Guia básico para o cuidador da pessoa dependente

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O presente documento foi elaborado por:

Lourdes Muñoz-Hidalgo Enfermeira na USF Cruz de Celas, Coimbra. Rn, MsC, Mestre em Gestão Integral e Investigação nos Cuidados das Feridas Crónicas e Especialista Universitária no Cuidado e Tratamento de Feridas Crónicas pela Universidad de Cantabria. Especialista no Cuidado de Úlceras por Pressão e Feridas Crónicas pelo GNEAUPP. Responsável pela Área de Diabetes e o Pé Diabético. Coordenadora do Programa “Cuidando do Cuidador” na USF Cruz de Celas. Márcia Gaspar Soares Médica. Interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar na USF Cruz de Celas. Coordenadora do Programa “Cuidando do Cuidador” na USF Cruz de Celas. Mestrado Integrado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Isa Maria Cruz Médica. Interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar na USF Cruz de Celas. Mestrado Integrado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Marina Montezuma Carvalho Mendes Vaquinhas Enfermeira. Especialista na área Científica de Enfermagem. Mestre em Saúde Escolar (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa). Especialista em Enfermagem Comunitária. Professora Adjunta na UCP de Enfermagem de Saúde Pública, Familiar e Comunitária na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Doutoranda em Doenças Metabólicas e do Comportamento Alimentar na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Ana Paula Fonseca Médica. Interna de Medicina Geral e Familiar na USF Cruz de Celas. Mestrado Integrado em Medicina pela Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior. Nádia Garcia Batista Médica. Interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar na USF Cruz de Celas. Mestrado Integrado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Como citar este documento: Muñoz-Hidalgo, L., Soares, M., Cruz, I., Vaquinhas, M., Fonseca, A. P., & Batista, N. (2015). Guia básico para o cuidador da pessoa dependente. Coimbra, Portugal: Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.

Ano: Setembro 2015 Revisão: Dezembro 2017

Ilustração da Capa: Fernando Jorge Silva


PREFÁCIO

Cuidar bem do cuidador É lógico, evidente, Que é dar apoio melhor À pessoa dependente. Um cuidador bem cuidado, Sendo mais eficiente É meio caminho andado Para o bem-estar do dependente. Portanto, se quer prestar Um serviço eficiente, “Cuide-se para cuidar” Da pessoa dependente, Pois será de esperar Que melhor apoio é dado Se tivermos a actuar Um cuidador bem cuidado. Cuidando do cuidador Duma forma exigente Estamos a dar o melhor À pessoa dependente Um ser que, pacientemente, Necessita, dia a dia, Do que está, brilhantemente, Referido neste “Guia” Que deve servir de guia, E lido com muito ardor, Por quem pretender um dia Ser um hábil Cuidador!

Polybio Serra e Silva


“Este guia foi elaborado a pensar em todos os cuidadores de pessoas dependentes da Unidade de Saúde Familiar Cruz de Celas (Coimbra)...no entanto, e tratando-se de uma ferramenta tão útil para quem cuida de dependentes, não poderíamos deixar de o partilhar com vocês!”

As autoras

Com o apoio


ÍNDICE

1 Introdução 3

Cuide de Si Para Cuidar do Outro

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Cuidando da Pessoa Dependente

5   Avaliação Geriátrica Global 10   Saúde Mental – Situações Difíceis 13  Higiene 17  Vestuário 18   Posicionamentos, Mobilizações e Transferências 23   Úlceras por Pressão – Como Prevenir? 25   Prevenção de Quedas 26  Alimentação 29   Autonomia, Incapacitação e Interditação 33

Redes de Apoio na Comunidade

37 Bibliografia



Guia básico para o cuidador da pessoa dependente

Introdução

A população em situação de dependência tem sofrido um incremento, quer pelo aumento de doenças degenerativas causado pelo aumento da esperança média de vida, quer pelo crescente número de acidentes laborais e de viação que originam situações de incapacidade. O aumento da população dependente acarreta a procura de cuidadores. Estes são muitas vezes negligenciados na árdua tarefa de cuidar. Cuidar de alguém dependente exige dedicação contínua com novas responsabilidades sendo necessário ajustar as atividades diárias de acordo com as necessidades da pessoa dependente. A satisfação e conforto que o ato de cuidar pode comportar contrapõem-se ao desgaste físico e emocional, colocando o cuidador numa situação de maior vulnerabilidade e stress, com risco de sobrecarga. O caminho a percorrer durante esta fase pode ser solitário e ingrato, destabilizando a vida pessoal e social do cuidador. Este guia pretende ser uma ferramenta útil junto dos mesmos, permitindo auxiliar e esclarecer as dúvidas que possam surgir e desta forma aliviar a sua sobrecarga.

Capítulo: Introdução |

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Cuide de Si Para Cuidar do Outro

Assumir o papel de cuidador significa ter a responsabilidade de cuidar de alguém, assegurar o bem-estar da pessoa cuidada, com a maior qualidade e conforto possíveis. O cuidador assume um papel preponderante na vida do outro garantindo que as suas necessidades básicas (higiene, alimentação, segurança) são cumpridas, assim como asseguram a manutenção da sua saúde física e mental. O ato de cuidar do outro é nobre, mas à medida que o estado de saúde da pessoa cuidada se vai deteriorando, o cuidador começa a sentir dificuldade de cuidar de si próprio, e as suas prioridades começam a ficar para depois das prioridades do outro. O cuidador deve valorizar o seu papel, e simultaneamente não pode esquecer-se do seu próprio bem-estar. Torna-se essencial definir algumas estratégias, pois para melhor cuidar é preciso cuidar-se, física e emocionalmente. Assim, o cuidador deve garantir para si próprio, sem que isso acarrete sentimentos de culpa: ¾¾ Tempo para um momento de lazer, mesmo que por um curto período de tempo, com algo que lhe proporcione prazer (por exemplo: ler o jornal, tomar um banho relaxante, aprender uma nova língua, fazer exercício, dar uma caminhada, ir às compras, etc.); ¾¾ Pausas regulares. Não se esqueça de ter uma folga, pelo menos uma vez por mês. Peça ajuda (familiar ou amigo, cuidados ao domicílio) para cuidar da pessoa a seu cargo durante esse período; ¾¾ Contacto com as pessoas que lhe são importantes. Telefone regularmente a um amigo ou familiar;

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¾¾ Prática regular de exercício físico. Não necessita de dedicar muito tempo, sendo 30 minutos o suficiente; ¾¾ Alimentação diversificada e equilibrada; ¾¾ Ajuda, sempre que não se sentir bem (física ou emocionalmente). Procure o apoio da sua equipa de saúde; ¾¾ Rede de apoio. Entre em contacto com outros cuidadores, participe em terapias de grupo ou individuais, para melhor lidar com as emoções e ansiedade, a depressão ou sentimentos de culpa; ¾¾ Informação. Procure quais os recursos e ajudas sociais disponíveis, assim como produtos de apoio para o cuidador.

O ato de cuidar é intemporal, pelo que o cuidador deve preparar-se da melhor forma possível, garantido o bem-estar da pessoa dependente e o seu próprio bem-estar. A exigência da prestação de cuidados coloca sobre o cuidador elevados níveis de tensão pelo tempo e energia despendidos, assim como pelas próprias expectativas do cuidador. O stress pode funcionar de uma forma positiva ou negativa, sendo que nesta última é importante estar atento a sinais ou sintomas (mentais e/ou físicos, na lista que se segue) que devem motivar procura de ajuda, nomeadamente junto do seu Médico de Família.

Sintomas Mentais

Sintomas Físicos

Ansiedade

Cansaço

Raiva

Tonturas

Irritabilidade

Palpitações

Tristeza

Cãibras

Crises de choro

Espasmos musculares

Sonolência

Dores no peito

Dificuldade de concentração

Agitação

Diminuição da autoestima

Falta de ar

Isolamento

Perda de apetite


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Cuidando da Pessoa Dependente

Avaliação Geriátrica Global

A Avaliação Geriátrica Global (AGG) permite conhecer com maior precisão o estado do idoso, os seus problemas, as suas necessidades e capacidades nas diferentes vertentes (clínica, psicológica, nutricional, funcional, mental e sociofamiliar), possibilitando uma resposta mais completa e ajustada dos profissionais e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida para o idoso. Esta tem como objetivos:

♣♣ Aumentar a precisão do diagnóstico ♣♣ Tornar o prognóstico mais correto ♣♣ Diminuir o risco iatrogénico ♣♣ Facilitar condutas preventivas ♣♣ Orientar a escolha das intervenções ♣♣ Adequar as medidas assistenciais ♣♣ Facilitar o acompanhamento ♣♣ Melhorar a qualidade de vida do idoso

Esta avaliação deverá ser aplicada aos idosos com idade superior ou igual a 75 anos e aos indivíduos com 65 e mais anos que apresentem situações de maior risco: pluripatologia e polifarmácia, doença crónica, diminuição cognitiva ou funcional, falta de apoio social e institucionalização. São diversos os instrumentos utilizados para fazer a avaliação clínica (exame clínico, exames complementares de diagnóstico), avaliação física

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(capacidade física, marcha e equilíbrio, estado nutricional), avaliação mental (cognitiva e afetiva), avaliação funcional (autonomia e independência) e avaliação social (família, habitat, recursos económicos e rede social). Os instrumentos mais vulgarmente utilizados na AGG são ferramentas de fácil execução, são simples de aplicar, fiáveis, pouco demorados e bem aceites pelo idoso. Tratando-se de uma avaliação multidisciplinar, estes instrumentos podem ser aplicados por diferentes profissionais de saúde, nomeadamente médico, enfermeiro, técnico de serviço social, nutricionista/ dietista, fisioterapeuta.

Escalas de Avaliação Geriátrica Estado funcional • Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD) Escala de KATZ Escala que permite avaliar a Autonomia do idoso para realizar as Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD): Banho; Vestir; Utilização da sanita; Transferência do cadeirão/cadeira de rodas para a cama; Continência e Alimentação. A informação pode ser obtida através da observação direta do idoso e/ou do questionário direto ao idoso, familiares ou cuidadores. Pode ser aplicado por médicos, enfermeiros ou outros profissionais de saúde. Para cada ABVD o idoso é classificado como Dependente (0) ou Independente (1). Se o idoso recusa, ou não está habituado a fazer determinada ABVD, classifica-se como Dependente nessa atividade. Escala de BARTHEL Escala que também avalia as ABVD, avaliando mais quatro actividades que a escala de Katz (mobilidade, subir e descer escadas, tomar banho; continência fecal e vesical), sendo por isso mais completa que a Katz. Cada actividade apresenta entre dois a quatro níveis de dependência, em que 0 corresponde à dependência total e a independência pode ser pontuada com 5, 10 ou 15 pontos de acordo com os níveis de dependência (Sequeira, 2007).


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• Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD) Índice de Lawton & Brody Permite avaliar a autonomia do idoso para realizar oito actividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD): utilização do telefone, utilização de meios de transporte, fazer compras, preparação das refeições, realização de tarefas domésticas, lavar a roupa, tomar a medicação e lidar com o dinheiro. A informação pode ser obtida através de questionário directo ao idoso, aos familiares ou cuidadores.

• Marcha e quedas Classificação Funcional da Marcha de Holden Esta escala avalia apenas a marcha do idoso em função da capacidade de ele andar sozinho ou de necessitar de ajuda parcial ou total para se deslocar em superfícies planas, inclinadas ou em escadas. A informação pode ser obtida através da observação directa do idoso a caminhar ou do questionário directo ao idoso, familiares ou cuidadores. Consoante o resultado são estabelecidas 5 categorias, que vão da marcha ineficaz à marcha independente. Performance-Oriented Mobility Assessment (POMA I) de Tinetti Este instrumento foi desenvolvido por Tinetti e validado para a população portuguesa por Elisa Petiz em 2002. Estima a predisposição para quedas em idosos institucionalizados através da avaliação quantitativa de um conjunto de tarefas relacionadas com a mobilidade e o equilíbrio. Está dividido em duas partes que totalizam 28 pontos onde quanto mais alto o valor melhor o equilíbrio. A primeira parte diz respeito à avaliação do equilíbrio estático, com 9 itens, dos quais dois são pontuáveis de 0 a 1 e sete de 0 a 2, permitindo um máximo de 16 pontos. A segunda parte avalia o equilíbrio dinâmico (marcha) e envolve 10 itens dos quais oito são pontuáveis de 0 a 1 e dois de 0 a 2 num total de 12 pontos.

Estado Afectivo Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage – versão curta Esta escala é utilizada para o rastreio da depressão, avaliando aspectos cognitivos e comportamentais do idoso. A resposta aos 15 itens desta escala devem referir-se sobre como o individuo se tem sentido nas últimas duas semanas. É formada por 15 questões com resposta dicotómica (sim ou não). O resultado da pontuação total permite considerar três possibilidades: sem depressão, depressão ligeira ou moderada e depressão grave.

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Mini Exame do Estado Mental (MMSE) de Folstein Este instrumento permite avaliar a capacidade cognitiva em diferentes áreas como a orientação, retenção, atenção e cálculo, evocação, linguagem e habilidade construtiva. Consta de 30 questões distribuídas por seis grupos correspondentes às capacidades anteriormente referidas, permitindo discriminar o grau de diminuição de cada uma delas.

Estado Nutricional Mini Avaliação Nutricional (MNA) O MNA, além da capacidade diagnóstica, é capaz de identificar população em risco de desnutrição uma vez que além de apresentar itens de avaliação objetiva de parâmetros físicos e mentais, tem também uma série de questões sobre o padrão alimentar da população. A utilização da MNA está preconizada na população idosa em lares e hospitais. Através de um estudo realizado em Portugal foi validada a sua utilização na população portuguesa, nomeadamente em idosos. A MNA é uma ferramenta de fácil utilização e rápida na identificação de pacientes idosos que apresentam risco de desnutrição ou que já estão desnutridos (sem recurso a parâmetros analíticos). Esta avaliação compreende um questionário que engloba um total de 18 itens, constituindo os 6 primeiros a triagem e os 12 restantes a avaliação global. Os resultados obtidos classificam o idoso em bem nutrido (normal), em risco de desnutrição ou desnutrido.

Avaliação Social Escala de Avaliação Sociofamiliar de Gijón Esta escala avalia cinco áreas referentes à situação familiar, situação económica, habitação, relações sociais e apoios da rede social. As repostas variam de 1 a 5 pontos. Se a soma da pontuação for menor que 13 pontos o risco social é normal ou baixo. Se os valores forem iguais ou superiores a 13 pontos sugere um risco social intermédio ou elevado. Escala de OARS de Recursos Sociais (Older Americans Resources and Services Group) É uma escala social que nos fornece informação sobre a estrutura familiar, os recursos económicos, a saúde mental, física e capacidades para realizar


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AVD. Permite avaliar desde excelentes recursos sociais até recursos sociais totalmente deteriorados.

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Saúde Mental – Situações Difíceis

Em certas situações a comunicação entre o cuidador e a pessoa dependente pode estar comprometida, nomeadamente nos casos em que a pessoa dependente apresenta dificuldade em expressar-se. As alterações do comportamento, tais como, agitação, irritabilidade ou agressividade, o surgimento de alucinações/delírios ou comportamentos repetitivos/deambulação errática constituem situações difíceis de gerir. São várias as causas que justificam estas mudanças de comportamento, alguns exemplos são a introdução de medicação nova, a presença de dor/febre ou a mudança de ambiente, nestes casos deve consultar o seu Médico para que este avalie a situação. Idealmente dever-se-á apostar na prevenção destas situações, para isso o ambiente circundante deve ser estruturado e organizado. O controlo da temperatura, monitorização da dor, o provimento de estímulos e contacto social são formas de tornar o dia-a-dia da pessoa dependente mais aprazível. Os cuidadores devem ser flexíveis e, na medida do possível, tentar ajustarse à rotina diária da pessoa dependente, respeitando os hábitos, horário das refeições, horário de descanso, etc, diminuindo assim a probabilidade de conflitos e comportamentos disruptivos.

Agitação/Irritabilidade/Agressividade A pessoa dependente pode mostrar-se inquieta, agitada, apresentando respostas verbais ou motoras de repetição, sem nenhum objetivo. Estas condutas podem escalar para comportamentos agressivos, que incluem gritar, cercar, levantar a mão, ou mesmo empurrar ou bater. Quando a pessoa dependente fica agitada ou agressiva, o cuidador deve ouvi-la atentamente para tentar perceber qual será o motivo, evitando elevar o tom de voz ou confrontar a pessoa. Deverá tentar eliminar ou diminuir possíveis fatores desencadeantes como dor, desconforto (frio, calor, fome, sede, necessidade de usar a casa de banho, etc), frustração ou sobreexcitação (barulho, bebidas estimulantes). Deve tentar acalmar a pessoa dependente, aproximando-se lentamente, explicando que está ali para a assistir e providenciar conforto. Se a pessoa


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dependente ficar muito agressiva e tentar agredi-lo fisicamente, afaste-se, mantendo uma distância de segurança, e assegure-se que a pessoa não tem, nem consegue alcançar objetos perigosos.

Alucinações/Delírios As alucinações são experiências que parecem reais, mas não o são. As alucinações mais comuns são as visuais e as auditivas (ver e ouvir algo que não é real, respetivamente). Nos delírios é característico o aparecimento de ideias distorcidas da realidade. Manifestam-se de diferentes formas, por exemplo a pessoa poderá acreditar que lhe levam os objetos pessoais, poderá não reconhecer espaços conhecidos, etc. Como as alucinações parecem reais para quem as tem, não é aconselhado tentar convencer a pessoa de que se trata apenas de imaginação. Em revés deve reconhecer os sentimentos da pessoa, assegurando que está ali para a ajudar e tentando orientá-la para uma atividade agradável. Tenha em conta que se a alucinação é “boa” (por exemplo, se a pessoa descrever uma paisagem bonita e estiver feliz, sem que haja riscos para ela ou para terceiros), pode considerar não desencorajar este comportamento. Se os delírios surgirem durante a noite, deixe a luz acesa e tente que haja silêncio.

Confusão A confusão pode estar presente em algumas pessoas com dependência, principalmente nos doentes diagnosticados com demência. A confusão pode ser sobre a própria pessoa, o local onde se encontra ou o período temporal. Por outras palavras, a pessoa pode saber quem é, mas poderá não reconhecer outras pessoas, não saber onde está, a data ou a hora. Estes doentes podem também ficar confusos acerca da função dos objetos. Esta situação é frustrante para o cuidador, contudo a melhor forma para lidar com a situação é manter a calma e providenciar respostas simples, claras e positivas. Por exemplo, se a pessoa dependente parecer confusa acerca da função de uma colher, simplesmente diga “Aí está a colher para comer a sopa”. Nunca repreenda a pessoa ou fale de forma depreciativa.

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Comportamentos Repetitivos Os comportamentos repetitivos são, geralmente, um sinal de insegurança, uma forma que a pessoa encontra para procurar algo familiar e confortável. Para compreender este comportamento, deve procurar um motivo para a repetição e para os sentimentos que estão na sua base. Se a repetição for uma ação, poderá tentar transformá-la numa atividade, para que a pessoa se sinta útil. Por exemplo, se a pessoa estiver constantemente a mexer as mãos, tente dar-lhe alguns objetos para arrumar ou para limpar.

Deambulação Errática Na deambulação errática a pessoa dependente caminha sem orientação, nem objetivo concreto. Geralmente surge em pessoas com demência e associa-se a desorientação no tempo e no espaço. Para reduzir a frequência da deambulação errática, assegure-se de que a pessoa dependente faz as suas atividades com supervisão. Se for necessário, utilize sistemas de segurança, como fechaduras ou alarmes, para impedir que a pessoa dependente saia sem que dê por isso. Incentive o uso de algum cartão identificativo com o nome e a morada, para o caso da pessoa se perder, e para que seja mais fácil regressar a casa.


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Higiene

A higiene corporal constitui um fator importante para a recuperação, conforto e bem-estar da pessoa dependente, bem como a higiene do ambiente, que deve ser limpo, arejado e com o mínimo necessário para suprimento das suas necessidades. A higiene corporal apropriada, mantendo a pele limpa e hidratada, previne problemas da pele e infeções e melhora a circulação do sangue. A higiene pode ser: ÆÆ Parcial: tem em conta os cuidados específicos de cada parte do corpo, frequentemente as regiões com mais secreções e maior carência de higiene (cara e boca, mãos, axilas e genitais). ÆÆ Total: consiste no banho total, completo, desde a higiene ao corpo até ao cortar das unhas e cuidados com o cabelo.

A higiene pode ser realizada na cama ou no chuveiro, consoante as particularidades da pessoa cuidada. A pessoa dependente deve ser auxiliada nos cuidados de higiene à medida das suas capacidades, isto é, não deve substituí-la nas funções que conseguir desempenhar.

Conselhos gerais: •• Prepare o local previamente e leve para lá todos os objetos necessários para a higiene. •• Elimine possíveis correntes de ar, fechando portas e janelas. •• Estabeleça um horário para a realização da higiene. A higiene da face, mãos e genitais deve ser realizada diariamente. •• Separe a roupa antecipadamente. •• Regule a temperatura da água, de forma a evitar queimaduras. •• Quando apropriado, a pessoa dependente deve ser despida no quarto e conduzida à casa de banho, protegida por um roupão ou toalha. •• Evite deixar a pessoa dependente sozinha, para evitar quedas.

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Materiais para higiene: ◦◦ Luvas e aventais descartáveis. ◦◦ Esponja. ◦◦ Sabonete neutro e champô. ◦◦ Toalhas limpas ◦◦ Creme hidratante. ◦◦ Creme protetor (barreira), com óxido de Zinco (Carena®, Zincoderma®, etc.) ◦◦ Escova ou pente para o cabelo. ◦◦ Desodorizante sem álcool. ◦◦ Corta-unhas. ◦◦ Escova dos dentes, pasta dentífrica e antisséptico bucal, sem álcool. ◦◦ Fraldas descartáveis, se necessário. ◦◦ Sacos de plástico para colocar o lixo. ◦◦ Arrastadeira, se necessário.

Para realizar a higiene no chuveiro: 99 Oriente a pessoa dependente para iniciar o banho e auxilie-a, se necessário. 99 Para facilitar o banho de chuveiro, pode tentar alugar, comprar ou improvisar uma cadeira higiénica. 99 Verificar a temperatura da água, tendo o cuidado de não queimar a pessoa ou provocar desconforto. 99 Começar sempre pela cabeça, e seguir em direção aos pés. 99 Lavar a cabeça, cara e orelhas. Lave a cabeça no mínimo 3 vezes por semana, observe se há lesões no couro cabeludo. Mantenha, se possível, os cabelos curtos. 99 Seguem-se o pescoço, braços, axilas, costas, pernas e pés, entre os dedos e, por fim, as partes genitais. 99 Não esquecer a lavagem da boca, usando uma escova de dentes ou compressas embebidas em antisséptico bucal ou pedir à pessoa para bochechar. 99 Verificar sempre se não existem secreções, feridas, caspa ou parasitas. 99 Secar o corpo com uma toalha macia, sem friccionar. 99 Observar se há necessidade de cortar as unhas dos pés e das mãos (a melhor altura é a seguir ao banho), em caso positivo, posteriormente, corteas retas, com todo o cuidado, especialmente nos doentes diabéticos. 99 Aplicar creme hidratante no corpo. 99 Vestir a pessoa, cuidar dos cabelos e de toda a aparência.


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Para realizar a higiene na cama: O banho de chuveiro é o ideal, mas caso haja dificuldades ou impossibilidades da pessoa dependente sair da cama, pode ser intercalado, ou mesmo substituído pelo banho no leito. Caso a pessoa seja muito pesada ou sinta muita dor na mudança de posição, deve-se contar, sempre que possível, com a ajuda de outra pessoa. Isto evita acidentes, previne o cansaço excessivo do cuidador e proporciona maior segurança para a pessoa dependente.

99 Preparar todo o material antes da higiene. 99 Proteger a pessoa de quedas, utilizando barreiras protetoras, se existirem. 99 Verificar a temperatura da água, tendo o cuidado de não queimar a pessoa ou provocar desconforto. 99 A pessoa dependente deve ser lavada com uma esponja embebida em água e sabonete neutro. 99 Utilizar um recipiente para a água com sabão e outro para a água limpa. 99 Mudar a água conforme necessário, ao longo do banho, e sempre que tiver lavado os genitais. 99 Iniciar a higiene com a limpeza dos olhos, usando uma compressa com água ou soro fisiológico para cada olho, limpando sempre de dentro para fora, de uma só vez. 99 De seguida: lavar a cara, as orelhas e a cabeça. A lavagem desta deve ser feita com regularidade, devendo, contudo, respeitar a vontade da pessoa dependente, sempre que possível. 99 Lavar os braços e o tronco e seguir para as pernas e os pés, secando o corpo à medida que lava e tapando-o. 99 Lavar a região genital, tendo em atenção que: ◦◦ No Homem: Começar a lavar com movimentos circulares pela ponta do pénis, puxando o prepúcio para baixo e lavando a glande, posteriormente o pénis e o escroto (não esquecer de voltar a colocar o prepúcio na sua posição normal). ◦◦ Na Mulher: Lavar da frente para trás (do meato urinário para o orifício vaginal e posteriormente para a região anal), prestando atenção à sujidade acumulada entre os lábios, utilizando uma mão para afastar os lábios e a outra para lavar. 99 Colocar a pessoa dependente de lado e proceder à lavagem das costas e nádegas, secando de seguida.

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99 Calçar luvas se vai manipular fezes ou fluidos corporais. 99 Destapar apenas as regiões que vai lavar, seguindo os passos: lavar, enxaguar e secar, tapando a zona lavada. 99 Evitar molhar zonas protegidas com pensos. 99 Explicar sempre o movimento que vai realizar. Se a pessoa apresentar dor durante a higiene consulte o seu médico sobre a possibilidade de administrar um analgésico antes do banho. 99 Observe se há necessidade de cortar as unhas dos pés e das mãos (a melhor altura é a seguir ao banho), em caso positivo, posteriormente, corteas retas, com todo o cuidado, especialmente nos doentes diabéticos. 99 Colocar a roupa lavada e a fralda, se for o caso, fazendo a cama de um lado. 99 Virar a pessoa para o outro lado e terminar de fazer cama e de colocar a fralda. 99 Não esquecer de pentear o cabelo, colocar creme hidratante no corpo e de lavar a boca da pessoa dependente. 99 Terminar de vestir a pessoa e deixá-la confortável.

== Inspecione cuidadosamente a pele para detetar o aparecimento de alterações, como zonas de vermelhidão, feridas ou hematomas.

== Existem no mercado diversos artigos destinados a facilitar a higiene da pessoa dependente. Informe-se junto da sua Equipa de Saúde


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Vestuário

A escolha do vestuário é importante porque melhora a autoestima, confiança e promove o bem-estar da pessoa dependente. Para além disso, protege dos agentes externos e ajuda na manutenção da temperatura corporal. Não se esqueça que deve manter sempre a privacidade do doente quando o estiver a despir e/ou vestir. Simplifique o armário e as gavetas de forma a facilitar a escolha da roupa, coloque apenas a roupa que usa habitualmente. Coloque a roupa adequada à estação do ano para que a escolha seja acertada.

Conselhos gerais: Fomente a autonomia da pessoa, estimulando que esta se vista sozinha ou com o mínimo de ajuda. Coloque a roupa perto da pessoa e em ordem. Oriente a pessoa para que se vista sentada numa cadeira bem apoiada, primeiro a parte de cima e depois a parte de baixo do corpo. Assim, ficará segura, e não se cansará tão depressa. Adapte as peças de roupa para que sejam fáceis de vestir: preferir roupa larga; se a pessoa tem dificuldade em desabotoar/abotoar botões substitua-os por velcro; se não consegue apertar o cinto coloque elásticos nas calças; aplique extensores nos fechos. Utilize tecidos naturais (como o algodão), laváveis e fáceis de passar a ferro. Substitua os sapatos de atacadores por outros com fecho de adesivos, com sola de borracha antiderrapante, fechados, bem adaptados ao pé e sem salto. Se a pessoa tem os pés inchados, recomenda-se a utilização de calçado adequado com fecho de velcro. Promova a mudança diária do vestuário, estimulando a sua participação na escolha do mesmo e indo ao encontro das suas preferências. A roupa limpa e atrativa ajuda na sensação de bem-estar, promovendo a autoestima. Se a pessoa dependente tiver algum braço/perna afetado ou imobilizado, deve começar a vestir pelo membro que não ajuda. Só depois se veste o lado são; para despir proceda de forma contrária. Verifique sempre se a roupa fica bem esticada, para evitar o aparecimento de zonas de pressão.

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Posicionamentos, Mobilizações e Transferências

As limitações da mobilidade podem acarretar diversas complicações para a pessoa dependente dificultando, também, o trabalho prestado pelo cuidador, sendo importante assegurar-se que não permaneça muito tempo na mesma posição. Os cuidados com as mobilizações permitem evitar o aparecimento de úlceras por pressão e a atrofia muscular, favorecendo o conforto e bemestar da pessoa de quem cuida.

Tenha cuidado com postura e durante a realização dos movimentos adote uma posição correta.

Conselhos gerais para si: ¾¾ Utilize roupa confortável e suficientemente larga, para permitir realizar os movimentos com liberdade, e calçado fechado, de modo a evitar lesões. ¾¾ Planear quais os movimentos a executar e assegurar que existem as condições mínimas necessárias para a sua realização com segurança. ¾¾ Durante os esforços, manter as costas direitas, fletir ligeiramente os joelhos, colocar a força essencialmente nas pernas, e manter os pés ligeiramente afastados (~30cm) e na direção do movimento a realizar. ¾¾ Durante os movimentos, mantenha-se o mais próximo possível da pessoa, mantendo os membros superiores junto ao tronco. Evite movimentos bruscos de rotação e flexão da coluna.

Conselhos gerais para as mobilizações do doente: ¾¾ Adequar os posicionamentos de acordo com o estado geral e limitações da pessoa dependente. ¾¾ Assegurar que permaneça alternadamente entre a cama e a cadeira, sempre que possível ¾¾ Mude frequentemente a posição da pessoa na cama (idealmente de 2 em 2 horas), posicionando-a alternadamente em diferentes posições, mesmo que ela sinta algum desconforto (desloque-a sem a arrastar).


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¾¾ Utilize um colchão e almofadas que evitem a pressão. A pessoa deve ficar confortável, com o peso do corpo distribuído de forma uniforme e respeitando o alinhamento do corpo. ¾¾ Evitar o contacto direto com dispositivos médicos (por exemplo tubos), e manter os lençóis da cama secos e sem rugas. ¾¾ Avaliar regularmente a pele (atenção a áreas vermelhas). ¾¾ Utilizar, sempre que necessário, ajudas de transferências (por exemplo um resguardo). ¾¾ Estimular e pedir a ajuda a pessoa dependente, de acordo com as suas capacidades. ¾¾ Peça ajuda a terceiros sempre que julgar necessário.

Posicionamentos Os diferentes posicionamentos, ao longo do dia, promovem o bem-estar e conforto, a autonomia, estimulam a circulação, respiração, regulação de trânsito intestinal e exercício físico, e facilita a mobilidade de secreções, quando existem. Por outro lado, previnem as complicações inerentes à menor mobilidade, como perda muscular, posições viciosas e lesões na pele. Os posicionamentos devem ser definidos de acordo com o grau de mobilidade e o local onde este se encontra a pessoa dependente. Use almofadas para auxiliar nos posicionamentos e tenha sobretudo em atenção o seu uso em locais de apoio e de maior pressão.

Decúbito Dorsal – Deitado de costas: Posicione a pessoa de forma a ficar centrada na cama com o corpo bem alinhado. Colocar uma almofada na região da cabeça, de forma a dar apoio à cabeça e pescoço. Coloque os braços paralelamente ao corpo e ligeiramente afastados, podem estar posicionados em L. Tenha em atenção para que os punhos e as mãos não fiquem dobrados e que as mãos não fiquem fechadas. Coloque duas almofadas de apoio sob cada um dos braços. As pernas devem estar esticadas e ligeiramente separadas. Os joelhos devem ficar com uma ligeira flexão, pelo que deve ser colocada uma almofada nesta região. Os pés também devem ficar apoiados numa almofada, que deve ser colocada entre a ponta da cama e os pés.

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Decúbito Lateral – Deitado de lado: Posicione a pessoa de forma a ficar centrada na cama com o corpo bem alinhado. Colocar uma almofada na região da cabeça e rodar o corpo no sentido em que se pretende colocar a pessoa. Use outra almofada para a região das costas (dá apoio e alivia assim a pressão na anca). Assegure-se que o braço e ombro de baixo estão em posição confortável, pode colocar este braço um pouco mais para a frente e a mão sob a almofada que colocou na cabeça (cuidado com a pressão sobre esta mão). O braço que fica por cima, deve estar fletido e apoiado com auxilio de outra almofada. A perna de baixo deve ficar quase estendida, e a de cima ligeiramente para a frente e com o joelho fletido (para não ficar pousada sobre a de baixo). Use aqui outra almofada para dar apoio à perna de cima, esta deve ir desde a região da coxa até ao pé, para que também fique apoiado (podem ser necessárias duas almofadas para cobrir todo o cumprimento da perna).

Mobilizações Sempre que mobilizar a pessoa dependente na cama, se possível, deve pedir ajuda a outra pessoa. Devem combinar previamente quais os movimentos a realizar, para que sejam executados de igual de forma e em simultâneo.

Com o uso de auxiliares (por exemplo um resguardo): Cada uma das pessoas coloca-se em lados opostos da cama, segurando os bordos do resguardo, que deve estar debaixo da pessoa dependente, cobrindo a altura desde os ombros até à região das coxas. Assim, é possível realizar a mobilização em qualquer direção.

Sem uso de auxiliares: Se a mobilização pretendida for para a direita ou para a esquerda, ambas as pessoas devem estar do lado para o qual se vai mobilizar a pessoa. Se a mobilização pretendida for para cima ou para baixo devem estar em ambos os lados da cama. Os movimentos devem ser realizados usando os antebraços por debaixo pessoa dependente.


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Se estiver sozinho: Se a mobilização pretendida for para a direita ou para a esquerda, coloquese do lado para o qual quer posicionar a pessoa, e primeiro mobilize o tronco e depois as pernas. Se a mobilização pretendida for para cima ou para baixo, coloque-se sobre um dos lados com um braço debaixo dos ombros e outro ligeiramente abaixo da região da coxa e faça a mobilização no sentido pretendido.

Transferências Dependendo do grau de dependência da pessoa que cuida podem ser executados algumas transferências (para cadeira de rodas, cadeirão ou cama) evitando, sempre que possível, que permaneça o dia na cama. A dificuldade destes movimentos depende da ajuda que esta lhe pode dar. Quando o grau de dependência é elevado e aa pessoa dependente não consegue, ou não pode ajudar, deve pedir ajuda a outra pessoa neste processo. Não se esqueça, explique sempre quais os movimentos que vai fazer, para que a pessoa dependente possa ajudar (se conseguir), evitando assim movimentos pouco coordenados, diminuindo o risco de quedas e lesões (para si e para o doente).

Transferência da cama para a cadeira (cadeira de rodas ou cadeirão): Prepare a cadeira (assegure-se que no caso da cadeira de rodas, estas se encontram travadas), coloque-a paralelamente junto à cama. Encontrando-se a pessoa deitada, deve começar por lhe fletir os joelhos. Depois com uma mão na região dos ombros e outra nos joelhos, rodala de forma a que fique sentada no bordo da cama. Aguarde um pouco nesta posição, assegurando-se que não apresenta tonturas antes de proceder aos restantes movimentos. De frente para a pessoa sentada na cama, se esta ajudar, peça que coloque os braços à volta das suas costas por cima dos seus ombros. Coloque as suas mãos na região mais baixa das costas/anca para guiar o movimento. Incline o tronco da pessoa um pouco para a frente, e levantando-a devagar, vire-a em direção à cadeira e sente-a; Utilize os seus joelhos para bloquear os da pessoa dependente, evitando que deslize para a frente;

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Assegure-se a pessoa está confortável e com as costas bem posicionadas e apoiadas (mais uma vez auxilie-se de almofadas nas zonas de maior pressão).

Transferência da cadeira para a cama: Realize de forma inversa os passos descritos na transferência anterior.

Transferência da cadeira de rodas para o cadeirão (e vice-versa): Coloque a cadeira de rodas de forma a que esteja a formar um L com o cadeirão. A perna da pessoa com maior força deve ficar do lado da cadeira onde vai ficar sentado, para que possa ajudar apoiando-se nesta. Remova o apoio do braço e pé da cadeira de rodas do lado que vai retirar a pessoa. De frente para a pessoa, se esta ajudar, peça que coloque os braços à volta das suas costas por cima dos seus ombros. Coloque as suas mãos na região mais baixa das costas/anca para guiar o movimento. Incline o tronco da pessoa um pouco para a frente, e levantando-a devagar, vire-a em direção ao cadeirão e sente-a; Utilize os seus joelhos para bloquear os da pessoa dependente, evitando que deslize para a frente; Assegure-se que a pessoa está confortável e com as costas bem posicionadas e apoiadas (mais uma vez auxilie-se de almofadas nas zonas de maior pressão).

== Evite arrastar a pessoa durante as mobilizações, prevenindo a fricção, que pode facilitar o aparecimento de feridas.

== Aproveite os momentos de posicionamento para inspecionar a pele e verificar se existem zonas vermelhas na pele.

== Use almofadas nas zonas de maior pressão.


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Úlceras por Pressão – Como Prevenir?

As limitações na mobilidade comportam diversos riscos e acarretam grandes dificuldades para a pessoa dependente e para o cuidador. Um dos riscos inerentes à menor mobilidade da pessoa que cuida é o aparecimento de úlceras de pressão. Estas surgem devido à compressão ou fricção, provocada pelo peso do corpo, entre zonas, como proeminências ósseas mais salientes, e as superfícies onde se encontram apoiadas (cama, cadeira, etc) por um período de tempo significativo. As úlceras de pressão, são feridas que causam grande sofrimento, aumentam o risco de infeções, diminuem a qualidade de vida dos próprios e dos seus cuidadores, e em situações muito avançadas, podem mesmo levar à morte. Assim, é um passo essencial no ato de cuidar, adotar algumas medidas que auxiliam na prevenção do aparecimento destas feridas.

Conselhos gerais: Mantenha a pele limpa e seca (atenção se incontinência urinária ou de fezes. Estas substâncias em contacto prolongado com a pele danificam a sua estrutura e favorecem o aparecimento de úlceras). Minimizar a exposição da pele à humidade. Assegurar uma alimentação e hidratação adequadas (o excesso de peso e a magreza também são fatores de risco). Manter a pele bem hidratada, aplicando creme hidratante (pode massajar a pele, mas atenção a zonas vermelhas, sobretudo que permanecem após alivio da pressão na região, podem ser o primeiro sinal de uma úlcera de pressão. Nestas regiões massajar na zona circundante de forma leve). Mudar a pessoa frequentemente de posição (de 2 em 2 horas). Alterne as posições, assegure-se que está bem posicionada e durante os movimentos não arraste, nem friccione (em zonas de pele mais sensível podem ocorrer feridas). Sempre que posicionar a pessoa, aproveite para inspecionar a pele, procurando zonas vermelhas. Use as almofadas para alivio das zonas de maior pressão, e evite o posicionamento sobre zonas de pele vermelha.

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Locais mais frequentes das úlceras de pressão: As úlceras de pressão podem surgir tanto se deitados ou sentados, esteja atento às seguintes zonas: 99 Cabeça (atenção às orelhas sobretudo se deitado de lado); 99 Ombros e omoplatas; 99 Cotovelos 99 Cóccix e ancas; 99 Joelhos; 99 Tornozelos e calcanhares.

== Contacte a sua equipa de saúde, se identificar zonas de risco.


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Prevenção de Quedas

As limitações físicas apresentadas pela pessoa dependente tornam-na mais suscetível para a ocorrência de quedas. Assim, torna-se importante estar atento, fazer alguns ajustes no domicilio e nos estilos de vida, por forma a garantir a sua segurança. As quedas podem acarretar consequências graves e incapacitantes, como fraturas, que por sua vez promovem mais imobilidade, maior dependência e, por vezes, necessidade de institucionalização.

Cuidados gerais: O piso deve estar seco (não use ceras no chão, tornam-no mais escorregadio). Mantenha uma boa iluminação, sobretudo em zonas de passagem. Evitar o uso de tapetes soltos no chão (se os usar opte por fixá-los). Não tenha obstáculos nas zonas de passagem, nomeadamente fios (prenda-os à parede) ou móveis (evite o seu uso em zonas estreitas e na zona entre o quarto e a casa de banho, e evite deixar gavetas abertas). Coloque grades, corrimões e pegas onde for necessário, garantindo que estão bem fixos (nomeadamente na casa de banho, junto da sanita e na banheira/duche). Deixe uma luz de presença acesa durante o período da noite para facilitar a orientação, sobretudo no caminho entre o quarto e casa de banho. Os objetos pessoais e frequentemente utilizados devem ser de fácil acesso. Evitar uso de roupa comprida, para evitar tropeçar. Se dificuldades na marcha, encoraje o uso de bengala e andarilho, para promover a deambulação em casa, sempre que possível.

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Alimentação

As pessoas dependentes são vulneráveis ao aparecimento de diversos problemas, nomeadamente a malnutrição. Esta constitui um fator de risco para o desenvolvimento de doenças, acelerando a deterioração funcional, podendo, ao mesmo tempo, agravar o grau de dependência. A dieta deve ser variada e equilibrada de forma a proporcionar um ótimo estado nutricional e contribuindo para a prevenção de disfunções orgânicas e problemas de saúde. A alimentação por via oral consiste em levar e colocar alimentos na boca. Quando a pessoa dependente deixa de conseguir realizar estas tarefas, torna-se fundamental a ajuda de alguém – CUIDADOR. Apesar desta limitação, é fundamental que a pessoa seja envolvida e incentivada a participar em todo o processo, providenciando autonomia e, assim, aumentando a autoconfiança. Tenha em conta que ajudar não significa substituir. Ajude e substitua apenas as funções que a pessoa dependente não consegue desempenhar.

Conselhos gerais: ♦♦ O momento da refeição deve ser calmo e agradável, num espaço limpo e longe de odores desagradáveis. ♦♦ Explique o que vai fazer e peça a colaboração da pessoa durante a administração dos alimentos. ♦♦ Promova um mínimo de 5 ou 6 refeições, bem distribuídas ao longo do dia. ♦♦ Confecione refeições simples com pouca gordura e pouco sal. As ervas aromáticas poderão ajudar a temperar os alimentos melhorando o seu sabor e odor de modo saudável. ♦♦ Deve restringir o aporte de açucares. ♦♦ Incentive a pessoa a comer carne e peixe às refeições e a ingerir 3 a 4 produtos lácteos nas refeições intermédias. ♦♦ Prepare os alimentos tentando que fiquem com um aspeto atrativo, agradável e uma textura adequada para que a pessoa os consiga mastigar e saborear.


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♦♦ A temperatura dos alimentos deve ser adequada, de forma a evitar queimaduras. ♦♦ Incentive a ingestão de líquidos por dia, oferecendo fracionadamente, de preferência água. ♦♦ Restrinja o consumo de álcool (diminui o apetite e a absorção de alguns nutrientes). ♦♦ Após as refeições, deve manter a pessoa sentada, durante cerca de 30 minutos, para facilitar a digestão. ♦♦ Não se esqueça de realizar a higiene da boca após as refeições (dentes, língua e parte interna da boca), bem como da prótese dentária, caso utilize. ♦♦ Controle o peso com alguma regularidade. Consulte a sua Equipa de Saúde se ocorrer perda significativa de peso. ♦♦ Se a pessoa tossir ou se engasgar frequentemente quando come ou bebe, não insista e pergunte à sua Equipa de Saúde se é seguro continuar a alimentá-la.

ÞÞ Problemas em engolir: Quando os idosos têm problemas em engolir, recomenda-se: ◦◦ Bater com varinha mágica os vegetais. ◦◦ Picar a carne. ◦◦ Ralar as frutas duras. ◦◦ Puré de fruta madura é mais nutritivo que fruta assada/cozida. ◦◦ Peixe ou carne picada é mais adaptado do que bife. ◦◦ Sopa passada de vegetais é melhor que vegetais crus/cozidos.

ÞÞ Quando há necessidade de alimentar a pessoa através de sonda gástrica: ◦◦ Um dos segredos da alimentação via sonda é a fluidez da dieta, devendo-se adicionar a água usada para cozinhar os alimentos, pois nela ficam retidos muitos nutrientes como vitaminas e minerais. ◦◦ Uma outra opção é acrescentar leite, que é um alimento nutritivo, além de ser líquido. ◦◦ Lembre-se que numa dieta por sonda, a pessoa não sente o sabor dos alimentos, logo o mais importante é que ela seja o mais completa e nutritiva possível.

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◦◦ Os alimentos que compuserem a dieta devem ser sempre muito bem cozidos, batidos (de preferência num liquidificador) e coados, duas a três vezes, logo em seguida, para garantir que fica bem fluida e não entope a sonda.

O que fazer quando a pessoa se recusa a comer ou a beber? 99 Perceber o que provoca a recusa. 99 Fazer uma pausa. 99 Distrair a pessoa. 99 Não insistir, pressionar ou forçar. 99 Falar calmamente com a pessoa. 99 Pedir ajuda de profissionais de saúde, se necessário.

== Existem no mercado diversos artigos destinados a facilitar a autonomia da pessoa dependente quando se alimenta: adaptadores para talheres, base antiderrapante para o prato, copo adaptado, utensílio para abrir garrafas/latas ou prato com compartimentos, entre outros. Informe-se junto da sua Equipa de Saúde.


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Autonomia, Incapacitação e Interditação

Para cuidar bem, é imprescindível ter em conta o respeito à dignidade e autonomia das pessoas, considerar as suas decisões e reconhecer os seus direitos.

Para respeitar a autonomia, tenha em conta que: •• A maior parte das pessoas dependentes, embora apresentem limitações físicas ou sensoriais, são capazes de tomar decisões sobre tudo o que diz respeito às suas vidas, sendo consideradas autónomas. •• Não se deve confundir a inaptidão para a realização das atividades diárias com a incapacidade para tomar decisões. •• Para que a pessoa dependente possa decidir, tem que lhe ser facultada a informação necessária de forma clara, acessível e compreensível, sem qualquer tipo de manipulação. •• Deve incentivar a pessoa dependente a participar na tomada de decisões. Procure saber e questione-a sobre as suas preferências, no que diz respeito às suas rotinas (horários, vestuário, mudanças no quarto, colocação num centro de dia, etc.). •• Respeite as decisões da pessoa dependente, mesmo que estas não lhe agradem. Nestes casos forneça a informação necessária para que possam ser ponderadas alternativas, em conjunto, de forma a contemplar também os interesses do cuidador.

O que é a incapacitação? A evolução de algumas doenças pode levar a deterioração das faculdades mentais da pessoa dependente, colocando em causa a sua capacidade para exercer os seus direitos, tomar decisões ou cumprir com as suas obrigações. Nesses casos poderá ser conveniente promover a sua inabilitação ou mesmo a interdição. == São situações jurídicas que pretendem a proteção dos direitos das pessoas que perdem a capacidade de autogovernar-se.

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Sobre os processos de inabilitação/interdição deve saber que... Um indivíduo com deterioração das suas faculdades mentais pode praticar atos de que não tem consciência, incorrendo no perigo de existirem pessoas que se possam aproveitar desta situação. Por outro lado, em casos de dependência de álcool e drogas, podem ocorrer comportamentos de risco que ponham em perigo não só o próprio, como as pessoas que o rodeiam.

Para prevenir este tipo de situações é possível pedir junto do tribunal uma declaração de inabilitação ou, em casos mais graves, de interdição.

Interdição para casos graves

Perante condições clínicas que impeçam o indivíduo de tomar decisões conscientes (como por exemplo na presença de determinadas patologias psiquiátricas, casos de cegueira ou surdez-mudez), é possível pedir a sua interdição junto do tribunal. Esta decisão pode ficar a cargo do cônjuge, do tutor ou curador, de um parente com direitos de sucessão, ou mesmo do Ministério Público, em caso de denúncia de vizinhos, amigos ou familiares. O interdito passa a ter um estatuto semelhante ao dos menores, e é nomeado um tutor com competência para tomar as decisões que lhe estão vedadas. Ou seja, os atos jurídicos realizados pela pessoa dependente, como vender um imóvel, são nulos. O processo de interdição pode ser reversível. Se cessar a causa que levou à interdição, esta pode ser levantada a pedido do interdito ou de quem a requereu, por exemplo. Por princípio, o juiz só determinará a interdição de pessoas com anomalia psíquica e incapacidade para tomar conta de si e dos seus bens. Os tribunais tendem a considerar que só uma anomalia psíquica incapacitante, atual e permanente, pode determinar a interdição de um cidadão. Ainda antes de decidir, o juiz pode nomear um tutor provisório para executar ações inadiáveis em nome da pessoa em causa. Também pode decretar a interdição provisória, caso haja urgência em protegê-la ou aos seus bens. Sempre que possível, o tutor deverá ser o cônjuge, a menos que também seja incapaz, tenha havido separação de bens ou o casal esteja separado


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de facto. Se não houver cônjuge ou este não puder exercer a tutela, em princípio, a tarefa ficará a cargo dos filhos maiores, a começar no mais velho. No caso dos jovens interditos, a tutela é entregue aos pais. O tribunal só designará outro tutor se nenhuma das soluções anteriores for viável. O cônjuge, os descendentes e os ascendentes do doente não podem recusar a tutela. Contudo, os descendentes podem pedir a sua substituição ao fim de 5 anos, se houver outros descendentes idóneos. O tutor deve cuidar de tudo o que diz respeito à pessoa incapaz, em especial, da sua saúde, e permitir a recuperação mental e física. Em caso de necessidade, pode vender ou arrendar os seus bens, mas só com a autorização do tribunal. Este nomeará um conselho de família, do qual farão parte familiares do interdito (ou, eventualmente, amigos e vizinhos) e que terá a função de fiscalizar as ações do tutor.

Inabilitação para alguns atos

Quando a anomalia psíquica, embora permanente, não é tão grave que justifique a interdição, pode pedir-se a inabilitação do doente. O mesmo sucede face a situações de alcoolismo ou toxicodependência, por exemplo. Em geral, a inabilitação aplica-se apenas a quem, podendo governar com autonomia diferentes aspetos da sua vida, se mostra incapaz de governar adequadamente os bens. Em vez de ficar proibido de praticar todo e qualquer ato, o juiz ditará em que situações necessitará da assistência de um curador. A sentença deverá indicar os atos que podem ser praticados ou autorizados por ele. O curador pode ficar responsável por uma parte ou pela totalidade do património e deve prestar contas ao conselho de família, composto pelos parentes mais próximos. Se a questão for apresentada aos tribunais, o curador também pode ter de aí prestar contas. As funções do curador são mais reduzidas do que as do tutor: ajuda o inabilitado nas situações indicadas pelo tribunal, mas não é seu representante legal. Quando a incapacidade é progressiva, o indivíduo pode ser declarado inabilitado numa fase inicial e, mais tarde, alargar os contornos da inabilitação ou até ficar interdito.

== Para iniciar o processo em tribunal, deve fazer-se representar por um advogado. Para requerer a interdição ou inabilitação de alguém, é preciso justificar os factos que originam o pedido e indicar quem

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deve exercer a tutela ou curatela. É necessário demonstrar que a incapacidade impede a pessoa de praticar qualquer ato jurídico ou gerir o seu património, respetivamente. Deverá juntar relatórios médicos e, se possível, o testemunho de quem acompanhe de perto o visado. == No decorrer da ação, o visado é submetido a um exame pericial. O relatório do exame deve indicar com precisão de que sofre, a extensão e a data provável do início da incapacidade, bem como os tratamentos propostos. Caso os peritos não cheguem a uma conclusão, o doente é ouvido. == Quem tenha iniciado o processo também pode pedir exames numa clínica da especialidade. == As interdições e inabilitações são registadas no registo civil, à semelhança dos nascimentos, casamentos ou divórcios. Se as capacidades do doente se alterarem, as limitações podem ser levantadas ou agravadas.


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Redes de Apoio na Comunidade

Existem diversos serviços sociais que podem ajudar o cuidador, promovendo em parte o seu descanso ao mesmo tempo que garantem a prestação de cuidados essenciais à pessoa dependente.

Serviço de Apoio Domiciliário O Serviço de Apoio Domiciliário (S.A.D.) é uma resposta social que consiste na prestação de cuidados individualizados e personalizados no domicílio, a indivíduos e famílias quando, por motivo de doença, deficiência ou outro impedimento, não possam assegurar temporária ou permanentemente, a satisfação das suas necessidades básicas e/ou atividades de vida diária. O S.A.D. pode proporcionar os seguintes serviços: 99 Prestação de cuidados de higiene e conforto. 99 Arrumação e pequenas limpezas no domicílio. 99 Confeção, transporte e/ou distribuição de refeições. 99 Tratamento de roupas. 99 Acompanhamento ao exterior. 99 Aquisição de géneros alimentícios ou outros artigos. 99 Acompanhamento, recreação e convívio. 99 Pequenas reparações no domicilio. 99 Contatos com o exterior.

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Centro de Dia O Centro de Dia é uma resposta social, desenvolvida em equipamento, que consiste na prestação de serviços que contribuem para a manutenção das pessoas no seu meio habitual de vida, visando a promoção da autonomia e a prevenção de situações de dependência ou o seu agravamento.

O Centro de Dia, assegura entre outros os seguintes serviços: 99 Refeições. 99 Convívio/Ocupação. 99 Cuidados de higiene. 99 Tratamento de roupas. 99 Férias organizadas. O Centro de Dia pode ainda promover, além dos serviços referidos, o desenvolvimento de serviços de refeições ao domicílio, serviços de apoio domiciliário e acolhimento temporário.

Cuidados Continuados A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) é constituída por um conjunto de instituições, públicas ou privadas, que prestam cuidados continuados de saúde e de apoio social a pessoas em situação de dependência, tanto na sua casa como em instalações próprias. Nos cuidados continuados integrados a pessoa em situação de dependência, independentemente da sua idade, recebe cuidados de saúde e apoio social. O objetivo é ajudar a pessoa a recuperar ou manter a sua autonomia e maximizar a sua qualidade de vida.

Princípios base da RNCCI: ¾¾ Prestação individualizada e humanizada de cuidados. ¾¾ Continuidade dos cuidados entre os diferentes serviços, setores e níveis de diferenciação, mediante a articulação e coordenação e m rede. ¾¾ Equidade no acesso e mobilidade entre os diferentes tipos de unidades e equipas de rede. ¾¾ Proximidade da prestação de cuidados, através da potenciação de serviços comunitários de proximidade.


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¾¾ Multidisciplinaridade e interdisciplinaridade na prestação de cuidados. ¾¾ Avaliação integral das necessidades da pessoa em situação de dependência e definição periódica de objetivos de funcionalidade e autonomia. ¾¾ Promoção, recuperação continua ou manutenção da funcionalidade e da autonomia. ¾¾ Participação das pessoas em situação de dependência, e dos seus familiares ou representante legal, na elaboração do plano individual de intervenção e no encaminhamento para as unidade e equipas da Rede. ¾¾ Participação e corresponsabilização da família e dos cuidados principais na prestação de cuidados. ¾¾ Eficiência e qualidade na prestação de cuidados.

Têm direito aos cuidados integrados as pessoas nas seguintes situações: 99 Dependência funcional temporária (por estar a recuperar duma doença, cirurgia, etc.). 99 Dependência funcional prolongada. 99 Idosos com critérios de fragilidade (dependência e doença). 99 Incapacidade grave, com forte impacto psicológico ou social. 99 Doença severa, em fase avançada ou terminal.

A RNCCI inclui: ♦♦ Unidades de internamento, que podem ser: -- Unidade de convalescença (internamentos até 30 dias). -- Unidade de média duração e reabilitação (internamentos entre 30 a 90 dias). -- Unidade de longa duração e manutenção (internamentos com mais de 90 dias). -- Unidade de cuidados paliativos (sem período limite de internamento).

Nestas unidades são assegurados: -- Cuidados médicos. -- Cuidados de enfermagem permanentes. -- Prescrição e administração de medicamentos.

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-- Cuidados de fisioterapia e terapia ocupacional. -- Apoio psicossocial. -- Higiene, conforto e alimentação. -- Atividades de manutenção e estimulação. -- Convívio e lazer.

♦♦ Unidade de ambulatório. ♦♦ Equipas hospitalares de cuidados continuados de saúde e apoio social. ♦♦ Equipas domiciliárias de cuidados continuados de saúde e apoio social.

Para mais informações pode aceder ao site da Segurança Social: http://www.seg-social.pt/rede-nacional-de-cuidados-continuados-integrados-rncci


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Bibliografia

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Bibliografia |

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