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SOLUÇÕES VINDAS DA natureza
biomimética é uma corrente de design inteligente que busca proporcionar maior funcionalidade aos ambientes. Uma ciência que estuda os meios criativos desenvolvidos pela natureza para se adaptar, crescer e viver, que utiliza os ecossistemas e os organismos como fonte de inspiração para encontrar soluções e alternativas para múltiplos problemas humanos. Abrange diversas áreas do conhecimento – biologia, medicina, robótica, agricultura, tecnologia, arquitetura, engenharia – e visa criar novos elementos de praticidade que se mostrem úteis no dia a dia das pessoas.
Já é considerada o futuro do design, inspiran- do arquitetos a desenvolver projetos baseados nas estruturas biológicas da natureza e suas funções. A arquitetura biomimética une pesquisa científica com conceitos sociais para gerar propostas inovadoras: o mimetismo se dá nos campos estrutural e estratégico.
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Ao investir na observação da natureza, a biomimética pode oferecer respostas para uma série de problemas atuais, apresentando opções que incidem principalmente sobre a questão da sustentabilidade. “É ter a natureza como mentora dos projetos”, resume Giane Brocco, fundadora e CEO da Amazu Biomimicry, empresa especialista no assunto.
“NA BIOMIMÉTICA EXISTEM ESTUDOS DE CRIAÇÃO DE FACHADAS RESPONSIVAS. É NECESSÁRIO
QUE A FACHADA SE TRANSFORME EM PELE, COM CAPACIDADE REGULATÓRIA, FUNÇÕES
TERMODINÂMICAS, DE COMUNICAÇÃO E DE PERMEABILIDADE.”
O termo “biomimética” deriva de duas palavras gregas: Bio = vida e Mimesis = imitação. Em síntese, “imitação do que é vivo”. Porém, não se trata apenas de replicar formas naturais em termos de estilo, mas também de entender as regras que as direcionam e as dominam, seguindo os seus princípios. Hoje ela é vista como uma tendência, mas tem aplicações identificadas ao longo da História, pois os seres humanos já observam e replicam o funcionamento das estruturas naturais há séculos. Um dos grandes estudiosos da área foi Leonardo da Vinci. Ele utilizou muitas referências da natureza em suas invenções, como as máquinas voadoras inspiradas no voo dos pássaros.
MARKO BRAJOVIC, ARQUITETO
Arquitetura Biomim Tica
É uma corrente contemporânea que traz uma reconexão da arquitetura com a natureza, compreendendo as normas e observando seus padrões para criar novas estruturas e edifícios mais modernos e sustentáveis. Junto com o design biofílico, a biomimética coloca em destaque a busca por soluções inovadoras na construção civil.
Na arquitetura, a biomimética também está presente há muitos séculos. No século XV, por exemplo, o arquiteto Filippo Brunelleschi partiu da observação da espessura das cascas de ovo para desenvolver um domo mais fino e mais leve para a catedral de Florença. Muito tempo depois, a ar- quitetura biomimética se tornou uma corrente que busca produzir obras mais eficientes em recursos e um importante passo rumo à plenitude da sustentabilidade.
Dessa forma, a natureza não é somente uma fonte de recursos para se extrair matéria-prima, mas uma extensa fonte de exemplos bem-sucedidos e de ensinamentos. Alguns “cases” de sucesso na natureza: as cavernas, os cupinzeiros e as casas de joão-de-barro, lares que abrigam e protegem.
A arquitetura biomimética, contudo, vai além da mitigação de problemas. Ela transcende a isso, buscando uma reformulação das cidades e das edificações com base nos princípios que estão por trás das formas e sistemas naturais. É uma das marcas registradas do arquiteto Santiago Calatrava, que aplicou esse conceito no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, criando um edifício que fosse o mais etéreo possível, quase flutuando sobre o mar, como um barco, um pássaro ou uma planta. Outro exemplo é o Museu de Arte de Milwalkeem, nos EUA, que remete a um pássaro com as asas abertas.
A inspiração vem diretamente do ecossiste-
ESPECIALMENTE AS QUESTÕES CLIMÁTICAS DA REGIÃO ma ou ser vivo da própria região. É o caso do Votu Hotel, localizado na Praia dos Algodões, no sul da Bahia. O principal desafio no desenvolvimento do hotel foram as questões climáticas da região, que é naturalmente quente. O escritório GCP precisou pensar em uma solução que não impactasse negativamente o ecossistema. Os profissionais se inspiraram na troca de calor do bico do tucano para solucionar um superaquecimento na cozinha: implementaram uma laje jardim que mantém a temperatura agradável e reduz os gastos com climatização.
Além disso, a equipe buscou soluções que permitissem a criação de um sistema de ventilação natural e constante, aproveitando os ventos em abundância da região. A ideia veio após a observação do comportamento do cão-da-pradaria, mamífero que vive na América do Norte: a espécie constrói suas tocas enterradas no solo, com longos tubos subterrâneos que permitem a entrada e saída de ar através das diferenças de pressão atmosférica. Analisando tal estratégia, foram incluídas no projeto janelas e portas estrategicamente posicionadas, de forma a aproveitar ao máximo a circulação natural de ar.