio Baggio Gráfica - Central de cópias Bom Jesus Ielusc Admnistração - Ana Paula Ponick, Eluana Mello
47 3425 - 0962 Joinville - SC Editora - Rua Princesa Isabel, 215 89224-497 - Joinville SC www.revistavialactea.com.br Para Assinar - www.revistavialactea.com.br/assinatura Este é um trabalho acadêmico desenvolvido para a disciplina de Meios Impressos do curso de Jornalismo da Associação Educacional Luterana Bom Jesus Ielusc, com foco na diagramação. Os textos e fotos utilizados foram retirados de reportagens publicadas na internet. Os responsáveis não estão identificados,visto que o objeto de avaliação não consiste na produção textual e/ou fotográfica. Deste modo, descreditamos nossa participação na produção e apuração dos textos e fotos, sendo este projeto apenas uma simulação e não um produto gráfico para ser veiculado e comercializado. 10 de maio de 2013 | Via Láctea
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Entrevista
Androides têm sentimentos Especialista Hiroshi Ishiguro fala sobre a criação de robôs humanoides
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como um adoleslê-se no cartaz. cente (risos). “Você já assistiu a Via Láctea - O esse filme?”, persenhor se digunta o professor verte com seu ao ver que anoto a trabalho então? frase no caderno. Ishiguro - Sim, “Não...”, começo tento me divera responder, mas tir, sempre. Mas sou cortado por às vezes é difícil. ele. “É um ótimo Tem horas que filme. Assista.” penso apenas no Tento começar meu ganha-pão. a entrevista, mas Via Láctea sou interrompido Como os robôs novamente com entraram na sua perguntas sobre o vida? Brasil, mulheres Ishiguro - Eu brasileiras e nosso queria ser pintor, Carnaval. Ishigu- “Não dá para prever nada ro não escondeu a nessa área tecnológica. [...] mas entrei para a área de ciência vontade de conheda computação e cer o País e falar Nossa sociedade é muito comecei a estudar para os brasileiros dinâmica e vai ser mais inteligência artisobre suas criaficial e a área de ções. “Mas quero dinâmica ainda.” reconhecimento ir ao Carnaval, para conhecer o Rio de Janeiro”, fala. visual. A questão é: o computador pre“Posso levar robôs pequenos e também cisa reconhecer algo. Então, para ter um os que jogam futebol”, emenda. A con- reconhecimento real, achei que o comversa é interrompida pela secretária que putador precisava ter um corpo para ter nos serve chá verde e bolachas. Duran- essa experiência. Então, naturalmente te toda a entrevista, Ishiguro pediu para passei para a área de robótica. repetir as perguntas diversas vezes, pois Via Láctea - Mas eles prese parecer conosco? estava sempre fazendo outras coisas ao cisam mesmo tempo: respondendo e-mails, Ishiguro - Depende da situação. Se atendendo ligações. Talvez esteja can- for uma recepcionista, um robô com sado de falar das suas criações, robôs aparência humana é muito melhor do que o tornaram um dos cientistas mais que outro qualquer. Além disso, nós famosos no mundo. Confira abaixo os já temos a expectativa de encontrar principais trechos da conversa exclusi- um ser humano nesta função, certo? Agora, trabalho com os Elfoid (um va de Via Láctea com o pesquisador. Via Láctea - Como é o seu dia-a-dia? robô com função de telefone celular) Quantas horas por dia trabalha? e Telenoid, robôs com uma aparência Hisroshi Ishiguro - Meu trabalho é humana, mas que não podemos dizer meu passatempo. Apenas tento sobre- sua idade ou seu gênero sexual. Penviver neste mundo, então tento fazer do so que os idosos vão gostar de usar meu trabalho um hobby. Estou sempre esses robôs, pois podemos usar nossa a procura de inspiração para minhas imaginação para mentalmente projecriações, meus livros e, mais recente- tar uma feição para essas máquinas. É mente, estou investindo na área artís- muito mais fácil falar com esses apatica. Muitas pessoas dizem que eu sou relhos, pois falamos com nossa imaEluana Mello
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le já foi comparado por alguns cientistas ao Dr. Frankenstein da literatura por estar sempre levantando questões profundas sobre a humanidade e suas criações. As roupas de cores pretas e os cabelos cheios, no estilo dos anos 70, são a marca registrada de Hiroshi Ishiguro, o especialista em robótica mais famoso do Japão e um dos mais importantes do mundo. Dedicado ao trabalho - que ele considera um “divertido passatempo” - em um dos seus quatro laboratórios, Ishiguro, 48 anos, começou a construir robôs há mais de uma década, depois de abandonar a ideia de ser um artista plástico. E defende a ideia de os robôs se parecerem conosco para facilitar sua aceitação. “Se faltam pessoas, por que não criar algumas?”, diz. Com a agenda sempre lotada de compromissos, dentro e fora do Japão, Ishiguro aceitou receber a reportagem da Via Láctea em seu laboratório instalado no campus Toyonaka da Universidade de Osaka. Numa tarde fria de outono, o professor chegou atrasado ao encontro - o que é muito raro, disse uma das três secretárias. Mal entrou na apertada sala onde está instalada a recepção, um professor assistente o levou para o escritório e, com as portas abertas, discutiram uma palestra de última hora na cidade de Xangai, na China. Passou novamente pela recepção, soltou um wait a minute (“espere um momento”) e saiu apressado. Voltou cerca de dez minutos depois, ainda atordoado com o novo compromisso. Depois de discutir a agenda do dia seguinte, pediu-me para acompanhá-lo ao seu escritório. No pequeno cômodo, não tão diferente de qualquer outra sala de um professor universitário - abarrotado de livros, caixas, enfeites -, um poster do filme Substitutos (Surrogates) se destaca na parede - Ishiguro e um dos seus androides aparecem no começo deste filme. “Como salvar a humanidade quando a única coisa real é você?”,
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Entrevista ginação, sem nenhuma pressão. mos virtualmente pela internet. Mas Ishiguro - Falei sobre isso uma vez. Via Láctea - Podemos dizer que ca- como checar se eles são humanos de A situação hoje da robótica é igual minhamos para uma sociedade in- verdade? Além disso, os humanos dos computadores pessoais. Há alguns tegrada entre máquinas e homens, são cheio de mistérios. Já ouvi mui- anos, não sabíamos usar um computacomo nos filmes de ficção científica? tos dizerem que meus androides são dor. Ele já existia, mas não tinha muitas Ishiguro - Filmes mostram sempre muito melhores que humanos. Olha funções e aplicativos de uso fácil. Na situações extremas, mas parte do que só: podemos tocá-los de forma mais robótica hoje temos muita tecnologia é retratado nós vamos usar definitiva- amistosa, sem pressão social. sendo desenvolvida. Mas ainda não samente. Teremos um Via Láctea bemos como usá-los. Em breve teremos mundo parecido com “Teremos um mundo - No que a aplicativos que facilitarão o uso deles o que é mostrado nos sociedade ja- pelas pessoas comuns. filmes. Por exemplo, parecido com o que é ponesa pode Via Láctea - Em quanto temSubstitutos (Surro- mostrado nos filmes.” servir como po? Cinco anos? Dez anos? gates) mostra que temodelo, já Ishiguro - Não saberia dizer. Nossa remos um androide idêntico a nós que que a robótica está tão avan- sociedade muda muito rápido. Não dá faria o nosso trabalho. Eu adoraria ter çada entre os japoneses? para prever nada nessa área tecnolóum substituto nas aulas, caso eu fique Ishiguro - Nós temos uma situação gica. Há poucos anos, não dava para doente. E pessoas com problemas físi- diferente do resto do mundo. Aqui esperar uma sociedade tão informaticos também poderiam usar um androi- não temos militares e não temos a zada ou essa invasão dos smartphode para executar tarefas que elas não pressão de criar máquinas com in- nes. Nossa sociedade é muito dinâmipodem fazer. tuito bélico. Nunca pensamos nisso. ca e vai ser mais dinâmica ainda. Via Láctea - Os filmes de ficção Nós pensamos em aplicações dos roVia Láctea - O senhor tem científica geralmente retratam o bôs no dia-a-dia, por isso que a tec- algum robô em sua casa? homem lutando contra os robôs... nologia se desenvolveu rapidamente Ishiguro - ... (alguns segundos pensanIshiguro - Não em Transformers. Ro- aqui. Somos bons em desenvolver do)... Não. Mas hoje muitas pessoas bôs são amigos dos humanos neste pequenos aparelhos, como gadgets têm aquele aspirador de pó que trabafilme. Os produtores de Hollywood eletrônicos, celulares, televisores... lha sozinho e também aparelho de ar parece que finalmente se influencia- Podemos construir robôs para o uso condicionado que faz autolimpeza dos ram com a cultura japonesa e muda- cotidiano ou mesmo para ajudar a filtros. Ah, sim, e os aparelhos celulares ram de ideia (risos). cuidar de idosos. também são uma espécie de robôs, pois Via Láctea - O Geminoid foi um Via Láctea - Qual o estágio da ro- têm sensores e câmeras. grande marco na robótica. Con- bótica hoje? Em cinco ou dez tinua a desenvolver esse robô? anos, que tipos de robôs teremos? Ana Paula Ponick Eluana Mello Ishiguro - Continuamos a trabalhar com ele, e logo teremos um Geminoid muito melhor e mais portátil. Nós usamos muitos computadores e sistemas complicados para criar esse robô. Mas a próxima versão será mais simples e compacta. Está quase pronto e não posso contar os detalhes ainda. Quero fazer com que ele possa me substituir em entrevistas como esta ou conferências, assim posso continuar trabalhando em outros projetos (risos). Via Láctea - O senhor acredita, assim como outros pesquisadores como David Levy e Kurz Weil, que algum dia homens e robôs poderão até mesmo ter relações de amor e sexo? Ishiguro - Por que não? Você acredita que sou um ser humano, mas como ter certeza disso? Por exemplo, temos muitos amigos que conhece- Hiroshi Ishiguro ao lado de uma de suas criações mostrando a semelhança entre ele e o robô 10 de maio de 2013 | Via Láctea
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Universo
Após as erupções solares...
tempesta
Cientistas aguardam neste sábado chegada de partículas emitidas pelo So
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uroras boreais como a da foto são a melhor consequência de tempestades solares; mas elas podem causar problemas na rede elétrica Em 1859 aconteceu uma erupção solar e, na Terra, os fios soltaram faíscas que deram choques nos operadores de telégrafo, botando fogo no papel. Foi a maior tempestade geomagnética de que há registros históricos. O Sol arremessou bilhões de toneladas de elétrons e prótons sibilantes para a Terra e, quando essas partículas bateram no campo magnético do planeta, criaram auroras espetaculares nas cores vermelho, verde e roxo no céu noturno – além de correntes poderosas de eletricidade que saltaram do chão para os fios, sobrecarregando os circuitos. Se uma tempestade dessas aconte-
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cesse no século XXI, muito mais do que fios e papel estaria em risco. Alguns satélites de telecomunicação muito acima da Terra seriam desligados. Os sinais do GPS ficariam misturados. E o surto de eletricidade vindo do chão ameaçaria as redes elétricas, quem sabe deixando um continente ou dois nas trevas. Segundo cientistas, é impossível prever quando a próxima tempestade solar monstro vai acontecer – e, igualmente importante, se a Terra estará em seu caminho. O que eles sabem é que com mais manchas solares, acontecem mais tempestades, e no outono do Hemisfério Norte o Sol atingirá o pico do ciclo de 11 anos de manchas solares. As manchas solares são regiões de campos magnéticos turbulentos onde se originam as explosões solares. O fluxo e refluxo são observados há séculos,
mas somente nas últimas décadas os cientistas solares descobriram que os campos magnéticos dentro das manchas podem liberar as rajadas brilhantes de luz chamadas de explosões solares e as erupções gigantes de partículas carregadas conhecidas como ejeções de massa coronal. Ameaças a redes elétricas e de comunicações Os especialistas estão divididos quanto às consequências na Terra de uma erupção solar cataclísmica, conhecida como evento de Carrington, em homenagem ao astrônomo amador britânico que documentou a tormenta de 1859. Um apagão continental afetaria milhões de pessoas, “mas é adminis-
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...a Terra pode ter tades geomagnéticas Ana Paula Ponick
elo Sol, fenômeno que pode alterar sistemas de satélites e redes de energia trável”, disse John Moura, da North American Electric Reliability Corp, associação sem fins lucrativos fundada por empresas de energia para ajudar a gerenciar a rede elétrica. Segundo ele, a maior parte da rede poderia ser religada dentro de cerca de uma semana. Outras pessoas são mais pessimistas, preocupando-se que uma erupção enorme e na direção certa causaria não apenas o apagamento das luzes como também danificaria transformadores e outros componentes críticos da rede. Alguns lugares poderiam ficar sem eletricidade durante meses e uma “falta crônica de vários anos é possível”, de acordo com o Conselho Nacional de Pesquisa, a divisão de pesquisa da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Mesmo assim, o ciclo de manchas
solares tem sido mais tranquilo do que a maioria. E mesmo que o Sol libere uma rajada enorme, como aconteceu em julho passado, há uma boa chance de esta ser despachada de forma inofensiva em alguma outra direção do sistema solar. É raro que uma explosão solar gigante voe diretamente para a Terra. Ainda que uma onda alimentada por furacão chegando à cidade de Nova York na maré alta durante a Lua cheia seja rara, não é impossível. “Sempre existe a chance de uma grande tempestade e as consequências potenciais de uma grande tormenta deixam todo mundo preocupado”, afirmou William Murtagh, coordenador de programa do Centro de Prognósticos Climatológicos Espaciais, integrante da Agência Nacional Atmosférica e Oceânica dos EUA.
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Queda gigantesca de energia O exemplo mais estudado e inequívoco da capacidade solar de prejudicar redes elétricas aconteceu em 13 de março de 1989, na província canadense do Quebec. Nas primeiras horas da manhã, uma tempestade solar gerou correntes nos fios de transmissão, desligando disjuntores. Em questão de minutos, um apagão tomou conta da província, fechando empresas, escolas, aeroportos e metrôs até a energia ser religada, no fim daquele dia. O Canadá foi atingido novamente poucos meses depois, quando outra tormenta solar levou a culpa pelo desligamento de computadores na Bolsa de Valores de Toronto, impedindo as transações. A organização de Moura divulgou um estudo no ano passado dizendo que
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Universo
Ana Paula Ponick
Aurora boreal, consequência das erupções solares que ocorreram nos últimos dias
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Tais correntes saem do chão e sobem nas linhas de transmissão elétrica. “De certa forma, estamos jogando roleta russa com o Sol”, disse John Kappenman, engenheiro elétrico proprietário da Storm Analysis Consultants que vem alertando quanto a uma catástrofe em potencial. Até agora, o presente ciclo solar desafiou a compreensão fácil. Ele começou mais tarde – tão tarde que, para alguns, era o começo de um longo período de tranquilidade, como em meados do século XVII, quando quase nenhuma mancha foi vista no Sol durante décadas. O Sol está mais tranquilo do que os peritos esperavam e, por ora, parece ter chegado prematuramente ao ponto máximo. Os dois hemisférios solares estão fora de sincronia. O hemisfério norte está adiante da curva, tendo produzindo um grande número de manchas no final de 2011 e depois se aquietado; o hemisfério sul permaneceu praticamente em sossego durante esse tempo todo. Para a maioria dos cientistas solares, o hemisfério solar vai se reanimar e o número de manchas solares voltará a crescer, com a máxima solar ocorrendo no final do ano. Esse padrão de picos duplos já foi avistado em ciclos solares anteriores, como no último. “Creio ser possível afirmar com forte confiança que haverá um segundo pico em 2013”. Eluana Mello de Souza
Divulgação
as distribuidoras teriam aviso suficiente para desligar a rede e proteger os transformadores; uma força-tarefa de acompanhamento fará um estudo minucioso para determinar o grau de vulnerabilidade dos transformadores. “Existe a sensação neste campo de que nós não temos todas as respostas”, afirmou Antti Pulkkinen, cientista do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, em Greenbelt, Maryland. Os perigos não vão passar antes do fim da máxima solar – o período de maior atividade do Sol. Mesmo quando tranquilo, com poucas manchas solares, o Sol ainda pode produzir uma erupção gigante. As explosões solares, que viajam à velocidade da luz, chegam à Terra em menos de oito minutos e meio e podem derrubar parte das comunicações por rádio. Porém, a maior fonte de preocupações são as ejeções de massa coronal, na qual bilhões de toneladas de elétrons e prótons são expelidos do Sol e aceleram a mais de 1,6 milhão de quilômetros por hora. As partículas, que geralmente demoram de dois a três dias para percorrer os 149 milhões de quilômetros entre o Sol e a Terra, não atingem a superfície; elas são repelidas pelo campo magnético do planeta. Contudo, elas ficam presas no campo. Esse vaivém contínuo gera novos campos magnéticos, a maioria no lado noturno do planeta, e estes, por sua vez, induzem correntes elétricas no chão.
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Eluana Mello
Biodiversidade
Jane Goodall: uma história de amor
A primatologista dedicou 50 anos à vida e estudo dos chimpanzés num parque na Tanzânia
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a manhã de 14 de julho de 1960, ela chegou a uma praia pedregosa na costa leste do lago Tanganica. Foram seus primeiros passos na então chamada Reserva de Caça Gombe Stream, uma pequena área protegida que o governo colonial britânico havia demarcado nos idos de 1943. Trazia uma barraca, pratos de flandres, uma caneca sem asa, um binóculo tosco, um cozinheiro africano chamado Dominic, e como acompanhante, por insistência de pessoas que temiam por sua segurança na selva da Tanganica pré-independente - sua mãe. Vinha estudar os chimpanzés. Ou pelo menos tentar. Quem não a conhecia bem apostava em seu fracasso. Mas uma pessoa, o paleontólogo Louis Leakey, que a recrutara para a tarefa em Nairóbi, acreditava que ela podia ter êxito. Um grupo de moradores acampados na praia perto de redes de pesca recebeu os recém-chegados e os ajudou a descarregar o equipamento. Por volta das 5 da tarde, alguém anunciou ter
visto um chimpanzé. “Lá fomos nós”, escreveu Jane depois em seu diário. Foi só um vislumbre distante, vago. “Ele se afastou quando alcançamos o bando de pescadores que o fitava.Escalamos a encosta, mas não o vimos mais.” Apesar disso, ela registrou um amontoado de ramos curvados e amassados numa árvore próxima: um ninho de chimpanzé. Esse dado, o primeiro ninho, foi o ponto de partida de uma saga, ainda em andamento e completando agora 50 anos, que viria a ser uma das mais importantes da biologia moderna: o contínuo e minucioso estudo do comportamento dos chimpanzés de Gombe, empreendido por Jane Goodall e outros. Outro reflexo da despreocupação deles:Gremlin defeca na trilha não muito longe de nós, e depois Golden faz o mesmo. Quando eles se afastam, um pesquisador chamado Samson Shadrack Pindu calça luvas amarelas de látex, pega uma pequena pá de plástico e vai até o local. Agacha-se, recolhe um bocado do excremento esverdeado e fi-
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broso de Gremlin e o transfere para um tubo de amostra. Registra nele a hora, a data, o local e o nome de Gremlin. O tubo contém um líquido estabilizador chamado RNAlater, que preserva qualquer RNA (por exemplo, o de um retrovírus) para análises genéticas posteriores. Esse tubo, e outros como ele, representando uma amostra fecal mensal do maior número possível de chimpanzés, irá para o laboratório de Beatrice Hahn na Universidade do Alabama em Birmingham. Há dez anos ela estuda o vírus da imunodeficiência símia em Gombe. O vírus da imunodeficiência símia dos chimpanzés, tecnicamente conhecido como SIVcpz, é o precursor e a origem do HIV-1, o vírus responsável pela maioria dos casos de aids no mundo (há também o HIV-2). Apesar do nome, nunca fora constatado que o SIVcpz houvesse causado danos ao sistema imunológico de chimpanzés selvagens, até que os conhecimentos de genética molecular da doutora Beatrice encontraram os dados de observações
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Biodiversidade de longos períodos em Gombe. Pen- amostras de cada indivíduo todo mês”. nos também não se saem nada mal. A sava-se que o SIVcpz fosse inócuo aos E acrescenta: “É muito triste que o ví- estratégia consiste em investir na relachimpanzés, e essa suposição levara à rus esteja aqui, mas isso pode nos trazer ção: passar um período exclusivo como questão de como ou por que ele causa- conhecimento. E compreensão”. casal, viajar na companhia da fêmea e va uma pandemia letal entre os seres Os avançados métodos da genética acasalar-se - o mais das vezes com uma humanos. molecular trazem mais que medonhas fêmea das mais jovens, que são menos Será que umas poucas mutações fa- revelações sobre doenças. Eles tam- desejáveis. tídicas teriam transformado um inofen- bém nos dão a empolgante capacidade Jane previra essa conclusão duas sivo vírus de chimpanzé em assassino de investigar alguns antigos mistérios décadas antes, com base em dados de de seres humanos? Essa perspectiva sobre a dinâmica social e a evolução observação. “O macho que consegue teve de mudar depois da publicação de dos chimpanzés. Por exemplo: quem iniciar e manter uma relação de parceum artigo na revista Nature em 2009. são os pais em Gombe? A maternida- ria com uma fêmea fértil”, escreveu ela, Seu principal autor é Brandon F. Keele de é óbvia, e as íntimas relações entre “provavelmente tem mais chance de ser (que na época trabalhava no laboratório mães e bebês foram bem estudadas pela pai do filho dela do que teria na situade Beatrice) e entre os coautores estão própria Jane, além de Anne Pusey e ou- ção grupal, mesmo se ele fosse o alfa.” Beatrice Hahn e Jane Goodall. Imperativos maiores impeliram tros. Mas, como as fêmeas tendem a se O artigo de Keele informava que acasalar promiscuamente com vários Jane a encerrar sua carreira como biólochimpanzés SIV-positivos em Gom- machos, é bem mais difícil determinar ga de campo em 1986. Desde então, ela be apresentavam entre dez e atua como defensora e confeEluana Mello 16 vezes mais risco de morte rencista itinerante, uma mulher em determinada idade que os movida por um sentimento de chimpanzés SIV-negativos. E missão pública. três carcaças de chimpanzes Que missão? Sua primeira SIV-positivos tiveram seus causa, nascida de seus anos em tecidos examinados (em laboGombe, foi melhorar o péssiratório, em nível molecular) mo tratamento infligido aos e mostraram sinais de danos chimpanzés mantidos em laboanálogos aos da aids. Ou seja: ratórios de pesquisas médicas. uma doença semelhante à aids Combinando firmeza e indigparece estar matando os chimnação moral com sua simpatia panzés de Gombe. e disposição para interagir com De todos os laços, caracteafabilidade, ela conseguiu alrísticas em comum e semelhanguns acordos favoráveis. Tamças que ligam nossa espécie à bém fundou santuários para deles, essa revelação talvez chimpanzés que podem ser seja a mais inquietante. “É aslibertados do cativeiro, entre sustador saber que os chimpan- “É assustador saber que os chimpanzés eles muitos órfãos que perdezés parecem estar morrendo parecem estar morrendo mais cedo. [...] Há ram a mãe para a caça. mais cedo”, me diz Jane. “Há O trabalho despertou sua quanto tempo isso está ocorrendo? De onde preocupação quanto tempo isso está ocorcom a conduta rendo? De onde vem? Como vem? Como afeta outras populações?” humana em relação a outras afeta outras populações?” Pelo espécies. Atualmente, passa bem da sobrevivência dos chimpanzés a paternidade. E a questão de identida- cerca de 300 dias por ano na estrada, de toda a África, essas questões deman- de paterna relaciona-se a outra: como a dando inúmeras entrevistas e palestras dam estudos urgentes. competição entre os machos por status em escolas, fazendo conferências, conEssa funesta descoberta também na hierarquia - toda aquela espalha- versando com autoridades, angarianpode ser imensamente importante à fatosa demonstração de valentia para do fundos para mover as engrenagens pesquisa da aids em seres humanos. obter e manter a posição de macho alfa do Instituto Jane Goodall. De vez em Anthony Collins ressalta que, embora - se correlaciona com o êxito reprodu- quando foge para alguma floresta ou o SIV seja encontrado em comunidades tivo? Uma jovem cientista, Emily Wro- pradaria, talvez com alguns amigos, de chimpanzés de outras áreas, “nenhu- blewski, analisou o DNA de amostras para observar chimpanzés, grous-canama delas é uma população em estudo, fecais coletadas pela equipe de campo denses ou furões, e restaurar sua enerhabituada a observadores humanos, e e chegou a uma resposta. gia e sanidade. nenhuma nos deu informações geneaEla concluiu que os machos de lógicas ininterruptas por tanto tempo posição mais elevada realmente têm nem é tão dócil que nos permita obter mais filhos - mas os machos subalterAna Paula Ponick
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O que você acha?
Preocupação com o meio ambiente não é sinônimo de consciência ambiental “[...] é fácil eu dizer que me preocupo com o meio ambiente, mas na prática eu jogo lixo nas ruas, desperdiço água [...]”
todos os sentidos – tenha quadruplicado em 20 anos, pois em 1992 o Brasil e os brasileiros ainda não estavam acostumados com a recente liberdade de expressão e informação adquirida após décadas de controle pela ditadura militar. Além disso, é preciso destacar um fato que ocorreu no mesmo ano, mas não é tratado com a devida importância histórica: o inédito impeachment de um presidente no Brasil. Como podemos ser conscientes sem saber da própria história? Enfim, Arquivo pessoal isso é outro assunto. Já faz um bom tempo que ser Ecochato vem se tornanO resultado otimista desta pesquisa sobre o aumento da do cada vez mais legal, ao ponto de se tornar algo politicapreocupação ambiental dos brasileiros é muito vago para mente correto e perigosamente hipócrita. Nos últimos anos aceitarmos como uma conclusão positiva. Segundo a pesalgumas pesquisas vêm apresentando dados positivos, mas quisa 99,7% dos brasileiros consideram importante cuidar duvidosos, em relação ao aumento da consciência ambiental do meio ambiente. Alguém responderia ao contrário? Claro dos brasileiros. Dizer que está preocupado com a Floresta que não, é feio perante a sociedade. Mas, como eu disse no Amazônica, com a poluição dos rios e até com a redução título deste post, dizer que se preocupa com o meio ambiente do uso de sacolas plásticas virou uma resposta de aceitação não é sinônimo de consciência ambiental. Isso fica bem claro social, assim como quando perguntamos as pessoas se elas em outras partes da pesquisa. são egoístas ou invejosas, mesmo que sejam elas dificilmenDe acordo com a pesquisa 43% sentem muito orgulho te admitirão. do país e para a maioria, 28%, o principal motivo é o “meio É muito fácil eu responder a uma pesquisa dizendo que ambiente”. 61% dos entrevistados continuam achando que o me preocupo com a fome no mundo enquanto gasto uma fordesmatamento das florestas é o principal problema ambientuna comprando doces, refrigerantes, comidas sofisticadas e tal do país, mas infelizmente – na última posição – apenas banco idas a restaurantes luxuosos. Também é fácil eu dizer 2% disseram que o principal problema é a falta de conscienque gostaria de um transporte público de qualidade falando tização ambiental da população. Bingo! Acredito que se os isso de dentro do meu carrão importado. Da mesma forma é brasileiros estivessem realmente mais conscientes a resposta fácil eu dizer que me preocupo com o meio ambiente, mas sobre a falta de conscientização ambiental deveria ter sido a na prática eu jogo lixo nas ruas, desperdiço água, jogo fora mais escolhida, não acham? Até porque a falta de consciencoisas que serviriam para alguém e fico sempre atento aos tização que provoca todos os outros problemas. lançamentos das marcas mais famosas para afirmar meu sta57% dos brasileiros se consideram mais ou menos intus. É muito simples ser hipócrita e provocar formados sobre meio ambiente, e eles têm resultados enganosos em uma pesquisa. “O resultado otimista toda razão. A polêmica das sacolas plástiNo fim de 2010 eu já havia publicado aqui cas serve como exemplo para ilustrar isso, o artigo “Pesquisas revelam que boas inten- desta pesquisa já que não nos dão informações suficientes ções contrastam com ausência de gestos dos sobre o aumento nem discutem sobre reciclagem para aponconsumidores brasileiros“. Apresentei duas da preocupação tar o saco plástico como o verdadeiro vilão. pesquisas excelentes e inéditas que identiApenas 3% dos entrevistados apontaram as ficavam esta discrepância. Mas na última ambiental dos sacolas como um dos principais problemas quinta-feira (16) fui surpreendido por uma brasileiros é muito ambientais. 76% disseram ter aderido a campesquisa do Ministério do Meio Ambiente panhas de redução do uso de sacolas e 85% afirmando que a consciência ambiental dos vago para aceitarmos estariam dispostos a aderir em cidades que como uma conclusão ainda não fazem campanhas de redução. Não brasileiros quadruplicou em 20 anos. A pesquisa aconteceu pela primeira vez positiva.” sei se os entrevistados realmente aderiram às em 1992 durante a Conferência das Nações campanhas, ao ponto de nem se preocupar Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio 92. tanto com o problema, ou se quiseram apenas, mais uma vez, A quinta edição desta pesquisa retornou, vinte anos depois, dar uma resposta politicamente correta. intitulada “O Que o Brasileiro Pensa do Meio Ambiente e do Não sei se os entrevistados realmente aderiram às cam. Consumo Sustentável”. Entre os dias 15 e 30 de abril foram ouvidas 2.201 pessoas, entre homens e mulheres, acima de Bruno Rezende 16 anos nas cinco regiões do país. Publicitário, ambietalista A meu ver é óbvio que a consciência dos brasileiros – em e articulista do Coluna Zero 10 de maio de 2013 | Via Láctea
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