CADERNO DE RESUMOS DE TRABALHOS INSCRITOS
ENTREMEIOS EM TEMPOS DE TURBULÊNCIA
Antropoceno. Para muitos é o nome dessa era em que crises de múltiplas dimensões se acumulam por conta da ação dos humanos no planeta. Apesar do significativo consenso em torno do termo e da catástrofe no horizonte, é possível traçar outros pontos-de-vista e arriscar outras parcerias. Bruno Latour propõe associações entre humanos e não humanos. Donna Haraway aposta em relações interespécies e tecnológicas. O mundo não acabou, muito pelo contrário, seguimos fazendo mundos com outros. Ou correspondendo a eles, nos termos de Tim Ingold. Essa perspectiva abre imensas oportunidades para as práticas criativas e projetuais. Projetos e processos com outros – designers e não designers, humanos e não humanos – são capazes de estimular uma responsabilidade entendida como uma habilidade de responder à crise. São práticas simpoiéticas, seja de correspondência nos termos de Ingold, drawing things together nos termos de Latour ou making string figures nos termos de Haraway, dentre outras. Como alternativa ao impasse em que nos coloca o antropoceno, poderíamos então ensaiar modos simbióticos de habitar o mundo? Com o objetivo de proporcionar diálogos entre indivíduos e coletivos de diferentes áreas do saber como design, arquitetura, artes, ciências humanas e sociais entre outras que tenham voltado seus esforços para processos e projetos que, diante dos desafios, se permitam permanecer com os problemas experimentando os impasses e incertezas ao invés de investir em resolvê-los de modo unívoco, o seminário ENTREMEIOS EM TEMPOS DE TURBULÊNCIAS abre chamada de trabalhos a serem apresentados e debatidos em dinâmicas coletivas, durante o encontro. Promovido pelo Laboratório de Design e Antropologia (LaDA), da Escola Superior de Desenho Industrial, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Esdi/UERJ), o seminário segue para a sua quarta edição, que ocorrerá entre os dias 30 de novembro e 02 de dezembro de 2017, no Centro Carioca de Design. Novamente se abrirá para trocas entre iniciativas localizadas no campo prático e/ou teórico em áreas diversas colocando em pauta pesquisas, processos criativos, práticas colaborativas e experimentações especulativas para seguir vivendo em tempo de turbulências...
SUMÁRIO
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CASA TINA MARTINS: FAZENDO DA TURBULÊNCIA UM CAMINHO // Jessica de Castro Santana
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MANIFESTO ‘POR UM DESIGN RELACIONAL’
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A EXPERIÊNCIA DA ALDEIA VERTICAL: OCUPAÇÃO E RESISTÊNCIA INDÍGENA
// Ana Julia Melo, Bruna Montuori, Viviane Nicoletti
// Ana Paula Silva, Sandra Benites e Leandro Guedes
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COMO VAMOS CIRCULAR?
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TINA MARTINS: DE OCUPAÇÃO A CASA DE REFERÊNCIA
// André Victor Alves Ramos
// Camila Bastos
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ENTRE CAMPOS E TURBULÊNCIAS: INSPIRANDO-SE EM DONNA HARAWAY PARA PROMOVER SAÚDE POR MEIO DO DESIGN // Camille Moraes
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RE-DISCUTIR OS CAMINHOS: O QUÊ FAZER ?
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O ESTADO DO RIO DE JANEIRO E AS CIDADES DAS MULHERES
// Carlos Azambuja
// Carolina Delgado
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O DIREITO DE PERTENCER ÀQUILO QUE NOS PERTENCE – O PAPEL DA CULTURA NA LUTA PELO DIREITO À CIDADE // Carolina Machado
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INVESTIGANDO AS CONDIÇÕES DO DIÁLOGO EM UMA CARTOGRAFIA PARCIAL DA RESISTÊNCIA DA VILA AUTÓDROMO // Cristina Ribas e Lucas Sargentelli
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VOZES DE MEDÉIA: ESTRATÉGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NO BRASIL // Denise Espírito Santo, Itala Isis, Ana Clara Souza, Giselle Magioli e Diana Fagundes
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DIÁLOGOS COM A TECNICIDADE: SOBRE USOS OUTROS DE OBJETOS // Diana Dias
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SEMENTES URBANAS: PROJETANDO ARTICULAÇÕES COMUNITÁRIAS E SOBERANIA ALIMENTAR NO COMPLEXO DA PENHA // Diego Costa e Pedro Biz
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DINÂMICA DE CRIAÇÃO E APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO: RESILIÊNCIA COMUNITÁRIA NA FAVELA RIO DAS PEDRAS, RIO DE JANEIRO // Erika Toledo
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ESTAMOS FUDIDOS - CONVERSAS SOBRE O CINEMA DO FIM DO MUNDO // Hernani Dimantas
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ESTAÇÃO BAIANA
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POLÍTICAS DEL AZÚCAR: DISOLUCIÓN Y SOBREVIDA
// Jonathan Nunes
// José G. Platzeck
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BATALHAS DE ROBÔS NA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA // Kenzo Soares Seto
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ONDE QUERES DUBAI SOU PERNAMBUCO": A BATALHA PELO ESTELITA, O CORPO FÍSICO E A RESISTÊNCIA NA RESSIGNIFICAÇÃO DO CAIS JOSÉ ESTELITA // Luana Bulcão
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ANTROPOGRAFIA (RIO DE JANEIRO, TURBULÊNCIA, 01/12/17) - INSTALAÇÃO // Pablo Pablo, Rafael Galo e Jefferson Arcanjo
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PORTO DO RIO ATRAVÉS DA IMAGEM: PARTILHA ENTRE MEMÓRIA E REVITALIZAÇÃO // Philippe Leon Anastassakis
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METAMORFOSE E REINVENÇÃO DO ARMAZÉM CULTURAL DAS ARTES // Simone Melo e Emily Pirmez
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O ANO NOVO VEIO PARA FICAR
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ZONZO: INVESTIGADORES URBANOS
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NO PONTO! CULINÁRIA AFETIVA DE HONÓRIO GURGEL
// Raphael Soifer
// Tatiana Podlubny e Julia Sant'Anna
// Victor Hugo Rodrigues
CASA TINA MARTINS: FAZENDO DA TURBULÊNCIA UM CAMINHO // Jessica de Castro Santana
Palavras-chave: Tina Martins; casa de referência; mulheres; segurança; espaço público; violência doméstica
Por meio do ponto de partida do tema ‘’Tempos de Turbulência’’, o trabalho diário de extensão real sobre a Casa de Referência da Mulher Tina Martins se enquadra enquanto uma intervenção e prática que resiste, sendo um elemento de total rebeldia e afronta a todas as turbulências existentes em nosso sistema capitalista e patriarcal e sendo uma resposta a ele. O espaço originário de um ocupação de nome homônimo (Ocupação Tina Martins), que foi realizada no dia 08 de Março de 2016 reivindicando mais políticas públicas voltadas às mulheres, mais creches, mais casas abrigo e mais delegacias especializadas 24 horas, resistiu por 87 dias neste formato, tendo sido transferido de local no 03 de Junho de 2016, se integrando à Rede Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher em Minas Gerais e consolidando o trabalho já executado. A turbulência vivenciada pela Casa Tina Martins é encontrada em diversos âmbitos: em uma escala macro, de dar a cara a tapa diariamente contra todas as opressões machistas, misóginas e racistas que, nós, mulheres, sofremos, visando transformar o sistema em que vivemos, de maneira que este deixe de nos olhar enquanto objetos, mas, sim, como seres humanos que somos. Além disso, o espaço se apresenta enquanto uma força contra os retrocessos na esfera política do país que
ao mesmo tempo que atingem todos os cidadãos trabalhadores, afetam duplamente o sexo feminino. Em esfera micro, a Casa nos ensina como lidar com a intolerância ao diferente, uma vez que está localizada em uma região valorizada de Belo Horizonte que, por vezes não a recebe bem, além de tentar contornar situações de conflitos internos, entre as usuárias do espaço, que são nada mais do que reflexos das relações individualistas que aprendemos socialmente, entre outros. Tal espaço é atualmente gestionado pelo Movimento de Mulheres Olga Benario, o qual também foi o propulsor da ocupação. Tendo as inscritas no Seminário como coordenadoras da Casa e também estudante e graduada de Arquitetura e Urbanismo pela UFMG, há o melhor exemplo de como a prática pode expandir muito além de ações pontuais diretamente ligadas à academia, mas a partir de uma possibilidade de consciência também adquirida dentro desses meios, as pessoas vão muito além das barreiras segregadoras das universidades. Tal experiência demonstra como devemos pensar em novas possibilidades de agir e reagir aos retrocessos que nos são impostos; e como bem dizia Chico Science, nos desorganizando podemos nos organizar. Assim, descentralizando ações, fazendo mais práticas que demonstrem a ânsia das mulheres em estarem nos espaços públicos e em qualquer outro com segurança e respeito, seguimos penetrando no sistema e agindo para uma sociedade mais justa e equitária.
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MANIFESTO ‘POR UM DESIGN RELACIONAL’ // Ana Julia Melo, Bruna Montuori, Viviane Nicoletti
Palavras-chave: Design, Codesign, Colaboração, Autonomia
Organizado por pesquisadoras do grupo de estudos ‘Por um design relacional’, este trabalho parte de considerações levantadas em três pesquisas da pós-graduação da FAU-USP que focam em relações participativas entre designers e atores sociais populares, como artesãs, ativistas, mediadores, entre outros agentes. Após uma série de experiências em campo e buscas por práticas no design que não ambicionam chegar a um resultado concreto, mas sim dispostas a estabelecer processos e a construir práticas que se mantenham vivas nas mãos das pessoas (Ingold; Gatt in Gunn; Donovan, 2013), este manifesto traz pontos norteadores que visam a uma abordagem relacional para o campo. Para nós, a noção de relacional se estrutura por meio de certos conceitos e autores: a cooperação (Sennett, 2013), a correspondência (Ingold, 2016), o reconhecimento da igualdade de inteligências presente nas produções humanas (Ranciére, 2002), a relação de trocas sociais (Mauss, 2017), a equivalência entre culturas (Wagner, 2010), a reciprocidade (Bourriaud, 1998) e a autonomia (Freire, 1996; Escobar, 2016). Tais conceitos dão suporte para um caminho de se fazer e pensar o design que reconheça as desigualdades sociais existentes, mas que não as traduzam como abismos entre os conhecimentos, evitando perspectivas assistencialistas em processos colaborativos. Por este
raciocínio, apoia-se na pergunta feita pelo designer Cameron Tonkinwise: “como as práticas de design podem adotar o pluralismo ao reconhecer, na manifestação do próprio design, a diversidade biológica e cultural?" (Tonkinwise, 2015, tradução nossa). Acredita-se que os processos colaborativos desenvolvidos no design devam construir uma “educação para atenção” (Ingold, 2001) e uma perspectiva situacional, além de um olhar contextual amplo (Tonkinwise, 2015). Neste sentido, gostaríamos de apresentar no Seminário Entremeios o processo de construção do relacional e indagar, por meio do termo, como as práticas de design poderiam estabelecer espaços de trocas mútuas, reconhecendo o ponto em que cada fazedor se encontra. Além disso, situaremos e debateremos o termo em relação às abordagens participativas como design anthropology, design participativo e codesign. Ao final, os caminhos elucidados serão apresentados por um manifesto com pontos norteadores para a discussão de práticas relacionais no design.
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A EXPERIÊNCIA DA ALDEIA VERTICAL: OCUPAÇÃO E RESISTÊNCIA INDÍGENA // Ana Paula Silva, Sandra Benites e Leandro Guedes
Palavras-chave: Movimento indígena; índios na cidade; aldeia vertical; resistência
A marcante presença de indígenas vivendo em centros urbanos das principais capitais brasileiras (não somente) tem chamado à atenção de diferentes pesquisadores. Para a maioria desses estudiosos, trata-se de um fenômeno atual, todavia recentes pesquisas têm evidenciado que essa realidade não é contemporânea (SILVA, 2106), como afirmam variados estudos. Sabe-se que existe uma vasta documentação histórica, espalhadas em inúmeros acervos de arquivos brasileiros e internacionais, que documentam a presença indígena nas cidades durante o período colonial e pós-colonial. No século XIX, por exemplo, encontramos índios trabalhando nas obras públicas de pavimentação do Rio de Janeiro, na pesca de baleia, comércio, nas forças armadas – Guarda Nacional, Armada, Exército, Arsenal da Marinha – nas quais eram recrutados à força (inclusive crianças) e onde eram obrigados a prestar serviço como remeiros do Serviço da Galeota Real, marinheiros, cabotagem, entre outros. Viviam nos subúrbios da cidade, em cortiços, prisões, ruas e tavernas, vagando pelas redondezas de bairros como Candelária e Santa Rita (BESSA FREIRE e MALHEIROS, 2009), sofrendo violências e abusos de todo tipo. Nesse sentido a cidade do Rio de Janeiro pode ser entendida como uma “zona de contato” (PRATT, 1999), cujo uso se refere ao espaço de
encontros coloniais, no qual as pessoas geográfica e historicamente separadas se encontram, estabelecem relações (na maioria dos casos, assimétricas) de embates e choques. Na cidade, os índios dialogaram, se apropriaram, protagonizaram suas histórias, apesar do quadro de hostilidade, das péssimas condições de vida, das tentativas de destituir suas identidades (SILVA, 2016). Realidades que persiste até os dias atuais, tendo em vista a forte presença indígena na capital fluminense e as tensas relações por ali vivenciadas cotidianamente. O caso da chamada Aldeia Maracanã, nesse sentido é bastante emblemático. Trata-se de um movimento de resistência indígena, em prol do antigo prédio do Museu do Índio – local de grande importância de memória para os indígenas – nos anos de 2012 e 2013, contra a demolição do prédio, talvez tenha sido um dos principais movimentos de resistência de indígenas em contexto urbano do país. Expulsos do prédio de maneira violenta, foram agrupados de maneira insalubre no leprosário Curupaiti e após inúmeras negociações e reivindicações junto ao governo estadual, foram alocados no atual endereço, em um bloco do “Minha Casa, Minha Vida”, programa do governo federal em parceria com o governo estadual de moradias populares no bairro do Estácio. Lá vivem atualmente, aproximadamente 17 etnias diferentes, no movimento que se autodenomina Associação Indígena Aldeia Maracanã – AIAM. Esta moradia em estilo condominial coloca os indígenas em conflito com suas próprias noções de territorialidade e a dificuldade encontrada no espaço de reproduzirem seus modos tradicionais de vida. A presente apresentação tem como objetivo debater a experiência de resistência na ocupação indígena do grupo da AIAM na chamada “Aldeia Vertical”, esta aldeia multiétnica incrustada na cidade e os planos futuros de ocupação do Museu do Índio, assim como suas relações com o prédio histórico do museu fundado por Darcy Ribeiro.
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COMO VAMOS CIRCULAR? // André Victor Alves Ramos
Palavras-chave: Produção editorial, independente, autonomia, autoria, leitura
Frente o empobrecimento de nossas vidas pelas políticas neoliberais, pelo excesso de informação, a hegemonia de pensamentos e discursos contrários a diversidade, interessa a pesquisa investigar interstícios para uma produção inter(in)dependente de um designer-artista, onde o sujeito produtor é autor-leitor e, por isso, lugar de escoamento de multiplicidades. Entendendo o designer não apenas como aquele que resolve problemas, mas também como gerador de questões, indagações, reflexões que têm o coletivo como lugar de atuação. Sob a perspectiva da arte-vida, nossos corpos são lugares da publicação, então, como documentar, traduzir isto ao meio editorial, construir pontes e imaginar outros lugares de distribuição e circulação frente às ruínas? Como ponto de partida, questiona-se aquilo que é hegemônico no meio editorial, bem como o que é tido como independente. Quais as fronteiras desta independência e qual a pertinência do uso desta palavra para uma produção que está sempre dependente, seja de meios de produção, de financiamento ou mesmo de um público. Propõe-se uma perspectiva da ordem da autonomia para cartografia da produção editorial nos dias de hoje, enxergando singularidades e possíveis formas de transito destes trabalhos, entre o concreto quais são os lugares que já os abrigam? Quais suas
características? - e o especulativo - posta as dificuldades e peculiaridades destes lugares, quais outros podemos imaginar? É realmente necessário um lugar, seria o trânsito rizomático uma alternativa? Pois se os tempos de turbulência nos colocam o empreendedorismo como última alternativa, seria possível buscar em outras cosmologias modos de circulação de um discurso? Tendo em mente estas questões, investigar um fazer editorial outro que tem nossas vidas como geradoras de questões e o público-publicável como condição de existência de trabalhos.
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TINA MARTINS: DE OCUPAÇÃO A CASA DE REFERÊNCIA // Camila Bastos
Palavras-chave: Ocupação; Casa de Referência; Violência contra a mulher; Resistência
Em meio a paredes e janelas de um empoeirado prédio da rua Guaicurus, nascia em 8 de março de 2016, a Ocupação Tina Martins. Ocupando um edifício vazio, as meninas-mulheres do Movimento de Mulheres Olga Benário e o MLB - Movimento de Luta nos bairros vilas e favelas, dão e vida aquela rua tão marcada pelo descaso histórico de Belo Horizonte. Buscando colocar em pauta a questão da violência contra a mulher, surgia despretensiosamente, a primeira ocupação autogestionada por mulheres da América Latina. Além disso, buscava-se pressionar para a criação de vagas nos abrigos, creches públicas e delegacias 24 horas para mulheres. Todas essas questões estão nas diretrizes da Lei Maria da Penha,que dentre os eixos principais têm a implementação da Casa da Mulher Brasileira. Em Belo Horizonte, a construção da Casa da Mulher Brasileira foi anunciada em 2015, em um terreno localizado no Centro. Atualmente a área encontra-se ocupada como estacionamento do Batalhão de Táticas Metropolitanas da Polícia Militar em função de acordos não esclarecidos entre a Prefeitura e o Estado. Com as reivindicações do Olga, o Governo Estadual alegou que as instalações deste espaço estariam sendo tramitadas e que nossas pautas seriam sanadas. Nosso contra argumento de que não havia nenhuma comprovação das obras ou da verba
foi respondido com a promessa da licitação das obras para agosto de 2016 e início das obras em 2017 (nada aconteceu até hoje). A questão é que a cidade ficaria pelo menos mais 2 anos sem esse espaço e, com o passar dos dias na ocupação, compreendemos que ainda assim, não seria suficiente. Não seria suficiente porque o tratamento do Estado é homogeneizado, aplicando tratamentos normatizados. Não seria suficiente porque as mulheres trans enfrentam preconceitos e subjugações por parte de funcionários não preparados para lidar com a questão de gênero. Não seria suficiente porque Minas Gerais possui 853 municípios, 300 demandas diárias por abrigo, e apenas 13 casas de acolhidas no estado inteiro. A Tina Martins é a decisão de assumir uma postura diante do saber construído nos 87 dias de (r)existência naquele prédio. Após um mar turbulento de negociatas com o Governo do Estado e a União, crescemos, evoluímos e agora somos a Casa de Referência da Mulher Tina Martins. Saímos com a garantia de prestações de nossos serviços em um novo imóvel, localizado na Rua Paraíba, Funcionários. Quando compreendemos que pressionar seria pouco, nos debruçamos sobre o que gostaríamos que a Tina se tornasse. Quanto mais compreendíamos o tamanho da causa, maior era a responsabilidade acerca de nossa efetivação. O desenrolar da luta para Casa de Referência é um processo de aprendizado que ainda estamos vivenciando e talvez por isso seja tão difícil refletir sobre tudo. Vemos a Tina como uma alternativa, que parte da escala do corpo, tanto das ocupantes quanto das mantenedoras da Casa, resultando numa luminescência em meio ao cenário que vivemos. A Casa de Referência da Mulher Tina Martins é a materialização do saber do nosso dia a dia. De mulheres cuidando de mulheres.
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ENTRE CAMPOS E TURBULÊNCIAS: INSPIRANDO-SE EM DONNA HARAWAY PARA PROMOVER SAÚDE POR MEIO DO DESIGN // Camille Moraes
Palavras-chave: Codesign. Saúde. Comunicação. Participação. Fazer com
Neste trabalho apresento uma reflexão sobre a prática do codesign em tempos turbulentos como ferramenta de importante contribuição para as questões do campo da Saúde, tendo como inspiração alguns conceitos de Donna Haraway. Desse modo, o termo “Design Simpoiético” é apresentado como alternativa para pensar projetos e metodologias, buscando ir além dos problemas “clássicos” de design, porque o que pode parecer é que nós, designers, acabamos ficando restritos às demandas mercadológicas. O campo da saúde é o foco da experimentação simpoiética no design por ser composto por um emaranhado de complexidades, no qual a palavra “participação” aparece como característica bastante emblemática, principalmente pelo sistema de saúde brasileiro ser universal. Uma das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) é a participação popular e, ao olharmos para as campanhas de saúde, temos a possibilidade de verificar que a maioria delas necessita do estímulo ao desenvolvimento de uma consciência colaborativa, a qual poderia ser melhor estimulada através de um maior envolvimento da população, resultando no desejo de participação e o engajamento mais efetivos. Assim, “participar” torna-se palavra-chave, ou melhor, verbo-chave quando se trata de práticas relacionadas à saúde. Nesse sentido, tanto o
transitar entre os campos do Design e da Saúde, quanto entre os atores, instituição federal e comunidade, são possibilidades de experimentação do “fazer com”, embasado pela simpoiésis, nos indicando um possível caminho de atuação para a resistência na turbulência atual em que habitamos.
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RE-DISCUTIR OS CAMINHOS: O QUÊ FAZER ? // Carlos Azambuja
Palavras-chave: ação política, mobilização
O objetivo desta proposta é de colocar em discussão a invenção de possíveis formas alternativas de luta política, que, por pressuposto, seriam mais adequadas ao momento político atual. A apresentação inicial deve contemplar a análise de algumas ações concretas e o aferimento de sua possível eficácia, como o recente “Abraço à UERJ”, algumas greves de categorias e manifestações de rua, como as que vem ocorrendo desde de 2013. Não há propriamente uma proposta pronta para este painel que não seja o próprio debate da questão.
O ESTADO DO RIO DE JANEIRO E AS CIDADES DAS MULHERES // Carolina Delgado
Palavras-chave: cidade, antropologia, feminino, economia criativa, redes de colaboração, antropologia urbana
Partindo da hipótese que, atualmente, noeconomia estado do Palavras-chave: cidade,de antropologia, feminino, Rio de Janeiro, as iniciativas mais relevantes no que diz criativa, redes de colaboração, antropologia urbana respeito à inovação social e tecnologias sociais disruptivas vem de iniciativas lideradas por mulheres, fomos para campo investigar porque as no narrativas Partindo da ohipótese de que, atualmente, estado do dominantes ainda privilegiam atores sociais Rio de Janeiro, as iniciativas mais relevantesdentro no quede diz uma hierarquia de gênero e raça. Redução das respeito à inovação social e tecnologias sociais desigualdades, maker,lideradas cidades para pessoas, disruptivas vemcultura de iniciativas por mulheres, design, educação, política, igualdade racial, fomos para o campo investigar porque as narrativas maternagem, violência, data, tecnologia, produção dominantes ainda privilegiam atores sociais dentro de cultural, ocupação urbana, consumo sustentável uma hierarquia de gênero e raça. Redução das e audiovisual, academia. em outros desigualdades, cultura Nestes maker, ecidades paracampos pessoas, observamos o protagonismo das redes formadas por design, educação, política, igualdade racial, mulheres em diversos municípios do Rio de Janeiro, maternagem, violência, data, tecnologia, produção apesar dados paralelos que também apontame para cultural,dos ocupação urbana, consumo sustentável invisibilização, mansplaning, remuneração audiovisual, academia. Nestes e em outros desigual campos e dificuldade de garantir recursos, racismo institucional observamos o protagonismo das redes formadas por e outras violências simbólicas que habitam o cotidiano mulheres em diversos municípios do Rio de Janeiro, dessas redes. Na análise do discurso dessas mulheres apesar dos dados paralelos que também apontam para em movimento descobrimos ferramentas que invisibilização, mansplaning, remuneração desigual e tangibilizam a garantir criação de noções de tempo-espaço dificuldade de recursos, racismo institucional e simultâneas e convergentes dentro da mesma rede // outras violências simbólicas que habitam o cotidiano projeto: 1. Tempo-Espaço da ativação da rede: dessas redes. Na análise do discurso dessas mulheres mapeamento dodescobrimos campo, análise de cenário, procura por em movimento ferramentas que parcerias que permitam a existência e o campo de tangibilizam a criação de noções de tempo-espaço simultâneas e convergentes dentro da mesma rede // projeto: 1. Tempo-Espaço da ativação da rede: mapeamento do campo, análise de cenário, procura por
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experimentação e prototipagem da iniciativa; 2. Tempo-Espaço da construção e fomentação da rede: garantir a alimentação da rede, não só com a produção de novos dados, mas também com pesquisa, novos diálogos com atores externos, desenho de estratégias, e prototipagem da iniciativa; 2. experimentação convite a novos da membros; 3. Tempo-Espaço de rede: diálogo e Tempo-Espaço construção e fomentação da disputa com as narrativas dominantes: entrar no espaço garantir a alimentação da rede, não só com a produção de requer umtambém esforço sólido na construção de disputa novos dados, mas com pesquisa, novos de metodologias e linguagens quedesenho fluam por diálogos com atores externos, dediferentes estratégias, áreas, a disputa por 3. recursos finaceiros a convitedesde a novos membros; Tempo-Espaço deaté diálogo e visibilização Além disso, essas mulheres disputa com igualitária. as narrativas dominantes: entrar no espaço trazem umrequer outro aprendizado para sobrevivência dede de disputa um esforço sólido na construção narrativas socioculturais em tempos metodologias e linguagens que fluamfragmentados: por diferentes é preciso organizar-se prevendo a mobilidade possível áreas, desde a disputa por recursos finaceiros até a e a mobilidade Entender-se “em construção”, em visibilizaçãoideal. igualitária. Além disso, essas mulheres constante e dispostas criar novas costuras trazem ummovimento outro aprendizado paraa sobrevivência de que desafiem os mapas (de a continentes)é narrativas socioculturais emmunicípios tempos fragmentados: convencionais é o queprevendo mantém aessas iniciativas preciso organizar-se mobilidade possível e a pulsantes ativasEntender-se para os tempos amanhã. em mobilidadee ideal. “emdo construção”, constante movimento e dispostas a criar novas costuras que desafiem os mapas (de municípios a continentes) convencionais é o que mantém essas iniciativas pulsantes e ativas para os tempos do amanhã.
O DIREITO DE PERTENCER ÀQUILO QUE NOS PERTENCE – O PAPEL DA CULTURA NA LUTA PELO DIREITO À CIDADE // Carolina Machado
Palavras-chave: Direito à cidade; Ações coletivas; Espaço público; Cultura; Território; Democracia; Cidadania
Este estudo tem como objetivos apresentar de que maneiras determinados grupos estão se apropriando de espaços públicos através da cultura e demonstrar como essas ações representam novas formas de se reivindicar o direito à cidade. Diante das mais diversas demonstrações de descaso de todas as esferas governamentais perante as necessidades e reivindicações da população, é possível observar a atuação de indivíduos que romperam com a resignação e a passividade ante aos problemas que os afligem cotidianamente e estão se mobilizando para transformar a vida urbana de seus territórios, ao invés de esperarem por soluções que venham de “cima”. Mais do que um direito à dimensão material da cidade, trata-se de reivindicar o direito de ser protagonista de decisões sobre como ela deve se configurar para garantir uma vida decente para todos. Desta forma, ao traçar uma relação entre as ações desses grupos e o tema do direito à cidade, busca-se também contribuir para um debate mais amplo sobre democracia e cidadania, defendendo a noção da centralidade da cultura para propor novos caminhos. Para tanto, inicialmente, foram analisados quais são os impasses para a consolidação da democracia no Brasil. Ao se compreender que os problemas enfrentados atualmente são também fruto de
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uma formação deficiente da ideia de cidadania no país e, consequentemente, de uma sociedade civil pouco atuante, defende-se a necessidade de se recuperar a figura do cidadão. Como caminho possível para esta recuperação, é proposto a valorização de dois componentes: a cultura e o território. Em seguida, é abordado o tema do direito à cidade e quais são as disputas neste sentido na cidade do Rio de Janeiro. Foram estudadas questões relativas à influência do esvaziamento do espaço público como agravador de uma sociedade civil pouco atuante e analisadas como as formulações das políticas culturais do país também contribuíram para reforçar um modelo de urbanização excludente e segregacionista das cidades brasileiras. A fim de verificar os conceitos e reflexões levantados, duas ações culturais no Rio são apresentadas: o projeto Ágoras Cariocas, realizado pelo Norte Comum em parceria com o professor e historiador Luiz Antônio Simas, e a Feira Tend’Oyá, realizada por um grupo de moradores e empreendedores da região portuária. A partir da análise das queixas e exigências que motivam essas ações, é possível afirmar que estas são ações políticas e demonstrar o potencial da participação cidadã em experiências como essas para reformulação de uma nova vida na cidade. Conclui-se que é cada vez mais imperativo deixar de ter uma postura passiva diante dos problemas enfrentados pela sociedade e necessário agir para solucionar questões no nível local, pois é nessa esfera que as mudanças podem ser mais relevantes para a vida da maioria das pessoas. Fica, por fim, um convite para que cada um de nós conheça mais a sua cidade e busque maneiras práticas de exercer plenamente sua cidadania.
INVESTIGANDO AS CONDIÇÕES DO DIÁLOGO EM UMA CARTOGRAFIA PARCIAL DA RESISTÊNCIA DA VILA AUTÓDROMO // Cristina Ribas e Lucas Sargentelli
Palavras-chave: cartografia militante, cartografia parcial, Vila Autódromo, resistência contra as remoções no Rio de Janeiro olímpico
O glossário ‘Vocabulários em movimento / vidas em resistência’ foi produzido entre os meses de junho e setembro de 2017. Teve o intuito de estabelecer Palavras-chave: cartografia cartografia parcial, Vila condições de diálogo commilitante, moradores da Vila Autódromo Autódromo, resistência contra as remoções no Rio de modo a produzir uma cartografia parcial dede Janeiro olímpico singularidades da resistência local contra a remoção no período de 2014-2016. A cartografia teve como formato uma publicação impressa, também disponível para O glossárioO‘Vocabulários em movimento / vidas em download. glossário foi produzido a partir de conversas resistência’ foi produzido entre os meses de junho com moradores da Vila Autódromo, visitas à Vila e e setembrode dediversos 2017. Teve o intuitosobre de estabelecer pesquisa materiais a resistência à condições de diálogo com moradores da Vila Autódromo remoção. Com esta cartografia nos perguntamos de modo quais a produzir uma cartografia parcialafetivas de também são as atuais necessidades e singularidades da resistência local contra a remoção no materiais para dar continuidade à luta e de que maneira período de 2014-2016. A cartografia teve como formato a resistência da Vila Autódromo ensina para outras lutas uma publicação também disponível na cidade do Rioimpressa, de Janeiro, ao mesmo tempo para em que download. O glossário foi produzido a partir conversas confronta modos de vida e reprodução socialde mais com moradores da Vila Autódromo, visitas à Vila e alinhadas ao neoliberalismo. pesquisa de diversos materiais sobre a resistência à Nos encontros Vila Autódromo o remoção. Com na esta cartografia nospercebemos perguntamos protagonismo das mulheres na resistência, já também quais são as atuais necessidades afetivas e documentado visibilizado em várias e materiais paraedar continuidade à lutapesquisas e de que maneira artigos, assim como mapeamos outras, tal como aslutas a resistência da Vila Autódromo ensina para outras diversas redes de cuidado e a criação e manutenção de na cidade do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que uma infraestrutura para garantir condições de confronta modos de vida e reprodução social mais alinhadas ao neoliberalismo. Nos encontros na Vila Autódromo percebemos o
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manutenção da vida na comunidade. Constatamos elementos, modos e políticas que defendem a produção de uma relação autêntica com o território e da vida em comunidade. Tais como a produção cultural, que tem sido uma ferramenta de luta que alavanca outras sensibilidades e desejos. O Museu das Remoções é uma das expressões mais atuais disso. em dois Gostaríamos de vida enfocar nessa apresentação manutenção da na comunidade. Constatamos termos do glossário, que são também nosso método de elementos, modos e políticas que defendem a produção pesquisa: Cartografia parcial e Condições de diálogo, de uma relação autêntica com o território e da vida emde maneira a dividir o processo abrirtem comunidade. Taisdúvidas como a sobre produção cultural,e que perguntas que podem ser compartilhadas com outros sido uma ferramenta de luta que alavanca outras processos similares. sensibilidades e desejos. O Museu das Remoções é uma Chamamos de cartografia das expressões mais atuaisparcial disso.as conversas e a pesquisa que empreendemos. parcial apresentação emporque dois Gostaríamos de enfocar nessa Dizemos totalizar as experiências, essa cartografia não pretende termos do glossário, que são também nosso método de as memórias, a história e o porvir da Vila. Parcial porque pesquisa: Cartografia parcial e Condições de diálogo, de se complementa com as outras cartografias, pesquisas, maneira a dividir dúvidas sobre o processo e abrir filmes, manifestações e ações de cuidado nessa luta pela perguntas que podem ser compartilhadas com outros produção de um modo singular de viver. processos similares. Para tal, sentamos numa sala do Museu das Remoções. Chamamos de cartografia parcial as conversas ea Convidamos alguns moradores para compartilharem pesquisa que empreendemos. Dizemos parcial porqueum som, cartografia um objeto enão trêspretende palavrastotalizar que nosas ajudassem a experiências, essa conhecê-los bem como a sua relação com a Vila as memórias, a história e o porvir da Vila. Parcial porque Autódromo. Queríamos condições de diálogo e de se complementa com ascriar outras cartografias, pesquisas, aproximação para começar a mapear a partir de uma filmes, manifestações e ações de cuidado nessa luta pela perspectiva íntima, mais próxima produção demais um modo singular de viver.dos moradores. Conversas se desenrolaram por caminhos diversos, Para tal, sentamos numa sala do Museu das Remoções. conversas que re/encontravam temas, memórias, Convidamos alguns moradores para compartilharem um espaços, fatos. som, um objeto e três palavras que nos ajudassem a Criar condições diálogo, por sua vez, refere-se conhecê-los bemdecomo a sua relação com a Vila a um desejo de se aproximar dos modos de vida e modose de Autódromo. Queríamos criar condições de diálogo de lutar da Vila. Quisemos abrir um espaço para aproximação para começar a mapear a partir uma de uma escuta: em primeiro lugarmais umapróxima escuta que perspectiva mais íntima, dos abre moradores. intimidade. Escuta se articula com diálogo. A partir Conversas se desenrolaram por caminhos diversos, conversas que re/encontravam temas, memórias, espaços, fatos. Criar condições de diálogo, por sua vez, refere-se a um desejo de se aproximar dos modos de vida e modos de lutar da Vila. Quisemos abrir um espaço para uma escuta: em primeiro lugar uma escuta que abre intimidade. Escuta se articula com diálogo. A partir
dessa escuta e diálogo, algumas perguntas: Como nós lidamos com essa intimidade que se abriu? Como ela assume modos expressivos? Como as vozes se tornam matéria para esse glossário? Como as vozes dos moradores são faladas agora a partir dos nossos corpos? Como o glossário segue mobilizando vocabulários em luta? dessa escuta e diálogo, algumas perguntas: Como nós lidamos com essa intimidade que se abriu? Como ela assume modos expressivos? Como as vozes se tornam matéria para esse glossário? Como as vozes dos moradores são faladas agora a partir dos nossos corpos? Como o glossário segue mobilizando vocabulários em luta?
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VOZES DE MEDÉIA: ESTRATÉGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NO BRASIL // Denise Espírito Santo, Itala Isis, Ana Clara Souza, Giselle Magioli e Diana Fagundes Palavras-chave: Medéia, vozes, ativismo, violência, doméstica, feminicídio
O presente artigo apresenta o percurso da equipe do projeto de extensão Palco em Debate e de sua principal ação de trabalho, o projeto Zonas de Contato, do Instituto de Artes da UERJ, em busca de pistas que indiquem possíveis interseções entre o mito de Medéia e a violência de gênero no Brasil e na América Latina. Entre releituras do próprio mito de Medéia a partir do cinema, da dança e do teatro, buscamos com essa pesquisa uma sintonia com o debate sobre o feminicídio e as pesquisas históricas sobre a mulher negra escravizada no Brasil. Ao buscarmos uma interface entre os campos da criação artística, do ativismo social e movimentos focados nas demandas da mulher, nos deparamos com gritos de Medéias urbanas, resistentes e insistentes em se fazer existir no chão da cidade.
DIÁLOGOS COM A TECNICIDADE: SOBRE USOS OUTROS DE OBJETOS // Diana Dias
Palavras-chave: objeto técnico, tecnicidade, heterotopia, cartografia, cotidiano
O trabalho em questão problematiza a noção utilitária do uso para propor usos outros como espaços potencialmente heterotópicos que desequilibram, e encontram desvios a costumes e controles cotidianos. Tendo a cartografia de Gilles Deleuze e Félix Guattari como princípio metodológico, o trabalho teórico prático se ergue da busca por uma relação outra com objetos técnicos, bem como uma poética própria efeito desta relação. Assim, as heterotopias de Michel Foucault; os objetos técnicos e a tecnicidade de Gilbert Simondon; e a perspectiva inventiva do cotidiano de Michel de Certeau são conceitos intercessores. O intuito é, então, olhar de forma despudorada para batedeiras, liquidificadores, secadores de cabelo, chaleiras elétricas e torradeiras para encontrar brechas e repensar seus usos na busca por heterotopias. Esta investigação se dá a partir dos locais que os objetos técnicos habitam. Visto que deslocá-los de seu cotidiano e reposicioná-los num espaço institucional das artes, por exemplo, já suspende seus usos habituais, o desafio é, antes, problematizar suas funções habituais, o produtivismo e a conformidade que lhes é imposta no próprio cotidiano. A trama dos experimentos com os objetos técnicos domésticos se dá como experiência potente e inventiva, que se atualiza ao estar atenta ao presente vivo das forças afetivas do território da pesquisa. Isto é, as táticas de diálogo com
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os objetos se transformam: eles foram desmontados, manuseados, reparados, criando-se uma familiaridade e uma conversa para tecer com eles - os objetos técnicos uma relação que difere dos parâmetros determinados pela utilidade impressa em seus manuais. Estas táticas formam um caminho de exploração e experimentação da tecnicidade irrestrita a mera forma, matéria e função. A cartografia acompanha os experimentos práticos esboçados em imagens, mapas, vídeos, esquemas e relatos, que operam como um registro transformador de nossas práticas artísticas. Busca-se no objeto doméstico seu espaço no mundo, suas vibrações, sons, sensações, afetividades, para fazer emergir um uso outro.
SEMENTES URBANAS: PROJETANDO ARTICULAÇÕES COMUNITÁRIAS E SOBERANIA ALIMENTAR NO COMPLEXO DA PENHA // Diego Costa e Pedro Biz
O projeto Sementes Urbanas surgiu de uma parceria entre o Espaços Verdes/ESDI, o Centro de Educação Multicultural (CEM) e pesquisadores do Instituto Nacional de Tecnologia para desenvolver viveiros de baixo custo destinados à produção de mudas comestíveis e orgânicas no Complexo de favelas da Penha, no Rio de Janeiro. Em um conjunto de favelas com alto índice de vulnerabilidade ambiental, social e econômica, o projeto tem o objetivo de: 1) promover a soberania alimentar, por meio do aumento da diversidade alimentar e acesso a alimentos orgânicos; 2) promover a socialização, estimulando encontros, respeito aos saberes, conhecimentos locais e autogestão dos grupos comunitários e 3) promover a geração de renda, por meio da redução do gasto mensal com alimentos produzidos nas hortas e venda do excedente produzido. As ações se articulam na prática de design participativo, agroecologia e sustentabilidade e pretendem estimular a formação de uma rede local de produtores de mudas de plantas comestíveis para abastecer e fomentar a agricultura urbana. Apresentamos os resultados da primeira etapa do projeto, que consistiu em um workshop de oito encontros entre profissionais de design, estudantes de design e moradores da Penha e teve o propósito de aproximar os participantes das práticas propostas e do território, além de esboçar os primeiros desenhos dos viveiros.
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DINÂMICA DE CRIAÇÃO E APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO: RESILIÊNCIA COMUNITÁRIA NA FAVELA RIO DAS PEDRAS, RIO DE JANEIRO // Erika Toledo
Palavras-chave: autoria, projeto, apropriação cidadã, espaço público, espaço, favela, Rio de Janeiro, resiliência da comunidade
No Rio de Janeiro, 20% da população vive em favelas, de acordo com o Censo de 2000, e o número pode ser ainda maior se considerarmos o setor "informal" da população que não é alcançada. As favelas são territórios estigmatizados e excluídos, bem como seus habitantes, que construíram com suas próprias mãos o que não fez a política pública ou o urbanismo formal. Os problemas históricos, políticos e econômicos formam um tecido infinito de fatores de desigualdade que contribuem e caracterizam o desenvolvimento das favelas. A dinâmica de inovação e de criação faz parte do cotidiano das favelas, de modo que, diante da inexistência de espaços públicos e da possibilidade de acesso a esses espaços na "cidade formal", as comunidades estão em constante processo de formação e transformação de seus territórios. A partir deste problema de segregação, possível encontrar em várias cidades da América Latina, o processo de criação e apropriação temporária do espaço público na Favela de Rio das Pedras é analisado. Neste contexto e quase sem qualquer recurso, as habitações e as principais infraestruturas foram construídas pelos próprios habitantes, que diante da grande escassez de recursos e espaço, tiveram de priorizar o espaço privado no lugar da construção de
espaços públicos coletivos na forma como são entendidos no planejamento ou na "cidade formal". A metodologia de abordagem do objeto é através da análise empírica das formas de habitar e conquistar os espaços públicos dentro do território da favela. Esses tipos de espaços são uma mercadoria escassa em territórios de alta densidade, portanto, eles são usados e apropriados dinamicamente, mutados e ressignificados constantemente. A análise das relações humanas no espaço público também é um dos eixos metodológicos mais importantes, para a qual é gerada a seguinte estrutura: contextualização da favela do Rio das Pedras na cidade do Rio de Janeiro, focalizando o estudo na área do Areal, por ser considerado o de maior criticidade dentro da área inicial de estudo, esta zona gera uma classificação de tipologias espaciais em que é possível identificar uma ampla quantidade de apropriações. A estrutura do estudo baseia-se na identificação das apropriações dos habitantes nos espaços públicos, relacionando-os com a morfologia espacial em que eles são desenvolvidos, identificando a origem ou a necessidade que o gera, bem como o desejo que eles expressam, suas relações e mutações no tempo. A presente pesquisa foi realizada no contexto do Mestrado em Urbanismo PROURB da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre o tema Resiliência Urbana. Pretende valorizar os atos da vida cotidiana nas favelas que criam e conquistam o espaço público. Autoria do trabalho: Erika Toledo, Ximena Cabello, Rafaella Chinelli, Carolina Chiodi, Bernardo Emmanuel, Branca Leibovich e Gabrielle Rocha.
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ESTAMOS FUDIDOS - CONVERSAS SOBRE O CINEMA DO FIM DO MUNDO // Hernani Dimantas
Palavras-chave: antropoceno, fim do mundo, sobrevivência
A ideia por trás do ‘Estamos Fudidos’ é ampliar o debate sobre o desandar da civilização. Estamos, ainda, discutindo situações que nos afetam no curto prazo. Que Brasil queremos? Mas no médio prazo sinto dizer que pouco importa. Embora, não sou ingênuo e sei da importância do atual contexto nas nossas vidas. Mas do ponto de vista do planeta, creio que teremos que aprender a nos virar porque os novos tempos serão de escassez e luta. Uma outra luta. As propostas de curto prazo que estamos lidando não nos prepararão para o que está ‘porvir’. Os tempos em que a sobrevivência terá que conviver com políticas repressivas. Não estamos preparados para lidar com a escassez dos recursos básicos: energia, água, comida. Não sabemos e não queremos armas para nos defender. Mas teremos gangues para enfrentar… E, mal sabemos fazer um foguinho básico. Nas minhas análises consigo perceber que o processo já começou. Por todos os lados temos ameaças e, as amarras sociais estão cada vez mais frouxas. Já convivemos com uma polícia repressiva, violenta e criminosa. Quem será que eles defendem? pra quem será que eles trabalham? Temos um PCC ativo e operante que fez um acordo tão bom com a polícia que mal identificamos as diferenças. Temos falta d’água, energia escassa e comida cada vez mais cara. Além da internet, o último baluarte de uma revolução cooptada,
ameaçada pelos detentores do poder. O império, baby, já contra-atacou. E a resistência, cadê? Esta conversa é urgente para nossa própria sobrevivência, ou não?
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ESTAÇÃO BAIANA // Jonathan Nunes
Palavras-chave: projeto; cidade; Rio de Janeiro; favela; narrativas; transformações; documentário
Estação Baiana é um vídeo curta-metragem do gênero documentário, realizado como projeto de conclusão de graduação na Escola Superior de Desenho Industrial por Jonathan Nunes, sob orientação da professora Zoy Anastassakis. O filme busca documentar relatos de três moradores da comunidade do Morro da Baiana sobre as transformações ocorridas no Complexo do Alemão em função do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), proposto pelo governo federal brasileiro desde 2008, e construir uma narrativa sobre a situação atual da comunidade a partir da mistura dos relatos dos entrevistados com vídeos encontrados online sobre este projeto de governo, afim de provocar o espectador a refletir sobre as contradições surgidas após o PAC.
POLÍTICAS DEL AZÚCAR: DISOLUCIÓN Y SOBREVIDA // José G. Platzeck
Palavras-chave: biopolítica, biopolítica, açúca, açúca, sobrevida sobrevida Palavras-chave:
La historia historia moderna moderna podría podría ser ser pensada pensada aa través través de de un un La desplazamiento a partir del cual la muerte deja de ser el desplazamiento a partir del cualsobrevida la muerte deja de ser el Palavras-chave: biopolítica, açúca, objeto, el lenguaje, y el centro de gravedad de la política, objeto, el lenguaje, y el centro de gravedad de la política, para dar dar paso paso aa una una política política que que se se hace hace en en nombre nombre de de la la para vida. Michel Foucault propone un concepto y una La historia serun pensada a través vida. Michelmoderna Foucaultpodría propone concepto y una de un temporalizaciónatentativa tentativa para esta mudanza: lade ser el desplazamiento partir del cual la muerte deja temporalización para esta mudanza: la biopolítica es un tecnología que completa y, algún objeto, el lenguaje, y el centro gravedady,de la política, biopolítica es un tecnología quedecompleta algún sentido, desplaza al poder poder soberano soberano como poder sobre la para dardesplaza paso a una política que se hace enpoder nombre de la sentido, al como sobre muerte. La biopolítica tiene en este relato —una vida. Michel Foucault propone concepto y una muerte. La biopolítica tiene enun este relato —una historiografía de detentativa la biopolítica biopolítica entre otras posibles— posibles— su temporalización paraentre esta mudanza: la historiografía la otras su epicentro en Europa. Este trabajo reúne algunos biopolíticaen esEuropa. un tecnología que completa y, algún epicentro Este trabajo reúne algunos argumentos de este este nuevosoberano viraje que quecomo partepoder de la la sobre la sentido, desplaza al poder argumentos de nuevo viraje parte de perspectiva biopolítica para pensar el territorio colonial muerte. La biopolítica este el relato —unacolonial perspectiva biopolíticatiene para en pensar territorio como laboratorio de la biopolítica moderna; con los su historiografía de la entre otras posibles— como laboratorio debiopolítica la biopolítica moderna; con los estudios que caracterizan la plantación y epicentroque en Europa. Este trabajo reúneyalgunos estudios caracterizan la plantación específicamente la plantación plantación deque azúcar como estructura argumentos de este nuevo viraje parte de la específicamente la de azúcar como estructura de poder. Esta conceptualización de la plantación de perspectiva biopolítica para pensar colonial de poder. Esta conceptualización deel laterritorio plantación de azúcar como dispositivo de extracción y de captura de los los como laboratorio de la biopolítica moderna; con losde azúcar como dispositivo de extracción y de captura cuerpos es, sin embargo, contestada por diversos estudios es, quesin caracterizan la plantación cuerpos embargo, contestada pory diversos materiales de de la la cultura cultura que rompen rompen concomo la configuración configuración específicamente la plantación de azúcar estructura materiales que con la de la vida como vida productiva y comoditizada (y su su poder. la plantación de de la vida Esta comoconceptualización vida productiva y de comoditizada (y muerte como cifra y costo), y la proyectan aún más allá azúcar como de extracción y deaún captura los muerte comodispositivo cifra y costo), y la proyectan más de allá de su muerte. A lo largo del recorrido haremos cuerpos es, sinAembargo, contestada diversos de su muerte. lo largo del recorridopor haremos referencia aade algunos de estos estos materiales: figuras de materiales la cultura que rompen con la configuración referencia algunos de materiales: figuras de sobrevida de la cultura centroamericana, ligadas a la de la vida como vida productiva y comoditizada (y su sobrevida de la cultura centroamericana, ligadas a la revolución haitiana, como las que aparecen en El reino muerte como cifra ycomo costo),las y la proyectan allá revolución haitiana, que aparecenaún en más El reino de su muerte. A lo largo del recorrido haremos referencia a algunos de estos materiales: figuras de sobrevida de la cultura centroamericana, ligadas a la
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de este este mundo mundo de de Alejo Alejo Carpentier; Carpentier; oo el el trabajo trabajo de de la la de artista plástica plástica Kara Kara Walker Walker AA subtlety subtlety una una esfinge esfinge de de artista azúcar de de una una mujer mujer negra negra en en una una fábrica fábrica de de azúcar azúcar aa azúcar punto de de ser ser demolida demolida que que reflexiona reflexiona sobre sobre esta esta punto producción sus derivados materiales biopolíticos. El de este mundo dederivados Alejo Carpentier; o elyytrabajo de la El producción yy sus materiales biopolíticos. azúcarplástica funcionaKara como un cristal cristal posible para mirarde la artista Walker A subtlety una esfinge azúcar funciona como un posible para mirar la historia. Quizás un cristal cristal que pueda atender al reclamo reclamo azúcar deQuizás una mujer negraque en pueda una fábrica de al azúcar a historia. un atender del filósofo filósofo camerunés Achille Mbembe —una de las las punto de sercamerunés demolida que reflexiona sobre esta del Achille Mbembe —una de voces más más resonantes resonantes del pensamiento pensamiento político de los losEl producción y sus derivados materiales y político biopolíticos. voces del de últimosfunciona años— que que busca desplazar el centro centro de la azúcar como un cristal posible para mirar últimos años— busca desplazar el de gravedadQuizás partir del cualque la biopolítica biopolítica habíaal concebido historia. undel cristal pueda atender reclamo gravedad aa partir cual la había concebido hasta el momento momento la historia. historia. Este pensamiento pretende del filósofo camerunés AchilleEste Mbembe —una depretende las hasta el la pensamiento corrermás ese centro centro de de Europa Europa hacia las las plantaciones plantaciones voces resonantes del pensamiento político de los correr ese hacia latinoamericanas entendidas como “pilas “pilas bautismales de últimos años— que busca desplazar el centro de latinoamericanas entendidas como bautismales de nuestra modernidad” modernidad” donde “por primera primera vezconcebido en la la gravedad a partir del cual la “por biopolítica había nuestra donde vez en historia de la la humanidad, humanidad, el principio principio de raza raza yy el elpretende sujeto hasta el de momento la historia. Este pensamiento historia el de sujeto del mismo mismo nombre fueron obligados trabajar bajo bajo el el correr ese centro defueron Europa hacia lasaaplantaciones del nombre obligados trabajar signo del del capital” capital” (Mbembe, (Mbembe, 2016:44). 2016:44). Veremos cómo en en latinoamericanas entendidas como “pilas bautismales de signo Veremos cómo los materiales materiales estéticos con los los que que trabajamos se nuestra modernidad” donde “por primera vez ense la los estéticos con trabajamos desafía este este dispositivo productivo, dede capitalización historia de ladispositivo humanidad, el principio raza y el sujeto desafía productivo, de capitalización yy disolución de la la vida vida partir de alianzas alianzas del mismo de nombre fueron obligados a trabajar bajo el disolución aa partir de humano-animales-vegetales-maquínicas que proyectan proyectan signo del capital” (Mbembe, 2016:44). Veremos cómo en humano-animales-vegetales-maquínicas que la vida vida más allá alláestéticos de su su muerte. muerte. los materiales con los que trabajamos se la más de desafía este dispositivo productivo, de capitalización y disolución de la vida a partir de alianzas humano-animales-vegetales-maquínicas que proyectan la vida más allá de su muerte.
BATALHAS DE ROBÔS NA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA // Kenzo Soares Seto
Palavras-chave: Eleições, Democracia, robôs, twitter, Rio de Janeiro
Vivemos tempos de turbulência social, política e econômica no Brasil e no mundo. E as redes sociais Palavras-chave: Eleições, Democracia, robôs, twitter, Rioede digitais se tornam espaço privilegiado de expressão Janeiro registro desta turbulência. Em um primeiro momento, celebradas como espaço privilegiado de ampliação da democracia em tempos de crisesocial, de representatividade, a Vivemos tempos de turbulência política e internet do midiativismo e dos movimentos em rede econômica no Brasil e no mundo. E as redes sociais também é cada vezespaço mais percebida como um espaçoe digitais se tornam privilegiado de expressão sujeito a algoritmos e exércitos de robôs, contas registro desta turbulência. Em um primeiro momento, automatizadas, que favorecem os interesses de celebradas como espaço privilegiado de ampliação da poderosos agentes econômicos e projetos autoritários. democracia em tempos de crise de representatividade, a Neste cenário, o trabalhoeanalisa o impacto em político internet do midiativismo dos movimentos redede agentes não-humanos nas redes sociais e nas também é cada vez mais percebida como um espaço democracias contemporâneas, do contas estudo de caso sujeito a algoritmos e exércitos apartir de robôs, da eleição municipal na cidade do Rio de Janeiro automatizadas, que favorecem os interesses de em 2016. Alémagentes disso, propõe-se a reflexão se as instituições poderosos econômicos e projetos autoritários. democráticas brasileiras que regulam o uso e papéisdede Neste cenário, o trabalho analisa o impacto político outras mídias tradicionais durante eleições, como a agentes não-humanos nas redes sociais e nas televisão, estão preparadas para levar em consideração democracias contemporâneas, apartir do estudo de casoa crescente serviços digitais nestes da eleição importância municipal nados cidade do Rio de Janeiro em processos. Neste sentido, deve-se considerar não só os 2016. Além disso, propõe-se a reflexão se as instituições benefícios da mobilização cidadã no meio digital mas de democráticas brasileiras que regulam o uso e papéis também os interesses dos oligopólios das principais outras mídias tradicionais durante eleições, como a redes sociais assim como a ação de poderosos agentes a televisão, estão preparadas para levar em consideração econômicos que intervém nas redes por meio de crescente importância dos serviços digitais nestes processos. Neste sentido, deve-se considerar não só os benefícios da mobilização cidadã no meio digital mas também os interesses dos oligopólios das principais
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exércitos de robôs, contas falsas e outros procedimentos. Em ordem para desenvolver a pesquisa foram coletados dados da rede social Twitter durante os dois turnos do processo eleitoral a partir de hashtags e menções ligadas as eleições. Estes dado e metadados foram analisados compreender quais contas engajadas exércitos depara robôs, contas falsas e outros procedimentos. nos debates na rede sobre a eleição tinham fortes Em ordem para desenvolver a pesquisa foram coletados indícios de que seriam operadas por robôs, contas dados da rede social Twitter durante os dois turnos do automatizadas sema supervisão humanae.menções Em seguida, partir de hashtags processo eleitoral iniciamos uma análise qualitativa das mensagens ligadas as eleições. Estes dado e metadados forame perfis dessas contas para compreender: quais perfis de analisados para compreender quais contas engajadas usuários os robôs simulam ser? O que dizem? Quando se nos debates na rede sobre a eleição tinham fortes tornam ativos? Quais interesses favorecem? Nosso indícios de que seriam operadas por robôs, contas estudo selecionou Rio de Janeiro por ser terseguida, sua automatizadas semo supervisão humana . Em relevância global ressaltada pela realização de umelongo iniciamos uma análise qualitativa das mensagens ciclo de megaeventos: a Copa do Mundo de 2014, a de perfis dessas contas para compreender: quais perfis Jornada Mundial da Fé em 2013, a Cúpula da ONU usuários os robôs simulam ser? O que dizem? Quando se Rio+20 em 2012Quais e os Jogos Panamericanos 2008. A tornam ativos? interesses favorecem?de Nosso municipal de 2016 começou campanha eleitoral ainda estudo selecionou o Rio de Janeiro por ser ter sua durante a realização dos Jogos Olímpicos na cidade, que relevância global ressaltada pela realização de um longo culminou um processo radical de transformações ciclo de megaeventos: a Copa do Mundo de 2014, a urbanas Mundial e grandes pela realização Jornada daobras Fé emjustificadas 2013, a Cúpula da ONU municipal desses eventos. Neste contexto, a eleição Rio+20 em 2012 e os Jogos Panamericanos de 2008. A carioca se destaca derrotadeainda primeiro turno campanha eleitoralpela municipal 2016no começou ainda do candidato com os maiores recursos eleitorais durante a realização dos Jogos Olímpicos na cidade, que tradicionais: de de campanha, tempo de culminou umfinanciamento processo radical transformações televisão e o fato de representar a continuidade da urbanas e grandes obras justificadas pela realização gestão bem avaliada pela maioria dos cariocas. Em desses eventos. Neste contexto, a eleição municipalseu lugar, disputam o segundo turnoainda dois no candidatos carioca se destaca pela derrota primeirocom turno entre si mas tendo em comum forte grandes diferenças do candidato com os maiores recursos eleitorais presença emfinanciamento redes sociais. Este cenário ofereceu tradicionais: de campanha, tempo de se buscar compreenderdao papel condições originais para televisão e o fato de representar a continuidade que agentes não-humanos têm emdos umcariocas. processoEm seu gestão bem avaliada pela maioria profundamente humano, a democracia. lugar, disputam o segundo turno dois candidatos com grandes diferenças entre si mas tendo em comum forte presença em redes sociais. Este cenário ofereceu condições originais para se buscar compreender o papel que agentes não-humanos têm em um processo profundamente humano, a democracia.
ONDE QUERES DUBAI SOU PERNAMBUCO": A BATALHA PELO ESTELITA, O CORPO FÍSICO E A RESISTÊNCIA NA RESSIGNIFICAÇÃO DO CAIS JOSÉ ESTELITA // Luana Bulcão Palavras-chave: Ocupe Estelita; cidade; corpo; cidades-negócio; Projeto Novo Recife Palavras-chave: Ocupe Estelita; cidade; corpo; O Movimento Ocupe Estelita (MOE) surge contra a venda cidades-negócio; Projeto Novo Recife
do terreno da União do Cais José Estelita para o Projeto Novo Recife que prevê a construção de doze torres de até quarenta andares sobre os escombros de contra armazéns O Movimento Ocupe Estelita (MOE) surge a venda antigos e dadasegunda mais antiga Brasil. do terreno União dolinha Caisférrea José Estelita parado o Projeto O leilão desse terreno 2008, vai gerar uma Novo Recife que prevê em a construção de doze torres de até movimentação e articulação da sociedade civil quarenta andares sobre os escombros de armazéns pernambucana contralinha o “novo” modelo de cidade, que antigos e da segunda férrea mais antiga do Brasil. emblematicamente representava o que a capital O leilão desse terreno em 2008, vai gerar uma pernambucana eestava se tornando: uma cidade movimentação articulação da sociedade civil murada, de espaços privados e excludentes, umade metrópole de pernambucana contra o “novo” modelo cidade, que espaços públicos para “usuários solventes” (VAINER, emblematicamente representava o que a capital 2013). O “Novo Recife”, representa velha política de pernambucana estava se tornando:auma cidade murada, pensar e planejar as ecidades como empresas, as de de espaços privados excludentes, uma metrópole chamadas “cidades-negócio” (ARANTES, 2013), espaços públicos para “usuários solventes” (VAINER, reposicionando-as pararepresenta o capital transnacional, 2013). O “Novo Recife”, a velha política de promovendo espaços de exceção. velho discurso pensar e planejar as cidades comoOempresas, as do progresso, “cidades-negócio” da “revitalização”, (ARANTES, da “requalificação”, chamadas 2013), da “revalorização”, legitima ideológicos que reposicionando-as para oprojetos capital transnacional, promovem processos de exceção. gentrificação, produzindo promovendo espaços de O velho discurso do ambientes altamente vigiadosda e elitizados, construídos progresso, da “revitalização”, “requalificação”, da para uma pequena parcela da população que tem “revalorização”, legitima projetos ideológicos que acesso a um determinado nível consumo. A produzindo partir do início da promovem processos dede gentrificação, demolição dos armazéns em 2012, inicia-seconstruídos a ocupação, ambientes altamente vigiados e elitizados, que se constitui como corpoda físico de persistência contra para uma pequena parcela população que tem acesso a um determinado nível de consumo. A partir do início da demolição dos armazéns em 2012, inicia-se a ocupação, que se constitui como corpo físico de persistência contra
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a “arquitetura de vertigem” da especulação imobiliária representada pelo Consórcio Novo Recife. Durante os quase dois meses de ocupação, o movimento promove uma revitalização cultural dodaterreno, reposicionando-o a “arquitetura de vertigem” especulação imobiliária no imaginário pelo da população de luta eos representada Consórciocomo Novosímbolo Recife. Durante resistência. Cinco anos depois dao ocupação, partir do quase dois meses de ocupação, movimentoapromove discurso da vitóriacultural pela não-construção do privado no uma revitalização do terreno, reposicionando-o espaço público,dadurante o evento no imaginário população comoOcupeEstelita+5, símbolo de luta e realizado noCinco dia 21anos de maio de da 2017, personificado resistência. depois ocupação, a partirpelo do título de “Que lutaspela cabem no cais?”, o movimento discurso da vitória não-construção do privado no convocapúblico, a população para pensarOcupeEstelita+5, formas de abraçar espaço durante o evento outras causas e 21 lutas desse adquirido realizado no dia de dentro maio de 2017,simbolismo personificado pelo pelo partir dos primeiros da títuloEstelita. de “QueAlutas cabem no cais?”,resultados o movimento observação participante realizada nesse evento, por meio convoca a população para pensar formas de abraçar de anotações caderno de campo e entrevistasadquirido outras causasdo e lutas dentro desse simbolismo realizadas no Alocal, o presente resumo pretendedalevantar pelo Estelita. partir dos primeiros resultados questionamentos iniciaisrealizada a respeitonesse do futuro do por caismeio e da observação participante evento, ressignificação território como lugar de anotações dodesse caderno de campo e entrevistas representativo do afeto e do direito à cidade. Nessa realizadas no local, o presente resumo pretende levantar batalha entre sociedade pernambucana questionamentos iniciaiscivil a respeito do futuroedo cais e da empreiteiras, umaterritório “cidade roubada” pelos interesses ressignificaçãoem desse como lugar do capital, nos do questionamos se o Cais José Estelita representativo afeto e do direito à cidade. Nessa se constitui comosociedade corpo político coletivo de resistência a batalha entre civil pernambucana e gentrificação verticalização Recife? E, além disso, se empreiteiras, eem uma “cidadedo roubada” pelos interesses existe de fato discurso vitorioso e uma proposta do capital, nosum questionamos se o Cais José Estelitade se diversificar a representação doresistência cais para a constitui como corpo políticosimbólica coletivo de outras formasede lutas? Ademais, propomos pensar a se gentrificação verticalização do Recife? E, além disso, representação e adiscurso vinculação desse emovimento localde existe de fato um vitorioso uma proposta para uma lógica que permeiasimbólica as urbes do globalmente diversificar a representação cais para atingidas pelosde persistentes assaltos do capitalismo outras formas lutas? Ademais, propomos pensar a internacional. representação e a vinculação desse movimento local para uma lógica que permeia as urbes globalmente atingidas pelos persistentes assaltos do capitalismo internacional.
ANTROPOGRAFIA (RIO DE JANEIRO, TURBULÊNCIA, 01/12/17) - INSTALAÇÃO // Pablo Pablo, Rafael Galo e Jefferson Arcanjo
Palavras-chave: interatividade, generative design
Turbulência - instalação interativa https://youtu.be/d6ypZsxUE4Y Uma câmera captura o ambiente que é processado em tempo real e projetado sobre uma superfície. ____ Segundo Jacques Rancière, "arte e política têm a ver uma com a outra como forma de dissenso, operações de reconfiguração da experiência comum do sensível. Pode contribuir para transformar o mapa do perceptível e do pensável, para criar novas formas de experiência do sensível, novas distâncias em relação às configurações existentes do que é dado.(...) Passa-se de um modo sensível a outro modo sensível que define outras tolerâncias e intolerâncias, outras capacidades e incapacidades. O que está em funcionamento são dissociações: ruptura de uma relação entre sentido e sentido, (...) ruptura dos referenciais sensíveis que possibilitam a cada um o seu lugar numa ordem das coisas." ____ "Cara, eu gosto da turbulência!" - Antônio Carlos Tantão, arterrorista.
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PORTO DO RIO ATRAVÉS DA IMAGEM: PARTILHA ENTRE MEMÓRIA E REVITALIZAÇÃO // Philippe Leon Anastassakis
Palavras-chave: codesign, Porto do Rio, memória, revitalização, imagem
As imagens nos dizem: a região portuária do Rio de Janeiro passou recentemente por um grande processo de revitalização, onde um elevado foi removido e criado um boulevard no local, um aquário foi implantado, a Praça Mauá foi remodelada e ganhou dois museus, alguns prédios comerciais de luxo foram construídos (menos do que era previsto no planejamento inicial). Tudo muito lustroso e moderno, surgindo um novo cenário que reconfigura a paisagem do local, inserindo a região na rota turística e nas imagens que representam a cidade, entrando com força para um time que já contava com o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor. Durante as obras, o Cais do Valongo – principal local de entrada na cidade de negros escravizados trazidos da África – é “redescoberto”, tratado como sítio arqueológico e pouco depois consegue o título de Patrimônio Mundial concedido pela UNESCO. Antes do início das obras, grupos culturais locais já buscavam revitalizar a importância da região – que é historicamente chamada de Pequena África – para a memória da cultura negra e a diáspora africana, preservando e resgatando costumes, e ao mesmo tempo redescobrindo e contando a história do local, como por exemplo na descoberta do antigo Cemitério dos Pretos Novos, que virou Instituto e promove pesquisa e ativação da cultura negra por meio
de encontros, visitas guiadas pela região, cursos e exposições. Agora uma disputa pela criação de um grande museu do negro embaralha e torna mais difícil entender as questões da região. Imagens da revitalização e imagens dos grupos culturais locais se misturam e mostram esse complexo emaranhado de interesses: governos, capital, moradores, turistas, grupos culturais, ONGs e institutos. É possível, a partir da visualização dessas imagens, surgir discursões que busquem caminhos para as diversas disputas locais? Através do co-design, e do que poderemos chamar de co-fotografia, buscaremos levantar estas questões, não para que nasça um consenso, mas para que os dissensos sejam discutidos e se possível reequilibrados. Este trabalho é resultado parcial da pesquisa de mestrado em andamento no PPD/ESDI/UERJ.
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O ANO NOVO VEIO PARA FICAR // Raphael Soifer
Palavras-chave: Sonhos; corpos ausentes; ruas urbanas; contramemória; performance
“O ano novo veio para ficar” se trata de uma performance-palestra interativa e musicada baseada em experiências pessoais vividas nas ruas do Rio de Janeiro ao longo do ano de 2016. Caminhando dentro e por entre aglomerações em manifestações, blocos carnavalescos e no recém-inaugurado “Boulevard Olímpico”, o trabalho examina diversos espaços urbanos enquanto repositórios de fantasmas; isto é, corpos ausentes relembrados e sentidos por moradorxs atuais (como, por exemplo, o pedreiro Amarildo Dias de Souza Lima, violentamente desaparecido em 2013 por policiais “pacificadores” na favela de Rocinha, e o ex-prefeito Francisco Pereira Passos, espírito constantemente invocado por iniciativas tidas como “revitalizadoras”). Além de olhar os assombramentos do Rio de Janeiro, o trabalho também investiga a relação entre as ruas da cidade e os sonhos que articulam visões divergentes, desde memórias do passado até imaginados futuros; desde The Brazilian Dream of the American Way of Life, sonho neoliberal por excelência que visa transformar a cidade em uma marca de modernização globalizada, até vários sonhos sujos que, como as “práticas microbianas” de Michel de Certeau, fogem de novos modelos de controle urbano e se avançam em corpos, comportamentos e agrupamentos enxergados pela
chamada “revitalização” como sendo detritos que deveriam ser descartados. Visando borrar os limites entre pesquisa acadêmica, relato pessoal e criação cênica, “O ano novo veio para ficar” mistura fontes teóricas e midiáticas com zines, palavras de ordem e pichações. Visa refletir e reinterpretar algo da heteroglossia do espaço urbano, investigando tanto as turbulências entre vozes e corpos que se esbarram pelas ruas da cidade quanto entre visões da cidade que esses corpos articulam e vivem. Problematiza, também, a organização-padrão do trabalhos acadêmicos: por exemplo, as notas de rodapé clamam por uma centralidade maior, enquanto questionam o olhar supostamente ubíquo do pesquisador-criador responsável, e citações musicais entram em dialogo com colocações teóricas. “O ano novo veio para ficar” resume vários trechos de Olha eu aqui de novo, tese de doutorado em Planejamento Urbano defendida no IPPUR/UFRJ em setembro de 2017.
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METAMORFOSE E REINVENÇÃO DO ARMAZÉM CULTURAL DAS ARTES // Simone Melo e Emily Pirmez
Palavras-chave: Cenografia e design; Zona Portuária do Rio; Cenotecnia Teatral; Patrimônio humano; Patrimônio cultural. Palavras-chave: Cenografia e design; Zona Portuária do Rio; O grupo chamado de Armazém Cultural das Artes Cenotecnia Teatral; Patrimônio humano; Patrimônio cultural.
representa um coletivo de técnicos cênicos atuantes na cidade do Rio de Janeiro. O grupo formou-se na década degrupo 1980,quando teatros da cidade passaram por O chamado de Armazém Cultural das Artes reformas e um os profissionais de cenografia cenotécnica representa coletivo de técnicos cênicose atuantes na começaram perder seusOespaços de trabalho. cidade do Rioa de Janeiro. grupo formou-se na Num década acordo entre a Companhia Rio de Janeiro de 1980,quando teatros da Docas cidade do passaram por (CDRJ) e aeFundação Anita Mantuano de Artes do Estado reformas os profissionais de cenografia e cenotécnica do Rio de Janeiro (FUNARJ) a ocupação de um antigo começaram a perder seus espaços de trabalho. Num armazém foi viabilizada para que estes acordo entre a Companhia Docas do Rioprofissionais de Janeiro tivessem local adequado onde exercer seusdoofícios. (CDRJ) e aum Fundação Anita Mantuano de Artes EstadoA partir vários outrosa profissionais do Riode deentão, Janeiro (FUNARJ) ocupação de se um antigo aproximaram e criaram para em 1991 a Associação armazém foi viabilizada que aestes profissionais Armazémum Cultural das Artes onde de Técnicos tivessem local adequado exercerem seus ofícios. A Espetáculos de Diversões - AACTED. Os oficios partir de então, vários outros profissionais se eram realizados, tecnologias e resgatadas as aproximaram e criaramcompartilhadas em 1991 a a Associação tradicionais técnicas artesanais, quase em extinção, Armazém Cultural das Artes de Técnicos em como as execuções de engenhocas teatrais. Durante Espetáculos de Diversões - AACTED. Os oficios eram37 anos o coletivo se manteve na Rua Venezuela232, onde realizados, tecnologias compartilhadas e resgatadas as foram produzidos mais de 3.500 cenários. espaço virou tradicionais técnicas artesanais, quase emOextinção, ponto as de execuções encontro da artística, promovendo a 37 como declasse engenhocas teatrais. Durante troca odecoletivo saberes, para a indústria anos se viabilizando manteve na projetos Rua Venezuela232, onde criativa. A profissão de cenotécnico, de aderecista foram produzidos mais de 3.500 cenários. O espaçoouvirou pintor de de encontro arte são reconhecidos sacerdócios e, em 2010, ponto da classe artística, promovendo a a Secretaria de Cultura reconheceu o Armazém Cultural troca de saberes, viabilizando projetos para a indústria criativa. A profissão de cenotécnico, de aderecista ou pintor de arte são reconhecidos sacerdócios e, em 2010, a Secretaria de Cultura reconheceu o Armazém Cultural
das Artes como Ponto de Cultura, validando o projeto Palco Escola, extensivo a jovens em vulnerabilidade pessoal e/ou social, com o objetivo de criar mecanismos de técnico no setorvalidando para novos e antigos dasaprimoramento Artes como Ponto de Cultura, o projeto profissionais promovera trocas técnicos do resto do Palco Escola,eextensivo jovens com em vulnerabilidade país. Cursos em paralelo pessoal e/ou livres social,movimentaram com o objetivo odegalpão criar mecanismos aos desenvolvimentos dos ofícios cênicos de seus de aprimoramento técnico no setor para novos e antigos associados: Athos, trocas Odilon com Redon, Irlan do resto do profissionaisAdílio e promover técnicos Nery,Humberto Silva, Manuel Isidoro Manolo,Yarema país. Cursos livres movimentaram o galpão em paralelo Ostrog, dentre outros. dos Nosofícios últimos anos ode grupo aos desenvolvimentos cênicos seusque administra Armazém batalhou por suaIrlan permanência no associados:oAdílio Athos, Odilon Redon, galpão. Ações nas ruas e nas redes com Nery,Humberto Silva, Manuel Isidorosociais, Manolo,Yarema movimentos deoutros. resistência patrimonialização, Ostrog, dentre Nos eúltimos anos o grupoinclusive que com projetooarquitetônico de revitalização do galpão, a no administra Armazém batalhou por sua permanência “cidade teatro”, noruas intuito maior de preservar o galpão. Ações nas e nas redes sociais, com patrimônio e social,e além de manter eminclusive movimentoshumano de resistência patrimonialização, atividades osarquitetônico profissionaisde atuantes. Porém 2016, ao com projeto revitalização doem galpão, processo foi finalizado commaior a perda do imóvel,ocedido à “cidade teatro”, no intuito de preservar Companhia de Desenvolvimento Urbano (Cdurp) patrimônio humano e social, além de manter eme atualmente às empreiteiras inseridas no o atividades osdestinado profissionais atuantes. Porém em 2016, projeto dofoi Porto Maravilha. saída das equipescedido que à processo finalizado com aA perda do imóvel, ainda produziam no Armazém foiUrbano rápida e tumultuada, Companhia de Desenvolvimento (Cdurp) e alguns dos profissionais dasinseridas aliançasno atualmente destinado às desistiram empreiteiras coletivas. novoMaravilha. Armazém Cultural se restabelece projeto doOPorto A saída das equipes queagora em outro endereço no momento, pela ainda produziam nodisponibilizado, Armazém foi rápida e tumultuada, prefeitura Rio de Janeiro, situadodas à Rua Professor alguns dosdo profissionais desistiram alianças Pereira Reis 76. Os profissionais remontaram suas agora coletivas. O novo Armazém Cultural se restabelece oficinas perderam boa parte deno seus maquinários em outromas endereço disponibilizado, momento, pela e seus acervos, e ainda atravessam a atual de prefeitura do Rio de Janeiro, situado à Ruacrise Professor produção no 76. mercado carioca. Hoje, procuramsuas novas Pereira Reis Os profissionais remontaram alianças paraperderam sobrevivência artística, educativa e oficinas mas boa parte de seus maquinários e financeira, com seu grupo reduzidoa de componentes. O seus acervos, e ainda atravessam atual crise de Armazém está reavivando o projeto Escola com produção no mercado carioca. Hoje,Palco procuram novas cursos experimentações vão doeducativa simples bater no aliançase para sobrevivênciaque artística, e prego ao ensaio de projeções cênicas. 2017, criou-se financeira, com seu grupo reduzido de Em componentes. O o projeto Metamorfoses daoCaixa Preta, onde os com Palco Escola Armazém está reavivando projeto associados do Armazém Cultural cursos e experimentações que vãosedoaliaram simplesa bater no prego ao ensaio de projeções cênicas. Em 2017, criou-se o projeto Metamorfoses da Caixa Preta, onde os
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profissionais do design em novas conexões com a expografia, design de interação e produção gráfica. Os cursos livres visam maior alcance de alunos, com interesses sócio-educativo escolas secundárias profissionais do design em nas novas conexões com a nos entornos da Zona Portuária, ressaltando o apelo artístico Os expografia, design de interação e produção gráfica. e envolvente da cenografia para aulas de arte e de cursos livres visam maior alcance de alunos, com parceiras com ciências. também interessesPretendem sócio-educativo nasconquistar escolas secundárias nos universidades de cenografia, design e arquitetura entornos da Zona Portuária, ressaltando o apelo artístico próximas, mas primeiro às e envolvente danecessita-se cenografia para aulas sobreviver de arte e de mudanças. Metamorfoses em aliança com a reinvenção ciências. Pretendem também conquistar parceiras com do Armazém Cultural universidades de cenografia, design e arquitetura próximas, mas necessita-se primeiro sobreviver às mudanças. Metamorfoses em aliança com a reinvenção do Armazém Cultural
ZONZO: INVESTIGADORES URBANOS // Tatiana Podlubny e Julia Sant'Anna
Palavras-chave: projeto editorial, livro infanto-juvenil, crianças coautoras, cartografia urbana, Morro da Babilônia
“Zonzo: investigadores urbanos” é uma experiência de
Palavras-chave: editorial, livro infanto-juvenil, crianças análise urbanaprojeto que propõe a construção de narrativas coautoras, cartografia urbana, Morro da Babilônia não hegemônicas sobre a cidade e seus múltiplos
territórios. Idealizado inicialmente como trabalho final de graduação de Julia Sant’Anna no curso de Arquitetura “Zonzo: investigadores urbanos” é uma experiência de e Urbanismo da UFRJ, “Zonzo” ganhou vida a partir da análise urbana que propõe a construção de narrativas parceria com a estudante de direito Carolina Movilla, o não hegemônicas sobre a cidade e seus múltiplos projeto Favela Orgânica, a Escolinha Tia Percilia, e a territórios. Idealizado inicialmente como trabalho final Associação de Moradores da Babilônia. Durante de graduação de Julia Sant’Anna no curso de Arquitetura encontros semanais ao longo de 2016, vinte e oito e Urbanismo da UFRJ, “Zonzo” ganhou vida a partir da crianças de 9 a 13 anos, da turma II da Escolinha, foram parceria com a estudante de direito Carolina Movilla, o convidadas a mapear o Morro da Babilônia, por meio de projeto Favela Orgânica, a Escolinha Tia Percilia, e a atividades como caminhadas, exercícios de desenho e Associação de Moradores da Babilônia. Durante escrita, debates e construção de maquetes. As encontros semanais ao longo de 2016, vinte e oito investigações aos poucos revelaram cartografias crianças de 9 a 13 anos, da turma II da Escolinha, foram sensíveis, ancoradas na experiência e olhar atento das convidadas a mapear o Morro da Babilônia, por meio de crianças. O trabalho coletivo possibilitou aos atividades como caminhadas, exercícios de desenho e participantes a elaboração de uma reflexão ao mesmo escrita, debates e construção de maquetes. As tempo crítica e afetiva sobre o território onde vivem. Em investigações aos poucos revelaram cartografias 2017, o projeto foi um dos três selecionados pela Editora sensíveis, ancoradas na experiência e olhar atento das Temporária, coordenada pelas designers Clara Meliande crianças. O trabalho coletivo possibilitou aos e Tania Grillo, para ser publicado em pequena tiragem a participantes a elaboração de uma reflexão ao mesmo partir da parceria entre autores e designers convidados. tempo crítica e afetiva sobre o território onde vivem. Em Uma das especificidades da Editora Temporária é propor 2017, o projeto foi um dos três selecionados pela Editora aos designers uma atuação mais ampla, que inclui a Temporária, coordenada pelas designers Clara Meliande e Tania Grillo, para ser publicado em pequena tiragem a partir da parceria entre autores e designers convidados.
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edição e coautoria, a começar pela participação no processo de seleção dos projetos. Julia Sant’Anna e a designer Tatiana Podlubny trabalharam ao longo de três meses para transformar em livro tanto a metodologia apresentada na monografia quanto o extenso material edição e coautoria, a começar pela participação no produzido pelas crianças em seus percursos processo de seleção dos projetos. Julia Sant’Anna e a cartográficos pela Babilônia. Em vez do registro de uma designer Tatiana Podlubny trabalharam ao longo de três metodologia de pesquisa, optou-se pela criação de um meses para transformar em livro tanto a metodologia livro para crianças com um projeto gráfico que pudesse apresentada na monografia quanto o extenso material traduzir a experiência de zanzar pelo Morro da Babilônia produzido pelas crianças em seus percursos e ao mesmo tempo convidasse o leitor a refletir sobre o cartográficos pela Babilônia. Em vez do registro de uma lugar onde mora e por onde transita na cidade. A edição metodologia de pesquisa, optou-se pela criação de um do material produzido pelas crianças suscitou por parte livro para crianças com um projeto gráfico que pudesse de Julia e Tatiana uma imensa gama de reflexões tanto traduzir a experiência de zanzar pelo Morro da Babilônia de ordem ética como estética. Buscou-se apresentar a e ao mesmo tempo convidasse o leitor a refletir sobre o vida na Babilônia do modo como as crianças a lugar onde mora e por onde transita na cidade. A edição percebiam, com suas brincadeiras e caminhos do material produzido pelas crianças suscitou por parte preferidos, sem reduzir ou enquadrar o material a uma de Julia e Tatiana uma imensa gama de reflexões tanto visualidade pré-concebida. Era fundamental também de ordem ética como estética. Buscou-se apresentar a incorporar os medos e as críticas das crianças sem, no vida na Babilônia do modo como as crianças a entanto, reproduzir a narrativa estigmatizante sobre a percebiam, com suas brincadeiras e caminhos favela. Questões como essas influenciaram, por sua vez, preferidos, sem reduzir ou enquadrar o material a uma o projeto gráfico, que resultou de uma atenção sensível visualidade pré-concebida. Era fundamental também às qualidades do material em vez de uma preocupação incorporar os medos e as críticas das crianças sem, no prévia em atender a qualquer definição do que seria entanto, reproduzir a narrativa estigmatizante sobre a apropriado às crianças. O projeto “Zonzo: investigadores favela. Questões como essas influenciaram, por sua vez, urbanos”, tanto a experiência vivida com as crianças o projeto gráfico, que resultou de uma atenção sensível como seu desdobramento em livro, em vez de apresentar às qualidades do material em vez de uma preocupação soluções objetivas, propões um modo particular de prévia em atender a qualquer definição do que seria experimentar o mundo. O ato de zanzar possibilita às apropriado às crianças. O projeto “Zonzo: investigadores crianças e aos adultos a elaboração de perguntas e a urbanos”, tanto a experiência vivida com as crianças criação de vínculos com os espaços onde vivem que como seu desdobramento em livro, em vez de apresentar podem ser vistos como modos sensíveis de soluções objetivas, propões um modo particular de (re)existência. experimentar o mundo. O ato de zanzar possibilita às crianças e aos adultos a elaboração de perguntas e a criação de vínculos com os espaços onde vivem que podem ser vistos como modos sensíveis de (re)existência.
NO PONTO! CULINÁRIA AFETIVA DE HONÓRIO GURGEL // Victor Hugo Rodrigues
Palavras-chave: Design Social; Memória; Culinária
"No Ponto!" é uma publicação multiplataforma composta por um e-book; um hotsite; oito vídeos; e oito cartazes interativos -, idealizada como uma tecnologia Palavras-chave: Social; Memória; Culinária para superaçãoDesign dos estereótipos negativos produzidos historicamente sobre o "subúrbio carioca" e seus moradores, especial o bairro Honório Gurgel. "No Ponto!" em é uma publicação multiplataforma - Esta tecnologia apropria-se de técnicas de comunicação composta por um e-book; um hotsite; oito vídeos; e e oito publicidade para retratar indivíduos e espaços cartazes interativos -, idealizada como uma tecnologia marginalizados perspectivas potentesproduzidos e para superação sobre dos estereótipos negativos humanizadas, estimulando um olhar diferente daqueles historicamente sobre o "subúrbio carioca" e seus impressos cotidianamente por veículos tradicionais de moradores, em especial o bairro Honório Gurgel. Esta comunicação, e também impostos pela desleal divisão tecnologia apropria-se de técnicas de comunicação e geográfica cidade do Rio de Janeiro - que subjuga publicidadeda para retratar indivíduos e espaços indivíduos, comunidades e seus espaços à uma marginalizados sobre perspectivas potentes e perspectiva única de ausência. Neste sentido, Ponto! humanizadas, estimulando um olhar diferenteNo daqueles suportes (on-line e off-line) um apresenta em diferentes impressos cotidianamente por veículos tradicionais de mapeamento da culinária afetiva local, identificada pelas comunicação, e também impostos pela desleal divisão memórias gerações de moradores, que, geográfica de da diferentes cidade do Rio de Janeiro - que subjuga unidas, oferecem um panorama histórico potente indivíduos, comunidades e seus espaços à uma sobre a região aos seus leitores/espectadores, impulsionando a perspectiva única de ausência. Neste sentido, No Ponto! produção e o compartilhamento de notícias e apresenta em diferentes suportes (on-line e off-line) um informações ao bloqueio à tendenciosa mapeamentovoltadas da culinária afetiva local, identificada pelas cobertura jornalística de violência urbana e policial, ao memórias de diferentes gerações de moradores, que, mesmo tempo que estimula seus personagens unidas, oferecem um panorama histórico potente sobre a assumirem papéis cada vez mais cidadãos (fundamental região aos seus leitores/espectadores, impulsionando a à cidade) e menos clientelistas (sobrevive conforme a produção e o compartilhamento de notícias e informações voltadas ao bloqueio à tendenciosa cobertura jornalística de violência urbana e policial, ao mesmo tempo que estimula seus personagens
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vontade dos detentores da cidade). Desta maneira, o No Ponto! busca apresentar caminhos de superação aos mecanismos da cidade neoliberal, e deixa claro a importância de trabalhar sobre as perspectivas das potências para superar as fragilidades impostas pelos processos dedetentores construçãodadas cidades contemporâneas, vontade dos cidade). Desta maneira, o No nos campos físico e ideológico; também mostra aos Ponto! busca apresentar caminhos de superação caminhos possíveis paraneoliberal, apropriação de tecnologias e mecanismos da cidade e deixa claro a de comunicação como instrumentos ferramentas importância de trabalhar sobre as perspectivas das políticos. o projeto on-line: impostas pelos potênciasLink parapara superar as fragilidades www.honoriogurgel.com.br/noponto processos de construção das cidades contemporâneas,
nos campos físico e ideológico; também mostra caminhos possíveis para apropriação de tecnologias e ferramentas de comunicação como instrumentos políticos. Link para o projeto on-line: www.honoriogurgel.com.br/noponto
IDEALIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO Barbara Szaniecki Roberta Guizan Zoy Anastassakis ORGANIZAÇÃO Bibiana Serpa Cristina Cavallo Flavia Secioso Liana Ventura Mariana Costard Paula Camargo Victor Silba
REALIZAÇÃO
APOIO