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Devemos ampliar a significação social das entidades sindicais e da adesão das mulheres ao sindicalismo

• Paula Santos

IDirigente do SPGL . Pré-EscolarI

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Aminha experiência e sensibilização sindical iniciou-se cedo, no seio da família. O meu pai foi membro ativo do seu sindicato e pertencente à organização da comissão de trabalhadores da sua empresa, logo no pós 25 de Abril. Logicamente isto teve em mim uma grande influência. A importância do sindicato como garante de direitos e deveres, de justiça, equidade e o seu papel fundamental num estado democrático foi para mim algo sempre inquestionável. Presentemente os sindicatos são instituições reconhecidas e sua ação é admitida como fator de regulamentação e fiscalização dos salários, da jornada de trabalho e da legislação social. É graças à ação sindical que a Lei dos Salários é controlada pelos próprios operários. Mais ainda: o papel dos sindicatos é fornecer aos operários alguns meios de resistência na sua luta contra os excessos do capitalismo. Essa luta subsistirá enquanto a redução dos salários continuar a ser o meio mais seguro e mais fácil para o capitalista aumentar os seus lucros, ou seja, enquanto durar o próprio sistema de salário. A simples existência do sindicato é a prova disso: se não lutassem contra a usurpação do capital, diz Engels, para que serviriam? Os sindicatos representaram, nos primeiros tempos do desenvolvimento do capitalismo, um progresso gigantesco da classe operária, pois propiciaram a passagem da disper- são e da impotência dos operários aos rudimentos da união de classe. Lembremo-nos, porém, que essa influência não significa um vínculo obrigatório entre o Sindicato e um Partido. O que é necessário, isto sim, é que, sendo um local fundamental para a organização operária, os sindicatos devem procurar levar sua luta em consonância com aquela luta política mais ampla de emancipação da sociedade cuja direção é dada pelo partido político. Por um lado, além do seu aspeto institucional, as organizações sindicais transparecem para a sociedade como sujeito coletivo, produtor e catalisador de uma imagem social dos trabalhadores, mobilizador de anseios por mudanças, formador de demandas, constituindo-se como negociador junto a outros atores sociais. Mas agora, falando como mulher sindicalista, e para reconhecer os desafios como tal, devemos ampliar a significação social das entidades sindicais e da adesão das mulheres ao sindicalismo, não só como uma experiência coletiva, mas também como uma esperança pessoal. No seio de um sindicato cada vez mais representante do género feminino dentro da classe docente, as trabalhadoras priorizam, como ulterior marca da assimetria de gênero, a disparidade entre homens e mulheres no acesso às instâncias de decisão. É no interior de um raciocínio que tem conseguido evidenciar a visibilidade social da penetração feminina no mercado formal do trabalho que se faz agora presente o interesse de, no in- terior das organizações sindicais, onde se verifica um progresso da igualdade: repensar o significado da inclusão das mulheres nas instâncias formadoras de projetos reivindicativos. Pensar sobre o modo como as trabalhadoras e os trabalhadores vivem a admissão nos sindicatos, isto é, avaliar como e através de quais custos pessoais o sindicato emerge como experiência que contribui para remodelar as relações sociais de gênero. Esta reflexão, problematiza a transformação da subjetividade dos indivíduos em relação à mobilização sindical. Que intensidade de engajamento exige a militância sindical das pessoas? Como é que esta militância reorganiza as atribuições e a autoimagem de feminilidade e de masculinidade? A vida familiar, as relações homem/mulher, os valores de referência - a tenacidade, a disponibilidade, a dedicação ao trabalho político, a forte carga emotiva - são todos elementos que muitas vezes podem colocar-se como profundamente transformadores nas vidas das pessoas e profundamente seletivos. O movimento sindical deveria ajudar a detetar em cada prática produtiva os sentidos culturais e sociais criados, promovidos e transmitidos pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras. Se a nossa classe fosse constituída maioritariamente por homens, todas estas questões e reivindicações pelas quais hoje lutamos existiriam? Esta é a questão que quero deixar na luta sindical que hoje vivemos e que questionamos.

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