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ENDIVIDAMENTO PLANEJADO
Professor da Escola de Negócios da PUCRS orienta sobre cuidados que empresários devem tomar antes de contratar um financiamento.
No início do segundo semestre de 2022, o Governo Federal lançou o GiroCaixa FGI, programa de crédito destinado a microempreendedores individuais (MEI), micro, pequenas e médias empresas que oferece garantia do fundo FGI (BNDES), juros a partir de 1,18% ao mês, prazo de até 60 meses, 12 meses de carência e isenção da Taxa de Abertura de Crédito (TAC). Linhas de crédito como essa podem ser uma boa alternativa para empresas que buscam se modernizar, crescer, inovar ou desafogar o fluxo de caixa. No entanto, é fundamental analisar o momento e os objetivos do negócio para evitar comprometer a saúde financeira.
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A ferramenta que embasa essa análise e a tomada de decisão é o planejamento financeiro. O professor da Escola de Negócios da PUCRS, Rafael Disconzi, explica que o planejamento, ao mostrar os cenários possíveis de futuro em relação à previsão de vendas versus o nível de despesa para obter a receita esperada com essas vendas, permite dimensionar o capital de giro e definir a necessidade ou não de financiamento.
Disconzi orienta que o financiamento tem de ter um objetivo, que o empresário saiba por que está tomando um empréstimo. “Não se pode simplesmente tomar um recurso porque alguém está oferecendo. Pelo contrário: é preciso ser muito cauteloso, principalmente no cenário de juros altos que vivemos no Brasil”, alerta. Na visão do professor, o empréstimo tem que estar vinculado a um aumento de vendas. Ele explica que, com o planejamento financeiro, o empresário pode refletir como se estruturar para suportar esse crescimento, que sempre exige mais capital de giro, seja em incremento de estoque, em maior prazo de pagamento ofertado ao consumidor ou ainda em investimento em marketing, por exemplo. Em uma situação diferente, em que o empresário já se encontra deficitário, seja por uma frustração de vendas ou por uma pressão de custos, e precisa regularizar o fluxo de caixa, a tomada de recursos permite ganhar um fôlego até o próximo ciclo de vendas.
Ainda assim, em qualquer situação é preciso analisar o custo do empréstimo e verificar se a margem (preço de venda menos custo) é suficiente para pagar o serviço da dívida e se dá condição para fazer amortização ao longo do tempo. “Se tenho uma margem mais justa, preciso ver quais os produtos me dão mais margem, e então incentivar a venda deles”, explica. Disconzi ressalta que não se deve usar toda a margem para pagar juros e amortização, porque é preciso destinar uma parte para novos investimentos. Recomenda que o nível de endividamento fique abaixo de 20% ou 30% da margem, embora considere que nem sempre isso é possível. “Olhando-se num cenário de planejamento, esse é um objetivo que deve ser buscado pelo empresário”, aconselha.
Mesmo em um ambiente de instabilidade econômica, é possível – e necessário –trabalhar com planejamento financeiro para embasar as decisões. Segundo Disconzi, a metodologia permite trabalhar com diferentes níveis de cenário, tendo um panorama base, um pessimista e um otimista. A partir daí, se define uma banda de recursos necessários, levando-se em consideração os três cenários projetados. “O planejamento financeiro bem feito no que tange a receita, despesa e resultado dá uma possibilidade de decidir de forma antecipada. A pior coisa que há é decidir com base no afogadilho, no imprevisto, porque fica muito mais complicado negociar com o banco condições favoráveis para obtenção do crédito”, adverte o professor.