Exortação Apostólica Evangelii Gaudium - A alegria do evangelho

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CAPĂ?TULO IX

ESPIRITUALIDADE CONJUGAL E FAMILIAR 313. O amor assume matizes diferentes, segundo o estado de vida a que cada um foi chamado. 9iULDV GpFDGDV DWUiV R &RQFtOLR 9DWLFDQR ,, D propĂłsito do apostolado dos leigos, punha em realce a espiritualidade que brota da vida familiar. Dizia que a espiritualidade dos leigos ÂŤ deverĂĄ assumir caracterĂ­sticas especiais Âť prĂłprias, nomeadamente a partir do ÂŤ estado do matrimĂłnio e da famĂ­lia Âť,367 e que os cuidados familiares nĂŁo devem ser alheios ao seu estilo de vida espiritual.368 Por isso, vale a pena deter-nos brevemente a descrever algumas caracterĂ­sticas fundamentais desWD HVSLULWXDOLGDGH HVSHFtĂ€FD TXH VH GHVHQUROD QR dinamismo das relaçþes da vida familiar. ESPIRITUALIDADE DA COMUNHĂƒO SOBRENATURAL

314. Sempre falamos da inabitação de Deus no coração da pessoa que vive na sua graça. Hoje podemos dizer tambÊm que a Trindade estå presente no templo da comunhão matrimonial. As367

sitatem, 4. 368

Decr. sobre o apostolado dos leigos Apostolicam actuoCf. ibidem.

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sim como habita nos louvores do seu povo (cf. Sl 22/21, 4), assim tambĂŠm vive intimamente no amor conjugal que Lhe dĂĄ glĂłria. 315. A presença do Senhor habita na famĂ­lia real e concreta, com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propĂłsitos diĂĄrios. Quando VH YLYH HP IDPtOLD p GLItFLO Ă€QJLU H PHQWLU QmR podemos mostrar uma mĂĄscara. Se o amor anima esta autenticidade, o Senhor reina nela com a sua alegria e a sua paz. A espiritualidade do amor familiar ĂŠ feita de milhares de gestos reais e concretos. Deus tem a sua prĂłpria habitação nesta variedade de dons e encontros que fazem maturar a comunhĂŁo. Esta dedicação une ÂŤ o humano e o divino Âť,369 porque estĂĄ cheia do amor de Deus. Em suma, a espiritualidade matrimonial ĂŠ uma espiritualidade do vĂ­nculo habitado pelo amor divino. 316. A comunhĂŁo familiar bem vivida ĂŠ um YHUGDGHLUR FDPLQKR GH VDQWLĂ€FDomR QD YLGD RUdinĂĄria e de crescimento mĂ­stico, um meio para a uniĂŁo Ă­ntima com Deus. Com efeito, as exigĂŞncias fraternas e comunitĂĄrias da vida em famĂ­lia sĂŁo uma ocasiĂŁo para abrir cada vez mais o coração, e isto torna possĂ­vel um encontro sempre mais pleno com o Senhor. LĂŞ-se, na Palavra de Deus, que ÂŤ quem tem Ăłdio ao seu irmĂŁo estĂĄ nas trevas Âť (1 Jo 2, 11), ÂŤ permanece na morte Âť (1 Jo CONC. ECUM. VAT. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 49. 369

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3, 14) e ÂŤ nĂŁo chegou a conhecer a Deus Âť (1 Jo 4, 2 PHX DQWHFHVVRU %HQWR ;9, GLVVH TXH Š R fechar os olhos diante do prĂłximo torna cegos tambĂŠm diante de Deus Âť370 e que, fundamentalmente, o amor ĂŠ a Ăşnica luz que ÂŤ ilumina incesVDQWHPHQWH XP PXQGR jV HVFXUDV ÂŞ 371 Somente ÂŤ se nos amarmos uns aos outros, Deus permaQHFH HP QyV H R VHX DPRU FKHJRX j SHUIHLomR HP nĂłs Âť (1 Jo 4, 12). Dado que ÂŤ a pessoa humana tem uma inata e estrutural dimensĂŁo social Âť372 e ÂŤ a primeira e originĂĄria expressĂŁo da dimensĂŁo social da pessoa ĂŠ o casal e a famĂ­lia Âť,373 a espiritualidade encarna-se na comunhĂŁo familiar. Por isso, aqueles que tĂŞm desejos espirituais profundos nĂŁo devem sentir que a famĂ­lia os afasta do crescimento na vida do EspĂ­rito, mas ĂŠ um perFXUVR GH TXH R 6HQKRU 6H VHUYH SDUD RV OHYDU jV alturas da uniĂŁo mĂ­stica. UNIDOS EM ORAĂ‡ĂƒO Ă€ LUZ DA PĂ SCOA

317. Se a famĂ­lia consegue concentrar-se em &ULVWR (OH XQLĂ€FD H LOXPLQD WRGD D YLGD IDPLOLDU Os sofrimentos e os problemas sĂŁo vividos em comunhĂŁo com a Cruz do Senhor e, abraçados a Ele, pode-se suportar os piores momentos. Nos dias amargos da famĂ­lia, hĂĄ uma uniĂŁo com Jesus Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 16: AAS 98 (2006), 230. 371 Ibid., 39: o. c., 250. 372 JOĂƒO PAULO II, Exort. ap. pĂłs-sinodal &KULVWLĂ€GHOHV ODLFL (30 de Dezembro de 1988), 40: AAS 81 (1989), 468. 373 Ibidem. 370

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abandonado, que pode evitar uma ruptura. As famĂ­lias alcançam pouco a pouco, ÂŤ com a graça do EspĂ­rito Santo, a sua santidade atravĂŠs da vida matrimonial, participando tambĂŠm no mistĂŠrio GD FUX] GH &ULVWR TXH WUDQVIRUPD DV GLĂ€FXOGDdes e os sofrimentos em oferta de amor Âť.374 Por outro lado, os momentos de alegria, o descanso ou a festa, e mesmo a sexualidade sĂŁo sentidos como uma participação na vida plena da sua Ressurreição. Os cĂ´njuges moldam, com vĂĄrios gestos quotidianos, este ÂŤ espaço teologal, onde se pode experimentar a presença mĂ­stica do Senhor ressuscitado Âť.375 318. A oração em famĂ­lia ĂŠ um meio privilegiado para exprimir e reforçar esta fĂŠ pascal.376 Podem-se encontrar alguns minutos cada dia para estar unidos na presença do Senhor vivo, dizer-Lhe as coisas que os preocupam, rezar pelas necessidades familiares, orar por alguĂŠm que estĂĄ a atravessar um momento difĂ­cil, pedir-Lhe ajuda para amar, dar-Lhe graças pela vida e as FRLVDV ERDV VXSOLFDU j 9LUJHP TXH RV SURWHMD com o seu manto de MĂŁe. Com palavras simples, HVWH PRPHQWR GH RUDomR SRGH ID]HU PXLWR EHP j famĂ­lia. As vĂĄrias expressĂľes da piedade popular sĂŁo um tesouro de espiritualidade para muitas famĂ­lias. O caminho comunitĂĄrio de oração atinge Relatio Finalis 2015, 87. JOĂƒO PAULO II, Exort. ap. pĂłs-sinodal Vita consecrata (25 de Marco de 1996), 42: AAS 88 (1996), 416. 376 Cf. Relatio Finalis 2015, 87. 374 375

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o seu ponto culminante ao participarem juntos na Eucaristia, sobretudo no contexto do descanVR GRPLQLFDO -HVXV EDWH j SRUWD GD IDPtOLD SDUD partilhar com ela a Ceia Eucarística (cf. Ap 3, 20). Aqui, os esposos podem voltar incessantemente D VHODU D DOLDQoD SDVFDO TXH RV XQLX H UHà HFWH D Aliança que Deus selou com a humanidade na Cruz.377 A Eucaristia Ê o sacramento da Nova Aliança, em que se actualiza a acção redentora de Cristo (cf. Lc 22, 20). Constatamos, assim, os laços íntimos que existem entre a vida conjugal e a Eucaristia.378 O alimento da Eucaristia Ê força e estímulo para viver cada dia a aliança matrimonial como  igreja domÊstica .379 ESPIRITUALIDADE DO AMOR EXCLUSIVO E LIBERTADOR

319. No matrimĂłnio, vive-se tambĂŠm o sentido de pertencer completamente a uma Ăşnica pesVRD 2V HVSRVRV DVVXPHP R GHVDĂ€R H R DQVHLR GH HQYHOKHFHU H JDVWDU VH MXQWRV H DVVLP UHĂ HFWHP D Ă€GHOLGDGH GH 'HXV (VWD Ă€UPH GHFLVmR TXH PDUca um estilo de vida, ĂŠ uma ÂŤ exigĂŞncia interior do pacto de amor conjugal Âť,380 porque, ÂŤ quem nĂŁo Cf. JOĂƒO PAULO II, Exort. ap. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 57: AAS 74 (1982), 150. 378 NĂŁo esqueçamos que a Aliança de Deus com o seu povo se exprime como um desposĂłrio (cf. Ez 16, 8.60; Is 62, 5; Os 2, 21-22), e a nova Aliança ĂŠ apresentada tambĂŠm como um matrimĂłnio (cf. Ap 19, 7; 21, 2; Ef 5, 25). 379 CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 11. 380 JOĂƒO PAULO II, Exort. ap. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 11: AAS 74 (1982), 93. 377

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se decide a amar para sempre, ĂŠ difĂ­cil que possa amar deveras um sĂł dia Âť.381 Mas isto nĂŁo teria VLJQLĂ€FDGR HVSLULWXDO VH IRVVH DSHQDV XPD OHL YLvida com resignação. É uma pertença do coração, lĂĄ onde sĂł Deus vĂŞ (cf. Mt 5, 28). Cada manhĂŁ, quando se levanta, o cĂ´njuge renova diante de 'HXV HVWD GHFLVmR GH Ă€GHOLGDGH VXFHGD R TXH VXceder ao longo do dia. E cada um, quando vai dormir, espera levantar-se para continuar esta DYHQWXUD FRQĂ€DQGR QD DMXGD GR 6HQKRU $VVLP cada cĂ´njuge ĂŠ para o outro sinal e instrumento da proximidade do Senhor, que nĂŁo nos deixa so]LQKRV Š (X HVWDUHL VHPSUH FRQYRVFR DWp DR Ă€P dos tempos Âť (Mt 28, 20). 320. HĂĄ um ponto em que o amor do casal alcança a mĂĄxima libertação e se torna um espaço de sĂŁ autonomia: quando cada um descobre que o outro nĂŁo ĂŠ seu, mas tem um proprietĂĄrio muito mais importante, o seu Ăşnico Senhor. NinguĂŠm pode pretender possuir a intimidade mais pessoal e secreta da pessoa amada, e sĂł Ele pode ocupar o centro da sua vida. Ao mesmo tempo, o princĂ­pio do realismo espiritual faz com que o cĂ´njuge nĂŁo pretenda que o outro satisfaça completamente as suas exigĂŞncias. É preciso que o caminho espiritual de cada um – como justamente indicava Dietrich Bonhoeffer – o ajude a ÂŤ deIDEM, Homilia na Eucaristia celebrada para as famĂ­lias, em CĂłrdova/Argentina (8 de Abril de 1987), 4: Insegnamenti 10/1 (1987), 1161-1162; L´Osservatore Romano (ed. semanal portugueVD GH 9 381

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siludir-se Âť do outro,382 a deixar de esperar dessa pessoa aquilo que ĂŠ prĂłprio apenas do amor de Deus. Isto exige um despojamento interior. O espaço exclusivo, que cada um dos cĂ´njuges reserva para a sua relação pessoal com Deus, nĂŁo sĂł permite curar as feridas da convivĂŞncia, mas possibilita tambĂŠm encontrar no amor de Deus o sentido da prĂłpria existĂŞncia. Temos necessidade de invocar cada dia a acção do EspĂ­rito, para que esta liberdade interior seja possĂ­vel. ESPIRITUALIDADE DA SOLICITUDE, DA CONSOLAĂ‡ĂƒO E DO ESTĂ?MULO

321. ÂŤ Os esposos cristĂŁos sĂŁo cooperadores da graça e testemunhas da fĂŠ um para com o outro, SDUD FRP RV Ă€OKRV H GHPDLV IDPLOLDUHV ÂŞ 383 Deus convida-os a gerar e a cuidar. Por isso mesmo, a famĂ­lia ÂŤ foi desde sempre o “hospitalâ€? mais prĂłximo Âť.384 Prestemo-nos cuidados, apoiemo-nos e estimulemo-nos mutuamente, e vivamos tudo isto como parte da nossa espiritualidade familiar. A vida em casal ĂŠ uma participação na obra fecunda de Deus, e cada um ĂŠ para o outro uma permanente provocação do EspĂ­rito. O amor de Deus exprime-se ÂŤ atravĂŠs das palavras vivas e concretas com que o homem e a mulher se deCf. Gemeinsames Leben (Munique 1973), 18. CONC. ECUM. VAT. II, Decr. sobre o apostolado dos leigos Apostolicam actuositatem, 11. 384 FRANCISCO, Catequese (10 de Junho de 2015): L’Osservatore Romano HG VHPDQDO SRUWXJXHVD GH 9, 382 383

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claram o seu amor conjugal Âť.385 Assim, os dois VmR HQWUH VL UHĂ H[RV GR DPRU GLYLQR TXH FRQforta com a palavra, o olhar, a ajuda, a carĂ­cia, o abraço. Por isso, ÂŤ querer formar uma famĂ­lia ĂŠ ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com Ele, a coragem de unir-se a Ele nesta histĂłria de construir um mundo onde ninguĂŠm se sinta sĂł Âť.386 322. Toda a vida da famĂ­lia ĂŠ um ÂŤ pastoreio Âť misericordioso. Cada um, cuidadosamente, desenha e escreve na vida do outro: ÂŤ A nossa carta sois vĂłs, uma carta escrita nos nossos coraçþes (...) nĂŁo com tinta, mas com o EspĂ­rito do Deus vivo Âť (2 Cor 3, 2-3). Cada um ĂŠ um ÂŤ pescador de homens Âť (Lc 5, 10) que, em nome de Jesus, lança as redes (cf. Lc 5, 5) para os outros, ou um lavrador que trabalha nesta terra fresca que sĂŁo os seus entes queridos, incentivando o melhor deles. A fecundidade matrimonial implica promover, porque ÂŤ amar uma pessoa ĂŠ esperar GHOD DOJR LQGHĂ€QtYHO H LPSUHYLVtYHO H p DR PHVmo tempo, proporcionar-lhe de alguma forma os meios para satisfazer tal expectativa Âť.387 Isto ĂŠ um culto a Deus, pois foi Ele que semeou muitas JOĂƒO PAULO II, Exort. ap. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 12: AAS 74 (1982), 93. 386 FRANCISCO, Discurso na Festa das FamĂ­lias e VigĂ­lia de Oração HP )LODGpOĂ€D GH 6HWHPEUR GH L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 08/X/2015), 2. 387 GABRIEL MARCEL, Homo viator: prolĂŠgomènes Ă une mĂŠtaphysique de l´espĂŠrance (Paris 1944), 63. 385

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coisas boas nos outros, com a esperança de que as façamos crescer. 323. É uma experiĂŞncia espiritual profunda contemplar cada ente querido com os olhos de Deus e reconhecer Cristo nele. Isto exige uma disponibilidade gratuita que permita apreciar a sua dignidade. É possĂ­vel estar plenamente presente diante do outro, se uma pessoa se entrega gratuitamente, esquecendo tudo o que existe em redor. Assim a pessoa amada merece toda a atenção. Jesus era um modelo, porque, quando DOJXpP VH DSUR[LPDYD SDUD IDODU FRP (OH Ă€[DYD nele o seu olhar, olhava com amor (cf. Mc 10, 21). NinguĂŠm se sentia transcurado na sua presença, pois as suas palavras e gestos eram expressĂŁo desta pergunta: ÂŤ Que queres que te faça? Âť (Mc 9LYH VH LVWR QD YLGD TXRWLGLDQD GD famĂ­lia. Nela, recordamos que a pessoa que vive connosco merece tudo, pois tem uma dignidade LQĂ€QLWD SRU VHU REMHFWR GR DPRU LPHQVR GR 3DL $VVLP Ă RUHVFH D WHUQXUD FDSD] GH Š VXVFLWDU QR outro a alegria de sentir-se amado. Exprime-se, de modo particular, no debruçar-se com delicada atenção sobre os limites do outro, especialmente quando aparecem de forma evidente Âť.388 324. Sob o impulso do EspĂ­rito, o nĂşcleo familiar nĂŁo sĂł acolhe a vida gerando-a no prĂłprio seio, mas abre-se tambĂŠm, sai de si para derramar 388

Relatio Finalis 2015, 88.

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o seu bem nos outros, para cuidar deles e procurar a sua felicidade. Esta abertura exprime-se particularmente na hospitalidade,389 que a Palavra de Deus encoraja de forma sugestiva: ÂŤ NĂŁo vos esqueçais da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos Âť (Heb 13, 2). Quando a famĂ­lia acolhe e sai ao encontro dos outros, especialmente dos pobres e abandonados, ĂŠ ÂŤ sĂ­mbolo, testemunho, participação da maternidade da Igreja Âť.390 Na realidade, o amor VRFLDO UHĂ H[R GD 7ULQGDGH p R TXH XQLĂ€FD R VHQtido espiritual da famĂ­lia e a sua missĂŁo fora de si mesma, porque torna presente o querigma com todas as suas exigĂŞncias comunitĂĄrias. A famĂ­lia vive a sua espiritualidade prĂłpria, sendo ao mesmo tempo uma igreja domĂŠstica e uma cĂŠlula viva para transformar o mundo.391 *** 325. As palavras do Mestre (cf. Mt 22, 30) e as de SĂŁo Paulo (cf. 1 Cor 7, 29-31) sobre o matrimĂłnio estĂŁo inseridas – nĂŁo por acaso – na diPHQVmR ~OWLPD H GHĂ€QLWLYD GD QRVVD H[LVWrQFLD que precisamos de recuperar. Assim, os esposos poderĂŁo reconhecer o sentido do caminho que estĂŁo a percorrer. Com efeito, como recordamos Cf. JOĂƒO PAULO II, Exort. ap. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 44: AAS 74 (1982), 136. 390 Ibid., 49: o. c., 141. 391 Sobre os aspectos sociais da famĂ­lia, cf. PONT. CONSELHO ÂŤ JUSTIÇA E PAZ Âť, CompĂŞndio da Doutrina Social da Igreja, 248254. 389

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vĂĄrias vezes nesta Exortação, nenhuma famĂ­lia ĂŠ uma realidade perfeita e confeccionada duma vez para sempre, mas requer um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar. HĂĄ um apelo constante que provĂŠm da comunhĂŁo plena da Trindade, da uniĂŁo estupenda entre Cristo e a sua Igreja, daquela comunidade tĂŁo bela que ĂŠ a famĂ­lia de NazarĂŠ e da fraternidade sem mĂĄcula que existe entre os Santos do cĂŠu. Mas contemplar a plenitude que ainda nĂŁo alcançåmos permite-nos tambĂŠm relativizar o percurso histĂłrico que estamos a fazer como famĂ­lia, para deixar de pretender das relaçþes interpessoais uma perfeição, uma pureza de intençþes e uma coerĂŞncia que sĂł SRGHUHPRV HQFRQWUDU QR 5HLQR GHĂ€QLWLYR $OpP disso, impede-nos de julgar com dureza aqueles que vivem em condiçþes de grande fragilidade. Todos somos chamados a manter viva a tensĂŁo para algo mais alĂŠm de nĂłs mesmos e dos nossos limites, e cada famĂ­lia deve viver neste estĂ­mulo constante. Avancemos, famĂ­lias; continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete ĂŠ sempre mais. NĂŁo percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas tambĂŠm nĂŁo renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhĂŁo que nos foi prometida. Oração Ă Sagrada FamĂ­lia Jesus, Maria e JosĂŠ, HP 9yV FRQWHPSODPRV o esplendor do verdadeiro amor, FRQĂ€DQWHV D 9yV QRV FRQVDJUDPRV 263


Sagrada Família de Nazaré, tornai também as nossas famílias lugares de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do Evangelho e pequenas igrejas domésticas. Sagrada Família de Nazaré, que nunca mais haja nas famílias episódios de violência, de fechamento e divisão; e quem tiver sido ferido ou escandalizado seja rapidamente consolado e curado. Sagrada Família de Nazaré, fazei que todos nos tornemos conscientes do carácter sagrado e inviolável da família, da sua beleza no projecto de Deus. Jesus, Maria e José, ouvi-nos e acolhei a nossa súplica. Ámen. Dado em Roma, junto de São Pedro, no Jubileu Extraordinário da Misericórdia, a 19 de Março – solenidade de São José – do ano 2016, TXDUWR GR PHX 3RQWLÀFDGR


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