Revista Estilo Zaffari - Edição 83

Page 1

Ano 12 N0 83 R$ 7,90

LUGAR ÉVORA E ÓBIDOS, DUAS JOIAS PORTUGUESAS

VIAGEM DESCOBERTAS E EMOÇÕES EM UM GIRO EUROPEU

CASA ADEGAS SOB MEDIDA PARA DIFERENTES PAIXÕES VINÍCOLAS

Casamentoperfeito O EQUILÍBRIO DE SABORES E TEXTURAS

DO VINHO COM A COMIDA




Milene Leal milene@entrelinhas.inf.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Bete Duarte, Beto Conte, Carla Leidens, Flavia Mu, Loraine Luz, Milene Leal

REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade ILUSTRAÇÕES Moa FOTOGRAFIA Letícia Remião, Beto Conte, Fernando Bueno, Milene Leal COLUNISTAS Celso Gutfreind, Cherrine Cardoso, Cris Berger, Fernando Lokschin, Luiza Estima, Luís Augusto Fischer, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COMERCIALIZAÇÃO Carlos Eduardo Moi (eduardo@entrelinhas.inf.br) fones: 51 3026.2700 e 3024.0094 A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Entrelinhas Conteúdo & Forma, sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 20.000 exemplares IMPRESSÃO Gráfica Artlaser Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Cel. Bordini, 675, cj. 301 Porto Alegre I RS I Brasil I 90440 000 51 3026.2700

FOTO: LETÍCIA REMIÃO


N OTA

D O

O CASAMENTO PERFEITO Quando as temperaturas caem o apetite cresce. É fato... No inverno a gente tem vontade de comer mais e volta e meia acaba optando por pratos mais pesados, com mais gordura, mais substância, mais “quentura”, enfim. E há que se admitir: nenhuma bebida casa tão perfeitamente com esses pratos poderosos como um belo e encorpado vinho tinto! Nós, aqui da redação da Estilo Zaffari, somos fãs dos tintos o ano inteiro, no frio e no calor. Mas, sem dúvida alguma, vibramos com a delícia que é saborear as comidinhas invernais junto com vinhos cheios de personalidade e presença. Pois a jornalista gourmet Bete Duarte fez um trabalho primoroso para esta edição: pesquisou a harmonização de vinhos e pratos, conversou com chefs e enólogos e, para deleite de nossos leitores, apresenta na seção “Sabor” três receitas fabulosas e os tipos de vinho que mais combinam com elas. Dicas preciosas que você vai poder usar em casa, no restaurante, sempre. A edição tem ainda duas viagens inspiradoras: Beto Conte nos traz o relato de seu roteiro por Évora e Óbidos, duas lindas cidades portuguesas; Carla Leidens compartilha com os leitores da Estilo Zaffari uma viagem emocionante pela Europa, tendo a filha de 15 anos como parceira de descobertas. E já que começamos falando em vinhos e suas harmonias, deu vontade de ir além. Para a nossa seção “Casa”, Flavia Mu fez um apanhado de adegas residenciais criadas para pessoas e famílias que amam essa bebida e reservaram em seus lares um lugar especial para armazenar e degustar vinhos. Ideias ótimas, adegas de vários tipos, casas diferentes, pessoas diferentes. Cada uma curtindo o seu espaço, os seus momentos, os seus prazeres. Coisa bem boa! Vamos ao inverno, então! E boa leitura! OS EDITORES

E D I TO R


Cesta Básica

8

Coluna Humanas Criaturas

24

Coluna Vida

40

Coluna Sampa

52

O Sabor e o Saber

64

Ensaio

68

Coluna Equilíbrio

76

Coluna Palavra

90

Casamento: o equilíbrio de sabores do vinho com a comida

26 Portugal: pelas ruas de Óbidos e Évora

54


Viagem: 22 dias pela Europa Casa: lugar de descobrindo novas paixĂľes vinho ĂŠ na adega

78

42


NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA

FOTO: LETÍCIA REMIÃO

Cesta básica

CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, MODA, LITERATURA, ARTE, LUGARES, VIAGENS, OBJETOS ESPECIAIS, PESSOAS GENIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO! F OTO S

D I V U LG A Ç Ã O

COOKIES INCRÍVEIS Os sabores da Okidoki já têm uma legião de fãs em Porto Alegre. Cookies artesanais com gostinho caseiro e muito frescos, sempre assados no dia. O que não for vendido não vai para o display no dia seguinte. A equipe da Okidoki aposta nos bons ingredientes: “Os melhores cookies devem ser feitos com manteiga fresca, e não margarina ou outro tipo de gordura. Utilizamos o melhor chocolate belga e extrato puro de baunilha. Não usamos aromatizante ou conservante artificial”. Em sua pequena loja instalada na Galeria Casa Prado, no bairro Moinhos de Vento, a Okidoki vende cookies macios por dentro, crocantes por fora, incríveis. Para acompanhar, café passado de torra média. A combinação é perfeita. A marca produz apenas sete sabores: meio amargo, ganache, nozes & chocolate, macadâmia & chocolate branco, clássico, chocolate duplo, paçoca. PRAÇA DR. MAURÍCIO CARDOSO, 71 I LOJA 11 MOINHOS DE VENTO I PORTO ALEGRE I 51 3907.3997 WWW.OKIDOKICOOKIES.COM


VALLE NEVADO EM FESTA! Três décadas se passaram desde que um lugar muito especial para quem curte neve abriu suas pistas pela primeira vez, no meio da Cordilheira dos Andes, acima dos 3 mil metros de altitude. O Valle Nevado Ski Resort está de aniversário em 2018 e prepara a melhor temporada desses 30 anos, começando as comemorações com semanas temáticas: a Valle Week, de 7 a 14 de julho, a Fun Week, de 14 a 21 de julho, a Foodie’s Week, de 3 a 10 de agosto, e a Wine Week, de 17 a 24 de agosto. O centro de esqui e snowboard é a maior estação do Hemisfério Sul, a mais próxima de Santiago do Chile e já recebeu, nos meses de inverno desses anos todos, mais de 3 milhões de visitantes. O resort inclui três hotéis, nove edifícios residenciais, rua de pedestres com lojas de marcas internacionais, a mais certificada Escola de Neve do país, 11 bares e restaurantes, mais de 40 pistas de todos os níveis, 15 meios de elevação, clínica médica, lojas de locação de equipamentos e roupas, heliski, spa e academia. Além das semanas temáticas, a festa de aniversário promete muitas atrações, que podem ser conferidas ao longo do ano no site e nas redes sociais.

VALLE NEVADO SKI RESORT WWW.VALLENEVADO.COM/PT

Estilo Zaffari

9


Cesta básica

A receita exclusiva do Gaufre, orginal waffle belga, é sugestão imperdível para quem for a Gramado, na Serra gaúcha. A iguaria está sendo servida diariamente no espaço gourmet do Hotel Petit Casa da Montanha e pode ser acompanhada de um tradicional chá serrano de maçã com canela. Na apresentação dessa delícia da culinária europeia, destaque especial para o preparo na hora, feito em fogão especial, em frente aos clientes, bem ao estilo belga. A promessa é de muita crocância por fora e maciez por dentro. No cardápio há vários tipos de coberturas, como geleias artesanais de physalis e frutas vermelhas, doce de leite, requeijão, calda de chocolate, mel, além de acompanhamentos como o sorvete caseiro de creme. A experiência gastronômica completa, com o chá e as coberturas, custa R$ 32,00. Para os hóspedes que fizerem reservas no hotel, via Central de Reservas ou site, o Gaufre é uma cortesia. O Petit é, como o nome sugere, um Casa da Montanha na versão pequena, inspirado nas pequenas hospedarias europeias, estilo bed & breakfast. Está localizado a poucos metros da Rua Coberta e do Palácio dos Festivais. O espaço gourmet funciona à tarde e, assim como o hotel, é pet friendly – ou seja, equipado e com toda estrutura para receber os animais de estimação.

10

Estilo Zaffari

FOTOS: CIBELE SELBACH/DIVULGAÇÃO

WAFFLE ESTILO BELGA EM GRAMADO

BISTRÔ DO PETIT RUA GARIBALDI, 254 GRAMADO I RS I 54 3295.7575 HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO: 15H ÀS 18H RESERVAS@PETITCASADAMONTANHA.COM.BR WWW.PETITCASADAMONTANHA.COM.BR


INFORMAR PARA PREVENIR Um livro acessível, com informações médicas traduzidas para o entendimento do público em geral e uma mensagem positiva, focada na prevenção. Em “Mulheres Cérebro Coração”, a jornalista Vera Moreira reuniu dados médicos e históricos sobre uma nova realidade, desencadeada por uma alteração profunda no estilo de vida feminino desde a Revolução Industrial. As doenças cardiovasculares (DCV) passaram a ser uma das maiores ameaças à saúde feminina. As DCV e os acidentes vasculares cerebrais tiram a vida mais das mulheres do que dos homens, segundo a American Heart Association. Nem sempre foi assim, e a realidade brasileira é grave. A intervenção no estilo de vida para a prevenção primária pode diminuir a incidência de DCV em até 90%, bem como as taxas de mortalidade associadas, especialmente nas mulheres. Os fatores de risco aparecem detalhadamente ao longo dos capítulos do livro, que se inter-relacionam e abordam diversos aspectos do nosso estilo de vida. Entre os aspectos abordados no livro estão: obesidade e sobrepeso, colesterol LDL elevado, diabetes, fumo, sedentarismo, hipertensão arterial, depressão, menopausa, gestação e câncer de mama. MULHERES CÉREBRO CORAÇÃO WWW.EDITORAESPIRITO.COM.BR VMOREIRA62@GMAIL.COM

T-SHIRT EMPODERADA Para marcar sua coleção de inverno 2018 e comemorar sua nova loja no Pátio 24, a Lizáli, especialista em alfaiataria feminina, lançou a camiseta da campanha #ElasUsamLizáli, com palavras que descrevem a cliente da marca. Inicialmente prevista apenas para distribuição gratuita entre as convidadas em um evento da marca, a t-shirt fez sucesso e retornou com cunho social: única, guerreira, verdadeira & eu mesma, diz a estampa. “Muitas mulheres se identificaram com o texto e queriam comprar a camiseta para usar ou mesmo presentear amigas que estão em situação difícil. Então, resolvemos fazer mais unidades, agora ajudando uma entidade séria”, explica Fabiane Rittes, diretora da marca. A tiragem é limitada e o lucro com a venda será totalmente revertido para o Projeto Camaleão, que apoia pessoas diagnosticadas ou em tratamento contra o câncer. A camiseta pode ser adquirida na loja, pelo e-commerce e na casa do Projeto Camaleão (Rua Giordano Bruno, 82). LIZÁLI NA PÁTIO 24 AV. 24 DE OUTUBRO, 1454, LOJA 17 E-COMMERCE WWW.LIZALI.COM.BR


, sediada na região da Campanha Gaúcha,

Cesta básica

GLÚTEN FREE, SABOR 100% Com uma cozinha exclusiva para produção de alimentos sem glúten e sem leite, livre de qualquer risco de contaminação, e o talento da chef Marta Fedrizzi, o resultado não poderia ser outro: uma oferta generosa e saborosa de quiches, bolos, doces e refeições para quem convive com restrições alimentares. “Após 24 anos trabalhando em Gastronomia em diversos restaurantes da cidade e conversando com os clientes e amigos, fui entendendo a necessidade das pessoas com restrições alimentares. Assim nasceu a ideia de produzir alimentos que atendessem a essas pessoas”, explica Marta. Assim nasceu a La Drizzi Gluten Free, que se vale ainda de ingredientes fresquinhos, de horta caseira e cuidada com muito carinho, como tudo que é produzido na cozinha da empresa sob a supervisão de Marta. Bons exemplos disso são o manjericão, que faz par com a berinjela, e o ora-pró-nobis que acompanha a cebola caramelizada, em dois dos sabores disponíveis de quiche. Sopas, cremes e opção vegana também estão no cardápio.

CAI BEM COM ARTE

LA DRIZZI GLÚTEN FREE

O mais recente lançamento da pequena vinícola gaúcha Routhier & Darricarrère, de Rosário do Sul, cai bem com massas leves, frutos do mar, sobremesas levemente açucaradas e... com arte. O espumante Brut Rose é uma parceria exclusiva com o artista plástico Gelson Radaelli e por isso foi batizado com o mesmo nome do conjunto de trabalhos da nova fase do artista: Neon. A produção de apenas 360 garrafas, por enquanto, tem destino certo: acompanhar jantares exclusivos no Atelier de Massas, em Porto Alegre, e exposições de arte. O espumante brut rose Neon Radaelli foi elaborado pelo método tradicional (champenoise), de médio amadurecimento, o que ajuda a manter o seu caráter jovial, com base em uma assemblage de uvas Chardonnay, Pinot noir e finalização de Cabernet Sauvignon e Merlot. Aromas de frutas vermelhas, como morangos e cerejas, estão presentes e explicam a coloração neon.

WWW.LADRIZZI.COM.BR

ESPUMANTE NEON RADAELLI VINÍCOLA ROUTHIER & DARRICARRÉRE WWW.REDVIN.COM.BR 12

Estilo Zaffari

51 99889.8958 I 51 99919.1082 (WATTS)


BODYTECH MONT’SERRAT RUA SILVA JARDIM, 375 | MONT’SERRAT, PORTO ALEGRE | (51) 3061 5021


FOTO: RADAMÉS MICHEL/DIVULGAÇÃO

CASTELINHO PARA TODOS CHURROS COM RECHEIO DARK CHOCOLATE A novidade do El Churrero é o dark chocolate, um recheio cheio de personalidade, especial para comemorar a chegada do inverno. Na estação mais fria do ano, os amantes de churros poderão curtir mais essa inovação da El Churrero, que promete aquecer o paladar, o corpo e a alma... O chocolate meio-amargo chega para competir com o carro-chefe da casa, o tradicional doce de leite, e deve conquistar muitos fãs. A clássica massinha crocante e sequinha faz uma combinação perfeita com o recheio de dark chocolate. Para os chocólatras, a pedida é unir o novo recheio com a massa Dark. Sabor bombástico! EL CHURRERO R. BENTO FIGUEIREDO, 26 I RIO BRANCO I PORTO ALEGRE

O histórico Castelinho da Vila Assunção vive um novo tempo sob o nome Castelo Oric, um espaço de experiências relacionadas ao bem-estar, à gastronomia e ao esporte. Com 15 cômodos, ampla área ao ar livre e de frente para o privilegiado pôr do sol da zona sul da Capital, o endereço tem tudo para se firmar como um ponto de encontro da vizinhança e da cidade. O prédio de 1.500 metros quadrados é tombado pelo Patrimônio Histórico e suas características arquitetônicas foram mantidas. Construído em 1950 e fechado desde 2012, passou a abrigar desde o final do ano passado diferentes negócios. A primeira marca residente do Castelo Oric é a OricSurfboard, que levou para o local sua fábrica e o showroom, com modelos de shortboards e longboards, além de pranchas de stand uppaddle (SUP) e kitesurf. A segunda marca residente é a POT.IN, especializada em refeições saudáveis e orgânicas no sistema delivery, que passa a ter um restaurante fixo no local, sob o comando de Natalia Perachi. Uma das torres do Castelo pode ser locada por casais e grupos de amigos para pequenos jantares exclusivos, com a vista do Guaíba ao fundo.

TERÇA A SEXTA, DAS 14H ÀS 21H30

CASTELO ORIC

SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS, DAS 14H ÀS 20H

AV. GUAÍBA, 4126 I VILA ASSUNÇÃO I PORTO ALEGRE

51 98298.4266

WWW.ORIC.COM.BR

14

Estilo Zaffari



LAGUETTO STILO BARRA RIO RUA MARCELO ROBERTO, 65 BARRA DA TIJUCA I RIO DE JANEIRO 21 3509.9000 WWW.LAGHETTOHOTEIS.COM.BR

COM O MARZÃO DA BARRA COMO CENÁRIO Para curtir um Rio de Janeiro mais praiano, esportivo e tranquilo, nada melhor do que se hospedar na Barra da Tijuca. E melhor ainda é estar de frente para aquele imenso e lindo mar, com a areia à distância de apenas alguns metros. Em vários pontos da Barra a praia não fica lotada, há espaço de sobra para você estender a sua toalha e apreciar o entorno, a conexão com a natureza parece mais forte e, de sobra, é possível apreciar o espetáculo das coloridas velas de kitesurf. O Laghetto Stilo Barra Rio oferece a seus hóspedes justamente essa experiência. Localizado na avenida beira-mar, o hotel tem uma excelente infraestrutura interna e uma ótima estrutura de

16

Estilo Zaffari

praia, com serviço de colocação de cadeiras e guarda-sóis, além de convênio com o quiosque instalado na calçada em frente, que serve água de coco, cerveja, comidinhas e bebidas variadas. Na hora de descansar, muito conforto: os apartamentos são amplos, bem-decorados, têm camas grandes, ducha potente. E o melhor: tudo é novo, pois o hotel foi recentemente reformado e reequipado pela rede Laghetto. Os que ficam de frente para o mar ainda oferecem um bônus: a vista é deslumbrante e pode ser apreciada até de dentro do box do banheiro. O café da manhã é outro destaque: variadíssimo, ao estilo das unidades da rede na Serra gaúcha.



Cesta básica

DTS FAZ 20 ANOS E CRIA A DIVISÃO CORPORATE A criação da divisão DTS Corporate pela DTS Cinema em Casa comprova o crescimento de uma demanda no mercado corporativo mas também a solidificação da empresa que já soma duas décadas de atuação no segmento. Cada vez mais, os gestores e tomadores de decisão estão atentos em relação aos espaços físicos onde possam realizar treinamentos de equipes, apresentações, palestras, videoconferências, bem como momentos de entretenimento direcionados ao quadro funcional, como teatro e cinema. Se o corporativo está investindo em tecnologia, a DTS responde à altura: atualizou o portfólio com produtos e novidades, aliando tecnologia e alta performance.Trata-se de uma gama de servi-

ços que inclui produtos de áudio, vídeo, correção e tratamento acústico, monitoramento digital, redes wifi, aspiração central e outros serviços diferenciados. Entre as novidades, estão sistemas inovadores de caixas invisíveis, novos softwares em automação, além de controles de iluminação e sistemas de segurança. Com isso, comemora o crescimento dos contratos fechados para atender a demandas de treinamentos e network junto a equipes e colaboradores. A DTS Cinema em Casa é pioneira na oferta de produtos inovadores e acumula certificados reconhecidos internacionalmente. Recentemente, anunciou a ampliação da infraestrutura da loja localizada na Capital.

DTS CINEMA EM CASA RUA JOSÉ ANTÔNIO ARANHA, 340 I TRÊS FIGUEIRAS I PORTO ALEGRE 51 3328.9092 I WWW.DTSCINEMAEMCASA.COM

18

Estilo Zaffari


Pague do seu jeito Com Banricompras você pode pagar à vista, parcelado ou pré-datado. É o cartão sem anuidade que só cliente Banrisul tem. • Grátis e sem juros; • Monitoramento das suas compras no extrato da conta; • Prazo exclusivo de até 60 dias nas compras à vista (de acordo com o estabelecimento).

Abra já sua conta.

Baixe o App Banrisul Digital

SAC: 0800.646.1515 &GƂEKGPVGU #WFKVKXQU G FG (CNC 0800.648.1907 Ouvidoria: 0800.644.2200 &GƂEKGPVGU #WFKVKXQU G FG (CNC (51) 3215.1068 /banrisul

@banrisul

www.banrisul.com.br


Cesta básica

LOJA DE MÃE PARA FILHO Um negócio responsável, capaz de colaborar para a construção de um novo mundo. Esse foi o sonho da designer Helene Stadtländer e das publicitárias Ana Zuñeda e Patricia Pouzada, que virou realidade com a Loja Cria. O empreendimento reúne um mix amplo de produtos criativos, diferenciados e lúdicos, que vai de artigos para decoração, roupas a brinquedos, para crianças de 0 a 6 anos. Dentro do universo infantil, as sócias buscaram priorizar a produção local, artesanal, criativa e 100% fabricada no Brasil, promovendo o trabalho de outras mamães empreendedoras que buscam complementar a renda de forma flexível, respeitando as necessidades de seus filhos. Todos os produtos da loja precisam estar alinhados à filosofia da marca. O espaço foi pensado para abrigar um conjunto variado de marcas independentes e promover atividades lúdicas com base na interação entre mães e filhos. A Cria ainda é responsável por uma linha de produtos feitos com matéria-prima orgânica e natural, estamparia manual e tingimentos naturais. 20

Estilo Zaffari

LOJA CRIA RUA VISCONDE DO RIO BRANCO, 828 FLORESTA I PORTO ALEGRE WWW.CRIADECORACAO.COM.BR



E-COMMERCE DE DELÍCIAS Almoçar no restaurante Suzanne Marie é sempre um momento de prazer. Famoso por seu buffet de almoço, preparado com ingredientes frescos e que mescla receitas mais requintadas com pratos triviais muito bem feitos, o Suzanne Marie tem uma clientela cativa, fã das delícias assinadas pela chef Julia Mantese. Pois agora é possível curtir também em casa os sabores do restaurante, que está começando a trabalhar com vendas online. As sobremesas divinas elaboradas por Julia, como a cheesecake de chocolate, a torta de maçã e a de pera, os pudins, todas essas estrelas da casa estarão disponíveis no e-commerce do Suzanne Marie, assim como as quiches salgadas com sabores únicos e outros pratos deliciosos que fizeram a fama do lugar. Pelo novo site do restaurante, todo reformulado e com fotos dos pratos feitas por Letícia Remião, o cliente poderá escolher o que deseja e fazer sua compra online. Nunca foi tão fácil comer bem dentro de casa!

MANTRA: GASTRONOMIA, ARTE, SAÚDE E BEM-ESTAR

CASTRO ALVES, 465 51 3395.3370 @MANTRAGASTRONOMIAEARTE 22

Estilo Zaffari

RUA TOBIAS DA SILVA, 304 MOINHOS DE VENTO I PORTO ALEGRE I RS 51 3023.4549 I 51 99653.4706 WWW.SUZANNEMARIE.COM.BR

FOTO: LETÍCIA REMIÃO

Comida deliciosa em um ambiente aconchegante, repleto de luz natural, onde os garçons fazem questão de explicar gentilmente os ingredientes e pratos para clientes nem sempre habituados à culinária vegana indiana. Assim é o Mantra, restaurante instalado em um antigo casarão de esquina na Castro Alves com a Miguel Tostes. A bela casa também funciona como espaço de yoga e escola de ayurveda. No andar superior e no salão acontecem periodicamente cursos de culinária vegana, exposições de arte e shows. Ao meio-dia o Mantra serve almoço vegano, com cardápio que muda diariamente, composto por entradinha, prato principal e sobremesa. À noite a pedida é degustar os hambúrgueres da casa, todos veganos e maravilhosamente bem feitos, temperados com aquele delicioso toque oriental. Pra beber, sucos, chás e kombuchas. A de maracujá é simplesmente perfeita.

SUZANNE MARIE


Estilo Es Est E ssttilo iilllo o Zaffari Zaaff Z fffa farrii fa

23 23


Humanas criaturas T E T Ê

PAC H E C O

VIDA CELULAR A bateria tá acabando. O pop up na tela avisa. Menos de 20%. Ai, que nervoso, há tanto a fazer. Digitar umas mensagens, curtir e comentar uns posts, responder aos e-mails. Checar se alguma ligação foi perdida, baixar uns aplicativos, adicionar 4 novos números nos contatos, apagar umas fotos ruins e fazer um arquivo com as boas da viagem. Fazer o update do sistema operacional, testar o novo IGTV, mas antes fazer um backup de tudo. Não vai dar pra fazer backup com 20% de bateria. Tem que recarregar, mas não tem cabo. Droga, por que todo lugar não tem cabos à disposição de todos? Cabo e wifi. As únicas coisas de que o ser humano atual precisa. Comida também, mas pede pelo ifood. Ah, a vida celular. Dependemos totalmente dele, e ele, passageiro, dura pouco. Só até a próxima versão ou antes disso. Vale tanto que pode bruscamente ser arrancado de nós, no meio da rua, no ônibus, no metrô. Corremos o risco permanente de ver suas partes quebradas, temos que olhar por ele o tempo todo. Capinhas, telas protetoras, novos e fortes suportes. Quanta fragilidade numa relação tão vital. Onde estão nossos filhos agora? Nosso celular sabe. Onde estão meus documentos, o celular sabe. Onde estão nossas mochilas, bolsas, casacos, calças? Estão com nossos celulares dentro. Fácil de achar. Quando não temos bolsas e casacos, saímos com ele na mão, como se fosse

24

Estilo Zaffari

uma extensão de nossos membros, um novo cérebro na ponta dos dedos. Nossos hábitos passaram a ser norteados por ele. Tá no ônibus, joga um pouquinho que passa. Tá na fila do supermercado, aproveita pra invejar a roupa nova da amiga e ver o melhor amigo encontrar amor da vida dele. São os tempos dos entretempos, os tempos da distração conectada. Do foco em si mesmo. Existe pouco tempo nesse novo universo paralelo. Nem essa expressão sexagenária serve pra explicar que universo é esse. Seria um lapso? Segundos fracionados, entre um pop up e uma notificação. Se engana quem acha que está só ganhando tempo com seu novo e reluzente objeto. No meio da ameba cintilante em constante movimento existe um buraco negro, e estamos sendo sugados por ele. Distraídos por ele, ocupados por ele. Nosso tempo está sendo esmagado nesse lugar sem matéria, onde mensagens de voz, corrente de orações e memes políticos nos grupos de whatsapp da família se aglomeram e multiplicam num infinito de cognições neuróticas obsessivas. Exagero? Talvez. Olha o que a falta de bateria é capaz de fazer.

TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA



Sabor

Casamento P O R

26

Estilo Zaffari

B E T E

D U A R T E

F OTO S

L E T Í C I A

R E M I Ã O


perfeito

O EQUILÍBRIO DOS SABORES E TEXTURAS DO VINHO COM A COMIDA


Sabor


A HARMONIZAÇÃO DE COMIDA E VINHO PODE SER COMPARADA À PAIXÃO: A APROXIMAÇÃO TANTO PODE SE DAR POR SIMILARIDADE, QUANDO EXISTE COMPANHEIRISMO PERFEITO, QUANTO POR CONTRASTE

Temperaturas mais baixas pedem pratos mais complexos, mais calóricos, gordurosos até, e que parecem exigir vinhos mais encorpados, robustos, com mais taninos, para os acompanhar. Quando comida e bebida se completam, criam um novo conjunto de sabores harmônicos. Surge, no entanto, uma dúvida: como fazer o melhor casamento? A harmonização de comida e vinho pode ser comparada à paixão: a aproximação tanto pode se dar por similaridade, quando existe companheirismo perfeito, quanto por contraste, aquela combinação para quem acredita que os opostos se atraem. Mesmo que o gosto pessoal reine absoluto, algumas regras, como nos relacionamentos, facilitam a parceria. Mas também existem casos em que as divergências afastam completamente, não há possibilidade de aproximação. Se existe a crença de que os casamentos perfeitos são os de vinho branco com peixes e carnes brancas e os de vinhos tintos com carnes vermelhas – o que na maioria das vezes dá certo –, outras combinações também são possíveis. Não é tanto a cor do vinho que importa, e sim o equilíbrio dos sabores e texturas da bebida e da comida. A possibilidade de experimentar, de colocar em prática o olhar, descobrir novos aromas e sabores faz desse ritual um prazer. O prato deve enaltecer as qualidades do vinho, e a bebida, deixar a comida mais apetitosa. Conhecer elementos que caracterizam cada um deles pode ajudar a estabelecer critérios para a escolha de como harmonizá-los. Quem considera a harmonização um desafio pode contar com algumas dicas para facilitar essa aventura. Claro que é preciso compreender que inúmeras variáveis influenciam o equilíbrio. No vinho, devem-se considerar cepas, safras, produtor, método de produção, região produtora, temperatura, guarda. Os pratos sofrem alterações conforme os ingredientes, a forma de cocção, a temperatura, tempero, frescor, complexidade. Sem falar no ambiente, na companhia, o humor. Antes do sabor, o peso – ou como você sente o vinho ou a comida na boca – é o mais importante. Um não deve prevalecer sobre o outro. Em relação aos sabores, procure encontrar os que são comuns à bebida e ao prato. Preste atenção em relação a molhos, temperos e

condimentos, esses podem fazer toda a diferença na hora de escolher o vinho.

ACIDEZ Todo vinho tem uma acidez natural, é como uma sensação de agulhadas que pode ser percebida nas laterais da língua. Pratos ácidos harmonizam bem com vinhos que também apresentem acidez. Receitas ricas, salgadas, cremosas, picantes, gordurosas ou com um pouco de especiarias podem ser refrescadas pelo vinho mais ácido. Costumam fazer boa companhia a receitas da cozinha oriental.

TANINO O tanino é conferido pela casca e pelo caroço da uva e ajuda a melhorar a cor, a textura e a estrutura do vinho. Pode ser percebido como amargo ou seco na parte de trás da língua. Desperta sensações de rude e áspero, ou sedoso e macio. É um dos melhores recursos para harmonizar com pratos gordurosos e suculentos. Algumas vezes os vinhos ricos em taninos são difíceis de serem bebidos sozinhos, mas fazem boa companhia a carnes e massas. Evite servir com alimentos amargos, com muito sal, ácidos ou com peixes e crustáceos. Carnes bem passadas têm o amargor acentuado pelos taninos, da mesma forma que eles acentuam o ardor dos pratos apimentados e ressaltam em demasia o sabor dos defumados.

DOÇURA Comidas doces exigem vinhos de iguais proporções de açúcar. Por este motivo, as escolhas geralmente recaem nos vinhos típicos de sobremesa, como Porto e Sauternes, e espumantes demi-sec e Moscatel.

TEMPERATURA A temperatura, tanto da comida como do vinho, é importante para uma boa harmonização. Ela pode alterar o sabor do vinho: os taninos ficam mais amargos e agressivos

Estilo Zaffari

29


Sabor se a bebida estiver muito gelada; em contrapartida, os vinhos doces ficam mais saborosos quando gelados. São tantos os fatores que os experts recomendam que sejam levados em conta que até podem assustar. Mas não desanime. O mais importante é experimentar, experimentar e experimentar. Para começar, pode seguir algumas indicações que costumam funcionar para a maioria das pessoas.

Bacalhau com Batatas ao Murro (by Rogério Priori ) 600 G DE LOMBO DE BACALHAU

BACALHAU Os vinhos brancos mais leves e refrescantes normalmente são dominados pela intensidade do bacalhau, enquanto os taninos dos tintos mais encorpados travarão batalha sem vencedores contra o sal do peixe. O ideal é escolher o vinho de acordo com o método de preparo do bacalhau. Se for fervido ou no vapor, o que permite perceber o sabor natural do peixe, escolha um vinho suave e leve. Se frito ou salteado, o azeite ou a manteiga vão interferir no sabor, então, fique com vinhos um pouco mais complexos, como os Merlot que passam por carvalho. O grelhado ganha um sabor defumado e combina também com os Merlot. No caso do assado, em que a gordura envolve o peixe, os tintos jovens com pouco tanino são perfeitos. Já o ensopado exige atenção em relação ao molho: os mais untuosos pedem vinhos mais complexos e encorpados, enquanto os mais magros, como os de tomate, combinam melhor com vinhos mais leves.

CARNE DE PANELA A combinação de carne vermelha com Cabernet Sauvignon é clássica. O molho grosso e repleto de sabor umami realça as notas frutadas do vinho.

COGUMELOS Os sabores terrosos dos cogumelos frescos e trufas pedem vinhos geralmente de corpo mais leve, mas com profundidade de sabores. O Pinot Noir, com aromas que fazem referência aos mesmos sabores terrosos, como florestas úmidas e fungos, é uma boa opção.

10 G DE PÁPRICA DOCE DEFUMADA 30 G DE ALHO PICADO 70 ML DE AZEITE DE OLIVA EXTRAVIRGEM 4 BATATAS SAL GROSSO CEBOLAS EM RODELAS AZEITONAS PRETAS OVOS COZIDOS LEGUMES SALTEADOS NA MANTEIGA MODO DE FAZER: Dessalgue e hidrate o bacalhau por 5 dias em água gelada e trocada diariamente, conservando o bacalhau na geladeira. Misture o alho, a páprica e o azeite e tempere o bacalhau, deixando nesse tempero por 12 horas. Leve o bacalhau ao forno, a 2000C graus, por 20 min. Asse as batatas com a casca, temperadas com sal grosso, por 30 min. Retire as batatas do forno e amasse com murros. Ponha o bacalhau em uma travessa com as batatas e regue com azeite de oliva. Sirva com cebolas e legumes salteados na manteiga, azeitonas e ovos cozidos.

O chef Rogério Priori, do Armazém do Bacalhau, escolheu um prato simples e saboroso para os dias de temperaturas mais baixas. O lombo assado é acompanhado de batatas ao murro e legumes salteados na manteiga. O sommelier Rodrigo Albernaz, da Porto a Porto, recomenda um vinho português. Afinal, uma das regras que ajudam na harmonização é escolher vinhos da mesma região de origem dos pratos. Um Touriga Nacional vai fazer bonito com esse bacalhau.

30

Estilo Zaffari



Sabor

INÚMERAS VARIÁVEIS INFLUENCIAM O EQUILÍBRIO, COMO CEPAS, SAFRAS, REGIÃO PRODUTORA, TEMPERATURA DO VINHO; INGREDIENTES, TEMPERO, FORMA DE COCÇÃO, TEMPERATURA DO PRATO


FEIJOADA A complexidade dos elementos presentes na feijoada torna difícil a harmonização. O gosto forte do feijão e das carnes, muitas delas salgadas, o ácido do vinagrete e da laranja e ainda os acompanhamentos – arroz, farofa e couve – recomendam um espumante brut, que pode limpar a gordura, equiparar a acidez da bebida com a do prato. Há quem recomende vinhos tânicos, como o Tannat.

FONDUE O de queijo tem muita gordura, por isso pede um vinho com acidez. Harmoniza com vinhos brancos encorpados, como um Chardonnay não muito amadeirado. Mas também vai bem com tintos mais frutados e de médio corpo. O de carne pode ser acompanhado por tintos, que não sejam muito tânicos, como um Merlot, Pinot Noir ou um Cabernet Sauvignon. O de chocolate pede um branco doce, como um Porto ou um espumante Moscatel.

MASSAS A harmonização deve levar em conta os ingredientes do molho. O de tomate pede tintos leves com boa acidez. Exemplo: Merlot. Brancos mais encorpados, como o Chardonnay, ou um tinto mais delicado, como Pinor Noir ou Beaujolais, acompanham bem os molhos de queijo. O pesto pede um Sauvignon Blanc ou Torrontés. Quando o molho for de carne, prefira um tinto um pouco mais encorpado, como o Cabernet Sauvignon. Para os à base de frutos do mar, opte por brancos ou rosés. A lasanha, pela intensidade dos molhos, harmoniza melhor com o Cabernet Sauvignon.

siderável de gordura e sabor picante, o que os torna boa companhia para vinhos de sobremesas, como o Sauternes, ou outros brancos doces com equilíbrio de acidez/ doçura. O Porto é uma boa opção. Os de massa mole e casca aveludada – brie e camembert –, com sabor rico e concentrado, harmonizam bem com Chardonnay ou Viognier, mas também aceitam bem Pinot Noir, Merlot e Sangiovese. Os semiduros – gouda, gruyère, emmental – vão bem com brancos encorpados, como o Chardonnay. Se a opção for por tintos: o gouda e o gruyère devem ser servidos com vinhos encorpados, e o emmental com os de corpo médio. Os duros e de consistência granulosa – parmesão e grana padano – harmonizam com os fortificados, como Porto ou de colheita tardia.

RISOTOS Aconchegante, o risoto é uma receita perfeita para o inverno. Na hora de escolher o vinho que vai acompanhá-lo, é preciso levar em conta os ingredientes utilizados no preparo do prato. O de funghi pede tintos maduros e aveludados. Os de legumes ou de queijos combinam bem com Chardonnay ou Sémillon. Os de carne e linguiça vão bem com tintos de corpo leve e médio.

SOPA DE ABÓBORA Os sabores doces e frutados do creme de abóbora são destacados pelo aromático e fresco Gewürztraminer. Se temperados com curry, gengibre ou alecrim fresco, essa harmonização ficará ainda mais interessante.

MOCOTÓ Prato polêmico do inverno gaúcho. É de amor ou ódio. Prato rico de sabores, vai bem com um Merlot. Há quem o considere gorduroso, por isso sugiro um vinho com maior acidez.

OSSOBUCO Corte bovino rico em colágeno e gordura, é par perfeito para um Cabernet Sauvignon de mais corpo ou um Sangiovese.

QUEIJOS Os azuis – gorgonzola, roquefort – têm teor con-

SOPA DE CAPELETTI O recheio da massa normalmente leva miúdos de ave e especiarias, por isso harmoniza muito bem com os tintos de leve a médio corpo com boa acidez.

SUFLÊ Os tradicionais de queijo harmonizam com brancos de médio corpo, com pouca ou sem passagem por madeira, como um Chardonnay ou Viognier mais frescos ou um Riesling. Os de sobremesa vão harmonizar de acordo com o ingrediente principal de cada suflê: o de frutas com os de colheita tardia (Late Harvest) e o de chocolate com um Porto.

Estilo Zaffari

33


Sabor

OS VINHOS

NA HARMONIZAÇÃO, O PRATO DEVE ENALTECER AS QUALIDADES DO VINHO;

BRANCOS Mesmo que geralmente se pense em vinhos tintos para acompanhar pratos de inverno, os brancos muitas vezes podem ser uma boa parceria.

Chardonnay Pode ser leve, frutado, untuoso e complexo (pela passagem em carvalho). Harmoniza bem com a maioria dos frutos do mar encorpados (lagosta, camarão) e deve não ter passado por carvalho quando servido com mexilhões ou ostras. Receitas com manteiga, creme de leite, queijos derretidos e polenta combinam com esse vinho. Outra boa parceria são o cogumelo salteado na manteiga e as massas com molhos leves. Polvo com molho denso aceita bem um Chardonnay estagiado em carvalho. Os encorpados e com madeira dificilmente harmonizam com pratos apimentados, com especiarias, muito doces ou com ingredientes ácidos, como azeitona, alcaparra e tomate.

Sauvignon Blanc Costuma ser vinho perfumado, exuberante, de corpo médio e acidez marcante. Por sua refrescância, tende a ser melhor quando jovem. Acompanha bem pratos com tomate, peixe com limão, comida thai, receitas com camarões, salada à base de queijo de cabra, pratos servidos com molho vinagrete, receitas com especiarias ou pimentas, molhos à base de manteiga ou creme, peixes grelhados simples, massas com frutos do mar. EVITE: servir com cebola caramelizada, alho assado, abóbora, receitas muito ricas em sabor e textura.

Gewürztraminer Vinho aromático, combina com pratos com especiarias como curry, gengibre, cravo, canela e cardamomo. Pede cautela com o nível de pimenta. Acompanha bem queijos fortes, ingredientes defumados ou grelhados, pratos levemente frutados e adocicados, quiches e omeletes. EVITE: os pratos apimentados, os com ingredientes ácidos ou os muito doces.

34

Estilo Zaffari

TINTOS Cabernet Sauvignon Os jovens, com pouco estágio em madeira, costumam ser frutados e exuberantes. Harmonizando com pratos mais simples, carne grelhada, carne com longo cozimento, churrasco, pizza. Os amadurecidos, de guarda, combinam com receitas mais requintadas, carne malpassada, carré de cordeiro com ervas. EVITE: os pratos delicados e sutis, os queijos fortes, a maioria dos peixes, os pratos muito condimentados e apimentados, risotos simples e a maioria dos chocolates.

Malbec Vinho típico argentino, harmoniza com carnes vermelhas, principalmente as malpassadas e grelhadas na brasa, parillada e receitas com miúdos, cassoulet, pato confit, pizzas. EVITE: pratos mais salgados, receitas sutis, peixes e pratos com ingredientes ácidos.

Merlot Esse vinho é um dos tintos mais populares, é redondo e frutado na boca, com taninos amigáveis. Faz boa companhia a cogumelos, ervas frescas, grelhados e defumados, porco ao molho de mostarda. Salmão, camarões, atum e vieiras podem combinar com Merlot. Receitas com cerejas, ameixas ou passas reproduzem os mesmos aromas presentes nesse vinho. EVITE: os queijos fortes ou azuis, pratos delicados e sutis, com especiarias apimentadas e risotos e massas com vegetais cozidos.

Pinot Noir É um tinto de grande versatilidade na harmonização com comida. O Pinot Noir combina com pratos temperados com especiarias, com ingredientes defumados, grelhados ou tostados, com embutidos, queijos mais neutros, pratos da cozinha asiática, com vegetais cozidos, abóbora, lentilha, cebola, cogumelo. E até com atum e salmão.


A BEBIDA DEVE DEIXAR A COMIDA MAIS APETITOSA EVITE: peixes e frutos do mar mais fortes (anchova e sardinha), pratos ou molhos ricos (com muita quantidade de manteiga, creme ou maionese), pratos apimentados e queijos de aromas fortes.

Syrah Esse tinto varia muito conforme a região de origem. Pode ser potente ou macio, defumado ou frutado, mineral, doce ou austero. Pode ser par perfeito para grelhados, ragus, caças, pratos temperados com ervas, e há quem o indique para acompanhar churrasco. EVITE: a maioria dos peixes, apesar de os mais leves poderem harmonizar com atum, salmão ou um peixe ensopado. Receitas apimentadas e muito ácidas não vão bem com os Syrah. Assim como os queijos azuis.

Tannat É uma variedade difícil. Os vinhos costumam ser potentes e de graduação alcoólica elevada. Entre as harmonizações possíveis, carnes vermelhas, caça, churrasco, cassoulet, feijoada, rabada, ossobuco. EVITE: carnes leves, peixes, filé mignon, pratos mais salgados. Lembre que a harmonização tem por objetivo equilibrar as características da comida e do vinho, completando as qualidades de ambos e elevando o nível da experiência em termos de aromas, sabores e texturas. Mas que, acima de tudo, como em qualquer relacionamento, o prazer vai depender de escolhas estritamente pessoais. Com essas dicas, vale a pena lançar-se à aventura da degustação e fazer as próprias descobertas. Ainda mais se se levar em conta o que diz o pesquisador Gordon Shepherd, neurocientista, especialista em Neuroenologia: “Desde a primeira visão da garrafa de vinho, manipular a bebida na boca e, em seguida, engolir, há uma tremenda gama de sistemas sensoriais, motor e do cérebro central envolvidos em uma degustação. Todos juntos, esses processos envolvem mais atividade cerebral do que ouvir música ou resolver um problema de matemática complicado”.


Sabor Codornas ao Molho de Vinho e Brandy com Cogumelos e Polenta Mole (by Jorge Nascimento) 4 CODORNAS 3 COLHERES (SOPA) DE FOLHAS DE SÁLVIA FRESCAS RASGADAS 1 COLHER (SOPA) DE FOLHAS DE TOMILHO FRESCO 1 COLHER (SOPA) DE FOLHAS DE ALECRIM FRESCO 2 DENTES DE ALHO AMASSADO 150 ML DE BRANDY DE QUALIDADE 4 COLHERES (SOPA) DE AZEITE DE OLIVA EXTRAVIRGEM 4 COLHERES (SOPA) DE MOSTARDA 2 CEBOLAS ROXAS MÉDIAS CORTADAS EM TIRINHAS 500 G DE TOMATES ITALIANOS MADUROS SEM PELE EM CUBOS 150 G DE COGUMELOS SHIITAKES FRESCOS EM TIRAS DE 2 CM 150 G DE COGUMELOS PARIS FRESCOS EM FATIAS DE 0,5 CM SAL PIMENTA-DO-REINO PIMENTA-DA-JAMAICA QUEBRADA 100 G DE MANTEIGA 100 ML DE VINHO MERLOT 1 LITRO DE CALDO DE AVE 250 G DE FUBÁ MÉDIO 100 G DE QUEIJO PARMESÃO 50 ML DE AZEITE DE OLIVA

MODO DE FAZER: Lave, seque bem as codornas; com a ajuda de uma faca, elimine o pescoço e, com um barbante ou fio dental, amarre as pernas para que não se abram durante a cocção. Esfregue as codornas com um pouco de sal e pimenta-do-reino e coloque dentro de um saco ou bowl. Junte a sálvia, o alecrim, o tomilho, o alho, a pimenta-da-jamaica quebrada, a mostarda, o azeite de oliva, as cebolas e o brandy. Misture tudo muito bem, prove o sal, ajuste se julgar necessário, feche o saco ou bowl e deixe tomar gosto na marinada. Aqueça uma panela de fundo grosso, derreta a manteiga até que fique em tom castanho médio e doure de todos os lados. Retire e reserve. Na mesma manteiga, refogue as cebolas da marinada até que fiquem douradas e junte os cogumelos. Mexa bem, tempere com sal e pimenta-do-reino e refogue por 5 min. Adicione os tomates e a marinada e deixe levantar fervura. Junte as codornas de forma que fiquem submersas no refogado, acrescente o vinho e deixe cozinhar em fogo baixo por 40 min ou até que fiquem macias, sem soltar dos ossos. Para a polenta, numa panela de fundo grosso coloque o fubá e o caldo de ave, mexa até dissolver bem o fubá e tempere com sal. Leve ao fogo médio-baixo e cozinhe batendo a polenta com uma colher, sem mexer o fundo da panela, até que fique bem cozida. Regue a polenta com o azeite de oliva e mexa vigorosamente, ajuste o tempero, se necessário. Sirva a polenta e metade do queijo parmesão sobre ela, por cima coloque as codornas quentes e sem o cordão e regue generosamente com o molho quente. Sirva em seguida com o queijo parmesão ralado à parte.

O vinho pode estar presente no prato e na taça. O sommelier Rodrigo Albernaz lembra que, quando se cozinha com vinho, a bebida escolhida deve ser de qualidade tal que você beberia sem pestanejar. Nada de escolher vinho de menor qualidade, pois a economia vai prejudicar o sabor do prato. Para as codornas preparadas pelo chef Jorge Nascimento fique com um Merlot (o mesmo da receita) ou um assemblage de Cabernet Sauvignon com Merlot.

36

Estilo Zaffari



Sabor


Ragu de Bochecha (by Natália Tussi) 1 KG DE BOCHECHA BOVINA, ACÉM OU MÚSCULO EM CUBOS GRANDES

1 COLHER (CHÁ) DE SAL 1 COLHER (CHÁ) DE SEMENTE DE MOSTARDA

100 G DE GORDURA DE BACON OU AZEITE DE OLIVA 200 G DE CEBOLA

FAROFA DE PÃO

60 G DE ALHO

200 G DE PÃO SEM CASCA RALADO

200 G DE CENOURA

30 G DE MANTEIGA

100 G DE AIPO

3 DENTES DE ALHO

100 G DE ALHO-PORÓ

TOMILHO

1 BOUQUET GARNI (TOMILHO, ALECRIM, LOURO)

SAL E PIMENTA

1 GARRAFA DE VINHO TINTO SECO 1 COLHER (CAFÉ) DE COMINHO 15 G DE JAPALENHO (OU OUTRA PIMENTA) 1 COLHER (CAFÉ) DE PÁPRICA PICANTE 1 COLHER (CAFÉ) DE PÁPRICA DEFUMADA SAL 1 MAÇO DE SALSINHA 100 ML DE SHOYU 1 LATA DE TOMATE PELATTI PURÊ RÚSTICO 800 G DE BATATA 100 ML DE LEITE 30 G DE MANTEIGA 15 G DE ALHO SAL 1/4 DE NOZ MOSCADA RALADA PICLES DE ABÓBORA 200 G DE MORANGA CABOTIÁ CRUA SEM SEMENTES E COM CASCA 1/2 XÍCARA DE VINAGRE DE ARROZ

MODO DE FAZER O RAGU: Para o ragu, aqueça uma panela grande, coloque a gordura de bacon e deixe derreter. Sele os cubos de carne aos poucos, para que dourem bem. Tempere com sal. Adicione a cebola, o alho, o aipo e a cenoura, todos em cubos pequenos, e refogue bem. Coloque o tomate pelatti, deixe ferver e adicione o vinho e os demais ingredientes, menos a salsinha. Cozinhe por cerca de 3 h, adicionando água quente aos poucos, sem deixar secar, até que a carne comece a se desmanchar. Finalize com a salsinha. MODO DE FAZER O PURÊ: ferva água e coloque as batatas com casca para cozinhar. Quando estiverem macias, escorra a água e adicione os demais ingredientes, desmanchando e misturando com uma colher grande ou um fouet. MODO DE FAZER O PICLES: com um mandolin ou descascador de legumes, filete a moranga com casca. Em uma panela, ferva o vinagre, a água, o açúcar, o sal e a semente de mostarda, desligue e coloque sobre a moranga filetada. Conserve em geladeira. MODO DE FAZER A FAROFA: derreta a manteiga, adicione o alho picado e o tomilho. Em seguida, em fogo baixo, junte o pão ralado, mexendo sem parar até que fique dourado e crocante. Tempere.

1/2 XÍCARA DE ÁGUA 1/2 XÍCARA DE AÇÚCAR Lembra que o Syrah é um vinho que combina muito bem com ragus? Então, Rodrigo Albernaz garante que esse ragu de bochecha, escolha da chef Natália Tussi, do Roister, certamente vai ter o casamento ideal com um bom Syrah.

Estilo Zaffari

39


Vida C E L S O

G U T F R E I N D

QUANDO AS FIGURINHAS NOS SALVAM A esta altura do milênio, um paradoxo desponta: quanto mais a ciência evolui, mais paradoxos encontramos. Somos menos lineares e explicativos do que relativos e quânticos, e aqui a arte, com a sua abertura e significados infinitos, tem muito a colaborar. O físico Ernesto tornou-se Sabato, o grande escritor, e isto é representativo na evolução do conhecimento. De forma que dizer que os começos decidem seria uma pobre explicação. Mas os começos parecem mesmo decidir. O aparato de pensar e de sentir é muito pobre no bebê para lidar com tamanha mãe. E pai. E comunidade. De forma que, no começo, é muito difícil, se não impossível, não dividi-los em bons e maus, amigos e inimigos. Os contos infantis sabem disso e, assim, comunicam-se diretamente com as crianças pequenas. Relativizar o outro, compreendê-lo como nem tão bom e nem tão mau é uma aquisição difícil e sempre (?) relativa. Volta e meia, já crescidos, fazemos essa dissociação e tornamos diabo um humano enquanto acreditamos em um salvador. Que nem bebês. E nem sombra de purgatório entre o céu e o inferno. Tem ainda as atitudes infernais que incluem a segregação, a exclusão, a violência. Legais

40

Estilo Zaffari

são os nossos. Espúrios são os demais. O inferno são os outros, como vaticinou o filósofo. Felizmente há o álbum de figurinhas. Ele resgata, desde cedo, o que há de mais humano em nós e em nossas crianças, esta capacidade de estar em comunidade, repartindo um desejo partilhado sem perder a noção do eu e do outro. Claro que há abusos, dissociações, bebês desesperados de carência à espera de preencher ali o que faltou. Mas o que mais há é encontro. Fomento da troca. Cultivo da ética. Troca-se uma figurinha por outra figurinha ou, se a convenção o anuncia, duas por uma que é indubitavelmente mais valiosa. Por ser rara, por ser brilhante. Brilhante é a função social do álbum de figurinhas, capaz de amenizar vazios psicológicos e pôr na praça o melhor de nós. Enquanto houver figurinhas, há esperança. Não uma esperança linear, explicativa, científica puramente. Uma esperança de arte complexa, esta de um encontro humano repleto de protagonistas e sem um salvador. CELSO GUTFREIND É PSIQUIATRA E ESCRITOR, ESPECIALISTA EM PSIQUIATRIA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA


A Trip & Travel conta com 30 anos de experiência em viagens e intercâmbios. Representamos o STB - Student Travel Bureau, líder em intercâmbios no Brasil. E somos uma das poucas agências do Brasil a contar com a chancela Virtuoso, a exclusiva rede que reúne as melhores agências de turismo do mundo.

triptraveltur

2019

Conheça os próximos Grand Tours 2019, viagens de imersão cultural guiadas por Beto Conte:

Cruzeiro na Antártida

Israel & Jordânia

De 24/fev a 09/mar 2019

De 6 a 22/abr 2019

A bordo do Silver Cloud Expedition, vamos navegar por 10 dias, de Ushuaia, no extremo sul da Argentina, até a Antártida.

Uma fantástica viagem onde exploraremos uma das mais antigas civilizações do mundo, com suas tradições milenares.

Cruzeiro no Rio Ródano

Transiberiana & Mongólia

De 2 a 17/jun 2019

Agosto 2019

Uma semana de navegação desfrutando as vistas dos povoados ribeirinhos, os vinhedos e cenários bucólicos do interior da França.

Oportunidade de desvendar as estepes e o deserto da Mongólia, e a aventura de cruzar a Sibéria de trem desde o lago Baikal até Moscou.

Confira os roteiros completos em www.triptravel.com.br

Moinhos de Vento

Viva Open Mall

Paseo Zona Sul

ATL House PUCRS

(51) 4001.3000

(51) 3516.1001

(51) 3516.1006

(51) 99291.5182

moinhos@stb.com.br

poaviva@stb.com.br

zonasul@stb.com.br

pucrs@stb.com.br

www.triptravel.com.br

VOCÊ SEMPRE VOLTA DIFERENTE DE UMA VIAGEM


Lugar de vinho é na

P O R

42

Estilo Zaffari

F L AV I A

M U

Vinho é elemento que reúne pessoas, brinda conquistas e melhora o dia. Não à toa, a adega saiu daquele porão escuro e distante para juntar-se aos espaços sociais da casa. E isso faz com que o hábito de consumir vinhos torne-se mais presente no dia a dia. Quantos bons momentos são vividos com taças cheias, não é mesmo? O vinho é uma bebida viva e está em constante evolução. Por isso, quem é fã de uma boa taça mais cedo ou mais tarde precisará de uma adega em casa. Isso porque o cuidado com cada garrafa não termina no envase – o vinho deve ser bem guardado para que suas melhores características se mantenham ou se aprimorem com o tempo. Vinhos brancos e espumantes, em geral, têm consumo um pouco mais rápido. Mas especialmente vinhos tintos e vinhos de guarda precisam ser bem armazenados para que, na hora de tirar a tão esperada rolha, a experiência não termine numa triste surpresa. Flora Detanico, arquiteta apaixonada por tecnologia, design e vinhos, dedica-se ao desenvolvimento de projetos de adegas personalizadas. “Costumo dizer para os clientes que construir uma adega é mais ou menos como pensar um quarto para dormir. Pois o vinho pede um ambiente que tenha suavidade: um espaço que não tenha excessiva iluminação, sem muita vibração e, especialmente, com temperatura amena e constante”, explica. Outro ponto importante é a umidade. “Quando a umidade é muito baixa, a rolha resseca e, por isso, o oxigênio entra na garrafa e se dá a oxidação do vinho. Por outro lado, se existe muita umidade, acima de 80%, o que pode acarretar é o aparecimento de mofo na própria rolha ou no rótulo”, comenta. A adega tem uma função técnica, que é imprescindível e necessária, mas também se tornou elemento decorativo. “É um espaço cênico e que traz acolhimento. É mais um assunto para a casa e mais uma história para a família”, comenta. Projetos personalizados (veja nas próximas páginas) mostram a versatilidade de acabamentos e a adaptação das adegas ao estilo da sala de jantar, do living ou do espaço gourmet. “A adega deixa de ser uma geladeira, um equipamento dissociado, e passa a ser parte do ambiente. Há inúmeros acabamentos, como madeira natural, laca, inox e outros”, afirma Flora.

FOTO: EDUARDO LIOTTI/DIVULGAÇÃO LACAVA

Casa


Estilo Zaffari

43


Casa

44

Estilo Zaffari


UMA ADEGA DE PORTA ÚNICA E DIMENSÕES REDUZIDAS, MAS PERFEITAMENTE INTEGRADA AO AMBIENTE E MUITO FUNCIONAL

FOTOS: MARCELO DONADUSSI/DIVULGAÇÃO LACAVA

Versão Compacta Uma opção compacta para quem tem grande amor pelo vinho e pouco espaço para uma adega. A adega de porta única – desenvolvida pela Lacava para o ambiente da HB Interiores na CasaCor 2017 – tem apenas 80 cm de largura por 65 cm de profundidade. O projeto, apresentado na principal mostra de arquitetura e decoração do Rio Grande do Sul, demonstra que a adega pode ser facilmente integrada ao mobiliário de uma cozinha, de uma sala de estar ou de espaço gourmet. “Buscávamos um ambiente mais despojado, integrado e prático”, explica Flora. Por isso, há duas adegas no projeto: cada uma preserva uma temperatura, o que é interessante para atender diferentes serviços de vinho. “A recomendação é deixar vinhos brancos, espumantes e vinhos tintos mais jovens em temperatura um pouco mais baixa, especialmente antes de consumi-los”, explica. O acabamento da adega, em lâmina de madeira natural, dá uma textura interessante que compõe com a própria parede, que segue até a cozinha. “Mais uma vez, a adega está integrada ao mobiliário do ambiente. O destaque fica por conta da suave iluminação, transformando a adega em objeto de decoração para a casa”, detalha.

Estilo Zaffari

45


Casa

A ADEGA EM ESTILO ARMÁRIO É UMA CONTINUIDADE DA COZINHA GOURMET, QUE É O CORAÇÃO DESTE APARTAMENTO

A cozinha é o coração deste apartamento em Caxias do Sul. O casal de moradores é apaixonado por gastronomia. Ele tem restaurante, e testar novas receitas é sempre um prazer. E seguindo a regra: quem gosta de comer bem também curte degustar boas garrafas. Por isso, como continuidade da cozinha, eles investiram numa adega-armário. As portas, laqueadas no mesmo tom de cinza do restante do mobiliário da sala, promovem a integração e combinam com o estilo despojado do apartamento. “A cozinha está bem na entrada da casa e invade a área social. A adega contribui para essa comunicação dos ambientes”, explica Flora Detanico, arquiteta da Lacava que assina o projeto da adega.

46

Estilo Zaffari

FOTOS: CARLOS EDLER/DIVULGAÇÃO LACAVA

Comer e Beber Bem


Estilo Zaffari

47


Casa

AMPLA E INSTALADA EM ESPAÇO NOBRE, NA ENTRADA DO APARTAMENTO, ESTA É UMA ADEGA AMBIENTE. É POSSÍVEL ENTRAR NELA E USAR TODOS OS SEUS MUITOS RECURSOS

Neste apartamento, projetado pela arquiteta Rafaela Erdmann, os vinhos saúdam quem chega para uma visita. A adega personalizada ocupa parte importante do hall de entrada e divide a atenção com uma galeria de obras de arte. “É um espaço nobre e bem visível. Acho interessante este encontro da arte e do vinho. A cor preta, utilizada nos acabamentos, propõe esse ar de nobreza para a adega”, comenta Flora Detanico, responsável pelo projeto do espaço. Essa é uma adega ambiente: é possível entrar, utilizar a bancada de apoio para abrir o vinho, bem como reservar as gavetas para guardar os acessórios. Há prateleiras para guardar bebidas destiladas, por exemplo, e também diferentes posições das garrafeiras que permitem armazenar as bebidas conforme necessidade. “É, sem dúvida, uma adega com mais recursos. Esta é uma opção para quem tem um pouco mais de espaço no apartamento ou na casa”, observa.

48

Estilo Zaffari

FOTOS: RICARDO JAEGER/DIVULGAÇÃO LACAVA

Boas-Vindas


Estilo Zaffari

49


Casa

Brinde de Luxo LUXUOSA – COMO TODA A DECORAÇÃO DO LIVING –, A ADEGA ESTÁ EM DESTAQUE E COMPÕE UM AMBIENTE ESPECIAL 50

Estilo Zaffari

O apartamento deste casal em Porto Alegre traz a sofisticação como principal marca da decoração. Os cristais, os espelhos e os tapetes, destaques do living, remetem ao luxo e à exuberância. A adega, portanto, se insere neste contexto. Das quatro portas da adega, duas guardam os vinhos brancos e as outras duas os vinhos tintos com temperaturas diferentes e ideais para seu consumo. O acabamento em inox – e seu brilho na medida – reforça o refinamento do ambiente. A parte interna, toda em preto, torna a adega discreta e elegante, de forma que não dispute a atenção com outros protagonistas do espaço, como o aquário, o lustre e até mesmo a grande mesa de jantar.


Estilo Zaffari

51


Sampa C R I S

B E R G E R

UM BELO DIA RESOLVI MUDAR

EL CARBON Foi amor à primeira vista (literalmente). Ele fica no rooftop do Jardim Pamplona Shopping, tem uma bela vista para a copa das árvores do Jardim Europa e serve cozinha mediterrânea. Tudo é feito no cozimento a carvão. É delicioso o aroma! Leve em consideração duas dicas: sente-se no lounge descoladíssimo, com poltronas confortáveis e mesas baixas, e peça pelas entradinhas para compartilhar. O ceviche é fabuloso.

Um belo dia, resolvi mudar… Estava na hora de fazer as pazes com a balança. Mas como pensar em perder peso com uma agenda gastronômica intensa como a minha? Ainda mais em uma cidade como São Paulo? A resposta é simples: apostei na seção do cardápio que diz: peixes. E para provar que é possível comer bem, sem extrapolar nas calorias, selecionei sete restaurantes na capital paulista onde o carboidrato pode ficar para a próxima vez.

TIMO O Timo Cucina é vizinho do El Carbon. O chef brasileiro Marcelo Martino, que passou uma temporada na Espanha, comanda a cozinha das duas casas. Apesar de as massas serem apetitosas, me mantive firme no propósito de priorizar os peixes na minha dieta e fui positivamente surpreendida com o peixe do dia com legumes.

52

Estilo Zaffari


ZENA CAFFÉ

SERAFINA

Mais uma casa adorada pelos paulistanos que é bem cotada pelo cardápio italiano. Depois que se “pega o jeito” de eleger peixes no lugar de carboidratos, fica fácil. Sendo assim, optar pelo lombo de robalo, com batata, cebola, erva-doce, azeitonas, cenoura, tomate e brócolis foi natural. No quesito aconchego e bom atendimento, o Zena Caffé desponta.

Este clássico paulistano, que tem DNA nova-iorquino, é famoso pelas pizzas e massas. Eu pedi um atum selado em crosta de gergelim com salada de rúcula, cenoura e abobrinha italiana, e sabe o quê? Saí feliz e satisfeita. Mais uma vez, comprovei que casas italianas fazem bons peixes. O melhor lugar para sentar é na varanda: charmosa e dentro da categoria “para ver e ser visto”.

TORO SUSHI Como o nome sugere, por aqui se comem sushis e sashimis. A apresentação dos pratos é sublime. Cada duplinha merece ser fotografada. Elas são indiscutivelmente lindas. Servido à la carte, a cozinha trata a culinária japonesa com proeza. O melhor é deixar o chef sugerir os peixes mais frescos e ir degustando sem pressa, até ficar satisfeito.

MAREU

ETTO

Aqui foi fácil, o cardápio desta casa “novinha em folha”, (o Mareu abriu em maio de 2018), prioriza pratos saudáveis sem calorias demasiadas. De qualquer forma, eu já estava programada pelos sabores do mar. De entrada, veio o ceviche de peixe branco e camarão. Como prato principal, o peixe com azeitonas pretas e tomatinhos. Ambos divinos. A predominância do branco com o azul deixa a casa com ares “de Grécia”!

O Etto prepara os pratos à base de peixe tão bem quanto suas tradicionais massas. Depois de dar a primeira garfada, você nem espia mais o prato de massa da mesa ao lado. Apostei no atum selado com purê de batatas e não me decepcionei. Nem um pouquinho.

CRIS BERGER É JORNALISTA E ESCRITORA crisberger@crisberger.com

Estilo Zaffari

53


Lugar

Portugal Pelas ruas de Óbidos e T E X T O

E

F O T O S

P O R

B E T O

Évora

C O N T E

Portugal é pequeno o suficiente para ser todo visitado em algumas semanas. Porto e Lisboa sempre estarão presentes em qualquer roteiro pelo país, e eu incluiria também ao sul as praias do Algarve e ao norte as belezas do vale do Douro. Ao longo da última década, graças ao voo direto Porto Alegre – Lisboa, em cada ida à Europa sempre faço meu “pitstop” em Portugal, desvendando novos lugares. Desta vez vou falar de duas cidades próximas de Lisboa que “têm” de ser visitadas. Óbidos, que nos remete ao passado medieval do país, e Évora, que fica a apenas 120 km de Lisboa e no coração de uma das mais fascinantes regiões de Portugal, o Alentejo.

54

Estilo Zaffari


Estilo Zaffari

55


Lugar

CERCADA DE MURALHAS QUE OFERECEM VISTAS INCRÍVEIS DA CIDADE E DOS ARREDORES, ÓBIDOS FAZ A GENTE VIAJAR NO TEMPO

ÓBIDOS Sempre tive curiosidade de conhecer a cênica Óbidos, pois sou fascinado pelas cidades medievais. Óbidos, com as ruínas de seu castelo e envolta por muralhas, faz a gente se sentir fazendo uma viagem no tempo à Europa feudal. Além disso o povoado é famoso pela sua atmosfera típica portuguesa muito bem preservada e superfotogênica com suas casas caiadas decoradas com canteiros de flores coloridas. A vila foi durante séculos o presente de casamento dos reis portugueses para as suas esposas! Passei uma tarde caminhando pelo seu centro histórico com lojas de artesanato tentadoras e subindo as muralhas, que oferecem vistas incríveis da cidadela e arredores. Adorei. Recomendo muito! Em função de localização privilegiada junto ao mar, essas terras foram habitadas desde a época dos fenícios e posteriormente pelos romanos. Em 1148, o primeiro rei português, D. Afonso Henriques, tomou Óbidos aos árabes e passou a fazer parte do pentágono defensivo de castelos idealizado pelos Templários. Com a oferta de Óbidos como presente de casamento de D. Dinis a sua esposa D. Isabel, a vila ficou conhecida como a Casa das Rainhas, tradição só extinta em 1834, e por aqui passou a maioria das rainhas de Portugal, deixando grandes obras como o aqueduto e chafa-

56

Estilo Zaffari



Lugar

rizes encomendados por D. Catarina. O terremoto de 1755 derruba partes da muralha e algumas igrejas, e na reconstrução foram alterado alguns aspectos do traçado e do casco árabe e medieval. Apesar de tantas rainhas, a minha personagem preferida da história da cidade é Josefa d’Óbidos (1630 – 1684), que trabalhou com o pai, o pintor Baltazar Gomes Figueira, e depois em carreira “solo” atingiu fama internacional. Uma mulher de vanguarda que se destacou como pintora profissional em mundo artístico masculino. Com um apurado senso estético e forte domínio técnico da luz e dos contrastes, se diferenciou com suas cenas de misticismo terno e teor intimista. PONTOS DE INTERESSE A visita ao povoado é bem simples. Entrando pela Porta da Vila, percorrer toda a Rua Direita, com suas boas lojas de artesanato, passando pela Igreja da Matriz, que remonta sua fundação ao período visigótico e transformada em mesquita no período muçulmano, terminando no Paço dos Alcaides. O Castelo de Óbidos, de origem romana, foi uma fortificação sob o domínio árabe e depois da conquista cristã foi várias vezes ampliado.

58

Estilo Zaffari

Danificado no terremoto de 1755, permaneceu em total ruína ate o séc. XX, quando foi restaurado como Pousada do Castelo, iniciando a renomada rede de hotéis em prédios históricos. A partir daí sugiro caminhar pelas muralhas que envolvem o povoado, oferecendo ótimos ângulos para fotografar essa preciosidade medieval.

ÉVORA A cidade de 40 mil habitantes já foi um importante centro no período romano, com o templo de Diana, em pleno centro, nos remetendo à Antiguidade clássica. Milhares de anos antes de os romanos vencerem os celtas lusitanos a região já era ocupada por comunidades pré-históricas, com menires atestando a presença humana nos arredores da cidade. A conquista árabe, reconquista cristã e disputas com Espanha fazem parte da história local e explicam a existência das muralhas da cidade até hoje. As igrejas, praças, mosteiros, ruelas medievais e o casario branco complementam o charme da cidade, tombada como Patrimônio Mundial pela Unesco – um verdadeiro museu a céu aberto.


ÉVORA É UM VERDADEIRO MUSEU A CÉU ABERTO, UMA LINDA CIDADE MEDIEVAL QUE JÁ FOI UM IMPORTANTE CENTRO NO PERÍODO ROMANO Estilo Zaffari

59


Lugar

PASSEI ALGUNS PRAZEROSOS DIAS EM ÉVORA E SELECIONEI OS 10 PONTOS PRINCIPAIS QUE RECOMENDO VISITAR: Sugiro começar pelo centro histórico da Antiguidade, em torno do Templo Romano – conhecido como Templo de Diana –, com colunas coríntias do século I. Ao lado desponta a imponente Catedral da Sé, dos séculos XII e XIII, onde as bandeiras da frota de Vasco da Gama foram benzidas antes da sua viagem em 1497. Mais abaixo, na Praça do Giraldo, o conjunto cênico da Igreja de Santo Antão e a fonte de mármore estão dentre os bem preservados prédios históricos. No Convento de São Francisco, construído nos séculos XV e XVI no estilo gótico-manuelino, vale a pena conferir a inusitada Capela dos Ossos, que representa a transitoriedade da vida. Adornada com os ossos de 5 mil monges, tem uma perturbadora placa de boas-vindas: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”.

60

Estilo Zaffari

Sugiro experimentar as delícias típicas do Alentejo, como pratos à base do porco preto e o reconhecido vinho regional, como o Cartuxa. Recomendo o premiado restaurante Fialho e o aconchegante Vinho e Noz, atendido pelo casal Sr. Francisco e Dona Maria. Além do vinho, é legal trazer de lembrança o azeite de oliva local e o artesanato regional, com acessórios de cortiça, que é a matéria-prima mais renomada da região. Cromeleques de Almendres – nos arredores da cidade encontram-se 95 menires da Pré-História, que atestam o rico passado do Alentejo. O monumento megalítico disposto em círculo foi descoberto apenas em 1964. Aqueduto da Água da Prata – sugiro fazer a trilha bem sinalizada junto ao aqueduto, uma maravilha arquitetônica do século 16 . A melhor forma de explorar o interior é pedalando em um dos


roteiros de bicicleta pela Bike Tours – www.biketoursportugal.com. Fizemos um “trajeto degustação” de 13 km da antiga estação da Graça até a cantina da Cartuxa, onde provamos seus renomados vinhos, seguidos de um sofisticado piquenique. Recomendo! Muito! Um “day tour” imperdível é visitar Monsaraz, uma cidade murada no topo de uma colina, a 36 km de Évora. No séc. VIII a região caiu sob domínio islâmico e somente no final do séc. XIV foi integrada à casa de Bragança. Após a restauração de 1640 a vila recebeu novas fortalezas, tornando-se a “cidadela inexpugnável”.

SÃO MUITAS AS ATRAÇÕES EM ÉVORA, COMO O CENTRO HISTÓRICO, A CAPELA DOS OSSOS, O AQUEDUTO E O PREMIADO RESTAURANTE FIALHO

Portugal, a porta de entrada gaúcha à Europa, merece ser degustado como seu vinho: gole a gole. Um país pequeno, com excelente infraestrutura turística, povo acolhedor, ótima gastronomia e enologia. Não é por nada que tanta gente está com planos de se mudar para lá. Confira mais imagens no meu blog www.betonomundo.wordpress.com

Estilo Zaffari

61


Lugar

ONDE FICAR EM ÓBIDOS Ficamos no Josefa D’Obidos (josefadobidoshotel.com) junto ao portão de entrada da cidade murada, e gostei bastante. Dentro dos muros estão o charmoso The Literary Man (www.theliteraryman.pt) e a emblemática Pousada do Castelo. Nos arredores, o descolado Evolutee Royal Óbidos SPA (www.evoluteehotel.com) e o confortável Praia D’El Rey Marriott Golf & Beach Resort EM ÉVORA Gostei muito do M’AR De AR Aqueduto (www.mardearhotels.com), hotel 5 estrelas no Centro Histórico no antigo Palácio dos Sepúlveda, edifício quinhentista do qual conserva uma magnífica capela. Também recomendo a Pousada Loios e a pousada de charme Albergaria do Calvário. MAIS INFORMAÇÕES Saiba mais com betoconte@stb.com.br, coordenador do STB Trip & Travel, agência filiada à rede VIRTUOSO, que congrega as melhores agências de viagens do mundo. 62

Estilo Zaffari


TANTO EM ÓBIDOS COMO EM ÉVORA HÁ ÓTIMAS OPÇÕES DE HOSPEDAGEM, DAS MAIS CHARMOSAS HOSPEDARIAS A HOTÉIS LUXUOSOS OU DESCOLADOS

Estilo Zaffari

63


O sabor e o saber F E R N A N D O

LO K S C H I N

AMAMENTAÇÃO: O SEIO O pelicano é uma ave lendária. Não encontrando peixes para alimentar os filhotes, o pelicano bicaria o próprio peito para doar seu sangue. A crença nasceu em Homero, que conta do pelicano apertando o ventre com o bico a fim regurgitar comida para a prole. Pássaros não têm leite. A continuidade é o único sentido da vida, daí a proteção à descendência. Seja a galinha ocultando o pinto sob a asa ou a perdiz se expondo em voo ao caçador para afastá-lo dos filhotes, Plutarco (séc. I D.C.) dá exemplos poéticos para concluir: “O amor do animal pela cria transforma o tímido em audaz, o inerte num ativo, o voraz no contido”. Mas, para ele, afora o amor pelo recém-nascido, o ser humano carece de afeto desinteressado, é incapaz de amar sem previsão de ganho. Até o apego dos pais aos filhos não seria “natural ou gratuito, mas investimento a espera de retorno”. Até quem questiona se toda forma de amor vale a pena admite que o amor de fato incondicional é o materno. E todo leite é materno, amor liquefeito no peito de uma mãe. O recém-nascido precisa deste primeiro e maior amor para viver. As palavras para ‘mãe’ são parecidas em idiomas diferentes por serem ecoicas, repetem o som mah mah dos lábios do bebê a mamar. Mamãe e mamar são termos gêmeos, mãe é a que amamenta – e ama. Desde o sânscrito e o grego os termos para mãe e mama são aparentados a amar, daí a semelhança: mãe, mama, ama. Palavra africana para ‘mãe’, iá-iá passou ao Brasil como a ‘mãe preta’, a ama de leite escrava. Os Quindins de Iaiá (Ari Barroso, 1941) na origem eram leite humano. Todo mamífero depende do leite. O herbívoro gnu e o carnívoro leão devem as vidas às tetas das mães. O que reúne o nazista Hitler e o judeu Jesus, o troiano Heitor e o grego Aquiles, o réu Lula e o juiz Moro é uma mesma dieta inicial de leite. Para o chinês, o sentido de delicioso cachorro quente é literal, o tailandês prefere comer gato por lebre, mas no passado de todos está um seio, o denominador comum alimentar da espécie mais onívora. Alimento completo, só há o leite materno – e nos

64

Estilo Zaffari

primeiros meses de vida, seu período mais vulnerável. Esta fragilidade foi magistralmente descrita por Plutarco (séc. I D.C.): “Nada existe tão imperfeito, tão abandonado, tão exposto, tão disforme, tão imundo como o homem ao nascer. A Natureza não lhe empresta nem uma via limpa para a luz, profanando-o com sangue e cobrindo-o com excremento. Mais parece um ser recém-sacrificado que recém-nascido”. A única coisa que um bebê pode e sabe fazer é mamar. Dois milênios antes de a ecografia mostrar fetos de 28 semanas a chupar o dedo, Hipócrates já dizia que a criança aprendia a mamar no útero, por isto nascia sabendo. Na ciência medieval, o leite era formado pelo sangue menstrual armazenado na gravidez e direcionado do útero à mama após o parto. Desenhos anatômicos exibiam um ducto ligando o útero aos seios. O alimento seria processado em sangue, o sangue em mênstruo, o mênstruo em leite. No seu Tratado de Higiene, Hipócrates diz que bons fluxos de alimento, água e ar asseguram o bom fluxo de leite. O seio alimenta o futuro. O primeiro dos alimentos seria a quinta-essência de todos os alimentos. O próprio Universo recém-nascido teria se nutrido de um leite primordial. E os gregos viam no céu noturno uma mancha luminosa de leite, a Via Láctea (Galaxias Kyklos). Tudo começara quando Zeus, o campeão olímpico do adultério, gerou um filho – Hércules – na mortal Alcmena. Buscando a imortalidade para o filho, Zeus o colocou a mamar no peito de sua esposa, Hera, enquanto dormia. Acordada de súbito pelo vigor do mamar, Hera afastou Hércules do peito derramando leite – a Via Láctea, 400 bilhões de estrelas, cada uma delas um respingo de leite. A rainha espartana levava ao peito só o filho primogênito herdeiro ao trono, os irmãos eram entregues a amas de leite. As aristocratas gregas (séc. V A.C.) preferiam amas de leite espartanas na expectativa de que disciplina e bravura fossem transmitidas pelo leite. A ideia de que, junto a nutrientes e anticorpos, o leite forneça caráter foi universal. O alcoolista Tibério tivera uma ama de leite alcoolista, Calígula, sedento de sangue, uma


ALIMENTA O FUTURO

“COMEÇAMOS NOSSOS DIAS COM LEITE, TERMINAMOS NOSSOS DIAS COM VINHO” SAIT FAIK ABASIYANIK 1906-1954

ama de leite que sangrava nos mamilos. Via Corão, Maomé comanda o muçulmano a não dar o seio de ‘adúlteras e insanas’ às crianças. O Diário de Samuel Pepys (1699) conta do Dr. Caius, muito idoso, alimentando-se numa ama de leite. Estando irascível, foi aconselhado a procurar um seio mais dócil. Na troca do leite houve melhora do seu temperamento. O registro de Pepys traz a imagem do velho lactente. Na percepção da fragilidade senil como uma segunda infância, é usado o mesmo tônico alimentar. Os extremos se aproximam criando uma puericultura geriátrica. Na China rural uma jovem mãe tem o dever de aleitar o avô do marido. As amazonas priorizavam a guerra sobre a maternidade, removiam o seio direito para melhor manejar o arco e amamentavam as filhas no único seio. Os filhos eram descartados como escravos. Uma etimologia presumida ao nome (G. a, ‘sem’; mazos, ‘mama’) teria criado o mito do seio único. Está na Bíblia (Ex 2-7). Se a filha do faraó não contratasse uma ama de leite para ‘o filho de hebreus’ que encontrara à deriva num cesto no Nilo, não teríamos nem Moisés nem os Dez Mandamentos. Hipócrates recomendava a amamentação como método anticoncepcional e enfatizava a vantagem do leite da mãe biológica. A prolactina, hormônio liberado pelo sugar do mamilo, induz à lactação e reduz a fertilidade – enquanto a cria requer cuidado máximo, uma nova prenhez é postergada. E a ocitocina, o ‘hormônio do amor’, também secretado pela hipófise na estimulação do seio, tanto promove a ejeção do leite como o afeto, intimidade, relaxamento e prazer. O aleitamento, como tudo que serve à sobrevivência da espécie, é uma vivência de gozo. Na falsa etimologia, um deleite. Os chipanzés amamentam por quatro anos, gorilas por um pouco menos. Na época das pirâmides, egípcios e hebreus amamentavam por três anos. O Corão recomenda amamentar por dois anos e prevê amas de leite no Paraíso ao lactente que morre. O desmame era tardio para os povos americanos, três anos. Os jesuítas percebiam nesses ‘antropófagos carentes de alma’ a ausência de maltrato aos filhos, às mulheres e aos animais.

Estilo Zaffari

65


O sabor e o saber F E R N A N D O L O K S C H I N

TODO MAMÍFERO DESMAMA. NÃO HÁ ESPÉCIE ANIMAL NA QUAL O ADULTO BEBA LEITE: NÃO FAZ SENTIDO EVOLUTIVO A RIVALIDADE ALIMENTAR COM A CRIA. O NORMAL BIOLÓGICO É DE INTOLERÂNCIA À LACTOSE O Papiro de Bebers (1500 A.C.) ensina a aumentar a lactação: ‘aquecer espinhas de peixe espada em óleo e esfregar nas costas’ ou ‘sentar de pernas cruzadas e comer pão de sorgo enquanto as mamas são untadas com óleo de papoula’. Para qualificar o leite materno, Sorano de Efesus (séc. I D.C.) descreveu o ‘teste da unha’, em uso por 1.500 anos. Uma gota de leite pingada sobre a unha não escorre com o movimento horizontal do dedo e não se mantém aderida ao se apontar o dedo para baixo. O Código de Hamurabi (~2280 A.C.) legislava sobre a amamentação na Babilônia e previa a mastectomia punitiva: se a ama de leite contratada para aleitar uma criança desse o peito a outra criança sem consentimento do contratante, deveria ter as mamas removidas: olho por olho, dente por dente, mama por leite. Todo mamífero desmama. Não há espécie animal na qual o adulto beba leite: não faz sentido evolutivo a rivalidade alimentar com a cria. O normal biológico é de intolerância a lactose. O desmame cursa com a redução progressiva na síntese intestinal da lactase, enzima que digere a lactose, o açúcar do leite. Esta lactose não absorvida é fermentada pela flora do intestino grosso, causando ‘indigestão’: gases, estofamento, cólicas e diarreia. Povos do norte da Europa sofreram mutação genética recente (5.000 anos) que permite a ingestão de leite cru. A pouca luz solar da região (e o frio que exige a roupa) foi compensada pela absorção do cálcio e vitamina D do leite. Os nativos do sul da Europa, África Ocidental e América do Sul, com muita exposição solar, têm grande intolerância. Ferver, desnatar, homogeneizar e pasteurizar o leite diminui o teor de lactose. O grande consumo de leite é na forma de derivados: manteiga, queijo e iogurte dão mais conservação e digestão ao leite. Ovídio (Arte de Amar, séc. I A.C.) cita um uso peculiar do leite. Escrever com leite, inclusive sobre a pele, uma comunicação invisível e secreta. Para ler, bastaria friccionar a mensagem com carvão. O leite fez do branco um símbolo de pureza e piedade. Plínio (séc. V A.C.) conta da romana sentenciada a morrer por inanição. Sua filha, sempre revistada nas visitas, foi flagrada dando seu peito à mãe. Comovido, o Senado romano poupou a vida da prisioneira e fez daquele cárcere um Templo da Piedade, o Pietas Aeges. Ao lado do templo, estaria

66

Estilo Zaffari

a Columna Lactaria, local onde se alugavam amas de leite, crianças carentes eram para aleitadas e ‘enjeitados’ expostos para adoção. Durante séculos, a mercantilização do corpo como ama de leite ou prostituta era a alternativa de sustento disponível às jovens na pobreza. Os primeiros teólogos cristãos imaginaram Maria – a quem negaram uma concepção normal – como Maria Lactans, a ama de leite de todo rebanho de fiéis. Não só filhos de Deus, todos seriam irmãos de leite de Jesus. São Bernardo (séc. XIII) recebeu inspiração de Maria, topless, pingando gotas de leite na sua boca. Monges transpunham a ignorância nos seios da mãe de Jesus, a musa do cristianismo. A Maria Lactans foi a principal representação medieval da Madona, uma protetora nos tempos de fome, guerra ou praga – o reconhecimento do valor da nutrição na adversidade. O leite de Maria rivalizou com o sangue de Cristo como o mais venerado dos fluidos corporais. Conforme a Reforma, as igrejas exibiam tantas relíquias com o leite de Maria que boa parte da Congregação poderia ser aleitada. A erotização renascentista do seio fez com que Maria desse lugar à Madre Igreja como a nutridora dos fiéis, legando antes o leite da sabedoria, leite da piedade, leite da cura e mesmo o liebfraumilch, ‘leite da mulher amada’, um péssimo vinho alemão – no rótulo a Liebfrau, Maria com o Menino Jesus no colo. No meu ‘curso ginasial’, dar cola era ‘dar leite’, colar era ‘mamar nas tetas de alguém’ – na condescendência do tempo, um falar e agir que invocava o apóstolo Pedro (Pe. 2:2): “Desejai como recém-nascidos o leite da salvação”! A protuberância dos seios no corpo feminino não tem qualquer finalidade nutricional, existe só em função do erotismo. Entre todos os mamíferos é a mulher que exibe o maior volume mamário em relação ao volume de leite produzido. Conforme os biólogos, a hipertrofia mamária deu-se por seleção natural, uma reprodução anterior das nádegas à medida que a coito deixou de ser exclusivamente dorsal. Sem atração não há sexo, não há concepção, não há nascimento, não há leite, não há futuro. E não haveria texto. O nenê ao seio eleva a mulher a Hera, uma deusa a doar imortalidade. FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br


CIS CENTRO DE INVESTIGACIÓN DEL SUEÑO


Ensaio

A beleza Um olhar sensível e atento aos detalhes

P O R

F E R N A N D O

B U E N O

NESTA PÁGINA, BAR OCIDENTE. NA PÁGINA AO LADO, PEPPO CUCINA


da alma

e recantos de famosos restaurantes de Poa

Estilo Zaffari

69


Ensaio

ACIMA, PEPPO CUCINA. NA OUTRA PÁGINA, VITRAL NA PORTA DO GAMBRINUS

Fernando Bueno fala sobre seu olhar “Ao receber a missão de fazer um ensaio sobre alguns dos muitos excelentes restaurantes de Porto Alegre para o livro dos 75 anos do Sindha (Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Poa e Região), encarei a tarefa com muita alegria, mas também como um desafio. Queria mostrar esses lugares de um jeito diferente e não cair no lugar comum. Saí em busca de imagens que mostrassem o espírito de cada local, que contassem um pouco de cada um deles, fui atrás de sua alma, pois todos eles têm uma história longa e muito bem servida.”

70

Estilo Zaffari


Estilo Zaffari

71


Ensaio

AQUI ACIMA, DETALHE DO TAILANDÊS KOO PEE PEE. NA FOTO AO LADO, KOMKA CHURRASCARIA E GALETERIA. ABAIXO, LUSTRE DO SALÃO DO BAR OCIDENTE

72

Estilo Zaffari


ACIMA, VISTA ESPECIAL DO SALÃO DO RATZKELLER BAUMBACH. ABAIXO, OS ESPELHOS E AZULEJOS AZUIS CARACTERÍSTICOS DA KOMKA

“Busquei as formas, as cores, as artes, a decoração, enfim, as ideias por trás de cada um dos restaurantes. Entrei nos banheiros, inclusive nos femininos, visitei as adegas, as câmaras frias, visitei os jardins, andei por entre as mesas, procurei ser invisível aos clientes. Passei em revista por dentro e por fora cada um dos restaurantes que visitei, alguns mais de uma vez, uns de dia, outros à noite, durante quase 60 dias.”

Estilo Zaffari

73


Ensaio

74

Estilo Zaffari


ACIMA, CLOSE NA ESTÁTUA DE CARLOS NOBRE NO SALÃO DO TRADICIONAL COPACABANA. NA PÁGINA AO LADO, PAREDE CHARMOSA DO ITALIANO PUPPI BAGGIO

“Sempre fui um frequentador assíduo de restaurantes, alguns mais, outros menos, claro. Tenho um sem-número de amigos donos de restaurantes e garçons idem. No frigir dos ovos, fiquei feliz com o resultado, reencontrei vários amigos, fiz novos e confirmei o que já sabia: ‘Em Porto Alegre se come muito bem’. E comida, meus caros, alegra a alma, alimenta o espírito.”

Estilo Zaffari

75


Equilíbrio C H E R R I N E

C A R D O S O

VAMOS FALAR DE INSTAGRAM Minha coluna se chama Equilíbrio, e todas as vezes em que sento para escrever o que aqui será publicado busco por algum assunto que de fato poderá fazer sentido com a proposta deste espaço. Diariamente me cerco de momentos, práticas, pessoas e interesses profissionais que possam contribuir para que eu também permaneça em equilíbrio. Não no sentido físico da palavra, mas naquilo que ela representa na sua esfera mais sutil. Estar em harmonia com o que faço e com o que quero oferecer/proporcionar aos outros. E dentro dessa reflexão digo: vamos falar de Instagram. Essa rede social é o maior vício do momento. São poucos que fogem à regra e seguem alheios ao que o Instagram tem produzido de fenômenos virtuais. Poucos com quem falo não fazem algo por meio desse canal. Diariamente surgem novos influencers e empresas que vivem por meio do aplicativo. No entanto, o que mais percebo ao consumir milhares de imagens por segundo ou acompanhar stories incessantes da vida dos outros é que: a vida está parecendo uma

mentira. Não sei se só eu tenho tido essa sensação, mas quanto mais vejo, menos acredito. Sinto tudo o que vejo de forma fria, de forma mecânica. E mais, percebo tudo como algo comercial. Não vou ser hipócrita e fingir que não gosto ou que não uso. Ao contrário, uso e posto no mínimo uma foto por dia. Para além de querer estar conectada, faço do app uma ferramenta de exposição do meu trabalho também. Uma vez que ele é visualmente apelativo, quanto mais conseguimos mostrar o que fazemos com imagens, maiores são as chances de aumentar o resultado do que queremos dentro do nosso segmento profissional. Fato é que milhares de empresas vendem muito mais pela rede social do que com um local físico. Mas no meu caso, não consigo postar aquilo que não faço de verdade! Eu não consigo criar posts, não consigo fingir sorrisos, não consigo inventar situações e momentos para parecer algo instantâneo. Simplesmente não dá. Tenho estado entediada com o que muitos fazem e colocam para se mante-

A VIDA ESTÁ PARECENDO UMA MENTIRA. NÃO ACREDITE EM TUDO O QUE VÊ. NÃO ACREDITE QUE O SORRISO

76

Estilo Zaffari


rem visíveis. Uma vida notadamente em desequilíbrio. Aquela falsa realidade em que se insere, para que possa ser visto. E isto é o que me incomoda! É esta sensação de que seguimos um estereótipo daquilo que gostaríamos de ter ou ser, mas mostrado por pessoas que, muitas vezes, também não têm ou são, ainda que finjam bem. E o que mais me assusta é que a maioria já está presa à ferramenta de trabalho, ou seja, uma vez considerado um influencer você é pago para passar o dia relatando o que está fazendo, por que está fazendo, o que está querendo vender, e tem que dar resultado, caso contrário, perde contas, patrocínios, dinheiro. Percebe a falsidade de tudo isso? Mas o mais louco é que vicia. Tanto para quem faz como para quem consome. Tenta ficar um dia sem entrar no Instagram. Se esforça. Verá que a sensação que dá é quase de abstinência. Como se você estivesse passando por um processo de desintoxicação. Gera desconforto, você sente falta, e se não cuidar é capaz até de ter crises de ansiedade e pânico. E eu não estou exagerando! Como de certa forma hoje estou vivendo em São Paulo e tendo um contato maior com o universo de influenciadores digitais, digo com conhecimento de causa: não acredite em tudo o que vê. Não acredite que o sorriso é sempre de felicidade. Não acredite que a simpatia é verdadeira. Não acredite que a beleza é imaculada e sem retoques. Não acredite que as coisas

são feitas sem interesse. Simplesmente: não acredite! Grande parte de tudo o que é colocado no app é visando lucro. Se você não acreditar, estará se protegendo quanto àquele desejo do seu ego de ter ou ser como as pessoas que você “admira” seguindo. Eu acho o Instagram bem melhor que o Facebook, mas em ambos vivemos sob o mesmo paradigma: a ilusão. De um lado a ilusão visual e do outro a ilusão de que podemos falar sobre tudo, porque somos “ótimos conhecedores” de todas as coisas. E há outros tantos apps de interação social, que no fim só estão gerando a mesma coisa: um grande abismo entre as pessoas, um grande vazio existencial, um desequilíbrio generalizado. Falemos sobre o Instagram. Falemos sobre aquilo que está afastando as pessoas da realidade. Falemos sobre o que o ego planta, deixando as pessoas mais longe de suas verdadeiras essências e propósito. Falemos apenas! Para que possamos de alguma maneira evitar os maiores danos que isto causará num futuro próximo caso a gente siga fingindo que está tudo bem. O equilíbrio humano depende muito da nossa percepção do que é mesmo real e do que é apenas uma ilusão. CHERRINE CARDOSO É AUTORA DOS LIVROS A INCRÍVEL ARTE DE DESAPEGAR E REINVENTE-SE: QUANTAS VIDAS SE VIVE EM UMA VIDA? WWW.AINCRIVELARTE.COM

É SEMPRE DE FELICIDADE. NÃO ACREDITE QUE AS COISAS SÃO FEITAS SEM INTERESSE. NÃO ACREDITE!

Estilo Zaffari

77


Viagem

Eu viajar Vinte e dois dias pela Europa descobrindo novas paixĂľes F O T O S :

78

Estilo Zaffari

P O R C A R L A L E I D E N S C A R L A L E I D E N S , C L A R A C A S T E L L I E F E R N A N D O A G U Z O L L I



Viagem


A primeira vez que viajei para a Europa vendi minhas férias, não paguei a conta de luz, pendurei o aluguel e comprei uma passagem para Lisboa. O caminho do meio, entre os 30 dias que ficaria fora, seria decidido no destino, em cada cidade ouvindo o som do imprevisto e deixando a vida ser ela, por si mesma. O motivo era um desencontro amoroso, saí de casa com o coração partido, sem saber que descobriria naquela viagem muito sobre mim mesma. Na época havia namorado poucos meses o pai da minha filha e fugira de uma desilusão amorosa para me encontrar no mundo. Ali aprendi a ser eu de verdade, de mochila nas costas encontrei a minha verdade e desde que pisei no chão de Lisboa sabia que nunca mais caberia dentro da pessoa que havia deixado para trás. Naquela época não havia celular, internet ou redes socais e o mundo me esperava de braços abertos. Já faz 20 anos que me joguei nesta aventura, de lá pra cá já conheci diversos lugares, viajei para a Europa e outros destinos muitas vezes, e sempre me apaixono como se fosse a primeira vez. Mas posso dizer, sem sombra de dúvida, que aquela viagem, assim sem planejar, tendo o destino como parceiro, foi uma das melhores. Aquela viagem à Europa havia me transformado em alguém que gosta de andar por aí, e desde que a minha filha nasceu as viagens têm um outro sabor. Podemos apenas pegar o carro no final de semana e viajar até a cidade vizinha. Também amamos planejar viagens mais longas e para destinos sonhados. Mas gostamos mesmo é de colocar o pé na estrada. Então, para celebrar os 15 anos dela, programamos voltar à Europa, visitando lugares em que eu tinha ido sozinha para esquecer um amor, o que acabaria me dando de presente um amor maior ainda. Assim o fizemos. Vinte e dois dias na Europa visitando cidades que amamos, como Paris, que está sempre nos nossos planos, e também cidades que há muito queríamos conhecer, como a descolada Munique. O roteiro na verdade foi traçado por um amigo, que havia organizado viajar com os pais em março de 2018. Gostamos da ideia e embarcamos na viagem deles. PARIS – BUDAPESTE – MUNIQUE – INSBRUCK E ITÁLIA (escolheríamos as cidades de acordo com o nosso gosto, vontade e cansaço).

O trajeto inicial era esse, mas estávamos livres para escolher entre um lugar e outro, cidades vizinhas ou mudar o rumo a qualquer momento. A princípio, a ideia era escrever sobre a Itália que faríamos de carro, mas como tivemos mudanças de planos no meio do caminho, e fizemos apenas algumas cidades italianas, resolvi escrever sobre os lugares que mais nos encantaram. Paris está sempre no top ten dos lugares para visitar. Se pudesse iria para lá todos os anos, se pudesse eu me mudaria para Paris, agora mesmo, fácil assim. Ficamos apenas 4 dias mas, para quem já foi pela terceira vez, é um período suficiente para tomar um café em uma boulangerie olhando o movimento dos parisienses, provar um delicioso fondue, andar pelas ruas sem destino e visitar os pontos turísticos mais badalados. Minhas dicas sobre Paris, lugares que você não pode deixar de conhecer: TORRE EIFFEL – De dia, de noite, de lado, de baixo, de perto, de longe e de cima, de dia, de noite. A torre é linda, gente, e vale cada minuto perto dela. QUARTIER LATIN – O bairro mais badalado, descolado e cheio de gente bonita que vi em Paris. Desta vez tive o prazer de conhecer amigos brasileiros e juntos fizemos Quartier Latin ser ainda mais especial. De madrugada pudemos apreciar o charmoso bairro silencioso e com muita neve. JARDIM DE LUXEMBURGO – Já visitei no inverno e na primavera. Nos dois momentos encontrei beleza, mas na primavera é muito mais bacana. BASÍLICA SACRE COEUR – A Basílica do Sagrado Coração de Jesus no topo da montanha já vale a visita, mas atrás há uma vila muito charmosa, com ruas estreitas, cafés, lojinhas, antiquários, e se der sorte, pode apreciar os pintores parisienses, como se estivesse em um filme. CAFÉS – Sente em uma esquina, peça um expresso e um croissant e simplesmente aprecie o movimento das pessoas. Preste atenção nas roupas, eles são muito estilosos, se arrumam muito bem e têm um jeito diferente de andar. Meu preferido? Café de Flore, por lá já passaram personalidades como Jean Paul Sartre, Pablo Picasso e Hemingway. PLACE DES VOSGES – Há muito tempo queria visitar este lugar. Ali está a casa onde morou Victor Hugo, o gran-

ENTRE O COLISEU DE ROMA, OS CANAIS DE VENEZA, A ARTE E A CULTURA DE BUDAPESTE, AS BELEZAS DE PARIS E O ENCANTO DE CIDADES ALEMÃS COMO FUSSEN, UM ROTEIRO DE EMOÇÕES E DESCOBERTAS

Estilo Zaffari

81


Viagem

CARLA E CLARA AMARAM MUNIQUE E SUAS CERVEJAS, CURTIRAM A LINDA VISTA DO ALTO DO CASTELO DE BUDAPESTE E O PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA CIDADE

de escritor francês. Sou apaixonada por Le Miserabiles e fiquei encantada com o lugar. AVENIDA CHAMPS-ELYSÉES – É a mais bonita e conhecida via de Paris e uma das avenidas mais famosas do mundo; vale passear durante o dia e também sentar em um dos muitos restaurantes durante a noite. DE PARIS A BUDAPESTE De Paris seguimos para Budapeste, uma cidade limpa, organizada e muito bonita. A dica é visitá-la à noite. Todos os prédios são muito iluminados, e com o rio Danúbio cortando a cidade em dois, fica tudo ainda mais bonito. Por lá ficamos apenas dois dias, mas foram incríveis. Visitamos castelos, igrejas e monumentos em homenagem aos judeus. Caminhamos muito por uma cidade que cuida do seu patrimônio histórico. O prédio do Parlamento em estilo gótico foi um dos meus preferidos. O Castelo de Budapeste é também um passeio muito interessante e lá de cima se tem uma vista deslumbrante da cidade. “Sapatos”, memorial esculpido em bronze, foi um dos lugares mais emblemáticos que visitei em Budapeste. O memorial é uma homenagem aos judeus mortos durante a segunda guerra mundial. Os nazistas mandavam as vítimas tirarem os sapatos antes de serem assassinadas e jogadas no rio. Deixamos Budapeste para trás fazendo uma amiga por lá: Szonja Sophie (se pronuncia Sônia) nos acompanhou por dois dias dando dicas sobre a cidade. Seguimos para Munique, e estreamos na Alemanha. Minha filha sempre

82

Estilo Zaffari

quis visitar o país, e eu confesso que sempre tive um pé atrás. Seja pela história, às vezes falta de tempo para programar alguns dias por lá ou até mesmo descaso. O fato é que eu sempre torci o nariz para a Alemanha. Chegamos a Munique com neve e isso por si só já me fez ficar apaixonada pela cidade. Tem ainda a gastronomia típica, as cervejas (uma melhor que a outra) e os mercados de rua, feirinhas. Tudo limpo, organizado, lindo e muito saboroso. Queijos, pães, flores frescas, cerveja e pessoas do mundo inteiro passeando pelas ruas. Programamos quatro dias na cidade, mas eu, que sempre fui apaixonada pelo musical “A Noviça Rebelde” e sabia que Salzburg ficava a apenas uma hora de Munique, não hesitei, comprei o passe de trem, me separei do grupo e segui sozinha para a cidade de “The Sound Of Music”. ESCAPADA PARA SALZBURG Os trens na Europa são rápidos, seguros e organizados. É muito fácil comprar o passe de trem, as máquinas têm informações em diversos idiomas e em 5 minutos você tranquilamente se acha. Às 7h30min já estava no metrô – outro meio de transporte rápido, seguro e organizado na Europa – para a estação central de Munique. Pontualmente às 8h embarquei para Salzburg, na Áustria. Na estação conheci um brasileiro que mora em Sazlsburg, ele me deu a dica de conhecer a cidade caminhando. Assim o fiz, caminhando em linha reta fui desvendando os mistérios da cidade. Aqui começava a parte mais linda da nossa viagem, mas eu ainda não sabia disto. Fui andando lentamente e observando cada detalhe da pequena cidade até chegar ao Palácio Mirabell.


Estilo Zaffari

83


84

Estilo Zaffari


EM SALZBURG, CARLA REALIZOU O SONHO DE CONHECER A CIDADE DE MOZART E DO MUSICAL A NOVIÇA REBELDE. EM APENAS UM DIA, APAIXONOU-SE PELA CIDADE

O lugar tem grande ligação com a música por ter sido cenário do filme “A Noviça Rebelde” e também porque o jovem Mozart se apresentou no salão de mármore com sua irmã. Estava por lá em um sábado de manhã e havia corais ensaiando ao ar livre. Lindo de ver. Os jardins são floridos, há praças e bancos para sentar e apreciar a natureza, o lugar é limpo e arborizado e emana uma paz absurda. Fiquei algumas horas por lá, perdida com tanta beleza. Durante o passeio revivi “A Noviça Rebelde”, pois grande parte do filme teve os Jardins de Mirabell como locação. Saí em busca da Praça de Mozart no Centro Histórico da cidade, que é patrimônio da Unesco. No caminho encontrei feiras ao ar livre, restaurantes em ruelas sem saídas e uma das ruas mais lindas que vi durante a viagem: Rua Getreidegasse, ou Rua do Grão. Foi lá que nasceu Mozart e há um museu dedicado ao músico. A rua é famosa pelas grifes de luxo, mas há beleza para todos os gostos. A arquitetura medieval é representada pelas casas altas e estreitas ao longo da rua. As placas de ferro são um marco. Na Idade Média, quando a maioria das pessoas não sabia ler, uma lei determinou que as placas deveriam ter desenhos que determinassem o tipo de estabelecimento: restaurantes, lojas, bares. E é assim até hoje, mesmo as grandes marcas como McDonald’s e Hermès seguem a tradição e ajustam suas fachadas com as famosas placas em ferro. Os amantes da moda poderão encontrar na Rua do Grão as mais famosas marcas do mundo, e os fãs de

música vão encontrar todos os tipos de produtos sobre Mozart. Para quem é fã do musical mais famoso do mundo, que faz 50 anos em 2018, há um tour especial que visita todas as locações de “A Noviça Rebelde”. Tem duração de 4 horas e custa em torno de 40 euros. A parte antiga é a mais bonita da cidade, e a cada ruela, cada praça, cada lugarzinho charmoso que via eu dava um gritinho de alegria e pensava comigo mesma: a palavra charme foi inventada para descrever esta cidade, tenho certeza. Senti falta de ter alguém para vibrar comigo, já que estava sozinha, mas você não precisa se preocupar em estar sozinho em Salzburg, o mundo estará em sua companhia. Para almoçar escolhi um restaurante pequeno no final de uma rua. Ao dobrar a esquina me chamou a atenção aquela praça (lugares fechados que a gente descobre meio por acaso) com música típica, mesas altas na calçada e o sol batendo de leve no final da manhã. Sentei em um banco e fiquei observando as pessoas sorvendo canecas de cerveja e saboreando os pratos típicos. Pedi uma cerveja, salsicha com purê e pão e fiquei sentada ali sem me dar conta do tempo, apenas pensando em como aquele era um momento único na minha vida. Estava plenamente feliz. Passei um dia em Salzburg mas viveria lá tranquilamente. Mudaria hoje mesmo para a cidade mais linda que conheci até hoje. Charmosa, quieta, linda em cada detalhe. Caminhei o dia todo descobrindo recantos, pon-

Estilo Zaffari

85


Viagem tes – lá tem a Ponte do Cadeado, onde casais penduram o amor e se prendem um ao outro –, pontos turísticos, igrejas, castelos, carruagens e personagens parecendo ter saído de um filme para passar o dia comigo. Não fiz o tour “The Sound of Music” porque ainda vou voltar a Salzburg, mas visitei vários lugares que aparecem no filme, me sentindo um pouco Julie Andrews do século XXI. Voltei para Munique cheia de histórias para contar para a minha filha, sem imaginar que a viagem ainda nos reservaria momentos incríveis na Áustria. FELICIDADE NA ROTA ROMÂNTICA Na manhã seguinte seguimos o roteiro, rumando para o Castelo de Neuschwanstein, que serviu de inspiração para a Disney criar o Castelo da Cinderela. Usamos a Rota Romântica, que apresenta uma sequência de pequenas cidades em estilo enxaimel, castelos, campos e montanhas nevadas em meios aos Alpes. Estávamos em um carro, a minha filha e eu, e no outro o restante da turma que seguia conosco. Na maioria das vezes em que estamos vivendo algo especial não nos damos conta na hora. Só temos certeza de que algo foi

memorável quando o tempo passa e lembramos com saudades ou quando olhamos as fotos de uma viagem e pensamos em como seria bom voltar no tempo. Mas quando eu dirigia entre os Alpes em direção ao castelo, passando por cidades minúsculas, de tamanha beleza, tive certeza de que estava vivendo um desses momentos que ficarão cravados na minha memória e no meu coração para sempre. Não tive dúvida, aumentei o volume do rádio, ouvi a linda música que tocava, olhei atentamente para o cenário e para a minha filha no banco do carona, e agradeci a Deus. Sabia que aquilo era um momento único e que me acompanharia para sempre. Sabia que, mesmo tendo passado por Paris, que é meu sonho de consumo, havia encontrado a parte mais mágica da viagem. Se eu puder dar uma dica aos viajantes é: dirija pela Rota Romântica da Alemanha em direção a Fussen e descubra um paraíso. A visita ao castelo foi muito bacana, um lugar lindo no alto da montanha no vilarejo de Hohenschwangau. Você pode chegar ao topo a pé, mais ou menos 30 minutos de caminhada, ou de carruagem, pois não é permitida a entrada de carros. Mas de carruagem há filas e também é caro.

FOI NA ROTA ROMÂNTICA, ENTRE OS ALPES E PEQUENAS CIDADES ALEMÃS, QUE MÃE E FILHA VIVERAM A ETAPA MAIS EMOCIONANTE DO ROTEIRO. MAS VERONA TAMBÉM TOCOU O CORAÇÃO DAS VIAJANTES 86

Estilo Zaffari


De lá seguimos para Innsbruck, não sem antes passar em Fussen, uma cidadezinha na fronteira da Alemanha com a Áustria. Pequena e charmosa como todas as outras, mas com algo que me tirou o fôlego. Um rio corta a cidade, que parece ter saída de um livro. Tudo lindo, pequeno, florido, limpo e muito charmoso. Depois de conhecer Salzburg e Fussen, acho que conheci os dois lugares mais lindos que já vi na vida. O caminho entre o castelo e Fussen também é feito entre as montanhas nevadas, a estrada é sinalizada e segura. Foi um dos passeios mais bacanas que fizemos durante os 22 dias que estivemos por lá. Uma das fotos de que mais gosto é a da ponte em Fussen, cada vez que olho para essa foto parece que entrei em uma pintura ou invadi a cena de um filme. Difícil esquecer essa cidade e a Áustria. Chegamos a Innsbruk, capital do estado de Tirol, outra cidade com casinhas coloridas, ruas limpas e vários lugares incríveis para visitar. A dica aqui é caminhar, a cidade pode ser explorada facilmente a pé. A Maria-Theresien-Straße é a rua mais famosa do local. Larga, cheia de lojinhas e restaurantes charmosos. Durante o dia exploramos os arredores da rua e encontramos feiras de rua, artesanato, arte e muita gastronomia. A cidade é famosa pelas estações de esqui e es-

portes de inverno. Perfeita para quem tem mais dias em Innsbruck! Suba até o topo do Nordkette (2.334m) com funicular e teleféricos para ter uma vista incrível da cidade. Em cada parada há restaurantes, lojas, vilas e bares. Você pode aproveitar para esquiar, “snowboardiar” ou fazer trekking e mountain bike no verão. Mas suba somente quando o céu estiver limpo, ou não vai ver nada. Foi o que aconteceu conosco: nos dois dias em que estivemos por lá o céu estava nublado, o que impossibilitou fazermos esses passeios. UM POUCO DE ITÁLIA De Innsbruck voltamos dirigindo para Munique e voamos para a Itália. De Milão, onde ficamos apenas um dia, fomos para Verona. Adorei conhecer Verona e ficamos por lá 4 dias. Então visitei Vicenza, uma cidade famosa pelo arquiteto Andrea Palladio, mas o que mais me encantou lá foi visitar uma amiga que casou com um italiano e mora em Vicenza há dez anos. Dormimos em sua casa uma noite e tivemos o melhor jantar de toda a viagem: polenta mole (com milho marano, específico da região) com bacalhau, vinho italiano e muito amor. Verona é a cidade do amor, respira a história de Romeu e Julieta e tudo gira em torno deles. A cidade também pode ser desvendada a pé e tem

Estilo Zaffari

87


Viagem

EM TIVOLI ELAS ENCONTRARAM A PERFEITA PASTA ITALIANA, ACHARAM ROMA E VENEZA LOTADAS DEMAIS, CURTIRAM O CLIMA DE AMOR E AS BELEZAS DE VERONA

muitos lugares bonitos, ruas pequenas, praças, restaurantes, feirinhas na rua. De Verona também foi fácil visitar, mais uma vez, Veneza. Desta vez junto com a minha filha, já que 20 anos antes estive em Veneza sozinha. A cidade continua linda, mas com um número infinitamente maior de turistas, o que tira um pouco da beleza do lugar. Impossível caminhar por Veneza em um sábado de Páscoa. Evite a cidade em datas assim. A Itália foi a última parte da nossa viagem e parece que nos preparava para voltar para casa. Encontramos Roma lotada de turistas e barulhenta. Não sei se foi porque estive na Alemanha e na Áustria, e me encantei com a beleza e a organização, que fiquei um pouco decepcionada com a Itália. Somente em Tívoli, a 35km de Roma, encontrei um prato de massa melhor do que aquele que estou acostumada a provar em Canela e Gramado. Já as pizzas ganharam um espaço especial na minha memória gastronômica. Voltar à Itália foi especial, gosto muito do país, mas penso que visitar a Toscana com calma, de carro, parando nas cidadezinhas que mais gostar, seja mais

88

Estilo Zaffari

interessante do que visitar grandes centros. A Itália mudou ou eu não sou mais a mesma viajante de mochila nas costas que topava qualquer parada. Depois dessa viagem à Alemanha e à Áustria, ganhara um espaço especial nos lugares que mais gosto no mundo e pretendo voltar lá mais vezes. Quero voltar para conhecer outros lugares, desvendar outros trechos e conhecer outras cidades. Cada vez que eu viajo volto pensando em como será a próxima. Paris sempre estará em meus planos, mas desta vez voltei pra casa sonhando morar em uma cidadezinha com telhados coloridos, como as que vi na Áustria. A Clara e eu visitamos vários lugares em que estive sozinha na primeira viagem. Juntas e totalmente conectadas andamos por Paris, Milão, Roma e Veneza. Eu sentia que aquela menina que havia se jogado no mundo há mais de 20 anos, sem saber ao certo para que lado deveria seguir, nos espiava ao longe. Aquela primeira viagem à Europa tinha aberto uma janela para que logo ali nos encontrássemos, minha filha, eu já mudada e aquela outra Carla, que há duas décadas sonhava desvendar o mundo.


Estilo Zaffari

89


Palavra LU Í S

AU G U S TO

F I S C H E R

PARALELOS E ANTÍPODAS Porto Alegre, 1866: um homem solitário e atormentado escreve, freneticamente. Está sendo processado por sua esposa, que o acusa de ser maluco. Um juiz da cidade aceitou a denúncia, e nosso escritor foi obrigado a passar por exames médicos em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, com os melhores médicos disponíveis. Os diagnósticos são incertos, ele sofre. Tem reações agressivas. Neste dia 14 de maio, sai de sua pena uma peça para teatro. Se chamará “As relações naturais”. O tema é obscuro, as cenas são opacas. Há humor, mas daquele tipo meio travado: quem rir, vai também ficar espantado. Ato Segundo, primeira cena. Está em cena um homem, com o estranhíssimo nome de “Truquetruque”. Ele bate numa porta cênica e, enquanto espera a resposta, fala sobre sua situação. Faz elogios a si mesmo, mas teme despertar ciúmes com suas mútiplas qualidades. Teme mesmo precisar fugir para longe. E diz: “Ainda se me metessem aqui e eu saísse lá no ponto oposto, onde habitam os nossos ... (pergunta para o público) como se chamam estes cujos pés têm as solas dos sapatos voltadas para a sola dos nossos? Hein? Anfíbios? Não. Isso é coisa que anda no mar e em terra. Hermafroditas? Não: isto é o que é macho e fêmea. Cabrito não é. Não me posso lembrar” Ele queria a palavra “antípodas”, mas ela não veio. Vieram duas outras também com polaridades – anfíbio e hermafrodita. Antípodas: palavrinha interessante, que sugere um esquema geral da Terra, como em desenho infantil – a Terra redonda, um homenzinho aqui e outro no seu oposto, um com os pés virados para os pés do outro. O homem se assinava José Joaquim de Campos Leão Qorpo-Santo. Este último termo era invenção sua, era uma autodefinição, nascida de uma visão que diz ter tido: ele devia manter seu corpo santo, longe do pecado. A soma dessa ideia com sua proposta de reforma ortográfica (ele tinha sido professor de primeiras letras) deu esse resultado.

90

Estilo Zaffari

Dá para imaginar que, em 1866, essa imagem tão sintética e poderosa tivesse um aspecto de totalidade. Antes da popularização da fotografia, antes das imagens que atestam a rotundidade do planeta, imaginar gente caminhando de cabeça pra baixo devia dar vertigem. Poucos meses antes, em 1865, em Oxford, Inglaterra, um professor de matemática publica livro que teria fama mundial: Alice no país das maravilhas. O autor se chamava Charles Lutwige Dodgson (1832-1898), mas assinava Lewis Carroll. Não era visto como maluco, mas o futuro argui uma possível pedofilia naquele professor, que era gago desde a infância e sofria de intensa enxaqueca e teve crises de epilepsia. Seu pseudônimo era menos amalucado do que o de Qorpo-Santo: “Lewis” é a forma inglesa para “Ludovicus”, em latim, ou Luís no nosso português, e o “Lutwidge” que ele carregava; “Carroll” é a forma irlandesa para o latim “Carolus”, ou Carlos, ou “Charles”. Capítulo inicial, Alice segue o coelho estranho que vê passar. Entra na toca logo depois dele. E, surpresa: começa a cair, cair, cair. Alice pensa muito e sempre. Pensa até enquanto cai: “Gostaria de saber se vou cair direto através da Terra! Como vai ser engraçado sair no meio daquela gente que anda de cabeça para baixo! Os antipatias, acho” (desta vez estava muito satisfeita por não haver ninguém escutando, pois aquela não parecia mesmo ser a palavra certa). Veio a palavra “antipatias”, mas não veio “antípodas”, à mente de Alice, na invenção do inglês cosmopolita Carroll, professor meio amalucado e genial. Já seu irmão de alma, quase seu antípoda, o torturado porto-alegrense Qorpo-Santo – que é claro que não pode ter lido o livro da Alice –, ficou naquelas outras palavras paralelas, fazendo piada com a plateia. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR


w w w. m a s o t t i . c o m . b r

Sob medida

10x

sem juros

Estilo para aguçar o paladar Estimule o seu fino paladar com materiais de alta qualidade, diversidade de acabamentos e detalhes requintados. Agende um horário com nossa equipe especializada para visitar sua casa, tirar medidas e ver seu espaço, ouvir suas necessidades, desenvolver seu projeto com apresentações virtuais em 3D, tudo para que você faça a escolha segura do seu mobiliário.

COZINHAS

ESCRITÓRIOS

SOB MEDIDA Faça seu projeto conosco.

DORMITÓRIOS

COR PREFERIDA Diversidade de cores e tecidos. Consulte.

RUA QUINTINO BOCAIÚVA, 857

|

(51) 98924.5227

MOINHOS

|

PORTO ALEGRE

(51) 33335743

ENTREGA E MONTAGEM EM DIVERSAS REGIÕES

|

RS



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.