Ano 12 N0 84 R$ 7,90
BEM-ESTAR FLOR, A MAIOR E MAIS BELA EXPRESSÃO DA PRIMAVERA
VIAGEM SICÍLIA: IMERSÃO CULTURAL NO EXTREMO SUL DA ITÁLIA
ESPECIAL OBSERVANDO ESTRELAS: UM LINDO ENSAIO DE ASTROFOTOGRAFIA
Tesouros Preservados Cadernos de receitas são registros preciosos de tradições, histórias familiares e de muitos sabores
Milene Leal milene@entrelinhas.inf.br
EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Bete Duarte, Beto Conte, Loraine Luz, Milene Leal, Taciane Corrêa REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade ILUSTRAÇÕES Moa FOTOGRAFIA Letícia Remião, Beto Conte, Milene Leal COLUNISTAS Celso Gutfreind, Cherrine Cardoso, Cris Berger, Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Tetê Pacheco
EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COMERCIALIZAÇÃO Carlos Eduardo Moi (eduardo@entrelinhas.inf.br) fones: 51 3026.2700 e 3024.0094 A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Entrelinhas Conteúdo & Forma, sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.
TIRAGEM 20.000 exemplares IMPRESSÃO Gráfica Artlaser Pallotti
ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Cel. Bordini, 675, cj. 301 Porto Alegre I RS I Brasil I 90440 000 51 3026.2700
FOTO: LETÍCIA REMIÃO
UMA EDIÇÃO FLORIDA Estamos recebendo de alma e braços abertos a Primavera! Começando pela nossa capa, uma torta que mais parece uma flor, resolvemos celebrar a mais colorida e cheirosa das estações, época de “tirar o mofo”, de sair às ruas, de usar roupas mais leves, de retomar os encontros com as pessoas que a gente ama, de apreciar as flores e a natureza que redesperta. Nas páginas a seguir você vai encontrar muitas coisas lindas, muitas ideias boas, muitas dicas que vai ter vontade de conferir. Embora leve de espírito, esta edição está “densa” de conteúdo! Não perca a matéria sobre os antigos cadernos de receitas, escrita por Bete Duarte, que nos faz lembrar com saudade de mães, avós e tias que marcaram nossas vidas com pratos deliciosos e um jeito familiar de cozinhar. A reportagem é pura sensibilidade e emoção, com fotos lindas assinadas por Letícia Remião. Lindo também está o ensaio de Astrofotografia, especialidade de André Nery, que viaja pelo mundo em busca dos melhores lugares para avistar e fotografar estrelas. As imagens obtidas por Andre e apresentadas no ensaio são pura poesia. E a lindeza não para por aí! Temos ainda uma reportagem sobre flores, coloridíssima, mostrando como elas influenciam a nossa vida, trazem bem estar e simbolizam sentimentos. Ainda nesta edição, Beto Conte nos fala de sua imersão cultural e histórica pela Sicília, Letícia Remião aborda a febre das pizzas napolitanas (mostrando imagens belíssimas dessa iguaria que está tão em alta no Brasil) e Taciane Corrêa explica em detalhes o que é o Cumaru, inaugurando uma nova seção da Estilo Zaffari: Bastidores de Cozinha. Neste espaço vamos apresentar a você, a cada edição, ingredientes que marcam presença na atual gastronomia mas que não são familiares ao público em geral. É informação, conhecimento, inspiração e sabor nas páginas da sua revista. Boa leitura! OS EDITORES
Cadernos de receitas: mais do que sabores, história, cultura, memórias
Ensaio: o fotógrafo André Nery nos presenteia com suas lindas astrofotografias
30 Cesta Básica 8 Bastidores de Cozinha 26 Coluna Vida 44 Coluna Sampa 58
Gula: Pizzas 60
O Sabor e o Saber 68 Coluna Equilíbrio 80 Coluna Palavra 90
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Viagem: uma gostosa imersĂŁo pela cultura, histĂłria e paisagens da SicĂlia, por Beto Conte
Flores: a natureza em festa, nossa vida mais colorida, bela, cheirosa
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Cesta básica NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, MODA, LITERATURA, ARTE, LUGARES, VIAGENS, OBJETOS ESPECIAIS, PESSOAS GENIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO! F OTO S
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COZINHA FRANCESA NA SERRA
CANNELÉ BISTROT RUA DANTON CORRÊA DA SILVA, 307 CENTRO I CANELA I 54 3278.1499 JANTAR: QUINTA, SEXTA E SÁBADO, DAS 19H ÀS 24H. ALMOÇO: SÁBADO E DOMINGO, DAS 12H ÀS 16H FACEBOOK.COM/CANNELEBISTROT
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Estilo Zaffari
O Cannelé Bistrot é um verdadeiro refúgio parisiense na cidade de Canela. Localizado em uma charmosa e aconchegante casa, com apenas sete mesas e uma decoração intimista, o restaurante é atendido pelo simpático casal de proprietários. Ali podemos saborear alguns ícones da cozinha francesa clássica, da entrada até a sobremesa . Ao escolher o prato principal, sempre com belíssima apresentação, você pode apostar num clássico como o Cassoulet ou o Tournedot Rossini. Outra dica é o Confit de pato com molho de physalis e alecrim. Também é imperdível o famosíssimo Filé de Saint Peter com escamas de batata, acompanhado por legumes salteados e camarões, um prato que se come em estado de êxtase. De sobremesa, há algumas opções irresistíveis: mil-folhas de chocolate ao rum, o crème brûlée ou a tarte tatin. O nome cannelé refere-se a um bolinho típico da região de Bordeaux. Leva ovos, farinha, baunilha e rum. É assado em forma canelada, e para nossa surpresa não leva canela nos ingredientes. E esperamos que ao visitar o bistrot você esteja no seu dia de sorte, porque essa iguaria espetacular apenas eventualmente é oferecida como cortesia da casa.
NOVAS EXPOSIÇÕES CONTEMPORÂNEAS EM INHOTIM Já conhecido por exibir permanentemente obras de importantes artistas de arte contemporânea, o Instituto Inhotim inaugurou novas exposições temporárias de quatro relevantes artistas internacionais: David Lamelas, Paul Pfeiffer, Robert Irwin e Yayoi Kusama – além de uma mostra dedicada a obras audiovisuais –, que ocuparão as galerias Lago, Praça e Fonte. Um grande número de obras inéditas no Brasil será exibido nesse período, com foco na percepção, no tempo e também em diferentes formas de produção audiovisual nacional e internacional. Para os artistas Robert Irwin e Yayoi Kusama, as novas mostras são um prelúdio para relevantes projetos que serão inaugurados nos próximos anos no Inhotim. O Instituto planeja a instalação ao ar livre de uma escultura de grande dimensão projetada por Irwin especialmente para o Inhotim. Enquanto isso está em fase de
desenvolvimento a construção de uma galeria permanente dedicada a Kusama. Esta exposição segue a continuada proposta de integrar arte, botânica, paisagismo, arquitetura e educação. O Instituto Inhotim proporciona uma experiência singular ao visitante, diferente de outras instituições museológicas convencionais. São 140 hectares de visitação, onde se encontram 23 grandes galerias – 19 permanentes e quatro temporárias – e outras 23 obras de grande escala distribuídas em uma bela paisagem. No campo botânico, o público tem a oportunidade de conhecer espécies de todos os continentes, que integram uma coleção de 4,5 mil plantas – algumas delas raras e ameaçadas de extinção. Os acervos artístico e botânico são amplamente utilizados em projetos socioeducativos e ambientais do Inhotim que visam à promoção do desenvolvimento humano e à conservação da biodiversidade.
INSTITUTO INHOTIM RUA B, 20 I BRUMADINHO I MG 31 3571. 9700 I 31 3194.7300 INFO@INHOTIM.ORG.BR I WWW.INHOTIM.ORG.BR Estilo Zaffari
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Cesta básica
VIAGENS DE IMERSÃO CULTURAL
MULE BULE CONQUISTA MERCADO NACIONAL
Em 2019, o STB Trip & Travel completa 25 anos de Grand Tours (viagens de imersão cultural acompanhadas por Beto Conte), e para comemorar selecionou uma série de destinos inusitados e encantadores para celebrar a diversidade do planeta. O ano se inicia pela Antártida, seguida pela Terra Santa, um prazeroso cruzeiro pelo Ródano e fechando com o emblemático Trem Transiberiano. O primeiro roteiro sairá no final de fevereiro, a bordo do luxuoso Silver Cloud Expedition, navegando pelo cenário único do continente gelado percorrendo do Ushuaia à Antártida. Em abril a imersão será ao coração do Oriente Médio, desde Israel contemporânea, a histórica Jerusalém e os lugares bíblicos da Galileia. Para maio está programado retorno à Grécia Clássica. Em junho um passeio pelo interior da França navegando de Arles, na Provença, até Lyon. Um cruzeiro fluvial pelos belíssimos campos de lavanda e vinhedos, ao longo do Rio Ródano. Em agosto será o mês da Ásia, com uma das viagens mais emblemáticas do planeta – O Grande Expresso Transiberiano –, incrementada com a Mongólia e a experiência de pernoite em uma “erg”, com os nômades das estepes.
Prestes a completar 15 anos, o Mule Bule vem se consolidando fortemente no ramo de catering empresarial, sempre apresentando um delicioso e criativo cardápio personalizado conforme a demanda do cliente. O Mule Bule atua em eventos de todos os portes, em feiras empresariais e na implementação de cafeterias store in store, em que se especializou em criar ambientes e concepções de espaços gastronômicos para empresas, podendo também administrá-los, se for o caso. Atualmente, faz cerca de 400 atendimentos/eventos ao ano, com média de 35 por mês. Chegou no mercado paulista e goiano por meio de feiras de agronegócio de grande porte. Eventos em Santa Catarina e Paraná também estão na lista. O objetivo é expandir cada vez mais o negócio, conquistando outros estados, afirmam os sócios Nelson Ramalho e Adelar Kleinert Jr. Pois já carregam em seu portfólio grandes eventos como a Copa do Mundo 2014, na qual executaram toda a operação alimentícia e área VIP do estádio Beira-Rio. MULE BULE AVENIDA FREDERICO MENTZ, 1512 NAVEGANTES I PORTO ALEGRE I 51 3066. 8600
STB TRIP & TRAVEL
MULEBULE@MULEBULE.COM.BR
WWW.STBRS.COM I BETOCONTE@STB.COM.BR
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Passaporte para o mundo • CurrĂculo compartilhado • Professores canadenses Ě˝ &HUWLͤFDGR FDQDGHQVH YÂŁOLGR SDUD paĂses de lĂngua inglesa.
Em 2013, o ColÊgio Monteiro Lobato implementou o Programa Monteiro High School, em parceria com o Columbia International College, da cidade GH +DPLOWRQ QD 3URY¯QFLD GH 2QW£ULR QR &DQDG£ Desde então, a internacionalização do Ensino MÊdio se consolida com o reconhecimento do JRYHUQR FDQDGHQVH H GD FRPXQLGDGH DFDGPLFD internacional.
Cesta básica
COLORIDO, DOCE E SURREALISTA
O Agridoce Café é exatamente assim. Um espaço aconchegante nada minimalista e repleto de móveis antigos que nos leva a uma viagem pela história de cada peça. Garimpadas em antiquários e feiras de antiguidades, elas são instigantes e divertidas. Cada salão vai tomando vida e forma, pelos objetos e móveis que ali encontramos. Tanto é que o lugar é muito procurado para ensaios fotográficos de debutantes, de casamento e publicitários. Realmente o local resulta em um cenário perfeito, com cinco ambientes diferentes, onde é possível ter uma diversidade grande de cliques. Porém, o mais inebriante do Agridoce é o aroma de café e salgados saindo do forno a toda a hora. É um universo delicioso que invade as salas. A quiche de cebola caramelada e o scone de gorgonzola com castanhas são os grandes destaques, até a entrada triunfante dos doces: tiramisù, mil-folhas, torta trufada ou uma torta brownie são algumas das especialidades. Outro detalhe superbacana do lugar é que é possível deixar um café pago para um cliente que você desconhece, com um recadinho seu... uma gentileza que reflete a alma desse café escondido na Cidade Baixa.
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Estilo Zaffari
AGRIDOCE CAFÉ SARMENTO LEITE, 1.024 I CIDADE BAIXA PORTO ALEGRE I 51 3392. 7746 DE TERÇA A DOMINGO: 12H ÀS 22H WWW.FACEBOOK.COM/CAFEAGRIDOCE INSTAGRAM:@AGRIDOCECAFE WWW.AGRIDOCECAFE.COM.BR
MAIS DE 50 AMBIENTES NA MOSTRA ELITEDESIGN A segunda edição da Mostra EliteDesign acontece até o dia 25 de novembro no GPA - Clube de Regatas Guaíba Porto Alegre, localizado às margens do Guaíba, onde os visitantes poderão conferir em mais de 3 mil metros quadrados as principais tendências em design de interiores, decoração, arquitetura e paisagismo. Mais de 80 profissionais atuantes do Rio Grande do Sul planejaram mais de 50 ambientes, entre lounges, jardins, dormitórios, espaços gourmet, varandas, salas de estar e jantar, livings e banheiros. A diretora do evento, Flavia Sffair, destaca que “além de apresentar o que há de melhor no setor, a mostra é um verdadeiro espaço de convivência e experiências. Assim como na primeira edição, queremos encantar, surpreender e emocionar”. A grande atração deste ano é para quem gosta de atividades ao ar livre, pois conta com uma prainha particular.
A COMBINAÇÃO PERFEITA No seu mais recente livro, “A arte de tratar – por uma psicanálise estética”, da editora Artmed, o escritor Celso Gutfreind, com um estilo leve, reúne ensaios sobre arte e psicanálise. Neste conjunto procura mostrar o quanto a psicanálise foi influenciada pela arte, e quanto precisa dela para o seu dia a dia – e, mais ainda, e o quanto a arte pode contribuir para a saúde mental das pessoas. Ao intercalar as obras de Freud sobre diferentes manifestações artísticas com várias referências da literatura e da poesia, o autor busca, dessa forma, valorizar a presença da estética em nossas vidas.
2ª MOSTRA ELITEDESIGN
A ARTE DE TRATAR: POR UMA PSICANÁLISE ESTÉTICA
CLUBE DE REGATAS GUAÍBA I RUA. JOÃO MOREIRA MACIEL, 470
AUTOR: CELSO GUTFREIND
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Cesta básica
PÃO FRANCÊS CROCANTE E OUTRAS DELÍCIAS
Localizada no coração do bairro de Pinheiros, no Largo da Batata, a padaria St. Chico oferece aos clientes, além de um pão francês cascudinho, crocante, com cheirinho adocicado e miolo denso, um aroma constante de café e um ambiente aconchegante, onde o cliente pode ver o pão sendo fabricado. Em seu DNA, a St. Chico mescla ingredientes brasileiros com savoir-faire francês. Os proprietários afirmam: “Temos uma alma caipira com cara de mercadinho europeu, com uma produção 100% caseira, pães de longa fermentação e técnicas apuradas”. A criatividade é o ponto alto da padeira e sócia-proprietária, Helena Mil-Homens, que todas as manhãs surpreende seus clientes com alguma deliciosa novidade: o pão de levain recebe cobertura de Nutella e amêndoas salgadas; a bisnaguinha, um recheio generoso de chocolate; o brioche, uma versão folhada, e, de repente, saem carolinas com crème pâtissière ou um pain au chocolat. Realmente irresistível. Para o almoço a padaria oferece opções descomplicadas e saborosas: focaccias, salada caprese, copo com crudités (bastões crocantes de legumes e molho da casa).
MENINOS COM MUITO ESTILO A marca gaúcha Boys Only Kids (BOK) surgiu há poucos meses quando a mãe do Bento, a designer de moda Gabriela Posselt, se deparou com a falta de estilo e conforto no universo dos meninos. A BOK foi pensada e idealizada para atender desde bebês de 3 meses até crianças de 8 anos, com uma proposta divertida para vesti-los de forma moderna e exclusiva. As estampas são criadas pela designer, que busca sempre selecionar tecidos tecnológicos. Para a coleção primavera-verão, por exemplo, as camisetas são de um tecido que não “faz bolinhas”, as tintas não soltam e são atóxicas, o que é ideal para a criançada. “Nossos grandes diferenciais são as estampas exclusivas, a alta qualidade dos materiais, a modelagem moderna, além do conforto e da versatilidade das peças. Priorizo tecidos com toque macio e com alta durabilidade”, explica Gabriela. As vendas são feitas pelo e-commerce e redes sociais, mas a marca já tem parcerias com algumas lojas físicas, como a Cria.
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Cesta básica
TEMPO DE FLORESCER SABORES CHEIOS DE HISTÓRIAS Pertinho da Redenção, na arborizada e charmosa Rua Santa Terezinha, está o Senhorita Margô. Um café em que a primeira impressão já cativa: uma área externa toda colorida nesta época. Ao fundo, uma clássica casa com a decoração surpreendente. A proposta foi construir um mundo encantado, com louças antigas, sabores que trouxessem histórias e detalhes inusitados. Tudo inspirado nas viagens que a Senhorita Margô faz pelo mundo. O cardápio também segue esta ideia de trazer um pouco da história das viagens. O destaque é para o visual dos doces artesanais. São produzidos diariamente e expostos em uma vitrine, onde temos dificuldade de escolher porque são uns mais lindos que os outros. Para fechar a temporada da bergamota você ainda consegue provar o entremet dessa fruta, uma inspiração europeia, feito com mousse de bergamota e creme de avelã branco.
Mineira de Belo Horizonte, a psicóloga e publicitária Claudia Maria Chaves decidiu agregar mais valor aos deliciosos encontros à mesa criando uma linha de louças, jogos americanos e panos de prato originais e com um toque de arte. O prazer de cozinhar e receber familiares e amigos para compartilhar foi herdado da mãe e das doces lembranças da infância em Minas Gerais, afirma ela. Em sua primeira coleção, revela a sua paixão por flores e palavras – e surge “Tempo de florescer”. São diferentes flores e plantas a decorar as peças, pintadas à mão, uma a uma. Os jogos americanos e panos de prato, além dos desenhos em preto e branco da artista plástica Luiza Veríssimo, ganham intervenção de cor, nos bordados pontuais, em parte do desenho. Tudo feito à mão, por Claudia e por um grupo de artesãs, valorizando o charme e a simplicidade nas composições. Ô DE CASA OBJETOS DE CASA COM TOQUE ARTESANAL
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INCORPORAÇÃO E CONSTRUÇÃO
Cesta básica
O UNIVERSO DO AZEITE O Empório do Azeite é uma boutique deliciosa em Gramado que reúne mais de 200 rótulos de azeites provenientes de nove países. Mais do que vender produtos, a proposta é compartilhar informação, proporcionando ao visitante uma experiência sensorial única, na qual pode degustar e sair de lá bem informado a respeito de suas propriedades e de sua origem milenar, que está associada a uma dieta saudável e saborosa. O local também oferece especiarias como vinagres, azeitonas e temperos para incrementar a sua cozinha. Atualmente, é a maior e-commerce de azeites de oliva do Brasil, sendo também importadora e distribuidora. “Nossa missão é ser a maior
referência em azeites de oliva do Brasil”, explica a sócia-proprietária, Chania Chagas. Importam marcas exclusivas da Argentina, Chile, Espanha e Itália, e futuramente trarão para a loja um dos melhores azeites do mundo, que é o Rincon de La Subbética, um espanhol de Andaluzia. “Para nós é muito importante visitar o produtor e escolher produtos de qualidade para trazer ao Brasil”, destaca Chania, que recentemente se formou em Sommelier de Azeites Internacional pela Faculdade de Química de Montevideo/Uruguai e começou a ministrar aulas de análise sensorial de azeites para pequenos grupos na loja.
EMPÓRIO DO AZEITE RUA SÃO PEDRO, 224 I SALA 02 I CENTRO I GRAMADO I 54 3286.1540 CONTATO@EMPORIODOAZEITE.COM.BR I WWW.EMPORIODOAZEITE.COM.B
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Estilo Zaffari
Cesta básica
MODA E ORIGINALIDADE CONTRA O CÂNCER EXPERIÊNCIA SENSORIAL
O Tonka Café oferece variadas experiências em texturas, sensações e sabores que vêm da dedicação, carinho e cuidado com os produtos elaborados, na própria cozinha do local. Tem sempre uma música ambiente e uma água saborizada para recepcionar os clientes. O ponto alto da casa são os variados métodos de café e as opções de doces e salgados que encantam e seduzem desde a vitrine. O local também tem uma opção de almoço e a pedida para o happy hour entre amigos é o Voul au Vent (cestinha folhada) e uma jarra de clericot. O nome Tonka refere-se à semente do cumaru, e de acordo com os proprietários, foi escolhido para fazer uma homenagem a um ingrediente exclusivamente brasileiro e sua vasta possibilidade de aplicação na área da confeitaria e da gastronomia em geral. Aos sábados o cardápio é especial: uma gostosa sugestão de café da manhã – das 9h às 11h30 – e almoço com uma opção linda de sobremesa empratada.
Em comemoração aos 25 anos, o Instituto da Mama do RS (Imama) lança uma linha de lenços em parceria com a designer Luise Thomas. As duas versões de estampas são inspiradas na obra Flores De Afrodite, da artista plástica Bianca Santini, que criou a tela exclusivamente para o projeto. As peças estarão à venda no Instituto e em diversos pontos em Porto Alegre e Gramado. Toda a renda será revertida em benefício da Causa Rosa, que busca a conscientização sobre a importância dos cuidados com a saúde da mama, enfatizando a necessidade da detecção precoce do câncer de mama para maiores chances de cura, além de qualidade e agilidade em todos os processos da rede de atenção à saúde da mama. Atua diretamente nos processos de educação, reabilitação, articulação e mobilização social em favor da saúde da mama. Também atua como articulador de políticas públicas e é reconhecido por sua habilidade em promover uma mobilização social consciente e colaboradora. Entre as ações da campanha está uma exposição itinerante de fotos de Carlos Contreras, que clicou mulheres ensinando diversas maneiras de usar o lenço com muito estilo e criatividade. IMAMA
TONKA CAFÉ
UNIDADE PORTO ALEGRE
RUA ANITA GARIBALDI, 1681 I PORTO ALEGRE
RUA DR. VALE, 157 I FLORESTA
TERÇA A SEXTA: 11H30 ÀS 20H30 I SÁBADO: 9H ÀS 20H30
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Cesta básica
30 ANOS DA ESCOLA PROJETO A Escola Projeto desde 1988 é reconhecida por promover o ensino com significado e estimular a literatura, a música e as artes, colocando o aluno em contato com diversas manifestações culturais diariamente. Baseada em sua filosofia de estimular as crianças em todos os processos de aprendizagem, tornando-as mais confiantes, responsáveis, curiosas e participativas, a Escola planeja lançar um livro para comemorar seus 30 anos. A publicação contempla o trabalho desenvolvido pelos alunos, com foco em autores, autoras, músicos, musicistas e artistas visuais. Será um registro de três décadas intensas de trabalho que demonstram essa imensa relação de amor entre a educação e a arte local. O livro será realizado com recursos do financiamento coletivo online (Catarse).
ESCOLA PROJETO UNIDADE 1: RUA PAULINO TEIXEIRA, 394 BAIRRO RIO BRANCO I 51 3331.7384 UNIDADE 2: AV. JOSÉ BONIFÁCIO, 581 BAIRRO FARROUPILHA I 51 3333.4154 ESCOLAPROJETO.G12.BR/
DOCE DELIVERY O Z Café, tradicional cafeteria de Porto Alegre, acaba de lançar o serviço de tele-entrega de tortas para a capital gaúcha. A ideia é tornar as confraternizações dos clientes mais fáceis e gostosas, e por isso as encomendas podem ser feitas por telefone ou direto no site, com 24 horas de antecedência. “Foi uma demanda natural que surgiu, pois muitos clientes querem contar com a praticidade de poder fazer sua encomenda sem ter que passar em uma das lojas”, afirma o sócio da rede, Sandro Zanette. O cardápio oferece 13 sabores de tortas doces, salgadas e integrais, entre eles a tradicional Torta Z, de chocolate e doce de leite. Nozes, limão siciliano, cenoura com brigadeiro, integral de banana e de maçã são outras opções disponíveis. CONFEITARIA Z CAFÉ ENCOMENDAS DE SEGUNDA A SEXTA DAS 9H ÀS 17H30 51 3222. 2030 I WWW.CONFEITARIAZCAFE.COM.BR
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Estilo Zaffari
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Bastidores de Cozinha
Você conhece
cumaru? P O R
TAC I A N E
C O R R Ê A
Provavelmente você já ouviu este nome em alguma composição de perfume, sabonete ou mesmo sentiu o seu aroma no Chanel nº 5. Quem sabe até você saboreou o cumaru naquele doce incrível em uma festa de casamento ou em um restaurante bacana da cidade. Pois o cumaru é tudo isso mesmo, atuante na perfumaria, na gastronomia e na fabricação de móveis. Integrante da família dos grãos e das oleaginosas, primo das amêndoas e irmão da baunilha. Aromático, marcante e com sabor que parece remeter a aconchego e carinho, conforme descreve a professora e chef pâtissier, Andrea Ernst Schein, que utiliza sua fava desde 2007 para a produção de macarons. Também conhecido como fava tonka, há muitos anos já vem sendo utilizado na gastronomia francesa e inglesa, mas só há pouco foi adotado pelos chefs brasileiros, que o apelidaram de “baunilha brasileira”. De fato, o sabor do cumaru lembra muito o da baunilha, porém com um aroma um pouco mais suave. Ambos possuem
F OTO S
L E T Í C I A
R E M I Ã O
uma substância chamada cumarina, bastante usada na área da confeitaria, pois dá um gosto especial às sobremesas, combinando muito bem com doces à base de leite, como pudins e cremes. O cumaru também se adapta perfeitamente ao chocolate e é utilizado no preparo de bolos, biscoitos, sorvetes, macarons e brigadeiros. Ele perfuma e aromatiza pratos, sendo também muito usado no Norte em pratos salgados da cozinha indiana e africana, associado a outros temperos. Seus aromas marcantes de amêndoa amarga, caramelo, baunilha, canela e cravinho fazem dele uma especiaria única.
DESCOBERTA
Cientistas isolaram a cumarina pela primeira vez em 1820. Trata-se de uma substância altamente intensa e que, se consumida em altas quantidades, pode até ser tóxica. Mas se for usada da mesma forma como usamos a baunilha, em pequenas doses, apenas para dar um toque ao prato, torna-
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Bastidores de Cozinha
A SEMENTE DO CUMARU, TAMBÉM CHAMADA DE FAVA TONKA, SE ASSEMELHA À BAUNILHA, MAS TEM SABOR E AROMA MUITO PRÓPRIOS. É AMPLAMENTE USADA NA GASTRONOMIA E NA PERFUMARIA -se inofensiva. De qualquer modo, sua utilização exagerada confere um sabor bem amargo a qualquer alimento. O fruto é nativo da Amazônia, mas pode ser encontrado desde o estado do Acre até o Maranhão, além da Colômbia, Guiana Francesa, Guiana, Peru, Ilhas Seychelles e Suriname. Árvore aromática e medicinal, o cumaru exala um perfume agradável e sua fruta é carnosa, de cor amarela com tom esverdeado, com gosto meio amargo. Suas sementes são de coloração vinho, mas quando maduras escurecem e ficam pretas. Esta semente é a famosa fava tonka ou fava de cumaru. O perfume da fava do cumaru é tão forte que já foi usado para aromatizar cigarros, rapé, chocolates e bebidas, tendo grande emprego na indústria internacional. Apesar da relativa dificuldade de encontrá-lo no mercado, o cumaru começou a se fazer presente na culinária do nosso país. Chefs inovadores, em busca de sabores peculiares, têm se valido dele e de outros ingredientes regionais para adicioná-los a receitas tradicionais e assim ampliar o conceito de cozinha brasileira. Uma cozinha que começa a ser admirada no plano internacional pela originalidade de seus achados e combinações.
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MACARONS DE CUMARU DA CHEF ANDREA SCHEIN
SAIBA MAIS: Também conhecido como cumaru-amarelo, cumaru-ferro, cumaru-do-amazonas, cumaru-verdadeiro, muirapaié (nome indígena que quer dizer “árvore dos feiticeiros”). O fruto é colhido no chão da floresta, e de cada fruto é retirada uma semente (fava de cumaru). Em Belém/PA ele é vendido em barracas de ervas para banho de cheiro. Seu auge de exportação foi na década de 1910, pois era usado para aromatizar tabaco, resultando em um produto com toque de baunilha meio acanelado. Desde 1954 a venda de cumaru para consumo é proibida nos EUA, o que não impede que apareça em cardápios de restaurantes americanos. Os perfumistas internacionais, a partir do século 19, passam a adicionar notas de cumaru a perfumes por causa do seu aroma e por ser um componente que ajuda na fixação das essências. Apenas uma fava tem poder de aromatizar em torno de dois litros de leite, equivalendo em seu poder de aromatização a meia noz-moscada ou a duas favas de baunilha. O óleo de cumaru possui aroma agradável e adocicado. Sua fragrância é uma combinação de baunilha, amêndoas, canela e cravo.
NA SUA COZINHA HA Você mesmo pode fazer a essência de cumaru: com uma xícara de vodka e duas favas partidas ao meio. Deixe em infusão dentro de um vidro no armário. Em alguns dias sua essência está pronta e pode ser usada para substituir a baunilha em qualquer receita. Outra ideia é aromatizar o açúcar: coloque duas favas num pote de açúcar, para polvilhar bolos, biscoitos ou até mesmo fazer caldas. Uma experiência fácil para conhecer o sabor da fava tonka é ralar um pouco de uma fava na receita de brigadeiro e ver a diferença de sabor.
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Sabor
Memórias
afetivas
Os cadernos de receitas de família guardam sabores inesquecíveis, memórias afetivas, heranças culturais. Nos levam a grandes descobertas, capazes de satisfazer não só o paladar, mas também a alma. Este é o universo que Bete Duarte aborda nas páginas a seguir
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B E T E
D U A R T E
F OTO S
L E T Í C I A
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Sabor
As páginas podem estar amareladas, com manchas de gordura e pequenas anotações. As capas, gastas, até um pouco rasgadas. Não importa. Preservados como tesouros, os cadernos de receitas são registros de costumes, tradições e histórias familiares. Em tempos passados, foram herança destinada às moças casadoiras e guardaram segredos culinários mantidos a sete chaves: o prato especial do almoço de domingo, o bolo da vovó, a famosa torta salgada da tia ou o doce que a vizinha costumava fazer. Muitos foram esquecidos em velhos baús ou no fundo de gavetas. Outros, porém, ganharam destaque nas prateleiras, mais manchas e ajudam a despertar recordações de sabores e quereres muitas vezes distantes. Receitas transmitidas em família são uma forma de afeto, de perpetuação de costumes e cultura, de registros que povoam a memória. Sabores, aromas e sentimentos que serão lembrados no futuro como momentos especiais. Prazeres que serão associados à comida de mãe, receitas de avós. Lembranças quase impossíveis de serem reproduzidas totalmente por outras mãos. Sempre estará ausente a fonte de afeto, o que alterará o sentido da percepção desse sabor no cérebro. Como diz Mia Couto, escritor moçambicano, “Cozinhar não é serviço. Cozinhar é um modo de amar os outros”. E é esse ato de amor, registrado no inconsciente, que faz com que a receita se mantenha viva, assim como a imagem de quem costumava prepará-la. O filósofo italiano Norberto Bobbio já dizia que “somos aquilo que recordamos”, o que concede um lugar especial às receitas como registro cultural e de identidade familiar. Dotadas de importância e emoção, evitam que a lembrança se dissipe. A transmissão de receitas ao longo de uma família é algo que transcende a questão genética: é memória, afeto, é arquivo de experiências. Passar para outras pessoas o saber culinário é perpetuar costumes por meio das práticas alimentares. Além disso, deixar o registro para outras pessoas é uma forma de manter-se vivo por meio daquilo que se ensinou.
OS CADERNOS DE RECEITAS SÃO REGISTROS DE COSTUMES, TRADIÇÕES E HISTÓRIAS FAMILIARES. RECEITAS TRANSMITIDAS EM FAMÍLIA SÃO UMA FORMA DE AFETO E DE MEMÓRIA
ESPAÇO FEMININO
No passado, os cadernos eram objeto tradicionalmente feminino em meio a uma sociedade patriarcal. Ao longo do século 19, até a década de 1970, foram elaborados quase exclusivamente por mulheres, circulando entre espaços privados do feminino, criando identidades entre mães, filhas, avós, netas. Esses cadernos se transformam, então, em uma herança querida. Tema de estudos que vão além da gastronomia, são registro de uma época e da evolução histórica e social da mulher e seu lugar na cozinha. Havia um tempo em que as
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Sabor
TROCAR RECEITAS É TROCAR EXPERIÊNCIAS QUE DERAM CERTO, É DESEJAR AO OUTRO O MESMO SUCESSO
receitas eram muito generosas nas quantidades, porque as famílias eram numerosas em termos de integrantes. Com o passar dos anos, a vida impôs um modo de fazer mais simples e prático, o que se reflete nos cadernos. A quantidade de ingredientes é reduzida e, consequentemente, o mesmo acontece com as porções. A modernização trouxe ainda outras mudanças, com a chegada à mesa dos produtos industrializados. Para que os ingredientes processados fossem adotados pelas consumidoras, as indústrias passaram a oferecer cursos gratuitos e receitas impressas em que o foco central eram os produtos por elas comercializados. Vem daí o domínio do leite condensado na doceria brasileira, a presença dos enlatados na cozinha salgada e a invasão desses recortes, colados ou soltos, nos cadernos familiares.
SABER E AFETO
Compartilhar a forma de preparo de um prato é considerado um gesto de afeto e confiança. Por isso, as donas dos cadernos costumam registrar ao lado da receita o nome de quem a presenteou. É também um reconhecimento à habilidade culinária da cozinheira. A historiadora Débora de Oliveira, em seu livro Dos Cadernos de Receitas às Receitas de Latinha, vai além, ao lembrar que o nome de quem “deu a receita” ao lado dela representa o universo pelo qual a dona do caderno circulava, ou seja,
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um caderno é um acessório que conta uma vida e que é vivo por si só. É um pedacinho de alguém em forma de receita. Tem relação com os gostos, as descobertas e até mesmo os sonhos daquela pessoa. Trocar receitas é trocar experiências que deram certo, é também desejar o mesmo sucesso e felicidade para quem as recebe. Esse talvez seja um dos principais motivos pelos quais, ao longo dos anos, eram trocadas entre pessoas que mantinham laços afetivos com as cozinheiras ou com quem seria por elas alimentado. A comida e o ato de cozinhar são considerados uma manifestação de amor e afeto que fica registrada para sempre no inconsciente. Quando um cheiro transporta à infância ou a uma ocasião específica, há o resgate daquele momento, uma retomada que busca reconstruir de alguma maneira qualidades daquele contexto. A perpetuação desse prato, no preparo, é uma tentativa de se apoderar, mesmo que ilusoriamente, de uma parte do passado e buscar recriá-lo para si e para os outros com toda a bagagem de afeto que dele se pode extrair. Se em tempos passados algumas mulheres não dominavam a arte de escrever, seus saberes culinários foram registrados por alguém que ao observá-las cozinhando absorvia o conhecimento e o transmitia por palavras aos cadernos. Deter a receita é um registro, no entanto, não é uma garantia de domínio do saber cozinhar, como ressalta o escritor e cronista Rubem Alves:
Sabor
“A primeira lição é que não há palavra que possa ensinar o gosto do feijão ou o cheiro do coentro. É preciso provar, cheirar, só um pouquinho, e ficar ali, atento, para que o corpo escute a fala silenciosa do gosto e do cheiro. Explicar o gosto, enunciar o cheiro: para essas coisas a Ciência de nada vale; é preciso sapiência, ciência saborosa, para se caminhar na cozinha, este lugar de saber-sabor”.
DOCE RELÍQUIA
Refazer receitas dos cadernos das mães ou avós é uma forma de fortalecer os laços da família. Quanto mais antigas, mais difícil se torna reproduzi-las fielmente, porque, em alguns casos, os ingredientes comumente usados caíram no esquecimento e são mais dificilmente encontrados. Da mesma forma que as medidas são consideradas subjetivas para os dias de hoje, como 1 pires de açúcar ou 1 punhado de farinha. Há também medidas em libras. Mas sempre é possível adaptá-las. A chef confeiteira Andrea Schein guarda um caderno especial como relíquia. E tem motivos de sobra para isso: datado de 1933, ele pertencia à bisavó dela, Alice Soares de Paiva. Dona Lily, como era conhecida, era dona de casa e cozinhava apenas para a família em Pelotas, terra dos doces de origem portuguesa. Já a avó, Maria de Lourdes Paiva Schein, fazia bolos de casamento, de quem a chef deve ter herdado o dom da cozinha. No caderno de dona Lily, a torta de amêndoas, que,
como está destacado por ela, pode ser preparada também com amendoim, foi a escolhida para ser reproduzida pela bisneta Dea Schein. Além de prepará-la com o recheio originalmente sugerido, de doce de ovos, a chef criou uma opção mais moderna com peras em calda, o que conferiu mais umidade à massa e mais leveza à torta. Mas para não perder a essência da receita, a serviu com doce de ovos. Dona Lily registrou ao final da receita um conselho importante: preparar a torta com dois dias de antecedência.
PREDOMÍNIO DO AÇÚCAR
A cozinha trivial salgada, do dia a dia, ocupa, com frequência, pouco espaço nos cadernos. Talvez por se tornar cotidiana, dominada e dispensar precisão. Costuma incluir indicações vagas como sal a gosto, pimenta quanto baste. Os temperos ficam ao sabor da mão de quem cozinha. Há quem garanta que qualquer pessoa faz um prato salgado. Ao contrário da confeitaria, cujo modo de preparo é minucioso e geralmente com ordem de elaboração. Por isso, a maioria das receitas anotadas com detalhes é de doces. Em alguns cadernos, a tradição da cultura gastronômica tem sotaque predominante. Esse é o caso do de Ellen Steiner, em poder da filha Margit. Nele, as receitas se alternam em português e em alemão. Ellen e a prima Nora estiveram na categoria das cozinheiras de mão cheia. Também dominavam os salgados, mas eram os doces de origem germânica que faziam a fama da dupla.
A MAIORIA DAS RECEITAS ANOTADAS COM DETALHES É DE DOCES. A CONFEITARIA EXIGE MUITA PRECISÃO
Torta de Amêndoas da Dona Lily 9 CLARAS 500 G DE AÇÚCAR 500 G DE AMÊNDOAS RECHEIO 700 G DE PERA 500 G DE AÇÚCAR 750 ML DE ÁGUA
MODO DE FAZER: Bata as claras com o açúcar. Delicadamente, junte as amêndoas moídas com a pele. Distribua a massa em duas formas, de 20 cm, untadas e forradas com papel-manteiga. Leve ao forno preaquecido a 180 graus. Para o recheio, prepare uma calda com o açúcar e a água e cozinhe as peras, descascadas, até que fiquem macias. Em um prato, disponha um dos discos de amêndoas e sobre ele as peras picadas, regando com um pouco de calda. Por cima, disponha o outro disco e polvilhe com açúcar de confeiteiro.
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Sabor
Quando Ellen completou 80 anos, em 1994, os convidados da festa, parentes e amigos, receberam um livreto contando um pouco da história da família e as receitas prediletas de seus netos. Agora, a filha Margit quer editar um livro transcrevendo as saborosas receitas do caderno de Ellen, como as reproduzidas pelo chef Vico Crocco: spekulatius, delicado biscoito alemão, e o honigkuchen, o tradicional bolo de mel.
MEMÓRIA AFETIVA
Com dons culinários, as mulheres preservam a arte de recitar receitas. É um tal de corte, refogue, mexa, asse, como que conduzindo quem as lê pelos segredos do ato de cozinhar. Cada receita, ainda só como escrita, atiça a imaginação e desperta o desejo antes mesmo de ser preparada. A comida, como corda, puxa a memória e traz de volta aromas, sabores, lembranças, quereres. Os doces, então, parecem acariciar a alma, trazer conforto, aconchego. Ter acesso a um caderno de receitas, manuscrito, com letras desenhadas como marca registrada, identidade, é desvendar os gostos de quem o criou. Descobrir, em alguns casos, comentários sobre a qualidade da receita: “aprovado”, “muito boa” e até “não repetir”.
A generosidade é palavra de ordem. Quem cozinha e doa receitas compartilha, soma conhecimento, multiplica experiências, distribui felicidade, deixa um legado. A cada receita reproduzida faz voltar no tempo. Os cadernos de receita podem ser apenas uma representação simbólica. Christa Sudbrack, por exemplo, tinha por hábito descrever suas delícias em agendas, dividindo espaço com anotações de tarefas do cotidiano. Criadora da confeitaria alemã Leckerhaus, colocava ali os mistérios de recheios, massas, combinações de tortas, segredos de delicados biscoitos. Quando vendeu a confeitaria, que hoje se chama apenas Lecker, entregou também os direitos das receitas. Por esse motivo, elas não podem ser reproduzidas aqui. As agendas, no entanto, guardavam também receitas caseiras, que dona Christa, que nos deixou este ano, preparava para a família. O domínio das técnicas era tanto que costumava apenas anotar os ingredientes, sem perder tempo com o modo de preparo. A receita de cuca (com fermento em pó e que lembra mais um bolo), copiada entre as existentes em uma das muitas agendas, é homenagem a essa que deixou enorme legado para a gastronomia gaúcha e germânico-brasileira. É um convite para uma xícara de chá e uma fatia de muito sabor, de lembrança, de saudade, como certamente dona Christa adoraria servir.
CADA RECEITA REPRODUZIDA DE UM ANTIGO CADERNO É UMA VIAGEM NO TEMPO. A SAUDADE AFLORA!
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Sabor
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Spekulatius da Ellen e da Nora
Honigkuchen (Bolo de Mel) da Ellen 4 XÍCARAS DE FARINHA DE TRIGO
500 G DE FARINHA DE TRIGO
2 XÍCARAS DE MEL
1 COLHER (SOPA) DE FERMENTO EM PÓ
1 XÍCARA DE LEITE
250 G DE AÇÚCAR
1 PITADA DE SAL
250 G DE MANTEIGA
1 COLHER (CAFÉ) DE CRAVO EM PÓ
100 G DE AMÊNDOAS OU CASTANHA-DO-PARÁ MOÍDAS
1 COLHER (CAFÉ) DE CANELA EM PÓ
2 OVOS
1 COLHER (CAFÉ) DE NOZ-MOSCADA
1 COLHER (CAFÉ) DE CANELA EM PÓ
1 COLHER (CAFÉ) DE RASPA DE LIMÃO SICILIANO
1 COLHER (CAFÉ) DE CRAVO EM PÓ
1 COLHER (CAFÉ) DE CARDAMOMO
1 COLHER (CAFÉ) DE NOZ-MOSCADA
1 XÍCARA DE NOZES PICADAS
1 SACHÊ DE AÇÚCAR DE BAUNILHA
1 XÍCARA DE LARANJA CRISTALIZADA PICADA
PARA DECORAR
2 GEMAS
LEITE
1 COLHER (SOPA) DE BICARBONATO DE SÓDIO
50 G DE KANDISZUCKER (AÇÚCAR CRISTAL)
GLACÊ AÇÚCAR DE CONFEITEIRO COM SUCO DE LIMÃO
MODO DE FAZER: Misture todos os ingredientes com a ponta dos dedos. Leve à geladeira por 1h. Abra a massa com um rolo e corte com os cortadores de biscoito escolhidos. Distribua nas formas. Pincele com leite e leve ao forno preaquecido até que fiquem dourados.
OU AÇÚCAR DE CONFEITEIRO COM CHOCOLATE MODO DE FAZER: Misture a farinha de trigo peneirada com o sal e o mel diluído no leite. Adicione o açúcar mascavo, as especiarias, as raspas de limão, as nozes e as laranjas cristalizadas picadas. Misture e deixe descansar de 12h a 20h. Adicione as gemas e o bicarbonato e misture. Asse em tabuleiro untado e enfarinhado e forno preaquecido, a 1800C. Decore com glacê. Corte em quadrados.
A HERANÇA CULTURAL TAMBÉM ESTÁ NOS CADERNOS DE RECEITAS, NOS PRATOS ELABORADOS POR FAMÍLIAS DE DIFERENTES ETNIAS E PROCEDÊNCIAS. A GASTRONOMIA É UM RETRATO DOS COSTUMES
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Sabor Cuca Alemã da Dona Christa 200 ML DE LEITE 1 OVO BATIDO 1/2 XÍCARA DE AÇÚCAR 1 PITADA DE SAL 1 COLHER (SOPA) DE MANTEIGA 3 XÍCARAS DE FARINHA DE TRIGO 1 COLHER (SOPA) DE FERMENTO BIOLÓGICO SECO RASPAS DE CASCA DE LIMÃO RECHEIO KÄSCHMIER OU REQUEIJÃO COBERTURA 50 G DE AÇÚCAR 100 G DE MANTEIGA 150 G DE FARINHA GOTAS DE BAUNILHA MODO DE FAZER: Para a massa, misture todos os ingredientes. Coloque a massa em forma untada e enfarinhada ou em forma antiaderente. Cubra e deixe crescer até dobrar de volume. Por cima, distribua o käschmier. Para a cobertura, misture os ingredientes com a ponta dos dedos até que formem uma espécie de farofa. Coloque sobre a cuca. Leve ao forno preaquecido, a 1800C, por cerca de 40 minutos, usando um palito para conferir se está assada. Dica: o recheio pode ser de geleia, goiabada ou frutas em calda.
REFAZER AS RECEITAS DOS CADERNOS DA MÃE OU DA AVÓ É UMA FORMA DE FORTALECER OS LAÇOS DE FAMÍLIA. A COMIDA TRAZ DE VOLTA AROMAS, SABORES, LEMBRANÇAS, MOMENTOS, QUERERES...
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Vida C E L S O
G U T F R E I N D
O FB NÃO É CONFIÁVEL
Eu andava meio ressabiado com o facebook, mas não sabia explicar os motivos. Em meio a certo entusiasmo, alguma coisa não batia, mas ela ainda não tinha nome. Seria o encontro virtual sem a realidade do olhar, do toque, do banho de sons da palavra? O facebook promove encontros, resgata gentes, não é uma pedra. Ele intercambia ideias e sentimentos que, por dentro, provocam olhares, sons de palavras e até toques. Há melodia. Condená-lo mais parecia criticar a passagem do tempo e os benefícios da tecnologia. Mas, hoje pela manhã, a coisa estranha do face ganhou um nome. Ele acordou me recomendando desejar feliz aniversário a uma amiga que morreu. Aí é que estava a coisa agora nomeada. Como confiar em alguém que vive alheio à morte? Que nega a tristeza inevitável dos dias e onde todos aparecem contentes e perfeitos... O face não atravessa as ruas com cuidado. Não hesitaria em sentar perto da murada do oitavo andar. Desconhecendo a morte, ignora a vida e a urgência dela, mesmo quando sorvida vagarosamente como é mais recomendando. O face pode se preocupar com as curtidas, com a quantidade de acessos, mas não com a qualidade da curtida e do acesso à fruição de um único dia. Não há um único dia para ele, o que afeta todos os outros restantes. O face, como os gatos, não sabe que vamos morrer, como disse
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o poeta Gullar. E, pior do que os gatos, ele não se assusta com a expressão mortífera do outro. O gato sente, recua, desconfia diante da alteridade quando opaca. O face clica, avisa, convida, marca, curte como se fôssemos eternos. E cada clique, convite, marca, curtida torna-se inevitavelmente banal na falsidade de um para sempre. Afinal, não é para sempre e nada ali fica marcado para o que mais importa: o instante. Já não pode ser curtido às ganhas. Sem a dimensão da finitude, o face abre mão do sal dos dias e do tempero exigido em cada manutenção e mudança. Dessa forma, tudo lhe é no fundo indiferente, porque haverá todo o tempo do mundo e, de fato, não há. É isso que o torna fake e falso e despreparado para a efemeridade ou as verdadeiras circunstâncias de uma vida, esse somatório delas. O face não sabe parar e, ao fantasiar que seremos indefinidamente, ignora o que é uma pausa (mesmo que pare), um pastel de beira de estrada (mesmo que mostre), um sexo, mesmo que conte bravatas. Por mais que esteja borrifado de sentidos mil, é incapaz de atribuir um único verdadeiro, porque é incapaz de sentir que todo sentido pode acabar a qualquer momento. Alheio à morte, o face não é confiável para a vida. CELSO GUTFREIND É PSIQUIATRA E ESCRITOR, ESPECIALISTA EM PSIQUIATRIA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
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CASTIGLIONE DI SICILIA, PITORESCO POVOADO NO INTERIOR DA ILHA
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MARINA DE ORTIGLIA EM SIRACUSA
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A SICÍLIA
A Itália sempre me atraiu por seu vasto legado cultural e sua diversidade regional. Uma terra com longa e rica história, desde a Antiguidade, com os etruscos e gregos, ascensão e queda do império romano, o esplendor da Renascença, o processo da unificação no século XIX... chegando até os desafios atuais dentro da União Europeia. Trata-se de um país a ser apreciado aos poucos, mergulhando na cultura e nas peculiaridades de cada região. a, Em maio deste ano fui ao extremo sul da Itália, em um programa cultural conduzido pelo professor or co Francisco Marshall, historiador e arqueólogo clássico especialista em cultura grega, para explorar o legado do ão grego na Sicília. A viagem foi uma verdadeira imersão no mundo grego que marcou o sul da Itália por um m milênio, a partir do século VIII a.C.
FIZEMOS UMA IMERSÃO NO MUNDO GREGO QUE MARCOU O SUL DA ITÁLIA POR UM MILÊNIO, A PARTIR DE VIII A.C.
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Viagem PRAÇA NO CENTRO HISTÓRICO DE PALERMO
PALERMO, CAPITAL DA SICÍLIA, É UM VERDADEIRO MOSAICO CULTURAL DO MEDITERRÂNEO. A CIDADE TEM EDIFICAÇÕES BELÍSSIMAS, ALGUMAS ADORNADAS COM RICOS MOSAICOS BIZANTINOS 50
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INTERIOR DA CATEDRAL DE MONREALE, EM PALERMO. NA PÁGINA AO LADO, VISTA EXTERNA DA CATEDRAL
Devido a problemas fundiários e sociais na península balcânica, comunidades gregas partiram em busca de novas terras e se instalaram, entre outras regiões, na fértil ilha ao sul da Península Itálica. A língua grega era então predominante na Sicília, em um cenário totalmente helenizado. A primeira colônia na Sicília foi a de Siracusa, fundada em 734 a.C. Como outras, ela emancipou-se, mas manteve a cultura grega, com seu idioma, filosofia e literatura, além dos deuses e costumes ancestrais. Depois de Siracusa, os gregos seguiram fundando novas cidades, compondo a região que passou a ser chamada de Magna Grécia, que prosperou e constituiu vanguardas filosóficas, com sábios como Pitágoras, Zenão e Arquimedes. Ao longo de duas semanas desvendamos vestígios e cenários desse mundo clássico, estudando in situ a arte e a arqueologia, a literatura, a filosofia, os mitos e o teatro desta parte italiana do mundo grego. Nossa expedição visitou vários sítios arqueológicos declarados pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade, como o Vale dos templos, em Agrigento, e a Vila del Casalle, em Piazza Armerina. Cidades movi-
mentadas como Palermo, cênicas como Taormina e históricas como Siracusa, que foi a cidade grega mais rica ao final do século V a.C., quando Atenas entrava em decadência. A seguir, indico os “highlights” dessa bela viagem cultural:
PALERMO
A capital da Sicília tem uma longa história de 2.700 anos. Sua origem é fenícia e, ao longo dos tempos, esteve sob domínio de todas as potências que se apoderavam da ilha em função de sua posição estratégica no meio do Mar Mediterrâneo: cartagineses, romanos, vândalos e ostrogodos, bizantinos, muçulmanos, normandos, Sacro Império Romano, espanhóis e franceses. Por tudo isso, Palermo é um verdadeiro mosaico cultural do Mediterrâneo. No Reino da Sicília, no século XII, foram construídos a Cappella Palatina e o Duomo Santa Maria La Nuova, em Monreale, ambas com ricos mosaicos bizantinos. Já como marco da unificação da Itália foi edificado o Teatro Massimo, inaugurado em 1897. São visitas imperdíveis.
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Viagem
PIAZZA ARMERINA, CENÁRIO TRADICIONAL DO INTERIOR DA SICÍLIA
SEGESTA
Recomendo, no caminho entre Palermo e Siracusa, visitar os sítios arqueológicos de Segesta e Selinunte. O primeiro deles, o templo dórico de Segesta, foi edificado pelos elímios, um povo antigo da Sicília, no topo de uma colina em cenário cinematográfico. Na montanha ao lado tem um teatro romano intacto, com vista para colinas e vales férteis do interior da Sicília.
SELINUNTE
O interessante deste parque arqueológico é que guarda as marcas de seu traçado urbano, que incluía um porto importante da Sicília. As ruínas de seus templos monumentais são o registro do que restou da cidade, que foi conquistada pelos cartagineses na primeira guerra púnica e que a destruíram em sua retirada, em 250 a.C.
AGRIGENTO
Agrigento ergueu-se no local da antiga Akragas, cidade grega fundada no século VI a.C. por colonos vindos de Rodes e de Creta. A cidade, que rivalizava com Sira-
cusa, era famosa pelo modo de vida luxuoso de seus habitantes. Vale a pena conferir o museu da cidade, com uma bela coleção de vasos e artes gregas. Imperdível o Vale dos Templos, também Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco e um dos melhores sítios arqueológicos do mundo mediterrâneo. Esta é a cidade do filósofo Empédocles de Agrigento (495-44 a.C.), célebre por sua doutrina dos elementos – fonte antiga do pensamento alquímico –, e também do dramaturgo Luigi Pirandello (1867-1936), prêmio Nobel de literatura em 1934.
PIAZZA ARMERINA
Além de um centrinho pitoresco, tradicional das cidades do interior da Sicília, a razão para a parada em Piazza Armerina é visitar nos seus arredores a Villa Romana del Casale, ruínas de uma villa tardo-romana que fazem parte, desde 1997, do Patrimônio Mundial da Humanidade. Trata-se do maior conjunto de mosaicos romanos aberto à visitação, mostrando o cenário de uma suntuosa villa senhorial romana do século IV d.C., com iconografias alusivas aos mitos gregos e ao modo de vida romano.
EM PIAZZA ARMERINA ESTÁ O MAIOR CONJUNTO DE MOISACOS ROMANOS ABERTO À VISITAÇÃO. É O CENÁRIO DE UMA SUNTUOSA VILLA ROMANA DE IV A.C. 52
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SÍTIO ARQUEOLÓGICOS EM SEGESTA E O VALE DOS TEMPLOS, EM AGRIGENTO
Viagem
BAÍA E TEATRO GREGO DE TAORMINA. NA PÁGINA AO LADO, COSTA DO MAR JÔNICO. ABAIXO, O VULCÃO ETNA, EM TAORMINA
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SIRACUSA
Cidade fundada por Coríntios em 734 a.C., teve seu apogeu na era clássica (séculos V e IV a.C.), quando era uma das mais ricas do mundo grego. Nessa cidade de Arquimedes também viveu Platão, que tentou ali implantar sua utopia política. Siracusa foi dominada por tiranos e consagrada por seu belo teatro de Dioniso, onde tivemos o privilégio de assistir à montagem da tragédia Héracles de Eurípides. Datada de 416 a.C., a tragédia conta o episódio terrível em que Héracles, ao tentar salvar sua família de uma injusta sentença de morte, é tomado por possessão de fúria e arrasa essa mesma família. A tragédia ética examina com olhar iluminista a visão da ação divina sobre o mundo e o tema clássico da responsabilidade na ação humana.
TAORMINA
Uma das experiências mais marcantes dessa viagem foi o voo de helicóptero sobre o vulcão Etna, sobrevoando povoados cênicos, como Castiglione di Sicilia, vinhedos e a charmosa Taormina. Uma cena mais bela que a outra, em apenas 60 minutos de muita adrenalina. Após o voo, nosso almoço foi na vinícola onde se produz o tradicional Nero D’Avola, a mais característica cepa do Sul da Itália. Terminamos a viagem com uma visita ao teatro greco-romano do séc. III a.C., no alto de Taormina, que proporciona vistas belíssimas para as falésias junto ao Mar Jônico. A viagem à Sicília foi uma incrível expedição cultural, visitando sítios arqueológicos impregnados de hitória e da presença grega. Recomendo muito!
UM VOO DE HELICÓPTERO NOS REVELOU CENAS BELÍSSIMAS, COMO O VULCÃO ETNA, A BAÍA DE TAORMINA, VINHEDOS, O TEATRO GRECO-ROMANO DE III A.C. Estilo Zaffari
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Viagem
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VISTA AÉREA DE TAORMINA
MINHAS DICAS DE HOTELARIA PALERMO GRAND HOTEL PIAZZA BORSA www.piazzaborsa.it Prédio tradicional no centro histórico AGRIGENTO HOTEL VILLA ATHENA www.hotelvillaathena.it Junto ao sítio arqueológico do Valle dos Templos. SIRACUSA GRAND HOTEL ORTIGIA www.grandhotelortigia.it Na ilha de Ortigia, com seus prédios históricos e belas vistas para o porto. TAORMINA HOTEL METROPOLE www.hotelmetropoletaormina.it Ao lado do largo da igreja no topo da falésia, com vistas para o mar. MAIS INFORMAÇÕES sobre viagens pela Sicília e o mundo com betoconte@stb. com.br, coordenador do STB Trip & Travel em Porto Alegre www.stbrs.com Estilo Zaffari
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Sampa C R I S
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SÃO PAULO ALÉM DA ZONA SUL… Você certamente já ouviu falar nos bairros da Vila Madalena, Pinheiros, Jardins e Itaim. Este é o circuito In de Sampa, onde estão os melhores restaurantes e bares da zona sul da capital paulista. Mas a metrópole vai muito além da “Broadway” e também promete encantar pelos lados da zona leste e norte. Empurrei a preguiça de lado e também o receio de um engarrafamento e fui desbravar o “novo”. Com vocês, quatro descobertas recentes (fresquinhas!) que valem ser conhecidas:
PIZZARIA MASSA NA CAVEIRA Pizza: um patrimônio paulista. Afinal, senhoras e senhores, se tem uma coisa que os paulistanos entendem é de pizza. Pois 58
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a Massa na Caveira representa a classe com louvor. A massa é fininha e crocante. Parece um biscoito. Ela é individual e para comer com a mão. É uma receita de família que foi dividida com o mundo pelo ex-publicitário, atual pizzaiolo e gente boa Raphael Corrêa. Diquinha? Peça uma de cada vez, para ir dividindo, e prove várias! R. Paulo Maldi, 124 – Tucuruvi
CERVEJARIA KING SKULL Ela fica na parte de cima do SOZ Boulevard, um espaço gastronômico projetado em contêineres. A casa vende cervejas artesanais made in Brazil. O Jean é quem cuida do “boteco”. Ele abandonou a indústria calçadista e foi trabalhar em uma paixão
CRIS BERGER É JORNALISTA E ESCRITORA
antiga: loiras geladas. O resultado? Um freezer e torneiras bem abastecidos de lúpulos de qualidade. Adoro a ideia de passar uma tarde de sol bebendo e jogando conversa fora por ali. R. Marambaia, 538 – Zona norte
FRUTARIA PITAYA Os clientes bem acompanhados de cachorros ficam no jardim interno cheio de árvores e plantinhas. Sem dúvida, ali é a parte mais aconchegante da casa de comidinhas saudáveis. Com ou sem um pet, sugiro você pedir para sentar neste espaço. O excesso de cimento da cidade grande e o barulho dos carros ficarão do lado de fora. O suco de pitaya é o carro-chefe da casa e realmente uma delícia. Peça por ele de todas as
crisberger@crisberger.com
formas. O atum selado com espaguete de pupunha idem. Nos finais de semana lota. Afinal, ela é a sensação da zona leste. Rua Monte Serrat, 1439 – Tatuapé
THE CIRCUS Esta hamburgueria tem um Q especial justamente pelo cenário em que foi projetada. Como teto: a lona de um circo. A decoração segue na mesma vibe e remete a um picadeiro. Só falta mesmo escutar “respeitável público”. O clima da chegada é incrível. A trilha sonora é outro bom motivo para ir lá. E o atendimento, nem se fala. Aposte no vegetariano com falafel, frito na hora, no lugar da carne. Rua Monte Serrat, 1298 – Tatuapé Estilo Zaffari
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Tudo começa em
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O NOVO JEITO DE COMER PIZZA CAIU NO GOSTO DAS PESSOAS: SEM TALHERES E PRATOS, COM MUITA QUALIDADE E CHARME
Nos últimos tempos, Porto Alegre tem sido presenteada com um novo jeito de comer pizza. Na verdade, eu diria que é um novo jeito de comer. Um jeito que talvez esteja começando pela boa e velha pizza. Acompanhando o encolhimento do poder aquisitivo, a falta de tempo, a crescente indignação contra o desperdício, o aumento de critério em relação ao que ingerimos, e talvez a crescente vontade de sermos mais leves e colaborativos, surgem por aqui vários bons exemplos de como podemos nos deliciar e nos divertir em vários pontos da cidade, consumindo pizza de um jeito diferente. Saem de cena os pratos e talheres, pois bom mesmo é comer pizza na mão, quentinha, saída dos fornos a lenha que dominam cozinhas limpas e charmosas que ficam à vista do cliente. Dá pra comer sentado em mesas coletivas, em pé, sentado na calçada ou em mesas convencionais. Mas a atitude mudou. A interatividade aumentou. Em geral pedimos no caixa, buscamos a pizza no balcão e deixamos nosso lixo final nos tonéis disponíveis na saída. Nesses novos negócios, a preocupação com a qualidade do produto é unânime. Entram as farinhas italianas, a fermentação das massas por dez horas, os ingredientes frescos, orgânicos, de origem controlada, e outros atribu-
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VEM DE NÁPOLES A INSPIRAÇÃO DAS NOVAS PIZZARIAS, ASSIM COMO MUITOS INGREDIENTES UTILIZADOS: FARINHA, MOLHO, AZEITE. MAS CADA UMA TEM SEUS PRÓPRIOS SABORES tos especiais. Cada pizzaria oferece personalidade e sabores próprios, o que nos estimula a ter uma listinha de preferências. Marguerita tem em todas, acredito. Mas depois a lista segue recheada de imaginação e de cuidados. Vegetarianas estão sempre disponíveis, ingredientes locais também. O tamanho é único, individual e generoso. O preço reflete a economia no serviço e na infraestrutura, mas sem abrir mão daquilo que é a principal razão pra você sair de casa pra comer: ser surpreendido pelo sabor e estar num ambiente divertido. Espaços ecléticos, criativos, descontraídos e cheirosos. Porque o aroma das massas assando abre o apetite de qualquer um. Cada pizzaria tem seu charme próprio, como embalagens caprichadas, opções de sobremesa ou a delicadeza de oferecer água filtrada de cortesia. Eu já fiz o meu circuito,
mas tenho certeza de que outras delícias devem estar pipocando por aí. Vale dar uma conferida. A Ciao foi a primeira a abrir, pequenina, ali na Anita Garibaldi, em outubro de 2016. Tinha o limite máximo de 150 pizzas por noite, que se esgotavam em poucas horas. Hoje tem mais uma unidade, na Miguel Tostes, maior e com um projeto lindo, com mais mesinhas, mas mantendo o sistema original. E está abrindo mais uma na zona norte da cidade. A pizza de Nutella com crocante de pistache vale cada caloria ingerida. E lá você pode levar seu próprio vinho e copos, se quiser, sem pagar taxa de rolha. Em agosto de 2017 foi a vez da Brizza. Numa portinha minúscula da 24 de Outubro, ao lado de uma das barbearias mais antigas do bairro, o Bruno e o Thomaz arregaçaram as mangas e montaram outro forno a lenha pra aquecer a noite da cidade.
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COMIDA RÁPIDA, PRÁTICA E BARATA, COM SABOR DE SOBRA, DESCONTRAÇÃO E ALTO-ASTRAL. ESSE É A Brizza abriu com suas mesas coletivas na calçada, um balcão e seis sabores de pizza com nomes divertidos e combinações ousadas, com um toque gaúcho. A minha preferida é a Sgt.Pepperoni, com creme de moranga no lugar do molho de tomate, pepperoni, mozzarella, rúcula e azeite de oliva. A combinação sutil do docinho da moranga com a intensidade do pepperoni é realmente surpreendente. E a simpatia da equipe, junto com a qualidade das pizzas, é garantia de casa cheia. O sucesso foi tanto que eles expandiram para a loja ao lado, montaram mais um forno e estão espalhando essa energia boa pela rua. A Santi abriu em março deste ano, com a mesma proposta, em outro ponto que tem nos premiado com muitas gostosuras. Na Casa Prado, em frente à praça Maurício Car-
doso. O Mariano, um argentino que sempre trabalhou junto de operações gastronômicas em Buenos Aires e Porto Alegre, decidiu abrir seu balcão também. O mesmo cuidado, receitas originais testadas com carinho e ainda uma vizinhança complementar que, para quem ama cerveja, é a companhia perfeita. Bem em frente fica a Perro Libre, cervejaria artesanal que renderia outra matéria, com muita história pra contar. Enfim, é Nápoles inspirando nossa cidade, trazendo mais qualidade para a comida rápida, e demonstrando que a mudança de atitude e o consumo consciente podem ser divertidos e econômicos. E que há espaço para todos. E que tudo acaba, até as pizzas! Portanto, fique de olhos nos horários e lembre que todas elas fecham quando acabam as massas do dia.
O CONCEITO ADOTADO PELA PIONEIRA CIAO E DEMAIS PIZZARIAS NAPOLITANAS DE PORTO ALEGRE CIAO PIZZARIA NAPOLETANA Avenida Anita Garibaldi, 694, loja 7. Terça a sábado, das 11h30 às 15h Rua General João Telles, 294. Terça a domingo, a partir das 18h. Boulevard Assis Brasil, loja 2. Segunda a domingo, das 11h às 22h (abre em outubro). BRIZZA FORNERIA Avenida 24 de Outubro, 1403. Segunda a sábado, das 18h às 22h30. SANTI PIZZARIA NAPOLETANA Praça Maurício Cardoso, 71. Terça a sábado, das 12h às 14h30 e das 18h às 23h.
O sabor e o saber F E R N A N D O
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OS DEVOTOS DO ESTÔMAGO Todo animal come, só o homem janta. Muitos animais vocalizam, só o homem discursa mentindo ser um candidato cheio de honestidade e boas intenções. Nossa espécie se distingue pela linguagem e pela cozinha, propriedades evolutivas inatas, atávicas como a religião, a guerra, a luxúria e o álcool, mais universais que o fogo, a roda e a escrita. O homo sapiens é loquacem et coquus. Falar e comer compartilham a mesma anatomia íntima: boca e língua. De fato, como observou Montanari, a cozinha é uma linguagem; cada ingrediente funciona como um vocábulo e suas combinações e preparos seguem regras gramaticais preestabelecidas a fim de criar narrativas. Comendo ou falando, a cavidade oral comunica prazer, manifesta identidade, expressa tradição. Temos a língua e a dieta materna. Trazemos incorporadas a gemada da mãe, a galinha assada da avó. Somos o que comemos, ou seja, a mistura do que nossos ancestrais comiam com o que come e aspira comer nosso grupo social. As escolhas de palavras e alimentos expressam diversos níveis de comunicação. Nosso convidado não espera que sirvamos pão com mortadela, nem que falemos em tropeços conjugais e contas a pagar. O momento especial supõe cardápio e colóquio especiais. Foi difícil a um amigo persuadir quem organizava seu aniversário para que sagu fosse oferecido no jantar. Outro amigo condicionou a festa de casamento da filha a que lhe fosse servido um prato exclusivo: bife com batata frita. O grande inversor de expectativas foi Grimod de la Reynière (1758-1837) e seus jantares as avessas: charuto, café, licor, sobremesa, prato principal, sopa, entrada e couvert! Dernière mode parisienne, tal sequência foi copiada nos jantares dândis do Rio de Janeiro do séc. XIX. ‘A palavra nasce toda vez que pronunciada’, diz o poema de Emily Dickinson. E a comida nasce toda vez que
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preparada. Influímos no idioma com cada frase dita, modificamos a gastronomia com cada refeição preparada. Uma receita centenária só pode ser apreciada se usarmos metade da gordura recomendada. A Sopa de Coelhos, Carne com Sardinhas ou Refogado de Caça de Cabelo (animais com pelos e não penas...) como detalhados no Cozinheiro Nacional (séc. XIX) soam pratos tão antiquados como os termos ‘sinhá’, ‘vosmecê’, ‘cruz credo’ e ‘benza Deus’, ou ainda – outra linguagem, a gestual – as repetições infindáveis de sinais da cruz, rapapés e beija mãos. Quanto mais livre é a sociedade, mais permeáveis seu idioma e dieta. O nazismo perseguiu palavras semitas (amém e aleluia) do vernáculo e verduras eslavas (beterraba e alho) da quitanda. O fascismo se opôs ao macarrão na esperança de tornar o italiano mais tedeschi. Os regimes muçulmanos que coíbem o uso do álcool coíbem junto todas as liberdades. “Sei falar inglês porque como em lanchonete”, disse Millôr Fernandes há 50 anos, ele mesmo tradutor de Shakespeare. A importação do fastfood norte-americano trouxe um vocabulário ungido de gorduras saturadas: hotdog, hamburger, coke, ketchup, combo, cheese (e sua notável abreviatura nacional, X!). O adjetivo ‘macarrônico’ também junta o idioma com gastronomia. Curiosamente, o latim já tinha a expressão latinitas culinaria, ‘latim de cozinha’ para descrever o idioma caricato. A ‘conversa de cozinha’ surgiu no comunismo soviético; famílias vivendo em casas comunitárias dividiam o banheiro e a cozinha – claro que a interação social ocorria na cozinha. No sectarismo do brasileiro nada cordial o sentido é oposto, ‘a conversa não chegou à cozinha’: quem fala da sala não tolera a voz da criadagem. As relações entre comer e falar estão no alicerce da linguagem. Mãe (L. mater, G. meter) e mamar ecoam o ‘mah mah’ da criança ao seio, e pai (L. pater, G. papas), também
Desconsiderações sobre Jantar, Falar e Bajular um som infantil, é afim a papar e papinha, o comer do bebê. Herder (1772) dizia que o idioma é ‘perdulário’ em seu ambiente e ‘necessitado’ em assuntos alheios, e exemplificava com hipérboles: o árabe teria cinquenta palavras para leão, duzentas para cobra, oitenta para mel e mais de mil para espada. Conta do dicionarista listando quatrocentas palavras árabes para miséria e mais uma – a quatro centésima primeira seria ter que contá-las... Há o exemplo local. Povo litorâneo e pescador, o tupi dispõe de verbos específicos para designar ‘pescar com anzol’ (ektyi), ‘pescar com rede’ (ieporakar), e ‘pescar com flechas’, (ybo). E há o exemplo vizinho. No Idioma dos Argentinos (1928), Borges conta que o lunfardo, dialeto dos batedores de carteira portenhos, dispõe de uma coleção de termos para bolso: babalete (bolso), grillo (bolso lateral), grillo de espiante (bolso traseiro), schuca (bolso lateral do casaco), sotala (bolso interno do casaco), media luna (bolso externo do casaco). De volta à boca que come, os franceses têm maior vocabulário para queijos e vinhos, os italianos para massas e molhos, os alemães para salsichas e cervejas e os ingleses para uísques e chás. Já os índios araucarianos (quem diz é Herder) teriam dezenas de palavras para diferentes intensidades e peculiaridades de fome. O tempo muda tudo que vive, incluindo dieta e idioma. Soa estranho dizer que há ternura (maciez) na picanha e que a laranja é dócil (doce), os significados originais do termo. O termo precoce quer dizer ‘pré cozido’ (L. pre coquere). Ninguém lembra da linguiça ao falar farsa ou farsante, mas o L. farcire é ‘rechear o alimento’. Salário e companheiro trazem embutidos o soldo pago em sal e a partilha do pão. Delicadeza mantém a semelhança com delicioso, primeiro ‘prazeroso’ e depois ‘macio’. Em delicatessen a relação alimentar fica reforçada pelo Germ. essen, ‘comer’.
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O sabor e o saber F E R N A N D O L O K S C H I N
FALAR E COMER COMPARTILHAM A MESMA ANATOMIA: BOCA E LÍNGUA. A COZINHA É UMA LINGUAGEM. COMENDO OU FALANDO, A CAVIDADE ORAL COMUNICA PRAZER, MANIFESTA IDENTIDADE, EXPRESSA TRADIÇÃO O pot-pourri original não é de canções, mas de comida, tradução francesa da olla podrida espanhola, ‘pote podre’, um fervido das carnes e verduras disponíveis. A palavra culinária (L. culina) tem raiz em coquere, ‘cozinhar’, mas há quem observe a intromissão do extremo oposto à boca, o L. culus. De fato, o L. culina é tanto ‘cozinha’ como ‘latrina’. Para minimizar o desconforto da fumaça e risco de incêndio, as cozinhas romanas eram vizinhas às latrinas – o nome teria passado de uma à outra. O grego chamava o comedor solitário de monophagos (G. mono, ‘um’; phagos, ‘comer’), um degredado social, quase um equivalente do ‘falar sozinho’. Comer e conversar são ações complementares e sociais, daí o prefixo ‘com’de associação (com-edere; com-versare). Todos os animais sociais comem agrupados. Chamar os convidados a mesa de parasitas seria hoje ofensivo, mas este é o sentido inicial da palavra (G. para, ‘ao lado’; sitos, ‘grão, pão, comida’). Os antigos acreditavam que receber pessoas para comer e conversar era um costume divino – Zeus mantinha parasitas nos seus banquetes no Olimpo –, mas o termo fez do título honorífico um pejorativo. No séc. I (O Banquete dos Eruditos) Ateneu já é irônico. O parasita se resumiria “uma mandíbula ... uma vida a exercitar os dentes à custa dos outros”. Sem um convite para jantar, o parasita morderia o próprio lábio para beber o sangue. Descreve o know kow da atividade: “Toda atenção na fumaça da cozinha, se sobe forte ao céu, sacudo as asas e comemoro, se a fumaça é rala e se move lateralmente, já antecipo um magro jantar”. O texto faz o registro do parasita, sempre o primeiro a chegar à mesa, que atendia pelo nome de Consommer, e fala de Cerefon, parasita notório, que solicitado a se retirar de um jantar por não constar entre os trinta convidados, prontamente contestou: “Conte novamente iniciando por mim”. Ateneu junta os parasitas e bajuladores, ‘os devotos do estômago’, e diz não haver a distinção entre eles. A tradição de gentileza à mesa tem sua expressão grotesca nos parasitas, os bajuladores profissionais. É curiosa a comparação, pela – de novo – re-união do comer com o falar. A refeição em troca de adulação (L. adulare, ‘abanar o rabo’). “Você está amando? O parasita sente a mesma paixão. Você tem um negócio? Ele também tem e está pronto a auxiliar no seu.” Mesmo que o termo puxa-saco seja militarista – o saco é de lona e contém os pertences do oficial que o recruta
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carrega –, o local da bajulação é a mesa. Uma arte exercida com dedicação: “Se você me convida a jantar e um bêbado necessitar de controle, farei isto. Se um portão tiver de ser arrombado, serei o aríete. Se alguém tiver de subir uma escada, chego ao céu”. Conforme Antifanes, o ‘parasita jamais inveja a fortuna de alguém, quer somente estar sempre próximo e dela participar’, e, complementa Plutarco, “assim como os piolhos abandonam quem perde a vida, os parasitas abandonam quem perde a fortuna”. Os exemplos são hilários e depõem contra a natureza humana. Os parasitas do tirano Hiero, o míope, fingiam não enxergar os pratos servidos. O rei Felipe perdeu um olho e seu parasita sentava à mesa com um olho vendado; o rei lesionou a perna e o parasita caminhava coxeando. Deve haver exagero – conta-se de Dionísio de Siracusa (séc. III A.C.) cuspindo e vomitando em seus parasitas que lambiam prazerosamente a excreta ‘mais doce que o mel’. Não é de hoje nem só daqui a subserviência do intelectual e do artista aos poderosos, mesmo que tiranos. Os filósofos, sábios e cômicos abrigados nas cortes e exércitos serviam de parasitas e bajuladores. Plutarco censura os doutos parasitas de Ptolomeu que iluminavam jantares com reflexões filosóficas e poéticas “sem jamais abordar sua crueldade, insultos e opressão”. “Agem como um cirurgião aparando as unhas e cabelos do paciente a fim de tratar seu furúnculo.” Tornou-se proverbial a dúvida de Anaxarco, filósofo parasita, durante uma tormenta de raios: “É o senhor, Alexandre, filho de Júpiter, que está causando tudo isto?”. Se a gentileza é um condimento à mesa, a bajulação é sua obscenidade; se a companhia é o alimento mais nobre, o parasita é sua perversão. Plutarco deixa claro: “Os parasitas são mais numerosos, obsequiosos e divertidos que os amigos, mas amigos são mais necessários que a água e o fogo”. Nem todos os parasitas eram iguais. Ctebius (séc. III A.C.), o primeiro engenheiro, parasita paupérrimo, perguntado sobre qual o benefício de uma vida dedicada ao estudo, respondeu: “A chance de conseguir um jantar sem ter que pagar por ele”. Sua frase é perfeita para um discurso no jantar de outorga do Prêmio Nobel. FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br
BODYTECH MONT’SERRAT RUA SILVA JARDIM, 375 | MONT’SERRAT, PORTO ALEGRE | (51) 3061 5021
Especial
CONECTADOS PELA LUZ DAS ESTRELAS P O R
A N D R É
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A PEQUENA E A GRANDE NUVEM DE MAGALHÃES, GALÁXIAS E SATÉLITES VISÍVEIS APENAS NO HEMISFÉRIO SUL, ACOMPANHAM O ARCO DA VIA-LÁCTEA SE PONDO A OESTE SOBRE AS ARAUCÁRIAS DOS CAMPOS DE CIMA DA SERRA (CAMBARÁ DO SUL / RS)
Especial
ÀS VEZES A NOITE É TÃO ESPETACULAR QUE DORMIR SOB AS ESTRELAS É A MELHOR OPÇÃO (SÃO FRANCISCO DE PAULA/RS)
SPIDERWEB ARCH É UM ARCO DE PEDRA ENORME NUMA ÁREA REMOTA E RESTRITA DE MONUMENT VALLEY. FOI O PONTO ALTO DE UMA VIAGEM DE UMA SEMANA PELAS NOITES ESCURAS DO SUDOESTE DOS EUA. DENTRO DO ARCO, EM SUA PARTE ELEVADA, ESPERAMOS EM COMPLETA ESCURIDÃO O NASCER DA VIA-LÁCTEA
Há um século, qualquer um poderia olhar para cima e ver um espetacular céu estrelado. Hoje, milhões de pessoas nunca verão a Via-Láctea onde vivem. O aumento e o uso indiscriminado de luz artificial não estão apenas limitando nossa visão do universo, também afetam nosso meio ambiente. O boom da astrofotografia é fruto da evolução tecnológica das câmeras, lentes e softwares, mas é esta consciência de preservação dos céus escuros para as gerações futuras que lhe agrega importância. Este projeto autoral é uma mistura da fotografia, que me acompanha há anos, com uma paixão quase esquecida, a astronomia. De março a setembro, época em que o centro mais brilhante da Via-Láctea está facilmente visível, me permito sair nas noites escuras pelo interior do estado para produzir as fotos que ilustram este ensaio. Neste ano acabei indo um pouco mais longe. Organizei um roteiro pelo deserto no sudoeste americano, especificamente para fotografar a Via-Láctea, viagem a ser repetida no próximo ano. O Rio Grande do Sul é um ponto privilegiado no globo para a observação da nossa galáxia. Durante a temporada da Via-Láctea, no hemisfério sul, temos as noites longas, nosso estado ainda apresenta pontos escuros que permitem uma boa visualização e não há predadores que apresentem risco aos participantes.
BRILHO
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VIA-LĂ CTEA
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A CASCATA DO CHUVISQUEIRO NUMA NOITE FRIA DE AGOSTO (RIOZINHO/RS) Estilo Zaffari
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LUMINOSIDADE
ILUMINADO POR PEQUENOS PAINÉIS DE LED, O CASCO QUE SOBROU DO NAUFRÁGIO DIVIDE A CENA COM O CENTRO BRILHANTE DA GALÁXIA (MOSTARDAS/RS) 78
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Equilíbrio C H E R R I N E
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QUANDO VENDEMOS NOSSA Estranho iniciar um título desta forma, né? Parece que algo não saiu correto, mas o que vamos falar na coluna desta edição é sobre o quanto nossa felicidade tem sido negligenciada. Na verdade, a minha talvez não, mas vou explicar. Tenho duas formações acadêmicas, com diplomas emitidos, formatura com pompas e circunstâncias, e no fim, o que faço nos meus dias hoje como profissional nada tem a ver com nenhuma das duas. Sempre fui muito rebelde quanto aos padrões e crenças impostas socialmente. E, igualmente, sempre fui muito criticada pela minha postura e pelas minhas escolhas. Mas de fato, a opinião dos outros nunca me incomodou muito. Sempre usei minha rebeldia a meu favor. Todas as vezes em que me posicionei sobre o que eu realmente queria, me importava bem pouco o julgamento alheio e estava muito ciente de que as consequências também seriam responsabilidades minhas (ainda que na prática muitas vezes tentemos achar culpados que não a nós mesmos!). Mas o que isso tem a ver com a tal felicidade que vendemos por dinheiro? Tudo! Depois das duas formações, meio que impostas pelo padrão, eu fui cair numa sala de Yoga. Numa aula que fiz, despretensiosamente. E a partir daquele encontro nunca mais voltei atrás. Foram anos de transformações, anos de perrengue, anos de muito estudo e muito trabalho e também pouco reconhecimento e resultado financeiro. Mas de longe, todos esses anos foram os mais felizes até hoje. Não me lembro de um dia acordar e lastimar ter que ir dar aula. Não me lembro de um encontro, com grupos ou individualmente, em que eu não tenha observado algo de novo a aprender. E sem dúvida, mesmo com tudo o que experienciei nessa escolha, ela foi a
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mais feliz. E lá, em 2004, não foi por dinheiro, foi por querer ter realização pessoal. As coisas mudaram, os anos passaram, as pessoas se veem mais conscientes desta necessidade também: cuidar de si para além do corpo; e sem dúvida, minha vocação hoje me rende o suficiente para que além de ser feliz eu viva bem e de forma estável financeiramente. Mas bem longe de uma rotina imposta. Longe dos horários rígidos (ainda que sim, tenha horários a cumprir). Longe da ganância e da inveja que cerceia boa parte da sociedade trabalhadora. Longe das intrigas e do desejo de subir profissionalmente, derrubando alguém. Se você acorda todos os dias e a vontade que se mantém é a de seguir dormindo: você está vendendo sua felicidade por dinheiro. Se você anseia pela sexta-feira e quando chega domingo reclama que vida ruim você tem: está vendendo sua felicidade por dinheiro. Se trabalha 11 meses desejando apenas aquele um de férias: segue vendendo sua felicidade por dinheiro. E sabe o que é pior? É que nem sempre é tanto dinheiro assim. Nem sempre os que vendem sua felicidade por dinheiro o fazem pelo tanto que gostariam de ganhar. Apenas estão mantendo a roda girando, sem ao menos se questionar: o que eu realmente gostaria de fazer? Já se perguntou? O que te faria acordar disposto todos os dias? Se pudesse trocar hoje o salário que ganha, para fazer o que ama, ganhando 3x menos, você trocaria em busca de ser feliz? As novas gerações já são mais voltadas a esses questionamentos. Elas não querem se sentir presas e por isso buscam alternativas que as livrem destas prisões chamadas empregos. Mas a geração dos anos 80, em grande parte, vendeu sua felicidade por dinheiro.
FELICIDADE POR DINHEIRO
O QUE TE FARIA ACORDAR DISPOSTO TODOS OS DIAS? SE PUDESSE TROCAR O SALÁRIO QUE GANHA HOJE PARA FAZER O QUE AMA, GANHANDO 3X MENOS, VOCÊ TROCARIA?
Alguns por muito, o que ajuda a ser feliz com mais facilidade, já que dinheiro compra, sim, esse estado. Mas a grande maioria vendeu esse estado por muito pouco e igualmente pouco se questiona como sair disso. No entanto, é possível! É possível pular do automatismo, do padrão. Mas igualmente é necessário ter coragem, força de vontade, uma certeza do que realmente se quer e sente como sendo seu verdadeiro propósito e missão. Se não, caso ainda não saiba o que te deixaria mais feliz, sem dúvida é melhor seguir com o script até encontrar. Mas não se demore. A felicidade não é algo que espera, e a vida passa rápido demais para que a deixemos de lado em busca de ganhar mais ou apenas se manter na zona de conforto daquilo que já se tem. Seja feliz hoje! Aqueles que conseguem equilibrar o sentimento de ser feliz com o que já fazem, mesmo que não se sintam plenamente satisfeitos nas suas escolhas profissionais, mas são gratos por elas, esses sim estão de boa. Mas são raríssimas exceções. A grande maioria não é feliz com o que faz. Não é feliz com o que ganha. Não é feliz para onde tem que ir todos os dias. E isso é demasiadamente triste. Porque todos passamos a maior parte da vida na fase do trabalho e não da diversão. É preciso unir as duas coisas para que no fim da jornada possamos olhar para trás e ter certeza de que soubemos aproveitar esta oportunidade que se chama vida. Questione-se! Sempre há tempo. CHERRINE CARDOSO É AUTORA DOS LIVROS A INCRÍVEL ARTE DE DESAPEGAR E REINVENTE-SE: QUANTAS VIDAS SE VIVE EM UMA VIDA? WWW.AINCRIVELARTE.COM
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Bem-estar
cores aromas texturas
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LO R A I N E
LU Z
MAIOR EXPRESSÃO DA PRIMAVERA, A FLOR EMBELEZA AMBIENTES, É BEM-VINDA EM QUALQUER OCASIÃO E ESTÁ ASSOCIADA AO NOSSO BEM-ESTAR HÁ MILÊNIOS
Bem-estar
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Ipês em diferentes tons, três-marias (bougainvillea) e jacarandás se exibem por ruas, calçadas e jardins de Porto Alegre e de outras cidades brasileiras. Aos poucos, outras espécies vão despertando, após meses em estado latente, e todas juntas anunciam de forma silenciosa, porém vistosa e perfumada, que o pior já passou. Não é à toa que a primavera é uma estação associada à renovação e ao renascimento. Existem plantas mais resistentes ao frio, cujas flores dão as caras no inverno, mas elas não são a maioria. Portanto, a partir de final de agosto e início de setembro, as condições climáticas vão se tornando mais e mais propícias ao espetáculo de cores e formas preparado paciente e sabiamente pela natureza e seus ciclos. As baixas temperaturas inibem a produção de substâncias responsáveis pelo florescimento – as plantas “dormem”, economizando energia –, bem como a ação dos agentes polinizadores (insetos e pássaros, por exemplo). E é preciso comentar: neste ano, dá até vontade de comemorar o fim desse sono profundo, afinal, parece termos (sobre)vivido a muito mais chuvas e dias nublados do que em 2017. “A impressão é verdadeira. No outono do ano passado, com algum eco no inverno, tivemos períodos mais ensolarados”, concorda a doutora em Geociências Venisse Schossler, pesquisadora em climatologia.
CICLOS DA NATUREZA
Nesta época, os dias vão se tornando mais longos, rumo ao verão. É a hora e a vez daquela porção da natureza que precisa de mais tempo sob sol, diariamente, para exibir todo o seu esplendor. Não existe apenas um fator determinante para o início do florescimento, porém é certo que o calor e as horas de sol do dia estão entre os principais. Um viva para os ipês, os jacarandás e as três-marias! E xô para o baixo-astral e o mimimi que a paisagem cinza e desbotada de um inverno carrancudo acaba deixando. Atraída pelos efeitos prazerosos da existência e proximidade de flores, a humanidade cultiva espécies há milhares de anos (há registros de cultivos de rosas na Mesopotâmia, 5.000 a.C.). Elas estão em ritos de fé, entre ateus, em canções, em poemas, na arte, nos nossos jardins e casas. Virou atividade, a floricultura, prática que chegou ao Brasil no século 19. O mercado de plantas ornamentais tem, hoje, conhecimento e tecnologia capazes de produzir lindezas em estufas, independentemente do clima lá fora.
A HUMANIDADE CULTIVA FLORES HÁ MILHÕES DE ANOS. ELAS ESTÃO NOS RITOS DE FÉ, EM CANÇÕES, POEMAS, NA ARTE, NAS CASAS Estilo Zaffari
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Bem-estar Enquanto a gente aprecia, planta, colhe, compra, dá de presente, traz para casa, decora, enfeita, se beneficia com fórmulas de beleza, medicinais ou terapêuticas e até experimenta nas refeições – como se verá nas próximas páginas –, a natureza segue seus ciclos: a presença das flores é fundamental para a continuidade dessas espécies. Nem todas as plantas têm flor – aquelas com essa característica são as angiospermas, não por acaso o grupo mais numeroso na flora terrestre. Ter flor é fundamental. Para a reprodução desse grupo, é necessário que o grão de pólen seja levado da parte masculina da flor até a parte feminina de outra – função de um agente polinizador. E aí o que faz a flor? Ela se monta, lindamente! Se enche de cor (as abelhas curtem o amarelo, por exemplo) e perfume. São o visual e o odor que atraem o bichinho certo pra fazer o casamento. A Dama da Noite, outro exemplo, só libera perfume à noite porque o inseto responsável pela polinização dessas plantas é a mariposa – que costuma buscar seu alimento (néctar) no final da tarde e à noite. Fontes: Rosana Farias Singer, bióloga, e Leandro dal Ri, engenheiro florestal, ambos do Jardim Botânico de Porto Alegre
A PRIMAVERA TRAZ UM ESPETÁCULO DE CORES E FORMAS PREPARADO SABIAMENTE PELA NATUREZA
PRODUÇÃO NACIONAL Rosas, alstroemerias, gypsofilas, ásteres, lírios e lisianthus são as flores mais cultivadas no país (no segmento de corte). Para vasos, as campeãs são as orquídeas, seguidas dos kalanchoes, crisântemos e antúrios. No ano passado, o consumo de flores teve crescimento de 15% em algumas regiões do país, entre elas a de São Paulo. Na média nacional, a evolução foi de 8%. O Brasil é um dos 15 maiores produtores de flores do mundo. Neste ano, a expectativa é de que o faturamento cresça entre 7% e 8%. As vendas ao consumidor final devem chegar a cerca de R$ 8 bilhões. O Estado de São Paulo é o maior produtor de flores e plantas ornamentais do país. São cerca de 8,2 mil produtores, 350 espécies e mais de 3 mil variedades. O destaque nacional é a cidade de Holambra, na região metropolitana de Campinas, onde cerca de 90% das produções acontecem em estufas. A cidade de Pareci Novo, a 63 km de POA, seria a equivalente gaúcha de Holambra, como um centro produtor de mudas de espécies ornamentais. A Citrusflor, festa das plantas, flores e frutas de Pareci Novo, está em sua sétima edição e vai ocorrer em novembro de 2019. Pareci Novo não está só. A produção de flores é mais espalhada no Estado. Dois Irmãos, Ivoti, São Sebastião do Caí e Nova Petrópolis também se destacam.
MERCADO INTERNACIONAL A Europa detém 43% da produção mundial de flores; a China, 15%, e o Brasil fica na nona posição, 2%. Na América do Sul, outro destaque é a Colômbia – já ouviu falar das rosas colombianas? –, assim como o Equador. Clima quente, maior luminosidade e altitude explicam a qualidade delas. Fontes: Assessoria de Imprensa Expoflora 2018, Fundação Zoobotânica do RS, Ibraflor - Instituto Brasileiro de Floricultura
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UMA FLOR PARA CADA CANTINHO Aqui, sugestões, e não regras, claro! Tudo depende do quanto de luz o cômodo recebe e das necessidades de sua espécie preferida. PARA O QUARTO: lavanda, alecrim, jasmim – associadas a um efeito calmante PARA AS SALAS: lírios, crisântemos e antúrios – bons para ambientes de meia-sombra PARA O BANHEIRO: orquídeas, bromélias e violetas africanas – ambientes úmidos, porém ventilados e claros, que recebem luz sem sol direto. Fonte: GreenMe.com.br
Bem-estar SUPERPODERES Em variadas cores, a delicada prímula é linda para ser usada como enfeite. Mas talvez essa flor seja mais conhecida por outra qualidade: como óleo, ela é eficiente no alívio de sintomas da TPM, só para citar uma de suas indicações. Quando pensamos em flores para além dos fins ornamentais, a lista de benfeitorias é abrangente e potente: antioxidantes, ação expectorante e diurética, efeitos analgésicos e calmantes, propriedades anti-inflamatórias, antissépticas, adstringentes, estimulantes, antipiréticas, e por aí vai. Usadas na produção desde cremes estéticos até compostos com fins curativos propriamente ditos, as flores estão a serviço da saúde. Como promotoras de bem-estar, atuam em desequilíbrios emocionais: são os florais, que, segundo especialistas, têm muita eficácia. São reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A chamada medicina vibracional integra o currículo de formação do terapeuta floral, no curso vinculado à Associação dos Farmacêuticos do RS. “É o estudo dos campos que compõem nosso corpo e estão envolvidos nos processos de saúde-doença”, explica a especialista em florais Janaíne Martins, ministrante do curso. “Pense em chakras, corpos sutis e nos meridianos acessados pela acupuntura e terás uma ideia desses processos. Se refere ainda à influência das emoções sobre as energias que regem nosso organismo e à manutenção de seu equilíbrio ou o desenvolvimento de doenças”, completa a farmacêutica e homeopata, com 22 anos de atendimento em terapia floral. Os florais passaram a ser conhecidos quando o médico inglês Edward Bach,
nos anos 1930, fez a primeira sistematização dos Florais de Bach. Hoje, há dezenas espalhados pelo mundo. Além dos Florais de Bach (Inglaterra), podem ser citados os do Deserto (Califórnia), os de Raff (Argentina) e de Bush (Austrália). No Brasil também há vários, com diferentes características, de acordo com as regiões. “Podemos citar Filhas de Gaia (RJ), Minas (MG), Mãe Terra (SP), Mata Atlântica (MG), Vivessencias (RS), Florais do Sul (RS) e Saint Germain (SP)”, comenta Rogéria Comim, presidente da Artflor (Associação Riograndense de Terapeutas Florais) e do Conaflor (Conselho Nacional de Autorregulamentação da Terapia Floral no Brasil). Qualquer flor pode gerar um floral. A sensibilidade e o conhecimento do criador é que permitem a preparação de uma nova essência. A maior parte das essências é preparada a partir de flores silvestres, que crescem espontaneamente na natureza, ou a partir de jardins orgânicos, longe de agrotóxicos e produtos agressivos. “Para a preparação da essência são usadas flores no auge de sua floração, ou seja, no momento da expressão máxima de suas qualidades”, explica a farmacêutica Ana Maria Azevedo dos Santos, também especialista na área. Cada sistema floral tem suas particularidades, mas em todos se identifica a continuidade do trabalho iniciado pelo Dr. Bach. “As flores têm um campo eletromagnético específico de cada espécie, capaz de ativar nossas virtudes latentes que, por algum motivo, estavam esquecidas, apagadas ou adormecidas. É como se a primavera chegasse após um inverno cinza, trazendo luz, esperança e cores de volta à nossa vida”, conclui a professora Janaíne.
O RECADO DE CADA
BRANCAS pureza, paz e transformação interna
AMARELAS
alegria, positividade e prosperidade
ESTÃO SERVIDOS? As flores comestíveis estão entre as PANCs, sigla para Plantas Alimentícias Não Convencionais. As mais conhecidas são a capuchinha, o amor-perfeito, a cravina, o hibisco. Com propriedades antioxidantes e vitaminas em abundância, especialmente a C, as PANCs são uma combinação de nutrição e beleza no prato, especialmente quando as escolhidas são flores. A capuchinha é aromática, em cores sortidas, variando entre o alaranjado, amarelo, vermelho, rosa e creme. Pode ser usada ao natural ou enfeitando e enriquecendo saladas, em parcerias deliciosas e refrescantes com legumes e folhas como rúcula, agrião e alface. Porém, é preciso estar de olho na procedência de todas as PANCS, certificando-se de que são para uso culinário. A dica é comprar em feiras orgânicas, direto com o produtor local. Fonte: Juliana Noal, coordenadora dos cursos de gastronomia do Senac-POA
VERMELHAS
vitalidade, força e energia
FAROFA DE HIBISCO 1 XÍCARA DE HIBISCO PICADO 1 XÍCARA DE CENOURA RALADA 500 G DE FARINHA DE MANDIOCA TORRADA
ROSA
amor, sinceridade e expressão da alma
2 CEBOLAS MÉDIAS PEQUENAS 3 DENTES DE ALHO 2 A 3 COLHERES (SOPA) DE ÓLEO SALSINHA, CEBOLINHA E SAL A GOSTO
AZUIS
devoção, quietude, espiritualidade e fé
ROXAS OU VIOLETA
dignidade, mistério, plenitude e realização espiritual
MODO DE FAZER: Pique as cebolas, o alho e os temperos; aqueça o óleo e refogue a cebola com o alho, acrescentando a cenoura e o hibisco. Deixe no fogo, mexendo bem, até ficarem macios. Depois, acrescente sal. Adicione a farinha de mandioca aos poucos, misturando bem. Por fim, o tempero verde, misturando bem. Rende de 8 a 10 porções. Fonte: livro Alimentos da Biodiversidade, Receitas com PANCS, Sítio Capororoca/POA. Estilo Zaffari
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Palavra LU Í S
AU G U S TO
F I S C H E R
VIRTUDES DA LEITURA
Certo, eu sou professor de literatura, logo sou suspeito para elogiar o meu objeto de trabalho. Mas confira comigo no riplêi: há muitas virtudes na literatura e no exercício da leitura. Agora mesmo estou lendo um estudo muito inovador: Sobre a origem das histórias – Evolução, cognição e ficção, de Brian Boyd (ainda não traduzido para o português). Boyd segue uma trilha aberta há alguns anos, que propõe uma tese sobre a literatura, em associação com a teoria da evolução das espécies, formulada um século e meio atrás por Charles Darwin. Lembra? Para Darwin, a cada geração se apresenta uma grande variedade de indivíduos da mesma espécie, com características ligeiramente diferentes – braço mais curto, unha mais forte, olfato mais apurado, etc. Alguns desses indivíduos apresentam melhor capacidade de sobreviver às condições objetivas – frio, calor, falta de comida, ataques de adversários, por aí vai. Bem: esses “alguns” sobrevivem, e por isso transmitem suas características à geração seguinte, que portanto já vem com essa vantagem adaptativa. A tese sobre literatura é assim: a capacidade de lidar com ficção, quer dizer, com histórias inventadas, parecidas com a realidade mas não exatamente iguais à realidade, essa capacidade deve ter sido uma vantagem adaptativa, em algum ponto da história humana. Por exemplo: um de nossos antepassados arcaicos de repente bolou uma maneira de proteger o seu pessoal de um ataque inimigo mediante uma historinha – digamos que ele contou uma experiência já conhecida, enfeitou a coisa, fez caras e bocas, e com esse relato preparou o espírito da parceria, ajudando o pessoal a sobreviver. Inventou história, com base em experiência – genial! Ele fez ficção. E os que o ouviram também fizeram o exercício de apreender um relato ficcional, e a seguir transpuseram essa fantasia para o mundo real. Boyd avança a partir dessa tese mínima. Quer saber, por exemplo, qual o papel que a ideia de arte tem nesse processo. Exemplo: os golfinhos fazem um tipo de arte ao espargir
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um anel de água em torno de si, repetidas vezes. Então eles têm algo da arte humana, o “design”. Mas com isso eles não representam nada – ao contrário dos humanos, que têm capacidade de bolar uma forma e com ela dar a entender outra coisa, muito além dos elementos em cena. Por exemplo: uma criancinha pode pegar uma espiga de milho nos braços, cantar pra ela, e nessa cena representar uma mãe nanando um nenê. A conversa vai longe; na verdade está apenas começando. Enquanto isso, pensei em fazer um elogio da leitura, em particular da leitura de literatura – romances, contos, poesia, crônica, qualquer modalidade. Elogio em seis itens, seis virtudes que ela nos proporciona. PROFUNDIDADE, experiência vertical da vida. Somos capazes de entender dramas, tragédias, comédias, percursos os mais variados, isso tudo sem viver diretamente nenhuma das histórias lidas. AGILIDADE. Quem lê literatura tem presteza, velocidade, capacidade de estabelecer relações de todo tipo. Ler é uma verdadeira aeróbica mental. VARIEDADE. A literatura tem o extraordinário mérito de acolher toda e qualquer experiência humana, em qualquer parte, época e situação social. CONCENTRAÇÃO. Quem lê boa literatura aprende a ter foco, aprendizado essencial em nossos tempos tão fragmentários, que pode ser repassado para as outras áreas da vida. IMAGINAÇÃO. Mais do que as histórias que a gente vê, aquelas que a gente lê nos exigem imaginar os cenários, os rostos, as tramas. LIBERDADE. O mais alto, mais sublime, mais potente valor da literatura é proporcionar o exercício da liberdade. Quem lê passeia por rotas desconhecidas que no entanto estão dentro de cada um. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR
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