ANO 30 – Nº 3 – BOLETIM DA ESCOLA WALDORF ANABÁ – SÃO MICAEL – 2020
Todo começo é involuntário. Deus é o agente, O herói a si assiste, vário E inconsciente. À espada em tuas mãos achada Teu olhar desce. «Que farei eu com esta espada?» Ergueste-a, e fez-se. Mensagem, Fernando Pessoa
Capa: Sérgio Beck
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ÉPOCA
MICAEL E O NASCIMENTO DO EU Denise Lopes, professora de classe do 1º ano
"Com clareza no pensar Posso enfim iluminar Aquilo que em minha alma No escuro se ocultou E que coragem há que ter Ao então reconhecer Que o dragão ali criado Somente por mim pode ser transformado.” (Elisa Manzano)
São Micael nos é apresentado como o grande defensor da humanidade, acreditando sempre nela. É o grande inspirador e auxiliar de cada um que queira aprender a amar com consciência. “Conta uma lenda que os anjos do céu se encontravam contemplando Deus Pai em seu trono. Lúcifer olhava Deus e pensava: eu posso e devo me sentar nesse trono”. Com esse pensamento apareceu uma pequena mancha nas vestes de Lúcifer, na altura do coração. Lúcifer tentou esconder a mancha com a asa, mas Micael notou-a. Ele disse a Lúcifer que se desculpasse e que assim a mancha sumiria. Lúcifer se nega. E Deus, notando a desarmonia, pede a Lúcifer que se desculpe, mas ele se nega. Deus, então, pede a Micael que expulse Lúcifer e todos os seus anjos, pois no céu não há lugar para desarmonias. Micael tira a sua espada e luta com Lúcifer e seus anjos. Após muito esforço, consegue expulsá-los. Mas nenhum planeta do universo quis recebê-los, nem mesmo a mãe terra. O único espaço aberto era a alma humana e lá eles se refugiam. Micael, por sua vez, jura ajudar o ser humano na sua luta contra Lúcifer.” SCHEVEN, Evelyn – O Caminho de Cristo São Micael pode ser sentido como a força do ferro, capaz de lutar contra o 3
dragão da própria alma que, segundo a lenda citada, é habitada por Lúcifer e seus anjos. É a força do “eu” que luta contra os impulsos, os instintos. Micael nos acompanha ao longo da biografia impulsionando o nosso amadurecimento, nos dando coragem de viver, de ser e de reconhecer a essência divina em nós. Em cada fase da nossa vida ele atua de forma diferente. Dos 21 aos 28 anos somos tomados pelas emoções, estamos voltados para o mundo externo, nos identificamos com o que está fora de nós. A inconsistência emocional presente nessa fase caracteriza o dragão a ser dominado. Vivemos presos a um pêndulo entre simpatias e antipatias. O mundo está sendo experimentado por nós e a força micaélica está presente na enorme disposição de abertura a novas experiências. No setênio seguinte, dos 28 aos 35 anos, as emoções tendem a ocupar menos espaço e o pensar próprio ilumina a alma. Tudo o que foi experimentado torna-se agora propriedade e essência da alma. A força intelectual rege a relação com o exterior, ela é a espada. Procuramos consolidar nosso lugar no mundo. Conhecida a espada, qual o dragão a ser enfrentado? Podemos cair no mundo material de forma que valores sejam esquecidos, sentimentos ignorados, ideais enterrados. “O nosso sentir está enclausurado pelo pensar dirigido tão só ao mundo físico sensorial” (ANDRADE, Edna). A força micaélica liberta o pensar duro, rígido e o leva de volta ao coração. Entre 35 e 42 anos o pensar factual pode tornar-se um pensar criativo. Começamos a vislumbrar o caminho individual a ser percorrido. Discernimento se faz presente. Aprendemos com os erros. O que antes nos proporcionava segurança -- como reconhecimento, status, posses, relacionamentos -- agora passa a ser questionado. O que isso tem a ver comigo? A espada de Micael nessa fase é o agir consciente. E o dragão? Podemos perceber o dragão ao lidarmos com o medo do desconhecido, com a solidão, por não nos reconhecermos diante dos padrões que assumimos. A força micaélica é regida nessa fase pela fidelidade a si mesmo, por não temermos o que ainda não conhecemos. Autoconsciência. A partir dos 42 anos entramos na etapa do desenvolvimento espiritual. Até os 49 anos o impulso micaélico está presente no pensar e nos leva a desenvolver um olhar amplo e sensível para o que precisa ser feito. Nessa fase podemos trazer à tona valores antigos que ganham nova roupagem e significado, dando à vida uma nova razão de ser.
Dos 49 aos 56 anos, Micael está presente no sentir, transmitindo 4
uma certeza interior, que nos leva a fazer o que é essencial, sem a ânsia de querer abarcar tudo. Essa certeza interior faz com que encontremos com facilidade nosso lugar próprio em qualquer situação. A partir dos 56 anos, a força micaélica pode transformar o nosso querer em intuição. Percebemos onde fazemos falta, nos reconhecemos como instrumento de forças espirituais. Esta etapa abarca a essência da força de Micael. São Micael assumiu a missão de ajudar o ser humano a reconhecer que cada ser tem seu lugar e sua tarefa na grande aventura da vida. Ele nos mostra que não existe o mal em si, mas uma força atuando no sentido errado. Que possamos em mais uma comemoração de São Micael celebrar o anseio de fraternidade e amor que permeia o ser humano. Baseado em: SCHEVEN, Evelyn – O caminho de Cristo ANDRADE, Edna – A atuação da força micaélica na biografia individual
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A CELEBRAÇÃO DE SÃO MICAEL Silvia Jensen, professora do Jardim
Cada época do ano traz suas festividades e, normalmente, encontramos um modo de celebrá-las, pois são uma reconexão com forças maiores, com a natureza, com a família ou até com uma tradição. Somos nós em sintonia com o grande respirar da Terra, do Sol, do Cosmos. Quando chega este tempo de primavera, final de setembro/outubro, as escolas Waldorf têm como prática trazer o tema São Micael. Confesso que muitas vezes não é fácil para os familiares compreenderem esse tema e nem tão fácil para nós professores o explicarmos, sem que seja apenas um conteúdo colocado de forma intelectual. Em se tratando das crianças do jardim, se o professor tiver o tema trabalhado internamente, elas não questionam e mergulham nas imagens de dragão, princesa, príncipe, desafios, espada, fogo, temor, coragem, ajuda celeste e superação. Este ano estas vivências serão trazidas somente por meio de histórias, uma vez que não nos encontramos em sala de aula. Como nós, adultos, podemos nos trabalhar para passar esse conteúdo de forma verdadeira às crianças? Particularmente estamos num período bem difícil como humanidade. Migrações humanas em busca de tratamento digno, catástrofes imensas acontecendo por negligência humana, desde um porto que explodiu em Beirute, incêndios sem fim arrasando o Pantanal, animais selvagens desesperados em fuga. A floresta amazônica sendo derrubada por tratores, indígenas sendo dizimados, aquecimento global, enfim, assim seguindo, haveria muito mais a descrever. Infelizmente. Quem tem coração para segurar tudo isso? Qual é o nosso papel diante dessas ocorrências? Fechar os olhos, pois ainda temos teto, comida no prato, carro na garagem, uma família saudável ou aparentemente saudável? Ou reagir? De que modo? Que abrangência teria um ato meu se eu me colocasse em ação? 6
Confesso que não é fácil. Como pano de fundo temos a grande epidemia, que se estende há meses, com cada um tendo que ficar isolado, dentro de seu mundo. Para muitos, esse ambiente já está saturado; é urgente a necessidade de contato humano, de respirar outros ares. Mas onde buscar forças de esperança para a situação em que nos encontramos como humanidade? Temos ao nosso redor crianças que necessitam ver em nós a crença na ESPERANÇA de um mundo melhor. Com certeza temos que nos mover, acreditar que algo pode ser feito e, quem sabe, começar consigo mesmo. Parece ser este um bom início. Tenho que escolher onde atuar. Ter clareza nas minhas intenções e, com as forças da vontade, concretizar neste mundo o que idealizo. Na primavera, além das boas sementes, brotam ao lado delas as ervas que não desejamos ali. Como escolher o que quero deixar crescer no meu jardim interior? Essa escolha é um ato meu em liberdade e muitas vezes necessito de ajuda para ter forças e cuidar dessas novas sementes, desses novos impulsos. Preciso de muita força. Micael, o arcanjo, que se encontra “à direita do Senhor”, como é citado na Bíblia, também é chamado “A face de Cristo” no esoterismo. É um ser de grandeza cósmica, que se coloca à nossa disposição, uma vez que decidamos optar em trazer para a terra atos bons, contribuindo para um bem maior. Em silêncio ele espera pelo nosso pedido de ajuda. Muitos dos versos em sua homenagem referem-se à imagem da luta com as forças do mal, com um dragão. LUTA, em latim, deriva da palavra lucta, que, por sua vez, deriva do primitivo luita, que significa esforço, dedicação, trabalhar despendendo força e energia para alcançar determinado fim, opor-se fortemente a alguma coisa que se considere nociva, injusta, negativa. Micael está ali, esperando pelo nosso pedido de ajuda. Confiamos nele? Como entrar em contato com essa força? Sei pedir ajuda a ele? Entrego-me às forças maiores? 7
Reservo tempo para mim para serenar e conversar com o divino? Sabemos que antes de adormecer é um bom momento para rever como decorreu nossa atuação diurna. É hora de gradecer pelo dia, revisar como ele transcorreu e, caso haja perguntas pendentes, deixá-las “debaixo do travesseiro”. Cultivar a confiança e a entrega em uma condução superior plena de sabedoria que possa nos orientar pelos melhores caminhos. Surge então, à noite, o período do sono, período de reparação de forças físicas. Desperto renovado e, uma vez acordado, desenvolvo audição para escutar como a sabedoria noturna atuou em mim? Estou renovado de esperanças e de força de vontade para lidar com o que o novo dia me traz? Coragem, força e propósito interno para agir em nome do bem, do social. Essas são as qualidades que deveríamos deixar viver em nós neste período.
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Tightrope Walker (2014), Tom Friedman
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MICAEL ONLINE Gabriel Mattos, professor de educação física
A área de movimento da Escola Waldorf Anabá montou a Comissão de Micael que, mesmo com o ensino de modo não presencial, decidiu enfrentar o desafio e manter a Gincana de São Micael nos planos. As equipes foram divididas, cores, madrinhas/padrinhos sorteados e os encontros aconteceram por videoconferência. No primeiro deles, foi escolhido nome, desenhado brasão, esboço da camiseta e também os planos da confecção de um mascote foram apresentados. E para alguns alunos e alunas das equipes já foi aplicada a primeira prova “física”, que foi manter-se o maior tempo possível na posição de prancha isométrica. Nomes escolhidos e as Madrinhas/Padrinhos de cada equipe:
as equipes da gincana de micael 2020
CorVerde 19
Pedro Clausen (12º ano 2019)
Redmoinhos
Rafael Servaes (12º ano 2019)
Abelhantes
Gustavo (estagiário do 7º e 8º anos)
Fantásticos
Irene (9º ano 2014)
Pitblues
Jade (estagiária do 4º ano e ex-aluna, 9º ano 2013)
Roxiques
Karim (12º ano 2019)
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Abelhantes
CorVerde 19
Fantรกsticos
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Redmoinhos
Pitblues
Roxiques 12
Depois, as equipes começaram a trabalhar no hino e no grito de guerra, já que o primeiro encontro teve 1h30 e as equipes tiveram só pouco mais de uma hora para dominar os dragões (tarefas) que a organização solicitou. Uma das atividades pedidas, ainda nesse dia, foi que cada equipe até o final do encontro deveria entregar um desenho de São Micael. Então, em meio a tantas outras tarefas, um aluno ou uma aluna de cada equipe precisou imbuir-se de criatividade e inspiração para elaborar o desenho. A tarefa da equipe Roxiques veio com algo a mais: um texto explicativo sobre o desenho que Shanti, aluna do 7º ano da professora Sílvia Alcover, fez: Micael 2020 Este é um desenho da Época de Micael 2020. O dragão normalmente é descrito como representando todas as coisas ruins, e neste desenho ele é como o Coronavírus (COVID19), e todas as coisas ruins trazidas com isso. Ele é vermelho e espinhoso como o vírus, e está prestes a cobrir o mundo abaixo dele com uma densa nuvem de problemas. Mas Micael, desta vez com um tom de pele como os afrodescendentes, protege o mundo com suas asas luminosas. Em volta de seu corpo irradia luz, como o bem e a alegria de todos. O que não mostra no desenho é que, quando os dois se encontrarem (o bem e o mal), Micael não matará o dragão, o transformará em luz e alegria, e o dragão o ajudará a espalhar estas coisas boas. O que também não mostra é que Micael e Dragão crescem e ficam mais fortes conforme as pessoas na terra pensam positivo ou negativo, se estão se entregando à escuridão ou lutando pela luz. Eu acredito na luz. E você?
A organização da gincana também solicitou o envio de provas por vídeo para todos os alunos e alunas das equipes. A primeira foi de arremesso ao balde, depois precisaram enviar vídeo construindo um castelo de cartas e, também, vídeo do desafio do giro da garrafa. Outra atividade solicitada às equipes, esta com mais prazo, é a de plantio e acompanhamento de um rabanete, a partir da semente, durante aproximadamente 30 dias. No dia 2 de outubro, sexta-feira, será o dia da Gincana de São Micael, com tarefas pela manhã, das 9h às 10h30, e à tarde, das 14h às 15h30. Vamos juntos, com coragem, dominar nossos dragões!
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EDUCAÇÃO
LIÇÕES EM CASA: O QUE APRENDEMOS EM UM SEMESTRE DIGITAL NO ANABÁ Há mais de seis meses, estamos sem o corre-corre das manhãs para chegar com pontualidade na sala de aula. Abandonamos as mochilas e as lancheiras. Fomos obrigados a abrir mão do contato entre professores e alunos, das cores e aromas da escola, do burburinho e do calor dos encontros em comunidade. Entraram em nosso cotidiano termos como “remoto”, “a distância”, “plataforma digital”, “live”. O mundo digital sempre esteve em discussão nas escolas Waldorf. É tema desde reuniões entre pais e professores a debates no Fórum Internacional do Movimento da Pedagogia Waldorf (antigo Círculo de Haia). No ano passado, também foi considerado um dos “Desafios para a Pedagogia Waldorf Nos Tempos Atuais” em workshop comemorativo ao Centenário da pedagogia, em nossa escola. O que ninguém esperava é que no ano seguinte esse dragão fosse invadir tão fortemente a vida de todos devido à pandemia da Covid-19. Entrevistamos alguns dos nossos professores para saber como os principais desafios foram enfrentados até agora e quais as lições aprendidas.
Essência, limitação e liberdade Ao retirar elementos fundamentais para o aprendizado, como o contato direto com o professor e as vivências em grupo, a quarentena levou a uma reavaliação do currículo e a um maior foco nos princípios essenciais da Pedagogia Waldorf, válidos em qualquer circunstância. Segundo os professores Paulo Karam (tutor do 10º) e Denise Lopes (1º ano), três princípios são cruciais para as atividades pedagógicas de qualquer etapa: respeitar a idade do aluno; ser um alimento para o pensar, o sentir e o 14
Milton Ostetto
querer/agir e contar com o auxílio do sono noturno. A partir dessas premissas, professores da nossa escola, com a ajuda de seus pares e tutores, tiveram autonomia para escolher e criar as atividades em suas salas e julgar a extensão do uso das plataformas digitais em seu trabalho. Nas semanas iniciais da quarentena, houve cautela em todas as turmas para a introdução de novos conteúdos. O foco foi em revisão; e o contato virtual, reduzido. Com o passar do tempo e a percepção de que a situação se prolongaria, propostas bem diversas foram colocadas em movimento.
Educação Infantil: Esforço conjunto e apoio às famílias A professora do Jardim Silvia Jensen conta que inicialmente a recomendação da Federação das Escolas Waldorf do Brasil era evitar qualquer tipo de contato virtual com as crianças.
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Com a extensão da quarentena, as professoras do Maternal e Jardim passaram a trabalhar juntas e encontraram caminhos para auxiliar as famílias a estabelecer rotinas saudáveis. Elas criaram um ritmo semanal para envio de materiais e realização de encontros, alternando entre preparação de “kits” sobre a época para as crianças, a promoção de ciclos de palestras conjuntas e o envio de um catálogo digital, ilustrado, sobre a época (Páscoa, São João, Inverno, Lavrador), com textos, histórias, receitas e brincadeiras. A contação de histórias em áudios foi outro recurso que passou a ser usado. “Há momentos em que os pais não têm mais de onde tirar forças”, diz Silvia. “Nosso suporte é neste sentido, contribuímos com materiais que possam ser um alimento.” Mesmo assim, a professora se preocupa por não conseguir alcançar todas as famílias. “Tem pais que você põe a lupa e não consegue enxergar”, conta. Os eventos programados, às vezes, contam apenas com um terço das famílias das salas. É um exercício constante a busca de novas formas para acessar e apoiar a cada família, de acordo com suas necessidades específicas. Já as professoras auxiliares encabeçaram o projeto Fios & Papos, com encontros para trabalhos manuais, que ajudam a aproximar as famílias e ainda geram renda para a escola, com a venda online dos itens produzidos.
Fundamental: participação dos pais, arte e movimento Assim como na Educação Infantil, professores do Fundamental não escondem a frustração com a impossibilidade de realizar muitas das atividades previstas para cada ano, com os alunos em conjunto na escola. “Há o sentimento de que não foi como o sonhado”, diz o professor Renato (3º ano). Mas, com diferentes propostas, todas as turmas tentaram se adaptar. Até mesmo para o Teatro do 8º ano, encontraram-se maneiras de vivenciar o processo, com o estudo do texto, jogos cênicos a distância, música e trabalhos manuais. A turma agora busca uma forma de finalizá-lo, diante da impossibilidade de um evento presencial.
Primeiros anos No Fundamental I, a mediação dos pais para a apresentação do conteúdo às crianças foi considerada essencial. Acabaram prevalecendo as atividades chamadas de assíncronas, quando professor e aluno não participam ao mesmo tempo, no mesmo ambiente (virtual).
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A professora Denise (1º ano), por exemplo, optou por enviar um áudio todos os dias aos alunos, mas, ao fim de cada época, promove encontros de cerca de meia hora, com três alunos por vez. Já há colegas que perceberam que apenas orientações por escrito para os pais foram mais adequadas à turma. Outros usaram um pouco de cada ferramenta. No 3º ano, diante do desafio de apresentar a letra cursiva, o professor Renato concluiu que gravar um vídeo seria mais efetivo. O material foi editado pela esposa e um sucesso com a garotada. Aos poucos, ele foi ganhando confiança e usou o recurso também para apresentar as contas armadas na Época de Matemática. “Quando vi, me transformei num Youtuber, algo em que nunca pensei”, brinca. No entanto, ele explica que, usualmente, para a construção da época, as crianças apontam qual será o próximo passo do professor. São as conversas em sala e elementos que surgem nessa interação que ajudam na preparação do conteúdo do dia seguinte. Sem esse “feedback” dos alunos e ainda com o filtro dos pais, os professores precisam pensar em cada palavra empregada e nas muitas formas de introduzir novos conteúdos. Com isso, é consenso entre os docentes que a preparação da aula requer muito mais tempo e cuidado. Para 15 minutos de atividades, muitas vezes, os professores levam muitas horas na elaboração. A maioria dos professores também fica disponível o tempo todo, trocando mensagens e orientações com as famílias. Alguns ainda propuseram orientar diariamente alunos com mais necessidade de atenção, acompanhando online a feitura da tarefa. Mesmo assim, para os alunos com dificuldades, a professora Denise lamenta a falta do grupo: “Eles não contam com a repetição dos colegas, com aquele que sopra (a resposta), que ajuda, o que faz a continha junto.” Por outro lado, foram verificados alguns ganhos cognitivos em alunos socialmente mais agitados. Em casa, sem as atrações e distrações da sala de aula, “foi uma chance para essa criança aprender a estudar”, diz.
Arte e Movimento Para os alunos de 5º a 8º ano, implementou-se no segundo semestre uma aula online, com 1h30 de duração, depois de identificado que o contato mais
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frequente com o professor era necessário para que as atividades fizessem sentido para os alunos e para que um bom ritmo fosse estabelecido. Segundo o professor Marcelo Letzow (8º ano), foi importante essa flexibilidade para admitir o novo. “Tivemos que encarar os meios eletrônicos de outra maneira. Para os alunos, isso também aconteceu, não são mais usados só para lazer, são uma ferramenta de trabalho”. O professor aponta, no entanto, que a importância das disciplinas de Artes e Movimento para os jovens foi o que ficou mais evidente para professores e pais e, apesar de pouco tempo, agora são parte do cotidiano online.
Ensino Médio: Cara a cara com as mídias digitais Para a professora Henriqueta Rodovalho (Inglês), a quarentena ajudou os docentes “a sair da zona de conforto”. “Foi uma oportunidade para vencermos essa barreira do medo de usar a tecnologia. Tivemos que buscar nos reinventar e usar a ferramenta em nosso favor.” Quase três meses depois da suspensão das aulas presenciais, em 1º de junho, os alunos do Médio passaram a ter duas horas de aula online diariamente. A professora lembra que, diferentemente dos mais novos, os jovens de Ensino Médio já têm acesso aos eletrônicos, às mídias digitais, e é papel da escola discutir esse uso. Para ela, se a missão da escola é preparar jovens para atuar no mundo, é necessário imaginar qual é esse mundo que eles vão habitar e transformar, e isso passa pela investigação desse universo digital. Segundo Henriqueta, neste período, os professores também descobriram como o ambiente virtual pode aprimorar ou desequilibrar uma aula: o nível de maturidade, de concentração e engajamento varia com a idade e as características da turma. Ela percebeu, por exemplo, que as explicações não deveriam ultrapassar 15 minutos, pois os alunos se dispersam mais na aula online. Também evita perguntas para a classe, devido aos “delays”, dando prioridade para divisões em grupos para trabalhos. Já alguns alunos resistem às atividades, outros têm dificuldade de se expor ou expor o ambiente de casa no vídeo. Essas são questões que precisam ser encaradas por pais e professores. O professor Paulo também acredita que a introdução de plataformas digitais no Ensino Médio, durante a pandemia, teve um efeito curador do pre-
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conceito com essas mídias. “O grande desafio daqui para frente será “dosar” esse uso, para otimizar o trabalho, sem que os professores se deixem seduzir.” O professor recorreu ao uso de podcasts, vídeos e até memes, mas alerta que foi emergencial, parte de uma busca para entender a situação da perspectiva dos alunos. Com todas as dificuldades emocionais, de acesso, foi uma tentativa de facilitar e estimular o envolvimento. “Não acho que isso irá permanecer. Temos elementos mais profundos para trabalhar.”
Impactos positivos Na quarentena, redescobrimos a importância do envolvimento das famílias para o aprendizado das crianças, da parceria entre pais, professores e escola. Para a professora Denise, este período propiciou uma certa “renovação dos votos”. Reconhecemos que só é possível avançar se estivermos unidos. Os pais também tiveram a oportunidade de aprofundar as relações com os filhos neste período. Muitos descobriram as dificuldades das crianças, suas aptidões e interesses. A professora Henriqueta ressalta ainda como divisão dos afazeres da casa é um ensinamento valioso para a vida. Crianças e jovens aprendem sobre obrigações, metas e a cooperação. “A relação da criança com a casa é a relação com o trabalho”, diz. Ainda entre os aspectos positivos, tivemos um ganho, no mundo adulto, com as conexões virtuais para além da comunidade local. As chamadas “reuniões de paralelos”, por exemplo, com professores do mesmo ano de diversas escolas, saíram da dimensão regional para nacional e além. Trabalhos de comissões, grupos de estudo, cursos e eventos internacionais deslancharam com videoconferências.
Acesso e acessibilidade Entre os aspectos negativos, também espera-se que essa movimentação leve a uma antecipação no uso de eletrônicos por alunos cada vez mais novos. Outro ponto que ficou em evidência são as discrepâncias em relação ao acesso à tecnologia, desde qualidade de conexão e equipamentos, à acessibilidade de pessoas com necessidades especiais, o que coloca muitos alunos e professores em desvantagem.
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Protocolos e exaustão Com as possibilidades de retorno das aulas presenciais, as discussões sobre protocolos de segurança estão na ordem do dia. Ainda temos no horizonte mais polarizações sobre encontros e vacinas. Mas o impacto emocional da quarentena nos professores e nas famílias e, agora, a exaustão, que atinge também os alunos, têm sido alvo de atenção. Ao avançarmos para o fim do ano, com as rotinas já repetitivas da casa e das aulas, o objetivo é garantir o envolvimento. Para o professor Paulo, o vento que ainda sopra a favor vem da “relação muito forte que estabelecemos com os nossos alunos. Muitas vezes, contamos com a compreensão deles sobre as dificuldades do momento, sentimos o carinho e até uma tentativa de ajudar”, revela. A experiência mostra que o ensino por meio de telas não pode garantir um aprendizado sustentável por longo prazo. Mesmo com todos os recursos adotados para ajudar a atravessar esse período, fica a consciência de que a escola se constrói nas relações. “A gente colhe agora, a distância, os frutos de anos de trabalho presencial”, pontua Paulo.
Para ler mais sobre o assunto: Memorando acerca da educação no mundo digital – Fórum Internacional do Movimento Pedagógico Waldorf https://www.researchgate.net/publication/343937810_Update_on_distance_learning_ and_remote_teaching https://www.goetheanum-paedagogik.ch/en/publications/blog-distance-learning?tx_ news_pi1%5Baction%5D=detail&tx_news_pi1%5Bcontroller%5D=News&tx_news_pi1%5B news%5D=8491&cHash=f45a865ae31986b634fc1aa6687ed64d http://www.waldorf-resources.org/teaching-practice/ https://waldorfacademy.org/remote-learning/ https://ecswe.eu/ecswe-adopts-7-lessons-learned-from-the-covid-19-pandemic/ https://www.e-learningwaldorf.de/courses/digital-waldorf-cooperate-creative-collegial/
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RELATO
Introdução Neste tempo em que as instituições de ensino estão fazendo esforços para manterem-se vivas, no âmbito das escolas Waldorf, toda a comunidade sente-se responsável por essa sustentação. A que se deve esse movimento, em que pais e amigos da escola buscam as mais diferentes formas de apoiar? Uma escola associativa tem por princípio ser mantida pela coletividade que zela pela sua integridade. Agora mais do que nunca, este princípio precisa ser reconhecido e colocado em prática. Está sendo possível observar claramente quem fez a opção por essas instituições porque reconhecem ali um novo formato de administração e quem apenas se relaciona como “cliente” dessas iniciativas. Idealmente, todos deveríamos estar conscientes desses aspectos ao fazermos parte das associações antroposóficas. Uma ideia que está cada vez mais divulgada hoje é a do CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura). São grupos de pessoas que assumem as necessidades de uma família de agricultores para que estes possam viver e trabalhar em sua propriedade, recebendo em troca algo do que é produzido. O que se paga não está vinculado aos produtos, mas, sim, à necessidade do produtor. Ou seja, se houver qualquer imprevisto e a produção não for suficiente, o valor pago continua o mesmo. Se levarmos esse conceito para o nosso âmbito escolar, podemos agir da mesma maneira. Se compreendemos que a escola é necessária para as crianças, a comunidade a mantém viva, independentemente de qualquer situação externa. As escolas deveriam funcionar com um CSE (Comunidade que Sustenta a Educação). Pensando nestas propostas e na importância de que toda a comunidade tenha plena compreensão dos fundamentos que sustentam uma educação como a oferecida pela Escola Waldorf, compartilhamos aqui uma palestra do professor Peter Biekarck, feita para a comunidade da Escola Waldorf Rural Turmalina, durante este tempo de quarentena. Com o apoio do professor, eles criaram o que foi chamado de “Anel de Gestão Emergencial” para manter e fortalecer a instituição.
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O QUE (QUEM) SUSTENTA A ESCOLA WALDORF? Peter Biekark, pedagogo*
“A primeira Escola Waldorf nasce em 7 de setembro de 1919, após uma tentativa frustrada de implementar a reestruturação da Europa, com base na compreensão da Trimembração do Organismo Social, expressada por Rudolf Steiner através de um memorando, em julho de 1917, em que ele explicita os fundamentos socioculturais e econômicos que deveriam ser levados em consideração nos termos da elaboração de um tratado de paz, após o fim da primeira guerra mundial. Como sabemos, acabaram prevalecendo os termos do tratado de “paz” de Versalhes, que redundaram, como explicitou um representante francês, não num tratado de paz, mas num armistício que duraria não mais que 20 anos. Com o fracasso diante da tentativa visada pelo memorando, Rudolf Steiner expressou que a janela (a oportunidade) para a implementação de um tratado de paz contemporâneo - fundamentado em uma nova e necessária compreensão do organismo social, baseado na perspectiva da Ciência Espiritual - havia se fechado, e que somente quando, no futuro, um número significativo de seres humanos tivesse recebido uma educação que atendesse às necessidades intrínsecas da natureza humana é que amadureceria uma nova oportunidade. Foi deste impulso e neste contexto que nasceu a pedagogia Waldorf. Essa sensibilidade para o organismo social se formaria à medida que o ser humano recebesse uma educação voltada ao desenvolvimento do próprio ser humano e não para ajustá-lo às vicissitudes advindas das necessidades socioculturais momentâneas, determinadas cada vez mais exclusivamente pela vida econômica.
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A supremacia da vida econômica começa a instalar-se a partir do século XV, à medida que a civilização ocidental foi atrelando seu pensar exclusivamente à dimensão das realidades sensoriais, reduzindo-o ao materialismo. É sobre essas bases que surgem as ciências naturais e o desenvolvimento tecnológico – revolução industrial em suas várias fases – em que, ao lado dos quatro reinos divino/naturais, surge um quinto reino, cuja divindade geradora somos nós, os seres humanos. O mundo dos deuses, das realidades suprassensoriais, foi eclipsado cada vez mais pelo domínio exclusivo da experiência sensorial. Assim sendo, tudo o que se refere à fenomenologia de uma realidade suprassensorial ficou exilado da crença materialista e da fé na ciência, que dela decorre, sendo dogmaticamente relegado ao campo da fé, do misticismo ou até da loucura. O resultado desta prepotência egóica e da estreiteza de sua ciência, condicionada e dominada por um certo tipo de inteligência, é o que se expressa nas ações “humanas” em absolutamente todos os âmbitos da vida atual, quer seja na natureza ou nas condições sociais cada vez mais desequilibradas, doentias e catastróficas. Esta pandemia é, ao mesmo tempo, um cartão de visita e um alerta da natureza, em estado de hostilidade reativa, à nossa “inteligência burra”. E, sem que o ser humano venha a conhecer-se como parte da dimensão espiritual, não mais por crença, mas por verdadeiro conhecimento, não poderá fazer jus a si mesmo, nem logrará desenvolver uma inteligência sanadora para si mesmo, para a sociedade e para a natureza, que lhe serve de palco para seu desenvolvimento. Da fenomenologia investigada pela Ciência Espiritual decorre o conhecimento de que a evolução da humanidade tem metas Hoje vivemos sem o conhecimento de que a nossa existência individual, bem como a da humanidade, tem metas e que para a realização destas há fases bem determinadas, que encerram as possibilidades de conquistas específicas, culminando com momentos de maturação que, por sua vez, tornam-se as bases para os desenvolvimentos subsequentes. Estas fases e estas metas são determinadas pela sabedoria e pelo atuar dos seres espirituais, tão 24
tristemente adormecidos para a consciência sensorial/materialista ainda vigente nos dias de hoje. Essas fases e essas metas acontecem independentemente da vontade do ser humano, assim como no desenvolvimento do seu organismo chegam as fases da troca dos dentes e da puberdade. A tudo isso é necessário acrescentar que, na fenomenologia da pesquisa espiritual, apresenta-se também a ação de seres espirituais adversos, que têm uma evolução anômala, cuja influência tende a desviar o homem da evolução prevista e oferecer-lhe outras possibilidades nas quais poderá perder seu rumo. É justamente por conta da ação dos seres adversos e da possibilidade do ser humano perder o rumo de sua evolução que nasce o seu bem maior: a liberdade. Sim, a liberdade surge pela possibilidade de nos perdermos! Isso pode parecer estranho, senão hilário, à doutrina acadêmica que impera nos dias de hoje, devido à estreiteza de consciência que não é capaz de abarcar qualquer realidade que ultrapasse os limites da dimensão sensorial. No passado, as culturas tinham uma consciência mais abrangente que a nossa, que incluía o suprassensível. O que elas ainda não tinham era a experiência de viverem única e exclusivamente na consciência da dimensão sensorial como agora, em que a suprassensorial encontra-se apagada. Essa experiência faz parte do roteiro traçado para a humanidade e para cada indivíduo, por um lado gerando uma espécie de morte da consciência suprassensorial, mas na qual amadurece a experiência da própria individualidade. “Deus está morto!”, disse Nietzsche. Mas, “Eu nasci!”. Só um deus é capaz de declarar Deus como morto. A Ciência Espiritual constata que, desde o fim do século 19, início do século 20, inicia-se a fase que possibilita o indivíduo desenvolver, em absoluta liberdade, o caminho para a reinserção (religação/religião) na dimensão suprassensorial. Esta Ciência Espiritual amplia a dimensão da consciência da restrição à qual está submetida a Ciência Natural de hoje. Não contradiz, mas amplia. A Ciência Natural é um componente da
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Ciência Espiritual e somente quando devidamente ajustada a ela encontra seu verdadeiro significado. A Antroposofia é sinônimo de Ciência Espiritual. Assim, ela fala de um ser humano trimembrado, constituído de: corpo, alma e espírito. Hoje em dia, como efeito do dogma instituído pela Igreja Católica, no Concílio de Constantinopla, no ano de 869, em que a noção de espírito foi abolida, fala-se em espírito e alma de forma meramente nominalista, confundindo um com o outro e sem atrelar-lhes os devidos atributos fenomenológicos. Esta concepção deturpada do ser humano, que o considera como ser bimembrado em corpo e alma, está na base das ciências naturais, incapazes de reconhecer no ser humano sua dimensão espiritual e que transcende a Natureza. Com tais parâmetros torna-se impossível oferecer ao ser humano uma educação condizente. A Ciência Espiritual ou Antroposofia tem como missão corrigir esta profunda falha. Nela, a fenomenologia do ser humano é revelada, em seus detalhes, a nível: físico, anímico e espiritual. Quando Rudolf Steiner foi chamado para formar a escola, reúne-se com os primeiros doze professores e lhes ministra três ciclos de conferências, em quatorze dias, cujos conteúdos encontram-se publicados nos livros: “A Arte da Educação I, II e III” - Editora Antroposófica. No primeiro desses três ciclos é apresentada a imagem do ser humano, que se revela como trimembrada, a partir da qual a Pedagogia Waldorf quer atuar no atendimento às necessidades dos infantes, das crianças e dos jovens. Steiner começa por apresentar a fenomenologia da alma humana, constituída por três atividades, trimembradas entre si: o pensar, o sentir e o querer. Segue apresentando a fenomenologia do espírito, constituída da trimembração dos estados de consciência em que vivemos entre o nascimento e a morte: sono profundo sem sonhos, sonho e vigília. Termina apresentando a constituição trimembrada da organização corporal do ser humano, identificada em três sistemas es26
pecíficos; o Sistema Neurossensorial (SNS - com sede na cabeça), o Sistema Rítmico (SR - com sede no tórax) e o Sistema Metabólico Motor (SMM - com sede no abdômen e nos membros). O fenômeno da trimembração se expressa sempre através de duas dinâmicas polarmente opostas e de ritmo. Assim, visto num primeiro conjunto trimembrado, a constituição humana apresenta-se da seguinte maneira:
ALMA – ESPÍRITO – CORPO Polo 1 > Pensar – Vigília – Sistema Neurossensorial Meio > Sentir – Sonho – Sistema Rítmico Polo 2 > Querer – Sono – Sistema Metabólico/Motor Nesta perspectiva, a tarefa do educador é lidar com o pensar (ciência), o sentir (arte) e o querer (religião*) de tal forma que o educando desenvolva saudavelmente seus estados de vigília, sonho e sono e seus sistemas neurossensorial, rítmico e metabólico/motor. (* religião no seu sentido intrínseco = “A verdade está acima de qualquer religião” – Rudolf Steiner) Assim, a Ciência Espiritual revela o campo trimembrado para a atuação pedagógica como:
• verdade “no nível do pensar” • beleza “no nível do sentir” • bondade “no nível do querer” Então, o ato de educar configura-se como ato religioso quando atinge, nutrindo, essas três esferas da integralidade humana. Devido à constituição humana ser trimembrada, assim também o é, necessariamente, a constituição do organismo social, que se estrutura em três âmbitos:
• o cultural/espiritual • o jurídico/estatal • o da produção de bens/econômico, Sendo o primeiro âmbito polar ao terceiro, e o segundo, o regulador, equilibrando e harmonizando as relações entre os dois polares. 27
A saúde destes três âmbitos do organismo social se dá na observância de três princípios que lhe são inerentes: liberdade para a vida cultural/espiritual igualdade para a vida jurídico/estatal fraternidade para a vida econômica e de produção de bens. O diagnóstico das atuais enfermidades do organismo social só pode ser realizado quando se considera os três princípios que lhe são inerentes e que explicitam a trimembração do organismo social. Sobre estes fundamentos, revelados pela Ciência Espiritual, repousa e vive a identidade da pedagogia Waldorf. Para quem quiser aprofundar-se neste assunto, principalmente os educadores - pais de alunos e professores - recomendamos a leitura de um ciclo de seis conferências dadas por Rudolf Steiner em 1919, poucas semanas antes da inauguração da primeira escola Waldorf, sob o título: “A Questão Pedagógica como Questão Social”. Nesse ciclo, encontram-se indicações de como entender a tarefa pedagógica visando desenvolver a sensibilidade e a habilidade do educando para a saúde do organismo social. Quem se dispuser a esse estudo se surpreenderá com o entendimento do que é requerido em termos de educação social e se certificará da necessidade de que tanto os pais como a escola têm que trabalhar juntos, cada um contribuindo com o que lhe compete, percebendo-se como associados no maior investimento que a vida oferece ao ser humano, que é o de atender às necessidades das gerações que futuramente assumirão a regência do organismo social. É desta maneira que se terá que trabalhar para suprir a oportunidade perdida naquela janela que se encontrava aberta (espiritualmente) no final da Primeira Guerra Mundial com a não observância de que os tempos de hoje exigem a compreensão de que o organismo social é trimembrado e que é desta compreensão que resultará o tão necessário saneamento do mesmo.” Peter Biekarck, pedagogo com especialização em Pedagogia Waldorf no EMERSON COLLEGE – Inglaterra. Foi professor na Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo por 25 anos. Atua na coordenação de cursos de fundamentação e formação de professores no Brasil. Palestrante e conferencista internacional. Colaborador da Federação das Escolas Waldorf no Brasil e membro da Sociedade Antroposófica no Brasil. 28
Hamangai Pataxรณ
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POR ONDE ANDA? Matheus Garibaldi
Fui aluno da professora Rosângela Thiesen e depois da professora Beatriz Camorlinga, que assumiu a nossa classe. No Anabá, tive uma infância muito boa, marcada por muitas experiências enriquecedoras e amizades que ainda hoje mantenho. Fui um aluno, acredito, difícil de lidar, bastante rebelde e teimoso. Gostava muito das matérias de trabalhos manuais, como carpintaria/ trabalho com argila, jardinagem, música (quando podíamos tocar percussão, pois instrumentos clássicos eu odiava). Além disso, gostava bastante das aulas de dança, desenho, geometria, matemática e física. Ou seja, pra mim foi uma escola muito boa. Na metade do 9º ano, mudei para Freiburg, no sul da Alemanha, onde refiz o 9º ano, pois o ano escolar aqui começa em setembro. Como já mencionei, eu não era necessariamente um aluno fácil e, com isso, sem vontade de continuar no ensino “convencional”, onde não tinha liberdade de escolher o que eu queria aprender ou não, optei por não fazer o Ensino Médio. Sem saber como ia continuar o meu caminho, a minha avó alemã, que sabia que eu gostava de trabalhar com madeira, me inscreveu em uma escola técnica de marcenaria, que durava 3 anos (primeiro ano escolar, segundo e terceiro, trabalhando em empresas da área). Mais interessado em aprender do que exercer a profissão e me fixar em uma área, e com a vontade de experienciar outras profissões, fiz apenas o primeiro ano escolar e mudei para uma escola técnica de trabalhos com metal, onde também fiz apenas o primeiro ano pelo mesmo motivo. Em seguida, tentei ingressar na área de eletrônica, porém não consegui uma vaga na escola, por fazer minha inscrição em cima da hora. Com isso, fui trabalhar em uma empresa de componentes eletrônicos, onde fiquei por 7 meses, mas vi que não tinha nada a ver comigo, pois queria estar ao ar livre e trabalhar com as mãos. Mudei novamente para uma outra área, a carpintaria, onde fiquei apenas 2 meses, por motivos pessoais e saúde.
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Na primeira foto, aos 6 anos, jĂĄ amante das frutas. Na segunda foto, eu com a professora Beatriz Camorlinga, em uma visita Ă minha casa aqui na Alemanha em 2018.
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Trocar o Brasil pela Alemanha nunca foi muito fácil, pois gosto muito do clima tropical e de suas frutas deliciosas. No final de 2014, voltei ao país por alguns meses para “respirar” e depois retornei à Alemanha novamente. Desde pequeno, as artes marciais me acompanham na vida. Em 2015, fui campeão mundial de Kickboxing em Portugal e também foi neste ano que redescobri a minha paixão pelas plantas através da Permacultura. Por acaso ou caminho do destino, comecei a trabalhar com jardinagem após ler um artigo no jornal que uma empresa estava precisando de mais um trabalhador. Para mim foi uma redescoberta incrível. Lembro que me senti completo. Daí em diante fui me desenvolvendo e hoje em dia estou ativo profissionalmente na área de manutenção de jardins e podas especializadas, com cordas e equipamento de segurança no alto das árvores. Além disso, cuido como hobby do meu jardim, onde tenho mais de 230 variedades de frutas de mais de 30 espécies diferentes e planto todo ano muitas verduras e legumes para consumo da família, baseado em princípios agroecológicos, calendário biodinâmico e agricultura sintrópica. Mesmo não fazendo o Ensino Médio na escola Waldorf, a Antroposofia continuou me acompanhando e me ajudou muito em momentos difíceis da vida. Minha família sempre foi bem conectada com a Antroposofia. Hoje em dia entendendo um pouco mais a respeito do assunto, sou grato por ter tido essa oportunidade de ter sido um aluno Waldorf e vejo como isso me ajudou muito no caminhar da vida, que os processos sutis que acontecem por trás das atividades curriculares da escola Waldorf ajudam na formação e no desenvolvimento de cada criança. Agradeço muito o convite de participar do “Por onde anda?”.
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MUITOS ANOS DE VIDA Neste ano de comemoração dos 40 anos do Anabá, convidamos duas das famílias que estão conosco por quase duas décadas para celebrarmos juntos, com suas histórias, essa parceria.
Viva o Anabá
“Há 16 anos, somamos à Escola Waldorf Anabá mais uma família de cinco pessoas! Tivemos a oportunidade de estar junto a esta escola, que foi fundamentada por educadores de muita responsabilidade e entusiasmo! Corajosas, inteligentes e transformadoras! Foi um caminho emocionante e desafiador! Desde o início fomos permeados com a pedagogia, fazendo parte da comunidade escolar. Vivenciar participativamente, nos eventos que a escola ofereceu, colaborou para o crescimento em família e solidificou a educação humana que procurávamos! São lembranças de agradecimento e aprendizado. Desde o Jardim, passando pelo Ensino Fundamental e chegando hoje no 3º ano do Ensino Médio! Hoje, com um filho terminando a graduação, outra na metade do mestrado e uma cursando o 3º ano do Ensino Médio, tenho a oportunidade de agradecer e parabenizar toda a Comunidade "Anabenta"! Parabéns pelos 40 anos, Escola Waldorf Anabá, e muitos anos de vida! Muitos!!!! Que venham muitas lanternas, iluminando as almas de todos nós!!!” Marta e Marcos Reco, pais da Íris, do Ciro (ex-alunos) e da Lara (12º ano) 33
Um encontro de vida
“Pode ser que a história que irei contar agora fique um pouco longa, mas como poderia fazer diferente se o que vou relatar aqui é a minha relação de 19 anos com o Anabá, e do quanto esse “ser escola” atuou em mim e contribuiu, muito, para ser quem hoje sou? Pois é. Uma missão quase impossível, mas vamos lá... A primeira vez que escutei o nome Anabá foi por intermédio da Sônia Santhiago, nossa médica homeopata, por volta de 1996, enquanto acompanhava o desenvolvimento do meu primeiro filho, recém-nascido, Vítor. As consultas mensais acabaram por ser regadas a conversas que iam além dos cuidados básicos que eu deveria ter com o meu bebê, instigando-me a tentar compreendê-lo em sua forma mais ampla de ser humano, com um olhar antroposófico, o qual eu nem sequer sabia que se relacionava com uma filosofia, muito menos que iria causar tamanha influência em minha vida e na da minha família. Pois bem, chegou a hora de o Vítor ir para uma escolinha, e escolhemos uma pela conveniência de proximidade de nossa casa. Mas o ambiente que era oferecido ao Vítor não me deixava confortável, tinha alguma coisa que não se encaixava em mim, enquanto mãe, ainda mais depois de sorver tantas percepções vindas da Sônia sobre o Jardim de Infância de uma escola Waldorf, onde as crianças podiam brincar livremente em volta das árvores e com os pés na terra e onde a alfabetização só ocorria por volta dos sete anos de idade, coisa bem diferente desse colégio que o Vítor, com quatro anos, já frequentava. Escolhi, então, uma manhã e fui, sem grandes pretensões, dar uma espiada no Jardim do tal Anabá. Pelo portãozinho mesmo fui me maravilhando com tudo o que via naquele ambiente e na liberdade e alegria de brincar daquelas crianças. A professora Silvia Jensen veio ao meu encontro, convidando-me a entrar e ficar à vontade para olhar mais de perto, inclusive participando do lanche da salinha… Bom, isso só fez minha alma vibrar ainda mais e receber o forte impulso sobre a certeza de que era aquilo que queria para meu filho.
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Em 2001, começou nossa trajetória oficial no Anabá, com o Vítor indo para o Jardim. Nessa época, eu estava grávida de seis meses do Eduardo e muito feliz e grata por fazer parte daquele universo tão acolhedor e capaz de oferecer aos meus filhos (sim, eu já imaginava o Dudu lá também!) o tempo que precisavam para serem simplesmente crianças. Em 2004, foi a vez do Dudu entrar para o Jardim e, como da outra vez, estava grávida novamente, agora da Carolina. Aqui, já dava para vislumbrar que minha história com o Anabá teria longos anos pela frente. O que de fato aconteceu. Hoje são 19 anos dessa vivência tão prazerosa, enriquecedora e gratificante que tenho com meu “ser escola” Anabá (e olha que a Carol ainda tem mais três anos pela frente de Ensino Médio!). Local onde conheci os grandes amigos e amigas de minha vida, que me reconheci em várias habilidades que nem sabia que tinha, que me fez crescer enquanto ser humano, que me fez compreender que o essencial, o simples e o verdadeiro são as ferramentas necessárias para se construir qualquer tipo de relação, que me fez ver o quanto podemos atuar positivamente na vida de nossos filhos e filhas, sem precisar interferir em suas escolhas, somente por nos fazermos presentes em suas vidas. Pude vivenciar como é bom estar em um ambiente de acolhimento em que o jovem é compreendido e reconhecido para além de suas faculdades intelectuais, nome ou sobrenome, local em que a cumplicidade, a amizade e a intimidade criadas entre professores, colaboradores e alunes serão levadas para toda a vida. Ali os jovens recebem, durante todos os anos de seu ensino, alimentos necessários para o fortalecimento do seu “eu” e do seu atuar na vida de forma criativa e responsável, fiel às suas próprias convicções, sabendo muito bem expressar suas ideias e escutar, muito mais do que somente ouvir. Assim registro minha eterna gratidão ao encontro de vida que tive com o meu querido Anabá.” Alessandra Vieira Machado, mãe do Vítor e do Eduardo (ex-alunos) e da Carolina (9o ano)
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O ESPAÇO É DELES Se você tivesse a oportunidade de proferir um discurso, que tema escolheria? Com essa tarefa, os alunos e alunas do 12o ano pensaram num tema que lhes interessasse e apresentaram um discurso para a classe, virtualmente, claro. Pesquisaram, elucubraram, escreveram e apresentaram. Ótimos, ótimas! Vivos, pensando e contribuindo para a ampliação do nosso olhar sobre o mundo. Cynara Muller, professora de português do Ensino Médio
FUNK BRASILEIRO COMO MOVIMENTO SOCIOCULTURAL Pedro Hikari Bom dia a todos, o tema que escolhi para recitar algumas poucas e boas palavras sobre foi: “Funk Brasileiro como movimento sociocultural”, na visão, claro, de um homem branco classe média/alta. Minha proposta é trazer, aqui, uma pequena releitura daquilo que estudei e ouvi sobre esse gênero musical, que, na verdade, abarca e representa muito mais do que apenas música. Antes de começar, acredito que seja importante ressaltar que trago essa proposta por um lugar de fala deslocado e distante daqueles que criam, reproduzem e vivem o funk; basicamente por um lugar de fala de “espectador”, um lugar de fora e um lugar de privilégio. Inicio dando uma leve pincelada na origem do funk brasileiro, começando pelos lugares onde hoje eles são tocados, os famosos “Bailes”. Os bailes surgiram como um movimento periférico na década de 70 no Rio de Janeiro…. justamente em meio à ditadura no Brasil… Bom, naquela época as opções de lazer e entretenimento tanto na classe média quanto na alta já eram escassas… Então imagina para a população pobre..., exatamente por conta dessa escassez surgiram os Bailes; que eram, basicamente, um aglomerado de pessoas, em locais públicos, como ruas, onde tocavam black music, funk soul, freestyle e entre outros; eram, normalmente, gêneros musicais que traziam uma representatividade negra dentro
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da música. E se você parar pra pensar essa origem já é algo muito interessante, até o surgimento desses locais onde hoje toca o funk, foi um surgimento que veio de uma resistência e de uma quebra do sistema da época, o que, na verdade, não deixa de ser isso até hoje. Então é perceptível que o funk se constrói em cima de uma base que já lutava por uma mudança. O funk, desde cedo, surge de algo que incomoda. Mas e o gênero musical em específico: de onde vem? O funk, primordialmente, surgiu de uma mistura entre James Brown, que cantava soul funky, e a música eletrônica, com aquelas batidas estilo miami bass, que talvez vocês conheçam, (semelhantes ao Bonde do Tigrão) que é aquela batida mais animada, o Dj precursor dessas músicas foi o Dj Malboro, que hoje em dia tem quase 60 anos. Percebe-se que o funk é uma importação, assim como muitas coisas no Brasil. Para dar vida ao funk misturamos dois elementos muito fortes e criamos algo inteiramente nosso, processo que, na verdade, não é tão incomum na nossa história. Na época que apareceu, foi um sucesso e ajudou a impulsionar esse movimento dos bailes. Dez anos depois, em 1990, surgiram figuras como o Mc Marcelinho, que canta o Rap do Solitário (famoso) que eu no caso não vou cantar, obviamente. Nessa época o funk começou a ganhar visibilidade e a ser tocado nas rádios locais e nacionais; expandindo o gênero, então, pra outros estados (como São Paulo, e pro norte do Brasil). A partir desse momento, o funk começa a criar suas vertentes de estilos de batidas e letras, tudo isso de acordo com os estados, por isso hoje a gente escuta “Ah, o funk carioca”, que é conhecido hoje pelos 150 bpm bem característicos, que seriam aqueles “funks bem acelerados”, ou o paulista que tem aquelas batidas bem metálicas e agudas e aquele grave bem forte bem… top. Então, na verdade, o funk ainda vem se desenvolvendo, pode-se falar que é um gênero volátil, que até hoje passa por muitas transformações e sempre está se inovando. Sempre está surgindo algo novo dentro desse estilo. Dadas as devidas apresentações, acredito que agora eu possa entrar um pouco no conceito e no movimento cultural que o funk representa hoje. O funk se tornou algo nacional e conquistou muito espaço dentro da nossa sociedade e até no mundo. Hoje em dia nas favelas é muito comum você ver uma criança com um sonho de se tornar Mc. E isso não deixa ser algo que traz certas oportunidades dentro das comunidades; um Mc que explode um hit, que fica famoso, consegue muita visibilidade e dinheiro de forma muito rápida. Só por isso já dá pra dizer que o funk tem um valor dentro da nossa cultura.
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Mas o ponto que eu queria trazer, na verdade, é justamente sobre esse preconceito que existe em cima do funk. Ainda é uma discussão muito ampla e profunda, onde tem um conflito muito grande entre as opiniões que defendem os dois polos desse assunto. Vou começar então com uma frase que escutei no meio de um debate que me fez pensar no funk com outros olhos: A frase que eu escutei veio de uma mulher trans, negra e cantora chamada Raquel Virgínia. No meio de um programa de TV que discutia sobre o preconceito em cima do funk, uma outra participante trouxe um argumento que até pouco tempo eu tomava como uma verdade, que foi aquele famoso: “Ah é que o funk retrata a realidade deles (das pessoas das comunidades), que tem drogas, tem sexo, tem crime.” E a Raquel respondeu: “Não, tem tudo que tem na vida de todo mundo”. E essa é a verdade, o funk expõe uma realidade que não é só da favela. Na classe alta o que mais tem é sexo e droga, quantos caras brancos e ricos não contratam dezenas de prostitutas pra passar uma noite na cobertura de um hotel. Quantas pessoas aqui, entre a gente da classe média, não têm contato com droga todo dia. Então, o fato é que funk não é condenado pelo o que ele diz, é condenado por vir de pretos, pobres e favelados. É condenado porque escancara uma realidade que permeia toda a sociedade, só que o nosso status social não nos deixa admitir que aquilo que é falado é uma verdade nossa também. É isso porque a voz não é branca, e sim, preta, e pra nós, brancos, ver esta parcela ganhando visibilidade, ganhando espaço, é difícil mesmo de engolir. O preconceito com o funk se resume em uma questão racial e de classe. Então pode surgir aquele outro argumento: “Quer dizer que vamos parar de condenar o funk por ser machista só porque o mundo é machista?” Não, talvez não vamos, mas porque ao invés de condenar a música do preto favelado, a gente não condena alguns dos sambas elitizados e também machistas do Chico Buarque, por exemplo. É inconsciente, mas a gente, classe média/alta, sempre tende a taxar aquilo quem vem do morro, aquilo que vem da periferia, porque é mais fácil do que taxar quem está do nosso lado ou até a gente mesmo. O funk representa muita coisa, é uma das nossas maiores produções culturais da contemporaneidade. Traz muita verdade dentro da sua linguagem e não podemos deixar isso de lado. Ao apenas condenar o funk você só está negando a enxergar problema maior que existe por detrás dele.
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PADRÃO DE BELEZA Lorena Varalla Scansani Semana passada, enquanto vagava pela timeline do twitter, me deparei com uma discussão interessante: várias meninas contavam que estão mais preocupadas com suas aparências agora durante quarentena do que antes dela. Aparentemente, o aumento de tempo nas redes sociais estaria afetando a consciência delas sobre seus próprios corpos. Eu me identifico com este grupo. Tenho dificuldade em não me comparar com meninas bonitas que vejo na internet. Mas, mesmo me afundando frequentemente nos pensamentos autodepreciativos, tento sempre lembrar que essa beleza tão almejada das redes sociais nem sempre é real e que aquilo que vejo nas capas das revistas é apenas uma imagem idealizada de um corpo humano, quase artificial, para atender as expectativas da indústria. O que exatamente é beleza? Eu acredito que beleza seja algo completamente subjetivo e pessoal. Afinal cada um tem um gosto. Mas parece que, de alguma forma, ainda nos sentimos presos em um pensamento controlador sobre a nossa aparência física. Não é nenhuma novidade que o padrão de beleza ideal da sociedade ainda existe e continua a ser cultuado todos os dias em todas as plataformas de mídia existentes. Eu decidi falar sobre padrão de beleza pois é algo que afeta a mim e a todos que conheço. Comecei pela definição literal do título: Padrão é um substantivo masculino que significa base de comparação consagrada como modelo por consenso geral ou por determinado órgão oficial. Beleza, por sua vez, é um substantivo feminino que significa qualidade, propriedade, caráter ou virtude do que é belo; manifestação característica do belo. Ou ainda, por assim dizer, caráter do ser ou da coisa que desperta sentimento de êxtase, admiração ou prazer através dos sentidos. Eu não sei como vocês se sentem, mas eu acho que esta questão passa de uma simples definição do dicionário. Para entender melhor, decidi pesquisar a história do padrão de beleza. Nos tempos antigos, na Ásia, as mulheres eram consideradas bonitas quando sua pele era clara e lisa, pois estas eram características da alta
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sociedade que não saía de casa desnecessariamente. A pele branca era sinônimo de riqueza, já que os trabalhadores do campo, que passavam seus dias ao ar livre, tinham sua pele tingida pelo calor do sol. Na Grécia antiga, os homens tentavam alcançar um físico definido, com braços fortes, lábios carnudos e maxilar proeminente, pois acreditavase que os que tinham estas características eram bonitos também por dentro, já que os Deuses os consideravam especiais. Na Europa, no fim do século 19, as mulheres tentavam alcançar um padrão diferente daquele da Idade Média. Era considerado ideal um corpo com curvas, busto grande e quadris largos, assim como também uma cintura fina, alcançada com o uso de espartilhos. Nos dias de hoje, apesar de já termos avançado consideravelmente na desconstrução deste padrão, a imagem mais comum nas revistas ainda é de mulheres brancas e magras, que têm seios e bundas grandes e um sorriso “perfeito”, digno de propaganda de creme dental. Seus cabelos são lisos ou ondulados, sempre sedosos e brilhantes. Quando a imagem é de alguém fora dos padrões, é para falar de desconstrução e não de dicas de maquiagem ou estilo de vida invejáveis. Algumas pessoas devem pensar que é muito fácil para mim vir aqui e falar todas estas coisas, pois sou magra, posso ser considerada padrão e quando sair no mundo “real” não vou sofrer com o preconceito que existe até os dias de hoje. Eu reconheço, sim, que estou protegida em uma bolha um pouco mais inofensiva desta construção por causa da cor da minha pele e do meu peso, mas ninguém, nem a modelo com a beleza mais comercializável, está imune ao julgamento. Traços naturais como estrias, celulite, cicatrizes e até mesmo pelos corporais são considerados defeitos e evitados a todo custo nos diversos meios de publicidade. Fotos são tratadas para que espinhas e pintas sumam, cinturas pareçam mais finas, músculos cresçam e se tornem mais definidos, cabelos pareçam mais volumosos e tudo isso para atingir uma beleza específica, artificial, inalcançável. A mídia é uma ilusão. Precisamos parar de glorificar uma beleza irreal. Somos seres humanos, naturais, e somos, por consequência, diferentes uns dos outros.
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A COMUNIDADE PRETA E PARDA EM MEIO À PANDEMIA Letícia Costa Após três séculos de sistema escravista brasileiro, a lei Áurea, assinada pela princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888, proporcionou ao povo preto e pardo uma nova realidade, a liberdade. Um novo sistema de economia, um sistema escravista 2.0 chamado capitalismo, fez com que a população preta caísse na grande ilusão de liberdade e no olho da rua. Sem nenhuma política de reintegração à sociedade e reparação histórica presente no documento da lei, o povo foi levado a se alojar nas periferias das cidades, e lá, deixado ao deus-dará, reconstruíram suas vidas. Ao longo dos anos, a urbanização e industrialização das cidades trouxeram a superlotação e a total negligência do Estado para áreas periféricas, formando-se assim as favelas, lugar densamente povoado, de extrema insalubridade e miséria. Em dados do IBGE de 2018, 130 anos depois da autorização da Lei Áurea, 75% das pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza são pretas e pardas, apesar de representarem 53% da população brasileira. Hoje estamos convivendo com um vírus altamente contagioso e responsável por milhares de mortes somente no Brasil, tendo como principais medidas de prevenção o isolamento social e o uso de máscaras e álcool em gel, mas como tais acontecimentos impactam uma comunidade que é confundida com ladrões pelo uso da máscara e até hoje não tem renda suficiente para comprar um álcool em gel sequer? Sem investimentos para coleta de lixo, tratamento de água, sistema de esgoto e outros serviços de saneamento básico, a população negra — termo usado pelo IBGE para se referir à população preta e também parda — e periférica está sendo devorada em todos os sentidos pelo novo coronavírus. O Sistema de Informação de Vigilância da Gripe, do Ministério da Saúde, informa que até mês passado, 45,2% das mortes pelo vírus foram de pessoas negras, e a hospitalização das mesmas por SRAG- síndrome respiratória aguda- chegam a 43,4%. Esse recorte racial nos boletins epidemiológicos foi uma conquista do movimento negro para que a saúde e o combate ao vírus sejam garantidos para toda a população, porém ainda faltam muitos números por conta da baixa quantidade de testagem e pelos 30% dos questionados que foram simplesmente excluídos por terem a variável de cor/raça ignorada ou não incluída nas análises. No estado de São Paulo, região com mais casos confirmados no Brasil, a prefeitura disponibilizou dados que comprovam a concentração de infectados nas periferias, e isso se dá pela carência de recursos de saúde nas áreas: além de estarem totalmente vulneráveis
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à doença devido à falta de praticamente tudo, precisam lidar com as poucas unidades de saúde disponíveis, ou com a distância delas, e a falta de equipamentos. Médicos da região afirmam que os profissionais da saúde que atuam em UPAs (unidade de pronto atendimento), AMAs (assistência médica ambulatorial) e UBSs (unidade básica de saúde) de periferias estão igualmente expostos à Covid-19, pois não há EPI (equipamento de proteção individual) para eles, coisa que reforça a negligência sofrida por essas regiões, a desatenção à saúde pública e a falta de consciência do Estado em relação ao vírus. Com o pico da doença se estendendo e a implosão de um governo vindo à tona, seria então o lockdown a melhor alternativa agora? A quarentena também é uma problemática para as pessoas pretas e pardas nas periferias, pois a população periférica se divide majoritariamente por trabalhadores autônomos, informais e com cargos que exigem baixa escolaridade, e, durante a pandemia, muitos já foram demitidos e outros dependem de programas sociais, fazendo com que 72% da população periférica não tenha mais renda para manter o mínimo padrão de vida que tinham. Há famílias que não têm um sabonete dentro de casa, e quase metade dessa população não tem acesso a água limpa em suas moradias. Mesmo os pretos e pardos que têm ensino superior ganham 45% a menos por hora que os brancos com mesmo nível de escolaridade. Nos EUA, a situação é semelhante, negros são mais da metade da porcentagem de óbitos nos estados, porém são a minoria no país, logo a discrepância racial nos impactos da pandemia se torna mais evidente. Sendo assim, como resposta à pergunta anterior: sim, o lockdown seria a melhor alternativa agora, e não a abertura de comércio, muito menos do transporte público e a volta às aulas, pois sabemos que tais acontecimentos seriam a chave para uma eliminação quase que instantânea de vidas dentro das favelas, primeiro lugar onde os números de óbitos disparariam. Porém, para que a medida de prevenção seja possível, é mais que necessário, é urgente o despertar do Estado para implementar medidas de distribuição de renda e materiais de higiene básica, tornar eficiente os programas sociais como o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial e ampliar o sistema público de saúde com construções e equipamentos. Apesar de termos recursos para tais, as exigências soam mais como clemência por um milagre, mas é preciso que sejam executadas de uma vez, pois a comunidade preta e parda não pode morrer de Covid-19, se voltarem à rotina habitual, nem de fome, se continuarem em casa sem qualquer auxílio, em prol de uma economia que cava a sua cova.
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Joana Fritzen
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Lara Palo
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Valentina Monteiro
Os desenhos das alunas Joana, Lara e Valentina, do 12o ano, estão no vídeo "Micael, canção a três vozes", realizado pelo professor de música, Rafael Camorlinga, com os alunos do Ensino Médio da Escola e que pode ser apreciado aqui.
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PARA CONTAR
HISTÓRIA TAIÔ E CAIANDÊ Silvia Jensen, professora do Jardim
Era uma vez dois irmãos chamados Taiô e Caiandê, filhos de pais muito fortes e corajosos. Eles viviam numa casa de sapé, cultivavam árvores frutíferas e uma bela horta. Os dois irmãos acordavam todos os dias junto com o sol e, depois de o saudarem e tomarem seu café da manhã, iam para a escola que era um pouco distante dali. Os dois irmãos já sabiam abotoar os botões da blusa, amarrar o cadarço de seus calçados. O caminho para a escola passava por lugares encantadores e, muitas vezes, surpreendentes, pois podia ser que um grande galho tivesse caído, e eles teriam que passar por cima dele. Talvez encontrassem um bicho que os amedrontasse e teriam que esperar o medo passar para prosseguir. Quando isso acontecia, eles ficavam quietos de mãos dadas e sempre lembravam que haviam sido abençoados pela querida mãe. “Com coragem e força encontraremos o caminho das luzes, os bons votos dos céus é que nos conduzem”! Neste dia os dois irmãos estavam muito felizes, pois haveria na escola uma grande festa surpresa. No caminho, Caiandê, como era muito observador, disse ao irmão: “Escute, fique quieto, pssss! Que pássaro é este que está cantando? Parece que ele é novo aqui na floresta.” Taiô para escutar melhor apurou seu ouvido com a ajuda de sua mão e ficou completamente quieto. Os dois conseguiram escutar o canto do novo pássaro. “Agora eu quero ver este pássaro”, disse Taiô. “Mas como se ele está escondido?”, questionou Caiandê. “Ahhhh…”, disse Taiô. “Eu tenho uma luneta aqui na minha bolsa”. Ele pegou a luneta e ficou procurando entre as folhas até que disse: — “Achei, ali! Está ali.” E emprestou a luneta para Caiandê também ver o passarinho visitante. 46
E sabem que eles viram o pássaro e foram vistos pelo pássaro, que resolveu se exibir, voando bem perto da cabeça dos dois irmãos. “Será que ele quer nos mostrar algo?”, disse Taiô. “Vamos segui-lo,” falou Caiandê. E os dois foram entrando pela floresta. Chegaram a um lugar que só dava para ir pulando num só pé, de tão estreito que era. Pularam que pularam até se cansarem. Sentaram-se para descansar um pouco e, em pouco tempo, mais uma vez o pássaro visitante ressurgiu convidando os dois irmãos para continuarem a aventura. No caminho, viram um cipó que de um lado estava amarrado numa árvore e, no outro, estava solto. Tiveram a boa ideia de pular cipó, do jeito que se pula corda. Taiô foi o primeiro a bambolear, e Caiandê foi pulando e dizendo: “Pulo cipó, bem faceiro, piso com meu pé ligeiro, meu irmão boleia bem, vem pular cipó também!” “Agora vamos trocar, você que bamboleia”, disse Taiô. “Pulo cipó, bem faceiro, piso com meu pé ligeiro, meu irmão boleia bem, vem pular cipó também!” E assim ali ficaram os dois irmãos, pulando cipó até cansarem. E o passarinho? Ahhh... o passarinho, ele parecia já ser amigo dos dois irmãos. Ficara ali quietinho vendo o cipó, que subia e descia no ar. Parecia que ele cantava querendo dizer que Taiô e Caiandê tinham pernas muito fortes. O passarinho iniciou um novo voo e lá foram os irmãos atrás. “Para onde será que ele está nos levando?”, perguntou Caiandê. Ora, era para o caminho da escola! Lá chegando perceberam que a festa surpresa estava começando. Havia um cesto de bolas e cada criança podia brincar de jogar bola ao cesto, come-
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Giselli Neder
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çavam de pertinho e ao acertarem a jogada, o cesto ia cada vez mais longe. Caiandê conseguiu ficar seis passos distantes do cesto e mesmo assim acertava a bola lá dentro. Jogavam também bolas menores na parede e pegavam-nas de volta. Era uma alegria só. Neste corre corre, a grande surpresa foi achar um tesouro que estava escondido na floresta. Junto com os mestres, as crianças entraram na floresta e foram seguindo pistas difíceis que as fizeram: subir em árvores, cavarem buracos fundos, escalarem um morro alto. Chegaram à frente de uma grande pedra. E ouviram: grummm grummm!
“Quem será que mora dentro desta pedra, deve ter uma caverna ali dentro!”, disseram os irmãos Caiandê e Taiô. “Será que estamos perto da caverna onde mora um grande dragão, uma onça, ou um gigante?” E vocês pensam que as crianças tiveram medo? Que nada. Logo lembraram as bênçãos da mãe de Taiô e Caiandê: “Com coragem e força encontraremos o caminho das luzes, os bons votos dos céus é que nos conduzem”! Depois de seguirem outras pistas, finalmente encontraram o grande tesouro. Com cuidado eles o abriram! Que belos presentes dali surgiram! Com todas as crianças os presentes foram compartilhados, e para casa em seguida todos voltaram esfomeados. Fora um dia muito intenso e repleto de aventuras. E o passarinho visitante? Ahhhh, ele acompanhou Caiandê e Taiô de volta ao lar. Resolveu fazer um ninho no telhado da casa de sapê onde os dois irmãos moravam e, com seu canto alegre, coloriu a chegada da primavera!
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ASTRONOMIA
O CÉU DA PRIMAVERA/2020
Figura 1 (Florianópolis, 08-Out-2020, 19:00): Constelações zodiacais e
Hércules, Lira (com sua bonita Vega, uma estrela azulada), Cisne e Águia no céu do começo da noite no início da primavera. Júpiter e Saturno, em Sagitário, continuam visíveis (como no inverno), mas apenas até o meio da noite. Quem conseguirá observar Mercúrio, no limite de Libra? Ele só estará visível do começo da estação até meados de outubro. Observe Marte nascente a leste, em Peixes. Ele ficará visível durante toda a noite. Veja como se movimentarão essas constelações e os planetas no decorrer de toda a primavera nas duas próximas figuras.
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Figura 2 (Florianópolis, 08-Nov-2020, 19:30):
Um mês depois, Escorpião já vai se despedindo. Áries surge no horizonte leste. Peixes e Aquário, quase imperceptíveis a olho nu, poderão ser localizados pelas posições de Marte e da bonita Fomalhaut.
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Figura 3 (Florianópolis, 08-Dez-2020, 20:00): No final da primavera, surgem
Touro e Orion, que irão reinar em todo o verão.
O AMANHECER:
Figura 4 (Florianópolis, 12-Nov-2020, 04:40): Amanhecer com Vênus, Lua e Mercúrio na constelação de Virgem. Durante toda a primavera, ao amanhecer Vênus estará baixo no horizonte do nascente. No início da estação em Leão, no final dela em Libra.
Imagens: www.stellarium.org
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PARA LER
A HISTÓRIA QUE SEGUE É VERDADEIRA Cynara Muller, professora de português do Ensino Médio
No mesmo dia em que o rei da Inglaterra, George V, abençoou a expedição de Sir Ernest Shackleton, a Grã Bretanha declarou guerra à Alemanha; era 1º de agosto de 1914. Os 28 homens da Expedição Imperial Transantártica tinham o objetivo de cruzar, a pé, o Continente Antártico, de oeste a leste. Liderados por um capitão cuja capacidade de liderança era nata e respeitosa, esses homens travaram uma guerra com as próprias sombras, diante de desafios de sobrevivência coletiva. Embarcaram no Endurance e partiram sob aplausos do povo londrino levando consigo a esperança de cumprir a missão; só não imaginaram encalhar “como uma amêndoa no meio de uma barra de chocolate” antes de aportar no local programado. O livro, escrito por Alfred Lansing em 1959, é baseado em entrevistas com os tripulantes e nos diários de bordo; “uma variedade maravilhosamente estranha de documentos, manchados com a fuligem de óleo de gordura animal
enrugados
por
terem
ficado
encharcados e depois sido postos a secar.” Coragem, disciplina, fé, empatia, forças micaélicas presentes em cada homem que viveu essa aventura, e que virão à tona ao leitor cuidadoso. Um livro emocionante, com passagens que nos fazem refletir sobre os mares revoltos que enfrentamos em nossas vidas, e de como podemos superálos confiando e agindo com o coração. A Incrível viagem de Shackleton Alfred Lansing – Editora Sextante 53
INFORME DA ASSOCIAÇÃO
ENCONTRO MARCADO Associação Pedagógica Micael
A Associação Pedagógica Micael vai realizar uma Assembleia Geral Ordinária no próximo dia 28 de outubro, pela primeira vez em sua história, por meio de uma videoconferência no aplicativo Zoom. Também será a primeira deste ano atípico e a primeira desde a aprovação do Novo Estatuto, em nosso último encontro, em outubro do ano passado. Devido à pandemia e ao período de quarentena, iniciado na escola em 17 de março, a assembleia da associação marcada para abril deste ano não aconteceu. No entanto, a Comissão Financeira da Escola Waldorf Anabá abriu suas contas e debateu com a comunidade as estratégias emergenciais adotadas durante a pandemia em dois eventos virtuais, em 27 de maio e 18 de agosto. Embora sem o encontro presencial deste ano, em todo esse tempo, nos mantemos conectados à nossa missão, buscando a cada dia descobrir caminhos para enfrentar os novos desafios e preservar a nossa escola. Nesta assembleia, pretendemos fazer uma apresentação da situação financeira atual e dos nossos planos para 2021. De acordo com as regras do novo Estatuto, que passaram a valer a partir do último encontro, para se tornar sócio da APM é preciso participar de duas reuniões consecutivas. Uma carta convocatória será encaminhada à comunidade por e-mail com todos os detalhes para acessar o encontro. Contamos com a participação de todos e esperamos poder ampliar a nossa rede de apoio e nos fortalecer para novas batalhas.
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Sejam corajosos, Mas sejam humildes, Pois a coragem orgulhosa Não é a coragem de São Micael. Somente a coragem Que surge no coração A partir do desejo de querer Ajudar os homens É a coragem que receberá Ajuda dos mundos espirituais. (Extraído de “a Espada de Luz”, coletânea de Karin Stasch)
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APOIO O Colibri é o resultado do trabalho de voluntários com apoio de pessoas e entidades que querem vê-lo voando e trazendo temas relacionados à Antroposofia e à Pedagogia Waldorf. A todos a nossa gratidão.
ALIMENTAÇÃO
BELEZA E SAÚDE
Família Lorenzi Pães Artesanais
Farmácia Weleda Similibus Farmácia Magistral e Homeopática
Tradição italiana. Produção caseira, sem conservantes. Rua Rui Barbosa, 256, Agronômica. (48) 3228 0441.
Orgânicos e Eventos Pergalê Espaço Pergalê é um local para eventos junto à natureza, em Ratones, onde também plantamos produtos orgânicos certificados. Vendas semanais sob encomenda. Mais informações pelo whatsapp (48) 99983-1702 (Gabriela).
ARTESANATO
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Tecerlã Artesanato em Lã Produção e venda de lãs. Fios, mecha penteada e lã para enchimento. Tudo 100% natural. Sônia Bersagui (48) 99102 4321.
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Melissa Figueira Nagashima Fonoaudiologia Método Padovan ou Reorganização neurofuncional. "Aquele que segue o que a sábia natureza nos mostra e ensina tem menos chances de errar", Beatriz Padovan. Rod. Admar Gonzaga 755, sala 405. Itacorubi (em frente ao Jardim Botânico) (48) 99918-1716.
Dra. Luciane Morais Viana Cirurgiã-Dentista – cro sc 13974 Periodontia – Odontologia Inte-
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Francisca Cavalcanti Musicoterapeuta, Cantoterapeuta Orientação antroposófica e Pedagogia Waldorf. Aplicada a distúrbios no sono, respiração, voz, comunicação, organização e harmonização. Adolescentes e adultos. Próximo à UFSC. Edifício Comercial Madison Center. Rua Des.Vitor Lima, 260 sala 512. (48) 988110233 - www. franciscacavalcanti.com
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ANO 30 – Nº 3 – SÃO MICAEL – 2020 Boletim da Escola Waldorf Anabá Publicação sem fins lucrativos, financiada pelos apoiadores que divulgam aqui seus produtos e serviços. Disponível também no site da escola www.anaba.com.br. Contatos: Paulo (paulofsk@gmail.com) e Patrícia (patica1@gmail.com). Sugestões são sempre bem-vindas. Equipe desta edição: Giselli Neder, Luciana Dutra, Marli Henicka, Patrícia Campos, Paulo Karam, Rondon Porto Júnior e Sérgio Beck. Agradecemos a todos os que colaboraram com esta edição.
Mantida pela Associação Pedagógica Micael Rua Pastor William R. S. Filho, 841, Itacorubi Florianópolis – Santa Catarina – Brasil Fone: (48) 3334-1724 / 3334-6843 Fax: (48) 3334-2656 www.anaba.com.br 59
SÃO MICAEL – 2020
ÉPOCA Micael e o nascimento do Eu ............................................................................................ 3 A celebração de São Micael ............................................................................................... 6 Micael online ............................................................................................................................ 10 EDUCAÇÃO Lições em casa: o que aprendemos em um semestre digital no Anabá .... 14 RELATO: O que (quem) sustenta a Escola Waldorf? ......................................................................... 22
POR ONDE ANDA? Matheus Garibaldi ................................................................................... 30 ANABÁ 40 ANOS ........................................................................................................................... 33 O ESPAÇO É DELES ...................................................................................................................... 36 PARA CONTAR História Taiô e Caiandê ..................................................................................... 46 ASTRONOMIA ................................................................................................................................. 50 PARA LER ........................................................................................................................................... 53 INFORME ASSOCIAÇÃO ............................................................................................................. 54 APOIO ................................................................................................................................................. 56