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FICHA TÉCNICA DIRETORA MAGDA GOMES DIAS COLABORADORES Claudine Pinheiro Cristina Valente Francisca Barreiros Hugo Rodrigues Joana Marques Paulo Farinha Renato Paiva Sónia Morais Santos Vânia Beliz ARTE DESIGN: Sofia Mota REVISÃO Catarina Ortigão PUBLICIDADE Joana Barreiros cursos@parentalidadepositiva.com
CURSO ONLINE 6 semanas para transformares a tua relação parental!
MD & GK, Lda NIF 513 823 751 Redação: Rua Manuel Pinto de Azevedo, 31 - Sala 11 4100-247 Porto
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ÍNDICE EDITORIAL - PODER PESSOAL, POR MAGDA GOMES DIAS
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ASK MUM
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NOTÍCIAS AVULSO
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A. COMO O COACHING PODE APOIAR OS ALUNOS B. PORQUE É QUE O ÁLCOOL SÓ DEVE SER CONSUMIDO A PARTIR DOS 18 ANOS C. FILME PATETA
A ESCOLHA DE BEATRIZ
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ENTREVISTA DANIEL SIEGEL
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AUMENTAR A RESPONSABILIDADE DOS FILHOS CRISTINA VALENTE
AINDA É FIXE, DIZER-SE “FIXE”? CLAUDINE PINHEIRO
SEXUALIDADE
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CONSULTA DO ADOLESCENTE HUGO RODRIGUES
A VIDA DO ADOLESCENTE PARA ALÉM DA ESCOLA RENATO PAIVA
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CRESCER 17|
SÓNIA MORAIS SANTOS
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VÂNIA BELIZ
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COMO PREPARAR A CHEGADA DA ADOLESCÊNCIA DOS MEUS FILHOS & DICAS PARA SE APROXIMAR DO SEU ADOLESCENTE
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QUANDO NÃO FOI BEM ASSIM QUE IMAGINÁMOS...
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EMPREENDEDORISMO E A ADOLESCÊNCIA PERFIL SAIR DA ZONA DE CONFORTO
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FORA DE CONTEXTO.
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EDITORIAL
Magda Gomes Dias DIRETORA DA REVISTA
Aprender um desporto novo em idade adulta tem muito que se lhe diga. Foi o que me aconteceu no ano passado quando aprendi a fazer ski. E, como acontece, frequentemente, com muita gente, passei o primeiro dia a aprender a travar, a manter-me de pé e a levantar-me com os skis nos pés (ou seja, a cair!). Não precisei de chegar ao final do dia para ter vontade de desistir. Muitas vezes. Mas não podia ser – na manhã seguinte, lá estávamos nós para mais um dia nas pistas. A minha filha mais velha olhou para mim e deve ter percebido que eu estava com a sensação de que o dia ia ser longo. E que não tinha vontade de repetir o dia anterior. Então perguntou-me: ‘Posso ensinar-te, queres?’ Olhei para ela como se alguém tivesse descoberto o que precisava sem que o tivesse verbalizado. Precisava que alguém me levasse pela mão e então disse-lhe logo que sim! E a magia aconteceu. Ela seguiu à frente e disse-me, simplesmente, ‘Faz como eu! Confia em ti e em mim porque vou mostrar-te como é!” Andámos o dia todo juntas. Ao fim de uma hora já me aguentava em cima dos skis, já conseguia parar a meio de uma descida e começar a perceber porque é que tanta gente gosta deste desporto. A minha filha usou todo o seu poder pessoal para mostrar o que de melhor tem nela. Soube ter a paciência para me ensinar, para não me deixar desistir e de me ajudar a evoluir.
O Daniel Siegel, que entrevistamos no especial desta edição, diz-nos que os adolescentes não são imaturos e que esta não tem de ser uma fase má. Pelo contrário, é um período muito importante da construção da pessoa. Quando conseguimos identificar o nosso poder pessoal e fazemos uso dele, percebemos melhor quem somos e desafiamo-nos a ir mais longe. Sentimo-nos bem na nossa pele, confiantes, tendo, simultaneamente, a noção de que podemos continuar a aprender para que esse poder seja ainda melhor. Para isso precisamos de reorganizar a forma como olhamos para os nossos jovens.
PODER PESSOAL
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Esta revista é exatamente sobre a fase absolutamente incrível que a adolescência pode ser. Queremos mostrarte isso para que não tenhas medo dela. Mais, queremos que ajudes o teu filho a descobrir todo o seu poder pessoal! Esperamos que gostes tanto de a ler como gostámos de a fazer! Boa leitura! Magda Gomes Dias
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ASK MUM Créditos: Pau Storch
As tuas questões a Magda Gomes Dias
A minha filha de 3 anos está sempre a tirar coisas das mãos dos outros meninos. Não lhes pede, simplesmente arranca. A outra criança ou não reage ou vem ao pé dela e arranca-lhe o brinquedo e tudo se pode tornar num inferno. Como é que eu faço com que ela entenda que não o pode fazer? Eduarda, 28 anos Aos 3 anos, todas as crianças estão a aprender a gerir os seus impulsos. Ao mesmo tempo, vão desenvolvendo competências parentais que lhes são ensinadas pelos adultos de referência. Por esse motivo, a primeira coisa que lhe peço é que continue a fazer o que está a fazer: corrigir, repetir e pedir para que repita o que acabou de lhe ensinar. O ideal é mesmo treinar com ela em casa, ajudá-la a antecipar o desejo de uma próxima vez. Pode sugerir que faça algo como “Estou a ver que queres usar a pá que a Verónica tem na mão. Podes pedir-lhe e ver se ela empresta agora ou depois.” No caso dela já ter tirado o objeto da mão da outra criança pode ajudá-la dizendo ‘Vejo que querias muito a pá da Verónica porque te esqueceste de lhe pedir emprestada. Podes dizer-lhe que gostarias de brincar com ela e verificar se ela não se importa. Vai lá falar com ela! Com alguma insistência, treino e sem achar que isto é má educação, tenho a certeza que a filha, à medida que vai crescendo e sendo ajudada, saberá pedir o que precisa.
A minha sogra quer mandar na minha família. Quando estamos em minha casa, na dela ou noutro espaço, ela não consegue evitar fazer comentários em relação ao meu filho de 5 anos e a desautorizar-me. Eu digo uma coisa e se ela não concordar diz logo «não ligues, que a tua mãe não sabe.» Ana Marisa, 35 anos, Benavente Esta pode ser uma questão delicada e a forma como lidamos com estas intromissões pode ditar uma relação tranquila ou não. Gostava que procurasse ver os comportamentos da sua sogra como aqueles de alguém que não faz as coisas por mal, mas antes de alguém que, em princípio, quer ajudar não percebendo que por vezes não está a ocupar o seu espaço e o seu papel. Portanto, o primeiro ponto é procurar aceitar este aspeto. Pelo que entendi do seu email, não tem por hábito responder e por isso mesmo a sua sogra não saberá que esse comportamento a desagrada. É importante que possa desenvolver competências de maior assertividade, descobrindo exatamente o que a fere, o que deseja dizer-lhe e, acima de tudo, que tipo de relação deseja ter com ela e que tipo de relação deseja que o seu filho tenha com ela. Esse é o princípio de tudo. Se precisar, peça ajuda porque realmente pode tornar tudo mais simples.
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POSITIVA
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NOTÍCIAS AVULSO A. COMO O COACHING PODE APOIAR OS ALUNOS Santos da casa por vezes não fazem milagres. É aí que pode entrar o coaching. Os alunos do secundário, do 11º e do 12º ano, de uma escola no Porto beneficiam já há 3 anos de um programa de coaching: gestão das emoções, do stress e do trabalho. Nestas sessões confirmam como reagem à tensão que podem ser os exames, organizam a forma de trabalhar aos seus ritmos e adotam melhores hábitos de vida: alguns passam a deitar-se mais cedo, outros a alimentarem-se melhor e a trabalharem a concentração.
B. PORQUE É QUE O ÁLCOOL SÓ DEVE SER CONSUMIDO A PARTIR DOS 18 ANOS
O motivo pelo qual o álcool não deve ser consumido antes dos 18 anos não tem apenas a ver com a maturidade e liberdade de se poder fazer escolhas antes com o facto de o cérebro estar ainda em crescimento e desenvolvimento. Na verdade, os teen years terminam aos 19 anos, mas o cérebro ainda não acabou de ser formado. A lei que regula é o Decreto-Lei nº 106/2015 de 16 de junho, Artigo 1º), mas sabemos que o acesso ao álcool é fácil: 85% dos jovens considera ser muito fácil obter bebidas. O álcool nos jovens é mais elevado e começa cada vez mais cedo - beber tornou-se moda. É importante a sensibilização para estas questões e é urgente que toda a sociedade atue para travar estes números.
C. PATETA O FILME
O filme Pateta conta-nos a história do Pateta e do seu filho adolescente Max. Durante o filme são retratados diversos temas comuns na adolescência, desde o conflito entre pai e filho, os grupos de amigos, o aparecimento de novos interesses, o ajustar expectativas, entre muitos outros. É um filme divertido, para ver em família. Produzido em 1995 pela DisneyToon Studios. Pode encontrá-lo online.
Já conhece a nova dinâmica da página oficial Escola da Parentalidade no facebook? Todas as semanas aprofundamos temas ligados à parentalidade e à educação, partilhamos consigo videos, estudos e no domingo fazemos a compilação dos mais vistos dessa semana no blog. Para receber semanalmente mais informações siga-nos.
Escolha de... Beatriz, 12 anos Um dos livros que mais me prendeu do início ao fim. É um romance cheio de fantasia, que fala sobre a ligação entre uma leitora com o livro que ela adora. Achei engraçado o livro ser escrito em conjunto - mãe e filha: Samantha, filha da escritora perguntava-se o que acontecia às personagens quando se fechava o livro... E assim nasceu a ideia desta obra! Bertrand Editora, março de 2017, 408 páginas Entre as linhas.
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Daniel Siegel é médico, pediatra e psiquiatra americano que tem dedicado a sua vida ao estudo do funcionamento do cérebro. A Parentalidade + esteve a conversar com ele antes do Natal e focamo-nos no trabalho desenvolvido a propósito do cérebro do adolescente. Ficará surpreendido com as descobertas e as conclusões a que este autor chegou. Vale a leitura!
DANIEL SIEGEL ENTREVISTA
Daniel, como é que se interessou por esta área de conhecimento, ou seja, o cérebro, e porque focou parte do seu trabalho aqui? Sempre tive muito interesse em saber quem é que somos enquanto seres humanos. Inicialmente, formei-me em biologia e tinha um grande fascínio pelo corpo e pelo cérebro, enquanto parte do corpo. Entretanto, atraiu-me tudo o que diz respeito à mente, que é diferente do cérebro, mas que está relacionado e fiquei completamente fascinado pela forma como as pessoas se desenvolvem. Então, fui estudar psiquiatria e psiquiatria da criança e tornei-me investigador. O meu objetivo é juntar todas as ciências e compreender a natureza do que é ser humano. E foi assim. O meu interesse no que diz respeito à adolescência teve que ver com o facto de eu ter dois adolescentes em casa e estar um pouco intrigado com o que me diziam. Eu sentia que aquilo que me diziam não devia ser bem assim, então comecei a estudar e a escrever sobre este assunto. Que idades têm hoje? Hoje, têm 28 e 23 anos. Isso leva-me à primeira questão. Então a adolescência já não vai dos 13 aos 19 anos, mas é um período mais vasto que isso? Onde é que ficam os teen years? Sim, os teen years vão dos 13 aos 19 anos, ou seja, são idades que têm a palavra teen, mas a adolescência é o período que vai desde a dependência dos mais pequenos até à responsabilidade que todos os adultos ganham. É um período que encontramos em todos os mamíferos e que pode ser complexo nos humanos. Há cerca de 150 anos, a adolescência era muito curta. A puberdade, que
“A FASE DA ADOLESCÊNCIA TEM TUDO PARA SER INCRÍVEL E É UMA GRANDE OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO PARA PAIS E FILHOS. NESTA ENTREVISTA, DANIEL SIEGEL DESVENDA OS SEGREDOS E OS MITOS DA ADOLESCÊNCIA E DEIXA-NOS DICAS PRECIOSAS PARA TORNAR ESTA ETAPA AINDA MAIS VALIOSA!”
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não é a adolescência, mas antes o amadurecimento do corpo, acontecia às raparigas por volta dos seus 15 ou 16 anos e, por isso, poderiam casar-se por volta dos 18 anos. Tínhamos um período muito curto entre as duas fases: a idade mais infantil e a idade adulta. Hoje em dia, a adolescência aparece com a puberdade e depende de uma série de fatores, como a nutrição e a cultura. Atualmente, sabemos que a adolescência é também um processo da mente e que parece que acontece por volta da altura em que o próprio cérebro se começa a remodelar. E por remodelar entendemos que o cérebro passa a usar o que já usava antes, fazendo todas as ligações de que precisa. Os estudos que temos é que esta remodelação pode acontecer antes dos 12 anos e pode durar até ao final dos 20 anos, pelo menos nos Estados Unidos. Digo isto porque a cultura também define o tempo que dura a adolescência. A dada altura, no seu livro Brainstorm, diz que a fase da adolescência começa mais cedo do que antigamente e explica que a nutrição, as experiências e, eventualmente, a própria educação podem influenciar a precocidade. É assim? Sim, é isso mesmo! Um dos pilares da Escola da Parentalidade e Educação Positivas é a Parentalidade Pró-ativa, ou seja, antecipamo-nos aos acontecimentos. Porque nos preparamos, temos uma ideia (estudámos, frequentámos ações) do que vai acontecer na fase seguinte do desenvolvimento dos nossos filhos. Nesse sentido, o que é que os pais de filhos que estão a entrar na adolescência devem saber? Como se devem preparar? Duas coisas - é muito importante sabermos que devemos deixar de lado esses mitos para que a verdade acerca da adolescência possa ser compreendida. Esse é o primeiro ponto. Depois, devemos ver a adolescência de uma forma positiva e esta forma é muito semelhante com a da Parentalidade Positiva. Eu chamo-a de ‘Yes Brain’ e tem que ver com um desenvolvimento bastante pró-ativo e que se concentra naquilo que a criança ou o adolescente é, verdadeiramente. À medida que vão fazendo a sua caminhada pela fase da adolescência, sentem que têm uma espécie de compasso interno que os guia, sobretudo na fase em que o seu cérebro está a sofrer todas essas remodelações. - Quererem estar muito tempo com os amigos o que faz com que se interessem mais por eles do que pelos pais; - Experimentarem coisas novas sendo que algumas delas são perigosas - Saberem como é que as coisas são mas quererem que sejam diferentes Estes são alguns dos pontos que são comuns na adolescência e não apenas uma fase onde as hormonas estão mais descontroladas. É um mito pensar-se que a adolescência é apenas um período em que eles perdem a cabeça e ficam loucos. O
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que acontece é que eles estão a remodelar o seu cérebro. Muitos também acham que é um período de imaturidade, mas não é. É um período de crescimento e de reorganização e que é mesmo muito diferente de imaturidade. E, ao contrário do que se diz por aí, os adolescentes precisam de nós nas suas vidas, precisam de adultos nas suas vidas. Se continuarmos a reagir àquilo que eles fazem em vez de agir de forma pró-ativa, por exemplo, perderemos o vínculo com eles, e a coisa mais importante que podes fazer com os teus filhos é manter o canal de comunicação aberto.
culturas, existe um ritual de passagem [de idades] que é conduzido por pessoas que não são os pais, são outros adultos de referência, membros da comunidade em quem se possa confiar. Infelizmente, esta figura não existe na vida de muitos jovens, o que é muito triste. Não há uma comunidade de adultos à volta das famílias em quem se possa confiar - pelo menos isso não se vê aqui nos Estados Unidos. Vivemos uma altura terrível em que confiamos pouco uns nos outros, mas isso é compreensível porque, afinal, ouvimos tantos casos de abuso.
Que dicas nos pode dar no sentido de manter esse canal aberto?
Dizem que é preciso uma aldeia para educar uma criança, certo? Ao mesmo tempo, sinto que muitos pais não recorrem a esse apoio porque, para eles, a responsabilidade de se educar uma criança é, inteiramente, deles. E se não o conseguem fazer em condições, então isso quer dizer que estão a falhar.
1 - Como estavas a dizer há pouco, de forma pró-ativa. Devemos saber exatamente o que é a adolescência; 2 - Refletir sobre a própria experiência. Escrevi um livro que se chama Parenting from the Inside-Out que nos dá as ferramentas, ajudando-nos a questionar sobre o que foi a nossa adolescência, a relação com os nossos pais, como é que mudámos ao longo dos tempos e o que é que resta desse período de tempo que ainda pode estar a afetar a forma como exerço a minha própria parentalidade. Estas são questões que podes colocar-te de forma pró-ativa. Todos os pais querem manter este canal aberto porque vai desenvolver uma coisa que se chama presença, tornando-os capazes de estar disponíveis para compreender a experiência interna de como foi ser adolescente e não apenas de responder aos seus comportamentos. Quer dizer isso que também estamos metidos no assunto - não tem apenas que ver connosco, pois não? Exato, é isso exatamente! É uma ótima forma de ver as coisas. E quais são então os outros mitos? Um deles está relacionado com as hormonas de desenvolvimento e o facto de causarem mais agressividade. Elas não causam mais agressividade - há apenas um aumento do nível das hormonas no corpo. O segundo mito tem que ver com a imaturidade - é um período de reorganização. Se tratares as pessoas de forma imatura é assim que eles se vão comportar. Mas se os respeitares tendo em conta essa tal reorganização que está a acontecer, então eles farão mudanças que tu vais querer apoiar. Em terceiro lugar, muita gente pensa que a adolescência é um período que deve ser ultrapassado o mais rápido possível. Mas, na verdade, é apenas o oposto. A essência da adolescência deveria ser uma altura em que nos deveríamos demorar. Em quarto lugar, muitos acreditam que é uma fase em que os jovens se afastam dos adultos. Estes miúdos precisam de adultos nas suas vidas. É verdade que se afastam dos pais, mas precisam de outros adultos nas suas vidas. Em muitas www.parentalidadepositiva.com | parentalidade+
Exato. Mas precisamos de o fazer para que os miúdos se possam tornar mais independentes, se sintam capazes de deixar a sua casa, onde se sentem muito protegidos e acarinhados. Há muitos motivos pelos quais esta fase existe. Um deles é justamente este: para que os jovens possam sair da sua área de conforto, do que é previsível e certo. A natureza é, na verdade, fantástica. Durante este período, o cérebro do jovem procura tudo o que é novidades e estímulos novos. Simultaneamente, e ainda durante esta fase, o jovem vai ter aquilo a que eu chamo de um raciocínio muito positivo, ou seja, vai ver tudo por uma lente muito positiva. Não quero dizer que não vejam o negativo, mas porque há uma incidência muito forte naquilo que são as novidades, então eles vão considerar, com muito mais frequência, o que é positivo. Por exemplo, numa determinada atividade perigosa, sabemos que há 30% de probabilidade de as coisas correrem mal. Mas há 70% disso não acontecer. «Então, vamos lá, do que é que estamos à espera?», pensam eles. O mais certo é que algo de bom aconteça, afinal a possibilidade de correr bem é de 70% (é o que eles pensam). Isto é hiper-racional, eu ou a Magda, por exemplo, não tomaríamos esta decisão, porque os custos, caso algo acontecesse, seriam demasiado altos. Mas os adolescentes não pensam assim. Na verdade, eles estão na fase em que são mais fortes e mais saudáveis.
Sentem-se invencíveis, é isso? Não diria que se sintam invencíveis, é apenas que os seus corpos estão muito mais fortes. Se tiver de ficar doente, é nesta altura que o corpo vai responder de uma forma espetacular. Contudo, há maiores probabilidades nesta altura de eles terem um ferimento permanente ou de morrerem. Apesar de estarem bem mais fortes nesta altura, a probabilidade de morrerem é muito maior por causa das decisões que tomam. E não estou a falar de suicídio, que é, também, elevado nesta altura. Por isso, quando os pais dizem que se trata
de uma fase perigosa, é mesmo! É determinante que os pais tenham as ferramentas certas para poderem ensinar os seus filhos a estarem atentos às suas intuições, desenvolvendo um guia interno para terem um estilo de vida saudável. Precisamos de estar, portanto, mais próximos e mais ligados. Como podemos promover esse tipo de pensamento e essa sensatez nos adolescentes? Quando estamos atentos às sensações do nosso corpo, abrimos um canal de comunicação poderoso. O nosso corpo tem 3 cérebros que nos ajudam a isso. Temos um cérebro na nossa cabeça, mas, antes desse, temos um cérebro no nosso coração e outro nos nossos intestinos. O que me pareceu muito útil, para os meus adolescentes, mas também para todas as pessoas com quem trabalho, é que, quando estão em contacto com o seu gut feeling (que em inglês quer dizer, literalmente, sensação ou sentimento do intestino) ou seja, com os seus intestinos (em inglês, gut), o seu coração consegue sentir. Isto dá-lhes aquilo a que chamamos intuição, guiando-os, mesmo que estejam numa fase de pensamento hiper-racional e com vontade de fazer coisas perigosas ou tenham esse impulso. Estes dois cérebros vão dar ao jovem aquilo a que nós chamamos de compasso interno, que os guia de uma forma saudável e segura. Por isso, quando falo de um compasso interno, isso significa que estamos a falar destes 3 cérebros. E isto não pode ser feito num fim de semana ou durante as férias. Temos de trabalhar diariamente neste sentido? É como escovar os dentes! Queres que os teus filhos tenham um bonito sorriso, saudável. Não lhes dizes para escovarem os dentes uma vez e já está! A higiene mental e estas práticas precisam de se tornar uma rotina na nossa vida. Vamos imaginar que tens um adolescente de
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14 anos e a vida não tem sido fácil. Ele não nos conta nada, está desafiante. Como é que os pais podem voltar a criar uma ligação com este jovem quando não fizeram o trabalho antes? Bom, a primeira coisa a saber é que é mesmo muito natural - nomeadamente no que diz respeito à fase mais inicial da adolescência - de querer afastar-se dos pais. É importante que os pais saibam que isso vai acontecer e é natural. Contudo, a adolescência também é uma altura em que temos de estar atentos a certos aspetos comuns, como a depressão ou ansiedades, ou fobias sociais, preocupações com a entidade sexual e até dependências. A adolescência é o período no qual uma desordem psiquiátrica se poderá apresentar. E isso não tem nada que ver com as hormonas de desenvolvimento, mas com o facto de o cérebro se estar a remodelar. É comum vermos mau feito, mau humor e alguma vulnerabilidade e não percebemos que isso é uma depressão. Podemos descobrir uma preocupação com as relações sociais e não vermos uma ansiedade social. Podemos senti-los muito ansiosos em relação a outras coisas, como conseguirem atingir certas notas na escola e tantas outras coisas. Por isso a pergunta que nos devemos colocar é «Será que o meu filho está a mostrar sinais sérios de um desafio difícil de ultrapassar e que possa afetar a sua saúde psicológica ou será que este afastamento faz parte e é natural?» Mas, mesmo que seja necessário, o mais importante é que possamos manter as linhas de comunicação abertas. E quando digo isto, não estou a pedir que os forcemos a falar connosco, apenas que possamos encontrar um pouco de tempo para lhes dedicar. Quando vamos a conduzir ou a caminhar, ou seja, quando não estamos frente a frente com o nosso adolescente e não estamos a olhar um para o outro, torna-se mais simples conversar sobre algo que é importante. Quando vamos no carro e fazemos isto, podemos ficar espantados com a quantidade de coisas que eles nos podem contar, algumas
coisas até muito importantes - sem que olhem para nós. Uma das técnicas de comunicação nesta fase é, justamente, não estarmos virados um para o outro. Também podemos ir ao cinema e depois falar sobre o filme e há a possibilidade, a seguir, de começarmos a falar sobre outras coisas. Também devemos estar atentos a alguns indícios que nos revelam que o miúdo quer ficar ao pé de nós, como quando deixa a porta aberta. Podemos aproveitar essa oportunidade para nos sentarmos por perto a ler um livro. Não estou a dizer ao lado deles, mas por perto. Finalmente, devemos evitar todo o tipo de julgamentos. É quando eles se sentem seguros que conseguem tomar as melhores decisões. Sim, eu chamo a isso um estado «Yes brain». 5 coisas que não devemos fazer com os nossos filhos adolescentes. 1. Tratar o adolescente como uma pessoa imatura, louca e distraída, porque o adolescente vai atuar de acordo com isso. 2. Ter muito cuidado com o que sabe sobre o desenvolvimento da criança, dizendo coisas como «Ah, pois, é o teu cérebro que ainda está a desenvolver-se.» Não faça isso porque é algo extremamente humilhante! 3. Evitaria, na medida do possível, ser reativo e entrar em jogos de poder. Quando isso acontecer, procure reparar o que se possa ter quebrado. 4. Dizer coisas como «Não quero saber de ti». Isso significa que eu não estou lá para ele. Não passaria esta mensagem. 5. Não seria superprotetor, uma vez que todos os adolescentes precisam de ganhar mais autonomia e de correr riscos para que, quando saírem de casa, tenham, realmente, praticado. Se tiverem de o fazer pela primeira vez (já fora da casa dos pais) pode resultar em desastres como já vi.
5 coisas que devemos fazer com os nossos filhos adolescentes. 1. Começaria por amar verdadeiramente o meu filho adolescente e recorde-se que os dias podem ser longos, mas os anos são curtos. 2.Faria uma reflexão interna acerca da minha vida, desenvolvendo um desenvolvendo o meu centro. 3.Sempre que houver uma rutura, que acontece em qualquer relação, lembre-se de reparar, reparar, reparar. Isso é o mais importante, porque ajuda a ligarem-se de novo, mas também lhes serve de modelo sobre aquilo que nos torna humanos, porque compreendem que também podem cometer erros. 4. Analise como trata a emergente sexualidade do seu filho porque a sexualidade é uma parte natural da adolescência. Pode ser confusa, mas a maneira como cada um de nós, adultos, lida com a própria sexualidade terá um impacto na forma como o adolescente lidará com a sua sexualidade. É por esta altura que eles definem a sua identidade sexual e, portanto, eu procuraria ser bastante aberto em relação ao facto de este ser um tempo de exploração e de desenvolvimento da sua identidade sexual. Aceite que isso não está no seu controlo. 5. Estude como o cérebro se remodela e coloque de lado todas as teorias sobre as hormonas de desenvolvimento. Na verdade, a essência da adolescência tem que ver com a forma como mantemos jovem e ativa a nossa mente e as nossas vidas. É uma fase desafiante! Sim, e uma ótima oportunidade para que todos possamos crescer: eles e nós! O que é que foi mais incrível e também mais difícil para si, enquanto pai (e não enquanto profissional) de dois adolescentes? Tentei sempre separar a minha vida profissional e o meu conhecimento daquilo que faço em casa. Acho que fiz um bom trabalho e a minha mulher e os meus filhos ajudaram-me muito.
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Talvez tenha havido duas coisas difíceis. Sou uma pessoa que protege muito a família e os amigos talvez porque sou médico e alguém que trata dos outros. Enquanto pai não podes fazer aos 15 anos o que fizeste aos 5 anos. Aos 15 anos, precisas de lhes recordar de algo e deixá-los, dando-lhes o seu tempo, enquanto a uma criança de 5 anos garantes que aquilo que disseste acaba mesmo por acontecer. Por isso, essa foi a parte difícil - retirar o meu instinto protetor enquanto pai, mas também enquanto médico. E a segunda coisa mais difícil foi quando eles se sentiram prontos para sair de casa. Amo-os tanto e adoro estar com eles. Foi duro chegar à conclusão que os dias são longos, mas os anos são curtos e que o tempo deles em nossa casa tinha terminado. Temos de respirar fundo, aceitar que estamos tristes de vê-los partir, a sair do ninho e voar por eles. Isso é mesmo difícil. A parte positiva… foram tantas que é difícil escolher. Mas uma das coisas é a alegria de vê-los tornarem-se quem são, com eles próprios, com os amigos, em relação às suas paixões e às decisões que tomam. A minha mulher e eu mantivemos uma linha de comunicação aberta com cada um deles e penso que correu muito bem, na fase da adolescência, e, agora, nesta fase em que já são jovens adultos. É maravilhoso. Mesmo na altura em que eles eram adolescentes, lembro-me de fazer longas caminhadas com eles, pegar no cão e ir passeá-lo e ter as conversas mais profundas acerca daquilo que é a vida, o amor, a realidade. A adolescência é uma fase incrível para se refletir sobre as coisas. Sinto-me muito honrado porque eles são miúdos incríveis e por ser pai deles. Mesmo agora, que estamos todos juntos de férias [a entrevista foi feita a 20 de Dezembro], deixo de lado a minha faceta de pai protetor e tratamonos como amigos. Fiz anos recentemente e eles escreveram-me um postal maravilhoso que dizia «Foste um pai incrível e agora és um amigo incrível.» E é isso que eu espero que as pessoas possam saber acerca da adolescência, justamente para ter esta experiência. É qualquer coisa!
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Daniel Siegel PSIQUIATRA E AUTOR AMERICANO, autor de vários livros como The Whole Brainchild e Brainstorm.
AUMENTAR A RESPONSABILIDADE DOS FILHOS por Cristina Valente, Psicóloga, Coach e autora
A Cristina Valente é psicóloga e é autora, entre outros, do livro «O que se passa na cabeça do seu filho adolescente?» Neste texto, partilha connosco algumas informações e dados que nos permitirão envolver os nossos filhos na tomada de decisões e a serem mais responsáveis e conscientes em relação a elas.
HÁ ESTUDOS QUE REVELAM COMPORTAMENTOS POTENCIALMENTE PERIGOSOS. A CRISTINA VALENTE DEIXA-NOS UM ALERTA E DICAS QUE VAIS QUERER LER! Todos adoraríamos que os nossos filhos vivessem uma adolescência isenta de riscos. Sentimos medo e, por vezes, muito medo. O medo é uma armadilha ardilosa. Leva-nos a pensar que quanto mais medo sentirmos, melhores pais seremos. Nada de mais errado. No que diz respeito à educação e à vida existem duas formas de decidir: com base no medo ou com base no amor. Lá em casa, raramente faço de polícia, a não ser que surja algo verdadeiramente preocupante…Prefiro (e os meus filhos também!) “vir à tona” apenas quando é necessário. Em vez de uma «mamã-helicóptero», sou mais uma “mamã-submarino”. Faço parte daquele grupo de pais do tipo “negligentes benignos” que, no fundo, é uma forma simpática de dizer que «ignoramos» os nossos filhos até ao momento em que estes tentam fazer algo verdadeiramente excêntrico, perigoso ou arriscado. Exemplo disso é a segurança rodoviária. Trata-se, sobretudo, de uma grande preocupação dos pais de rapazes...e com toda a razão (têm três vezes mais probabilidades de morrer de acidente, violência e suicídio do que as raparigas)! Na verdade, o risco não é, propriamente, um adolescente conduzir sozinho, o que é relativamente seguro. O problema surge quando leva passageiros ao lado...que tenham a mesma idade e sejam do mesmo sexo do que ele! Por esse facto, é importante que os pais conheçam alguns dados relacionados com condução e adolescência. Eis o que acontece quando um jovem conduz um carro: • quando viaja sozinho, consegue ter uma condução relativamente segura (mesmo que vá em excesso de velocidade, o que na realidade até o torna mais atento e cuidadoso); • quando há outro passageiro do sexo masculino no carro com
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idade aproximada, o risco de acidente aumenta 50%! • quando o passageiro do lado é uma rapariga, o jovem condutor torna-se mais protetor e corre os mesmos riscos como se estivesse a conduzir sozinho; • quando há mais passageiros igualmente jovens no banco de trás, os riscos de morte do condutor aumentam cerca de 40%! Se já empresta o carro ao seu filho, para poder sair à noite ou para passear com os amigos da mesma idade, por favor, mostre-lhe todos estes dados. Faça o mesmo no caso de ele costumar viajar em carros de outros amigos supostamente mais crescidos e responsáveis. No sentido de trabalhar a questão dos valores e da forma como se envolvem nas questões que lhes dizem respeito - em vez de os proibir - aqui ficam 6 sugestões que vão facilitar a vossa relação e a responsabilização do seu filho:
• Escreva acordos sobre a utilização do carro da família • Vá de «pendura» dar uma volta com o seu filho para perceber as capacidades e a autoconfiança dele a conduzir (não abra a boca!). • Depois da viagem, dê-lhe dicas. • Envolva-o nas tarefas de manutenção e limpeza do carro da família. • Ajude-o a gerir o seu dia-a-dia com o auxílio das redes de transportes disponíveis na sua área de residência. • Comprometa-o a ajudar nas despesas de qualquer dano da sua responsabilidade e a envolver-se nas questões da reparação. • Convide-o para ser o condutor numa viagem de família ou apenas dos dois.
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AINDA É FIXE, DIZER-SE- «FIXE»? por Claudine Pinheiro
NÃO TEMOS DE FALAR COM OS MESMOS CÓDIGOS MAS DÁ JEITO DECIFRAR O QUE ANDAM POR AÍ A DIZER. Pelo visto, ainda pode ser, mas…tudo depende da zona em que os seus filhos vivem. Nalgumas escolas do Porto, a palavra ainda é aceite como sendo atual, mas, por exemplo, noutros colégios em Lisboa, um pai que pergunte: “Então o teu dia, foi fixe?” pode muito bem ser olhado de lado. Para que se possa manter atualizado em relação aos termos que hoje parecem ser mais ou menos consensuais, reunimos algumas palavras e expressões que estão na moda (pelo menos, por enquanto!) e que pode já ter ouvido da boca dos seus adolescentes. Há, obviamente, muita influência anglo-saxónica, bem como terminologia ligada às redes sociais, o mundo onde os adolescentes (também!) vivem. Beef – Um beef é uma polémica ou razão para haver algum tipo de luta ou discussão. Também pode ser usado sob a forma de verbo em expressões como “Aquela malta que não beefe connosco” “Ou tás a querer beefar?” Buzz – É o «diz que disse» positivo. Equivale à notoriedade nas redes sociais. “O Instagram dele tem muito buzz”. Canhão – Em adolescentês, este termo pode ter um duplo significado. Pode equivaler a um charro na frase «Aquele rapaz estava a fumar um canhão». Ou, então, designa uma pessoa com uma aparência física desejável: «Bem, aquela miúda é grande canhão!» Dabbing – ato ou efeito de fazer um DAB. Ou seja, assumir a pose em as pessoas apontam um braço para cima em direção ao céu enquanto também inclinam a cabeça para o outro braço, semifletido sobre o rosto. Tem a origem numa música rap, e o gesto fará referência a posturas no consumo de drogas. Celebrizou-se nos festejos de desportistas e é nestes contextos de celebração social que se faz um DAB: porque se marcou um golo ou porque se chega ao grupo de amigos em grande estilo. Dica – É o termo em voga para designar uma opinião, ou uma “boca” / argumento numa discussão. «Vou dar-te uma dica para não arranjares problemas: fica quieto no teu canto!» Fixe – O equivalente a porreiro, cool, brutal, «ganda cena». Hater – Aquele que destila ódio em tudo o que diz sobre um assunto ou pessoa. É o oposto de fã. Troll – É aquele que trolla alguém na internet, ou seja, alguém que causa um comportamento que pretende destabilizar uma página, ou descredibilizar o seu autor. O objetivo do troll é gozar com alguém, expondo-o ao ridículo. Por isso, na internet não são pessoas muito bem vistas e talvez por isso também se use o termo como equivalente a «cromo». Sqn – Normalmente vem antecedido de um hashtag no final nas frases irónicas. Significa Só que não. «Adoro brócolos. #sqn» Yolo – You only live once – «Só se vive uma vez» e diz-se para sublinhar a importância de se viver cada momento como se fosse o último. Este último termo, provavelmente, faz recordar a expressão Carpe Diem, celebrizada no filme O Clube dos Poetas Mortos (1989). E até apetece dizer «No meu tempo, as citações cool eram em latim!...» Pois.
Claudine Pinheiro MARKETER
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FALAR DE SEXUALIDADE: MISSÃO IMPOSSÍVEL? por Vânia Beliz
A EDUCAÇÃO SEXUAL É A ÚNICA FORMA QUE TEMOS DE PREVENIR SITUAÇÕES PREOCUPANTES, COMO SÃO EXEMPLO: A VIOLÊNCIA SEXUAL E DE GÉNERO. A puberdade e adolescência são períodos importantes do desenvolvimento da criança, mas também uma etapa de insegurança, medo e ansiedade. Crescer não é fácil e a forma como pais e crianças lidam com este momento pode ser fundamental para o desenvolvimento e bem-estar das crianças e das famílias. A puberdade é a primeira fase da adolescência, uma espécie de campainha que diz adeus à criança e abre a porta para a adultez. Os seus primeiros sinais surgem primeiro nas raparigas, com o corpo a apresentar as primeiras mudanças, muitas vezes a partir dos 8 anos. Grande parte dos pais sente medo e ansiedade por verem os seus filhos sair da infância, mas este é um processo normal pelo qual todos passamos e que faz parte do nosso crescimento e ciclo de vida. Nas raparigas, assistimos ao desenvolvimento mamário, ao aparecimento dos pelos púbicos e ao surgimento da menarca, primeira menstruação; nos meninos, ao aparecimento dos pelos, à mudança da voz e à primeira semenarca, primeira ejaculação. Em ambos há crescimento físico, com as meninas a adotarem formas mais femininas e os rapazes a mudarem a sua estrutura. Surgem as incómodas borbulhas, intensifica-se a transpiração, para não falar das inúmeras mudanças psicológicas que deixam muitas famílias de mãos na cabeça. Quando falamos sobre sexualidade estamos a falar sobre o quê?
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Estamos a falar de valores, de direitos, de compreensão das temáticas de género, de prevenção da violência e proteção pessoal, de promoção da saúde e bem-estar, do conhecimento do corpo e do seu funcionamento, do comportamento sexual e conceitos de saúde reprodutiva. Falamos de um conjunto alargado de temas, que mostra que sexualidade é muito mais que sexo. - Há um momento ou uma idade especifica para falarmos sobre estes temas com os nossos filhos? Não. Nós comunicamos constantemente com os nossos filhos sobre sexualidade, através da forma como nos relacionamos com eles e com o meio, por exemplo. Falar de sexualidade é muito mais do que falar de sexo e esta é a maior dificuldade que temos para que as famílias compreendam o que se pretende. A maneira como os pais cuidam das crianças, como fazem as suas tarefas, já é educar para sexualidade. Não precisamos de falar de pénis e vulvas, pílulas e preservativos para falar de sexualidade. As últimas orientações da ONU dão relevância, por exemplo, ao trabalho com as questões de género, mostrando como estas são relevantes para a prevenção da violência. É um trabalho que não deve assustar as famílias porque, bem implementado, só pode proteger e capacitar as crianças e jovens para os desafios de uma sociedade hipersexualizada. Numa sociedade cada vez mais sexualizada, as meninas recebem mensagens continuadas para serem www.parentalidadepositiva.com | parentalidade+
bonitas, atraentes e convites constantes à sua sensualidade e emancipação. Elas e eles têm ídolos bem diferentes daqueles que colávamos nas paredes do quarto, acompanham tudo o que fazem, o que consomem, desejam tantas vezes ter as suas vidas. A erotização está em todo o lado, assim como o apelo à sexualidade cada vez mais despida de afetos, só por que é cool ou fixe. Está presente nas músicas que ouvem, nos blogs que visitam, nos canais que seguem, nos jogos. - Quem é que deve abordar primeiro, os pais ou os filhos? Os pais já começaram, mesmo que não se apercebam, e, se forem mantendo um diálogo aberto, poderá ser mais fácil os filhos virem falar com os pais sobre os temas mais delicados da sexualidade, como o sexo. Se não houver espaço para o diálogo, eles aprenderão em outros sítios, com os pares, com o acesso às novas tecnologias… Não querer responder já não é solução, mas sim um risco. - É preferível falarmos sobre as questões íntimas ou oferecer-lhes outro género de bibliografia? Os pais precisam de estar conscientes que vivemos tempos muito diferentes e que a informação chega de todos os lugares. Não abordar os temas com eles é fechar a porta à oportunidade de os educar nos seus valores, princípios e protegendo-os. Educar para a sexualidade faz parte desse desafio.
Dependendo do relacionamento que exista, é normal que os filhos não se sintam à vontade para questionar os pais sobre a sua prática sexual ou as dificuldades que sentem nas suas relações íntimas. Mostre-lhes como podem ter acesso a informação segura, ajude-os a marcar uma consulta, leve-os a um especialista e não force temas para os quais eles podem não estar disponíveis para falar, mas não deixe de os chamar à atenção quando algo lhe parecer desajustado e incómodo. Se existem coisas que o constrangem não deixe de falar com eles sobre isso, ou corre o risco de acordar de manhã, na sua casa, e ter o namorado, ou namorada, do seu filho ou filha de roda da torradeira… converse sobre os seus e os vossos limites e promova sempre o diálogo positivo e construtivo. Será assim uma missão
tão impossível? Recorra a livros e material lúdico para abordar as temáticas desde cedo, começando a partir dos 3-4 anos com livros que abordem estes assuntos, como as diferenças entre meninos e meninas, a origem, o nascimento, na puberdade com recursos que ajudem os filhos a compreender as mudanças que irão surgir e mais tarde com livros que os ajudem a conhecer melhor a sua intimidade. Apesar de a informação chegar à distância de um click, os jovens, continuam perigosamente desinformados. Exemplo disso são as dezenas de mensagens recebidas no mais recente espaço de aconselhamento em sexologia através do WhatsApp, CONTROL TALK, que nos faz constatar que ainda temos muitos adolescentes em risco.
FICAM ALGUMAS DICAS SIMPLES COMO FALAR COM OS FILHOS SOBRE SEXUALIDADE:
A forma como nos relacionamos mudou completamente e estamos mais expostos do que nunca. Mas estão os nossos filhos preparados para estas mudanças? E nós que os educamos? Estarão conscientes da importância do consentimento nos relacionamentos, do perigo do cyberbullying do sexting? Se não sabe do que tratam estes conceitos, é muito importante que se informe e esclareça, para poder depois sensibilizar os seus filhos para as consequências de cada comportamento. Essa será uma das missões das famílias. Se, no passado, o nosso silêncio podia garantir o desconhecimento, hoje, se não falar com eles acredite que eles receberão toda a informação, muitas vezes de forma errada.
CONTROL TALK Adicione este contato ao WhatsApp: 934 059 910 Serviço de aconselhamento em sexologia
1) Normalize a questão e tente saber a sua origem Não corra a punir a pergunta ou fazer um interrogatório sobre de onde vem tal disparate. Se o seu filho(a) pergunta é porque quer saber mais, aproveite antes para validar a questão perguntando por exemplo: Porque me estas a fazer essa pergunta hoje? E não faça de conta que não ouviu a pergunta ou não o envie para o pai, avó, tio…
disponível de segunda a sexta feira, das 18h às 20h
Confidencial.
2) Tente saber o que ele/a sabe sobre o assunto Desta forma vai perceber qual o seu conhecimento e o que pretende saber e poderá já ter um ponto de partida para a resposta. 3) Responda de forma objetiva e de acordo com a compreensão da criança/jovem Sem rodeios, seja objetivo. Aproveite a oportunidade para desmistificar e informar. 4) Confira se ele compreendeu a resposta Depois da sua explicação, certifique-se de que a mensagem/explicação ficou apreendida. Vânia Beliz PSICÓLOGA
ES RIÇÕ INSC TAS ABER
PORTO | 7 MARÇO | 18h30 - 22h00 parentalidadepositiva.com
GESTÃO DE CONFLITOS ENTRE IRMÃOS
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O QUE É A CONSULTA DE MEDICINA DO ADOLESCENTE? por Hugo Rodrigues | Pediatra
A ADOLESCÊNCIA É MUITAS VEZES ENCARADA COMO UM «BICHO DE SETE CABEÇAS», MAS ISSO NÃO É VERDADE. TRATA-SE DE UMA ETAPA NORMAL NA VIDA DE QUALQUER PESSOA E É UMA FASE IMPORTANTÍSSIMA, NA QUAL AS CRIANÇAS SE TRANSFORMAM EM ADULTOS. Claro que neste processo há alguns sobressaltos, mas isso não quer dizer que tenha de ser encarada como algo assustador. No entanto, pelas suas particularidades, faz sentido que os profissionais de saúde estejam cada vez mais atentos a este grupo etário, motivo pelo qual existe neste momento, em todos os hospitais, uma Consulta de Medicina do Adolescente, vocacionada para o atendimento dos jovens a partir dos 10 anos. Como funciona? As regras de funcionamento variam um pouco de acordo com quem dirige a consulta. No entanto, é frequente que haja momentos a sós com os adolescentes, em que os acompanhantes são convidados a sair. Isto prende-se com o facto de ser fundamental respeitar a sua privacidade, garantindo a confidencialidade sobre o que é conversado na consulta. No entanto, é sempre importante esclarecer de início que essa confidencialidade tem alguns limites, nomeadamente se o adolescente revelar algo que coloque em risco direto a sua vida ou a vida de terceiros. O objetivo de retirar os acompanhantes deve ser explicado na primeira consulta, garantindo que é entendido por todas as partes. Não se pretende criar segredos, mas sim respeitar a privacidade que o crescimento e desenvolvimento típicos da adolescência acarretam. Quais os principais motivos de consulta? Depende muito das consultas, mas os problemas de comportamento e relacionamento são provavelmente os mais frequentes. Com o desenvolvimento da sua personalidade, é necessário que surja alguma autonomia e independência, com o natural afastamento dos pais. Não está em causa o quanto gostam uns dos outros, mas, claramente, a relação sofre um «abalo». Isso nem sempre é bem percebido e podem gerar-se alguns conflitos e discussões. Por vezes, ajuda ter um mediador externo e estas consultas acabam por ser um bom local para fazer essa mediação.
Hugo Rodrigues PEDIATRA
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Relativamente aos problemas de saúde, os mais frequentes são os que se seguem: - Acne – é extremamente frequente e interfere com a imagem corporal, que é um aspeto muito importante para os adolescentes; - Alterações menstruais – a puberdade traz consigo mudanças hormonais muito significativas e é habitual que, nos primeiros dois anos após a primeira menstruação, os ciclos menstruais sejam muito irregulares, sem que isso tenha propriamente significado médico; - Alterações do humor (ansiedade e depressão) – são muito frequentes e interferem de forma significativa com o bem-estar e desempenho escolar e social; - Obesidade – é cada vez mais habitual ver jovens obesos na consulta e, nesta faixa etária, nem sempre é fácil controlar a situação (o ideal é prevenir durante a infância); - Problemas osteoarticulares (dores nos joelhos, alterações da coluna e dores lombares, por exemplo) – o crescimento acelerado na adolescência implica muitas vezes alterações dos ossos, músculos e articulações, que provocam dor e mal-estar (e, por vezes, tratamento médico adequado); - Perturbações do comportamento alimentar (anorexia nervosa e bulimia) – apesar de não serem a causa mais frequente de consulta, são problemas sérios e que podem revestir-se de uma gravidade muito significativa. Estes são apenas alguns exemplos dos problemas observados, pois, na verdade, é uma consulta extremamente diversificada e que abrange diferentes áreas. O que se torna evidente é que, mesmo havendo um motivo muito bem identificado de consulta, os temas abordados vão sempre muito para além desse motivo, pois um dos grandes objetivos é sempre aproveitar a oportunidade para fazer uma boa promoção de saúde e prevenção de doença com o adolescente que está à nossa frente. Isso são ganhos enormes, que vão fazer com que tenhamos adultos mais saudáveis e felizes nos anos seguintes!
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por Renato Paiva
OS ADOLESCENTES E O QUE HÁ PARA LÁ DA VIDA ESCOLAR
HÁ VIDA PARA ALÉM DOS ESTUDOS - OS NOSSOS ADOLESCENTES TÊM VIDA DE ESTUDANTE MAS HÁ OUTRAS ESFERAS QUE SÃO IGUALMENTE IMPORTANTES. AS DO TEU ANDAM EQUILIBRADAS? A adolescência em força costuma coincidir com a entrada no ensino secundário. Nesta altura, os filhos iniciam um percurso em que os resultados escolares podem condicionar a entrada no curso desejado e é comum os discursos e as preocupações ficarem muito concentrados neste tema. Olhar de forma exclusiva e prioritária para a escola pode estrangular outras atividades, interesses e necessidades pessoais. Com efeito, neste período, os interesses paralelos dos filhos ficam, maioritariamente, para segundo plano, ou para quando há tempo. Entenda-se: quando há férias ou no pós testes! Mas, nesta fase, os jovens têm também muitos caminhos para descobrir. É uma realidade física, hormonal, social, sexual, entre tantas outras e que parecem ser tão ou mais apelativas do que a escola. Pais atentos e preocupados, dedicam atenção à
escola, mas não em exclusivo. É importante por isso que possamos desconstruir a ideia de que a escola é O caminho. Todos conhecemos pessoas respeitadas e influentes que não fizeram um percurso académico. Isso significa que o mesmo não dita, necessariamente, o sucesso, embora o discurso «Se não estudares não vais ser ninguém na vida!» não tenha sido totalmente extinguido ou reenquadrado. Este reenquadramento passa por explicar que as pessoas que têm um curso superior têm, normalmente, empregos com uma remuneração superior, assim como uma maior facilidade em encontrar trabalho. Mas muito mais importante do que o canudo, é o que se sabe fazer com a informação com que se ficou ao tirar o canudo! Não importa a informação que se tem, importa saber o que fazer com ela. Esta capacidade em ser competente no uso do
que tenho e do que sei faz mais diferença do que o grau académico que se tem. Muito dessa capacidade desenvolve-se em paralelo à escola. Alunos que dedicam todo um período irrepetível das suas vidas à escola estão a passar ao lado de experiências importantíssimas. A escolaridade é obrigatória até aos 18 anos em Portugal. Por esse facto, é fundamental que a escolha de hobbies seja integrada na vida dos miúdos. Mas esta questão levanta sempre grande angústia aos pais. A escola ou algo paralelo? Não havendo receitas mágicas a resposta recai num equilíbrio entre responsabilidade e o que lhes traga mais bem-estar e felicidade. O contexto que lhes provoque mais alegria, onde se sintam mais realizados, onde tenham melhor desempenho, onde se sintam valorizados e apreciados pelo que fazem. Isto também pode acontecer fora da escola.
ES RIÇÕ INSC TAS ABER
COMPETÊNCIAS PARENTAIS - PROFISSIONAIS PORTO | 2 MARÇO | 10h00 - 17h00 parentalidadepositiva.com
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Renato Paiva PEDAGOGO
CRESCER
por Sónia Morais Santos
Fui uma adolescente terrível. Rebelde, louca por uma liberdade que não tinha, com ganas de experimentar tudo o que a vida tinha para oferecer. Hoje, compreendo que muito daquilo que eu queria só queria por ser proibido. A minha mãe tinha-me em rédea curta e quanto mais ela me prendia mais vontade eu tinha de escapar. Hoje tenho 4 filhos. Quando tive o último quase pude ler no olhar da minha mãe um sorriso sardónico que dizia qualquer coisa como: «Vais pagar em quádruplo tudo o que me fizeste passar». Senti um calafrio, confesso. Mas enchi o peito de ar e pensei que talvez conseguisse fazer diferente. O mais velho é adolescente (16 anos), outro entre a pré-adolescência e a adolescência propriamente dita (com 13) e os outros dois ainda são crianças. Não posso – nem vou – falar de cátedra porque aprendi que quando cuspimos para o ar, geralmente, cai-nos em cima. Não acho que tenha soluções milagrosas, até porque já assisti a modelos de educação muito parecidos com o nosso que deram asneira, e outros contrários ao nosso que correram na perfeição. Aquilo que corre bem com um pode correr mal com o irmão. A liberdade que se dá a um pode transformar-se num erro fatal com o outro. É um enigma indecifrável. Resta-nos fazer o melhor que sabemos, adaptando a cada filho, e termos a capacidade de nos irmos moldando às circunstâncias.
Porta-se lindamente, é uma ajuda incansável com os irmãos, tem uma adoração pelo mais novo (que tem 3 anos), de quem toma conta com o desvelo de um pai. Por vezes, dá-lhe para a insolência. Mas para mim – que contava com um castigo divino por ter sido tão terrível – isso é o menos. (Também se pode dar o caso de o castigo dos céus estar guardado para qualquer um dos outros filhos... vamos acreditar que não). Ter um filho adolescente traz-nos várias coisas boas (e outras más, como o facto de nos sentirmos mesmo velhas: o quê? Tenho um filho no 11º ano??? Como???? Como, se eu me lembro tão bem de mim no 11º ano???). Entre as coisas boas estão a cumplicidade, o companheirismo, o deslumbramento de vermos o modo como olham o mundo, como estão atentos às notícias e opinam sobre Política Interna, Ambiente, Economia ou Religião, como interpretam o que os rodeia. Ultimamente, o grande desafio tem sido ouvi-lo com ideologias que estão muito distantes das minhas. Discutimos acesamente e, por vezes, desisto de argumentar porque me assustam os seus pensamentos. Por outro lado, acho que faz tudo parte deste processo de crescer. Crescer é rasgar com o que está para trás. É fazer diferente. Pensar diferente.
FILHA ÉS, PAI SERÁS - E AGORA COM UM ADOLESCENTE EM CASA, COMO É? Até ver, a adolescência do meu filho tem sido um mar-chão. O rapaz estuda, tem vários grupos de amigos (de escolas diferentes onde andou), uma namorada. Optámos sempre por lhe dar a chamada liberdade com responsabilidade. Ou seja: ele tem carta branca para ir, dentro das regras estabelecidas, e se algum dia as falhar sem uma justificação suficientemente forte, acaba-se a liberdade (porque se acaba a confiança). O que isto provocou nele foi um certo desprezo por essa liberdade. Como ela é um dado adquirido, deixou de ser um desejo frenético. Raramente nos pede para sair à noite, o que a mim me causa alguma estranheza, porque, como disse no início, tudo o que eu queria era sair. Os amigos vêm cá a casa, ele vai a casa de amigos, de vez em quando jantam fora, e é tudo.
E já que ele não o fez através de borgas malucas (pelo menos para já) ou indisciplina ou insucesso escolar, creio que esteja a fazê-lo ideologicamente, pondo-nos à prova, ensandecendo-nos, fazendo-nos pensar que se está a transformar num ser diametralmente oposto a nós. Mais uma vez, prefiro ver o copo meio cheio e alegro-me apenas com o facto de ele saber que tem a liberdade de pensar diferente de nós. Que possa pensar pela sua cabeça e verbalizar sem que ninguém lhe diga que é parvo (apesar de às vezes apetecer). Ter um adolescente é um exercício para o qual é preciso flexibilidade, jogo de cintura, destreza mental. Dá trabalho. Mas é absolutamente fascinante (pelo menos, para já. Não esquecer que ainda me faltam 3).
Sónia Morais Santos AUTORA DO BLOGUE COCÓ NA FRALDA
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COMO PREPARAR A CHEGADA DA ADOLESCÊNCIA DOS FILHOS & DICAS PARA SE APROXIMAR DO SEU ADOLESCENTE A ADOLESCÊNCIA PODE SER A FASE MAIS ESPETACULAR DA VIDA DE UM JOVEM. AS DESCOBERTAS, AS CERTEZAS E INCERTEZAS, O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO, ASSIM COMO A AUTONOMIA E A LIBERDADE, SÃO O INÍCIO DE UMA ETAPA INCRÍVEL. DEIXAMOS AQUI 5 PONTOS ESSENCIAIS PARA QUE O INÍCIO E O CONTINUAR DA ADOLESCÊNCIA POSSAM SER VIVIDOS COM O MAIOR PRAZER. PREPARAR A ADOLESCÊNCIA
QUANDO SÃO ADOLESCENTES
1. Estar presente
1. Alinhar-se
Educar dá trabalho e os primeiros anos podem ser cansativos, já que a fraca autonomia das crianças exige maior presença da nossa parte. Estar presente não é apenas saber dar a resposta às necessidades básicas, como mudar a fralda, confecionar as refeições ou dar o banho. É brincar, interessar-se e contar histórias, por exemplo.
Pode dizer ao seu filho que o almoço está na mesa via WhatsApp. Também pode colocar o CD favorito dele a tocar no carro sempre que o vai buscar. Esteja atento aos gostos dele. Que tal surpreendê-lo com uns bilhetes para o concerto daquele grupo que ele tanto gosta? Vá com ele! Não tem de gostar, mas partilha com ele aquilo de que ele gosta. Isso não tem preço! 2. Ficar por perto
2. Envolver os miúdos nas tarefas domésticas Como é que vai querer que o seu filho se envolva nas tarefas domésticas aos 6 anos se, com 2 anos, lhe pede para ir para a sala brincar porque se pode magoar consigo na cozinha? Dê-lhe tarefas à sua altura, seguras, mas deixe-o participar. 3. Sentir-se tido e achado É nas tarefas domésticas que falei acima que ele se sentirá envolvido e tido e achado. Mas também se sentirá quando lhe faz o seu prato preferido, lhe mostra fotografias de quando era mais pequeno e lhe fala com meiguice. 4. Limitar e possibilitar
3. Tratar da saúde Se ainda não o fez, marque uma consulta no médico de saúde e deixe-o ir sozinho. Se for preciso, marque também consulta de ginecologia para a sua filha. Os filhos estão a crescer e não é porque estamos a fazer de conta que isso não está a acontecer que a vida não continua. Ensine os seus filhos a cuidarem deles, dando-lhes autonomia e responsabilidade tratarem da saúde deles é um dos exemplos. E eles agradecerão, quando forem maiores, pelos bons hábitos que ganharam consigo. 4. Continuar presente
Os limites são determinantes para que a criança se sinta segura. Não tenha nunca receio de os colocar, mas procure fazê-lo respeitando-o. O seu filho é pessoa a 100% tal como você. 5. Criar momentos de intimidade É bom passarmos tempo com os amigos e com a família mais alargada, mas, se deseja manter um canal de comunicação que se prolongue até na idade adulta, precisa de criar momentos de intimidade onde apenas está presente a família de casa. Este ponto vai dar-lhe créditos no futuro, porque é aqui que se constrói a intimidade em família.
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O seu filho está a ver uma série na sala? Sente-se ao pé dele a ler um livro ou a ver a série também. Não tem de falar sobre o que viu, mas a proximidade, em doses moderadas, só traz vantagens.
Este é um ponto não negociável. Podem ir comprar um gelado ao fim da rua a pé e aproveitarem para pôr a conversa em dia. De um ano para o outro, deixe-os planear as férias - vai ver que se envolvem muito mais e têm mais gosto. Deixe-os mostrar aquilo que cada um deles vale! Puxe pelo melhor que têm 5. Encontrar outro adulto de referência. É importante estarmos perto, mas, de vez em quando, eles precisam de outro confidente. Um primo mais velho, um tio mais novo ou a mãe de um amigo. Ajude o seu filho a ter esse outro adulto que o guiará sempre que ele precisar.
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QUANDO NÃO FOI BEM ASSIM QUE IMAGINÁMOS… por Rita Pais Marques e Magda Gomes Dias
É DA NATUREZA HUMANA CRIAR SONHOS, EXPECTATIVAS E IDEIAS QUE SERVEM DE INSPIRAÇÃO PARA CONSTRUIRMOS OS NOSSOS DIAS. É INEVITÁVEL, POR ISSO, QUANDO SE PENSA EM TER UM FILHO, PENSAR NO FUTURO QUE LHE QUEREMOS DAR E NO QUE VAMåOS RECEBER, NUMA IDEIA DE INTERCÂMBIO DE AFECTOS, EXPERIÊNCIAS E CONSTRUÇÕES. É o lado positivo das expectativas que nos ajuda a fazer acontecer as coisas, e nos dá ânimo, criatividade e força. O lado negativo das mesmas pode criar desilusões e frustrações que se podem prolongar pela vida fora. Educamos os nossos filhos para que sejam autónomos e se responsabilizem pela sua felicidade. À medida que vão crescendo, é fundamental que percamos o poder de decidir na vida deles - afinal é assim que tem de ser. Mas há decisões que podem ser mais difíceis de serem aceites porque não as contemplámos quando, na altura, criámos a tal ideia de futuro. A orientação sexual é um dos temas só que ela não é uma escolha porque faz parte de quem o jovem é. Uma pessoa não escolhe ser homossexual, ela aceita-se. Daí que dizer-se que se faz esta escolha para provocar ou porque está na moda seja uma das justificações que muitos pais parecem encontrar para explicar as decisões dos filhos. Como todos, os jovens são pessoas com identidades próprias, com uma vida que lhes pertence e com uma necessidade grande de serem aceites por aquilo que são, pelos seus gostos e decisões. Desejam, sobretudo, serem aceites pelos pais. Quando as expectativas destes em relação aos filhos são desajustadas podem começar os conflitos, a sensação de frustração, tristeza e raiva. Aceitar algo que não estava previsto é um processo. Aceitar a homossexualidade de um filho é aceitar uma parte da sua natureza. Nesse processo é importante que saibamos escutar e conversar, expondo as nossas questões sem acusar e sem receios, aceitando que pode ser difícil. Mantemos assim aberta a porta da comunicação e da proximidade. Porque se trata de um processo de desconstrução das expectativas, dos sonhos e do futuro imaginado, alguns pais poderão beneficiar de uma ajuda extra para trabalharem as suas crenças e preconceitos que podem minar a relação parental e até conjugal. A melhor ajuda que as famílias podem ter é recorrendo a instituições e associações que prestem informação fidedigna e séria.
Rita Pais Marques PROFESSORA
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• Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo http://ilga-portugal.pt/ilga/index.php • Associação de jovens LGBT e apoiantes https://www.rea.pt/
• Associação de apoio e defesa dos direitos das lésbicas em Portugal https://pt-pt.facebook.com/pg/ClubeSafo/ about/?ref=page_internal • Associação de Mães e Pais pela liberdade de orientação sexual e identificação de género) poderá ser uma ajuda preciosa. Esta foi criada por pais de filhos homossexuais, que sentiram falta de apoio durante o seu processo, com intuito de ajudar outros pais No entanto, a associação Amplos https://amplosbo.wordpress.com/
OS NAMORADOS CIUMENTOS CONTINUAM A SER POTENCIAIS BESTAS – PASSE O TEMPO QUE PASSAR por
Paulo Farinha*
[*Paulo Farinha é jornalista, editor executivo da Notícias Magazine, a revista de domingo do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias, onde assina as crónicas “Vida em Comum”. Pode ser lido aqui: www.noticiasmagazine.pt.] Numa manhã de junho de 2013, enquanto me preparava para escrever uma crónica sobre família e relações para a Notícias Magazine da semana seguinte, disse à minha mulher que pensava atirar-me a um tema que andava a martelar-me na cabeça há uns tempos. Ia escrever uma carta para um marido agressor. Uma coisa em jeito de desafio, confrontativa, dedo em riste. Queria falar de chapadas, murros, gritos mudos, anos de silêncio, cumplicidade dos vizinhos, álcool, ciúme, filhos a assistir. Queria chamar os bois pelos nomes. Literalmente. «Por que não fazes isso, mas para miúdos do oitavo ano?» A Sofia é enfermeira, especialista em saúde infantil e pediátrica, e trabalha numa Unidade de Cuidados na Comunidade. Entre as muitas responsabilidades que tem, falar com jovens sobre temas relacionados com saúde está entre as mais importantes. Ora, naquela semana tinha sido contactada por uma escola que pedia uma sessão de esclarecimento/educação para alunos do oitavo ano sobre violência no namoro. Eu repito. Violência. No namoro. Para alunos do oitavo ano. Oitavo ano! Falamos de miúdos com 13/14 anos. E havia uma escola que identificava aqui um problema nos comportamentos destes rapazes e raparigas, a ponto de pedir uma sessão de esclarecimento/ajuda a um profissional de saúde. Havia ali qualquer coisa que não batia certo na minha cabeça. Então mas esta malta começa já, com esta idade, a ter comportamentos
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violentos? A tentar controlar a vida e relações sociais do outro? Naquela manhã de junho de 2013, depois de uma pesquisa na internet e de alguns telefonemas, escrevi aquela que se tornaria a crónica mais badalada de sempre com o meu nome associado [https://www.noticiasmagazine.pt/2014/oteu-namorado-de-16-anos-nao-e-nervoso-e-uma-besta-3/]. Nos dois anos seguintes – e ainda hoje, pontualmente, os ecos vão-me chegando – aquele texto foi debatido em aulas de educação para a cidadania, falado em colóquios, distribuído entre professores, partilhado entre pais. Fiquei a saber, pelo que li para escrever, mas sobretudo pelo alcance que a crónica teve, que os miúdos que hoje são identificados pelos professores como potencialmente violentos no namoro são os mesmos que um dia mais tarde poderão vir a ser agressores nas relações. Agressores, mesmo. Desses com chapadas, murros, anos de silêncio, cumplicidade dos vizinhos, álcool, ciúme e filhos a assistir. Claro que há aqui uma questão de género que não pode ser assumida de forma leve, linear ou sem margem para dúvidas. Nestas idades, a violência no namoro não é tanto física e ocorre de rapazes para raparigas, mas também de raparigas para rapazes – e elas conseguem ser bem cruéis e implacáveis, entre a manipulação que exercem sobre os namorados e o bullying que por vezes fazem em grupo. No oitavo ano, os agressores não são necessariamente os rapazes que fazem exercer a sua força física. São também as raparigas que fazem exercer os jogos psicológicos. E isso não é menos violento do que um apertão no braço. É apenas uma forma diferente de violência. Passaram quatro anos e meio desde que essa crónica foi publicada e os namorados de 16 anos que não são nervosos, são umas bestas têm hoje 20 anos e alguns deles possivelmente já terão www.parentalidadepositiva.com | parentalidade+
frequentado mais sessões de aconselhamento sobre violência no namoro. Outros já terão dado chapadas às namoradas. Outros já terão ido aos telemóveis delas à procura de alguma coisa. Outros já terão opinado sobre a roupa delas. Outros já terão pedido a password do e-mail delas. E todos eles, esses e os outros, já terão achado que tudo isto é normal. Mas não é. Não era há quatro anos e meio, não era antes disso, não é agora, não será no futuro. Querer dominar e subjugar e controlar alguém não é normal. E quanto mais cedo ajudarmos os nossos jovens a ver isso (pela educação, mas também pelo exemplo), mais cedo erradicamos a violência doméstica e as relações abusivas. Precisamos de medidas mais severas para levar a cabo essa tarefa. Mas educar os filhos que temos em casa é um excelente primeiro passo. Até para eles não se reverem em crónicas como estas. ---------A crónica O teu namorado de 16 anos não é nervoso, é uma besta, foi originalmente publicada na edição impressa da Notícias Magazine a 23 de junho de 2013 e pode ser lida AQUI.
Paulo Farinha JORNALISTA, E DIRETOR EXECUTIVO DA NOTÍCIAS MAGAZINE
TESTEMUNHO por isabel Pina
Descobri o blog da Magda quando fui mãe pela 2ª vez e senti necessidade de adquirir mais conhecimentos, além dos que já tinha, que me permitissem facilitar a adaptação da mais velha ao irmão mais novo. A consulta pontual deu lugar à frequente, pelo interesse que foi crescendo em saber mais sobre o que se apresentava ser uma filosofia de ser pai e mãe, com base no respeito mútuo, alicerçada em estratégias objetivas, simples e práticas sem que nenhuma delas passasse pelo recurso a qualquer tipo de prática punitiva. Quando a Magda avançou com a Pós-graduação recordo-me da ambivalência que senti entre a vontade de aprender mais sobre o tema e de melhorar a minha atuação enquanto mãe e a necessidade quase imperativa de aliar estes conhecimentos à componente profissional, pelo investimento que lhe estava inerente. Profissionalmente, o conceito em si não era novo, mas impunha-se outra questão: teria esta a pós graduação a componente científica e credível que me permitisse realizar esta conciliação? Felizmente resolvi colocar preconceitos e estereótipos de parte e arriscar. Tive o privilégio de fazer parte da 1ª edição da pós-graduação e vivenciar a experiência de superar expectativas. Pessoalmente e enquanto mãe, a pós-graduação veio reforçar e contribuir para a melhoria das minhas próprias competências parentais, conforme esperava. Profissionalmente foi uma agradável descoberta, constatar não só que efetivamente todos os conhecimentos transmitidos se encontram assentes num conjunto de referências teóricas e bibliográficas sólidas, mas também, que se
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apresentam sintetizados num modelo próprio, ou seja num quadro de referência teórico necessário ao suporte de qualquer prática profissional. A este aspeto acresce o fato de o modelo não surgir de uma simples revisão e síntese bibliográfica ao nível da Parentalidade e da Educação Positiva, de anos de experiência onde o mesmo foi sendo implementado e testado com vista à sua aplicabilidade não só junto de técnicos e profissionais da área, mas acessível a qualquer pai/cuidador. Finalmente sendo esta uma pós graduação que não se encontra destinada a um público-alvo específico, acaba por indiretamente ser uma experiência igualmente enriquecida pela “bagagem” pessoal e profissional que cada um dos formandos traz para o grupo, através da partilha de experiências e conhecimentos que é proporcionada ao longo desta formação. Decorrido mais de um ano após o término da pós-graduação e olhando para trás continuo a considerar que foi uma excelente aposta pois continuo a aplicar nos dois contextos os conhecimentos que adquiri. Mais recentemente foi ainda com muito agrado que constatei a aplicabilidade prática do modelo em contextos de intervenção psicológica junto de crianças com alguns diagnósticos de perturbação específica, o que só veio reforçar o que eu já antevia: todo o potencial que o modelo encerra em si e que desafio quem quiser saber mais a conhecer.
PRÓXIMAS DATAS Pós-Graduação em Parentalidade e Educação PORTO 20, 21 e 22 Abril LISBOA Setembro cursos@parentalidadepositiva.com
Isabel Pina PSICÓLOGA E PSICOTERAPEUTA www.parentalidadepositiva.com | parentalidade+
EMPREENDEDORISMO E A ADOLESCÊNCIA - PERFIl
É comum dizer-se que um adolescente não sabe o que quer, pouco faz e que não é ambicioso. Mas a verdade é que todos os miúdos têm capacidades incríveis que merecem ser exploradas e apoiadas. É o caso do Rodrigo e do Duarte, que se deixaram ir e se apaixonaram pelo que fazem atualmente. Por vezes, basta um pequeno voto de confiança para que possam ser mais empreendedores e conseguirem conquistar o seu lugar ao sol… ou, pelo menos, para lá caminharem!
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Rodrigo, lisboeta a viver em Londres. 20 anos. Realização. Escolheu Humanidades “um pouco por força da indecisão” que tinha relativamente aos estudos e pelo facto de não gostar de Matemática nem de Ciências. Sempre gostou de escrever e de contar histórias, de ler e de ver filmes. Foi no 11º ano que descobriu o formato do guião (roteiro de cinema) e que passou a explorar a ideia de poder escrever para cinema. Apaixonou-se especificamente por cinema quando fez o Foundation Year na University of the Arts London em Artes e Audiovisuais. O que era para ser um ano de experimentação acabou por ser mais três, para fazer uma licenciatura em Realização Cinematográfica. Sempre soube que queria regressar a Portugal - a vida de emigrante não tinha sido fácil e queria garantir um bom percurso quando chegasse a Portugal. Rodrigo desejava ser considerado como uma pessoa criativa, capaz de desenvolver projetos. O percurso ganhou nomes de referência e, no início de 2018, lançou o projeto Vila Martel. O gosto pela escrita e pelo cinema fundiu-se também quando passou a escrever críticas para jornais online e blogs especializados na sétima arte.
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Duarte, lisboeta, 19 anos. Escrita e outros projetos Duarte tem 19 anos e é lisboeta puro - nascido e criado. Escolheu Economia no 9º ano, mas foi no 11º ano que descobriu a escrita. Foi no jornal Panorâmico que teve o seu primeiro emprego como gestor de redes sociais e escritor/cronista. Em 2017, altura em que já frequentava o curso de Estudos de Cultura e Comunicação, decidiu concorrer a uma posição de crítico/jornalista na revista musical online Punch Magazine, mantendo-se aí até hoje. Nesse mesmo ano publicou o livro Entre o Sono e o Sonho, uma coletânea de poemas portugueses. Em 2018, deseja ir mais longe: ambiciona alargar e desenvolver projetos pessoais, como a fotografia, marketing e apoio a causas sociais. Como o Rodrigo, a “procissão ainda vai no adro” e estes dois jovens ainda vão dar que falar.
QUANDO OS ADOLESCENTES SAEM DA SUA DA ZONA DE CONFORTO Por Joana Barreiros e Magda Gomes Dias
Aos 15 anos, Teresa inscreveu-se num programa de intercâmbio e realizou o 11º ano integrada numa família austríaca. A vontade de aprender uma língua nova, conhecer uma cultura diferente e viver num sítio com neve e temperaturas baixas ditou a escolha do país. Também fez a vontade aos pais não indo para fora da Europa, mantendo a proximidade de segurança. Teresa é a primeira a sublinhar a importância de um programa desta natureza nesta altura da vida «pois permite desconstruir uma série de ideias, dar mais valor ao que se tem, crescer e, claro, ganhar casas em muitos lados». Os pais não tiveram grande tempo para reagir. “Recordo-me que foi numa terça feira à noite. Disse-nos que tinha um assunto para falar connosco e que tínhamos até sexta feira (dessa mesma semana) para decidir, pois as inscrições terminavam nesse dia», conta a mãe. Apesar da surpresa inicial, Teresa pôde sempre contar com o apoio dos pais. Este apoio reside «única e exclusivamente na maturidade dos filhos e na confiança que neles depositamos», revela a mãe. Talvez a maior barreira tenha sido mesmo a língua, porque a impedia de ter conversas ‘de café’. E isto dava-lhe a sensação de que as pessoas não a conheciam em condições. Com o aumento do domínio da língua, essas limitações foram desaparecendo. Há amigos que ficaram para a vida e outros que lhe são ainda muito próximos. Com a família que a acolheu fala frequentemente. No ano passado, apareceu de surpresa nos 50 anos da «mãe» (é assim que se tratam neste intercâmbio). O mundo ficou, por isso, «pequeno demais», diz a mãe de Teresa. Mas ela ganhou mais do que isto. «Aprendi imenso sobre mim, conheci-me melhor, fiquei mais autoconfiante, engordei bastante, mas chegava a um sítio e sentia-me mais segura”». Conta que, graças a uma das amigas que fez e a uma situação que viveu, aprendeu a lidar melhor com as pessoas e a adaptar-se. As diferenças entre países e culturas podem ser grandes e esta experiência foi determinante para se livrar de alguns tabus e desconstruir algumas ideias. Apesar de também haver momentos mais duros, a confiança e as competências que desenvolveu e o apoio dos pais foram muito importantes. A mãe segue a mesma linha de pensamento, acreditando que este programa a ajudou a aprender a resolver os pequenos e grandes problemas do dia-a-dia, em relação à escola, aos amigos, à família. A Teresa falava com Portugal via Skype sempre que tinha necessidade. «Chegámos a estar sem nos falar um mês! A nossa necessidade de a “ver” e de “falar” com ela passou para segundo plano». Este intervalo entre comunicações deveu-se a uma sugestão dos promotores do intercâmbio, para que exista uma maior integração na nova realidade, sugestão esta que a Teresa decidiu seguir. O apoio dos pais fortaleceu a relação e permitiu-lhe dar mais valor ao que tinha «cá», quer em relação à família como também ao país, ao sol e aos afetos. O regresso foi tranquilo. Na família, como o irmão mais velho disse, parecia que nunca se tinha ido embora. A surpresa veio em relação aos amigos que a esperavam, em peso, no aeroporto. Estivera um ano ausente, mas os laços continuavam fortes. «O que se ganha é universal», diz Teresa, via Skype, hoje com 19 anos, no seu quarto que exibe a bandeira da Áustria, autografada por cada um desses amigos que marcaram esta experiência inesquecível.
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ES RIÇÕ INSC TAS ABER
A AUTO-ESTIMA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
PORTO | 21 MARÇO | 10h00 -17h00 parentalidadepositiva.com
FORA DE CONTEXTO por Francisca Barreiros
Já longe das noticias, só à pequena ilha de Lesbos continuam a chegar centenas depessoas por semana. Juntam-se aos milhares que aí as esperam em campossobrelotados. E eu, no Verão passado, decidir ir conhecê-las. Queria ver para lá dasfotografias e saber mais do que as histórias que saem nos media. Queria descobrir os seus nomes, ver-lhes as caras e ouvir os seus sonhos. Se possível, auscultar-lhes os corações. E assim foi. Chegada à ilha, conheci um dos campos de refugiados que aí existem, e onde iria passar a grande parte dos meus dois meses. Chama-se Kara Tepe e as crianças representam a maioria da sua população. Não falavam a mesma língua que eu, mas as poucas palavras que foram aprendendo de inglês foram suficientes para nos entendermos. Quando se reduzem as palavras, descomplicam-se também as ideias e simplifica-se o coração. É bom. Os seus sorrisos fizeram-me esquecer de onde vieram e os gritos e gargalhadas abafaram as histórias mais tristes que trouxeram. Parecem felizes e pergunto-me se são. A sua inocência traz-lhes pelo menos algum descanso. Não sabem o que trouxe as suas famílias até ali e os dias ao sol chegam até a ser animados. Os irmãos mais velhos e os pais não têm mesma sorte. Sabem do que fogem e que esperanças traziam no coração. Sabem o que deixaram para trás. Sentem na pele que as condições em que se encontram são fruto da indiferença de muitos, e que há pouca vontade de os receber neste novo continente. Como os admiro! Obrigados a fugir das suas casas e detidos na Grécia há meses, sem qualquer perspetiva de futuro, não deixam de acreditar que vale a pena viver. As relações familiares são muito fortes e o dever de cuidar do outro não se deixa abalar pelo futuro incerto. Comi com famílias sírias, aprendi danças afegãs e falei em português com muitos congolenses que passaram por angola. Percebi como o preconceito desaparece quando conhecemos aquilo que até então era estranho. Tantos nomes árabes que agora me trazem memórias boas em vez de associar a terroristas. Tantas músicas que me fazem ter saudades em vez de causarem estranheza. Tantas histórias e sonhos tão parecidos com os meus, apenas com uma grande dose de pouca sorte. Sabia antes e sei agora que não há uma solução óbvia para esta crise de refugiados. Que não são (?) simples os muitíssimos desafios que com ela se levantam. Mas não consigo deixar de acreditar, de forma também simples e óbvia, que somos todos humanos e é-nos, por isso, inerente a mesma dignidade. Se não perdermos isso de vista, a resposta que a Europa precisa de dar não será tão complexa assim
Francisca Barreiros ADVOGADA
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