janeiro 2016
Dossier dedicado ao Instituto Politécnico da Guarda Produção RVJ - Editores
dossier
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35º aniversário do politécnico
IPGuarda lança novos desafios à região 6 O Instituto Politécnico da Guarda acaba de assinalar 35 anos de vida. Num ano em que recebeu mais novos alunos, Constantino Rei fala do futuro de uma instituição que é cada vez mais um dos motores de desenvolvimento do distrito da Guarda. Fala também dos desafios que lançou a toda a região com a criação do Geoparque da Serra da Estrela e dos perigos que a demografia pode trazer às instituições de ensino superior do país. Nesta entrevista, o presidente do Politécnico da Guarda fala também da internacionalização e da aposta que tem sido feita na investigação.
Este ano o IPG teve mais alunos, alguns dos quais de outras nacionalidades, que não a portuguesa. Isso demonstra o trabalho de casa que tem vindo a ser feito pela sua instituição? Este ano registou-se um acréscimo generalizado em todas as instituições. Na Guarda o resultado é satisfatório pois entra-
ram para o IPG mais de mil novos alunos. É um bom número, que garante a sustentabilidade, a estabilidade e até uma ligeira recuperação do número de alunos. Nós ainda continuamos a viver dos anos de retração. Apesar dos TESP’s terem ficado àquem do esperado, a verdade é que esses 200 alunos ficarão cá por mais um ano, pelo menos. Mas como referiu, este aumento do número de alunos também está relacionado com a procura de novos públicos e, nesse sentido, também com o trabalho de casa que fizemos para os procurar.
Constantino Rei, presidente do Instituto Politécnico da Guarda
Com a vinda de alunos de outros países e locais, combate-se também a desertificação? Estou convenido que o combate à desertificação passará muito por medidas que nós possamos tomar deste género, no sentido de trazer pessoas de outras regiões para cá. O trabalho que fizemos este ano foi mais centrado em Cabo Verde, onde fizeJANEIRO 2016 /// mos uma deslocação e divulgámos a nossa
oferta formativa. Acabámos por ser recompensados com isso e recebemos mais de 50 novos alunos daquele país.
Quando participamos em projetos como esse de Luanda, que passou pela elaboração de estudos geotécnicos, e em que o nome do IPG é levado para Angola ou para outros países, é muito importante. A internacionalização do Instituto é fundamental, sendo certo que neste momento, sendo importante a investigação e os trabalhos publicados noutros países, a prioridade é a captação de alunos. O problema que nós temos é demográfico. Temos falta de gente. Não acredito que através de incentivos seja possível trazer os jovens do litoral para o interior do país. O programa mais superior não conseguiu isso. Só movimentos migratórios podem repovoar estas regiões. E captar estudantes internacionais pode ser um caminho. Quando em poucos meses conseguimos colocar aqui 50 alunos de S. Tomé estamos a trazer gente para cá.
Referiu que os TESP’s não corresponderam às expetativas. O que é que falhou na sua perspetiva para que os resultados não fossem melhores? Da nossa parte não falhou nada. Fizemos promoção, fomos às escolas e criámos uma rede com as escolas secundárias e profissionais. Diria que houve dois fatores que tiveram influência: a partir do momento em que houve mais candidatos às licenciaturas, houve mais sucesso escolar no ensino secundário, pelo que houve menos candidatos nos TESP’s. Por outro lado, o facto de se tratar de uma oferta nova, pode ter retraído algumas pessoas. O que se verificou na maioria das instituições é que houve uma redução no número de candidatos aos TESP’s se os compararmos com os que concorriam aos CET’s em anos anteriores. O facto dos TESP´serem de dois anos, ao contrário dos CET’s que são de um ano apenas, vai fazer com que no próximo ano letivo não haja alunos desses cursos a procurarem as licenciaturas... E isso preocupa-nos. Pois no próximo ano letivo isso não vai acontecer. Só no ano seguinte se verificará. E quando atrás lhe referia os mais de mil novos alunos no IPG, muitos vinham dos antigos CET’s. Esta questão pode colocar alguns cursos, em risco para o ano seguinte, sendo certo que no ano a seguir isso poderá ser recuperado. Os cursos mais afetados serão os das engenharias? Sim, mas não só. Há mais dois cursos que começam a revelar problemas. falo de Educação Básica, que dentro de dois ou três anos desaparecerá do mapa da formação dos politécnicos. A procura é cada vez menor e quando entrar em vigor o novo regime das provas de ingresso, com a obrigatoriedade da matemática, eles irão ficar desertos no país. Mas esses cursos não eram alimentados pelos CET’s nem serão pelos TESP’s. A outra oferta que poderá também estar em risco é a Animação Sociocultural. O que pode estar em causa é que não havendo licenciaturas depois também não haverá mestrados. As Escolas Superiores de Educação podem perder aquilo que lhes resta de educação. E dentro de dois ou três anos poderão não ter essa oferta. Isso, a médio prazo, vai criar um problema ao país, que será a falta de professores e educadores? Sim, mas isso já acontece noutras áreas. Portugal tem falta de engenheiros, mas não é por isso, que os candidatos escolhem esses cursos. As escolhas dos alunos não estão relacionadas com a empregabilidade dos cursos. Apesar de se divulgarem todos os indicadores, nenhum aluno deixa de ir para um curso de direito, de filosofia ou de letras, mesmo sabendo que o desemprego é elevado nessas áreas. Na educação básica vai acontecer o mesmo, e dentro de alguns anos estaremos com falta de professores. Muitos dos candidatos a
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Mais que as políticas educativas, importa intervir nas demográficas? As políticas demográficas são vitais para o interior do país. Fico preocupadíssimo quando numa reunião do Conselho Municipal de Educação, no ensino préescolar, de um ano para o outro, houve uma redução superior a 20% das crianças inscritas. Isto vai-se repercutir no ensino básico, no secundário e no superior. Educação Básica são alunos que vêm dos cursos de secundário das humanidades e das letras, que não fazem a matemática. Ora se não têm matemática não poderão concorrer a esses cursos. Se o processo legal não for revertido, corre-se o risco do país poder vir a ter a funcionar um ou outro cursos de Educação Básica a funcionar nos grandes centros urbanos. A qualificação do corpo docente do IPG foi um dos aspetos que salientou no seu discurso. O que é que isso representa para a instituição? Nós temos um rácio de professores doutorados superior a 52% e de professores doutorados especialistas de mais 13%. Ou seja no global temos um rácio de 65%, pelo que superamos o rácio dos 30 doutores por aluno. Isto é muito positivo. Para a instituição significa que esses professores têm mais competência, podem fazer mais investigação, desenvolver atividades de prestação de serviços. Recentemente lançou o desafio de ser criado um Geoparque na Serra da Estrela, tendo sido assinado um memorando de entendimentos entre os diferentes municípios. Quais as mais valias? São muitas, basta olhar para os geoparques que existem no país e no mundo. A existência de um geoparque com a chancela da UNESCO é só por si potenciador de captar e gerar receitas que de outra forma não seria possível. Esse novo território aumentaria o fluxo turístico e os investimentos. O nosso papel, não é o de sermos os líderes desse novo geoparque, mas compete-nos colocar o saber e as competências do Instituto Politécnico da Guarda ao serviço desta oportunidade. A nossa expetativa é termos o processo encerrado dentro de dois anos, pois trata-se de um projeto complexo.
Isto demosntra que o IPG é grande motor de desenvolvimento do distrito da Guarda? É evidente que sim, não só pelo emprego que cria, pela riqueza que produz, mas também pelo papel dinamizador que pode ter em chamar outras pessoas e entidades para novos projetos e parcerias. Hoje o IPG já não é uma entidade escondida, temos sido convidados a participar em muitos projetos, alguns dos quais envolvem fundos europeus e transfronteiriços. Algumas instituições politécnicas pretendem transformar-se em universidades de ciências aplicadas. Comunga dessa perspetiva? Continuo a dizer que foi um erro estratégico para a região terem-se criado dois politécnicos e uma universidade, e não se ter criado uma universidade com polos. Nós estamos pagar um preço por isso e iremos continuar a pagá-lo, pois a longo prazo esta situação não beneficia ninguém. Mas esta é a história e a verdade é que cada instituição fez o seu percurso. Essa questão da transformação de politécnicos em universidades não me preocupa neste momento, até porque o senhor ministo na reunião que manteve com os politécnicos, disse que essa questão não estava aberta nesta legislatura. A minha preocupação é com as nossas forças e fraquezas lutarmos para manter o IPG e por potenciar o nosso papel na sociedade. Continuamos disponíveis para colaborar com as outras instituições. A reaorganização é necessária e fundamental. Mas como o senhor ministro disse, esta matéria não está em cima da mesa. A internacionalização está também associada à investigação. Recentemente falou no contributo que o IPG está a dar em Luanda...
O ensino superior voltou a ter um ministério próprio, isso é benéfico para as instituições de ensino superior? Teoricamente é. A anterior experiência, do último governo, o ministro pouco ou nada ligou ao ensino superior. Todos os assuntos eram tratados com o secretário de Estado. É evidente que isso tem um preço, pois um secretário de Estado não tem a mesma influência dentro de um Governo, desde logo porque não participa nos Conselhos de Ministros. Sobre este ponto de vista é benéfico o ensino superior e a ciência terem um ministério específico. Agora se for para seguirem as mesmas políticas e não se fazer nada, pouco adiantará. O ministro está a efetuar visitas às instituições de ensino superior portuguesas. Como avalia essa abertura de Manuel Heitor? Se o objetivo das reuniões for conhecer as instituições, os seus problemas e encontrar soluções para eles, as visitas são benéficas. Se for para ter uma mera conversa, já tenho as minhas dúvidas sobre a utilidade dessas visitas. Depois há que referir o que motivou essas visitas, que foi alguns politécnicos e universidades terem tido reforços no seu orçamento em 2015, e que o senhor ministro disse que este ano não haveria. Ora se não forem encontradas soluções de financiamento, vamos viver problemas gravíssimos nalgumas instituições. O importante é que o senhor ministro conheça as instituições e os seus problemas, e que seja uma parte ativa para encontrar soluções para esses problemas. K
Energia solar
Novo sistema no campus do IPG 6 No campus do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) está a ser instalado um novo sistema de aproveitamento de energia solar para produção combinada de energia elétrica e térmica. Este novo equipamento será ligado a outro sistema, já existente no laboratório de Energias Renováveis do IPG, e servirá, sobretudo, de apoio a trabalhos de investigação a nível nacional e internacional. Esta instalação é feita no âmbito do CISE (Centro de In-
Programa de Rádio do IPG T“IPGfm” é o nome do programa de rádio produzido, semanalmente, pelo Instituto Politécnico da Guarda. O programa – emitido na Rádio Altitude, emissora que transmite desde 1948 – pretende ser, à semelhança do que aconteceu na anterior temporada, “um espaço de informação e divulgação das atividades e projetos da comunidade académica”. Por outro lado, afirma-se como “um ponto de encontro em torno de questões relativas à vivência estudantil, um canal de comunicação que funcionará como materialização de conhecimentos”.
vestigação em Sistemas Electromecatrónicos), que integra este laboratório, e do protocolo existente entre o IPG e a UBI, onde o CISE está sediado. De referir que o CISE é um centro de investigação reconhecido pela FCT. Está prevista uma visita às suas instalações, no próximo dia 9 de fevereiro, por uma comissão de acompanhamento externa composta por duas personalidades internacionais reconhecidas na área de investigação do CISE. K
O programa, disponibilizado em podcast (http://www.ipg.pt/ipgfm/) é emitido às quartas-feiras, pelas 19 horas, com repetição aos domingos, às 13 horas. K
O Doente Grande Queimado TNa Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico da Guarda decorreu, no passado dia 13 de Janeiro, um seminário subordinado ao tema “O Doente Grande Queimado”. Este seminário foi orientado por Ana Margarida Martinho (enfermeira especialista em enfermagem médico-cirúrgica na Unidade de Queimados do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra). K
Projeto nasceu há dois anos
Património em livro
6 Na Guarda foi apresentado, recentemente, o livro PAR – Património Azulejar Religioso na Diocese da Guarda”. Esta publicação resultou de uma parceria entre o Instituto Politécnico da Guarda (IPG) e a Diocese da Guarda. O projeto, que agora se concretiza em forma de livro “nasceu, há cerca de dois anos, da constatação da necessidade de sistematizar e promover o relevante património azulejar religioso que existe na área que abrange o distrito e a diocese da Guarda. Tesouro devidamente inventariado pela Diocese, o património azulejar, parte dele passível de ser usufruído livremente, porque visível da via pública, mas não devidamente valorizado em alguns casos, tornou-se o alvo de interesse para a elaboração desta publicação”, esclareceu Anabela Sardo, na nota introdutória a este livro. Esta docente (que esteve na coordenação da referida obra) da Escola Superior de Turismo e Hotelaria do IPG, considera que “esta riqueza, nem sempre preservada da melhor forma ao longo dos tempos, mas, ainda assim, existente em número considerável no território que se circunscreveu, despertou a curiosidade de um grupo de pessoas com sensibilidades e competências diversas.” Assim foi preocupação dos elementos que estiveram ligados a este projeto “dar voz aos belos e singulares painéis azulejares religiosos que, graciosa e alegremente, se oferecem ao apreço e deleite do residente, visitante ou turista, devoto ou não, nas aldeias, vilas e cidades da região”.
Anabela Sardo elucidou que a presente edição “não tem, nem podia ter, o ensejo de mostrar todo o vastíssimo património azulejar existente e inventariado, pelo que foi imperioso definir-se uma escolha metodológica, optando-se por selecionar os exemplares cuja importância histórica, artística e religiosa servissem de exemplo e convidassem a descobrir os outros não menos fascinantes que podem encher de cor e magia a passagem do visitante” acrescentando que foi objetivo principal “a valorização de um património, de um território e, como não podia deixar de ser, das suas gentes, ajudando, simultaneamente, a promover o Turismo e a aumentar a autoestima de uma região.” O presidente do IPG, Constantino Rei, mostrou a sua satisfação por esta colaboração com a Diocese da Guarda “esperando que ela sirva de exemplo para outras parcerias, para outros projetos, pois o património imaterial que nós temos é muito valioso; é necessário preservá-lo mas é sobretudo necessário divulgá-lo e utilizá-lo como instrumento de promoção do turismo da região”. Por seu turno, o Bispo da Diocese da Guarda, D. Manuel Felício, salientou que valoriza esta parceria porque foi estabelecida “com uma instituição de referência, como é o caso do IPG; se queremos trabalhos sérios, com base científica, temos de recorrer aos meios e hoje, aqui na Guarda, quem tem o meio de investigação científica é, sem dúvida, o Instituto Politécnico”. D. Manuel Felício disse que
esta publicação abre perspetivas para “outros projetos na área da cultura e da arte”, acrescentando ser este livro “importante para o aprofundamento da cultura de cada um e para que os nossos ambientes sejam devidamente valorizados. É um bom contributo para relançarmos o património cultural da nossa região”. K
Protocolo no Mercado de Trabalho TNa Escola Superior de Educação, Comunicação e Desporto decorreu, no início do corrente mês, uma ação sobre Protocolo no Mercado de Trabalho. Tratouse de uma iniciativa organizado pelos alunos do novo curso TeSP de Comunicação Protocolo e Organização de Eventos. Este evento teve como principais objetivos demonstrar a importância do Protocolo no mercado de trabalho e enquanto facilitador nas relações laborais e institucionais. K
Exposição sobre Fernando Pessoa T Na Biblioteca Central do Instituto Politécnico da Guarda vai estar patente, durante o mês de fevereiro, a exposição “Nós os de Orfeu”, dedicada a Fernando Pessoa. Exposição que vai ser complementada com um material bibliográfico. K
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