Revista Estilo Zaffari - Edição 95

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Ano 20 Julho 2021 N0 95

VIAGEM UM MERGULHO NA HISTÓRIA MILENAR DO FASCINANTE EGITO

CASA A ARTE É PARA TODOS, SIM. E TEM O PODER DE ENCANTAR O DIA A DIA

Pinhão Um ingrediente versátil, que rende pratos salgados ou doces, rústicos ou sofisticados


BEM-VINDO A UM NOVO MOMENTO PARA O BAIRRO TERESÓPOLIS. Unindo três marcas que são sinônimo de excelência em suas áreas de atuação, o Linked une um complexo residencial, salas comerciais, consultórios, Bourbon Shopping com supermercado e HUB da saúde. Tudo isso em um único lugar!

Venha conhecer, fazer parte e conectar-se com essa transformação.



Milene Leal milene@entrelinhas.inf.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Bete Duarte, Beto Conte, Milene Leal, Taciane Corrêa REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade ILUSTRAÇÕES Moa FOTOGRAFIA Letícia Remião, Beto Conte COLUNISTAS Celso Gutfreind, Cherrine Cardoso, Cris Berger, Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COMERCIALIZAÇÃO Carlos Eduardo Moi (eduardo@entrelinhas.inf.br) Fones: 51 3026.2700 e 3024.0094 A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Entrelinhas Conteúdo & Forma, sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. DISTRIBUIÇÃO EXCLUSIVAMENTE DIGITAL. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É ve­dada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

CRIAÇÃO E ELABORAÇÃO

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Ano 12 Abril 2021 N0 95

VIAGEM UM MERGULHO NA HISTÓRIA MILENAR DO FASCINANTE EGITO

BEBIDA UVAS “DIFERENTES” GANHAM ESPAÇO NAS VINÍCOLAS NACIONAIS

CASA A ARTE É PARA TODOS, SIM. E TEM O PODER DE ENCANTAR O DIA A DIA

Pinhão Um ingrediente versátil, que rende pratos salgados ou doces, rústicos ou sofisticados

FOTO: LETÍCIA REMIÃO

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Estilo Zaffari


N OTA

D O

E D I TO R

MINDSET POSITIVO Já vivemos mais da metade de 2021. O ano no qual depositamos incontáveis esperanças, o ano que seria de redenção, após o inesquecível e trágico 2020. É certo que as coisas não transcorreram bem da maneira que esperávamos, mas também é certo que avançamos, que conseguimos sair do epicentro da crise. Dito isto, nós da Estilo Zaffari queremos apenas convidar você a celebrar mesmo as mais ínfimas vitórias e alegrias obtidas, seja em âmbito pessoal ou coletivo, pois é preciso configurar a mente para o bom, para o positivo, se queremos de fato evoluir e conquistar a felicidade no dia a dia. Nesta edição trazemos a você, querida leitora e querido leitor, matérias muito especiais. A jornalista Bete Duarte escreve sobre o pinhão, conta como ele é um alimento versátil e rico, além de nos brindar com cinco receitas ma-ra-vi-lho-sas que têm o pinhão como ingrediente-chave. Beto Conte foi para o Egito recentemente, vivendo sua primeira grande viagem em período de pandemia, e nos conta o que viu e sentiu nesta terra de encantos milenares. A Cesta Básica está cheia de dicas de lugares novos e programas gostosos, nossos colunistas escreveram textos inspiradíssimos, a seção Mulheres que Amamos traz os perfis de duas grandes guerreiras do cotidiano. E a cereja do bolo é a matéria assinada pela jornalista Ana Guerra, que trouxe para nossas páginas a hashtag #aarteépara todos. Ana mostra que não é preciso ser milionário para que a beleza de pinturas, esculturas e fotografias fine art possam fazer parte da sua casa e arrebatar o seu olhar. Leia e aprecie tudo com calma, deguste a sua Estilo Zaffari. Nós estamos aqui para proporcionar a você bons momentos, alguns sorrisos, ideias animadoras. Até a próxima!

MILENE LEAL • EDITORA

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A dupla Kleiton & Kledir, que celebra 40 anos de parceria e sucesso

76 Casa: a arte é para todos

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Pinhão: saboroso e versátil, ele rende pratos salgados e doces

Um mergulho na história milenar e nas belezas do Egito

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40 Estilo Zaffari

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Cesta básica

NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA VIVER BEM O DIA A DIA CURTIR A CASA E SE DIVERTIR: MÚSICA, MODA, LITERATURA, ARTE, LUGARES, OBJETOS ESPECIAIS, PESSOAS GENIAIS, CO­MIDINHAS, COMPRAS. BOM PROVEITO! P O R

TAC I A N E

F OTO S

C O R R Ê A

D I V U LG A Ç Ã O

DELÍCIAS PARA SONHAR E SUSPIRAR Alice Dorfman, ao completar 15 anos, não quis comemorações com pompa e glamour. Estava decidida: pediu uma batedeira de presente. Não qualquer batedeira, mas uma profissional, daquelas de confeiteira. Dois anos depois, agora com 17 anos, ela acumula muita pesquisa prática e alguns cursos com profissionais reconhecidos, que a ensinaram a ampliar seu repertório de delícias doces e a se desafiar em técnicas complexas, como macarons, cookies e suspiros. Nascida em uma casa essencialmente criativa, Alice e a irmã Cecília desde muito pequenas são incentivadas pelos pais, Luciana Chwartzmann e Mauro Dorfman, a explorar materiais, descobrir misturas, inventar e desenvolver habilidades. E foi dessa mescla de curiosidade e vivências que nasceu a PhizAlis, uma marca que, com poucos meses de vida, já fez parcerias com empresas, lembrancinhas de festa infantil e conquistou clientes em Porto Alegre, São Paulo e no interior do RS. Seu projeto mais significativo chama-se “Sonhos e Suspiros”, criado durante a pandemia: um kit de fronhas e suspiros, tingidos com suas respectivas técnicas na mesma coloração. Segundo Alice, há uma mensagem: não devemos esquecer de sonhar e suspirar, mesmo em tempos tão desafiadores. .

@PHIZALIS_ 8

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FONTE TALAVERA RENOVADA O projeto que integra o plano de revitalização do Centro Histórico é uma parceria com a iniciativa privada, que devolveu aos porto-alegrenses a Fonte Talavera de la Reina, em frente ao Paço Municipal. A restauração foi feita com doaçôes do Grupo Zaffari e da Incorporadora e Construtora Melnick, que contrataram uma empresa para a realização da obra. Complementando a renovação do local., seis bancos doados pela empresa De Lazzari Mobiliário Urbano foram colocados na Praça Montevideo. Além de pedras portuguesas e ladrilhos hidráulicos substituídos, foi instalado um novo sistema de irrigação que permite que o processo seja programado, e também foi feito um novo planejado paisagístico. A Fonte foi um presente da colônia espanhola em 1935, por ocasião da comemoração do centenário da Revolução Farroupilha. O monumento foi criado pelo ceramista talaverano Juan Ruiz de Luna, no ano de 1855 e foi tombada como patrimônio do município em 1979.

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Cesta básica REENCONTRO COM O GUAÍBA Situado entre o Lago Guaíba e o Centro Histórico, o Cais Embarcadero renova o espaço do Cais Mauá com opções de entretenimento, cultura, gastronomia, esporte e lazer. O projeto traz o que há de mais moderno para Porto Alegre, mantendo a referência histórica de sua localização em uma proposta plural e multifuncional, concebida para atender a públicos de todas as idades. Ocupando uma área total de 19 mil metros, o novo espaço proporciona aos porto-alegrenses o reencontro com este ponto icônico da cidade. A ideia do projeto é apresentar o Guaíba de uma forma inovadora a seus visitantes, oferecendo uma experiência com segurança e conforto. Para evitar aglomerações no local em função da pandemia, na primeira etapa de funcionamento foi possível fazer a visita apenas com agendamento em algum dos restaurantes, que disponibilizam o acesso ao local, em data e horários determinados. As reservas são abertas ao público em geral e podem ser feitas por um aplicativo. Os estabelecimentos localizados na Alameda Gourmet também podem ser visitados, mediante reserva.

RESERVAS PELO APLICATIVO GET IN (DISPONÍVEL PARA ANDROID E IOS) OU PELO LINK:

https://widget.getinapp.com.br/d6w2ze1q AV. MAUÁ, 1050 – ARMAZÉM A7, NO SEGUNDO PORTÃO DO CAIS MAUÁ CENTRO HISTÓRICO I PORTO ALEGRE 10

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ENTRETENIMENTO, DESCANSO E SERVIÇOS Seguindo tendências mundiais, o Cais Embarcadero preparou diversos espaços de lazer e entretenimento. O empreendimento conta com uma área de quadras esportivas de beach tennis, além de faixas de areia e locais exclusivos para descansar e aproveitar o pôr do sol. OUTRAS ATRAÇÕES: Parquinho do Cais, equipado com uma linha de brinquedos de madeira reflorestada, pensada para contribuir no desenvolvimento intelectual, criativo e motor de crianças de todas as idades. Praça Náutica Embarcadero, que resgata a atividade náutica no Centro Histórico, oferecendo serviços de embarque e desembarque rotativo de embarcações. Loja-conceito Pompéia. Multiverso Experience, um espaço tecnológico e imersivo que transcenderá o real e o virtual, mesclando conceitos de galeria de arte e cinema imersivo, funcio-

nando tanto como uma máquina do tempo para o passado quanto como um teletransporte para espaços virtuais. GASTRONOMIA EM ALTA O Cais Embarcadero conta com um variado leque gastronômico e opções disponíveis em dois espaços distintos do empreendimento. A Travessa Pôr do Sol, instalada à frente do Pavilhão A7 do atual Cais Mauá, abriga os restaurantes Press, Isoj, Wills Bar e Cantina Famiglia Facin. Já a Alameda Gourmet oferece diferentes alternativas de lanches, com operações instaladas em containers: Ô Xiss, OakBerry Açaí Bowls, E! Sucos, Kioske do Pirata, Café 3 Corações, Just Cold Creamery, Pipoca Lara Poc e Seu Salsicha Hot Dog. Fechando as opções de gastronomia disponíveis no local, o Eat Kitchen estará presente em frente à Pompeia a partir de setembro, na área central do Cais Embarcadero, e o 20BARRA9 assina um espaço com drinkeria e espaço para contemplação à beira do Guaíba.

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Cesta básica

A RIQUEZA DO YUZU

BARCELONA É AQUI O bairro de Gràcia e a grande festa de mesmo nome, realizada anualmente em Barcelona, foram a fonte de inspiração para um novo espaço no Bom Fim. O Bar de Gràcia Café, Ceva & Cozinha abriu suas portas trazendo um pedacinho da Catalunha à capital dos gaúchos. A inspiração se reflete não só na decoração do bar mas, sobretudo, na gastronomia. A casa oferece café da manhã, almoço, happy hour e jantar, para que o cliente tenha uma experiência repleta de sensações. Um dos grandes diferenciais é a gastronomia 100% artesanal. Pães, molhos, pastas e geleias, tudo é produzido no local. Entre os destaques estão as tradicionais tapas, tortilha e croquetas, clássicos da gastronomia da Catalunha. E há inúmeras opções veganas e vegetarianas. No cardápio de bebidas destaca-se o frescor da sangria, as famosas claras e uma variedade de cervejas artesanais.

@BARDEGARCIA 12

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Yuzu, limão asiático queridinho dos restaurantes japoneses do centro do país, foi a inspiração para dar nome à nova pâtisserie das confeiteiras Sharisy Lauxen e Mariel Suna. As duas já haviam sido sócias, juntas, do café Tonka. Com a pandemia, estão trabalhando no sistema delivery. No cardápio, o destaque são os croissants – puros, em forma de sanduíches salgados ou com recheios doces, como banana brulée com doce de leite – e os macarons nos sabores yuzu, creme de avelã, framboesa, laranja brulée, amarula e piña colada. Tem ainda cookies, delicados bocaditos (yuzu, oreo e baunilha, pistache ou doce de leite), blondie de framboesa com limão siciliano e brownie de avelãs e caramelo salgado. Se preferir bolos, experimente o de framboesa com limão siciliano ou o de nozes com coco e doces de ovos. O limão Yuzu despertou a paixão das confeiteiras pelo exuberante aroma, que definem como uma mescla de tangerina e limão. Mas há quem garanta que a fragrância é de laranjinha kinkan com limão siciliano e cravo. O que importa é que o Yuzu, por ser tão aromático, oferece uma gama de usos. Enquanto ainda não é encontrado in natura em Porto Alegre, as confeiteiras utilizam o purê e as cascas cristalizadas trazidas de São Paulo.

@PATISSERIEYUZU


AMIGAS DO CHÁ

AURORA 90 ANOS Um vinho especial acaba de ser lançado para comemorar os 90 da vinícola Aurora, a maior cooperativa vinícola do país. O Aurora 90 Anos é um blend das melhores castas de Merlot 2018 (50%), Cabernet Sauvignon 2015 (30%), Tannat 2018 (15%) e Cabernet Franc 2019 (5%). São 36 mil garrafas do vinho que passou 12 meses em barricas de carvalho americano e tem potencial de guarda de 10 anos. Acompanha bem churrasco, carne de caça, queijo Grana Padano, carnes grelhadas e massas com molhos de sabores intensos. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre a vinícola basta acessar o QRCode, no contrarrótulo da garrafa, e assistir a animação com a história da Cooperativa Aurora.

Duas amigas se uniram para transmitir aos clientes um ensinamento budista que aprenderam: a vida é como uma xícara de chá, e é preciso estar completamente consciente para sentir o prazer que ela pode oferecer. Seja o momento que se está vivendo doce, floral, frutado, ou mesmo um pouco mais amargo. As Amigas do chá RS criaram um formato criativo de compartilhar experiências e conexões, inspirando para uma vida com mais intenção e ajudando a trazer alinhamento. “Acreditamos que o chá tem esse poder: de acolher, de oferecer uma pausa, um tempo maior... Um carinho e um cuidado”, afirmam as sócias. Além de acessórios para o ritual do chá e acompanhamentos criativos elas trabalham com duas marcas de infusão. O Chá Azul ,que oferece uma experiência sensorial incrível, e a Mei Mei, com sua ampla variedade de blends deliciosos, cheios de sabor e aromas. As embalagens também são carinhosamente pensadas para transmitir afeto e simplicidade, um presente para contemplar a amizade e as relações verdadeiras.

@AMIGASDOCHA_RS

WWW.VINICOLAAURORA.COM.BR Estilo Zaffari

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Cesta básica

CAFETERIA FRANCESA

BOM FIM GANHA UMA MOA ESPRESSA

Junho chegou com uma doce novidade para Porto Alegre, um espaço que é um misto de cafeteria, delicatessen e pâtisserie francesa. O Empório Nouveau – cafés, vinho e doces vícios é um pequeno mercado que, além dos tradicionais entremets, serve também outras delícias francesas, como tartelettes, croque monsieur, quiches, vinhos, espumantes e cafés. Da paixão da jornalista Caren Mello pela gastronomia francesa – e por tudo que é da França – até a abertura do espaço passaram-se seis anos. Iniciou fazendo o doce típico de lá, só que mais leve e frutado.Os entremets de Caren, porém, eram apenas para deleite da família e dos amigos próximos. Ela não esperava largar a caneta e o computador e assumir de vez os fouets. Para Caren, a Empório Nouveau também tem relação com tudo que vivemos no último ano. “Nos demos conta da importância do contato pessoal, de valorizar o que amamos, da alegria dos encontros e da importância de sermos felizes na rua”, diz ela. A ideia era também a de homenagear a França, então o ambiente, a música e a culinária remetem às pequenas confeitarias e bistrôs franceses, cheios de charme.

A MOA cafeteria foi criada por três mulheres empreendedoras em 2018. MOA, que tem sua origem no tupi-guarani, significa caminho e, para as sócias, simboliza as escolhas em relação ao alimento e ao consumo. “Comida de verdade” e “você é o que você come” são frases que conduzem o trabalho delas. Tudo é produzido de forma artesanal e em pequena escala, garantindo a qualidade e a atenção aos detalhes. Respeitam a sazonalidade dos alimentos, criando cardápios com insumos oferecidos no dia. Durante a pandemia, as sócias aproveitaram para ressignificar o negócio, focando na cafeteria. Lançaram o próprio café, introduzindo embalagens 100% sustentáveis e expandindo com uma nova unidade para o coração do bairro Bom Fim. A MOA Espressa é uma versão enxuta e funciona como vitrine do que é produzido diariamente, como a delicada Galette de massa amanteigada e sabores sazonais ou a Torta de Chocolate meio amargo que derrete na boca. Mas o grande destaque é o Alfajor de Neve, que surpreende pela sinergia do doce de leite com o glacê cítrico.

@EMPORIONOUVEAU

@MOACAFETERIA

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O HASHI ESTÁ DE VOLTA! De portas fechadas desde 2018, o Hashi, comandado por um dos principais chefs do Sul do país, Carlos Kristensen, retoma as atividades em novo endereço: Av. Mariland, 1.388, no segundo andar da loja de vinhos Grand Cru. O projeto arquitetônico é assinado pela dupla Beto Salvi e Tuti Giorgi. Apresentando o conceito Cru & Fogo, o cardápio vai contar com os clássicos da casa e pratos novos, com muitos preparos na parrilla, continuação do trabalho de Cozinha de Fogo de Kristensen. O menu também manterá em sua base o uso de ingredientes regionais apresentados de forma autoral. Entre as novidades do novo Hashi está a possibilidade de reservar a Mesa do Chef, espaço dentro da cozinha envidraçada em que até quatro pessoas poderão observar o preparo e degustar um menu exclusivo servido pelo chef. As duas adegas climatizadas contarão com uma seleção de vinhos, espumantes e champagnes da Grand Cru, pelo mesmo valor da prateleira da loja que fica no andar de baixo. Inicialmente, durante o mês de julho, o Hashi vai operar com jantares em soft opening, nas sextas e sábados, mediante reserva. A partir de agosto, passa a atender de terça a sábado, à noite, e nos dias e horários de casa fechada, abrirá a agenda para eventos.

@HASHIARTCUISINE

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Cesta básica

OÁSIS URBANO PREMIADO

WWW.TIVOLIHOTELS.COM 16

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O Tivoli Mofarrej São Paulo, localizado em um dos bairros mais nobres da cidade, foi eleito o melhor hotel da capital paulista pelo Travelers’ Choice Best of the Best Award 2021, fazendo parte do grupo dos melhores hotéis do mundo. A premiação reflete o melhor em serviço, qualidade e satisfação do cliente. O hotel foi reconhecido por receber consistentemente, pelo período de um ano, ótimos comentários de viajantes. O luxuoso Tivoli Mofarrej é um oásis urbano, com saguão imponente, piscina externa cercada de lindo jardim e a minutos de diversos pontos importantes da cidade. Entre a vasta gama de apartamentos, equipados com as mais recentes inovações tecnológicas, sua suíte presidencial se destaca como a maior da América Latina, com 750 metros quadrados, completamente renovada apresentando toda bossa brasileira na decoração. O hotel oferece uma gastronomia e coquetelaria sofisticada, com menus especiais. E o spa da rede tailandesa Anantara Spa – reconhecido por suas técnicas e tratamentos que são verdadeiras jornadas de bem-estar –, é um refúgio dentro da energizante cidade, tornando-se o ambiente ideal para momentos de autocuidado, relaxamento e descontração.


GASTRÔ COMFORT FOOD EM NOVO ENDEREÇO Há três anos no mercado, a Gastrô Comfort Food, marca gaúcha especializada em comida congelada, ganhou uma nova sede em Porto Alegre: um espaço maior e com localização mais central, na Rua João Guimarães, 104, no Bairro Santa Cecília. Agora, além das entregas feitas via delivery, os clientes também podem retirar seus pedidos diretamente no local, que conta com estacionamento. Sempre inovando na busca por uma alimentação saudável e saborosa, com ingredientes selecionados – o toque que diferencia suas receitas –, a Gastrô acrescentou seis novos pratos ao cardápio. No menu Comfort, duas novidades: polenta mole com ragu de carne e cenoura; batata assada com iscas de carne e cebola caramelizada. No Fit, panqueca integral de espinafre com frango e yakissoba fit com espaguete integral. O Low Carb ganhou uma versão de iscas de frango à parmegiana com arroz de couve-flor. E o cardápio de cremes ganhou uma sopa de lentilha com bacon e calabresa para esquentar no friozinho.

Na contramão da pandemia, a confeitaria Lívia Guzzo abriu as portas de um aconchegante e descontraído espaço na Zona Sul de Porto Alegre. A atmosfera do local traduz elegância e modernidade, pela combinação de elementos industriais com uma paleta de cores jovem e clean, além de deck externo, ideal para encontros informais. A história da jovem empreendedora nesse segmento começou cedo: aos seis anos se encantou pela gastronomia e desde então trilhou seu caminho no universo da confeitaria. Da união de sua paixão com as memórias afetivas, oriundas da família materna, surgem inúmeras delícias: a imperdível torta de chocolate, a cheesecake de frutas vermelhas e a torta Aveiro. Também se destacam os cupcakes, brigadeiros e brownie de chocolate branco com curd de bergamota.

@GASTROCOMFORTFOOD

@LIVIAGUZZO

UM DOCE PEDAÇO DA ZONA SUL

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Cesta básica UMA HISTÓRIA DE FAMÍLIA Desenvolvida em meio à pandemia, a marca HNRSK é fruto de um grande desejo da jornalista Daniela Hinerasky: criar roupas clássicas, elegantes e de qualidade para mulheres reais. A ideia é permitir que o belo apareça em looks do dia a dia, alinhando modelos atemporais com peças de efeito. Vestidos clássicos e fluidos, peças de modelagem perfeita, acessórios e tricot feito à mão foram as peças escolhidas para dar o start na marca, lançada em abril de 2021. Daniela aprendeu a costurar ainda criança. Com o pai deu os primeiros pontos na máquina, para fazer roupinhas de boneca, e com a mãe conheceu as peças clássicas e os bons tecidos. “Mas tudo começa com meus avós: Selma, avó paterna, era costureira; e meu avô materno, Floriano Leopoldo, foi alfaiate por mais de 25 anos.” A HNRSK, além de carregar sua história pessoal, traz a experiência de pesquisadora de moda da jornalista, somado a seu olhar de consumidora

REDES SOCIAIS: @HINERASKY.STORE

RESTRIÇÕES BEM SABOROSAS Ter uma restrição alimentar na família foi a inspiração do casal que criou a Pólen, marca que produz pães, bolos, brownies e cookies deliciosos sem glúten e sem lactose, procurando sempre integrar alimentos saudáveis e respeito ao meio ambiente. A Pólen também oferece opções para diabéticos e veganos. A ideia é poder entregar o produto sempre fresquinho para o cliente, e por isso o atendimento é somente por delivery, entre terças e sextas-feiras. Entre as novidades desse ano estão o bolo de cenoura com chocolate, o bolo de maçã com creme de baunilha e a caixa personalizadas com saborosos brownies de diversos sabores. Destaque para os de paçoquinha, laranja e amêndoas, coco, noz pecan e avelã com ganache. Mas o carro chefe mesmo são pães, que oferecem a melhor qualidade nutricional, indo além das receitas tradicionais. Pão vegano de nozes e ora pro nobis, multigrãos, tomate seco com azeitona, abóbora e banana com mel e canela são algumas das opções.

WWW.POLENSEMGLUTEN.COM.BR 18

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COZINHA AFETIVA NO MOINHOS O Verissimo opera como cafeteria e bistrô em um espaço reservado e bastante aconchegante idealizado pelo chef paulista Fernando Gadelha. A casa oferece delícias produzidas no local e de forma artesanal, o que inclui doces e salgados variados, tortas, bolos, quiches, cafés especiais, além de um delicioso almoço executivo, que combina diariamente uma opção de entrada e prato principal. Recentemente foi instalado um deck ao ar livre, que permite aos clientes frequentar o local de forma confortável e segura. O espaço também é pet friendly. Aos sábados há um combo de café da manhã com café, suco, croissant, bolo do dia, geleia da casa, salada de frutas e ovo mexido. A próxima novidade que está a caminho são jantares autorais em dias específicos da semana, para um número reduzido de clientes, favorecendo um clima mais intimista e exclusivo. As delícias da confeitaria estão disponíveis também para encomenda. O chef, que escolheu Porto Alegre para empreender, acredita em uma cozinha afetiva, que une as pessoas e prioriza as receitas tradicionais e familiares, além de valorizar o regionalismo e a ampla diversidade dos ingredientes brasileiros.

@VERISSIMOCAFE

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Cesta básica

E S P E C I A L

S E R R A

G A Ú C H A

ACHADOS NA SERRA Carla Leidens foi desafiada a encontrar cantos e recantos em CANELA E GRAMADO e criar um roteiro “FORA DA ROTA” para o IDA E VOLTA DA JORNALISTA FERNANDA PANDOLFI. Ela selecionou 10 locais superdescolados e vamos listar aqui embaixo cinco deles. O roteiro completo pode ser acessado no site www.carlaleidens.com.br ou no perfil da Relações Públicas da Serra Gaúcha @carla_leidens

CASA DO ALECRIM

Ah, como descrever esse lugar? Antiquário, loja, restaurante, tudo em um mesmo lugar. Cheio de história, de afeto e de comida boa. Aberto todos os dias, mas com roteiro de almoço somente mediante reserva, o casarão antigo é comandado por Margarida Weber, que já foi secretária de turismo de Canela. Ela entende demais de bem receber e de preservar a história. Cada peça tem um caminho, um passado e tudo é lindo. Reservamos o almoço e encontramos a mesa posta, detalhes que encantam, uma das melhores galinhadas que já provei e pessoas que acolhem. Tem ainda a visita à Capela de Santa Cecília, com a Nossa Senhora Desatadora de Nós, mas a Fê Pandolfi vai contar melhor lá no blog essa história.

Estrada da Ferradura, Canela @casa_doalecrim 20

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GUINCHOS BURGUER E ASSADOS

Posso dizer sem medo de errar que esse é “o” café da manhã da região. Um café raiz, para os fortes. Somente aos sábados, das 8h às 10h, com horário marcado e grupos de até 5 pessoas. Só isso já me deixou curiosa. Mas tem também a figura do guincho, que ri com os olhos. E, a comida, claro: torrada, pão com peito d defumado e queijo, bacon (feito pelo Guincho), ovo perfeito, panquecas com doce de leite e frutas. Coma à vontade.

Av. Primeiro de Maio 1981, sala 20, Várzea Grande - Gramado @guinchosburgerseassados


CASA FRANCESA

Uma autêntica boulangerie em Canela. Sim, verdade. Frederic Onraet é francês e um genuíno padeiro. Mariane, sua esposa, cuida da loja e ele é responsável pela produção de pães, brioches e croissants. É parada para um café da manhã francês, para buscar uma baguete quentinha ou para a cesta de piquenique, que foi a nossa escolha nesse roteiro.

Av. José Luiz Corrêa Pinto, 299, Canela @casafrancesa_

PASSEIO DAS CORES

Um lugar para passear, para fotografar e para encontrar amigos e muita arte, bem no coração da cidade de Canela. Painéis grafitados, recantos coloridos. Totalmente instagramável.

VERDE VERSO

Orgânicos e naturais, assim são todos os produtos apresentados pela Verde Verso. Mas, eles também vendem o conceito do cuidado com a natureza e o respeito pelo outro. Desde 2018 Danilo e Renan vivem o mundo sustentável e fazem a ponte entre o agricultor e o consumidor consciente.

Av. José Luiz Corrêa Pinto, 299, Canela @verde_verso

Coletivo de arte Painéis grafitados Espaço para a criançada brincar Locação de salas Escada instragramável Cenários para lindas fotos

Avenida Osvaldo Aranha, 333 – Canela @passeiodascores Estilo Zaffari

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Humanas criaturas T E T Ê

PAC H E C O

SANIDADE ELÁSTICA

Viver no Brasil de 2021 traz esta sensação de estar nauseado, entre o bem-estar e o não estar nada bem. Alguém que se diz bem, em meio a tudo que estamos vivendo, desculpe, mas não pode estar nada bem. Talvez negando o sofrimento, próprio e dos outros, ou, egoistamente, vendo tudo mas não se sentindo atingido. Indiferença não é bem-estar. Por outro lado, alguém que não se sente bem e reconhece o sofrimento próprio e alheio sabe que deve pedir ajuda ou ajudar quem precisa, pode estar mais próximo do bem-estar. Dá alívio saber que fazemos parte de algo, em conjunto, nem que seja de um problema. Sentir-se mal dentro desse contexto não é solitário. A solidão que mora nas certezas e nas negações é tóxica para o ser humano. Você já se sentiu num mesmo dia ótimo e péssimo? Com uma gaveta desarrumada interior na qual é difícil encontrar o que você quer? Eu sim. Muitas vezes perdi o ponto da clareza. Duvidei da realidade. Sinceramente, ter vez ou outra a sanidade abalada, por incredulidade, me fez desenvolver um tipo de

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resiliência nova. Chamei de sanidade elástica. Como se eu visitasse a loucura até um ponto de esgarçamento para de lá voltar, projetada como num estilingue, direto para dentro da minha consciência saudável. Como num teste de força. Um cabo de guerra comigo mesmo. Um lado que vê e outro simplesmente não acredita no que vê. Ninguém melhor do que o filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman descreveu o estado de ser contemporâneo, desfragmentado entre a virtualidade e a vida real, que ele chamou de existência líquida. Por ser frágil, maleável, fugaz. Com essa ideia brilhante, Bauman escreveu sobre nosso tempos, sobre amor, prazer, consumo, relações econômicas, política, a ideia de felicidade, tantas visões profundas e reveladoras. O mundo perdeu Bauman em 2017, aos 92 anos. Infelizmente, não podemos perguntar a ele a sua visão sobre o Brasil-21. Mas podemos imaginar.

TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA


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Sabor

Cozinha da natureza P O R F OTO S

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B E T E

D U A R T E

L E T Í C I A

R E M I Ã O


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Sabor Quando a temperatura começa a baixar, as araucárias deixam cair suas sementes e tem início a safra de pinhões. Um sinal de que o inverno se aproxima e que a mesa dos brasileiros, principalmente do Sul do país, ganha um ingrediente versátil e repleto de história. Em volta da fogueira, desde os tempos pré-colombianos (habitados pelos povos nativos da América espanhola, antes da chegada de Cristóvão Colombo, em 1492), já era conhecida a sapecada, forma de consumir o pinhão torrado em meio às grimpas (galhos secos da araucária). Os povos indígenas (caingangues e guaranis) e os tropeiros que iam e vinham pelo Brasil de antigamente levando mercadorias ajudaram a disseminar a espécie, fãs que eram das sapecadas. A versatilidade do pinhão na culinária, no entanto, vai muito além do consumo assado ou cozido. A semente tão típica do inverno do sul do país tem despertado interesse de chefs, cozinheiros e apreciadores da boa mesa, além de contribuir em muito para o sustento de diversas famílias.

RODRIGO BELLORA O chef Rodrigo Bellora, proprietário dos restaurantes Valle Rústico (Vale dos Vinhedos), Guaraipo Bar e Cozinha (Farroupilha) e Tubuna Cultura Gastronômica (Bento Gonçalves), é um desses interessados. Há três anos realizou uma expedição de estudo sobre o pinhão, visitando áreas de produção e famílias que têm no pinhão uma importante fonte de renda. Durante a expedição, conheceu diferentes tipos de pinhão e alguns catadores que integram a Cadeia Solidária das Frutas Nativas. Foi a partir daí que Bellora, que já tinha o projeto Cozinha da Natureza, passou a desenvolver diferentes receitas em que o pinhão tem destaque. Uma prova do resultado pode ser conferida nos cardápios dos restaurantes do chef. São pratos que vão da

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entrada ao prato principal, até a sobremesa. O que mostra como o pinhão pode ser utilizado desde na cozinha mais rústica até em pratos mais sofisticados. Um prato muito tradicional é a paçoca de pinhão, herança cultural dos tropeiros, pela mais longa conservação e facilidade de transporte. Eles a utilizavam como café da manhã, almoço, café da tarde e também no jantar. O preparo era bem simples: o pinhão assado era picado pequeno e fritado com a carne na panela de ferro. Depois, era só juntar os temperos. O chef Bellora acredita que essa receita poderia estar mais presente em bares e restaurantes como uma entrada. Esse preparo ganha, pelas mãos do chef, a parceria do porco moura e da mostarda de butiá. São muitas as versões de pratos com pinhão nas casas de Bellora. O nhoque com molho de tomate fermentado e lardo (toucinho) é um deles. O chef mostra outro exemplo da versatilidade da semente no preparo do canolli recheado de siri e queijo de cabra. A massinha do canolli pode ser utilizada também para o preparo com recheios doces.

ANDREA SCHEIN A chef Andrea Schein, professora de Gastronomia e especialista em macarons, também vê grandes possibilidades no uso do pinhão, principalmente em preparos para quem tem restrições ao glúten. É possível substituir a batata e a farinha de trigo em praticamente qualquer receita. “No caso de bolos, por exemplo, pode dispensar parte da farinha, e o resultado é muito bom.” Para demonstrar uma das adaptações, a confeiteira desenvolveu a receita de financier em que a semente da araucária é transformada em farinha e integra a lista de ingredientes. Para acompanhar, a chef recomenda servir com schmier de uva. Outra versão apresentada por Andrea Schein é a de pudim de leite condensado com pinhão. Mas não vá esperando cremosidade, a consistência é mais firme, semelhante à do pudim de pão.


SÃO NECESSÁRIOS CERCA DE 20 ANOS PARA QUE A ÁRVORE, QUE PODE ATINGIR 50 METROS DE ALTURA COM TRONCOS DE ATÉ 2 METROS DE DIÂMETRO, DÊ INÍCIO À PRODUÇÃO DE PINHÕES

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Sabor

A AVE QUE PLANTA A gralha-azul é considerada uma das responsáveis pela dispersão da araucária. Ela costuma transportar as sementes para se alimentar em outros locais e tem por hábito esconder os pinhões no solo para comer depois, e assim, involuntariamente, planta a semente, que acaba por germinar, dando origem a novas árvores. A importância desse pássaro para o cultivo do pinhão fez surgir lendas sobre ela. Como a que conta que há muito tempo a gralha era apenas parda, semelhante a outras da espécie. Mas um dia, ela resolveu pedir a Deus uma missão que a fizesse útil e importante. Deus lhe deu um pinhão, que a gralha pegou com o bico, com toda força e cuidado. Abriu o fruto e comeu a parte mais fina. A outra parte resolveu guardar para depois, enterrando-a no solo. Alguns dias depois, esqueceu o local onde havia enterrado o restante do pinhão. Procurou muito, mas não a encontrou. Mais tarde, percebeu que havia nascido uma pequena araucária na área onde havia enterrado a semente. Então, feliz, a gralha cuidou daquela árvore com todo amor e carinho. Quando o pinheiro cresceu e começou a dar frutos, ela começou a comer uma parte dos pinhões e enterrar o restante, dando origem a novas araucárias. Em pouco tempo, conseguiu cobrir grande parte da mata com milhares de pinheiros, dando origem à floresta de araucária. Quando Deus viu o trabalho da gralha, resolveu lhe dar um prêmio: pintou suas penas da cor do céu, para que as pessoas pudessem reconhecer naquele pássaro seu esforço e dedicação. Assim, a gralha, que era parda, tornou-se azul.

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LENDA DA ARAUCÁRIA Há muitos e muitos anos, viviam nas matas paranaenses várias tribos indígenas. Entre elas estava Curiaçu, o mais alto, mais forte e melhor caçador de sua tribo. Um dia, Curiaçu saiu para uma caçada e embrenhou-se na mata seguindo os rastros de uma onça-pintada. Foi quando avistou Guacira, filha do pajé da tribo inimiga, que coletava ervas curativas. Sem que Guacira percebesse, a onça se aproximou da moça e, quando a viu, já era tarde demais para fugir. A onça pulou em sua direção, mas Curiaçu armou-se do arco e soltou uma flecha ligeira, atingindo mortalmente a fera. Guacira levou tamanho susto que acabou desmaiando. Curiaçu correu até ela, pegou-a no colo e levou-a até o rio para lhe molhar o rosto e acordá-la. Ao despertar, os dois trocaram olhares apaixonados. No entanto, um guerreiro da tribo de Guacira viu a cena de longe, reconheceu Curia-

çu e pensou que a filha do pajé estava sendo raptada. Chamou os companheiros, que cercaram Curiaçu e o atingiram com várias flechas. Mesmo assim o guerreiro reagiu e conseguiu fugir, levando Guacira pela mata adentro. Sentindo que as forças chegavam ao fim, pediu a Guacira que escondesse seu corpo, pois não queria ser encontrado pelos inimigos. A índia encontrou um buraco, escondeu Curiaçu e o cobriu com folhas. Quando os guerreiros foram embora e já não havia mais perigo, Guacira tentou encontrar Curiaçu para utilizar todas as ervas que conhecia para curar o amado. Mas não o encontrou. Algum tempo depois, naquele exato local, surgiu uma árvore enorme, lindíssima, de tronco marrom escuro, como o dorso de um índio. Seus galhos pareciam flechas cravadas no tronco. Foi assim que surgiu a primeira araucária, o pinheiro-do-paraná.

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Sabor

Dicas Abrir o pinhão pode ser uma dificuldade. Quem não tem um abridor especial pode apelar para um pequeno truque: fazer um corte na ponta do pinhão, antes de colocá-lo para cozinhar ou assar. Cozidos em panela de pressão por cerca de 40min, ficam macios e mais fáceis de descascar. É bom deixar para colocar o sal quase no final do cozimento. Para utilizar em receitas de bolos ou pães, é preferível que sejam cozidos, descascados, frios e só então triturados.

História A araucária angustifólia pode ser considerada fóssil vivo, existe há milhões de anos. Uma prova disso é que, no final dos anos 2000, pesquisadores do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica e do museu da cidade gaúcha de Mata encontraram um pinha fossilizada na cidade de Faxinal do Soturno, no Rio Grande do Sul. Depois de ocupar uma área de 200 mil quilômetros quadrados, a araucária é encontrada, hoje, em vastas áreas de clima temperado chuvoso do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná e tem presença esparsa no sudeste e nordeste de São Paulo, sul de Minas Gerais, sudeste do Rio de Janeiro e no leste da província de Missiones (Argentina). Mas, somadas, não chegam a 4% da área original. A exploração da madeira colocou a araucária na lista das espécies ameaçadas de extinção. Atualmente, o corte da árvore é proibido. 30

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O PINHÃO É TÃO VERSÁTIL QUE ATÉ VIROU INGREDIENTE DE CERVEJAS. APESAR DE SEREM SAZONAIS, PODEM SER ENCONTRADAS EM DIFERENTES VERSÕES, PRODUZIDAS EM CAMPOS DO JORDÃO, LAGES, TAUBATÉ E VISCONDE DE MAUÁ, CIDADES EM QUE O PINHÃO ESTÁ MUITO PRESENTE Estilo Zaffari

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Sabor Paçoca de Pinhão e Porco Moura, Demi glace e Mostarda de Butiá P O R

R O D R I G O

B E L LO R A

PAÇOCA DE PINHÃO 300 G DE PINHÃO COZIDO 150 G DE CARNE DE PORCO MOURA ASSADO 20 G DE DEMI GLACE 20 G DE CEBOLA 20 G DE ALHO-PORÓ 20 G DE ERVAS AROMÁTICAS 10 G DE MOLHO DE PIMENTA 6 G DE SAL MOSTARDA DE CREM 250 ML DE ÁGUA 500 G DE MOSTARDA AMARELA EM GRÃO 500 G DE MOSTARDA NEGRA EM GRÃO 500 G DE POLPA DE BUTIÁ SAL A GOSTO PIMENTA A GOSTO DEMI GLACE 4 LITROS DE ÁGUA 1 KG DE OSSOS DE CARNE 75 G DE CENOURA 35 G DE SALSÃO 150 G DE CEBOLA 35 G DE ALHO-PORÓ ERVAS AROMÁTICAS A GOSTO FINALIZAÇÃO – PARA 1 PORÇÃO FOLHAS DE RÚCULA, AZEDINHA E AGRIÃO. CHIPS DE TUBÉRCULOS

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MODO DE FAZER A PAÇOCA: Triture o pinhão e metade do porco (assado) juntos. O restante do porco deve ser bem desfiado. Pique em brunoise (cubinhos) a cebola, o alho-poró e as ervas aromáticas. Misture tudo com o demi glace e tempere com o sal e o molho de pimenta. Armazene em sacos a vácuo e congele. Corte nos tamanhos desejados e, em uma chapa de ferro, grelhe as paçocas de todos os lados. MODO DE FAZER A MOSTARDA DE CREM: Coloque os grãos de mostarda em uma vasilha grande e cubra de água, até que fiquem submersos. Atenção: eles irão inflar e expandir, portanto não encha mais do que meia vasilha. Cubra a vasilha com uma touca descartável e deixe fermentar de 5 a 7 dias, dependendo da temperatura ambiente. Se necessário, à medida que os grãos forem inflando, vá completando de água, de maneira a mantê-los sempre submersos. Passado o período de fermentação, retire a água. Coloque a mostarda aos poucos no vitamix, junte com a polpa e a água, proporcional à quantidade de grãos colocados. Bata tudo até ficar na consistência de mostarda. Acerte o sal. MODO DE FAZER O DEMI GLACE: Coloque os ossos em uma assadeira e asse, a 180 graus, até que fiquem ligeiramente tostados (aproximadamente 1 hora). Ponha os ossos em uma panela e cubra-os com água. Junte os legumes e as ervas aromáticas. Deixe ferver em fogo baixo entre 4 a 6 horas e vá retirando a gordura que fica na parte superior. Retire os ossos. Deixe reduzir por mais 6 horas até que forme o demi glace. E, por fim, coe. MONTAGEM: Distribua 4 ou 6 paçocas pelo prato e coloque 1 colher da mostarda de crem, demi glace, o chips de tubérculos e as folhas amargas dispostos em cima da paçoquinha. Sirva.


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Sabor

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Canolli de Pinhão com Siri e Queijo de Cabra P O R

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B E L LO R A

200 G DE PINHÃO COZIDO 80 G DE FARINHA DE MANDIOCA 80 G DE CALDO DE LEGUMES 200 G DE SIRI CATADO 30 G DE QUEIJO DE CABRA 20 G DE ERVAS AROMÁTICAS 6 G DE SAL 5 ML DE SUCO DE LIMÃO

MODO DE FAZER: Processe o pinhão cozido com o caldo. Após, adicione a farinha de mandioca. Misture e reserve a massa. Tempere com sal e pimenta. Após, abra com um rolo na espessura de um pouco menos que 0,5 cm. Corte e enrole em um cano para canolli. Frite por imersão. Reserve. Para o recheio, misture o siri catado, o queijo de cabra, o suco de limão, as aromáticas e sal e pimenta. Recheie os canollis com a pasta de siri.

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Nhoque de Pinhão com Molho de Tomate Fermentado e Lardo P O R

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B E L LO R A

500 G DE PINHÃO COZIDO 400 ML DE CALDO DE LEGUMES SAL E PIMENTA 200 G DE TOMATE-CEREJA 2 G DE SAL 200 G DE MANTEIGA DE ERVAS 15 G DE ALHO NIRÁ DESIDRATADO 50 G DE LARDO (TOUCINHO)

MODO DE FAZER: Corte os tomates ao meio, adicione os 2 g de sal e coloque em um saco a vácuo. Deixe fermentar por 1 semana em temperatura ambiente. Após, triture os tomates. Triture bem o pinhão até virar uma farinha. Adicione água aos poucos até formar uma massa suficientemente firme. Adicione o sal e modele bolinhas uniformes com a massa. Sele os nhoques em manteiga de ervas. Sirva 5 ou 6 nhoques sobre uma concha pequena do molho frio. Finalize com lardo finamente fatiado e alho nirá desidratado.

SÃO FRANCISCO DE PAULA É A MAIOR PRODUTORA DE PINHÃO DO RIO GRANDE DO SUL. NESTE ANO A PREVISÃO É DE QUE SEJAM COLHIDAS 120 TONELADAS DA SEMENTE

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Sabor

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Financier de Pinhão P O R

A N D R E A

S C H E I N

100 G DE MANTEIGA DERRETIDA 120 G DE AÇÚCAR 100 G DE PINHÃO COZIDO E MOÍDO 80 G DE FARINHA DE TRIGO OU FARINHA SEM GLÚTEN 4 G DE FERMENTO EM PÓ 100 G DE CLARAS EM NEVE 1 PITADA DE SAL SCHMIER DE UVA (OPCIONAL)

100 G DE PINHÃO DESCASCADO CORRESPONDEM A APROXIMADAMENTE 192 CALORIAS

MODO DE FAZER: Misture o pinhão moído, o açúcar e a farinha e peneire. Junte a manteiga derretida e misture. Bata as claras com uma pitada de sal até que comece a montar sem formar picos. Junte às claras, aos poucos e delicadamente, a mistura anterior. Acrescente o fermento, misture e deixe descansar sob refrigeração por no mínimo 6 horas. Unte as forminhas com manteiga e polvilhe farinha. Coloque massa até ¾ da forminha. Leve ao forno preaquecido, a 180 graus, por cerca de 10 min a 20 min (depende do tamanho da forma do financier). Retire do forno e desenforme imediatamente. Sirva com schmier de uva. Conservar em pote fechado sob refrigeração. DICA: Esta massa pode ficar sob refrigeração por até 3 dias. Ou ser congelada e descongelada sob refrigeração.

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Sabor

Pudim

P O R

350 G DE LEITE 80 G DE PINHÃO COZIDO E DESCASCADO 350 G DE LEITE CONDENSADO 3 OVOS CRUMBLE DE PINHÃO 20 G DE MANTEIGA GELADA 30 G DE AÇÚCAR 50 G DE PINHÃO MOÍDO 20 G DE FARINHA DE ARROZ 20 G DE POLVILHO DOCE

A N D R E A

S C H E I N

MODO DE FAZER: Pincele com glucose incolor ou Karo o fundo e as laterais de uma forma de pudim de 18 cm de diâmetro. Aqueça o leite com os pinhões sem deixar ferver. Em seguida bata a mistura no liquidificador, formando um creme rústico (sem desmanchar totalmente o pinhão). Junte os ovos e o leite condensado, bata na menor potência, somente para misturar. Deixe a mistura esfriar completamente antes de colocar na forma. Leve ao forno preaquecido, em temperatura baixa e em banho-maria quente, por cerca de 40 min. Retire do forno. Assim que esfriar, coloque sob refrigeração. Quando estiver gelado passe uma espátula nas laterais e desenforme. Pode acompanhar com um crumble de pinhão. MODO DE FAZER O CRUMBLE: Coloque no processador a manteiga gelada e os demais ingredientes, na função pulsar, até formar uma farofa. Ou use um garfo para formar a farofa. Retire do processador e espalhe a farofa sobre um tapete de silicone ou papel untado com manteiga. Leve ao forno preaquecido, a 170 graus, até dourar, levemente. DICA: Se desejar uma textura mais homogênea, pode congelar a mistura dentro da forma e colocar no banho-maria ainda congelado.

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Vida C E L S O

G U T F R E I N D

ÀS VEZES Para Paulo Gleich, que desencadeou a lembrança. Desembarquei na França em janeiro de 1996. Minha primeira residência foi numa comunidade de Ville Juif, subúrbio ao sul de Paris. Dorothéa Blaut, a proprietária, recebeu-me maternalmente. Ofereceu cobertores – era o inverno europeu –, parte substancial da geladeira e os seus amigos. Sobre alguns já contei no meu livro de crônicas parisienses, A Porta do Chapéu. Aqui aproveito para preencher a memória com os faltantes. Philippe, um senhor aposentado, frequentava pouco a casa e talvez por isso não tivesse cruzado a Porta do Chapéu. Mas aparecia de vez em quando e logo mostrou interesse pelo meu mestrado em psicanálise. A sua história com ela não tinha sido pouca coisa. Ele foi paciente de Jacques Lacan. Contou-me que o psicanalista já funcionava de acordo com o tempo lógico e, ao chegar no consultório, encontrava um grupo numeroso na sala de espera. Com critérios que externamente a todos escapavam, Lacan ia escolhendo quem entrava. Eram outros tempos, de mais tempo, talvez. O então jovem Philippe era o último a ser escolhido. Invariavelmente. Certa vez, iniciou a consulta externando a raiva diante desse fato e o quanto ele reativava antigos sentimentos de rejeição. Lacan teria dito a ele que a rejeição era uma parte da história, mas havia outra que ele, Philippe, estava omitindo. Depois de algum silêncio, veio o insight sob a forma de pergunta:

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– É porque sou chato? Lacan não teria confirmado literalmente a chatice de seu cliente. Mas, em palavras já polidas (ou desgastadas) pelo tempo, teria dito que, sim, de fato, ele não despertava em gestos, olhares ou atitudes o menor desejo pelo outro. Depois, dentro ainda da sua lógica do tempo, dispensou Philippe, como quem dissesse que, pelo menos naquele dia, não poderia haver nada de mais importante a acrescentar. Era chegada a hora de os dois metabolizarem, solitariamente, aquele conteúdo tão importante. Philippe valorizava o episódio como fundamental em sua vida, pois, a partir de então, teria pensando muito na sua própria “chatice”, evitando-a sempre que possível. Quanto a mim, a história sempre me volta em momentos clínicos onde me parece importante arriscar no que dissemos. Ou não dissemos. E, embora sigamos toureando, como em qualquer análise, abrimos mão de certo rame-rame como na vida que a sustenta. Mas a narrativa também me representa o quanto uma análise não é milagrosa e muito menos não combina com a palavra “sempre”. Se a presença de Philippe já era esporádica na casa de Dorothéa, ele pouco conseguia ser agradável. Mas às vezes conseguia e, aí sim, lembrávamos sempre do Lacan. CELSO GUTFREIND É PSICANALISTA DE CRIANÇAS E ADULTOS E ESCRITOR



Viagem

Um mergulho

T E X TO

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na história milenar

E

F OTO S

B E TO

C O N T E


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Alguns lugares nos remetem imediatamente aos livros escolares de História. O Egito Faraônico é um deles. Estar diante das pirâmides, dos tesouros da tumba de Tutancâmon, das estátuas colossais de Ramsés e dentro dos templos de Luxor e Karnak é como folhear novamente os textos e imagens emblemáticas de minha infância. A magia da antiguidade egípcia revivi com minha filha ao recontar para Elena as estórias daquela terra de múmias e faraós, ao folhearmos juntos um livro infantil do Antigo Egito, que permanece um de seus favoritos até hoje. Após um ano de “hibernação” em função da pandemia, foi sensacional quebrar o jejum de viagens retornando a um local tão significativo, que concilia uma história milenar com seu fantástico legado arqueológico. A localização entre mares e desertos protegeu por milênios a civilização do Nilo, mas sua posição estratégica, no encontro de África e Ásia, foi disputada por todos os grandes impérios da Mesopotâmia e do Mediterrâneo. Foi uma verdadeira viagem no tempo, desde a unificação do Alto e do Baixo Egito em 3100 a.C., passando pelas 30 dinastias da Antiguidade Egípcia, pelas invasões Assíria e Persa, pelo “revival“ faraônico greco-romano e pelo fim dessa ancestral cultura, com a cristianização bizantina e subsequente islamização árabe. A trama histórica prosseguiu com domínio omiade, abássida, fatimida, ayubida, mameluko e otomano. Além da invasão napoleônica, da colonização britânica, da monarquia local e da conquista da independência em 1952. A era Nasser, Sadat e Mubarak, a primavera árabe e os desafios atuais fecham esta longa história de 5 mil anos.

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AS GRANDES PIRÂMIDES

Nas necrópoles em torno de Memphis, a antiga capital do Baixo Egito no Delta do Nilo, os faraós do Reino Antigo construíram as maiores obras da Antiguidade. A era das grandes pirâmides se iniciou em 2650 a.C. com a pirâmide escalonada, em Saqqara, projetada por Imhotep para o faraó Zoser. Aprimorou-se com as pirâmides Inclinada e Vermelha, em Dashhur, do faraó Sneferu – fundador da 4a dinastia. E atingiu precisão matemática em Giza, ao longo do século XXVI a.C., com as pirâmides de seu filho Quéops, do neto Quefren e do bisneto Miquerinos. Uma experiência inesquecível foi penetrar na Grande Pirâmide de 146 metros de altura até a câmera funerária de Quéops. Incrível a sensação de estar no coração dessa obra faraônica, embaixo de 2,3 milhões de blocos de rocha calcária. Impressiona ainda mais o acabamento preciso desses blocos, que pesam em média 2,5 toneladas.

NILO: EIXO VITAL DA CIVILIZAÇÃO EGÍPCIA.

A imagem do Nilo está presente em qualquer menção ao Egito. A necessidade de um sistema administrativo e de uma autoridade central para conduzir as obras que controlassem as cheias do Nilo levou à constituição da primeira nação-estado e da figura do faraó. As obras coordenadas de diques, represas e irrigação possibilitaram controlar o mais extenso rio do planeta. O Nilo funciona como forma de transporte de pessoas, produtos e transmissão de conhecimento e cultura ao longo dos tempos. Por tudo isso, navegar pelo Nilo resgatou da minha memória juvenil as aulas de geografia do irmão José, na 7a série do colégio do Carmo, de Caxias do Sul, que a cada aula nos fazia viajar por partes de nosso maravilhoso mapa-múndi. É daquela época a visão do planeta como um grande mosaico, em que cada viagem, palestra, livro ou filme vai completando a imagem final.

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Viagem

Navegamos pelo Nilo de Assuam a Luxor. Ao longo do caminho, há povoados ribeirinhos com os minaretes das mesquitas competindo com as palmeiras, e as áreas costeiras verdejantes contrapondo a aridez do deserto ao fundo. Passamos quatro prazerosos dias no ritmo e balanço do mais emblemático dos cruzeiros fluviais, atracando ao longo do caminho junto a templos dedicados aos Deuses que controlavam as forças da água e do sol. 50

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No percurso visitamos, à margem do Nilo, três templos do período Ptolomaico – a dinastia grega que dominou o Egito a partir de Ptolomeu I, um dos generais de Alexandre o Grande, que ficou com essa parte do império conquistado. Por 300 anos essa elite governamental grega adotou a cultura e a religião egípcia faraônica. Conhecemos bem o fim da história, com Cleópatra, filha de Ptolomeu XII, e a anexação do Egito ao im-


pério romano, que adota a imagem de “Cesar” como faraó e amplia templos dos Ptolomeus dedicados a Deuses Egípcios. Os templos de Philae, dedicado à deusa Isis, de Kombo Ombo, ao deus-crocodilo Sobek, e o de Edfu, dedicado a Horus, Deus do Egito Antigo que representa o poder do faraó e que harmoniza as forças entre o mundo terrestre e celeste, registram na pedra essa combinação da cosmologia do Egito Antigo com a estética greco-romana. Estilo Zaffari

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ABU SIMBEL

O meu complexo arqueológico preferido foi construído por Ramsés II no séc. XIII a.C. no limite do seu império, às margens do Nilo, na Nubia recém-conquistada, demarcando de forma majestosa a entrada de suas terras. Trata-se de dois grandes templos, os mais meridionais do Egito e entre os mais bem conservados, escavados em rocha de arenito. Enterrados na areia durante séculos, os templos foram descobertos parcialmente em 1813 pelo explorador suíço Burkhard. Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, Abu Simbel impressiona por suas dimensões grandiosas e sua história recente. Devido à construção da barragem de Aswan, que represa o Nilo formando o lago Nasser, os templos ficariam submersos. Na década de 1960, com a ajuda da Unesco, foi empreendido um grande e milionário esforço para desmontar os dois templos, peça por peça, e reconstruí-los mais no alto. O Templo de Ramsés tem uma fachada de 30 metros de altura e 40 metros de comprimento, com quatro enormes estátuas do faraó. Salas e corredores entalhados na rocha, com afrescos e baixos-relevos, se estendem por 55 metros até o santuário, onde duas vezes por ano, em um ato de perfeição astronômica, o sol atravessa o templo ao amanhecer para iluminar as estátuas dos deuses. Já o templo ao lado, dedicado à Deusa Hator foi construído em homenagem à esposa preferida de Ramsés, Nefertari.

ASWAN

Uma experiência única foi pernoitar no hotel Sofitel Legend Old Cataract, construído em 1899 por Thomas Cook para receber viajantes europeus em busca dos templos do Egito faraônico no vale do Nilo. A localização não poderia ser melhor, em um penhasco junto ao rio e em frente à ruína de um templo, com dunas do deserto ao fundo. No final da tarde velejamos em uma felluca, embarcação tradicional da Antiguidade Egípcia, e à noite jantamos no restaurante 1902, que leva no nome o ano de sua abertura, comemorando a inauguração da represa britânica de Assuam. O arqueólogo Howard Cárter, que descobriu a tumba de Tutankhamon, hospedou-se lá, assim como Ágatha Christie, que ambientou no hotel parte de seu romance “Morte no Nilo”.Também ficaram no hotel personalidades como o Tsar Nicholas II, Winston Churchill, Jimmy Carter, François Mitterrand, a princesa Diana e Queen Noor. A série árabe no Netflix “O segredo do Nilo” também foi ambientada na “minha casinha”. Adoro esses lugares com uma boa história.

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LUXOR

O lugar que mais me faz viajar no tempo é Luxor, a antiga Tebas, capital do alto Egito por mais de um milênio. O templo de Luxor, dedicado ao Deus Amon-Min, força e fidelidade, foi iniciado por Amenofis III em 1420 a.C. e ampliado por Ramses em 1245 a.C. Alexandre, o Grande, anexou um santuário no século IV. Abandonado com a cristianização do império romano, apenas no século XII retoma a atividade, com uma mesquita construída no local. A longa avenida de esfinges o liga com Karnak, o maior complexo de templos do Egito, com 1.800m por 800m. Foi ampliado ao longo de 2.200 anos – da XVII dinastia faraônica ao período romano. Seu imenso templo de Amon, de 26 hectares, foi o mais importante centro cerimonial ao longo do Novo Império (1500 a 1000 a.C.). Sempre me impressiona a Sala Hipóstila, com suas 134 colunas maciças, seus obeliscos e estatuária. Champolion, ao decifar em 1822 a escrita hieroglífica, fez aflorar dos obeliscos e baixos-relevos os fatos e feitos de Amenofis, Hatshepsut, Tutmosis e Ramses II. Aconselho finalizar com o Museu de Luxor, para um último “olho no olho” com os personagens da história de Thebas como centro político e cerimonial do Egito.

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VALE DOS REIS

Enquanto a capital era em Menphis (3200 a 2200 a.C.), no Baixo Egito, os faraós eram sepultados em pirâmides. A partir do Reino Médio, quando a capital muda para o sul, em Thebas no Alto Egito, os faraós passam a ser sepultados no deserto, na base de uma montanha – já no formato natural piramidal. No vale dos Reis, na margem ocidental do Nilo em Luxor, já foram descobertas 63 tumbas escavadas na rocha – de 1600 a.C. (Tutmosis I) a 1000 a.C. com as câmeras funerárias de faraós da XVIII à XX dinastia. Nas tumbas do Vale dos Reis os corredores são ricamente decorados com hieróglifos em baixos-

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-relevos coloridos com textos do livro dos mortos e do livro das horas, preparando para a viagem a próxima vida. A tumba que mais me fascina no Vale dos Reis é a de Tutankhamon. Quando criança li sobre a “maldição” que recaiu sobre todos os envolvidos na sua descoberta em 1922. A aventura recontada à minha filha Elena, que arregala seus já grandes olhos azuis, me faz sentir o próprio arqueólogo Howard Cárter entrando na tumba intocada, com seus impressionantes tesouros, que hoje estão no Museu Egípcio do Cairo. Em 2022 celebra-se o centenário da descoberta da tumba de Tutankhamon, com seu

sarcófago e tesouros intactos. Do outro lado da montanha tem o Vale das Rainhas, com a imponente tumba de Hatshepsut – esposa real, regente e rainha-faraó do Antigo Egito. Viveu no começo do século XV a.C., pertencendo à XVIII Dinastia do Reino Novo. O seu reinado, de cerca de 22 anos, corresponde a uma era de prosperidade econômica e relativo clima de paz. Uma experiência inesquecível é o voo de balão a partir do desértico Vale dos Reis, sobrevoando o Nilo e os templos, Luxor e pousando nos campos verdejantes no entorno da cidade. Bárbaro! Digo, faraônico! Estilo Zaffari

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Viagem CAIRO

Desde a conquista árabe em 642 d.C., o centro geopolítico gira em torno do Cairo, capital do país com 10 milhões de habitantes. Destaco o Museu Egípcio do Cairo, que nos conduz, com suas obras, desde a unificação do Alto e Baixo Egito em 3.100 a.C. ao período dourado das pirâmides, com a estátua de Quefren talhada em uma única pedra de diorito, o tesouro de Tutankhamon, obra-prima da arte funerária do Novo Reino, até a queda da última dinastia, dos Ptolomeus, em 30 a.C. Parte do seu acervo, como o setor das múmias, já se encontra no Museu Nacional da Civilização Egípcia, e a maior parte de suas 124 mil peças está sendo transferida para o Grande Museu Egípcio, a ser inaugurado junto às pirâmides. Motivo para retornar! Outro local que sempre revisito é o baazar Khan el Khalili – uma viagem ao período Mameluco do Cairo, com seus arcos e ruelas cheias de cor, e o café onde Naguib Mahfouz, prêmio Nobel de Literatura de 1988, escreveu “A Trilogia do Cairo”, em que cada um dos livros é batizado com o nome de um bairro da capital egípcia.

SINAI – A PARTE ASIÁTICA DO PAÍS.

Após ter mergulhado na milenar história do Egito faraônico fechei a visita ao país com chave de ouro, relaxando nas águas do Mar Vermelho, na Península do Sinai. Gosto muito dessa combinação de imersão cultural terminando com alguns dias de lazer. Foi maravilhoso desfrutar do Four Seasons Sharm El Sheik, que parece um povoado do deserto, com suas torres ocres das áreas comuns e as acomodações espalhadas em diferentes níveis e por entre os jardins da propriedade. Sempre com vista para o Mar Vermelho, mais azul impossível. Adorei o “house reef” que se acessa diretamente do píer do hotel e me transportava ao mundo mágico subaquático – multicolorido e com formas diversas – e o passeio de Yatch em Ras Muhammad, o mais antigo parque nacional do país. Fiz scuba diving pela manhã e à tarde, neste que é considerado um dos melhores spots de mergulho do mundo, com mais de mil espécies de peixes, além das tartarugas marinhas que adoro. Pretendo voltar para fazer mergulho de naufrágio junto aos destroços do SS Thistlegorm. Recomendo bem o Farsha Café – um restaurante superdescolado em um penhasco junto ao mar, ambientado como antiquário, lounge music, iluminação e decoração étnica compondo um ambiente único. Adorei o astral. Gostei demais desses dias na Península do Sinai, nome que nos remete aos textos bíblicos, bem como por sua posição estratégica: junto ao disputado canal do Suez de um lado, Israel e faixa de Gaza do outro. Um lugar idílico para sol e mar, com sua pitada de história e geopolítica, bem como eu gosto.

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Viagem

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ALEXANDRIA

Se o mundo dos faraós reforça meus laços de curiosidade com Elena, é em Alexandria que me conecto com meu mentor cultural, o historiador Alexandre Roche: o humanista francês que concebeu há três décadas os nossos “Grand Tours”, viagens de imersão cultural que conduzo, dando continuidade a seu legado. O casal Roche vivia na comunidade francesa de Alexandria até 1956, quando tiveram de partir em função das políticas xenofóbicas nasseristas. Porto Alegre ganhou com isso um de seus maiores intelectuais, que formou várias gerações na civilização francesa e geopolítica global. Após mais de uma década de viagens juntos explorando as diversidades regionais da França, tive o privilégio de acompanhá-los no retorno a Alexandria após meio século. Foi emocionante proporcionar que resgatassem o passado afetivo no “lycée” onde o professor e a aluna se conheceram, a morada do casal e a praia onde Mme. Roche ia com as filhas. A cidade fundada por Alexandre, o Grande, estará sempre ligada a esse outro Alexandre que tanto admiro e que me treinou a ver o mundo sempre com as conexões no tempo e espaço. Ensinamentos e olhar que busco transmitir à minha filha Elena.

VIAJE COM O BETO Em fevereiro 2022 Beto acompanha o Grand Tour Egito refazendo o itinerário apresentado nessa matéria. Uma ótima oportunidade de explorar as belezas do país em pequeno grupo com todo o suporte de quem conhece bem o destino. ROTEIRO DETALHADO NO WWW.TRIPTRAVEL.COM.BR/VIAGENS CLIQUE E CONFERA O EPISÓDIO EGITO DA SÉRIE BETO NO MUNDO NO CANAL WWW.YOUTUBE.COM/TRIPTRAVELTUR + INFORMAÇÕES 51 99314.0587

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O sabor e o saber F E R N A N D O

LO K S C H I N

O NOME QUE SE COME: DIZ-ME O processo de desumanização dos judeus que permitiu o holocausto ocorreu paralelo ao uso de estrelas costuradas no peito, números tatuados no braço e nomes impostos. Sancionada pelo parlamento alemão em 1938, a Lei dos Nomes exigiu que todos os judeus com prenomes laicos assumissem os nomes Israel ou Sara. Era crime a não explicitação desses nomes de qualificação racial em qualquer correspondência, documentação, assinatura, apresentação e mesmo conversa informal. Os nomes eram encravados imediatamente antes do sobrenome, a posição de designação no idioma alemão. Assim como Wolfgang Amadeus Mozart é conhecido como Amadeus Mozart, um Horst Israel Levy tornava-se Israel Levy. Judeus estrangeiros ou exilados passaram a ter o pronome ‘Jud’ – ou Halbjud, ‘metade judeu’ – atrelado a seus nomes na linguagem falada e escrita: Jud Trotsky, Jud Einstein, Halbjud Laguardia. Recém-nascidos arianos não podiam receber nomes judaicos ou bíblicos. Aos alemães que já os possuíssem foi facilitada a correção: Um Israel passou a Oesterhelt, Christa virou Krista. O nome Adolf tornou-se tão popular que teve seu uso regulamentado, foi interditado em cavalos de corrida, cachorros e gatos. O Reich de 1000 anos durou 12. Graças à derrota, o nome Adolf perdeu o glamour e as 22 entradas

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com o sobrenome Hitler da Lista Telefônica de Nova York em 1933 escafederam-se em 1945, substituídas por Hillers e Hiltons. William Hitler, o sobrinho do fuhrer que lutou na marinha norte-americana, repaginou-se como William Houston. Por outro lado, muitos sobreviventes judeus que migraram para a Palestina começaram novas vidas trocando seus nomes germânicos ou russos por hebraicos: David Ben Gurion chamava-se David Brun e Golda Meir nasceu Golda Meyerson. Assim como os judeus no III Reich, os escravos no Brasil tinham os nomes arbitrados por seus senhores no momento da compra. No Império Romano os escravos eram chamados pelo prenome do proprietário junto ao sufixo ‘por’ (afim ao L. puer, ‘criança’), p. ex., Gaiupor, escravo de Gaius. Não era muito diferente com as mulheres romanas: todas as filhas de um casal dividiam o mesmo registro civil, o feminino do sobrenome paterno, p. ex., Faustina ou Priscilla. Ao casar, mantinham o prenome paterno e assumiam o sobrenome do marido: Antonia Pompeii, filha de Antonio, esposa de Pompeu... Marca sonora de identidade, o nome é a sombra do homem, “pedaço da alma”, diz Freud em Totem e Tabu. Intervir no nome é violentar a pessoa, imposição típica das tiranias, prisões, ordens religiosas e manicômios. Já no latim nomen tem o sentido de ‘reputa-


O QUE COMES E DAREI TEU NOME ção’. Se o anônimo esconde o nome, o renomado tem o nome repetido por todos. Ignomínia, termo bíblico, é uma grande desonra, o nome exposto, ‘sujo na praça’. Conforme Plínio (Séc. I), os Atlas não eram humanos por não terem nem sonhos, nem nomes. Na mais famosa das histórias infantis, Alice recebe de um mosquito o conselho de renunciar ao nome pelas vantagens do anonimato e da insignificância: “a governanta não teria como lhe chamar para as lições...” Uma universal cultural, o nome tende a individualizar o indivíduo com referência a origem, atividade, afiliação, vassalagem, características físicas, atributos ou valores. Natural que a dieta, tão relacionada à cultura, à subsistência e ao prazer, passasse à onomástica. Diz-me o que comes e darei teu nome. Magri, Graciliano, Delgado e Gerda significam ‘magro, franzino’; Fialho é um ‘fiapo’, Virgílio, Virgolino vem de ‘vara’, alguém magro como uma vara. Os nomes italianos Grassi e Grossi, o árabe Maluf, o francês Randon e o russo Tolstoi, todos têm o senti-

do de ‘gordo’. Mangione e Goulart (<F. goula, como em gula) descrevem o ‘glutão’ e Zuleica é a palavra árabe para ‘roliça’, gordinha. São comuns os nomes nascidos do comer: Cook e Koch são cozinheiros, Fishman e Fisher são pescadores, Hunter é caçador, Fleitcher é açougueiro, Shepherd, Cabreira, Pastore, Pastorino e Pasteur são todos pastores. O pão, o moinho, a farinha e o padeiro ressoam em vários idiomas: Brod, Brodt, Brodbeck, Baker, Muller, Mill, Milman, Mallory, Molina, Molinari, Farina e Centeno (<centeio). Curioso que Jesus – que se representou como pão, o mais simbólico dos alimentos – tenha nascido em Belém (H. Beit Lehem, ‘casa do pão’), uma padaria. Que o vinho harmonize o pão na Eucaristia dá sua transcendência na tradição judaico-cristã. Há os Vinhas, Vinhole, Vignole, Vinhatti, Videira, Weinn, e ainda o Barichello, ‘pequeno barril’, e o Cooper, ‘construtor de barris’.

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O sabor e o saber F E R N A N D O L O K S C H I N

Além de pão e vinho, Jesus é o Cristo, a tradução grega do H. Messias, na origem o ‘ungido’, untado em azeite. Ritos de sagração de papas e reis envolvem rituais com banhos de óleo, originalmente de oliva. A oliva, junto com o pão e o vinho, desenham o triângulo alimentar da cultura mediterrânea, daí os nomes Oliveira, Olivares, Olivetti, Olivier, Oliven, Oliver, os prenomes Nol (abreviatura de Oliver), Oli, Olívia e ainda Said, ‘oliva’ em árabe, base do termo azeite. O peixe, outra marca mediterrânea e cristã, e os frutos do mar comparecem em vários nomes. Pero Sardinha, o primeiro bispo do Brasil, foi devorado pelos Caetés assim que saiu do mar (após um naufrágio) em Pernambuco (1556). Nascido em Caetés, Pernambuco, o presidente Luiz Inácio acrescentou Lula ao nome – na verdade um hipocorístico de Luiz. Fernandes Vieira combateu os holandeses junto a Felipe Camarão, nome de batismo do índio Poti, que em tupi quer dizer ‘camarão’. André Calamares é um roqueiro argentino. Os únicos alimentos exclusivos são o leite o mel – não têm outro fim que não seja nutrir novas gerações. Canaã é a terra do leite e mel, a cidade do porvir. O sobrenome Leite invoca tanto pureza como cuidado materno e os nomes Milk, Milke e Milkman falam do leite e do leiteiro. Para acompanhar o leite, os políticos Café Filho e Epitácio Cafeteira. O mel está em Melissa, Melina e Pamela. Débora é a palavra hebraica para abelha e Iracema quer dizer enxame em tupi. O Mel masculino – Mel Gibson, Mel Brooks – é bem outro, o diminutivo de Melvile, ‘má vila’. Conheço duas Caramel e nenhum Caramelo. Nomes doces tendem a ser femininos: Dulce, Dulcinda e Ducineia, a musa de Quixote. Mas sons

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podem enganar, Saccaro, sobrenome siciliano, não vem de sacarose, mas do A. saqqua, o ‘carregador de água’, o mais fundamental dos alimentos. Nomes temperados, há Salgado e Salter, há Pimenta, Pimentel e Pepper, como o jazzista Art Pepper e o Sargento Pepper da Heart’s Club Band. Rosemari soa como a reunião de Rosa com Maria, mas é rosmarinus (L. ros, ‘orvalho’; marinus, ‘marinho’) nome latino do alecrim. Ginger, ‘gengibre’, pode ser nome, sobrenome ou apelido; como os talos e flores do gengibre são avermelhados, ginger adquiriu o sentido de ‘ruivo’. Pizzarelli, Muzzarelli e Massa são sobrenomes bem italianos, embora haja o Massa português. Berço do risoto, a Itália tem os Rizzo e os Rizzardo com base no arroz. O Rice de Condoleezza Rice vem do celta ris, ‘ardor’, nada a ver com arroz. Feijó, Fávero e Fayet, o germânico Bohn e o eslavo Bobal são alusivos a feijão, favas. Fabio é mais aparentado a fava que a faber, ‘fazer’. Sean Bean ganhou notoriedade em Game of Thrones e, com conotações autodepreciativas, temos o humorista inglês Mr. Bean. Barney e Barnes remetem ao I. barn, ‘celeiro’, antes o local ´para armazenar cevada (I. barley). Keller era o porão para estocar grãos e fermentar vinho, sua origem é o L. cellarius, ‘cela, pequena peça’. Garner, Garnier e Granato derivam do L. granarium, ‘depósito de grãos’. Ceres é a deusa romana dos cereais e Demetria é sua equivalente grega. O nome do poeta Jean Racine se refere à raiz vegetal (F. racine, ‘raiz’), o do músico Beethoven (beetroot, ‘rabanete’; hoven, ‘plantação’) traduz-se por ‘campo de rabanetes’, o mesmo que Rabelo e Rebelo < L. rapanelu, ‘rabanete’. O escritor Boris Pasternak traz no sobrenome o ‘nabo’ (L. pastinaca) e o chanceler Helmuth Kohl, tem o ‘repolho’, um gêmeo


ASSIM COMO CONCEDEM, AS COMIDAS RECEBEM NOMES DE PESSOAS. SEJA MARGHERIDA, A RAINHA NA PIZZA, MARTA ROCHA, A MISS NA TORTA, OU SANDWICH, O LORDE NO PÃO, HÁ GLÓRIA MAIOR QUE DAR NOME AO PRAZER DE COMER? da couve (<L. caulis, ‘caule’). Cícero quer dizer ‘ervilha’ (G. cicer) e, se Platão é um prato grande, Pires não é prato pequeno, sua base estaria em Pedro (G. petrus, ‘pedra’) Madureira descreve o local de amadurecer frutos, Siqueira (Sequeira), o de secar frutos, fazer passas, e Policarpo significa ‘muitos frutos’. Não faltam frutíferas: Pereira, Limeira, Laranjeira, Nogueira, Castanheira, Castanheda, Figueiras, Figueiredo, Figueiró e Figueiroa. Amorim, Moreira e Morais são relacionados à amoreira. Mangabeira é a árvore das mangabas, a fruta da catinga. E temos Marília Pera, Fernanda Lima, Terezinha Morango, Camila Pitanga e Ivo Pitangui, (rio das pitangas). Tamar e Tamara têm origem hebraica, ‘tâmara’ e Mandel é ‘amêndoa’ em ídiche. Cerise (cereja) é um nome comum na língua inglesa assim como o Berry (fruto) do guitarrista Chuck Berry e da atriz Hallen Berry. Jack Lemon recusou um pseudônimo artístico na expectativa de que o estrelato fizesse de seu limão uma limonada. Na verdade Lemon vem do inglês arcaico Leofman (leof, ‘querido’ mann, ‘homem’). Historicamente o alimento mais valorizado, não faltam nomes carnívoros: Tourinho, Touro, Bezerra, Bull, Bullock, Lamb, Cordeiro e Carneiro. O G. Agnes, ‘cordeiro’, de forte presença bíblica, aparece em Ines e Agnello. Se o cordeiro é ‘pureza’, o porco, injuriado em porcaria e sujeira (<L. sus, ‘suíno’), é redimido no sobrenome Leitão. Codorniz remete às aves que Deus fez caírem

ao solo para alimentar a caravana de Moisés, ‘a uma altura de 90 cm num raio de 1 dia de caminhada’ (Num :11). Se na Inglaterra temos os Partridge, ‘perdiz’, em Portugal há muitos Galos e Pintos, e a Itália, com um gosto por aves pequenas desde tempos romanos, é pródiga nos Galletti, Gallino e Galloni. Jean-Marc Vacheron, um descendente de ‘vaqueiro’, tornou-se o famoso relojoeiro (1755). Alvar Cabeza de Vaca fez o trekking pioneiro no Novo Mundo (1540), uma trilha desde a ilha de Florianópolis até a recém fundada Assunção. O Brasil foi oficialmente achado por Cabral, a América, por Colombo, ave com um passado na comunicação e alimentação. O Marques do Pombal fez os jesuítas voarem de Portugal (1759) como conta Rocha Pombo em seu livro de História. E Picasso – que doou sua pomba da paz para divulgar um evento pro-soviético em 1949 – deu à filha o nome de Paloma. A menina nasceu no dia em que os cartazes da pomba promovendo Stalin eram fixados nos muros de Paris. As interações ocorrem em via dupla, assim como concedem, as comidas recebem nomes de pessoas. Seja a Madelaine, a serviçal no confeito, Margherida, a rainha na pizza, Marta Rocha, a miss na torta, ou Sandwich, o lorde no pão, há glória maior que dar nome ao prazer de comer? Mas este é outro assunto. FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br

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É PARA TODOS

P O R

A N A

G U E R R A

F OTO S

L E T Í C I A

R E M I Ã O

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A PANDEMIA NOS FEZ PERCEBER MELHOR A IMPORTÂNCIA DA ARTE DENTRO DE CASA

No último ano, a pandemia transformou nossa casa em escritório, escola, academia de ginástica e restaurante. Confinados ao nosso microuniverso pessoal, despertamos para o fato de que o lar é uma extensão de quem nós somos e nos dedicamos a cuidar melhor dele. Foi nesse período, também, que muitos se deram conta da importância da arte em nossas vidas, em suas diversas manifestações. Nos refugiamos na música, nos livros e nos filmes para buscar alegria e aconchego. E qual a melhor forma de ter arte em nossas vidas, senão vestindo a casa com quadros e esculturas? Muita gente acredita que esse é um privilégio para poucos e que a arte só cabe no bolso dos ricos e famosos, mas isso não é verdade. A arte é para todos.

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VESTIR O LAR COM ESCULTURAS E PINTURAS É UMA BELA FORMA DE TER ARTE NO COTIDIANO

Vou contar um pouco da minha experiência pessoal. Há cerca de oito anos, visitei uma amiga e ela tinha acabado de comprar um quadro para a sala de estar. Achei a obra lindíssima e virou o assunto principal da nossa conversa. Naquele dia fiquei curiosa e com o desejo de ter em minha casa algo tão belo. Até aquele momento, decorava a casa apenas com reproduções, os famosos pôsteres. Talvez impressionada pelas notícias de leilões milionários de obras de arte ou até mesmo pela atmosfera etérea de alguns museus e galerias, eu tinha a percepção de que consumir arte não era financeiramente viável para mim. Mas conversando com aquela amiga, jornalista como eu e de uma família de classe média, comecei a acreditar que era possível encontrar algo que me encantasse e coubesse no meu bolso. Descobri com muita alegria que SIM, eu podia ter em casa uma obra original! E quando fiz a primeira aquisição, fiquei empolgada e continuei curiosa, desbravando este novo mundo. Aos poucos doei cada um dos meus pôsteres e os substituí por óleos sobre tela, gravuras, fotografias, aquarelas, desenhos. Negociando bastante e, muitas vezes, pagando em parcelas, fui criando o meu acervo, que ainda está em construção. Estilo Zaffari

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AS PEÇAS DE ARTE E DESIGN DA CASA DE FERNANDA PANDOLFI E FELIPE HEMB TÊM IMENSO VALOR AFETIVO. O ACERVO É ECLÉTICO E TRAZ FELICIDADE PARA O CASAL

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GENTE COMO A GENTE A verdade é que a arte não vive numa redoma ou num pedestal. Ela está presente nos lares de pessoas como a jornalista Fernanda Pandolfi e o empresário Felipe Hemb. O jovem casal vive em um apartamento que é a cara deles e onde as peças de arte e design têm imenso valor afetivo. Felipe, que aprendeu a amar a arte inspirado pela avó paterna, estendeu essa paixão para os negócios e levou o conceito de curadoria, amplamente usado no mundo da arte, para a loja que criou e administrou por uma década. Ele e Fernanda têm um acervo eclético, com algumas obras que escolheram juntos, outras trouxeram de viagem ou foram presentes de amigos ou herança de família. Todas conversam harmonicamente com o ambiente e – o principal – trazem felicidade para os moradores da casa. O mesmo acontece com a publicitária e jornalista Mauren Motta. No apartamento onde mora com o marido Rogério Corrêa, ela apresenta com brilho nos olhos o acervo construído ao longo de mais de duas décadas. Amante da arte desde criança – além de ser sobrinha-neta de Iberê Camargo, ela estudou arte na infância e também na vida adulta –, sempre pautou suas viagens com visitas a museus. Mauren lê muito sobre o assunto e a sua carreira no jornalismo a levou a trabalhar em cidades como Nova York e São Paulo, onde conheceu artistas e aprimorou ainda mais o seu olhar. Durante um tempo ela fez parte do Clube da Gravura. Ela é apaixonada por diversos estilos e técnicas e sua casa é repleta de obras escolhidas com muito amor. Todos os cômodos respiram arte, em um mix muito bem equilibrado que contém óleos, gravuras, desenhos, fotografia e até mesmo tapeçaria. Algumas são criações de artistas conceituados, outras de novos talentos. Mauren tem o dom nato de misturar estilos, mas o mais importante é a paixão que nutre por sua coleção pessoal. Isso sim, não tem preço e torna o viver a casa ainda mais especial.

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POR QUE INVESTIR EM ARTE? As razões são inúmeras, mas a principal é que a arte emociona. Quase todo mundo tem uma música que faz dançar, um livro de cabeceira e um filme que marcou a sua vida. A arte faz exatamente isso, desperta nossa humanidade e desperta memórias e paixão. Comprar um quadro ou uma escultura vai muito além de decorar a casa. Essas obras nasceram do trabalho artesanal de uma pessoa criativa e uma mesma peça tem o poder de despertar sensações diferentes em cada pessoa. Ter arte em nosso dia a dia, seja em casa ou no ambiente de trabalho, mexe com o humor e até mesmo com a produtividade das pessoas. Outra boa razão é que a arte não desvaloriza. Enquanto muitos bens que compõe uma casa depreciam com o uso, as obras de arte (em sua grande maioria) só valorizam financeiramente com o tempo, se bem cuidadas e armazenadas, é claro.

POR ONDE COMEÇAR? Quando embarcamos num novo mundo e por ele não sabemos navegar, às vezes é necessário começar do zero. No meu caso, antes de comprar a primeira peça, precisei descobrir qual era o meu gosto pessoal. Eu gostava dos clássicos ou preferia os modernos? Queria uma obra realista ou abstrata? Gostava de cores vibrantes ou neutras? Na arte não tem certo ou errado, e sim aquilo de que você gosta ou não. Comece a jornada buscando inspirações. Mesmo sem sair de casa, com seu celular você navega pelo perfil de artistas, museus, galerias e marchands independentes. Converse com amigos que gostam de arte, troque uma ideia com seu arquiteto ou designer de interiores de confiança. Visite museus e galerias. Depois de descobrir seu gosto pessoal, estabeleça um orçamento. No mundo da arte, o céu é o limite, mas descobri que é possível ter uma obra original a partir de 200 reais.

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NA CASA DE MAUREN MOTTA TODOS OS CÔMODOS RESPIRAM ARTE, EM UM MIX EQUILIBRADO DE ÓLEOS, GRAVURAS, DESENHOS, FOTOGRAFIA E ATÉ TAPEÇARIA

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Casa DICAS DE OURO Nesses meus anos garimpando obras e artistas, aprendi um pouco e quero compartilhar algumas dicas: Uma boa forma de começar é investindo em gravuras. São obras originais, mas com valor mais acessível, e que são uma maneira muito interessante de iniciar seu acervo. É possível adquirir, por valores muito interessantes, gravuras dos mais conceituados artistas brasileiros. Não se preocupe em combinar a obra de arte com o sofá ou tapete da sua casa. É importante que todas as peças do ambiente conversem entre si, mas este conceito de ter tudo combinando é démodé. Fique atento aos artistas locais. Fora dos grandes centros urbanos tem muita gente produzindo arte. Invista em novos talentos. Existem muitos artistas incríveis e com obras acessíveis. É possível testar a obra de arte em casa ou no escritório antes de comprar. Muitos artistas e galeristas permitem essa prática. Misture estilos sem medo. Obras coloridas compõem com outras mais sóbrias, modernas com clássicas, fotografias, gravuras ou óleos. É possível misturar técnicas e estilos numa mesma parede com total harmonia. Ouse nas molduras. Algumas minimalistas, outras extravagantes. A arte foi feita para divertir e permite essa brincadeira. E a principal delas: compre aquilo que faz os teus olhos brilharem. É este encantamento que vai tornar o investimento válido e trazer alegria ao coração, tomando conta da casa.

MISTURE ESTILOS SEM MEDO. A ARTE FOI FEITA PARA DIVERTIR E PERMITE ESSA BRINCADEIRA

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Sampa C R I S

B E R G E R

PALÁCIO NA CIDADE Há hotéis que são o destino. Apresento a vocês o Palácio Tangará. A pandemia trouxe um novo estilo de viajar, que podemos catalogar como refúgio urbano. Em outras palavras, dentro da cidade encontramos escapes para arejar a mente. Fiquei de olho na previsão do tempo, desmarquei duas vezes minha reserva, até que o sol raiou firme e forte em São Paulo. Afinal, eu já me via em uma das espreguiçadeiras da piscina idílica, rodeada do verde do parque Burle Max, que é “vizinho de porta” do Tangará. O carro deixou a Marginal Pinheiros e entrou no bairro do Panamby e logo pegou a entrada

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com palmeiras dos dois lados rumo a um dos hotéis mais importantes de SP. Dei uma última olhada no skyline paulistano com seus prédios altos e imponentes e disse baixinho: até mais, rotina. Chegar com um cachorro em um hotel é um “acontecimento”. Ah! Já falei? Eu e a Ella (minha sharpei) não nos desgrudamos para absolutamente nada. Se ela não pode ir, eu nem cogito. O Melhor? Nossa agenda é lotada. Sim, fomos ao Tangará fazer uma reportagem pet friendly para o jornal Estadão, onde também temos uma coluna e em segundos decidi que ele merecia estas linhas na Estilo.


Não demorou para descobrirmos o encantador Pateo do Palácio, que foi inaugurado este ano. No projeto inicial, o restaurante tinha poucas mesas. Com o “novo normal” e a busca por locais ao ar livre, foi totalmente reformado e ficou perfeito. Charmoso, confortável, bem decorado e com um cardápio de “esquecer da dieta”. Horas mais tarde, eu passaria um bom tempo por ali. Lembro que comecei com um almoço tardio pelas 16 horas, onde provei o salmão com crosta de pistache: nada menos do que “de levitar”! Em seguida, fiz uma happy hour com a gerente do hotel onde falamos sobre o fascinante mundo pet friendly saboreando um chazinho. O clima estava tão bom que sucumbi ao trabalho e fiz um “work anywhere” em grande estilo. Abri meu computador, comecei a escrever e tive a ótima ideia de provar o mil-folhas de creme confeiteiro, doce de leite com avelã e geleia de frutas vermelhas. Digamos que ele vale cada caloria. Vi as luzes do jardim serem acesas, cada mesa ganhou uma vela e o Pateo foi enchendo aos pouquinhos, que clima encantador! Prometi voltar bem acompanhada (da Ella, é claro) e de um “contatinho”. Quando senti o cansaço das horas na piscina externa, entre mergulhos na água aquecida e drinks olhando a copa das árvores do Burle Max, decidi voltar ao meu quarto. Devo confessar: é maravilhoso dar apenas alguns passos, abrir a porta da suíte imensa, ver a decoração elegante

e sofisticada, a cama digna dos melhores sonhos e um pequeno terraço. O que eu fiz? Um banho de imersão para fechar em grande estilo meu primeiro dia no Palácio, que fica a 20 minutos da minha casa. Alguma dúvida de que voltaremos? Na próxima vez, quero conhecer o SPA e alguma novidade do cardápio bem orquestrado pelos chefs Jean-Georges Vongerichten e Felipe Rodrigues. Nesse dia, a Ella ficou em dúvida se dormia comigo, como de costume, ou na sua cama, que é uma réplica da minha com direito a cabeceira cobogó, lençol bordado e travesseiros em forma de ossos. Mimos do Palácio para os pets. CRIS BERGER É JORNALISTA E ESCRITORA

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Entrevista

Kleiton & Kledir 40 anos de sucesso e de uma grande parceria

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COMO O ISOLAMENTO SOCIAL ESTÁ IMPACTANDO NO PROCESSO CRIATIVO DE CADA UM DA DUPLA? KLEITON: O isolamento social tem um forte impacto negativo em nossas vidas, de uma maneira geral, mas no aspecto criativo, apesar da triste situação que nos rodeia e de tantas notícias trágicas, há sempre uma força enorme e até uma necessidade maior para criar. De certa forma é uma tábua de salvação termos esse privilégio e falo em nome de todos os artistas que trabalham diretamente com criação artística. Entre Kledir e eu, a produção de novas músicas e novos projetos aumentaram e seguem firme!

E COMO ESTÁ SENDO O PROCESSO DE ADAPTAR A TURNÊ DE 40 ANOS PARA A TV E A INTERNET? KLEDIR: A princípio ficamos preocupados de não conseguirmos realizar tudo o que estava programado para a celebração dos 40 anos de K&K, mas no fim o resultado vai ser ainda melhor do que estava planejado. Vamos fazer o show completo em um teatro sem público para ser transmitido ao vivo e online para um público muitas vezes maior do que seria possível no projeto original. O que não invalida a possibilidade de um dia realizarmos a turnê com público presencial.

VOCÊS RECEBERAM O TÍTULO DE EMBAIXADORES CULTURAIS DO RIO GRANDE DO SUL. QUAIS ASPECTOS DA CULTURA GAÚCHA SE ORGULHAM DE DISSEMINAR PELO PAÍS E PELO MUNDO? KLEITON: O título de Embaixadores Culturais nos deixou muito felizes pelo reconhecimento “oficial” de nosso trabalho. Em nossa formação cultural, um dos pilares, e muito forte, é o folclore, a cultura do sul e da América Latina, que são poderosos. Como somos músicos, um dos focos importantes e que temos orgulhos de levar adiante são os ritmos típicos, o linguajar usado no sul, seja no campo ou na cidade, as melodias e harmonias dos grandes ícones dessa rica cultura, sempre buscando novas formas de mostrá-las, seja onde for. E o conteúdo que há em lendas e histórias dessa região, oferece inspiração e trabalho suficiente para ocupar várias vidas. Já fizemos alguma coisa, mas há muito ainda por fazer...

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Entrevista

QUAL A EXPECTATIVA DA DUPLA PARA O PÓS-PANDEMIA E AS CELEBRAÇÕES DOS 40 ANOS DE CARREIRA? KLEDIR:Temos criado bastante e quando for possível voltar a fazer shows presenciais teremos muita novidade pra mostrar, além de realizar os espetáculos que estavam programados e tiveram que ser cancelados: K&K 40 anos, K&K + OSPA, shows com Nenhum de Nós, Expresso Rural e Casa Ramil.

E A SENSAÇÃO DE DIVIDIR O PALCO COM A FAMÍLIA RAMIL NO ESPETÁCULO CASA RAMIL, QUAL FOI? KLEITON: O show “CASA RAMIL” é uma homenagem à matriarca da família Dalva Ramil. É um projeto idealizado por Branca Ramil, por si só já é emocionante, poder dividir momentos familiares musicais com o público. Mas subir no palco com as novas gerações, que têm produzido obras artísticas maravilhosas, e perceber que haverá gerações de artistas na família no futuro, é de uma emoção inenarrável. Há uma profunda paz ao perceber que essa história de música em nossa família cria esse lastro de eternidade. E estar aqui presente, fazer parte desse show mergulhando em sons maravilhosos, nos dá uma sensação de prazer e de realização plena.

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DO QUE MAIS SENTEM FALTA DOS SHOWS PRESENCIAIS? KLEDIR: Do carinho do público. A emoção do aplauso é uma energia que realimenta o artista em sua natureza mais profunda, não tem nada a ver com ego. É uma resposta imediata ao que está sendo apresentado, o artista entrega o que tem de melhor e o público devolve com manifestações de carinho.

EXISTE UM SEGREDO PARA MANTER A PARCERIA POR 40 ANOS? QUAL É? KLEITON: O segredo da parceria de 40 anos é o amor e a amizade. Aprender a conviver com outra pessoa (e somos muito diferentes), saber perdoar e sobretudo admirar o parceiro. Tenho enorme admiração pelo talento e generosidade do Kledir e creio que a recíproca é verdadeira. O resto é procurar ser feliz e a música ajuda muito.

QUAL O PRINCIPAL ENSINAMENTO DO KLEITON PARA O KLEDIR? E DO KLEDIR PARA O KLEITON? KLEDIR: O Kleiton sempre foi um cara impetuoso, inquieto e cheio de energia. Toda essa força, somada ao um talento musical extraordinário,

transformou aquele guri de Pelotas em um criador “atômico”, que contagia quem está na volta. Eu, um sujeito mais quieto e reflexivo, acabo me beneficiando dessa pilha que ele bota em mim o tempo todo.

KLEITON: Kledir sempre foi mais focado que eu em relação a nossa carreira. Assim pude me dar ao luxo de ter meus devaneios. Essa sua qualidade com certeza foi fundamental para que tudo desse certo para a dupla. Estilo Zaffari

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Equilíbrio C H E R R I N E

C A R D O S O

COM AMOR Querido leitor, não tem sido tempos fáceis, né? O Brasil anda nos colocando constantemente à prova de nossa busca pelo equilíbrio, e até mesmo eu, que já há anos mergulho nesse caminho de estabilidade e consciência, tenho me visto instável por conta de como as coisas têm estado por aqui. Mas talvez uma das coisas que mais estejam causando um grande desconforto, pelo menos em mim, é esse ar julgador e intolerante que parece ter se instalado na conduta humana. Em que momento nos formamos juízes e sabedores de todas as coisas? Eu acho que me perdi, como se tivesse havido um lapso no tempo,

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e eu caí agora nesse momento de tanta gritaria virtual, ofensiva e agressiva, e não estou sabendo me situar com o novo momento. Você também? Se a pandemia foi uma tentativa do Universo, ou sei lá de quem, para que nós como espécie humana nos tornássemos mais empáticos, respeitosos, sociáveis e gentis, infelizmente algo saiu errado. Está parecendo que pioramos em vez de melhorarmos. Os movimentos não estão unindo ninguém, estão criando sim um abismo na comunicação. Eu digo A você entende B e por conta disso eu te cancelo, eu te excluo, eu te julgo, eu te ataco,


apenas porque você entendeu B do meu A ou não concorda com meu A e não entende como eu não consigo enxergar a importância do seu B. E isso não só tem feito muito mal para todos como tem causado mais que isso, tem gerado sofrimento gratuito. As pessoas estão amargas e sofrendo dores que elas mesmas criam por conta da incompreensão. Não nascemos iguais, nascemos semelhantes fisicamente. Não somos iguais em opiniões, e deveria estar tudo bem! Temos que entender que não sermos iguais não é ruim. Ao contrário, nos instiga a curiosidade de conhecer e entender o que eu não conheço e não entendo. Mas não podemos fazer isso com sentimento de raiva e ódio. Não podemos deixar que seja esse o lugar em que vamos nos colocando pelo simples fato de que não somos iguais. Nunca seremos. Temos que ser respeitosos com o que é diferente. Com pensamentos diferentes, com pontos de vista diferentes, com criações diferentes, com referências diferentes. Porque eu não gosto de uma coisa, você tem que achar que eu sou isso ou aquilo, uma vez que você gosta dessa coisa. É quase como alguém iniciar uma briga comigo porque eu não gosto de canela. Ué, não gosto! Canela é ruim? Não. Ela é boa para o paladar de um monte de gente. Mas para o meu não é. Não posso ser ridicularizada, atacada, cancelada por aqueles que amam canela. Seria até irônico, né? Mas substitua a canela por qualquer outra coisa. Enquanto a canela estiver no seu café e você o estiver tomando, o que isso faz mal para mim?

Não sou eu que estou tomando o café. Oras, dessa forma, mesmo não gostando de canela, podemos dividir a mesma mesa, conversar, rir juntos. Certo? Então por que é tão difícil transferir esse olhar para qualquer outra coisa? Vamos nos esforçar mais para sermos mais tolerantes? Vamos buscar olhar para a direção da comunhão, do amor, da paciência, do respeito acima de todas as coisas. A vida em si já está tão pesada, por que torná-la ainda mais diante de assuntos que facilmente poderiam ser resolvidos se cada um respeitasse a liberdade de ser do outro? Sabe qual é o único ingrediente que poderia nos salvar de nós mesmos? É o amor. Tá faltando. Amar não é um sentimento que você gera por uma pessoa com a qual você decida viver a sua vida privada. Amar é um sentimento que temos que despertar, alimentar, propagar, irradiar para todos os seres. E quando esse sentimento for genuíno e verdadeiro, todos nós seremos livres e felizes. Não acredita? Experimenta começar por você, então. Ame sem reservas, ame sem julgamentos, ame! Apenas ame. Todos os seres. E mentalize que todos os seres mais amargos recebem esse amor. Vamos irradiar essa energia, amigos. Nós estamos precisando, porque todos estão. No fim, todos querem a mesma coisa, só não estão se abrindo para enxergar isso. CHERRINE CARDOSO É AUTORA DOS LIVROS A INCRÍVEL ARTE DE DESAPEGAR E REINVENTE-SE E PERSONAL YÔGA LIFESTYLE Estilo Zaffari

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mulheres que amamos

O PROPÓSITO DESTA SEÇÃO É MOSTRAR AOS NOSSOS LEITORES MULHERES INSPIRADORAS. E CÁ ESTÃO DUAS: LUCIANE BARCELOS E MÔNICA SANTOS. LU DEDICOU A VIDA A UM PROJETO DE EDUCAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE. ELA É A ALMA FEMININA DO WIMBELEMDON. MÔNICA É UMA GRANDE ATLETA DE ESGRIMA E UM EXEMPLO DE RESILIÊNCIA: ELA DISPUTA CAMPEONATOS SENTADA NA CADEIRA DE RODAS. UMA DOENÇA GRAVE TIROU OS MOVIMENTOS DE SUAS PERNAS E QUASE A IMPEDIU DE SER MÃE. SÓ QUE MÔNICA NÃO PERMITIU QUE OS OBSTÁCULOS A TIRASSEM DA ROTA E VEM REALIZANDO SEUS SONHOS, UM A UM.

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LUCIANE BARCELOS Luciane Barcelos é, acima de tudo, uma mãezona. Em seu enorme coração moram mais de mil meninos e meninas que já passaram pelo Wimbelemdon, projeto que há duas décadas realiza um lindo trabalho de acolhimento e educação a crianças carentes no bairro Belém Novo, na capital gaúcha. Aos 49 anos, ela atua como gerente técnica no projeto que criou ao lado do marido, Marcelo Ruschel. Caçula e única mulher entre três filhos, Luciane sempre gostou de estar entre crianças. Desde pequena ela dizia que não teria filhos biológicos, e sim muitos filhos do coração. E foi o que aconteceu. O vínculo entre Luciane e Marcelo vem de muito cedo. Aos 10 anos de idade, já morando no Belém Novo, observava quando ele passava temporadas na casa de veraneio da família, no mesmo bairro. Só que ele, nove anos mais velho, nem prestava atenção nela. O tempo passou, mas não o encantamento que nutria por ele. Ficaram juntos quando ela já tinha 21 anos e nunca mais se desgrudaram. A casa de veraneio tornou-se residência oficial do casal e perto dali havia um terreno abandonado, com uma quadra de tênis. Naquela época ela gerenciava a agência de fotografia de Marcelo, enquanto ele viajava mundo afora fazendo a cobertura de torneios de tênis. Ele ficou namorando aquele terreno, pois já tinha o plano de usar o esporte como ferramenta de mudança social da comunidade carente do bairro. Quando a oportunidade surgiu, alugaram o espaço e nasceu assim o Wimbelemdon. Enquanto Marcelo viajava para fotografar e financiava o projeto com recursos próprios, Luciane tomou as rédeas da empreitada, que no início oferecia aulas de tênis gratuitas para cerca de 40 crianças carentes. O número de crianças assistidas foi crescendo, os custos de manutenção também e em 2008


quase fecharam as portas. Se deram conta de que era necessário se profissionalizar. Uniram-se para levantar fundos e participaram de um curso da Parceiros Voluntários para aprender a gerir a ONG e torná-la autossustentável. A essa altura, Luciane já estava mergulhada na difícil realidade das crianças atendidas pelo projeto. Para ela, o Wimbelemdon é uma extensão da sua casa e todos que fazem parte dele formam uma grande e unida família. Depois que se profissionalizaram, conquistaram o apoio de nomes como Fernando Meligeni e Thomaz Koch, e também importantes distinções, como o ATP - Aces for Charities, e por dois anos consecutivos o prêmio 100 melhores ONGs do Brasil. Aulas de tênis cinco vezes por semana, curso de inglês e de artes, além de três refeições diárias, passaram a fazer parte das atividades oferecidas. Hoje o projeto atende mais de 70 crianças e a equipe conta com 16 pessoas contratadas e 3 voluntários, uma turma de conselheiros

e importantes empresas apoiadoras e parceiras. Luciane tem pouco tempo para a vida pessoal – faz yoga quando possível e planeja voltar a pintar, hobby que lhe faz muito bem. Mesmo com a pandemia, a equipe nunca parou de trabalhar. Entregam cestas básicas e mantêm o vínculo com as crianças por grupos de WhatsApp, além de pontuais encontros com grupos pequenos de pessoas. Ela se envolve com cada família e vibra com as suas pequenas vitórias pessoais. Um exemplo emblemático foi de um garoto que chegou à ONG sem saber usar talheres – era tão humilde que usava as mãos para comer. Depois de um tempo, o pequeno mostrou com orgulho que havia aprendido a domar faca, garfo e colher. Luciane se emociona falando dele e todas as suas crianças. Para Luciane, o projeto Wimbelemdon não é um trabalho, é a sua missão de vida. POR ANA GUERRA, JORNALISTA

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MÔNICA SANTOS A atleta gaúcha Mônica Santos está com a mala, florete e máscara prontos para embarcar para o Japão. Classificada para a segunda Paraolimpíada de sua vida – a primeira foi em 2016, Mônica tem uma história de desafios e vitórias dentro e fora da pista de esgrima. Ela nasceu, cresceu e até hoje vive em Santo Antônio da Patrulha, cidade a 70 km da capital gaúcha. O pai Euclides era pedreiro e a mãe Nelza, dona de casa. Única menina entre 4 filhos, teve uma infância repleta de amor, diversão e liberdade. Começou a namorar muito jovem com Ângelo, melhor amigo de seu irmão Alex, e o que era um namoro juvenil transformou-se em um relacionamento comprometido e profundo, e Mônica e seu “Cebolinha” continuam juntos até hoje. Sua vida mudou drasticamente aos 18 anos. Nessa época, começou a sentir uma fraqueza nas pernas, até que os sintomas evoluíram e Mônica simplesmente parou de caminhar. Por três meses ficou internada em um hospital de Porto Alegre, enquanto investigavam a causa da paralisia. Um dos primeiros exames trouxe uma surpresa: Mônica estava grávida! Ser mãe sempre foi o seu grande sonho e encontrou alegria e força ao saber da gestação. Após um cateterismo na coluna, veio o diagnóstico: um caso raríssimo de angioma medular. Ela precisava submeter-se a uma cirurgia de urgência pois sua vida estava em risco. Os médicos tentaram convencê-la a interromper a gravidez, pois o peso extra pressionaria ainda mais a medula, o angioma poderia romper, matando Mônica e o bebê. Mas ninguém conseguiu demovê-la da ideia de manter a gestação – e com a decisão tomada, recebeu total apoio da família. Os meses seguintes tiveram a tensão de uma gravidez de altíssimo risco, mas em 1º de novembro de 2002 nasceu a tão esperada filha Paolla. Após um mês amamentando, Mônica ouviu dos médicos o veredicto: não podia mais adiar o procedimento – era a sua única chance de sobreviver. Ela acordou da cirurgia tetraplégica, mas com tempo e fisioterapia, recuperou o movimento da cintura para cima. Queria sair logo do hospital e ter a filha em seus braços. Adaptou-se à rotina de cadeirante e sempre se dispôs a realizar toda e qualquer tarefa sozinha. Aprendeu a dirigir em um carro que foi adaptado pelos

membros da família –e eles sempre foram, e continuam sendo até hoje, o seu principal alicerce. O esporte entrou na sua história aos 24 anos, para aliviar as tensões do dia a dia. Por três anos jogou em um time de basquete para cadeirantes em Canoas, onde ela era a única mulher. Foi então convidada a tentar a esgrima, através de um projeto dos técnicos Eduardo Nunes e Alexandre Teixeira, no Centro Estadual de Treinamento Esportivo, em Porto Alegre. O foco não era o esporte de alto rendimento, e sim oferecer uma opção esportiva para cadeirantes. Mas de cara Mônica se destacou – com apenas 20 dias de treino, participou de uma competição em Curitiba e saiu de lá com o 3º lugar. A partir daí, tudo aconteceu muito rápido. Quanto mais ela treinava e se destacava no esporte, mais portas se abriram. Em 2011 foi convidada a fazer parte da Seleção Brasileira de Esgrima Paraolímpica, vencendo competições nacionais e internacionais. A dedicação ao esporte tornou-se exclusiva e hoje ela é atleta do Grêmio Náutico União. É uma vida de muitas renúncias pessoais, exigindo intensa disciplina e foco. Mônica passa muito tempo longe da família, pois se desloca até Porto Alegre cinco vezes por semana, com treinos físicos e técnicos em 2 ou 3 turnos. Em meio a muitas conquistas, entre elas o Bicampeonato das Américas, vieram dolorosas perdas. Primeiramente do pai e depois, da mãe, ambos de forma trágica e repentina. A mãe morreu pouco antes das Olimpíadas do Rio de Janeiro, e em meio ao luto Mônica pensou em largar tudo. Com o incentivo do marido e da filha, seguiu em frente, conquistou a vaga e participou dos Jogos Olímpicos. Frustrou-se com o 6º lugar conquistado e pediu para sair da Seleção Brasileira, desistindo do esporte de alto rendimento. Ela continuou praticando esgrima, mas por diversão. Ao final de 2019, bateu a saudade dos amigos e ela foi prestigiar uma competição em São Paulo. Acabou competindo e saiu de lá campeã! Isso a impulsionou a retomar os treinos como profissional, conquistando em poucos meses a vaga para Tóquio. Seu sonho é conquistar uma medalha para o Brasil. No jogo da vida, entretanto, todos nós já sabemos: Mônica, tu és de ouro! POR ANA GUERRA, JORNALISTA

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Palavra LU Í S

AU G U S TO

F I S C H E R

MAIS DEVAGAR

Faz já uns anos que apareceu uma tendência de produção e consumo de comida que se chamou de “slow food”, em óbvia oposição a “fast food”: em lugar da velocidade e da pressa, a lentidão. A virtude da lentidão. Ocorreu que, na vida de todo mundo que esteja integrado à rede mundial, tudo virou pressa, ou, quando menos, tudo virou uma pasta indefinida de presente eterno. (Não confundir com eterno presente: aqui, a ordem dos fatores altera o produto.) Não há tempo ou espaço de nossa vida que esteja a salvo, nem mesmo o sono, porque muitos de nós deixamos o celular ligado para a função de despertador, e aí já era. Eu sou uma vítima dessa aceleração. Só fico mais lento quando mergulho numa leitura absorvente, num filme idem, numa audição desse tipo (que saudade de um concerto bala, ao vivo). E aqui entram dois livros. Dois livros de poesia, saídos há pouco. Por serem de poesia, são livros que exigem lentidão – ou não funcionam. Um deles tem o enigmático título de A matéria inacabada das coisas, e seu autor é Marcelo Martins Silva (editora Diadorim). Há dois eixos temáticos no livro; um deles é a condição negra, para dizer de um jeito abrupto; o outro é a cidade. O primeiro poema do livro é em prosa e abre assim: “Existe no centro da cidade, numa rua pequena de prédios cor de chumbo, um café intocado pelo tempo”. Não sei o leitor, mas eu fui imediatamente tragado para dentro da cena, quase senti o cheiro do café antigo este aí. Outro que me pegou foi “Nocturne”: A insônia é

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um animal de duas vontades / uma de que o hoje não acabe, / outra de que o amanhã não chegue. / E nesse lugar do não / eu durmo. O outro livro é da Tatiana Cruz e se chama Na minha casa há um leão (editora Zouk). Livro de estreia da autora, jornalista de ofício, que acrescenta uma importante camada de sentido ao conjunto – nas capas externas e em páginas internas, são reproduzidas colagens que ela faz, que dão ao livro um ar de brincadeira, mas também de um certo surrealismo – estamos vendo aquele leão perto de um sofá mesmo? Esse peixe imenso é pra caber naquela geladeira mínima? As seções do livro são partes de casa – soleira da porta, estar, cozinha, corredor, o quintal. E as colagens têm como fundo uma planta baixa, um esquema de casa, que de algum modo percorremos ao ler. Tematicamente, o livro mostra ao menos duas forças nítidas – vários poemas de separação (como “Acabamentos”, que começa assim: Tem uma hora que acaba. / Inexplicável. (...) A gente escreve o que acaba com as lágrimas), e vários poemas de amor, ou de sedução, de aproximação, razão pela qual aparece muitas vezes a figura de um tu, uma segunda pessoa – Fale pra mim da primavera / e das camadas de energia /e do trem de partida. Dois livros de boa poesia, que faz bem para o ritmo lento da alma. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR




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