TFG-Parque Público em pré-existencia industrial

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ponta de sapocá PARQUE URBANO EM PRÉ-EXISTÊNCIA INDUSTRIAL

Erasto César Carvalho



Universidade Federal da Bahia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação

ponta de sapocá PARQUE URBANO EM PRÉ-EXISTÊNCIA INDUSTRIAL

Erasto César Carvalho Salvador, 2016


apresentação

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia como requisito para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista. Orientador: Sergio Kopinski

Erasto César Carvalho Salvador, 2016



agradecimentos Dedico este trabalho à cidade de Salvador, que tão bem me acolheu quando cheguei, às primeiras amizades, o trio: Dan, Pato e Biel, que conheci através de Elisa, aos colegas que compartilhei os primeiros momentos de aproximação com a arquitetura: Joaninha, Joanona, Duda, Tadeu, Bráulio, Laís, Ruhana, Irene, Carol, Cadica, Paulinha, Lila e Lilo, às amizades que surgiram ao longo do curso, Igor, Leo, Anderson, Matheus, Rogério, Lari, Gabi, Bela, Mi, Rafa, Nay, Nando, entre outros. Também aos colegas Jean e Pablo, com os quais compartilhei momentos especiais no intercâmbio que realizei na Universidade de Alcalá de Henares, na Espanha. Agradeço a todos os professores da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, que contribuíram com a minha formação, em especial aos que me ensinaram a compreender e projetar na cidade: Valdinei, Mila, Olivieri, Esterzilda, Ariadne, Gabriel, Griselda, Ana Fernandes, Eduardo, Paola e, especialmente, a Sergio Ekerman, a quem sou muito grato por ter aceitado o convite de orientar este trabalho final de graduação, e aos membros da banca Naia Alban, André Lissoger e Paulo Kalil. Agradeço também aos colegas que participaram da minha formação, através de relações profissionais, e que se expandiram para além dela: Gustavo Pinheiro, Maurício Lins, Akemi Tahara, especialmente a Marcos Nunez, que me ensinou a desenhar, marcar, medir, serrar, cortar, pregar, colar, parafusar, lixar, soldar, montar e desmontar. Agradeço especialmente às pessoas que se aproximaram mais do trabalho e que sem elas não conseguiria realizá-lo: Joana Costa, Bráulio Chaves, Ruhana Falcão, Fernando Teixeira, Jean Liet e Carol Gusmão. Agradeço com muito amor à toda minha família, a avó Rosário, a avó Gilda e ao avô Erasto, exemplos de vida. Aos tios, Carmela, Marcelo, Luisinha, Juliano, Kênia e Andreia. Aos primos Carolina, Duane, Laura, Bernardo, Gabriel, Juliana e Natália, quase irmã. A namorada Marta, que me acompanhou nesse caminho, às irmãs amadas Gilda Maria e Ana Clara, a querida mãe Rosana, que tanto me orgulha pelo seu amor e dedicação e ao meu pai, Erasto, que tanto me apoiou e que, curioso, conhece cada metro quadrado do projeto a ser apresentado.



sumário Introdução

Impressões

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5.1. Diretrizes conceituais

O lugar na Baía

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O verde

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A água

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A fábrica

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1. Contexto

Paripe, a Fábrica e o subúrbio

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Localização

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5.2. implantação

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Processo de adensamento urbano

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5.3. Propostas gerais

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Panorâmicas de São-ToméATRIMÔNIO INDU-17

Planta baixa geral

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STRIA

Lago, conexexões e paisagismo

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2. Aspectos urbanos

Planta de paisagismo

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Pontos de referência

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Espécies propostas

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Sistema viário

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praças e conexões

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5.4. Propostas arquitetônicas

Zoneamento

3. A fábrica

Complexo Lúdico

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Auditório e plantetário

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Aproximação com o espaço

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Fabricação do cimento Aratu

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Restaurante

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4. Desdobramentos

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Repercursões sobre Paripe e a Fábrica de Cimento 31

Mirante-Memorial

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O patrimônio industrial e a situação em Salvador

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6. Referências Bibliográficas

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La Cementera- Barcelona- Ricardo Bolfill

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Gas Works Park- Seattle- Richard Haag

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Landschaftspark-Disburgo- Latz+PartnesrO

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5. O projeto

O parque urbano de Sapocá

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Ginásio esportivo




impressões A ANTIGA FÁBRICA DE CIMENTO ARATU

C

oncreto: silos de cinquenta metros de altura, um grande galpão de cobertura abobadada, marcado por fortes pilares em ritmo, cilindros e cubos, concreto; volumes bem definidos distribuídos pelo espaço. Ferro, cimento, verde e mar compõem a imagem dessa imensa fábrica já desbotada pelo abandono. A vegetação brota no chão de um lugar que já quase não existe. O sol, a chuva, o vento e o sal castigam as fachadas que teimam em permanecer de pé para abrigar o silêncio. Os insetos que nela habitam determinam o andamento do tempo, que parece tão inerte quanto as paredes que o cercam. Difícil imaginar que um lugar tão solitário outrora foi vivo e banhado pelo som de máquinas processando calcário, pela fumaça saindo das chaminés, por caminhões apitando e pelos seus operários quase surdos trabalhando como formigas em ritmo acelerado. Nem o som do vento, nem o farfalhar das plantas, nem a brisa fresca das águas da baía neutralizam o medo que paira nos arredores dessa antiga fábrica de cimento. A ponta de Sapocá, este cerro que se debruça sobre o mar e que abriga essa paisagem ao mesmo tempo tão viva e tão morta, é um parque de sentimentos. Quem por ali passa, logo vê os fantasmas do abandono que gritam e afugentam mesmo os mais curiosos. Não só os fantasmas assustam, mas também os homens armados e solitários que defendem suas ruínas pelos salários que recebem do dono da misteriosa propriedade. Se, à luz do dia, já nos sentimos em território de guerra, a escuridão de lá deve ser tão medonha quanto a iminência da morte. Apesar do medo que se sente por lá, do topo do silos mais alto dessa fábrica, deve dar para ver todo o desenho das bordas da Baía de Todos os Santos, com a Ilha de Itaparica, a Ilha dos Frades e a ilha de Maré. Talvez com uma luneta dê para enxergar a foz do rio Paraguaçu e a entrada da Baía de Aratú. Talvez se avistem a base Naval e a residência oficial, o CIA e a BR 324. De lá, deve dar para ver São Tomé, Paripe, Peri-Peri, Fazenda Grande, Alagados, Plataforma e a Suburbana: cidade informal e viva de casas mal rebocadas. Apesar do medo, de lá de cima quiçá seja possível divisar a Península de Itapagipe, a ponte de São-João, que atravessa a enseada de Tainheiros, a Ribeira e a Ponta de Humaitá. A colina sagrada e a igreja do Bomfim também possivelmente sejam vistas de lá. Os guindastes do porto, a igreja do Santo Antônio além do Carmo, o Comércio, o Mercado Modelo, o terminal da França... Deve dar pra ver o Pelourinho, as igrejas do Terreiro, o Elevador Lacerda, o Palácio Rio Branco e a Prefeitura. De lá, quem sabe possa se avistar a Conceição da Praia e o Dois de Julho com o Museu de Arte Sacra e o Museu de Arte Moderna. Talvez com uma luneta, dê para enxergar as ladeiras da Água Brusca, da Montanha, e da Preguiça. De lá do topo, talvez seja possível ver os espigões do Campo Grande e da Vitória. Apesar do medo que dá, acho que de lá, do topo do silos mais alto dessa fábrica, deve dar pra ver o sol iluminando o Farol da Barra, marcando a entrada da Baía de Todos os Santos, e talvez mais alto, seja possível ver ao horizonte o Oceano Atlântico.

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o lugar na baía FOZ DO RIO PARAGUAÇU

MADRE DE DEUS

ILHA DOS FRADES

BAÍA DE TODOS OS SANTOS

RIO JAGUARIPE

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ITAPARICA

VERA CRUZ


ILHA DE MARÉ

ANTIGA FÁBRICA DE CIMENTO

BAÍA DE ARATU

Baia de todos os santos, 2015 (Fonte: Google) FAROL DA BARRA

PENÍNSULA DE ITAPAGIPE

ENSEADA DE TAINHEIROS

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1. contexto PARIPE, A FÁBRICA E O SUBÚRBIO

A

Fábrica de Cimento Aratú S/A, que pertencia ao grupo Votorantim, foi construída na década de 70 na Ponta de Sapocá: uma elevação de trinta metros coberta por mata atlântica, que separa as praias de São Tomé de Paripe e Tubarão, banhadas pelo mar da Baía de Todos os Santos. Paripe, na língua Tupi, era uma espécie de arapuca confeccionada em cipó e colocada nos rios pelos índios para pescar. O nome deu origem a uma vila de pescadores que ali viviam. Em toda aquela região, a vegetação exuberante se espalhava pelo relevo acidentado ora em mata atlântica, ora em manguezais, como ainda acontece nas bordas da Baía de Aratú. Entre a Ponta de Sapocá e a ponta do Toque-Toque, onde hoje se situa a base naval de Aratú, existe uma pequena colina que abriga o primeiro marco referencial da arquitetura colonial daquela região: a igreja de São Tomé de Paripe, que nomeia tanto a praia quanto a comunidade à sua volta. Uma pequena capela rural, com um pequeno cemitério e uma torre sineira em arco, construída pela ordem dos jesuítas no século XVI. Mais ao sul da Ponta de Sapocá, em uma antiga fazenda pertencente a Francisco de Aguiar, onde se situava a capela Nossa Senhora do Ó, já ruída pelo tempo, hoje se encontra a praça João Martins, importante ponto de referência para o bairro de Paripe. Às margens de um braço da Baia de Aratú, chamado Saco do Tororó, se firmou uma comunidade remanescente da escravidão chamada Quilombo do Tororó. Em meados do Século XIX, franceses e holandeses habitavam a área, que servia como uma espécie de quartel general protegendo a cidade de eventuais invasores. Muito distante da ponta de Santo Antônio, sinalizada pelo farol da barra, que marca a entrada da Baía, Paripe surgiu de maneira independente da cidade de São Salvador, através dessas pequenas aglomerações pulverizadas, que aos poucos foram se conectando. Paripe, então, foi um povoado com gestão independente, baseado na cultura de subsistência através da pesca e agricultura até meados do século XVIII, quando foi anexada oficialmente à cidade de Salvador. Até a década de 60, era uma região pouco densa, com muitas chácaras de veraneio, pelas suas praias de águas claras e calmas. Com a reconstrução da Ponte ferroviária de São-João, que cruza a enseada de Tainheiros, na Península de Itapagipe, foi inaugurada a Linha Férrea Calçada-Paripe em 1960. A partir desse momento, a paisagem de Paripe e de todo o subúrbio ferroviário foi rapidamente modificada pelo processo de industrialização e adensamento urbano. Com o crescimento da indústria e da atividade comercial em Salvador, ao fim do século XIX, a península de Itapagipe, até então um tranquilo bairro de veraneio, se transformou no primeiro Centro Industrial Baiano. Lá foi implantado um grande

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número de fábricas, a exemplo da ‘’Companhia Empório Industrial do Norte’’, indústria têxtil criada em 1891. Junto à essa fábrica, surgiu um conjunto de edifícios que constituiu a Vila Operária de Boa Viagem, que contava com habitações, armazéns, creche, escola, biblioteca e consultório médico, onde o trabalhador podia viver com uma boa infraestrutura, sem realizar grandes deslocamentos em um lugar aprazível. Esse processo de adensamento urbano relacionado à industrialização, que ocorreu na transição entre o século XIX e XX na península de Itapagipe, após a década de 60, somado ao grande boom populacional, se estendeu rapidamente em paralelo à linha férrea, originando, transformando e modificando os bairros de Plataforma, Praia Grande, Periperi, Fazenda Coutos, Paripe, que formam o subúrbio ferroviário. A contra exemplo da Vila Operaria de Boa Viagem, a consolidação dos bairros do subúrbio ocorre de maneira precária em termos de planejamento e infraestrutura urbana. Ocupações informais foram se somando a trechos planejados, que se somaram à implantação de grandes indústrias, configurando uma dinâmica urbana extremamente complexa. Portanto, a antiga vocação industrial da cidade baixa, em meados do século XX, se alastrou pelo subúrbio ferroviário. Em toda a região, foram instaladas 127 fábricas entre elas indústrias de alimentos, olarias, metalúrgicas, fábricas de cimento (a exemplo da Aratu S/A) e, mais recentemente, a indústria química e petroquímica consolidaram o Centro Industrial de Aratu (CIA), após a construção do Porto de Aratu em 1975. A Fábrica de Cimento Aratú S/A, que foi construída no fim da década de 50, se insere nesse contexto. Trabalhou a pleno vapor entre as décadas de 60 e 80, fabricando o cimento necessário para ser considerada a maior fábrica do ramo nessa Região. No fim da década de 80, foi desativada por causar danos ecológicos pela extração de calcário marinho da Baía de Todos os Santos, principal matéria prima para a fabricação do produto. A partir de então, a Fábrica entrou em abandono e arruinamento, transformando a área em cenário surreal, onde a vegetação consegue se desenvolver por cada fresta dos imensos edifícios que a compõem. Hoje em dia, a estrutura que ainda existe é cercada e protegida pelo ex-deputado Marcos Medrado, que alega ser seu proprietário. Mas o Estado contesta, afirmando que a Fábrica foi desapropriada para pagamento de dívidas. Talvez essa divergência de informações seja responsável por consolidar a situação de abandono em que a Fábrica se encontra. Suas enormes estruturas são avistadas de vários pontos da cidade de Salvador. Em Tubarão e São-Tomé, a Fábrica de Cimento Aratu se torna tão presente a ponto de não existir cidadão que a desconheça.


localização

PORTO DE ARATU

BAIA DE ARATU

PONTA DO TOQUE-TOQUE SACO DO TORORÓ QUILOMBO DO TORORÓ IGREJA SÃO-TOMÉ DE PARIPE SÃO TOMÉ DE PARIPE

PONTA DE SAPOCÁ FÁBRICA DE CIMENTO

TUBARÃO PRAÇA JOÃO MARTINS IGREJA NOSSA Sª DO Ó

Paripe, 2015 (Fonte: Google)

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processo de adensamento urbano

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Tecido urbano, 1959 (Fonte: CONDER)

Tecido urbano, 1989 (Fonte: CONDER)

Tecido urbano, 2002 (Fonte: CONDER)

Tecido urbano, 2010 (Fonte: CONDER)


panorâmicas de são-tomé

Pier de escoamento da Gerdau, 2015 (fonte: acervo pessoal)

São-Tomé de Paripe-Vista do terminal, 2015 (fonte: acervo pessoal)

Terminal marítmo de São-Tomé de Paripe, 2015 (fonte: acervo pessoal)

Praia de São-Tomé de Paripe, 2015 (fonte: acervo pessoal)

Praia de São-Tomé de Paripe, 2015 (fonte: acervo pessoal)

Fábrica de cimento Aratu, vista da escadaria da igreja de São-Tomé, 2015 (fonte: acervo pessoal)

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2. aspectos urbanos O BAIRRO DE PARIPE

PRAÇA DE SÃO TOMÉ DE PARIPE

C

R

onsiderado o mais populoso entre os 15 bairros que constituem o subúrbio ferroviário, Paripe é uma área marcada pelo contraste entre uma população carente, que vive em uma infraestrutura precária, e belas paisagens naturais. Segundo o IBGE, em pesquisa realizada pelo senso de 2010, o bairro é constituído por uma área de 486,41 ha, uma população de 55 mil pessoas, sendo que 84,5 % se consideram negros e pardos. O bairro possui uma renda média mensal per capta de R$ 742,13. Comparando com Salvador, que tem renda média mensal de R$ 1.394,60, percebemos que este bairro está entre os mais pobres da cidade. Quanto à segurança e à saúde, Paripe convive com os mais altos índices de violência, e pouca assistência médica. Atualmente, as delegacias mais próximas se encontram em Periperi e Plataforma. O bairro conta com algumas unidades médicas, mas não possui um hospital. O mais próximo é o hospital João batista Caribé, que se encontra em Periperi, onde há também o hospital do subúrbio.

EDUCAÇÃO

E

ecentemente requalificada, a Praça de São-Tomé de Paripe recebeu novos mobiliários urbanos como acentos e lixeiras, pergolados, aparelhos de ginástica, quadras de esporte, pista de skate e quiosques de água de coco e acarajé. Essa praça constitui o principal espaço público da Vila de São-Tomé, onde as pessoas se encontram e realizam diversas atividades. É cercada por alguns estabelecimentos comerciais que dão vida à praça, como bares e restaurantes.

PRAÇA JOÃO MARTINS

N

o tecido urbano de Tubarão, a Praça João Martins se posiciona em um local privilegiado. É, sem dúvida a principal praça de Paripe, funcionando como ponto de encontro da população. A praça recebe eventualmente parques de diversão, com equipamentos como roda gigante e carrossel, além de receber containers de apoio à população, a exemplo do Serviço de Atendimento as Cidadão, que disponibiliza unidades itinerantes. Sempre lotada, a praça se fica próxima à estação ferroviária e ao Centro de Abastecimento de Paripe.

m Paripe, há aproximadamente 15 instituições de ensino fundamental e médio da rede pública. A maioria delas se concentra nas proximidades da praça João Martins, como o Colégio Estadual Almirante Barroso, a Escola Municipal de Paripe e o Colégio Estadual Sete de Setembro. Além da rede de aripe possui uma vocação natural para a pesca, que é ensino público, existem creches, escolas particulares e centros historicamente conectada à cultura e ao comercio do bairro. comunitários de educação que se espalham pelo bairro. Apesar Peixes e mariscos variados são capturados tanto na Baía de Todos do número considerável de escolas, Paripe possui o índice de os Santos, quanto na Baía de Aratu, onde se destaca a presença de analfabetismo de 5,11, enquanto a média de Salvador é de 3,97, caranguejos. Em diversos pontos da orla, nota-se a presença das segundo o senso de 2010 realizado pelo IBGE. embarcações dos pescadores, que em alguns casos se organizam em cooperativas como no quilombo do Tororó.

PESCA

P

LAZER

A

s praias de Tubarão e São Tomé constituem as principais áreas de lazer. Nos finais de semana, ficam tomadas de banhistas que desfrutam do mar, da música e do comércio de bebidas e comidas. Recentemente equipadas com novas ciclovias e calçadas de espaço compartilhado, a orla atrai um público de diversas localidades, pois dispõe do terminal marítimo de SãoTomé, responsável por fazer as travessias entre o bairro, a Ilha de Maré e Madre de Deus, destino constante dos turistas. O futebol é o esporte mais valorizado na região, onde há diversos campos e quadras distribuídos pelo bairro, muitos deles em precário estado de conservação, outros recentemente reformados, como é o caso do campo de São-Tomé na faixa de areia próxima ao píer de escoamento da GERDAU. A Baia de Aratu é um reduto da prática de esportes náuticos, por suas condições geográficas e climáticas. Conta com três marinas em sua borda, onde ficam estacionados barcos e veleiros particulares.

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QUILOMBO DO TORORÓ

S

ituado à beira do manguezal, em um braço da Baia de Aratu chamado Saco do Tororó, O Quilombo do Tororó existe há mais de 400 anos. Em sua origem, era formado por escravos pescadores que, após a abolição da escravatura, passaram a vender os pescados para os senhores da região e permaneceram vivendo no local. Com a implantação do Grande Moinho Aratu, da empresa M Dias Branco, foi construída a Estrada do Criminoso, que dá acesso à Fábrica. Essa estrada causou um grande impacto negativo para a comunidade, que teve seu acesso ao Saco do Tororó cortado pela avenida. Apesar deste fato e de ameaças de remoção advindas do fato de ocuparem área de proteção ambiental, a comunidade consegue resistir e permanecer habitando o local. Hoje, os descendentes destes quilombolas sobrevivem


pontos de referĂŞncia

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basicamente da pesca e artesanato. Possuem uma herança cultural muito forte e preservam manifestações populares como o Bumba-Meu-Boi e outros rituais herdados de seus ancestrais. A comunidade vive organizada em cooperativas e praticamente todos da região possuem algum grau de parentesco.

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

E

ntre as manifestações culturais e religiosas, destacam-se o Bumba-Meu-Boi, anteriormente mencionado, o Grupo de Capoeira Bantos Brasil e a festa de São Roque, a mais tradicional de Paripe. Todo dia 21 de agosto, a população se junta nas ruas para fazer o percurso da procissão que sai da Igreja do Ó e segue até Muribeca. A população costuma fazer feijoada e brincadeiras com as crianças, atraindo um público da região e pessoas que vêm de fora, admiradoras ou devotas de São Roque. O bairro conta com dois centros culturais. O Centro de Artes e Cultura Deraldo Lima, que promove eventos com jovens do bairro como grupos de Hip Hop, teatro, dance, teatro de bonecos , dança e capoeira, além de promover um Ateliê aberto para o público infantil visando incentivar a criatividade para ilustrar as paisagens locais, e o Centro de Cultura em Desenvolvimento Escologia, que promove uma de ação de resgate e sedimentação da cultura da comunidade do bairro, enfocando a produção artesanal de doces, cestaria e renda de bilros, visando instruí-los à lógica da economia sustentável.

HABITAÇÃO

Futebol na Praia de São-Tomé, 2016 (Fonte: acervo pessoal)

Barcos de pesca em São-Tomé, 2016 (Fonte: acervo pessoal)

S

egundo o IBGE, em pesquisa realizada pelo senso de 2010, Paripe conta com 16.799 domicílios. Desses, 98,3% são abastecidos pela rede de água, 92% possui esgotamento sanitário adequado e 99,48% possuem energia elétrica. Apesar das porcentagens serem altas, todos esses índices estão abaixo da média da cidade de Salvador. O uso habitacional é caracterizado primordialmente por casas de 1 a 3 pavimentos que se desenvolvem por todo o bairro. Muitas delas seguem a lógica da autoconstrução, o que faz do bairro de Paripe uma área de constante transformação. Recentemente foi inaugurada uma unidade do programa de habitação popular Minha Casa Minha Vida nas proximidades da fábrica de cimento Aratu. Com aproximadamente 54 edifícios e capacidade de abrigar 400 famílias, a unidade beneficiou os moradores da região.

Barcos pesqueiros do quilombo do Tororó 2016 (Fonte: acervo pessoal)

COMÉRCIO

O

comércio é bastante variado e acontece principalmente em estabelecimentos ao longo das ruas e avenidas. Muitos desses edifícios são de uso misto com comércio no térreo e moradia nos demais pavimentos. O comércio informal é muito presente na praça João Martins e nas praias de Tubarão e São-Tomé, que também contam com muitos bares e restaurantes. Lojas de materiais de construção, confecções, farmácias, salões de beleza, padarias e mercearias estão pulverizadas por todo o bairro. O principal centro das atividades comerciais é o Centro de Abastecimento de

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Igreja de de São-Tomé de Paripe, 2015 (Fonte: acervo pessoal)


Paripe. Construído em 1995, substituiu a antiga Feira do Trilho, que se espalhava pela avenida Eduardo Dotto e 6 de suas travessas. Próximo à estação ferroviária, conta com aproximadamente 350 boxes, barracas de feira, restaurantes e pequenas lojas que vendem de produtos alimentícios a artigos de confecções.

INDÚSTRIA

D Presença da fábrica no bairro (Fonte: acervo pessoal)

entre as atividades industriais que acontecem na região, merecem destaque: o píer de escoamento de produção da Gerdau, empresa ligada à indústria metalúrgica, localizado na Ponta de Sapocá; a Fábrica M Dias Branco, que produz derivados da farinha, desde biscoitos a massas de macarrão; na Baia de Aratu, o píer da Ford, onde os carros são armazenados e preparados para o transporte marítimo; e o Porto de Aratu, ligado ao escoamento da produção de produtos químicos e petroquímicos. O bairro conta com algumas indústrias de menor porte como metalúrgicas, fabricação de móveis e pré-moldados de pequena escala.

PÍERES INDUSTRIAIS

L Massa urbana, São-Tomé, 2016 (Fonte: acervo pessoal)

igadas tanto à produção industrial do bairro quanto do CIA e do polo petroquímico de Camaçari, a orla de São-Tomé e principalmente a da Baia de Aratu são tomadas de Píeres onde aportam transatlânticos cargueiros. A movimentação dos navios é intensa e facilmente observada pelo público da praia.

TERMINAL MARÍTIMO

R

esponsável por realizar travessias para Ilha de Maré, Madre de Deus e Ilha dos Frades, o píer do terminal marítimo separa a praia de São-Tomé de Paripe da praia de Inema, propriedade da Base Naval de Aratu, onde só entram os militares. Tem um fluxo constante de pessoas que trabalham nas ilhas e daqueles que as procuram em busca de lazer e divertimento.

Terminal Marítimo (Fonte: acervo pessoal)

TERMINAL FERROVIÁRIO

O Pier de escoamento de produção da Gerdau(Fonte: acervo pessoal)

sistema de Trens do Subúrbio de salvador, inaugurada em 1860, possui 13,5 km de extensão e conta com estações nas comunidades da Calçada, Santa Luiza, Lobato, Plataforma, Itacaranha, Escada, Praia Grande, Periperi, Fazenda Coutos e Paripe. Apesar de não chegar ao centro da cidade de Salvador, o transporte é muito utilizado pelos moradores da região. O trajeto é também procurado por turistas interessados em conhecer um pouco mais da realidade da cidade. O terminal Ferroviário de Paripe, última estação do trajeto, é localizado próximo à praça João Martins, coração do bairro de Paripe. Nos arredores da estação, também se situa o Centro de Abastecimento de Paripe. Essa confluência de usos faz com que esta área seja intensamente movimentada nos dias de semana.

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CONEXÕES E DESCONEXÕES

D

entro da área em estudo foram mapeadas a ferrovia, a trajetória dos barcos, as ciclovias e as principais avenidas que percorrem o bairro, hierarquizadas conforme os mapas da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) em avenidas arteriais, coletoras e locais. Para chegar a Paripe, existem três meios de transporte principais: Hidroviário, ferroviário e rodoviário. Pelo mar é possível pegar um barco desde o terminal da França até a Ilha de Maré, e de lá, fazer a travessia para o terminal marítimo de São-Tomé. Pela ferrovia é necessário pegar o trem na estação da Calçada, e percorrer todo o subúrbio. Pelas rodovias existem basicamente duas opções: Através da cidade baixa, por meio da avenida Afrânio Peixoto, mais conhecida como Suburbarna, ou pela BR-324 entrando na BA-528. A pesar de existirem diferentes modais, o trajeto Centro-Paripe é muito complicado. Em ônibus, é necessário enfrentar o trânsito da cidade baixa ou da BR-324. Para pegar o trem, é necessário chegar até a Calçada, o que tarda pelo congestionamento da avenida Jequitáia. E pela água, o preço e a necessidade de fazer a troca de barco praticamente inviabiliza esse meio de transporte como alternativa. Ao sul de Paripe, a partir da praça João Martins, as ruas acontecem em formato radial e concêntrico. Essa centralidade faz da praça um grande ponto de encontro e referência entre os moradores do bairro. Para se chegar até lá, a partir do centro de Salvador, existem basicamente duas possibilidades: Através da avenida Suburbana, como já foi mencionado ou por meio da av. Marques de Tamandaré, conectada com a BA-528 que se encontram destacadas no mapa. Os principais fluxos do bairro estão conectadas diretamente com a praça João Martins, como a avenida Afrânio Peixoto, a ferrovia, a, a rua Almirante Tamandaré, a rua da Bélgica, a avenida São Luiz a rua Iriguaçu e a rua Eduardo Dotto. A principal praça de São-Tomé de Paripe acontece em frente ao mar próximo à Ponta de Sapocá. Longe da estação ferroviária, São-Tomé convive com uma realidade ainda mais isolada. Para atingir a praça é necessário cruzar a Ponta de Sapocá, ou recorrer a BA-528 e entrando pela rua Santa Filomena, destacadas no mapa. As avenidas que percorrem a borda marítima de Paripe são a Benjamin de Souza, em São-Tomé, que acontece do terminal marítimo até a Ponta de Sapocá, e a Eduardo Dotto, em tubarão, que cruza a Ponta de Sapocá e se estende até a praça João Martins. Essas avenidas foram recentemente requalificadas e convertidas em espaço compartilhado entre o carro e o pedestre. Recentemente requalificadas, as orlas de São-Tomé e Tubarão são desconectadas pela ponta de Sapocá, aonde se instala a fábrica de cimento abandonada. A avenida Afrânio Peixoto, principal avenida do subúrbio, atualmente sofre uma requalificação que abrange a implementação de uma ciclovia em seu canteiro central percorrendo toda a sua extensão, ou seja, todo o subúrbio ferroviário. A medida é de grande contribuição para a mobilidade urbana pois cria uma nova alternativa de transporte gerando uma melhor conexão entre os bairros. Além da distância e dos problemas relacionados a fragilidade do sistema de transportes públicos, internamente, paripe sofre uma desconexão entre São-Tomé e Tubarão. Tanto pela questão geográfica, pois uma elevação separa as duas localidades, quanto pela descontinuidade da orla, marcada pela região abandonada da fábrica de cimento instalada na Ponta de Sapocá.

Rua Dr. Eduardo Dotto , 2014 (Fonte: Google Street View)

Rua João Martins - direção à praça , 2014 (Fonte: Google Street View)

Rua Santa Filomena - direção à praça , 2014 (Fonte: Google Street View)

Rua Eduardo Dotto, trecho Ponta de Sapocá, 2014 (Fonte: Google Street View)

Rua Benjamin de Souza, 2014 (Fonte: Google Street View)

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sistema viรกrio

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SOBRE AS ÁREAS, SEUS USOS E SUAS LEIS

S

egundo o mapa de regiões administrativas elaborado pelo PDDU de 2008, Paripe se encontra sob a XVII RA, que corresponde aos subúrbios ferroviários. O Mapa de Macrozoneamento do município considera que paripe se encontra entre macroárea de consolidação urbana, macroárea de recuperação ambiental e macroárea de proteção ambiental. O mapa do Zoneamento elaborado pelo PDDU já se assemelha ao mapa aqui apresentado, aonde a área em vermelho são zonas predominantemente residenciais, a Área verde está sob proteção ambiental, a Área roxa corresponde a Base Naval de Aratu, e a área Amarela corresponde à zonas industriais. Além destas áreas, as praias de São-Tomé e Tubarão também foram destacadas em amarelo, pela sua relevância entre nossos aspectos urbanos. Observando a área em vermelho, percebemos que Paripe é um bairro predominante mente residencial, apesar de nesta área também acontecer o uso comercial. Por se tratar de área de borda, está sujeita de restrições de gabarito. São-Tomé está sujeita ao gabarito máximo de 06 metros de altura. Tubarão, 12 metros, e próximo a praça João Martins, se permite construir até 24 metros. A ponta de Sapocá, por ser uma zona industrial, não está sujeita a restrição do gabarito. As áreas em verde estão sujeitas as leis de conservação ambiental segundo o PDDU de 2008, que é responsável por restringir o processo intenso de urbanização e conservar a sua biodiversidade. A área destacada é caracterizada pelo mangue e mata-atlântica. A pesar do quilombo do Tororó estar localizado nessa área, é importante mencionar que a existência de comunidades que vivem da cultura de subsistência não está em desacordo com as leis de conservação ambiental regidas pelo PDDU de 2008, como dispõe o texto da LEI nº 7400/2008, Art. 154, inciso II que caracteriza as macroárias de proteção ambiental da seguinte maneira: ‘’II - não ocupadas ou com baixíssimas densidades de ocupação do solo, dotadas de atributos naturais, estéticos e culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar da população do Município, que têm por função a produção de água, a conservação da biodiversidade e a mitigação dos efeitos da urbanização intensiva do território sobre o meio ambiente local, admitindo, porém, certo grau de ocupação humana e o uso sustentável dos recursos naturais.’’ A área em roxo, correspondente a Base Naval de Aratu, que foi construída pela marinha dos Estados Unidos no período da segunda guerra mundial, e entrou em efetivo funcionamento em 1970. É responsável por promover apoio logístico às Forças Navais, Aeronavais e de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, além de Possui uma residência oficial de veraneio utilizada pela presidência da republica. Destacadas em amarelo, as zonas industriais estão, ligadas ao escoamento de produção através da via marítima, como no porto de Aratu e no píer da GERDAU. Segundo o Mapa de Zoneamento do Município elaborado pelo PDDU de 2008, a Ponta de Sapocá é considerada uma ZIN2. A LEI nº 7400/2008 art.178, inciso II, que dá diretrizes para as Zonas Industriais ZIN2 diz: ‘‘II - Para a Zona Industrial ZIN-2: a) aproveitamento pleno das condições locacionais da zona para a implantação de atividades industriais vinculadas ao transporte marítimo; b) conciliação do uso e ocupação do solo na zona com as diretrizes de conservação ambiental estabelecidas nesta Lei para os conjuntos de vegetação remanescentes na área, que se caracterizam como ambiente de Mata Atlântica.’’

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Área Residencial, Tubarão, 2014 (Fonte: Google Street View)

Entrada da Base Naval de Aratu, 2014 (Fonte: Google Street View)

Área de preservação ambiental, 2014 (Fonte: Google Street View)

Praia de São Tomé, 2014 (Fonte: Google Street View)

Área industrial ZIN2, 2014 (Fonte: Google Street View)


zoneamento

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3. a fábrica APROXIMAÇÃO COM O ESPAÇO

A

Fábrica de Cimento Aratu está implantada na Ponta de Sapocá, essa proeminência do continente que avança sobre a Baía. É constituída pela área de aterro, originalmente responsável por receber a matéria prima advinda do mar, e posteriormente encaminhá-la para o grande platô, por onde são implantados a maioria do edifícios da Fábrica a uma cota de aproximadamente 30 metros em relação ao nível do mar. O complexo da Fábrica de Cimento originalmente contava com aproximadamente 25 edifícios, que foram se deteriorando ou sofreram demolições a partir da sua desativação. Atualmente, as instalações da fábrica correspondem a aproximadamente 15 edifícios, quase todos em estrutura de concreto, que se entrelaçam entre formas metálicas e espécies vegetais compondo a pitoresca e instigante imagem da Fábrica. A inviabilidade de acessar o local, atribuída ao Senhor Marcos Medrado, que não concedeu a autorização para tanto necessária, não permitiu uma análise mais profunda do estado de conservação do patrimônio. Contudo, é notório que as estruturas

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da fábrica de cimento sofrem de diversas patologias em decorrência do seu abandono. Porém, o fato de serem estruturas robustas projetadas para suportar imensas cargas indica que ao sofrerem recuperação estrutural, seguramente serão capazes de perdurar por muito tempo. Portanto, as bases que foram utilizadas para o reconhecimento da Fábrica foram: A base SICAR , preparada pela CONDER , uma série de imagens aéreas da Fábrica de diferentes épocas, concebidas também pela CONDER, o levantamento cadastral de alguns dos edifícios realizado e gentilmente cedido pela ex-aluna da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia FAU-UFBA , Daniela Moura, e o levantamento fotográfico realizado em Julho de 2009, concedido pela professora e diretora da FAU-UFBA, Naia Alban. Por meio de visitas realizadas ao seu entorno e da análise e cruzamento dos dados, somadas aos estudos sobre o processo de fabricação do cimento, aos poucos foi possível inferir e compreender as principais estruturas da antiga fábrica de Cimento Aratu, e o seu funcionamento.


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fabricação do cimento aratu

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A FABRICAÇÃO DO CIMENTO E O FUNCIONAMENTO DA FÁBRICA ARATU

O

fabrico do cimento se dá basicamente em quatro etapas: extração da matéria prima, indicada em amarelo, a produção do cru, em azul, a produção do Clínquer, em verde, e por ultimo a formação do cimento, colorido em vermelho. A principal matéria prima para sua fabricação é o calcário. No caso da Fábrica de Cimento Aratu, o insumo era extraído do fundo do mar, por meio de explosões, o que causou graves danos ecológicos para a vida marinha de Paripe e motivou a desativação da Fábrica. Após extraídas as rochas calcárias marinhas, elas eram postas na esteira do píer da fábrica e transportadas até o aterro, onde acontecia a britagem, que consiste na diminuição da gramatura das pedras. A partir daí, eram transportadas pela esteira 3, que vencia o desnível de 30 metros entre o aterro e o platô principal da fábrica. Uma vez transformada em brita, a matéria prima sofre a adição de outros elementos industriais, como o carbonato de cálcio, a sílica, o alumínio e o minério de ferro, e é triturada originando o cru, que deve ser armazenado por certo período até estar pronto para o cozimento. Os dois silos de 50 metros de altura, os mais altos da Fábrica de Cimento Aratu, destinavam-se ao armazenamento do cru. A terceira etapa se inicia com o cozimento do cru, que entra em um forno giratório aquecido a uma temperatura de 1500° C. Logo em seguida, a mistura sofre um abrupto resfriamento por rajadas de ar, insufladas por um enorme ventilador, finalizando a terceira fase do processo quando se obtém o clínquer. Esta fase acontecia entre o galpão principal e o grande cubo que abriga o forno giratório da Fábrica de Cimento Aratu. A quarta e última fase se inicia quando o clínquer é acrescido de gesso e outros subprodutos industriais, e a mistura sofre a segunda moagem, finalizando a produção do cimento. Essa fase acontecia no volume 8, que se localiza entre o galpão principal e os silos de armazenamento e distribuição do produto. O cimento era armazenado nos quatro cilindros de 25 metros de altura. Uma parte era direcionada para o edifício 10, onde acontecia o ensacamento, e outra para o silos 11, que despejava o cimento diretamente em caminhões, para a venda a granel.

Fonte: site Votorantim

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4. desdobramentos

REPERCUSSÕES SOBRE PARIPE E A FÁBRICA DE CIMENTO

P

aripe é um bairro de pouca visibilidade perante a cidade de Salvador. As reportagens retiradas dos principais jornais de circulação da cidade constituem todo o acervo de matérias relacionadas à Paripe disponibilizadas pela biblioteca da Fundação Mário Leal Ferreira. Um número extremamente baixo se comparado com o acervo de bairros mais “nobres”. As manchetes abordam três pontos principais: o esquecimento em que vive o bairro; as obras de melhorias

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realizadas pela prefeitura em diferentes épocas; e as belezas naturais relacionadas à Baia de Todos os Santos. Em reportagem do Jornal Bahia Hoje de novembro de 1996, intitulada ‘’Moradores se queixam do isolamento em que vivem’’, e ilustrada com uma foto da fábrica de cimento a pleno vapor, o autor relata a história do bairro e destaca alguns problemas que existem por lá: ‘’de segunda a sábado o bairro de São-Tomé de Paripe é uma cidade do interior dentro da capital. Nos domingos, vira cidade grande com tudo de ruim que isso possa trazer’’. Declarou o morador Atanásio

Julho. O “efeito sanfona” que o bairro sofre, relatado também em outras reportagens, está relacionado com os visitantes de outros bairros que lotam as praias no final de semana, atraindo trabalhadores do comércio informal e trazendo a poluição sonora e a sujeira para a praia. Ainda nessa reportagem, foi dito que, após a instalação da Fábrica de Cimento Aratu, que extraia calcário do fundo da Baia de Todos os Santos, o bairro foi tomado pela poluição e pela fumaça, repelindo os turistas que veraneavam no local. Em ‘’Clima de balneário em pleno subúrbio’’, do jornal A Tarde, em janeiro de 2008,

Alexandra Oliveira da Silva declara: ‘’Diversão é só praia e bar. Ou ficar conversando nas praças’’. A reportagem destaca a ausência de cinemas, teatros, quadras poliesportivas e atividades de lazer para crianças na região de Paripe. A reportagem ainda fala da dificuldade que sofria outro entrevistado em chegar ao bairro do Costa Azul, onde cursava pedagogia em uma universidade particular. Na reportagem de dezembro de 97, também do jornal A Tarde, intitulada ‘’ Famílias do subúrbio invadem área verde em Tubarão’’, cerca de 300 famílias invadiam justa-


mente a ponta de Sapocá, nas imediações da Fábrica de Cimento, que, na época, ainda era reivindicada pelo proprietário da Fábrica, que tentava a reintegração de posse. Hoje, a vila que por ali se instala já é consolidada e ainda cresce. O artigo ‘’O jeito de ser e de viver do suburbano’’, reportagem veiculada pelo jornal Bahia Hoje em março de 1994, além de apontar problemas relacionados a serviços e violência, o autor destaca as maravilhas naturais da região, como as comidas típicas, os pescados e as travessias para Ilha de Maré, Ilha dos Frades e Madre de Deus.

Na matéria mais recente do acervo da Fundação Mario Leal Ferreira, visitada em agosto de 2015, ‘’Moradores de São-Tomé e Tubarão terão suas orlas recuperadas’’, o jornal A Tarde trazia uma imagem da obra de requalificação da orla de São Tomé. Essas obras estão dentro do projeto da prefeitura, em sua gestão atual, de requalificação da orla de salvador. Os bairros da Barra, Rio vermelho, Itapuã, São-Tomé e Tubarão já tiveram suas obras entregues. A violência, o destino inadequado do lixo e do esgoto, a falta de pavimentação adequada, a falta de opções de lazer, a deficiência de serviços médicos

e as dificuldades relacionadas a transporte e educação, são os principais problemas relatados nas reportagens encontradas. As obras de requalificações que ocorreram nos bairros em diversos momentos da história foram sempre bem vindas, apesar de muitas vezes serem feitas sem diálogo com a comunidade. O destaque para as belezas naturais das praias de São-Tomé e Tubarão é recorrente. A Fábrica de Cimento é sempre mal vista por aqueles que produzem notícia. Tanto pela sua estória, de fumaça e degradação, quanto pelo seu abandono. Porém, o cineasta Claudio Marques enxergou

na Fábrica um grande potencial cenográfico e rodou diversas cenas do filme ‘’Depois da Chuva’’ em suas estruturas. O Filme, lançado em 2015, obteve boas repercussões, sendo vencedor dos prêmios de melhor ator, melhor roteiro e melhor trilha sonora no Festival de Brasília de Cinema Brasileiro. A reportagem de julho de 2015 da revista Muito, vinculada ao jornal A Tarde, sob o título ‘’A fábrica ao lado’’, além de apresentar a história da industrialização no subúrbio de salvador, destaca a importância da preservação do patrimônio industrial baiano, para a compreensão de nossa história e nossa cultura.

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O PATRIMÔNIO INDUSTRIAL E A SITUAÇÃO EM SALVADOR

A

Preservação do patrimônio industrial tem como base o fato de que os períodos mais antigos da história são definidos a partir de vestígios arqueológicos que testemunharam mudanças fundamentais no processo de fabricação de objetos da vida cotidiana. É inegável o fato de que a revolução industrial marcou o início de um profundo processo de modificação que até hoje influencia toda a humanidade. Portanto, os vestígios materiais dessas mudanças devem ser estudados e preservados, e sua conservação deve ser reconhecida. A carta de Nizhnu Tagil, que foi escrita na Rússia pelo comitê internacional para conservação do patrimônio industrial (The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage -TICCIH )(Sigla em inglês) em Julho de 2003, traz como definição de patrimônio industrial os ‘’vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico’’. À luz da carta de Veneza e da carta de Burra, a carta de Nizhnu Tagil Versa

estudos iniciais -Ricardo Bolfil (Fonte: Archidaily)

natureza-ambiente contruido (Fonte: Archdaily)

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sobre os valores do patrimônio industrial, a importância da investigação e documentação desses vestígios, as proteções legais cabíveis ao patrimônio industrial, a sua manutenção e conservação, o ensino e formação de profissionais, além da difusão dos valores do patrimônio industrial através de museus, publicações, exposições entre outros meios de comunicação. O processo de urbanização da cidade de salvador, como mencionado na matéria da revista Muito, foi realizado em camadas que aos poucos foram se sobrepondo e apagando seu passado: ‘’É um palimpsesto, aquilo que se raspa para escrever de novo’’ afirmou a arquiteta Soraia Carvalho, entrevistada na matéria. Dessa maneira, o legado industrial baiano do século XX, que marcam a transição do país através de uma corrida industrial sem precedentes, vai se tornando cada vez mais rarefeito com sucessivas demolições de suas fábricas. A pesar de seu notório valor histórico e arquitetônico, o complexo da Fábrica de Cimento Aratu não está sob a proteção do patrimônio histórico da cidade de Salvador. Foram procuradas a

Fundação Mario Leal Ferreira, a Fundação Gregório de Matos, o Instituto do Patrimônio Histórioco e Artístico Nacional (IPHAN), o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC ), o Arquivo Público do Estado, a CONDER, em vários de seus setores, e é possível afirmar que não existem documentações técnicas sobre o projeto arquitetônico ou levantamento fotográfico da Fábrica de Cimento Aratu disponíveis ao público. Hoje em dia, o tema do patrimônio industrial vem ganhando cada vez mais espaço tanto no universo teórico, quanto no campo prático. Sobram exemplos para falar de projetos de recuperação de patrimônio industrial pelo mundo. Assim, alguns desses projetos foram fundamentais para a compreensão do tema e do objeto de estudo deste trabalho.

das de uma fábrica de cimento localizada na periferia de Barcelona em 1973. As estruturas configuravam um cenário surreal a reuniam escadas que davam a lugar nenhum, fortes estruturas que nada sustentavam, enormes galerias subterrâneas e pedaços de metal suspensos no ar. Impressionado com a fábrica, ele adquiriu a propriedade e resolveu transforma-la em sua residência e seu escritório de arquitetura. O processo de transformação, que durou dois anos, começou com a demolição de parte da estrutura, reconfigurando sua composição volumétrica e revelando formas até então ocultas. Oito silos permaneceram e foram transformados em escritórios, biblioteca, sala de projeções, laboratório de modelos e um grande espaço denominado como ‘’A Catedral’’. Este lugar dá espaço a diversas movimentações culturais, como exposições, shows e outros eventos que estão ligados às atividades do escritório. LA CEMENTERA - BARCELONA Além da demolição de RICARDO BOLFILL parte da estrutura e da reconversão dos usos, um projeto paisagístico foi elaborado de spanhol original da Cata- maneira que a composição arluña, o arquiteto Ricardo quitetônica se camufla por entre Bolfill se deparou com as a vegetação, que toma algumas enormes estruturas abandona- fachadas e se desenvolve pelas

E

Vista interna, taller de arquitectura (Fonte: Archdaily)

Fábrica de cimento em fase de transformação (Fonte: Archdaily)

Planta-Baixa, Richard Haad (Fonte: Archidaily)

Vista aérea - Gasworks Parks (Fonte: Archidaily)


coberturas. A estética perseguida pelo autor revela estruturas robustas e mantém, em certa medida, pedaços de estruturas para as quais não foram atribuídas novas funções, gerando um cenário original onde a vegetação, os novos usos e as ruínas se integram e convivem lado a lado. O estudo desse projeto foi fundamental para a percepção espacial da composição arquitetônica e das potencialidades formais e estéticas atribuídas às fábricas de cimento

GAS WORKS PARK-SEATLE RICHARD HAAG

L

ocalizado em Seattle, no estado de Washington, nos Estados Unidos, o antigo gasômetro da Seattle Gas Light Company foi implantado na orla norte do Lake Union. Localizado em uma área de borda que avança sobre a água, sua situação geográfica se assemelha com da Fábrica de Cimento Aratu, na Ponta de Sapocá. O gasômetro funcionou entre 1906 e 1956 e, em 1962, a propriedade foi adquirida pela cidade de Seattle, para fins de recreatividade pública.

O arquiteto paisagista Richard Haag foi responsável por conceber o projeto de transformação da antiga área industrial em um parque urbano de Seattle, que foi entregue ao público em 1975. Esse projeto estava inserido em um grande sistema de parques públicos iniciado em 1903 pelos irmãos Olmsted, filhos de Frederick Law Olmsted, o idealizador do Central Park, considerado pioneiro na arquitetura paisagística. A conversão de áreas industriais em parques urbanos já havia acontecido pelo mundo. Porém a importância do patrimônio industrial ainda não era notoriamente conhecida, gerando, na maioria das vezes, completas demolições de edifícios industriais para a adaptação das áreas ao uso recreativo, como foi o caso do Parc des Buttes Chaumont, em paris, que tomou o lugar de uma antiga pedreira abandonada em 1860. Essa prática se estendeu pelo século XX, quando aparecerem as primeiras iniciativas preservacionistas do patrimônio industrial. O projeto de Haag, para o Gas Works Park, foi um dos primeiros a contemplar a manutenção do patrimônio, integrando a sua existência ao uso recreativo. Parte da estru-

Gasometro da Seattle Gas Light Company (Fonte: Archidaily)

Gasometro mantido pelo projeto arquitetônico (Fonte: Archidaily)

tura do Gasômetro foi mantida enquanto elemento escultórico, e um galpão foi recuperado e convertido em área de picnic. De extrema simplicidade e beleza, o projeto realizado se configura como um grande gramado a céu aberto que evidencia as enormes estruturas metálicas do antigo gasômetro.

LANDSCHAFTSPARK - DISBURGO wPETAR LATZ AND PARTNERS

N

a mesma linha de preservação e conversão de estruturas industriais em espaços destinados ao uso recreativo, o Landschaftspark, localizado na cidade de Duisburgo, na Alemanha, foi concebido pelo escritório Latz + Parners em 1991, fruto de um concurso público para realização do projeto, que em suas premissas já previa a preservação do patrimônio. Transformando uma complexa área industrial que contava com diversas estruturas, como uma usina de carvão, uma usina de produção de aço, a fábrica da Thissenkrupp, bunkers de armazenamento de

Planta-Baixa, Latz+Partner (Fonte: site Latz+Partner)

minério, gasômetros, fornos gigantescos, guindastes, turbinas ventanearas entre muitas outras minúcias que remanesceram entre suas enormes estruturas originárias do início do século XX, o espaço deu lugar ao parque, um imenso espaço público, onde acontecem diferentes atividades tanto em suas áreas livres, quanto no interior de alguns edifícios fabris. Dentre os principais programas que foram implementados por entre as estruturas do parque, se destacam o teatro para 700 pessoas, espaços multifuncionais que são alugados para eventos, um mirante a 70 metros de altura de onde se tem uma bela vista da cidade, um cinema ao ar livre, ciclovias, muros de escalada, passarelas, espelhos d’água entre outros. A proposta arquitetônica é muito sensível no sentido da preservação do patrimônio industrial, onde os elementos propostos, a arquitetura preexistente e a paisagem convivem harmoniosamente, através do tratamento paisagístico e luminotécnico. Para além da cidade, o parque está inserido na ‘’Rota da Cultura Industrial’’ que se dá ao longo do rio Ruhr. São ao todo, 12 atrações entre parques e museus que têm o patrimônio industrial como tema.

Estrutura industrial Landschaftspark (Fonte: site Latz+Partner)

Vista aérea - Landschaftspark (Fonte: site Latz+Partner)

Landschaftspark (Fonte: site Latz+Partner)

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5. o projeto O PARQUE URBANO DE SAPOCÁ

A

Ponta de Sapocá constitui uma forte ruptura urbana. Tanto pela sua topografia, que separa a vila de São-Tomé das demais localidades de Paripe, quanto pela presença da Fábrica abandonada, que repele a presença de pessoas à sua volta. Desconectada do seu perímetro, do lado do mar, ela rompe a continuidade da orla entre as praias de São-Tomé e Tubarão, privatizando a borda marítima, e na parte continental, tanto a vegetação quanto o muro da fábrica formam uma barreira praticamente intransponível à toda a comunidade que ali se instala. A ideia da intervenção, que tem como protagonista a preservação, a transformação e a conversão de uso dos principais edifícios industriais em equipamentos públicos, começa por reconsolidar essa fratura existente entre a ponta de Sapocá e o seu entorno. Dessa maneira, o projeto acaba se caracterizando como uma intervenção em escala urbana, que deve conectar as pessoas aos equipamentos arquitetônicos e à natureza através de um tratamento paisagístico. Observando a topografia, os edifícios, a vegetação, o mar, as praias, as comunidades e todo o potencial existente nesse sítio, sugere-se transformá-lo em um Parque Público, sendo o esporte, o lazer e o entretenimento os principais objetivos dessa intervenção. O programa escolhido nasce da confluência entre a leitura espacial, com o reconhecimento das vocações que possuem as estruturas existentes, e as demandas observadas tanto nas comunidades adjacentes, quanto na cidade de Salvador. Os principais equipamentos propostos são: Complexo Esportivo, Piscina de Maré, Restaurante, Planetário, Auditório, Mirantes, Complexo Lúdico e o Mirante-Memorial da Fábrica de Cimento. O Parque, portanto, tem o objetivo de atrair tanto o público local, que será o usuário mais frequente, quanto o público da cidade de salvador em geral.

A criação de equipamentos como planetário, auditório e complexo esportivo podem ter caráter complementar às atividades educacionais da região, integrando-se à grade curricular das escolas públicas. Para isso, haveria um transporte subsidiado, que circularia entre as escolas, o bairro e o Parque, aumentando rotatividade e facilitando o seu acesso e integração com a comunidade. Além do transporte terrestre, é proposto um terminal marítimo, que poderia conectar muito bem o parque ao centro da cidade. É importante destacar que a área possui significativo potencial turístico, pela exuberância da natureza, pela conexão com a Baía de Todos os Santos e pela força da imagem que compõem os volumes da Fábrica. Tudo isso pode ser atrativo para um turista. Portanto, entre os destinos das embarcações do terminal da França, por exemplo, haveria um que o levasse à Ponta de Sapocá. A proposta do terminal marítimo, além de estar relacionada com o turismo, também está ligada a mobilidade urbana, já que os moradores das comunidades adjacentes poderão utilizar o transporte hidroviário para se deslocar regularmente para o centro, como alternativa a outros meios de transporte, trazendo maior fluxo de pessoas para parque e a diminuição da demanda pelos transportes terrestres. A proposta então se consolida como um parque público com influência regional, que traz equipamentos de grande importância para as comunidades de São-Tomé e Turbarão, beneficiando as comunidades vizinhas e trazendo alternativas de lazer e conhecimento para toda a cidade de salvador. Tendo como premissas a preservação da natureza e do patrimônio industrial, o parque deve reconectar as pessoas à Ponta de Sapocá por meio do esporte, do lazer e do entretenimento.

5.1. diretrizes conceituais O VERDE: A evolução da vegetação na Ponta de Sapocá A ÁGUA: A força da água na região A FÁBRICA: A composição arquitetônica do patrimônio

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o verde

A EVOLUÇÃO DA VEGETAÇÃO

1959 fonte: CONDER

PROPOSTA

fonte: CONDER

A 1989 fonte: CONDER

sequência de imagens ao lado mostra a presença da vegetação ao longo dos anos. Entre a primeira e a segunda imagem se nota uma grande diminuição da área verde, tanto pela presença da fábrica quanto pela presença das residências. Sequencialmente, notamos que o processo de abandono permite que a vegetação penetre na área da fábrica.

A

imagem acima demonstra a intensão de romper definitivamente os limites da fábrica para que o verde possa se desenvolver por toda a área do parque.

2002 fonte: CONDER

2010 fonte: CONDER

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a água

A FORÇA DA ÁGUA fonte: Google Earth

PROPOSTA

fonte: Google Earth

A fonte: Google Earth

fonte: Google Earth

sequência de imagens ao lado demonstra a presença e a força da água em toda a região. Desde a Baía de Todos os Santos com a foz do rio Paraguaçu, a Baía de Aratu, que origina o nome da Fábrica, o Saco do Tororó, braço da baía de bordas mangueadas, e alguns lagos artificiais que se desenvolvem na região do Complexo Industrial de Aratu.

A

imagem acima demonstra a intenção de trazer o elemento água para dentro do parque dando suporte à natureza e proporcionando novas experiências às pessoas.

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fonte: Google Earth


a fábrica

A COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA

1989 fonte: CONDER

PROPOSTA

fonte: CONDER

A

sequência de imagens ao lado mostra a evolução do processo de arruinamento da Fábrica, onde são destacados em amarelo os volumes que a compõem. Entre as fotos de 1989 e de 2010 se percebe que a presença do amarelo vai se tornando cada vez mais rarefeita.

A 2002 fonte: CONDER

imagem acima demonstra a intenção de congelar esse processo em um ponto onde as edificações de forte expressão arquitetônica sejam preservadas e responsáveis pela manutenção da imagem da Fábrica de Cimento Aratu.

2006 fonte: CONDER

A

planta síntese conceitual acima apresenta, portanto, os três temas interligados. Em laranja, os equipamentos que serão preservados e transformados, em verde, a vegetação que toma praticamente toda a área do parque, e em azul, a água, que também assume protagonismo paisagístico relacionando a natureza aos elementos construídos.

2010 fonte: CONDER

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5.2. implantação

ÁREAS DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

O

Parque Urbano de Sapocá possui uma área de aproximadamente 40 ha, formada pela linha do mar, o limite do píer de escoamento de produção da Gerdau e a ladeira de pedra, que se encontra com a Avenida Eduardo doto e se estende até o fim da ponta de Sapocá.

M

orfologicamente a área consiste em uma elevação com a cota máxima de 42 metros acima do nível do mar. O terreno se divide em cinco principais áreas. Duas compostas por mata atlântica, uma de aproximadamente 11ha e outra de aproximadamente 8 ha, que fazem a transição entre a comunidade e a Fábrica, um grande platô onde acontecem os principais edifícios a serem conectados e transformados, a encosta, que consiste em um desnível de 30 metros e conta com uma área de aproximadamente 7 ha, e a área de aterro, de aproximadamente 5 há, que está 2,5 metros acima do nível do mar.

PLATÔ PRINCIPAL

ENCOSTA

ATERRO

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5.3. propostas gerais ACESSOS E ÁREAS DE INTERVENÇÃO

O

Parque Urbano de Sapocá é rompido pelo fluxo da Rua Eduardo Dotto, por onde se dão os seus acessos principais. Nas imediações do parque são propostos quatro pontos de ônibus. Um na entrada do Parque pelo lado de São –Tomé, um que dá acesso direto ao platô principal, um na entrada da Rua Alto das Pontes, próximo ao estacionamento do parque, e o último na entrada do Parque pelo lado de Tubarão. A presença desse fluxo constante garante permeabilidade para a ponta de Sapocá, integrando o parque urbano às comunidades à sua volta. Para cada área que constitui o parque, zoneado na página ao lado, serão propostas intervenções de natureza distinta. As duas zonas principais de mata atlântica serão caracterizadas como áreas de preservação ambiental. Por isso, devem ter acessos controlados e restritos ao período diurno, tanto por uma questão de segurança, quanto pela fauna, que necessita de baixa interferência do homem para o seu pleno desenvolvimento. A proposta para essas áreas consiste em caminhos de baixo impacto ambiental e alto nível de absorção de água com o objetivo de proporcionar agradáveis caminhadas ecológicas. O platô superior, onde se desenvolvem os principais equipamentos propostos, é permeado por um lago artificial, que contará com pedalinhos, escultura e esguichos d’agua gerando espaços de interação, além de contribuir com a recuperação ambiental da área proporcionando o pleno desenvolvimento da vegetação. A área da encosta, que conta com uma faixa de mata atlântica, faz a transição entre o platô superior e a área de aterro. Para a transposição desse desnível foi proposta uma rampa posicionada no mesmo local da circulação existente, e um plano inclinado que conecta a parte central do platô superior ao terminal marítimo, na região inferior. Assim como o platô superior, a área de aterro também sofrerá recuperação ambiental e os principais equipamentos propostos são um terminal marítimo e uma piscina pública de água do mar, a Piscina de Maré. O aterro também receberá o fluxo advindo da proposta de continuidade entre as orlas de São-Tomé e Tubarão, que percorrerá o perímetro marítimo do Parque de Sapocá.

CONEXÕES 8,91%

EQUIPAMENTOS 10,48%

ÁGUA 6,61%

VEGETAÇÃO 74,82%

39


40


41


8

Entrada São-Tomé Ponto de ônibus Pier da Gerdau Trilha ecológica Pondo de ônibus Pondo de ônibus Estacionamento Marquise Auditório

9

Planetário

10

Estação de Tratamento

11

Ginásio Esportivo

12

Mirante Memorial

13

Complexo Lúdico

14

Lago artificial

15

Administração Geral

1 2 3 4 5 6 7

17

Restaurante Estufa- Orquidário

18

Estação de pedalinhos

19

Café-Mirante

20

Plano Inclinado Estação Superior

21

Plano Inclinado Estação inferior

22

Terminal Marítimo

23

Bares

24

Vestiários

25

Piscina de Maré

26

Ciclovia

27

Trilha ecológica

28

Entrada Tubarão Ponto de Ônibus

16

42

5

8 9 3

1

2


28

planta -baixa geral 0

50

100

27

6 15 7

16

13

14 12

17

19

18

10 20

11

26

4 23

21 22

24

25

43


LAGO, CONEXÕES E PAISAGISMO

A

proposta de um lago que permeia todo o platô superior, ora inundando os equipamentos propostos, ora tocando, tangenciando ou invadindo as praças do Parque, tem o objetivo de gerar um ambiente, ainda que criado, de exuberância da natureza, onde o usuário possa perder e reencontrar o seu contato visual em pontos diferentes do parque, além de poder interagir de maneira mais direta com o lago, andando de pedalinho, molhando os pés em algumas áreas sugeriadas. A água é um elemento fundamental para o crescimento das plantas. Portanto, o lago fará parte do sistema de irrigação primeiramente nas etapas de plantio, e posteriormente, na manutenção. Além da flora, a água também é responsável pelo desenvolvimento da fauna, que por sua vez é responsável pelo desenvolvimento da flora, fechando o ciclo biológico. Animais como peixes e patos podem ser introduzidos, e por meio de um controle profissional, poderão se desenvolver com independência, a exemplo do lago do Parque da Cidade de Brasília, onde varias espécies de aves e animais aquáticos vivem naturalmente. O pedalinho é uma atividade de lazer muito recorrente em lagos artificiais por todo o mundo. Em salvador temos o Dique do

Tororó como exemplo. É uma atividade saudável e encantadora, para casais e crianças. Esculturas artísticas e esguichos de água contribuem para a comunicação e referências visuais do parque. Além do suporte à natureza e das atividades propostas, o lago também é uma referência para a circulação dentro do parque, auxiliando na construção de uma nova paisagem, trazendo tranquilidade para o usuário em contraponto à aridez e hostilidade do ambiente da Fábrica. A proposta da ciclovia que atravessa a área de aterro, percorrendo o perímetro marítimo do parque, traz a continuidade da orla marítima entre dois trechos recentemente requalificados. O de Tubarão, de aproximadamente 1,7 km, e o de São-Tomé, de aproximadamente 1,2 km. A costura entre os dois implica a construção de 1,5 km de ciclovia, o que proporcionará, por fim, uma extensão aproximada de 4,4km de orla, fazendo com que o as atividades esportivas e de lazer se estendam para além dos limites do parque, aumentando assim sua permeabilidade. Os fluxos principais do parque foram desenhados seguindo a lógica de conexão direta entre os equipamentos propostos. Desse modo, os caminhos entre o Estacionamento, o Complexo Esport-

VISTA DO PONTO DE ÔNIBUS PARA A ENTRADA DO COMPLEXO ESPORTIVO.

44


ivo, o Restaurante, o Auditório, o Planetário, o Terminal Marítimo etc., seguem uma lógica ortogonal advinda da implantação dos próprios edifícios que compõem a fábrica. Estas circulações principais algumas vezes são cobertas por uma marquise para a proteção contra o sol e a chuva, e outras são acompanhadas por muros de contensão que dão segurança aos desníveis existentes no parque. Já os fluxos secundários são responsáveis por gerar maior diversidade e permeabilidade para o Parque. Como eles não têm o simples objetivo de conexão, mas também de contemplação, foram desenhados em linhas curvas e estão relacionados aos temas da vegetação e da água. Serão materializados em um tipo de pavimentação com alto índice de permeabilidade para que tenham baixo impacto ambiental e acontecerão tanto nas áreas de preservação quanto nos platôs superior e do aterro. Alguns desses caminhos levarão às 5 pontes responsáveis por transpor o lago proposto. Assim, esses caminhos estão em outra escala humana de convivência com o parque e intimamente relacionados com o paisagismo e com a natureza, gerando espaços de diferenciação da forração e proporcionando agradáveis caminhadas sensoriais.

A vegetação existente consiste em uma densa mata atlântica relativamente recente, pois como acompanhamos nas fotos históricas, em 1959, essa área não possuía a densidade que hoje possui. A preservação e manutenção da vegetação existente é o primeiro ponto de partida para a proposta paisagística. O segundo ponto é o plantio de novas espécies nativas e exóticas com objetivo de gerar espacialidades e sensações diversificadas. Para cada ponto do Parque, a proposta paisagística leva em consideração as especificidades do local, as potencialidades do terreno e os usos propostos para a área. Assim, o plantio de novas espécies se dá em diferentes formas como bosques, maciços, agrupamentos homogêneos, heterogêneos, perspectivas, ritmos, paredes, recobrimentos, forrações, alamedas e pontos de destaque, com o objetivo de gerar espacialidades distintas, relacionando a proposta paisagística com o ambiente construído. Tanto esses conceitos básicos do paisagismo quanto as escolhas das espécies foram debatidas com profissionais da área de arquitetura paisagística e engenharia florestal, gerando, pois, uma compatibilidade entre as propostas e a morfologia das espécies escolhidas.

ENTRADA ESTACIONAMENTO DO PLATÔ PRINCIPAL

45


1

ÁREA DE PRESERVAÇÃO DA VEGETAÇÃO EXISTENTE

2

PERPECTIVAS DE PALMEIRAS IMPERIAIS

3

PERPECTIVAS DE DENDEZEIROS

4

PAREDES DE OITÍS

5

SEQUÊNCIA DE CAMBUÍS

6

SEQUÊNCIA DE JACARANDÁS

7

SEQUÊNCIA DE ESPATÓDEAS

8

SEQUÊNCIA DE GUAPURUVÚS

9

ALAMEDAS DE FLAMBOYANTS

10

ALAMEDAS DE AMENDOEIRAS

11

GRUPO DE PALEIRAS AZUIS

12

GRUPO DE AÇAÍS

13

GRUPO DE AMENDOEIRAS

14

GRUPO DE COQUEIROS

15

GRUPO DE PALMEIRAS PATA DE ELEFANTE

16

BOSQUES HETEROGÊNEOS

17

BAOBÁ AFRICANO

18

FICUS

19

BARRIGUDAS DO SERTÃO

20

PAU-BRASIL

21

COPAÍBA

22

COBERTURA VEGETAL

46

1


planta de paisagismo 0

50

100

1 4 22

2

2 22

16

2

17 15 6

19

7

21

16

16 12

9

20

16 19

3

11 8

5 1

18

2

16

10

14 13

47


espécies propostas FORRAÇÕES

GRAMA BATATAIS

GRAMA ESMERALDA

DINHEIRO EM PENCA

SIGÔNIO

PALMÁCEAS

DENDEZÊIRO

AÇAÍ

PALMEIRA LEQUE

COQUEIRO

ARACA BAMBU

PALMEIRA IMPERIAL

PALMEIRA PATA DE ELEFANTE

PALMEIRA MADAGASCAR

PALMEIRA AZUL

ARVORES NATIVAS

JACARANDÁ

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PAU-BRASIL

ABACATEIRO

SUCUPIRA

JITAÍ


JANAÚBA

PADAÍBA

CAJUEIRO

PAU FERRO

BARRIGUDA DO SERTÃO

CABAÇEIRA

CASTANHEIRA

IPÊ ROSA

IPÊ AMARELO

EMBAÚBA

IPÊ BRANCO

IMBIRUÇÚ BRANCO

ANJICO

IPÊ ROXO

ÁRVORES EXÓTICAS

ESPATÓDEA

PINHEIRO

OITÍ

GUAPURUVÚ

CAMBUÍ

JAQUEIRA

FLAMBOYANT

MANGUEIRA

LARANJEIRA

FICUS

BAOBÁ AFRICANO

49


N

as Áreas de Preservação, a proposta paisagística é de manutenção das trilhas e da própria floresta. Podas realizadas por especialistas são de grande importância para o desenvolvimento das atividades do parque. Plaquetas com a identificação de espécies são sempre bem-vindas para a difusão do conhecimento e valorização da consciência ambiental, tema que urge por atenção nos dias atuais. Em pontos de ramificação dos caminhos, aonde existirão maiores aberturas, espécies arbustivas, palmeiras diferenciadas, flores e outras espécies podem ser introduzidas para gerar pontos de referência visual e olfativa. Ao longo do percurso, ao fim de uma curva, por exemplo, podem haver bancos para uma conversa íntima, uma leitura ou uma boa reflexão, ao som da natureza. O Platô Superior é a área que sofrerá maior intervenção. Além de conter os principais edifícios do parque, atualmente possui baixa densidade de vegetação, razão por que sofrerá um trabalho de recuperação ambiental. Foram criadas sequências rítmicas, ora

para destacar o caminho evidenciando a perspectiva, ora para gerar sombra para alguma finalidade específica, ora para evidenciar e sugerir uma caminhada às margens do lago. Para o Estacionamento, são propostas paredes de Oitis, árvore conhecida por derrubar poucas folhas e gerar sombras ideais para a proteção dos carros. Na entrada do estacionamento, uma sequência de Palmeiras Imperiais dá escala e imponência à entrada da Fábrica. Uma sequência de Dendezeiros, além de evidenciar a identidade cultural da culinária baiana, marca ritmicamente a conexão entre o Ginásio Esportivo e o Café-Mirante. Sequências de Espatódeas e Jacarandás margeiam o lago em alguns pontos. Essas árvores, que produzem flores bem marcantes, devem colorir o lago quando em época de floração. Nas alamedas dos Flamboyants, que conecta a praça-arquibancada ao lago, a espécie exótica será evidenciada pelas suas flores avermelhadas e sombra agradável. Uma sequência de Cambuís, árvore de grande porte, rápido crescimento e copa amarelada, foi locada à frente do Complexo-Esportivo, protegendo sua fachada.

CONEXÃO ENTRE O ESTACIONAMENTO E O COMPLEXO ESPORTIVO

50


Alguns espaços gerados pelos caminhos primários e secundários dão lugar a agrupamentos homogêneos de palmáceas, potencializando o seu destaque pela alternância da forração que os contém. Açaís, Palmeiras Azuis, e Palmeiras Pata-de-Elefante compõem alguns desses grupos, tendo a areia como forração. Um Baobá-Africano, árvore sagrada para as religiões de matriz afro-brasileiras, ocupa um espaço de destaque próximo ao complexo lúdico, trazendo um potencial cultural e uma grande sombra, podendo abrigar aglomerações de pessoas. As Barrigudas do sertão acontecem em alguns lugares chave do parque. São árvores que estão no imaginário nordestino, e que tem um potencial pictórico. Para os bosques heterogêneos foram escolhidas espécies frutíferas, como Mangueiras, Jaqueiras, Laranjeiras entre outras espécies menos conhecidas que fazem parte do bioma da Mata-Atlântica. Serão agrupamentos não muito densos, para não impedir a permeabilidade, mas também não tão espaçados, para

que o conforto de sua sombra e suas frutas possam atrair as pessoas para seu interior. Na área da encosta, ao longo da grande rampa curva, foi proposta uma perspectiva de Palmeiras Imperiais à esquerda da pessoa que segue em movimento descendente, deixando livre, à direita, a vista para a grande Baía de Todos os Santos. No intuito de contribuir com a escala gigantesca dos volumes que compõem a Fábrica, grandes Fícus e Guapuruvús sobre a forração de Dinheiro-em-Penca compõem a imagem desse frontispício. O plano inclinado proposto corta uma área de mata-atlântica existente e passa entre os Guapuruvús, árvores de rápido crescimento retilíneo e de copa exuberantemente amarelada. Como extensão da praia, no platô inferior as Amendoeiras e Coqueiros serão as principais árvores em volta da piscina de maré. Nas alamedas das Castanheiras, a espécie nativa será evidenciada pelo seu grande porte e sombra agradável, ideal para o ambiente de bares ao ar livre.

VISTA DA RAMPA ENTRE O COMPLEXO ESPORTIVO E O ATERRO

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PRAÇAS E CAMINHOS

O

s edifícios reabilitados para os novos usos propostos estarão sempre junto a praças que farão a transição entre a área pública e a área privada do parque, servindo como espaços com potencial de aglomeração de pessoas. Essas praças estarão ligadas pelos caminhos principais, que as conecta diretamente, e aos caminhos secundários, que levam o público por entre os bosques e às pontes do Parque de Sapocá. Entre o Estacionamento e a praça do Complexo Esportivo, que distam 200 metros, foi criada uma marquise com ramificações ortogonais que levam ao Complexo Lúdico e ao foyer do Auditório e Planetário. Essa marquise avança sobre a praça que dá suporte à entrada independente para o nível das quadras do ginásio esportivo. Essa praça se encontra em um cruzamento de diversos fluxos do parque, onde se prevê, por isso, que acontecerão aglomerações de pessoas. Outra grande conexão é a reta de 350 m entre o Complexo Esportivo e o Café Mirant, que passa pela estação superior do plano inclinado. Essa conexão, a partir da praça do plano inclinado, se converte em uma rampa que vence o desnível de 3 metros e leva

o pedestre ao nível do mirante, o qual também funciona como cobertura do café. Entre os dois pavimentos, existe uma escada helicoidal que os conecta e interage com o lago, que avança sob a cobertura banhando o pé da escada. O Café Mirante é um equipamento proposto que tem a função contemplativa e de alimentação. Com uma localização geográfica especial, bem próxima ao abrupto desnível de 34 metros em relação ao mar, a vista de 360° do pavimento superior, é muito chamativa. Do lado do mar, se enxerga a Baía de Todos os Santos, com os Píeres que saem da Ponta de Sapocá, a praia de Tubarão e a contínua orla de salvador com a Península de Itapagipe e o Corredor da Vitória ao fundo. Do outro lado, se enxerga o grande lago que sai do pavimento inferior e se estende até encontrar com os enormes cilindros da fábrica. A cobertura do Mirante se apoia sobre planos de concreto, assim como a marquise da entrada principal. Um desses planos dá suporte a um pequeno Café que tem suas mesas abaixo da cobertura, se estendendo para o jardim, onde a copa das árvores nativas criam um ambiente agradável.

VISTA DO CAFÉ-MIRANTE PARA O INTERIOR DO PARQUE

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PRAÇA DE ACESSO AO NÍVEL DAS QUADRAS DO COMPLEXO ESPORTIVO

VISTA DO CAFÉ-MIRANTE PARA O INTERIOR DO PARQUE

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CONEXÃO ENTRE O GINÁSIO ESPORTIVO E O CAFÉ MIRANTE.À DIREITA A ESTAÇÃO SUPERIOR DO PLANO INCLINADO

PRAÇA-ARQUIBANCADA, VISTA PARA O RESTAURANTE

54


M

ais próximo a Tubarão, existe originalmente uma entrada para a Fábrica. Esse caminho era utilizado para entrada e saída de material, e o controle dos caminhões que por ali passavam se dava no edifício que se propõe converter em restaurante. Essa proposta requer uma conexão de carga e descarga eficaz. Desse modo, sugere-se que esse caminho seja mantido não só em sua conformação espacial, mas também quanto ao seu uso original. Aproveitando o desnível de 2 metros entre o platô principal e o nível do restaurante, foi proposta uma praça com arquibancada circular. Além de receber o fluxo dos usuários do restaurante, a praça também tem vocação para receber apresentações musicais e teatrais. Entre a praça arquibancada e o lago, foi proposta a Alameda dos Flamboyants, com potencial para diferentes usos. Pode ser uma área de suporte para as apresentações musicais, com montagem de barraquinhas para venda de comidas e bebidas. Em outras ocasiões pode ser uma área ideal para um pic-nic, ou para descansar em uma tarde ensolarada. Dessa praça saem duas pontes e nela há também o acesso ao píer para o aluguel de pedalinhos.

Entre o Complexo Esportivo e a parte baixa do parque, existe uma rampa em curva acompanhada por muretas construídas em alvenaria de pedra com junta seca que se estende passando pela área destinada a bares e restaurantes, até atingir a praça do Terminal Marítimo, onde também acontece a estação inferior do plano inclinado. Além de dar suporte ao fluxo constante entre o terminal marítimo e o plano inclinado, essa praça também pode reunir aqueles que praticarem esportes aquáticos, como travessias e remo. Anexa à praça do Terminal, se localiza a área dos bares que se desenvolvem sob a sombra das alamedas das castanheiras em perspectiva voltada para o mar. Por fim, a conexão entre o Complexo Esportivo e a praça do Terminal se ramifica, dividindo o aterro e encontrando a reta que desenha a contenção mais próxima ao mar. Um grande passeio suportado pela mureta que se estende ao longo da borda marítima e conta com escadas e rampas de acesso à praia. Tipologia muito frequente na cidade de Salvador, como a balaustrada que se desenvolve entre do porto e o farol da barra.

VISTA PARA O PARQUE E MARQUISE DE CONEXÃO ENTRE O ESTACIONAMENTO E O GINÁSIO ESPORTIVO. DESDE O FOYER DO AUDIÓRIO E PLANETÁRIO

55


5.4. Propostas arquitetônicas complexo lúdico

O

cupando os 4 silos de 25 metros de altura e o edifício em concreto responsáveis originalmente pelo armazenamento e ensacamento do cimento, o complexo lúdico tem o objetivo de aproximar o público de um universo de intersecção entre a arte e a arquitetura, por meio de uma experiência corporal e sensitiva. Duas das torres são responsáveis pela circulação vertical. A torre do espiral com-

56

porta uma escada helicoidal e os elevadores e direcionam público para um circuito entre as salas lúdicas. A torre da caverna abriga um paredão de escalada que se conecta com as demais salas, proporcionando uma experiência mais randômica. Cada sala do complexo lúdico leva o usuário a uma experiência diferente. A sala do espelho, por exemplo possui um globo refletor pendurado sobre uma rede de proteção


que se desenvolve pelo vazio da laje. Iluminada apenas pela luz natural que entra pelas pequenas janelas acima, a sala cria uma atmosfera intrigante, onde o usuário é desafiado a vencer o medo e caminhar pela rede, enxergando um enorme buraco abaixo. Outra sala é totalmente escura e inundada por uma fina camada de água e sonorizada com sons que criam diversas imagens da água, como o barulho do mar, um

córrego, uma gota em um lugar vazio ou uma forte chuva sobre o asfalto. Ao contrario, a sala do sonho possui aberturas ao nível do espectador e almofadas que se espalham pelo chão macio. A sala da gravidade possui o piso levemente inclinado e varias bolas que se amontoam no lado mais baixo. O formato circular, que não permite ter um referencial de perspectiva, talvez contribua com a sensação de

vertigem ao caminhar por um ambiente levemente inclinado. As salas podem receber instalações fixas e temporárias de arte contemporânea nas quais o artista deve primar pela experiência física e direta entre o usuário e a arte. Areia, barro, vidro, diversas obras do nosso genial Hélio Oiticica, por exemplo, convidam o espectador a experienciar a materialidade das suas obras, como nos ‘’Penetráveis’’, expostos

em diversos lugares do mundo. Anish Kapoor, renomado artista indiano, possui um trabalho primoroso em superfícies reflexivas, muitas vezes ligados ao conceito de ‘’site specific’’, segundo o qual as obras são realizadas para determinado local e perdem o sentido se transpostas. Esses conceitos, portanto, devem compor o acervo do complexo lúdico, que tem o objetivo de entreter o público de todas as idades.

57


auditório e planetário

O

s antigos reservatórios de água constituídos por dois cilindros de 30m de diâmetro e 8,5m de altura, estruturados em concreto armado, dão lugar ao auditório e ao planetário. O auditório, com capacidade para 210 pessoas, é equipado com sanitários, cabine de controle de som e de luz, área técnica, camarim e sala de apoio. Tem o objetivo de comportar apresentações teatrais, palestras ou conferências. O planetário é constituído por dois níveis. Abaixo se encontram a área técnica necessária para o desenvolvimento do programa, os sanitários, a cantina e bilheteria, que serve tanto para à sala de projeção quanto para ao auditório, e um espaço expositivo com o tema das ciências espaciais, programa anexo recorrente em diversos planetários como o de Brasília, recentemente reativado e originalmente projetado pelo arquiteto Sergio Bernardes. Entre os dois pavimentos existe uma rampa circular que os conecta e que também deve ser utilizada como

58

espaço de exposição sobre os planetas que compõem o sistema solar. Por fim, no segundo pavimento se encontra a sala de projeção com capacidade para 120 pessoas que tem como tela uma semiesfera que se acopla sobre o volume pré-existente. Tanto o auditório quanto o planetário compartilham o mesmo Foyer que deve apoiar as aglomerações ao início e ao fim das sessões. Sua cobertura está interligada com a marquise que conecta ao estacionamento do Parque de Sapocá.


B

A

A

B PLANTA-BAIXA

CORTE B-B

0

5

10

15

CORTE A-A

59


restaurante

O

edifício responsável pelo controle de entrada e saída de material da Fábrica de Cimento Aratu é constituído por três blocos. Dois laterias de 4,8m de altura, formado por uma sequência de 9 salas cada um, e um central, cuja altura mede 8m. O edifício se comporta como um túnel, cujo volume central os caminhões cruzavam, passando pela vistoria onde possivelmente existia uma plataforma hidráulica para pesar o cimento, que era vendido a granel. A transformação do edifício em restaurante mantém a leitura original do edifício, tendo os seus acessos pelas laterais, no bloco central. O bloco oeste é responsável pela área de serviços do restaurante. Que conta com sanitários, acesso para carga e descarga, higienização, triagem, câmara de resfriamento, câmara de congelamento, depósito seco, área de pré-preparo, área de cocção, deposito de louça, área de finalização, área de lavagem, depósito de material de limpeza, estar de funcionários, sanitários de funcionários e lixo. Nos outros dois blocos localizam-se o salão, com capacidade para 200 pessoas, o buffet e o bar, responsável por

60

todas as bebidas, onde funciona também o caixa. O bar se situa no bloco leste e se abre para a fachada, que recebe um balcão destinado ao atendimento do público tanto do salão do restaurante quanto da praça. Externamente, a fachada leste é composta por painéis de alumíno perfurado, que protegem contra a insolação e se instalam entre a sequência de pilares do edifício existente, evidenciando a sua estrutura. Tanto o restaurante quanto o edifício administrativo ao lado estão em uma cota inferior ao nível do platô principal. Com a consciência de que suas coberturas constituem uma quinta fachada e com o avanço e disseminação de diversas técnicas de coberturas verdes, foi proposta uma cobertura vegetal que se apoia na estrutura existente.

VISTA RESTAURANTE


PLANTA-BAIXA

CORTE A-A

0

5

10

15

FACHADA LESTE

61


ginásio esportivo

O

galpão principal e o edifício anexo da Fábrica de Cimento dão lugar ao Ginásio Esportivo do Parque. No galpão de cobertura abobadada de 135 metros de comprimento acontecerão uma piscina de 50 metros, uma piscina para saltos ornamentais, com plataformas de 1m, 3m, 7,5m e 10m de altura, e duas quadras poliesportivas para futsal, basquete, vôlei e handball. O edifício anexo, do qual aproveitaremos apenas a estrutura de pilares e vigas, receberá quatro quadras de squash, tênis de mwwsa, uma academia, e 9 salas multiuso para prática de artes marciais, capoeira e dança, além da enfermaria, vestiários e a área administrativa. A intervenção arquitetônica no galpão principal consiste em preencher as fachadas norte, sul e leste, introduzindo arquibancadas e escadas, permitindo o funcionamento do edifício e garantindo a manutenção de sua leitura original. Esse tipo de intervenção é recorrente em vários edifícios pelo mundo, como no Museu de Minas e Energia em Belo-horizonte, onde foi criada uma circulação vertical externa que ocupa a fachada posterior do edifício histórico. O galpão, que não possuía fechamentos, recebe uma pele em brise de chapa perfurada em alumínio que protege o edifício sem ocultar a estrutura brutalista original. Os brises horizontais fazem uma releitura dos fechamentos originais que existiam em vários dos edifícios das fábricas, incluindo o edifício anexo, que consistiam em venezianas executadas em concreto. A introdução de um novo pavimento no galpão tem como base o melhor aproveitamento da área coberta que proporciona o edifício, aonde se encaixa perfeitamente o programa que consiste nas quadras poliesportivas. Em cima da piscina de saltos ornamentais, que exige uma maior verticalidade do espaço, foi deixado um vazio que, além da questão funcional de não gerar conflito entre a plataforma de saltos e a laje proposta, permite a manutenção da espacialidade original do edifício neste trecho, cujo pé direito máximo alcança 28 metros de altura. O vazio que possui as mesmas dimensão das quadras é circundado por passarelas, as quai servem para a observação dos saltos ornamentais, além de gerar um espaço de convívio com vista para o interior do Parque de Sapocá. Essa circulação ainda remonta à experiência de andar por um grande corredor suspenso que existia originalmente no galpão, onde a viga superior funcionava como trilho para um guindaste que transportava o material e também se comportava como uma passarela, pela qual os operários frequentemente transitavam.

62

A circulação vertical principal do ginásio esportivo se dá pelo edifício anexo, mediante os elevadores e a escada dupla que se desenvolve em torno de um vazio protegido com pele de vidro, trazendo a água para dentro do edifício e funcionando como captação da água da chuva. O edifício anexo é internamente iluminado e ventilado por uma claraboia que se sobressalta ao volume existente e acontece sobre outro vazio que atravessa os quatro pavimentos, chegando ao térreo. A partir do térreo do edifício anexo, que se abre para o parque em suas três fachadas, os nadadores e técnicos são conduzidos para a plataforma de observação das piscinas, onde se acomodarão os jurados de eventuais competições. Essa plataforma acontece sobre a cobertura dos vestiários que está a 2,5 metros de altura em relação ao nível das piscinas. Esse desnível é transposto por uma rampa e por uma escada que seguem o desenho circular do volume dos vestiários. O público geral é conduzido para as arquibancadas, sob a qual acontecem as áreas técnicas que comportam os filtros e bombas da piscina, os sanitários e a cantina, que se abre para fora do Ginásio, potencializando e movimentando a praça entre o galpão e as torres do Mirante-Memorial. As quadras poliesportivas possuem um acesso independente, que se dá pela praça de cruzamento de fluxos do parque, próxima ao ponto de ônibus, através de uma escada e elevadores que acontecem na fachada norte do galpão. Esse acesso possibilita que as atividades das quadras possam se estender além do horário de funcionamento das piscinas e das outras atividades do edifício anexo. É importante lembrar que esse ano salvador inaugura a sua primeira piscina olímpica após a demolição da fonte nova. O fomento ao esporte é muito importante para a inserção social dos jovens do subúrbio que não possui piscinas públicas e carece de equipamentos esportivos. Esse projeto, portanto, tem o objetivo de suprir essa necessidade, e o público do ginásio esportivo deve estar ligado à rede de ensino público das escolas do subúrbio, que devem incorporar as atividades esportivas em sua grade curricular, oferecendo o transporte para a Ponta de Sapocá.


GALPÃO PRINCIPAL

BRISES DE PROTEÇÃO

EDIFÍCIO ANEXO

FACHADA ARQUIBANCADA

CIRCULAÇÃO INDEPENDENTE

QUADRAS POLIESPORTIVAS PISCINA DE SALTOS ORNAMENTAIS PLATAFORMA DE OBSERVAÇÃO

ARQUIBANCADAS

PISCINA 50 METROS

VISTA ENTRADA DO EDIFÍCIO ANEXO

63


PLANTA-BAIXA VESTIÁRIOS

64


PLANTA-BAIXA 0

5

10

15

65


PLANTA-BAIXA 1ยบ PAV

66

PLANTA-BAIXA 3ยบ PAV


PLANTA-BAIXA 2ยบ PAV

PLANTA-BAIXA 4ยบ PAV

PLANTA-BAIXA 5ยบ PAV 0

5

10

15

67


CORTE B-B

FACHADA LESTE

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SEÇÃO FACHADA LESTE

0

5

10

15

0

1

3

5

69


CORTE B-B

FACHADA NORTE

70


CORTE A-A

0

5

10

15

FACHADA SUL

71


VISTA DA DA PASSARELA DE CIRCULAÇÃO EM TORNO DO VAZIO

VISTA DAS QUADRAS POLIESPORTIVAS

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VISTA DA PLATAFORMA DE SALTOS ORNAMENTAIS

VISTA DA PISCINA DE 50 METROS

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mirante-memorial

P

ara o conjunto das mais altas torres da Fábrica de Cimento Aratu, a proposta de intervenção arquitetônica prevê a sua transformação em um mirante memorial. Ainda vigente no Brasil, as lei de responsabilidade social asseguram que empresa detentoras de grandes capitais gerem, além de empregos, contrapartidas sociais. Seguindo essa prática, a Gerdau, que possui um píer de escoamento de produção localizado na Ponta de Sapocá, por exemplo, criou o MM Gerdau Museu das Minas e do Metal

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em Belo Horizonte, que abriga um acervo sobre a mineração e a metalurgia, documentando duas das principais atividades econômicas do estado de Minas Gerais. A criação do Parque de Sapocá e do Mirante-Memorial poderia estar ligada a esse tipo de parceria público-privada, voltada para o reconhecimento e a valorização da importância histórica dos edifícios que compõem a Fábrica de Cimen-

to Aratu e a sua possível destinação a atividades de relevante interesse social. A proposta, portanto, transforma os antigos silos de armazenamento do ‘’cru’’ em um espaço de exposição, com o objetivo de resgatar a memória do processo de fabricação do cimento e os danos que a Fábrica causou ao meio ambiente, motivando a sua desativação. Além da explicação do méto-


do de produção do cimento, o mirante memorial deverá apresentar novas tecnologias de produção que minimizem os danos ecológicos advindos desta atividade. Segundo a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) a indústria brasileira conseguiu reduzir em 8 % a emissão de CO2 através de práticas como o coprocessamento, que utiliza os fornos para destruição de resíduos urbanos e industriais, e reciclagem da água utilizada nas torres

de arrefecimento, que elimina efluentes líquidos industrias. Portanto, é considerada a indústria mais ecoeficiente do mundo. A torre de 55 metros de altura continuará exercendo a função de circulação vertical com escadas e elevadores. A torre metálica será convertida em um reservatório de água que abastecerá as atividades do Parque de Sapocá. E as duas torres de 50 metros serão convertidas em salas de exposição sobre a fabricação do cimento. Mantendo a lógica da interatividade e da criação de atmosferas específicas que acontecem no Complexo Lúdico, cada sala

do memorial deve transmitir ao público as fases do processo de fabricação do cimento. O início do circuito acontecerá no terceiro pavimento de um dos silos. A partir daí o observador é conduzido em zigue-zague, descendo entre um silos e o outro, passando pelas 6 salas que representam as fases da fabricação do cimento, até chegar ao térreo, onde acontecem a loja o café do Mirante-Memorial. A primeira sala terá como tema a extração da matéria prima. Em seguida, o espectador se dirige para a sala da moagem que leva a produção do cru. Descendo a escada, temos a sala do forno rotativo, onde o cru é aquecido e depois sofre um abrupto resfriamento, que será representado pela sala do ventilador. Na sala abaixo será representada a fase de adição de subprodutos in-

dustriais e a segunda moagem. A última sala representará o armazenamento, o ensacamento e a preparação para a distribuição do cimento. No topo dos dois silos mais altos dessa fábrica, a 85 metros de altura em relação ao nível do mar, em uma das cotas mais altas da cidade, temos o espaço do mirante, de onde os observadores serão convidados a conhecer a Baía de Todos os Santos e a cidade de Salvador, a partir de uma nova perspectiva. Com o auxílio de lunetas que se espalham ao redor das aberturas do mirante e mapas que apontam a direção dos principais pontos de referência, os espectadores poderão enxergar diversas localidades como Vera Cruz, Itaparica, o Rio Jaguaripe, a foz do Rio Paraguaçu, a Ilha dos Frades, Madre de Deus, a Bahia de Aratu, a Enseada de Tainheiros, a Ribeira, o Bomfim, Humaitá, o Centro Histórico, o Corredor da Vitoria e quiçá o Farol da Barra, que marca a divisão entre a Baía e o Oceano Atlântico.

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6. referências bibliográficas ZUMTHOR, P., Atmospheres, 5th Printing. German, Birkhäuser Verlag GmbH 2006; ABBUD, B., Criando Paisagens, Guia de Trabalho Em Arquitetura Paisagística, 3ª edição, São Paulo, Editora Senac 2007; NEUFERT, E., Arte de projetar em arquitetura, 18ª edição, São Paulo, Editora Gustavo Gili, SL 2013; Landscape Architecture, 1ª edição, Bélgica, Editora Booqs 2010; HUTCHISON, E. , O desenho no projeto da paisagem, Barcelona, Editora Gustavo Gili, SL, 2012; MACEDO, S., Paisagismo Brasileiro na Virada do Século (1990-2010), 1ª edição, São Paulo/Campinas, Editora Unicamp, Edusp 2012; GARVIN, A., Public Parks: The Key to Livable Communites, 1ª edição, New York, 2011; WATERMAN, T., Fundamentos de Paisagismo, Porto Alegre, Editora Bookman 2010; Associação Brasileira de Cimento Portland. Indústria do cimento brasileira é a mais ecoeficiente do mundo. Disponível em: <http://www.abcp.org.br/conteudo/imprensa/industria-do-cimento-brasileira-e-a-mais-ecoeficiente-do-mundo>. Acesso em 02 de abril de 2016; University of Washington Press. Gas Works Park: A Brief History of a Seattle Landmark. Disponível em: <https://uwpressblog. com/2015/04/15/gas-works-park-a-brief-history-of-a-seattle-landmark/>. Acesso em 13 de março de 2016; Patrimônio industrial: algumas questões em aberto. Disponível em: <http://www.usjt.br/arq.urb/numero_03/3arqurb3-beatriz. pdf>. Acesso em 13 de março de 2016; Carta de Nizhny Tagil sobre o Património Industrial: The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH). Julho 2003. Disponível em <http://ticcih.org/wp-content/uploads/2013/04/NTagilPortuguese.pdf>. Acesso em 13 de março de 2016; Restos de Colecção. Fábricas de Cimento Portuguesas. Disponível em: <http://restosdecoleccao.blogspot.com.br/2011/02/fabricas-de-cimento-portuguesas.html> Acesso em 13 de março de 2016; Latz Partner. Disponível em: <http://www.latzundpartner.de>. Acesso em 13 de março de 2016; Velhas indústrias viram parque na Alemanha. Disponível em: <http://viajarverde.com.br/velhas-industrias-viram-parque-na-alemanha/>. Acesso em 10 de março de 2016; Parque paisagístico do norte de Duisburg. Conheça de perto a Cultura Industrial. Disponível em: <http://www.germany.travel/ pt/cidades-e-cultura/palacios-parques-e-jardins/mundos-tematicos/simbiose-entre-historia-e-alta-tecnologia/parque-paisagistico-donorte-de-duisburg.html>. Acesso em 10 de março de 2016; Amusing Planet. Gas Works Park in Seattle. Disponível em: <http://www.amusingplanet.com/2015/08/gas-works-park-in-seattle. html>. Acesso em 10 de março de 2016; Seattle Parks and Recreation. Gas Works Park. Disponível em: <http://www.seattle.gov/parks/park_detail.asp?ID=293>. Acesso em 10 de março de 2016; Wikipedia, Gas Works Park. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Gas_Works_Park>. Acesso em 02 de março de 2016; Archdaily. The Factory / Ricardo Bofill. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-83945/the-factory-slash-ricardo-bofill>. Acesso em 02 de março de 2016; Wikipedia, Patrimonio_industrial. Disponível em: <https://es.wikipedia.org/wiki/Patrimonio_industrial>. Acesso em 02 de março de 2016; Companhia de Transporte de Salvador: Sistemas Metroviário e Ferroviário. Estações Ferroviárias. Disponível em: <http://blogdacts.blogspot.com.br/2012/02/estacoes-ferroviarias.html>. Acesso em 15 de fevereiro 2016;

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ponta de sapocá PARQUE URBANO EM PRÉ-EXISTÊNCIA INDUSTRIAL

processo criativo

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perseguição da planta baixa 81


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desenho do lago

desenho da piscina da marĂŠ

estudo de espĂŠcies e morfologia paisagĂ­stica

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cortes de estudos de ralaçoes visuais e paisagísiticas

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complexo lĂşdico

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complexo lĂşdico projetando atravĂŠs de story board

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ginรกsio esportivo

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vista do mirante

corte restaurante e alameda dos flamboyants

fachada restaurante 95


isomĂŠtrica

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corte plantetĂĄrio


planta- baixa platentรกrio

corte planetรกrio

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maquete de estudo para circulação independente 99


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estudo da praça da circulação independente

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mirante-memorial

estudo de circulação 102


estudo das salas de exposição 103


ponta de sapocá PARQUE URBANO EM PRÉ-EXISTÊNCIA INDUSTRIAL

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