Somos todos atletas 31 07

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ATREVISTA

A TRIBUNA Ano 12 Ed 609 31jul2016

PARTE INTEGRANTE DO JORNAL A TRIBUNA. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE

50anosde crônicas

VicenteCascionecontasobreoque oteminspiradonascinco décadascomocronistade ATribuna


Sumário AT REVISTA ANO 12 EDIÇÃO 609 31/JUL/2016 Curta nossa fanpage facebook.com/atrevista

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16 O VERÃO DA MEGA POLO

36 ACONCHEGO NO LAR

37 COM O PET NA

BAGAGEM

30 A MALVADA DAS 7

6 10 12 14 16 20 24 26 28 30 33 34 35 36 37 38 40 47 48 49 50

Entrevista Beleza Rota do Sol Rosana Valle Boa Mesa Fernanda Lopes Moda Comportamento Se Liga Educação Estilo De Olho na TV Nota 10 Mundo a Dois Saúde Sua Casa Mundo Pet Mural Pet Programa Legal Playground Quebra-cabeça Variedades Ponto Final Vicente Cascione


Comportamento

POR JOYCE MOYSÉS

#SOMOSTODOSATLETAS Você pode não ter uma tocha olímpica para chamar de sua, mas, com certeza, vai se contagiar com a garra dos competidores para buscar vitórias na vida pessoal e profissional

20 AT REVISTA - 31/JUL/16


FOTO LAZYLLAMA (SHUTTERSTOCK)

Está chegando a hora. A tocha olímpica cumpre a reta final de sua volta por mais de 300 cidades para ser depositada na pira, no Maracanã, na próxima sexta, marcando a abertura da Olimpíada de 2016. Além de vibrarmos por nossos gloriosos atletas, o que podemos aprender com eles para também sermos vencedores na vida, lutarmos por nossos objetivos, não desistirmos? Simone Simon responde a essa questão: “Foco, disciplina e determinação. Se queremos vencer, não podemos arrumar desculpas”. Ela, que é professora e especialista em negociação pela Harvard Law School, com MBA em marketing pela FGV e aprofundamento em cultura e negócios pela CUHK/Hong Kong, lembra que não há dor, falta de tempo ou cansaço que tire esses medalhistas do seu objetivo. “Eles treinam no limite de sua capacidade física. E quando a gente quer vencer, superar algo, precisa se desprender de desculpas como não tenho tempo, não sei como faz, falta dinheiro... Para seguir em frente, apesar das adversidades. Haja força mental!”, avalia a negociadora, que participou de sua primeira meia maratona (21 km) em menos de um ano de foco, disciplina e determinação. “Em 2012, corria um pouquinho, devagar. Trabalhava o dia inteiro, viajava muito por conta de palestras e aulas no MBA. Arranjei tempo quando assumi que queria emagrecer e desopilar o estresse”, comenta. Um objetivo grande pode parecer inalcançável. Ou seja, aqueles 21 quilômetros eram muita coisa, mas, a cada passo,

“Quando a gente quer vencer, precisa se desprender de desculpas. Haja força mental!” SIMONE SIMON, PROFESSORA

a prova foi ficando mais fácil. “E não imaginava que ia me tornar uma maratonista, correndo o dobro disso. No último dia 12 de junho, concretizei esse sonho. O período de treino foi desgastante. Com tantas viagens a trabalho, era difícil conciliar tudo, mas cumpria o planejamento de cada semana sem questionar. Aprendi então que, quando você dá o primeiro passo e tem sucesso, fica querendo um desafio maior”, anima a corredora por hobby. DE META EM META Uma das dicas de Simone para alcançar um grande objetivo na vida é fatiá-lo em pequenas metas e se comprometer a ir realizando uma a uma. “Um passo de cada vez, mas sempre algo consistente”, sugere ela, que vai lançar seu primeiro livro, sobre negociação como forma de relacionamento, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, agora no mês de agosto. “Dificuldades vão existir. Nem tudo se controla, mas você tem que passar por isso. Só não se autolimite ou perderá a chance de realizar muita coisa bacana. Cada pequena vitória mantém em alta sua energia e força de vontade. Com as quedas e tropeços, também se aprende. Passei 2015 praticamente sem correr, porque

torci o pé e rompi os ligamentos do tornozelo. Foi muito ruim ficar este tempo parada, mas voltei com tanta gana, quase para compensar todo o tempo perdido”, relata. DESISTIR? NUNCA! “Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor”. Essa expressão está tatuada no braço esquerdo do tenista suíço Stan Wawrinka e também no WhatsApp do nadador santista Matheus Santana, lapidado como diamante pelo treinador Márcio Latuf para disputar o ouro no revezamento 4 x 100m livre masculino. “A maioria desses atletas já esteve no auge alguma vez e também já caiu. E um diferencial de quem disputa uma Olimpíada é que nunca desiste. A persistência, o foco no objetivo de trazer uma medalha, a determinação de disputar uma final é exercitada dia a dia”, analisa Márcio. Além da soma impressionante de conquistas nas piscinas, outro fator que enriquece ainda mais as vitórias de Matheus é a superação do diabetes, que ele descobriu aos 8 anos, quando sentiu tonturas durante um treino. A doença não é mais problema. Um endocrinologista e outros especialistas da Comissão Técnica Interdisciplinar da Universidade Santa Cecília (Unisanta), em conjunto com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), acompanham a performance e a saúde do nadador. A Unisanta tem cinco atletas classificados para a Olimpíada, sendo que Márcio também treina


Comportamento Ana Marcela Cunha (maratona aquática/ 10 km) e Gabi Roncatto (revezamento 4 x 200m livre feminino). “É mais ou menos como estamos vendo ocorrer no Brasil: num treinamento de 16 semanas, esse atleta tem o começo, que é uma fase muito boa, em que está bem, recém-chegado das férias. De repente, entra num período de três a cinco semanas em que atinge quase o limite do seu cansaço (o que poderia equivaler ao nosso declínio socioeconômico). Depois, faz o trabalho do polimento, que é a hora em que vai alcançar seu desempenho máximo”, compara Márcio Latuf. No ponto em que está indo ao seu limite e que poderia desanimar, o que faz esse atleta seguir em frente e dar ainda mais? “É o objetivo dele. É saber que tem plenas condições de ultrapassar a fase do cansaço – pois não é duradoura, é por um período – e que isso, com certeza, vai colocá-lo muito mais próximo da sua conquista final, do seu sonho”, ensina o técnico, acrescentando a importância de cercar-se de pessoas com ideias e hábitos positivos. No caso do atleta, é perigoso cultivar amigos que bebam, fumem, saiam para baladas, porque facilita fraquejar na preparação. O mesmo podemos dizer de quem tem um desafio grande de estudo, de trabalho, de correr em maratonas... Na vida, não dá para ter tudo. E os atletas fazem a sua escolha: ou balada, ou medalha, por exemplo. É preciso ter uma rotina regrada, excelente alimentação, sono equilibrado e descanso

“Ao desmontar a bomba-relógio do medo, haverá mais calma para responder aos desafios” ROBERTO SHINYASHIKI, PSIQUIATRA

na hora certa. É pesado, e eles precisam estar 100% ligados no que fazem para não traírem o seu objetivo. DISCIPLINA DO BEM Eis um aprendizado essencial a um atleta, mesmo que seja amador, na visão de Fabiano Cunha, ortopedista, médico do esporte e cirurgião de joelho do Hospital Santa Paula, em São Paulo. “Ele tem que treinar para melhorar a performance. Nós também. Ao criarmos uma disciplina para qualquer coisa, inclusive para fazer uma atividade física, o organismo se acostuma. E possuir um corpo ativo e um metabolismo bom vai gerar uma vida longa, com qualidade. Tenho pacientes de 94 e 96 anos que fazem hidroginástica três vezes por semana e parecem ser 30 anos mais jovens, causam inveja”, conta o especialista, incentivando a todos que aproveitem o clima da Olimpíada para mexer o físico e a mente. “Não é só para você emagrecer e se olhar no espelho. Trata-se de algo que melhora o funcionamento de praticamente todos os órgãos, atrai prazer e bem-estar com a famosa liberação de endorfina. Meus clientes me dão feedback de que a autoestima deles

melhorou muito quando passaram a se movimentar”, avisa. Ex-médico da seleção brasileira de basquete feminino (2003-2009), ele reconhece que, quando há um objetivo competitivo de alto nível, esse prazer atinge o nível do dever e pode chegar a ser lesivo. Se for um páreo olímpico, então, sabemos que décimos de segundo podem significar medalha de prata ou de ouro. “O maior nome da história do tênis masculino brasileiro, Gustavo Kuerten, treinava tanto e teve tantas contusões, até que um problema no quadril o afastou das competições de vez. Isso, obviamente, está relacionado à prática intensa. É um risco enfrentado por quem sonha com uma medalha olímpica, pois participa de disputas o ano todo”, pondera o médico. Nesse universo esportivo, a competitividade é gigante, e o atleta encara tudo se quiser ser um vencedor. Em outras profissões, há riscos também. A pergunta é: quais cada um topa correr? Depois da disciplina, Fabiano destaca outros dois aprendizados que podemos ter com os atletas: regularidade e intensidade. “Pratique uma atividade física dentro das suas possibilidades, mostrando ao seu corpo que isso faz parte da sua vida, que não é esporádico. Agora, não adianta ir uma vez por semana à academia e querer fazer um treino longo, exaustivo, para compensar a ausência nos outros dias. O corpo interpreta esse excesso como uma agressão, e surgem as dores”, alerta o ortopedista, lembrando de muitos clientes que lamentam “Poxa,


“Não estipulo coisas fáceis porque, assim, consigo me motivar a batalhar cada vez mais todos os dias”

aos 30 anos, eu encarava uma maratona. Aos 40, corro apenas 10 quilômetros”. O especialista esclarece que há um envelhecimento natural do corpo, e ele deve ser respeitado. Nos atletas olímpicos, esse desgaste é precoce.

MATHEUS SANTANA, NADADOR

IH, AMARELOU NA DECISÃO! Há de se aprender a lidar com fracassos também. Roberto Shinyashiki, psiquiatra, escritor e doutor em administração e economia, gravou um vídeo recentemente alertando que vamos ver gente amarelando na Olimpíada no Brasil e tentando negar isso dando outra justificativa. “É só atleta que amarela? Não, você também”, afirma, exemplificando que provavelmente algo assim acontece quando a gente diz que se apaixona por alguém que acha que é muita areia para o nosso caminhão ou quando tenta fazer as pazes com o pai marrento. “Só espero que você não seja daquelas pessoas que atiram pedra em atletas que amarelam...

Eu já trabalhei com medalhistas olímpicos e vi alguns amarelando, porque tiveram insônia, sintomas gastrointestinais ou tremedeira. O que é isso? São os sistemas simpático e parassimpático desregulados. Aí, vem aquela palidez que faz a gente dizer que fulano amarelou”, explica Roberto, acrescentando que esse seres humanos estão com a perspectiva de serem ovacionados ou destruídos em público e que o titubeio começa com a pergunta “E se?”. Uma forma de cortar da mente esse questionamento é não negar que está sentindo medo. “Assuma, desabafe com alguém de confiança, e ele tende a

esvaziar. Ao desmontar essa bomba-relógio, haverá mais calma para responder aos desafios que surgirem ao longo do caminho”, orienta o expert. Márcio Latuf complementa que existe o atleta que rende à beça na preparação, mas na hora H não consegue ter o melhor desempenho. E tem o outro que, às vezes, nem treina tanto quanto poderia e se supera, ganhando medalhas. Ele cai na piscina ou entra na quadra com o ego no patamar máximo, a garra explodindo. Sua cabeça é capaz de aguentar qualquer pressão que der as caras. Claro, o atleta ideal reúne os dois perfis: treina bem e compete bem. Esse tem tudo para vencer no esporte e na vida. Nas palavras de um esportista assim... “Estabeleço onde quero chegar e vou atrás. Não estipulo coisas fáceis, porque, desse modo, consigo me motivar a batalhar cada vez mais todos os dias”, resume Matheus Santana, para orgulho dos santistas e de todos os brasileiros. ●


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