Revista Estilo Zaffari - Edição 90

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Ano 12 N0 90 R$ 7,90

VIAGEM UMA AVENTURA DE TREM ATRAVÉS DA GELADA SIBÉRIA

BEM-ESTAR A COZINHA VEGANA E CRUDISTA DE SILVIA CORBUCCI

Paixão

universal O chocolate e seus fascinantes sabores




Milene Leal milene@entrelinhas.inf.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Bete Duarte, Beto Conte, Milene Leal, Taciane Corrêa, Tetê Pacheco, Luciane Garcia

REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade ILUSTRAÇÕES Moa FOTOGRAFIA Letícia Remião, Beto Conte, Luciane Garcia COLUNISTAS Celso Gutfreind, Cherrine Cardoso, Cris Berger, Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COMERCIALIZAÇÃO Carlos Eduardo Moi (eduardo@entrelinhas.inf.br) fones: 51 3026.2700 e 3024.0094 A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Entrelinhas Conteúdo & Forma, sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 20.000 exemplares IMPRESSÃO Cromo Gráfica e Editora

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Cel. Bordini, 675, cj. 301 Porto Alegre I RS I Brasil I 90440 000 51 3026.2700 www.entrelinhas.inf.br

Ano 12 N0 90 R$ 7,90

VIAGEM UMA AVENTURA DE TREM ATRAVÉS DA GELADA SIBÉRIA

BEM-ESTAR A COZINHA VEGANA E CRUDISTA DE SILVIA CORBUCCI

Paixão

universal O chocolate e seus fascinantes sabores

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FOTO: LETÍCIA REMIÃO

13/03/2020 19:59:32


N OTA

D O

E D I TO R

OS EDITORES

EU SÓ QUERO CHOCOLATE

Março é um mês emblemático, aquele designado como o mês da volta: volta das férias, volta às aulas, volta do trânsito caótico na cidade, volta às rotinas. Pobre março, que carga pesada pra carregar! Pois nós aqui na Estilo Zaffari preferimos encarar março como o mês do reencontro, e aproveitamos esta edição da revista para fazer com que o reencontro com os nossos leitores seja o mais gostoso possível. Pra começar, chocolate. Ele que é uma paixão universal e que, além de delicioso, ainda por cima é lindo. Dê uma olhada nas fotos da nossa reportagem, feitas pela Letícia Remião, e depois nos conte se dá ou não dá vontade de morder as páginas, hehehe. Ainda nessa seara das papilas gustativas, não perca a matéria feita por Tetê Pacheco com a chef Silvia Corbucci, uma mulher fascinante que trilha o caminho da alimentação viva, vegana, crua. A proposta de vida e de alimentação dela é interessantíssima e faz a gente pensar. Falando em mulheres, já que março é o mês delas, escolhemos duas fascinantes pessoas do sexo feminino para abrilhantar a seção Mulheres que Amamos. Não deixe de conferir os perfis de Laura Bier Moreira e Simone Zanotti, elas são incríveis. Sua revista tem várias matérias boas de ler, como a viagem de Beto Conte pela ferrovia Transiberiana, a experiência de Luciane Garcia na Jordânia, os textos dos nossos colunistas e as sempre práticas dicas da Cesta Básica. Divirta-se em março, abril, maio... boa leitura!


Cesta Básica

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Coluna Vida

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Coluna Sampa

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O Sabor e o Saber

70

Coluna Equilíbrio

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Mulheres que Amamos

86

Coluna Palavra

90

A alimentação vegana e crudista de Silvia Corbucci, com receitas deliciosas

58 A surpreendente Jordânia e


Ele é uma paixão universal, lindo e saboroso. Viva o chocolate!

Uma viagem de 9 dias pela ferrovia Transiberiana, da Mongólia à Rússia

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seu tesouro de pedra: Petra

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Cesta básica NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, MODA, LITERATURA, ARTE, LUGARES, VIAGENS, OBJETOS ESPECIAIS, PESSOAS GENIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO! P O R TAC I A N E C O R R Ê A F OTO S D I V U LG A Ç Ã O

DESIGN NORDESTINO Os designers Felipe Bezerra e André Gurgel, inspirados na música do Reio do Baião, Luiz Gonzaga, criaram o Estúdio Mula Preta, de onde saem peças inusitadas e altamente criativas fundamentadas na cultura nordestina. Alguns lindos exemplos são o gaveteiro Sanfona, uma releitura da sanfona tradicional do Rei do Baião desenhada de uma forma sofisticada e bem-humorada. A poltrona Pião que remete às sensações divertidas da infância. Outra inspiração da dupla foi a formação geográfica da cidade de Natal que resultou na mesa de centro Falésia, na mesa Bahia Formosa, uma homenagem às praias de surf da capital, e na poltrona Duna que remete ao formato orgânico das dunas que circundam Natal. Para a sua confecção foi escolhida uma madeira brasileira que apresentasse os nuances das cores das areias da região. Já a criação do cabideiro Cacto foi uma forma lúdica de representar o cenário seco do Nordeste. Uma coleção inusitada e original vinda do nordeste brasileiro. ESTÚDIO MULA PRETA VILA OLÍMPIA I SÃO PAULO 11 4872 2805 WWW.MULAPRETA.COM

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CERVEJA + CULINÁRIA + ARTE E CULTURA Em comemoração aos seus 25 anos a cervejaria Dado Bier projeta uma mudança de patamar para a unidade do Bourbon Country. O objetivo é apresentar um espaço totalmente novo resgatando e celebrando a essência da Dado Bier. Um Food Hall, espaço que reúne ao redor da experiência cervejeira excelentes opções gastronômicas de Porto Alegre. Mais do que um restaurante ou um pub – a ideia é oferecer um ambiente agregador, cultural, descontraído e diverso. Segundo Eduardo Bier, presidente da Dado Bier, esse novo espaço que vai surgir é um convite ao convívio e às boas conversas. “É a criação de algo inovador e empolgante dentro de um espaço tradicional e seguro.” O projeto traz uma microcervejaria

dentro da tendência do Food Hall que vai permitir ao público acompanhar o processo de produção e eventos especiais em torno da cerveja. Chefs capacitados e reconhecidos serão convidados para operar nesse formato totalmente novo que gira em torno da cerveja. A união de todos esses elementos garantirá a possibilidade de encontrar diversas opções em um só lugar. O lugar, com capacidade para 370 pessoas, irá receber uma ambientação mais leve e moderna e vai contar com dois minirrestaurantes, que irão receber startups de gastronomia e cozinhas itinerantes, um bar de vinhos, um bar de drinks e uma microcervejaria para consumo no local. A produção das bebidas artesanais também vai receber cervejeiros gaúchos convidados.

DADO BIER BOURBON SHOPPING COUNTRY I AV. TÚLIO DE ROSE, 100 I PASSO D’AREIA I PORTO ALEGRE I RS 51 3378.3000 I WWW.DADOBIER.COM.BR Estilo Zaffari

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Cesta básica

UMA MARCA COM PROPÓSITO A Calçados Bibi, pioneira na fabricação de calçados infantis no Brasil, completou 70 anos de atuação no mercado. Marlin Kohlrausch, presidente do conselho da empresa, mostra neste livro exemplos práticos vividos, com o intuito de inspirar empresários e empreendedores. No livro “A construção de uma marca com propósito”, a trajetória de sete décadas serve de pano de fundo para demonstrar que, para uma empresa se perpetuar, precisa ser fiel ao seu propósito. “Empresas sem propósito, com cultura imediatista focada apenas no lucro, não sobrevivem”, afirma o autor. Kohlrausch explicita como identificar, valorizar e priorizar o propósito no dia a dia das empresas. Segundo ele, é o propósito que conquista, fideliza e engaja colaboradores, parceiros e clientes. Exemplos e histórias reais tornam o livro acessível e despertam a curiosidade do leitor. A ideia é compartilhar conhecimentos e práticas de uma empresa que, além de estar presente em todas as regiões do país, exporta para os cinco continentes, em mais de 70 países.

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TRADIÇÃO NO CENTRO DA CAPITAL GAÚCHA Há quase 30 anos o Café à Brasileira é dos mais tradicionais pontos de encontro no centro de Porto Alegre. Reconhecido por seus vários tipos de cafés clássicos e especiais, o local ainda conta com opções de crepes, sanduíches e tortas doces e salgadas. Mas quem quiser ainda pode optar por uma refeição mais completa, entre saladas e pratos quentes. A maior parte dos itens do cardápio é produzida na própria cozinha. O local preza por uma gastronomia artesanal e pelo uso de temperos naturais, além dos pratos concebidos com receitas próprias, sem adição de corantes e conservantes. Alguns itens são sazonais, de acordo com a estação, mas outros são fixos, como a deliciosa torta integral de maçã com castanhas-do-pará e especiarias, servida com chantilly. CAFÉ À BRASILEIRA RUA URUGUAI, 310 | CENTRO HISTÓRICO I PORTO ALEGRE 51 3085 5549 INSTAGRAM: @CAFEABRASILEIRA


DOCES SAUDÁVEIS Chegou a Porto Alegre uma fábrica de doces saudáveis que inova no sabor e nas receitas. A produção não apenas substitui ingredientes – combina sabores e está direcionada a todos os paladares: intolerantes, alérgicos, fitness e público consumidor em geral. Uma incansável pesquisadora da culinária funcional e plant-based, a chef Biba Retamozo é quem assina os doces da Hy Organic Food. Conta com o apoio do itt Nutrifor, Instituto de Tecnologia de Alimentos da Unisinos, para o desenvolvimento das sobremesas. Tudo é natural, com aproveitamento integral dos insumos e pensando na sustentabilidade. A empresa aposta ainda na compostagem e tem meta de “lixo zero”. A linha de doces engloba trufas, fudges, entre outros doces clássicos como tortas, e inclui também um doce de pote – o queridinho da chef –, doce de leite vegetal elaborado com leite de amêndoas e açúcar de coco. Em versões para take away e porções individuais, os produtos são uma novidade que já está sendo explorada por mercados, empórios e lojas de produtos naturais. A Hy Organic está presente no Agridoce Café, Ct Phantus, Fitplus Poa, Alecrim Sabor e Saúde, Saúde na Cesta, Loja Hemb e Pão Santo Padaria Artesanal. Encomendas também podem ser feitas direto na fábrica. HY ORGANIC FOOD RUA OSCAR SCHNEIDER, 513 I PORTO ALEGRE I RS 51 99762 7640 I WWW.HYORGANIC.COM.BR

SOFISTICAÇÃO NA SERRA DA MANTIQUEIRA O Hotel Saint Michel está localizado na região de Monte Verde, no sudoeste de Minas Gerais, uma das regiões mais bonitas do estado. O hotel oferece 35 acomodações, mas a grande sensação é o chalé triplex, formado por três ambientes distintos, com uma arquitetura moderna, que conta com três varandas com vista panorâmica, duas lareiras, ar condicionado e dois televisores. O chalé ainda dispõe de acesso restrito e garagem privativa para que o hóspede tenha uma experiência sofisticada com toque de casa. Mas o grande destaque do hotel fica por conta da banheira suspensa em balanço com vista panorâmica para a natureza que cerca todo o hotel, disponível no chalé triplex. HOTEL SAINT MICHEL AV. SOL NASCENTE, 365 I MONTE VERDE I MG (35) 3438 2390 RESERVAS@SAINTMICHEL.COM.BR WWW.SAINTMICHEL.COM.BR

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Cesta básica

LEITERIA INAUGURA NOVA UNIDADE Com a mesma proposta plural e multifuncional da loja da Venâncio, o novo local une confeitaria, restaurante, cafeteria e empório e tem as mesmas delícias. Para o café da manhã, sanduíches com pães quentinhos ou a clássica torrada colonial são ótimas opções. Para o almoço e jantar, panelinhas de massas, carreteiro, risotos, além de opções de carnes e saladas. Para curtir à tarde, deliciosas opções de café, doces e tortas e a exclusiva linha de chás – blends especiais importados de diferentes países, além de uma variedade de drinks. O brunch na nova unidade será servido aos domingos. E é claro que não poderia ficar

de fora o maravilhoso e tradicional Chá da Tarde servido em estilo buffet com muitas gostosuras, que é oferecido todas as quintas, das 15h às 20h. O ambiente segue acolhedor e charmoso, porém com um toque mais descolado para acompanhar o clima de happy hour do bairro. Na área externa, um espaço ao ar livre, chamado de “Amigos do Churros e Juca”, faz homenagem aos cães mascotes da casa – e os pets sempre são superbem recebidos. No piso superior tem uma área aconchegante e pronta para receber eventos, como aniversários, formaturas, chás de bebê, entre outros.

LEITERIA 639 RUA 24 DE OUTUBRO, 1539 I BAIRRO AUXILIADORA I PORTO ALEGRE I RS 51 3276 4222 I INSTAGRAM: @LEITERIA639

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Cesta básica

AMPLA PROGRAMAÇÃO CULTURAL No primeiro semestre de 2020 o Instituto Ling oferece ao público mais de cem atividades, como shows, exposições, cursos, palestras e oficinas multidisciplinares. A nova temporada inclui uma série de novidades na programação de eventos, abordando temas como ópera, literatura, cinema, dança e artes visuais. A agenda traz cursos, palestras, oficinas e saraus também sobre temas variados, entre eles: terceira idade, gastronomia, moda, história, filosofia, saúde e psicanálise, além de atividades voltadas ao público infantil, com shows, audições comentadas e exposições. Além da continuidade dos projetos que já são famosos entre o público, o Ling lança para este ano: Projeto que compara e discute adaptações entre Literatura e Cinema. Conversas sobre Arte, que propõe criar pontos de contato entre produções artísticas atuais e inquietações do espectador. Visitas Guiadas Experienciais, aliadas a outras experiências artísticas. Audições Comentadas de Música Erudita. Projeto Ópera: Estética e Psicanálise. Concertos Ling para a Juventude, uma série de encontros didáticos gratuitos de música. Mini Cine, curtas-metragens especiais com exibição gratuita. INSTITUTO LING RUA JOÃO CAETANO, 440 I TRÊS FIGUEIRAS I PORTO ALEGRE I 51 3533-5700 INSTITUTO.LING@INSTITUTOLING.ORG.BR I WWW.INSTITUTOLING.ORG.BR

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Cesta básica

PARA EXPLORAR O CHILE Neve, deserto, lagos, fiordes e vulcões, dá para curtir todas estas paisagens em uma viagem só. A estação Ski Portillo e a rede Tierra Hotels se uniram e estão oferecendo ótimos descontos em todas as reservas de acomodação que combinem mais de uma parada no país. Para começar, Portillo, distante 164 km da capital Santiago, que há 60 anos é um local famoso entre esquiadores e amantes de esportes de neve. Além de esquiar é possível se aventurar pelos caminhos de neve virgem nos cumes das montanhas no chamado Heli-skiing. Para descansar, o Hotel Portillo oferece várias opções de hospedagem. A aventura pelo Chile continua com a rede Tierra Hotels, que tem unidades no Atacama, Chiloé e Patagônia. Em Chiloé, um hotel-boutique combina conforto, sustentabilidade e autenticidade. Oferece passeios de caiaque, barco, bicicleta e cavalgadas pelo pantanal de Pullao. Na Patagônia, é imperdível a vista constante do Parque Nacional Torres del Paine que o Tierra proporciona. Já no Atacama, deserto mais árido do mundo, para visitar o Salar de Atacama, as Termas de Puritama e o Vale da Lua, entre outras famosas atrações, a equipe do hotel garante estrutura com guia e riquezas gastronômicas locais.

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WWW.SKIPORTILLO.COM WWW.TIERRAHOTELS.COM 0800 761 1627


UMA ESTAÇÃO PARA CURTIR TODAS AS PLATAFORMAS Inspirada nas tradicionais padarias da cidade de São Paulo, as “padocas”, a Estação Bom Fim se propõe a ser um lugar para todas as horas do dia, oferecendo café da manhã, almoço, lanche da tarde, happy hour e jantar. É o ponto de parada e de encontro entre amigos, além de uma padaria que funciona o dia todo, com pães deliciosos pra comer no local ou levar pra casa. A ideia é remeter a uma estação de trem em que em cada plataforma se encontram as especialidades do lugar. Pela manhã, o item mais pedido é o farroupilha e o croissant na chapa; no almoço, são oferecidos pratos do dia, bem caseirinhos. Nos lanches, hambúrgueres, pizzas, paninis e sanduíches de baguete são um sucesso. Já na confeitaria, as pedidas obrigatórias são a fatia da torta Red Velvet e a Banoffee. Chopps, cervejas especiais, espumantes, vinhos, sucos e chás complementam o cardápio. ESTAÇÃO BOM FIM RUA TOMAZ FLORES, 172 BOM FIM I PORTO ALEGRE 51 3276 4222 FACEBOOK: /ESTACAOBOMFIM

VINHOS ORGÂNICOS A RAR, vinícola dos Campos de Cima da Serra Gaúcha, idealizada por Raul Anselmo Randon, produz atualmente dois vinhos orgânicos em seu portfólio. O RAR-MASI Pinot Grigio e Torrontes 2018 e o RAR-MASI Malbec Merlot 2016, produzidos em parceria com a tradicional vinícola italiana MASI, que possui operações em Tupungato, na província de Mendoza, na Argentina. A operação em Tupungato é um projeto desenvolvido pela MASI em um terroir único, com uvas nativas da região do Vêneto, a partir de processos naturais de adaptação ao solo argentino, sem a interferência de químicos, respeitando a biodiversidade local. Esses vinhos costumam ter coloração mais escura e mais densa, consequência do aumento do índice de conservação das características naturais das uvas. “Os vinhos, produzidos a partir de métodos orgânicos, combinam a exuberância da natureza argentina com o estilo e a elegância dos vinhos do Vêneto”, afirma o diretor-superintendente da RAR, Sérgio Martins Barbosa. RAR VINHOS BR-116, KM 33 – DISTRITO INDUSTRIAL VACARIA I RS I 54 3231 4700 WWW.RARVINHOS.COM.BR Estilo Zaffari

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Cesta básica

ALMOÇO LEVE COM SABORES ASIÁTICOS Depois do grande sucesso em Canela, na Serra gaúcha, o Galangal Leve agora pode ser saboreado em Porto Alegre, levando os clientes para uma viagem aos sabores da Ásia. No charmoso casarão na Dona Laura é possível degustar, além do cardápio tradicional do Restaurante Galangal, uma proposta diferente de refeição baseada nos preceitos da sustentabilidade e no sabor de uma comida descomplicada. A ideia é trazer combinações de comida de rua asiática, de preparo rápido e prático para o almoço, ao estilo take away (leve embora). No cardápio algumas delícias como spring roll, yakisoba, ramen veggie, noodles, arroz frito, petiscos, saladas, guarnições e variadas opções com camarão e cogumelos. O Galangal Leve também se destaca pela sustentabilidade: os alimentos são servidos em um bowl comestível, feito com fécula de mandioca, que suporta comida quente ou fria. É possível comer no restaurante ou fazer o seu pedido por aplicativo. RESTAURANTE GALANGAL RUA DONA LAURA, 196 I BAIRRO RIO BRANCO I PORTO ALEGRE 51 3377.5065 I 51 98136.9797 I WWW.GALANGAL.COM.BR

UMA HOMENAGEM REAL

A cafeteria e sorveteria Bomba Royal é uma homenagem da família ao criador de uma das sobremesas mais famosas da capital gaúcha. Criada há 75 anos, pelo imigrante português Manoel Maria Martins, a Bomba Royal se tornou um clássico na cidade. Localizada em um charmoso casarão azul no Centro Histórico e administrada pelos netos do dono da icônica receita, a nova opção gastronômica tem a proposta de resgatar essa história familiar e fazer uma releitura moderna dos sonhos do avô. Além da receita original da Bomba Royal – que mistura o geladinho do sorvete, a textura cremosa da nata e a explosão de sabores da salada de frutas –, o cardápio oferece sorvetes, sobremesas, cafés, sanduíches, wraps baguetes, omeletes, saladas e bowls – perfeitos para diversos momentos do dia, como um café da manhã, um almoço leve ou uma pausa no meio da tarde. As opções foram desenvolvidas dentro do conceito da marca: leve, saboroso, saudável e com um visual irresistível. Para recriar a receita dos sorvetes artesanais, foi trazida a mesma engenheira de alimentos que orientava a produção familiar em outras épocas. A novidade fica por conta dos novos sabores veganos.

BOMBA ROYAL RUA GENERAL VITORINO, 15 I CENTRO HISTÓRICO PORTO ALEGRE I RS I FACEBOOK:@BOMBAROYAL

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PP ACESSÓRIOS COMPLETA 10 ANOS DE CASA NOVA As designers Amanda Py e Petula Silveira, criadoras da PP Acessórios – uma das marcas mais queridas da moda sustentável no cenário nacional –, comemoram os dez anos da grife em 2020. Mais que isso, nesta primeira década de trabalho, a dupla consolida um movimento que se tornou um estilo de vida: pensar diferente as escolhas do consumo para fazer do mundo um lugar melhor. A PP já começa o ano com uma baita novidade em Porto Alegre: uma casa nova. Neste espaço, a marca apresentará as bolsas, as carteiras, as bijus e as roupas desenvolvidas a partir do excedente da indústria calçadista, reforçando o conceito upcycle: com curadoria minuciosa, reaproveita peles que, de tão únicas, não funcionam para as grandes escalas da indústria e, por isso, teriam o descarte como destino. As formas atemporais e o minimalismo que conquistaram as clientes gaúchas e de todo o Brasil, mais recentemente, passaram a vestir também a casa em cortinas, almofadas, estojo para facas e ferramentas, vasos, aventais e outras utilidades para o lar. Em sua nova casa (que é, na verdade, um galpão

bem espaçoso e charmoso), a PP mostra que a sua inquietação de sempre – “por que não fazer diferente?” – inspirou outras marcas, convidadas a dividir o espaço numa loja coletiva. Os clientes podem encontrar, além das peças da grife, as melhores novidades da moda local e consciente escolhidas a dedo no Coletivo 828. Designers como Valéria Sá, Brisa, Sall, Envido e outras têm ou já tiveram passagem pelas prateleiras do espaço. A Cria, dedicada ao garimpo do que existe de mais bacana no universo infantil, acompanha as demandas das mamães contemporâneas. Em breve, a casa deve receber um café, completando a experiência e tornando a visita um momento ainda mais gostoso. O espaço está localizado no efervescente 4º Distrito, uma região da capital gaúcha que se requalifica e se transforma a partir de iniciativas ligadas à criatividade, a exemplo do que já aconteceu em outros lugares do mundo, como no Mitte, em Berlim, e no @22, em Barcelona. Um endereço fora do eixo que traduz bem aquilo em que a PP acredita: se cada um fizer a sua parte, o mundo fica melhor.

PP ACESSÓRIOS RUA ÁLVARO CHAVES, 231 I FLORESTA I PORTO ALEGRE I 51 3095 1045 I @PPACESSORIOS I WWW.PPACESSORIOS.COM.BR Estilo Zaffari

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Cesta básica

SAÚDE E BEM-ESTAR A Serra gaúcha é uma região que reúne beleza, infraestrutura moderna e ótimas vibrações energéticas. Um local perfeito para as pessoas se reconectarem com seu corpo e sua mente. Pensando nisso, o Kurotel preparou uma programação completa para os meses de abril e maio, priorizando a saúde e o bem-estar. Nos feriados prolongados de Páscoa e Tiradentes, o Kur estará oferecendo atividades especiais, como jantares temáticos, harmonizados com chás, além de uma programação exclusiva de Páscoa, para que os hóspedes possam fazer um “reset” e renovar as energias. Em maio seguem os eventos saudáveis, com descontos especiais para acompanhante. A ideia do Kur é que os casais e famílias possam compartilhar momentos de relaxamento, conforto, carinho e cuidado, descobrindo uma atmosfera de tranquilidade, paz e harmonia. KUROTEL RUA NAÇÕES UNIDAS, 533 I BAIRRO BAVÁRIA I GRAMADO I 0800 970 9800 WWW.KUROTEL.COM.BR 20

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SABORES E CULTURA GERMÂNICOS O Rasen Platz traz para Gramado o verdadeiro sabor da culinária germânica. A casa proporciona uma experiência única, trazendo elementos da cultura alemã em todos os detalhes, que vão desde o cardápio, com comidas típicas e cerveja na temperatura certa, até o ambiente diferenciado, com arquitetura inspirada nas cervejarias de Munique. O projeto arquitetônico foi baseado na construção fundada em 1589 pelo Duque William V da Baviera, para oferecer cerveja para a realeza. Entre as especialidades gastronômicas destaca-se o joelho de porco – Eisbein – que é servido acompanhado do famoso chucrute e purê de batata, o bolinho de pato e o mix de salsichas. Já para a sobremesa, a dica é pedir o famoso apfelstrudel. É claro, tudo acompanhado de saborosas cervejas do portfólio da mais antiga fabricante de cerveja de Gramado, composto pela Ambar Ale, Braza APA, Chocolate, Dunkel, Pilsen, Strong Golden Ale e Weizen. Os atendentes vestidos com trajes típicos e as bandas alemãs que tocam em um palco deixam o clima descontraído e alegre. RASEN PLATZ RUA COBERTA, 50 I CENTRO I GRAMADO SEGUNDA A DOMINGO DAS 11H ÀS 24H 54 3286 1495 I FACEBOOK: /RASENPLATZ 22

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OS PRINCIPAIS VINHEDOS DO MUNDO Quem ama vinho vai adorar conhecer as curiosidades do “Ouro nos Vinhedos”, livro que reúne 12 histórias dos mais famosos vinhedos do mundo ludicamente ilustrado. Os desenhos são originais, vindos de cada local visitado para compor o livro. A narrativa disposta de forma criativa contempla histórias de amor, traição e sacrifício que fazem parte da origem dos vinhedos. Além de trazer informações históricas de cada local, reunir dados de cada bebida, como tipo de uva, quantidade de açúcar e teor alcoólico. Ao se aventurar pela história, os leitores poderão também conhecer a sucessão familiar de cada vinhedo. Logo no começo da obra, a autora define seu estudo e levantamento das histórias como uma caçada ao ouro, uma busca guiada pelo bom faro de quem aprecia a bebida e suas origens. LIVRO: OURO NOS VINHEDOS AUTORA: LAURA CATENA EDITORA: CATAPULTA EDITORES


O MELHOR CAFÉ DA MANHÃ EUROPEU No coração de Barcelona, em pleno Paseo de Gràcia, desponta um majestoso edifício, que além de ser um requintado hotel cinco estrelas oferece a seus hóspedes o melhor café da manhã da Europa. O Majestic Hotel Spa Barcelona recebeu o prêmio de Melhor Café da Manhã de Hotel da Europa na XVI edição do Prix Villégiature, que todos os anos premia os melhores hotéis da Europa, África, Oriente Médio e Ásia. O segredo do café da manhã é a perfeita combinação de produtos locais de qualidade, sabores mediterrâneos saudáveis, uma cuidadosa elaboração diária de mais de cem referências, assim como um ambiente exclusivo, banhado de luz natural e com um serviço requintado. Todos os domingos, o Paseo de Gràcia se transforma em um poderoso ímã para os paladares mais exigentes com a saborosa Majestic Brunch Experience. Uma experiência de luxo gastronômica sem igual com produtos típicos da dieta mediterrânea, que inclui aperitivos de todo tipo, saladas, defumados e doces, complementados com um showcooking no qual a equipe de cozinha elabora propostas na hora.

MAJESTIC HOTEL SPA PASEO DE GRÀCIA, 68 BARCELONA I ESPANHA 34 934 88 17 17 WWW.HOTELMAJESTIC.ES

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Cesta básica

C A M P O S

D E

C I M A

DA

S E R R A

P O R

V Í V I A N

G A M B A

VINÍCOLA CAMPESTRE – COMPLEXO ENOTURÍSTICO BR-116 – KM 30, Nº 1410 I BAIRRO PASSO DA PORTEIRA I VACARIA I RS TELEFONE: 54 3511.6060 I 54 9 9655-3377 WWW.VINICOLACAMPESTRE.COM.BR

VINÍCOLA CAMPESTRE INICIA ATIVIDADES DE ENOTURISMO Os Campos de Cima da Serra também são uma alternativa para os amantes do vinho. A Vinícola Campestre deu início, no final de janeiro, a atividades de enoturismo na sua nova unidade, em Vacaria. Inspirada nas grandes vinícolas europeias, tem uma área extensa para caminhada entre os vinhedos e programação com visita às caves e aos museus do vinho e do frigorífico. Sim, frigorífico. Isso porque a Campestre foi instalada numa área de 84 hectares do antigo Frigorífico Vacariente (Friva), um dos mais tradicionais e importantes do país, que nos anos 80 chegou a exportar carne para mais de 30 países. O projeto,

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que inclui uma nova linha de vinhos finos (Nova Morada), contou com investimento de R$ 30 milhões. E a opção de preservar a história do local confere um ingrediente especial ao passeio. A visita à vinícola inclui degustações e piquenique entre os parreirais, com tábua de frios, geleias, pães, suco de uva e vinho ou espumante. A atração especial, no entanto, é colher e comer as uvas docinhas direto das vinhas. HISTÓRIA A história da Vinícola Campestre começou em 1968, na cidade de Campestre da Serra (RS), com a

produção de vinhos de mesa e sucos – são 13 produtos com a denominação Pérgola, incluindo três tipos de suco. Em 2019, depois de cinco anos de obra, foi inaugurada a unidade de Vacaria (RS), para a produção de vinhos finos – 15 rótulos assinados pela Zanotto. ENOTURISMO A visita, em grupo de até 12 pessoas, custa R$ 50, dos quais R$ 20 são revertidos em compras. Inclui passeio pelos vinhedos, vinificação, museus e caves e degustação de três vinhos e um espumante (ganha uma taça de brinde). O tempo estimado é de duas horas.


APÓS SAIR DA BR 285, SÃO 25

UM PARAÍSO NOS CAMPOS DE CIMA DA SERRA Aconchego, conforto, um ambiente lindo e refeições com o tempero da vovó são um convite para aproveitar os Campos de Cima da Serra. É isto – e um pouco mais – que oferece a Pousada Estância das Flores, uma fazenda de 200 hectares localizada numa área isolada entre Bom Jesus e São José dos Ausentes. A proposta é desconectar da rotina acelerada e descansar corpo e alma em meio a paisagens incríveis. Começando pelas acomodações: suítes amplas com cama king size, banheira de hidromassagem, calefação e uma vista de tirar o fôlego. São 10 acomodações, apenas, então a sensação é de exclusividade. Além da encantadora sala da lareira, salas de cinema, de jogos, dois restaurantes, piscina e lago para pesca fazem parte da área comum da pousada. A pensão é completa e o cardápio caseiro: café da manhã com geleias, pães

e queijo serrano feitos na região, almoço e jantar com carnes e acompanhamentos variados, tudo preparado com o cuidado de encantar os hóspedes. Como a região é conhecida pela produção de mirtilos – há uma fazenda pertinho da pousada –, é comum encontrá-los em várias receitas, das geleias às sobremesas. Um capítulo à parte são as atividades recreativas: caiaque no lago, piquenique em alto estilo, pesca e passeios a cavalo nas imediações da pousada, visitas aos cânions (são nove) e cachoeiras e cascatas da região (são pelo menos 12). Empresas parceiras da pousada oferecem um leque de passeios. Os cânions Amola Faca (Encerra), Monte Negro e da Boa Vista são alguns dos destaques, assim como o Cachoeirão dos Rodrigues e os rios Divisa e Silveira, que têm nascentes diferentes e correm em paralelo, num desnível de 18 metros entre eles.

QUILÔMETROS DE ESTRADA DE CHÃO, QUE PODEM SER PERCORRIDOS TRANQUILAMENTE COM QUALQUER VEÍCULO. HÁ A ALTERNATIVA DO SERVIÇO DE TRANSFER, QUE DEVERÁ SER AGENDADO COM ANTECEDÊNCIA JUNTO À POUSADA

POUSADA ESTÂNCIA DAS FLORES ESTRADA DA MANGUEIRA NOVA, 1610 BOM JESUS I RS WWW.ESTANCIADASFLORES-RS.COM.BR

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Cesta básica

E S P E C I A L

W I M B E L E M D O N

O TENISTA FERNANDO MELIGENI É UM DOS EMBAIXADORES DO PROJETO, QUE PROMOVE ATIVIDADES ESPORTIVAS, PEDAGÓGICAS E CULTURAIS

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20 ANOS AJUDANDO A CONSTRUIR SONHOS Quando o sonho – o primeiro deles – de ajudar crianças e adolescentes em situação de risco ou vulnerabilidade social se tornou realidade, nem mesmo seus idealizadores imaginaram o quão longe o projeto chegaria. Tudo começou com o aluguel de um terreno, a reforma de uma quadra de tênis e uma rodinha de leitura que reunia 40 crianças no bairro Belém Novo. Hoje, 20 anos depois, o WimBelemDon ainda tem o tênis como atração esportiva (um grande chamariz), mas as atividades extra-escolares reúnem oficinas socioemocionais, pedagógicas e culturais – como cinema, artes, laboratório de aprendizagem, alfabetização – e grupos de psicologia com o objetivo de promover transformações individuais e sociais. Cerca de 190 crianças integram o projeto,

sendo que 85 diariamente e o restante uma vez por semana, no Projeto Tattoo Tênis. As atividades são oferecidas no turno inverso ao escolar. E os ensinamentos vão muito além do que um currículo pode definir. As oficinas estão entrelaçadas a um trabalho muito especial, baseado em atributos, ou valores humanos necessários para uma vida plena e para a construção de uma sociedade justa e igualitária. Uma forma de os alunos compreenderem a sua importância para a vida, para o bom relacionamento e para o autoconhecimento. Não é à toa que a visão do WimBelemDon fala do desejo de que “todas as crianças possam ter um sonho e a capacidade de buscá-


-lo”. Participar do projeto é um convite para “crescer”. O desenvolvimento dos pequenos é percebido na sua rotina e disciplina (muitos deles levam as regras do projeto para suas casas, como lavar o próprio prato após cada refeição), no interesse em aprender e melhorar a cada dia e no carinho e respeito nas relações entre eles, com os professores e com os visitantes da ONG. Ao longo desses 20 anos, momentos de glória – como a ajuda dos embaixadores Thomaz Koch, Fernando Meligeni e Bruno Soares, junto a outros grandes nomes do tênis, como Gustavo Kuerten,Thomaz Bellucci, Marcelo Melo, Pablo Cuevas (URU), Irmãos Bryan

(USA), Andy Murray (GBR) e Rafael Nadal (ESP) – intercalaram-se com momentos de angústia –, como as baixas captações de recursos que ameaçaram a continuidade do projeto e o incêndio que, em abril de 2018, destruiu boa parte das instalações do WimBelemDon. De cabeça erguida e com as palavras “perseverança” e “resiliência” tomando a frente no currículo, tudo foi reconstruído a muitas mãos. Há razões de sobra para celebrar. E também para ajudar a realizar mais sonhos, como duas das crianças que cresceram no WimBelemDon e hoje são funcionários do projeto. Conheça um pouco mais dessa história e saiba como participar.

PROJETO WIMBELEMDON AVENIDA HEITOR VIEIRA, 78 I PORTO ALEGRE I RS 51 3242.5637 I WWW.WIMBELEMDON.COM.BR

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Sabor

Paixão universal P O R F OTO S

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B E T E

D U A R T E

L E T Í C I A

R E M I Ã O



Sabor


OURO MARROM E ELIXIR DOS DEUSES SÃO ALGUNS “APELIDOS” DESTE PRODUTO TÃO AMADO

“De cada dez pessoas, nove dizem que adoram chocolate. A décima está mentindo.” A frase atribuída a Jean-Anthelme Brillat-Savarin (1755- 1826), gastrônomo francês autor de Fisiologia do Gosto, pode carecer de comprovação científica, mas, principalmente nesta época do ano, aparenta ser bem real. O que faz até existirem os que garantem não confiar em quem não gosta de chocolate. Exageros à parte, estudos comprovam que o seu consumo detona as mesmas reações produzidas no cérebro quando a pessoa se apaixona. Chocólatras que o digam. Ouro marrom e elixir dos deuses são algumas das definições desse produto tão apreciado em todo o mundo e que, como tudo, passa por diferentes momentos e tendências. Agora, parece ser a vez de o chocolate brasileiro conquistar uma nova fase de projeção. O Brasil já foi um dos maiores exportadores de cacau. Sucesso interrompido pela “vassoura de bruxa”, doença que quase dizimou a produção cacaueira nacional. Com isso, mesmo aqui, o chocolate mais conceituado era, até bem pouco tempo, o europeu. Uma forte tendência gastronômica veio modificar esse panorama: está cada vez mais em alta valorizar o que é nativo. É claro que a isso veio somar-se um trabalho árduo dos produtores de cacau, que passaram a dedicar um cuidado especial do fruto até o chocolate. Surgindo assim o movimento Bean to Bar: da amêndoa à barra, que, além de preocupar-se com a qualidade, chega a ser uma filosofia.

CARACTERÍSTICAS DO BEAN TO BAR Não deve haver substitutos da manteiga de cacau. O açúcar não deve ser o primeiro ingrediente da lista no rótulo. O cacau deve ser o primeiro ingrediente. Não deve haver aromatizantes (nem naturais, nem artificiais). Não deve haver ingredientes com nomes estranhos (exceto lecitina, casa não seja um purista). A porcentagem e a origem do cacau geralmente estão indicadas na embalagem, inclusive em chocolates ao leite e brancos. É verdade que ainda estamos longe de retomar a importância no mercado internacional, mas é possível degustar bons produtos dessa nova fase. Como o vinho, a cerveja e o chá, o chocolate tem suas nuances de aromas e sabores que pedem uma atenção especial na hora da degustação. Pequenas técnicas podem ajudar a obter um melhor prazer na apreciação de cada pedacinho. Mas nada de se tornar um “chocochato”, como alguns apreciadores de vinho. A degustação é reservada para momentos especiais, aqueles em que a gente quer entender um pouco mais de cada produto. Da mesma forma, é possível fazer boas harmonizações com cada tipo de chocolate. Aqui, algumas sugestões que certamente vão aumentar o prazer a cada mordida.

Degustação VER

Repare no brilho, na cor e no acabamento. Confira se há defeitos, como manchas ou bolhas.

OUVIR

Um chocolate bem temperado, ao ser quebrado, deve ter “snap”, um som forte, claro e firme.

CHEIRAR

Pressione um pedaço entre os dedos, por alguns segundos. Com o calor do corpo, o aroma aparece.

TOCAR

Coloque um pedaço na boca e deixe derreter (não morda imediatamente). Repare se derrete uniformemente, se é rápido ou lento, se a textura é macia ou áspera, se é oleosa ou seca.

DEGUSTAR

Experimente tapar o nariz logo que colocar o chocolate na boca, espere derreter um pouco e depois deixe o ar entrar de uma vez. Vai sentir melhor o aroma e o sabor. Procure perceber o sabor residual que fica quando o chocolate acaba. É possível perceber diferentes nuances de frutas, nozes, especiarias e tantas outras. Repare em sensações como doce, amargo, salgado, ácido ou adstringente.

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Sabor

Harmonização A presença marcante de açúcar e de gordura do chocolate, que envolvem as papilas gustativas e dificultam a percepção de outros sabores, é o maior complicador na hora de harmonizar com bebidas, como o vinho e a cerveja. Já com o chá compartilha notas muito parecidas, como características florais e adstringência de taninos. Os tipos que mais combinam são os chás pretos e os escuros, porque são mais fortes e têm notas mais defumadas, amadeiradas, de cacau ou tabaco. E tem ainda uma harmonização mais instigante com os queijos. Lance-se nessa aventura, certamente vai se surpreender com as descobertas.


CHOCOLATE MEIO AMARGO/LEITE

CHOCOLATE BRANCO

VINHO

O vinho licoroso, encorpado e fortificado, é uma das harmonizações mais clássicas com chocolate, mas ele harmoniza com vinhos tintos secos, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Syrah com passagem por carvalho. Se optar por espumante fique com um Brut de Pinor Noir e Chardonnay.

É mais fácil de harmonizar, vai bem com diferentes vinhos tintos, tanto os mais jovens quanto os mais encorpados. Mas a harmonização clássica é com vinhos de colheita tardia, doces e densos, uma vez que há sintonia entre os açúcares da bebida e do chocolate.

O mais doce dos chocolates combina melhor com vinhos também mais doces, como o Espumante Moscatel. O perlage e a acidez ajudam a “limpar” a boca da gordura do chocolate branco. Também funcionam bem os vinhos de colheita tardia.

CERVEJAS

Opte por cervejas de sabores bem pronunciados, como a Stout (escura, com teor alcoólico entre 7% e 8%, com sabores marcantes de café e chocolate) ou a Porter (também escura e de amargor presente). Além das Belgian Dark Strong Ale, Wood-Aged Beer e Imperial Stout.

Fique com uma cerveja frutada e com notas de toffe, como a Old Ale. Também vai bem com as do tipo Dubbel (com teor alcoólico entre 6% e 8% e de sabor frutado) ou as Dark Strong Ale (com sabor que lembra chocolate e tem coloração escura). Porter e Bock também harmonizam com chocolate ao leite.

Devido à doçura, aposte no estilo Kriek (frutado, com um adocicado que combina com o chocolate) ou as Trippel (com teor alcoólico entre 7% e 9,5%, de coloração alaranjada). Quando combinadas com o chocolate branco, as Stout e Porter geram um terceiro sabor na boca, que lembra doce de leite.

Cremoso e levemente adocicado, o cappuccino é uma boa harmonização. A alta concentração de cacau oferece o equilíbrio perfeito para o sabor de um café de torra clara.

A doçura do chocolate ao leite aromatizado com baunilha harmoniza bem com expresso de torra mais escura, sabor forte. O café coado tem seu sabor intensificado junto do chocolate ao leite com flor de sal. O expresso com espuma de leite vaporizado acompanha bem bombons recheados com caramelo.

O Latte, expresso com espuma de leite vaporizado, é perfeito para acompanhar chocolate branco. Outra boa harmonização é com um frapê de café, cremoso e adocicado, com amargor suave ao final.

O alto teor de cacau, os sabores robustos e frutados produzem um grande contraste para sabores doces e picantes de chás escuros, mais arrojados e encorpados. O Earl Grey, frutado, harmoniza com chocolates de alto teor de cacau que tenham notas cítricas ou com algum recheio cítrico (limão, laranja).

O chá de jasmim acompanha chocolates com notas florais. Os chás verdes e brancos que têm notas amendoadas são perfeitos para chocolates com as mesmas notas ou com nozes. O chá preto harmoniza com chocolate ao leite.

Chá verde estilo Genmaicha, que inclui arroz tostado com leite, combina com chocolate branco com flocos.

De personalidade forte, são amigos inseparáveis dos queijos azuis, incluindo Gorgonzola e Roquefort, que ficam com os aromas ainda mais elevados em presença do chocolate.

Os queijos de sabores mais ácidos, como os de cabra, de ovelha ou o Canastra acompanham bem esse tipo de chocolate. Os de mofo branco (Brie, Camembert) têm sabores delicados e marcantes e também harmonizam bem. Acrescentar morangos frescos pode potencializar a degustação.

O chocolate branco é capaz de enfrentar um queijo parmesão.

QUEIJO

CHÁ

CAFÉ

CHOCOLATE COM MAIS DE 70% DE CACAU

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Sabor

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Tendências

Saiba mais

Há pouco chegou ao mercado o chocolate Rubi, aquele rosa, com um toque cítrico. Mas outras tendências estão aí para serem degustadas. Chocolatiers nacionais estão incluindo frutas brasileiras para aromatizar lâminas ou pérolas de chocolate ao leite, branco ou amargo. Há ainda os chocolates com flores e frutas secas e os aromatizados com temperos diferenciados, como wasabi e pimenta sichuan. Sem esquecer dos nibs de cacau (pedacinhos da amêndoa de cacau torrada, que dão crocância e um leve amargor às preparações). A doceira gaúcha Nana Pereira, conhecida pelas delícias servidas em festas e eventos, por sua vez, tem acompanhado de perto as novidades. E criou barras recheadas com pasta de avelã, negrinho, branquinho e geleias, principalmente para festas jovens. Grandes barras são dispostas à mesa e cortadas na hora, para alegria da moçada. Não poderiam ficar de fora das tendências, é claro, as sobremesas, a verdadeira tentação para os amantes do chocolate. Em Porto Alegre, uma loja e suas franquias alimentam essa paixão com maestria: a Chocólatras Anônimos é o templo da perdição. Para mostrar um pouco dessa arte de despertar a gula, duas tortinhas foram desenvolvidas especialmente para a Estilo Zaffari: uma folhada com fondant de chocolate e nibs de cacau e outra de entremet com gianduia (pasta de avelã). Mas nem só de novidades vive o mundo do chocolate. Os clássicos nunca saem de moda. Que o diga o chef confeiteiro Marcelo Gonçalves, da Pâtissier. Costuma encantar os clientes com suas delicadas éclairs recheadas de um creme aveludado de chocolate e cobertas com reluzente glaçagem. Marcelo faz questão de ressaltar que, apesar de algumas adaptações, a sua pâte-à-chou (éclair ou bombinha) tem inspiração em renomados chefs como os franceses Pierre Hermé e Christophe Adam e o brasileiro Rafael Protti. Se você é um apaixonado por chocolate, entregue-se a essa tentação. Apesar de os mal-humorados críticos alegarem que comer chocolate engorda, vale ressaltar que o principal é que fará você muito mais feliz. A Ciência garante.

O chocolate mais caro do mundo disponível no mercado se chama To’ak e custa R$ 1.200 por apenas 50 g. O cacau usado neste chocolate é cultivado no meio da floresta no Vale Piedra de Plata, no Equador, cercado de mais de 50 espécies de árvores tropicais, o que influencia o sabor.

Estilo Zaffari

O consumo per capita de chocolate no Brasil ainda é pequeno: 1,6kg/ano. Ainda mais se comparado ao da Suíça (9 kg/ano) ou da Alemanha (7,9 kg/ano).

Serviço CHOCÓLATRAS ANÔNIMOS Rua General Lima e Silva, 565 De segunda a sábado (das 12h30min às 20h). Fone: 51 3062.0565 NANA PEREIRA PATISSERIE Rua Domingos José Almeida, 50 De segunda a sexta (das 10h às 18h) e sábados (das 9h30min às 12h30min) Fone: 51 3332.2684 PÂTISSIER MARCELO GONÇALVES Rua Marquês do Pombal, 128 De terça a sexta (das 11h às 19h30min) Fone: 51 3395.3848


B A R R A R E C H E A DA N A N A P E R E I R A P Â T I S S E R I E


Sabor


Torta Folhada com Fondant de Chocolate MASSA FOLHADA FONDANT 315 G DE CHOCOLATE MEIO AMARGO 175 G DE AÇÚCAR 2 OVOS 1 GEMA 125 G DE MANTEIGA SEM SAL EM POMADA 50 G DE FARINHA DE TRIGO 1 PITADA DE SAL ESSÊNCIA DE BAUNILHA A GOSTO PRALINÉ DE NIBS 100 G DE AÇÚCAR 50 G DE NIBS DE CACAU DISCOS ONDULADOS 150 G DE CHOCOLATE MEIO AMARGO 1 FOLHA DE PLÁSTICO SILICONADO GANACHE 100 G DE CHOCOLATE AO LEITE 50 G DE CREME DE LEITE

P O R C H O C Ó L AT R A S A N Ô N I M O S

MODO DE FAZER A MASSA: Corte um disco da massa folhada com 12 cm de diâmetro. Corte outro disco de 12 cm e fure no meio um disco de 8 cm, formando um anel. Coloque o último disco sobre o primeiro e leve ao forno preaquecido, a 170 graus, por 35 min. Reserve. Para o fondant, derreta o chocolate em banho-maria. Reserve. Na batedeira, bata o açúcar, os ovos, a gema, a manteiga e a baunilha. Junte os dois cremes e misture bem. Adicione a farinha de trigo e o sal e misture bem. Distribua o creme no meio da massa pré-assada. Leve ao forno, a 170 graus, por 15 min. Deixe esfriar e leve para gelar. MODO DE FAZER O PRALINÉ: Numa panela, em fogo baixo, derreta o açúcar até o ponto de caramelo. Adicione as nibs e mexa rapidamente. Espalhe sobre uma superfície untada ou silicone e deixe esfriar. Quebre em pedacinhos. Reserve. MODO DE FAZER OS DISCOS ONDULADOS: Amasse o plástico siliconado para ficar enrugado. Derreta o chocolate meio amargo, coloque sobre uma superfície lisa e misture bem até que esfrie. Espalhe, aos poucos, sobre a folha enrugada, formando um disco de 12 cm de diâmetro, outro de 8 cm e mais um de 4 cm. Leve à geladeira para endurecer. Reserve. MODO DE FAZER O GANACHE: Pique o chocolate e coloque em uma vasilha. Aqueça o creme de leite e derrame sobre o chocolate picado, mexendo até dissolver. MONTAGEM: Em um prato, coloque a massa folhada recheada com o fondant. Distribua pedaços de praliné, deixando o centro livre. Coloque pitanga de ganache de chocolate no centro e por cima o disco ondulado de chocolate de 12 cm. Nova pitanga ao centro, e ponha o disco de 8 cm. Repita o processo com o disco de 4 cm. Dê um acabamento com um pedacinho de chocolate colorido com corante dourado e um filete de chocolate. Conserve em ambiente climatizado ou em geladeira.

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Sabor

Torta Entremet com Gianduia DISCOS DE CHOCOLATE 1,5 KG DE CHOCOLATE MEIO AMARGO DERRETIDO NIBS DE CACAU ENTREMET 1,75 ML DE LEITE 250 G DE CHOCOLATE AO LEITE 150 G DE PASTA DE AVELÃ 5 G DE GELATINA EM PÓ SEM SABOR 30 G DE ÁGUA 325 G DE CHANTILLY BATIDO GLAÇAGEM 11,5 G DE GELATINA EM PÓ SEM SABOR 57,5 G DE ÁGUA (PARA HIDRATAR A GELATINA) 210 G DE AÇÚCAR REFINADO 110 ML DE ÁGUA 65 G DE CACAU EM PÓ 65 G DE CREME DE LEITE 50 G DE GLUCOSE GANACHE 125 G DE CHOCOLATE MEIO AMARGO PICADO 125 G DE CHOCOLATE AO LEITE PICADO 125 G DE CREME DE LEITE 100 G DE PASTA DE AVELÃ

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P O R C H O C Ó L AT R A S A N Ô N I M O S

MODO DE FAZER: Derreta o chocolate em banho-maria, coloque sobre uma superfície lisa e mexa até que esfrie. Espalhe o chocolate sobre uma folha siliconada, na espessura de 0,5 cm. Por cima, distribua os nibs de cacau. Com o chocolate ainda macio, marque com cortadores discos de 12 cm e na metade deles marque o centro com aro de 8 cm, formando anéis. Leve à geladeira para endurecer. Desenforme e reserve. MODO DE FAZER O ENTREMET: Ferva o leite e despeje sobre o chocolate picado e a pasta de avelã, misture bem. Hidrate a gelatina com a água e junte à mistura de chocolate e pasta de avelã; bata com um mixer. Deixe a mistura esfriar até 30 graus e junte o chantilly batido. Distribua em formas meia-esfera de silicone. Leve ao freezer para congelar. MODO DE FAZER A GLAÇAGEM: Leve ao fogo baixo o açúcar, 110 ml de água, o cacau, o creme de leite e a glucose, mexendo até ficar bem homogêneo. Retire do fogo e adicione a gelatina hidratada e misture bem. Passe por uma peneira fina. Retire os entremets do freezer, desenforme e derrame sobre eles a glaçagem. Leve à geladeira para firmar. MODO DE FAZER O GANACHE: Junte os chocolates em uma vasilha. Aqueça o creme de leite e derrame sobre os chocolates, misturando até que fique homogêneo. Junte a pasta de avelã e misture bem. Leve para gelar. MONTAGEM: Com um disco de chocolate, faça a base. Sobre o centro desse disco, com uma espátula, ponha a meia-esfera de entremet. Com ajuda de um saco de confeitar, faça pitangas lisas de ganache, mais baixas do que o entremet. Sobre as pitangas, apoie o anel de chocolate com nibs. Conserve na geladeira.



Sabor


Mini Éclairs au Chocolate MASSA 150 ML DE ÁGUA 60 G DE MANTEIGA 1/2 COLHER (CHÁ) DE AÇÚCAR 1/2 COLHER (CHÁ) DE SAL 90 G DE FARINHA DE TRIGO PENEIRADA 100 G DE OVOS INTEIROS (2 OVOS MÉDIOS) CREME DE CHOCOLATE 300 G DE CREME DE CONFEITEIRO COM BAUNILHA 60 G DE CHOCOLATE 70% DE CACAU PICADO BEM FININHO GLAÇAGEM DE CHOCOLATE 8 G DE GELATINA EM FOLHAS 200 G DE AÇÚCAR CRISTAL 70 G DE CACAU EM PÓ 80 ML DE ÁGUA 150 G DE CREME DE LEITE FRESCO

P O R M A R C E LO G O N Ç A LV E S P Â T I S S I E R

MODO DE FAZER: Preaqueça o forno a 170 graus. Junte em panela de fundo espesso a água, a manteiga, o sal e o açúcar, e leve para ferver. Junte a farinha de uma só vez e misture bem com espátula, até que forme uma bola que se solte da panela. Baixe o fogo e mexa por mais 2 min para que seque um pouco. Retire do fogo e, em outro recipiente, junte os ovos aos poucos, incorporando bem à massa a cada adição. Coloque a massa em manga de confeitar equipada de bico canelado, de mais ou menos 1 cm de diâmetro, e monte “cilindros” de massa de mais ou menos 12 cm sobre folha de silicone. Asse até que fiquem crocantes e sequinhos. Reserve. MODO DE FAZER O CREME DE CHOCOLATE: Aqueça o creme de confeiteiro e junte o chocolate, mexendo até que fique homogêneo. Reserve. MODO DE FAZER A GLAÇAGEM: Hidrate a gelatina em água fria. Reserve. Junte em uma panela a água, o açúcar e o cacau e leve para ferver. Retire do fogo. Em outra panela, leve o creme de leite para ferver, junte a calda com cacau e a gelatina hidratada e escorrida. Passe num mixer para homogeneizar e reserve sob refrigeração. MONTAGEM: Recheie as éclairs através de furinhos feitos por baixo com o creme de chocolate, usando o saco de confeitar com um bico fino. Refrigere. Aqueça a glaçagem de chocolate o suficiente para torná-la fluida (até cerca de 300C). Mergulhe as éclairs à metade, do comprimento, com cuidado de deixar pingar qualquer excesso.

TODAS AS FOTOS DESTA REPORTAGEM FORAM PRODUZIDAS NA PÂTISSIER, DE MARCELO GONÇALVES, QUE GENTILMENTE CEDEU SEU ESPAÇO PARA A REVISTA ESTILO ZAFFARI. AS CERÂMICAS SÃO PEÇAS ÚNICAS ASSINADAS POR CARLA SAATKAMP

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Vida C E L S O

G U T F R E I N D

MUITO ALÉM DAS TECLAS O computador tem a habilidade de encontrar exatamente a palavra em si. O seu limite, paradoxalmente, é sempre achá-la. Se quero “mel”, “insumos” ou “escritório”, ele as descobre rapidamente. E isso pode valer para qualquer arquivo de qualquer nome. Sem despender o tempo de um olhar ou uma escuta, a máquina atende na hora ao chamado na ponta de meus dedos. Mas, às vezes, não quero a palavra ou o arquivo especificamente. Porque não quero nada exato ou específico. Uma palavra pode ser quase exata, mas a exatidão pode ser falsa e, principalmente, saturada. Então, ela não revela o meu estado, que não é exato, mas é verdadeiro. Preciso dizê-lo, mas ele é vago, nem isso nem aquilo, meio nada, meio tudo, alguma coisa qualquer entre coisas que não sei. Como naquela situação em que nada acalma uma criança, a não ser compreender que ela não sabe ainda o que deseja, mas é fundamental que expresse o seu impasse. A palavra não o descreve, sequer se aproxima. Inútil uma expressão como esta que poderia pedir para o computador encontrar o arquivo. Ela está gasta de servir a utilidades. Seriam necessárias muitas palavras (e

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silêncios acolhedores), sendo que nenhuma chegaria ao meu estado. Ele é inatingível, mas preciso aproximar-me, nem que, para isso, fosse necessária uma confluência de arquivos. Mel, insumos, mãe, pai, escritório. Um grupo de palavras, com uma combinação inusitada para dar conta do inusitado que só eu sinto. Poesia única e que só poderia vir do esforço das minhas sensações e necessidades expressivas. O computador poderia transcrevê-la, mas, mero espectador, por mais poderoso que seja, não tem a menor condição de uma coautoria. Ele já não pode fazer a minha poesia. Ou encontrá-la. Inútil teclar, focada ou aleatoriamente. E não poderei continuar a viver dignamente se não disser o que estou sentindo. Para isso, preciso agora da minha imperfeição, que é lenta, limitada, humana. E, uma vez utilizada, muito além das teclas, não teria resolvido ainda o meu problema. Preciso agora de quem olhe e ouça, de forma também lenta, limitada e humana. CELSO GUTFREIND É PSICANALISTA DE CRIANÇAS E ADULTOS E ESCRITOR



Viagem

Transiberiana UMA AVENTURA DE TREM ATRAVÉS DA GELADA SIBÉRIA T E X TO

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Viagem

AO LONGO DE 9 DIAS PERCORREMOS 6 MIL QUILÔMETROS DE TREM, DESDE A MONGÓLIA ATÉ MOSCOU

Algumas viagens são tão emblemáticas que a mera menção do nome já ativa em nosso imaginário cenas impactantes. A travessia de trem na rota “transiberiana” é uma dessas experiências, que compartilho com vocês. Ao longo de 9 dias percorremos 6 mil km de estradas de ferro desde Ulaan Baatar, na Mongólia, até Moscou. No balanço do trem fomos vendo o cenário ao nosso redor mudar ao longo do trajeto. Das estepes dos nômades da Mongólia aos bosques em torno do lago Baikal, atravessando a Taiga do sul da Sibéria até as suaves colinas dos Montes Urais, terminando na floresta mista – mais variada e alta – da rússia Central Europeia, em direção à capital russa. Ao som do choque de metais dos rolamentos de nossos vagões com a estrada de ferro passamos os dias conversando, lendo, desfrutando de música clássica e bossa nova ao piano, degustando do melhor da culinária russa, brindando com vodka essa fantástica obra de engenharia do início do século XX. Iniciada por Alexandre III em 1891, foi inaugurada em 1905 pelo último Czar Romanov, Nicolau II. A estrada de ferro Transiberiana ligou o império czarista do Báltico ao Pacífico e foi vital para a manutenção da União Soviética intacta por sete décadas e para a integração da atual Federação Russa. Através dessa ferrovia de 9 mil km, de Vladvostok, na costa do Pacífico, ao centro do poder em Moscou, circulam as riquezas naturais e minerais da Sibéria, bem como os cidadãos russos das 60 etnias que compõem o mosaico cultural do país. A rota tradicional transiberiana

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Viagem

cruza a Rússia por nove fusos horários, de Moscou a Vladvostok; a Transmongólia segue parte dessa rota e em Ulaan Ude vai para o sul, atravessando a Mongólia e o seu deserto de Gobi, seguindo até Pequim. Nós optamos por um esquema híbrido desses dois roteiros de trem, fazendo o trecho da Transmogólia de Ulaan Baatar até Ulaan Ude, depois continuando pela Transiberiana até Moscou. Uma viagem bárbara. Após uma semana na Mongólia, que relatei na última edição da Estilo Zaffari, embarcamos à noite em nossa “casinha sobre trilhos” onde tínhamos um trem privado ao longo de todo o trajeto – uma forma prática e confortável de viajar que conjuga o transporte e a acomodação. A primeira impressão da cabine que seria nosso cantinho na imensidão da Sibéria pelos próximos 9 dias foi de ser minúscula. Ao longo dos dias fomos aprendendo a otimizar os espaços, acomodando o essencial nos nichos disponíveis, facilitando nosso dia a dia. Depois de alguns dias já nos sentíamos experts na utilização dos espaços e na dinâmica da vida a bordo. ULAAN UDE Na primeira noite no trem cruzamos a fronteira da Mongólia com a Rússia e entramos oficialmente na Sibéria – um nome que já nos remete às imagens de terras frias, distantes

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e isoladas, com as quais íamos nos familiarizar nos próximos dias. Acordamos já em Ulaan Ude – capital da República Autônoma de Buriátia, da Federação Russa. Uma região de clima continental extremo, com - 40oC no inverno até + 40oC, resultando em uma população esparsa de menos de 1 milhão de habitantes. A terra dos buriatas, um grupo étnico budista próximo aos mongóis, representa a mistura da cultura da Ásia Central com a Russa, servindo de ponto de encontro entre o Leste e o Oeste. Almoçamos em um vilarejo de russos ortodoxos conhecidos como “Velhos Crentes”, que mantêm um estilo de vida de séculos atrás. Na metade do século XVII o Patriarca Nikon introduziu reformas na Igreja ortodoxa, e os seus opositores foram perseguidos ou banidos do império russo. Catarina II, no final do século XVIII, autorizou retornarem e preservarem suas práticas, desde que se estabelecessem nas recém conquistadas terras desabitadas da Sibéria. Nesse povoado de casas de madeira, com janelas multicoloridas, típicas da Sibéria, nos sentimos mergulhados em um tempo e uma cultura que nem sabíamos que existiam – situações que viagens para locais distantes e isolados nos proporcionam. Já a praça central de Ulaan Ude, com a estátua de Lenin e seu imponente teatro, nos remete ao período soviético, quando a Sibéria era temida por suas Gulags – um


PELA 9 MIL QUILÔMETROS DA FERROVIA TRANSIBERIANA CIRCULAM AS RIQUEZAS NATURAIS E MINERAIS DA SIBÉRIA, BEM COMO CIDADÃOS RUSSOS DAS 60 ETNIAS QUE COMPÕEM O MOSAICO CULTURAL DO PAÍS Estilo Zaffari

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Viagem

sistema de campos de trabalhos forçados aos opositores do regime. Prática já adotada no período czarista, quando o escritor Dostoiévski ficou exilado por uma década. Ao embarcarmos novamente em “nosso” trem iniciamos de fato o tramo do Grande Expresso Transiberiano, que nos levaria até Moscou. O legal de ter um trem privado, para o qual retornamos após cada visita, é de se sentir no final do dia voltando pra casa. LAGO BAIKAL Ao acordarmos, fomos brindados com a vista do Baikal, o lago mais profundo do mundo, com suas águas límpidas e azuis cercadas de montanhas, compondo um cenário de rara beleza. Mais uma vantagem do trem privativo, que saiu da rota principal para que pudéssemos contornar uma das margens do Baikal – a maior reserva de água doce do mundo, que se estende por 40 km de Leste a Oeste e 600 km de Sul a Norte, com uma profundidade de 1.620 metros. Ao longo da manhã percorremos a pitoresca Ferrovia Circumbaikal, entre Sliudianka e Porto Baikal. Paramos em uma pequena aldeia e, enquanto alguns intrépidos viajantes mergulharam nas águas geladas, eu fui fotografar o vilarejo de casas típicas de madeira. Entusiasmo, fui me adentrando naquele distante mundo siberiano quando cães com latidos selvagens congelaram meus passos. Após intermináveis mi-

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nutos com dentes caninos e raivosos mais próximos do que eu gostaria, apareceu a babushka me xingando pela invasão de seus domínios. Entendi que quem escolhe viver isolado na Sibéria não faz questão de visitas inesperadas. Apesar da animosidade, ela manteve os cães sob controle, me possibilitando recuar lentamente, passo a passo. Consegui retornar a tempo ao trem, que partiu em seguida. Ufa! Após o susto, uma grata surpresa: um piquenique às margens do Baikal, com música tradicional dos cossacos que colonizaram a região, seguido de um agradável cruzeiro até a cidadezinha de Listvianka, onde a população local aproveitava o domingo de verão na “praia”. IRKUTSK A parada seguinte foi a minha preferida – Irkutsk, capital da Sibéria Oriental. A história da cidade, fundada em 1661, é o exato padrão da “conquista russa do oriente”, que se desenvolveu em diferentes momentos. No século XVII com os cossacos, que construíram fortes no meio da Sibéria, no século XVIII com a colonização russa na expansão imperial de Catarina, a Grande. Já no século XIX a Sibéria era o destino de exilados e presos políticos que se opunham ao império czarista, e no século XX aos opositores do regime soviético, como já comentei. Irkutsk é hoje uma cidade de 600 mil habitantes – cen-


CONTORNAMOS O LAGO BAIKAL, MAIOR RESERVA DE ÁGUA DOCE DO MUNDO. IRKUTSK, CAPITAL DA SIBÉRIA ORIENTAL, FUNDADA EM 1661, É O ATUAL CENTRO ECONÔMICO DA REGIÃO E CHAMADA DE “PARIS DA SIBÉRIA” Estilo Zaffari

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tro econômico da região, tem um comércio pujante com a Mongólia e a China –, chamada de “Paris da Sibéria”, por ser o polo cultural e também graças às construções imponentes do período imperial, com suas catedrais ortodoxas. Aprendemos lá sobre o “Movimento Decembrista”, que foi uma revolta de nobres russos contra o poder absolutista czarista e a servidão no império. Em 14 de dezembro de 1823 o movimento foi duramente reprimido e nobres enviados para campos de trabalhos forçados na Sibéria. Onze mulheres nobres seguiram seus maridos e introduziram cultura e arte nessa região isolada do Império, onde ficaram exilados por mais de três décadas até serem anistiados, em 1856. Visitamos a mansão de um desses nobres e lá vivenciamos o refinamento cultural de meados do século XIX com um concerto clássico da época em plena Sibéria. KRASNOYAST No dia seguinte chegamos à Krasnoyast – a capital da Sibéria Ocidental –, onde navegamos no rio Ienissei, o maior sistema fluvial que desemboca no Oceano Glacial Ártico. Ao longo do caminho conhecemos a história da cidade, que também foi fundada pelos cossacos, russos sem terra e livres, que formavam exércitos não oficiais mas com a autorização do Czar de se apropriarem das terras que conquistassem em seu avanço em direção ao oriente. Esses

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desbravadores atravessaram os montes urais e, conforme penetravam na vastidão da Taiga (tipo de vegetação predominante na Sibéria, composta de bosques de coníferas e bétulas), construíram fortificações que estabeleceram as primeiras bases da ocupação russa na Sibéria. Entre uma cidade e outra nossa vida a bordo do trem acontecia entre nossas cabines, de onde apreciávamos a Taiga, o vagão refeitório, onde éramos muito bem servidos no café da manhã e jantar, e o vagão bar, onde aconteciam palestras de história e geopolítica, terminando com o pianista nos brindando com composições de Tchaikovsky a Tom Jobim. Mas a lembrança afetiva mais marcante, entre tantas, era o final de tarde, quando retornávamos para a cabine e a solícita comissária de bordo, com seus cabelos ruivos e acolhedor sorriso, nos servia o chá. Sentados junto à janela observávamos a cidade da qual nos despedíamos, os povoados dos arredores e, finalmente, a vastidão da Sibéria selvagem. NOVOSIBIRSK Na manhã seguinte já estávamos em Novosibirsk, com sua Ópera House, a maior sala de concertos da Rússia, localizada na Praça Lenin, no centro da cidade. Visitamos tambem, nos arredores da cidade, o museu ferroviário, que nos ofereceu um panorama completo do desenvolvimento dos trens que percorrem a Ferrovia Transiberiana.


A CIDADE DE KRASNOYAST, CAPITAL DA SIBÉRIA OCIDENTAL, FOI FUNDADA PELOS COSSACOS. LÁ NAVEGAMOS NO RIO YENISSEI, QUE DESEMBOCA NO OCEANO GLACIAL ÁRTICO Estilo Zaffari

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EKATERIMBURGO, FUNDADA POR “PEDRO O GRANDE”, FOI A ÚLTIMA PARADA ANTES DE MOSCOU 54

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EKATERIMBURGO A última parada antes de Moscou foi Ekaterimburgo, capital dos Montes Urais. A cidade, fundada em 1723 pelo Czar Pedro, o Grande, é hoje um dos centros mais importantes de finanças, indústria e cultura do país. Mas o mais interessante para mim foi o local onde fiquei com um pé em cada continente, na fronteira geológica entre a Europa e a Ásia. Além da Catedral sobre o Sangue Derramado, construída no lugar onde o Czar Nicolau II e sua família foram executados pelos bolcheviques em 1918 (fato histórico muito bem retratado na série Netflix “Os últimos czares”, a que assisti pouco antes de embarcar nessa viagem). Visitamos também, nas florestas Urais, o local onde a família imperial teria sido enterrada e que, após a queda da URSS, foi considerado “lugar sagrado”. A caminho de Moscou passamos por Kazan, capital de um antigo reino tártaro-mongol que, ao ser conquistado por Ivan, o Terrível, no final do século XVI, possibilitou a ampliação da fronteira leste russa ao longo dos séculos seguintes. Em nossa última noite a bordo adormecemos com o balanço e os sons que haviam nos aconchegado ao longo dos dias naquela mítica Ferrovia Transiberiana. Somente uma viagem por terra como essa nos permitiria entender a imensidão e o isolamento da Sibéria. Recomendo.

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Sampa C R I S

B E R G E R

VOCÊ TEM FOME DO QUÊ? Vai dizer que fome não tem “nome e sobrenome”? Às vezes, dá vontade de comer um prato específico, né? Nenhum outro matará nosso desejo. Pelo contrário, ele só vai aumentar. Reuni alguns restaurantes, que visitei recentemente, para os dias em que a fome “sabe o que quer”.

SATÚ: PRATOS ELABORADOS Vamos começar com o Satú: um restaurante em Baixo Pinheiros, que serve cozinha de autor. Espere comer muito bem por lá. Fui em um dia extremamente quente e, por isso, pedi pelo ceviche como entrada. Para matar a sede: Fitzgerald, o drink feito com gin, limão siciliano, xarope de açúcar e angostura. Na hora do prato principal, escolhi pela moqueca. No Satú o molho dela é servido à mesa, derramado de uma jarrinha. Tudo é fofo. Inclusive as mesas da varanda, que tem um jardim vertical lindo. SATURESTAURANTE.COM.BR

ROSSOPOMODORO: PIZZA PREMIADA NO BURBURINHO DO ITAIM Fome de pizza? A Rosso é uma graça e fica no coração do Itaim, ao lado de nomes de peso. No cardápio está a premiada Verace, que é uma margherita feita com molho de tomate San Marzano, muçarela de búfala, manjericão fresco e azeite extra virgem. A massa dela, como as demais do cardápio, passa por dupla fermentação e assada no forno a lenha a 485 graus. Além da pizza, também sugiro provar a burrata e a foccacia: divinas! Em tempo: a Rosso nasceu em Nápoles, tem várias casas pelo mundo e duas delas estão em SP. ROSSOPOMODORO.COM.BR

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VILA JAPAÍ: PEIXINHO! Quando a fome é de um japa não há cozinha que a substitua. O Vila Japaí fica em uma rua da Vila Madalena onde há muitas casas e algumas portinhas comerciais. Poucas. Ele está escondidinho no bairro e é um ótima surpresa do começo ao fim: o atendimento carinhoso faz tudo ficar melhor. O combinado de sushi e sashimi leva cortes mais grossos com peixes frescos. Vale pedir um shimeji de entrada, pois é uma delícia. Há mesas na varanda e na parte interna. Japa sem frescura para comer bem e sem gastar uma fortuna.

VARAL 87: PARA COMER CARNE Os fãs de carne vão adorar o Varal 87, localizado em Moema. Os cortes são nobres e assados na parrilla, fogo de chão e varal. Sim, há diferentes técnicas de cozimento. No cardápio: picanha, ancho, chorizo, assado de tira e até galeto na brasa. Na carta de drinks, olhe com simpatia para o gin tônica com folha de pitangueira, colhida do quintal da casa e assinado pelo Marcos Lee. E também aposte nos acompanhamentos. A cebola caramelizada ganha destaque, assim como a pupunha assada. VARAL87.COM

@VILAJAPAI

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Sabor

A cozinha

viveiro de Silvia Corbucci P O R F OTO S

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T E T Ê

PAC H E C O

L E T Í C I A

R E M I Ã O



Sabor

NO ESPAÇO AMPLO E ILUMINADO, ONDE AVES, CÃES, PLANTAS E PESSOAS VIVEM EM SINTONIA, FICA A COZINHA VIVEIRO DE SILVIA Numa manhã quente de verão chegamos, munidas de câmera, bloquinho e caneta, numa casa florida, em meio a prédios do bairro paulistano Vila Mariana. As portas e janelas abertas e uma singela placa avisando “cuidado com o cão” não entregariam nem de perto a experiência que teríamos a partir daquele portão. Ao entrar, fomos recebidas de asas abertas por inusitados anfitriões que logo deixaram claro quem é que manda no pedaço. Pedaço de castanha, no caso. O espaço se apresentou amplo e iluminado. Um grande salão, separado por um balcão, onde Silvia Corbucci dá aulas de alimentação viva e também grava vídeos que alimentam seu canal no YouTube, a Cozinha Efêmera. Portas de correr levam a um terraço cheio de plantas, com vista para um oásis em meio ao concreto cinza. Uma horta orgânica, flores e muita vegetação se estendem até o final do terreno. É nesse ambiente que a jandaia verdadeira Crudi e as arara-canindé Bambu e Pipa compartilham a vida e a comida com os humanos da casa e seus três cães, Menina, Cynthia e Jolie. Todos juntos, vibrando na maior sintonia. E é possível sentir a verdade disso. “Os moradores dos apartamentos em volta já estão acostumados”, diz Silvia. É comum que as araras não voltem para casa e aí ela já sabe: “Só podem estar no parque ou se refrescando na piscina do clube próximo”. Ao contrário da maioria dos animais que são domesticados, Silvia treinou os pássaros para viverem soltos. “Nós não cortamos as suas asas, são livres para voar.” Quanto privilégio. Silvia nos esperou com os ingredientes separados e dispostos em potes. Assim, sentamos no longo balcão e, com olhos e ouvidos curiosos, passamos a acompanhá-la na produção das receitas. Não se engane, quando alguém prepara algo de forma tão natural que até parece não estar preparando nada, não são apenas receitas de pratos que temos a chance de aprender. Senta que lá vem receita de vida.

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Salada de Brócolis com Maionese de Abacate 1 BRÓCOLIS NINJA 1/2 CEBOLA ROXA CORTADA EM FATIAS BEM FINAS 1/4 DE XÍCARA DE UVAS PASSAS PRETAS 1/4 XÍCARA DE GOJI BERRY SAL VIRGEM MAIONESE DE ABACATE 1 ABACATE PEQUENO OU AVOCADO 1 XÍCARA DE LEITE DE CASTANHA Na cozinha de Silvia, nada passa pelo fogo, pois, segundo o crudismo, isso causaria a desnaturação das enzimas que atuam na digestão. Ela usa, no máximo, um desidratador gigante, com 10 bandejas, que aquecem até 450. Os alimentos “cruzinham” e não cozinham. Os crudanos costumam comer pequenas quantidades de sal em alimentos fermentados ou sais de melhor qualidade, além de óleos prensados a frio, como o azeite. Na culinária crudívora, os ingredientes são aproveitados na sua integralidade e potência máxima. Mas, para Silvia, nem sempre foi assim. “Toda escolha implica renúncias”, diz ela enquanto pica tomates para o ceviche. “Eu tinha um distúrbio com a comida. Ela era o centro da minha vida.” Ao longo da explicação, profunda, entendi o ponto. Silvia vem de uma família mineira, pai médico, mãe dona de casa, cozinheira amorosa. Na mesa da sua casa, sempre teve muita comida saudável. Ela conta do trauma de levar os colegas da escola para comer na sua casa: “Minha mãe não deixava ninguém levantar da mesa antes de comer o prato inteiro de salada”.

NESTA COZINHA, NADA PASSA PELO FOGO. OS INGREDIENTES SÃO APROVEITADOS NA SUA INTEGRALIDADE E POTÊNCIA MÁXIMA

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2 COLHERES (SOPA) DE VINAGRE DE MAÇÃ 1 XÍCARA DE AZEITE SAL E PIMENTA MODO DE FAZER A MAIONESE: Bata todos os ingredientes no liquidificador, com exceção do azeite. Quando a mistura estiver homogênea, com o liquidificador ligado, retire a tampa e despeje o azeite em fio. MODO DE FAZER A SALADA: Corte os raminhos em pedaços bite size. Misture aos demais ingredientes e tempere com a maionese. Se preferir, deixe marinando na maionese por até uma hora, para amolecer o brócolis.



Sabor

A CEBOLA OXIDA LOGO DEPOIS DE CORTADA. UMA DICA ÓTIMA É USAR UMA FACA BEM AFIADA, QUE ROMPA O MENOR NÚMERO DE FIBRAS POSSÍVEIS, E IR COLOCANDO DENTRO DE UM RECIPIENTE COM AZEITE, ATÉ A HORA DO PREPARO


Ceviche 1/4 XÍCARA DE CEBOLA ROXA EM FATIAS BEM FINAS 1/2 XÍCARA DE TOMATES PICADOS EM CUBINHOS, SEM SEMENTES 1/2 A 1 PIMENTA HABANERO OU DEDO-DE-MOÇA PICADINHA, SEM SEMENTES 3/4 XÍCARA DE SUCO DE LARANJA COADO 1/4 DE XÍCARA DE SUCO DE LIMÃO COADO 1 PITADA DE SAL VIRGEM 2 XÍCARAS DE COGUMELO PLEUROTUS CORTADO DE COMPRIDO

UMA VEZ CONSCIENTES DO QUE COMEMOS, OU DE COMO A COMIDA ESTÁ INSERIDA EM NOSSAS VIDAS, BROTAM OS QUESTIONAMENTOS

1 AVOCADO OU ABACATE CORTADO EM CUBINHOS FOLHAS DE COENTRO MODO DE FAZER: Misture todos os ingredientes, com exceção do abacate, e leve à geladeira, coberto, por 2 horas, para marinar. Depois adicione o abacate e misture delicadamente, para não desmanchar os quadradinhos. Sirva em taças de dry martini.

A busca pela alimentação que faz sentido pra gente é uma longa trajetória e acontece de, no caminho, chegarmos a lugares desconhecidos da nossa alma. Uma vez conscientes do que comemos, ou de como a comida está inserida em nossas vidas, os questionamentos brotam de todos os lados. É exigido dos integrantes de cada cultura uma íntima conexão com a comida que a define. Todos os italianos têm que gostar de massa e pizza, os franceses precisam viver entre ensopados e patês de ganso, ai dos portugueses que não amarem ovos, bacalhau e açúcar, pobres dos gaúchos que ousarem não curtir um churrasco de boi, um coração de galinha, um fígado, um rim. É verdade, a cultura é uma poderosa estratégia de definição de dietas saudáveis, mas, em tempos de pluralização, cabe a cada um descobrir se isso faz sentido com o seu biotipo, suas crenças, seu estilo de vida. Pode ser que não faça. Aos 16 anos, Silvia foi morar na Austrália e lá conheceu o vegetarianismo. Passou a militar nesse universo. Era sempre a comida, ocupando um espaço imenso na sua vida, nas suas motivações, no seu autocuidado. Comer demais, comer de menos, comida pra cá, comida pra lá. Na faculdade de arquitetura, que acabou sendo a escolha, a sua principal função era cozinhar para os colegas, durante as longas sessões de projetos.

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Sabor

Picolé de Mirtilo 1 XÍCARA DE CASTANHA DE CAJU (DEIXAR DE MOLHO EM BASTANTE ÁGUA POR 4 HORAS, DEPOIS DESCARTAR A ÁGUA DO MOLHO) 1/2 XÍCARA DE POLPA DE COCO VERDE 1/2 XÍCARA DE MEL OU MELADO DE CANA 1 XÍCARA DE LEITE VEGETAL DE SUA ESCOLHA (USAMOS LEITE DE MACADÂMIA) 1/2 XÍCARA DE ÓLEO DE COCO DERRETIDO

“O CRUDISMO (NÃO COZER OS ALIMENTOS) CUROU MEU DISTÚRBIO DE COLOCAR A COMIDA NO CENTRO DE TUDO” SILVIA CORBUCCI Obviamente a arquitetura não venceu o obstáculo da comida, e a vegetariana convicta acabou indo trabalhar como diretora de marketing da rede de fast food Galeto’s. Pode parecer sem sentido, mas como disse antes, todas as experiências são parte do caminho. No Galeto’s ela entendeu o negócio da alimentação, a escala industrial e isso a levou à preocupação com os ingredientes que a levaram para a produção orgânica. Quando se chega ao ponto de questionar a fonte do alimento, quem o produz, a qualidade do solo, as relações de trabalho, plantio, colheita, transporte, a forma forma como ele chega até nós, o caminho já não tem mais volta. E foi isso que aconteceu com Silvia. Dos orgânicos para o crudismo, com passagem só de ida. “Sinto que cada vez mais estou desmaterializando a comida. O crudismo curou meu distúrbio de colocar a comida no centro de tudo.” Pode parecer básico, é só comer coisa crua? Não. O crudismo é um universo que se expande na mente. É uma luz sobre a essencialidade de tudo que nos rodeia. Algo que nós, consumidores da escala industrial, quase nunca paramos para pensar: proporção, quantidade, sazonalidade. Equilíbrio.

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1-2 XÍCARAS DE MIRTILOS (PODE SER FRESCO OU CONGELADO). SE USAR MIRTILO CONGELADO, AGUARDAR DESCONGELAR

MODO DE FAZER: Bata todos os ingredientes no liquidificador e coloque o creme em forminhas de picolé. Coloque os palitinhos de picolé dentro de cada forminha e leve ao freezer até o dia seguinte. No picolé ela usa leite de castanha, feito em casa.



Sabor

MAIS DICAS NO CANAL DA COZINHA EFÊMERA NO YOUTUBE


Ricota de Castanha POLPA RESIDUAL APÓS FAZER O LEITE DE CASTANHA SAL AZEITE LIMÃO PIMENTA-DO-REINO

“COMIDA NÃO É UMA COISA,

CEBOLINHA ROXA

UM OBJETO. É ALGO COM QUE VOCÊ

AZEITONA PRETA

TEM QUE SE RELACIONAR,

MODO DE FAZER: Depois de fazer o leite de castanha para o picolé, aproveita a polpa que fica na peneira. Se você não for fazer na hora, congele, pois ela é bem perecível. A ricota dura no máximo três dias na geladeira. Basta misturar os ingredientes na medida da quantidade de polpa que você for fazer. DICAS: Você pode fazer esta ricota com qualquer castanha, mas umas são mais gordas que as outras. A melhor de todas é a macadâmia. Se for fazer com ela, diminua a quantidade de azeite. Essa, de castanha de caju, pode usar um pouco mais de azeite para devolver a oleosidade. Depois de misturados os ingredientes, é só apertar bem a pasta numa forminha sem fundo, esperar um pouco e desenformar. Decore com a azeitona, uma folha de capuchinha, um pedaço de azeitona.

TER CONSCIÊNCIA”

SILVIA CORBUCCI

Nada faz mal, tudo depende da quantidade que ingerimos. Silvia nos posiciona: “Comida não é uma coisa, um objeto. Comida é algo com que você tem que se relacionar, prestar atenção, ter consciência. A comida é a mensagem”. Para coroar o encontro que estava por terminar, Pipa faz um pouso estratégico no ombro da sua humana. Quer um pedaço da castanha que sobrou do leite recém-preparado, sobre o balcão. Tamanha precisão rendeu, além da castanha, um goji berry de brinde. Lembrei de uma frase que minha mãe usava para definir uma prima cujo porte físico ela admirava bastante: “A Tereza come que nem passarinho”. No fim, é isso mesmo. Não há resumo. Tudo é um longo aprendizado na direção de ir abandonando crenças, apegos, pesos, ideias antigas sobre as coisas. E ir desmaterializando junto com a natureza que nos cerca e alimenta e nos tornando cada vez mais leves, até o dia de, quem sabe, com sorte, sairmos voando. COLABOROU COM ESTE TEXTO: ELAINE PELED, DOUTORA EM SOCIOLOGIA POLÍTICA, PROFESSORA DO DEPTO. DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, COM PESQUISA EM SOCIOLOGIAS DA ALIMENTAÇÃO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE

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O sabor e o saber F E R N A N D O

LO K S C H I N

CENOURA

QUE MINHAS IDEIAS SEJAM TÃO DELICIOSAS COMO TUAS CENOURAS (MARCEL PROUST, 1909) Mitos são mais sedutores que fatos, despertam nosso interesse, parecem óbvios, sempre fáceis de entender e transmitir. Fatos são frágeis, vêm misturados com incertezas. Se os mitos são perenes, fatos são provisórios, estão sujeitos à lei darwiniana, somente os mais fortes perduram. Uma das dores do saber é o luto. Aprender implica extinguir um fato obsoleto e substituí-lo por outro mais apto. A certeza é a ilusão do conhecimento, um saber doente que não se desenvolve. É curioso como convivemos com mitos não identificados, grandes e pequenos. Na minha cabeça a cenoura era o alimento predileto do coelho, afinal cresci junto com o Pernalonga e o outro coelho da minha infância, Pedro Coelho (Beatrix Potter, 1902), corria atrás de alface e rabanetes, mas na capa segurava uma cenoura. O fato é que os coelhos livres na natureza não comem cenouras – ou qualquer outra raiz –, comem folhas, gostam mesmo é de alface e funcho. Coelhos em cativeiro aprendem a comer cenouras – cujo teor de carboidratos traz até alguma toxicidade. A imagem do Pernalonga sorridente a roer uma cenoura imita a cena do filme ‘Aconteceu numa Noite’ (1934), em que Clark Gable mastiga uma cenoura e fala de boca cheia. O Pernalonga virou um ícone da 2ª Guerra, afinal enfrentava com humor inimigos poderosos (inclusive Hitler, Mussolini e tropas japonesas) e depois de tentar evitar o confronto –“Vocês se dão conta de que isto significa guerra?” – desferia terríveis desforras. O coelho tornou-se Sargento Honorário da Marinha americana e mascote de vários esquadrões da Força Aérea aliada, sua imagem roendo uma cenoura pintada na fuselagem dos aviões. A importância da cenoura na 2ª Guerra transcende ao Pernalonga. Tudo começa com a invenção do radar que

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deu aos ingleses uma ‘inexplicável’ superioridade no combate aéreo noturno. Na tentativa de manter sua arma secreta, o Departamento de Guerra produziu campanhas publicitárias com a mensagem de que cenoura era ótima para os olhos, que ampliava a visão noturna, ‘coelhos não usam óculos’, etc. Até a população inglesa – e eu, 50 anos depois – acreditou. Fake news são antigas. A cenoura alaranjada é rica em caroteno, um precursor da vitamina A. A carência de vitamina A afeta a visão noturna, mas sua ocorrência é raríssima mesmo numa economia de guerra. A suplementação de caroteno não melhora a visão normal. A cenoura foi primeiramente cultivada no Afeganistão há cerca de um milênio, sua (literalmente) terra natal é vizinha ao Himalaia. Migrou para a Rússia e Oriente Médio e daí, via invasores e mercadores muçulmanos, para a Europa e Norte da África. A cenoura selvagem é adstringente, daí o nome botânico daucus, ‘queimadura’, em grego. A cenoura é classificada como umbelífera, grupo de plantas aromáticas de caule oco que inclui o nabo, anis, aipo, coentro, funcho, cominho, salsa e a cicuta, utilizada na execução de Sócrates. As civilizações antigas cultivavam cenouras mais como medicamento e ornamento que alimento. As cenouras eram roxas, ricas no pigmento antocianina, e tinham muitas ramificações. As cenouras alaranjadas, hoje dominantes, surgiram na Holanda do séc. XVI por seleção de sementes. São recentes, por isto chamamos a cor pela fruta laranja e não pelo vegetal cenoura. Curiosamente, boa parte do estudo de seu desenvolvimento ocorreu em museus. Pintores flamengos retrataram cenouras roxas junto de amarelas claras em 1559 (Cristo e as Adúlteras, Aertsen), cenouras alaranjadas em 1605 (Cena de Cozinha, Wtewael), de tons mais fortes em 1647 (A Mercearia, Gerrit Dous) enquanto a descrição botânica da cenoura laranja só ocorreu em 1721 (Du Vivie).


Há muitos outros quadros; a cenoura está tão representada na pintura holandesa como os moinhos, tulipas, queijos e tamancos. Há quem diga que o motivo é político. Liderado por Guilherme de Orange numa guerra por independência da Espanha, o povo viu na cenoura cor de laranja um símbolo nacionalista. Ainda hoje a seleção holandesa de futebol – a ‘laranja mecânica’ – tem o fardamento dessa cor. E há documentação ao revés: durante o período republicano (17801787), os ‘patriotas’ holandeses exilaram a casa de Orange e baniram as cenouras laranjas dos mercados, o vegetal sinalava monarquia. Caroteno vem do L. carota, ‘cenoura’. Essas cenouras ricas em caroteno entraram para a dieta da população e do gado leiteiro dando cor e cremosidade ao queijo Gouda, a bela ‘complexão dourada’ no rosto das camponesas. O caroteno tanto é filtro solar para a clorofila como corante de flores e frutos a fim de atrair polinizadores. Atrai também o homem. Um bulbo subterrâneo rico em caroteno é uma anomalia botânica, não tem função biológica e inexiste espontaneamente na natureza. A cenoura laranja é enferma, carece da enzima que hidrolisa o caroteno, acarretando assim seu acúmulo. Por outro lado, o caroteno previne a oxidação. Batatas e bananas escurecem quando descascadas e a cenoura roxa torna-se pardacenta ao cozinhar, encardindo molhos, roupas e até a pele do cozinheiro. Já a cenoura cor de laranja mantém a cor e textura. O formato uniforme e o sabor agradável também ajudaram na sua popularização. A cenoura compete com a beterraba em teor de açúcar; para os irlandeses do séc. XIX vivendo à base de batatas, a

cenoura era ‘mel subterrâneo’. Esta doçura deixa a cenoura mais aceitável ao paladar infantil que os outros vegetais, corrige a acidez do tomate nos molhos e saladas e permite o uso em bolos, geleias e conservas. Henry Ford superava o Pernalonga no gosto por cenouras – aliás, a menos nociva de suas obsessões: autor de ‘O Judeu Internacional, O Maior Problema do Mundo’, sua foto decorava o gabinete de Hitler. O antissemita definia-se como um ‘antileite’ (“a vaca é a máquina mais primitiva”), um ‘anticarne’ (“a soja é a substituta da boi, a aveia a do frango”) e um ‘pró-cenoura’ (“o elixir da longa vida”). A imprensa dos anos 20 conta do jantar em sua homenagem em Detroit onde todos os pratos servidos eram à base de cenoura: sopa de cenoura, mousse de cenoura, salada de cenoura, picles de cenoura, torta de cenoura, cenoura gratinada, pão de cenoura, bolo de cenoura, tudo regado a suco de cenoura e tendo sorvete de cenoura como sobremesa. Mas houve quem desse a vida por cenouras. Louco (no sentido original) por cenouras, o ativista alimentar inglês Basil Brown submeteu-se em 1974 a uma dieta de 4 litros diários de suco de cenoura para morrer no décimo dia por insuficiência hepática secundária à overdose de vitamina A. A necropsia descreveu o corpo totalmente amarelo, o fígado “semelhante a um purê de cenouras”. O banquete de Henry Ford teve precedente histórico. Calígula, o mais pervertido dos imperadores romanos (37-41 A.C.), teria oferecido uma ceia aos senadores romanos em que todos os pratos eram à base de cenoura na expectativa de que ocorresse uma orgia, ‘todos correndo como animais no cio’.

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O sabor e o saber F E R N A N D O L O K S C H I N

A aura de afrodisia da cenoura, outro mito, é própria de todo alimento cilíndrico e alongado, e se a consistência for dura, há um valor agregado. Na origem, cenoura (L. carota) deriva da raiz indo-europeia *ker, ‘corno, algo endurecido’. Os ingleses contam das duas viúvas numa horta. Ao desenterrar uma cenoura especialmente longa, uma comenta: “Esta lembra meu marido”. A outra pergunta: “Era assim tão grande?” e ouve como resposta: “Não! Era assim tão sujo...”. Plinio e Galeno enfatizaram o poder libidinoso das cenouras selvagens. Os gregos chamavam as cenouras de philtron (‘amor sensual’), um ingrediente importante nas poções amorosas. Legionários romanos davam sopa de cenoura para as escravas de guerra para torná-las receptivas às investidas sexuais. Na região francesa de Saintonge as noivas eram presenteadas com uma cenoura e dois ovos de ganso, e na região do rio Aisne, uma cenoura e duas batatas adornavam as portas dos prostíbulos. A relação da cenoura com o coelho – roedor de grande fecundidade – realça o mito. Nos anos 70, Odile Rubirosa, ‘uma locomotiva a todo vapor’, gostava de apresentar o namorado como “o ‘Coelho’, pela frequência, não pela duração”. Se eu então soubesse que o apelido deste rival imaginário era devido à dentição, não teria me infligido tantas cenouras... A cenoura compete com a banana e o pepino pelo título de joguete sexual vegetal preferencial, e para quem acha que tamanho não é documento, há a delicadeza das ‘baby carrots’ – aliás, uma fake food, cenouras imperfeitas industrialmente processadas. O uso é sacramentado por séculos, mas especialistas alertam que ‘este falo vegano, barato e natural’ pode inocular bactérias e agrotóxicos e recomendam sua substituição pelo Vive la Dame, vibrador elétrico que imita uma cenoura. Cenouras eram empregadas também para sofrimento. As peças de Aristofanes (Séc. V A.C.) falam da rhaphaniosis, a inserção de nabos e cenouras no ânus e na vagina como castigo para adúlteros. As penas eram executadas no local do crime, a alcova onde a infidelidade fora cometida, ou – humilhação pública – no Ágora, o mercado de Atenas onde os vegetais eram vendidos. Uma fake news envolvendo o ator global Mario Gomes virou uma das mais cruéis lendas urbanas. Carlos Imperial, autointitulado ‘gênio mentiroso’, por conta de uma antiga desavença, fez publicar em 1977 a notícia de que Mario Gomes se internara num hospital para remover uma cenoura

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entalada no ânus. Que tal assunto ajudasse a transformar o galã de novelas em vendedor ambulante de sanduíches depõe sobre a moral de cuecas brasileira... Com base nos antigos métodos de doma equina, a cenoura junto ao porrete são símbolos de recompensa e punição. Já a cenoura pendurada num bastão à frente do jumento que caminha sem alcançá-la é a imagem de gratificação sempre oferecida, nunca entregue. Há um livro com o título de ‘Como as Cenouras Ganharam a Guerra de Troia’: Agamenon teria fornecido cenouras aos guerreiros escondidos no interior do cavalo ‘para seus intestinos não funcionassem’ – estranha a escolha de um vegetal tão rico em fibras. Historicamente, raízes, ervas e folhas eram o sustento do plebeu, as carnes reservadas à nobreza. Judeus da Europa Oriental celebram o Rosh Hashaná com tzimmes, ensopado de cenoura, invocação de prosperidade: a palavra ídiche para cenoura mehren é afim a mehrn, ‘crescer, multiplicar’. Na França pré-industrial vivre de carottes era ‘carência de recursos’, e chier carottes, a ‘constipação intestinal’. Uma faceta lírica única do terror revolucionário francês, o Calendário Republicano criado em 1792 por um poeta e um jardineiro tinha como o sétimo dia do primeiro mês o Carotte, dia da cenoura. E não surpreende o ano começando com Raisan, ‘uva’, o primeiro mês sendo Le Vendèmiaire, ‘vindima’. Todas as artes se complementam. Um prato de cenouras pode ofertar tanta arte como a literatura. Proust registra graciosamente o fato ao agradecer por carta à sua cozinheira Cèline Cotin o preparo de um boeuf-mode aux carottes. “12 de Julho de 1909. Cèline, Quero te cumprimentar pelo maravilhoso boeuf-mode. Espero ser tão exitoso como você esta tarde nas minhas tarefas, que meu estilo seja tão brilhante, tão claro e sólido como tua galantina – que minhas ideias sejam tão deliciosas como tuas cenouras, tão nutritivas e frescas como tua carne. Enquanto me esforço no meu trabalho, eu te felicito pelo teu. MP”

FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br


Conheça as novas clínicas CCG.

CCG Zona Sul Av. Juca Batista, 4425

Este é um novo momento para o Centro Clínico Gaúcho. Estamos mudando o nosso sistema de saúde para deixar o nosso atendimento mais completo, resolutivo e eficiente. E para complementar, apresentamos um novo padrão com clínicas mais modernas e confortáveis. A próxima a receber o novo padrão será a do centro de Porto Alegre, que inaugurará em abril. E acredite: esse é só o começo.

centroclinicogaucho.com.br


Lugar

SURPREENDENTE

Jordânia T E X TO

E

F OTO S

P O R

LU C I A N E

G A R C I A

Lembro de quando assistia a Indiana Jones e a Última Cruzada e ficava encantada com as cenas gravadas em Petra, que, até então, era completamente desconhecida para mim. Cheguei a me perguntar se era possível tamanha beleza existir. Alguns anos se passaram e lá estava eu, com o grupo Gurias a Bordo, rumo à Jordânia e, é claro, a Petra. Mais que um sonho a ser realizado, a Jordânia era, na minha cabeça, um destino cheio de mistérios – visto que, mesmo diante de tantas histórias fascinantes, não sabia muito bem o que esperar do país. Chegando a Amã, o aeroporto já nos conta um pouco do que iremos encontrar na Jordânia: modernidade e muita organização. Nossa primeira parada na capital foi apenas para dormir e comer. E por falar em comer, foi em Amã que encontramos o Fakhr Eldeen, um dos melhores restaurantes de comida árabe em que já fui. Com um ambiente bonito e frequentado tanto por locais quanto por turistas, é o tipo de restaurante feito para ficar horas na mesa se deliciando com a comida.

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PAISAGENS ROCHOSAS, ARENITO E CALCÁRIO ESCULPIDOS PELO VENTO, ASSIM É O DESERTO DE WADI RUM

Com energias renovadas e expectativas em alta, seguimos para nossa primeira surpresa: o deserto de Wadi Rum. Com uma paisagem e um visual exuberante, difere do deserto marroquino com suas dunas douradas e areias finas. Aqui a paisagem rochosa ganha destaque junto ao arenito e calcário esculpidos pelo vento, ornados em tons terracota e uma imensidão de tirar o fôlego. Hollywood descobriu aqui um cenário riquíssimo – filmes como Lawrence da Arábia, Transformers, Aladdin e Perdido em Marte foram rodados nessa região. De alguns desses filmes restaram apenas partes dos cenários, que, posteriormente, foram transformados em exóticas acomodações para quem quer apreciar o deserto de forma única, como é o caso dos domos transparentes de Perdido em Marte, que atualmente contam com jacuzzis e outras mordomias à disposição dos hóspedes. Há também opções de tendas mais simples, para aqueles que só querem admirar a paisagem, ou opções de passeios em 4x4, para quem vai apenas passar o dia. Finalmente chegamos ao passeio mais aguardado da viagem: Petra. Decidimos começar a visita à noite, a fim de participarmos do Petra by Night. Uma ideia simples e maravilhosa: a imponente estrutura rochosa iluminada à luz de velas, tendo como som ambiente uma agradável sinfonia instrumental. Entramos pela portaria do “parque” e começamos a descer por uma via iluminada com milhares de velas naturais, nada de LED ou outras modernidades. Conforme descíamos, a curiosidade ia

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PETRA BY NIGHT: A LUZ DAS VELAS TRANSFORMA A ESTRUTURA DE PEDRA EM ALGO AINDA MAIS EXUBERANTE aumentando e o caminho ia se estreitando por dentro de um desfiladeiro, com paredes altas e sombras fantasmagóricas formadas pelas pequenas chamas das velas. Depois de mais um pouco de caminhada, uma curva a 90 graus revelava o maior tesouro da Jordânia: a Cidade Rosada. A edificação que se vê, a mais famosa delas, é chamada de Câmara do Tesouro ou Al Khazneh. Rodeada por mais algumas centenas de velas, a edificação crescia exuberante enquanto nos acomodávamos esperando o show começar. Um leve som vindo de uma flauta ecoava pelo público enquanto cores vibrantes iluminavam o edifício e produziam o mais emocionante espetáculo já visto por mim. O momento é único. O passeio se encerra da mesma maneira que começou: com velas nos guiando por todo caminho, mas agora o sentimento de expectativa é sobreposto pelos de emoção e deslumbramento. Ao amanhecer, continuamos nossa aventura e adentramos novamente a cidade de pedra. Protegidas por lenços e chapéus, por conta do calor de setembro, seguimos pelo mesmo caminho trilhado na noite anterior. Agora sem o suporte das velas, conseguimos apreciar, com maior atenção, as paredes de pedra e o estreitamento que antecede a curva que revela a Cidade Rosada. Petra mantém o ar mágico e encantador que arranca de todos os presentes suspiros e exclamações de admiração. Iluminado pelo sol forte, o Tesouro da Jordânia possui

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JERASH É UMA DAS MAIS BEM PRESERVADAS CIDADES ROMANAS, COM MAIS DE 3 MIL ANOS DE HISTÓRIA. OS DOMOS DO FILME DE HOLLYWOOD SE TRANSFORMARAM EM ACOMODAÇÕES EM MEIO AO DESERTO


BANHAR-SE E BOIAR NO MAR MORTO SÃO EXPERIÊNCIAS INCRÍVEIS. E AS PAISAGENS DA REGIÃO SÃO BELÍSSIMAS tons rosados, que contribuem para a sua beleza e imponência. Historicamente a região era habitada pelos nabateus (nômades árabes), que aproveitavam a proximidade de Petra das rotas comerciais da área. Suas moradias cavernosas ainda hoje são uma atração à parte no passeio, sendo possível observar diferentes tipos de construções ao passar pelo desfiladeiro, dentre elas: obeliscos, altares, ruas com colunas e o mosteiro de Ad Deir, que completa a vista. CIDADE E MAR Do deserto para o mar, seguimos viagem para o ponto mais baixo do planeta: o Mar Morto. Na fronteira com Israel e a 430 metros abaixo do nível do mar se encontra a mais salgada das águas, que, alimentada pelo Rio Jordão, esconde segredos únicos. A alta concentração de sais e minerais, alguns encontrados somente aqui, faz da região um lugar famoso por seus tratamentos terapêuticos. No conforto do Hotel Kempinski, conseguimos recuperar o fôlego e aproveitamos para boiar e relaxar, mesmo que por pouco tempo, nas águas do Mar Morto. Por conta da quantidade de sal, recomenda-se que a permanência na água não ultrapasse o tempo de 10 minutos, a fim de evitar prejuízos para o corpo. Os banhos de lama compensam o pouco tempo na água. Se não são bons para a pele, com certeza garantem muitas risadas entre os viajantes. Antes de retornarmos para a capital Amã, mais uma surpresa: a cidade de Jerash, com mais de 3 mil anos de história e uma das

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mais bem preservadas cidades romanas do mundo. Tendo sofrido com guerras e terremotos, boa parte da região ficou por muitos anos enterrada. Aos poucos os templos dedicados a Zeus e Artemis foram descobertos, juntamente com colunatas, fontes, teatros e até um hipódromo. Os detalhes em mosaicos e o nível de conservação das construções encantam os turistas, fazendo com que essa seja a segunda principal atração do país. Passear por suas avenidas grandiosas é realmente emocionante e, além da impressionante manutenção do sítio arqueológico, a cidade encanta pelo tamanho e detalhes que carrega. Terminamos a viagem em Amã, agora sim com tempo para apreciar a beleza da cidade. Aqui o antigo e o moderno se misturam e criam uma fascinante cena de contrastes, com muitas montanhas e serras. A cidade é organizada, limpa e tranquila para passear. As torres das mesquitas são quase os únicos pontos coloridos de Amã, e do alto o que se vê é um tapete ondulado de construções revestidas de rochas claras, da cor do deserto. As ruas estreitas reservam segredos incríveis e uma diversidade deliciosa de cores e sabores. Um lugar hospitaleiro e de uma história riquíssima que, em combinação com o contemporâneo, faz da cidade uma grata surpresa no Oriente Médio.

O PROJETO “GURIAS A BORDO” FOI IDEALIZADO PELA AGENTE DE VIAGENS LUCIANE GARCIA E PELA JORNALISTA FERNANDA PANDOLFI, PARA LEVAR MULHERES A TODOS OS CANTOS DO PLANETA, ESPECIALMENTE ÀQUELES EM QUE ELAS NÃO IRIAM SOZINHAS (OU NÃO TERIAM COMPANHIA). SÃO VIAGENS COM MUITA CULTURA, BELEZAS NATURAIS, BONS HOTÉIS E A CERTEZA DE ÓTIMAS AMIZADES. EM 2020 O DESTINO SERÁ O SRI LANKA. • INFORMAÇÕES EM WWW.DIARIODEBORDO.TUR.BR

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Equilíbrio C H E R R I N E

C A R D O S O

R.E.L.A.C.I.O.N.A.M.E.N.T.O. Tem sido difícil né, amigo leitor? Eu sei. Os nascidos na década de 80/90 têm sentido bastante as diferenças nos envolvimentos nos dias de hoje. Sabemos que foi nesse período que os jovens brigaram mais por liberdade. Por se distanciar dos padrões de envolvimentos dos seus avós (que vivem relacionamentos longos, mas dentro de um contexto machista, com mulheres resignadas) ou dos seus pais (em que a mulher lutou pela igualdade, a duras penas, tendo que ser mãe, mas também saindo em busca do espaço profissional. Muitos desses casais não se mantiveram juntos, dando início aos processos de divórcio). Parte disso, vejo, aconteceu pelo desejo de “ser” como os homens. Mulheres brigando pelos mesmos direitos. Trabalhar e poder também se sustentar, se quisessem. Nossas mães abriram essas portas, mas diante de grandes desafios e julgamentos. Ainda que tenham enfrentado com coragem e peito aberto, sabiam que a igualdade ainda estava longe. Tanto mulheres como homens aceitavam seus relacionamentos falidos, por medo de prejudicar a família. Tristes ou não, tudo em nome de um bem maior. Já os quarentões de hoje, não! Ficou então decidido (inconscientemente) que o padrão não se repetiria. Não eram mais aceitos desaforos, traições, abandonos. E foram se dando a permissão para experimentar mais.

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Nessa geração do fim dos anos 80, os hoje adultos, tiveram que ser a quebra dos padrões dos pais e a abertura dos caminhos para as gerações futuras. Nessa luta por ter liberdade e espaço, muitos se perderam. Os quarentões não estão se encontrando nesse Universo novo. O meio-termo parece ter sumido. A busca pelo equilíbrio, tão necessário em tudo na nossa vida, está obscurecida no meio de tantas ofertas. Muitos sentem saudades da época em que não havia redes sociais. Não havia tantas maneiras de se conectar com as pessoas. Era necessário ainda o tête-à-tête. Aquele chegar no outro, mostrar que você se interessou, se apresentar, se fazer ver, sentir a energia, se o santo bate. Mas isso são águas passadas. Foi preciso se adaptar aos novos meios. E muitos mergulharam fundo neste novo caminho. Percebendo que a demanda aumentou com as novas possibilidades virtuais. Há de tudo e há muito. E a geração que bradava ser livre, enfim, tem conseguido. Liberdade essa que aos olhos dos outros parece incrível. Afinal, “tenho muitas opções e posso cada dia ficar com um, basta eu escolher no catálogo dos apps de relacionamento”. Mas será? Será que é isso mesmo que queremos? Será que é apenas o deslizar de um dedo dando like pro bonitão (bonitona) que agrada aos olhos, torcendo para


que aconteça um match, que assim você será salvo da solidão? Será que é com quantas pessoas eu consigo estar ou transar que vou ser feliz? Será que isso preenche o vazio da alma? Eu não acredito. E o que é mais duro nos relacionamentos que vejo é que, mesmo quando emplaca, mesmo quando o match sai das redes e vem pro mundo do sentir a realidade, as pessoas esqueceram como viver o relacionar. Uma vez a variedade sendo alta, falta o interesse em vencer os desafios. “Por que vou sofrer ou me incomodar com isso ou aquilo que essa relação me faz sentir, se basta eu abrir mão e buscar outra coisa ali naquele catálogo?” Entende? Virou a geração do: não quero sentir dor. Se dói, não me serve. Mas gente, preciso relembrar vocês de uma coisa muito comum em relacionamentos: duas pessoas que querem estar juntas enfrentarão desafios. Todos os dias! Assim como eles também existiram na época dos seus avós, assim como tiveram também seus pais. Nós lidamos com pessoas reais, ainda que as conhecendo por meio do mundo virtual. E esses problemas aparecerão quando as duas pessoas quiserem se conhecer verdadeiramente, emplacando um namoro/casamento. A pergunta que fica é: o quanto você está disposto a aceitar o outro? Aceitar no sentido profundo da palavra. Aceitar que ele não é só o rostinho bonitinho que te encantou nas redes. Não é só o papo furado usado, com todos com quem o match acontece, só para que saia do app e venha para um bar, restaurante ou sua cama. Aceitar que quando o interesse superficial vira sentimento é preciso coragem! Coragem e compreensão para aceitar o outro dentro de todas as suas belezas, mas também de suas falhas e limitações. O mundo virtual pinta uma perfeição. Assim como antigamente pintavam os filmes de Hollywood ou as capas de revistas. As pessoas queriam ser os atores, modelos. Queriam aquela suposta vida linda e cheia de

glamour. Mas assim como com as redes sociais, acreditar que isso é um mundo perfeito é ilusório. A perfeição não existe. Nós não estamos aqui porque somos perfeitos. Viver é uma escola, cheia de altos e baixos, para que a gente possa evoluir. Quem é perfeito não precisa de evolução, não concorda? Portanto, nós não somos! E esta também é a graça. Se todos fossem perfeitos, se o mundo fosse colorido, se tudo estivesse em perfeita harmonia, será que seríamos felizes? É preciso vencer os desafios do querer estar junto. É preciso querer se aprofundar. Estender a mão para o parceiro quando este mostrar suas falhas e dizer: estou aqui, vamos superar isso! É acreditar que duas pessoas quando desejam estar juntas não é apenas pelo encantamento inicial, porque este fogo da paixão passa. É porque há coisas muito legais quando a base do envolvimento tem cumplicidade, parceria, compreensão, tolerância, humildade, valores, caráter e, acima de tudo, o amor. Esse que a gente tem sentido tanta falta em encontrar. E às vezes, quando acha que encontrou, descobre que a disposição em vencer as dores que o se relacionar traz anda escassa, justamente pela facilidade existente em trocar de um para outro. Fazer um random na vida afetiva não faz você evoluir como pessoa. Faz você carregar um peso energético tão grande na sua alma que lá na frente, quando se der conta, vai viver com a energia de um monte de gente na sua essência, só que seguirá completamente sozinho. Relacionamentos são uma delícia. Anda raro, difícil, eu sei, mas vamos confiar que ainda é possível. Dê o seu melhor para o outro e por você. No fim, valerá a pena, acredite! CHERRINE CARDOSO É AUTORA DOS LIVROS A INCRÍVEL ARTE DE DESAPEGAR E REINVENTE-SE: QUANTAS VIDAS SE VIVE EM UMA VIDA? WWW.AINCRIVELARTE.COM

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mulheres que amamos

A JORNALISTA ANA GUERRA, QUE FEZ OS PERFIS DAS DUAS MULHERES QUE APARECEM NAS PRÓXIMAS PÁGINAS, TRADUZIU EM UMA FRASE O QUANTO AS NOSSAS ESCOLHAS FORAM ACERTADAS: “TENHO A IMPRESSÃO DE QUE ELAS SÃO AS DUAS MULHERES MAIS INCRÍVEIS QUE JÁ CONHECI!”. LAURA BIER MOREIRA E SIMONE ZANOTTI SÃO DE FATO ESPETACULARES. INQUIETAS, DESBRAVADORAS, CORAJOSAS, ELAS ESTÃO FAZENDO HISTÓRIA EM SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO. E INSPIRANDO MUITAS OUTRAS

FOTO: FELIPE GAIESKI/DIVULGAÇÃO

MULHERES POR AÍ AFORA!

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LAURA BIER MOREIRA Algumas pessoas iluminam qualquer lugar e impactam as pessoas sem sequer abrir a boca. A Laura Bier Moreira é assim. Carismática, ela chega-chegando e abrindo caminhos com um sorriso que já começa nos olhos. Eu só a conhecia pelas redes sociais. No Instagram @laurabiermoreira ela publica imagens pessoais e de sua rotina de malhação, mas seu nome ficou conhecido por meio do perfil @roubadinhas, sucesso instantâneo desde a sua criação, em 2013. Despretensiosamente, Laura compartilhava fotos sempre que dava uma roubadinha na dieta. Como ela ama comer e também se exercitar, o objetivo era mostrar uma vida sem neura, em que é possível manter a saúde sem abrir mão de um docinho. O que era apenas um hobby tornou-se uma plataforma para os amantes do bem comer e uma fonte de negócios que cresce sem parar. Com milhares de seguidores, ela jamais elogia um produto ou serviço que não tenha testado e adorado. Essa autenticidade é o que atrai curtidas, parcerias e bons negócios. Descobri nela uma mulher aguerrida, aberta para aprender e que coloca ALMA (assim mesmo, em letras maiúsculas) em tudo que faz. O sucesso que tem agora, aos 30 anos de idade, vem sendo construído com muita dedicação e trabalho duro. Ainda na adolescência, enquanto cursava Administração de Empresas na PUCRS, começou a atuar junto ao pai, Ennio, fundador da Protenis, a maior empresa de promoções esportivas do sul do Brasil. Com ele aprendeu tudo que um produtor de eventos precisa fazer e encarou a rotina de muita ralação e zero glamour que o ofício exige. A sinergia com o pai é tão grande que ela e a irmã

Juliana, publicitária, tornaram-se sócias de Ennio na recém-criada empresa Blend. Otimista incurável, Laura mergulha de cabeça em todo e qualquer projeto em que acredita. Com ela não tem tempo ruim, pouca verba nem prazo impossível. Acho até que ela consegue fazer chover. É uma empreendedora nata, incansável, sempre disposta a ir além e – o mais legal de tudo – conectar pessoas. Seu grande business não é produzir eventos, embora faça isso com talento e perfeição. O que ela faz é concretizar ideias por meio de muito relacionamento, confiança e troca. Foi assim que tornou possível o Ramblas by Roubadinhas, um espaço que iniciou em 2018 com 750 m² e neste ano ocupou 50 mil m² na praia de Atlântida, no litoral norte gaúcho. Trata-se de um centro que une gastronomia, esporte, compras e entretenimento, com atividades para toda a família e que atrai importantes marcas gaúchas e brasileiras. Ela aplica no trabalho tudo aquilo que aprendeu com o esporte, primeiro na ginástica artística e depois no tênis. Como tenista profissional conquistou mais de 60 títulos. Obstinada e competitiva, sonhava em ser Top 10 do mundo, mas duas grandes lesões, uma no joelho esquerdo e a outra no fêmur direito, encerraram esse capítulo de sua vida ainda muito cedo, aos 17 anos. Laura tem um evidente amor pela vida. Gosta de acordar cedo para aproveitar o dia e diz que não tem vergonha de se lambuzar comendo, pois quer viver as experiências por completo. Saio do nosso bate-papo convencida de que se tem alguém que pode dominar o Universo, é a Laura. Anota aí. POR ANA GUERRA, JORNALISTA

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SIMONE ZANOTTI no jet ski –, Simone coleciona conquistas. Em sua casa brilham mais de 50 troféus, frutos do combo talento e dedicação. Em 2019 tornou-se subcampeã sudamericana e está classificada para o campeonato mundial, que acontecerá em outubro deste ano no Lake Havasu, estado do Arizona, nos Estados Unidos. A história dela fica ainda mais bonita ao descobrir que sua equipe esportiva é, na verdade, sua família. O maridão Daniel acumula as funções de patrocinador, técnico e holder, figura importante nas competições, que segura o jet ski no momento da largada. Parceiras constantes de Simone, as filhas Antonella, 8 anos, e Nicole, de 14 anos, são suas fãs e a acompanham nas competições sempre que podem. As meninas gostam de mimá-la, principalmente a mais velha, que cozinha guloseimas para a mãe e atualiza suas redes sociais. O Time Zanotti está presente em todos os momentos, dando suporte na difícil tarefa de conciliar a rotina de treinos com a vida real. Simone cursou Magistério e é professora de matemática, português e educação física no Ensino Fundamental de duas escolas públicas de Guaíba. Dedica seis dias da semana ao esporte, entre práticas na água, musculação e treino funcional. Ela também faz questão de levar e buscar as meninas no colégio, acompanhá-las nas atividades extracurriculares e preparar as refeições da família. Supermãe e superatleta, Simone voa sobre a água e fora dela. POR ANA GUERRA, JORNALISTA

FOTO: DIVULGAÇÃO

Mesmo que você seja como eu e ame o mundo do esporte, talvez não conheça a Simone Zanotti, um orgulho brasileiro e uma grande campeã. Permita-me, então, apresentá-la. Simone tem 41 anos, nasceu e mora em Guaíba, cidade banhada pelo lago de mesmo nome. A proximidade com a água contribuiu para que ela se tornasse vitoriosa em um esporte aquático, o jet ski. Mas nem sempre foi assim. A rotina de treinos e competições é recente na vida dela, que, apesar de atlética e ativa desde sempre, só descobriu seu dom há pouco mais de dois anos. O jet ski entrou em sua vida em 2004, quando ela e o marido, o comerciário Daniel Zanotti, compraram um veículo e o usavam para se divertir nos finais de semana. Venderam o equipamento e só voltaram à prática em 2015, quando adquiriram um Runa Boat, modelo onde o condutor vai sentado. Simone pegou gosto pela coisa, mas queria mais emoção. Adquiriu então um jet ski pilotado em pé. Nos primeiros dias levou inúmeros tombos, mas logo sua habilidade aflorou. Entre 2016 e 2017 começou a praticar com mais frequência. Na época, deixava o aparelho atracado numa marina da Ilha da Pintada, em Porto Alegre, onde conheceu outros praticantes. Foi convidada a participar do Campeonato Gaúcho e ficou em 10º lugar na primeira prova de que participou. Competitiva, se dedicou aos treinos e rapidamente avançou no esporte, tornando-se campeã gaúcha em 2018. Numa modalidade dominada por homens – ela é a única mulher brasileira a competir

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Palavra LU Í S

AU G U S TO

F I S C H E R

LEITURA VADIA

Com filhos entre a infância e a adolescência e comigo mesmo eu tenho visto como a indústria do entretenimento ocupou nosso tempo. Que espetáculo ruim. Não temos mais tempo de ficar entediados por não ter o que fazer, e consequentemente não experimentamos mais o gosto de descoberta casual de coisa interessante para fazer. Como meu filho de 13 flamantes anos tenho visto isso com clareza: com qualquer tempo dele acordado, sem aula ou treino ou tema, lá está ele no joguinho ou vendo algum vídeo de joguinho. (“Joguinho” eu é que digo, não ele.) Se não nos cuidamos, até na mesa, comendo, ele é capaz de estar com o olho posto numa telinha. E se vai jogar, para minha surpresa, sempre tem um colega, amigo, conhecido, para ser o parceiro imediato. E fala com o cara, grita diante da tela, se diverte matando umas figuras ou fugindo delas, ou se preparando para matar e fugir. O tédio. O vagar. A falta do que fazer. Sei que não é justo comparar infâncias sem levar em conta parâmetros corretos. No meu tempo não existia internet, e com isso não preciso dizer mais nada. Não posso esperar que ele, ou minha filha de dez anos, passem uma hora ou mais sentados no muro do edifício (onde agora não dá mais pra sentar, porque tem grade e outros impedimentos) escolhendo carros que passam – cada um ficava com um que dobrava a esquina, e ia acumulando imaginariamente. Claro, era o tempo em que a rua era de todos e o carro era um ponto alto do desejo geral. Quase nem dá para imaginar que eu, como todos os amigos de geração, em algum momento colecionei carteiras de cigarro e tampinhas de garrafa. Era o comecinho, ainda inocente, do consumo massivo, esse que agora nos colonizou, tomando de assalto todo o nosso tempo.

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Vai daí não temos tempo para uma audição vadia, para uma leitura errática. Sério: é um prazer sutil mas forte este de escolher um disco à toa e botar pra rodar, reencontrando ali uma velha canção, um timbre, um arranjo. Agora mesmo, no spotify, reouvi de caso pensado toda a obra de João Bosco e Aldir Blanc e de Ataulfo Alves. E os livros, então? Sou um feliz proprietário de uns quantos. Tantos, que alguma vez, anos atrás, eu mesmo me questionei para quê. E me dei como resposta uma ideia que tenho certa vergonha de contar aqui, mas conto: pensei na solidão da maturidade. Nunca vou estar sem assunto e diversão, foi o pensamento que me consolou. Faz sentido? É diferente do que ocorre com as novas gerações? Creio que sim, em um aspecto que para mim faz grande diferença – meus livros estão aqui, sólidos, empíricos, físicos. Eu os li, sublinhei, anotei, eu me tornei o que sou lendo-os. E mesmo os que não li, os que apenas comecei a ler, os que me olham insinuando maravilhas, os que me cobram atenção, todos eles me compõem. Dou um exemplo desta semana. Uma amiga perguntou algo sobre as primeiras décadas do século 20 em Porto Alegre, algo ligado ao Bom Fim, o bairro. E lá fui eu abrir páginas velhas, espirrar um pouco, entreter-me um tanto – e esbarrar no quase aleatório da leitura vadia. Leio na lombada Imigrantes judeus – Relatos, crônicas e perfis, de Moysés Eizirik, editora em 1986, encontro figuras do mundo do autor e, sem mais, leio que ele foi aluno de Emílio Meyer e conta coisas do dedicado mestre. Foi o que bastou para eu largar tudo e recorrer as linhas da recordação doce do velho professor. E, bem, também eu agora sou agora um velho professor. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR



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