janeiro 2017
Dossier dedicado ao Instituto Politécnico da Guarda Produção RVJ - Editores
dossier
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CONSTANTINO REI, PRESIDENTE DO IPG
Politécnico na serra do conhecimento
6 O Instituto Politécnico da Guarda acaba de assinalar mais um aniversário. Os desafios continuam a ser muitos. Depois de ter lançado o desafio de se criar um geoparque na Serra da Estrela, o IPG viu o Ministro do Ensino Superior falar num outro projeto, não menos ambicioso, que passa por transformar a Serra da Estrela numa serra de conhecimento. Constantino Rei, presidente da instituição, fala desse e de outros projetos. Recorda também o problema da demografia e da falta de gente no interior do país. Critica a política de vagas no ensino superior e considera que a questão dos politécnicos atribuírem o grau de doutoramento não é um assunto prioritário. Recentemente o Ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor, falou, no aniversário do Politécnico da Guarda, na transformação da Serra da Estrela num espaço de conhecimento. É mais um desafio que
Constantino Rei, presidente do Instituto Politécnico da Guarda
se junto à criação de um geoparque na Serra da Estrela? É um projeto mais vasto do que aquele em que estávamos a trabalhar no sentido de se criar o geoparque. Mas integra, naturalmente, as atividades do geoparque. Estamos a trabalhar nas ideias e naquilo que se irá fazer, pois há diferentes abordagens por parte do Ministério. Uma das ideias passa pela criação dos laboratórios colaborativos, que se assumirão como uma espécie de consórcios entre diferentes instituições públicas e privadas, de ensino, empresariais ou de outro fim, de modo a que contribuam para a investigação e para a transferência de conhecimento à sociedade. Para já estamos a encontrar as linhas de investigação e parceiros. No seminário que foi feito na Guarda encontrámos alguns parceiros, como o Politécnico de Bragança e a Universidade dos Açores. O objetivo é que a Serra da Estrela faça parte de uma JANEIRO 2017 ///
grande rede de investigação em áreas de montanha, que integra a Serra de Montesinho ou a Ilha do Pico.
um fosso maior entre os politécnicos do litoral e os do interior. A discussão deveria ser outra.
E da região que instituições vão poder abraçar este desafio? Sendo a Serra da Estrela, diria que a Universidade da Beira Interior terá que fazer parte desta estratégia. Mas também se faz transferência de conhecimento a outros níveis como as associações de desenvolvimento local, os municípios e outras entidades privadas.
Essa perspetiva aplica-se também à denominação das instituições? Eu não tenho dúvidas que a denominação é importante e que se o Politécnico da Guarda ou o de Castelo Branco, por exemplo, tivessem o nome de universidade teriam mais alunos. Mas no quadro legal a denominação de universidades está reservado às instituições do subsistema universitário. A proposta dos conselhos gerais foi a alteração da denominação apenas em termos de comunicação internacional. Mas não sei qual é o efeito, o mais importante é que sejamos reconhecidos como instituição de ensino superior. Temos problemas muito mais graves para resolver do que esses.
Quando é que isso pode ser concretizado? Estava previsto até ao final de janeiro a discussão pública de um edital, mas ainda não está. Gostaríamos que até ao final do primeiro semestre deste ano pudesse haver por parte da Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT) um concurso público para a criação desses laboratórios colaborativos. Pois eles exigem recursos. O que pretendemos é trabalhar em rede e não de uma forma isolada. O Instituto Politécnico da Guarda foi muito firme na contestação a questões de financiamento a este Ministério. Essa situação foi ultrapassada? Foram, mas não deixaram de nos dar razão. Quando reagi foi na base de declarações do senhor ministro em que afirmava que não havia lugar a reforços do orçamento em 2016. A verdade é que nós sempre dissemos que era necessário e que iria haver, como aconteceu. Da parte do Ministério houve a disponibilidade para reconhecer que havia problemas e que as instituições estavam a fazer o trabalho que lhes competia e os esforços que podiam fazer, mas que independentemente desses esforços eram necessários reforços financeiros extraordinários. Se ninguém reclamasse se calhar chegávamos ao final do ano todos a lamentar-nos. Ainda bem que o Ministério criou um Grupo de acompanhamento, pois foi ele que propôs ao Governo o reforço extraordinário. E agora para 2017? Houve uma correção do passado, por força das reposições remuneratórias, mas o défice continua a existir. No entanto há um aspeto positivo que foi a criação de um fundo de reserva que vai servir para acudir às instituições que comprovadamente revelem dificuldades. Esse fundo foi constituído subtraindo um por cento do orçamento de cada instituição. Ou seja, todos nós contribuímos para ele. Além disso, para este ano está prevista a aprovação dos projetos de investigação que foram submetidos e também o financiamento dos TESP’s (Cursos Técnicos Superiores Profissionais). Falou nos TESP’s. O próximo ano letivo pode funcionar como ano cruzeiro? Não sei. Cada vez tenho mais dúvidas. No último ano dos CET’s (Cursos de Especialização Tecnológica) tínhamos cerca de 350 alunos inscritos. Estamos no terceiro ano dos TESP’s e não conse-
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guimos ultrapassar os 200 estudantes. A procura está muito aquém do que esperávamos, que era termos 450 alunos. Isso deve-se a quê, na sua opinião? Pode haver duas explicações. A primeira é o facto das famílias e dos alunos não perceberem o que são os TESP’s. A segunda é a sua duração. A dos CET’s é mais curta e permitia prosseguir estudos. Os TESP’s são mais longos e talvez haja alunos que preferem atrasar um ano e concorrerem pelo concurso nacional de acesso a licenciaturas, ainda que frequentando os TESP’s possam recuperar um ano na licenciatura. Mas para o próximo ano letivo há ainda outra questão. Até agora os alunos podiam candidatar-se aos TESP’s sem terem concluído o ensino secundário. Em 2017 terão que ter o secundário completo. Isso vai ser negativo, pois no nosso caso a percentagem de alunos que entrou nos TESP’s sem o secundário é significativa. A exigência é correta, mas deveria ter sido aplicada logo no início do processo e não a meio, pois já passaram dois anos e até agora entraram alunos sem o secundário completo. Ao contrário do que é a perspetiva do Ministério de, através do TESP’s, entrarem mais alunos para o ensino superior, nós iremos ter uma redução. Recentemente os presidentes dos conselhos gerais dos politécnicos reuniram-se com o objetivo de reclamarem os doutoramentos e a mudança da designação internacional das instituições. São
objetivos que podem ser concretizáveis? Não acredito… não será enquanto for presidente do IPG. É uma matéria que não me ocupa muito do tempo. Sinceramente, os politécnicos do interior têm problemas muito mais graves para resolver do que dispersar esforços a reivindicar os doutoramentos. A generalidade dos politécnicos não tem condições para aprovar doutoramentos no quadro atual. Um dos requisitos é ter um centro de investigação acreditado pela FCT. A maioria dos politécnicos não tem. Estamos a alinhar naquilo que é uma reivindicação dos politécnicos que querem ser universidades e a concentrar esforços nessa matéria esquecendo que há maior probabilidade de nós «cairmos» do que chegarem os doutoramentos. Não gasto tempo a reivindicar isso. Não considero importante. A minha posição é simples: se é para se avançar com os doutoramentos nos politécnicos deve-se acabar com o sistema binário. Preferia discutir o fim do sistema binário do que os doutoramentos. E é a favor ou contra esse sistema? No quadro atual sou um defensor de um sistema binário puro. O que acontece é que os dois subsistemas se aproximaram muito um do outro. Repare que para se entrar na carreira de docente do ensino politécnico é preciso ter-se um doutoramento, sendo que este é feito nas universidades. Estamos mais próximos de um sistema único do que do binário. Esta é a questão, pois colocá-la na atribuição dos doutoramentos abrirá
Um deles é a demografia, a falta de pessoas… Sem dúvida. O problema mais importante que sofremos é a demografia. O concelho da Guarda daqui a três anos vai perder 20% de alunos no ensino secundário e muito mais no ensino básico, pelo que essa quebra vai chegar ao superior. Isto é terrível. Se não houver nenhuma política e decisão que inverta este despovoamento humano, nós vamos emagrecer. A generalidade das instituições registou, na última década, uma diminuição no número de alunos, e todas as previsões apontam para uma quebra da demografia no interior do país. Isto só se resolve através de movimentos migratórios ou criando mecanismos de deslocalização de pessoas para o interior. Como é que se faz? Se tivéssemos uma varinha mágica o problema estaria resolvido. Continuo a achar que o controlo de vagas nos grandes centros urbanos e no litoral seria a única medida para que viessem mais alunos para o interior. Mas já perdi a esperança que isso seja feito, não há coragem política para o fazer. E tirando estas duas medidas não sei que mais se possa fazer, até porque o programa + Superior também não está a cumprir esse papel, pois acaba por ser um reforço da ação social, logo não serve para trazer pessoas do litoral para o interior. Na área dos estudantes internacionais o IPG tem estado a fazer um trabalho junto dos Palop’s. Têm captado mais alunos? Crescemos muito em número de alunos de alguns países. Há formações que só estão a funcionar porque temos os estudantes estrangeiros. Esses alunos poderiam ser uma maior alavanca se pudessem ser apoiados pela ação social. Se à semelhança do que já foi feito no ensino profissional em que o Fundo Social Europeu financiava os alunos, nós pudéssemos alargar o apoio da ação social a esses estudantes, em especial dos PALOP’s, poderíamos crescer mais. K
3ª edição
Concurso de Cozinha Solar 6 As inscrições para a terceira edição do Concurso de Cozinha Solar estão a decorrer até ao dia 31 de janeiro. Trata-se de uma organização conjunta do Núcleo Regional da
Guarda da QUERCUS e do Instituto Politécnico da Guarda. Este concurso é dirigido a alunos do segundo e terceiros ciclos do ensino básico e secundário. K
inovação em turismo e hotelaria
Simpósio Internacional em Seia 6 A Escola Superior de Turismo e Hotelaria vai realizar nos dias 5 e 6 de abril mais uma edição do Simpósio Internacional em Inovação em Turismo e Hotelaria (ISITH) O ISITNH procura debater e refletir as dinâmicas associadas a essas áreas, em especial as orientações, estratégias, tecnologias, produtos e serviços com carácter inovador. Este ano vão estar em análise
temas como Saúde, Bem-estar e Acessibilidade, Cultura, Gastronomia e Vinho, Ensino e Tecnologia e Experiências em Territórios de Montanha. Até ao próximo dia 28 de fevereiro poderão ser apresentados resumos e artigos à Comissão Cientifica do evento para posterior publicação numa edição especial da Revista Egitanea Sciencia. Toda a informação está disponível em esth.ipg.pt/isith. K
Portugal e Estados Unidos
Comissão Fulbright no IPG 6 Dar a conhecer as oportunidades que o Programa Fulbright oferece a nível do intercâmbio educacional entre Portugal e os EUA, foi o objetivo da sessão que Comissão Fulbright promoveu no Instituto Politécnico da Guarda, no
passado dia 18 de janeiro. Estas sessão, aberta a toda a comunidade académica, pretendeu dar a conhecer as múltiplas oportunidades que o Programa Fulbright oferece, nomeadamente as diferentes bolsas disponíveis para estudantes,
professores e investigadores e as oportunidades ao dispor das instituições. Após a apresentação do programa de bolsas Fulbright, e do testemunho de uma bolseira Fulbright, houve espaço para perguntas dos presentes. K
conferência
Violência contra os idosos 6 “Violência contra as pessoas idosas. Conhecer para atuar” é o tema da conferência que vai ter lugar no próximo dia 27 de janeiro, pelas 14h30, na ESS, com a colaboração da APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima Esta conferência insere-
se nas atividades desenvolvidas pelo Consórcio Idade Mais (CI+),que junta as três instituições de ensino superior da Beira Interior, Universidade da Beira Interior, Instituto Politécnico de Castelo Branco e Instituto Politécnico da Guarda, e que pretende fomentar projetos de inves-
tigação e intervenção para um envelhecimento bem-sucedido. No âmbito dos princípios subjacentes e objetivos deste consórcio, CI+, pretende-se reunir recursos e articular esforços para a realização de projetos com impacto na qualidade de vida de quem envelhece. K
ESTH IPGuarda
Seminário de Educação Física, Saúde e Lazer 6 No Instituto Politécnico da Guarda vai realizar-se, de 10 a 12 de julho, a décima terceira edição do Seminário Internacional de Educação Física, Saúde e Lazer. O tema central deste seminá-
rio, “Desafios interdisciplinares na promoção da Atividade Física”, será abordado em conferências, mesas de debate temático e pósteres por reconhecidos investigadores nacionais e internacionais. K
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Almoço temático na Serra 6 A Escola Superior de Turismo e Hotelaria do IPG, sediada em Seia, vai promover, no próximo dia 25 de janeiro, um almoço temático dedicado à Serra da Estrela. Este evento produzido no âmbito da Unidade Curricular de Design Aplicado à Restauração, lecionada no curso de Cozinha e Produção Alimentar visa colocar em prática os fundamentos teóricos desta unidade curricular. Assim caberá aos estudantes deste curso elaborar as ementas, os empratamentos e a decoração do espaço tendo como inspiração a Serra da Estrela. K JANEIRO 2017 /// III
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