Ano 12 N0 82 R$ 7,90
VIAGEM HONG KONG E SHANGHAI, A CHINA VIBRANTE
HARMONIZAÇÃO CERVEJAS ESPECIAIS E DELÍCIAS PARA SABOREAR COM ELAS
PERFIL ANA BOTAFOGO, NOSSA ETERNA PRIMEIRA BAILARINA
Odeprazer cozinhar Em busca de uma alimentação mais saudável, a publicitária Tetê Pacheco se descobriu cozinheira, e das boas!
Milene Leal milene@entrelinhas.inf.br
EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Bete Duarte, Tetê Pacheco, Beto Conte, Loraine Luz, Milene Leal REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade ILUSTRAÇÕES Moa FOTOGRAFIA Letícia Remião, Beto Conte, Carin Mandelli, Milene Leal COLUNISTAS Celso Gutfreind, Cherrine Cardoso, Cris Berger, Fernando Lokschin, Luiza Estima, Luís Augusto Fischer, Roberta Coltro, Tetê Pacheco EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COMERCIALIZAÇÃO Carlos Eduardo Moi (eduardo@entrelinhas.inf.br) fones: 51 3026.2700 e 3024.0094 A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Entrelinhas Conteúdo & Forma, sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.
TIRAGEM 20.000 exemplares IMPRESSÃO Gráfica Artlaser Pallotti
ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Cel. Bordini, 675, cj. 301 Porto Alegre I RS I Brasil I 90440 000 51 3026.2700
FOTO: LETÍCIA REMIÃO
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IDEIAS E MAIS IDEIAS Começamos 2018 cheios de energia positiva e de muitas ideias para fazer da Estilo Zaffari, cada vez mais, uma grande parceira no dia a dia de nossos leitores. Todas as matérias desta edição foram pensadas com esse espírito. Convidamos a publicitária Tetê Pacheco, que também é colunista da Estilo, a escrever sobre sua experiência como cozinheira amadora, amante de ingredientes naturais, apaixonada por pratos que acariciam o paladar e o organismo, grande apreciadora e criadora de receitas que resultam em comidinhas lindas, saudáveis e gostosas. As fotos dessa reportagem, assinadas por Letícia Remião, fazem a gente ter vontade de sair correndo para fazer em casa as delícias da Tetê. Outra matéria que inspira e desperta desejos é a viagem de Beto Conte por Hong Kong e Shanghai, duas cidades chinesas espetaculares. Com seu estilo envolvente, Beto relata experiências e fatos relevantes a respeito da história e da cultura dos locais que visita, o que torna suas narrativas únicas e pra lá de interessantes. Já nossa jornalista gourmet Bete Duarte mergulhou em copos e mais copos de cervejas especiais, ruivas, loiras e morenas, e nos conta como harmonizar essa bebida tão saborosa e cheia de nuances com comidinhas deliciosas. Você vai ler sobre cervejas, conhecer um pouco mais desse vasto universo e, de quebra, ganhar receitas de pratos elaborados pelo chef Ayres Scavone e pelo sommelier Marcelo Scavone. Puro deleite. A Estilo Zaffari 82 se encerra com a presença luxuosa de duas grandes mulheres: Ana Botafogo, nossa eterna primeira bailarina, e Doris Hexsel, profissional gaúcha que é uma autoridade mundial em medicina dermatológica. Então vamos lá, é hora de ler, curtir, saborear, viajar, planejar, sonhar! Boa leitura! OS EDITORES
Cesta Básica
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Coluna Humanas Criaturas
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Coluna Vida
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Coluna Sampa
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O Sabor e o Saber
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Coluna Equilíbrio
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Mulheres que Amamos
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Coluna Palavra
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TETÊ PACHECO: COZINHAR, O NOVO PODER FEMININO
30 PRALÁ & PRACÁ :
CERVEJAS ESPECIAIS E SUAS HARMONIAS
AS SURPRESAS DE SHANGHAI E HONG KONG
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PROPOSTAS DAS CONFEITEIRAS BRASILEIRAS PARA UM ANO DOCE
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Cesta básica NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, MODA, LITERATURA, ARTE, LUGARES, VIAGENS, OBJETOS ESPECIAIS, PESSOAS GENIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO! F OTO S
D I V U LG A Ç Ã O
SACCARO VENCE PRÊMIO CASA VOGUE DESIGN 2018 A poltrona Estio rendeu à Saccaro o prêmio Casa Vogue Design 2018 na categoria Mobiliário Outdoor. A peça é uma criação do designer Guilherme Wentz. O anúncio dos vencedores aconteceu no início do mês de março, no Masp, em São Paulo. É a segunda edição do prêmio, criado para homenagear e incentivar o desenho autêntico, inovador e brasileiro. O reconhecimento nasceu de uma aposta da Saccaro, que convidou novos designers para desenvolver produtos para sua coleção. Wentz venceu na sua estreia. O design da Estio agradou ao público, que votou nas suas peças preferidas por meio do site da Casa Vogue, e a um renomado corpo de jurados. Prática – com encosto dobrável – e versátil, a poltrona é inspirada no clima árido, quente e seco. Foi produzida para ser usada em diferentes ambientes de lazer, como piscinas, jardins e varandas, e pode ser transportada facilmente para qualquer espaço. “Unir o design autoral com a indústria sempre foi um desafio para a Saccaro. Ficamos felizes e honrados em receber este prêmio ao lado do Guilherme Wentz, pois é a confirmação de que estamos no caminho certo nesses 72 anos de estrada”, comemorou João Saccaro. WWW.SACCARO.COM.BR
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FOTO: LETÍCIA REMIÃO FO FOTO: CAROL_STUDZINSKI
POP-UP STORES NO LING
INSTITUTO LING RUA JOÃO CAETANO, 440 PORTO ALEGRE I RS 51 3533.5700 WWW.INSTITUTOLING.ORG.BR WWW.FACEBOOK.COM/ARTEPRAPRESENTE
Relativamente nova no Brasil, a experiência com negócios pop-up – já usados por várias marcas no mundo – ganha um endereço na capital ao longo deste ano. O Instituto Ling está promovendo a proposta ao ceder espaço para seis lojas. A primeira a ocupar o lugar temporariamente é a Pra Presente, da publicitária Elisa Hegedus Craidy. A loja valoriza e vende peças feitas à mão, ffruto do trabalho de artesãos, artistas e designers de diferentes regiões br brasileiras, e fica no Ling até 12 de maio. O mix de produtos que a Pra Presente expõe na loja pop-up inclui objet objetos de decoração, obras de arte e fotografia, acessórios e outros produtos as assinados. Estão disponíveis objetos de profissionais e marcas gaúchas como Caro Carolina Peraça, Hellen Hiromi, Heloísa Crocco, Letícia Remião, Marlies Ritter, Pilar P Prado, Tiago Tenius, entre outros. Peças exclusivas de importantes designers e ar artesãos do país e do exterior, como Simão Bolivar (Portugal), Juliana Bollini (ARG), Cynthia Gavião (SP), Criqué Caiçara (SP), Jacky Cavallari (França), Maria Oiticia (RJ) e o Núcleo de Arte e Cultura Indígena de Barcelos (AM) também fazem parte do acervo da loja. Cada negócio terá vez por dois a três meses. A ideia é apresentar parceiros comerciais que não estão presentes nos grandes centros de varejo e que trabalham com curadoria e formato despretensioso, no espírito “loja de bairro”. O período de funcionamento de cada loja dentro do Instituto Ling foi planejado de acordo com as estações do ano e as principais datas comemorativas, o que permite a participação de empreendimentos de segmentos como arte, decoração e design, brinquedos e jogos educativos, vestuário e acessórios, jardinagem, enogastronomia e consumo emergente, entre outros.
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Cesta básica
IDÉLLI É PIONEIRA NO BRASIL COM O SURFACE 3D A Idélli tem construído sua história no segmento da arquitetura e decoração com muito empenho e sempre buscando o pioneirismo. A marca desenvolveu e apresentou ao mercado no finalzinho de 2017 o Surface 3D – uma superfície com texturas usinadas diretamente nos painéis –, como resultado de um extenso processo de pesquisa no exterior, acompanhando de perto tendências nos mercados mais relevantes do mundo. O produto é o primeiro do gênero a ser desenvolvido no Brasil e tem obtido grande repercussão nacional. Para os profissionais de arquitetura e decoração, as possibilidades de aplicação são múlti-
plas. “O principal objetivo com a criação do Surface 3D é trazer um estímulo criativo para aqueles que planejam e executam projetos”, afirma Shirley Cristina Silva, diretora executiva da loja em Porto Alegre. O Surface 3D é apresentado em quatro diferentes texturas: onda, concha, malha e xadrez. As opções de cores são cinco: branco, preto, rubi, fendi e nude, com acabamento em laca fosca ou brilho. As dimensões do produto também podem variar conforme as necessidades de cada projeto. Integrante do Grupo K1, a Idélli busca fabricar produtos que reúnem design, inovação e qualidade, com preço competitivo.
IDÉLLI PORTO ALEGRE FLAGSHIP AVENIDA NILO PEÇANHA 2545 I PORTO ALEGRE I RS FACEBOOK IDÉLLI PORTO ALEGRE
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51 3328 9459
INSTAGRAM @IDELLIPORTOALEGRE
FOTO: CARIN MANELLI
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RUMO AO EXÓTICO
Depois do sucesso da viagem de um grupo pequeno e exclusivo de passageiras para a Índia, a Diário de Bordo repete a proposta, dessa vez para o exótico Marrocos, de 14 a 24 de setembro. O roteiro começa por Casablanca e segue por Chefchaouen (a famosa cidade das casas turquesas), também passa por Fez, inclui acampamento no deserto e, claro, estadia em Marrakech, a mais cosmopolita das cidades. O pacote, pensando nos mínimos detalhes, inclui algumas surpresas, entre jantares, passeios e hospedagens em hotéis 4 e 5 estrelas. Assim como na viagem à Índia, o grupo terá no máximo 10 pessoas e será acompanhado por Luciane Garcia, diretora da Diário de Bordo, e pela jornalista Fernanda Pandolfi.
SANTI: PIZZA ÍTALO-ARGENTINA O argentino Mariano Scorpaniti inaugurou em março a sua mais nova criação: Santi Pizzeria Napoletana. Ali na Galeria Prado, em frente à Praça Maurício Cardoso, Moinhos de Vento. Pizzas deliciosas num clima descontraído, com o charme de Mariano, que reside há anos em Porto Alegre e já tem muitos feitos na área de gastronomia e entretenimento. Santi tem projeto da arquiteta Luiza Kroeff e da designer Carolina D’Avila. A cozinha está sob o comando dos pizzaiolos Bruno Aguiar e Cássio Oliveira. Eu já provei esta santa pizza e amei. POR LETICIA WIERZCHOWSKI, ESCRITORA
DIÁRIO DE BORDO AGÊNCIA DE VIAGENS RUA MOSTARDEIRO, 5 I PORTO ALEGRE I RS
WWW.FACEBOOK.COM/SANTI-PIZZERIA-NAPOLETANA
51 3314.8600
PRAÇA DR. MAURÍCIO CARDOSO, 71 I LOJA 17
WWW.DIARIODEBORDO.TUR.BR
MOINHOS DE VENTO I PORTO ALEGRE I RS
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STB TRIP & TRAVEL, 30 ANOS PELO MUNDO México e Islândia são alguns dos destinos da STB Trip & Travel em 2018, um ano pra lá de especial: a empresa e o seu jeito muito particular de viajar comemoram 30 anos de incursões pelo mundo. Ao longo de três décadas, foram 135 países em cinco continentes. Os Grand Tours da STB, viagens de imersão cultural, com aulas de história e geopolítica in loco, tiveram início na França, com o acompanhamento do humanista francês Alexandre Roche. O sucesso da ideia e a curiosidade de Beto Conte, diretor da agência, explicam a continuidade do projeto. Beto adora descobrir e revelar para seus clientes destinos diferentes, fora do circuito turístico tradicional. Acompanhados por ele, grupos de viajantes puderam mergulhar na antiguidade egípcia, no exotismo do Sudeste Asiático, no reino do Butão… e foram aos Himalaias, viram de perto o legado persa no Irã, as paradisíacas Maldivas e Polinésia francesa,
STB TRIP & TRAVEL 51 4001.3000
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a vida selvagem na África e as peculiaridades da Oceania. Beto Conte nunca se resume ao óbvio e ao que o turista-padrão procura, ele instiga em seus passageiros a curiosidade pela cultura de cada local, suas origens, sua história, revela segredos escondidos em destinos convencionais, produz viagens únicas e inesquecíveis. Aos 30 anos, não falta fôlego para mais. A programação de 2019 já está desenhada. E vai começar gelada, em fevereiro, com o cruzeiro Silver Cloud Expedition: 10 dias de navegação, desde Ushuaia, no extremo sul da Argentina, até a Antártida. Cruzeiro de luxo da Silver Seas, vai atravessar a Passagem de Drake e chegar à Península Antártica, para ver de perto a rica fauna polar de aves marinhas, focas e baleias. Oportunidade de conferir o cenário polar do continente gelado com o acompanhamento integral do “globe-trotter” Beto Conte desde Porto Alegre.
WWW.STBRS.COM WWW.SILVERSEA.COM/PT-BR/DESTINOS/CRUZEIRO-ANTARTICA/USHUAIA-A-USHUAIA-1906.HTML
Cesta básica
NATURAL, ORGÂNICO E FEITO EM CASA
EXPANSÃO NO AVENTURA Concorrido destino de compras em Miami, o Aventura Mall está com uma nova ala, composta por três pisos. Restaurantes, lojas e um espaço para interações artísticas ocupam a área de expansão. O centro de compras recebe cerca de 30 milhões de pessoas por ano, atraídas pela praticidade de encontrar em um só lugar marcas como Givenchy, Gucci, Louis Vuitton, Tiffany, H&M, Victoria´s Secret e Michael Kors. Na nova ala estão a Zara, que retorna àquele endereço, e a primeira loja Topshop Topman da Flórida. A seleção de restaurantes garante opções para todos os gostos – a parte gastronômica ocupa uma área de 30 mil m². Uma imensa fachada de vidro e uma claraboia garantem luz natural e permitem vistas panorâmicas da região. Alguns pontos trazem obras da coleção Arts Aventura Mall. Ao chegar, o visitante verá a monumental Aventura Slide Tower, de quase 29 metros de altura, criada por Carsten Höller, que pode ser apreciada a distância ou bem de perto, escorregando por ela. WWW.AVENTURAMALL.COM
A combinação de ingredientes frescos, orgânicos, sem leite, glúten ou refinados caracteriza a proposta de O Grão Real Food. Acrescente aí um toque da herança familiar italiana e uma certeza: cozinhar e se alimentar é uma forma de expressar, compartilhar e espalhar o amor no mundo. É por meio da pesquisa e do conhecimento adquiridos em andanças por Nova Zelândia, Londres, Itália, Alemanha e França, durante mais de oito anos, que a fundadora e chef do O grão, Ana Carolina Carloto, desenvolve muitas de suas receitas. Ela combina técnica e memória afetiva com muita criatividade. Esse é o propósito, amparado ainda na busca incessante por simplicidade, sazonalidade e incentivo ao pequeno produtor rural. Desde a bebida vegetal usada nas preparações, o requeijão de castanhas, as geleias, os pães, os bolos e diversos alimentos, tudo é feito por lá e denota autenticidade ao cardápio. Um dos grandes diferenciais do local é a horta de temperos orgânicos nos fundos do espaço.
O GRÃO REAL FOOD RUA ALAMEDA ALÍPIO CESAR, 114 PORTO ALEGRE I RS @OGRAOREALFOOD
513907.8505
P R O G R A M A E S P E C I A L PA R A
MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
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Cesta básica
SABOR, CAPRICHO, CARINHO: EVENTOS COM ALMA O já conhecido capricho de Teresa de Luca na produção de delícias doces e salgadas agora se estende também à organização e composição de mesas para coffee breaks e eventos empresariais em geral. Teresa, que foi uma das proprietárias da confeitaria Torta de Sorvete e criadora da receita original da famosa torta gelada, é praticante da autêntica culinária caseira, feita de forma artesanal, com ingredientes frescos, dedicação e muito amor. Além de produzir os quitutes, ela é mestra também na produção de lindas mesas para os eventos que realiza, sejam corporativos ou particulares. O jeitinho de “feito em casa” é uma de suas marcas registradas, mas ela não abre mão de apresentações descoladas, inusitadas e modernas. Teresa está sempre de olho nas novidades e tendências, e combina maravilhosamente estilo e sabor. Já reconhecida por seu trabalho em aniversários
e datas festivas, ela escolhe as receitas e os ingredientes em função dos gostos de cada cliente e da qualidade dos alimentos, nunca perdendo de vista o conceito de comida artesanal, caseira. “Nos eventos que realizo, sempre visito antes a casa do cliente, para observar o estilo do ambiente e das pessoas. Gosto de valorizar os acervos pessoais e familiares, tirando da gaveta as toalhas e cristais que ninguém mais tem tempo de usar. Em cada festa, meu objetivo é montar uma mesa inusitada, querida, convidativa, para que os convidados possam sentar e apreciar um bom papo, além das delícias que estão sendo oferecidas”, explica Teresa. O cuidado em fazer algo que expresse a personalidade e o estilo de quem está recebendo ajuda Teresa a realizar eventos únicos, cheios de personalidade e alma, que ficam guardados na memória de quem realiza e de seus convidados.
TERESA DE LUCA @TERESADELUCAEVENTOS
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Estilo Zaffari
51 8027.6767
TERESADELUCAEVENTOS@HOTMAIL.COM
Cesta básica
O COZINHEIRO DO ROSA
A ESSÊNCIA NO VAGÃO
Pratos com pesca fresca e local, legumes e verduras da região, mão na massa na produção artesanal de pães com fermentação natural e farinhas orgânicas, além da inventividade do chef Rodolfo “Rolo” Scarpetti, marcam o restaurante Taioba, no centrinho da Praia do Rosa (SC). Pequeno e despojado, o lugar é a paixão do argentino Rolo, que prefere ser chamado de cozinheiro e acumula quase 30 anos de experiência na área. Em Nova York, por exemplo, organizou em várias ocasiões restaurantes no estilo pop-up (negócios temporários montados em ambientes pouco tradicionais). Também trabalhou com chefs como Ramiro Rodriguez Pardo e, em mais de uma ocasião, com Francis Mallmann. Já Bono Vox, da Banda U2, contratou Rolo para atendê-lo exclusivamente, durante uma das últimas turnês argentinas do grupo. Surfista, o chef argentino acabou encerrando suas idas e vindas pelo mundo para se fixar em definitivo no Rosa em 2016.
Uma degustação de rótulos selecionados conduzida por um sommelier ou enólogo dentro de um vagão da Maria Fumaça especialmente preparado para um passeio com duração de 1h30min. Essa é a proposta do L´Essenza del Vino, elaborada pelo grupo Giordani Turismo. A imersão na cultura italiana, no vagão 219 onde foram mantidas as características originais, inclui um show acústico exclusivo. Ao longo da viagem pela Região da Uva e do Vinho, na Serra gaúcha, é possível conhecer detalhes de fabricação e também sobre harmonização da bebida. Cada edição é temática, acompanhando datas festivas ou comemorações afins. A agenda dos passeios já está no site.
TAIOBA RESTAURANTE AV. PORTO NOVO, CENTRINHO I PRAIA DO ROSA I SC 48 99999.5651
@TAIOBAPRAIADOROSA
WWW.GIORDANITURISMO.COM.BR 54 3455.2788
BARBA, CABELO E BIGODE Sala de jogos – como sinuca, videogame e FlaFlu – à disposição, petiscos, cervejas, drinks, um espaço ótimo para realizar eventos pessoais e corporativos e, ainda, a possibilidade de personalizar o cardápio de cada festa. Tem mais: estúdio de gravação de som, área externa para bater papo, ler, contemplar a paisagem ao ar livre ou até apreciar as apresentações musicais programadas. Isso sem falar na sala vip, reservada para ocasiões especiais e mais privadas. Como carro-chefe dos serviços lá está uma barbearia com consultoria para corte ideal, design de barba e cuidados necessários, além de loja com produtos de marca própria e acessórios.Essa é a Club House Store, que reúne utilidades e diversão num ambiente contemporâneo e entrega agilidade, estilo e elegância. Fica num casarão climatizado no coração do bairro Petrópolis. CLUB HOUSE CONCEPT AVENIDA PROTÁSIO ALVES, 2.837 I DE SEGUNDAS A SÁBADOS, DAS 9H ÀS 21H I PORTO ALEGRE I RS 51 2103.4547
CLUBHOUSEPOA.COM.BR
@CLUBHOUSEPOA Estilo Zaffari
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PRÊMIO INTERNACIONAL PARA LUMINÁRIA DO DESIGNER RONALD SASSON A peça Meridiana rendeu mais um reconhecimento ao designer paranaense Ronald Sasson, residente em Gramado há mais de dez anos. Na categoria Luminárias de Mesa e de Chão, ele venceu o LIT Lighting Design Awards, uma vitrine da criatividade e da inovação no trabalho de designers e de profissionais que desenvolvem projetos na área de iluminação. Com acabamento em bronze fosco, a Meridiana foi desenvolvida como uma sobreposição de círculos com a possibilidade de mudar de angulação. A luminária foi lançada durante a Design Weekend de São Paulo e integra uma coleção que busca mostrar cada textura e cada material da maneira mais realista possível, com cores naturais e nível de iluminação limitado para valorizar as arestas dos projetos. A Meridiana tem no antagonismo de volumes
uma sugestão de equilíbrios que favorecem em muito a estética da peça. O acabamento em bronze fosco empresta elegância. O difusor é em vidro leitoso LED e a luminária tem medidas de 18cm x 18,5cm. Ronald Sasson trabalhou por mais de dez anos como artista plástico e essa formação em Artes Plásticas proporcionou a ele uma visão de design pelo viés do uso e equilíbrio das cores. Seu traço reflete a sinuosidade simples do design nórdico e a presença marcante das cores mediterrâneas. Sasson desenha móveis e luminárias e escolheu Gramado como endereço de seu estúdio em 2006. Desde então, já conquistou diversos prêmios internacionais, como IF Design Award, Good Design
Award, A’Design Award e o German Design Award Nominee.
LUMINÁRIA MERIDIANA WWW.ESTUDIORONALDSASSON.COM.BR
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CONTATO@ESTUDIORONALDSASSON.COM.BR
CURADORIA E TRADIÇÃO
Uma mesa com gavetão aberto e laterais vazadas é um dos destaques da Linha Crudo, coleção de estreia da Venndita, curadoria e e-commerce de móveis e objetos de decoração. A iniciativa vem de Marau, um negócio gaúcho dedicado ao mercado moveleiro que nasceu familiar há mais de 40 anos e que hoje não deixa dúvidas sobre a capacidade de dialogar com tendências de estilo mundiais. A loja é inspirada nas pequenas vendas de secos e molhados, típicas dos imigrantes italianos que colonizaram o Estado, onde eram encontrados todos os itens necessários para o cotidiano da casa. Na coleção Crudo, tanta tradição ganha um frescor. A linha reúne peças em madeira crua que podem ser customizadas. Com design minimalista, Mira (nome da mesa em homenagem à cidade italiana homônima, no Vêneto) representa bem as características da coleção: beleza, versatilidade e funcionalidade. WWW.VENNDITA.COM.BR WWW.FACEBOOK.COM/VENNDITADESIGN INSTRAGRAM @VENNDITADESIGN
UM ENCANTO EM CANELA
Para ir com os amigos, com a família ou mesmo sozinho – e se sentir plenamente acolhido! Para prestigiar a cultura, a arte ou o artesanato, para tomar um café ou almoçar, para ouvir boa música ou aquietar. O Espaço 273, em Canela, é acima de tudo um lugar para se sentir bem. E aí, para incrementar, tem ali umas delícias, no bistrô, na lojinha, no brechó… em cada cantinho pensado e produzido pelos proprietários – cantinhos que assumem o papel de galeria de arte e espaço para evento também. Tudo começou quando Caca Peressoni ainda trabalhava com decoração temática dos eventos da cidade. Aos poucos, foi entendendo que aquele lugar poderia ser um ponto de encontro de arte e cultura. Foi assim que ela e o marido, Paulo da Rosa, com as filhas, Ale e Clara, criaram (literalmente) um lugar encantador. Toda a decoração no nosso espaço foi feita e idealizada por eles. No bistrô, a linha é a gastronomia saudável, sem nenhum alimento frito, com produtos frescos e sazonais. Além do Prato do Dia para o almoço e do cardápio típico de cafeterias, no final da tarde há cervejas e petiscos. ESPAÇO 273 RUA TENENTE MANOEL CORREA, 273, EM CANELA DE QUARTAS A SÁBADO DAS 11H30 ÀS 21H FACEBOOK/ESPACO.273 Estilo Zaffari
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Cesta básica
ÉPICO!
Se o bairro é Bela Vista, imagina o visual de um dos pontos mais altos da região? Pois é lá que está o arrojado Homero, projeto de altíssimo padrão da incorporadora Astir em Porto Alegre. Composto por 20 apartamentos e três coberturas horizontais, ocupa uma área de 3.200 metros quadrados. O projeto de interiores tem a assinatura do arquiteto Raul Pêgas. Piso aquecido no banho da suíte do casal, manta acústica entre as lajes, espera para automação, vidros duplos nas suítes e área social, espaço gourmet integrado ao living, elevador privativo e persianas elétricas nos dormitórios são algumas das características do empreendimento. O ex-tenista Fernando Meligeni prestigiou o lançamento, no início do ano, já que empresta seu nome e a garantia de qualidade da quadra de saibro do projeto. Também fazem parte das áreas de uso comum uma piscina aberta com 70m², um salão de festas, um lounge externo, um salão gourmet, um espaço kids e outro fitness, uma piscina térmica com duas raias de 25 metros e sauna úmida. Na garagem, o Homero oferece quatro vagas para carros por apartamento e sete para as coberturas, além de depósito individual. Os projetos de Paisagismo e Segurança são assinados pela Tellini Vontobel e Squadra, respectivamente.
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HOMERO WWW.ASTIR.COM.BR/HOMERO
D E L I V E RY
3371.3371 ou pelos apps
PARA ALÉM DA NEVE
Quando o assunto são esportes de lazer ou entretenimento de inverno, Park City é referência como um dos melhores destinos – que tal um voo panorâmico de balão para apreciar montanhas branquinhas e gélidas? A cidade localizada em Utah, nos Estados Unidos, acumula média anual de neve, no inverno, de quase 10 metros! Mas não é só de estações de esqui que vive o turismo por lá. Há cerca de 640 quilômetros de trilhas, com atividades para diversas preferências (das mais audaciosas e aventureiras às de puro contato e contemplação da natureza), e dezenas de restaurantes e lojas (incríveis outlets, como o Tanger Outlet Center, que reúne mais de 65 marcas) para usufruir quando a primavera vai chegando. Lembrando que a cidade é palco de um tradicional evento de cinema independente, o Sundance Film Festival, que em 2019 acontece de 24 de janeiro a 3 de fevereiro. WWW.VISITPARKCITY.COM
Segunda à Sábado Almoço até as 15h Estilo Zaffari 23 www.quintalorganico.com.br
Pralá & Pracá LU I Z A
E S T I M A
UM DOCE 2018
PROPOSTAS DAS CONFEITEIRAS BRASILEIRAS PARA UM ANO DOCE Se depender das doceiras, 2018 será um ano doce. Com mais frutas, mais simplicidade, doces de verdade e mais naturais com pitadas de afeto – comfort food. Essas são as tendências que as confeiteiras apontam. Cada uma dá a sua versão do recém-chegado 2018 em forma de doce.
A chef confeiteira paulistana CAROLE CREMA descreve algumas das tendências que vislumbra para a confeitaria dos próximos tempos, resumidas em uma frase: doces de verdade. Bolo com cobertura natural, com o ingrediente na sua essência, sem aditivos, é o que representa essa trend, diz Carole, autora, professora e apresentadora do programa com o delicioso nome “Que Seja Doce”, na GNT. Como faz no programa e em suas aulas, a confeiteira ensina a explorar os ingredientes a favor do doce – a acidez da fruta, o cacau 100% – e nessa linha incentiva o uso de produtos brasileiros, como a baunilha do Cerrado, o doce de leite de búfala da Ilha de Marajó, que ela mesma aplica em suas receitas. “Comer menos, de tudo e melhor” é, segundo Carole, um preceito que serve à cozinha do dia a dia e à confeitaria. A doceira é
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divertida e bem-humorada e tem a formiga como símbolo de sua marca. Formigona que ama chocolate, foi o produto que a levou à confeitaria, depois de iniciativas em outras áreas, e é ele a estrela da sua loja no bairro Jardins. Um doce para 2018? “Uma torta de chocolate, cremosa, intensa” é a sua resposta.
O DOCE DE LAURA está de casa nova na Vila Madalena, onde se instalou há 24 anos, e expandiu a produção de tortas e doces. Laura Estima é de Porto Alegre (RS), graduada em Hotelaria pela UCS-Canela, com pós em Administração, e uma empreendedora determinada: começou a fazer sobremesas no seu apartamento oferecendo as suas criações para os restaurantes. Assim ela fez crescer seu negócio e só depois abriu as portas ao público, atendendo ao clamor de quem provou suas delícias. A torta de nozes-pecãs da Laura foi indicada a melhor doce da cidade; a paçoquinha de colher, eleita a melhor das festas juninas; e a musse de queijo e goiabas é uma superstar da mídia – está em capa de revista e programas nas telas. A doceira vem experimentando novos sabores, usando
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: ISABELA MURAD, CAROLE CREMA E LAURA ESTIMA, DA DOCE DE LAURA
as frutas como ingrediente principal em bolos com aveia e passas, sem farinha de trigo, na sua linha de bolos para café. “Frutas frescas e secas, as nozes e as sementes serão ainda mais presentes nas receitas doces”, ela comenta. Com o lema “Tornar o dia do nosso cliente mais doce”, o Doce de Laura e sua criadora seguem o conceito comfort nas suas criações, simples e com sabor. Nessa linha, Laura propõe uma torta de damascos e amêndoas para um 2018 mais doce – e natural.
No Maranhão, ISABELA MURAD faz história com um quitute que reúne a tradição local e familiar. Zé Pereira é um biscoito de origem portuguesa queridinho no Nordeste brasileiro, receita que sua avó aprendeu no colégio de freiras em São Luís. Dona Tereza ficou conhecida pelos banquetes que fazia em sua casa e os bolos sob encomenda para casamentos. Em todas as festas, aparecia com os biscoitos Zé Pereira, uma receita própria que adaptou das freiras – a base é farinha, manteiga, açúcar, leite e canela. A neta relembra esses sabores como os melhores de sua infância e decidiu criar a marca e uma empresa para produzir os biscoitos da avó. Inventou um
TODA A BELEZA DO BOLO RED VELVET, DA DOCE DE LAURA
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Pralá & Pracá L U I Z A
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FOTO: CELSO CHITTOLINA
ACIMA, ANDREA SCHEIN E SEUS LINDOS MACARONS. ABAIXO, MORENA LEITE E OTÁVIA SOMMAVILLA, PARCEIRAS NA DOÇARIA
par, a Maria Amêndoa, tortinha com a castanha, e fez nascer um case na gastronomia maranhense: a dupla Zé Pereira & Maria Amêndoa. A cozinha comfort é também a referência e aposta de Isabela, seja com os biscoitos ou as tortas e bolos decorados que compõem a marca. “Os valores e as tradições das famílias estão em suas receitas, são sabores inesquecíveis que reproduzimos em nossos produtos”, diz a neta de Dona Tereza. Para 2018, Isabela já tem a sua doçura preferida: o Zé Pereira de limão siciliano, crocante e azedinho.
ANDREA SCHEIN, a Dea, é gaúcha, mora e trabalha em Porto Alegre. Os seus macarons atravessam fronteiras e o tempo: são 10 anos fazendo o doce francês profissionalmente. Aplicada e curiosa, Dea também faz diferentes sobremesas para eventos, aulas e apresentações – suas criações unem técnica e imaginação. A montagem de um doce pode se transformar em uma performance ao vivo, com chocolate, frutas e macarons – é tudo invenção dela, que ensina seus truques e artes em aulas de pâtisserie. “Penso sempre no equilíbrio das receitas, mas gosto dos contrastes”, explica. O ano de 2018 será de renascimento e renovação, segundo Dea, e sua proposta em forma de doce se materializa em uma espuma de coco com confit de bergamota e um macaron de coco. A obra, que ela faz questão de pintar em aquarela, em seu processo criativo, tem o sugestivo nome “Levanta-tchê”. 26
Estilo Zaffari
AO LADO, A BAIANA LISIANE AROUCA E UMA DE SUAS DELICIOSAS SOBREMESAS
MORENA LEITE não para. Representante da escola Cordon Bleu para promover as técnicas francesas de cozinha como veículo de empoderamento das culturas culinárias locais, ela está baseada em Bali e roda o mundo com a fantástica missão. Por causa do brigadeiro de capim santo servido na colherinha de café, junto com a bebida, em todos os seus restaurantes, veio parar aqui nesta coluna. Sem ser confeiteira, mas uma chef que tem nos doces uma grande expressão da alta gastronomia brasileira que pratica, foi despistando os seus próprios dotes e passou a bola adiante quando inquirida sobre o doce 2018. “Tenho paladar infantil”, resume, “adoro chocolate e pudim de leite.” Assim foi que a OTÁVIA SOMMAVILLA, parceira de Morena quando o assunto é doçaria – as duas assinam o belo livro Doce Brasil Bem Bolado, da Editora Boccato –, pôde nos brindar com uma original receita para 2018. Inspirada pela fala de Morena, que vê anos ácidos e transformadores por vir, Otávia propôs uma mousse de limão siciliano para fazer doce o sabor do ano que está iniciando. “A mousse dá leveza, sem oprimir a personalidade da acidez, que pode assustar, mas é saborosa”, concilia a criativa boleira.
Conterrânea de Morena, LISIANE AROUCA sacode Salvador com suas sobremesas sofisticadas e criativas no novo e premiado restaurante Origem, em sociedade com o marido chef Fabrício Lemos. Lisi é chef confeiteira, cake designer e artista plástica, uma combinação que promove um verdadeiro show quando desfila suas criações no menu degustação de 14 etapas – em três, são os seus doces que brilham. Cajá, umbu, licuri, maracujá do mato, frutos e frutas do sertão são exaltados em seus pratos. As obras de Lisi ganham nomes que são verdadeiras histórias, desde sua vivência no sertão, na casa dos pais e da avó, aos amores que ganhou na vida: banana quase real, lá na minha avó, bem bahia, doce encontro... “Muito mais do que beleza, o sabor é mais importante”, diz a designer de doçuras que cria e produz diariamente, sem os limites do cardápio fixo. Lisiane é puro afeto e para o ano que está nascendo ela deseja “que o doce querido de sua memória seja transportado para o hoje”. Mas e o doce? “Mugunzá com caramelo, que é um equilíbrio sutil, mas perfeito.” Então tá! LUIZA ESTIMA É JORNALISTA, GAÚCHA, CIDADÃ PAULISTANA HÁ MAIS DE DUAS DÉCADAS, SEMPRE ÀS VOLTAS COM PROJETOS QUE ENVOLVEM A GASTRONOMIA BRASILEIRA. AUTORA DO WWW.PRALAEPRACA.BLOG.BR
CAROLE CREMA Rua da Consolação, 3161 Jardins I São Paulo I SP www.carolecrema.com.br DOCE DE LAURA Rua Luminárias, 94 Vila Madalena I São Paulo I SP www.docedelaura.com.br ISABELA MURAD Shopping da Ilha – Av. Daniel de la Touche, 987 Cohama I São Luís I MA www.zpma.com.br DEA MACARONS Porto Alegre I RS chefdea@hotmail.com MORENA LEITE restaurantes Capim Santo/ Santinho/e Instituto Capim Santo www.chefmorenaleite.com.br OTÁVIA SOMMAVILLA Bolos criativos sob encomenda www.otavia.com.br LISIANE AROUCA Alameda das Algarobas, 74 Caminho das Árvores I Salvador I BA www.restauranteorigem.com.br
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Humanas criaturas T E T Ê
PAC H E C O
DOCES LEMBRANÇAS
“COM AÇÚCAR, COM AFETO FIZ SEU DOCE PREDILETO PRA VOCÊ PARAR EM CASA QUAL O QUÊ…” CHICO BUARQUE, 1966
Poucas coisas nos trazem mais memórias do que a comida. Outro dia estava lendo uma matéria que voltava a trazer à tona o absurdo de ainda nos dias de hoje relacionarmos o doce (açúcar) ao afeto. O açúcar, estamos carecas de saber, é considerado um mal para o organismo, e ainda mais no que diz respeito às crianças. No ano passado uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde mostrou que a diabetes cresceu 61,8% em dez anos, no Brasil. É muito. Vai fazer dois anos que eu cortei o açúcar da minha alimentação, entre outras coisas. E posso afirmar que não tenho mais dores de cabeça, durmo melhor e acordo muito mais disposta. Mesmo assim, grande parte da minha memória afetiva está de alguma maneira vinculada ao açúcar. Minha avó paterna, Adalgisa, e meu avô Abílio viviam em Pelotas. Ele tinha um pequeno armazém de distribuição. Vendia sacas de arroz, mas logo percebeu que os caminhões que paravam precisavam abastecer e, assim, teve a primeira bomba de gasolina Shell da cidade. Pelotas era famosa por seus doces e compotas. Minha avó tinha um quarto em casa só para elas. Eu e meu pai amávamos os figos em calda. E o doce de batata-doce. Eram meus avós que, a cada aniversário, traziam os bolos e docinhos de nozes, brigadeiros, bem-casados. Não havia nenhuma necessidade de uma noiva e um noivo para que a gente devorasse dezenas de bem-casados. Era meu doce preferido. Minha mãe guardava os brigadeiros na cristaleira. Será que ela sabia que eu assaltava o armário na calada da noite? Na adolescência, a moda era fazer brigadeiro de panela. Não havia encontro que merecesse acontecer sem uma panela no meio. Eu e minhas amigas também gostávamos de fazer balas de coco e fomos responsáveis pelo crepe de Kri ter atingido o auge da fama na Carlos Gomes. Na minha primeira gravidez comi todo o estoque de sorvete de doce de leite da Haagen Dazs disponível. Boa parte da infância dos meus filhos tem doce de leite uruguaio como personagem central. Tantas histórias boas. Tantas lembranças deliciosas. É uma pena que tenha virado vilão. Mas ele vai ter que ficar com a culpa. Eu não vou assumir, não. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA
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LA N ÇA MENTO
MAIS VIDA NA R E G I Ã O Q U E MAIS C R E S C E E M PO R T O A L E G R E . Tu d o l i g a d o . Tu d o p e r t o . Tu d o c h e i o d e v i da.
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Sabor
Cozinhar
o novo poder feminino P O R
T E T Ê
PAC H E C O
F OTO S
L E T Í C I A
R E M I Ã O
Sabor
AS MULHERES DA MINHA FAMÍLIA NÃO ACHAVAM A COZINHA UM LUGAR DIVERTIDO. A ÚNICA RECEITA QUE MINHA MÃE ME ENSINOU FOI: “SEJA INDEPENDENTE.” Aos domingos, minha avó Zizi preparava comidas deliciosas. Se tenho alguma lembrança gastronômica da infância, vem daquelas tardes na casa dela. O almoço era servido às 13 h, pontualmente. Meu avô, de vez em quando, trazia um frango de televisão, comprado na padaria. Isso era a máxima contribuição de um homem na cozinha. Certa vez, na tentativa de agradar a minha avó, trouxe um artefato que fazia o frango inteiro ficar “sentado” dentro do forno, o que, afirmava ele, assava de forma perfeita. Nos anos 70, cozinhar bem tinha esse significado, de saber reproduzir da melhor maneira a moda culinária da época. Era o auge da revista Claudia e as mulheres gostavam de fazer as receitas publicadas lá. Pela mesa da minha avó desfilaram deliciosos bifinhos de carne de porco à milanesa, bem fininhos, fricassê de frango, uma salada de cenoura com banana, torta de panquecas com molho de tomate que ela fazia em casa, assim como o de cebola. Mais tarde as panquecas evoluíram para blinís. “Na Rússia comem com caviar”, o que para nós era uma abstração. E havia os doces. De origem portuguesa, na sua maioria. Ovo e açúcar para fazer a farra dos dentistas. Ambrosia, Fios de Ovos, Cassinense, Torta de Nozes com... tcharans, ovos moles. Nunca ouvi ninguém falar
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de colesterol. Às vezes rolava uma gelatina light, novidade que ela fazia cheia de frutinhas cortadas em pedacinhos coloridos, digamos que essa era a alternativa saudável da época. Estávamos na era pré-churrasqueiras na varanda. E churrasco, para nós, era assunto de restaurante. Lembro do aroma enfumaçado da Churrasquita, que meu avô amava. E do vinagrete do La Cabaña, do carrinho de saladas do Barranco, das batatinhas do Santo Antônio. Minha avó não tinha jeito de que cozinhava por prazer. Acredito, espero não estar cometendo uma injustiça, que ela só cozinhava porque alguém tinha que fazer esta tarefa. Cozinhar, naqueles tempos, era um ritual de serviço.
LONGE DA COZINHA
O advento da empregada doméstica fez com que algumas mulheres, as que podiam pagar, começassem a ter um pouco mais de tempo para elas mesmas. Tempo esse que era aproveitado com a independência da cozinha. A independência financeira apenas algumas obtinham, por meio do trabalho. Minha mãe foi uma adolescente dos anos 50, a era dos eletrodomésticos maravilhosos. Cresceu dentro des-
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Sabor
A COZINHA DE UMA CASA É A CENTRAL DO AMOR. É ONDE COMUNICAMOS A FORMA COMO NOS VEMOS E AS COISAS QUE DESEJAMOS AOS QUE NOS CERCAM sa realidade e viveu boa parte de sua vida dividida entre o sonho do casamento e uma certa modernidade que já impulsionava as mulheres aos estudos. A única receita que ela me ensinou foi: seja independente. Entendi rapidinho que as mulheres da minha família não achavam a cozinha um lugar divertido. E tampouco eu iria achar. Foi na minha geração de mulheres superocupadas que os congelados, micro-ondas, comidas prontas e industrializadas vieram para ficar. Some-se aos péssimos hábitos alimentares o tempo dentro de escritórios e os automóveis acessíveis a todos e eis a fórmula mágica que levou à proliferação das academias de ginástica no final dos anos 80. A promessa de ter um corpo malhado, como o da Jane Fonda, virou hit em segundos. Talvez esse tenha sido o embrião da consciência corporal, que levou as mulheres a várias conquistas, entre elas, a possibilidade de voltar a gostar da cozinha.
A GRANDE TRANSFORMAÇÃO
Há quase dois anos iniciei um processo de transformação da forma como eu sempre comi. Tenho escrito aqui na Estilo Zaffari sobre isso. Tudo começou independentemente da eterna vontade de perder peso. Voltei às práticas de ioga que havia abandonado e com ela surgiu uma nova forma de consciência alimentar. Primeiro me aproximei dos ingredientes. Passei a frequentar feiras orgânicas, conhecer de perto os produtores, entender as quantidades das coisas. Nunca antes eu havia entendido o que é possível ser feito com 1 kg de tomate. A seguir fui incorporando novos pesos e medidas e substituindo o que havia de não tão saudável – leia-se: quase tudo que é processado – na minha despensa. Ao fazer isso percebi que existia uma imensa vala
entre as coisas prontas e as que precisam da gente para serem feitas. Foi quando resolvi radicalizar. Cortei 5 coisas da minha rotina. O açúcar, o glúten, a cafeína, a carne vermelha e a lactose. Coisas que se acumulam na gente, assim como as ideias tortas sobre a vida. A restrição, em vez de limitar, ampliou minha necessidade de aprender a fazer receitas e testar ingredientes. Cozinhar virou um desafio e, logo, um prazer.
A CENTRAL DO AMOR
A cozinha da minha casa, que recentemente reformei, não é um lugar apenas para cozinhar. Pensei nesse espaço levando em consideração as mudanças de hábitos familiares que precisavam acontecer e as coisas que trago comigo através dos tempos. Louças, cadernos de receitas, livros, panelas novas e velhas. Um lugar para estar, para receber. Aberto. É meu lugar preferido na vida. Sempre fui a mulher que trabalha fora, logo, comer em restaurantes era a coisa mais natural. Gosto muito mais de comer em casa hoje em dia. Ou de cozinhar na casa dos amigos. Considero esse movimento uma grande conquista feminina. Constatar que não precisamos negar a importância de cozinhar para nos colocar no papel de alguém que é independente e que tem outros interesses e ocupações é uma descoberta valiosa. A cozinha de uma casa é a central do amor. Onde comunicamos a forma como nos vemos e as coisas que desejamos aos que nos cercam. Não existe sentido em tornar essa experiência um martírio. Todo mundo deveria viver isso um pouco. Homens, mulheres, crianças. Fico pensando no que diria minha avó disso tudo. Acho que ela diria: “Tá na mesa. Corre que vai esfriar”.
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Sabor
Couve-Flor Maravilha SEM GLÚTEN
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SEM LACTOSE
1 COUVE-FLOR MÉDIA 3 BETERRABAS GRANDES 1 PAU DE CANELA SAL A GOSTO PIMENTA ROSA MODO DE FAZER: Cozinhar as beterrabas numa panela com a canela, o sal e a pimenta. Depois de ferver bem, colocar a couve-flor e deixar em fogo baixo por uns 10 minutos. Delisgue e deixar por meia hora. O importante é a couve-flor ficar al dente, mas sem desmanchar toda. Servir morna. Ótimo acompanhamento de saladas e assados.
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Sabor
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Homus Verde SEM GLÚTEN
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SEM LACTOSE
1 XÍCARA (CHÁ) DE GRÃO DE BICO 1 DENTE DE ALHO SAL A GOSTO 1/4 DE XÍCARA (CHÁ) DE AZEITE 1 LIMÃO ESPREMIDO 1 COLHER (CHÁ) DE PÁPRICA SALSINHAS, SÓ AS FOLHINHAS MODO DE FAZER: Deixe o grão de bico por 12 horas num recipiente com água. Escorra. Cozinhe em panela de pressão por 30 minutos (depois de pegar a pressão) com água e sal. Peneire o grão para sair a película, pois é indigesta. No processador coloque o grão de bico, adicionando azeite, alho, suco do limão e a salsinha sem os talos. Bata até ficar com uma consistência pastosa. Enfeite com páprica. Comer com biscoite de polvilho é uma delícia.
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Sabor
Brigadeiro de Tâmaras SEM GLÚTEN
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SEM LACTOSE
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SEM AÇÚCAR
6 TÂMARAS MEDJOUL (AQUELAS GRANDES E GORDUCHAS) 1/2 XÍCARA DE CASTANHA-DO-PARÁ NIBIS DE CACAU CHOCOLATE ALCALINO EM PÓ MODO DE FAZER: Deixe as tâmaras fora da geladeira. Tire as sementes e faça uma bola, amassando com as mãos. Misture as castanhas bem trituradas no processador. Faça as bolinhas, passar no chocolate e depois granule com os nibis ou o que você imaginar para decorar: sementes de romã, coco ralado, etc.
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Vida C E L S O
G U T F R E I N D
GABRIELLE
Gabrielle é cega. Faltam-lhe os dois globos oculares. Convém que eu logo conte isto, porque nos esqueceremos. Gabrielle cursa o Ensino Fundamental na Escola Municipal Presidente Vargas. Ela é uma menina inteligente, graciosa e feliz. Basta vê-la entre os colegas que me receberam pelo programa Adote um Escritor. A presença dela se impõe entre sorrisos e parcerias. Quando precisa usar as mãos para fazer uma pergunta (ela tem muitas para fazer), a colega segura a bengala com presteza. E Gabrielle irrompe com outra questão pertinente. Nem precisei saber as respostas para nos tornarmos íntimos, difícil foi se despedir, horas depois. Ela me acompanhou no cafezinho na sala dos professores, junto com a amiga Vitória, com quem mostrou novas qualidades. Se já era inteligente, graciosa e feliz, ela foi agora de todo solidária e nada possessiva com o pedido da colega. Vitória queria que eu escrevesse uma história sobre uma menina de batom vermelho que não podia se sentir bem sem o batom vermelho. Ouvimos a Vitória com paciência, mas logo o pedido de Gabrielle se impôs, descortinando a futilidade do batom. Ela lembrou que eu tinha contado uma história autobiográfica de um menino que se sentia feio e a história a fez pensar que ela nunca se sentiu feia, mas
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Estilo Zaffari
algumas coisas a desagradam. Quando perguntei o que, ela respondeu que era a insistência dos pais junto ao SUS para que fizesse uma prótese dos globos oculares que ia torná-la mais bonita. Contou que se sentia feliz como já era, sem prótese, com os colegas, a família, o pitbull do pai e o irmãozinho bebê. E quis saber o que eu achava isso. Vitória ficou boquiaberta em meio ao batom vermelho, e eu, mais uma vez, não soube responder a Gabrielle. Mas confabulei que achava que a compreendia, pois sempre tínhamos medo do desconhecido, certa tendência de deixar as coisas como estavam, mas, depois de mudá-las, chegávamos à conclusão de que tinha valido a pena. Ela entendia isso? Gabrielle, educadíssima, respondeu que sim, principalmente na parte de deixar as coisas como estavam. E concluiu: – Eu, no começo, odiava ser cega. Hoje me sinto tão contente da vida que, se voltasse a enxergar, era capaz de furar os olhos. Sem mais o que ver ou ouvir, caímos numa gargalhada, dessas dificílimas de acabar. CELSO GUTFREIND É PSIQUIATRA E ESCRITOR, ESPECIALISTA EM PSIQUIATRIA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
Sampa C R I S
Superla
B E R G E R
CASA NATURA MUSICAL
CAFÉ DA MANHÃ NO COFFEE LAB
SEBO DESCULPE A POEIRA
A casa Natura Musical fica no bairro de Pinheiros e me surpreendeu do começo ao fim. Ela é linda, tem um repertório de músicos brasileiros de primeira, acústica fabulosa, camarim com produtos Natura aberto ao público e um cardápio com comidinhas e caipirinhas assinado pela chef Morena Leite. É a melhor pedida para curtir a noite na capital.
Este é um caso de amor antigo. Não é nenhuma novidade: existe há anos! Já perdi a conta do número de vezes que estive por lá, mas é incrível como sempre há algo a descobrir, até mesmo nos lugares em que batemos ponto. Neste dia, pedi pelo “combo” de café da manhã e declarei amor eterno à manteiga da casa com o pão artesanal, o ovo cozido e as bolinhas de sagu cozidas no café. E um cappuccino, é claro.
Foi um amigo que me deu a dica. Eu sabia que ia ser quente porque o sujeito, de quem recebi a indicação, é descolado. Fui esperando ser bacana e saí apaixonada pelo astral da garagem que virou sebo, pela biblioteca particular do jornalista Ricardo Lombardi que se transformou em livraria intimista. Agora, só compro meus livros por lá, com direito a um dedinho de prosa com o ilustre colega.
Rua Fradique Coutinho, 1340 coffeelab.com.br
Rua Sebastião Velho, 28A sebodesculpeapoeira.tumblr.com
Rua Artur de Azevedo, 2134 casanaturamusical.com.br
CRIS BERGER É JORNALISTA E ESCRITORA
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Estilo Zaffari
crisberger@crisberger.com
ativa
Toda vez que me preparo para escrever esta coluna, percebo duas coisas: 1. eu sempre serei estrangeira em São Paulo 2. como há coisas a fazer por aqui! É um fascínio quase infantil que sinto por esta cidade. Ela é tão superlativa. Eu sei que já devo ter tido isso, mas não há outra palavra para definir esta metrópole. Por isso, elegi 6 lugares com peso 2 que me fazem olhar para ela e dizer: são os forasteiros que mais te amam e veneram. Justamente porque a gente não é daqui…
RESTAURANTE EXTÁSIA
STUDIO BERGAMIN
POUSADA PEGADA DA ONÇA
Não o reconheci de primeira. Minha memória nunca foi o meu forte. Ele veio à mesa, me cumprimentou, foi extremamente simpático e lá pelas tantas… lembrei! Eu estava de frente com o ilustre Flavio Miyamura (ex-Miya), restaurante incrível de Pinheiros que entrou em um dos meus livros. Agora, somos vizinhos. Não é uma tremenda sorte? A proposta da nova casa do senhor Miya é servir entradinhas com status de prato principal para ir degustando com os vinhos da Grand Cru, localizada no andar de baixo. Destaque para as tostadas de milho com atum marinado e maionese de wasabi, algo digno da sétima maravilha do mundo.
No bairro de Santa Cecília há uma série de bons motivos para fazer uma visita. Um deles é a loja Studio Bergamin, do casal Ale Bergamin e Duda Gottardi. Ao entrar, você sente o cheirinho delicioso do spray aromatizante e o frescor do ar condicionado, vai caminhado casa adentro em linha reta, pois ela é um grande retângulo, até chegar no pequeno e acolhedor café. São tantos objetos e móveis de decoração garimpados pelo mundo e ali ao nosso alcance. O melhor? É pet friendly.
E quando o superlativo sufoca, corro para o meu refúgio. Ele fica a duas horas e meia de carro de SP. No interior do estado, na pacata Tapiraí, está a pousada Pegada da Onça. Em meio à natureza, com conforto de sobra, quartos com lareira e jacuzzi e cozinha sob medida eu recarrego as baterias: escuto o canto dos pássaros, leio, nado na piscina com água natural e deixo a vida acontecer em um ritmo mais lento. E depois volto para ela, a Superlativa.
Rua Barão de Tatuí, nº 339 studiobergamin.com.br
Estrada TPR 222 Vereador Atílio YnadaTapiraí www.pousadapegadadaonca.com.br
Rua Diogo Jacome 361 facebook.com/extasiarestaurante Estilo Zaffari
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Viagem
China Shanghai e Hong Kong T E X T O
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C O N T E
Viagem
“SÓ FUI CONFERIR A PUJANÇA ECONÔMICA DOS DOIS GRANDES CENTROS DA COSTA LESTE DA CHINA DEPOIS DE PERCORRER A ROTA DA SEDA E AS REGIÕES MAIS REMOTAS DO INTERIOR DO PAÍS” Tenho acompanhado as transformações da China desde minha primeira visita, há mais de 30 anos, quando me aventurei por regiões “off limits” das minorias étnicas no oeste do país, até a mais recente viagem, quando então pude conferir toda a pujança econômica dos grandes centros da costa leste do dragão chinês. Da primeira vez, em 1986, não conseguia perceber nas regiões remotas do interior do país qualquer indício de abertura econômica. Na fronteira com a antiga União Soviética percorri o Xingkiang, onde viviam os Uighures e outras minorias turcas muçulmanas, seguindo ao Tibete Budista nos Himalaias. Me senti Marco Polo desvendando terras desconhecidas. Na época era uma área de acesso restrito aos estrangeiros, o sistema econômico e político era rigidamente controlado pelo Partido Comunista, centralizado em Beijing. Observei com tristeza a política oficial de assimilação cultural, com imigração em massa de Han Chineses para essas áreas onde, até então, as comunidades étnicas viviam segundo as tradições locais. Foi uma forma de o governo reduzir as tensões e aspirações de independentistas, mesclan-
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do a população local com os etnicamente chineses para garantir a unidade de uma “Grande China”. Minha simpatia pelos povos autóctones ocupados pelo poderio chinês fazia com que eu relutasse, então, em inserir nos meus roteiros a costa leste do país, o berço dos conquistadores Han Chineses, em meu mapa de viagens. Mas minha curiosidade pela história das grandes civilizações, que já havia me levado a imersões culturais pelo Sudeste Asiático, pela Índia e pela Mesopotâmia, me colocou no caminho daquela que tem sido uma protagonista global por mais de dois milênios – a civilização chinesa –, em função de sua cultura, poderio militar, e também pelo aspecto econômico, em virtude da rota da seda, que escoava seus produtos aos mercados da Pérsia, Oriente Médio e de lá até a Europa. A rota comercial recebia esse nome em função do produto chinês mais desejado no mundo, a seda, que junto com a porcelana representava o refinamento da produção chinesa. Meu fascínio por essa antiga rota de caravanas me conduziu por Beijing e sua “Grande Muralha”, passando pela antiga capital de Xian, com seu exército de terracota
Viagem
POR DÉCADAS, SHANGHAI FOI A MAIS COSMOPOLITA CIDADE DA CHINA E SUA PRINCIPAL PORTA DE ENTRADA. UMA CHINA COM UMA FACE BEM OCIDENTAL, A ATRAENTE E FAMOSA “PARIS DO ORIENTE” de 210 a.C., e de onde partia a antiga rota da seda contornando o deserto de Taklamakan, atravessando os himalaias, cruzando a Ásia Central e Mesopotâmia até a Anatólia. Ao longo dos anos e de várias viagens conheci todos esses lugares, como que montando um quebra-cabeça dessa rota, que além de produtos promovia a interação de culturas e de conhecimento entre os povos. Em viagens posteriores à China pude observar as mudanças pragmáticas chinesas, em que apesar de manter um regime político socialista se ajusta a uma economia de mercado controlada pelo poder central. Nessas ocasiões mergulhei no interior rural da China, nas regiões das minorias tribais na província Yunnan e nos cenários bucólicos de Guangxi, navegando pelo rio Li. Finalmente, na minha estada mais recente na China, fui ao seu dínamo econômico na costa leste, para entender como a China se reformatou para retomar sua posição de líder econômico global uma vez mais. Compartilho com vocês minhas impressões a respeito de Shanghai e Hong Kong. A primeira era o centro financeiro tradicional da China, até que a Revolução
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Chinesa de 1949 fez com que a segunda assumisse essa posição. Hoje, ambas as cidades competem como motores financeiros e comerciais que impulsionam a segunda maior economia do mundo.
SHANGHAI
Por décadas, Shanghai foi a mais cosmopolita cidade da China e sua principal porta de entrada. Lá os estrangeiros estabeleceram missões comerciais e construíram edifícios art déco e em estilo francês no Bund, imprimindo uma personalidade própria ao local. Enfim, uma China com uma face bem ocidental. A Paris do Oriente fazia fortunas e atraía aventureiros e comerciantes em busca da mística do antigo império em decadência. Trata-se da mais próspera cidade da China – uma mistura de metrópole moderna e tradicional. No Jardim de Yuyuan, da dinastia Ming no séc. XVI, encontra-se o estilo clássico chinês, com templos e lagos. Já na região da antiga concessão francesa aparece todo o charme europeu, com suas avenidas sombreadas com cafés e restaurantes. Na área do Bund, o legado britânico.
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Viagem
SHANGHAI, A MAIS PRÓSPERA CIDADE DA CHINA, É UMA MISTURA DE METRÓPOLE MODERNA E CIDADE TRADICIONAL. O ESTILO CLÁSSICO CHINÊS SE MISTURA À INFLUÊNCIA EUROPEIA E AO LEGADO BRITÂNICO
A contemporaneidade de Shanghai desponta em Pudong – a margem oriental do rio Huangpu –, que era uma área rural pobre até 1993, quando o governo chinês estabeleceu ali uma “Zona Econômica Especial”, tornando-a o “hub” financeiro da nova China. Vários prédios emblemáticos foram construídos, como a Oriental Pearl TV Tower – com sua composição de esferas simulando “pérolas” –, o Shanghai World Financial Center e a Shanghai Tower, com 565 metros de altura. Esses edifícios ao longo da Century Avenue formam a nova skyline da cidade, vista a partir da região histórica do Bund, do outro lado do rio. Trata-se de um dos centros urbanos mais homogeneamente modernos do planeta, pois Pudong foi integralmente construído ao longo dos últimos 25 anos. Para poder visualizar esse conjunto urbano do séc. XXI, aconselho o Shanghai World Financial Center, (www.swfc-shanghai.com), com sua passarela transparente construída a 474 m do solo. Totalizando 101 andares, foi a torre mais alta da China até 2014. O hotel Park Hyatt também oferece vistas incríveis. Já o Bund corre ao longo da margem ocidental do rio Huangpu por 1,5 km, com 52 prédios de estilo europeu bem preservados, tendo sido o principal centro comercial da antiga Shanghai. Nos arredores da cidade vale a pena conferir os povoados de Zhouzhang, Tongli, Suzhou e de Zhujiajiao, que nos remetem ao passado das dinastias Ming e Qing, com suas construções históricas e templos instalados entre pontes e lagos.
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Viagem
COM MAIS DE 16 MILHÕES DE HABITANTES, A VIBRANTE SHANGHAI É O MAIOR PORTO, CENTRO COMERCIAL E A METRÓPOLE MAIS INTERNACIONAL DA CHINA. A CIDADE IMPRESSIONA, SEM DÚVIDA
Shanghai, com mais de 16 milhões de habitantes, é o maior porto, centro comercial e a metrópole mais internacional da China. Sem dúvida alguma, impressiona.
HONG KONG
A antiga colônia inglesa que voltou em 1999 a ser incorporada à China pode ser considerada a responsável pelas grandes transformações econômicas por que passa o país. Foi a partir de 1984, em função das negociações entre chineses e britânicos em relação a Hong Kong, que Deng Xiaoping implantou a política de “um estado, dois sistemas”, combinando o socialismo governamental com áreas econômicas especiais na costa leste – não só garantindo a manutenção da economia capitalista em Hong Kong como estendendo o conceito para outras “zonas econômicas” e que hoje cobrem toda a costa leste do país. Para visitar a cidade aconselho fazer a primeira parada no Victoria Peak, que é também o pico mais
alto de Hong Kong, oferecendo uma ampla vista da ilha, que é também uma das áreas mais densamente povoadas do planeta. O próximo ponto de interesse é a “Golden Beach”, na Repulse Bay, a baía mais representativa e hoje uma das áreas residenciais mais exclusivas de Hong Kong. Um contraponto à vila dos pescadores em Aberdeen, com suas casas-barco e modo de vida tão peculiar. Já no Stanley Market você tem a oportunidade de conferir obras de arte, tecidos de seda e antiguidades. Vale a pena fazer um passeio de dia inteiro até Macau, visitando as Ruínas da catedral de São Paulo e a Fortaleza do Monte, que era parte das muralhas antigas, além do Templo de Na Tcha – e os famosos cassinos que rivalizam com os de Las Vegas. Partem do Macau-Hong Kong Ferry Pier em confortáveis balsas de alta velocidade. Legal também pegar o Star Ferry, que liga a fervilhante Kowloon, onde estava acomodado, com a ilha de Hong Kong, atravessando o canal da baía Victoria. A travessia
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Viagem
DE DENTRO DOS BARCOS E FERRYS, VALE APRECIAR A ORLA DA ILHA E SEUS ARRANHA-CÉUS ILUMINADOS COM NÉONS DE MARCAS GLOBAIS permite apreciar a orla da ilha de Hong Kong e seus arranha-céus iluminados com néons de marcas globais. Entre prédios high-tech, como o HSBC, de Norman Foster e o Bank of China, de Ieoh Ming Pei (da pirâmide do Louvre), frequentados por executivos internacionais e cosmopolitas, encontra-se um mundo paralelo, com becos e ruelas habitados pelos descendentes dos antigos pescadores da região. Hong Kong, que foi a “Joia da Coroa Britânica” até 1997, quando retornou à administração chinesa com o status de região administrativa independente, é um encontro entre o Ocidente e o Oriente, um elo entre a China do passado e a potência atual.
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ANTIGA COLÔNIA INGLESA, HONG KONG É UM ENCONTRO ENTRE O OCIDENTE E O ORIENTE, UM ELO ENTRE A CHINA DO PASSADO E A POTÊNCIA ATUAL
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O SKYLINE DA CIDADE REVELA MODERNIDADE E PUJANÇA ECONÔMICA, MAS A
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DICAS DE SHANGAI Minha sugestão para ficar em grande estilo é o Mandarin Oriental, que fica na moderníssima região de Pudong, junto ao rio e com vista do Bund – a antiga área dominada pelos britânicos do outro lado do rio. Para se divertir a dica é o Bar Rouge, que fica no Bund, com a melhor vista de Pudong, boa música e gente bonita. www.bar-rouge-shanghai.com Uma ótima experiência gastronômica é no Din Tai Fung, estrelado pelo Michelin. A pedida é o xiaolongbao de caranguejo. www.dintaifung.com.tw
DICAS DE HONG KONG Uma ótima pedida de onde ficar é no hotel ICON. Sugiro visita ao Hong Kong Museum of History, que nos leva através dos tempos desde a formação da cidade, réplica de Hong Kong de 1881, até os dias de hoje.
MAIS INFORMAÇÕES sobre a China ou viagens pelo mundo com betoconte@stb.com.br , que coordena no Rio Grande do Sul a rede de agências de viagens STB Trip & Travel, que comemora 30 anos de mundo em 2018. www.stbrs.com
CULTURA CHINESA TRADICIONAL ESTÁ SEMPRE PRESENTE, EM MEIO AOS ARRANHA-CÉUS
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RISO, SOLUÇOS INVERTIDOS
Curiosamente uma palavra enlevada como metáfora ganhou no grego contemporâneo um sentido bem prosaico, ‘ônibus’ – afinal o termo se desdobra em meta, ‘além’, e phora, ‘conduz’. A metáfora é uma imagem verbal que conduz a outra. Há uma complexa malha rodoviária no cérebro que facilita o trânsito das ideias. A âncora como representação de suporte, o entardecer como velhice, o leão como bravura foram metáforas usadas por Homero e estudadas por Aristóteles. Para ele, a metáfora, poética ou retórica, deixaria o pensamento mais agradável e persuasivo. De fato, o cérebro funciona, viaja em imagens metafóricas – não é coincidência que ideia queira dizer imagem, a origem da imaginação. Há metáforas que transportam valores universais. Mouros e cruzados, gregos e troianos viveram sob a influência das mesmas imagens, mesmas ideias: luz melhor que trevas, em cima melhor que embaixo, excesso melhor que falta, ação melhor que omissão, saúde melhor que doença, virtude melhor que vício, vida melhor que morte, prazer melhor que dor, riso melhor que pranto. É irônico que uma espécie que tanto valoriza a alegria seja a única que nasce aos prantos. Plinio (Séc. I) observava, “se nosso primeiro sinal de vida é o choro, aos 40 dias todo bebê começa a rir”, todos choramos e rimos antes de falar. Tanto na pessoa como na espécie, o riso precede, dá início ao balbuciar da fala. Zoroastro teria sido o único recém-nascido que riu ao nascer e Crassus, o único adulto que jamais riu, por isto apelidado de agelastus (G. gelas, ‘riso’). Para Aristóteles, o riso, tal a metáfora, era próprio do homem. Dois mil e quinhentos anos passados houve quem nos classificasse como Homo Ridens. Não há grupamento humano que não ria, comportamento com alguma equivalência entre os primatas. Darwin descreveu filhotes de
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gorilas respondendo a cócegas na axila da mesma forma que as crianças: acessos de riso. Compartilhando 99% dos genes, é natural que compartilhemos o riso. E que curioso ser mais factível obter um orgasmo por conta própria do que rir só ou por fazer cócegas em si mesmo. Se na tradição bíblica o mundo surgiu pela palavra – seis ordens breves –, outros mitos cosmogênicos têm a risada como ferramenta criadora. O Papiro de Leyden (Séc. II DC) conta de Deus montando o mundo às gargalhadas: da primeira surgiram sete deuses governantes, da segunda, a luz, da terceira saiu Hermes, da quarta o sexo e assim por diante. O mundo parece mesmo piada. Para as perplexidades e reveses existenciais, o riso talvez seja mesmo o melhor ou o único remédio. Plutarco define o riso como um molho que torna amarguras e dissabores mais palatáveis. Os gregos eram obcecados pela ideia de serem ridículos (L. ridens, ‘rir’), motivo de riso para os deuses. Os deuses riam interminavelmente – daí as ‘gargalhadas homéricas’– em zombaria das mazelas dos mortais. E como diz a Ilíada, “quando os deuses riem, os homens estão em perigo”. Zeus ri de Prometeu que trouxe o fogo aos homens e ri da pretensão de Ícaro de voar aos céus. Mais que alegria, é um riso de escárnio e ameaça. Este riso selvagem de Zeus está entranhado no passado e foi domesticado junto a outros comportamentos como a alimentação, acasalamento, luto, etc. Cada grupo cultural ri a sua maneira. Conta Heródoto (Séc. V A.C.) que na Trácia o nascimento era saudado com pranto, a morte velada em gargalhadas. Lá as viúvas literalmente morriam de rir junto aos corpos dos maridos... Se o riso é o ‘soluço invertido’, os trácios reverteram a equação, o soluço é o riso as avessas. Há dois séculos era aceitável que pessoas de bem se
divertissem à custa de anões, corcundas, aleijões e doentes mentais. O ‘anão do circo’ ressoa esta época. Em Esparta havia um templo consagrado ao riso. As crianças espartanas eram treinadas tanto a caçoar das outras como a suportar chacota (Plutarco) . Curiosamente, entre os exércitos gregos, só os espartanos não contavam com bufões e cômicos profissionais. Quem conta é Paul Johnson: na I Guerra, o comandante dos Hussardos, a elite militar prussiana, reuniu as tropas para “treiná-las a rir de forma diferente de judeus e polacos, somente com discretos hahaha”, e dava ordem unida em risadas contidas... A tradição militar prussiana seguia o modelo do Marechal von Moltke, seu estrategista principal, que teria rido somente duas vezes na vida, uma quando lhe disseram que as defesas francesas eram inexpugnáveis e outra quando a sogra morreu. Judeus, polacos, e mesmo prussianos, todos gostamos de rir. Há um famoso livro do Séc. III, Filogelos (‘amigo do
riso’), compilação de 265 anedotas, muitas delas ainda em uso. E que contemporâneo que o tipo mais ridicularizado seja a do escolástico, o inteligente presunçoso. Uma boa é do escolástico encontra um amigo e se surpreende porque tinha notícias que já havia morrido. Quando o amigo diz – “Como vês estou vivo”, o sabido replica. “Mas quem me contou tem mais credibilidade que tu.” Outra é a do escolástico que se reveza como sentinela à noite com um barbeiro e um calvo. Durante seu turno, o barbeiro entediado corta o cabelo do escolástico. Quando o escolástico é acordado pelo barbeiro, reclama que não é ele mas o calvo que está sendo acordado. O riso pode ser uma forma de aliviar a tensão, evitar a violência. Todos já vimos a força abortada por uma piada, o riso como saída honrosa ao confronto. Rir, como o comer e o beber, amansa. Enquanto Jesus pregava oferecer a outra face, Horácio via na brincadeira a melhor maneira de conciliar desavenças. Jean Paul Sartre contava que quando adolescente enfrentou o bullying escolar aprendendo a ‘divertir’ seus colegas: feio, baixo, míope, fedorento e com baixo rendimento escolar, fazer rir era a sua defesa pessoal. A linguagem é testemunha de que o humor é um bálsamo ao cotidiano: divertimento, (des-vertere, ‘virar direção’), distração (des-trahere, ‘puxar a outra direção’), recreação (re-creare, ‘criar novamente’). É lindo o que Heródoto conta do rei egípcio Amasis, que criticado por trabalhar só de manhã e passar o resto do dia bebendo e rindo com convidados respondeu: ‘O arco deve ser vergado só para disparar a flecha’. Mantido teso, o arco perde a força. O mesmo ocorre com o homem. Quem se consome na seriedade sem usufruir do lazer perde a razão, torna-se raivoso ou triste.”
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É IRÔNICO QUE UMA ESPÉCIE QUE TANTO VALORIZA A ALEGRIA SEJA A ÚNICA QUE NASCE AOS PRANTOS. HÁ UMA ENORME CORRELAÇÃO ENTRE O COMER, O BEBER, A REUNIÃO, A CONVERSA, O AMOR E O RISO É muito significativa a primeira frase do Banquete de Xenofonte (Séc. IV A.C.): “Sou de opinião que não só as ações sérias dos homens nobres devem ser mencionadas, mas também os momentos de descontração. Por isto descrevo estes incidentes que testemunhei.” E segue uma divertida paródia à sisudez do Banquete de Platão. Platão proibia o riso em sua academia; o humor não condizia com gravidade do estudo do homem. Descreveu a risada com crueldade: “caretas de fealdade, soluços e sobressaltos junto a ruídos caóticos, obscenos indignos, inconvenientes que perturbam o espírito”. Péssima ‘ideia’ a de Platão de banir o riso, uma característica tão própria da natureza humana como a razão. Baudelaire (1861), com a antena de poeta, entendia bem: “retire o homem e nada de cômico resta na natureza”. Só o humano pode ser hilário, percebemos comicidade do reino animal em função do antropomorfismo: o pinguim, lembrando um padre desengonçado, tem mais graça que o corvo. O macaco é mais divertido que a vaca por ser mais parecido conosco. Quem buscar a máxima de Delfos ‘conhece-te a ti mesmo’ e, como ensinou Sócrates, examinar sua própria vida ficará sobrecarregado de aspectos risíveis. Wittengenstein confessava que seu projeto de escrever um tratado filosófico sobre o humor fora frustrado pela sua falta de senso de humor. Seu conterrâneo Manfre Geier definiu o filosofar como ‘aprender a rir’, e Dalai Lama, líder da filosofia budista tibetana, tem como mantra que o principal passatempo é rir. Apesar da figura austera, Freud criou o maravilhoso neologismo alcoholidays (alchol+holidays) e equiparou os chistes aos sonhos como fontes de entendimento da alma. Há estudos que mostram que as mulheres riem (e choram) mais que os homens. O Genesis (Séc. V A.C.) traz o primeiro registro histórico de um riso. Foi dado por uma mulher idosa, teve substrato sexual e ocorreu durante uma refeição. Está no Capítulo 18: Anjos surgem para visitar Abraão, um deles é ninguém menos que Deus, a maior das autoridades. Abraão manda um servo assar um vitelo e Sara, sua esposa, ‘cozer’ pães que oferece aos hóspedes embaixo de uma árvore. Deus diz a Abraão: “Sua esposa vai ter um filho.” Ouvindo a notícia desde a entrada da tenda, Sara começa a rir. “Velha como estou como poderei
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ter prazer, ainda mais sendo meu marido também velho.” (Enrugada como estou como poderia gozar? – é a tradução ecumênica.) Deus não gostou de ter sua palavra questionada em riso e Sara mente, negando ter rido. Nasce o primogênito que em lembrança deste riso recebe o nome de Isaac, ‘Deus ri’ em hebraico. Sara tornou-se a primeira mãe judia, povo que, a começar por ela mesma, fez do humor um de seus objetos de culto. Mas Deus não ri. Usou de ironia fina ao alçar o hipopótamo a ápice da sua criação, “obra-prima de Deus” – a quem deu inclusive conotações fálicas, “seu vigor está no ventre, levanta a cauda como um cedro” (Job 40:16) – mas nenhuma das 36 risadas do Velho Testamento é de Deus. E no Novo não há registro de Jesus (ou Maria) rindo, mesmo que descendentes de Sara. Jesus chora ao avistar Jerusalém (Lucas 10-41) e chora a morte de Lázaro (João 11-31), mas os Evangelhos não mencionam nem mesmo um sorriso. Jesus ‘nunca cedeu ao riso’ diz São Basílio. Tudo indica um trabalho de censura e edição. A teologia inicial cristã satanizou o riso, herança pagã (e judaica) a ser extirpada, e promoveu o ‘vale de lágrimas’, o sofrimento redentor da vida terrestre. Quem ri aqui embaixo vai chorar lá em cima e vice-versa. Impossível que Jesus, descrito tanto por Mateus como por Lucas como ‘comilão e beberrão’, “frequentador da mesa na má companhia de pecadores”, um judeu que fez do pão e do vinho seus símbolos, que encantou sua última refeição entre amigos numa liturgia a ser repetida ad eternum por seus seguidores, nunca risse. Deve ter havido algum trabalho de edição e censura na biografia de Jesus, construção de um Deus encarnado, mas desumanizado do prazer e da alegria. Há uma enorme correlação entre o comer, o beber, a reunião, a conversa, a bondade, o amor e o riso. Agape, a palavra grega para amor, era como as primeiras gerações de cristãos chamavam seus jantares festivos e religiosos. E não surpreende que as ordens religiosas medievais que proibiram o riso proibiram também o conversar à mesa. FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br
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cerveja e suas harmonias P O R
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A GRANDE VARIEDADE DE AROMAS E SABORES FAVORECE A HARMONIZAÇÃO DAS CERVEJAS ESPECIAIS COM DIFERENTES RECEITAS. HÁ MAIS DE 180 OPÇÕES, ENTRE ESTILOS E SUBESTILOS
Se até bem pouco tempo o vinho reinava absoluto em mesas sofisticadas, as cervejas especiais passaram a disputar espaço com cada vez mais intensidade. E com vantagens sobre a bebida de Baco: a carbonatação da cerveja ajuda a limpar e ativar as papilas gustativas e, com isso, acentua os sabores dos pratos; o amargor do lúpulo é um estimulante ao apetite e ainda auxilia na redução da camada de gordura que se forma na boca. E talvez a maior de todas elas seja a grande variedade de aromas e sabores que favorecem a harmonização com as diferentes receitas. Entre estilos e subestilos, são mais de 180 opções de cervejas. E tem crescido constantemente o número de marcas e estilos; além disso, importadoras passaram a abastecer bares e armazéns especializados, e os restaurantes criaram receitas com e para acompanhar as cervejas artesanais. É preciso, no entanto, muito cuidado para que a ascensão da bebida dos bares aos botecos e restaurantes chiques ou jantares gastronômicos não forme, como aconteceu com o vinho, os bierchatos ou cervechatos, os esnobes que ficam exibindo conhecimento. Cerveja é descontraída e, como tal, deve ser prazerosa.
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É claro que conhecer mais sobre as características de cada uma delas ajuda a tirar mais prazer da bebida. Passar a degustar em lugar de simplesmente beber é uma arte em expansão. E, como em tudo, o importante é experimentar, experimentar e experimentar.
COMO DEGUSTAR
Pelo menos quatro dos cinco sentidos são importantes quando o assunto é degustação. Primeiro, a visão: observar, analisar a cor, se é límpida ou turva, abre o apetite e ativa as papilas gustativas. O tato permite sentir a temperatura. Certas cervejas, como as Lagers, descem melhor quando geladas. Outras pedem temperaturas mais altas. O olfato vem a seguir nessa jornada de descobertas, permitindo a percepção das chamadas notas, que podem ser de especiarias, frutas, cítricos e outras tantas. Essa pode ser a parte mais difícil para o degustador iniciante, mas com o tempo melhora. Aí chega a vez do sentido mais agradável: o paladar. Primeiro, é preciso se controlar e dar apenas um
COMO ESCOLHER
ESCURAS: Muitas cervejas do tipo Stout estilo irlandês e Porter contêm bastante malte torrado, sabor intenso de chocolate e notas de café. Podem ainda ter nuanças de baunilha e laranja. Por isso, combinam com filé, ostras, queijo azul, chocolate, baunilha, bolo de frutas, peixes e vieiras. Exemplo: Stout, Porter e Brown Ale ÁCIDAS: Essas cervejas são complexas e combinam com receitas ricas em sal e gordura, como embutidos, aspargos, azeitonas, frutos do mar, cream cheese, frutas e chouriço. Exemplos: Sour, Lambic DEFUMADAS: O gosto de fumaça resultante do malte torrado em forno a lenha pode reforçar e despertar o sabor de alimentos também defumados, como linguiça defumada, churrasco, queijo defumado, pernil, pato, bacon curado e peixe. Exemplo: Rauchbier RICAS EM LÚPULO: Cervejas fortes e com muito lúpulo, mais amargas, pedem pratos de sabor pronunciado, como queijos maturados e carnes grelhadas, ou sabores sutis, para contrabalançar a intensidade. Harmonize com sorvete de baunilha, carne de porco, carne de caça, churrasco, bacon, filé, tacos, queijos fortes. Exemplos: IPAs e APAs FRUTADAS: Há tipos picantes e frutados e são ótimos aperitivos. Podem acompanhar carnes salgadas e peixe em conserva. Harmonizam com cozinha asiática, mariscos, frango, sushi, ostras, patê, carne seca, carne de caça, porco. Exemplo: Lambic
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NA ARTE DE COMBINAR CERVEJA COM COMIDA, O MAIS IMPORTANTE É O EQUILÍBRIO. AMBAS DEVEM APRESENTAR FORÇAS SEMELHANTES, TANTO EM PESO COMO EM INTENSIDADE
gole e analisar o que sente. É doce? Amarga? Qual o impacto do malte? A seguir, é hora, enfim, de engolir. O final é curto ou longo? O sabor do lúpulo permanece? Tá bem, não quer deixar a audição de lado. Então, ouça como o líquido cai no copo, revirando-se e formando o colarinho de espuma tão apreciado. Parece bobagem, frescura até, mas com a prática e a formação de uma memória gustativa muda a forma de apreciar a bebida.
COMO ESCOLHER
Classificar as cervejas é um pouco complexo devido à grande variedade existente. Teoricamente, existem duas famílias de cervejas: Ales e Lagers. Vamos às duas clássicas. A maior diferença entre elas está centrada no paladar. As Ales são frutadas, enquanto as Lagers não têm essa característica e são mais frescas e suaves. São tantos os estilos que na hora de harmonizar um prato com a cerveja o melhor é simplificar e pensar mais em características da bebida do que nas denominações. Vale para a cerveja o mesmo princípio de outras bebidas: comece pela mais leve até chegar à mais complexa e encorpada. E da seca para a mais doce.
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COM O QUE SERVIR
Na arte de combinar cerveja com comida, o princípio mais importante é o equilíbrio. Ambas devem apresentar forças semelhantes, tanto em peso quanto em intensidade. Uma não deve ofuscar a outra. Pratos delicados com cervejas leves; pratos robustos com cervejas encorpadas. A harmonização também pode se dar por contrastes, como ácido e doce, doce e amargo, salgado e doce, refrescante e picante, características que podem ser do prato ou da cerveja. O princípio básico é que a união de cerveja e comida seja um processo saboroso que amplie o sabor dado pela bebida. A grande variedade de cervejas permite uma também grande gama de harmonizações. Dá, no entanto, para seguir algumas sugestões que ajudam na hora da escolha da bebida. Sem esquecer, é claro, que cada momento, clima ou prato indicará a mais adequada, como temperatura de serviço, o melhor copo ou a largura do colarinho. Para começar, vale considerar que cervejas leves acompanham pratos leves, e cervejas mais fortes, intensas e encorpadas harmonizam melhor com comidas mais pesadas e gordurosas, como uma feijoada, por exemplo. Especialistas
COMO ESCOLHER
REFRESCANTES: Como a Pilsen German suave, são leves, secas e bem gaseificadas, delicadas na boca. Pedem pratos leves à base de frutos do mar, mexilhões, sorvete, vieiras, ostras. Mas também podem ajudar a atenuar o caráter gorduroso de queijos fortes e de algumas carnes como bacon, linguiça apimentada, churrasco. Exemplos: Wit e Weiss BITTER: De amargor suave que costuma contrabalançar o aroma de frutas e sabor de caramelo. Harmonizam com assados ou ensopados de carne de boi, cordeiro ou porco. E também com pão com manteiga, maçã, queijos fortes, batata frita. Exemplos: Pale Ale e ESB MALTADAS E ALCOÓLICAS: Esbanjam sabores frutados, com equilíbrio entre doçura do malte e o lúpulo aromático condimentado. Algumas apresentam sabores de toffee e caramelo, enquanto outras levam toques de frutas secas tostadas. São leves e fáceis de beber e acompanham bem pratos salgados, como batata frita, sopa de cebola, pernil, filé, carne assada, chilli, queijos fortes, mexilhões, presunto, além do chocolate. Exemplos: Belgian Blond Ale, Doppel, Tripel e Quadrupel ENVELHECIDAS EM BARRIL: São cervejas mais intensas e complexas, algumas ácidas. Acompanham pratos intensos e queijos salgados. Exemplos: Aged Pale Ale
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PIZZA COM CERVEJA É UMA COMBINAÇÃO ANTIGA. MAS AS CERVEJAS ESPECIAIS E OS INGREDIENTES VARIADOS DAS PIZZAS DEMANDAM MAIS
garantem que também se pode pensar em Ales como vinho tinto, com aromas e sabores mais complexos, e Lagers como vinho branco, com aromas e sabores mais leves. Seguindo esse raciocínio, cervejas de alto amargor podem ser comparadas com vinhos bem ácidos ou com bastante tanino. Cervejas não têm terroir como os vinhos, mas podem ganhar sabor regional a partir de ingredientes típicos. No Brasil, marcam esse território etílico o café, a jabuticaba, o açaí, a acerola, o coentro, o cambuci, o guaraná, a cana-de-açúcar, o caju, a mandioca e até o pinhão.
CUIDADOS NA HARMONIZAÇÃO PARCERIA TRADICIONAL
Pizza com cerveja é uma combinação antiga, que agora ganha novos componentes. Afinal, a bebida passou a ser especial, e a pizza ganha ingredientes tão variados que vale a pena prestar atenção na harmonização. A sommelier de cerveja Shanna Ottoni e o marido, Frederico, proprietários do Distrito Porto Cervejeiro, no 4º Distrito, em Porto Alegre, transformaram a microcerve-
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jaria em point dos apreciadores da dupla cerveja e pizza. Os clientes têm à disposição oito torneiras, geralmente seis ou sete com bebidas produzidas no local – que variam sempre – e uma ou duas de cervejeiros convidados, além das pizzas do Luigi preparadas na micropizzaria contêiner que funciona no fundo do grande galpão. A tábua de degustação com três copos de 200 ml permite experimentar diferentes estilos. Uma cerveja muito interessante é a Saison (refrescante), com coentro. Shanna Ottoni escolheu uma Stout (cerveja escura) para harmonizar com a pizza de cebola caramelada com gorgonzola. A gordura do queijo e a doçura da cebola contrastam com o amargor da cerveja. A Indian Summers (refrescante) ameniza a força da pizza de pepperoni.
A CERVEJA DO MOMENTO
O burgomestre Sady Homrich explica que as cervejas também têm o seu momento de destaque. As Sours são as que agora estão em alta. Destacam-se pela acidez. São aze-
dinhas até. Consideradas a cerveja da moda, não são muito fáceis para iniciantes, mas o desafio ao paladar talvez seja o maior atrativo. Algumas são bem ácidas e refrescantes, podendo harmonizar com comidas bastante gordurosas. Outras, mais frutadas e encorpadas, com notas de vinagre balsâmico, caramelo e as frutas usadas na receita. As frutas mais comumente utilizadas são a framboesa e a cereja. As Sours combinam perfeitamente com saladas, frutos do mar, ceviche e queijos fortes. Podem também compor ou serem servidas com sobremesas, como cheesecakes.
OUTRAS COMBINAÇÕES
Se a parceria queijo e vinho é uma tradição, aos poucos a dupla vem sendo ameaçada pela presença da cerveja, que se mostra uma companheira interessante. A harmonização com queijos, na maioria dos casos, é por semelhança e não por contraste. Sabores como nozes, pão, cereais, amêndoas e caramelo, comuns a ambos, facilitam a combinação. Com a carbonatação, a bebida também, equilibra a gordura
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ALIANÇA PERFEITA: CHOCOLATE E CERVEJAS COM NOTAS AROMÁTICAS DE CAFÉ E CHOCOLATE. CONTRAPONHA DOÇURA E ACIDEZ do queijo e limpa as papilas gustativas. E mais: o amargor age da mesma forma e confere refrescância ao paladar. Sem falar na doçura de determinados queijos que harmonizam com o açúcar do malte da bebida. Outra aliança perfeita é entre chocolate e cervejas com notas aromáticas de café e chocolate. Vale arriscar a escolha de rótulos que contraponham a doçura do chocolate com o amargor ou a acidez da cerveja.
NA COZINHA
Além dos copos, as cervejas chegam às panelas. Despertam a curiosidade de cozinheiros e chefs que se sentem desafiados com a variedade de sabores e aromas. Para eles, existe apenas uma resistência ao uso das com grande concentração de lúpulo porque podem passar amargor em excesso. O chef Ayres Scavone, da escola de gastronomia que leva seu nome, e o sommelier Marcelo Scavone, da Escola da Cerveja, prepararam um cardápio harmonizado em que a bebida foi um ingrediente e também um acompanhamento. Como na entrada, em que para acompanhar o steak tartare a sugestão foi uma cerveja envelhecida em barril: a Aged Pale Ale. A intensidade de sabores do prato que reúne carne crua, aliche, pepino em conserva, alcaparras, ovo cru e cebola roxa pede uma bebida à altura. Por isso, a cerveja intensa e complexa escolhida. O primeiro prato sugerido pelo chef Ayres foi sobrecoxa recheada com ameixa e teve como ingrediente uma cerveja maltada: a Brown Ale, que também pode ser servida para acompanhar o prato. Outra harmonização recomendada por Marcelo Scavone seria uma Doppel Bock. Para limpar o paladar, uma pequena dose de cerveja ácida, que teria a mesma função de um sorbet em um cardápio completo: a Gueuze Mariage Parfait. Risoto de camarão chegou como segundo prato, preparado e servido com uma refrescante: a Weiss de Gengibre. Muito aromática e saborosa. Para encerrar, pudim de leite, preparado e servido com uma cerveja alcoólica, para segurar a doçura: uma Quadrupel. Dica: as pilsens podem substituir o vinho branco para marinar peixes.
DISTRITO PORTO CERVEJEIRO 1o Brew Pub oficial do Brasil Avenida Amazonas, 835 I 51 99194.6162 De terça a sexta (das 15h às 23h) e sábados (das 15h às 23h) ESCOLA DA CERVEJA E ESCOLA DE GASTRONOMIA AYRES SCAVONE Dr. Mario Totta, 406 I 51 99964.8851 Oferece cursos de produção e harmonização de cerveja, de sommelier de cerveja e de gastronomia e confeitaria
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Sobrecoxa de Frango no Caramelo da Cerveja 6 SOBRECOXAS DE FRANGO DESOSSADA 6 FATIAS DE BACON 12 AMEIXAS PRETAS SEM CAROÇO CERVEJA BROWN ALE SAL E PIMENTA-DO-REINO 10 G DE AÇÚCAR 20 G DE MANTEIGA MOLHO
Steak Tartare 600 G DE FILÉ MIGNON 3 GEMAS 60 G DE CEBOLA ROXA 15 G DE SALSA 15 G DE CEBOULETTE 50 G DE ALCAPARRA 6 FILÉS DE ANCHOVA 3 MINIPEPINOS EM CONSERVA SAL E PIMENTA-DO-REINO A GOSTO MODO DE FAZER: Pique cada um dos ingredientes do acompanhamento e coloque em pequenos ramequins. Corte a carne em pequenos cubos e bata com a ponta da faca até ficar com aspecto de guisado. Monte a carne em formato de três almôndegas grandes, com uma depressão no centro para inserir as gemas cruas. Sirva o steak tartare com os acompanhamentos. Cada pessoa mistura a gema e os demais ingredientes na hora de comer. O steak tartare pode ser servido com pão torrado.
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150 G DE MIREPOIX DE LEGUMES (CEBOLA, SALSÃO, CENOURA) 15 G DE AÇÚCAR 350 ML DE CERVEJA BROWN ALE SAL E PIMENTA-DO-REINO A GOSTO
MODO DE FAZER: Marine as ameixas na cerveja. Abra as sobrecoxas com a pele do frango para baixo. Tempere com sal, pimenta e recheie com bacon e as ameixas já marinadas. E escorridas. Enrole e amarre com um barbante. Em uma frigideira quente, aqueça a manteiga e doure as sobrecoxas. Reserve. Para o molho caramelo, refogue o mirepoix com açúcar até que os vegetais fiquem dourados. Acrescente a cerveja e deixe reduzir 50% em fogo baixo. Coe e junte as sobrecoxas de frango seladas. Deixe cozinhar no molho por 10 min a 15 min para que fiquem cozidas e remova do molho. Coe novamente o molho e reduza, se necessário. Sirva as sobrecoxas fatiadas com o molho caramelo, flores e folhas.
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Risoto de Camarão Aromatizado com Cerveja Weiss e Gengibre 350 G DE ARROZ ARBÓREO 80 ML DE CERVEJA WEISS CALDO DE LEGUMES 50 G DE CEBOLA PICADINHA
Pudim Duo de Cervejas
SAL E PIMENTA-DO-REINO
395 G DE LEITE CONDENSADO
300 G DE CAMARÃO MÉDIO SEM CASCA
790 ML DE CERVEJA BELGIAN QUADRUPEL
80 G DE MANTEIGA
8 OVOS
10 G DE CEBOLINHA VERDE PICADA
30 G DE AMIDO DE MILHO
MODO DE FAZER: Coloque o camarão na cerveja e deixe marinar por 5 min. Escorra e refogue rapidamente com 20 g de manteiga e cebolinha verde. Reserve. Para o risoto, refogue a cebola em 30 g de manteiga e, após, junte o arroz. Deixe refogar até o arroz absorver a gordura. Acrescente a cerveja, mexendo até evaporar. Aos poucos, adicione o caldo, mexendo até chegar ao ponto desejado. Junte os camarões reservados. Misture e junte o restante da manteiga, mexendo rapidamente, para deixar o risoto cremoso. Sirva imediatamente, decorando com folhas verdes e flores.
CALDA 100 G DE AÇÚCAR CALDA DE STOUT 100 ML DE CERVEJA STOUT 200 G DE AÇÚCAR REFINADO MODO DE FAZER: Misture todos os ingredientes do pudim. Na forma própria para pudim, faça uma calda com 100 g de açúcar. Verta a mistura do pudim sobre a calda no fundo da forma. Leve ao forno preaquecido, a 180 graus, e asse, em banho-maria, por cerca de 45min. Deixe esfriar para desenformar. Para a calda de Stout, em uma panela, derreta o açúcar e deixe dourar. Junte a cerveja e mexa para que derreta e volte a formar uma calda. Derrame essa calda sobre o pudim depois de desenformado.
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Equilíbrio C H E R R I N E
C A R D O S O
#GRATIDÃO
Disseram que essa foi a palavra mais postada em 2017. Uma das # mais presentes em fotos e publicações, fosse em mídias sociais ou na “boca do povo”. Mas será que quem usa a palavra gratidão sabe realmente o sentido de ser grato? Agradecer com um obrigado (a) não é o mesmo que se sentir grato, abençoado, agraciado. Quando alguém diz obrigado, como a própria palavra já insinua, parece que quem fez algo a você não fez mais do que sua “obrigação”. Talvez daí tenha nascido o conceito de agradecer dizendo obrigado. Mas ser grato a alguma coisa, uma situação ou a alguém tem um peso diferente. Gratidão está vinculada diretamente a um sentimento mais nobre, de maior reconhecimento, de mais entrega emocional. Está ligada ao coração! Ser grato por abrir os olhos todos os dias ao acordar, sabendo-se saudável, com condições de realizar e contribuir consigo e com os outros. Se grato por ter onde morar, por fazer das dificuldades caminho para as grandes experiências da vida. Ser grato por ter como escolher o que quer comer na hora do almoço ou por ter pernas para caminhar até chegar aonde se quer chegar. Ser grato por ter apoio da família em qualquer que seja sua escolha ou ser respeitado independentemente de quem se é. Enfim, poderia escrever um texto inteiro só dizendo: sou grata por. O problema é que a palavra se tornou tão presente e tão repetitiva que receio ter perdido seu real sentido e sua verdadeira força. Há quem seja grato por receber um sorriso, uma vez que vive nas ruas apenas como um transeunte. Há quem seja grato por ser ouvido, quando o que menos se tem é atenção. Há quem seja grato por receber um copo de água, quando se tem sede. A dimensão da palavra pode ser medida de acordo com sua real necessidade. Ser grato é reconhecer que você agradece a tudo o que acontece em sua vida com real significado, que pode ser algo que você esperava ou não, mas igualmente você será grato por estar
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experienciando o que de mais importante você tem: a vida. Quando acordamos e agradecemos por estarmos vivos, o Universo inteiro conspira para que você viva o sentimento da gratidão de maneira ainda mais profunda. Aquele que reclama pouco ou nada está muito mais próximo do sentido da gratidão. Aquele que percebe que percalços na vida fazem parte de seu amadurecimento e crescimento individual está mais próximo do sentido da gratidão. Aquele que perdoa erros aparentemente imperdoáveis está mais próximo do sentido da gratidão. Aquele que ama sem julgamentos, sem queixas ou lamentações está mais próximo do sentido da gratidão. Entretanto, aquele que usa a #gratidão porque postou um pôr do sol, mas mal o sentiu porque o importante mesmo era tirar uma foto e publicar, não sabe o que é ser grato. Aquele que usa a #gratidão por ter recebido mais 100 seguidores no seu instagram, mas ignora as pessoas nas ruas, achando que o mundo virtual é mais importante que a vida real, não sabe o que é ser grato. Aquele que acha que dinheiro compra tudo e usa a #gratidão por ter condição para isso mas não ajuda o próximo não sabe o que é ser grato. E por aí vai... Fico feliz que mais pessoas estejam se atentando para o que é a gratidão e se esforçando para tornar esse sentimento algo nobre, puro e realmente com sentido. Mas avalie até que ponto você está exercendo o real significado de ser grato ou se está apenas querendo ser mais um na lista de fingimentos virtuais, quando no dia a dia mesmo, em atitudes e comportamento, ainda falta exercer na prática a força desse conceito! Fica a dica para reflexão. (CHERRINE CARDOSO É AUTORA DOS LIVROS A INCRÍVEL ARTE DE DESAPEGAR, LANÇADO EM 2016, E REINVENTE-SE: QUANTAS VIDAS SE VIVE EM UMA VIDA?, LANÇADO EM NOVEMBRO DE 2017. AMBOS PELA EDITORA VIDA & CONSCIÊNCIA E DISPONÍVEIS EM TODAS AS LIVRARIAS DO BRASIL)
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mulheres que amamos
MULHERES QUE SÃO GRANDES EXPOENTES EM SUAS PROFISSÕES. DUAS PESSOAS QUE FAZEM A DIFERENÇA NO MUNDO, SEJA COM A ARTE, SEJA COM A TÉCNICA, COM A SENSIBILIDADE, COM A CAPACIDADE DE TORNAR MELHOR A VIDA DE OUTRAS PESSOAS. ASSIM SÃO AS MULHERES QUE AMAMOS DESTA EDIÇÃO DA ESTILO ZAFFARI, DORIS HEXSEL E ANA BOTAFOGO. AMBAS DENOTAM PROFUNDO AMOR POR SUAS ATIVIDADES PROFISSIONAIS E, IMPULSIONADAS POR ESTE SENTIMENTO, OBTIVERAM SUCESSO, RECONHECIMENTO, APLAUSOS,
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SATISFAÇÃO PESSOAL. ELAS MERECEM.
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DORIS HEXSEL As escolhas ao longo da vida podem mesmo traduzir as pessoas. Algumas vezes esses marcos decisivos são tão nanometricamente certeiros que chegam a espantar. Isso bem a princípio, porque bastam poucos segundos para o espanto se perceber encanto. É o caso de Doris Hexsel, gaúcha de Passo Fundo cuja escolha pela medicina alçou seu nome para o mundo. Logo depois de formada pela Universidade de Passo Fundo (UPF), em 1980, ela teve a oportunidade de clinicar na vizinha Carazinho, onde foi a primeira dermatologista da cidade. “Fui muito bem recebida lá, fiz inúmeros amigos e tive milhares de pacientes. Tive consultório por cerca de 15 anos e também fui professora na UPF”, relembra Doris, que, após esse período, mudou-se simultaneamente para Porto Alegre e Rio de Janeiro, iniciando uma nova etapa. “Muitos pacientes choraram no meu consultório de Carazinho quando fui embora, um carinho e uma emoção que guardo na lembrança até hoje.” Especialista em Dermatologia há cerca de três décadas, tem uma trajetória dedicada à clínica médica e também fortemente à pesquisa, com estudos considerados divisores de águas no tratamento da celulite. De personalidade resolutiva, Doris é bem objetiva e diz que procura ir direto ao ponto, na solução. Somadas à determinação e ao imenso desejo de ajudar os pacientes, essas características a impulsionam ao pioneirismo em sua área. Ela desenvolveu, por exemplo, a técnica cirúrgica Subcision®, indicada para celulite de grau avançado, e demonstrou a persistência dos seus resultados. Também foi a primeira a realizar estudos no uso cosmético das toxinas botulínicas utilizando a eletromiografia. O método verifica os campos de efeitos musculares, tão essenciais nos resultados das aplicações. A contribuição de Doris para o meio científico internacional é muito significativa e merecidamente referendada. Entre os seus inúmeros destaques estão a condecoração concedida pela American Society of Dermatologic Surgery (ASDS), em outubro de 2017, quando foi palestrante de honra do congresso da entidade. “Eu fui a quinta dermatologista no mundo a receber esta premiação. Ela é dada a profissionais que fizeram a diferença no desenvolvimento da cirurgia dermatológica”, comenta a médica, que ocupa posições em importantes sociedades do segmento, para as quais foi eleita ou indicada.
Para citar apenas algumas, Doris é a atual vice-presidente da International Society for Dermatologic Surgery (ISDS), será a embaixadora brasileira do Congresso Mundial de Dermatologia – que acontecerá em junho de 2019, em Milão, Itália –; e está no comitê brasileiro que apresenta o Rio de Janeiro como cidade candidata ao Congresso Mundial de Dermatologia de 2023. “São posições que refletem um grande reconhecimento ao meu trabalho e a mim, profissionalmente, o que me deixa muito feliz”, comemora. Os desafios são grandes inspiradores da médica. Eles a instigam e a levam a descobrir soluções. E se no centro de pesquisa, entre equipamentos de última geração e os seus insights, ela encontra respostas, é no consultório, no contato com as pessoas, que compreende as suas razões para estar sempre aprendendo. Nas suas duas Clínicas Hexsel de Dermatologia, uma em Porto Alegre e outra no Rio de Janeiro, Doris vivencia isso todos os dias. “É um privilégio poder tratar gerações de pacientes, conhecendo-os e acompanhando o que se passa em suas vidas”, reconhece. “Atuo muito na área estética e me orgulho de ver pacientes que trato há mais de 20 anos envelhecerem tão bem e com naturalidade. Isso me motiva a continuar me dedicando a minha profissão, com ainda mais ânimo e empenho.” Para Doris, tudo isso significa algo precioso: uma escolha profissional certa. “Amo meu trabalho. Ele me proporciona o contato com indivíduos maravilhosos, diferentes, únicos”, emociona-se. “É muito bom poder ajudar, ouvir, aconselhar, cuidar de pessoas e ainda receber o seu carinho e a sua confiança. Foi isso mesmo que eu sonhei para mim.” E essa sua devoção ao ofício encontra energia em um estilo de vida que cada vez mais preza o equilíbrio. Então, sim, existe espaço para novos planos profissionais. Entretanto, há um projeto maior: poder dedicar mais tempo aos netos, que moram fora do Brasil. “Quero estar mais presente e vê-los crescer. Para isso, os meus pacientes precisarão entender as minhas ausências eventuais”, pondera. E como não compreender e incentivar mais uma escolha tão legítima? Fora o fato de que na volta da viagem da avó, a dermatologista chegará radiante e ainda mais fortalecida. Boas viagens, Doris! POR DÓRIS FIALCOFF, JORNALISTA
ANA BOTAFOGO
Sabe quando um nome, só ao ser pronunciado, remete a força, disciplina, precisão? E, como mágica, consegue transmutar esses e outros predicados em leveza, harmonia e beleza em grau quase etéreo? Então, agora iniciaremos juntos uma experiência assim: esta homenagem é para Ana Botafogo, uma das mais importantes bailarinas brasileiras e que acaba de completar 40 anos de carreira. Carioca da gema, ainda criança Ana descobriu-se encantada pelo dançar, mas de forma despretensiosa. Foi assim, como acontece com tantas meninas, que ela passou a estudar ballet. Inicialmente, eram aulas bacanas e divertidas. Em alguns anos, o aprendizado conquistou o status de foco principal em sua vida. Já adolescente, com a dança incorporada à rotina e um trabalho puxado na Academia de Ballet Leda Iuqui, a dedicada estudante tinha um sonho: entrar para o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Era, na verdade, algo que considerava praticamente impossível, pois sabia que o teste de admissão era muito difícil. Algumas alunas mais adiantadas da sua escola já tinham tentado, sem sucesso. Então, Ana decidiu que ainda não era a hora e continuou a sua formação. Logo em seguida, aos 17 anos, quando já estava na faculdade de Letras, surgiu a oportunidade de estudar Francês e “talvez” dança em Paris, onde foi morar com um tio diplomata. Entretanto, apenas dois meses e meio depois, passou em uma audição do Ballet de Marseille, do coreógrafo Roland Petit, e foi contratada. “Quando cheguei na companhia, já na primeira semana eu percebi: ‘essa é a vida que eu quero para mim’” , conta a bailarina, sinalizando o marco do início de sua carreira profissional. “Desde lá, 40 anos se passaram. E eu os vivi plenamente com a dança, através da dança e amando a dança.” No início da década de 1970 chegara o momento de voltar ao Brasil. Com a imensa bagagem trazida do ballet clássico europeu, o talento e o profissionalismo impecável que lhe é peculiar, Ana não demorou a se destacar e tornou-se Bailarina Principal do Balé Guaíra, de Curitiba, Paraná, e da Associação de Ballet do Rio de Janeiro. Na década seguinte, ela seguiu construindo uma belíssima e premiada carreira. E, enfim, em 1981, aquele sonho lá
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da adolescência mais que se realizou. Foi superado, fazendo até parecer um conto de fadas. Sim, Ana Botafogo ingressou no Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. E já como primeira-bailarina, posição que ocupa até hoje. Entre os tantos reconhecimentos pelo seu empenho no Ballet, em 2015, quando já tinha se despedido dos grandes clássicos, Ana foi convidada a assumir a Direção Artística. Com uma agenda apertadíssima, ela resistiu bastante, e só concordou em cumprir a missão ao lado da também primeira-bailarina Cecília Kerche. “A direção dupla nos deu possibilidade de também continuarmos com os compromissos artísticos. Nós precisávamos do apoio uma da outra”, avalia, mencionando o desafio diário da função, pois trata-se de uma companhia com mais de 100 bailarinos. “Mas é uma honra e uma responsabilidade muito importante, afinal, deixei de pensar apenas na minha carreira e passei a me preocupar com a vida artística de muitos bailarinos.” A beleza do trabalho de Ana vai muito além da perfeição dos seus lindos passos e movimentos escultores de coreografias. Ela acredita que arte deve ser para todos e, desde que começou a se apresentar, percebendo o ballet como elitista, sentiu necessidade de popularizá-lo. Sem demora partiu para a ação. “Creio que ao longo de todos esses anos eu contribuí bastante para isso. E o fiz de diversas maneiras, entre elas dançar ao ar livre, nas praças e praias do Rio de Janeiro, perto do povo”, relembra, ainda ressaltando que incentivou a valorização da cultura nacional nas trilhas dos espetáculos. “Eu quis ter coreografias criadas para mim com a nossa música popular brasileira. Acho que essa também foi uma forma de popularizar a dança.” Atualmente, a primeira-bailarina acrescentou mais uma maneira de contribuir para a disseminação da arte da dança. Compartilha os seus conhecimentos ministrando palestras, e não só para alunos de ballet. Fala também para diferentes grupos de pessoas que têm interesse em conhecer a vida da artista. Com tanta dedicação, o difícil é encontrar o ponto de equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. Ana conta que sempre fez o possível para isso, porém admite: “Muitas vezes eu estive 99% focada no profissional. Mas tudo em prol dos ensaios e de momentos sublimes,
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ANA SE PREOCUPA EM POPULARIZAR O BALLET NO BRASIL E EM COMPARTILHAR SEUS CONHECIMENTOS
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Educação em Dança, promovido pelo Estúdio de Dança Ângela Ferreira. As atividades acontecem no Teatro do CIEE (Rua Dom Pedro II, 861), a partir das 10h. E no dia seguinte estará também na comemoração de 25 anos do Studio Andança, de Andressa Ribeiro e Andrea Braga, onde apresentará dois solos, um deles criados especialmente para a data. O Rio Grande do Sul está em contagem regressiva. Mais uma vez receberá Ana Botafogo, para quem dança significa arte, trabalho, subsistência e, talvez, ar: “Eu me reinvento dentro da dança, com os seus inúmeros braços”. Então, querida primeira-bailarina, tenha certeza, você recebe sempre os nossos inúmeros (a)braços. Obrigada por dançar de uma maneira tão Ana Botafogo e nos fazer também sonhar. POR DÓRIS FIALCOFF, JORNALISTA
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muito maiores, que eram aqueles em que eu estava no palco”. E, emocionada, reconhece que só conseguiu fazer acontecer porque tem uma família maravilhosa ao seu lado, que sempre a apoiou e incentivou, sobretudo nos momentos de muitos ensaios, de imenso cansaço e dor, tanto física quanto emocional. As suas principais dores, sem dúvida, foram as perdas dos seus amores. Ana é viúva duas vezes, e ao mencionar os maridos, demonstra gratidão pelos grandes e generosos companheiros que foram e diz o quanto eles tornaram mais possível a sua desgastante rotina. E, claro, as suas lancinantes ausências só foram suportadas e assimiladas porque ela tinha a dança. Foi com as sapatilhas que a mulher também encontrou o equilíbrio da bailarina. Ana tem o carinho dos brasileiros de cada cantinho do País. E para alegria dos gaúchos, no dia 26 de maio ela estará em Porto Alegre para participar do projeto
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Palavra LU Í S
AU G U S TO
F I S C H E R
AS MAL TRAÇADAS
Nunca se escreveu nem se leu tanto na história da humanidade. Estou falando sério, zero ironia. Nunca antes se escreveu e se leu tanto. Um tipo como o senhor ou como a senhora faça um breve autoexame e me diga: vinte ou trinta anos atrás – não estou querendo ofender, naturalmente: se o ocupado leitor e a gentil leitora tiverem menos de 30, por favor transfiram a pergunta para alguém da geração anterior – um tipo como nós, gente de classe média mais ou menos confortável, podia passar semanas sem escrever uma frase, e lendo apenas umas poucas coisas. Hoje não. Hoje, a internet funcionando e o chamado smartphone (ou o tablet e o computador, mesma coisa) com bateria, qualquer um de nós lê e escreve dezenas, centenas, muito possivelmente milhares de palavras por semana. Sim, as ditas redes sociais fizeram isso conosco. Escrevemos e lemos muito mais, num volume e numa abrangência que simplesmente não têm comparação com qualquer outra época. A essa experiência massiva com palavras não corresponde imediatamente um aumento de experiência de leitura ou escrita de qualidade? Talvez não, mas mesmo aqui tenho dúvidas. Se fosse possível medir com total segurança quantidades de boa leitura em diferentes épocas, talvez nos surpreendêssemos com o tanto de leitura de qualidade agora. (Um caminho para essa conta seria verificar o número de edições de livros de boa qualidade nos diversos momentos, mas isso seria agora um índice problemático, dada a leitura em meio digital, que é incontável.) Algum saudosista poderá dizer que ah, antes é que era bom, porque se sabia escrever melhor. Pergunto eu: havia mesmo qualidade média alta, entre os textos escritos desse outro tempo? Ou é que havia apenas uns pouquíssimos que dominavam a escrita e figuravam no cenário como vozes quase únicas? Ocorre que muitíssimo mais gente escreve e lê hoje.
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Internet, telefones inteligentes, o oráculo google, tudo isso nos faz ler e escrever, mas tem a ver também o fato de que a escola no Brasil finalmente se tornou acessível a todos – com qualidade ainda precária, instalações carentes, professores mal remunerados e com formação frágil, mas acessível. Lembro de um amigo da família, motorista de táxi, com quem convivi na minha infância e adolescência, por relações sociais que hoje nem se imagina mais. Era uma figura muito querida, que me ensinou a dirigir, o Manuel. Era um trabalhador sério e competente, uma simpatia imensa, um coração de ouro; e era analfabeto. Saberia talvez assinar o nome, e seguramente sabia lidar com os números escritos; mas simplesmente não lia nada acima de uma e outra palavra, com extrema lentidão e ampla dificuldade. Como fazia para passar nos exames? Não faço ideia. Como se movimentava na cidade, que conhecia como se fosse o quintal de casa? Do mesmo modo que os analfabetos usavam e ainda usam: sabendo cores, distinguindo visualmente isso e aquilo, enfim, mantendo a inteligência alerta – inteligência existe antes das letras, é claro. Manuel era negro, tinha talvez dez ou quinze anos menos que minha avó materna, a vó Ziloca (Ribeiro de Moraes, de nascimento), nascida com o século 20. Ele nasceu e foi criado num circuito ainda patriarcal dos pais dessa minha avó, sendo ele neto (filho?) de gente escravizada que foi propriedade dos avós da minha avó. Os novos Manuéis sabem escrever, escrevem e leem muito mais do que nunca; eles informam, se informam, tomam a palavra – com todo o direito. E estão ajudando a renovar para muito melhor a vida brasileira como um todo. Como foi a Marielle. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR
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