Revista Estilo Zaffari - Edição 85

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LUGAR

Ano 12 N0 85 R$ 7,90

CARTAGENA, UM PRESENTE DO PASSADO

DECORAÇÃO FINE ART, FOTOGRAFIA E ARTE PARA TER EM CASA

VIAGEM ISLÂNDIA, TERRA DO FOGO E DO GELO

Jardim de delícias Trend gastronômica: pratos vegetarianos e veganos lindos e supersaborosos, com jeito de festa


Milene Leal milene@entrelinhas.inf.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Bete Duarte, Beto Conte, Milene Leal, Taciane Corrêa, Flavia Mu REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade ILUSTRAÇÕES Moa FOTOGRAFIA Letícia Remião, Beto Conte, Christiano Cardoso COLUNISTAS Celso Gutfreind, Cherrine Cardoso, Cris Berger, Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COMERCIALIZAÇÃO Carlos Eduardo Moi (eduardo@entrelinhas.inf.br) fones: 51 3026.2700 e 3024.0094 A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Entrelinhas Conteúdo & Forma, sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 20.000 exemplares IMPRESSÃO Gráfica Artlaser Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO LUGAR

Rua Cel. Bordini, 675, cj. 301 Porto Alegre I RS I Brasil I 90440 000 51 3026.2700

Ano 12 N0 85 R$ 7,90

CARTAGENA, UM PRESENTE DO PASSADO

DECORAÇÃO FINE ART, FOTOGRAFIA E ARTE PARA TER EM CASA

VIAGEM ISLÂNDIA, TERRA DO FOGO E DO GELO

Jardim de delícias Trend gastronômica: pratos vegetarianos e veganos lindos e supersaborosos, com jeito de festa

FOTO: LETÍCIA REMIÃO


N OTA

D O

E D I TO R

ESPÍRITO DE VERÃO Já às vésperas do final de 2018, estamos aqui dando os últimos retoques nesta edição da Estilo Zaffari. É a nossa edição mais festiva e mais faceira, elaborada para que os leitores possam curtir durante o recesso de final de ano, as férias, os finais de semana e os gostosos dias de verão. Pensando em acompanhar você nesta temporada de calor, que sempre tem um astral mais leve e descontraído, preparamos reportagens inspiradoras. Na seção Sabor escolhemos falar sobre as culinárias vegetariana e vegana, mostrando que a ausência de carnes no prato não é sinônimo de falta de sabor. Ao contrário! As receitas que você vai encontrar nesta matéria são a prova de que legumes, verduras, frutas, flores, sementes e cereais compõem delícias incontestáveis. E inesquecíveis. E perfeitas para o verão! Como a revista fica em circulação durante os tradicionais meses de férias no Brasil, ocupamos diversas páginas com duas reportagens de viagem, uma bem diferente da outra: Beto Conte foi à Islândia e nos conta como essa terra gelada é cheia de predicados; Carolina Bolsson foi conferir a “quente” Cartagena de las Índias, e fez uma linda e colorida matéria, cheia de dicas ótimas. Também pensamos em alegrar seus olhos e proporcionar algumas boas ideias de decoração, por isso a seção Casa tem o tema “Fotografia Fine Art”. Que lindo é o efeito da fotografia artística usada como elemento para compor ambientes, decorar, enfeitar paredes e conferir estilo e alma a uma casa! Confira as imagens de ambientes que aparecem na reportagem e aprecie também a pequena galeria de fotos fine art que colocamos no final dela. Foi-se o conturbado 2018. Que tenhamos aproveitado esse ano da melhor maneira possível, e que 2019 traga mais leveza, mais tranquilidade, mais alegria. Uma ótima leitura e um ótimo verão! OS EDITORES


Cesta Básica

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Coluna Humanas Criaturas

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Coluna Vida

40

Coluna Sampa

42

O Sabor e o Saber

56

Coluna Equilíbrio

70

Coluna Palavra

90

Cartagena: mergulho na história latino-americana e nas belezas do Caribe

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Cozinhas vegetariana e vegana: sem carnes, com muito sabor

Islândia: geleiras, vulcões, cachoeiras, fiordes e um povo fascinante

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60

Conheça o Cardamomo, uma especiaria afrodisíaca

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Cesta básica

NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, MODA, LITERATURA, ARTE, LUGARES, VIAGENS, OBJETOS ESPECIAIS, PESSOAS GENIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!

OPÇÃO VEGANA EM CANELA O Empório Canela lançou um cardápio vegano com opções deliciosas sem ingredientes de origem animal, mas com o mesmo temperinho já conhecido da casa. O menu é assinado pela chef Roberta Rech, com consultoria da chef especialista em gastronomia vegana e vegetariana Letícia Borges. Inclui lanches, petiscos e pratos principais, com destaque para a porção de samosas de moranga e manjericão (pastéis integrais à moda indiana), a panelinha de cogumelos, o hambúrguer de lentilha, saladas quente e fria, sopa de legumes, risotos e massas. Ao todo, são 16 opções. Além das novidades veganas, o já conhecido cardápio da casa também ganhou novas delícias, como o fettuccine de camarão e a milanesa de filé. EMPÓRIO CANELA

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Estilo Zaffari


POÉTICA DOS OPOSTOS Está em cartaz no Margs a exposição “Desconstruções e Articulações”, do artista plástico sediado em Itu/SP, Marcos Amaro. Com uma linguagem vigorosa, Amaro utiliza vários materiais, ressignificando aquilo que perdeu sua função, desde resíduos aeronáuticos (o artista é filho do célebre Comandante Rolim, da TAM) até pedaços de tecido. A proposta é uma desconstrução/construção, para organizar uma nova linguagem. O artista confere a materiais em desuso um novo pulsar de vida, e com isso sua obra adquire expressividade e força poética. Em suas mãos esses materiais transformam-se em esculturas imponentes, com um certo ar catastrófico, que remetem à ação do tempo. Associado ao uso da sucata, Amaro acrescenta dois elementos: a luz néon (cor), em uma expressão de glamour e sedução, e as imagens gravadas em vídeos ou ao vivo, trazendo testemunhos e experiências de vida que aprofundam as narrativas geradas por suas obras. Em alguns casos os elementos contrastam, em outros dialogam com o conteúdo materializado na plástica do artista.

MARCOS AMARO – DESCONSTRUÇÕES E ARTICULAÇÕES MARGS I PRAÇA DA ALFÂNDEGA, S/N PORTO ALEGRE I RS I 51 3227.2311 EM CARTAZ ATÉ 17/2/2019 WWW.MARCOSAMAROARTIST.COM

Estilo Zaffari

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FOTO: LISA ROOS/DIVULGAÇÃO

PIPOCAS SUPERESPECIAIS Gurmandices são as pipocas gourmet mais badaladas do momento, feitas pelo chef chocolatier Cássio Cevallos. A delícia está disponível em três sabores: chocolate branco com raspas de limão siciliano; chocolate ao leite com amendoim e chocolate amargo com flor de sal. O quarto sabor acaba de ser lançado e também é incrível: chocolate branco caramelizado com quatro especiarias. A qualidade dos insumos é um dos segredos da pipoca Gurmandices. O milho – tipo mushroom – é importado do EUA e o chocolate é belga. As pipocas são caramelizadas e banhadas no chocolate da marca Callebaut, e após ficam armazenadas em latas de 90 g com um sistema único de vedação, para conservar a crocância. Além de poder comprar a embalagem individual é possível fazer encomendas para eventos em embalagens personalizadas de diversos formatos e tamanhos, ou escolher um carrinho de serviços.

VINHOS E ESPUMANTES PARA O VERÃO Pensando nas uvas que melhor se adaptam ao seu terroir, a vinícola Don Giovanni, localizada na cidade de Pinto Bandeira, na Serra gaúcha, está lançando quatro novos rótulos. São dois vinhos, o Rosé e o Pinot Noir, e dois espumantes, o Blanc de Blanc e o Blanc de Noir, todos primando pelo frescor e a elegância. Nos 17 hectares de vinhedos a Don Giovanni preconiza uma viticultura sustentável e ecologicamente correta, sem uso de fertilizantes químicos e aplicação de herbicidas, sempre em busca da biodiversidade e do equilíbrio do ecossistema. A vinícola é um complexo que reúne vinhedos, vinícola, loja de vinhos, pousada e restaurante. DON GIOVANNI VRS-805 I LINHA AMADEU, 28 I KM 12 PINTO BANDEIRA I RS

GURMANDICES

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CASSIO_CEVALLOS@BARRY-CALLEBAUT.COM

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@ GURMANDICES

WWW.DONGIOVANNI.COM.BR


EXPRESSO TRANSIBERIANO

O SEASONS VOLTOU! O novo restaurante do Grupo Seasons é um retorno às origens do primeiro negócio do chef e empresário Gabriel Zambon, o Seasons, restaurante que operou na Dinarte Ribeiro até 2016. Além de um novo local, há renovação em todos os sentidos na nova fase do restaurante. O cardápio traz algumas referências aos clássicos que conquistaram os clientes e muita inovação gastronômica. “Vamos direto ao ponto, com uma comida simples, mas com processos sofisticados. A ideia é oferecer diferentes opções com muita qualidade, para que o cliente possa voltar em ocasiões diferentes. Seja para um jantar no final de semana, seja para o brunch de sábado ou para um almoço de negócios”, explica Zambon. O espaço é contemporâneo e elegante, intercalando materiais simples de grande impacto visual e sensorial com belas obras de arte. De qualquer ponto do salão o cliente tem vista da cozinha e pode acompanhar cada movimentação dos chefs. O grupo também inaugurou recentemente uma filial da hamburgueriaThe Chefs, bem ao ladinho do Seasons. Os já consagrados hambúrgueres temperados pelos chefs, com pão artesanal inspirado no brioche e batatas rústicas irresistíveis, agora têm mais um endereço. SEASONS AV. CARLOS GOMES, 400 I PORTO ALEGRE I RS @RESTAURANTESEASONS I 51 3907. 5600 DE SEGUNDA A SEXTA: 11H30 ÀS 15H E DAS 18H ÀS 23H. SÁBADO: 12H ÀS 16H E DAS 18H ÀS 23H I 51 3907. 5700 FACEBOOK.COM/THE CHEFS HAMBURGUERIA CARLOS GOMES 400 12

Estilo Zaffari

Para o Grand Tour STB Trip & Travel de 2019, a ideia do expert em viagens Beto Conte é proporcionar a seus clientes um roteiro em um trem fretado, como se fosse um cruzeiro ferroviário, com a oportunidade de vivenciar algumas das áreas mais remotas do mundo, como a Mongólia, a Sibéria e o Lago Baikal, desfrutando do conforto que só é possível a bordo de um trem privado. A aventura começa pelas extensas estepes, iurtas e cavalos da Mongólia, e prossegue revelando emblemáticos lugares. Beto Conte planejou em detalhes esta viagem épica, que acontecerá em agosto de 2019, para celebrar as “bodas de prata” do Grand Tours STB Trip & Travel. Ele afirma que “será possível vivenciar toda a cultura local, pernoitando em uma iurta como fazem os nômades desde tempos imemoriais, terminando a aventura na fascinante Moscou, com sua longa história e toda sua contemporaneidade que vimos durante a Copa do Mundo”. Há ainda a possibilidade de incluir São Petersburgo no roteiro.

STB TRIP & TRAVEL WWW.TRIPTRAVEL.COM.BR BETOCONTE@STB.COM.BR


DELÍCIAS MALUKETE EM QUALQUER LUGAR

O novíssimo Dionisia VinhoBar traz uma proposta diferenciada para os amantes do vinho. A casa proporciona a experiência de provar diversos tipos de vinhos, conhecer as castas de uva, regiões, estilos e procedências. O cliente ganha um cartão com chip e com ele se dirige a uma das 64 torneiras disponíveis, escolhe o seu vinho, serve-se e desfruta da bebida em um ambiente moderno e descolado, à meia-luz, deixando-se levar em uma viagem sensorial pelo universo do vinho. É possível escolher um dos três tamanhos de taças – 50 ml, 75 ml ou 125 ml – e ainda ter a orientação de um sommelier, que fica à disposição dos clientes para auxiliar na hora da escolha. “Nossa ideia é acolher quem deseja experimentar e conhecer diferentes tipos de vinhos de um modo mais simples, provando a partir de pequenas doses e evoluindo conforme seu gosto”, explica a proprietária Jaqueline Meneghetti. DIONISIA VINHOBAR RUA PADRE CHAGAS, 314 I PORTO ALEGRE I RS ABERTO DE SEGUNDA A SÁBADO FACEBOOK.COM/DIONISIAVINHOBAR @DIONISIAVINHOBAR

FLORESTA MALUKETE RUA JOSÉ SCUTARI, 112 I PORTO ALEGRE I RS PEDIDOS: 51 99440. 0023 FLORESTAMALUKETE@GMAIL.COM WWW.FLORESTAMALUKETE.COM.BR

FOTO: LETÍCIA REMIÃO

PARA OS AMANTES DO VINHO

A Floresta Malukete, ao completar 10 anos de sucesso no segmento de festas infantis, apresenta ao mercado a “Floresta Inbox”. Agora é possível encomendar os quitutes que fazem o maior sucesso nas festas da Malukete e receber um kit de delícias em casa, no escritório ou onde o cliente desejar. Os kits incluem os famosos cachorro-quente com molho de carne de panela, hamburguinho e o charmoso enroladinho “Lulu de Madame”.


PARQUE DE OLIVEIRAS EM GRAMADO O primeiro parque de olivocultura do Rio Grande do Sul abriu recentemente seus portões. O Olivas de Gramado está cercado pela mata nativa acima do cânion da Pedra Branca, a apenas 14km do centro da cidade. Lá é possível viver uma deslumbrante e completa experiência de turismo rural, incluindo fazendinha, pomar, horta orgânica e viveiro de plantas. O parque tem também um bistrô, loja com grife exclusiva e oferece uma vivência completa em torno do processo de olivocultura, com visita desde a plantação de oliveiras ao envase, degustação e tour pela fábrica de azeite. No espaço ainda é possível fazer piquenique, trilhas e passeio de jardineira. São mais de 150 hectares, com mais de 12 mil mudas de oliveiras plantadas, de cinco diferentes variedades. A vista é uma das mais incríveis da região. A ideia é resgatar os hábitos, as paisagens e a identidade do estilo de vida do interior, justamente onde a cidade teve sua origem, contemplando ao mesmo tempo os conceitos de rusticidade e de sofisticação. OLIVAS DE GRAMADO

KOH PEE PEE NA NOVA ESTAÇÃO Para contemplar a nova temporada, o aclamado tailandês elaborou um menu sazonal que é uma verdadeira imersão na cultura da Tailândia, com pratos oriundos de Bangkok e outras cidades. A chef Zelda Dal’Molin imprimiu ao menu o paladar exótico da gastronomia thai, inspirada no calor e no exotismo de seus ingredientes típicos. Há opções de drinks, entrada, prato principal e sobremesa. O drink Mali surpreende pela combinação de gin, tônica rosé orgânica e pétalas de rosas comestíveis. A entrada do menu sazonal é uma combinação de camarões envoltos em massa crocante, recheados com castanhas, porco e gengibre. O prato principal, Khao Pad Yang Ngaw, é um delicioso arroz frito de pato com rambutã (fruto típico do sudeste asiático, que confere uma nota adocicada ao prato), alho-poró e cenoura, servido em base de abacaxi. Já a sobremesa é um bolo úmido de feijão com nibs de cacau, creme de arroz sabor baunilha, finalizado com calda de chocolate.

RUA VEREADOR JOSÉ ALEXANDRE BENETTI LINHA NOVA I GRAMADO I RS

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Cesta básica

ENTRE PIRÂMIDES, ESFINGES, TEMPLOS E DESERTOS Luciane Garcia, proprietária da agência Diário de Bordo, montou um roteiro exclusivo para levar um pequeno grupo de viajantes ao Egito e à Jordânia em setembro de 2019. A viagem promete ser inesquecível e comtempla as grandes atrações desses dois destinos, com uma programação escolhida a dedo pela organizadora, além de hospedagem em hotéis de alto padrão. No Egipo, o grupo vai explorar as pirâmides e esfinges de Gizé, estátuas de faraós e museus ao ar livre na antiga cidade de Memphis, o Vale dos reis, templos, mesquitas, mercados, sem esquecer dos espetáculos de luzes nas pirâmides do Cairo. Na Jordânia, a experiência contempla o deserto Wadi Rum, com suas fascinantes montanhas de arenito e areias coloridas, a cidade de Amman, o deslumbrante Vale de Petra (a famosa “Cidade Rosada”), o Vale do Jordão e o Mar Morto.

DRINKS E GASTRONOMIA DESPOJADA A aposta do novo Wok Side Bar é a coquetelaria, com drinks clássicos e bem executados, mas com a informalidade dos bares nova-iorquinos e a proposta de um atendimento mais intimista. A cozinha casual do chef Rafael Jacobi soma-se à ideia, com referências de várias gastronomias marcantes, como a tailandesa, a australiana e a asiática. No menu é possível ver a mistura de sabores e referências que dão personalidade à casa. O Ramen, prato clássico japonês, ganha um toque tailandês e leva caldo de frango e de porco defumado, barriga de porco, macarrão lámen e alga. No bar, o destaque é para o drink autoral “Wok Gin Tônica Maracujá”, que mistura gin, maracujá fresco, pimenta-rosa e manjericão. Perfeito para o verão. WOK SIDE BAR

AGÊNCIA DIÁRIO DE BORDO

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DE TERÇA A SÁBADO DAS 18H ÀS 23H


HOTEL COSMOPOLITA NA SERRA GAÚCHA O Grupo Casa da Montanha inaugurou em novembro o Wood, hotel design com conceito moderno e localização estratégica no centro da cidade. Ideal para casais e famílias que valorizam boa hospitalidade, arquitetura, arte e design. São 23 apartamentos com decoração sofisticada, repleta de obras de artistas regionais, em que predominam a madeira e os tons neutros e terrosos. O Wood Lounge Bar & Restaurante, comandado pelo chef Rodrigo Bellora, segue a tendência slow food, apresentando menus sazonais feitos com ingredientes da época vindos fresquinhos direto do produtor. O bar é uma excelente pedida para quem busca uma opção descontraída para curtir a noite. Tem uma carta repleta de drinques clássicos e autorais, acompanhados de uma ótima seleção musical. “Sempre estamos em busca de novidades do setor hoteleiro. Para conceber o Wood Hotel buscamos inspirações em várias partes do mundo, até chegar ao conceito de um hotel contemporâneo, com atendimento despojado e voltado para um público com espírito jovem, globalizado”, diz o diretor de marketing do Grupo, Rafael Peccin.

WOOD HOTEL RUA MÁRIO BERTOLUCI, 48 I CENTRO I GRAMADO I RS RESERVAS@CASADAMONTANHA.COM.BR 54 3295. 7575 WWW.WOODHOTEL.COM.BR


Cesta básica

FESTEJANDO NO HOTEL O Hotel Sheraton de Porto Alegre criou alguns pacotes especiais para atender a seus clientes em momentos de comemoração. Para a criançada, a grande atração é a Festa do Pijama, que pode ser personalizada de acordo com os desejos de cada aniversariante. Tudo é preparado para deixar a noite perfeita, com barracas e luzinhas, decoração, menu kids, acesso à piscina e café da manhã. A turma pode chegar a partir das 15h e sair no dia seguinte às 12h. O hotel também oferece dois pacotes de Núpcias (Bodas Night e Romance), ambos com check-in às 11h e check-out somente às 18h do dia seguinte. Assim os casais podem curtir sem preocupação antes e depois da festa e aproveitar toda a estrutura do hotel. SHERATON PORTO ALEGRE HOTEL RUA OLAVO BARRETO VIANA, 18 PORTO ALEGRE RS I 51 2121. 6015 RESERVAS.POA@SHERATON.COM WWW. SHERATON-POA.COM.BR


Humanas criaturas T E T Ê

PAC H E C O

EU PROMETO, TU PROMETES Quando eu era bem pequena minha avó prometeu que me levaria para a Disney, um dia. Um namorado passageiro me prometeu amor eterno. Minha mãe prometeu uma visita em 2017. Um filho prometeu que arrumaria o quarto. Eu prometi que seria outra. O dentista prometeu canal sem dor. O juiz prometeu justiça. O engenheiro da obra prometeu pontualidade. O empregador prometeu aumento. A cozinheira prometeu menos fritura. O motorista prometeu calma. A criança prometeu não bater no irmão. Meu pai prometeu nada. O aluno prometeu prestar atenção. O político prometeu honestidade. A amiga prometeu companhia. O homem escolhido prometeu parceria. O médico prometeu cura. A gerente prometeu desconto progressivo. A faxineira prometeu tirar a poeira. O aluno prometeu não faltar. O político prometeu não roubar. A gorda prometeu não comer. O ano passado prometeu vida nova. O ano novo promete? Será? As ondas do mar sabem tudo. Mas prometem que não vão contar. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA

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Estilo Zaffari


Bastidores de Cozinha

Cardamomo: uma especiaria afrodisíaca P O R

B E T E

D U A R T E

F OTO S

C H R I S T I A N O

C A R D O S O

Nas histórias das Mil e Uma Noites, o cardamomo é associado ao amor, um afrodisíaco. Aromático, de sabor intenso, é nativo do sul da Índia e do Sri Lanka, onde é conhecido como a rainha das especiarias. O aroma intenso já o levou a integrar composições de cosméticos e perfumes. Da família do gengibre, Elettaria cardamomun é seu nome científico. São de 10 a 20 sementes escuras, encapsuladas em bagas esverdeadas de cerca de 2 cm, que são levadas ainda verdes para secar em fornos a carvão por 3 dias. Atualmente, o maior exportador é a Guatemala. É uma das especiarias mais caras do mundo, perdendo apenas para o açafrão e a fava de baunilha. O sabor é um misto de apimentado e adocicado, que deixa na língua a sensação de eucalipto. Os romanos costumavam utilizá-lo para melhorar o hálito, enquanto os gregos usavam para branquear os dentes. O cardamomo faz parte de várias receitas de curry na Índia, de arroz doce (kheer) e é a alma do chai. É uma das especiarias usadas no Aquavit, licor da Escandinávia, para onde foi levada pelos vikings. Está presente em pães doces na Finlândia (pulla) e na Noruega (julekake). Na Suécia, é combinado com a canela no preparo do kanelbullon, pão servido como fika, lanche da tarde, acompanhado de café preto. Os espanhóis colocam as bagas amassadas numa infusão de chá com pedacinhos de casca de laranja. Os árabes aromatizam o café, como forma de estreitar amizades. O cardamomo é um arbusto com cerca de 1,50 m de altura, com folhas grandes, flores brancas e frutos verdes. Existem diferentes variedades, mas as mais comuns são o verde e o preto. Sendo o verde o mais saboroso. Enquanto este tem um aroma como algo entre o limão e o gengibre, o negro lembra cânfora.

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Bastidores de Cozinha NA SUA COZINHA Para ressaltar o aroma, torre as sementes, depois de retirá-las das cápsulas. Tanta concentração de aroma e sabor pede parcimônia no uso, caso contrário dominará qualquer preparo. As sementinhas podem aromatizar açúcar, além de substituir a baunilha em sorvetes ou em chantillys. Evite o cardamomo em pó, porque o aroma se perde facilmente.

COMBINAÇÕES PERFEITAS Com carnes vermelhas e de aves (frango e pato) Com grãos, como lentilhas, ervilhas e arroz Em receitas em que a abóbora é ingrediente de destaque Delicioso quando acrescentado à infusão de leite para o preparo de chocolate quente Com frutas cítricas, maçãs, peras, mangas em saladas de frutas ou sobremesa com as frutas cozidas O uso de especiarias com notas doces, como o cardamomo, ajuda a reduzir o açúcar nas receitas de bebidas. O cardamomo pode ser usado em receitas doces e salgadas, como substituto do alho no refogado do arroz O cardamomo é a especiaria predileta do chef senegalês Mamadou Séne, professor do Senac Porto Alegre. Em seu país de origem, é utilizado em diferentes pratos. Alguns deles trazem as memórias de infância e estão ligados à partilha e à família, como o mafê ou maffé – cozido de carne com legumes e pasta de amendoim com especiarias, entre elas a canela, o anis e o cardamomo. Outra receita muito apreciada por Mamadou e que combina muito bem com a atual estação são as frutas em calda de cardamomo. Leve, refrescante, aromática e muito saborosa. O chef sugere que a sobremesa pode ser servida também com sorvete de coco.

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Aromatiza chás verde, laranja, gengibre, de cravo, canela, anis ou camomila. Abra as bagas apenas na hora de usar. Ferva com leite e coe, utilizando no preparo de bolos, creme inglês e doces. Para o chai ou o café, esmague o conteúdo de 12 cápsulas e coloque em uma infusão em 1,5 litro de leite.


Frutas em Calda de Cardamomo 300 ML DE ÁGUA 8 GRÃOS DE CARDAMOMO 125 G DE AÇÚCAR 1 LARANJA DE UMBIGO 8 MORANGOS 1 MARACUJÁ 1/2 MAÇÃ VERDE EM GOMOS FINOS 1 MANGA MADURA E FIRME 2 KIWIS EM GOMOS 1 BANANA DA TERRA CORTADA

MODO DE FAZER: Lave as frutas e corte. Deixe separados o maracujá e as folhas de hortelã. Coloque a água na panela junto com o açúcar e o cardamomo, esmagando as bagas e deixando um pouco expostos os grãos. Mexa até dissolver o açúcar. Deixe ferver por 15 min em fogo médio. Retire do fogo, deixe em infusão por 10 minutos com panela tampada. Leve novamente ao fogo e volte a esquentar. Despeje por cima das frutas cortadas, adicione o maracujá e as folhas de hortelã. Deixe esfriar e leve à geladeira. Sirva as frutas com a calda. Rendimento: 5 porções

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Sabor

Comer e celebrar a

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Estilo Zaffari

POR BETE DUARTE FOTOS LETÍCIA REMIÃO



Sabor


O VEGETARIANISMO E O VEGANISMO ENVOLVEM QUESTÕES ÉTICAS E DE SAÚDE. SEM DEIXAR DE LADO O PRAZER DA BOA MESA

Nada de comida natureba dos anos 60, nem clima esotérico, saladas sem graça e legumes insossos. Acabou também a dependência exclusiva da soja e derivados, como o tofu. Nos dias atuais, restaurantes se adaptam ao crescimento do público vegano e vegetariano e oferecem cardápios sofisticados, menus-degustação, pratos 100% vegetais, com ingredientes locais e sazonais. Sem falar nas cartas de vinhos e drinques orgânicos. Da mesma forma, as prateleiras dos supermercados concedem mais espaço para os produtos que não tenham origem animal. Novas lojas especializadas nesse tipo de alimentação se espalham pelo país, seguindo uma tendência mundial. Afinal, uma pesquisa do Ibope indicou que cerca de 14% da população brasileira são vegetarianos. Seriam aproximadamente 30 milhões de pessoas, e 8 milhões dessas adeptas ao veganismo. Número que continua crescendo. Se nos anos 70 a alimentação natural era um movimento alternativo, hoje é um estilo de vida, uma espécie de posição política, em defesa do meio ambiente, da vida animal. Defensores garantem que bastam 2 mil metros quadrados para alimentar um vegano, e cerca de 16 mil para um carnívoro. O vegetarianismo e o veganismo envolvem, dessa forma, questões éticas e de saúde. Sem deixar de lado, é claro, o prazer da boa mesa. A tendência de aprimorar receitas que atendam a esse público específico, sem abrir mão de clientes não adeptos à prática, passa por um conceito muito simples: comida de qualidade e com muito sabor. Um dos maiores exemplos é o restaurante Arpège, com três estrelas Michelin, comandado pelo chef Alain Passard e totalmente vegetariano. O chef francês defende que a alimentação ideal é composta basicamente por verduras, legumes, frutas, leguminosas e cereais, ou seja, alimentos que vêm da terra. Esse movimento da gastronomia contemporânea não é novidade para o chef Alex Atala. Em 2009, já incluía no cardápio de seu estrelado D.O.M. um menu-degustação vegetariano, harmonizado com águas aromatizadas. O sucesso foi tanto, apreciado também por quem era adepto do consumo de carne, que é mantido até hoje e costuma ser exemplo da criatividade da cozinha do restaurante em palestras e aulas que dá pelo Brasil e mesmo no exterior. Para entender esse público, no entanto, cozinheiros e chefs dos mais variados restaurantes precisaram estudar o assunto a fundo. Isso porque existem grandes diferen-

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Sabor ças entre as formas de alimentação. Na categoria dos vegetarianos há os lacto (que consomem laticínios), os ovovegetarianos (que aceitam ovos na alimentação) e até os piscos (que incluem peixes e frutos do mar). Os veganos, por sua vez, não consomem nenhum produto animal, como carnes ou peixes, ovos, leite, manteiga e até o mel, o que pode dificultar em muito a inclusão de pratos específicos nos cardápios. O chef Rafael Jacobi tem acompanhado de perto a transformação do mercado gastronômico. Nos eventos, festas e casamentos que tem realizado, sempre há convidados que não comem carne, o que faz com que ele e sua equipe desenvolvam pratos especiais a pedido dos clientes. Como em um casamento em que ambos os noivos eram vegetarianos, então, como prato principal, em lugar do filé, foram servidos cogumelos confitados. Para acompanhar, na ocasião, risoto de queijo brie. São tantas receitas possíveis que o chef não vê dificuldade em criar outras opções, mas sem entrar na seara do veganismo, muito mais restritiva. Uma das especialidades de Jacobi é a cozinha tailandesa, praticada no seu Wok Side Bar e cujas composições são facilmente adaptadas para quem segue o vegetarianismo. Um exemplo é o red curry vegetariano, que tem a picância amenizada pelo leite de coco. Um caso de valorização da cozinha vegetariana pode ser o restaurante da rede carioca Sushimar, que oferece sushis em que o coco, o edamame e os cogumelos substituem o peixe nos sushis. Tem ainda a chef Tati Lund, que conquistou um espaço no canal de TV fechada GNT para ensinar receitas veganas no programa .Org. Cada vez mais serão vistos e provados queijos vegetais de diferentes castanhas, gorduras de coco e de abacate, kombucha, biomassa de banana verde e até “carne” de jaca, que está em alta. Hambúrgueres são de grão de bico, lentilha, feijão. Moquecas veganas têm como ingredientes legumes, cogumelos e palmito, tudo com muito sabor. Sem falar nas Pancs (plantas alimentícias não convencionais) e nos fermentados, que apresentam diferentes possibilidades de preparo dos legumes. Em dias de festa, os cardápios ganham toques de sofisticação e lindas louças, valorizando a apresentação.

RED CURRY VEGETARIANO 150 ML DE LEITE DE COCO 10 FOLHAS DE MANJERICÃO FRESCO 50 G DE CENOURAS CORTADAS EM BASTONETES 50 G DE VAGEM HOLANDESA CORTADA AO MEIO 50 G DE BRÓCOLIS HÍBRIDO 50 G DE COGUMELOS FRESCOS 50 G DE ERVILHA-TORTA FRESCA 1 COLHER (SOPA) DE PASTA DE CURRY TAILANDÊS VERMELHA 1 ½ COLHER (SOPA) DE MOLHO SHOYU ÓLEO VEGETAL SAL E PIMENTA-DO-REINO MOÍDA MODO DE FAZER: Em uma panela tipo wok, coloque um fio de óleo e adicione todos os legumes, menos os cogumelos. Em seguida junte a pasta de curry e frite por 1 minuto até desenvolver os aromas. Baixe o fogo, coloque os cogumelos, o molho shoyu e o leite de coco, aos poucos, misturando ocasionalmente. Ferva por 2min até os legumes ficarem macios e tenros. Tempere com o sal e a pimenta. Decore com as folhas de manjericão. DICA: A pasta de curry é um ingrediente típico tailandês, que consiste em uma mistura de diversos temperos frescos, tais como cebola, alho, pimenta, capim-limão, casca de limão e gengibre. RENDIMENTO: 2 porções.

RESTAURANTES SE ADAPTAM AO CRESCIMENTO DO PÚBLICO VEGETARIANO E VEGANO E OFERECEM CARDÁPIOS SOFISTICADOS, MENUS-DEGUSTAÇÃO , PRATOS 100% VEGETAIS 32

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Sabor


RISOTO DE MORANGA E MINIRRÚCULA E COGUMELO CONFIT CALDO DE LEGUMES CENOURA AIPO ABOBRINHA 1 CEBOLA 5 DENTES DE ALHO FOLHAS DE ALHO-PORÓ

MODO DE FAZER O CALDO DE LEGUMES: Toste os legumes em uma panela. Junte a água e deixe reduzir em fogo baixo até obter 1,5 litro. Coe e reserve. Para os cogumelos, preaqueça o forno a 200 graus. Retire os talos dos cogumelos. Em uma assadeira, coloque os cogumelos com a base virada para cima. Tempere com sal e pimenta. Distribua a manteiga em cada cogumelo. Asse por 20min. Reserve.

200 ML DE VINHO BRANCO SECO

MODO DE FAZER O RISOTO: Numa panela com água, em fogo médio, cozinhe a abóbora até ficar bem macia. Amasse até a consistência de purê. Reserve. Aqueça o caldo de legumes e o mantenha fervente enquanto prepara o risoto. Derreta a manteiga em uma panela larga e refogue a cebola. Acrescente o arroz e refogue por 1 minuto. Adicione o vinho e mexa até evaporar. Vá colocando o caldo de legumes com uma concha, aos poucos, sempre que o caldo secar. Não deixe de mexer o arroz durante o processo. Quando todo o caldo secar, acrescente o purê de abóbora, mexa bem. Acrescente a manteiga, a minirrúcula picada grosseiramente. Finalize com o parmesão e mexa vigorosamente. Apague o fogo e sirva imediatamente com o cogumelo confit. Decore com ervas frescas e minibrotos.

1 COLHER (SOPA) DE MANTEIGA

RENDIMENTO: 4 porções.

5 LITROS DE ÁGUA COGUMELOS 4 COGUMELOS FRESCOS PARIS OU CASTANHO TAMANHO GG SAL E PIMENTA 1 COLHER (SOPA) DE MANTEIGA RISOTO 500G DE ABÓBORA MORANGA SEM CASCA EM CUBOS 1,5 LITRO DE ÁGUA 1,5 LITRO DE CALDO DE LEGUMES 1 COLHER (SOPA) DE MANTEIGA 1/2 CEBOLA PICADA 2 XÍCARAS DE ARROZ ARBÓREO

1 MAÇO DE MINIRRÚCULA 100G DE PARMESÃO RALADO/SAL E PIMENTA A GOSTO

O CHEF RAFAEL JACOBI DESENVOLVE PRATOS ESPECIAIS PARA FESTAS, ATENDENDO A PEDIDOS DE CLIENTES VEGETARIANOS. O RISOTO DA RECEITA FOI SERVIDO EM UM CASAMENTO Estilo Zaffari

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Sabor 100% VEGANO, 100% DELICIOSO Se engana quem pensa que as comidas vegana e vegetariana são sem graça e restritas a legumes e saladas insossos. A farta bibliografia reúne variadas receitas saborosas e muito bem temperadas, o que faz com que mesmo quem consuma carne opte por de vez em quando abrir mão desse ingrediente à mesa. Um exemplo é a campanha “Segunda Sem Carne”, que tem adeptos famosos, como Paul Maccartney. Que o diga Gunter Schwabeland Filho, proprietário do restaurante vegano La Rouge Bistrô, que costuma ver as mesas de seu espaço gastronômico frequentadas por clientes fiéis, grande parte deles adeptos do consumo de carne. Quem comanda a cozinha do La Rouge é Roberta Kleber, uma chef autodidata que coloca em prática os conhecimentos adquiridos com a própria experiência. Ela e o marido Gunter são veganos desde sempre. O segredo para uma boa cozinha vegana, garante Gunter, é não tentar substituir a carne por outro produto parecido. O importante é ver essa cozinha como algo específico, dissociar completamente da cozinha carnívora. Ele sabe muito bem disso, porque tentou contratar cozinheiros auxiliares recém-formados e não obteve êxito. Ao tirar os ovos, o leite, a manteiga e a carne, eles não sabiam o que fazer. O cardápio do La Rouge inclui pratos deliciosos, bem temperados e com belas apresentações. Fica difícil escolher entre uma paella de legumes, um hambúrger, um prato de massa ou tantas outras criações de Roberta. Sem falar dos chás gelados, os sucos ou as sobremesas. Para os leitores da Estilo Zaffari, Gunter e Roberta sugerem o Jardim de Verão, receita leve e fresca, que oferece crocância na base, cremosidade no recheio e colorido nos toppings, que podem incluir legumes, ervas frescas e flores comestíveis. Para completar a refeição, a receita de um saboroso doce de leite. No La Rouge, é servido com crepe de castanha-do-pará e banana, frutas da estação e cookie crocante, o que faz a felicidade de veganos, vegetarianos e também de quem opta por aderir a essas práticas por pelo menos alguns dias.

“O SEGREDO DA BOA COZINHA VEGANA É NÃO TENTAR SUBSTITUIR A CARNE POR UM INGREDIENTE PARECIDO, É DISSOCIAR DA COZINHA CARNÍVORA” (GUNTER SCHWABELAND FILHO)

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JARDIM DE VERÃO BASE CROCANTE 110 G DE FARINHA DE GRÃO DE BICO 110 G DE AVEIA 1 COLHER (CHÁ) DE SAL 75 G DE SEMENTE DE GIRASSOL 35 G DE GERGELIM 15 G DE LINHAÇA 20 G DE SEMENTE DE ABÓBORA 350 G DE ÁGUA 1/2 COLHER (SOPA) DE AZEITE EXTRAVIRGEM HUMMUS 200 G DE GRÃO DE BICO SUMO DE 1 LIMÃO 2 DENTES DE ALHO 2 COLHERES (SOPA) DE TAHINE SAL E PIMENTA-DO-REINO AZEITE EXTRAVIRGEM TOPPING FATIAS DE PEPINO, FATIAS DE RABANETE VAGENS BRANQUEADAS, FLORES COMESTÍVEIS MODO DE FAZER A BASE: Misture todos o ingredientes. Espalhe a mistura em formas forradas com papel antiaderente. A espessura da massa deve ser a mais fina possível. Asse em forno preaquecido, a 1500C, por 10 minutos. Retire do forno, demarque os pedaços com uma faca e retorne por mais 20 minutos, ou até que fique crocante. Guarde em pote hermeticamente fechado. MODO DE FAZER O HUMMUS: Coloque o grão de bico de molho por 10 horas. Cozinhe em panela de pressão por 4 minutos. Deixe esfriar e bata no processador até formar uma pasta. Adicione água, se necessário. Ajuste os temperos e finalize com azeite de oliva extravirgem. Espalhe uma porção de hummus sobre a base crocante e crie um jardim colorido com legumes, ervas e flores.



Sabor


DOCE DE LEITE DE COCO 200 G DE AÇÚCAR DEMERARA 1 LITRO DE LEITE DE COCO ARTESANAL 1 PITADA DE SAL LEITE DE COCO 350 G DE COCO NATURAL FRESCO 500 ML DE ÁGUA MODO DE FAZER: Bata no liquidificador o coco com a água. Coe em um pano e mantenha na geladeira. Em uma panela, derreta o açúcar e adicione o leite de coco. Cozinhe até reduzir drasticamente e que fique com textura de ambrosia. Deixe esfriar e leve ao liquidificador, batendo até que fique cremoso e homogêneo. Conserve na geladeira.

HARMONIZAÇÃO Os adeptos de veganismo sabem que as opções de harmonização de comida e vinho vão muito além das clássicas sugestões de carne vermelha com vinho tinto e vinho branco com peixe. A culinária vegana é muito rica e as opções de harmonização são infinitas. A ideia básica é tentar compensar o “peso” do prato com o “peso” do vinho, como sugere Natália Cacioli, sommelière da Evino, plataforma de e-commerce da bebida. Para comida com molhos ou frituras, o ideal é um vinho mais encorpado como um Malbec ou um Cabernet Sauvignon. Os brancos e rosés, que são vinhos mais cítricos e de corpo mais leve, vão bem com praticamente qualquer prato, como saladas de grãos e ceviche com coentro e limão. MALBEC – Espaguete de pupunha com molho de cogumelo e hambúrguer de lentilha. CABERNET SAUVIGNON – Moussaka vegana e moqueca de banana da terra. CHARDONNAY – Curry de abóbora com leite de coco e abacaxi e ceviche vegano de chuchu e nabo com leite de coco, limão e coentro. ROSÉ – Salada 7 grãos com manga e canelone de abobrinha recheado com rúcula e tomate seco.

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Vida C E L S O

G U T F R E I N D

ESFOLAR-SE É PRECISO A menina quer galgar o muro. Ele nem é muito alto, a não ser diante dela. O pai, maior que ambos, vem logo atrás e prontamente vaticina: – Tu vais te machucar! Mas algo que ele deve ter dito antes o contradiz agora e ela, felizmente, não ouve. Amparada pela surdez, tenta galgar o muro, dá o seu máximo, esfola o joelho e grita lá de cima: – Consegui! A alegria da menina contamina o pai, assustado ainda com o esfolamento. Ele pensa em sopro, gaze, mertiolate, nada que evite segurá-la nos braços (descer sozinha nem pensar) e comemorar com ela o sucesso dos dois. Mas este sucesso, infelizmente, vem sendo raro nas novas gerações. Os pais, na prática, vêm dando razão ao que filósofos, na teoria, chamam de tempos narcisistas e autocentrados: rasos, líquidos, focados no imediatismo da imagem e com pouca propensão ao tempo necessário para a palavra e o símbolo. Para a elaboração. Para o esforço e o inevitável esfolamento. Freud aqui parece ter acertado. Tornar-se mãe e pai ativa um núcleo narcísico e todos querem filhos perfeitos, o que inclui não machucarem a lisura imaculada de suas peles. Salva-se a fantasia desses pais de salvar a própria pele na de seus filhos, o que pode condenar um corpo inteiro. O imbróglio é que não se pode crescer sem se machucar. Sem se angustiar muitas vezes. Sem ficar triste muitas vezes. Paradoxalmente, as depressões e a ansiedade, quando sob a forma

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de um transtorno, decorrem também de não termos podido nos machucar, ficar tristes e angustiados com o que, olhando bem, é só a vida. E, como diziam aqueles filósofos que inspiraram esse Freud, a vida também é dor, tristeza, angústia e sofrimento. A vida também é morte. A nossa cultura vem nos ajudando muito no acesso a informações e a alternativas de cura para doenças antes fatais (quando há acesso), mas vem nos atrapalhando um bocado quando o narcisismo coletivo encontra o individual ou parental. É preciso falar sobre isso e falar sobre isso é o que a casa da psicologia oferece, além de um tempo para ficar triste e angustiado. É preciso esfolar-se, senão não se vai do muro à ponte com o deslocamento necessário para criar símbolos que nos ajudem a suportar a realidade e tecer novos vínculos. O verdadeiro sucesso dos pais é criar filhos capazes de partir. É amar e despedir-se, como cantou Pablo Neruda. O verdadeiro sucesso dos pais também esfola. Esfola a alma, mas a alternativa contrária, que é não separar-se, essa sim, inibe, estanca, destrói. Joelhos lisos saem bem na foto, mas quebram as pernas e as incompatibilizam com as andanças deliciosas e dolorosas dessa vida.

CELSO GUTFREIND É PSICANALISTA DE CRIANÇAS E ADULTOS E ESCRITOR


Sampa C R I S

B E R G E R

RETROSPECTIVA 2018 Dezembro é o mês oficial do quê? Das retrospectivas. Apesar de ser o “clichê do clichês”, resolvi pegar carona nessa ideia e listar os 5 lugares mais interessantes que tive a sorte de conhecer ao longo de 2018. Tem uma sugestão de férias e ótimos locais para confraternizações e encontros. Se você mora em São Paulo ou se estiver de passagem pela cidade, considere seriamente as minhas dicas de “top 5 2018”.

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TASCA DO ZÉ E DA MARIA Conhecido de velhos tempos, confesso. Mas fazia anos que eu não visitava a casa do carismático Zé Maria. Um belo dia, recebo o convite para a inauguração da área externa do Tasca. A calçada havia ganho sofazinhos, toldo, vasos de plantas. E à mesa seguiam as delícias portuguesas desta casa que está entre as melhores de São Paulo quando o assunto é gastronomia lusitana. Foi muito bom voltar e, desta vez, prometo não demorar tanto tempo para comer o bacalhau que arranca suspiros. tascadozeedamaria.com.br

O GARIMPO A cidadezinha de Embu das Artes, conhecida pela feira de artesanato, sempre esteve nos meus planos gastronômicos. Há pouco tempo, peguei o carro e fui conhecer O Garimpo: restaurante tradicional que serve um moqueca generosa no tamanho e no sabor! O clima colonial, as ruas de pedras e o ritmo bem menos acelerado fazem parte do programa, distante apenas meia hora da capital paulista. ogarimpo.com


MINHA RETROSPECTIVA SÃO PAULO 2018 INCLUI LUGARES ÓTIMOS PARA ENCONTRAR AMIGOS, CURTIR A GASTRONOMIA E O ASTRAL, ALÉM DE UMA MARAVILHOSA SUGESTÃO DE FÉRIAS

UNIQUE GARDEN Um dos hotéis mais incríveis em que já tive a oportunidade de me hospedar. Tudo é irretocável: a arquitetura de Rui Ohtake, o paisagismo elegante, o conforto sob medida, o spa dos sonhos, as refeições saborosas e bem apresentadas e o atendimento que surpreende a cada segundo que passa. Declaramos amor eterno ao Unique Garden ao descobrir que ele possui um trabalho social inspirador com a comunidade de Mairiporã, onde a propriedade está localizada, e com a ONG Encontrei um Amigo, que tira das ruas animais abandonados. Um hotel que une prazer com compromisso. uniquegarden.com.br

JACARANDÁ Quando se vive em uma cidade como São Paulo, poder sentir-se fora dela (mesmo sem sair) é um alívio. Foi exatamente isso que experimentei ao cruzar a portinha do Jacarandá, a poucas quadras da “nervosa” avenida Rebouças. Parecia que eu havia chegado em uma pequena cidade do interior do Estado ou de Minas. Se o cenário abraça, o cardápio conquista de vez. Comida boa. Muito boa! Pontos para a burrata que pedi como entrada. Mais pontos ainda para o peixe de prato principal e pontos eternos ao vulcão de doce de leite. jacarandabr.com.br

BEND CAFÉ Houve o tempo de boom dos brigadeiros, né? Eram tantas novidades, portinhas, marcas, lançamentos que apareciam do dia para a noite. De repente, parece que o mercado acalmou. Quem ficou tem um motivo especial. E desconfio que o Bend criou uma fórmula secreta para ter tanto movimento. Bem, depois de provar um brigadeiro a paixão é instantânea. O melhor? Eles colocam brigadeiro em tudo e fica maravilhoso! facebook.com/bendcafesp CRIS BERGER É JORNALISTA E ESCRITORA crisberger@crisberger.com

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Viagem


A terra do gelo, do fogo e do poder magnĂ­fico da natureza

Islândia T E X T O

E

F O T O S

P O R

B E T O

C O N T E


CAPITAL: REYKJAVIK LÍNGUA OFICIAL: ISLANDÊS GOVERNO: REPÚBLICA PARLAMENTARISTA ÁREA: 102.775 KM² POPULAÇÃO: 350.710 HAB. PIB PER CAPITA: US$ 54 288 (16.º) IDH: 0,921. O 9º NO MUNDO MOEDA: COROA ISLANDESA

A Islândia me instiga desde a época em que fiz o High School nos Estados Unidos e havia uma intercambista islandesa na minha cidade. Ela contava da origem viking do seu povo, do inverno rigoroso e da importância da indústria da pesca na sua ilha-nação. Uma década depois ouvi com curiosidade o relato de gaúchos que, com o trabalho de uma temporada em navios islandeses, viajaram um semestre pelo mundo. Ao longo dos anos as imagens dos glaciares e de vulcões em erupção compunham na minha cabeça esta intrigante combinação de frio ártico com ardentes vulcões. A cantora islandesa Björk, que me emocionara no filme “Dancing in the Dark”, colocou a ilha de volta no meu mapa de destinos de desejo. Relembrada também quando o país esteve nos noticiários internacionais com a crise financeira de 2008 e com o vulcão cujas cinzas fecharam o espaço aéreo europeu por uma semana em 2010. Mas, sobretudo, me fascinavam as histórias de uma ilha isolada por um milênio e que ao longo do século XX passou de uma das regiões mais pobres da Europa para os top 10 do IDH. Com esse conjunto de imagens é que embarquei no início de agosto para desvendar meu 137º país, e voltei ainda mais encantado com esta nação de apenas 330 mil habitantes, perdida no Atlântico Norte, a meio caminho entre a Escandinávia e a Groenlândia.

REYKJAVIK No dia em que chegamos jantamos na companhia da gaúcha Miriam Másson, que vive há 15 anos em Reykjavik, com seu marido islandês. Ao longo da noite fomos apresentados, por meio os relatos do casal, ao comportamento resi-

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A ISLÂNDIA É UMA ILHA VULCÂNICA QUE SURGIU HÁ 11 MILHÕES DE ANOS DE UMA FALHA ENTRE DUAS PLACAS TECTÔNICAS, A NORTE-AMERICANA E A DA EURO-ÁSIA

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O CLIMA RIGOROSO E AS DIFICULDADES DA VIDA EM UMA ILHA ISOLADA EXPLICAM A DETERMINAÇÃO

liente do islandês, que desde os primórdios dependia de sua autossuficiência para sobreviver em um ilha isolada, com clima rigoroso. As dificuldades explicam o caráter islandês, determinado e empreendedor até hoje. Em nossos quatro dias na encantadora capital de prédios baixos com telhados coloridos percorremos seu centro histórico, suas galerias e museus de arte, excelentes cafés e restaurantes e boas lojas de produtos artesanais em lã artesanal, além de equipamento para o frio da renomada marca 66° North. Ficamos em um aconchegante hotel, de frente para o Old Harbour, de onde saem passeios de barco por ilhas da baia de Reykjavik e onde está o Museu da Aurora Boreal, com seu fantástico show de luzes. Imperdível visitar a Harpa, a “opera house” da cidade, com arquitetura contemporânea e iluminação de fachada criada pelo artista Olafur Eliasson, inspirada nas cores das auroras. Também recomendo o Perlan, museu das maravilhas naturais da Islândia, que foi uma espécie de “trailer” do que nos esperava.

O INTERIOR DA ISLÂNDIA A partir de Reykjavik nosso Grand Tour Islândia fez um “loop” por toda ilha, percorrendo seus parques nacionais, cachoeiras, geleiras, gêiseres, fjords, canyons, monta-

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nhas e vulcões. Nos encantamos com a lagoa glacial Jökulsárlón, que consideramos a mais bela paisagem da Islândia, em frente à geleira Vatnajökull, a maior da Europa. Mergulhamos na “Islândia Profunda” com suas tranquilas vilas costeiras de pescadores e conferimos cenários únicos, como o lago Myvatn, cercado por campo de lava, vulcão Krafla e àguas termais. No norte da ilha adoramos o charmoso porto de Husavik, de onde partimos em nossa “caça” fotográfica às baleias. Também adoramos Siglo, onde foi filmado o seriado “Trapped”, da Netflix. Ao longo de dez dias desvendando belezas naturais intocadas, ficamos fascinados com o povo e as características únicas dessa ilha isolada no ártico. Compilei as informações a seguir a partir das exposições da nossa guia, a portuguesa Marina, e pela contribuição dos participantes dessa viagem de imersão cultural. Cada um compartilhava suas impressões e leituras, para entendermos melhor este fascinante país.

GEOGRAFIA A Islândia é uma ilha vulcânica que surgiu há 11 milhões de anos de uma falha entre as placas tectônicas norte-americana e a da Euro-Ásia. Esta formação e a posição


DOS ISLANDESES, UM POVO FASCINANTE. A NAÇÃO TEM APENAS 330 MIL HABITANTES

geográfica nos proporcionam a experiência única de caminhar entre as placas dos dois continentes. Ao longo da falha que corta o país de sudoeste a nordeste encontram-se 30 dos vulcões ainda ativos do mundo, entre eles o Eyjafjallajokoull. Quando ele entrou em atividade, em 2010, suas cinzas fecharam o espaço aéreo europeu por uma semana, colocando a Islândia em destaque na mídia internacional.

HISTÓRIA Os vikings nórdicos se estabeleceram nas regiões celtas da Escócia e Irlanda no início do século IX. As histórias de navegadores irlandeses em ilhas ainda mais a oeste levou alguns vikings a se assentarem na Islândia a partir de 874, levando mulheres, escravos e elementos culturais celtas. As raízes do povo islandês vêm desses dois grupos étnicos, com a proporção de 75% de sangue escandinavo e 25% celta na população islandesa atual. Landnamabok, o livro medieval da colonização, escrito em 1130, retrata os primórdios do assentamento humano na ilha, as disputas e aventuras desses exploradores, que descobriram também a Groenlândia e o Canadá antes da virada do primeiro milênio. Os vikings viveram na Islândia em clãs independentes até 1262, quando adotaram o rei norueguês como sobera-

no. Nos séculos seguintes, erupções vulcânicas, glaciação e a peste reduziram a população à metade. Para piorar ainda mais o quadro, a ilha passou a ser colônia dinamarquesa no final do séc. XIV, o que impôs um rigoroso monopólio por meio milênio, fazendo da Islândia uma das regiões mais pobres da Europa. A ilha permaneceu empobrecida e isolada do mundo até 1940, quando foi ocupada pelos Aliados, que utilizaram a Islândia como uma base estratégica entre a América e Europa continental durante a 2a Guerra. Naquele período, grande parte da população mudou-se para a capital para trabalhar na construção do aeroporto, de estradas e edificações para as tropas britânicas e americanas, que chegaram a compor 25% da população da ilha. Antes do final da guerra, os islandeses aproveitaram que a Dinamarca ainda se encontrava sob ocupação nazista para declarar sua independência. Para a Islândia, o jogo geopolítico militar da II Guerra foi benéfico e um divisor de águas.

ECONOMIA A Islândia recém-independente utilizou os recursos gerados pela ocupação Aliada para modernizar sua frota pesqueira, o que garantiu o enriquecimento contínuo do país ao longo do século XX.

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ISOLADA NO ÁRTICO, A ISLÂNDIA TEM BELEZAS NATURAIS INTOCADAS, COMO AS CACHOEIRAS E FJORDS 50

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No início do século XXI, o governo, confiante na continuidade do crescimento, captou recursos estrangeiros que elevaram a dívida externa a 10 vezes o PIB. Com a crise global de 2008, o país foi à bancarrota, viu suas riquezas evaporarem, a bolsa de valores implodir, além de inflação, desvalorização da moeda e desemprego na marca de 10%. Mas a ilha, que já teve de se reerguer após inúmeras erupções vulcânicas, mostrou novamente sua resiliência. Foi o país que mais rapidamente se recuperou da crise, utilizando bem os recursos de um empréstimo do FMI na recuperação econômica, priorizando o sistema de bem-estar social, o que fez a taxa de desemprego recuar para 3%. Até então dependente da pesca, que representava 75% do PIB do país, diversificou sua economia, investindo na indústria do turismo, que duplica anualmente ao longo da ultima década. O governo passou também a explorar mais o potencial energético hidroelétrico e geotermal. O baixo custo da energia elétrica (15US$/MWh) atraiu indústrias que demandam muita energia, e elas produzem 320 mil toneladas de alumínio por ano. Os data centers também têm se instalado lá pelo custo da energia – entre eles, o da mineração de criptomoedas, que exige computadores funcionando 24h, tornando-se o maior centro mundial de moeda digital. Com tudo isso, a Islândia gera um PIB per capita de US$ 54.288, o 16º maior do planeta.

PESCA O alinhamento geopolítico da Islândia esteve sempre ligado à pesca, determinante para a economia do país – inclusive levando à “guerra do bacalhau”, uma série de confrontos com o Reino Unido, entre as décadas de 1950 e 1970, pelos direitos de pesca nas águas do Oceano Atlântico Norte. Com a ameaça de fechar sua base da Otan, a Islândia assegurou desde 1976 a exclusividade de pesca em suas 200 milhas marítimas, extremamente piscosas. A pesca corresponde hoje a 40% das exportações do país, com 3 milhões de toneladas/ ano. O bacalhau, uma técnica de conservação que engloba 60 diferentes espécies, compõe 70% da pesca do país.

O POVO Na Islândia, até hoje o sobrenome de cada pessoa é o primeiro nome do pai com o sufixo “dotter” para a filha e “son” para o filho. Com isso, ao escolherem o nome do filho já determinam o sobrenome de netos. Graças às sagas que registraram a história dos primeiros colonizadores e pelos registros subsequentes ate os dias de hoje, a Islândia é o único país no mundo que tem mapeada a árvore genealógica de toda sua população. Processo facilitado pelo fato de esse povo ter ficado isolado do mundo por mais de um milênio. Todos na ilha têm alguma relação de parentesco de até no máximo sete gerações.

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A ILHA TEM UMA INTRIGANTE COMBINAÇÃO DE FRIO ÁRTICO COM ARDENTES VULCÕES. OS GLACIARES SÃO UM ESPETÁCULO À PARTE 52

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Existe um aplicativo que todo islandês tem no seu celular: colocando o número de identificação do interlocutor, o app fornece o grau de parentesco. Muito prático para os jovens nos bares saberem até onde avançar em um possível relacionamento. Brincadeiras à parte, a preocupação com a consanguinidade levou o governo a fazer a pesquisa genética de toda a população. Um banco de dados, em escala nacional, que apenas a Islândia tem.

PAÍS DA IGUALDADE Pelo 9º ano consecutivo, a Islândia tem o maior ranking de igualdade de gênero na área social, política e econômica. Resultado do sistema do bem-estar social do país, que proporciona os benefícios de educação e a saúde para toda sua população, e pelas conquistas das mulheres ao longo da sua história. Desde a colonização da ilha, quando os homens partiam para a pesca ou guerra, eram as mulheres que tinham de administrar as terras e comandar a família. Com essa tradição, já conquistam em 1850 direito igualitário em relação à herança e em 1900 direito ao voto. Em 1980 tiveram a primeira mulher presidente democraticamente eleita no mundo, Vigdís Finnbogadóttir, e em 2009 a primeira mulher primeira-ministra do país, Jóhanna Sigurðardóttir. Ficou famosa não só por ter sido a primeira chefe de governo declaradamente homossexual, como, principalmente, por ter tirado o país da crise econômica com o menor custo social possível. Essas conquistas se estendem a outros setores da sociedade – gays, estrangeiros e pessoas com necessidades especiais –, garantindo os mesmos direitos a todos os indivíduos, sem distinção. A combinação de igualdade, prosperidade e qualidade de vida confere à Islândia o 9º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano no planeta. Por tudo isso é que ficamos fascinados com a Islândia, um país onde o número de visitantes cresceu de 300 mil em 2010 para 2,1 milhões em 2018. Vale a pena conferir e se encantar.

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MUSEUS DE REYKJAVIK Perlan – Wonders of Iceland: museu dedicado às maravilhas naturais da Islândia. A exposição sobre os glaciares reproduz inclusive uma caverna de gelo. Fica a 2 km do centro e tem shuttle bus gratuito partindo da sala de concertos Harpa. www.perlan.is Culture House: o legado artístico e cultural da Islândia dos seus primórdios até hoje, desde manuscritos do século XIV até arte contemporânea. Em um belo prédio de 1908 restaurado, com um café e belas vistas. www.culturehouse.is Art Museum Kjarvalsstadir: leva o nome do mais popular artista clássico islandês (Johannes Kjarval 1885-1972), com suas pinturas de cenas da natureza. www.artmuseum.is National Gallery of Iceland: com pinturas dos séculos XIX e XX e esculturas de Sigurjon Olafsson. www.listasafn.is National Museum: excelente museu com artefatos dos primórdios da ocupação da ilha até os dias de hoje, dando uma ótima visão geral da história e da cultura da Islândia. Aconselho pegar o audioguide. www.thjodminjasafn.is Asgrimur Jonsson Collection: casa-atelier do primeiro pintor profissional do país, que viveu de 1876 a 1958. www.listasafn.is Einar Jonsson Museum: o mais famoso escultor do país, que entalhava no basalto. Viveu de 1874 a 1954. www.lej.is

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DICAS DE RESTAURANTES: Nosso jantar de boas-vindas foi no m.grillmarkadurinn.is, considerado o melhor restaurante da Islândia. O fish gourmet foi dos céus polares e o festival de sobremesa do demo. Recomendo ambos! Outro restaurante que adoramos foi Saegreifinn (barão do mar) – ambiente simples com decoração marítima, localizado no Porto. Minha dica são os espetinhos de frutos do mar e a famosíssima sopa de lagosta, servida com pãozinho e manteiga. Uma delícia! Dill é o restaurante mais sofisticado do pais e o único com uma estrela Michellin. Cozinha nórdica contemporânea com ingredientes frescos locais. www.dillrestaurant.is O apotekrestaurant.is tem pratos divinamente preparados em ambiente agradável em prédio histórico. Gostamos muito do Fish Company como o nome sugere, especializado em frutos do mar. Adorei o ambiente descolado em um antigo celeiro reformado. www.fiskfelagid.is Recomendo também jantar no nosso restaurante de despedida – The Food Cellar, com ótimo atendimento e culinária. matarkjallarinn.is MAIS INFORMAÇÕES sobre a Islândia e viagens pelo mundo com betoconte@stb.com.br , coordenador das 4 unidades em Porto Alegre do STB Trip & Travel da rede www.virtuoso.com, que congrega as melhores agências de viagens do mundo

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O sabor e o saber F E R N A N D O

LO K S C H I N

O LEITE O mamífero é um réptil que evoluiu para ter sangue quente, pelos e glândulas sudoríparas. O leite é um beneficiamento do suor; as mamas são glândulas sudoríparas subespecializadas em secretar leite. A continuação da nutrição placentária pela mama favoreceu a sobrevivência e deu aos mamíferos o domínio entre as espécies. Se o ornitorrinco, o menos mamífero dos mamíferos, mama lambendo o suor da barriga materna, há répteis quase mamíferos, as crias se alimentam roendo o couro das mães. Cada espécie produz um leite único, expressão de sua história biológica e ambiental. As mamas da baleia azul medem 1,5 metro e secretam 1000L diários de um leite viscoso como pasta de dente: 35% de gordura. Nascendo em águas polares, é urgente que seu filhote adquira um isolamento térmico, calorias. Se a baleia azul nasce maior que um elefante adulto, o bebê canguru não tem mais que 3cm. A gestação uterina é fugaz, quatro semanas, mas é complementada por longa estadia (3 a 12 meses) na bolsa abdominal da mãe, onde estão as glândulas mamárias. Plinio já relacionava o leite com condições ambientais: “O leite é mais abundante na primavera e sempre que o animal tem pastagem nova”. O leite reage à geografia. Na aridez do Saara, as camelas secretam um leite mais diluído a fim de hidratar o filhote: menos água no ambiente, mais água no leite. Por séculos, caravanas de beduínos puderam atravessar o Saara graças a essa adaptação das camelas. No primeiro compêndio de agricultura, Varrão (séc. I A.C.) descreve o leite como “o mais nutritivo dos alimentos líquidos, primeiro o leite de ovelha, depois o de cabra” e cita particularidades “o leite de égua é o mais purgativo, seguido pelo de jumenta e o de vaca”. Os primeiros europeus no Novo Mundo se espantaram por não ver os indígenas bebendo leite de búfalo, lhama ou alpaca; encontraram o inverso, índias levando ao peito ma-

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cacos e pacas órfãs. Os nativos eram intolerantes a lactose, aproveitavam a carne, a lã, a pele, a tração e a companhia do animal, mas não o leite. Alimento desenvolvido para recém-nascidos, o leite é crítico na sobrevivência de cada geração. ‘Crescei e multiplicai-vos’ é o preceito bíblico – a alternativa é a extinção. Bastariam 50 anos de esterilidade para que os homens, como os dinossauros, desaparecessem. Como no filme Filhos de Deus e na série Aias, não há maior exterminador de futuro que o fim da natalidade. O poeta Octavio Paz definiu o nascer como um ‘logro na morte’. Toda vida é perecível, renovável e interdependente. Cada ser vivo descende e depende de outros, um fato tão importante que parece instintivamente partilhado. A proteção natural à cria é universal, transcende o indivíduo e mesmo a espécie. Há centenas de casos de aloparentalismo na natureza: pássaros alimentando filhotes de ninhos alheios, cadelas amamentando gatinhos órfãos, porcas incluindo filhotes de tigres entre seus leitões. A valorização cultural do leite é maior que a das outras secreções corporais: urina, saliva, suor e sêmen. Churchill prometeu à nação inglesa em guerra nada além de ‘sangue, suor e lágrimas’ (1940), mas invocou o futuro: ‘não há maior investimento do que pôr leite na boca das crianças’ (1943). Sócrates dizia que a vida é como um pepino, mais azedo nas extremidades. A mortalidade perinatal só tem equivalência no polo oposto, na senilidade. Entre os primatas, a mulher tem o parto mais laborioso e pare o ser mais frágil. Para caminhar ereto e liberar os braços para a arma (primeira ferramenta), a evolução encolheu a bacia. O cérebro volumoso só atravessa o estreito canal de parto porque o recém-nascido tem ossos maleáveis e musculatura imatura. Devemos nosso cérebro ao leite. O bebê nasce quase um feto, um ser inacabado, incapaz de se movimentar ou sobreviver por si. Até pouco mais de


O LEITE É UM BENEFICIAMENTO DO SUOR; AS MAMAS SÃO GLÂNDULAS SUDORÍPARAS SUBESPECIALIZADAS EM SECRETAR LEITE. É UM ALIMENTO EMBLEMÁTICO: O MAIS DISCUTIDO, ESTUDADO E SUBMETIDO À LEGISLAÇÃO

século, um casal camponês precisava gerar uma prole de seis para que pelo menos dois filhos sobrevivessem e lhes dessem netos. Os partos eram frequentes e perigosos para mãe e filho. Havia muitas mães sem filhos a amamentar e muitos órfãos carentes de leite. Amamentação era sobrevivência, prevenção natural da diarreia, desidratação e desnutrição. A mortalidade perinatal é tão significativa que a lactação depende de um estímulo de sucção. Mesmo assim, a mãe que perdeu a cria procura filhotes alheios para aleitar e o guacho busca outra teta para aplacar a fome. Os homens aprenderam com os animais que na falta da mãe ou de seu leite, uma ama de leite – humana ou não – poderia ser empregada. O aleitamento animal é consequente à domesticação, surgiu há 8.000 anos no Oriente Médio – região do Irã e Iraque –, um clima desértico onde toda fonte de sustento é imprescindível. Ritos de fecundidade talvez tenham precedido ou se mesclado com nutrição. Alimento de rápida deterioração, o leite era consumido preservado em queijo, iogurte ou manteiga, as crianças mamavam diretamente do ubre de gazelas, cabras ou ovelhas. Todo laticínio resulta de uma dupla domesticação, uma visível – a do mamífero ordenhado – e outra invisível – colônias de micro-organismos capazes de fermentar o leite com resultados saudáveis e saborosos. Sepulturas de bebês contendo mamadeiras de terracota, madeira ou de cornos animais são achados arqueológicos egípcios comuns. Análises bioquímicas dessas mamadeiras revela caseína de origem animal. O leite in natura não é estéril, contém um bioma bacteriano dependente da saúde do animal, e sua degradação se inicia assim que deixa o ubre. O leite tem vida breve, os germes também se fortificam mamando. Milênios antes de Pasteur, os assírios já ferviam o leite para conferir alguma durabilidade. O imaginário está embebido em leite. Roma deve a existência à loba que amamentou Romulo e Remo. Salvo pelo ubre de uma vaca (G. bos), Beocio (G. boietius) foi o fundador mítico da Beócia, terra natal de Plutarco. Zeus foi alimentado

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O sabor e o saber F E R N A N D O L O K S C H I N

CADA ESPÉCIE PRODUZ UM LEITE ÚNICO, EXPRESSÃO DE SUA HISTÓRIA BIOLÓGICA E AMBIENTAL. AS MAMAS DA BALEIA AZUL SECRETAM MIL LITROS DIÁRIOS DE UM LEITE VISCOSO COMO PASTA DE DENTE: 35% DE GORDURA. O LEITE REAGE À GEOGRAFIA E ÀS CONDIÇÕES AMBIENTAIS por uma cabra, Almatea. Há quem atribua sua vida sexual a esta ama de leite. Símbolo de lascívia, o sátiro, o fauno e o diabo têm atributos caprinos. Em espanhol, cabrón (bode) é o marido infiel. Em relação ao peso, a cabra produz 4 vezes mais leite que a ovelha, 5 vezes mais que a vaca. Vacas, cabras, ovelhas, éguas, jumentas, búfalas, renas e camelas sempre deram suporte alimentar ao homem: calorias, vitamina D, caseína, lactose, lisina e hidratação relativamente livre de parasitas e micróbios. As porcas nunca foram aleitadas com fins alimentares: 15 segundos de fluxo em cada teta. Os antigos mungiam os animais com as vestes embebidas nas fezes e urina da cria, mantendo-a sempre próxima ao ubre. Estabeleciam rotinas inclusive cantando durante o procedimento, hábito frequente ainda no séc. XX. Um estudo mostrando que vacas que atendiam por nome próprio produziam mais leite que as vacas ‘despersonalizadas’ recebeu o IgNobel de Veterinária em 2013. Herodoto (séc. V A.C.) conta dos Cíntios inserindo uma tíbia oca no reto das éguas e soprando para estimular a lactação. Ainda hoje, tribos pastoris africanas sopram o ânus ou a vagina das vacas antes de ordenhar. Nas palavras de naturalista alemão, Peter Kolb (1719), “inflar o canal por onde o bezerro nasceu faz a vaca a produzir mais leite”. Foi na observação da ordenha (e ordenhadeiras...) que surgiu a vacinação, daí a origem em vaca. Edward Jenner (Séc. XVIII) percebeu que as jovens do meio rural tinham rostos mais belos que as londrinas por não ostentarem cicatrizes de varíola. A ordenha, tarefa feminina, fazia com que as camponesas contraíssem a varíola vacum que as imunizava contra a varíola humana, muito mais grave. Dependendo do local e época, a alimentação infantil predominante era ou leite materno ou o de amas de leite humanas ou animais. No final do Séc. XIX surgiram o leite em pó e o condensado, as fórmulas e as farinhas lácteas. Vários hospitais europeus, em vez dos atuais lactários, tinham tambos. Era famoso o plantel de jumentas do hospital São Vicente de Paula em Paris (1877): órfãos e enjeitados mamavam no ubre dos animais. Não pode causar estranheza que o leite mais afim ao humano seja o do macaco. Conforme a tradição, o burro

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– que como o homem tem um estômago só – teria o leite mais apropriado à criança, depois a cabra e a vaca, ambos ruminantes com 4 estômagos. O Papa Francisco conta da sua mãe suplementando suas mamadas com leite de burra, daí Noé e Teia, casal de burros presenteados ao papa que vivem no Castel Gandolfo, sua residência de verão. O leite é um alimento emblemático, o mais discutido, estudado e submetido à legislação. Também é o mais adulterado. Água para volume, formol para conservação, giz e pó de mármore para clareamento, melaço, repolho e cenoura para consistência e até cérebro de animais para cremosidade são ‘maleficiamentos’ centenários. A Nature, ainda hoje uma das principais revistas científicas, publicava em 1871 um artigo sobre o leite artificial made in France. Dr Gaudin fabricara a baixo custo 500,000 litros de uma emulsão de ossos, gordura e gelatina muito nutritivo e de ‘sabor intermediário entre o do leite e queijo’. Um Dr. Fund complementava sugerindo que a carcaça de animais mortos por peste ou tifo poderia ser aproveitada, o cozimento tornaria o ‘leite’ inócuo. Alimento, saúde, juventude, beleza e sexualidade são mundos entrelaçados. Creme é a nata do leite; o termo, como Cristo e crisma, é afim ao G. kris ‘untar, besuntar o corpo’. Nada mais liso e macio que a pele do bebê, daí o vínculo do leite com juventude e beleza, daí o I. baby. O leite, curiosamente o de burro, era o segredo de beleza três grandes sedutoras. Cleopatra, a última dos faraós, tomava banhos de leite de burra, 700 animais ordenhados para seu tratamento de beleza. Popeia Sabina, esposa de Nero, ao viajar levava uma tropa de centenas de animais para seus banhos de leite. E Messalina passava boa parte do tempo com o rosto envolto numa máscara de beleza, miolo de pão embebido em leite. E a outra parte? Plinio conta do triunfo de Messalina na competição com sua camareira: 25 parceiros em 24h, e Juvenal é sombrio sobre o ofício oculto da Augusta meretrix: ... ‘a última a deixar o serviço’ ... ‘arrastando-se tristemente’ ... ‘exausta por homens’... ‘vulva inchada e ardendo’... ‘carregando para o leito imperial o fedor do bordel’. FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br


Casa

Fotografia

arte Expressão do Olhar Autêntico P O R

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F L AV I A

M U



Casa

OBRA: SÉRIE ENLEIO 2008 AUTOR: LETÍCIA REMIÃO

rte é expressão do olhar. É técnica, reflexo do tempo e projeção de ideias e ideais. É, sobretudo, um espelho de mentes inquietas. A fotografia demorou um tempo para ser reconhecida pelas escolas de Belas Artes – o que aconteceu somente a partir do século XX –, mas isso mostra seu potencial de fazer sentir. Para Paula Bohrer, curadora da galeria Modoo, a fotografia tem força equivalente às demais artes, como a pintura e a escultura. “É mais uma entre tantas técnicas e veículo de suporte da arte. E entendo que é natural a ascendência da fotografia. Mais flexível e aberta, de alguma forma, é um caminho mais próximo das artes. Podemos dizer que se ‘popularizou’ e vem reforçando este novo local”, observa. A fotografia fine art é aquela que tem valor de obra de arte. “É produzida de forma artística e estética sem a preocupação de ser documental ou comercial”, explica. Para muitos profissionais, a fotografia fine art é uma oportunidade de escape: um exercício de libertação criativa e de experimentação para o fotógrafo. “É o espaço para o autoral e para a linguagem autêntica do artista. Há um processo de autoconhecimento e uma pesquisa. O resultado é uma visão e assinatura únicas”, comenta Paula. Não à toa, os mais importantes museus do mundo têm investido em coleções de fotografia. Entre muitos nomes importantes, Paula tem acompanhado o

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FOTO: ROBERTA GEWEHR

ATELIER GREICE ANTES


FOTO: LETÍCIA REMIÃO

trabalho de artistas como Petecia Le Fawnhawk, Amy Friend e Justin Dingwall. A arte brasileira, por sua vez, aparece com algum destaque no cenário mundial. “Fotógrafos modernos brasileiros hoje possuem obras antes ditas como experimentais totalmente reconhecidas e inseridas na cena artística. O MoMA – Museu de Arte Moderna de Nova York tem mais de 90 obras só de fotógrafos daqui em seu acervo.” A fotografia pode ser um ‘atalho’ para quem busca incorporar a arte no dia a dia. “O que percebemos é que a fotografia se relaciona muito bem com o nosso momento de vida: dinâmico e de múltiplos estímulos por vários sentidos”, avalia Paula. E as paredes contam sobre a personalidade de quem vive ali por meio das escolhas dos moradores. Uma fotografia traz força para a decoração. “É preciso levar em conta a identidade do local, o conceito do ambiente, a intenção e a atmosfera que se quer criar e, principalmente, a obra conversar e fazer sentido para o comprador e para as pessoas que irão conviver com ela. Uma obra de arte deve ser atemporal, deve ser um espelho da própria personalidade e deve inspirar”, sugere. Quem visita o atelier da estilista Greice Antes encanta-se com a enorme fotografia atrás de sua escrivaninha. A obra desperta a curiosidade. E, depois de uma conversa, percebe-se a delicadeza ali presente. “Essa foto é preciosa pra mim. Porque é de uma fotógrafa e amiga que eu admiro muito, a Letícia Remião. Ela tem o olhar sensível, elegante, curioso, autêntico. E eu estou ali, enrolada na arte da Lia Menna Barreto. Mais que contemplar uma obra, o que conta pra mim é dar valor também ao processo. E quando tem sentimento intrínseco, tudo fica mais belo e maior”, revela Greice.

FINE ART É A FOTOGRAFIA QUE TEM VALOR DE OBRA DE ARTE. É PRODUZIDA DE FORMA ARTÍSTICA, SEM PREOCUPAÇÃO DOCUMENTAL

OBRAS: CLOUD 80 X 120 AUTOR: FABIAN GLOEDEN (RS) PROJETO DE ARQUITETURA: ANDRÉA MAGALHÃES ARQUITETURA


FOTOS: ROBERTA GEWEHR

Casa

OBRA: PENA 80 X 120 AUTOR: FABIAN GLOEDEN (RS) PROJETO DE ARQUITETURA: ANDRÉA MAGALHÃES ARQUITETURA

OBRA: DIOR EM PARIS 100 X 100 AUTOR: FERNANDA NAMAN (SP) PROJETO DE ARQUITETURA: JULIANA DAMASIO ARQUITETURA

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Casa Galeria Fine Art REUNIMOS NESTAS PÁGINAS AS OBRAS DE ALGUNS FOTÓGRAFOS CONSAGRADOS QUE TRANSITAM PELO UNIVERSO DA FINE ART, PRODUZINDO IMAGENS BELÍSSIMAS. CADA UMA COM SEU TEMA, SEU ESTILO E SUA PROPOSTA ESTÉTICA ÚNICA

OBRA: MÁS CALMA AUTOR: CELSO CHITTOLINA

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OBRA: CANOA EM TRANCOSO AUTOR: CHRISTIANO CARDOSO


Casa

OBRA: SEM TÍTULO AUTOR: LUCAS CUERVO MOURA

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OBRA: SÉRIE MONTE BELO 2018 AUTOR: FABIO DEL RE

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Equilíbrio C H E R R I N E

C A R D O S O

FOI BOM PRA VOCÊ? Que ano este, hein, minha gente! Intenso, forte, cheio de grandes emoções. Mas acredito que você, assim como eu, sentiu algo da mesma forma: passou rápido. De novo, dozes meses que voaram. Eles estão se atropelando e aqui estamos de novo, analisando o que rolou de bom e de ruim, o que vale a pena manter e o que já tá mais do que na hora de abrir mão. Ciclo novo que chama, né? Sabe que isso foi algo que no universo energético se falou muito também. Dentro do Yoga, das terapias alternativas, da astrologia, do espiritualismo, enfim, em todas essas correntes ouvimos que estamos entrando numa fase muito especial para a espécie humana. Há algo de muito bom vindo em nossa direção. No entanto, como o mundo é feito de dualidades, para se ver e sentir o lado bom, talvez seja necessário passar por momentos difíceis e ruins. E também sei que, assim como eu, muitos concordarão que veremos esses dois lados muito presentes no tempo que se segue. E não é só no Brasil, não. As escolhas da maioria têm sido muito contestadas, discursos inflamados, intolerância crescente; mas é preciso um chacoalhão para o despertar! E isso serve pra todo mundo. E o que nos cabe então? O que podemos fazer para contribuir com a energia boa e não com a ruim? Primeiro e mais importante: é preciso estar atento às coisas que você vê quando desacelera. O que eu quero dizer com isso? Estamos o tempo todo inseridos em tantas interferências, tanta informação, tantos julgamentos e críticas, que acabamos por nos distanciar de algo que é extremamente importante para qualquer análise: a nossa essência. E como você faz para se conectar com quem você realmente

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é? Comece por gostar de estar em sua companhia. Esteja presente na sua vida em todos os momentos, não só de corpo, mas de alma também. Escute a sua voz interior, se desligando e se distanciando um pouco dessa quantidade de conexões virtuais. Sai da tela fria do celular e volte a ver a vida à sua volta. Para encontrarmos quem somos precisamos invadir o nosso íntimo, enfrentar a profundeza escura que se formou ao redor da nossa luz interior. E as vezes dói. Tá bom, sempre dói. Quando estamos indo na direção de uma luz forte é normal os olhos se fecharem, até arderem um pouco, mas depois, quando nos acostumamos com o brilho, conseguimos encará-lo sem problemas e ele dá uma clareza linda em tudo que está ao nosso lado. Não é assim? Quando então conseguimos evoluir, nos reconectando com nossa individualidade para além das máscaras que sustentamos para lidar com o externo, é aí que então entendemos a força energética que possuímos para alterar tudo o que quisermos na vida. Portanto, hora de mexer com isso aí dentro de você! Não sabe como ainda? Procure profissionais que possam te auxiliar nesse caminho de reencontro de você consigo mesmo. Yoga, reiki, theta healing, barra de access, constelação familiar, radiestesia radiônica e tantos outros segmentos alternativos que podem te ajudar nesse caminho. Aproveite que o ano está virando e faça uma lista de tudo o que você pode vir a conhecer neste 2019 para mudar o rumo energético que começa em você e reverbera no mundo. Estamos todos conectados! CHERRINE CARDOSO É AUTORA DOS LIVROS A INCRÍVEL ARTE DE DESAPEGAR E REINVENTE-SE: QUANTAS VIDAS SE VIVE EM UMA VIDA? WWW.AINCRIVELARTE.COM


OpusLab

Vivências

teatrais

Desde 2017 a Opus Promoções oferece cursos de artes cênicas infantil e infantojuvenil em Porto Alegre, proporcionando às crianças uma vivência completa do universo do teatro. O projeto OpusLab tem como objetivo promover um entrosamento diferente entre o público e a cultura, e ajudar no desenvolvimento de diversas competências, como expressão corporal e vocal, atuação e criatividade. As aulas ocorrem dentro do Teatro do Bourbon Country e exploram desde o palco até os camarins, proporcionando um ambiente de trocas e aprendizado intensos. É um espaço para despertar e

POR FOTOS

CRISTIANE E

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TACIANE

VILMAR

CORRÊA

desenvolver habilidades de comunicação, colaboração, criati-

MOREIRA

vidade e empatia, por meio da criação e desenvolvimento de

CARVALHO

cenas e da montagem de espetáculos teatrais.


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OpusLab

MAIS DO QUE ENSINAR A ATUAR, O OPUSLAB TRABALHA ASPECTOS COMO DESINIBIÇÃO, EXPRESSÃO CORPORAL, CONSCIÊNCIA DO COLETIVO, EMPATIA, COMPARTILHAMENTO, IMAGINAÇÃO E CRIAÇÃO

MUITO MAIS DO QUE AULAS DE ATUAÇÃO As três professoras responsáveis pelas aulas se dividem para coordenar atividades em módulos de aprendizagem que abordam os mais diversos gêneros teatrais, e elaboram programas voltados para cada faixa etária de alunos. Para a turma infantil a metodologia inclui jogos teatrais, interação e autoconhecimento, além de brincadeiras para o desenvolvimento da motricidade e da consciência corporal. Com os alunos da turma infantojuvenil são propostos exercícios de desinibição, improviso e música, que desenvolvem a inteligência corporal e espacial, a noção de coletivo e de individualidade, a generosidade de compartilhar, os laços de amizade e a empatia. Criatividade e imaginação também fazem parte do programa, como explica a professora Júlia Rodrigues: “A imaginação é estimulada quando, por meio de brincadeiras, jogos e exercícios, concretizamos situações, histórias e personagens criados pelas crianças. A sala de aula passa a ser um navio, uma praia ou floresta, e os alunos, personagens desse cenário”. A vivência no palco e o entrosamento nos processos de montagens cênicas e direção também são processos recorrentes no OpusLab. Os alunos têm a oportunidade de conviver com montagens e ensaios de espetáculos profissionais, peças teatrais e shows que acontecem no Teatro do Bourbon Country nos dias de aula. Ao final de cada ano, o OpusLab apresenta um espe-

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táculo em que, além de atuar, os alunos participam do desenvolvimento de cenas, montagem teatral e produção da peça.

(DES)CONECTADAS • 2017 A apresentação de 2017 teve roteiro inédito e participação dos atores Gabrielle Fleck e José Victor Castiel. O espetáculo questionou o vício da conectividade, a dependência de smartphones, tablets, vídeos e games online. O espetáculo fez uma viagem no tempo para relembrar às crianças que um mundo sem internet já existiu. Neste resgate de uma infância sem tecnologia, o elenco se transporta para a década de 20 e chega aos anos 90 em uma jornada repleta de momentos em família e aventuras inesquecíveis.

PEQUENÓPOLIS • 2018 Para encerrar as atividades de 2018 os alunos encenaram uma aventura por um mundo mágico. A narrativa se passa em uma pequena cidade construída com amor pelas mãos de seres gigantes e encantados. O lago, que por muitos anos fez a alegria do vilarejo, com sua fauna e flora exuberantes, está doente. A ideia de aterrar o lago causa alvoroço e divide a população. Alguns entendem a mudança como a oportunidade de modernização da cidade, outros como uma perda do patrimônio natural. Um grupo de crianças se mobiliza para proteger o lago e seus seres encantados, que os adultos já não enxergam mais. Além do tema atual e importante, a peça também foi um marco pela qualidade da produção.


FICHA TÉCNICA: DIREÇÃO CÊNICA:

Júlia Rodrigues e Lúcia Panitz ROTEIRO:

Júlia Rodrigues COORDENAÇÃO GERAL E PRODUÇÃO:

Julia Cordova ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO:

Laís Rosa e Mely Paredes DIREÇÃO DE ARTE: Antonio Rabadan CONSTRUÇÃO VISUAL, CENOGRAFIA E FIGURINOS:

Ateliê de Moda Design ESPM-Sul ASSISTÊNCIA:

Mayara Reis e Taiane Lunardelli FIGURINOS:

Titi Lopes MAQUIAGEM:

Lorenzo Vieira, Luana Zimmermann e Lara Guimarães ILUMINAÇÃO:

Guto Greca TRILHA SONORA:

Nina Nicolaiewsky VÍDEOS: Jana Castoldi ARTISTA CONVIDADO:

Gabriel Martins ASSISTENTES DE PALCO:

Letícia Aragon, Monique Petrovichi, Gabriela Castro e Maria Guimarães APOIO:

ESPM, Bike Tech Moinhos e Colégio Farroupilha REALIZAÇÃO:

Opus Promoções

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Lugar

Cartagena: um presente

do passado T E X T O

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F O T O S

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A N A

C A R O L I N A

B O L S S O N


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CARTAGENA É O BALUARTE CARIBENHO, COM SEU COLORIDO, SUA ARQUITETURA COLONIAL E SUAS MURALHAS

Com ruas estreitas, arquitetura colonial e parte da área central cercada por muralhas, Cartagena das Índias conta a história da América do Sul. Em pleno século 21, o povoado é uma grata descoberta pela força de sua resistência histórica e preservação da memória que sobrevive há séculos. Por isso, não é exagero dizer que é um presente do passado. O baluarte caribenho, testemunha de episódios latino-americanos marcantes, transformou-se em um dos roteiros turísticos preferidos dos brasileiros, uma das principais atrações na vizinha Colômbia e um dos destinos mais populares em ascensão no mundo. A cidade merece o investimento e a insistência. Muitos guias julgam ser um destino superestimado, e a verdade é que por trás das fachadas coloridas de impacto imediato, da história pulsante, da beleza natural, da população receptiva, do clima romântico e charmoso da cidade velha, Cartagena dá trabalho. Exige informação prévia e tempo para ser explorada com calma e percebida com atenção como um presente desembrulhado aos poucos, mas que vale o empenho. Portanto, ao preparar a mala e o espírito, separe sapatos confortáveis, roupas leves, repelente, chapéu, protetor solar e máquina fotográfica, mas não esqueça o essencial: curiosidade e sede de aprender, pois ali tem muito mais

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do que parece. Se é considerada um tesouro entregue a nós, é também símbolo da importância da preservação para as próximas gerações. Para a Espanha, Cartagena serviu por dois séculos; para a América, sua história de resistência e ícone da usurpação colonial deveria servir para sempre. Invadida pela primeira vez em 1503, Cartagena de Índias, como é denominada no território hispanohablante, foi fundada em 1533 pelo navegador Pedro de Heredia. Seu primeiro nome é uma homenagem a Cartago, no Mediterrâneo, berço de diferentes civilizações; o segundo confirma a crença mantida à época de que haviam chegado ao Oriente. Seus famosos feitos de bravura são lembrados pelos dois séculos seguintes, porém antecedem o domínio espanhol. Conta a história que ali viveram tribos de guerreiros indígenas aguerridos. Deram trabalho às primeiras expedições que se atreveram a desembarcar em suas praias. Durante o período colonial, contudo, tornou-se a cidade mais importante para a coroa fora do território europeu. De frente para o Mar do Caribe e pertencente a um território que liga o Pacífico ao Atlântico, Cartagena sempre foi vista pelo reinado como um ponto estratégico e, por isso, transformou-se em um entreposto espanhol. Todo o ouro, a prata, esmeraldas e outras gemas preciosas,


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PASSEAR POR CARTAGENA É REVISITAR O PASSADO. É UMA CIDADE PARA DESBRAVAR A PÉ. O CENTRO HISTÓRICO MURALHADO REÚNE ATRAÇÕES IMPERDÍVEIS, VERDADEIROS TESOUROS

madeira e matérias-primas extraídas das colônias e até escravos eram levados para lá e, então, embarcados rumo ao velho continente. Foi, até a sua independência, em 1811, a maior cidade do Vice-Reino da Nova Granada, que abrangia, no período, os países que hoje conhecemos por Colômbia, Panamá e parte do Equador. A prosperidade em virtude do trânsito de riquezas atraiu interesses e a transformou em alvo predileto de piratas, corsários e exércitos, em sua maioria, franceses e ingleses. Os sucessivos ataques seguidos de incêndios, roubos, cerco e perseguições aos habitantes fizeram os espanhóis intensificarem a proteção com a construção daquele que se tornaria um dos seus maiores ícones, a muralha de pedra. Já não era suficiente esconder as relíquias em igrejas, monastérios e conventos, era preciso evitar a entrada dos invasores. Assim, a partir de meados do século 16, deu-se início à construção do grande sistema defensivo de 11 quilômetros de extensão. Durante a obra, que durou cerca de 200 anos, Cartagena seguiu sendo saqueada pela pirataria. Com o passar do tempo, uma parte das muralhas foi destruída, mas ainda hoje é possível observar a imponência da fortificação e caminhar sobre ela em pontos em que a largura chega a 15 metros. Também remonta a esse período o início da obra do Castelo de

São Felipe de Barajas, outro importante ponto de defesa e blindagem. Considerado a maior obra militar espanhola na América Latina, o Castelo é um importante ponto de visitação. Além da vista panorâmica, permite que os turistas percorram seus túneis e masmorras subterrâneos escavados para facilitar a fuga e a rápida evacuação. Com terreno plano, o centro histórico merece ser explorado a pé e sem pressa. Passear por Cartagena é mergulhar na história e revisitar o passado, especialmente a Catedral ou Basílica Menor Santa Catalina de Alejandría. A visita, com o auxílio de um guia-áudio adquirido na entrada, permite sentir-se um nativo do século 16, sitiado durante o ataque do temido corsário Francis Drake, e reviver o momento ouvindo estrondos de tiros de canhão. Na ocasião, o famoso invasor francês quase destruiu a igreja de profunda influência espanhola. Antes e mesmo depois desse que é considerado um dos mais violentos ataques, o povoado também foi vítima de outras esquadras lideradas por nomes como Robert Baal, Martín Coté, John Hawkins, barón de Pointis e Edward Vernon.

PARA DESBRAVAR A PÉ Cartagena se divide entre a parte moderna, com pré-

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Viagem Lugar

CARTAGENA REÚNE, NO MESMO DESTINO, UMA VIAGEM AO PERÍODO COLONIAL LATINO-AMERICANO E A

dios altos de arquitetura contemporânea no bairro denominado Boca Grande, e o centro histórico muralhado, onde é possível percorrer a pé e desbravar tesouros remanescentes, como as Bóvedas – conjunto de galerias secular que integrou armazéns e forte e que atualmente é o maior centro artesanal da cidade. Ou o Museu Naval, com o registro de mapas e equipamentos dos inúmeros ataques de bucaneros, piratas e corsários que ali chegaram em busca de preciosidades. Outras atrações são o Convento de Santa Cruz de La Popa, afastado do centro e localizado numa das partes mais altas, e o Museu do Ouro, com um rico acervo de joias, adereços e objetos dos povos indígenas, primeiros habitantes da região. Distribuído pelo centro histórico, o harmonioso conjunto arquitetônico é marcado por um casario de cores intensas, com balcões de madeira torneados abraçados por vasta vegetação florida tropical que pende das sacadas e quase lambe o chão. O passado de Cartagena também tem espaço para um capítulo sombrio: a Inquisição. Como sede do Tribunal do Santo Ofício, a cidade abrigou o QG para condenação e tortura por heresia, entre outros crimes considerados pelo Cristianismo. Réplicas de instrumentos aterrorizantes utili-

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BELEZA DO CLIMA TROPICAL COM LITORAL POLICROMÁTICO, DO AZUL-PISCINA AO VERDE-ESMERALDA

zados para sofrimento fazem parte da coleção em exposição permanente no Palácio da Inquisição, que tem no design do casario de arquitetura colonial o seu ponto alto. Na fachada, um detalhe torpe quase passa despercebido: a janela da denúncia, pequena escotilha onde as testemunhas de atos de heresia faziam suas delações. Para relaxar e desfrutar do clima descontraído, não faltam opções fora do senso comum. Uma delas é conhecer o interior do Sofitel Santa Clara, hotel da rede francesa instalado em um convento erguido em 1621 e que preserva a arquitetura original da construção. Cenário central da obra Do Amor e Outros Demônios, de Gabriel García Márquez, revela jardins exuberantes e pássaros silvestres mantidos amigavelmente soltos. Vale admirar a beleza das galerias e a decoração despojada, mas impecável. À noite, as praças da cidadela cercada reúnem uma amostra da diversidade local. Há apresentações de grupos de danças folclóricas, vendedores ambulantes de comidas típicas e feiras de artesanato, onde, procurando bem, é possível identificar achados com pérolas e casca de coco. Realizados durante todo o dia, mas a partir do entardecer

ganhando um toque especial, os passeios à moda antiga em charretes puxadas por cavalos levam os visitantes pelas ruelas estreitas como uma viagem ao passado. Cartagena carrega uma áurea de realismo fantástico. Cenário de outro romance de Gabo, O amor nos Tempos do Cólera, foi residência por um ano do prêmio Nobel colombiano que morreu em 2014. Sua mansão de esquina continua lá, bem cuidada de frente para o mar, e apesar do alto muro, o jardim é constantemente esmiuçado por curiosos das janelas do hotel lateral. No país considerado produtor das esmeraldas de maior qualidade do mundo, o destino não desaponta. É possível conhecer lojas certificadas e adquirir gemas de tamanhos e valores variados. Cartagena atrai turistas do mundo todo por unir em um mesmo destino uma viagem ao período colonial latino-americano a um clima tropical com litoral policromático de paleta do azul-piscina ao verde-esmeralda que dispensa comentários. Seu mar de sete cores, como é conhecido, é mais bem desfrutado longe do centro nas 27 ilhas que formam o arquipélago Ilhas do Rosário, localizado a cerca de 1h de lancha. Um passeio imperdível.


Lugar A CIDADE FOI DECLARADA PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA HUMANIDADE PELA UNESCO. ATUALMENTE QUANTO CUSTA A APOSTA Em 1984, foi declarada Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco. De lá para cá, viu se o turismo crescer de forma intensa. Para brasileiros, o câmbio é favorável e faz com que a procura pelo destino não diminua mesmo com o dólar alto. É possível adquirir pacotes terrestre e aéreo incluídos por volta de R$ 1,8 mil por pessoa, partindo de Porto Alegre, para cinco diárias. Cartagena logo caiu no gosto dos brasileiros ao entrar no mapa do nosso turista no início da década. Depois de 2014, ano em que o número de brasileiros cresceu 125%, valor muito superior às outras nacionalidades, a cidade se consolidou como um dos destinos preferidos no Caribe, atingindo um crescimento sem precedentes, segundo dados oficiais. Atualmente, empenha-se para se manter entre as preferências, embora busque alternativas para não afugentar os hóspedes com a alta dos preços praticados. O setor turístico representa um dos grandes motores da economia local. Além do aeroporto, muitos visitantes chegam via cruzeiros. O ano de 2017 foi considerado excelente para o setor, a ponto de se converter no segundo gerador de divisas ao país, superando produtos tradicionais como café e flores, segundo dados do Banco de República. A expectativa é de que 2018 se encerre ainda melhor e que o próximo ano tragas novas oportunidades. Além de outros populares destinos com Bogotá, Medellín, Cali e San Andrés, uma das grandes apostas é a promoção de regiões afetadas pelo conflito armado entre as Forças Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o governo colombiano que terminou em 2017, após 52 anos. Não há dúvida de que a paz tem aumentado o interesse por regiões anteriormente rechaçadas por turistas, inclusive do próprio país. Para evitar filas e concentração de turistas, vale a pena aproveitar a baixa temporada, porém o clima não muda. O calor e a umidade são implacáveis durante todo o ano, o que praticamente inviabiliza quartos sem ar-condicionado. E mesmo quando a brisa do mar sopra, ela é tão quente que faz lembrar os dias mais quentes do verão porto-alegrense. Também nem sempre é fácil se desvencilhar dos ambulantes, que, ávidos pelos recém-casados em lua de mel, mochileiros e casais de meia-idade, perfis dominantes entre os visitantes, cercam e oferecem insistentemente acessórios feitos com artesanato local.

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É UM DOS DESTINOS PREFERIDOS NO CARIBE


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mulheres que amamos

QUE ALEGRIA E QUE HONRA TER EM NOSSAS PÁGINAS AS DUAS MULHERES QUE VOCÊ VAI CONHECER A SEGUIR. RAFAELA UNGARETTI TEM IDADE DE MENINA E SABEDORIA DE ANCIÃ. TRANSFORMOU DIFICULDADES EM DESAFIOS, DOENÇA EM REALIZAÇÃO, TRISTEZA EM ESPERANÇA. QUE MENINA FANTÁSTICA! GABRIELA MICHAELSEN É TAMBÉM BASTANTE JOVEM, MAS TEM AMPLA EXPERIÊNCIA NO MUNDO DOS NEGÓCIOS. ADVOGADA, LARGOU A PROFISSÃO PARA COORDENAR EMPREENDIMENTOS DA FAMÍLIA E HOJE COMANDA A

HARD ROCK CAFÉ, EM GRAMADO.

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FOTO: RAFAEL FOSSA

PRIMEIRA FRANQUIA REGIONAL DO


RAFAELA UNGARETTI Conversando com a gaúcha Rafaela Ungaretti, 20 anos, descobrimos que ela tem paixões comuns a muitas jovens: ama animais, viajar e escrever. Mas seu maior sonho é bem diferente dos desejos da maioria das garotas de sua idade. O que mais deseja é encontrar a cura da doença de que descobriu ser portadora no início da adolescência. Tudo começou aos 4 anos, quando seus pais, João e Karen, descobriram que Rafaela era diabética. Desde cedo aprendeu os cuidados com a alimentação e a controlar a glicemia. Aos 11 anos, a audição começou a falhar e ela iniciou o uso de aparelhos auditivos. Dois anos depois, a visão apresentou problemas. A soma de sintomas intrigou a família, que iniciou uma peregrinação a médicos, na busca de um diagnóstico. E foi nos Estados Unidos que descobriram ser Rafaela portadora da Síndrome de Wolfram, raríssima doença neurodegenerativa progressiva, que compromete a função de órgãos vitais como o cérebro, os rins, o coração, a bexiga e o pâncreas. Após o baque inicial, a tristeza e o desânimo foram superados com o amor incondicional da família e amigos. O pai de Rafaela descobriu uma fundação norte-americana chamada Snow Foundation, dedicada a levantar fundos para a pesquisa da doença. A família viajou até St. Louis, no Missouri, para conhecer Stephanie

SnowGebel, fundadora da instituição. Foi nesse momento que o principal projeto da vida de Rafaela começou a nascer, a Wolfram Inside (www.wolframinisde.org). Por meio dessa organização sem fins lucrativos, Rafaela compartilha informações sobre a doença e, em textos e vídeos, conta a sua história. Além disso, realiza campanhas para levantar fundos que ajudam portadores da síndrome e são investidos em pesquisa científica. Mais recentemente, ela e sua família criaram a Associação Brasileira da Síndrome de Wolfram, dedicada a ajudar pacientes, informar a população e buscar a cura da doença. Desde maio de 2017, Rafaela mora em Los Angeles, na Califórnia. Neste ano ganhou a companhia do labrador Skip, seu cão de serviço. Por lá, estuda braile e fotografia, e em breve iniciará o curso de Administração. Com dificuldade para enxergar, ela escolheu os Estados Unidos pela acessibilidade que oferece às pessoas com deficiência. Apesar dos desafios diários que a doença lhe impõe, Rafaela é otimista e feliz, vivendo com o máximo de autonomia possível. Obstinada, terminou de escrever sua autobiografia, que deve chegar às livrarias em 2019. POR ANA GUERRA, JORNALISTA


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GABRIELA MICHAELSEN cífico. Munidos dos dados turísticos sobre a cidade de 35 mil habitantes – que recebe até 6 milhões de visitantes por ano – conseguiram convencê-lo de que Gramado tinha potencial para receber um projeto desse porte e magnitude. Entre o início das negociações e a abertura do restaurante foram quase três anos de investimento e dedicação. O empreendimento ganhou, durante esse período, mais três sócios. Gabriela, que é responsável pelo marketing e vendas, celebra os ótimos resultados: inaugurada em julho de 2018, a casa conquistou o topo do ranking entre os Hard Rock Cafes das Américas com apenas dois meses de operação. Logo em seguida, recebeu o prêmio ADVB Top de Marketing Turismo. A responsabilidade de coordenar a franquia de uma grande cadeia internacional é um desafio que encara com leveza, mesmo com as longas jornadas diárias de até 12 horas. Sem tempo para atividades de lazer, encontra conforto no fato de reunir, em seu trabalho, as coisas que mais ama: música, pessoas, viagens, amigos e gastronomia. Ela pede que eu encerre o texto com uma frase que adora e que revela o otimismo que lhe é característico: “No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque não chegou ao fim”. POR ANA GUERRA, JORNALISTA

FOTO: RAFAEL CAVALLI/DIVULGAÇÃO

Com seu 1,80 m e brilhantes olhos azuis, Gabriela Michaelsen tem presença marcante. Chama a atenção pelo largo sorriso e bom humor. Conheço a Gabi há mais de duas décadas e ela sempre foi sociável, conciliadora e agregadora. Essas qualidades a aproximaram do curso de Direito. Formou-se em 1998 pela PUC-RS e, por quase 20 anos, atuou como advogada. Estudou para a magistratura e chegou a trabalhar como juíza leiga, mas logo decidiu explorar um nicho de mercado onde poucos atuavam, a área de execução penal criminal, ramo duríssimo e que exigia visitas rotineiras ao Presídio Central de Porto Alegre. Nada que a intimidasse – Gabriela é corajosa e destemida por natureza. Os rumos de sua vida começaram a mudar a partir do nascimento da única filha, no ano de 2014. A chegada de Martina a fez aproximar-se dos negócios da família e a buscar um lugar mais tranquilo para viver. Decidiu deixar Porto Alegre e retornar a Gramado, sua cidade natal, assumindo a administração do Laken, condomínio fechado que fica em área nobre da cidade serrana. Foi Guilherme, seu irmão e sócio na empresa imobiliária, que teve a ideia de trazer uma franquia do Hard Rock Cafe para Gramado. Gabriela empolgou-se com a iniciativa e a dupla fez contato com o franqueador master do Brasil e Ilhas do Pa-

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Palavra LU Í S

AU G U S TO

F I S C H E R

FRIO NA ISLÂNDIA

Caminho com um boné preto onde se pode ler (mas precisa chegar bem perto) “Ísland”, ao lado da bandeira daquele simpático país. Comprei lá em Reykjavik, a capital. Comprei e fui ver a etiqueta interna. Adivinha? Sim. Como quase tudo nesta vida, é “Made in Taiwan”. Nem a remota Islândia escapa. Fui parar lá quase por acaso, uns quatro anos atrás. Morei um ano na França, estudando, e nesse período andei por muitos cantos europeus, aproveitando a distância curta e os transportes adequados. Calhou de estar em Barcelona para visitar um amigo que lá estava, acompanhando sua esposa, professora que também estava estudando. O amigo é o Vitor Ramil, esta figura genial. Em certo momento, o Vitor me pergunta se eu conheço um certo Luciano Dutra, um brasileiro que vivia em Reykjavik, justamente, e estava interessado em traduzir um livro do nosso ilustre pelotense, para sua pequena editora (chamada Sagarana, palavra inventada pelo Guimarães Rosa a partir da palavra “saga”, que nasceu justamente no islandês para designar... uma saga, claro). O livro era a “Estética do frio”, um lindo e profundo ensaio que o Vitor escreveu para tentar entender o lugar de sua arte no ambiente brasileiro, que é carnavalesco, eufórico e ligado ao verão, ao passo que as milongas e tangos característicos da canção ramiliana são mais afeitos a temperaturas amenas, ao inverno, a certa melancolia. E eu conhecia: o Luciano tinha sido meu aluno aqui na UFRGS. Depois de terminar Letras, ele me procurou um dia pedindo carta de recomendação para se candidatar a uma vaga na universidade de Reykjavik, precisamente, para estudar a língua local. Eu fiz a carta, que ajudou o Luciano a exercitar sua grande qualidade intelectual e humana. Tanto que lá ficou, vivendo agora como tradutor entre o islandês, o sueco e o português (e o inglês). (Por que ele quis ir para a Islândia? Porque aqui ele estava traduzindo ao português uns poemas de Jorge Luis Borges, o grande

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escritor argentino, que tinha uma queda acentuada pelo mundo islandês. Voltas que o mundo dá, como dizia minha avó.) Lá naquela tarde barcelonesa, o Vitor e eu fizemos um skype com o Luciano, na capital islandesa. E ficou acertado que o lançamento do livro seria dali a alguns meses, lá naquela ilha gelada. Eu tratei de combinar com a minha família, e lá fomos nós. Tudo isso tem um ar de coisa quase sonhada, né? Pois eu nem em sonho imaginaria essa combinação: conhecer a famosa e remota ilha já era algo fora do meu horizonte, mas estar lá para presenciar o lançamento da “Estética do frio” na língua local e, de lambuja, assistir a um pocket-show do Vitor, cantando milongas e tangos e bossas-novas em português, bá. Não sei se o prezado leitor atentou para o detalhe: estética do frio. O Vitor fala do frio pelotense, que é esse aqui do sul do Brasil, paralelo 30 sul – ao passo que Reykjavik fica no paralelo 65 norte. Outro frio, muito mais frio, mas num lugar em que a gente não sente frio, dada a estrutura. Os dias que lá passamos são inesquecíveis, por isso e mais isto: a cidade é um encanto e o país é uma joia. Sabia que lá a água encanada tem cheio de ovo podre? Tem, porque vem das profundezas sulfúricas da terra, e vem quente. Mas o cheiro não fica na pele, na roupa, nem nada. Não sei explicar, mas é assim. Os islandeses são o que há de gente fina. Fazem piada de si mesmos com grande gosto. E todos falam inglês – o que aliás facilita toda a vida, porque é duro o islandês, que, me explicou o Luciano, está para o sueco e dinamarquês como o latim está para o português e o francês. Nem falei dos gêiseres, nem do museu da cidade, nem da beleza fria mas intensa da neve e do gelo lá do fim norte do mundo. Nem contei que eles têm um empoderamento feminino que aqui ainda é inimaginável. Nem da minha emoção de cantar baixinho “Ramilonga” naquele friozão de lascar. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR


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Estilo Zaffari N 0 85 Dezembro 2018

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