Invisibilidade Urbana II

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INVIS IBIL IDADE II


INVISIBILIDADE URBANA II

Em março de 2014, os alunos do primeiro ano da Escola Viva visitaram o centro da cidade de São Paulo e entraram em contato com os mais diversos personagens e espaços da vida urbana. Sensibilizados, os a lunos escreveram crônicas que procuram dar voz àqueles que nem sempre conseguem existir em meio ao caos da metrópole e observaram a geografia de uma cidade em constante mudança. Olhar para as frestas de asfalto que passam despercebidas e dentro das quais n asce a flor e a náusea, desafiar os papéis sociais e trazer à tona o que há debaixo do betume das calçadas sobre as quais distraidamente andamos é o objetivo desta coletânea. As ilustrações foram produzidas reutilizando -se imagens dos trabalhos em artes visuais.

Professora Gabriela Fonseca Professora Flávia Arruda


Olhos de quem vê O Piano e a Ferrovia

Alexandre Kotujansky Forte

Um Novo Universo

Camila Kiraly

O Amontoado de Bloquinhos Chamado São Paulo

Daniel Peralta

Será que peixes são tão inteligentes assim?

Gabriel Freitas

Olhar de Mãe

Lucca Estanislau Garcia

O Ensinador

Victoria Duran

Sobe e Desce Pequenos Poemas, Grandes Palavras

Vítor Pires de Medeiros

Crônica

Carlos Juliano Cardozo Jr.

Crônica

Carolina Barretto

A Arte por Outro Olhar

Felipe Klinger

Crônica

Caio Pasquali

Meu Relacionamento com o Centro

Jade Stecca

Três por Dez O Papai Noel

Margot Kullock

Caminhando pelo Comércio

Rafael Leal

Dentro de Si

Thais Hainke

Ética

Ana Thereza Constantino

Compro e Vendo Ouro

Artur Mesquita

Uma esmola aí, tio! Ela

Lucas Martins Meireles

Crônica

Caio Militelli

Sementes

Rebecca Fuji


Olhos de quem vê


O Piano e a Ferrovia A l e x an d r e K o t u j an s ky

A pianista to cava. Tocava a música das partidas. Tocava a música das chegadas. Tocava a trilha dos trilhos. A pianista tocava a trilha dos atrasados, que não tinham tempo para ouvir. To cava o tema dos apressado s, que nem se davam conta de sua existência. A pianista tocava a mú sica dos tra balhado res, que se preparavam para mais um dia de serviço. Tocava a melodia dos trens, a harmonia dos vagões, e os acordes das multidões que os espe ravam. Tocava a música das idas. Tocava a músicas das vindas. Tocava a música

dos

viajantes

e

dos

empregado s.

De

sua

mente

eram

improvisados os sons emitidos pelo instrumento musical, lo calizado no centro do salão. A pianista não tocava na Sala São Paulo, no Concertgebouw, ou no Teatro alla Scala. Não fazia parte da OSESP, da Filarmônica de Viena, ou da Filarmônica de Berlim. A pianista nunca estudou música, arte o u qualquer outra matéria. Não tocava em uma fechada e enclausurada sala de concertos, para um pequeno, culto e sile ncioso grupo de apreciadores de música erudita. A pianista tocava para o mundo. Sua plateia era maior do que a de qualquer espetáculo ou orquestra do planeta. Dos seus dedos saíam as notas, que formavam a melodia, a qual transmitia um novo significado à estação, uma nova ideia à arquitetura neoclássica, um novo sentido às estruturas metál icas importadas da Grã-Bretanha cerca d e cento e cinquenta anos atrás. Em um único dia, a pianista marcou a vida de centenas de pessoas. Algumas ne m perceberam sua presença. Há as que pararam por alguns segundos para ouvi -la e depois seguiram seus caminho s. E existem outras que escreveram crônicas sobre este pequeno momento na Estação da Luz, mais um caso curioso dos milhares que acontecem diariamente na gigantesca cidade de São Paulo .


Um Novo Universo Ca mi l a K i r a ly

Estão conosco cinco dias de sete. Na maior parte do tempo tomam o cargo de nossos pais por meio período para nos ensinar sobre tudo e mais um pouco. Aposto que era isso no que eles estavam pensando ao chegarmos ao centro de São Paulo . ― Camila, ande mais rápido , o grupo inteiro esta lá na fr ente. Viviam falando isso para mim, e como era o Felipe, meu melhor amigo, saí correndo. Ao me aproximar d o grupo chegamos em uma casa, nem muito grande, nem muito pequena, mas que possuía uma cor avermelhada que se destacava das ou tras do bairro. Ao e ntr ar nela percebi que além de chamativa era com a maior certe za muito confortável. Subi as escadas que eram de madeira e rangiam a cada passo dado. Entrei e m uma sala e me sentei em um puf que afundou ao ter contato com o meu corpo. Após alguns segundos perg untei ao Felipe o que iríamos fazer, e onde estávamos. ― Estamos onde surgiu o grupo feminist a Ilu Obá de Min. Iremos ver um vídeo que ele s prepararam especialmente para o nosso grupo. Professores, esses sim tem os conhecimentos para enriquecer os caminhos transitados. Caminhos esses que nos tiram da rotina da sala de aula e nos levam a u m universo desconhecido até então. ― Bom dia, gente. Meu nome é Lucia, sou a fundadora desta instituição. A moça tinha uma pele escura, seu sorriso e ra amigável, aparentava ser fumante, pois seus dentes eram amarelados. Vestia um traje florido com d etalhes roxos e brancos. Seu cabelo era curto e cacheado,

tinha

mechas

claras,

o

que

a

deixava

com

o

rosto

arredondado. ― Meu papel aqui é de mostrar um vídeo para vocês, espero que gostem. O filme co meçou, eu estava cansada, o dia tinha sido muito puxado. Sem perce ber tinha caído em um profu ndo sono, e só fui acordada após o filme terminar.


― Camila, acorda! ― Ai, meu deus, desculpa, estou envergonhada, não queria ter dormido. Lu cia conversou comigo sobre o filme e pediu para eu descer e me juntar com os colegas. Avistei meu grupo saindo da casa e me juntei a eles. Decidiram nos levar ao outro lado da cidade. Nos ensinaram que onde existe igualdade também e xiste desigualdade. No s guiaram hoje para o mundo atual no qual a mulher tem palavra.


O Amontoado de Bloquinhos Chamado São Paulo Dan i e l P e r al t a

Atire a primeira pedra que m nunca brincou quando criança com aqueles pequenos bloquinhos de madeira em que cada bloquinho representava uma parte de alguma construção. Por ter apenas cinco opções de bloquinhos, ficar fazendo se mpre as mesmas co nstruções se tornava algo tedioso, o que consequentemente acabava de spertando a criatividade,

fazendo

com

que

assim

você

aca basse

criando

um

amontoado de estruturas completament e sem sentido algum, ali imerso naquela semi-cidade zinha de bloquinhos. São Paulo não cheg a a ser muito diferente das semi –cidadezinhas que construímos qu ando crianças enqu anto em outras cid ades vemos que existe um padrão na constituição de edifícios. Em São Paulo, enquanto na rua da esquerda há um pequeno prédio retangular, sem erro em sua simetria; na rua da direita t emos construído um gigantesco prédio de puro design, onde suas curvas e ondulações d eix am você enjoado de tanto ficar tentando entender aquela estranha estrutura. E na

rua

seguinte

também

acabaremos

tendo

mais

um

prédio

extremamente diferente dos anteriores, e assim por diante, formando então novamente, aquele gigantesco amontoado de constru ções. Aquele

mesmo

pré dio

perfeitamente

simétrico

foi construído

justamente para abrigar os imigrantes que vinham para São Pulo em meados do século vinte, e hoje está sendo ocupado por manifestantes do MST. E aquele prédio ondular, construído recentemente com o intuito fracassado de tentar afastar a classe baixa e atrair a classe alta, ainda continua abrig ando aquela galeria de arte daquele artista plástico que só os mais culto s ainda o conhecem. E assim, entre sua s praças, prédios, bairros, continua a b rin cadeira de bloquinhos de São Paulo .


Será que peixes são tão inteligentes assim? Ga br i e l F r e i t as

No meio de lago tinha uma aliança. No meio da aliança tinha um lago e ali do lado tinha um peixe. Que carpa feia. Acho que num lago no meio do centro de S ão Paulo poderiam existir carpas mais bonitas ou até outro tipo de pe ixe, mas acho que carpas são o ú nico tipo de peixe que consegue distinguir que as pessoas se casam e jogam a sua aliança num lago por terem perdido o seu grande amor, perante a Deusa do amor e das alianças perdidas e das carpas. Deus fez as carpas para serem as ajudantes desses corações partidos, ou até mesmo elas são só uns peixes burros que não sabem de nada e daqui a duas semanas, depois que ela s já tiverem comido tudo o que podem, aquela aliança vai pare cer be m mais apetitosa. Mas me veio a ideia de que aquelas carpas daquele específico lago são especiais, que elas foram comprad as numa categoria especial do mercado negro de carpas e de que aqueles pequenos e insignificantes círculos de ouro também fazem parte desse meio... rárárá talvez a gente que joga os seus círculos amorosos nesse lago esteja passando a sua “má sorte” para as pobres carpas, que quando se casarem, usarão uma aliança de um amor que não existe mais, ou irão comer as alianças, como eu já disse . Mas isso cabe a elas.


Olhar de Mãe L uc c a E s t a n i s l a u G ar c i a

O sol escaldante do meio -dia queimava intensamente sobre o teto de zinco e vidro da Estação da Luz na grande metrópole brasileira. Todos

corriam

agitados,

pe los

corredores

da

estação

centenária,

atrasados para che garem a seus destinos, sempre observados pelos grandes olhos da ant iga São Paulo Railway Company. De repente uma jovem mulher de aproximadamente vinte anos com longos cabelos marrons embaraçad os ap arece. Totalmente fora de si não sabe o que está acontecendo ou onde está, pelo contrario, ao invés de agitada, correndo ou preocupada como o resto das pessoas, ela está apenas sentada sobre um dos degraus frontais da grande estação de tijolos. Ela não sabe onde está. Seu olhar perdid o não é de entendimento de onde ela se localiza, como chegou ali e qual rumo seguir. Ela está apenas lá sentada e sozinha, sem sorrisos ou expressões, porém após algum tempo percebo que ela não está sozinha. Ela tem um filho, u m bebê, alguns meses no máximo . Mas quando ela olhou para seu filho de itado em uma cama feita de cobertores de lã rasgados e sujos a apenas alguns metros dela, ela deixou sua expressão de seriedade para trás, e com um olhar de orgulho observou seu filho . Um sorriso de mãe apareceu, um sorriso que parecia ter o poder de mudar a vid a dela. Pelo menos ela tem alguém, penso so zinho.


O Ensinador Vi c t o r i a Dur an

A praça estava vazia. A penas um aglomerado de adolescentes em frente um banco onde um mendig o de aproximadamente quarenta anos estava sentado. Ele estava aparentemente limpo , usava uma calça furada, que passara por tantos problemas junto a seu dono. Seu cabelo era grisalho e o sorriso não saía de seu rosto. Ele tinha expressões de cansaço. De sua boca não parava m de sair perguntas aleatórias, sobre todo tipo de assunto, "Vocês sabem alguma historia de Machado de Assis? ", "Quem são os jogad ores de 98? ". Na verdade não tenho ideia, futebol é apenas uma arte para assistir e não para tomar conhecime nto profundo. "Vocês dão valor a vida ?". Sinceramente , não sei. Curto a vida ao máximo, porém nunca parei para refletir sobre o que faria se soubesse que minha vida acab aria em poucos instantes. Entre estas perguntas havia algumas respostas com tom de dúvida vindas dos estudantes que o cercavam. Foi aí que um dos meninos perguntou -lhe como foi que o homem acabou nas ruas, já que ele era t ão culto e sabia responder com certa facilidade e com um tom de superioridad e humilde todas as perguntas que ele próprio fazia. Porém a resposta para a pergunta fei ta pelo aluno foi surpreendente: e le disse que era tene nte e acabou sendo expulso do quartel, pois brigou com seu superior e b ateu nele. Ao final d a conversa ele se despediu, com certa triste za estampada em seu rosto e os adolescentes bateram palmas para ele , expressando curiosidade e alegria com a entrevista ine sperada, afinal tinham entrevistado um ho mem culto e simples que encantou a tod os, principalmente a mim.


Sobe e Desce


Pequenos Poemas, Grandes Palavras Ví t o r P i r e s d e M e d e i r o s

Na cidade de São Paulo, quase nunca temos tempo para observar a paisagem, ou de falar co m as pessoas na rua. Presos à nossa rotina agitada, não olhamo s ao nosso redor e não vemos pequenas coisas que acontecem na cidad e. O grupo da Escola V iva foi a uma praça movimentada, na hora do almoço, horário em que as pessoas comem rapidamente para voltarem a seu trabalho. Justamente por isso, eu e meu colega escolhemos poemas para

serem

recitados

aproximadamente

10

a

estas

metros

pessoas.

avistamos

um

A

uma

senhor

distância de

idade

de que

aparentava possuir 60 anos. Seu cabelo grisalho, suas roupas de estilo anos 90 e seus sapatos de couro chamaram nossa atenção. Estávamos convictos de que ele era a pessoa certa. Gostamos muito do seu jeito original de andar. Com sua bengala branca, ele andava em passos curtos, de maneira muito elegante. Aproximamo -nos de ste senhor. Perguntamos seu no me. ― Antônio Carlos Pereira. Voc ês estão fazendo propaganda de alguma marca de ro upa, por acaso? - perguntou. Respondemos então que estávamos lá para recitarmos um po ema. Não pude deixar de reparar em seu rosto um olhar de curiosidade. Pegamos então o papel do bolso e lemos o poema. ― Este poema é de Carlos Drummond de Andrade - eu disse. E agora, José? A festa acabou, a lu z apagou… Antônio olhava com cara de admiração o poema. Eu imag inava então o que se passava em sua cabe ça. Eu mesmo estranharia se minha caminhada fosse interrompida por dois jovens querendo recitar um poema. Mas seus olhos estavam fixos no papel. Era cu rto, não demorou mais que um minuto. ― Este poema é meu preferido de Carlos Drummond . Muito obrigado, por recit á-lo para mim. - disse Antônio. Depois de nos agradecer,

Ant ônio

cumprimentou -nos.

Suas

mãos

balançavam

de

alegria. Antônio continuou ent ão andando com sua elegante bengala de madeira em seu ritmo devagar. Seu sorriso marcou meu dia. Com essa experiência, pude notar que simples gestos como recitar um poema podem marcar nosso dia. Muitas vezes ficamo s presos à rotina agitada, porém uma curta poesia pode nos deixar mais felizes.


Crônica Car l o s J u l i an o C ar d o z o J r .

É pedir demais conhecer pessoas dedicadas ao trabalho? Pois é, sou umas dessas pessoas, ou seja, tudo o que eu ou ço, vejo e toco é uma fonte de divers ão ou, segundo minha mãe, de distração. E quando estou com amigos , saia de perto ou pegará minha doença contagiosa: Retardus Amigulis Causadio . Um desses exemplos foi um acontecimento hil ário, típico de pessoas jovens e babacas, como é meu caso. Estava eu, no centro de São Paulo, especificamente no Largo do P aissandu, após quase morrer andando pela Avenida São João. Se pergunta por quê? A Escola Viva estava no período mágico e ao mesmo tempo entediante de Estudo de Meio. Tivemos que andar, ou melhor, nos arrastar pelas ruas do centro da cid ade. Acho que eram quatro horas da tarde. O monitor que nos acompanhava, o Feio (na verdade o nome dele era Carlos) nos deu um tempo para fazer as comandas de Portugu ês, Sociologia e outras mais entediantes (sinceramente, eu não fiz nenhuma). Então nos deu o tempo de uma hora para perambular pela Galeria do Rock com um ou mais parceiros. Fomos

eu

e

a Bobbs ,

quer

dizer

Carol,

minha

melhor amiga.

Tínhamos planejado, desde o início quando soubemos que iríamos para lá, comprar camisetas, anéis e colares do HIM (a banda favorita dela), pois havia semanas que ela me enchia o saco porque a banda viria ao Brasil fazer um show especificamente dali a quatro dias. Uns bons minutos se passaram e nada. Acabou que quase nenhum lugar tinha coisas do HIM, não porque não eram conhecidos, mas porque tinha acabado o estoque de artigos. Lá

pela

centésima

loja

(era

o

que

parecia)

e

quase

desistindo, achamos (aleluia!) algo que prestava. Era em uma loja de roupas normais e lá estavam: duas camisetas pretas com os símbolos da banda. Estávamos cerca de 10 minutos atrasados para o encontro com o nosso grupo então compramos elas rápido e descemos do último andar para nos encontrar com o nosso grupo e voltamos a nos arrastar pelo centro até o nosso hotel onde relaxamos nossos pés e eu e a Carol concluímos: missão cumprida.


Crônica Car o l i n a B ar r e t t o

Já planejávamos esse momento havia dias, e não víamos a hora de iniciar nossa busca. Nela, t ínhamos um objetivo, que n ão viria a me satisfaze r diretamente, quanto menos a ele, meu fiel, insepar ável e melhor amigo Caju. T ínhamos apenas 45 minutos para realizar nossa difícil

e,

um

tant o

quanto...

desesperadora tarefa.

T í nhamos

de

encontrar ao menos um, n ão importava qual, apenas um, era tudo que precisávamos. Mas

esse

não

seria

qualquer

presente,

seria

especial,

seria

perfeito. E não seria para qualquer um, seria para alguém especial, também. Mas esse alguém não receberia apenas um presente, receberia um dos itens que já veio a ter uma vez, ma s foram todos quebrados. Me comprometi a ajudá -lo, e Caju se comprometeu a me ajudar. Desde que soube da destruição de tal, quis ajudar, até que ele me deu mais um GRANDE motivo... Ele começou a me presentear e me ajudar com a minha coleção. Já que ambos fazemos cole ção das mesmas coisas , a única

diferença

é

a

banda

a

qual

fazemos,

co lecionamos,

principalmente, CD’ s, DVD’s e vinis. E le com suas bandas favorit as (Aghast View) e

(Biopsy), e eu com a minha,

(H. I. M. - His Infernal Majesty). Enfim... O t empo começou a correr e, eu e o Caju também. Sabíamos mais ou menos por onde começar. Não precisaríamos ir ao subsolo e nem no térreo, pois lá com toda certeza não t eria o que procurávamos. Nessas horas, conhecer bem o lugar é se mpre muito bom. Estávamos lá no primeiro andar, olhamos um para o outro e eu o puxei para come çarmos logo. No primeiro andar fomos a umas cinco lojas, pelo menos, e nada. Tudo que pude dizer para o Caju foi “Sabia que isso ia ser foda”, mas não perdi o foco, e fomos direto para as escadas.


No segundo andar, fomos a pelo menos onze lojas, mas nenhuma tinha também. Mas o que mais me frustrava, cansava e irritava um pouco, era o fato de várias das melhore s lojas de CD ’s de lá estavam fechadas.

Sempre

que

pass ávamos

por

uma

fechada, e u

grunhia

“Que ódio”, e o Caju ria e me dizia para ter calma. Corre mos para o terceiro andar, j á não aguentava mais vendedores dizendo que nunca nem sequer tinham o uvido falar das band as. Fo mos novament e passando de loja em loja, at é que um vendedor disse que o nome n ão lhe era estranho, e como j á tinha comprado CD ’s raros com ele, n ão duvidei que fosse te r, então já comecei a me animar bastante. Ele foi procurar pela loja, e depois checou o sistema, mas não tinha nada, nenhum CD ou qualquer coisa relacionada às bandas. Que decep ção, tinha ficado tão empolgada... me desanimei um pouco, mas n ão parei. Aind a no terceiro andar, fomos a outra loja. A vendedora não hesitou . Disse que conhecia a banda Biopsy e tudo. Voc ê não faz ideia de como aq uilo foi bom de ouvir. Abracei o Caju e disse “Finalmente. Conseguimos ”. Pra quê...? ! Ela ainda n ão tinha terminado a frase. Me pediu desculpas. Não entendi o porquê. Então ela me disse que não recebia material deles há cinco anos. Aquilo acabou comigo. Ha via só mais algumas lojas para checar, passamos em todas e nada. Depois disso, fiquei inconformada com a situação. Fiqu ei não, ainda estou.


A Arte por Outro Olhar Felipe Klinger

Após decidirmos o que iríamos fazer para que fossemos vistos na Praça da República, tivemos a ideia de cair no chão como se tivéssemos desmaiado. Ocupamos quase todo o local de circulação e com isso todas as pessoas que passavam por lá nos o bservav am com caras e gestos estranhos. Alguns questionavam a nossa ação, ou tros achavam totalmente incomum. Depois de praticamente um minuto deitado, todos levantaram e saíram andando em direções variadas, sem falar nada, co mo se nada tivesse acontecido . Essa experiência foi muito importante para perceber quais são as reações da população com coisas fora do cotidiano. As pessoas estão acost umadas a verem coisas que veem todos os dias e, quando ocorre uma coisa inesperada ou inédita há uma reação de espanto ou incô mod o. Logo

após

voltamo s

comentar sobre o acontecido.

para o

metr ô

aonde

todos

voltaram a


Crônica Cai o P as q u al i

Estava sentado em um banco de uma praça. Estava exau sto. Saí da construção e fui dire to comer a marmita. Estava com uma fo me do cão. Logo depois, deitei em um banco de uma praça, descansei. Tinha pouco tempo, uns 15 minutos, talve z um pouco mais pra descansar. Logo vi um grupo de pessoas jovens. Eram estud antes, aparentemente de uns 15, 16 anos. Parecia que fariam um trabalho na praça. Esse grupo se separou em pequenos grupos, dois estudantes da escola vieram em minha direção . Um g aroto, cabelo meio enrolado e castanho, e uma garota mais ou menos da mesma a ltura, linda de cabelo castanho. Eu estava aflito, pensei comigo mesmo: só pode estar de brincadeira. Droga, vão fazer um monte de perguntas chatas sobre mim. Quando chegaram na minha frente: — Boa tarde, senhor, poderíamos fazer um trabalho com você? - A menina perguntou. — Hm... Não sei, o que vocês querem? — Não é nada de mais, senhor, é que queríamos ler um poema. – o garoto respondeu. — Ler um poema? Pra que ler um poema? Tenho trabalho para fazer agora, não tenho tempo para esta bobagem! — Sinto muito , senhor, não queríamos t irar seu tempo – o g aroto respondeu revoltado. Tive que dizer não aos estudantes. Os do is saíram revoltados. Mas ler um poema? Que coisa absurda! Tira o tempo das pessoas. Se eu quisesse ler um poema, deixa que eu me smo leio.


Meu Relacionamento com o Centro J ad e S t e c c a

Até dois anos atrás , se alguém me perguntasse qualquer coisa sobre o centro de São Paulo eu ficaria muda. Eu não conhecia a história, arquitetura e as pessoas que vivem lá. Esse cenário mudou e desde então, tive muitas oportunidades de viver diversas emo ções tendo o centro como tema. Por exemplo : na Galeria do Rock no terceiro e último piso , e xiste a loja de CD's do Mórfa, senhor de mais ou menos sessenta anos, possuidor de personalidade singular e feições um t anto co ntrafeitas e sisudas. Mas tudo isso é apenas uma fachada, pois o Mórfa além de muito engraçado , é um doce, até me de u um CD de present e. O Mórfa é uma metáfora para o centro. A paisagem fe ia e agressiva esconde encantos e surpresas, como o CCBB e a casa de minha prima. A Manu mo ra na Rua Epitácio Pessoa, ponto de prostituição durante a noite. De manhã o cenário muda e pais de mãos dadas com seus filhos andam t ranquilamente em d ireção a escola. Enquanto isso , posso tomar um bo m café na varanda, ao la do do pé de limã o. Além disso, programas como a Virada Cultural, onde foi possível dançar com amigos na rua, assistir a um show de jazz com pessoas desconhecidas e fazer amizade com hippies, aconteceram na mesma semana, e no mesmo espaço físico de eventos mais ''barra pesada'', como o último Ato contra a Copa, marcado por atos de vandalismo. Foi intenso voltar para casa já de noite , passar pelo cemitério e sentir o cheiro de plástico queimado, que vinha de várias fogueiras n as ruas. O clima era pós-apo cal íptico. Considero uma sorte poder passar por experiências d e tamanho contraste. Pouco

a

pouco,

formo

meu

perceber a beleza des sa cidade nada óbvia.

repertório

e

aprendendo

a


Três por Dez


O Papai Noel M ar g o t K ul l o c k

Arlindo Jayr estava infeliz como sempre . Não sorria, não falava. Na verdade, ele odiava sorrir e odiava brincar. Crianças? Suportava seus filhos com muita paciência. Se os amava? De todo o cora ção, mas quando gritavam e b rincavam sem parar, já batia enxaqueca em Arlindo. Para piorar, perdera o emprego na f ábrica de agendas e sua mulher muito brava o inscreveu para fazer um bico nas 25 de Mar ço. Achara o trabalho e m um site. Tinha qu e se fingir de Papai Noel ali no meio da rua e fazer tudo o que as criancinhas desesperadas pediam. Hoje era seu primeiro dia e ele estava sendo horrível, pois a cada hora que

passava,

sua

enxaqueca

aumentava. Ao

chegar

à

loja

que

o

contratara, descobrira que fazia parte d o trabalho subir no ombro de outra pessoa para conseguir andar com a fantasia, pois ela era enorme. Fora bem difícil, pois seu equilíbrio não era dos melhores. A

fantasia

era

abafada

e

cheirava

mal.

Dos

buraquinhos

minúsculos que for mavam os olhos do Papai Noel, Arlindo conseguia enxergar tudo a sua volta enquanto se equilibrava em cima de Armando, um sujeito de 20 anos muito animado para seu gosto,

que era suas

pernas no momento. “Era “Papai Noel” pra cá, Papai Noel” pra lá... Gritavam as pessoinhas mi údas acompanhadas de suas m ães protetoras. “Comportei-me bem esse ano, P apai Noel” disse a garotinha “Quero aquele novo castelinho da Barbie!”. Arlindo não entendia muito de bonecas, mas sab ia que o novo castelinho da Barbie er a be m carinho. “Não acho que vai ser poss ível, garota. N ão sou cheio da grana”. A garota fe z cara d e quem ia chorar e a mãe emburrada, t irou ela do caminho, le vando -a para a lojinha mais perto. Ia comprar presentinhos para consolar a “coit ada”. ‘’Seja legal com as crianças!” —gritou Armando muito emburrado”. “Você é o Papai Noe l”.


O resto da manh ã foi praticamente igual, por ém e m ve z da clientela aumentar, s ó diminuiu. Arlindo come çou a pensar se n ão teria sido muito grosso co m as cri ancinhas que berravam. Lá pelas seis e meia, depois de uma pausinha para o café, a menina do castelinho da Barbie passou de novo. Carregava uma boneca quase maior que ela e tinha um sorriso o rgulhoso no rosto: “Ve ja minha boneca! Conheci outro P apai Noel mais legal”. E por incrível que pareça aquilo pareceu irritar Arlindo.

Calmamente ele abriu um sorriso meio

verdadeiro e meio for çado e tirou de uma sacola de presentes que n ão abrira o dia inteiro, um livro de hist órias de princesas. ”Isso aqui combina mais com voc ê” disse “Elas são princesas, como vo c ê... qual o seu nome?”. “Ana” disse a garota. Quando tocou no livro, abriu um sorriso maior que o de sua boneca, nessa altura, jogada no chão aos pés da mãe . “Obrigada, Papai No el”. Não sabia por que, mas aquele sorriso fizera seu dia. Talve z por que precisasse de sorrisos sinceros em meio ao estresse do dia a dia, mas pela primeira vez, sentiu -se feliz não por ele, mas pela felicidade dos outros.


Caminhando pelo Comércio Raf ae l L e al

Em meio a todas as aglomerações de co mércio e diferentes sons, meu corpo transita. Além de todos os obstáculos que posso observar e também ouvir uma poluição sonora: BIII BIII, VRUM, POW! É a cida de expressando-se do seu jeito. P articular mas sempre agitado e com pressa. Focando no centro comercial, vejo como certas pessoas podem ser tão criativas ou até apelativas para vender seu produto e atrair sua clientela. O que não faltam são produtos em grande quantidade pendurados no teto com cartaz es escritos tudo o que possa chamar atenção: “Três po r R$ 10,00”, “70% d e desconto”, “Co mpre um leve dois!”... Em alguns casos a apelação é tanta que o vendedor quase chega ao ponto de colocar a mercadoria na mão de quem está passando ou gritar: “É SÓ HOJE , ÚLTIMO DIA DE DE SCONTO”. “VENHA LOGO QUE VAI ACABAR”. “ÚLTIMAS PEÇAS DO ESTOQUE !”. “PRODUTO DE ALTA QUALIDADE”. Conforme o tempo passa, já atingi o meu limite com os barulhos aglomerados a poluição visual lojas repletas de mercado rias carros passando adoidados e multidões transitando para completar... UFA! — “Vamos e mbora almoçar! Estou cansad o!”


Dentro de Si Th ai s H ai n ke

Caminhar pelas ruas do centro de uma d as maiores metrópoles do mundo parece algo comum e corriqueiro para muitas pessoas. Não p ara mim. Sem se r fútil, mas para quem nasceu na zona sul, rodeada de casas grandes, carros do último lançament o e seguranças a cada esquina; é algo diferente, curioso e até um pouco intrigante. O centro de São Paulo, conhecido por suas lojas baratas, prédi os antigos, vendedores ambulantes, prostitutas e o cheiro insuportável de urina, também carre ga muita história de todo o tipo de gente que ali passa ou mora. Um home m, 1,58 cm, usando bermuda, camisa de manga curta, chinelo velho e uma boina na cabeça, com passos mancos e largados se aproximou de mim. Sob o braço uma bíblia e um livro jurídico. O que ele queria? Chegou com um papo meio enrolado, palavras tro cadas e um hálito terrível da cac haça mais barata da prateleira. O lhou nos meus olhos, pegou nos meus ombros e disse “ O valor de um home m não está na sua aparência, mas sim o que leva dentro de si” , deu uma longa risada rouca e com um tom de ironia virou de costas e saiu andando em direção á igreja, que estava a vinte passo s de distância.


Ética A n a T h e r e za Co n s t an t i n o

Cansado, exaltado e um pouco curvado estava ali passando um homem. Acho que ele carregava no mínimo 30 vassouras. Arrastava-as . Parecia ter cinquenta e poucos anos , de cabelos brancos e uma barba mal feita. Vassoura rosa, va ssoura amarela vassoura azul. Tinha de toda cor, todo tamanho, todo formato. Tô precisando de uma vassoura em casa. Será que é higiênico? Compraria uma vassoura que anda o dia inteiro pelas ruas de São Paulo? São Paulo é sujo, passa muita gente, muito lix o é jogado no chão e ainda tem os animais . Ai como odeio animais, principalmen te os que moram na rua, e havia muitos, de todos os tipos: grandes, pequenos, ratos, gatos, baratas, mosquitos, cachorros e as insuportáveis pombas... que pelas ruas tamb ém passa m. Será que é higiênico? Limpar minha casa com uma vassoura suja não é antiético? Antiético. Contrario a ética. Apalpei meus bolsos... será que tenho dez reais!?


Compro e Vendo Ouro A r t ur M e s q ui t a

Eu, Cleyton, estava a caminho de mais u m dia de trabalho, já com minha placa de “co mpro e vendo ouro” debaixo do braço , a caminho do ponto de ônibus para ir de Parelheiros, onde moro, ao centro antigo da cidade. Chegando na praça da Sé, vejo um cont orcionista incrível fazendo coisas impressionant es. Ele deixava todo s pasmos fazendo com que até um grupo de estudantes que por lá passava, ficassem parados não acreditando no que seus olhos estavam vendo. Al ém de tudo , esse contorcionista estava ganhando muito mais dinheiro que eu. Mas então parei para pensar: esse tal contorcionista deve treinar muito além de ficar em posições d esconfortáveis o dia todo. Mesmo parecendo ótima profissão ela tem mu itos pontos ruins. É como o malabarista de ontem, o palhaço de anteo ntem, o m ímico da semana passada. Enfim me lhor continuar co mprand o e vendendo ouro.


Uma esmola aí, tio!


Ela L uc as M ar t i n s M e i r e l e s

Estava sentado ali, como sempre, olhando para o mesmo lugar, com as mesmas coisas, as mesmas roupas. Hoje ela não veio. Uma senhora, provavelme nte em seus 60 anos de id ade. Ela era a pessoa que me ajudava, me alimentava e me dava roupas de vez em quando. Assim que eu sobrevivia, recolhendo esmolas de pessoas gentis. Já pensei em roubar, mas cheguei à conclusão que isso não iria me ajudar apenas piorar a minha situação at ual, então decidi ficar assim. Já tentei arrumar um emprego: garçom, assistente, vendedor... Todos me recusaram. Todos me ignoram, exceto uma pessoa: ela. Mas o que aconteceu com ela? Por que ela não veio hoje? Não gosta mais de mim? Cansou de me ajudar? E xistem perguntas que eu faço apenas para não me sentir sozinho . Alguém estava se aproximando, poré m o sol estava d eixando apenas eu ver um vulto. S erá que ela finalmente chegou? Com uma forte esperança sorri para cima. A pessoa sorriu de volta. Era u m home m, parecia pálido. Ele era alto e usava uma camisa bem chique com uma calça social. Ele se curvou para mim e me deu 10 reais. Agradeci. Continuei ali, aliás, não tinha mais nenhum lugar para ir, quem sabe amanhã ela apareça.


Crônica Cai o M i l i t e l l i

É impressionante! Eu vou para campos do Jordão todo final de semana e sou fo rçado a passar pelo centro para sair de São Paulo. Eu passo muitas ve zes pelo museu nacional de S ão Paulo e toda vez que passo por lá tem três garotos de dez ou onze anos que f azem acrobacias no farol. Eu tenho muita pena dos garotos. Eu sou muito curioso e passo lá muitas ve zes. Uma vez, parei no farol e eles vieram pedir dinheiro para mim e para minha mãe e perguntei por que eles estavam lá no meio da rua trabalhando e pedindo , sem camisa e de chinelo . Os meninos me re sponderam direta e educadamente. O mais velho falou : — É complicado... eles dois são meus irmão, sou Felipe e eles são Alberto e Rafael. Estamos aqui por causa da nossa mãe, ela não deixa nós dormirmos em casa se não levarmos 50 reais, 30 para ela comprar drogas e o restante para nos comermos porque ela não paga nossa comida! — Querem que chame alguém da polí cia... — Não não não , por favor , não não ! — Tá bom, relax a! Abriu o farol eu estava triste . Dei para ele 20 reais o que já ajuda muito mais fiquei co m muita pena... e prossegui viagem.


Sementes Re be c c a F uj i

Aqui no centro de São Paulo, em um canto qualquer de uma viela escura, sentado no ch ão encostado em uma parede fria me levanto com dificuldade, cambaleando para os lados e a visão embaçada. Caminho em direção a uma grande praça. Pelo caminho, me jogaram um peda ço de pão que devorei ferozmente. Entrando na pra ça posso observar velhos senhores sentados em bancos, solitários. Também há muitas mulheres jovens e bonitas por todo lado. Estou procurando por algo para comer, quando um grupo de adolescentes passa por mim, olham -me com desprezo, como se eu fosse de uma raça inferior ou um simples verme. Outros me olham pior, com os olhos brilhando, transbordando em “dó”, mas ao mesmo tempo desejando que eu não exista. Continuo

com

meu

percurso,

e

n ão

acho

nada para

comer.

Envergonhadamente eu paro uma moça vestida elegantemente e peço dinheiro. Quando nossos olhos se encontram o tempo fica est ático em meio do ar gélido. Ela vem se aproximando vagarosamente sem desviar o olhar, o que me faz engolir em seco. Ela para a dez centímetros do meu rosto. Consego sentir sua respiração quente. Toca meu ombro. Uma gota de suor cai da minha testa. Um largo sorriso se abre em seu rosto. Eu não entendendo a situação devolvo o sorriso. Ela retira algo de dentro da bolsa, pega em minha mão e despeja um saco de sementes. A mulher olha para o relógio como se estivesse atrasada, solta uma piscadela, e d á as costas. Seus cabelos loiros esvoaçam contra o vento enquanto percorre seu caminho dando longas passadas. A o bservo indo embora, confuso, até chegar um ponto em que não há vejo mais. Olho as sementes em minha mão procurando entender o que havia ocorrido e o motivo das sementes. A mulher deveria ser um anjo enviado pelo trono para me mostrar que ainda h á esperança neste mundo vazio, para me mostrar que sou capaz, que sou como qualquer outro homem, que posso mudar minha vida e fazer diferente. Esta mulher me lembrou uma coisa importante: de que eu existo.

Ou poderia ser simplesmente

uma mulher com parafusos a menos, e ao perceber que havia se enganado e comprado sementes erradas para seu jardim, e decidiu dar -me, pois elas seriam inúteis. Ela sendo anjo ou não, doida ou não, abriu meus olhos, tocou meu coração, me fez forte. Me fez melhor.


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