Revista Estilo Zaffari - Edição 91

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Ano 12 N0 91 R$ 8,90

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Neste surpreendente 2020, o ato de pedir comida em casa ganhou outro sabor e outro significado



N OTA

D O

E D I TO R

REPENSAR, REINVENTAR Um vírus fez o mundo parar. Mas, muito mais do que nos recolher às nossas casas, a pandemia do coronavírus nos levou a imensas reflexões. O prefixo RE passou a ser o mais utilizado nas conversas (virtuais, claro): reinventar, repensar, rever, reestruturar, ressignificar. E por aí vai. E vale para tudo, trabalho, relações pessoais, rotinas, apegos, certezas. Esta edição da Estilo Zaffari foi pensada e produzida em meio a isso tudo, e não poderia passar ao largo da pandemia. Especialmente porque ela teve um grande impacto sobre a relação das pessoas com a comida, com a alimentação e com o ato de cozinhar. Pense na seguinte equação: restaurantes fechados, autorizados a trabalhar somente com delivery e take away + pessoas confinadas em casa, tendo que providenciar todas as refeições da família. Nas próximas páginas você vai ver como chefs e cozinheiros se reinventaram, dedicando talentos e esforços para conseguir entregar nas casas de seus clientes as comidinhas que tanto sucesso fazem nos salões dos restaurantes, sem perda de qualidade, com charme e, sobretudo, com muito afeto e positividade. Em contrapartida, você vai ler nesta edição uma matéria sobre o novo olhar dedicado à cozinha doméstica. Um efeito “benigno” da pandemia foi a descoberta do prazer de cozinhar para incontáveis pessoas que jamais tinham pisado na cozinha sem outra intenção além de comer. Novos cozinheiros e cozinheiras surgiram, crianças passaram a se divertir junto com seus pais elaborando receitas, famílias puderam compartilhar momentos à mesa que a rotina “normal” não permitia. Lindo de ver, mesmo considerando todas as dificuldades, apreensões e angústias que a crise da saúde acarretou. Outro de nossos temas principais, o turismo sofreu um baque gigantesco. E todos sabemos que vai demorar muito tempo para que esse setor retome suas atividades. Mesmo assim – e sempre valorizando o trabalho dos profissionais da área – incluímos nesta edição uma bela e colorida matéria sobre a Guatemala, assinada pelo grande viajante Beto Conte. Viaje nas imagens de Beto e inspire-se. Prepare seu coração. Dias melhores virão. OS EDITORES


Milene Leal milene@entrelinhas.inf.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Bete Duarte, Beto Conte, Milene Leal, Taciane Corrêa REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade ILUSTRAÇÕES Moa FOTOGRAFIA Letícia Remião, Beto Conte, Christiano Cardoso COLUNISTAS Celso Gutfreind, Cherrine Cardoso, Cris Berger, Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COMERCIALIZAÇÃO Carlos Eduardo Moi (eduardo@entrelinhas.inf.br) fones: 51 3026.2700 e 3024.0094 A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Entrelinhas Conteúdo & Forma, sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 20.000 exemplares IMPRESSÃO Cromo Gráfica e Editora

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Cel. Bordini, 675, cj. 301 Porto Alegre I RS I Brasil I 90440 000 51 3026.2700 www.entrelinhas.inf.br

Ano 12 N0 91 R$ 8,90

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Neste surpreendente 2020, o ato de pedir comida em casa ganhou outro sabor e outro significado

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FOTO: LETÍCIA REMIÃO

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Cesta Básica

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Coluna Humanas Criaturas

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Coluna Vida

48

Vinhos: Safra 2020

56

Coluna Sampa

76

O Sabor e o Saber

60

Coluna Equilíbrio

86

Mulheres que Amamos

88

Coluna Palavra

90

Reinvenção: em 2020, a tele-entrega mudou de status e ganhou sabor

22 O chá e seus sabores,


As cores e a diversidade humana, geogrรกfica e cultural da Guatemala

Um novo olhar sobre a cozinha de casa, provocado pela pandemia

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variedades, rituais e significados

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Cesta básica

NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA

AROMA DE INVERNO

CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR

Em plena pandemia, a Santho Aroma segue trabalhando firme e até inovando: em junho a marca lançou uma nova fragrância para ambientes. Singular é um perfume amadeirado que foi desenvolvido para a assinatura olfativa do Hotel Wood, em Gramado. Uma fragrância especial para a entrada do inverno. É um aroma quente, envolvente, que desperta curiosidade, aguça os sentidos, provoca inquietude e flerta com o mistério. Mais tenaz do que expansivo, Singular traz consigo algo único e sem igual, assim como o hotel. O perfume para ambientes foi desenvolvido para aplicar os conceitos do marketing olfativo em um dos hotéis mais diferenciados de Gramado, e agora pode também aromatizar a sua casa. Nas versões essência, home spray e difusor de varetas. Todos os produtos Santho Aroma podem ser adquiridos diretamente pelo site.

DE VERDADE: MÚSICA, MODA, LITERATURA, ARTE, LUGARES, VIAGENS, OBJETOS ESPECIAIS, PESSOAS GENIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO! P O R

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C O R R Ê A

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Estilo Zaffari

SANTHO AROMA AV. BORGES DE MEDEIROS, 2433 I LOJA 4 CENTRO I GRAMADO I RS WWW.SANTHOAROMA.COM.BR @SANTHOAROMA I @SANTHOAROMALOJA


OLHARES SOBRE O GUAÍBA A Smart – Arquitetura para a Vida Con Contemporânea criou um projeto cultural para homenagear um grande ícone da cidade de Porto Alegre, o Guaíba. O livro “Cidade Feita de Rio” é um belo apanhado de 112 fotografias do rio que banha a capital dos gaúchos, assinadas por profissionais renomados como Letícia Remião, Achutti, Fabiano Benedetti, Henrique Amaral, Nilton Santolin, Raul Krebs, Marcelo Nunes e Ricardo Fabrello, além de outros 32 fotógrafos amadores, escolhidos por meio de um concurso. Mais de 700 fotografias foram inscritas. Entre os selecionados estão moradores da capital, do interior, de outros estados e até de outros países. “Gente tão diversa, trazendo imagens tão inspiradoras, que foi necessário convocar um conselho editorial para a seleção das fotos”, conta Márcio Carvalho, sócio-fundador da Smart. “São imagens que vão muito além do pôr do sol, mostrando a vida que acontece à beira

e dentro do Guaíba”, diz a jornalista e escritora Cláudia Aragón, editora do livro. Parte da primeira edição da obra, que além das fotos tem um registro escrito de cada fotógrafo a respeito do seu olhar sobre o Guaíba, será doada para a Aldeia da Fraternidade, que atende crianças e adolescentes em vulnerabilidade social. A venda dos livros será transformada em recursos investidos na educação e na assistência desse público. Para adquirir o livro é necessário fazer uma doação para a Aldeia da Fraternidade por meio do link www.aldeiadafraternidade.org.br/livrocidadefeitaderio , a partir do dia 18 de junho. As imagens também compõem uma exposição virtual atualmente exibida no Instagram, já que a pandemia impediu a realização da exposição que havia sido programada. O projeto “Cidade Feita de Rio” conta com o apoio da Unisinos.

PARA ADQUIRIR O LIVRO: WWW.ALDEIADAFRATERNIDADE.ORG.BR/LIVROCIDADEFEITADERIO INSTAGRAM @CIDADEFEITADERIO


Cesta básica GASTRONOMIA DO BEM A dupla de comunicadores Bruna Paulin e Miltinho Talaveira, seguindo as ações da #CorrentedoBeM (B de Bruna e M de Miltinho), projeto que criaram em março deste ano para auxiliar pequenos e médios negócios com consultoria de comunicação gratuita, agora ampliam a ideia com o “Gastronomia do Bem”. O projeto realizou uma organização detalhada dos restaurantes, bares e cafés que seguem com seus salões fechados e estão funcionando por tele-entrega e retirada em loja. O levantamento já conta com 110 estabelecimentos. “Esta lista serve também para o público conhecer o posicionamento dos negócios diante da pandemia. Foi a maneira que encontramos de agradecer a forma empática como esses estabelecimentos seguiram as orientações de isolamento social, na tentativa de proteger todos da pandemia”, afirmam os idealizadores. A #CorrentedoBeM já atendeu mais de 30 empreendimentos desde seu lançamento. O serviço de consultoria faz uma análise do negócio e sugere ações de comunicação, como organizar redes sociais ou criar parcerias com outras empresas, para potencializar a divulgação das marcas. “A ideia é levar boas atitudes para o maior número possível de pessoas e entregar boas histórias. Buscamos empresas que acreditem que é possível, mesmo em tempos de crise, fazer o bem e crescer”, explica Miltinho. Empresas interessadas em receber a consultoria devem entrar em contato pelos perfis dos profissionais no Instagram. GASTRONOMIA DO BEM LISTA DAS EMPRESAS: HTTPS://BIT.LY/LISTADOBEM @MILTINHOTALAVEIRA I @BRUNAPAULIN/

GISELE ABRE FUNDO PARA AUXILIAR ORGANIZAÇÕES FILANTRÓPICAS NO BRASIL Com o aporte de R$ 1 milhão, Gisele Bündchen lançou recentemente o fundo Luz Alliance, em parceria com a BrazilFoundation, organização pioneira em filantropia no Brasil. O objetivo do fundo é apoiar causas emergenciais durante a pandemia do coronavírus, que vem impactando a vida de milhares de famílias. No primeiro momento, oito organizações foram beneficiadas, incluindo o Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, que já recebeu um aporte para ajudar na aquisição de equipamentos necessários ao combate da Covid-19. Os projetos Banco de Alimentos e Mães da Favela da CUFA, ambos do Rio Grande do Sul, o Mulher em Construção, o WimBelemDon, o Fome de Aprender e a AHMI (Associação dos Amigos do Hospital Maternidade Infantil Presidente Vargas), localizados em Porto Alegre, e a CUFA do Ceará – estado com um dos maiores números de casos da Covid-19 – receberam recursos para a distribuição de cestas básicas e kits de higiene para aproximadamente 1.200 famílias. Já o projeto Fome de Aprender, desenvolvido pelo ex-jogador de futebol Tinga no bairro Restinga da capital gaúcha, terá apoio para distribuir cerca de 13 mil refeições. Os aportes devem ajudar por cerca de três meses esses projetos para ações nas comunidades em que atuam. Enquanto outros apoios estão sendo estudados, Gisele abriu um canal de doações para pessoas e empresas que queiram ajudar direto pelo site da fundação. WWW.BRAZILFOUNDATION.ORG/LUZALLIANCE

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FOTOGRAFIAS QUE SALVAM O projeto “POA 150 Fotos” reúne um vasto acervo fotográfico com o objetivo de arrecadar fundos para instituições durante a pandemia. O alto impacto que a crise do coronavírus está causando motivou um grupo de fotógrafos de Porto Alegre a buscar alternativas para minimizar este momento difícil nas comunidades mais carentes. A ideia partiu do fotógrafo Pedro Braga. Inspirado por uma iniciativa italiana que também teve êxito na cidade de São Paulo, Pedro criou a campanha POA150Fotos. O projeto reuniu 150 imagens autorais doadas por 150 artistas diferentes para serem comercializadas no site. As obras de fotógrafos brasileiros, pelo preço único de R$ 150, impressas em papel-algodão nas dimensões 20x30, sem limite de cópias, puderam ajudar pessoas em situação vulnerável. Toda a arrecadação foi revertida para dois projetos sociais da capital gaúcha, o “Solicom Ufrgs” (Solidariedade Pandemia Ufrgs), coletivo de docentes da universidade criado para atender a mais de dez comunidades e instituições da cidade que dão suporte à população LGBTQI+, quilombolas, associações de vilas e comunidades indígenas, e o “Nós por Nós Solidariedade”, coletivo independente criado para dar assistência aos moradores do bairro Cohab de Porto Alegre. A iniciativa teve o apoio da Fundação Iberê, Museu de Arte Contemporânea do RS, Associação de Amigos do Museu de Arte Contemporânea do RS, Instituto Ling, Galeria Mascate, Barraco Cultural, Fluxo Escola de Fotografia e Cinema, Ecarta, Festival FestFoto, Empresa de impressão Laboratório, Secretaria de Cultura do Governo do Estado do RS, Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal e Unisinos. POA 150 FOTOS WWW.POA150FOTOS.COM.BR I @POA150FOTOS

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Cesta básica

ARTE ON-LINE O Instituto Inhotim iniciou em maio uma série web para munir o público de conteúdos de qualidade sobre arte e botânica. A “Série Diálogos” exibe conversas entre representantes do Instituto, artistas, curadores, botânicos e teóricos sobre cultura e meio ambiente. É um episódio por mês, transmitido pelos canais do Inhotim. O primeiro teve uma conversa entre o curador associado do Inhotim, Douglas de Freitas, e a artista hispano-brasileira Sara Ramo, que atualmente expõe no Inhotim a obra Fissura (da série Mapas). As perguntas para o bate-papo foram enviadas por membros do Educativo do Inhotim e representantes da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do Museu Reina Sofia, da Espanha. SÉRIE DIÁLOGOS ASSISTA EM: YOUTUBE.COM/INSTITUTOINHOTIM @INHOTIM

FRIOZINHO PEDE SOPA

GASTRÔ COMFORT FOOD 51 98427.3097 @GASTROCOMFORTFOOD

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A empresa de congelados Gastrô Comfort Food incrementa o seu menu com sopas, caldos e cremes, já que o inverno convida a uma gastronomia mais quente e reconfortante. São sete opções que apostam em refeições práticas, sem dispensar o sabor de cada ingrediente. Entre as novidades, o caldo de feijão com bacon, um dos clássicos da mesa dos brasileiros; a reconfortante sopa de legumes, preparada com insumos ultrafrescos; o creme de moranga, temperado com gengibre e turbinado com uma porção de carne de panela desfiada; o creme de milho com bacon; o creme de ervilhas com batata e linguiçinha calabresa e, ainda, o clássico creme de ervilha, acompanhado de frango desfiado. Fechando o novo menu, o creme de alho poró promete uma refeição saborosa e aromática. Para os vegetarianos, todos os pratos possuem opção sem carne, assim como versões lacfree.


INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA E LANÇAMENTO DE UM NOVO VINHO A Vinícola Estância Paraizo, pioneira em implantar vinhedos na região da Campanha, recebeu em maio, junto com as demais vinícolas da região, o selo de Indicação de Procedência da Campanha Gaúcha. Primeiro reconhecimento de vinhos finos do Brasil fora da Serra gaúcha. A Estância Paraizo iniciou a produção em 2011 e desde então vem engarrafando seus vinhos com curadoria e lançando rótulos exclusivos, edições limitadas e garrafas numeradas. Em 2019 abriu também espaço para o enoturismo, oferecendo vivências incríveis na região: noite de vinho e estrelas para observar a céu aberto a Campanha gaúcha; experiência ao pôr do sol ao som da Orquestra Jovem do Pampa; aventura trekking nas trilhas da revolução às margens do Camaquã; assado crioulo no Galpão Açoriano; experiência Le Cordon Bleu e degustação de vinhos no Galpão de Pedra Açoriano. Atividades para todos os gostos. NOVIDADE EM PLENA PANDEMIA

Enquanto essas experiências estão suspensas por causa da Covid-19, a vinícola nos brinda com um lançamento! O rótulo Camilo 1 é proveniente do primeiro vinhedo da casta Syrah a ser plantado no Brasil no ano 2000, com mudas vindas da África do Sul. Apenas mil garrafas foram produzidas, a partir da safra 2018. É um tinto harmônico, com intensidade e complexidade médias e tem grande equilíbrio entre a fruta, a acidez e os taninos. Um Syrah com estilo francês, do norte do Rhône. WWW.ESTANCIAPARAIZO.COM I FACEBOOK: @ESTANCIAPARAIZO I INSTAGRAM: @ESTANCIAPARAIZO


Cesta básica

PRESENTES POR WHATS A loja “Pra Presente”, instalada no Instituto Ling, está com seu espaço físico fechado, somando esforços para conter o avanço da Covid-19, mas continua apostando na valorização do pequeno negócio, no artesanato, nas belezas do Brasil e oferecendo peças que trazem consigo aquele “algo a mais”. O atendimento agora ficou ainda mais personalizado, tudo é feito pelo WhatsApp. Depois de uma conversa na qual são definidas algumas particularidades quanto ao foco da compra e o valor disponível, o cliente recebe várias opções de presentes, com descritivos e todas as informações de preços e pagamentos. A entrega é combinada de forma que atenda à necessidade de cada cliente da melhor forma possível. “As peças de artistas originais, designers e artesãos brasileiros continuarão chegando até você”, afirma a proprietária Elisa Craidy. PRA PRESENTE INSTITUTO LING 51 99992-3687 @PRA_PRESENTE @ARTEPRAPRESENTE

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PUDIM EM CASA A casa de festas infantis Floresta Malukete, que já tinha um produto especialmente criado para tele-entrega, a Floresta Inbox, lançou no mês de junho uma novidade doce: o Pudim da Floresta, em porções individuais. A receita do pudim de leite condensado já é sucesso há mais de 50 anos na família dos proprietários da casa. Agora os clientes podem encomendar essa sobremesa em 4 sabores: tradicional, zero lactose, brigadeiro e de claras, disponíveis a pronta entrega. Para completar o lanche da tarde, vale pedir também os saborosos kits com os tradicionais salgados da Floresra: cachorrinho-quente, hamburguinho, sanduichinho de carne de panela e lulu de madame. Pedidos podem ser feitos por telefone ou WhatsApp. FLORESTA INBOX 51 99637. 4935 @FLORESTA_INBOX


WWW.LETICIAREMIAO.COM.BR @GREICEANTES @LETICIAREMIAO

VEGETAL PRINT: FOTO EM MODA A fotógrafa Letícia Remião e a estilista Greice Antes acabam de lançar juntas uma coleção de roupas chamada Vegetal Print. As fotos de Letícia estão nas peças de Greice. Um resultado simplesmente espetacular. São cinco peças clássicas (lenços, casacos, blusas, vestidos e kimonos) que já navegaram por outras coleções de Greice Antes e que vestem qualquer corpo. A Vegetal Print é cheia de originalidade, atemporal e confortável, tem peças que passeiam da praia à cidade, do dia à noite, com leveza e liberdade de composição. As fotografias de Letícia Remião retratam texturas da natureza, criando efeitos quase geométricos, com a beleza dos tons e das formas espontâneas do mundo ao nosso redor. É a riqueza do real.

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Cesta básica

MODA INFANTIL ECOLÓGICA

UNIDOS PELA ESPERANÇA

Zappa, uma marca de moda infantil que pensa no futuro. Uma novidade que promete conquistar pais que buscam opções de moda confortável e sustentável, sem abrir mão do estilo. Com sede em Porto Alegre, a Zappa iniciou no mercado com e-commerce de roupas para bebês e crianças de zero a 6 anos. A jornalista Elis Martini, idealizadora, afirma que o propósito da marca é colocar o bem-estar das crianças e do planeta em primeiro lugar. Para dar conta da missão, as roupas são feitas com algodão orgânico certificado, livre de agrotóxicos nocivos. É um material que não agride o ambiente nem prejudica a saúde dos produtores que o cultivam. As alegres cores das roupas são obtidas com processos artesanais que utilizam plantas e sementes: o verde vem da erva-mate, o laranja da semente do urucum, o roxo da árvore pau-campeche e o azul das folhas do índigo. Esses corantes naturais não liberam resíduos que poluem a água e o solo. As peças têm uma modelagem soltinha, pensando em priorizar o conforto e garantindo a liberdade de movimentos para os pequenos. Os modelos contam com estampas inspiradas na natureza, criadas exclusivamente para a marca por artistas e ilustradores brasileiros. A cada peça de roupa vendida, a empresa doará uma refeição para a ONG Misturaí!. A campanha tem caráter permanente e será mantida após o surto de coronavírus.

Em tempos de pandemia, um hotel na Patagônia Argentina incentiva a esperança de maneira criativa. A fachada do hotel Arakur Ushuaia traz a palavra “UNIDOS”, formada pelas luzes das janelas, levando para todos, nestes tempos desafiadores, uma mensagem positiva. “Tentamos transmitir uma mensagem de tranquilidade, a certeza de que vamos superar essa crise, mas para isso precisamos nos unir”, comenta Esteban Abolsky, proprietário do hotel. A ideia teve um impacto no espírito dos moradores locais, que têm compartilhado em suas redes sociais imagens da mensagem escrita na fachada do hotel, localizado no alto da colina, de frente para o Canal Beagle, para as montanhas nevadas e bosques na mítica Tierra del Fuego. O turismo é sem dúvida um dos setores mais afetados pela pandemia e a hotelaria segue com as operações suspensas, mas, enquanto isso, alguns se esforçam para não apenas preservar sua estrutura de colaboradores e funcionários mas também apoiar suas comunidades e encontrar meios para praticar a solidariedade. Desde o início da crise, em março, o resort participa de ações para fortalecer a comunidade no enfrentamento da pandemia Covid-19 e já doou uma tonelada de alimentos à comunidade de Ushuaia.

ZAPPA MODA INFANTIL WWW.ZAPPAMODAINFANTIL.COM.BR I @ZAPPAMODA CONTATO@ZAPPAMODAINFANTIL.COM.BR

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LUCIANE, A FLORISTA De tanto gostar de viajar, Luciane Garcia abriu uma agência de viagens, a Diário de Bordo, que já completou 20 anos e fez a alegria de inúmeros passageiros. Mas a pandemia paralisou o setor de turismo no mundo todo e, em março, Lu fechou as portas do escritório, sem saber quando voltaria. O período de reclusão em casa, no entanto, acabou por inspirar uma nova, colorida, leve e pulsante atividade. A Luciane da Diário de Bordo agora também é a Luciane Florista, que faz arranjos personalizados, de muito bom gosto, modernos e sempre com flores e folhagens fresquinhas. Os primeiros ela fez para experimentar e vendeu num vapt-vupt. Isso foi lá em abril. Agora Lu já tem uma clientela cativa, diversos modelos de arranjos e uma alegria cada vez maior em trabalhar com as flores. O retorno dos clientes tem sido maravilhoso. A Luciane agente de turismo tem saudade do escritório e pretende voltar em breve, mas ela já sabe que a Luciane Florista veio pra ficar. LUCIANE GARCIA 51 99987.2280

SABOR A VÁCUO PARA UM DIA A DIA MAIS PRÁTICO A MuleBule Gastronomia está apostando na técnica francesa sous-vide e aproximando da mesa dos gaúchos algumas técnicas utilizadas nos restaurantes mais renomados do mundo. É, na verdade, uma nova estratégia para oferecer uma refeição segura, prática e cheia de sabor diretamente na casa dos clientes. O novo produto da marca é o Be a Chef, com pratos preparados com a técnica francesa a vácuo. Uma prática de preparo com cozimento em baixas temperaturas, que possibilita manter a integridade dos ingredientes e uma verdadeira experiência de chef em casa. Quando chegam os bags, sacos que acondicionam os produtos, ele devem ser colocados (fechados) diretamente em água fervente e, após poucos minutos, a refeição fica pronta, mantendo a qualidade de um prato servido no restaurante. É só abrir os sacos e servir! Um dos diferenciais da técnica é o tempo de armazenamento dos alimentos: eles podem ser mantidos em refrigeração por até cinco dias e congelado por 30 dias. Alguns destaques do cardápio: costela prensada ao roti com mousseline de batata- doce e farofinha crocante, camarão thai com arroz jasmim, moqueca baiana, feijoada do samba, além de massas, filés e sobremesas. BE A CHEF 51 99281.3443 I WWW.GOOMER.APP/BE-A-CHEF

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Cesta básica

NOITE DOS MUSEUS SE REINVENTA Em meio à pandemia, o evento Noite dos Museus se transforma em uma multiplataforma, expandindo seu campo de atuação para além do happening que costuma levar multidões aos espaços públicos de Porto Alegre. Com o lançamento do portal digital e de um instituto sem fins lucrativos, voltado para ações sociais, educativas e culturais, vai seguir proporcionando ao público momentos cheios de cultura e entretenimento. O evento, que abre os museus e centros culturais da cidade em horário diferenciado e levando dezenas de atrações para dentro das instituições, se uniu aos esforços para combater o novo coronavírus e transferiu sua quinta edição, por enquanto prevista para o dia 21 de novembro. A plataforma digital continua com a divulgação da produção artística e da arte em geral. “A ideia é manter a chama do Noite dos Museus viva até que possamos nos reencontrar, com segurança, nos espaços públicos”, explica Rodrigo Nascimento, idealizador do projeto. No portal o público encontrará conteúdos exclusivos, como podcasts sobre diferentes temas, e-books, reportagens, matérias sobre arte e cultura, bem como entrevistas com figuras destacadas do ambiente artístico-cultural.

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NOITE DOS MUSEUS WWW.NOITEDOSMUSEUS.COM.BR @NOITEDOSMUSEUS @NOITEDOSMUSEUS


INSTITUTO LING 100% ON-LINE

VIAJANDO PELO MUNDO EM LIVES O globetrotter Beto Conte, diretor da empresa de viagens e intercâmbios STB Trip & Travel, criou um jeito bárbaro de levar pessoas a incríveis viagens virtuais pelo planeta, por meio de seu olhar e de suas vivências. Ele, que já percorreu 139 países nos seis continentes, aproveita esse período de distanciamento social para compartilhar suas viagens em lives via Zoom, toda segunda-feira às 19h. É possível também assistir no YouTube às apresentações já gravadas da série BetoNoMundo, que inclui destinos como Mongólia, Transiberiana, Moscou e St. Petersburg, Círculo Polar Russo, Islândia, Groenlândia, Antártida, Montanhas Rochosas Canadenses e Alaska. A partir de julho, Beto vai continuar nos levando por instigantes lugares do planeta, sempre propondo um mergulho cultural, abordando a história e a geopolítica do destino explorado em cada episódio. Inscreva-se nas lives do Beto pelos quatro cantos do mundo e não perca a chance de conhecer esses lugares: Cáucaso, Península Balcânica, Países Bálticos, Escandinávia, México, Guatemala, Marrocos, Japão, China, Indochina, Oriente Médio, Romênia, Myanmar, Irlanda e Oceania.

Enquanto permanece com as atividades presenciais suspensas, o centro cultural tem promovido aulas, palestras, atividades culturais e cursos on-line. A ideia é disponibilizar diferentes conteúdos em suas redes sociais para o público aproveitar em casa. A maior parte das atividades é gratuita. O calendário completo já está disponível no site. Com curadoria da equipe do centro cultural e seus parceiros, a entidade reuniu conteúdos sobre música, cinema, literatura e artes visuais. Em segundas-feiras alternadas, leitores encontram sugestões de romances referenciais na literatura mundial, relacionados ao projeto Clube de Leitura. Já a cada duas terças-feiras o público pode conferir materiais sobre artes visuais, como catálogos de exposições e indicações de visitas guiadas on-line. Em uma quarta-feira por mês, o centro cultural traz poemas de grandes autores nacionais e internacionais, no programa Poesia no Ling; já nas quintas-feiras há dicas para os amantes de música erudita e jazz. Nas sextas-feiras, recomendações de filmes e documentários vinculados às programações dos projetos MiniCine, que tem curadoria da Lora, e Meu Filme Favorito, do jornalista e crítico de cinema Roger Lerina. Em diferentes datas, haverá também outros conteúdos surpresa, relacionados a diversas áreas do saber. Fique conectado! INSTITUTO LING WWW.INSTITUTOLING.ORG.BR I 51 3533.5700 @INSTITUTOLING I @INSTITUTO.LING

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Humanas criaturas T E T Ê

PAC H E C O

OBRIGADA, SENHORXS A quarentena tem dado a oportunidade de a gente rever uma série de hábitos de convivência familiar que agora saltam aos nossos olhos, antes distraídos. Era assim: o filho chegava correndo da escola e já tinha que sair para outro compromisso, comia em pé ou levava o sanduíche na mochila. O pai não conseguia sair do escritório e acabava pedindo um lanche por lá mesmo. A mãe até levava uma salada para o trabalho, mas esquecia de comer pois queria adiantar a função pra sair mais cedo. Mesmo aqueles que tinham o privilégio de compartilhar uma refeição com seus familiares, na vida contemporânea, certamente faziam isso de forma meio afoita. Concordam? Sem tempo para notar muito menos digerir o que era servido. Veio o confinamento. As famílias passaram a conviver diretamente. Agora estão todos sentados à mesa, olhando para as suas comidas, que não passam mais voando pelos pratos. Comidas que foram preparadas por mães inexperientes, sem a “ajuda” de domésticas, ou por pais práticos que preferiram pedir do restaurante ou pelos próprios filhos, obrigados a colocar a mão na massa. Literalmente. A comida passou a exercer papel protagonista na vida de todos. Seja pela presença ou pela ausência. Passou a ser impossível comer sem pensar em quem não está comendo. Muitas pessoas se organizaram e alguns movimentos estão acontecendo: pipocam vaquinhas digitais, doações, distribuição de cestas básicas. Aqueles que podem menos se tornaram mais visíveis e a noção do privilégio explodiu pelo mundo. Ainda tem chão, mas estamos vivendo uma transformação.

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Aqui em casa, as refeições têm trazido algumas reflexões. Por exemplo, deve estar na sua memória, assim como está na minha, que era bem comum as pessoas rezarem e agradecerem a Deus o alimento colocado na mesa. Eu sempre pensei nisso de um jeito pouco espiritualizado. Não tinha maturidade para os simbolismos e práticas rituais das pessoas mais velhas, que a minha geração, ansiosa e consumista, simplesmente não absorveu. Eu estudei em colégio de freiras e fiz primeira comunhão. Mas, criança, sempre achei bizarro comer o corpo de Cristo. Minha família não frequentava igreja ou tinha qualquer relação com ela. Meus avós tinham, mas não a impunham, logo, a religiosidade familiar foi se esvaindo ao ateísmo pleno. Eu esbarrei em símbolos católicos ao longo da vida. Visitei igrejas pelo mundo. Gostei muito da história de alguns santos. Tenho um filho chamado Bento. Quando morei na Bahia, pude entender o sincretismo, a riqueza do candomblé. Mas foi no budismo que encontrei, digamos, as melhores respostas para os meus questionamentos. E finalmente entendi a diferença entre religião e espiritualidade. Ao nos reunirmos para comer nestes tempos tão desafiadores, tenho tentado trazer para a mesa ideias que podem até soar meio indigestas. Mas são fundamentais. A principal: ao deixarmos de agradecer a Deus pela comida, a noção de gratidão, fundamentada pelo hábito de rezar, se perdeu. E acabamos assim, passando uma boiada por todos aqueles para quem de fato deveríamos agradecer. São tantas formas de gratidão possíveis. Gosta de farinha de mandioca? Agradeça aos povos


indígenas. E aproveite para não endossar aqueles que livremente queimam as suas florestas. A salada estava fresca, livre de agrotóxicos e transgênicos? Agradeça aos agricultores familiares, que melhor entendem o valor da terra, da água, dos ciclos e cuidam para que a produção seja abundante, diversa, saudável. E não apenas lucrativa. E aproveite para não aprovar políticos que criam leis que transformam o seu alimento vital num jogo de interesses podres com efeitos colaterais devastadores para todos. A comida chegou bem por meio do delivery? Agradeça ao motoboy que está na rua se arriscando pela sua fome. E aproveite para pedir aos donos de aplicativos que respeitem seus colaboradores, entendendo que, em 2020, a informalidade é um negócio imenso. E só beneficia alguns. Os donos do negócio. A comida caseira estava gostosa? Agradeça a sua mãe, se você é filho. À sua mulher, se você é marido. A você mesma se você é a mulher da casa e conseguiu vencer a distância da cozinha para mergulhar no preparo do alimento da sua família. E, todos, aproveitem para questionar as práticas patriarcais que ainda regem muitos lares por aí. Pensando sempre na razão de quem sofre mais. Então, ficamos assim. Dividir o alimento, compartilhar o pão. Não permitir que a indiferença, a injustiça e a fome sejam o prato do dia de alguém. Combinado? Amém.

TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA

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Sabor Reinventar talvez seja a palavra do momento. E no sentido mais amplo. Reinventar a forma de ver o mundo, a vida, o trabalho e a si mesmo. Afinal, nada será, ou deverá ser, como antes. Um vírus chegou de surpresa e virou tudo de cabeça para baixo. O mundo foi obrigado a se isolar, a abandonar a demonstração de afeto pelo toque, a repensar prioridades, a conviver com ausências e saudades. O tempo e o espaço tomaram dimensões diversas. Em meio a tantas mudanças, o mesmo aconteceu com o ato de fornecer alimentos e se alimentar. A vida, no entanto, apesar de todos os percalços, continua. Então, é hora de reconstruir, de reformular, de se adaptar aos novos tempos. É planejar um novo caminhar. Com os restaurantes fechados, chefs e cozinheiros tiveram que encontrar diferentes formas de manter o ofício e acabaram por descobrir caminhos que pretendem continuar trilhando ali mais à frente, quando as restrições acabarem. É olhar o copo de água pela metade e preferir percebê-lo meio cheio.

P O R B E T E

D U A R T E

F OTO S L E T Í C I A

R E M I Ã O

Em 2020, o gesto de pedir comida em casa ganhou novos sabor e significado

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Sabor

Bom aprendizado O chef Carlos Kristensen, do Um Bar e Cozinha, diz que, tirando o ruim da doença, das mortes e dos abalos econômicos, fica um bom aprendizado. Ele, que não conseguia ver sua comida no sistema de tele-entrega, agora enxerga mais uma opção de negócio. “Não salva, mas ajuda.” O cardápio é enxuto, mas pode incluir entrada, prato principal e sobremesa. O serviço de entrega era uma das dificuldades, que acabou burlada pelo inesperado: os manobristas do restaurante, com ele fechado, resolveram montar uma equipe de motoboys e passaram a transportar as encomendas do Um. “Confesso que tinha preconceito. Achava que haveria grande diferença entre aquilo que eu queria servir e o que o cliente iria receber. Da temperatura à apresentação. E acabei descobrindo que era puro preconceito.” Foram as mensagens recebidas que fizeram o chef Kristensen perceber que estava enganado. Os clientes mandavam fotos dos pratos montados iguais aos que ele fazia no restaurante. Além de elogios, votos de força e manifestações de saudades. “Um movimento muito lindo e afetivo. Nunca pensei que teria tanto orgulho e sentiria tanta felicidade com o trabalho feito agora”, confessa. Kristensen sabe que o futuro é não sabido, mas tem certeza de que a tele-entrega ficará para sempre. “Já estou pensando em uma estrutura para isso. Será diferente quando o restaurante voltar a abrir. É preciso uma boa logística. A vida não deve voltar ao que chamamos de normal, tem que ser diferente. Devemos repensar a corrida do dia a dia, a que estávamos acostumados, para valorizar o estar em casa, com a família. É importante simplificar a vida. Transformar o ato de cozinhar em diversão.”


UM BAR E COZINHA FONE: 51 3239.6751

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Sabor Com afeto e solidariedade O Mandarinier Gastronomia, ali na Cidade Baixa, foi outro restaurante que precisou se adaptar às mudanças e descobriu perspectivas para o futuro. Comandado pelos chefs Leonardo Magni e Liliana Andriola, viu de súbito desaparecerem os clientes que costumavam ocupar as mesas diariamente. E, junto com eles, o faturamento. A opção foi partir para os almoços sob encomenda, entregues apenas às sextas e aos sábados. Depois de divulgar o cardápio pelas redes sociais, recebe os pedidos e começa o pré-preparo. “Nos bairros próximos, temos um rapaz que faz as entregas de bicicleta. E funciona muito também o take way, quando o cliente vem buscar.” Os chefs pretendem incorporar esse serviço, com algumas modificações, ao funcionamento do restaurante quando o isolamento terminar. “Queremos incluir no delivery congelados e a vácuo, além das tortas e doces da Liliana”, explica Magni. Sabem que será necessário fazer algumas adaptações, porque será diferente com o bistrô aberto, funcionando. Se o sucesso do delivery e do take way surpreendeu, outro fato trouxe mais felicidade ao casal: a demonstração de solidariedade. A proprietária do imóvel ligou para avisar que não só não haveria aumento de aluguel, mas que este seria reduzido à metade, para auxiliá-los a passar pelo difícil momento vivido. Da mesma forma, clientes se ofereceram para ajudar a pagar o salário dos funcionários. O que não aceitaram, mas ficaram gratos e emocionados com o carinho. E é com carinho que a dupla de chefs oferece a receita de um dos pratos que têm feito a alegria dos clientes: quiche de alho-poró.


MANDARINIER GASTRONOMIA FONE: 51 3517.7703

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Sabor

Desafio pessoal A chef Júlia Fernandes precisou se desafiar para manter o funcionamento do seu Suzanne Marie. Afinal, nem pensava em um dia fazer delivery. Como o chef Kristensen, acreditava que haveria perda do charme e elegância do cardápio do bistrô. “Foi preciso mudar a visão do negócio, fazer uma análise profunda de custo x benefício e estudar muito para criar pratos que pudessem se adaptar ao transporte. Os clientes estavam acostumados a uma refeição quase que toda preparada na hora, e isso iria mudar, mas não poderia perder o padrão, denegrir a marca”, conta. A principal preocupação era manter o foco da saúde na alimentação, principalmente num momento de pandemia. Os clientes também estavam mais sensíveis. Muitos não queriam nem descer à portaria dos prédios para receber a comida. A chef Júlia procurou fazer um atendimento personalizado para contornar o problema. E tem dado certo. O futuro é o que a preocupa. Acredita que o efeito econômico pós-vírus será muito grande. “Muitas pessoas reencontraram a comodidade de estar em casa, outras terão receio de frequentar locais fechados. Teremos que mudar nossa visão do negócio. Quem vai determinar o caminho serão os clientes”, prevê. Mas uma coisa é certa: o delivery deve continuar.


SUZANNE MARIE FONE: 51 3023.4549

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Sabor


Até drinks a vácuo!

Na primeira semana do decreto de fechamento de bares e restaurantes, Marcelo Schambeck e Fred Muller, parceiros no Capincho Bar, se viram frente a um dilema: o que fazer para garantir a sobrevivência da casa, que estava indo de vento em popa. Foi então que o chef Schambeck conferiu o estoque de perecíveis e decidiu preparar congelados para que os ingredientes não fossem perdidos. Surgia ali uma linha de kits para que os clientes finalizassem os pratos em casa. O menu inclui, entre outras delícias, sobremesas, a tradicional costela 16 horas e o arroz de frutos do mar. “Mas as decisões sobre o caminho a seguir são tomadas a cada semana. O que é certo é que as compras são restritas exatamente ao que vai ser consumido, por isso trabalhamos apenas com encomendas, que são entregues no domingo. O que reduz os custos e zera a geladeira”, conta Schambeck. Além disso, o cliente pode pedir vinhos da carta do bar. A ideia mais ousada, no entanto, foi de Fred Muller, especialista em drinks: os tradicionais da casa são entregues ensacadinhos. Basta gelar e acrescentar a decoração que vai junto.

CAPINCHO BAR FONE: 51 3019.4202


Sabor

A força das redes sociais O chef Ricardo Dornelles estava em São Paulo, se preparando para o concurso Bocuse D’Or, que seria realizado no Peru, quando os restaurantes da capital paulista começaram a fechar devido à chegada do vírus. Pôde, então, acompanhar de perto as atitudes que os colegas chefs passaram a tomar para enfrentar a crise que se abatia sobre o setor. A decisão imediata foi voltar para Porto Alegre, se reunir com os sócios Matheus Strelow e Vinicius Gomes e fechar o Firma Bar, ali na Cidade Baixa, para repensar as estratégias. O trio tinha resistência ao serviço de delivery e de take away. Sabiam que o alimento perderia qualidade e sofreria uma sensível mudança de temperatura até chegar à mesa do cliente. Por isso, resolveram fazer muitos estudos, que resultaram na reformulação do cardápio, pensando em pratos para comer em casa, e na adaptação de embalagens, sem perder o mantra da Firma; a comida ter que ser divertida. Uma das decisões foi de aumentar as porções, sem alterar os preços: sabiam que a maioria dos clientes ia pedir apenas um prato, diferentemente do que ocorria no bar, quando entre um drink e outro vários petiscos e pratos eram consumidos. A cada pedido, um detalhe que permitisse ao cliente finalizar o prato, dar seu toque pessoal. Mas a grande sacada foi utilizar com força uma ferramenta típica dessa geração de jovens empreendedores: as redes sociais. E o resultado foi imediato.


Estilo Zaffari

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Sabor

FIRMA BAR FONE: 51 3407.6440


Decisões para o futuro “As redes sociais são o antigo salão de bares e restaurantes. Vimos uma grande diferença entre o almoço e o jantar. No almoço, a idade média dos clientes pode chegar aos 45-50 anos e a ferramenta principal de comunicação é o Facebook. Enquanto que no jantar, quando o cardápio é de comidinhas e drinks e a idade média é dos 25 aos 35 anos, o que funciona melhor é o Instagram. Além disso, além dos aplicativos tradicionais de entrega, os clientes podem optar por fazer pedidos pelo WhatsApp.” Desse aprendizado forçado, como define o chef Ricardo Dornelles, resultaram três decisões para o futuro: manter o delivery, mas com a instalação de um novo espaço de produção fora do bar; a entrega das tulipas de frango, que fazem o maior sucesso na casa, mas congeladas; e a criação de uma pequena indústria para produzir drinks engarrafados, que têm agradado aos clientes. Esta última, porém, vai demandar ainda mais estudo para viabilizar o negócio.


Sabor

Gastronomia, arte e consciência ecológica Criatividade é ingrediente indispensável em tempos da necessidade de optar por novos caminhos. E isso não falta a Vico Crocco. Frente às incertezas do momento, o chef uniu arte, gastronomia, consciência ecológica e parceria com fornecedores para lançar um produto com uma receita básica: o spaetzle. Vico tem uma ligação afetiva com esse prato. Quando criança, era costume servi-lo em casa, às quartas-feiras, com cebola na manteiga, carne de panela ou com o molho de tomate especial da vó Irma. Mais tarde, adulto, estudando gastronomia na Alemanha, descobriu que a receita era original daquele país e servida nas mais diferentes versões. Ali, aprendeu as técnicas do preparo. Há muito pensava em fazer do spaetzle uma opção para sua aposentadoria, quando não conseguisse mais enfrentar a dura rotina da cozinha profissional. A chegada da pandemia antecipou os planos. Depois de um tempo refletindo e estudando como levar essa receita até os clientes, criou o Cubo Crocco: uma caixa composta de quatro componentes, sendo um deles a massinha na versão alemã. As opções de sabores

são: molho de tomate, carne de panela e cogumelos com nata. A proposta, no entanto, está distante de se resumir a oferecer um prato pronto. A ideia é de que o cliente finalize, complemente e dê seu toque pessoal. Os ingredientes utilizados pelo chef são orgânicos, vindos de produtores familiares. E numa forma de valorizar a parceria, uma listagem de contatos desses fornecedores é anexada ao conjunto do cubo. A preocupação com a natureza também está presente no projeto: as embalagens são compostáveis ou reutilizáveis. O chef Vico tomou todos os cuidados para que a experiência seja um prazer, sem frustrações. Junto com os componentes, vai a receita, com modo de preparo detalhado e o desenho de como o prato pode ser montado. E até sugestão de acompanhamento. Aquele sonho da aposentadoria, agora real e antecipado, vai seguir mesmo depois da pandemia. E o Cubo Crocco deverá ter outras versões, como molho de moqueca ou de curry com leite de coco. E, quem sabe, almoços dominicais lá no Estúdio Crocco, na Zona Sul, em que o spaetzle continuará sendo a estrela.


VICO CROCCO FONE: 51 98179.8030


Sabor

Toque especial

MARTA FEDRIZZI FONE: 51 99919.1082 38

Estilo Zaffari

A chef Marta Fedrizzi também foi surpreendida pelo sucesso da tele-entrega. No momento em que estava fechando sua empresa de alimentação sem glúten em Canoas, o vírus chegou, determinando isolamento social. Para atender à necessidade de familiares doentes, deu início à produção de refeições bem caseiras, na cozinha da mãe em Porto Alegre. “Em um dia, preparei 60 panquecas”, lembra. Foi quando as amigas pediram que fizesse alguns pratos para elas. De boca em boca, a procura foi aumentando e virou novo negócio. No começo, a chef mesma ia entregar. Com a demanda, precisou do serviço de motoboy. “Os pratos são simples, bem caseiros, mas sempre procuro dar um toque especial. Faço até pesquisa para saber o que os clientes têm vontade de comer.” Uma das quentinhas especiais é a de filé ao molho de cogumelos e spaetzle. O spaetzle é uma massinha típica alemã, e os cogumelos são colhidos pela própria chef e desidratados. Marta Fedrizzi está tão satisfeita com o resultado que desistiu da ideia de procurar emprego e pretende seguir adiante com a entrega de quentinhas.


Sala, comida e vinho É na hora das adversidades que o ser humano precisa se reinventar. Ao ter que se isolar em casa, o chef Marcelo Schambeck e a jornalista Flavinha Mu perceberam que tinham em mãos mais um belo projeto: o Sala, Comida e Vinho, que oferece happy “home” hour. “A ideia é usar a sala de casa, curtir e se divertir como faziam no Capincho”, diz Schambeck. Um combinado, entregue às quartas-feiras, consiste em um vinho selecionado pela jornalista e belisquetes preparados pelo chef. A divulgação do combo é feita na quinta-feira, pelas redes sociais, e as encomendas são recebidas até segunda-feira. No combo, muitas delicinhas, como terrine de fígado de galinha com bergamota e amêndoas, coalhada caseira, conserva de pimentões defumados ou tortinha de queijo de cabra coberta com beterrabas assadas.

CAPINCHO BAR FONE: 51 3019.4202

Estilo Zaffari

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Sabor

Vida que segue São muitos planos, repletos de esperança, como deve ser o enfrentar a vida. Este novo momento faz lembrar uma das falas de Riobaldo, jagunço/ personagem principal do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.


Qual a tua relação com a cozinha? P O R

L E T Í C I A

R E M I Ã O

A minha sempre foi de espectadora voraz. Gosto dos bastidores, dos processos, dos aromas que vão brotando aos poucos, das texturas e das cores. Gosto de ver o alimento se transformando, de sentir os contrastes dos sabores, bem como as harmonias inimaginadas. Há muitos anos acompanho esse fazer. Aqui nesta revista já são mais de 16 anos, conhecendo cozinheiros, receitas, preparos e estilos. Das cozinhas caseiras às profissionais, tenho anos de intimidade com a cozinha sem saber, da fato, preparar grande coisa. Mas olho muito e me encanto com cada passo, do cultivo do alimento à apresentação final do prato. Já tive conversas mil sobre culinária, já tive minhas incursões como auxiliar júnior de processos bem importantes no mundo da gastronomia, e já acompanhei muitas transformações deste universo. Mas o que testemunhei dentro das cozinhas nos últimos meses foi uma revolução. Do pensar a vida, a saúde, as relações com o trabalho, o repensar as prioridades e sistemas. E, mais do que tudo, repensar o essencial. O que aconteceu dentro das cozinhas? Continuei no papel de espectadora, um pouco mais proativa na minha própria casa, mas agora preocupada com os negócios dos meus amigos que vivem nesse mundo da gastronomia. O que vi acontecer foi uma adaptação muito rápida a um novo jeito de administrar o negócio, uma preocupação gigante em reforçar as boas práticas de higiene e segurança, para garantir a saúde de todos e a sobrevivência de todo o setor. Muitos restaurantes, chefs e espaços de todos os formatos e tamanhos que se dedicavam a preparar comida boa para os seus clientes tiveram que fechar suas portas e se concentrar na reorganização do seu fazer para continuar produzindo. Foi um movimento incrível, com redes de apoio que se estabeleceram rapidamente. Brotaram soluções criativas para atender às necessidades de

todos, produtores e consumidores. Por outro lado, vi supermercados e feiras lotados de pessoas comprando seus insumos para cozinhar mais em casa. Afinal de contas, comer sempre foi essencial. Mas agora a necessidade de estarmos mais tempo em casa potencializou a atenção que damos à comida. Muitos restaurantes e chefs que nunca tinham trabalhado com entrega se viram às voltas com embalagens, instruções de finalização, simplificação de processos e questões de apresentação das maravilhas que eles costumam nos oferecer à mesa dos seus almoços e jantares. E muitos clientes que não tinham o hábito de pedir tele-entrega, ou de buscar sua comida porcionada, tiveram que se render a essa opção, para continuar gozando do prazer de comer a sua comida predileta. O resultado dessa equação foi uma grande boa surpresa. Pratos lindos, deliciosos e preparados com delicadeza passaram a passear nos baús das motos de tele-entrega e muitos preconceitos e receios foram derrubados. A rede de restaurantes conseguiu sobreviver e se reinventar e os clientes descobriram que suas casas podem se transformar em cenários perfeitos pra momentos da boa gastronomia, sem a necessidade de ser um grande cozinheiro. Nossa pauta é uma homenagem ao esforço criativo de todos que se envolveram nesta gincana forçada da pandemia, e nos encheram os olhos e o paladar de prazer nestes tempos de distanciamento social. Quis mostrar com essas fotos como o essencial, que é a comida que eles preparam, é lindo e saboroso, não importa de que maneira chegue até nós. Cada um deles achou o seu estilo de entrega, o seu recipiente, o seu jeito de falar com o seu cliente. Isso é amor pelo que se faz. Isso é talento e dedicação. E nós agradecemos muito por todo esse esforço. Sentar na mesa de casa e ter os sentidos acarinhados assim foi e será sempre um grande prazer.

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Sabor

Quiche de Alho-Poró P O R

L E O

M A G N I

E

L I L I A N A

MASSA 150 G DE MANTEIGA 5 G DE SAL 1 OVO 230 G DE FARINHA DE TRIGO RECHEIO 1 ALHO-PORÓ

A N D R I O L A

MODO DE FAZER A MASSA: Corte a manteiga em pequenos pedaços. Misture o sal com a farinha de trigo. Faça uma farofa da manteiga com o sal e a farinha utilizando a ponta dos dedos para que a massa não ganhe temperatura. Adicione o ovo e junte a mistura sem trabalhar muito. Deixe descansar na geladeira por pelo menos 2 horas antes de usar. Após isso, abra a massa em uma forma. Fure o fundo com um garfo e asse a 160 graus por 15 minutos. Reserve.

1 COLHER (SOPA) DE MANTEIGA 250 G DE GORGONZOLA 4 GEMAS 2 OVOS 200 G DE NATA 100 G DE QUEIJO MUÇARELA RALADA 1/2 ABOBRINHA PEQUENA CORTADA EM RODELAS FINAS

MODO DE FAZER O RECHEIO: Higienize e corte a parte branca do alho-poró em meia-lua fina. Refogue na manteiga. Reserve. Misture a nata, os ovos, as gemas, a muçarela ralada, o gorgonzola cortado em cubos e o alho-poró refogado. Vire essa mistura sobre a massa assada previamente. Sobre a mistura disponha as rodelas de abobrinhas em círculo cobrindo toda a superfície da quiche. Leve ao forno a 160 graus por 30 minutos aproximadamente.



Sabor


S’Mores

P O R

R I C A R D O

BISCOITO 700 G DE FARINHA DE TRIGO 350 G DE AÇÚCAR 350 G DE MANTEIGA MARSHMELLOW I.400 G DE AÇÚCAR 100 G DE GLUCOSE 175 G DE ÁGUA 20 G DE GELATINA CHOCOLATE 30 G DE CHOCOLATE PICADO MODO DE FAZER O BISCOITO: Em uma tigela de inox misture todos os ingredientes com a ponta dos dedos até que fique uma massa homogênea. Abra entre duas folhas de papel-manteiga. Com o auxílio de um rolo de massa, abra até a espessura de um biscoito. Corte com aros redondos do tamanho desejado. Asse os biscoitos e as aparas dos

D O R N E L L E S

biscoitos, por 15 min, a 170 graus. Depois que esfriar, reserve em um pote hermético. MODO DE FAZER O MARSHMELLOW: Em um recipiente, misture 75 g de água com a gelatina para hidratar. Em uma panela, adicione o restante dos ingredientes, leve ao fogo até que fique em ponto de fio (115 graus). Adicione a gelatina hidratada em uma batedeira e bata gentilmente; adicione a calda de açúcar e bata até ficar com uma consistência igual à do merengue. Reserve por no mínimo 2 horas na geladeira em um recipiente plástico untado com óleo. Corte em cubos de cerca de 2 dedos de espessura. MONTAGEM: Corte as aparas dos biscoitos e disponha em um refratário. Adicione o chocolate e os marshmellows já cortados. Com um maçarico, toste levemente os marshmellows até que fiquem caramelizados. Adicione um pouco mais do chocolate picado e leve 5 min ao forno. Com uma colher, adicione o s’mores (mistura de marshmellow, chocolate e aparas) entre dois biscoitos.


Burrata Crema Artesanal com Tomatinhos, Tomatada, Chimia de Tomate e Azeite de Manjericão P O R

C A R LO S

K R I S T E N S E N

BURRATA 1 BURRATA ARTESANAL 100 G DE TOMATINHO-UVA OU CEREJA 50 G DE CHIMIA DE TOMATE 2 G DE FLOR DE SAL BRASILEIRA 4 FATIAS DE PÃO DE FERMENTAÇÃO NATURAL TOMATADA 200 G DE TOMATE ITALIANO 60 ML DE AZEITE DE OLIVA PIMENTA-DO-REINO E SAL AZEITE DE MANJERICÃO 1/2 MAÇO DE MANJERICÃO 2 DENTES DE ALHO 100 ML DE AZEITE DE OLIVA PIMENTA-DO-REINO E SAL

MODO DE FAZER A TOMATADA: Corte os tomates ao meio no sentido longitudinal. Regue com azeite de oliva e leve ao forno por 30 min. Retire, pique em pedaços grandes e tempere com mais azeite de oliva, sal e pimenta-do-reino. MODO DE FAZER O AZEITE DE MANJERICÃO: Branqueie as folhas de manjericão (1 min em água fervendo e 2 min em água gelada). Esprema bem as folhas para retirar o excesso de água. Processe num liquidificador com o azeite de oliva, alho, pimenta e sal. Utilize uma pedra de gelo no processo do liquidificador para manter o verde das folhas. MONTAGEM: Sirva a burrata no centro de um prato fundo. Corte os tomatinhos ao meio e sirva ao redor da burrata. Adicione a tomatada e regue todos os tomates com bastante azeite de manjericão. Coloque uma boa pitada de flor de sal sobre a burrata e finalize com a chimia de tomate. Sirva com uma porção de pão para acompanhar.



Vida C E L S O

G U T F R E I N D

O ABRAÇO DO TIO SAMUEL Desde os 15 anos, o tio Samuel era um fumante inveterado. Começou de brincadeira, mas continuou, às veras, e um vício não sabe parar. Antes dos 30, fumava quatro maços por dia, inclusive no banho. Só Minister – alardeava aos quatro ventos de fumaça, como se a escolha o fizesse menos torpe. Custou-lhe, na verdade, o fôlego, e me lembro da vez em que precisamos resgatá-lo, na subida do Parque Nacional de Teresópolis, em plena Serra do Rio de Janeiro. Ainda não tinha 40 anos. O pior estava por vir, pouco depois. Infarto fulminante, com direito à parada cardíaca, revertida por muita massagem e um pontual desfibrilador. Na UTI do hospital carioca, foi companheiro do ministro Mário Henrique Simonsen. Como concordavam em que a economia do Brasil não tinha jeito, cantavam árias inteiras para encontrar algum consolo ritmado. Tio Samuel amava ópera, só não mais do que fumar. E nada arrefecia o seu desejo de ritual e nicotina. Ele tremia, delirava, alucinava e, nas noites mais brandas, sonhava com dois cigarros acesos, um em cada mão. Eram outros tempos para a confraria, velhos amigos mostravam-se mais disponíveis, e um deles traficou uma carteira do objeto cobiçado. Mas como encontrar fósforos dentro de uma UTI? Eram outros tempos também para fumantes, e a enfermeira carregava um isqueiro reluzente no bolso do avental. Mas como pedir para ela? O vício cria pérfidas artimanhas, e tio Samuel pediu um abraço. Jurou que não era assédio, que era bem casado (e era), apenas estava carente e precisava de um pouco de carinho “físico e concreto”.

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A mulher achou a história verossímil e, interrompendo o dueto de um Puccini, ofereceu-se, com seu corpo inteiro, enquanto o Simonsen, oportunista, esperava a sua vez. Tio Samuel foi rápido como um compulsivo e, antes do abraço completar-se, o isqueiro já estava escondido, sob a dobra do lençol, no leito 15. Mas não há crime perfeito, e a profissional da saúde sentiu aquela mão atipicamente boba. E não se encolheu: – O senhor pode recolher os seus pertences, imediatamente, e ir embora. Uma quase viúva e muitos cigarros o esperam lá fora. Não é justo continuar aqui, ocupando a vaga de alguém que deseja viver. O ministro tentava aumentar o volume da ópera para confundir a mensagem ou mesmo valer-se de sua autoridade. Mas não conseguiu. Tio Samuel ouviu cada palavra do pito. Mais do que essas palavras, ele sempre foi capaz de descrever aquele olhar pouco oblíquo e nada dissimulado de mulher enfurecida. E costumava contar que o volume da própria vergonha superou o de qualquer falsete. Não conseguiu fixar-se no rosto dela e, ao mesmo tempo, nunca mais se livrou dele. Ali, sim, precisou de um abraço, mas não teve coragem de pedir novamente. Devolveu o isqueiro, os cigarros e, amigo do medo para sempre, nunca, nunca, nunca mais fumou. Tinha pouco mais de 40 anos. Poucos dias depois, teve alta. Morreu aos 80, da próstata, a plenos pulmões. CELSO GUTFREIND É PSICANALISTA DE CRIANÇAS E ADULTOS E ESCRITOR


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Sabor

novo olhar sobre a

cozinha P O R

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B E T E

D U A R T E



Sabor


HOJE, QUANDO O ISOLAMENTO SOCIAL IMPÔS RESTRIÇÕES E RECOLHEU AS FAMÍLIAS AO LAR, COZINHAR PODE SER UM ATO DE INDEPENDÊNCIA Nunca o ato de cozinhar em casa foi tão importante e tão diferente daquele tempo em que era obrigação feminina. Se no passado chegou a representar submissão ou dever, hoje é questão vital de subsistência e também símbolo de liberdade. Houve época em que a cozinha era o único espaço em que a mulher podia estar no comando, ditar regras. Aos homens era determinada distância. Ali, ela reinava soberana, e o acesso só era concedido a quem ela o permitisse. Não era, no entanto, um reinado escolhido ou conquistado, era imposto pelos costumes. Mulher tinha que nutrir a família. Em resposta a essa imposição, muitas se lançaram ao mercado de trabalho em busca de outros caminhos que não passassem pela cozinha. E essa forma de saber foi relegada a outros planos, outra dimensão. A facilidade do comer fora ajudou em muito essa transformação. Sem esquecer da indústria de comida pronta e dos congelados.

Estilo Zaffari

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Sabor

É HORA DE DEIXAR DE LADO O NÃO SABER COZINHAR, O NÃO LEVAR JEITO NA COZINHA. É UMA CONSTRUÇÃO COM ERROS E ACERTOS, COM SUCESSOS E FRUSTRAÇÕES

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Estilo Zaffari

Num terceiro momento, homens e mulheres descobriram o prazer do cozinhar, mas muito como forma de lazer, de fruição. Surgiram os cursos de culinária, as confrarias e os inúmeros programas de TV sobre o tema. Saber preparar receitas, reconhecer ingredientes e como utilizá-los da melhor forma passou a representar status. Mas pouco se valorizava a comida do dia a dia. Essa continuava a ser, para a maioria, uma obrigação. Hoje, quando o isolamento social impôs restrições, recolheu as famílias ao lar, restringiu o acesso a restaurantes, cozinhar pode ser um ato de independência. Cadernos de receitas de família são resgatados de fundos de armários, programas de culinária ganham ainda mais audiência e consultas telefônicas a mães e amigas passaram a ser mais frequentes. O tema em comum? Comida. Cozinhar, no entanto, conquista um lugar que vai além do ato de alimentar o corpo. Pode ser uma forma de acalentar a alma. Ali, no cortar, no refogar, na espera do cozimento perfeito, há uma necessidade de acalmar o pensamento. De respeitar o tempo de cada ingrediente, do cozer, do fritar, do assar. Uma maneira de lidar com a disponibilidade de tempo que se tornou tão maior. Há ainda a necessidade de reflexão: que tempero usar, que prato preparar? Cozinhar faz viajar ao passado, a outros lugares, traz lembranças que pareciam esquecidas. Pode levar à cozinha da mãe, da avó, a um restaurante específico, a um país ou mesmo a um momento. Que aromas e sabores deixaram saudade? Que pratos fazem parte da história desse(a) cozinheiro(a)? São resgates de identidade cultural, de vida. Se partilhar o alimento é um gesto de afeto, de doação, pode ser também um presente para si mesmo, se estiver só. É hora de deixar de lado o não saber cozinhar, o não levar jeito na cozinha. Cozinhar é, para todos, um desafio. É construído com erros e acertos, sucessos e frustrações. Mais uma possibilidade de aprendizado, de saber lidar com pequenos fracassos e se lançar novamente à busca pelo acerto. Na quietude da cozinha, é como viver todos os sentidos. Conhecer texturas, desvendar sabores, recordar aromas, perceber nuances. No bater das panelas, é se refugiar no silêncio, pensar nas inquietudes, recuperar as lembranças, os afetos, sentir as ausências. Cozinhar dá asas para sonhar com o futuro.


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Bebida

A boa surpresa

de 2020: uma

safra excepcional P O R F OTO S

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B E T E

C H R I S T I A N O

D U A R T E

C A R D O S O

( V I N H E D O S )


A safra nacional de vinhos de 2020 promete ser a melhor dos últimos tempos. Um alento em meio a tantas restrições impostas pela ação do vírus que dominou todo o mundo. Aliado a isso, o setor vê crescer as vendas on-line e o delivery, que ajudam a reduzir as perdas determinadas pelo fechamento das lojas e a restrição ao turismo. A alta qualidade da bebida nesta safra contou com a ajuda da natureza e a interferência da mão humana, principalmente dos produtores de uva e dos enólogos que atuam nas vinícolas brasileiras. A natureza, por sua vez, contribuiu com um inverno pouco rigoroso, um outono chuvoso na medida certa e uma primavera e um verão mais secos que a média. O presidente da Associação Brasileira de Enologia, Daniel Salvador, explica que a pouca chuva permitiu a maturação perfeita das uvas, concentrando mais açúcares. Além disso, a amplitude térmica, variação de temperatura entre o dia e a noite, foi em média de 7 graus, conferindo mais cor e aroma às uvas, e

consequentemente, aos vinhos. Salvador diz que os vinhos brancos jovens ganharam aromas intensos e frescos. Os demais brancos, mais potencial e estrutura. Os tintos jovens prometem mais aromas, enquanto os demais tintos deverão ser mais alcoólicos e com grande potencial de guarda. Os sucos, por sua vez, são classificados por ele como “néctar”, de tão doces. Enquanto o setor vinícola espera que esta safra surpreendente ajude a melhorar ainda mais a imagem do produto brasileiro junto aos consumidores, precisa contabilizar as perdas com a ausência de turistas. Tem ainda o fato de não mais existirem as vendas para restaurantes. Só as vinícolas da Serra gaúcha que possuem winegardens ou locais abertos têm recebido pequenos grupos, mantendo distância entre eles e com material descartável. As que já tinham uma carta de clientes de e-commerce, essas sim viram crescer a demanda. “Tem vinícola que teve 65% de aumento no e-commerce”, contabiliza Salvador.


Bebida

“O VINHO FALA. É VENTRÍLOQUO. TEM UM MILHÃO DE VOZES. DERRETE A LÍNGUA, REVELA SEGREDOS QUE VOCÊ NUNCA IMAGEM NACIONAL O vinho brasileiro, com a safra 2020, poderá ser beneficiado no futuro frente ao mercado nacional e internacional. Afinal, qualidade é o fator principal na valorização da bebida. E a notícia de uma safra excepcional desperta o interesse dos consumidores, mesmo daqueles que geralmente optam pelo produto importado. O alto valor do dólar também pode contribuir para mudar o panorama do consumo no país. O efeito dessa melhora da imagem determinada pela qualidade da safra deste ano, no entanto, só deverá chegar a médio e longo prazos. Afinal, alguns desses vinhos só vão ser colocados à venda daqui a dois ou três anos. Há quem defenda que o vinho nacional continua sendo apenas a porta de entrada dos consumidores no mundo do vinho. À medida que vão desbravando outros horizontes, porém, querem conhecer mais, querem provar produtos diferentes, de outros países. A enóloga Maria Amélia Duarte Flores discorda. Acredita que os consumidores não estão preocupados se o vinho é nacio-

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nal ou importado. “O que vale para eles é a história que a bebida tem para contar, é o aspecto cultural.” A vantagem que ela vê para o setor vinícola brasileiro é que tem produto perto para entregar. “O setor vive muito da venda em supermercado. O consumidor vai comprar alimentos e aproveita para escolher o vinho. E com as dificuldades de importação e alta dos preços desses produtos que vêm de fora, devido à alta do dólar, os vinhos nacionais, que estão aqui ao alcance e mais em conta, têm mais vantagens”, analisa.

UM GOLPE E UMA REAÇÃO Se no início da pandemia as vinícolas viram crescer a venda das bebidas ícones e das linhas prêmio, como se os clientes estivessem encarando o isolamento como uma pequena parada, quase férias, com a extensão da ação do vírus, o consumo passou a ser de produtos de preços mais acessíveis. Mudança sensível para as vinícolas. Quem tem negócios ligados à bebida também preci-


TERIA CONTADO, SEGREDOS QUE NEM SABIA CONHECER. GRITA, DECLAMA, SUSSURRA” JOANNE HARRIS sou se adaptar às alterações no mercado. Maria Amélia Duarte Flores sofreu um baque com a chegada do vírus. Tinha programado se dedicar ainda mais às viagens enogastronômicas, e viu ruírem seus planos. Precisou cancelar todas as visitas programadas e com reservas feitas. “Cancelei seis viagens grandes, muitas delas com reservas fechadas em hotéis, vinícolas e restaurantes”, conta. Não dava, porém, para ficar se lamentando. A saída foi partir para os cursos de degustação on-line, uma logística complicada, preocupante, mas que está dando certo. Ressalta, no entanto, que o resultado não chega nem perto do faturamento de antes da pandemia. Reclusa com a família em Garibaldi, Maria Amélia vê com preocupação a subsistência das cidades turísticas da Serra. “Mesmo que voltem a abrir restaurantes, por exemplo, quem terá coragem de frequentá-los? Além disso, as pessoas não terão férias, as empresas as concederam agora. E quem terá dinheiro para gastar?”, avalia. Ela se questiona o que será dos buffets, assim como das degustações

coletivas de vinhos e das feiras da bebida. Só o futuro dirá.

UM SOPRO DE ESPERANÇA O setor vinícola, assim como os demais da economia, está sofrendo com o isolamento social e a pandemia. Mas é preciso não perder a esperança, porque vai passar. E o vinho e os espumantes continuarão presentes à mesa. Afinal, a bebida de Baco vai além do simples ato de beber. Vale lembrar o texto da escritora Joanne Harris, em Vino, Patate e Mele Rosse: “O vinho fala. É ventríloquo. Tem um milhão de vozes. Derrete a língua, revela segredos que você nunca teria contado, segredos que nem sabia conhecer. Grita, declama, sussurra. Conta grandes feitos, projetos maravilhosos, amores trágicos e traições terríveis. Ri às gargalhadas. Sufoca devagar uma risada, em si mesmo. Chora por seus próprios pensamentos. Reporta à mente situações de tempos atrás e lembranças que é melhor esquecer. Cada garrafa, um sopro de outros tempos, de outros lugares, e cada vinho é um pequeno milagre”.

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GUARIDA E COMIDA NO PAMPA,

Os primeiros viajantes europeus ao Sul do Brasil percebiam costumes tão distintos que lhes parecia estar em outro país. Dois fatos impressionavam: o isolamento da região e a atenção ao forasteiro. Naquele ‘Saara verde’ eram sempre ‘ruidosas e efusivas as boas-vindas.’ Como uma gente tão escassa, tão reservada, tão desprovida de conforto e apartada de tudo e todos poderia ser tão acolhedora? Até Carl Seidler (1835), as memórias mais ásperas entre os viajantes clássicos, fez questão de salientar: “A costa está longe de ser bonita ... a areia cobre o Rio Grande tal um manto triste e estende-se por quatro léguas quando a província se transforma numa enorme e única pastagem”. Ali “os moradores praticam uma hospitalidade no verdadeiro sentido da palavra, a maior de suas virtudes – sem ela seriam bárbaros”. E continua: “Todo viajante tem a liberdade de pedir em qualquer choupana, casa ou palácio o necessário fogo e um copo d´água. Mesmo ao pior inimigo esta gente nunca recusa pouso e comida. O forasteiro pode bater na primeira porta, seja casa rica ou pobre, logo entra e providências são tomadas para mitigar sua fome”. “Tudo é pasto e céu, e céu e pasto, e ainda mais céu e pasto”, eis o Pampa de Cunningham Grahan (1900). O horizonte longínquo circunscreve um panorama de abandono, daí as imagens de deserto verde ou oceano de pasto. Há até miragens no olhar desabituado: lagos, praias, gado com silhuetas alteradas. Para Lallemant (1858), “nestas planícies e colinas relvadas há tão poucos pontos de referência que só de milhas em milhas se encontra um sinal, um capão de mato, um regato para ajudar a direção”. Lallemant usa a expressão “vizinhos distantes” e enfatiza a contradição dos termos. “Aqui os vizinhos não se veem da janela, a visita de um ao outro é uma viagem. Não há casa em parte alguma, nenhum ser humano, só bois dispersos e tímidos cavalos ... corças na relva ... um afastamento da vida.” Nesta região tão erma “há na mais ampla escala ... um acolhimento que na Europa não se faz ideia. Hospitalidade espontânea oferecida de boa vontade está à espera na casa de qualquer colono ... um penhor sagrado, sempre recebido com benevolência”. Vinte anos na região (1781-1801) e um busto em Barcelona referendam as notas de Feliz de Azara: “São hospitaleiros, dão comida e pouso ao passageiro sem perguntar 60

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quem é ou aonde vai. Nunca pedirão que parta mesmo que se detenha por meses”. (sic). Critica os moradores de Maldonado “por darem notícias até aos inimigos e abrigarem com maior descaramento ladrões e contrabandista”. Fugitivos desconhecidos eram acolhidos sem questionamento de motivos ou de antecedentes; proporcionar a proteção solicitada era sempre o mais relevante. (J.A.B. Beaumont, 1827) A cercania do privado se contrapõe à imensidão externa. Ao contrário do ainda mais remoto e despovoado Ártico, onde receber o visitante facultava o acesso sexual às mulheres, no pampa havia um resguardo feminino frente ao estranho. A dona da casa e filhas não apareciam ao hóspede. ‘Escravas negras ou velhas índias’ podiam ser vistas e, como relata Seidler, eventualmente lavar os pés do forasteiro, mas as outras mulheres só espiavam às escondidas... A invisibilidade feminina é comentada por Lallemant: “Este costume peculiar não é interessante para o visitante que chega e é desagradável para as mulheres que se retiram”. O médico alemão expõe a reação de uma índia ao convite a cear em grupo: “Esboçou um doloroso sorriso em sua linda boca e um rubor lhe surgiu na face. Talvez pela primeira vez um europeu dirigia uma palavra amável ao pária feminino, talvez pela última”. Hospedar dá-se de homem para homem. Em ‘Viajando pelas Partes Meridionais do Brasil’ (1808), Luccock conta do companheiro que encontrou um ‘velho’ em Maldonado que logo o convidou a ir até sua casa, apresentou sua família e lhe emprestou “um belíssimo cavalo negro com um lombilho espanhol e arreios magníficos” para que conhecesse a região. Ao retornar do passeio, o amigo se deparou com o ‘benfeitor’ preparando o almoço e desculpando-se por não estar pronto, pois o esperava mais tarde. Mesmo este “povo mais hospitaleiro e polido” exigia certo protocolo. Murray (1871) recomendava não chamar o homem de “gaúcho, termo reservado aos selvagens”, não chamar a mulher de “china, uma mestiça, um equivalente ao nosso female dog” (o autor omite o bitch), e jamais recusar o mate oferecido. Apear do cavalo sem permissão era falta grave, invasão de propriedade. Da observância ou não deste rito haveria abrigo ou rechaço, risco inclusive, pois o proprietário se via no direito de sacar a arma e atirar!


DEVER SAGRADO

Ao buscar abrigo em Rio Pardo (1821), o francês Saint-Hilaire recebeu uma advertência: “Ninguém, senão um homem mal-educado, se portaria assim; o senhor deveria ter ficado do lado de fora da cerca, chamando-me e esperado uma resposta!”. Como seu guia tomava a dianteira na aproximação das propriedades, Saint-Hilaire não aprendera o rito. Curiosamente – o relato é de Murray –, o forasteiro se anunciava pela expressão ‘Ave Maria!’. Cumprida a etiqueta, o desconhecido podia contar com a melhor carne disponível, um convite ao pouso e o empréstimo de um cavalo descansado. Esta montaria, solta numa paragem 30 milhas depois, voltaria para casa conduzida pelo próprio instinto. Na sua estadia no Uruguai (1830), Charles Darwin – Don Carlos, como ali era chamado – conta que o ‘Ave Maria’ do recém-chegado, “sempre pronunciada sem desmontar

do cavalo”, era respondida pelo proprietário com um ‘Sin pecado concebida’. O estranho era convidado a entrar, fazer a refeição em família e um cômodo lhe era destinado, os arreios servindo como cama. A aproximação também ocorria com “bater palmas três vezes rápidas ‘e gritar’ Ó de casa!” Assim “... bastará que seja branco (sic...) quem quer que se apresente para que seja bem-vindo”. (Luccock, 1808) Darwin detalha a visita a D. Juan Fuentes, proprietário de “um rancho de chão batido, janelas sem vidraças, a sala com algumas cadeiras rústicas e um par de mesas”. No jantar, “uma pilha de carne assada e outra pilha de carne fervida com pedaços de abóbora. Sem pão, sem outro vegetal e um jarro d´água servindo a todos”. E faz coro aos outros viajantes “as signoritas (sic) sentam num canto, sem participar da refeição”. Esta casa, “miserável e curiosa”, às margens do Rio Negro, era uma das maiores propriedades rurais na região entre Laguna e a Colônia de Sacramento. Não há elogios, mas Darwin não repete as duras críticas às hospedarias do centro do país: “os proprietários são rudes e desagradáveis; as casas e pessoas são imundas; faltam garfos, facas e colheres”. E ainda “o universal deplorável diálogo”: “O Sr. pode nos conseguir algo para comer?” “Claro, senhor, o que desejar!” “Pode ser peixe?” “Isto não, senhor!” “E sopa?” “Não, senhor.” “E pão?” “Isto também não.” “E carne seca?” “Ah, claro que não, senhor!” O hóspede acabava tendo de ‘matar a pedradas’ (sic) uma galinha, e se perguntasse quando o jantar seria servido, ouviria a resposta: “Será servido quando estiver pronto”. O que então surpreendia o naturalista é o oposto da cortesia. Indagando sobre um rebenque que extraviara ouviu do ‘vendêro’ (sic) que lhe alojava: “Como vou saber? Por que não cuidou dele? Suponho que foi comido pelos cães”. Longe de ser europeia, a tradição gaúcha de zelar pelo forasteiro é uma herança tão indígena como o laço, a boleadeira, as botas de garrão, o poncho, o chiripá, o churrasco e o mate. O texto clássico sobre o Prata (Felix Azara, 1801) ressalta: “Os índios têm o costume de receber e tratar com igualdade todo homem que a eles se apresente voluntariamente, não sendo em ação de guerra”. E, na primeira descrição da região, Schmidel (1530) observa os nativos “oferecendo suas misérias”, “repartindo sua pobreza de peixe, carne e peles”. Estilo Zaffari

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“Gente sem ter o que comer nos tratando bem e nos proporcionando o que falta.” Conta a terrível história dos Guaranis e Tapes “prometendo comida e tudo mais que necessário em troca da saída dos espanhóis em santa paz de suas terras”. Mesmo assim atacados, “negociaram misericórdia, cedendo seis mulheres, a mais velha com 18 anos, ao capitão, duas mulheres ‘para lavado e cozinha’ (sic) para cada soldado, além de oito veados, cervos, outras caças e comidas”. E conclui: “Desta maneira estabeleceram a paz conosco”... O jesuíta Thomas Falkner conta dos sobreviventes de um naufrágio na Terra do Fogo em 1765 construindo nova embarcação “e os nativos, muito humanos e caritativos, ajudando-os na obtenção de madeira e assistindo-os em tudo”. O Cônego Gay descreve os Charruas recebendo “em suas tolderias e territórios aos guaranis desertores das missões que querem viver com eles” e permitindo “aos espanhóis a andar pelos campos... tirar bois e cavalos para levar clandestinamente a Montevideo”. E sobre os Charruas de Maldonado, “... são mui ousados em acometer e cruéis em pelejar, e depois mui humanos com os cativos”. Os jesuítas do Séc. XVIII se valiam do acolhimento guarani para povoar seus ‘burgos religiosos’ (Azara, 1801). Índios missioneiros e curas visitavam ‘povos infiéis’ levando gado e regalitos. “Comidas as vacas, outras eram trazidas com mais índios até quando, em maioria, em meio a festas e danças ... os submetiam pela surpresa e força armada.” Azara chama a isto de ‘persuasão eclesiástica’... A hospitalidade parece ser atávica à região, seu reconhecimento é unânime. “Sempre hospitaleiro, em seu rancho o viajante encontrará boas-vindas amistosas, uma dignidade natural que não se esperaria em local tão mísero”, diz o Cap. F. B. Head (Os Pampas e os Andes, 1845). O autor faz duas observações interessantes: “Entrando no rancho, o gaúcho sempre me oferecia seu assento com cumprimentos e insistências até que aceitasse: um crânio de cavalo” e “curioso vê-los tirando o chapéu ao entrar numa peça sem janelas, com porta de couro e com o teto baixíssimo”. O francês Jean Pierre Gay, 40 anos pároco em Alegrete e São Gabriel (1850-1891), ao final de sua República Jesuítica do Paraguai (1863) observa: “Nota-se muita humanidade nos habitantes das Missões brasileiras, entre eles a hospitalidade é um dever sagrado, e qualquer um pode viajar sem

despender um vintém. Por pobre que seja um missionário, se lhe chega um hóspede, lhe cede a cama se não tem outra para oferecer-lhe, dá-lhe a comida que tinha preparado para si, e vai comprar ou pedir mantimentos emprestados se não os tem para dar refeição ao hóspede que nada disto suspeita”. “Raramente os deveres de hospitalidade não são observados, mesmo quando não há o que oferecer além de um teto”, ressalta Luccock. Mas chamar de rústica a hospitalidade do pampa é eufemismo. A precariedade da morada poderia ser tal que o único sinal de ocupação era a porta de tábua; o rancho inabitado ou era devassado ou tinha um couro pendurado na entrada. Na imagem de Augusto Meyer, o gaúcho vivia “na sua camisa, debaixo do seu chapéu”. Quase nômade, sem posses, as únicas riquezas seriam as esporas e os adornos dos arreios (que na origem significa ‘adorno’), nem mesmo o cavalo era valorizado. As necessidades se resumiam ao tabaco, aguardente e erva-mate. No rancho de torrão – teto baixo de sapé, diminuto e de chão batido –, a mobília eram crânios de cavalos para sentar, a chaleira para o mate, a guampa como caneca e a faca, único talher, arma da degola e carneação, “uma lâmina que sai facilmente da bainha”. (Seidler) Como iluminação, “um pedaço de sebo num prato raso com uma palha de milho espetada”. Azara (1801) descreve “habitações asquerosas sempre rodeadas de ossos e de carne podre ... parece impossível que possam viver com tão poucos utensílios e comodidades, inexistem os colchões mesmo com abundância de lã”. “Nas noites amenas, moradores e hóspedes por vezes dormiam ao relento para fugir da companhia dos ratos.” Os europeus percebiam nas selas de montaria – planas, maleáveis e envoltas por camadas em lã, pelego e couro – adaptações não só à planície do terreno mas ao uso como catre noturno. O gaúcho dormia no que montava e montava no que dormia. E, na força do hábito, “uma cama dura torna-se mais agradável que a macia, uma peça de couro cru esticada é mais cômoda que alguns dos colchões de Londres” (Luccock,1808). A exemplo do gado, o homem tornara-se ‘cimarron’, desgarrara-se da civilização para viver na semisselvageria. Darwin se espantou com mescla “de altivez e dissolução que lhes soa mal” e “a excessiva delicadeza do gaúcho”, pois

“NÃO HÁ PIOR FAMA NA REGIÃO QUE A DA INOSPITALIDADE” (AVÉ-LALLEMANT, 1858) 62

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“HOSPITALIDADE, A MAIOR DE SUAS VIRTUDES, SEM ELA SERIAM BÁRBAROS” (CARL SEIDLER, 1834) “nunca levam o copo aos lábios sem que o conviva o tenha feito primeiro”, mas, “com a mesma facilidade que se curvam no seu gracioso cumprimento, parecem dispostos a cortar a garganta do próximo”. Na crônica do Séc. XIX, mesmo que roubar não fosse um crime, os pertences do hóspede eram intocáveis. Para sobreviver dois meses no pampa, Luccock (1808) tinha um segredo: confiança. Ao chegar numa ‘pulperia’ solicitava a qualquer dos presentes auxílio em cuidar seus pertences. Ao concordar, “o malfeitor se transformava no guardião que defenderia a propriedade alheia – e a palavra empenhada – ao custo da própria vida”. Da mesma forma, ao pernoitar numa estalagem, entregar as armas ao proprietário era mais seguro do que mantê-las junto de si, pois a confiança seria retribuída com zelo redobrado. Outro estilo de recepção é o que relata Hudson (1908). Um cego a cavalo, guiado por um menino montado num pônei, chega num rancho bradando ‘Ave Maria Puríssima’ e mendigando erva-mate, açúcar, pão, biscoitos, fumo e papel de cigarros. Ao receber os itens acrescenta arroz, farinha, cebola, alho, sal, pimenta e pimentão, ou seja, um farnel completo! Depois, nas palavras do autor, “despede-se da maneira mais digna guiado com altivez pelo menino até as montarias”. Naquele local e época seriam usuais este pedir e este prover. Numa maratona equestre de 40 dias, 229 léguas pela província, Lallemant só teve o pouso recusado uma vez! Ressalta: “Não há pior fama na região que a da inospitalidade”. Deparou-se sempre com o contraste entre a facilidade de chegar e a dificuldade de sair, com a insistência na demora, ao menos até uma próxima refeição. Chega a queixar-se da impossibilidade de comprar comida, “pois esta gente não vende nada, tudo é oferecido de graça. Mesmo nas estalagens é costume que se pague a ração de milho para o animal, o vinho, a cerveja etc., porém não o que se come”. O acolhimento mitigava as ‘sofrências’ da viagem. Hospedado em Santa Cruz, conta Lallemant: “Por mais que recusasse, o quarto e a cama da casa me foram cedidos de boa vontade. Chamava atenção que portas não eram fechadas, tudo fica aberto, ocorrendo visitas zoológicas (sic). Um bicho saltou na cama e diagnostiquei um gato. Ao expulsar um cão ele percebeu o estranho e latiu como um desesperado. Vieram também alguns porcos e ouvi um morcego esvoaçando

por longo tempo no meu rosto. Mas isto não incomodava o viajante, dormi muito bem”. Botânico da grande expedição de Humbold, jardineiro oficial e amigo da Imperatriz Josefina, Aimé Bonplant recusou honrarias, pensões e salões parisienses para viver por 40 anos na ‘tríplice fronteira’, metade deles em São Gabriel. Aos 84 anos, “num rancho de barro cheio de buracos e rachaduras, teto de palha que baixara perigosamente, e com a parede dos fundos escorada por troncos para não cair”, Aimé Bonpland recebeu Lallemant em 17 de abril de 1858, duas semanas antes de morrer, desculpando-se: “Só há quatro dias arranjei uma cama em condições, antes qualquer enxergão me bastava”. Outro famoso botânico, Saint-Hilaire, em 11 meses de viagem pelo sul (18201821), chegou a ser recepcionado com queima de fogos e títulos militares, mas teve o pouso negado pelo Padre Alexandre, cura de São Borja. Sua expectativa de acolhimento era tal que a recusa irredutível do padre acabou em bate-boca: “Esgotou-me a paciência. Deixei de rodeios ... critiquei sua falta de hospitalidade e caridade; e montei a cavalo depois de lhe dizer os nomes mais aviltantes”. E conclui: “Um mau sacerdote é o pior dos ímpios ... este homem fazia tráfico de sacramentos, autorizado a batizar em sua estância, não o fazia por menos de 8 mil-réis”. Também não acolhia. É impressionante como esses viajantes europeus no Pampa do Séc. XIX parecem reproduzir a descrição dos hábitos de hospedagem das tribos germânicas feitas por Tácito à época de Jesus: “Nenhum outro povo é mais propenso a receber. Recusar teto a qualquer pessoa é visto como ato ignóbil. Todos ceiam com o hóspede. Se as provisões se exaurem, o anfitrião guia e acompanha o hóspede a novo lugar adequado. Entram sem convite e são recebidos com cordialidade. Não se distinguem os direitos do estranho e os do conhecido. O hóspede que parte é presenteado com o que solicitar. A convivência será sempre fácil e afável”. A surpresa de Roma ‘civilizada’ com a ‘propensão a receber’ do povo bárbaro é a mesma que a da ‘culta’ Europa em guarida na semisselvageria gaúcha dois milênios depois. FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br


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Guatemala Um mergulho no mundo prĂŠ-colombiano, indĂ­gena e colonial T E X TO

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Nesta minha terceira viagem à Guatemala voltei ainda mais encantado com essa pequena nação centro-americana. Um país banhado pelo Pacífico e Atlântico, cortado por montanhas e coberto de florestas tropicais, plantações de café e cacau, decorado por lagos e imponentes vulcões. No coração do mundo maia, a Guatemala abriga imponentes sítios arqueológicos de cidades-estado dessa civilização, como os templos e palácios de Tikal, que sobressaem acima do cume das árvores no Parque Nacional de Peten. Antígua, que foi a sede do poder espanhol na Mesoamérica por dois séculos e abandonada após devastador terremoto, teve suas igrejas e mosteiros restaurados a partir de meados do século 20, nos possibilitando uma verdadeira viagem no tempo ao período colonial. Além da instigante geografia, história, arqueologia e arquitetura, o que mais me fascina na Guatemala é sua diversidade humana e cultural. Os descendentes diretos do povo maia, que constituem 46% da população, distribuídos em 22 grupos linguísticos diferentes, colocam essa pequena nação centro-americana entre os países com maior diversidade étnica e natural do planeta. Essa variedade se reflete nos costumes, vestimentas e indumentária regionais com todo o colorido da produção têxtil artesanal – uma das mais coloridas e variadas do planeta. Minha expectativa em retornar à Guatemala era elevada em função das vivências anteriores e de tudo que já sabia desse fascinante país. Aliada a isso, a responsabilidade de passar esse mesmo encantamento para o grupo que acompanhava e que iria desvendar comigo aquela nação. Todos se surpreenderam positivamente, tanto eu, aumentando ainda mais minha admiração, quanto eles, com suas primeiras impressões. Reproduzo abaixo algumas das sensações que mais me marcaram desta vez.

“O QUE ME FASCINA NA GUATEMALA É SUA DIVERSIDADE HUMANA E CULTURAL”

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LAGO ATITLAN Depois de um voo noturno, em que nunca se dorme bem o suficiente, chegamos no final da manhã em Guatemala City, a capital do país. Visitamos o palácio governamental e a catedral no centro histórico, fizemos um bom almoço e seguimos em direção às “terras altas” da Guatemala. Já era noite quando chegamos ao hotel Atitlan, e o cansaço não nos permitiu apreciar a bela construção colonial que nos abrigaria pelas próximos três noites. Ao abrir a janela na manhã seguinte fomos premiados com um céu e lago azul, emoldurado por três vulcões – Atitlan, Toliman e San Pedro – revestidos por bosques verdes. O encanto continuou no café da manhã no terraço com esta vista cênica de uma natureza imponente e delicada, e nas caminhadas pelo bem cuidado jardim, cheio de recantos. O charmoso hotel era uma antiga fazenda de café do séc. 18 com lindo trabalho em madeira e azulejaria, além dos detalhes em arte nativa e colonial. A vontade era de passar o dia aí, mas o lago também nos convidava e fomos navegar

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em suas águas tranquilas e esverdeadas, passando por vilarejos indígenas tsutuiles e caqchiqueles, descendentes dos maias, às margens do lago e encostas dos vulcões. Nossa primeira parada foi em San Juan Laguna – um povoado pequeno e genuíno composto de artesãos caqchiqueles organizados em cooperativas de tecelãs, produtores de chocolate e artistas. Adoramos ver os processos artesanais de produção preservados, em que a cultura tradicional permanece viva até hoje com as pessoas usando roupas típicas e mantendo seus costumes seculares. A segunda escala foi em San Marcos, um vilarejo que foi “invadido” por estrangeiros que criaram um centro holístico com massagem, yoga, meditação, comidas orgânicas, associações de proteção à natureza, etc. Uma experiência menos maia e mais zen. Tivemos aí uma experiência gastronômica fenomenal no https://anzanatitlan.org, em uma construção clean-clic contemporânea às margens do lago. A proprietária tcheca, o chef escocês, o garçom israelense e a equipe local dão uma ideia do seu astral internacional.


A LINDA VISTA, COM O AZUL DO LAGO E, AO FUNDO, OS VULCÕES ATITLAN, TOLIMAN E SAN PEDRO Estilo Zaffari

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É IMPERDÍVEL A FEIRA INDÍGENA DE CHICHICASTELNANGO, QUE VIBRA COM A RIQUEZA CROMÁTICA E TEMÁTICA DOS TECIDOS TRADICIONAIS, ALÉM DOS COLORIDOS PRODUTOS DA TERRA, COMO MILHO, PIMENTÕES, TOMATES E CACAU

CHICHICASTELNANGO A imagem que sempre me remete à Guatemala é de sua rica e colorida tecelagem produzida em teares manual utilizando lã e corantes naturais. Muito presente no meu dia a dia, pois tenho um “huipil” – a túnica tradicional das indígenas maia – emoldurado em meu quarto e as almofadas da minha sala seguem a mesma temática. Cada um dos grupos étnicos maia tem seu padrão têxtil próprio, em diferentes composições de desenhos e cores, mas sempre esteticamente únicos e agradáveis. O meu estilo preferido é o do povoado “Todos Santos”, minimalista e em tons de vermelho. Desde minha primeira vez na Guatemala me divirto tentando adivinhar o povoado de origem de algum tecido que atrai meu olhar, e normalmente acerto a meia dúzia de meus estilos prediletos. Por isso, viajar pela Guatemala é uma verdadeira aula de antropologia em que vamos nos familiarizando com os diferentes grupos que derivaram do desmembramento do povo maia, celebrando sua diversidade em artesanatos e tecidos coloridos. Para aqueles apaixonados por mercados autênticos é imperdível a feira indígena de Chichicastelnango, que toda quinta-feira e domingo vibra com a riqueza cromá-

tica e temática de seus tecidos tradicionais, além dos produtos da terra que se espalharam pelo mundo, como milho, pimenta, pimentões, tomates e cacau. Trata-se do maior e mais colorido mercado ao ar livre do país, em torno da Igreja de Santo Tomás, onde o sincretismo religioso do povo maia combina com o catolicismo romano. O grupo étnico majoritário nessa região e no país é o kiche, que compõe um terço da população maia da Guatemala – uma das nações com maior população indígena do planeta. TIKAL A Guatemala fica no coração da civilização maia, que se estendia por 11 cidades-estado, que se aliavam ou se enfrentavam ao longo dos tempos, do México, Guatemala, Belize, Honduras até El Salvador. Percorri a “Ruta Maia” através desses cinco países, e o local mais mágico para mim é Tikal – um lugar que me faz sentir “Indiana Jones” descobrindo templos de rocha perdidos no meio de uma floresta remota. A cidade Tikal, fundada em 700 a.C., teve seu apogeu no período clássico entre os séculos 2 e 9 d.C., e chegou a ser a maior cidade do mundo maia, com até 200 mil habitantes.

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O PARQUE NACIONAL DE TIKAL, LOCALIZADO NA REGIÃO NORTE DO PAÍS, É UM DESTINO TURÍSTICO OBRIGATÓRIO PARA TODOS QUE VISITAM A GUATEMALA Ao mergulhar em uma determinada civilização acabo adotando alguns personagens com os quais desenvolvo maior familiaridade e cumplicidade. Em Tikal adotei o 26º soberano da dinastia dos jaguares, Ah Kakao, que governou por meio século (682-734) e fez grandes conquistas. O meu “Ramsés Maia” construiu os dois grandes templos da praça Mayor de Tikal, que reproduziam no plano material o plano celeste, e onde acontecem até hoje celebrações religiosas maias. A posição e altura dos templos eram definidas por detalhes astrológicos – a fim de endossar o poder real com efeitos do nascer e pôr do sol, principalmente nas cerimônias dos equinócios de verão e inverno. Nesta praça, há também “estelas”, painéis comemorativos que nos deixam intrigados com a complexa escrita maia: iconográfica, logo, gráfica, fonética e silábica – ainda não totalmente decifrada. No século 9 se inicia o declínio maia, quando Tikal e as outras grandes cidades-estado são abandonadas em função de superpovoamento e secas. Ao final do séc. 10 Tikal já estava abandonada, para só ser “redescoberta” por exploradores um milênio depois. Somente com a criação de um campo de pouso nesse local, até então inacessível e mergulhado na floresta, nos anos 1950, foi que se iniciaram as escavações arqueológicas que levaram a ser declarado Patrimônio da Humanidade em 1979. O recente projeto “Líder” de escaneamento aéreo mapeou mais de 2.100 km2 da Reserva da Biosfera Maya na região de Petén, produzindo o maior conjunto de dados já obtidos em pesquisas arqueológicas, com 4 mil novas edificações somente em Tikal, e em torno de 60 mil no conjunto de 12 sítios arqueológicos da região de Peten. Por tudo isso, Tikal nos deixa o sabor de arqueólogo amador neste mundo maia onde tem ainda tanto a ser desvendado. Estilo Zaffari

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Viagem

ANTÍGUA, A INCRÍVEL MESCLA DA HERANÇA INDÍGENA E COLONIAL EM UMA PEQUENA NAÇÃO DA AMÉRICA CENTRAL

ANTÍGUA O nosso “gran finale” foi em Antígua, que foi por 230 anos, de 1.547 a 1.773, a sede da Capitania General de Guatemala, que se estendia do Chiapas, no México, à Costa Rica. Naqueles tempos áureos, além do palácio governamental, havia entre as praças e casarões meia centena de imponentes edificações religiosas. Igrejas, conventos e mosteiros de 32 diferentes ordens religiosas, dos franciscanos e dominicanos às carmelitas, faziam de Antígua o mais importante centro intelectual, econômico, religioso e político da América Central. Desde sua fundação, a cidade enfrentou vários terremotos, e após o tremor de 1773 a capital foi transferida para a Guatemala City – até hoje capital do país. Antígua ficou quase esquecida até metade do século 20, quando foi iniciado o processo de restauração. Hoje, também Patrimônio da Humanidade pela Unesco, a cidade é um conjunto harmonioso dos séculos 17 e 18, com seu charmoso casario colonial abrigando

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SUGESTÃO DE ROTEIRO 3 noites no HOTEL ATITLÁN www.hotelatitlan.com 2 noites no HOTEL CAMINO REAL TIKAL www.caminorealtikal.com.gt/en/ 3 noites no HOTEL CASA SANTO DOMINGO em Antigua MAIS INFORMAÇÕES sobre a GUATEMALA e viagens pelo mundo com betoconte@stb.com.br, coordenador das unidades em Porto Alegre do STB Trip&Travel da rede www.virtuoso.com, que congrega as melhores agências de viagens do mundo

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hotéis-boutique, cafés descolados, chocolaterias e restaurantes encantadores, como o “El sabor Del tiempo”, e docerias como a de Maria Gordillo, com seus figos recheados com marzipan. Apesar de todo esse cenário de uma cidade parada no tempo colonial, Antígua é vibrante com a população local nos parques, ruas e nos mercados coloridos, com a rica e diversa tecelagem indígena. Nossa “casinha” foi o antigo Mosteiro de Santo Domingo, um dos mais grandiosos conventos das Américas. O Convento, construído de 1541 a 1666, também sofreu com os grandes terremotos do século 18 e foi abandonado junto com a cidade. Restaurado na segunda metade do séc. 20 e convertido em hotel e museu, preserva a história da cidade e sua arte sacra. A base perfeita para andar sem destino pelas ruas de pedra do centro histórico regular e planejado, encontrando a cada momento nas poucas esquinas as imponentes obras religiosas de outras épocas. Por tudo isso, uma das cidades coloniais mais fascinantes do mundo espanhol, em um vale cercado por três vulcões, um deles ainda ativo. A fotogênica Guatemala – um país pluricultural, multiétnico e polilinguístico – encanta por sua autenticidade e cenários totalmente cênicos. Recomendo, muito!


Sampa C R I S

B E R G E R

A VIDA É CHEIA DE SURPRESAS

Fechei a porta do meu escritório no Spaces Berrini com um nó na garganta. Era 17 de março, uma segunda-feira. Coloquei dentro de caixas o que eu achava que poderia precisar nas próximas duas semanas: HDs, um abajur, meu desktop e pacotes de erva de chimarrão. Passei pela porta principal, dei uma olhadinha para trás e pensei o quanto eu gostava daquele lugar com pé-direito alto, tubulações à vista, lounges, mesa de ping-pong no térreo, cinema ao ar livre no rooftop e cheio de pessoas interessantes. Lembro de ter dito para o Fernando, o segurança noturno com quem eu sempre conversava enquanto esperava o Uber: “Até breve, Fer, isso não vai demorar”. Demorou. E muito. Adaptar-se! Antes da Covid-19, eu saía muito cedo de casa, voltava tarde, viajava aos finais de semana e tinha uma vida social bem interessante. De repente, me vi presa. E não gostei de ter minha liberdade tolhida. Logo, me dei conta de que não é o mais forte que sobrevive e sim o que se adapta mais rápido. Portanto, o inteligente a fazer era engolir o choro e ficar bem. Quando parecia que eu estava me adaptando, minha cachorrinha, a Ella, ficou doente. Foram dias difíceis, muitos exames, algumas idas noturnas, em caráter de emergência, ao hospital veterinário e 25 dias de antibiótico. E assim, em um piscar de olhos, a quarentena deixou de me assolar. No momento em que a Ella estabilizou, voltei a respirar. Estar em casa com ela era tudo que importava. Realmente, tudo. O segundo mês de isolamento social começou num ritmo menos montanha-russa. Eu havia criado um protocolo de limpeza, descia duas vezes por dia com a Ella

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para seus xixis, fazia calls com os meus amigos e aprendi a cozinhar. Alguns trabalhos foram adiados para depois da quarentena, o pause era o botão que regia o planeta. Era hora de passar a limpo a vida, prever o futuro e refazer a minha história. Do terceiro mês para cá, fiz leitura dinâmica das notícias para não entrar em depressão e busquei manter minha imunidade alta. Na estante da entrada de casa, ao lado dos meus livros, tem álcool em gel, banho a seco para a Ella e uma máscara. Do lado de fora do apartamento, meus chinelos de dedo, um par de tênis e as botinhas da cusca. Seguimos em casa boa parte do tempo. Fico entre a sala onde está meu desktop e a varanda, que ganhou um espaço extremamente acolhedor, o meu preferido! Tem feito dias lindos em Sampa! Trabalho, olhando o azul do céu, o colorido do pôr do sol e a chegada da blue hour. Às vezes, só entro em casa quando já é noite. Dia desses, escutei um avião aterrissar em Congonhas, que fica a 12 minutos daqui, e pensei: hora de dar play? Claro que estou com saudades da agitação típica de São Paulo, motivo que me faz morar aqui, mas sei que também sentirei falta desse ritmo mais lento e introspectivo. Reaprendi, a vida é cheia de surpresas: boas e ruins. Não existe linha reta. O que importa é estarmos em paz. Esse é o grande desafio e a conquista diária. Saúde, sim, é absolutamente fundamental. Nada será igual como um dia foi. E, por isso, precisamos nos reinventar. Agora, um pouquinho mais do que antigamente. CRIS BERGER É JORNALISTA E ESCRITORA



Bem-estar

Milenar, reconfortante

e com rituais

mĂĄgicos P O R

TAC I A N E

C O R R ĂŠ A



Bem-estar


Tranquilizante ou estimulante, para tomar sozinho ou curtir em boa companhia, o chá e seus rituais vem ganhando mais espaço no dia a dia dos brasileiros e enchendo a mesa de alegria, bem-estar e encanto. Descoberto há quase 5 mil anos, o chá é a bebida mais consumida no mundo e só na China existem mais de 10 mil variedades. O chá simboliza a hospitalidade, a amizade e a gentileza. Ele é bebido em todos os continentes, claro que em cada lugar de uma maneira diferente com seus rituais peculiares, que expressam os costumes baseados em elementos culturais e históricos de cada região. O chá já esteve na origem de muitas questões políticas e comerciais. Ele chegou ao Ocidente através de embarcações chinesas no início do século XVII, mas apenas por volta de 1650 começou a se tornar mais conhecido na Inglaterra, sendo ressaltado o seu valor medicinal. “Ele mantém o palácio da alma sereno” – escreveu um poeta inglês da época. Um século depois, Londres tornou-se o maior entreposto de chá e café do mundo. Mais de 80% desses produtos eram reexportados para o resto da Europa. Para beneficiar a florescente indústria do chá, as autoridades aumentaram a taxa de importação do café – então muito popular no país – e o consumo do chá tornou-se dominante, a ponto de se converter numa característica nacional dos ingleses. Costumamos confundir chás com infusões de plantas, ervas e até frutas. No entanto, o chá é uma

bebida que pode ser servida quente ou fria, feita a partir de uma única planta: a camellia sinensis. Outros preparos feitos a partir de ervas frescas da horta, pela mãe ou pela avó, como cidreira, capim limão, melissa, camomila ou de especiarias, são chamados de infusões pelos especialistas. Da camellia sinensis, que é originária da China, são obtidas milhares de variedades de chás que se modificam conforme o tipo de cultivo, nível de fermentação, coleta, preparo e armazenamento das folhas. Devido aos altos valores de exportação para o Ocidente, o chá em saquinhos ainda representa a maior forma de consumo entre nós. Por influência dos americanos, há anos os chás vêm sendo vendidos de forma industrializada, processo em que se armazenam as folhas trituradas prontas para infusão em saquinhos de tecido fino. A praticidade, o custo baixo e a facilidade de ser encontrado fazem com que o chá de saquinho seja uma opção mais atrativa para o consumidor. Para a sommelier de chá e idealizadora da marca Tea Road, Tânia Rampi, as infusões em saquinhos que temos no Brasil, a exemplo da camomila, capim santo e erva-cidreira são ervas que, se bem colhidas e desidratadas, mantêm seus benefícios. Há que considerar, porém, que durante o envasamento em sachês, a umidade da erva é removida totalmente, e ao passarem pelo processo de moagem as folhas são tão picadas e oxidadas que acabam por perder o seu óleo essencial.

O CHÁ SIMBOLIZA A HOSPITALIDADE, A AMIZADE E A GENTILEZA. É BEBIDO EM TODOS OS CONTINENTES E EM CADA LUGAR TEM SEUS RITUAIS PECULIARES, QUE EXPRESSAM A CULTURA E OS COSTUMES

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Bem-estar

Conheça algumas variedades CHÁ VERDE É o mais ancestral de todos. Para o seu preparo as folhas devem ser secas imediatamente após a colheita, evitando qualquer risco de fermentação. Seu sabor é suave e o espectro de aromas presentes na família dos chás verdes costuma transitar pelo vegetal e o marinho, podendo trazer aspectos florais, frutados e de castanhas. CHÁ OOLONG É um dos chás mais complexos, devido a sua variação de oxidação. Apresenta uma fermentação mediana, ficando entre o verde e o preto. Seu sabor também é intermediário entre os dois estilos. Quando pouco oxidado, suas notas ficam próximas ao chá verde, porém quando o sabor estiver mais encorpado, apresenta mais oxidação e características parecidas com os chás pretos. São muito aromáticos e de textura sedosa. CHÁ PRETO É feito com as folhas mais velhas e passa por um processo de fermentação maior. Por isso, ele possui ação antioxidante bem menor do que dos outros e mais cafeína, o que deixa o seu sabor mais intenso. CHÁ BRANCO A China nos fornece os mais belos chás brancos do mundo, outrora reservados apenas ao Imperador. Eles procedem do primeiro broto do chazeiro, a parte mais nobre da planta, colhido antes de as flores se abrirem. Após serem expostos ao sol para secagem, adquirem uma belíssima tonalidade prateada. A planta não passa por fermentação e por isso conta com a ação antioxidante mais forte e menor quantidade de cafeína. São chás mais delicados, de baixa adstringência e sem amargor, com um sabor mais doce e floral à degustação. Além disso, contêm L-teanina, uma substância que favorece a produção de hormônios de prazer e bem-estar. CHÁ AMARELO É um derivado do chá verde muito raro, pois poucos mestres dominam sua arte de produção. As folhas do chá verde são colocadas ao sol de forma muito peculiar para serem levemente fermentadas. Este tratamento das folhas lhe dá um tom mais amarelado e um sabor mais adocicado, sendo também mais leve se comparado com os verdes. 82

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PUER Faz parte da família de chás pós-fermentados, é compactado e envelhecido por pelo menos alguns anos antes de ser consumido, o que lhe confere um sabor mineral característico. Com o envelhecimento adequado, a adstringência e o amargor desaparecem gradualmente e o chá fica mais suave e desenvolve equilíbrio e sutileza no sabor. Sua classe de aromas pode trafegar por madeira úmida, cera, mel e caramelo. MATCHA É o broto do chá verde em sua maior concentração, em pó ou moído. Trata-se do mais popular dos chás verdes do Japão, apesar de originário da China. Com um gosto mais forte do que o do chá verde tradicional, ele tem o poder de acalmar a mente, além de apresentar inúmeros outros benefícios para a saúde e o bem-estar, pois tem uma maior concentração de cafeína, L-teanina e clorofila, fornecendo antioxidantes poderosos para o organismo. Para consumi-lo é necessário batê-lo com água. Mas o matcha não se restringe apenas a uma bebida. Como é comercializado em pó, está sendo muito utilizado no preparo de smoothies, bolos, pudins, mousses, bolachinhas, sorvetes, iogurtes, sucos, pães e molhos. DICA: Para deixar o sabor do chá mais leve, pode-se adicionar canela ou raspas de gengibre para suavizar o sabor e potencializar suas propriedades anti-inflamatórias. O QUE MAIS É PRECISO LEVAR EM CONTA? Além dessas variações, Tânia Rampi explica que o terroir da região de cultivo, a forma de cultivo, a época da colheita e a forma de processamento influenciam muito nas características da bebida na xícara. China, Japão, Índia, Sirilanka, Kenia, cada país terá chás de safras e colheitas muito especiais e características. “Por exemplo, os chás pretos de primeira colheita – o chá de Darjeeling – da região da Índia, chamada de ‘Champagne dos Chás’, trazem notas aromáticas que lembram uva moscatel, mas também podem apresentar aromas vegetais delicados, como musgo ou menta, com toques frutados e cítricos. Porém, o mesmo chá, de um mesmo jardim, desenvolve gosto e aroma diferentes dependendo da época em que é colhido”, complementa a sommelier.


OS BLENDS, MISTURAS CHEIAS DE SABOR Outro ponto importante, segundo a sommelier, é conhecer os blends de chá que mais se adaptam ao gosto de cada um. São misturas de vários tipos de chá, ou misturas de chá com frutas, especiarias, flores e outras ervas. Aromas variados, selecionados e combinados para produzir uma bebida com corpo e sabor especial. É uma harmonização de vários ingredientes que criam um sabor especial e único para cada pessoa e para cada momento, com uma magia particular. O equilíbrio dos elementos de um blend é o principal aspecto de sua apreciação. “Se for somente de flores, tem um visual lindo, aromático suave e pode ser consumido à noite, mas se tem um chá preto com maçã, baunilha, especiarias, pode remeter ao conforto de um abraço. O blend de um chá branco exótico com fruta do dragão e romã tem um sabor muito curioso. A composição deve resultar em uma experiência que exalte os sabores e aromas ao sorver”, finaliza Tânia Rampi. O chai, por exemplo, é um blend muito aromático que leva, tradicionalmente, chá preto na base e especiarias como canela, cardamomo, gengibre, anis e cravo. No entanto, Tânia destaca que o chai também pode ser feito com chá verde, com nibs de cacau ou com o rooibos, que é um arbusto africano. Para o chai latte, que está em alta, é usado o masala chai misturado ao leite.

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Bem-estar


CUIDADOS NO PREPARO O grande detalhe para obter um chá com toda a sua qualidade e seus benefícios é saber que o tempo de infusão e a temperatura da água andam juntos. A água muito quente pode acabar queimando as folhas e dando um amargor na bebida, por isso é importante seguir as orientações em relação à temperatura e equilibrar essas duas coisas: quanto mais quente a água, menos tempo é preciso. Além disso, o tempo varia de chá para chá e de gosto para gosto. A infusão mais longa acentua mais o sabor da erva. Alguns chás sugerem o tempo na embalagem, o que ajuda muito quando se está iniciando a aprendizagem de sua fruição. Mas o ideal é fazer vários testes e ver qual mais agrada ao paladar. Já em relação à temperatura da água, se você não tiver como verificá-la exatamente, vale seguir o ditado oriental de que suas mãos devem suportar segurar a xícara com o líquido. Se estiver muito quente para as suas mãos, também não estará bom para ser consumido. O CHÁ E SEUS BENEFÍCIOS O chá, além de rico em teína – uma molécula três vezes mais potente que a cafeína –, que restaura a energia e estimula o cérebro, é um ótimo antioxidante, que combate o envelhecimento. Já seus flavonoides protegem de doenças cardiovasculares e reforçam o sistema imunológico. Cada cor de chá carrega em si vitaminas e minerais em maior ou menor quantidade. O chá branco e o verde têm o dobro de benefícios dos chás pretos. O chá também ajuda na digestão e é um ótimo diurético. Não contém caloria e pode ser consumido a qualquer hora, em qualquer ocasião, oferecendo um sabor especial à dieta e anexando rituais apaixonantes ao cotidiano. SOMMELIER DE CHÁ, UMA NOVA PROFISSÃO O ato de beber chá é, para Tânia, “um portal para um mundo belo e elegante, que parece conectar quase todas as culturas com uma tradição de hospitalidade e generosidade”. A gaúcha, que há sete anos se encantou pelo universo dos chás e começou a estudar, conta como é a profissão de um sommelier de chá ou Tea Sommelier. É um especialista em chás e em tudo que está relacionado a ele, à estética das louças, rituais, histórias, lendas e particularidades. O profissional precisa conhecer com profundidade hábitos e práticas de rituais e culturas da bebida, classificar as folhas e as variedades de chá, entender os métodos de processamento e produção e sua preparação correta, além de saber identificar aromas e sabores, fazer classificação e até sugestões de utensílios e aparelhos de chá. Um sommelier de chá também pode criar cartas de chás, fazer consultoria para estabelecimentos que desejam comercializar chás ou dar orientações de como oferecer a bebida ao público. Mercado que, segundo ela, praticamente triplicou nos últimos cinco anos no Brasil.

O chá nas telas do cinema Aqui, uma listinha de filmes em que o chá faz parte da trama e apresenta alguma cena inusitada ou mágica que nos ajuda a conhecer diferentes rituais de consumo da bebida: E o Vento Levou, 1940 Mary Poppins, 1964 Karate Kid 2, 1986 Mulan, 1998 Chá com Mussolini, 2000 O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, 2001 Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, 2004 Maria Antonieta, 2006 Scott Pilgrim vs The World, 2010 Alice no País das Maravilhas, 2010

PARA CONSUMIR A QUALQUER HORA: Os chás vêm sendo utilizados pela coquetelaria e pela gastronomia há algum tempo, mas agora a tendência são os gins com infusões de especiarias. Conforme explica Tânia, basta escolher o chá e deixar de 30 segundos a 2 minutos, conforme o processo de infusão recomendado, diretamente no gin, depois acrescentar o gelo e, em seguida, a tônica, e estará pronto um lindo coquetel com sabores variados.

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Equilíbrio C H E R R I N E

C A R D O S O

O QUE FAREMOS NESTE “NOVO MUNDO”? E chegamos à metade do ano. Um ano completamente atípico. Um ano que para muitos será lembrado como aquele em que não fizemos nada, e para outros, aquele em que fizemos e/ou mudamos muito. Como tudo na vida é uma questão de percepção, esta sensação dual é perfeitamente normal. E como será que você, leitor, se encontra aí? Como será que está conseguindo lidar com tudo o que vem sendo mostrado durante esta experiência pela qual estamos, no mundo todo, passando? Eu espero que você esteja bem! Eu espero que você esteja conseguindo extrair boas e importantes lições de tudo isso. Sem dúvida está sendo desafiador. Até para aqueles que, como eu, parecem ter um pouco mais de compreensão com o que a vida nos apresenta. Desafiador porque é novo. Ao menos para a geração do pós-guerras, até então, não havíamos passado por nada que envolvesse a humanidade globalmente. Durante as últimas décadas várias coisas viraram marcos, mas nada que mexesse com o seu cotidiano. Queda das Torres Gêmeas em NY, guerras no Oriente, crises econômicas na Europa/EUA (a nossa é permanente rsrs), terrorismo, devastações por “causas naturais”, assim mesmo entre aspas, porque o natural na verdade é reflexo de como não cuidamos da natureza como ela merece ser cuidada, e o desequilíbrio que nós causamos gera esses desastres que são notícias pelo mundo. Fora as devastações que se tornam notícias e que no fim sabemos que são causadas pela ganância do próprio homem. Mas enfim, o fato é que nossos avós enfrentaram as guerras mundiais e certamente viveram momentos de horror e medo inimagináveis, o que mudou toda uma forma de agir e se comportar, e que, sim, deixaram sequelas na forma de ser e sentir para as gerações dos nossos pais. Mas

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para a nossa, dos quarentões, o que o mundo passou nos últimos 40 anos não nos afetou diretamente, e justamente por isso, por não termos um histórico de crises reais, tem sido mais difícil entender e passar por esta. Entretanto, se me permite, posso te contar uma coisa? Que bom que estamos tendo a oportunidade de viver isso. Pense pelo lado positivo: você precisou parar! Foi obrigado a estar mais consigo mesmo. A entender e refletir sobre o que faz e como o que faz pode, sim, impactar a vida de outras pessoas. O que antes parecia apenas o pano de fundo da vida, passou a ser a própria vida. Todos nós tivemos que nos colocar em maior atenção sobre todas as coisas do dia a dia, por exemplo: o como somos negligentes com nossa limpeza básica; como somos negligentes com a maneira como vivemos nossa rotina, simplesmente no automático; como há coisas que podem mudar, se não colocarmos resistências a isso; como a adaptação à nova realidade é mais fácil (ou deveria ser) do que parece; como para muitos a vida em família era apenas vivida nos fins de semana e você mal conhecia os que vivem com você, e agora tem a oportunidade de saber realmente quem são; como seus filhos estão amando ter sua presença (tá certo que em algumas casas a barra tá pesada, mas quem segurava essa barra aí eram os professores... você vai valorizá-los muito mais depois dessa, né?); como os que vivem sozinhos precisam se “re-conhecer” e aprender a gostar de sua própria companhia; como sentimos falta dos nossos colaboradores em casa, mantendo-a limpa, uma vez que agora quem precisa também fazer isso é você; como nos tornamos mais empáticos com a necessidade do outro, tendo atitudes mais altruístas (talvez você já seja assim, mas certamente muitos mudaram nesse sentido); como aprendemos a valorizar muito mais a oportunidade do


contato com o externo, no sentido de perceber a grande falta que faz ter a liberdade do ir e vir, do poder sair sem ter que ter autorização para isso, ou de quanta falta faz estar em contato com a natureza. Sim, ela, esta grande mãe sábia que nos provê tudo! Tudo. Do ar que você respira e que é o seu combustível da vida até alimento, água, energia. Em poucos dias de isolamento pipocaram notícias de como a natureza estava se renovando, se curando. E isso fez muitos refletirem sobre como, no fim, somos nós, os seres humanos, que causamos essa dor e devastação.

Outra grande novidade foi observar como tantos migraram, e rapidamente, para uma forma de trabalho remota. Sem dúvida isso provou que não há necessidade de repetir todos os dias a mesma forma de viver. Que podemos ser mais flexíveis. Que podemos usar as tecnologias ao nosso favor e, melhor ainda, levar o que temos de conhecimento às pessoas que não teriam contato com o que fazemos, democratizando ainda mais o aprendizado. O sentido do home office foi realmente valorizado. Para além de possibilitar a muitas empresas/ empresários a condição de reduzir custos e com isso até valorizar mais os seus funcionários. Diminui-se o tráfego nas ruas, o estresse com o tempo. Cuidamos melhor do que comemos. Gastamos menos, e com a economia, nos tornamos mais inteligentes com o que realmente vale a pena gastar. Há menos sujeira nas ruas, já que há menos pessoas nelas também. No meu ponto de vista, todos ganham! A pergunta que fica é: e agora? Para o futuro próximo, o que realmente foi aprendido? O que faremos de diferente? Poderemos sustentar essas mudanças e seguir num curso de uma vida mais leve e verdadeiramente em equilíbrio? O que você fará quando puder voltar ao novo normal? Minha dica é: anote tudo o que você fez por você durante este momento imposto pelo Universo para que você parasse. Pontue as coisas que você se permitiu fazer por ter mais tempo. Escreva como se sente diante disso. Do que você não pretende mais abrir mão quando o mundo retomar a sua “normalidade”. Não se deixe perder novamente diante da rotina e cobrança excessiva. Que possamos harmonizar o nosso viver, para sermos livres e verdadeiramente felizes. CHERRINE CARDOSO É AUTORA DOS LIVROS A INCRÍVEL ARTE DE DESAPEGAR E REINVENTE-SE: QUANTAS VIDAS SE VIVE EM UMA VIDA? WWW.AINCRIVELARTE.COM

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mulheres que amamos

SE BEM-ESTAR É A PALAVRA-CHAVE DO MOMENTO, CARLA LUBISCO É A MULHER DE REFERÊNCIA. NINGUÉM MELHOR DO QUE ELA PARA ILUMINAR A COLUNA MULHERES QUE AMAMOS NESTES SOMBRIOS TEMPOS DE PANDEMIA. PIONEIRA, DESBRAVADORA, PERSISTENTE, CORAJOSA, TALENTOSA E LINDA, ELA É A NOSSA ENTREVISTADA DESTA EDIÇÃO. INSPIRE-SE EM CARLA, REPENSE SEUS HÁBITOS, BUSQUE VIVER EM EQUILÍBRIO. E... VAMOS EM FRENTE!

FOTOS: EDUARDO CARNEIRO/DIVULGAÇÃO

SAÚDE PARA TODOS NÓS!

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CARLA LUBISCO Carla Lubisco é uma mulher de alma leve e livre. Ao conhecê-la, entendi o porquê de seu sucesso e reputação, resultado de uma vida inteira dedicada à construção de uma carreira sólida e fiel aos seus princípios. Nascida em Porto Alegre, cresceu em um ambiente rico em arte, poesia e música. O pai era artista, inquieto e transgressor, e a mãe, designer, tinha uma essência criativa. Carla formou-se em meio à beleza e cultura e com os pais aprendeu a se expressar, questionar, pensar por si e lutar por aquilo em que acreditava. Descobriu cedo o amor pelo movimento. Aprendeu capoeira, conheceu a ginástica e ainda adolescente começou a dar aulas numa academia. Passou um breve tempo no Hawaii, onde teve contato com uma nova profissão que despontava nos Estados Unidos na década de 1980, a de personal trainer. Enxergou então uma oportunidade de negócios e trouxe em primeira mão esse conceito de trabalho para o Rio Grande do Sul. Formada em Educação Física, foi pioneira nesse nicho, que aproxima o educador do aluno e traça um treinamento customizado para as suas necessidades. Mas Carla foi além. Dinâmica, sempre usou estratégias de marketing em seu ofício. Também contou com a ajuda de pessoas como o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, que é seu aluno – ele a motivou a pensar como gestora e a criar um método próprio. Além de aperfeiçoar a arte do bem viver, com cursos e formações, Carla mantém uma plataforma de serviços que promove saúde física, mental e espiritual. Para isso, se aliou a profissionais de áreas afins, como fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e médicos. Assim, atende cada cliente com um olhar holístico, promovendo mudanças de hábitos e de vida. A ideia é incentivar práticas saudáveis como dormir bem, comer de forma equilibrada e consciente, manter as emoções e a vida espiritual em dia e, é claro, ter uma rotina de exercícios adequada a cada pessoa – respeitando seus limites e estágios de vida. Com a metodologia criada por ela, conquistou clientes também fora do Rio Grande do Sul, viajando com

frequência ao Rio de Janeiro. Por lá tem clientes cativos e com quem criou laços de amizade, entre eles a socialite Narcisa Tamborindeguy. Apaixonada pelo Rio, sempre que possível aproveita a energia da praia, da natureza e do Carnaval, uma de suas paixões. Carla põe em prática tudo aquilo que prega, levando uma alimentação natural, exercitando-se com frequência e buscando o equilíbrio entre corpo e mente. Seu objetivo maior é viver com propósito, alegria e vigor. Com 43 anos de experiência, ela tem muito a ensinar e é ótima comunicadora. Já lançou dois livros, é palestrante e tem forte presença digital. Ela divide com o público seu otimismo e os ideais que guiam a sua vida, principalmente a crença de que a saúde é o nosso maior patrimônio. POR ANA GUERRA, JORNALISTA

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Palavra LU Í S

AU G U S TO

F I S C H E R

OLHOS PARA O PASSADO

O festival de pequenos e grandes horrores do presente é tão opressivo que me parece saudável, de vez em quando, viajar para outros lugares, não em carne e osso, que não dá, mas em pensamento – o sábio Lupicínio Rodrigues, quase um século atrás, notou com espanto (cante comigo, mentalmente): o pensamento parece uma coisa à toa; mas como é que a gente voa quando começa a pensar? Temos aí a ficção, ótima opção. Vários tempos, quase infinitos lugares, histórias mais e menos profundas. E temos a história, esse território tão acolhedor, de tantos ensinamentos. Minha sugestão aqui é a visita a um ramo muito particular da história: a história das palavras que designam lugares, a toponímia. Saiu faz pouco um livro de Jacy Waldyr Fischer (não, não é meu parente), chamado Origem dos nomes dos municípios gaúchos (editora Diadorim). Bá, que linda viagem! O autor colecionou pacienciosa, diria mesmo amorosamente um conjunto expressivo de rastros do passado que se expressam nos nomes, atuais e passados, que povoam e identificam a geografia do estado. Sei lá: diga um nome aí. Mariana Pimentel? Página 168: homenagem à esposa do presidente da província (Joaquim Galdino Pimentel) no tempo em que começaram a demarcar os lotes naquela região, março de 1889. Ibirubá? Página 142: colônia fundada em 1888, recebe este nome de origem tupi-guarani, que uma fonte (citada no texto) diz significar “fruta fresca”, coisa de que o nosso autor duvida. Sananduva (p. 234), também origem indígena: muitos sarandis. Nem vou falar aqui de Porto Alegre – ou por outra,

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vou falar sim. Era Porto de Viamão, depois Porto do Dorneles (porque ficava na sesmaria do famoso Jerônimo de Ornelas), a seguir Porto dos Casais quando aqui chegaram, aí por 1750, os famosos (e obscuros) casais de açorianos. Depois virou Porto de São Francisco dos Casais, mas em 1773 a igreja católica mudou o santo protetor, que passou a ser Maria, e a aldeia passou a ser referida como Nossa Senhora da Madre de Deus. Até aqui nada de Alegre. O autor então especula: seria uma alusão a Portalegre, a cidade alentejana deste peculiar nome? Seria uma referência a Santana de Porto Alegre, uma antiga localidade da Ilha Terceira dos Açores? Ou um capricho do governador José Marcelino de Figueiredo? O certo é que em 1809, já capital da região, é designada oficialmente a vila de Porto Alegre. Uma história cheia de hiatos, suposições, perguntas. É, o passado não fica tão quieto quanto imaginam os mais ingênuos. E que tal: passamos uns minutos sem pensar no presente opressivo? A história é território de pesquisa, de pensamento, de desejos também. Como ocorre com as estátuas, por sinal: elas não são a natureza, mas a história tal como pensada em certo contexto. Não, eu não concordo com nada nem parecido com destruir ou pichar estátuas e monumentos. Mas também não acho que a gente deva celebrar, acriticamente e sempre, os mesmos heróis, que no fim das contas são gente como a gente, mas em bronze. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR




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