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Informática
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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 20 de novembro de 2012
A turminha do touchscreen
As crianças usam cada vez mais precocemente aparatos tecnológicos como tablets e smartphones. E as empresas, espertas, criam produtos especialmente para elas. Como escolas e pais devem agir?
» CECILIA PINTO COELHO
“Meus filhos conseguiam facilmente usar essa tecnologia sofisticada.No começo,pensei:‘são meninos prodígios’. Mas,depois,me dei conta de que todos seus amigos também faziam isso,então,minha teoria não era tão boa assim” Don Tapscott, autor do livro A hora da geração digital facilidade com que as crianças, algumas com pouco mais de 1 ano, interagem com tablets e smartphones surpreende até gerações de pais já familiarizados com a tecnologia. O fenômeno traz mudanças na forma de fazer negócios e a necessidade de reestruturar instituições que ficaram paradas no tempo, como a própria escola. A pequena Nicole é um exemplo dessa turminha que vem por aí. Com apenas 1 ano e 9 meses, a filha da administradora Nayanne Gontijo, 23, costuma brincar com o iPad e iPhone da mãe. Sozinha, desbloqueia os aparelhos, acha os aplicativos de seu interesse, passa fotos e procura vídeos. É ela também quem escolhe os clipes musicais preferidos da Galinha Pintadinha no tablet.“Ela dá um banho na gente”, conta Nayanne. “Acho que tecnologia ajuda, é bom tanto para o trabalho quanto para a diversão, mas é preciso ter um limite para não atrapalhar a vida social, por exemplo”, completa. Vários motivos explicam essa tendência: aparelhos de uso amigável e intuitivo, contato cada vez mais amplo com esse tipo de tecnologia e o exemplo em casa, de pais, amigos ou familiares do que o autor Don Tapscott chama de net generation (geração conectada, em tradução livre). Tal denominação refere-se à atual juventude e aos que cresceram em meio a dispositivos digitais. Para o gerente de educação da Intel Brasil, Rubem Saldanha, há diferenças entre as crianças digitais e as demais gerações. “Elas têm maneira de estruturar o pensamento de forma diferente, são crianças hiperlinkadas, fogem um pouco da estrutura linear da escola e têm possibilidade de pular algumas etapas caso queira saber mais sobre um assunto”, comenta.“Uma das vantagens é esse mar de possibilidades, no qual elas podem se aprofundar sobre qualquer tema.”
A
mercado, mostra que o Brasil está entre os três países que apresentam maiores demandas de produtos para crianças na América Latina, ao lado do México e da Colômbia. No Brasil, 49% dos lares com crianças são responsáveis por 52% dos gastos totais nacionais. Um exemplo são as empresas que distribuem filmes pela internet. A NetMovies dedicou um espaço apenas para os pequenos, com títulos em giz de cera e ilustrações de personagens dos desenhos para tornar a navegação fácil e divertida. “Temos mais de 300 mil pedidos de filmes por mês — e cerca de 30% é para o público infantil”, conta CláudiaWoods, presidente da companhia. Além de representar uma demanda crescente nos mercados, a geração conectada traz desafios. As escolas, por exemplo, terão de se adaptar e aproveitar a tecnologia. Games divertidos usados para aprender, possibilidade de entrar em contato com especialistas e consultar livros de bibliotecas de outros lugares são algumas das oportunidades. Mas, com tantas inovações, há também riscos e cuidados a serem tomados. O Brasil é o terceiro país com mais crianças usando dispositivos móveis. Os brasileiros estão atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. O estudo, publicado no fim deste ano pela F-Secure, empresa especializada em soluções de segurança em software e serviços, preocupa os pais que sentem ter menos controle sobre os filhos que utilizam um smartphone do que em um computador fixo na sala de casa. » Leia mais nas páginas 3 a 5
Desafios Nicole, de apenas 1 ano, brinca com o iPad sozinha: geração conectada
Luis Xavier de França/Esp. CB/D.A Press
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De olho nesse nicho, empresários investem e lançam sites ou produtos tecnológicos para crianças. Estudo divulgado no ano passado pela Nielsen, especializada em pesquisa de
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4 • Informática • Brasília, terça-feira, 20 de novembro de 2012 • CORREIO BRAZILIENSE
CONTINUAÇÃO DA CAPA / Acompanhar atividades on-line dos filhos, principalmente quando o acesso é feito por celulares e educá-los para o uso da tecnologia são formas de protegê-los dos cibercriminosos. Confira as dicas que o Informática preparou
Conexão ainda perigosa Breno Fortes/CB/D.A Press
» CECILIA PINTO COELHO
Fique de olho
Brasil é o terceiro colocado no ranking de crianças que têm dispositivos móveis. O estudo, divulgado pela F-Secure, empresa que desenvolve soluções de segurança em software e serviços, mostra que 31 % dos entrevistados confirmaram que a meninada de até 12 anos conta com um aparelho com conexão a internet. Os brasileiros perdem apenas para a indianos, que lideram com 53% dos pequenos conectados por meio de smartphones, e para os americanos, com 37%. E, embora a pesquisa aponte que 91% dos pais estão preocupados em proteger seus filhos , muitos ainda não sabem como ou os riscos que eles correm. O vice-presidente de Vendas e Operações para a América Latina da F-Secure, Ascold Szymanskyj, explica que uma em cada 10 páginas na internet é nociva para crianças ou adolescentes. “Os problemas vão desde vírus a casos de pedofilia, causando riscos para a formação do jovem e até ameaças físicas”, afirma. Para o especialista, os aparelhos móveis criaram uma dificuldade a mais para os pais. “É realmente difícil controlar o que o filho está fazendo em um celular do que em computador fixo na sala da casa”, completa. O major Alan da Silva Dinis, 38 anos, preferiu presentear seus filhos — Beatriz, 11, e Arthur, 12—
O
» Proteja sua senha, ela é sua identidade digital: não a forneça nem como prova de amor, nem de amizade » Não deixe a porta da sua casa aberta. O mesmo vale para seu computador ou dispositivo móvel: mantenha-o fechado para estranhos » Tenha cuidado ao fazer downloads. Baixar um programa sobre o qual não se tem direitos de uso pode ser crime de violação de direitos autorais. Sempre faça menção da bibliografia, site ou qualquer material usado para seu trabalho » Violar direitos do autor e que lhe são conexos pode dar de três meses a um ano de detenção ou multa
Alan Dinis presenteou os filhos com celulares que não têm acesso à rede: preocupação é com a segurança dos jovens durante o uso da internet com celulares sem acesso à internet. “Eles pediram um telefone e achamos interessante porque poderíamos falar mais rapidamente com eles. Optamos por não terem a rede por ser mais barato e me-
nos arriscado para eles, pois podem ser influenciados pelo meio, são muito novos ainda para saber até onde podem ir”, diz. Rodrigo Fragola, vice-presidente de Inovação e Tecnologia
da Aker, empresa que desenvolve sistemas de segurança da informação, explica que não há como evitar o contato dos pequenos com a tecnologia e que a melhor solução é conversar com os filhos
e correr atrás de informações sobre isso. “Existem cartilhas na internet que podem orientá-los. É preciso manter-se informado para não passar informações erradas”, afirma.
» Não faça justiça com o próprio mouse: liberdade de expressão requer responsabilidade. Fique atento ao participar de comunidades para ver se não são racistas, não xingue e não envie mensagens ofensivas Fonte: www.familiamaissegura.com.br
Sem antivírus
sER sUsTEnTÁVEL nÃO É COMPLICADO
Um outro estudo da F-Secure, citado por Ascold Szymanskyj, mostra que, para 75% dos entrevistados no mundo, o mais precioso é o que elas têm guardado dentro do aparelho e não o telefone em si. No entanto, quando questionados sobre a utilização de algum tipo de software para a proteção de dados em smartphones menos de 5% disseram que tinham instalado programas para esse fim.
Alertas do dia a dia valem para a rede
Pequenas atitudes como dar carona, fazer uso racional da água, utilizar lâmpadas econômicas e sacolas retornáveis geram grandes melhorias para o planeta. Fique atento às informações, matérias e d i c a s s o b re n o s s o m e i o a m b i e n t e .
Revista do Correio - Edição Especial Verde 25 de novembro, no Correio Braziliense.
Outra postura importante é alertar a garotada, assim como se faz com outras situações do dia a dia, sobre os perigos virtuais. “Você ensina o filho a não falar palavrão, a não abrir a porta para estranhos, mas você não orienta ele sobre os perigos da internet”, conta. “Também tem que ter um acompanhamento constante. Não é só uma vez que se vai falar sobre o assunto”, completa Rodrigo Fragola, da Aker. Para o perito em crimes digitais e autor do livro Manual do detetive virtual, Wanderson Castilho, o importante é criar políticas e horários com os pequenos. “Mostrar que o aparelho não serve apenas para lazer, mas que também é preciso ter responsabilidade com ele, é fundamental”, diz. “É preciso educálos não apenas fisicamente, mas também tecnologicamente.”
Já a advogada especialista em direito digital, sócia do escritório Patrícia Peck Advogados, Sandra Tomazi Weber, explica que “há vários incidentes cometidos com informações coletadas na internet e que o pai deve ser amigo digital do filho”. Para isso, é importante manter perfis em redes sociais como Facebook e Twitter. Ao se deparar com algum crime, podem recorrer à delegacia, ao conselho tutelar ou, nos casos de pedofilia, denunciar pelo telefone 100 ou no site: www.disque100.gov.br. (CPC)
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60% dos adolescentes entre 10 e 18 anos têm computador em casa 51% das crianças de 6 a 9 anos têm computador em casa 18% das crianças do meio rural têm PC 83% dos adolescentes e 78% das crianças estão conectados à internet 74,7% dos adolescentes têm celulares próprios 49,8% dos adolescentes têm celulares pré-pagos 14,7% têm aparelhos pós-pagos 40% dos jovens afirmam que nenhum professor usa a internet para explicar 11% dos entrevistados aprenderam a navegar com um professor 38,3% das crianças utilizam a internet para estudar e fazer lição de casa 56,8% dos adolescentes desligam o celular na sala de aula 34,5% afirmam que nunca desligam o aparelho durante as aulas 83,5% não discutem com os pais por causa do uso do celular Fonte: Gerações interativas do Brasil — crianças e adolescentes diante das telas
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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 20 de novembro de 2012 • Informática • 3 Joystreet/Divulgação
CONTINUAÇÃO DA CAPA
Além do quadro-negro Estimular o aprendizado por meio de eletrônicos e jogos é desafio para os professores. Especialistas afirmam que a tecnologia deve funcionar como apoio ao modelo tradicional
Jogo educativo criado para atiçar a curiosidade dos jovens: interação
» CECILIA PINTO COELHO geração multiconectada e as constantes inovações tecnológicas trazem à tona a necessidade de mudanças em instituições pouco adaptadas ainda a essa nova forma de pensar e de se relacionar. Esse é o caso de muitas escolas, que buscam alternativas e passam por uma fase de transição. Para a doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora técnica do Instituto Crescer, Luciana Allan, as escolas estão defasadas diante da onda de informatização e das consequentes transformações na sociedade. “A internet tem mudado os processos como as pessoas se relacionam e aprendem, mas a escola continua como era no século passado, com um formato do tempo industrial, com todo mundo aprendendo ao mesmo tempo, dentro de um calendário agrário e com conteúdo medieval”, avalia. Segundo estudo da Fundação Telefônica, publicado no livro Gerações interativas Brasil — crianças e adolescentes diante das telas, 60% dos adolescentes entre 10 e 18 anos e 51% das crianças de 6 a 9 anos têm computador em casa, e 38,3% utilizam a internet para estudar e fazer lição de casa. Com eles cada vez mais conectados, o papel do professor também precisa ser repensado. “Os pequenos estão expostos a informações, mas isso não quer dizer que estejam aprendendo. Então, a função do professor é ainda mais importante que antes. Ele não vai abandonar o conteúdo a ser passado, mas tem que fazer com que elas pensem e reflitam sobre essas informações, que sejam desafiadas”, afirma Luciana Allan. Outra preocupação é o que fazer com os novos equipamentos em sala de aula, como tablets e quadros interativos. O ideal é que os aparelhos funcionem não apenas como suporte para um forma tradicional de se dar aula, mas que também aborde uma nova proposta pedagógica.
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Brasilina Passarelli, professora titular, chefe do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e coordenadora científica do Núcleo de Apoio à Pesquisa Escola do Futuro (NAP) também acredita que as escolas estão sendo desafiadas. “O contemporâneo é complexo, todas as instâncias são afetadas pelas pessoas conectadas. A web horizontaliza as relações de poder e a escola vende relações muito hierárquicas. O aluno fala com todo mundo nas redes sociais, tanto faz ser diretor ou colega, o comportamento da rede não é o mesmo da sala de aula”, diz. Outra diferença entre gerações é forma como tratam as informações. As crianças digitais trabalham com conhecimento de forma fragmentada e têm mais facilidade de pular de um dado para o outro. “Nós o tratamos de forma linear”, avalia Passarelli. Para o presidente da Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames), Fred Vasconcelos, as instituições de ensino devem se adaptar a essa nova realidade. “Os professores são do século 19 e os alunos do século 21. O modelo de ensino é verticalizado e o de aprendizado é horizontal”, avalia. Uma das saídas é a adoção de games educacionais que simulem jogos tradicionais considerados divertidos pela garotada. “Temos tido muito sucesso com isso. Fizemos projetos com toda a rede educacional de Pernambuco, a do Acre e a do Rio de Janeiro. Ao todo são 120 mil alunos e 5 mil professores e 4 mil alunos participando dessa interação”, diz.