Vida | 3
DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - DOMINGO, 31 DE JANEIRO DE 2016
Pesquisa DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Recusa familiar é de 41% no País Apesar dos avanços, os números de transplantes de órgãos continuam abaixo do estimado pela ABTO
Campanhas trazem respostas imediatas
CRISTINA PIONER Redatora
Uma corrida contra o tempo e também contra a falta de informação. Essa é a realidade das pessoas que aguardam a doação de um órgão vital à saúde e à própria vida. No Brasil, dos 37.762 pacientes na fila de espera registrados no período de janeiro a setembro de 2015, apenas 5.891 tiveram a oportunidade de serem transplantados. “Hoje, o maior problema está na alta taxa de recusa familiar, que soma 41% no Brasil. Para mudar este quadro, precisamos melhorar na infraestrutura e na comunicação com a sociedade”, explica Dr. Lima, coordenador da Comissão de Remoção de Tecidos e Órgãos da Associação BrasileiradeTransplantesdeÓrgãos(ABTO),etambémidealizador do projeto Setembro Verde. Outro dado importante, segundo o médico cirurgião de transplantes,éobaixoaproveitamento dos potenciais doadores. Nestemesmoperíodo,porexemplo, dos 7.269 potenciais doadores, apenas 2.121 efetivaram a doação.Onúmeroaindaémuito pequeno, principalmente se for comparado a países como Estados Unidos e Espanha. “Este é um ponto a ser melhorado, porém, depende de investimentos na infraestrutura, o que reduziria também a subnotificação de potenciais doadores”, completa.
Realidades distintas O Estado de São Paulo, atualmente,éoquemaisrealizatransplantes no País, com 60% do total dos procedimentos. Só de coração, até setembro de 2015, foram 109 procedimentos, sendo que em todo o País registrou-se 264 transplantes, divididos em 30 centros especializados em 10 estados. Segundo a ABTO, na fila de espera por um coração ainda constam 251 pessoas em todo o Brasil. Depois do estado de São Paulo,Dr.LimadestacaSantaCatarina, que vem apresentando maior crescimento com relação
CORAÇÃO
264
transplantes de coração foram realizados de janeiro a setembro de 2015 no Brasil. Deste total, 109 aconteceram em São Paulo, Estado referência
às taxas de potenciais doadores e também de doadores efetivos. No Ceará, o último registro ABTO, de janeiro a setembro de 2015, mostra 1.159 pacientes na fila de espera por um transplante. Deste total, 591 aguardam córnea, 415 rim, 7 pulmão, 4 pâncreas/rim e 134 fígado. Quem mais doa no Estado são homens, sendo a maioria entre 18 a 34 anos, com tipo sanguíneo O, que faleceram de AVC. Ainda no mesmo período, apenas 84 doaram no estado, divididos em 57 homens e 27 mulheres. De acordo com Dr. Lima, a
partir de um doador, podem ser aproveitados em torno de 2 a 5 órgãos, mas isto varia bastante. Do ponto de vista operatório, ele considera o transplante de fígadoomaisdifícil.Mas,doponto de vista de logística, é o coração, por se tratar de um órgão que aguenta menos tempo fora do organismo em isquemia. “Idealmente, o coração deve ser transplantado em até seis horas, levando-seemconsideraçãodesde o momento em que é retirado do doador até que ele volte a bater no receptor”.
Prazo Nocasodofígado,oprocedimento pode ocorrer em até 18 horas, podendo inclusive fazer a captação e só no dia seguinte realizar o transplante. Quanto à taxa de rejeição, o médico explica que podeocorrerindependentemente de órgão e de paciente, entretanto, os mais frequentes são os transplantadosderim,porcaracterísticas imunológicas. Dr. Lima complementa: “o transplantederim,queétecnicamente o mais fácil de todos do ponto de vista operatório, tem
SAIBA MAIS TRANSPLANTE éumprocedimento cirúrgicoqueconsiste nareposição deumórgão(coração,pulmão, rim, pâncreas,fígado)ou tecido (medula óssea,ossos, córneas)deuma pessoa doente(receptor),cedido porum doadorvivo,ou morto(o mais comum); UM ÚNICO doadortemachancede salvarou melhorara qualidadede vidadepelomenos 25pessoas. Entretanto,uma média de2a 5 órgãossão aproveitados; MORTEENCEFÁLICAé aparada definitivaeirreversíveldo encéfalo (cérebroetronco cerebral), provocandoem poucosminutos a falênciadetodo oorganismo.É a mortepropriamente dita. TODOS SÃOdoadores, desde quea famíliaautorizeaequipe médica apósanotificaçãodemorte encefálica.Portanto,é recomendável comunicaraosfamiliares, emvida, o desejodeserdoador
altos índices de rejeição no pósoperatório”. Antes de qualquer procedimento, a equipe médica precisa conversar com a família do potencial doador. A solicitação dos órgãos só acontece após a notificaçãodamorteencefálica. Nesta hora, são necessários agilidade e habilidade.
Referência mundial Essas equipes são multidisciplinares e, segundo o Dr. Lima, estão preparadas, pois passam por treinamentos frequentes e são atualizadasexaustivamente,servindo inclusive de referência mundial. “O que precisamos, no entanto, é aumentar o número de profissionais nestas equipes e melhorar as condições de trabalho”, finaliza. Vale destacar que o sistema de doação de órgãos é o mesmo para todos, independentemente se o paciente é de classe social alta ou baixa. Conforme os números da ABTO, cerca de 95% das cirurgias de transplantes acontecem em hospitais da rede públicadoSistemaÚnicodeSaúde (SUS).
Falarmaissobreoassunto,debater em escolas, fazer palestras e explicar para a população o quanto a doação é benéfica. É com base nisto que o cirurgião de transplantes, Dr. Lima, criou em São Paulo o projeto Setembro Verde, no qual pontua as dificuldades e tudo o que pode ser feito para melhorar a situação dos transplantes no Brasil. O projeto tem propósito de atuar sobre todo o sistema de doação de órgãos e transplantes no País. Outra meta do SetembroVerdeécriarcampanhascontínuas, buscar direitos tributários, fiscais e previdenciários para os pacientes na fila de espera e para os transplantados. “Nós nos baseamos no Outubro Rosa, que mudou a história do câncer de mama no mundo. Queremos esclarecer toda a sociedadedotamanhodestanecessidade da saúde pública, da péssimaqualidadeebaixaexpectativa de vida do paciente na fila de órgãos”, explica Dr. Lima. Criado em 2012, o projeto ganhou proporção nacional em 2015, quando importantes monumentos foram iluminados de verde em 20 estados.
Doe de Coração No Ceará, a campanha Doe de Coração, realizada pela Fundação Edson Queiroz desde 2003, é reconhecida pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e vem contribuindo pela doação voluntária. Os resultados já podem ser conferidos, pois no primeiro trimestre de 2014, o Ceará ficou em 1º lugar em transplante de fígado do País, tornando-se referência. Tradicionalmente realizada no mês de setembro, a Doe de Coração busca sensibilizar a sociedade através dos meios de comunicação. Seu objetivo é atingir diversos segmentos da sociedade, em especial a rede de saúde pública e privada, além de grandes agentes, com a utilização de anúncios, inserções em TV e distribuição de camisetas.
CÂNCER NO BRASIL
Inca estima quase 600 mil novos casos Está estimado em 596.070 o número de casos de câncer em 2016 no Brasil. O cálculo é do Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). Maior expectativa de vida, urbanização e hábitos alimentares do mundo globalizado são alguns dos fatoresa influenciar a estimativa. O combate à doença serárefletidonapróximaquintafeira, 2 de fevereiro, Dia Mundial do Câncer. A prevenção ainda é a melhor possibilidade de cura. De acordo com o Inca, os números estimados estão associados principalmenteaoenvelhecimentodapopulação. Nesse tempo de vida, incluem-se fatores de risco como tabagismo, obesidade, sedentarismo, consumo de carnes processadas como linguiça e salsicha e alto consumo de álcool também contribuem para o aumento das chances de desenvolver a doença. Ocâncer éa segunda causa de mortes no Brasil, perdendo apenasparaasdoençascardiovasculares. Em ambos os sexos, o tipo mais incidente será o de pele não melanoma, com mais de 175 mil
INCIDÊNCIA
175
mil novos casos de câncer de pele não melanoma devem ocorrer no Brasil em 2016, seguido de mama (57.960), cólon e reto (34.280) e colo do útero (16.340)
novos casos. Depois desse, os mais incidentes entre as mulheres serão os cânceres de mama (57.960), cólon e reto (17.620), colo do útero (16.340) e pulmão (10.860). Já entre os homens, as maiores incidências ficam entre os de próstata (61.200), pulmão (17.330), cólon e reto (16.660), estômago (12.920) e cavidade oral (11.140).
Cigarro Destaque ainda para o tabagismo, que está relacionado a vários tipos de câncer (pulmão, cavidade oral, laringe, esôfago, es-
tômago, bexiga, colo do útero e leucemias). As chances de um fumante ter câncer de pulmão são 20 vezes maiores que um não fumante, e ele ainda tem 10 vezes mais chances de desenvolver câncer de laringe do que um não fumante. “Essas estimativas nos auxiliam no planejamento e no desenvolvimento de ações que podem controlar a doença. Quando se trata de câncer, a prevenção aliada ao diagnóstico precoce é essencial. É necessário que a população esteja ciente da importância de se adotar hábitos saudáveisdesdecedo.Criaruma rotina que contribua para a manutenção da qualidade de vida”, destaca Tobias Engel, oncologistadoCentroIntegrado eOncologia e Pesquisa(Ciop). A porcentagem de cura vem aumentando. Mais da metade dos tipos de câncer já são curáveis.Amelhormaneiraparavencer é prevenir. “Hábitos saudáveis e o diagnóstico precoce aumentamapossibilidadedelivrarse da doença”, afirma o médico oncologista Amândio Soares, da Oncomed BH, em Minas Gerais. 363768578