REVISTA Nยบ 01
Realização Instituto Nação Coodenação geral João Nascimento
Curadoria
João Nascimento e Paulo Dias
Produção executiva Fernanda Rodrigues
Produção operacional
Alexandre Alves e Tata Nzimga
Formatação e edição Fernanda Rodrigues
Arte
Achiles Luciano casadalapa
Textos:
Celito João Nascimento Lucas Marchezin Paulo Dias
www.escoladosamba.org.br
SUMÁRIO
Heranças Africanas..............................................................................04 Aprendendo Histórios na Escola do Samba......................................10 O Samba e Alma, Espírito... Cultura!.....................................................13
HERANCAS AFRICANAS , Por João Nascimento, Percussionista e Arte Educador
Mãe áfrica engravidou em Angola Partiu de Luanda e de Benguela Chegou e pariu a capoeira No chão do Brasil verde e amarela Paulo César Pinheiro
Nas heranças africanas encontram-se fortes raízes culturais do povo brasileiro que nos tornam o que somos e o que seremos no futuro. A África como berço do mundo e da humanidade, contribuiu de forma significativa para a formação da cultura brasileira através dos diversos povos Bantos, Jêjes, yorubás e outras etnias que aqui chegaram. Em um processo de realimentação cultural entre Brasil e África, uma ponte se forma a partir do intercâmbio cultural entre esses povos, numa perspectiva esférica e mutante, num olhar orgânico e emotivo que se funde e se amplia por um leque de percepções, gestos, sonoridades, ambientes, imagens e sentimentos de uma África viva e dinâmica contida em cada um de nós brasileiros. “Negro é raiz, negro é raiz Me orgulho por isso me sinto feliz Negro é raiz, negro é raiz Essa pele negra foi tudo que eu quiz” Jovelina Perola Negra
A formação cultural do nosso país não pode ser vista sem a participação do negro africano. Esse legado se faz presente em todas as construções sociais: na música, na dança, na culinária, na literatura, nos costumes, na religião, nas roupas e na história, assim como também é marcante a presença dos nativos índigenas e de outros povos imigrantes. Entretanto, olhar para a história brasileira é também compreender como as raízes do preconceito racial e da discriminação foram alimentadas pelo fato de os negros terem chegados ao Brasil como “escravos mercadorias” durante muitos anos. Seus cultos religiosos e tradições culturais foram perseguidos até meados do século XX e este preconceito está enraizado no cerne da sociedade brasileira contemporânea.
O samba é uma expressão cultural brasileira que nasce das manifestações populares de matriz de etnia Banto. Mesmo tendo sua origem fincada na cultura africana, desenvolvendo-se principalmente nos terreiros de candomblé e batuques de comunidades negras, o samba tornou-se simbolo da diversidade cultural brasileira, sendo visto no mundo como um dos principais cartões postais do Brasil, penetrando por diversas camadas sociais, valores culturais eurocêntricos cristalizados na discriminação racial e religiosa. Hoje, o samba está presente em diversas instâncias e territórios sócio-culturais urbanos e rurais, nos terreiros, nos morros, nas favelas, nos botecos, nos vilarejos, bares de bairros nobres, na televisão, etc. Quando inserido no contexto mercadológico fonográfico, dialogando diretamente com o “mainstream”, conteúdos relacionados a origem negra africana vão sendo diluidos e maquiados.
Hoje a festa é nossa, não temos muito para oferecer Mas os atabaques vão dobrando, com toda alegria de viver Festa no quilombo, noventa anos de abolição Todo mundo unido pelo amor, não importa a cor, vale o coração Nossa festa hoje é homenagem, à luta contra as injustiças raciais Que vêm de séculos passados e chega até os dias atuais E então, reverenciamos a memória Desses bravos que fizeram nossa história Zumbi, Licutan e alumá Zundu, Luís Sanin e Dandará E os quilombolas de hoje em dia, São Candeia que nos alumia A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes gravado em 1980
A LEI Nº11.645/08 complementar a lei 10.639/03, define que nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Todas as escolas devem ter em seu conteúdo programático estudos da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. Apesar disso, a maioria dos alunos e professores ainda não conhecem a contribuição histórico-social dos africanos e indígenas ao país.
Neste contexto, torna-se essêncial manter viva as tradições culturais brasileiras, atividades comunitárias sócio-educacionais que valorizam devidamente a cultura negra e indígena herdada pelos nossos ancestrais, que foram preservadas e repassadas de pai para filho e hoje estão presentes no cotidiano da sociedade brasileira. Somente a partir da cultura de um povo é possível conhecer sua identidade, e o samba faz parte da identidade brasileira. É extremamente importante conhecer as raízes, os principais compositores e personagens da história do samba e outras manifestações de matrizes africanas e indígenas.
“Um sorriso negro, um abraço negro, traz felicidade Negro sem emprego, fica sem sossego, negro é a raiz da liberdade Negro é uma cor de respeito, n egro é inspiração Negro é silêncio, é luto, n egro é a solidão Negro que já foi escravo, negro é a vo z da verdade Negro é destino é amor, negro também é saudade” Dona Ivone Lara
Na África os Griôs além de preservarem a história, assumem papel fundamental também em formar outros novos griôs. O griô tradicional tem a missão de guardar a memória cultural de seu povo e contá-las por várias gerações, tornando-se em um ancião, um guru das tribos. No Brasil, a figura do griô se mantem viva, nos quilombos, nas aldeias indígenas e também presente em diversas manifestações populares urbanas e rurais, em contextos educacionais informais, onde o saber é transmitido através da oralidade proferida por mestres conhecedores de temas variados da nossa cultura. No samba, cada letra carrega consigo um pouco de nossa ancestralidade, construindo fotografias poéticas do cotidiano de cada compositor, estilhaços soltos de um caleidoscópio que se molda no tempo, transformando cenários que retratam a memória cultural de uma época e contam histórias do passado.
“Meu avô preto de angola, sentado na sua estera Contava pra criançada, história da capoeira Foi brinquedo de criança, veio lá de sua terra Em defesa de seu povo, já virou arma de guerra Ele me falou também, que em busca da liberdade Negro se refugiavam no quilombo de palmares Quando eles defrontavam o opressor que li seguia Era perna que jogava, era gente que caia” Geraldo Filme
Assim como a capoeira, o jongo, o batuques, o coco, a chula, o tambor de crioula, o maracatú, o carimbó; o samba também é fruto das manifestações africanas trazidas pelos negros, desenvolvendo-se no Brasil dentro dos terreiros. Em cada região, o samba assumiu identidade própria de acordo com os costumes sociais, gerando diferentes características, formas peculiares que podem ser identificadas nas diversas estruturas poéticas, nas melodias, nas vestimentas, nos instrumentos e outros componentes influenciados pela cultura regional de cada lugar onde o samba se faz presente. É preciso navegar, pra poder se esclarecer Do lado de lá do mar, é preciso ver pra crer (...) Samba vem lá de Angola, não vem da Bahia, não Samba vem lá de Angola, não vem lá do Rio, não. João Nogueira
Embora o sotaque carioca e bahiano tenham se destacado no universo da música popular brasileira, vale ressaltar também a forte presença do samba em outras regiões do Brasil. No sudeste por exemplo, podemos destacar uma importante tradição nos batuques de umbigada, rodas de jongo e samba de bumbo. No meio deste caldeirão de referências e transfusões etnico-culturais, hoje o samba possui diversas vertentes e sotaques, características próprias de cada região que transita desde a tradição até os tempos mais modernos, podendo citar: o samba de roda, samba de cabula, samba de terreiro, samba de mesa, samba-enredo, samba de côco, samba de bumbo, samba lenço, samba canção, chorinho, samba rock e outros gêneros espalhados pelo Brasil. Escola do Samba nasce nesse contexto, um projeto que além de valorizar a cultura brasileira de matriz africana, tem o propósito de investigar o samba em suas diversas vertentes e ramificações, propiciando a comunidade uma oportunidade de conhecer parte da nossa história, através da riqueza cultural de cada manifestação, compreendendo os códigos africanos presentes na essência contida em cada região que mantém viva essa tradição. Tornando-se referência na cidade de São Paulo pela continuidade em manter viva a tradição do samba, o Escola do Samba ressignifica o espaço configurando-se em um “Quilombo Urbano”, local de resistência simbólica onde cultuamos nossa ancestralidade e a liberdade de cantarmos a nossa história.
É preciso navegar, pra poder se esclarecer Do lado de lá do mar, é preciso ver pra crer (...) Samba vem lá de Angola, não vem da Bahia, não Samba vem lá de Angola, não vem lá do Rio, não. João Nogueira
Desde sua origem em 2008, foram realizadas 19 edições do evento Escola do Samba, contando com importantes sambistas do cenário da música popular brasileira. Promovido pelo Instituto Nação, os eventos acontecem no Ponto de Cultura Afrobase, núcleo de educação e cultura negra localizado no Rio Pequeno, periferia da zona oeste de São Paulo. Em um ambiente informal de interação social, o evento Escola do Samba propicia a comunidade um espaço de aprendizado e troca, onde os artistas contam histórias e cantam músicas prestando homenagens à importantes sambistas e comunidades tradicionais que mantém viva expressões culturais brasileiras de matrizes africana. Com propósito de descentralizar a cultura e promover o acesso a comunidades menos favorecidas economicamente, o Escola do Samba ressignifica o espaço urbano da periferia da zona oeste de São Paulo, em local de resistência simbólica e identidade etnico-cultural, fortalece a auto-estima da população afrodescendente, o sentimento de pertencimento do indivíduo em seu grupo, sua comunidade e sua cidade. Neste projeto, a roda de samba é o principal campo de ação, assumindo papel fundamental capaz de aproximar indivíduos, dissolver fronteiras, harmonizar conflitos e relações, transportar pessoas para novos estados de espírito e reflexões sobre cultura de paz e diversidade.
Aprendendo HistOria na Escola do Samba: a arte ancestral dos batuques Por Paulo Dias, mĂşsico e pesquisador
Nas edições de 2014 do Projeto Escola do Samba foi aberta uma nova trilha conduzindo à ancestralidade africana, com a presença de mestres vindos de comunidades que mantêm tradições afro-brasileiras como o jongo e o batuque de umbigada. Centrado, até então, em homenagear os compositores que edificaram a história e fixaram o conceito de samba, na voz de intérpretes consagrados, o projeto passa a contemplar, também, os avós do samba, os batuques de terreiro que o antecederam historicamente e participaram de seu processo de formação.
Foto: Eduardo Rufino
Assim, as atenções se voltaram para mestre Totonho, representando o Jongo do Tamandaré em Guaratinguetá, SP e para mestre Dito Assunção, do Batuque de Tietê, SP. Ambos deram aulas magnas sobre as suas tradições musicais, em clima descontraído, maravilhando o público com suas narrativas, suas cantorias e seu pé de dança. Novidade, ainda, foi a inclusão da Velha Guarda Musical do GRES Camisa Verde e Branco, a mais antiga de São Paulo, que se apresentou sob o impacto da perda recente de um de seus membros, o sambista paulistano Nélson Primo. Outro destaque a engrossar e dar gosto ao caldo do nosso samba foi a presença do carioca Nei Lopes, sambista maior e grande pesquisador das tradições afro-brasileiras. Militante de um samba negro ligado às suas origens - desde os tempos do GRES Artes Negras Quilombo, de Mestre Candeia - Nei dignifica a arte do partido alto, herdeiro direto do jongo, como foi também o caso do próprio Candeia, de Mano Décio da Viola e de Mestre Fuleiro. Ainda na linha das práticas tradicionais banto-brasileiras, o baiano Mestre Kenura trouxe a capoeira, prestando homenagem ao Mestre Azulão, além do samba de roda, formas de expressão presentes no emaranhado de raizes da qual o samba vai brotar como gênero musical e coreográfico. Nessa escola, muito aprendemos, ainda, com as interpretações empolgantes e belas dessa estrela maior do samba paulistano atual, nossa Fabiana Cozza.
Jongo e batuque de umbigada participam de uma grande família de tradições musicais de matriz banto que o antropólogo Edison Carneiro identificou como sambas de umbigada, em publicação de 1960. A presença da umbigada na dança, trocada entre casais ou entre mulheres de forma efetiva (como no batuque) ou sugerida (como no jongo), seria o traço comum a todas elas, além de certas estruturas poéticas. Entre homens, a umbigada dá lugar à pernada ou rasteira, como na tiririca paulistana que havia no Largo da Banana. Também característicos da família dos batuques de terreiro (designação que preferimos a sambas de umbigada) são os conjuntos de tambores feitos de tronco de árvore ocado e esculpido, de barricas ou de tanoaria, geralmente afinados a fogo, tendo a presença de matracas (paus batidos no corpo dos instrumentos) , puítas (cuícas graves) e chocalhos ou ganzás. No sudeste temos como representantes dos batuques de terreiro o jongo do Vale do Paraíba (em todos os estados), o candombe Minas Gerais, o batuque de umbigada e o samba de bumbo do oeste de S. Paulo, que contam parentes por todo o país: o samba de roda baiano, o tambor de criola maranhense, o carimbó paraense, o zambê do Rio Grande do Norte, entre outros.
Auê, meu irmão café, diz o jongo de Nei Lopes, sugerindo o cenário para onde foram deslocados , às centenas de milhares, os deportados do Congo, de Angola e de Moçambique pelo tráfico escravo no século dezenove principalmente, e também os escravizados movidos por um tráfico interno na etapa final do escravismo brasileiro. Originários de diferentes lugares da África Central, mas compartilhando de línguas e princípios civilizatórios muito semelhantes, os banto do Sudeste se (re)organizaram em comunidades, e mesmo sujeitos ao ambiente altamente restritivo do cativeiro diaspórico, uniram forças para tramar , a partir do fio da memória coletivizada, modos próprios de expressão social, religiosa e artística. E de lá pra cá vem-se tecendo, a partir dos terreiros e quintais, capelas de irmandades negras, tendas de umbanda e ilê axés, quadras de escola de samba, nas ruas, praças e avenidas, o amplo e multifacetado manto da cultura musical neo-banto sudestina. No Sudeste, os batuques de terreiro se desenvolvem como espaços de vivência, de articulação religiosa, política, de comunicação e de resolução de conflitos situados fora da esfera dos aparelhos ideológicos dominantes, espaços de liberdade conquistados e mantidos em grande medida pelas artes engenhosas do camaleão. Formas de expressão poéticas, tamboriladas e corporais criadas a partir de linguagem simbólica comum às culturas banto conferem à festa negra o poder de se colorir conforme o contexto, assumindo diferentes matizes de sentido segundo quem a observa. Nos pontos de jongo e nos movimentos da capoeira reside o princípio estratégico de um dizer, dois entender. Nas rodas noturnas iluminadas pela fogueira, a ambiguidade da metáfora desorienta o casca de coco, a pessoa que é de fora (no dizer jongueiro) e não detêm a chave de sentido dos pontos, ao mesmo tempo que seu caráter secreto resguarda e reforça a identidade do grupo. Assim, pela astúcia e criatividade, o pequeno camaleão vence o temível jacaré , conforme ensina o ponto de jongo do Quilombo S. José da Serra, no RJ:
Foto: Eduardo Rufino
Na ponte funda Camaleão Jacaré quer me comer Mas ele não come não
Era por meio de ponto de jongo, dizia a saudosa jongueira Dona Mazé, que eram comunicadas as coisas entre os cativos na senzala, sem que os brancos se dessem conta. A roda de jongo representava o espaço próprio para os diálogos entre os membros da coletividade, efetivados por meio de poemas cantados acompanhados de tambores e dança. Diferentes situações se sucediam nas rodas de antanho, do culto religioso a antepassados e elogios aos viventes à crônica social do grupo, passando por acirrados e enigmáticos debates em torno do conhecimento ancestral. Assim se teriam constituido as diferentes categorias de pontos de jongo: louvação, visaria e demanda, inspirados, ao que tudo indica, nos provérbios e nas adivinhas tão presentes na literatura oral dos povos banto . A palavra jongo parece provir do termo jango (quimbundo) ou ondjango (umbundo), significando casa/lugar de conversa e designando uma forma de parlamento tradicional presente em aldeias angolanas até a atualidade. Segundo o mestre jongueiro Antonio Marcondes Filho, o Totonho do Tamandaré, só entrava numa roda de demanda quem soubesse responder aos pontos obscuros e cheios de mironga formulados pelos jongueiros cumba, os sábios. Jongueiros de outros lugares vinham disputar primazia com os jongueiros do bairro em longos entreveros que atravessavam a noite, até que um deles saísse vencedor. As palavras secretas proferidas nos cânticos desses conhecedores tinham a virtude de interferir no mundo físico, amarrando tocadores a seus tambores e fazendo os jongueiros incautos caírem adormecidos perto na fogueira, para no dia seguinte não se lembrarem de mais nada. Nas ingomas do Sudeste, perdura a crença africana no poder que tem a fala de construir e destruir, expressa na locução umbundo undaka usongo: a palavra é uma flecha. Também Mestre Dito Assunção apontou o Batuque de Umbigada das cidades de Tietê, Piracicaba e Capivari como uma celebração da comunidade negra onde se sucediam diferentes gêneros poéticos: abria com o elogio, versado em carreiras, estrofes longas sem acompanhamento dos tambores, para louvar o dono da festa, mexer com alguém ou tratar de assuntos de fundamento da tradição batuqueira (carreira fundamentada), seguidas pelas modas, com estrofes mais curtas e coro de resposta, acompanhada de tambu, quinjengue, matraca e dança de umbigada, trocada entre batuqueiro e batuqueira. O tema das modas varia, podendo versar sobre acontecimentos presentes e passados da comunidade, seus personagens, seus valores e sua história. Como no jongo, os modistas e carreiristas das diferentes cidades rivalizavam entre si, procurando atingir um ao outro com seus versos, assumindo o evento a forma de um desafio cantado. Hoje em dia a coisa está bem diferente, e a forma de diálogo ou desafio vai cedendo lugar a sequências de canções que necessariamente não se encontram conectadas por assunto.
Foto: Eduardo Rufino
Foto: Eduardo Rufino
Cronistas e historiadores do Brasil colonial e imperial registraram batuques de negros tanto em áreas rurais quanto urbanas. No século dezenove aconteciam com frequência na cidade do Rio de Janeiro, capital do Império, seja em espaços públicos, seja em residências e chácaras. Com o termo batuque esses autores designam diferentes manifestações envolvendo canto, dança e tambores, de caráter mais interno e reservado, praticadas pela comunidade afro-descendente. Temidas pelos brancos por se constituirem em grandes ajuntamentos de negros, reputados perigosos numa época em que se acirravam as tensões escravistas e se multiplicavam os levantes de escravizados , os batuques são alvo de sucessivas proibições a partir de 1820. Além disso, no plano da religião os batuques eram condenados como pagãos, e no da moralidade eram tidos como sensuais pela presença na dança de movimentos de quadril e sobretudo da umbigada, sendo qualificados como diversão desonesta dos negros pelos autores que os descreveram. E justamente esse repertório corporal dos batuques, a dança ritual de corte entre homem e mulher, ainda presente no batuque de umbigada e no jongo, é possivelmente uma das matrizes mais antigas – e banto-africanas - da mímica de galanteio que marca a atitude corporal do casal mestre-sala e porta-bandeira nas escolas de samba. A movimentação do mestre-sala em torno de sua dama, sem lhe voltar as costas e olhando-a sempre nos olhos, como num jogo simbólico de sedução, remete, em especial, à dança do casal no jongo ou caxambu, herança de ex-escravos vindos do Vale do Paraiba fluminense e paulista e de Minas Gerais para os subúrbios e morros do Rio após a abolição. Naturalmente, outros padrões corporais, negros ou brancos, também impregnaram o precioso bailado do casal, das danças elegantes vindas da Europa à ginga maliciosa da capoeira.
Segundo diferentes pesquisadores, no Rio de Janeiro a poética do jongo teria influenciado a prática repentista do partido alto (com versos partidos ou repartidos entre dois ou mais versadores, enquanto a assistência se ocupa do refrão), gênero de samba trovado que embalava as celebrações familiares em quintais como o da famosa Tia Ciata nas primeiras décadas do século XX1. No Rio de Janeiro, jongo e samba encontram-se frequentemente associados: sambistas ligados ao surgimento das primeiras escolas de samba foram jongueiros e partideiros de fama. É o caso de Aniceto do Império e Mestre Darcy do Jongo, baluartes do Império Serrano, agremiação surgida no morro da Serrinha, onde ainda hoje se mantém um grupo de Jongo. Esse compartilhamento social entre as duas modalidades também acontece em outros lugares, como na cidade paulista de Guaratinguetá, onde jongueiros como Totonho e Jefinho costumam ter seus sambas-enredo premiados na Escola de Samba Unidos da Tamandaré. Na cidade de São Paulo das primeiras décadas do século XX, as agremiações negras características do carnaval paulistano eram os cordões, com estrutura semelhante à dos ranchos cariocas. Nessa época, os sambistas da capital tinham por hábito frequentar festas do catolicismo popular negro em cidades do interior com grande densidade de população afro-descendente, como as do chamado Oeste Velho paulista - para onde, a partir de meados do dezenove, se expandira a cultura cafeeira, e, consequentemente, o trabalho escravo africano. Costume fortemente arraigado entre os sambistas de cordões como o Barra Funda (futuro Camisa Verde e Branco) e o Vai-Vai era peregrinação à Festa do Bom Jesus, que se realizava no dia 6 de Agosto em Pirapora. Nesse festejo, eles participavam das rodas de samba de bumbo, manifestação que também integra a família dos batuques de terreiro. Dançado ao som da zabumba, da caixa e do ganzá, o samba de bumbo esteve presente em cidades como Rio Claro, Campinas, Jundiaí, Vinhedo, Santana do Parnaíba, Pirapora e Mauá, sendo hoje objeto de revitalização, assim como o batuque. Paralelamente à celebração católica (com missa e procissão) , aconteciam encontros entre diversos batalhões de samba de bumbo, cada qual proveniente de uma cidade da região, os quais rivalizavam entre si em noitadas memoráveis evocadas nos versos de Geraldo Filme:
Lá no barraco Tudo era alegria Negro batia na zabumba E o boi gemia
Dessas celebrações participavam sambistas ligados aos primórdios do samba paulistano, como Dionísio Barboza, Pé Rachado e Geraldo Filme. Mário de Andrade observou rodas de Samba de Bumbo também na capital, nos anos 30, durante o carnaval. Já no plano munical, o padrão rítmico de base das escolas de samba teria como matriz o toque do samba de roda, correspondente ao toque de cabula dos candomblés angola, ambos trazidos ao Rio pelos migrantes baianos, ao que se foram somando outros toques sagrados como o congo de ouro e o aguerê de iansã (presentes, por exemplo, nos padrões das caixas e dos taróis). Pois, como diz Carlos Negreiros, quem tocava pri santo, tocava para o samba. 1
Outra modalidade tradicional com a qual os primeiros sambistas paulistanos tinham familiaridade era o batuque de umbigada. A Festa de São Benedito em Tietê, onde se dança o batuque, foi ponto de encontro de artistas negros ligados ao samba. Alguns dos baluartes da Velha Guarda do Camisa Verde e Branco, como Tio Mário, ainda guardam na memória os batuques que frequentaram – alguns deles, inclusive, realizados na cidade de São Paulo, como o que acontecia até os anos 70 na Vila Santa Maria, Zona Norte da Paulicéia, berço do Camisa. É de se supor que os padrões de movimentação próprios dos batuques paulistas (jongo, batuque, samba de bumbo) como os gestos de galanteio, a umbigada ou o deslocamento em alas paralelas, tenham impregnado a corporalidade dos sambistas paulistanos, em sua maneira peculiar de sambar e de evoluir no carnaval dos cordões, até a adoção do modelo da escola de samba carioca. Também no plano rítmico (marcha sambada) e mesmo no da instrumentação (presença de bumbos graves na bateria), os cordões paulistanos mostram possível influência do samba de bumbo do interior paulista, como destaca nosso cidadão-samba Osvaldinho da Cuíca.
Foto: Ed
duardo Rufino
Foto: Eduardo Rufino
Do terreiro para a avenida, da avenida para o sambódromo, fazer cultura, para os afro-brasileiros, sempre implicou necessariamente em ser muito criativo. Na batalha da população negra por inserir suas formas de expressão nos espaços consagrados de arte e de lazer das cidades brasileiras, tratou-se de fazer maravilha com poucos recursos materiais - em compensação, com muitos espirituais. Na arte espiritualizada que comunidades afrodescendentes rurais e urbanas refundam na diáspora, a invenção é permanente. Não se tira canto sem sotaque, nem se reproduz um toque de tambor duas vezes do mesmo jeito, enquanto, na dança, a movimentação individual de cada dançante enriquece o tempero do passo marcado. É a pessoalidade dando corpo e nuance ao coletivo, ao mesmo tempo que a ele se interliga e funde. Na perspectiva de um pensar africano que aqui se espraia, o coletivo nasce da soma das individualidades, sem que se procure anulá-las buscando uma padronização da expressão de cantos ou de movimentos de dança. Na cultura dos terreiros, todos podem colaborar no processo criativo que reorganiza, no aqui-agora, a memória da África. Essa somatória de forças vitais tem poder de convocar o sagrado, e nos momentos em que a roda se fecha em torno dos tambores, a comunidade se fortalece espiritualmente com o ngunzo, força mística, dos ancestrais. E sob o manto sagrado deles se abre a ingoma2.
Ingoma ou angoma é a palavra de origembanto (ngoma) utilizada em comunidades negras brasileiras, significando tambor e, por extensão, o grupo de pessoas que celebra ao som do instrumento. 2
Foto: Eduardo Rufino
Foto: JosĂŠ William
Foto: Eduardo Rufino
O SAMBA E ALMA, ESPIRITO... CULTURA! Por Selito SD Somos nós, os nossos, não somos eles, os outros. Caminharemos mais e melhor a partir de nossa própria história. Não se trata, definitivamente, de negar e nem desrespeitar a história do outro.1
Alma, é isso que o Samba é. É o que entendo ser o Samba. É deste modo que, penso, ele deve ser compreendido. Assim como, por exemplo, o Maracatu, o Jongo, o Congado, o Carimbó, o Boi e outras tantas manifestações culturais afrobrasileiras - marcadas profundamente pelo sagrado - é, o Samba, muito mais que musicalidade ou música, essa entidade compreendida, de modo geral, equivocada e muito superficialmente. O que ocorre em relação à música, no meu entender, é uma compreensão tosca e entorpecida a partir da qual ela só é considerada esvaída da essência que lhe dá, o conjunto dos outros elementos e/ou valores que constituem ao que se denomina cultura, da qual lhe é imposta a separação. Deste modo, o Samba, nesse processo que se notabiliza por valorizar a folclorização, a estereotipia, a exotização, a pasteurização e a espetaculização, acaba reduzido a gênero musical – meramente entretenimento. Torna-se um produto, uma mercadoria, resultante da produção massificada e ou alternativa destinada a nicho específico – biscoito fino –, num caso; e vulgarizada – bolacha d’água –, noutro. Todavia, o processo é conduzido, sempre, pela indústria cultural. Parece óbvio que tomada isoladamente, a música (aí, já menos que musicalidade), jamais poderá ser compreendida e apreendida de modo completo. Tratar-se-á, apenas e tão somente, de um ente reduzido e coisificado, apartado daquilo que lhe é complementar: os já supra citados elementos do conjunto de valores denominado cultura, o qual permeia e é por ele permeado, impactando-o e dele sofrendo impacto. Dando-lhe e dele obtendo significado.
A propósito, as ideias constantes neste ensaio norteam-se por noções básicas segundo as quais cultura pode ser designada como: • “ato, efeito de cultivar, desenvolvimento intelectual, saber; estudo, elegância; esmero; conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores morais e materiais, característicos de uma sociedade”;2 • Ou, filosoficamente, “o conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou comportamento natural”;3 • Ou; no sentido lato, “o aspecto da vida social que se relaciona com a pro dução do saber, arte, folclore, mitologia, costumes, etc., bem como à sua perpetuação pela transmissão de uma geração à outra”;4 • Ou, sociologicamente, “pode simbolizar tudo o que é apreendido e partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo e que confere uma identidade dentro do seu grupo de pertença. Já que para a sociologia não existem culturas superiores e nem inferiores, posto que a mesma é relativa, daí derivando o termo relativismo cultural, segundo o qual a cultura, por exemplo, de um país não é igual à de outro, isto é, diferem nas maneiras de se vestir, e agir, têm crenças, valores e normas diferentes, ou seja, têm padrões culturais distintos”;5 • Ou ainda, antropologicamente, a cultura pode ser entendida como a totalidade de padrões apreendidos e desenvolvidos pelo ser humano. E, de acordo com definição conceitual primeva sob a etnologia, a cultura seria “o complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”;6 Portanto, corresponde, neste último sentido, às formas de organização de um povo, seus costumes e tradições transmitidas de geração para geração que, à partir de uma vivência e tradição comuns, se apresentam como a identidade desse povo.7 Dessas sintetizadas noções do significado de cultura é que advem a idéia de alma e espírito entendidas como sinônimos ou coisas muitíssimo mais que próximas da cultura. Pois se o ser humano é um ser social - vive em grupo -, por conseguinte, todo e qualquer humano é portador de cultura. Toda e qualquer pessoa possue cultura. Já que é fato que todo e qualquer grupo de indivíduos vive, a priore, sob um conjunto de regras de convívio que normatizam seu cotidiano; regem seus hábitos, regulam o seu modo de vida. Daí a opção pelo entendimento orientado pelas proposições que apontam para uma compreensão da cultura como um ente açambarcador da diversidade, não hierarquizada e, logo, desvencilhada do jugo da indústria e ou evolucionismo culturais.
Deste modo, para o Samba, para a gente do Samba, entendo que deve prevalecer aquilo que se sabe de si, o que se apreendeu e se apreenderá da própria história de vida, da história dos seus em pertença, história do grupo de pertencimento. Em relação às coisas - os valores - dos demais grupos, que não devem ser desconsideradas, devem prevalecer as coisas - os valores do próprio grupo enquanto centrais. E devem prevalecer, não por valerem mais que aquelas coisas dos demais outros grupos. Mas sim por pertencerem ao seu grupo e, por isso mesmo, não valerem menos. A proposição aqui é a de que sejam entendidas as expressões culturais: Maracatu, Jongo, Congado, Carimbó, Boi, etcetera, como pertencentes, cada uma delas, a um grupo de indivíduos cujo conjunto de características o diferenciam dos demais. Assim, temos que cada um desses grupos possui uma identidade própria. Identidade que, dentre os diversos elementos que a constitui, possui a música ou musicalidade, ente pelo qual, via de regra, acaba única, exclusiva e equivocadamente conhecida. Cabe, entretanto, atentar para o fato de que todos esses grupos possuem caracterírsticas que os aproximam, conformando um grupo maior de portadores de característica que os universalizam, a saber: a afrobrasilidade. Posto que refletem, em suas práticas cotidianas, idiossincrasias de matrizes culturais africanas, heranças essas de diversificadas origens em África e que, desterradas pela diáspora, aportaram por aqui (na Terra Brasilis) em lugares e tempos diversos. Já fragmentadas e, às vezes, apenas resquícios. Todavia, seus portadores submeteram-nas a importantes processos de ressigfinificação, que implicaram em sincretismos entre si, possibilitadores da manutenção das identidades, das histórias, da continuidade – do sentido da vida –, a partir de processo de recriação. Daí, decerto, decorre um fortíssimo hibridismo entre suas práticas. Mas, importa apontar para a diversidade lá e cá, antes e depois da diáspora. E, como já foi dito, o conjunto de elementos característicos e próprios de cada grupo o diferencia dos demais e, conseqüentemente, faz aproximarem-se os indivíduos que lhe são internos, dando-lhes identidade própria e singular. Tais elementos implicam o comportamento, os costumes, o jeito de ser, os hábitos, os valores adotados e que marcam e são marcados pelo dia-a-dia, pelo cotidiano. E, é óbvio, tudo isso inexoravelmente se faz refletir na música, na musicalidade, bem como nos demais entes (culinária, ritos sagrados, etc.) que expressam os fazeres do grupo. E os muitos grupos possuem características comuns que os aproximam, constituindo um grupo maior marcado por uma universalidade dada por características gerais. É o caso dos exemplos utilizados.
No Samba, para além da historiografia oficial, há uma grande diversidade. É diverso o povo do samba. É necessário, para uma melhor compreensão, atentar para a instituição, em tempos idos, do fenômeno Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, submetida ao DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda, criado à 27/12/1939 e composto por cinco divisões: Divulgação, Turismo, Imprensa, Cinema-Teatro e Rádio, projeto getulista de integração nacional, que impactou contundentemente, com o intuito de controlar e homogeneizar, as culturas do/no território nacional. Meses depois, por meio do decreto-lei n. 2.557, de 04/09/1940, foram instituidos os DEIPs, Departamentos Estaduais de Imprensa e Propaganda, como tentáculos do DIP nos Estados, buscando a cooperação dos então governadores. O DIP fornecia suporte técnico e doutrinário, de modo que os DEIPs fossem expressão do pensamento getulista e o interpretassem para os governos estaduais. 8 É dessa intervenção na música que surge o samba-exaltação, cujo ponto de partida é marcado com “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, em um momento que imperante nos centro urbanos eram o samba e o maxixe, os primeiros capturados, enquanto gêneros musicais, pela indústria cultural. Isso, em um momento em que, suporte do regime pós Revolução de 1930, os populares urbanos já tinham suas expressões musicais veiculadas, desde o fim da década anterior, nas primeiras radios. É então que, intelectuais como integralista Luiz da Câmara Cascudo (e modernistas, inclusive) ligados ao Estado Novo, concluem ser necessária a “depuração” e direcionamento desses “gêneros folclóricos carentes de erudição” a ser dada por compositores como Ary Barroso e Radamés Gnatalli, por exemplo.9 Muito fortemente combatido foi o Samba-Malandro, pois no Estado Novo, a ojeriza ao trabalho, cuja origem devia-se às suas precárias condições na vigência do escravagismo, não podia ser tolerada. Afinal, “as condições de desigualdade se haviam extinguido no novo regime!” E a malandragem tratava-se, então, de um anacronismo histórico não mais tolerável. O DIP decidiu eliminar a figura do malandro e o elogio à malandragem, por duas linhas de ação, a saber: cooptação e rigorosa censura. Só em 1940, 370 músicas e perto de 100 programas de radio foram censurados por conta de seus temas e linguagem utilizada (gírias, vícios de linguagem, etc). E quanto à cooptação dos sambista, é sabido, foi a época na qual destacados boasvidas dos morros cariocas passaram (por malandragem) a exaltar as vantagens do trabalho e da vida regrada. Icônico exemplo é a samba “Bonde de São Januário” (Ataulfo Alves e Wilson Batista, 1940) que na escrita original seu refrão dizia: “O Bonde São Januário / leva mais um otário / que vai indo trabalhar”. E após suposta interferência do DIP, nasceu a versão conhecida:
“O Bonde São Januário / leva mais um operário / sou eu que vou trabalhar”. Verdade ou não, fato é que “regeneração” de malandro, da exaltação do trabalho e da família, tornou-se tema corriqueiro dos sambas do período.10 Contudo, é possível, caso se queira, perceber sob o vel da indústria cultural, a diversidade contida no universo sambístico - do rural ao urbano. Diversidade do povo do samba migrado para o, então, maior e principal centro urbano brasileiro, retirante de localidades e regiões diversas - fluminenses e do território nacional. Dentre essas localidades e regiões estavam os centros menores. E mesmo em lugares não centrais como, por exemplo, a então provinciana cidade de São Paulo, capital do estado homônimo, também havia Samba, já que havia, parece óbvio, muitos negros. Povo do Samba migrado dos interioranos cafezais, com suas características próprias e uma história quase que só veiculada pela oralidade, documento vital para os da cultura. Portanto, rumando para a finalização deste, quiçá, meio confuso escrevinhado, pautado pela proposição de um outro jeito de apreender a música - musicalidade -, cabe enfatizar que se for para entender o samba como mero gênero musical, podem ser considerados sambistas, tanto, inclusive, quaisquer indivíduos do sudoeste asiatico, como quaisquer outros, da escandinávia, por exemplo, que cantem, toquem e/ou dancem (ainda que à sua maneira), o samba. Mas... É preciso que o Samba se conheça; faz-se necessário que saiba mais de si mesmo, das suas coisas para que possa dar continuidade à sua linhagem. Tem a responsabilidade, o Samba, de melhor se conhecer, para se fazer conhecer melhor. Para seguir em frente, garantir o seu futuro, que será vivido e vivenciado pelas gerações futuras de sambistas. Elas que receberão o legado que vem sendo passado com a marca das gerações ancestrais, e no qual terão que colocar a sua marca, e legar para os que continuarão vindo também colocarem a sua. Pois só assim o Samba seguirá mais e mais fortalecido, imortalizado, e tornando os seus, melhores e mais firmes. Melhoria e firmeza a serem expressas por sua música - musicalidade. Fato é que o Samba, aqui discutido, é muito mais que (e anterior à) arte; é muitíssimo mais que música (de si um recorte). É cultura! Saudações Sambísticas!