DIREITO AO LAZER NA
PERIFERIA
DIREITO AO LAZER NA
PERIFERIA
SÃO MIGUEL PAULISTA
Érica Gonçalves Tomasoni orientação: Prof. Ms. Luís Eduardo Loiola de Menezes [projeto] Prof. Dra. Mariana Rolim [pesquisa e referencial teórico] Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo Universidade Anhembi Morumbi São Paulo, Dezembro de 2020
AGRADEÇO
Ao professor Luís por abraçar esse trabalho e pela generosidade com que compartilhou seus conhecimentos e suas visões, possibilitando o enriquecimento desse trabalho, e dessa profissional. Foram meses de muito aprendizado. À professora Mariana por direcionar o início - sempre difícil - dessa monografia com bom humor e comprometimento. Ao Marcus e ao Gui pelas muitas oportunidades e experiências que tive ao longo do estágio no Estúdio Módulo. À Si, Dani e Maria pelas as manhãs e cafés partilhados na universidade ao longo desses anos e pela paciência de construir uma amizade. Vocês foram a melhor equipe que eu poderia pedir. À minha família, por tudo que fizeram por mim, pois me trouxe até esse momento. Ao Rodrigo, pelo apoio incondicional, compressão e companheirismo, que tornam mais suave a realidade e me motivam a continuar sempre.
a gente n찾o quer s처 comida a gente quer comida divers찾o e arte
Tit찾s
RESUMO
Palavras-chave: lazer; acesso ao lazer; periferia; espaços de lazer.
O lazer é direito fundamental e universal, e seu acesso é um direito urbano ofertado pelas cidades. Simultâneo aos problemas de desigualdade espacial, a oferta de lazer nem sempre se faz de modo igualitário e proporcional à demanda. Com esse problema em mente, buscou-se conceituar o lazer e levantar a oferta de espaços de lazer em São Paulo através de um mapeamento. Verificou-se uma concentração de espaços de lazer na região central em detrimento das periferias. Na tentativa de mitigar tais desigualdades propôs-se uma rede de lazer em centralidades periféricas em pontos estratégicos de conexão com rede de mobilidade pública. Como exercício projetual, amplia-se o olhar para o centro de São Miguel Paulista, onde desenhou-se uma rede de espaços de lazer em conexão com estruturas existentes. Ao fim, um edifício foi escolhido para maior detalhamento.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
08
1. 1.1. 1.2. 1.3. 1.4.
O TEMA entendendo o lazer lazer: direito fundamental de todos espaços de lazer acesso ao lazer cultural em São Paulo: privilégio socioespacial
11 13 19 21 23
2. 2.1. 2.2. 2.3. 2.4.
O LUGAR São Miguel Paulista leituras urbanas lotes concurso área 40
35 37 49 59 61
3. 3.1. 3.2.
AS REFERÊNCIAS estudo de caso | Sesc Pompéia projetos de referência
63 65 73
4.
O PROJETO: REDE DE LAZER EM SÃO MIGUEL PAULISTA diretrizes urbanísticas edifícios em rede centro de estar e midiateca
81 83 85 102
considerações finais referências citadas créditos e fontes das figuras apêndice
145 146 148 150
4.1. 4.2. 4.3.
INTRODUÇÃO
O lazer é um aspecto inerente da existência humana. Independente de classe, idade ou genêro, pessoas necessitam cotidianamente de momentos de desconexão com as obrigações e responsabilidades, para ocuparem-se com as mais diversas atividades que lhes tragam satisfação, ou até mesmo, para vivenciar o ócio. Apesar de hoje tal entendimento ser um consenso, nem sempre foi assegurado a todos o direito ao lazer; seja por jornadas de trabalho exaustivas ou pela não oferta de meios para subsidiar práticas de lazer. Com o avanço dos Direitos Humanos, o lazer tornou-se direito universal e fundamental, mas ainda se verificam cenários de exclusão ao lazer. Um dos recursos necessários para determinadas práticas de lazer são os espaços e equipamentos específicos. No contexto das cidades, uma boa distribuição e oferta dos espaços e equipamentos de lazer se faz básica para garantir que todos tenham acesso ao lazer diversificado. Enquadrando São Paulo, a maior cidade da América Latina e uma das maiores metrópoles do mundo, observa-se uma grande oferta de espaços de lazer dos mais diversos, como teatros, museus, centros culturais, centros esportivos, casas de shows, bairros boêmios, praças e parques. 8
Contudo, por suas extensões quilométricas, morar na cidade de São Paulo nem sempre significa ter acesso à essa diversidade de lazeres, já que esses espaços se encontram concentrados nas regiões centro e sudoeste. Tomando um trem, ou ônibus, saindo do centro, após uma ou duas horas de locomoção estão as periferias. Nelas os equipamentos de lazer são esparsos e pouco diversos, e dificilmente são suficientes para suprir a demanda local. As periferias da capital paulista são densamente povoadas, e por vezes, excluídas dos benefícios de se morar numa metrópole dita global. Assim, questiona-se se o lazer é de fato para todos, ou se existem fatores que privilegiam determinadas populações. Dentro desse cenário, busca-se entender onde estão os espaços de lazer em São Paulo e possíveis fatores que apontem para sua localização. Após verificar grande discrepância da distribuição desses espaços nas regiões centrais em relação às periferias, busca-se como exercício projetual uma ideia de mitigação de tal disparidade. Propõese uma rede de lazer em centralidades periféricas em pontos estratégicos de conexão com a rede de mobilidade pública com o objetivo de atenuar a ausência distribuída desses espaços e potencializar
seu acesso pelos moradores das periferias. Dessa rede, tomou-se como ponto de ampliação e aprofundamento a região central do bairro de São Miguel Paulista, no extremo leste da capital. O trabalho foi dividido em quatro capítulos: 1. o tema, onde se aborda o lazer como objeto de estudo e sua oferta nas periferias; 2. o lugar, em que se aproxima de São Miguel Paulista e realiza-se um entendimento do território, na intenção de propor espaços que se conectem e dialoguem com o local; 3. as referências, onde serão apresentadas as principais referências projetuais que serviram como um direcionamento para o projeto proposto; e por fim, 4. o projeto, onde propõem-se espaços e edifícios de lazer na centralidade do bairro periférico de São Miguel Paulista.
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10
1
O TEMA
Inicia-se na tentativa de delimitar o conceito de lazer - muitas vezes vago - e de entender seu caráter múltiplo e diverso. Em seguida apresenta-se um respaldo em legislações que definem o lazer como direito fundamental, e portanto, garantido à todos. Isso reafirma sua necessidade no cotidiano de modo universal, excluindo a ideia do lazer como um luxo ou aspecto exclusivo de determinadas classes sociais. O recorte deste trabalho é não apenas o lazer, mas o lazer nas periferias. Sendo a autora moradora de uma, percebeu-se na vivência cotidiana uma enorme carência desses espaços - que, no caso de São Paulo, se concentram em determinadas regiões da cidade. Especula-se através de um mapeamento onde estão os espaços de lazer na capital paulista e quais os possíveis fatores que levam a essa concentração.
11
[01]
12
1.1
ENTENDENDO O LAZER
A discussão acerca do lazer se apresenta desde tempos remotos, mas, como aponta Marcellino (2002), é somente na chamada sociedade pós-industrial que a temática passa a ganhar relevância na produção intelectual - vinculada a questões trabalhistas que surgem com a revolução industrial. E é a partir da década de 1950 que o lazer passa a ser estudado de modo sistemático dentro do campo das ciências sociais (MARCELLINO, 2002).
Sua descrição aponta para as diversas naturezas do lazer - repouso, diversão, recreação, entretenimento, formação, criação etc. -, seu caráter espontâneo, e a sua principal condicionante: o tempo disponível. Para Marcellino (2002), a visão de lazer está atrelada a tempo e atitude. Qualquer atividade que provoque satisfação e seja desenvolvida no tempo livre de obrigações do indivíduo pode ser considerada lazer.
Antes desse período de aprofundamento do tema, o conceito de lazer era frequentemente reduzido à ideia de um tempo livre após o horário de trabalho. Com o avanço dos estudos na área, o conceito passou a ser ampliado e foi descrito por Dumazedier (1973, p. 34) - teórico da área referência no país - como:
Pedestres e ciclistas passeiam pela Avenida Paulista aberta. Desde sua abertura em 2015, este já se tornou um dos principais programas de lazer gratuito aos ◄ domingos em São Paulo.
[...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.
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Verifica-se, então, a multiplicidade da manifestação do lazer, que pode apresentarse em atividades descompromissadas como jogar videogame ou baralho a aprender um novo idioma ou assistir à uma palestra. Essas definições envolvem olhar para o lazer além do seu caráter de diversão e descanso, que, como aponta a pesquisa desenvolvida por Uvinha et al. (2017), são os termos mais comumente associados ao lazer (tabela 01). Apesar de tanto o descanso, como a diversão serem atividade incluídas na ideia de lazer, essas não são suas únicas nuances. Reduzir o lazer a essas esferas acaba por limitar o conceito e reduzir sua importância no nosso cotidiano (MARCELLINO, 2002), e consequentemente, reduz o peso que se dá para a elaboração de políticas públicas acerca do tema. Marcellino (2002), em seu livro "Estudos do Lazer: uma introdução" descreve seis áreas fundamentais do lazer.
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[01] PESQUISA COM PÚBLICO SOBRE O CONCEITO DE LAZER conceito de lazer
porcentagem (%)
diversão
77,9
descanso
20,5
turismo
6,0
esportes
1,7
ócio
1,5
desenvolvimento
0,3
social
0,3
tempo
0,0
artístico
0,0
intelectual
0,0
outros
1,5
não sabe/respondeu
4,2
fonte: Uvinha et al (2017) traduzido pela autora
[02] SEIS ÁREAS DO LAZER área de interesse
exercício
artísticos
imaginação
intelectuais
intelectuais
físicos
corpo
manuais
habilidades manuais
turísticos
contato com o diferente
social
relacionamentos
características ■ ■
busca da beleza e encantamento ■
■
contato com o real
busca de informações objetivas e explicações racionais
■
■
campo imaginário
busca por movimento
capacidade de manipulação para transformar objetos ou lidar com o natural
■ ■
quebra da rotina espacial e temporal
busca de novas paisagens, pessoas e costumes
■
busca do convívio social
fonte: elaborado pela autora a partir de informações de Marcellino (2002)
15
[02]
[04]
16
[03]
◄ O Sesc 24 de Maio concrentra uma variedade de atividades de lazer. A leitura recreativa, aulas de dança e escalada, são apenas alguns exemplos de lazer como forma de aprender novos conhecimentos e desenvolver cultura pela troca.
E
aponta o lazer como veículo de informações - como no hábito da leitura, por exemplo.
Para além das definições compactas de lazer, as reflexões aprofundadas da temática o apontam como vinculado ao conceito de cultura. Marcellino (2003 apud SILVA, 2013, p. 39) “o entende como componente da cultura”. Para Gomes (2004 apud SILVA, 2013, p. 41) o lazer é “uma dimensão de cultura constituída pela vivência lúdica de manifestações culturais no tempo/espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social[...]”. Assim entende-se que no exercício do lazer o sujeito vivencia a cultura, ressignificando e construindo manifestações culturais (SILVA, 2013).
Conclui-se o lazer como forma de adquirir, desenvolver e transformar a cultura, bem como um meio de aprendizado. Assim, atenta-se para o fato de que o lazer pode ser uma poderosa ferramenta de desenvolvimento pessoal.
LAZER, PRÁTICAS EDUCAÇÃO
CULTURAIS
Esse entendimento do lazer como parte da cultura e vice-versa, caminha em direção à uma maior abrangência do conceito ao ponto que se entende o lazer como desenvolvimento da cultura coletiva e individual. Sobre o potencial educador do lazer, Marcellino (2002, p. 50) aponta que “praticamente todos os autores ligados aos estudos do lazer reconhecem seu duplo aspecto educativo”. O primeiro aspecto envolve o aprendizado necessário para o exercício do lazer, enquanto o segundo 17
18
1.2
LAZER: DIREITO FUNDAMENTAL DE TODOS
Tendo em vista a relevância do lazer no cotidiano e seu potencial transformador, é evidente a necessidade de assegurá-lo de modo universal. Hoje, o lazer é um direito garantido numa escala global pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948, Art. XXIV), que diz: “todo ser humano tem direito a repouso e lazer[...]”. No Brasil, o lazer é assegurado pela Constituição Federal como um direito social e fundamental - assim, é papel do Estado Democrático de Direito garantir seu acesso igualitário a todos cidadãos. Equiparado à educação, saúde e moradia, o lazer “[...] é condição e consequência do exercício de uma cidadania ativa e efetiva” (DUARTE, 2009, p. 77). São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, ‘o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL, 1988, Art. 6) A constituição também dá ênfase ao papel do Estado de fornecer lazer na infância e juventude. Tendo em vista seu caráter de
desenvolvimento pessoal e social, faz-se especialmente importante seu acesso nas primeiras fases da vida. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária[...]. (BRASIL, 1988, Art. 227) Além do entendimento como direito individual, documentos discorrem também sobre o lazer como um direito urbano garantido aos moradores das cidades, devendo estas serem planejadas e adequadas para proporcionar tais atividades e espaços. No Plano Diretor Estratégico de São Paulo, o termo “lazer” aparece 43 vezes. No Estatuto da Cidade ele é citado como uma das diretrizes para o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade: Art.02: I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao 19
trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 2001, Art. 02). Essas últimas duas leis (Plano Diretor Estratégico de São Paulo e Estatuto da Cidade) são especialmente importantes para este trabalho pois apontam a necessidade de se considerar o lazer como um aspecto fundamental no desenho e planejamento das cidades. Refletindo sobre o lazer como direito urbano somado ao seu caráter universal, tornase claro que as atividades de lazer devem ser ofertadas gratuitamente e de modo a atender a todos dentro do espaço urbano. Assim, com uma oferta pública diversa e bem distribuída (somada a oferta privada), todos, sem distinção de classe, gênero, cor, ou endereço podem de fato exercer o direito ao lazer.
20
1.3
ESPAÇOS DE LAZER
Já conceituado o lazer, propõe-se agora entender o lugar do lazer no espaço, isso é, espacializa-lo. Como já foi visto, as práticas de lazer são diversas e, portanto, podem ocorrer em muitos ambientes e lugares, variando entre espaços públicos, como ruas e calçadas, aos mais privativos, como os domicílios. Pensando no acesso universal e democrático do lazer, bem como na riqueza de sua prática, encontra-se na cidade o principal cenário para seu acontecimento (PINA, 2017). AS RUAS, OS VAZIOS, OS EQUIPAMENTOS E O DOMICÍLIO As ruas se apresentam como espaços ambíguos, e fazem muito mais do que apenas conectar lugares e orientar fluxos, como atenta Requixa: “a diversidade física e visual, os contatos casuais, a combinação feliz do efêmero e do permanente, tudo isso faz das ruas um local convidativo à desconstrução e ao fruir” (REQUIXA, 1980 apud PINA, 2017, p. 61). As ruas e calçadas abrigam os passeios, as mesas de bares, os acessos para o ambiente de trabalho, de moradia, promovendo a troca e o contato com o diferente. Há de se levar em conta que nem todas as
ruas oferecem tal ambiência. Tudo isso varia muito de acordo com o bairro, com o uso da rua (se residencial, comercial ou mista) e até mesmo com a classe social que a frequenta. Sobre esse caráter vívido, o que as cidades atuais têm visto, é na verdade, um esvaziamento da rua e sua limitação à espaço de passagem, muito relacionado com o crescimento da violência urbana (BAHIA; FIGUEIREDO, 2016 apud PINA, 2017). Complementando as ruas, os espaços públicos, como praças e largos oferecem vazios que estruturam a cidade e se configuram como espaços de lazer de uso público e irrestrito. Uma vez que não oferecem barreiras físicas ou sociais, são, junto das ruas, os espaços mais democráticos na malha urbana e permitem o acesso dos mais diversos públicos sem limitação de horário de uso. Uma característica desses espaços é sua qualidade de vazio que permite muitas apropriações por parte dos usuários (BLOCH, 2017). Assim, os espaços públicos podem dar suporte à variadas práticas de lazer, como a contemplação do cenário urbano, a interação social, e até comportam a prática de exercícios. Numa transição entre a escala pública e a 21
privada, estão os equipamentos. Requixa (1980 apud PINA, 2017) os classifica em específicos e não-específicos. Qualquer ambiente não necessariamente construído para o lazer, mas que possa abrigá-lo eventualmente, pode ser considerado um equipamento não-específico. Entre eles estão as residências, os bares, restaurantes, baladas, escolas etc (MARCELLINO, 2002). Os equipamentos específicos são os equipamentos de lazer. Pina (2017, p. 57) os define como “um conjunto de instalações associadas, destinadas às práticas e aos serviços de lazer”. Esses espaços se distribuem pela cidade, podendo atender à um uso determinado, como um teatro ou, terem um caráter multifuncional e dar suporte à várias atividades, como são as unidades do Sesc. Os equipamentos de lazer podem ser classificados de acordo com seu nível de abrangência em: microequipamentos, equipamentos médios e macroequipamentos (REQUIXA 1980 apud PINA, 2017). Os microequipamentos são aqueles de menor extensão que abrigam atividades e públicos específicos, atendendo à uma escala local. Os equipamentos médios dão suporte à uma maior gama de atividades e atendem uma escala regional. Já os 22
macroequipamentos são aqueles de uso principalmente aos fins de semana, com um público e atividades diversas e que, por seu uso esporádico, pressupõem a locomoção para suas instalações. Assim, sua localização deve ser planejada de modo a possibilitar o acesso numa escala municipal. Retomando a residência dentro dos equipamentos não-específicos, Marcellino (2002, p. 29) aponta que “grande maioria da população, notadamente nos centros urbanos, desenvolve suas atividades de lazer, prioritariamente no ambiente doméstico”. O autor também chama atenção para o fato de que numa sociedade desigual, como a brasileira, nem sempre os espaços domiciliares oferecem suporte às diversas práticas de lazer. Logo, a oferta de espaços coletivos de lazer garante o acesso igualitário, além de promover a interação social inerente aos espaços comuns. Nos interessam, nesse trabalho, as atividades realizadas nos espaços coletivos das cidades.
1.4
¹ Sendo o centro um território regulado, urbanizado e bem servido de infra-estruturas, enquanto a periferia representaria o oposto disso. Entende-se que essa lógica alterou-se desde que o termo passou a ser estudado. Hoje fala-se em periferia consolidada, pois os territórios entendidos como periféricos entre 1970 e 1990 passaram por um processo de urbanização e regulação desde então, mas ainda não oferecem as mesmas condições e infra-estruturas do centro (NASCIMENTO, 2010).
ACESSO AO LAZER CULTURAL EM SÃO PAULO: PRIVILÉGIO SOCIOESPACIAL
² Estudos mais atuais questionam essa lógica de divisão do território da cidade em duas partes opostas e desconexas. Eles apontam para uma construção do conceito vinculado às lutas sociais e ao cenário cultural desses espaços que não mais se resumem à estar fora do centro e serem carentes (TANAKA, 2006). Essa é uma discussão válida e contemporânea, mas que não se aplica à esse trabalho, pois trata-se aqui da distribuição dos espaços de lazer atuais, que são um reflexo da antiga lógica periferiacentro.
Após a discussão sobre os espaços de lazer de modo geral, agora propõe-se levantar onde estão e como são distribuídos os equipamentos de lazer em São Paulo. SOBRE A PERIFERIA Neste trabalho, o uso do termo periferia refere-se aos espaços externos ao centro¹, às margens das regiões dadas por centrais dentro de São Paulo. Assim retoma-se o aspecto geográfico da dicotomia centroperiferia², visão defendida entre 1970 e 1990 por vários autores nos estudos da temática (NASCIMENTO, 2010) - e que acompanha uma série de implicações socioeconômicas das populações que habitam esses territórios. Levantando os equipamentos de lazer em São Paulo, foi possível verificar que a distribuição dos equipamentos de lazer e cultura seguem a lógica de centro expandido e territórios externos a ele. Havendo uma maior concentração desses equipamentos dentro do centro expandido.
23
marco zero
MAPEAMENTO E DISCUSSÃO O município de São Paulo concentra 12 milhões de habitantes, distribuídos pela mancha urbana que cobre maior parte do município, e se espalha atravessando os limites municipais para formar a RMSP Região Metropolitana de São Paulo [mapa 01]. Apesar de sua grande dimensão territorial e populacional, São Paulo não é uma cidade densa de modo homogêneo. Existem sim, pontos de maior concentração populacional, mas que ocorrem de modo disperso pelo território geral. Em especial, as regiões periféricas formam manchas de adensamento nas bordas da capital [mapa 02]. Nessas periferias, fora do centro expandido, grandes extensões horizontais de casas e sobrados, se somam aos conjuntos habitacionais e conformam os chamados bairros-dormitórios. Esses bairros concentram também as parcelas menos abastadas da população.
limites do centro expandido
[01] MANCHA URBANA 2010 [dados: IG - Instituto Geológico]
24
[02] DENSIDADE DEMOGRÁFICA [dados: Geosampa]
25
Numa tendência oposta, partindo do centro, sentido Oeste e Sul, estão as regiões que mais concentram renda por domicílio e são as menos adensadas. Ali, os indicadores sociais são altos e apontam uma qualidade de vida de primeiro mundo, num grande contraste com outros pontos da cidade. Um desses indicadores é o IPVS³, que gradua entre 1 e 6 a vulnerabilidade das famílias [mapa 03]. O mapa mostra o grau de vulnerabilidade aumentando progressivamente à medida que se afasta dessa região sudoeste, com as regiões mais críticas nos extremos da mancha urbana, já nos limites municipais. É possível verificar que, novamente, assim como a densidade, o nível de vulnerabilidade se opõe a concentração de renda por domicílio [mapa 04]. Num geral, a lógica da capital paulista é a seguinte: quanto mais rica a região, menos densa e vulnerável; bem como seu oposto, quanto mais pobre, mais densa, vulnerável e periférica.
³ Índice Paulista de Vulnerabilidade Social. Elababorado pelo SEADE para o Governo do Estado de São Paulo.
26
[03] IPVS
[02] RENDA
27
mancha cultural
Em relação aos equipamentos e espaços de lazer, seria de se esperar que sua distribuição acompanhasse a densidade demográfica, havendo maior oferta, onde há mais gente morando. Porém, não é isso o que se verifica nos mapas [05 e 06]. Enquanto os equipamentos de esporte estão distribuídos de modo homogêneo e esparso pela cidade, ainda que aquém à demanda, existe uma maior concentração de equipamentos de cultura na região central e no sentido sudoeste, - citada acima como a região mais abastada da cidade - conformando uma mancha cultural. É possível associar essa concentração de espaços de lazer no centro, ao seu caráter de destino turístico - tanto para quem vem de fora da cidade, quanto para seus moradores. Já no sentido sudoeste, a associação mais latente é em relação à faixa de renda dos habitantes desses bairros.
[05] EQUIPAMENTOS DE CULTURA rede pública e privada [dados: Geosampa]
28
[06] EQUIPAMENTOS DE ESPORTE rede pública e privada [dados: Geosampa]
29
nº de equipamentos / 10.000 hab
cd. ademar ermelino matarazzo são mateus sapopemba parelheiros vl. prudente jaçanã m’ boi mirim guaianases são miguel penha casa verde freguesia do ó pirituba jabaquara vila guilherme itaim paulista campo limpo itaquera capela do socorro perus aricanduva cd. tiradentes ipiranga santana mooca st. amaro vl. mariana lapa sé butantã pinheiros
32 31 30 29 28 27 26 25 24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 09 08 07 06 05 04 03 02 01
0,5
Sabendo então que existem focos de concentração dos equipamentos culturais pela mancha urbana, foi feito um cruzamento de dados4 entre a população e a quantidade de espaços de lazer de cada subprefeitura para aferir quão desigual, em termos de quantidade, é a oferta de lazer cultural em São Paulo entre as suas subprefeituras. Os números obtidos [mapa 07] mostram uma enorme discrepância entre os dois extremos da oferta de lazer por população. Enquanto a subprefeitura do Butantã dispõe de 10,51 equipamentos culturais à cada 10 mil habitantes, em Cidade Ademar o mesmo número é de 0,02. No total, 25 de 32 subprefeituras oferecem menos de 1 equipamento à cada 10 mil habitantes. Um agravante desse cenário é a dimensão de São Paulo. Com uma área urbana de 30
[07] DENSIDADE DE EQUIPAMENTOS X RENDA
4 divisão do número de equipamentos de cultura pela população de cada subprefeitura de São Paulo (apêndice A)
6
fonte: capital.sp.gov. br/noticia/programa-demovimentos-estrategicospretende-consolidar-saopaulo-como-capital-dacultura. Acesso em 17 mar. 2020
949,611 km², a expansão territorial por si só já denotaria grandes deslocamentos. Somada a um sistema de mobilidade insuficiente para a demanda, significa que apesar de São Paulo ter uma alta oferta de equipamentos de lazer, levando até a sua associação como capital cultural6, o acesso cotidiano a esses espaços está diretamente relacionado com onde se mora na cidade (e o quanto se pode pagar para morar).
[08] MOBILIDADE ATÉ A MANCHA CULTURAL
Elaborou-se um mapa [08] com a distância possível de ser percorrida por transporte público partindo do centro da mancha cultural (cruzamento da avenida Paulista com a rua da Consolação) identificada anteriormente. Observa-se que é possível chegar à maior parte da cidade de São Paulo em até 60 minutos. Porém regiões mais distantes ao Norte, ao Sul e boa parte do Extremo Leste ficam de fora desse alcance, sendo necessário mais de uma hora de deslocamento para acessar os equipamentos concentrados na mancha. Tal translado pode até ser considerado razoável para deslocamentos ocasionais, porém impraticável para a prática cotidiana de atividades de lazer e cultura. Conclui-se o acesso ao lazer cultural na capital paulista como um privilégio socioespacial. 31
ZONA LESTE Dentre as áreas mais afetadas pela oferta insuficiente de lazer e cultura está a Zona Leste. Percebe-se a situação da região como especialmente problemática ao cruzar dados de densidade demográfica e oferta de equipamentos. Se trata de uma região populosa, com pouquíssima oferta de lazer, principalmente de lazer cultural, além de distante geograficamente do centro que concentra maior parte da oferta de lazer e cultura. Através do levantamento, foi possível também aferir que os moradores dessa região são aqueles com as menores faixas de renda da capital, numa relação direta entre distância do centro e poder econômico: quanto mais ao Leste, menor a renda. Em relação aos equipamentos de lazer cultural, se o fato de estes geralmente serem associados a uma elite econômica e intelectual conforma uma barreira abstrata ao acesso popular, a má distribuição desses espaços reafirma essa barreira de modo físico. Desse modo, o não acesso é incentivado pela não oferta. Dentro de uma sociedade estratificada, como a brasileira, o acesso à cultura se faz
32
latente ao pensar no capital cultural como possibilitador da mobilidade social. Fica, então, evidente a necessidade de cultura nas periferias urbanas - onde se encontram, com frequência, grandes parcelas da população marginalizada culturalmente. Aqui, se propõe a oferta da cultura atrelada ao lazer, numa tentativa de promover maior acesso à cultura através de práticas de lazer. Imaginando um outro cenário possível, surge uma ideia: criar manchas de lazer e cultura junto às centralidades comerciais regionais e aos modais de transporte coletivo, criando uma rede de lazer em pontos-chave na periferia da Zona Leste. Dentro dessa rede, agora ampliar-se-á o olhar para São Miguel Paulista, distrito do extremo leste.
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34
2
O LUGAR
O local escolhido para implantação de uma das redes de lazer periféricas é São Miguel Paulista. Neste capítulo se fará uma caracterização geral do bairro e região. Um breve histórico conta a história desse que é um dos bairros mais antigos da capital, tendo existido por séculos de modo independente de São Paulo - até se tornar periferia, engolida pela enorme mancha urbana metropolitana. Por fim, aproxima-se do núcleo central do bairro e área de estudos, onde, através de levantamentos urbanos tenta-se compreender o território e suas lógicas.
35
36
2.1
SÃO MIGUEL PAULISTA
No extremo leste da capital paulista, fazendo divisa com Guarulhos, Itaquera e Ermelino Matarazzo, a subprefeitura de São Miguel Paulista se divide em três distritos: São Miguel, Vila Jacuí e Jardim Helena.
é possível continuar o trajeto até Mogi das Cruzes. A linha possui quatro paradas na subprefeitura de São Miguel, e compõe um dos principais eixos de transporte coletivo sentido centro da Zona Leste.
Percebe-se uma convergência das vias estruturais no largo da Capela de São Miguel Arcanjo, próximo à estação São Miguel Paulista da CPTM. Este é o centro histórico, simbólico e atualmente, comercial, do bairro. Presente ali desde 1622, a capela marcava a localização do aldeamento histórico e muitas das vias atuais foram abertas para se chegar ou sair de São Miguel.
O recorte escolhido para a implantação da rede de espaços de lazer é a região central do bairro, nos arredores da capela. Ali existe um comércio consolidado com alto fluxo de pedestres, além de ser permeado pelos eixos de mobilidade estruturais da região. Assim, objetiva-se criar pontos de contato entre o lazer e a cultura com a população local.
As avenidas São Miguel e Marechal Tito compunham a antiga estrada São Paulo Rio de Janeiro. Hoje esse trajeto é realizado pela Rodovia Ayrton Senna, que, junto do Rio Tietê, conforma uma barreira física entre São Miguel e Guarulhos. Efluente do rio Tietê, o Córrego Jacu é um corpo d’água importante para o território por onde hoje passa a Avenida Jacu-Pêssego. A via cruza a Zona Leste e se conecta com Rodovia Ayrton Senna, a Radial Leste e segue até Mauá. Um importante vetor de mobilidade da região é a linha 12-Safira da CPTM, que parte do Brás sentido Calmon Viana (Poá) - onde 37
38
CARACTERIZAÇÃO DA SUBPREFEITURA
◄
■
369.496 habitantes
■
15.206 hab/km² (6º mais densa de SP)
EQUIPAMENTOS 07 CDC [clube da comunidade] quadras cobertas ou descobertas ■
02 CEU uso educacional, esportivo e de lazer ■
01 casa de cultura [610m²] espaço para oficinas, aulas ■
■
01 biblioteca pública [1.470 m²]
01 parque equipamentos esportivos e de ginástica ■
09 equipamentos de subprefeituras vizinhas que abrangem São Miguel Paulista
■
39
[05]
40
◄ Mapa da capitania de São Vicente entre 1553 e 1597. São Miguel já aparece no mapa como um aldeamento jesuíta na margem esquerda do Tietê, à leste de São Paulo de Piratininga.
DE ALDEIA INDÍGENA A PERIFERIA O breve histórico apresentado a seguir baseia-se majoritariamente no livro “O bairro de São Miguel Paulista” de Sylvio Bomtempi, escrito em 1970 e parte da Série História dos Bairros de São Paulo - VII. — A história de São Miguel Paulista, um dos bairros mais antigos de São Paulo remonta à 1560. Com a extinção da Vila de Santo André da Borda do Campo no mesmo ano, os moradores são transferidos para a Vila de São Paulo de Piratininga (atual São Paulo). Ali, padres jesuítas haviam construído um colégio e fundado uma vila para catequizar índios guaianás. Os nativos descontentes com a chegada dos novos moradores à vila, dividiram-se. Alguns ficaram na vila, outros partiram em busca de novos assentamentos. Parte foi para região do atual bairro de Pinheiros, parte assentouse à margem esquerda do Rio Tietê, numa região conhecida por eles como Ururaí.
41
[06] [07]
42
◄ [06] A capela de São Miguel Arcanjo em 1938, antes de seu primeiro restauro entre 1938 e 1940. A capela passou ainda por outro restauro em 2005, mas ainda conserva boa parte de seus elementos originais. Foi um dos primeiros bens tombados pelo SPHAN (atual IPHAN) em 1938. [07] Ao redor da capela hoje está Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra. Complementar ao restauro de 2005, a praça passou por uma reforma com projeto do escritório Brasil Arquitetura.
Pouco após a partida dos índios, Padre José de Anchieta partiu em sua busca para dar continuidade a catequização dos nativos. Anchieta os encontrou em Ururaí e ali fundou uma capela para o arcanjo Miguel, bem como a Aldeia de São Miguel de Ururaí. Essa capela inicial, de construção simples e singela, foi substituída por uma nova e maior, concluída em 1622. A construção persiste até hoje, é tombada pelo IPHAN e passou por restauro recente entre 2005 e 2011. O largo da capela perdurou por séculos como ponto central de São Miguel. Desde seus primórdios, a existência de São Miguel esteve conectada à São Paulo. Por seu posicionamento estratégico no leito no Tietê, no caminho entre São Paulo de Piratininga e o Rio de Janeiro, a vila serviu por diversas vezes como base estratégica na defesa da vila. De caráter territorialista, a vila sempre procurou manter São Miguel de Ururaí como vinculada à São Paulo. Como um de seus territórios mais distantes, a existência de São Miguel foi determinante para a ocupação de terras no sentido leste à vila de São Paulo. A Penha surge inicialmente como uma parada no caminho do Tietê entre a Vila e a Aldeia. A ocupação da região do
rio Taquera (atual Itaquera) pode também ter ocorrido pela proximidade à aldeia. Assim, São Miguel de Ururaí atravessou os séculos como aldeamento indígena e posteriormente, bairro de brancos. Enfrentou uma estagnação entre 1791 e 1891, que quase levou a sua extinção, sendo anexada, então, à Freguesia da Penha. Em 1891 decreta-se o distrito de São Miguel compreendendo a região de Itaquera, Itaim Paulista, Ermelino Matarazzo, Guaianases e Pimentas. No início do século XX, o novo desenvolvimento de São Miguel esteve ligado, num momento inicial, as olarias por sua posição em relação ao Rio Tietê. Voltadas para a produção de tijolos e cerâmica, elas extraíam do leito do rio matéria-prima abundante e das matas próximas obtinha o carvão. “Com a demanda de trabalhadores nas olarias, mais gente foi morar em São Miguel e o largo da capela foi reavivado com as casas comerciais que nasceram em seu entorno” (MOREIRA, 2015, p. 38)
43
[09] Mapa Sara Brasil de ► 1930, editado pela autora. Em destaque a capela São Miguel Arcanjo, a Estação de São Miguel (1932) e hachurado o terreno em que a Nitro Química se instalaria em 1935. Em pontilhado, a área de estudos.
MOBILIDADE E PROGRESSO Mesmo com as olarias, o progresso do distrito era barrado pela distância da cidade de São Paulo, em ritmo de crescimento cada vez maior por conta do café do interior. Até 1930 não haviam alternativas de transporte sentido São Paulo, que não as charretes e cavalos. Neste ano, inaugurase a linha Penha-São Miguel, a primeira das transformações de mobilidade a se dar nessa mesma década. Em 1932, com a construção da Estrada de Ferro Central do Brasil, inaugurou-se, a 500 metros da antiga capela, uma estação de trem em São Miguel facilitando a locomoção de quem morava no bairro. A presença de uma estação de trem, a proximidade com São Paulo, a oferta abundante de água do Tietê, e a presença de uma população relativamente consolidada foram condicionantes para que em 1935, 3 anos após a chegada do trem, a indústria Nitro Química se instalasse em São Miguel. A indústria caracterizada como um equipamento de grande porte teve forte impacto local, e foi responsável por atrair novos moradores para o bairro em busca de emprego.
44
[08] Plataforma original da ▼ Estação de São Miguel em 1945. Ela permaneceu em uso até 2013, quando foi transferida para uma nova estação construída, aproximadamente, a 150 metros do local. [08]
[09]
45
“Somente em seus dois primeiros anos de funcionamento (1935-1937) mais de quinhentas novas construções somaramse às cerca de duzentas moradias anteriormente existentes” (FONTES, 1996, p. 33 apud MOREIRA, 2015, p. 40). Num momento em que São Paulo crescia exponencialmente e recebia imigrantes de fora e de dentro do país, uma leva de nordestinos - principalmente baianos assentou-se em São Miguel (MIOTTO, 2011), marcando a história recente do bairro. As casas de pau-a-pique passaram então a ser substituídas pelas de alvenaria. A praça da capela de São Miguel Arcanjo tornou-se conhecida popularmente como praça do forró, por conta das grandes festas ao som da música tradicional nordestina. A região do largo da capela, da estação e da Nitro Química se consolidaram como centro da vida no bairro e em seus arredores surgiram comércios e vendas locais. Na evolução histórica da mancha urbana de São Paulo, antes de 1930 a área urbana se limitava aos arredores do centro histórico da vila de Piratininga. Após a Penha todo território ainda era considerado área rural, incluindo São Miguel. Entre o período de 1930 e 1949, após a instalação da Nitro 46
Química, São Miguel surge no mapa como um tecido urbano independente. A partir de então dos anos 1950, acompanhando o movimento de São Paulo, São Miguel viu sua população e área urbana crescer até encontrar com outros bairros, que por sua vez encontraram com outros bairros, até conformar a grande mancha urbana da capital paulista. Hoje, por sua distância do centro e por seus índices socioeconômicos e de desenvolvimento, o bairro compõe a periferia da Zona Leste. Ao longo da história, apesar de fazer parte da cidade São Paulo, por sua distância e população simples, a região recebeu poucos investimentos em relação aos bairros mais centrais, consolidando um desnível social entre periferia e centro.
Evolução da mancha ► urbana de São Paulo entre 1930 e 1962. Em vermelho, destacado está São Miguel. Elaborado a partir de informações obtidas em mapas da Secretaria Municipal de Planejamento - Sempla/Dipro
até 1930
até 1949
até 1962
47
[10]
6
5
a nid
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4 1
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16
2
16 3 15
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12
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11
8
10 9
48
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2.2
1
capela de São Miguel Arcanjo
2
praça Padre Aleixo Monteiro Mafra
3
catedral de São Miguel Arcanjo
4
colégio POP
5
estação CPTM
6
Nitro Química
7
EMEFM Darcy Ribeiro
8
22º DP
9
posto de bombeiros
10
hospital municipal Tide Setúbal
11
praça das escolas
12
EMEF arquiteto Luís Saia
13
EE Dom Pedro I
14
hospital e maternidade São Miguel
15
mercado municipal Dr. Américo Sugai
16
calçadão de São Miguel
LEITURAS URBANAS
A área de estudos se dá no núcleo central e histórico do bairro de São Miguel, nos arredores da capela e de edifícios de interesse público. Como visto anteriormente, nos arredores da praça desenvolveu-se um centro de comércio popular com impacto regional. Além do comércio, quatro escolas, dois hospitais e um mercado municipal dilatam o alto fluxo de pedestres no recorte. O local também se configura num importante ponto de encontro de vias estruturais da região. Por seu forte potencial atrator e facilidade de acesso para a região da subprefeitura de São Miguel, acredita-se que o local tem potencial para tornar-se, também, uma centralidade de lazer. Assim, ampliando o horário e dias de funcionamento para a noite e fins de semana - quando a região torna-se desértica com o fechamento dos comércios.
“...uma coisa é o lugar físico, outra coisa é o lugar para o projeto. E o lugar não é nenhum ponto de partida, mas é um ponto de chegada. Perceber o que é o lugar é já fazer o projeto.” Álvaro Siza 49
Dentro do recorte a maioria das quadras apresenta uso comercial e de serviços. Na região predomina o comércio popular, com lojas de roupas, sapatos, eletrodomésticos, móveis, tecidos, materiais para festas, entre outros. No uso de serviços encontram-se diversas clínicas, farmácias e agências de bancos, além de três sindicatos. Fora do recorte, percebe-se o uso misto nas quadras lindeiras às avenidas e no restante, uso residencial. Pelo uso exclusivo de comércio e serviços, após o horário comercial percebe-se um esvaziamento na região, que passa a ser evitada por pedestres.
uso predominante [dados: geosampa] comercial / serviços misto [comercial/residencial] residencial institucional industrial/armazém sem uso predominante/outros estacionamento terreno vago
50
O núcleo central do bairro é demarcado, majoritariamente, como ZEU - Zona de Estruturação Metropolitana e inserido na macrozona de Estruturação Metropolitana. Assim, o território passa a fazer parte das Zonas de Transformação instituídas pelo Plano Diretor Estratégico, que tem como objetivo ordenar o crescimento e a geração de empregos nos eixos de mobilidade. A Capela de São Miguel Arcanjo, de grande relevância histórica, é tombada pelo IPHAN, CONPRESP e CONDEPHAAT. Sua área envoltória envolve as edificações adjacentes a Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, visando preservar o entorno da capela e sua ambiência.
patrimônio e legislação [dados: geosampa] ZEU - zona de estruturação urbana ZC - zona de centralidade imóvel tombado área envoltória
A resolução de nº 17/2014 do CONPRESP institui a preservação do traçado viário e da praça onde está inserida a igreja. Para os imóveis adjacentes há uma restrição de gabarito. São também parâmetros manter a fachada alinhada a testeira do lote e a harmonia estética com a capela na escolha de cores e revestimentos. Identifica-se um conflito entre a presença da capela e as diretrizes urbanísticas da ZEU, que implicam em ocupação vertical e transformações no modo de ocupação.
macroárea de estruturação metropolitana
51
O padrão predominante de ocupação dos lotes é alinhado com as ruas, sendo possível identificar com facilidade o formato das quadras. Essa regularidade é rompida por alguns lotes vazios e nos usos institucionais, onde há maior equalização entre cheios e vazios.
1
Destacam-se do entorno compacto as duas praças da região e um lote vazio ao lado da EMEFM Darcy Ribeiro.
3
2
cheios e vazios [dados: geosampa] edificado / cheio não edificado / vazio
52
1
praça Padre Aleixo Monteiro de Mafra
2
praça das escolas
3
EMEFM Darcy Ribeiro
O gabarito da região varia entre 1 e 3 pavimentos, em sua maioria. Se sobressaem algumas edificações mais verticais, mas que não ultrapassam dez pavimentos.
◄
Apesar do aumento do comércio na região, é possível verificar que os padrões de ocupação e gabarito pouco mudaram desde de iniciou-se a ocupação mais intensiva no território (início e meados do século XX).
[12 Rua Arindo Colaço por volta de 1940. [13] Rua Arlindo Colaço atualmente. [11]
gabarito [dados: geosampa] 1 pavimento 2 pavimentos 3 pavimentos
[12]
4 pavimentos de 5 a 9 pavimentos acima de 10 pavimentos
53
As principais atratoras de fluxo na região são as área comerciais. O mercado municipal Dr. Américo Sugai, junto aos calçadões conformam um trecho de fluxo constante com pontos de acúmulo.
1 3
Outro fluxo importante é que se faz sentido a estação da CPTM. Além de dar acesso à linha 12-Safira e estação serve também como ponto de travessia sobre a linha do trem, conectando o centro comercial ao Jardim Lapena.
2 10
10 4 9
Em toda a região, devido às clçadas estreitas, é possível verificar aglomeração nos pontos de ônibus.
6
5 7
8
principais fluxos e locais de atração [dados: levantamento]
54
principais fluxos de pedestres
5
EMEFM Darcy Ribeiro
destino ou dispersão do fluxo
6
EE Dom Pedro I
ponto de aglomeração
7
EMEF arquiteto Luís Saia
local de atração de público
8
22º DP
edifício de interesse público
9
1
estação CPTM
10
mercado municipal Dr. Américo Sugai
2
colégio POP
3
capela de São Miguel Arcanjo
4
catedral de São Miguel Arcanjo
calçadão de São Miguel
Por ser ponto de confluência de vias, circulam pela região em torno de 50 linhas de ônibus. Passam por ali ônibus com destino a diferentes estações de metrô da linha vermelha, como: Tatutapé, Artur Alvim e Itaquera. Há também, linhas operando sentido centro e sentido bairro. A estção da CPTM de São Miguel conecta o bairro com a linha 12-Safira, que tem como destinos Brás, e Calmon Viana. Recentemente, inaugurou-se a conexão com Guarulhos e o Aeroporto através da linha 13Jade, acessível pela estação Engenheiro Goulart da Linha 12. Pela alta variedade de linhas, os pontos geralmente conformam ponto de aglomeração, dentro e fora do horário de pico.
transporte público [dados: geosampa] linhas de ônibus ponto de ônibus linha de trem
[13]
estação de trem
55
1 2 3
4
9 6 5 7
8
56
síntese [dados: geosampa e levantamento] principais fluxos de pedestres destino ou dispersão do fluxo ponto de aglomeração local atrator de público espaço livre público terrenos de intervenção
A leitura apontou para uma diversidade de estacionamentos e um grande lote vazio - ao lado da EMEFM Darcy Ribeiro. A presença de tantos estacionamentos é incompatível com a alta oferta de transporte coletivo do local e com as diretrizes urbanas. Analisando o gabarito (predominantemente em torno de dois e três pavimentos), a questão da capela vinculada a importância de sua ambiência e o desenvolvimento histórico do lugar, entende-se como incompatível a verticalização do projeto a ser implantado ainda que prevista pela legislação urbana. Para alcançar uma programa diverso e de capacidade compatível com a alta demanda por espaços de lazer da região, pensou-se em "explodir" o uso de um complexo de lazer em edifícios compactos espalhados pelo recorte. Foram escolhidos os terrenos de estacionamentos, que não cumprem com a função social, e um lote vazio. Priorizaram-se os estacionamentos próximos ao fluxos de pedestres e aos locais atratores de público.
57
A
D
B C
E A praça padre Aleixo Monteiro Mafra, 71 uso: estacionamento (88%) + serviços (12%) área: 2.435 m²
C r. Beraldo Marcondes, 233 uso: estacionamento área: 1.203 m²
58
1
Devido a pandemia COVID-19, as fotos apresentadas foram retiradas do Google Street View.
2.3
LOTES 1
B r. Beraldo Marcondes, 73
r. Arlindo Colaço, 58
uso: estacionamento área: 1.760 m²
D
E
r. Arlindo Colaço, 286
av. Nordestina, s/n
uso: estacionamento
uso: ocioso
área: 1.717 m²
área: 3.500 m²
59
[15]
[16]
[14]
60
2.4
CONCURSO ÁREA 40
Como em vários outros pontos da capital, em São Miguel Paulista, no processo de construção e evolução da cidade o automóvel foi priorizado, em detrimento dos pedestres. Como resultado têm-se vias largas com alto fluxo de veículos e calçadas estreitas, porém, com alto fluxo pedonal também.
O projeto ganhador, do escritório 23 Sul, propõe para o local: "a criação de uma rede de elementos de redução de velocidade, melhorando as condições de acessibilidade dos pedestres e qualificando os espaços públicos, não apenas por meio da implementação de dispositivos de travessia seguros – como travessias elevadas –, mas também da construção de calçadas mais generosas, plantio de vegetação nativa e instalação de mobiliário urbano." (23 SUL, on-line)
A soma desses fatores faz com que a região tenha um alto índice de atropelamentos, sendo a avenida Marechal Tito a segunda via com maior número de mortes causadas pro esse tipo de acidente em São Paulo1 - fica atrás apenas da Marginal Tietê. Entre os problemas viários destacam-se as calçadas estreitas – que em alguns pontos não atingem o mínimo de 1,20 m –, faixas de pedestres apagadas e conflito entre vias e fluxo caótico em alguns trechos. Numa tentativa de amenizar o conflito entre pedestres e carros, em 2015 a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) demarcou São Miguel como parte da Área 40. Assim, limita-se a velocidade máxima das vias em 40 km/h. Em conjunto, foi lançado, no mesmo ano um concurso fruto da colaboração entre a Prefeitura Municipal de São Paulo e a Iniciativa Bloomberg para a Segurança Global no Trânsito (BIGRS).
— A implantação de uma rede de espaços de lazer em São Miguel implicaria num aumento de fluxo de pedestres na região. Portanto, remodelações viárias visando a melhoria dos trajetos pedonais e diminuição do conflito entre pedestres e veículos se faz complementar. Assim, o projeto para a Área 40 (encomendado pela prefeitura) será considerado como um projeto em vias de implantação.
61
62
3
AS REFERÊNCIAS
Serão apresentadas, aqui, as principais referências projetuais que servirão como um direcionamento para o projeto a ser proposto. O estudo de caso, mais aprofundado, direcionará o programa e a lógica geral do projeto. Dos projetos de referência serão adotados aspectos pontuais.
63
“Simplesmente lazer. O novo centro deveria fomentar a convivência entre as pessoas, como fórmula infalível de produção cultural (sem a necessidade do uso do termo).[...] Ao invés, de centro cultural e desportivo, começamos a utilizar o nome Centro de Lazer.” Marcelo Ferraz, 2008
[17]
64
3.1
estudo de caso | SESC POMPÉIA
O projeto para o Sesc Pompéia foi encomendado para Lina Bo Bardi num local onde havia uma antiga fábrica de tambores, na região fabril da Pompéia. Em uma visita, ao ver os espaços sendo utilizados de modo improvisado pela população, ela entendeu a espacialidade dos galpões como suficiente para abrigar o programa do Sesc e optou por mante-los. As instalações existentes abrigaram os espaços culturais e de uso público. Para abrigar o uso esportivo e mais restrito aos associados do Sesc, Lina projetou três volumes geométricos. São duas torres que abrigam as quadras, vestiários e piscina; e uma caixa d’água. Todos em concreto aparente. O lote ocupa maior parte da quadra e possui fachada para quatro ruas. O acesso principal é feito pela rua Clélia, através de uma rua interna ao Sesc. O projeto acontece principalmente no miolo da quadra, em torno da rua interna e do deck/ solarium. A rua interna da fábrica que dividia os galpões em dois blocos, tornou-se o acesso principal ao Sesc. Conectando os diferentes espaços do complexo, a rua ganhou vivacidade e adquiriu caráter urbano, fazendo o conjunto parecer funcionar como uma cidadela.
■ Pompéia | São Paulo | SP
■ arquiteta
Lina Bo Bardi
■ uso
centro de lazer
■ conclusão
1986
■ m² terreno
16.573 m²
■ m² construído
27.288 m²
65
SETORIZAÇÃO E FLUXOS
restaurante e choperia circulação vertical bloco esportivo
exposição
administração / apoio leitura
estar oficinas teatro
66
10. restaurante self-service para 2 mil refeições e choperia (noite) 11. cozinha industrial 12. vestiário e refeitório dos funcionários
01
02
04 03
10 11
sociais
físicos
turísticos
01. conjunto esportivo, piscinas, ginásio e quadras (5 pavimentos duplos) 02. lanchonete, vestiários, salas de ginástica, lutas e danças (11 pavimentos) 03. caixa d’água 04. deck/solarium 05. almoxarifado e oficinas de manutenção e exposição
05
12
manuais
artísticos
Para melhor entender as atividades e suas naturezas, os espaços do Sesc Pompéia foram classificados de acordo com as 6 áreas de interesse do lazer de Marcellino, apresentadas no capítulo 01.
intelectuais
PROGRAMA
04 14 09
13. grande espaço de estar, com exposições, lareira e espelho d’água 14. bibioteca, espaço de leitura e videoteca 15. galpão de exposições 16. administração geral
13
16 15
06 08
16 07
[18]
06. ateliês de cerâmica, pintura, marcenaria, tapeçaria, gravura e tipografia 07. laboratório fotográfico, estúdio musical, sala de danças e vestiário
08. teatro com 760 lugares 09. foyer e loja do sesc
67
[19] [20]
[21] [22]
68
No fundo do lote, corre o córrego das Águas Pretas - hoje em galeria subterrânea - assim, o programa esportivo foi dividido em dois blocos, separados pela faixa do córrego [23]. Como o solo do córrego não poderia ser edificado, a conexão entre os dois volumes é feita por oito passarelas verticais. As passarelas, que assumem formas como V e Y, tornaram-se importante elemento estético para o conjunto [21]. — Por alguns usos esportivos exigirem pésdireitos altos, o bloco maior que abriga as quadras possui quatro pavimentos duplos, alinhados aos oito pavimentos do bloco menor - contendo salas, vestiários e espaços administrativos [23].
como em portas, divisórias e portões [22]. O muxarabi é uma herança árabe trazida pelos portugueses ao Brasil, e tornou-se popular em solo tupiniquim por suas vantagens climáticas citadas acima. O uso desse material, dentre outros, é característico da obra de Lina Bo Bardi ao incorporar elementos populares e brasileiros, na busca de uma identidade brasileira na arquitetura. — Compondo o conjunto dos três novos volumes, a caixa d’água com 70 metros de altura, emula a antiga chaminé da fábrica e tornou-se ponto de referência do projeto [23]. Sua concretagem foi realizada em etapas com fôrmas levemente afuniladas, resultando em um aspecto rendado para a torre.
— As aberturas de do maior bloco são formas ameboides resultantes de blocos de isopor anexados à forma de concretagem [23]. — Nas janelas, muxarabis controlam a incidência solar e permitem a passagem do ar de modo contínuo [24]. É possível encontrar a trama vazada em outros pontos do projeto,
“Para ir aos vestiários, as pessoas deverão atravessar as passarelas. Se estiver chovendo, elas dão uma corridinha. Afinal, quando se faz esportes ao ar livre, não se fica sujeito às variações do tempo?” Lina Bo Bardi 69
[25] [26]
[23] [24]
70
Durante a reforma dos galpões retiraramse os acabamentos das paredes para expor o tijolinho original da fábrica, acentuandose o aspecto industrial. De certo modo, o uso do concreto aparente, frio, de modo extensivo nas novas edificações, apesar de parecer contrastante com os tijolos de barro, estabelece um diálogo com os galpões através da brutalidade do material em sua forma original.
da rua interna [28]. Assim, em caso de chuva, surge um fluxo de água que é direcionado para a galeria sob o deck. A calha também acaba por criar um obstáculo ao acesso dos galpões que é vencido por pequenas pontes, reforçando a transição entre espaço interno e rua. Situação semelhante acontece dentro do galpão onde blocos monolíticos de pedra cruzam um sinuoso espelho d’água [26].
— A cobertura original dos galpões em sheds foi mantida e hoje os espaços comuns são iluminados pela luz do sol durante o dia, reduzindo os custos de operação [25]. — O vermelho foi amplamente aplicado em detalhes do projeto, criando uma unidade para o conjunto. As chapas metálicas das treliças receberam pintura no mesmo tom, criando pontos de cor no telhado e chamando atenção para a preexistência [27]. — Ainda que o córrego esteja subterrâneo, o elemento da água foi incorporado ao projeto A água da chuva que vem dos telhados é direcionada para uma calha aberta no nível
71
[27]
[28]
72
3.2
PROJETOS DE REFERÊNCIA
CONJUNTO DA UNIVERSIDADE DIEGO PORTALES A UDP tem sede no centro histórico de Santiago. O campus é composto por 10 edifícios da instituição distribuídos ao longo das Avenidas Ejército e República, correspondendo a 9 faculdades, e espaços de uso comum, como biblioteca e centro esportivo. Além das novas edificações construídas para sediar as atividades acadêmicas, alguns espaços se tratam de construções históricas reabilitadas. Tratando-se de um centro histórico, buscou-se a integração dos novos edifícios com o entorno através da compatibilização de gabaritos e padrões de ocupação do lote, seguindo um princípio de mínima interferência. Por sua distribuição ao longo das quadras, a universidade caracteriza-se como um campus urbano, onde a vida estudantil se mescla à vida cotidiana do bairro. Pátios, terraços, cafeterias e espaços de uso comum, internos às edificações, são abertos ao público, acentuando o intercâmbio entre os estudantes e a cidade. Em alguns locais, é possível cruzar quadras por dentro dos projetos, possibilitando a descoberta de novos caminhos e fluxos.
■ Bairro Universitário | Santiago | Chile
■ uso campus urbano ■ conclusão
2003 - 2005
73
[29]
74
◄ A edificação de apenas dois pavimentos respeita o gabarito do entorno e tem suas fachadas alinhadas com a calçada, seguindo o padrão de ocupação do entorno.
CENTRO CULTURAL ARAUCO Na pequena comuna de Arauco, no Chile, o projeto trata-se de um espaço cultural para abrigar a biblioteca e o teatro municipal. Para tornar o espaço convidativo, o projeto se eleva do chão e libera a esquina, ampliando a calçada nesse trecho da rua e oferecendo um passeio coberto. O volume do primeiro pavimento segue os perimetros do lote e libera o miolo da quadra, criando uma praça central. É interessante como a escala do projeto respeita o gabarito e a ocupação do entorno, de modo que o projeto se mescla no cenário urbano. — Serão referências projetuais a implantação com térreo liberado, a inserção urbana com respeito de gabarito e ocupação, e a criação de espaços livres em conjunto com a arquitetura.
■ Arauco | Chile
■ arquitetos
elton_léniz
■ uso centro cultural ■ conclusão
2016
■ m² construído
1.400 m²
75
[30]
A construção do volume da biblioteca suspenso desenha uma marquise para a rua e convida quem passa pela calçada a acessar a praça interna. Apesar de recuar os volumes no térreo, mantem-se o alinhamento com as edificações do entorno através do perímetro do volume suspenso. 76
Praça interna criada com a liberação do miolo de quadra. Os espaços internos se voltam para o pátio e oferecem relações de permeabilidade visual.
[31] [32]
Pela noite, os brises verticais internos da biblioteca filtram a iluminação do projeto e fazem o projeto funcionar como uma lanterna. 77
[33]
O térreo estabelece grande permeabilidade com a calçada. As fachadas envidraçadas revelam as atividades internas ao edifício. A grande rampa tem papel central na circulação e conecta os diferentes pavimentos como uma rua interna, que permite passear pelo edifício.
[34]
78
SESC 24 DE MAIO O projeto para o Sesc 24 de Maio está localizado no centro da cidade de São Paulo, em uma região repleta de calçadões e portanto, com alto fluxo de pedestres. Por essa razão, o térreo estabelece um diálogo com a calçada convidando os transeuntes. Como é característico dos espaços do Sesc, o projeto conta com um programa amplo e diversificado. Com a distribuição das atividades por pavimento, uma grande rampa conecta os andares fazendo o papel de uma rua vertical. — Serão referências projetuais o diálogo do nível térreo com a calçada, o programa amplo e diverso, a criação de um trajeto entre atividades e os espaços de estar.
■ República | São Paulo | SP
■ arquitetos Paulo Mendes da Rocha + MMBB ■ uso
centro de lazer
■ conclusão
2017
■ m² construído
27.865 m²
79
80
4
O PROJETO: REDE DE LAZER EM SÃO MIGUEL PAULISTA
Em seguida serão apresentadas as ideias para a rede de espaços de lazer em São Miguel. A proposta parte de diretrizes urbanas com intervenções de suporte aos espaços de lazer e cinco novos edifícios. Os projetos são apresentados em nível de volumetria e programas. Ao fim, foi escolhido um projeto para maior detalhamento.
81
1. DIRETRIZES
3. PROPOSTAS
redução da vulnerabilidade de pedestres; ■ melhoria dos trajetos pedonais; ■ ampliação da oferta de espaços públicos e coletivos, e qualificação dos espaços existentes; ■ ampliação da oferta de espaços de parada e permanência, e qualificação dos espaços existentes; ■ incentivo à implantação de bares e restaurantes, como forma de ativar o território a noite; redução de áreas de estacionamento e garagem; ■ melhoria das conexões com o transporte público. ■
01
02
■
referência totem urbano da cidade de Belgrado
referência novo mobiliário urbano da cidade de São Paulo
[37]
03
04
05
06
07 [36]
instalação de totens sinalização sobre a Capela de São Miguel Arcanjo e museu anexo; ■ ajustes de paisagismo e canteiros com criação de novas travessias e implantação de espécies; ■ instalação de mobiliário urbano; ■ implantação de deck de estar. ■
02
04
[concurso área 40] construção de novo acesso à estação da CPTM; ■ incorporação de espaços residuais para ampliação do calçadão, com implantação de quiosques padronizados. ■
05
requalificação do calçamento; implantação de quiosques padronizados; ■ [concurso área 40] construção de lombofaixa na Rua Arlindo Colaço para continuidade do calçadão. ■
06
■
referência deck de estar Centro Aberto
[35]
01
03
2. ESTRATÉGIAS implantação de lombofaixas e novas faixas de pedestres; ■ ampliação de calçadas e diminuição do leito carroçável; ■ implantação de mobiliário urbano em espaços públicos; ■ criação de novos espaços públicos e coletivos; ■ criação de novo acesso à estação da CPTM;
remoção de gradis; ■ instalação de mobiliário urbano; ■ instalação de totens informativos sobre a Capela de São Miguel Arcanjo e museu anexo; ■ redesenho de paisagismo. ■
redesenho de paisagismo; ■ implantação de mobiliário urbano; ■ implantação de quiosques padronizados.
07
■
reforma e ampliação do teatro Dom Pedro I, com acesso ao público geral.
■
redesenho de paisagismo; ■ implantação de deck de estar; ■ implantação de mobiliário urbano. ■
calçadão remodelação de áreas livres edifícios de lazer edifícios de interesse público remodelação viária prevista no concurso área 40 0
50
100 m
4.1
DIRETRIZES URBANÍSTICAS
Como evidenciado através das leituras do território, São Miguel se caracteriza uma centralidade, atraindo grande fluxo de pessoas pela oferta de comércio e serviços, com boa demanda de transporte público. Com um possível aumento do fluxo de pessoas causado pela implantação dos espaços de lazer, surge o conflito com os problemas viários existentes na região. Tais questões já foram objeto de estudo do concurso Área 40, porém, as propostas em via de implantação resultadas do concurso, são pontuais, quando a intervenção necessária, parece ser estrutural. Concluiu-se a necessidade de elaboração de projeto urbano específico com remodelações e reordenações de fluxos viários aliados à proposições de travessias do eixo ferroviário da linha 12-Safira. Como o objeto de estudo desse trabalho é a ampliação na oferta de espaços e equipamentos de lazer, o que se propõe nesse sentido são diretrizes de suporte à implantação da rede de lazer proposta. Contudo, reconhecendo a necessidade de um projeto urbano mais abrangente.
alguns espaços livres e públicos, porém que carecem de mobiliário urbano e de melhorias paisagísticas. À exemplo, a diretriz "ampliação da oferta de espaços de parada/permanência e qualificação dos espaços existentes" relaciona-se com a estratégia "implantação de mobiliário urbano em espaços públicos" e com a proposta 02 de qualificação da Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra com instalação de mobiliários, deck de estar e ajustes de paisagismo. Alinhado às diretrizes e estratégias, propõe-se a criação de cinco edifícios de lazer em lotes subutilizados. A construção dos programas fez-se através da identificação das carências da região, bem como de usos compatíveis com o local e de potencial atrator. Assim, a implantação da rede de espaços de lazer intensifica a importância de São Miguel para região do extremo leste, configurando uma relação de simbiose com o comércio local.
Foram elaboradas diretrizes e estratégias voltadas para a melhoria da caminhabilidade e da oferta e qualidade de espaços públicos. Identificou-se no recorte, a existência de 83
A
história e tradição
B
comercial
C
educação e recreação E
trajetos pontos de parada A
centro de tradições nordestinas
B
centro de artes e criação
C
centro de estar e midiateca
D
museu de arte periférica
E
centro de esportes e recreação
84
D
4.2
EDIFÍCIOS EM REDE
A disposição dos novos edifícios fez-se pensando na integração das novas estruturas com as existentes e com os fluxos de maior significância do comércio local. Apesar de São Miguel, hoje, atrair pessoas principalmente pelo comércio, o núcleo central já possui pontos de atração de caráter turístico, como a capela de São Miguel Arcanjo.
D, um museu de arte periférica. O projeto conecta-se com o calçadão comercial, num dos pontos mais movimentados do recorte, promovendo um contato com a cultura e artistas periféricos; além de aquecer o comércio local por ser um programa de relevância regional.
Assim, pensou-se numa rede de conexão entre os potenciais espaços de lazer e locais atratores de público, como mercado municipal, escolas e praças. No local de fundação do bairro: a praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, com a capela de São Miguel Arcanjo, está o núcleo históriatradição, onde se propõe o edifício A, um CTN (centro de tradições nordestinas). Os edifícios B (centro de artes e criação), C (centro de estar e midiateca) e E (centro de esportes e recreação), conformam o núcleo educacional-recreativo, aberto para todos os públicos, mas com potencial para atender a grande demanda gerada pelos alunos das quatro escolas inseridas no recorte, quando não estão em horário letivo. Compondo o núcleo comercial está o calçadão, o mercado municipal e o edifício 85
86
CTN | CENTRO DE TRADIÇÕES NORDESTINAS
Espaço para celebração e vivência da cultura nordestina, ligada à história de São Miguel através da chegada dos sertanejos à região, trazendo consigo comidas, danças e músicas típicas. Posicionado junto à praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, conhecida por praça do forró, propõe a retomada do espaço para festas e celebrações ao ritmo nordestino.
■
praça padre Aleixo Monteiro Mafra, 71
■
uso atual:
estacionamento (88%) + serviços (12%) ■
área terreno
2.560 m²
■
área construída
1.575 m²
condicionantes da área envoltória de tombamento da capela de São Miguel Arcanjo ■
gabarito máximo
07 metros
alinhamento da edificação com a frente do lote
■
87
estacionamento
7 10
88
1 | demolição de construções existentes
2 | posicionamento do espaço multiuso (para shows e eventos) no declive, respeitando o limite de gabarito máximo de 7 metros da área envoltória de tombamento
3 | criação de praça rebaixada com visuais para região de várzea do rio Tietê
4 | posicionamento de bloco de acesso com restaurante em conexão com a calçada, respeitando o alinhamento da testada
sociais
turísticos
OIO
AP
-1 | praça de eventos
CO
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CA
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A
D
A ES RC Ã A O N M JO IG U
EL
HA ZIN CO
O
SS
E AC
praça da estação 89 ◄
PR A M ÇA O P N AD TE R IR E O AL M E A IX FR O A
T | acesso
90
CENTRO DE ARTES E CRIAÇÃO
Espaço de criação, voltado para as artes e fabricação digital. Na implantação propõe-se um diálogo com a cidade ao manter a conexão com as duas fachadas do terreno através de uma via interna, convidando o transeunte a passar pelo edifício, enquanto passa pela cidade. O trajeto feito através de uma rampa reafirma o caráter público e universal do acesso às artes.
■
rua Beraldo Marcondes, 73
■
uso atual
■
área terreno
1.630 m²
■
área construída
1.830 m²
estacionamento
91
92
1 | demolição de construções de apoio do estacionamento
2 | estabelecimento de eixo entre ruas paralelas configurando trajeto pelo lote, com a criação de nível de acesso em cota média do terreno
3 | criação de lajes intercaladas para melhor adequação ao desnível do terreno com caixa de circulação vertical fazendo a conexão entre níveis
4 | criação de segundo bloco com liberação do térreo para configuração de praça coberta
manuais
intelectuais
artísticos
sociais
FA B
LA
B 02 | fab lab
OF
ICI
NA S
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ES TÚ
EX TEAT PE RO RIM EN TA L
01 | oficinas, estúdios e teatro
RIO
DIO
S
S RE
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MU
LTI U
SO
P
AP
OIO
T | praça de acesso, recepção e vestiários 93
94
MUSEU DE ARTE PERIFÉRICA
Alinhado ao entendimento de lazer como componente da cultura, e com a intenção de trazer visibilidade aos artistas da periferia, é que se propõe um museu de arte periférica num dos pontos de maior fluxo de pessoas em São Miguel Paulista: o calcadão. Através da junção de um lote de duas fachadas, com outros dois lotes menores, cria-se uma grande praça pública acessível por três vias, possibilitando novos fluxos urbanos.
■
rua Arlindo Colaço, 286
■
uso atual
■
área terreno
3.220 m²
■
área construída
3.000 m²
estacionamento
95
estacionamento
agência bancária
lojas
CA
96
A LÇ
DÃ
O
1 | união de lotes possibilitando conexão com o calçadão comercial e demolição de construções existentes
2 | posicionamento de volumes de modo a liberar eixo visual entre ruas paralelas
3 | suspensão das lâminas mantendo o térreo público e criando galeria de passagem pelo calçadão
4 | criação de bloco de apoio na extensão da praça, e criação de salão expositivo subterrâneo conectando as lâminas com bloco de apoio
LO JA NH
BA O
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LIC
PÚ B LO JA
EX PO
E AC SIÇ ÃO 01 | exposição
SS O T | praça
SAL ÃO
-1 | salão multiuso
97
RA ÇÃ O
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+A PO
sociais
turísticos
intelectuais
artísticos
98
CENTRO DE ESPORTES E RECREAÇÃO
Compondo a oferta de um lazer diversificado está o programa de quadras de lazer, salão de ginástica, academia, e piscinas públicas. Posicionado ao lado de uma escola de ensino Fundamental e Médio, o edifício se apresenta como uma possibilidade de recreação aos alunos após o horário letivo e expansão das atividades esportivas da escola.
■
avenida Nordestina, s/n
■
uso atual
ocioso
■
área terreno
3.500 m²
■
área construída
4.500 m²
99
100
1 | identificação de vegetação de grande porte no terreno, condicionando a criação de praça de acesso em diálogo com escola vizinha
2 | posicionamento das piscinas de lazer na porção norte do terreno, em alinhamento com a piscina semi-olímpica coberta, configurando um núcleo aquático com continuidade entre piscinas
3 | suspensão do núcleo aquático liberando o nível térreo para acesso e espaços de apoio
4 | criação de bloco vertical sob a piscina coberta, modulado para abrigar quadras esportivas
físicos
sociais
AS
DR
A QU
+ ICA ST Á GIN
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MIA DE A AC 02 | ginástica e academia
R
ICA ÍMP L O MISE A N CI PIS
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03 | quadras
01 | conjunto aquático
C
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PRAÇA
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MA NU TEN ÇÃ O
VE
ST IÁ
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T | recepção e vestiários
RIO
S
101
102
4.3
CENTRO DE ESTAR E MIDIATECA
Imagina-se um espaço para passar o tempo, podendo descansar-se, divertir-se, interagir com outros ou aprender. O edifício divide-se em três fases: o térreo, em concreto aparente, tem caráter público e apresenta-se como extensão da calçada, oferecendo um espaço de parada e encontro. O volume suspenso, metálico e branco, abriga a midiateca, com mobiliário de uso mais individual, como poltronas de leitura e mesas de estudo. Entre os dois, coberto pelo volume em suspensão e apoiado na caixa de concreto, há um pavimento intermediário. O espaço, sem vedações, é apenas cercado pela pele perfurada e translúcida, e tem um caráter mais intimista.
■
rua Beraldo Marcondes, 233
■
uso atual
■
área terreno
1.200 m²
■
área construída
2.015 m²
estacionamento
103
PARTIDO
104
1 | demolição de platô em concreto do estacionamento. identificação de ponto de ônibus descoberto com aglomeração de pessoas em conflito com calçada estreita
2 | posicionamento de volume recuado para alargamento da calçada e criação de acessos paralelos configurando passagem pela esquina
3 | criação de volume projetado para configurando abrigo para o ponto de ônibus
4 | criação de bloco de apoio com circulação vertical na fachada norte, sombreando a edificação
sociais
turísticos
intelectuais
artísticos
PROGRAMA
OIO
AP
MI
DIA TE
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02 | midiateca
TE OIO
AP
RR
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AÇ O
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IA 01 | convivência e terraços
JA R
DIM
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AP
T | estar, brincar e jogos
R
CA
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O NT
Ô DE
PO
105
C
totens expositivos
4
recepção
5
espaço de brincar
6
jogos
7
jardim
and o lo bo
3
fern
estar e convivência
luís
2
en.
ponto de ônibus
742,6
rua t
1
3
A
743,3
B
2 4
1
744
8,4 1
2
C
PAVIMENTO TÉRREO | 1:250 106
8,
D
A
746
5
7 7,2
742,8
B
A
743,3
C
7,2
B
D
7,2
6
744,4
,4
8,4
rua beraldo marcondes 3
4 5
10
20
D
0 1
107
C
1
ponto de ônibus
2
estar e convivência
8
terraço
9
mesas de conversa
2
A
748,7
B
8
1
8,4 1
2
C
PRIMEIRO PAVIMENTO | 1:250 108
8,
7,2
A
D
B
A
7,2
B 8
D
7,2
C
9
,4
8,4 3
4 5
10
20
D
0 1
109
C
10 atendimento 11 mesas de leitura 12 audiovisual 13 infocentro 14 leitura infantil
10
A
751,9
B
11
12
8,4 1
2
C
SEGUNDO PAVIMENTO | 1:250 110
8,
7,2
A
D
B
A
7,2
B
7,2
C
14
13
D
2
,4
8,4 3
4 5
10
20
D
0 1
111
C A
B
C
COBERTURA | 1:250 112
D
758,7
A
B
756,1
5
10
20
D
0 1
113
CORTE AA | 1:250
CORTE BB 1:250 114
756,1
751,9
748,7
28,80
743,3
28,80
756,1
751,9
28,80
748,7
744 33,60
743,3
0
1
5
10
20
115
CORTE CC | 1:250
CORTE DD | 1:250 116
756,1
751,9
748,7
744
28,80
743,3
28,80
758,7
756,1
751,9
28,80
748,7
746
33,60
743,3
0
1
5
10
20
117
ELEVAÇÃO SUL | 1:250
ELEVAÇÃO NORTE | 1:250 118
28,80
28,80
28,80
33,60
0
1
5
10
20
119
ELEVAÇÃO OESTE | 1:250
ELEVAÇÃO LESTE | 1:250 120
28,80
28,80
28,80
33,60
0
1
5
10
20
121
manta termoplástica para impermeabilização EPS de alta densidade capeamento de concreto laje alveolar chapa metálica para arremate e pingadeira
forro "heartfelt" em feltro grelha linear de insuflação de ar condicionado luminária linear pendente caixilharia em alumínio com pintura branca fosca vidro duplo
piso elevado h=15 cm capeamento de concreto laje alveolar perfil metálico para arremate do piso elevado
passarelha em grelha metálica para manutenção de fachada pele em chapa ondulada miniwave perfurada branca perfil horizontal para fixação da pele metálica perfil vertical para sustenção da pele
espelho d’água revestido em granito laje maciça de concreto viga de concreto invertida
122
ESTRUTURA METÁLICA
vigas metálicas vigamento secundário tirantes de aço pele metálica
bloco de apoio em concreto aparente vigas invertidas de concreto
EMBASAMENTO EM CONCRETO
paredes de concreto blocos de vidro
ESTRUTURA E VEDAÇÕES 123
FAMÍLIA DE MOBILIÁRIO
01
02
05 124
03
04
06
07
BANCO LINEAR 1:50 125
01
01 126
EXPOSITOR DE LIVROS E REVISTAS 1:25 | midiateca
02
REVISTEIRO MÓVEL 1:25 | midiateca
02
03
04
04
BANCO Mร VEL 1:25 | espaรงos de estar e midiateca 127
05 128
POLTRONA DE LEITURA 1:25 | midiateca e espaรงos de estar
06
CABINE AUDIOVISUAL 1:25 | midiateca 129
01 | fachada sul
130
131
02 | fachada oeste
132
133
03 | vista do tĂŠrreo e acesso principal 134
135
04 | salĂŁo de jogos, estar e jardim
136
espaรงo de brincar e estar | 05
137
06 | vista do vazio com escadaria 138
139
07 | espaรงo de estar e bloco de apoio, ao fundo, mesas de conversa e terraรงo
140
espaรงo de estar com espelho d'รกgua | 08
141
09 | vista do espaรงo de leitura infatil
142
vista geral da midiateca | 10
143
144
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do processo de pesquisa compreendeu-se a relevância do lazer no cotidiano e a urgência do debate acerca da distribuição dos equipamentos de forma igualitária pela cidade de São Paulo, garantindo a efetivação desse direito básico nas periferias. O devido acesso as diversas práticas do lazer colabora com a formação cultural e social do indivíduo, contribuindo para formação de uma sociedade melhor, mais informada e justa. Enxerga-se na proposta das redes de lazer nas centralidades periféricas uma saída possível para ampliar o acesso aos espaços de lazer e cultura pela cidade. Garantindo a efetivação dos direitos dessa população às margens da cidade e caminhando para uma transformação desses territórios através do desenvolvimento da cultura de seus moradores. Acredita-se que a construção de tais espaços nas periferias seja um caminho para fortalecer e estimular as centralidades existentes, avançando para uma descentralização da cidade, e diminuição da lógica centro-periferia.
145
REFERÊNCIAS CITADAS
LIVROS E FOLHETOS DUMAZEDIER, J. Lazer e cultura popular. Paris: Perspectiva S.A., 1973. MARCELLINO, N. C. Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados, 1996. SESC (SP). Sesc Pompeia | Folheto Histórico | Português. São Paulo: SESC, 2016. 32 p. Disponível em: <issuu.com/sescsp/docs/ folhetohistorico_port>. Acesso em: 27 abr. 2020. DISSERTAÇÕES MIOTTO, T. C. B. Capela de São Miguel Paulista: o projeto de intervenção como ferramenta de entendimento das novas linguagens de patrimônio. 2011. 237f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011. MOREIRA, M. M. M. Os nomes do “lado de baixo da linha do trem”:Uma análise toponímica do Jardim Lapena, Vila Nair e Vila União, em São Miguel Paulista, São Paulo/ SP. 2015. 242f. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. SILVA, M. F. Centros culturais: análise da produção bibliográfica. 2013. 205 f. Dissertação 146
(Mestrado em Hospitalidade) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2013. TANAKA, G. M. M. Periferia: conceito, práticas e discursos; práticas sociais e processos urbanos na metrópole de São Paulo. 2006. Dissertação (Mestrado em Habitat) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. ARTIGOS BLOCH, L. L. A ARQUITETURA DO LAZER: desenhar os espaços para a fruição do tempo e para a convivência social. Revista Brasileira de Estudos do Lazer. Belo Horizonte, v. 4, n. 1, p. 43-51, jan.-abr. 2017. CAIRES, C. O conjunto da Universidade Diego Portales. O campus universitário aberto ao bairro. Projetos. São Paulo, ano 14, n. 167.02, Vitruvius, nov. 2014. Disponível em: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ projetos/14.167/5333>. Acesso em: 15 out. 2020. DUARTE, B. A. F. Levando o direito ao lazer a sério. Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, v. 73, n. 4, ano XXVII, p. 75- -98, out.-nov. 2009. FERRAZ, M. C. Numa velha fábrica de tambores: Sesc Pompeia comemora 25 anos. Minha Cidade. São Paulo, ano 08, n. 093.01, Vitruvius, abr. 2008. Disponível
em: <vitruvius.com.br/revistas/read/ minhacidade/08.093/1897>. Acesso em: 27 abr. 2020. NASCIMENTO, É. P. DO. A periferia de São Paulo: revendo discursos, atualizando o debate. RUA, v. 16, n. 2, p. 112-127, 17 jul. 2015. PINA, L. W. Os equipamentos de lazer como cenários das experiências e das atividades no tempo livre. Revista Brasileira de Estudos do Lazer. Belo Horizonte, v. 4, n. 1, p. 52-69, jan.-abr. 2017. UVINHA, R. R. et al. Leisure practices in Brazil: a national survey on education, income, and social class. World Leisure Journal. Philadelphia, p. 294-305. jun. 2017. NORMAS BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF. Disponível em: <planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 05 abr. 2020. ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em: <nacoesunidas.org/wp-content/ uploads/2018/10/DUDH.pdf>. Acesso em 05 abr. 2020. SENADO FEDERAL. [Estatuto (2001)]. Estatuto da Cidade. Brasília, DF. Disponível
em: <planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/ l10257.htm>. Acesso em 05 abr. 2020. SITES CONSULTADOS 23 SUL ARQUITETURA E URBANISMO. 23 Sul - Espaço como matéria-prima, c2019. Área 40 São Miguel Paulista. Disponível em <23sul.com.br/portfolio-item/area-40-saomiguel-paulista-2/>. Acesso em 30 abr. 2020. CENTRO Cultural Arauco / elton_léniz. ArchDaily Brasil. 17 Mar. 2018. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/890527/ centro-cultural-arauco-elton-leniz>. Acesso em 1 Mai 2020. FRACALOSSI, I. Clássicos da Arquitetura: SESC Pompéia / Lina Bo Bardi. ArchDaily Brasil. 05 Nov. 2013. Disponível em: <archdaily. com.br/153205/classicos-da-arquitetura-sescpompeia-slash-lina-bo-bardi>. Acesso em 1 Mai 2020. MUSEU do Pão Cultural Arauco / Brasil Arquitetura. ArchDaily Brasil. 17 Mar. 2018. Disponível em: <archdaily.com.br/br/01-8579/ museu-do-pao-moinho-colognese-brasilarquitetura>. Acesso em 28 Mai 2020. SESC. SESC São Paulo, c2020. Sobre a Unidade: Pompéia. Disponível em <sescsp.org.br/unidades/11_POMPEIA/#/ content=tudo-sobre-a-unidade>. Acesso em 27 abr. 2020.v 147
CRÉDITOS E FONTES DAS FIGURAS
[01] Fotografia | Adriano Vizoni/Folhapress | Disponível em <noticias.uol.com.br/ cotidiano/ultimas-noticias/2015/08/21/mp-sprecomenda-que-prefeitura-nao-feche-avenidapaulista-no-domingo.htm> [02] [03] [04] Fotografia | Nelson Kon, 2017 | Disponível em <nelsonkon.com.br/sesc-24de-maio/> [05] Mapa | Benedito Calixto, circa 1927 via Novo Milênio | Disponível em <novomilenio. inf.br/santos/calixtoch03.htm> [06] Fotografia | Autoria desconhecida, 1938 via Medium | Disponível em <medium.com/@ mathstark25/capela-de-todos-n%C3%B3se4275b499c4f> [07] Fotografia | Zé da Lua via Cultura Leste | Disponível em <culturaleste.com/sao-miguelcomemora-os-463-anos-da-cidade/> [08] Fotografia | Cedida por Antonio Soukhef, 1945 via Estações Ferroviárias | Disponível em <estacoesferroviarias.com.br/s/smiguel.htm> [09] Mapa | Sara Brasil, 1930 modificado pela autora, 2020 | via Geosampa < geosampa. prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC. aspx>. [10] Imagem de satélite | Google Earth, 2014 extraído em 17 abr. 2020. Modificado pela autora, 2020. 148
[11] Fotografia | Autoria desconhecida, circa 1940 via Banco dos Imóveis | Disponível em <bancodosimoveis.net/fotos-antigas-de-saomiguel-paulista/sao_miguel/> [12] Fotografia | Google Street View extraído em 1 maio 2020. Modificado pela autora, 2020. [13] Fotomontagem | Extraída de Apresentação São Miguel Mais Humana, 2016 | Disponível em <http://www.capital.sp.gov.br/ arquivos/pdf/fnhgqwg1yd8e561idz8iew.pdf/ view> [14] Ilustração | 23 Sul via Archdaily | Disponível em <archdaily.com.br/br/782314/resultadodo-concurso-de-requalificacao-urbana-eseguranca-viaria-em-sao-miguel-paulista> [15] [16] Ilustração | 23 Sul | Disponível em <23sul.com.br/portfolio-item/area-40-saomiguel-paulista-2/> [17] Ilustração | Danilo Zamboni, 2019 | Disponível em <daniloz.com/new/portfolios/ sesc-pompeia/> [18] Desenho | via Archdaily | Disponível em <archdaily.com.br/br/01-153205/classicos-daarquitetura-sesc-pompeia-slash-lina-bo-bardi>. Acesso em 27 abr. 2020. Modificado pela autora, 2020. [19] Fotografia | Nelson Kon, 2008 | Disponível
em <nelsonkon.com.br/sesc-pompeia/> [20] Fotografia | Leonardo Finotti | Disponível em <leonardofinotti.com/projects/sescpompeia/> [21] Fotografia | Nelson Kon | Disponível em <blog.yalebooks.com/2013/11/27/lina-bo-bardipoints-in-narrative/>
Disponível em <archdaily.com.br/br/890527/ centro-cultural-arauco-elton-leniz> [33] [34] Fotografia | Nelson Kon, 2017 | Disponível em <nelsonkon.com.br/sesc-24de-maio/> [35] Fotografia | via Inat.fr | Disponível em <inat.fr/map/belgrade-wayfinding-totems>
[22] [23] [24] Fotografia | Nelson Kon, 2008 | Disponível em <nelsonkon.com.br/sescpompeia/>
[36] Fotografia | Leonardo Finotti via METRO | Disponível em <https://metroarquitetos.com. br/projeto/centro-aberto-sao-paulo-2014/>
[25] Fotografia | Daniel Ryan, 2009 via Flickr | Disponível em <flickr.com/photos/its_ daniel/3465323500>
[37] Ilustração | Estúdio Módulo via Archdaily | <archdaily.com.br/br/800719/primeiro-lugarno-concurso-publico-nacional-de-ideias-paraelementos-de-mobiliario-urbano-de-sao-pauloestudio-modulo>
[26] Fotografia | Autoria desconhecida, 2011 via Flickr | Disponível em <flickr.com/ photos/beijo_seliga/5550721083/in/photolist9suTZD> [27] [28] Fotografia | via Archdaily | Disponível em <archdaily.com.br/br/626035/mencaohonrosa-no-premio-rogelio-salmona-campusurbano-da-universidade-diego-portalesmathias-klotz-e-ricardo-abuauad> [29] [31] [32] Fotografia | Felipe Díaz Contardo via Archdaily | Disponível em <archdaily.com. br/br/890527/centro-cultural-arauco-eltonleniz> [30] Ilustração | elton_léniz via Archdaily |
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APÊNDICE A | TABELA DENSIDADE DE EQUIPAMENTOS A CADA 10.000/HABITANTES
DISTRITO Cidade Ademar Casa Verde Guaianases Jaçana Sapopemba Jabaquara São Miguel São Mateus Vila Guilherme Ermelino Matarazzo Parelheiros Pirituba Penha Itaim Paulista M'Boi Mirim Itaquera Frequesia do Ó Cidade Tiradentes Campo Limpo Perus Aricanduva Vila Prudente Capela do Socorro Ipiranga Santana Mooca Santo Amaro Vila Mariana Lapa Sé Pinheiros Butantã 150
POPULAÇÃO TOTAL [¹] 410998 309376 268508 291867 284524 223780 369496 426794 297713 207509 139441 437592 474659 373127 563305 525848 407245 211501 607105 164046 267702 246589 594930 463804 324815 343980 238025 344632 305526 431106 289743 42817
EQP CULTURA [²] 1 6 5 5 4 5 7 6 7 1 2 9 9 9 10 13 8 8 15 5 9 4 15 25 30 39 35 75 68 282 311 45
EQP ESPORTE [²] 6 4 5 6 7 4 8 12 7 9 5 13 17 12 22 17 17 5 24 6 9 15 38 21 10 18 17 16 14 17 14 17
EQP CULTURA/10. 0,024 0,194 0,186 0,171 0,141 0,223 0,189 0,141 0,235 0,048 0,143 0,206 0,190 0,241 0,178 0,247 0,196 0,378 0,247 0,305 0,336 0,162 0,252 0,539 0,924 1,134 1,470 2,176 2,226 6,541 10,734 10,510
.000 HAB
EQP ESPORTE/10.000 HAB 0,146 0,129 0,186 0,206 0,246 0,179 0,217 0,281 0,235 0,434 0,359 0,297 0,358 0,322 0,391 0,323 0,417 0,236 0,395 0,366 0,336 0,608 0,639 0,453 0,308 0,523 0,714 0,464 0,458 0,394 0,483 3,970
EQP/10.000 HAB 0,085 0,162 0,186 0,188 0,193 0,201 0,203 0,211 0,235 0,241 0,251 0,251 0,274 0,281 0,284 0,285 0,307 0,307 0,321 0,335 0,336 0,385 0,445 0,496 0,616 0,829 1,092 1,320 1,342 3,468 5,608 7,240
1
Fonte: Infocidade 2010
2
Fonte: Geosampa
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152
153