O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ
D4 CULTURA
Quinta-feira, 05 de maio de 2016
Os grandes massacres de gatos
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Bolsonaro enche o peito para elogiar o torturador Ustra como exemplo de patriota, justamente porque os crimes ocorridos durante a ditadura de 1964 ficaram impunes e justificam a reiterada característica violenta deste País
historiador Robert Darnton publicou um clássico da história partindo de um fato pesquisado, em que, a partir de cartas e panfletos, chegou aos meandros do funcionamento da sociedade francesa de 1700. Esse livro é “O grande massacre de gatos”, em que analisa sua matança como um hábito cultural da época. Daí a “naturalidade” de um dos relatos: “Durante a Reforma... uma multidão protestante raspou os pelos de um gato de modo a fazê-lo parecer-se com um padre, vestiu-o com uma batina em miniatura e enforcou-o no patíbulo...” Ensacar, atear fogo, matar e torturar gatos era normal, a ponto de fazerem parte do cotidiano expressões como “fazer o gato” ou “Katzenmusik”, “música de gato”, também “executada” na Alemanha. Já nem se pode dizer estarrecedora uma tal coisa quando um calhorda como o Bolsonaro enche o peito para elogiar o torturador Ustra como exemplo de patriota, justamente porque os crimes ocorridos durante a ditadura de 1964 ficaram impunes e justificam a reiterada característica violenta deste País. O Estado de S. Paulo, que primordialmente financia o golpe de Estado destituindo a presidente por motivos espúrios com a mão de imensa maioria de corruptos que pedalaram como ela, é um dos mais violentos do Brasil. O grande massacre que
foi o dos 111 do Carandiru restou impune e a polícia do atual governador vem agindo de forma violenta reiteradamente. É preciso que se repita isso porque o Estado é palco de inúmeras manifestações de protestos em que, a cada uma, esse governador parece ensaiar gestos de novos cadáveres para a sanha de sangue da massa ignorante e conservadora. Por isso é pertinente que se reproduza a seguir um balanço de um desses massacres não esclarecidos, sob direção desse governador. O texto é de Bárbara Souza e Josmar Jozino, publicado no jornal O Estado de S. Paulo de 27/6/2009, esse mesmo que hoje publica manchete noticiando investigação sobre Dilma e foto em que a face dela se funde com a chama da tocha olímpica, sugerindo a habitual conclamação à queima de bruxas disseminada pela Inquisição local. Foram 505 civis mortos em dez dias e não há um responsável por isso, completando-se dez anos neste domingo de Dia das Mães. Leia: “Dos 564 mortos por arma de fogo no Estado de São Paulo entre 12 e 21 de maio de 2006, quando o Primeiro Comando da Capital atacou as forças de segurança, 59 eram agentes públicos. Os outros 505 eram civis. Os números fazem parte do relatório final da pesquisa Análise dos Impactos dos Ataques do PCC. O trabalho foi realizado pelo Laboratório de Análise da Violência da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro e coordenados pelo sociólogo Ignácio Cano. Segundo a pesquisa, dos 505 civis mortos, 118 foram assassinados em confronto com a polícia, 50 foram vítimas de execução sumária individual, 35 de execução sumária por grupo não encapuzado, 53 por grupo encapuzado, quatro foram executados sumariamente por policiais, 10 morreram em ataques a delegacias, 6 em conflitos interindividual, dois em acidente ou bala perdida, 21 por outros motivos e 206 por desconhecidos. O dia mais crítico foi 14 de maio (domingo, Dia das Mães), quando 107 morreram. No dia 15 foram mortos 84 civis, no dia 16, outros 75, e no dia 17, mais 65. A maioria dos agentes públicos morreu nos três primeiros dias de ataque, sendo 10 em 12 de maio, 23 no dia 13 e 8 no dia 14. De acordo com Cano, um dado revelador é que, enquanto os agentes públicos foram mortos nos dias 12 e 13, os civis foram assassinados, fundamentalmente, entre os dias 14 e 17. “Esse quadro reforça a suspeita de que houve uma represália às ações do PCC, uma vez que a maior parte dos civis morreu nos dias seguintes”, afirmou. Nos dois primeiros dias dos ataques, a proporção entre o número de agentes públicos mortos e o de civis foi semelhante. A partir do dia 14, para cada agente morto havia 10 civis mortos. No dia 17, a proporção chegou à casa dos 20 mortos.
CINEMA
MÚSICA
Psiquiatria e juventude
Coletivo 3 Marias toca no Luzamor
O Estreia hoje “Nise - O Coração da Loucura”, inspirada em história real de psiquiatra O Também chega às telonas “A Juventude”, um afresco sobre o tempo que se esvai
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Elton Telles Especial para O Diário
O cinema nacional se faz presente entre as estreias desta quinta-feira. Após um hiato longe das telonas, Glória Pires retorna ao cinema no papel da revolucionária médica brasileira Nise da Silveira na cinebiografia “Nise – O Coração da Loucura”. A atriz interpreta a corajosa psiquiatra que propôs, em meados dos anos 1940, uma nova forma de tratamento aos seus pacientes, eliminando o eletrochoque e
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VEJA TAMBÉM
TRUMAN Estreia hoje também “Truman”, comédia espanhola com Ricardo Darín e que relata a trama de dois amigos de infância
a lobotomia, e acabou sendo isolada em sua profissão. Na trama, ela assume o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde começa a fazer diferença, dando início a novas técnicas psiquiátricas, baseadas no afeto e na expressão artística. Aluna de Carl Jung, Nise era menosprezada pela classe médica por se recusar a seguir os métodos adotados nas enfermarias, considerados violentos por ela. Ao ser transferida, entrou para a história por aplicar em seus pacientes a chamada terapia ocupacional, substituindo as tarefas tradicionais de manutenção e limpeza por pintura, modelagem, convívio com animais domésticos e atividades que estimulam a criatividade. Dirigido por Roberto Berliner, “Nise – O Coração da Loucura” faturou o prêmio de Melhor Filme no Festival do Rio pelo voto popular, Melhor Atriz no Festival Internacional de Tóquio, no Japão, e foi exibido no
Festival de Cinema de Punta del Este, no Uruguai.
Comédia cult Entrando em cartaz pelo Projeto Belas Artes, do Cineflix Cinemas, a comédia dramática italiana “A Juventude” reúne um grupo admirável de atores veteranos da tarimba de Michael Caine, Harvey Keitel e Jane Fonda. Indicado ao Oscar e um dos destaques da última edição do Festival de Cannes, “A Juventude” é dirigido por Paolo Sorrentino, que já declarou ter no cineasta Federico Fellini uma de suas principais referências para a composição de seus trabalhos. A inspiração felliniana em seu filme anterior, “A Grande Beleza” (2013), é tão evidente quanto em “A Juventude”, cuja história é focada em dois velhos amigos com quase 80 anos de idade que estão passando as férias em um luxuoso hotel. Fred é um compositor e maestro aposentado e Mick é um cineasta
EXCÊNTRICO Charles Cosac, presidente da extinta editora Cosac Naify, é um excêntrico.
DARIA FILME A história de vida dele daria um ótimo filme do Wes Anderson, que curte e explora bem personagens excêntricos em seus filmes. NA PIAUÍ Um bom
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Ana Luiza Verzola Especial para O Diário
É atração hoje, no Auditório Luzamor, pelo Convite à Música, o Coletivo 3 Marias, de Paranavaí, que apresenta o show “Samba, Rock e Outras Delícias” a partir das 20h30. A entrada é franca. Inspirados principalmente pelo tropicalismo, a apresentação homenageia grandes nomes do movimento. “Nosso repertório conta com releituras dessas grandes referências, além de apresentarmos ao público também o nosso som autoral”, pontua o baterista Ygor Requena. O público poderá conferir interpretações de músicas de Gal Costa, Elis Regina, Secos e MolhaA LA FELLINI. Cena da comédia “A Juventude”: filme do italiano Paolo dos, Mutantes, Novos Baianos, Sorrentino em cartaz pelo projeto Belas Artes. —FOTO: DIVULGAÇÃO Oswaldo Montenegro, Jorge Ben Jor, Elza Soares, e as mais recentes Maria Rita e Vanessa da Mata. em atividade. Juntos, os dois re- dupla de surpresa. O Coletivo 3 Marias é formacordam de suas paixões da inCom belas tomadas de paisa- do por Thamiris Parra (vocal), fância e juventude. Enquanto gens embaladas pela fotografia Nubia Rafaela (vocal), Bruno Aleum luta para finalizar o roteiro radiante assinada por Luca Bi- cio (guitarra), Ernandes Ferreidaquele que ele acha que será o gazzi – parceiro de longa data do ra (teclado), Gustavo Narduci seu canto do cisne, o outro não diretor –, o filme foi gravado du- (contrabaixo), Gustavo Figueiretem a mínima vontade de voltar rante o verão dos Alpes Suíços e do (flauta, bandolim) e Ygor Reà música. Durante o passeio, al- ainda conta no elenco com os ato- quena (bateria). Esta é a segunda gumas mudanças vão pegar a res Paul Dano e Rachel Weisz. vezqueogruposeapresentaaqui.
perfil de Charles Cosac foi escrito pela jornalista Adriana Abujamra na piauí de abril. Assinante pode ler no site revistapiaui.estadao.com.br. Quem quiser, empresto a revista.
DEIXA SAUDADE Ao ler o perfil, ficam dois sentimentos: um dó pelo fim da Cosac Naify e a sensação de que devia ser instigante trabalhar na editora pela qual foram feitos os melhores exemplares de livros. EFEITO AMAZON Por falar em livros e editoras, os livreiros do País estão perdendo os cabelos com a capacidade que o site da Amazon tem em oferecer títulos extremamente baratos.
PREÇO FIXO Por conta disto, as principais livrarias físicas do País pensam em estipular - mesmo sem aprovação na Câmara - a lei do preço fixo. NA FRANÇA É ASSIM Na França, essa lei que determina os preços dos lançamentos padroniza os demais descontos e coloca as pequenas lojas na mesma condição das grandes redes. Alguns opinam dizendo que, assim, a concorrência fica mais leal. CONSIGNADO Do lado oposto, há uma eterna dificuldade envolvendo o sistema de consignação recomendado pelas principais livrarias quando estas aceitam vender os livros produzidos pelas editoras.
DIFÍCIL Voltando a falar de Charles Cosac, o próprio quando do fechamento da Cosac Naify - criticou o sistema de consignação. Disse que é inviável para as editoras esperarem os prazos cada vez maiores das livrarias para pagarem pelos livros vendidos.
LANÇAMENTO O coach Ricardo Melo, fundador do Instituto Ricardo Melo (IRM), lançará, na próxima terça, às
19h30, no Moinho Vermelho, o seu oitavo livro: “As leis invisíveis do dinheiro” (Editora Gente, 192 pág., R$ 29,90).
COM POUCA GRANA A publicação retrata o método do coaching financeiro de criação de riquezas, criado pelo autor, além de revelar como é possível crescer financeiramente e construir patrimônios mesmo com pouco dinheiro, enquanto melhora o desenvolvimento pessoal.