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Opinião

Almerinda Bento

M.A.G. do SPGL

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O 8 de Março em tempo de pandemia

Estamos a breves dias do 8 de Março. Há um ano estivemos na rua, juntas, sem máscaras, nem com cuidados de distanciamentos e abraços. Festejámos com alegria, com a alegria de estarmos juntas a lutar pela igualdade, pelos direitos, pela dignidade das nossa vidas, sem constrangimentos e com a certeza de que há tanto por fazer, sem nunca ignorar nem desprezar o legado de avanços das nossas irmãs lutadoras do século passado e as conquistas decorrentes da democracia alcançada no 25 de Abril de que também nos sabemos sujeito político colectivo. Este ano, reinventámo-nos. Online, nas redes sociais e também nas ruas. Com a consciência clara de que houve muitas mulheres no nosso país e no mundo que ficaram para trás. Que o desemprego bateu mais forte nelas. Que as violências se exacerbaram e que o confinamento trouxe perigos acrescidos quando a presença física de agressor e vítima se tornou inevitável. Que as mulheres mais vulneráveis e precárias tiveram de se deslocar em transportes públicos onde o distanciamento não existia. Que a luta se tornou mais difícil, porque a nossa força colectiva ficou mais atomizada, dispersa e sem a visibilidade das ruas. Neste breve texto, gostaria de trazer aqui um estudo do Gabinete de Estudos Sociais da CGTP recentemente divulgado e que atesta o desequilíbrio de género, nomeadamente no que aos rendimentos diz respeito. Segundo esse estudo, no quarto trimestre de 2020, constata-se que as mulheres ganharam menos 14% do que os homens. Quando se comparam os rendimentos mensais e não apenas os salários, o diferencial global foi de 17,8%. Na Administração Pública, as mulheres são apenas 41% do total de dirigentes superiores, embora sejam 61% dos trabalhadores do sector. Em Abril de 2019, cerca de 31% das mulheres recebiam o salário mínimo face a 21% dos homens. Segundo a OIT, a actual crise pandémica “está a ter consequências mais negativas em Portugal em termos salariais, do que em outros países da Europa e, particularmente, entre as mulheres trabalhadoras.” De entre os 28 países da Europa que foram analisados, Portugal foi o país onde houve maiores perdas salariais entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020, de forma mais agravada entre as mulheres. A média da perda salarial para homens no 2º trimestre de 2020 foi de 11,4%, enquanto a média para mulheres foi de 16%, ainda segundo esse estudo da OIT. As denúncias destas desigualdades sociais são geralmente o foco do movimento sindical. No entanto, o sistema de opressão que decorre do sistema capitalista tem múltiplas facetas que se expressam no sexismo, no racismo, na homofobia, na transfobia, na marginalização de pessoas com deficiência e idosas. Desta multiplicidade e complexidade de áreas e de campos de acção se ocupam outros movimentos sociais, mas o movimento sindical, pela sua dimensão e abrangência não se poderá alhear destas causas, antes, deve integrá-las, fazendo com que a população se possa rever cada vez mais num sindicalismo de classe, plural, solidário e socialmente interventivo. Este ano, em plena pandemia, de novo os movimentos sociais e o movimento sindical encontrarão os instrumentos para reivindicar o direito à igualdade, à não discriminação e a determinação de não deixar que a pandemia seja utilizada como instrumento de retrocesso nos direitos das mulheres. Não esquecer que elas são metade da humanidade e que se elas param, o mundo pára.

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