Revista Espaço Con(tacto) n 17

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Ser Total

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Sócio:

Director e Editor – Jorge Oliveira Coordenação de Produção e Relações Públicas – Cláudia Oliveira Produção – Cláudia Oliveira, Leonel Morais Editor de Fotografia – Luís Miguel Ferraz Fotógrafos: Vitor Costa e Nuno Ferreira Assistentes de fotografia - Manuela Bartosch e José Rollo Redactores – Elsa Semedo; Luís Trigo Coordenadores de Alunos – Delfino Manica, Nuno Ferreira Capa – Miguel Novo Participação Especial – Maria Helena André; Jorge Prendas; Carlos Amaral Dias; Alfredo José de Sousa; Vera Deus; Leila Cruz; Kameraphoto: Nelson D’Aires, Valter Vinagre; nFactos Secretariado – Cristina Afonso, Maria José Bom Director Gráfico – Miguel Novo Design Gráfico – miguelnovo@portodesign.pt Directora Financeira – Susana Belo Impressão – Lidergraf - Artes Gráficas, SA. |Rua do Galhano, Nº15 (E.N. 13) 4480 Vila do Conde Edição e Reprodução em CD – MPO (Portugal), Lda. Produção Braille – Santa Casa da Misericórdia do Porto, Centro Professor Albuquerque e Castro Edições Braille, Rua Instituto S. Manuel, 4200-308 Porto Tradução áudio por Paulo Arbiol Propriedade e Administração: Espaço T – Instituição Particular de Solidariedade Social e Utilidade Pública. Publicado no Diário da República, III Série, nº 70 de 24 de Março de 1998

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em privado com... Maria Helena André

editorial

Jorge Oliveira

em carne viva

Elsa Semda, Luís Trigo

acesso à cultura Jorge Prendas

auto-estima em tempos de crise Carlos Amaral Dias

acesso à justiça Alfredo José de Sousa

vestir e comprar em tempos de crise Vera Deus

acesso ao desporto Leila Cruz

campanha de luta contra a pobreza Cameraphoto e Nfactos

corpo a vestir Loja Vermelha

cd-rom da revista em formato digital, com áudio

Distribuição – Vasp Depósito Legal nº 120345/98 Inscrição ICS/DR nº 121433 Nº de Pessoa Colectiva – 503532479 ISSN – 0874-3304 Revista nº 17; Dezembro de 2010; 2000 exemplares. Proibida a reprodução total ou parcial dos artigos. A infracção será punida segundo a lei. Capa / Dezembro de 2010, preço 5 Euros Espaço Con(tacto) Espaço T – Associação Para Apoio à Integração Social e Comunitária Sede do Editor – Rua do Vilar, nº 54 | 54 A, 4050-625 Porto Telef.: 22 6081919 / Fax: 22 5431041 espacot@espacot.pt Sede da Redacção Espaço Con(Tacto) / Dept. Comunicação e Imagem Rua do Vilar, nº 54 | 54 A, 4050-625 Porto Telef.: 22 6081919 / Fax: 22 5431041 dci@espacot.pt

A Revista Espaço Con(tacto) nº 17 é uma publicação editada pela Espaço t, e co-financiado pelo Instituto da Segurança Social, no âmbito do Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social.


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em privado com...

Maria Helena André Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social

ano de combate à pobrezae à exclusão social

O corrente ano de 2010 foi instituído pelo Parlamento e pelo Conselho europeus

como o Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social. Para os Estados Membros o Ano Europeu é uma ocasião para reafirmarem o compromisso de combaterem a pobreza e a exclusão social nos respectivos países.

Este acontecimento criou uma oportunidade única para Portugal assumir, como imperativo colectivo, o combate à situação de pobreza e exclusão em que ainda vivem muitos milhares de famílias.

O Ano Europeu, em Portugal tem decorrido com reconhecido sucesso. Tem

contribuído para uma importante mobilização de vontades e recursos e de

multiplicação de pequenas e grandes acções para despertar consciências e produzir um efectivo impacto nas situações de pobreza e de exclusão social.

Mas, 2010 é também o ano da aprovação de uma nova estratégia europeia para

o próximo decénio, conhecida como a Estratégia UE 2020 que, dando sequência à Estratégia de Lisboa, pretende atingir um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo no espaço da União Europeia.

Esta nova estratégia, pela primeira vez, define uma meta concreta, no plano social, que é a de reduzir o número de pobres na União Europeia em 20 milhões, até ao

ano de 2020. O nosso país terá que traçar a sua própria meta e contribuir para que meta europeia seja atingida. Em tempos reconhecidamente difíceis estamos,

assim, confrontados com o importante desafio de, porventura com menos meios disponíveis, sermos capazes de levar o combate à pobreza e à exclusão mais longe. O percurso que temos vindo a fazer demonstra que é possível.

Portugal foi um dos países da União Europeia que nos últimos anos mais progrediu na redução do risco de pobreza e da intensidade da pobreza. Segundo dados do UESILC, divulgados recentemente pelo INE, entre 2003 e 2008, conseguimos reduções

importantes no risco de pobreza da população residente, mas também conseguimos reduções importantes na pobreza dos idosos, das crianças e jovens e dos adultos em idade activa.

Na primeira linha deste combate têm estado as Instituições de Solidariedade, entre

as quais a Espaço T, que se tem destacado pela forma criativa como utiliza a arte ao serviço da inclusão e da activação dos cidadãos mais vulneráveis que apoia.

Uma nota final para saudar a edição deste número especial da revista Espaço

Con(tacto) e deixar uma palavra de incentivo às Instituições de Solidariedade, em

primeiro lugar, mas também às empresas que assumem a sua responsabilidade

social ,a aos simples cidadãos voluntários para que estejamos todos juntos, com renovado vigor, nesta luta por uma sociedade para todos.


editorial

Jorge Oliveira Presidente do Espaço t

Mais

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pobres

que os pobres, são os que julgam os outros pobres!

No Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social, torna-

se importante reflectir sobre a realidade da pobreza e da exclusão social, para que num futuro próximo a comemoração deste ano europeu deixe de ser necessário.

Será que faz sentido existir pobreza na maior parte dos países do

mundo, quando existem imensos recursos naturais e excessos de

fotografia | Rita Olazabal

alimentos? Acho que podemos concluir que a pobreza existe por vontade e inépcia política. Será que ela só existe pela necessidade

de mantermos uma realidade instituída entre classes, entre ricos e pobres?

Penso que toda a problemática da pobreza e da exclusão social também existe por se usar formulas e estratégias pouco eficazes e rudimentares, ou seja estratégias assistencialistas.

como dar alimento é ensinar como se pode conquistá-lo.

usadas. Será que isso resolve tudo? No imediato talvez, mas estamos

intitulada “Ser Total”, convidamos especialistas para dar o seu

condição de pobre. Ser pobre não é uma condição, é um estado que

a moda e a jurídica, para que os pobres e os que julgam os outros

Com as grandes preocupações apenas focadas nas necessidades

Com esta revista co-financiado pelo Instituto da Segurança Social,

e de outros que julgam os outros pobres.

criamos também o “Roteiro para Pobres…e não só!” direccionado

(não proactivas) realizadas através de doações de bens, muitas vezes

www.espacot.pt, possam ter acesso de forma gratuita ou quase a

Aqueles que julgam os outros pobres, penso, ficam felizes, pois

onde dormir, onde cuidar de si, onde tratar-se, onde aprender, onde

Por outro lado, ao se promover grandes campanhas de solidariedade

contactos úteis.

superfícies, que fazem escoar os seus produtos e com isso gerar

e exclusão social possam ajudar a contribuir para que em breve não

com acesso a comida de uma forma visível. Será que é isso o que

Exclusão Social. Todos temos que ter um papel activo e decisivo. Isso

Eu e o Espaço t acreditamos que não! Achamos que todos os

Contamos consigo!

Cada vez mais se fala em instituições que dão de comer e roupas

Por tudo isto, na edição do numero 17 da revista Espaço Con(tacto)

apenas a preocupar-nos com necessidades básicas e a promover a

contributo em áreas como a auto-estima, a cultura, o desporto,

deveria ser transitório.

pobres, possam começar a reflectir de uma forma mais abrangente.

básicas, penso que continuamos a promover a existência de pobres

no âmbito do Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social,

Ninguém é feliz apenas com a satisfação das necessidades básicas

à população do Distrito do Porto, para que através dele e do site

em condições pouco dignas.

vários serviços, nomeadamente a telefones de ajuda, onde comer,

satisfazem as suas necessidades de auto-estima e de solidariedade.

arranjar emprego, onde relaxar, transportes, conselhos e dicas e

assistencialista, ajuda-se também os ricos, donos das grandes

Espero que estes dois instrumentos de apoio à luta contra a pobreza

grandes lucros para si. Os pobres, esses continuam pobres, apenas

haja a necessidade de criar Anos Europeus do Combate à Pobreza e

queremos promover?

está nas nossas mãos.

indivíduos sem excepção devem ter acesso à satisfação das suas

necessidades que não apenas e tão só as básicas. Tão importante


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Dentro de uma lata CIN há vida. Há mil e uma cores. Há uma tinta de qualidade superior que garante os melhores resultados em todas as cores proporcionando as mais agradáveis sensações.


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em carne viva

Na rede contra a pobreza

as redes não são só virtuais, também podem unir pessoas e organizações que visam o bem social. A pensar naqueles que numa sociedade pagam sempre a maior factura: a conta da crise.


Na rede contra a pobreza

É neste contexto que a Rede Europeia Anti Pobreza/Portugal (REAPN) actua. A missão é grandiosa, acarreta trabalho e vontade de ferro. Porque, aqui, a unidade nada faz, só mesmo em rede podemos fazer a diferença, em sociedade. Sandra Araújo, técnica da REAPN, salienta a acção que esta instituição tem tido na qualificação das organizações do sector social. Ao abrigo de um programa: POPH (Programa Operacional de Potencial Humano), que tem como projecto a quali-

em carne viva

ficação junto de instituições do Porto a Bragança. Refere ainda a importância deste programa, que faz um diagnóstico das organizações e, posteriormente, a implementação de um plano de melhorias com o objectivo de qualificar os operadores sociais e, assim, poderem responder com maior eficácia às necessidades quando as equipas estão no terreno. Normalmente, inicia com uma componente de formação que é dada à direcção técnica das organizações.

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Os temas são relacionados com economia e politicas sociais, planeamento estratégico, questões da qualidade, marketing e comunicação. Paralelamente existe um consultor dentro das organizações de forma a ajudar a implementação das melhorias. Depois, ainda existe uma segunda fase, que será a formação específica abrangendo todos os colaboradores das referidas entidades, conclui. E em 2010, designado o Ano Europeu de


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em carne viva

Fotografia de Nuno Ferreira e Ateliê de Fotografia, Espaço T

Combate à Pobreza e Exclusão Social, ainda faz mais sentido quando o mundo abraça uma profunda crise económica, que acentua a pobreza de quem já não tem nada ou tinha pouco. Por isso a REAPN, com sede em Bruxelas, tenta ser um núcleo de pressão junto do epicentro político da UE, de modo a promover políticas sociais para minorar o efeito da crise junto dos mais carenciados. Estima-se que existem 80 milhões de pes-

Na rede contra a pobreza

soas em situação de pobreza na Europa. Em Portugal, os dados de 2008, apontam valores que rondam os 1,8 milhões, sendo os idosos os mais afectados. Seguro é que a região norte é a mais flagelada com situações gritantes e aflitivas de desemprego e suas consequências. Os dados assustam numa região que era há uns anos a mais industrializada. Como herança tem agora 48 por cento dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI). Porquê?

Num trabalho de investigação realizado há cerca de 2 anos na região do Vale do Tâmega, muitas famílias encontravam-se numa situação de monoparentalidade, porque os pais tinham emigrado para Espanha, onde a construção civil era o único sustento. Ao nível de intervenção directa junto da população alvo, a REAPN tem uma parceria alargada com instituições do concelho de Vila Verde. O plano de actuação está


Na rede contra a pobreza

relacionado com a formação de inclusão da comunidade cigana. O objectivo é dar competências e instrumentos para uma inclusão social e profissional. São pessoas que a vida afastou da escola e por consequência de um emprego estável. Alguns com uma trajectória complicada, fecharam-se em ghettos e nem sempre a sociedade civil participa nessa reintegração. Sandra Araújo esclarece que nem todos os participantes são de etnia cigana, por-

em carne viva

que muitos deles nem sequer tinham a escolaridade mínima para a frequência do curso. Mesmo assim, os estágios têm corrido bem e quem sabe se uma ou outra empresa, apesar da crise, mantém o posto de trabalho de forma contratual. Existe uma realidade muito característica de um país que tem um ordenado mínimo que não acompanha o custo de vida, fazendo contas o saldo é negativo. E o fenómeno acontece: “os trabalhadores pobres somam cerca de 12 por cento, uma das maiores taxas da União Europeia”, relembra Sandra Araújo. Cais de encontro A Cais é mais que uma revista. Para além do apoio psico-social, tem formação, oficinas, oferecendo ainda aos seus utentes computadores com ligação à internet. O atelier de Jornalismo do Espaço T visitou o edifício da Cais e interrompeu a Oficina de Teatro do Oprimido. Não foi preciso muito para que essa dezena de pessoas pusesse tudo cá para fora. Comentam o aumento da pobreza nas ruas e pessoas que há pouco tempo tinham vidas razoavelmente estáveis e são agora confrontadas com a necessidade de recorrer à caridade. Ao desemprego juntam-se os cortes nos apoios sociais, desde o rendimento mínimo aos apoios complementares para os medicamentos, alimentação ou para o quarto... e quando tem de se escolher entre o quarto e o comer, a rua parece muitas vezes a única opção viável. No meio de tantas dificuldades, conseguir estabilidade para voltar a estudar parece uma miragem. E se o sonho for o ensino superior, não passará mesmo de um sonho – 125 euros para o exame de acesso é inalcançável para quem não sabe se vai ter o que comer amanhã. As questões rebentam umas atrás das outras. Como há tantas casas desabitadas no Porto com tantas pessoas a dormir na rua? “Dêem-nos um bocado de cimento e tinta. A cidade preocupa-se tanto com a imagem... e as casas abandonadas e as pessoas a dormirem e a pedirem na rua fazem bem à imagem da cidade?”

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E o que fazer quando se sai da prisão? Para que serve uma saída precária se não se tem para onde ir? O recurso a instituições fechadas é como entrar noutra prisão. “No dia em que saímos da prisão ninguém nos pergunta se temos para onde ir ou se temos dinheiro para viver”. A Cais surge neste contexto como um local que encaminha as pessoas para não voltarem a cair na rua, na delinquência ou na toxicodependência. O sentimento de gratidão à Cais e aos seus técnicos é imenso. É unânime quais são os piores dias da semana. No fim-de-semana a Cais fecha e a solidão aperta. Não têm um local de encontro com os companheiros que aí conheceram. Fora da Cais podem contar com um dia fechado no quarto ou na rua a olhar para o desprezo de quem passa. “Sentirmo-nos marginais, exteriores à sociedade é como ser anormal e a troca de ideias em actividades como o Teatro do Oprimido faz-nos parecer mais normais e ter um sentido para a vida”. Alguns são reincidentes no pedido de ajuda à cais na procura de ocupação e da sua autonomia - “com a situação actual voltei outra vez à Cais, podem tirar-me os subsídios e os apoios, mas não me tiram o facto de ter deixado a droga há 15 anos e a dignidade”. Mas também há quem ache que o problema é mais grave do que falta de apoios do Estado, trata-se de falta de valores: “A mulher que limpa as escadas critica o gajo que dorme lá fora. A mulher do escritório critica a que limpa a escadas. O homem que está lá dentro critica a mulher do escritório.” Se houvesse o sentimento de pertença a uma mesma comunidade poderia diluir a necessidade dos apoios do Estado e restituir a autonomia às pessoas. “Uma das soluções poderia até ser voltar ao campo...” Aprender sem mestres é simples e possível! O Sport Musas e Benfica é um clube desportivo portuense que alberga uma equi-


em carne viva

pa de xadrez e a iniciativa cultural Espaço Musas. A modalidade mais recente é a enxada. Praticam-na num terreno do tamanho de meio campo de ténis, depois de muitas e muita escadas, numa espécie de pátio interior que dá para a sede do clube na Rua do Bonjardim. “Tivemos tomate, pepino, alface, tomate anão, courgete, rabanetes, rúcula, cenouras, brócolos, muitas cebolas, ameixas daquela árvore “velhotinha...”, enumera Hugo Sousa, “as pessoas que participam aparecem e vão levando”. O seu objectivo enquanto grupo é rentabilizar o espaço, criar novas aprendizagens, explorar, descobrir e aplicar as aprendizagens, produzir comida simples e saudável, religar as pessoas entre si e à terra através do trabalho simples e pela comida. O testemunho é que a obtenção de comida da terra é simples. Na verdade, a parte mais complicada foi limpar o terreno. Durante anos o sr. Arnaldo, que vivia no local com autorização do senhorio, entreteve-se a juntar lixo no terreno. O seu sonho era construir o seu próprio casebre aí. O tempo passou e a idade e a saúde já lhe esmoreceram esse sonho. Já se contam cinco camiões do lixo, mas o trabalho de recolha continua com a própria colaboração do sr. Arnaldo. “Olha o que eu encontrei, óculos de sol made in france, bem fixes” exclama uma das pessoas que limpa o terreno. O Sport Musas e Benfica nasceu em 1943, como a secção desportiva para os utentes do centro de apoio aos tuberculosos na mesma zona. Com a grande diminuição de casos desta doença a associação foi perdendo ímpeto e o carácter desportivo. No final da década de 1990 um grupo de jovens da vizinhança pega na associação e começa a desenvolvê-la. Mas só há cerca de meia dúzia de anos é que começou realmente a descolar com o projecto Escolhas. Juntaram-se com pessoas do Gaia e começaram a delinear o projecto da horta

Na rede contra a pobreza

no local antes conhecido como a ilha do Padeiro. Casas e mais casas demolidas, abandonadas, esporadicamente ocupadas por hortas e quase sempre invadidas pelo mato. A vista aérea da zona da Fontinha, onde se enquadra esta horta, é uma mancha enorme de verde que vai quase

até ao Marquês. As principais fontes de conhecimento para desenvolver este projecto são os livros, “o senhor que vende as sementes” e as pessoas que participam na safra. Algumas das pessoas trazem os conhecimentos das experiências que fazem em

Fotografia de Nuno Ferreira e Ateliê de Fotografia, Espaço T

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casa, aproveitando por exemplo pacotes de leite para contentores das suas sementeiras. Quem chega traz ideias. Um pequeno talhão é ocupado pelo conceito de Fukuoka e da Permacultura de bolas de argila com sementes dentro para a cultura promís-

em carne viva

cua. Mas recorre-se sobretudo ao cultivo à moda antiga. Destacam-se na paisagem as couves e os repolhos bem desenvolvidos. Noutro sítio vemos uma rede preta que cobre o germinador e tanto protege do sol como do frio. Uma vasilha com cerveja atrai os caracóis que também gos-

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tam de repousar no meio dos repolhos. Num canto um pequeno bidão armazena água com temporizador para rega gota-a-gota. A recusa de empregar produtos químicos sintéticos é radical. Quando uma praga atacou os feijões, decidiram oferecer-lhos

Fotografia de Nuno Ferreira e Ateliê de Fotografia, Espaço T

Na rede contra a pobreza


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em carne viva

Na rede contra a pobreza

e preocuparam-se apenas em proteger as outras culturas. A diversidade nas culturas tem destas coisas, nunca se perde tudo, e é através da combinação de várias culturas que se combate as pragas. Por exemplo, o cheiro da cenoura afugenta os parasitas da cebola e vice-versa. Sem planos, os canteiros vão surgindo aos poucos em áreas conquistadas ao entulho. Ups, mais um!

Fotografia de Nuno Ferreira e Ateliê de Fotografia, Espaço T

Texto de Elsa Semedo e Luís Trigo com a colaboração dos alunos da Oficina de Jornalismo do Espaço T



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Jorge Prendas

Acesso à cultura

Casa da música

O Serviço Educativo da Casa da Música tem, desde o seu início, desenvolvido vários projectos que procuram abrir as portas da música (e leia-se aqui de todas as músicas) para aqueles que, por diversos motivos, não têm acesso a ela. Em 2001, ainda a Casa da Música era um estaleiro, e já se apresentava Wozzeck, uma ópera de Alban Berg, onde uma comunidade do bairro de Aldoar teve o seu lugar no palco. A vivência musical, o contacto com os músicos, orquestra, encenação, guarda-roupa e com o aplauso foram marcantes e certamente experiências singulares na vida desta comunidade. Daí para cá o Serviço Educativo da Casa da Música, certamente marcado por esta primeira experiência, tem aprofundado o seu trabalho junto de populações desfavorecidas, de comunidades fragilizadas. Todos os anos várias acções são desenvolvidas em colaboração com diferentes instituições de intervenção social. Simon Rattle, famoso maestro britânico, disse uma vez: “Porquê assistir a um jogo de futebol, se o podemos jogar?”. Ao dizê-lo, Simon Rattle, quis demonstrar a importância da vivência musical e de como essa experiência proporciona uma audição diferente, para além de um crescimento cultural, que leva, acreditamos nós, ao crescimento social e humano. Na prática, a Casa da Música, há muito que abre as portas para todos fazerem música, para todos jogarem com os sons. A fruição musical ganha assim outra dimensão e quem a pratica, ganha também outra dimensão. O Serviço Educativo da Casa da Música tem, na sua programação regular, workshops que são autênticas viagens ao mundo da música, onde o lúdico se mistura com o pedagógico e que requerem de quem neles participa, um envolvimento total. Os nossos workshops têm acolhido várias comunidades, vindas das mais diversas proveniências, onde populações necessitadas, reclusos, pessoas com necessidades especiais, crianças em risco e população escolar, tem experimentado a música pelo lado de dentro. A frequência destes workshops é aberta a todos que realmente querem experimentar a música. Várias são as instituições e pessoas que têm repetido a viagem até à Casa. Durante o ano, fazem-se mais de duas centenas de workshops que en-

volvem milhares de pessoas. No entanto, não há apenas workshops na Casa da Música. Há muito mais. Desde 2008 que o programa “A Casa vai a Casa” tem levado a música a pessoas que, de outra forma, não teriam acesso a ela: hospitais, lares de 3ªa idade, prisões, centros de acolhimento são apenas alguns dos exemplos onde o “A Casa vai a Casa” tem chegado. A importância deste nosso programa e o seu reconhecimento, valeu a distinção por parte da CCDRN, atribuindo-lhe o prémio Norte Inclusivo 2010. Estar junto da população, integrada no seu meio, é uma das mais eficazes formas de intervenção. Esta filosofia está presente em grande parte dos projectos que temos vindo a desenvolver. Em 2007, em parceria com a Santa Casa da Misericórdia da Maia, criámos um coro no Centro Comunitário do Bairro do Sobreiro. Nesse coro, ainda hoje se cruzam as vozes do bairro, dos beneficiários do rendimento social de inserção, dos professores aposentados, dos utentes dos centros de dia. A música junta-os todas as semanas para ensaios e já por variadas vezes se apresentaram ao público. Este é apenas um exemplo, entre vários projectos criados por nós. Já estivemos nos Bairros do Lagarteiro, do Cerco, do Aleixo ou de São Tomé. Já desenvolvemos projectos nos estabelecimentos prisionais do Porto, de Santa Cruz do Bispo, de Paços de Ferreira. No final gostamos de apresentar o trabalho aqui na Casa. No final, as portas da Casa abrem-se aos novos artistas e não aos necessitados, ou excluídos. Temos a noção do que a música pode fazer pelas pessoas. Temos constatado as mudanças, as aquisições sociais que muitos daqueles que connosco têm colaborado têm conseguido. Dar palco, espaço, visibilidade, identidade a alguém, é o primeiro passo para conseguir que a sua auto-estima ganhe algum valor. E quantas vezes lidamos com pessoas que revelam uma auto-estima e confiança inexistentes. A música é também forma de aprendizagem social. Ao praticá-la em conjunto, aprendemos todos a respeitar o outro, a ouvi-lo, a conviver com ele. Ao entrarmos num projecto, assumimos todos algumas das regras básicas de funcionamento: o horário, o respeito dos compromissos, por exemplo. E se para a população estável, com recursos, com

uma vida estruturada, estas parecem ser verdades inquestionáveis, não o são para quem está fragilizado, para quem não tem meios, muitas vezes para quem não tem casa. Foi pensando nisto tudo, e de como podíamos mudar algo, que em 2009 criámos o “Som da Rua”, uma orquestra que se define como “a orquestra de quem conhece a rua melhor que ninguém”. Desde o seu início até hoje o “Som da Rua” tem acolhido dezenas de novos músicos, pessoas das mais diversas proveniências que às quartas-feiras depois de almoço,


Jorge Prendas Casa da música

se juntam para cantar, tocar, compor as suas próprias canções. Tendo-se já apresentado em vários locais, o “Som da Rua” fica desde já marcado pela sua participação no Sonópolis de 2010, na Casa da Música, onde actuaram para cerca de mil e quinhentas pessoas. Este projecto, que conta com a parceria de várias instituições que trabalham com pessoas sem casa, com a toxicodependência, e tantas outras dificuldades, continua o seu trabalho semanal, mantendo uma enorme percentagem de pessoas que estiveram des-

de a primeira sessão e que hoje tem orgulho em pertencer a este grupo. Descobriram na música um espaço de expressão, uma forma de se afirmarem, uma forma de conviverem. São hoje pessoas diferentes. Regresso à vossa carta e ao vosso desafio de escrever algo tendo como base a pergunta: “como um pobre (ou outro) pode utilizar os recursos disponíveis e que se relacionem com a cultura”. Creio que temos feito já alguma coisa. O que vos descrevi é apenas uma parte do que temos feito nos últimos cinco

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anos. Temos recursos humanos e físicos que tentam chegar junto daqueles que noutras circunstâncias nunca poderiam vir à Casa da Música. Temos ideias que os incluem. Temos projectos que os envolvem. É certamente um bom ponto de partida para o muito que ainda há a fazer. A Casa de todas as músicas quer também ser a Casa de todas as gentes.

fotografia | Nuno Ferreira

Acesso à cultura


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Carlos Amaral Dias Psiquiatra

Sabemos que no actual contexto económico-social português muitos são aqueles que se encontram no limiar da pobreza, outros ainda (muitos) que se encontram sem emprego e, por isso, muitíssimos aqueles que no dia-a-dia lutam pela sobrevivência. Sabemos também que estas condições que precarizam muitos de nós revertem obrigatoriamente para o nosso psiquismo, misturando sentimentos de impotência, raiva, desalento e, porque não dizer, depressão. Como é que em circunstâncias tão adversas podemos manter a nossa auto-estima, já que privados de muitos bens que são essenciais. Como podemos gerir a face que retrata aquelas emoções junto, sobretudo, àqueles que nos são próximos, filhos, marido/mulher, e também junto de outros que também nos são íntimos e com quem partilhávamos a mesa de café em cavaqueira amena, agora que tantas vezes nem sequer podemos, financeiramente, tomar um café. Sei que é difícil, muito difícil, mas tanto mais difícil quanto deixarmos que a nossa auto-estima seja completamente devorada por um quotidiano, tantas e tantas vezes sombrio. A auto-estima, que se pode definir como uma mescla de auto-confiança com auto-respeito, não se distingue por isso tanto assim do que podemos designar por amor-próprio. Quando sentimos que nada, ou muito pouco, podemos aguardar da sociedade que nos rodeia, a possibilidade de realizar os nossos sonhos, ainda que estes se reduzam à convicção de que podemos garantir a subsistência dos nossos familiares, torna-se frágil. Mas tal não nos deve impedir de assumir a responsabilidade da nossa própria existência, ou seja, não precisamos de hipotecar a nossa própria identidade. Por outras palavras, aquela responsabilidade permite-nos entender que, apesar de todas as dificuldades, somos ainda responsáveis por muitas das nossas escolhas e dos nossos actos. Pela forma como organizamos o tempo, já que “matar o tempo” não ajuda a encontrar pequenas finalidades quotidianas. Sobretudo, devemos impedir, pela manu-

Auto-Estima em Tempos de Crise

tenção do nível de consciência de nós próprios, de projectar as nossas ansiedades na forma como tratamos os outros, sejam eles companheiros ou companheiras, filhos, pais, amigos, etc. Além do mais, devemos ser congruentes com aquilo que verdadeiramente nos constitui, ou seja, o que somos e o que sentimos apenas por nós próprios. A não ser assim, auto-rejeitamo-nos e a auto-rejeição mascara o que de melhor temos em nós, incluindo frequentemente os nossos próprios valores. Devemos também ser capazes de compartilhar sem raiva, e sobretudo com confiança emocional no outro, as nossas emoções. Por outras palavras, não nos devemos auto-vitimizar excessivamente por algo que não foi de todo em todo da nossa responsabilidade, sendo isso essencial para manter contextos pessoais e interpessoais saudáveis e benevolência para com nós próprios, evitando sentimentos negativos de auto-condenação. Esta não é de forma alguma uma virtude, pelo contrário, é paralisante. Se formos capazes de não nos entregarmos a tudo o que se torna às vezes aparentemente intolerável suportamos melhor a nossa infelicidade. A arte de vencermo-nos a nós próprios aprende-se muitas vezes com as nossas derrotas. Às vezes perdemos uma guerra, mas o pior é perder a paz interna que nos fortalece perante as maiores adversidades.


fotografia | Nfactos

Auto-Estima em Tempos de Crise


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Alfredo José de Sousa

O Acesso à Justiça

Provedor da Justiça

1 – Acesso à Justiça e aos Tribunais O acesso à justiça é um direito de todos os cidadãos, e em particular dos carenciados, expresso na Constituição Portuguesa, encontrando-se consagrado no art. 20º, que estabelece um direito geral à protecção jurídica, prevendo o acesso ao Direito e aos Tribunais, o direito de informação e consulta jurídica e o direito ao patrocínio judiciário. O referido artigo é também uma manifestação do princípio da igualdade, pois apesar de não determinar a gratuidade dos serviços de justiça, garante que ninguém pode ficar impedido de aceder à justiça por não ter condições para suportar as despesas inerentes, ou seja, por razões de insuficiência económica. O acesso ao Direito e aos Tribunais, que é uma responsabilidade do Estado em cooperação com as instituições representativas dos profissionais do foro, compreende duas vertentes, a saber: a informação jurídica e a protecção jurídica. A informação jurídica é o dever que incumbe ao Estado de realizar acções para dar a conhecer a todos os cidadãos o direito e o ordenamento legal, pois é o conhecimento desses direitos, bem como dos mecanismos existentes para reagir à sua violação, que permite um melhor exercício dos mesmos, bem como um adequado cumprimento dos deveres. A protecção jurídica é concedida para questões ou causas concretas, quando o cidadão tenha interesse próprio na causa e demonstre estar em situação de insuficiência económica. Nos termos da lei, têm direito a protecção jurídica os cidadãos nacionais e da União Europeia, os estrangeiros e os apátridas com título de residência válido num qualquer estado membro, com comprovada insuficiência económica. A determinação desta situação de insuficiência económica depende de vários factores: rendimento e composição do agregado familiar, existência de bens móveis e imóveis, depósitos em contas bancárias, entre outros. Para requerer protecção jurídica, o interes-

sado pode dirigir-se a qualquer serviço de atendimento ao público da Segurança Social, preenchendo e entregando o formulário (gratuito) próprio para o efeito. Este formulário também está disponível em formato digital, no sítio da Internet da Segurança Social, podendo ser entregue por correio electrónico. O requerente terá que juntar documentos comprovativos da sua situação de insuficiência económica.

causa e mantém-se para efeitos de recurso, bem como para execuções fundadas em sentença proferida em processo onde tenha sido concedido esse apoio. A decisão final sobre o pedido de apoio judiciário é comunicado ao requerente pelo serviço da Segurança Social que o apreciou, se no prazo de 30 dias não tiver sido proferida uma decisão, considera-se o pedido tacitamente deferido e concedido.

A protecção jurídica pode revestir duas modalidades: a consulta jurídica e o apoio judiciário.

2 – Direito de queixa ao Provedor de Justiça (art. 23º da C.R.P.) O Provedor de Justiça é um órgão do Estado,

A consulta jurídica é o esclarecimento técnico sobre o direito aplicável a questões ou casos concretos, onde se verifique a existência de interesses pessoais ou direitos próprios lesados ou ameaçados de lesão. O Ministério da Justiça em cooperação com a Ordem dos Advogados e as Autarquias locais garante a existência de Gabinetes de Consulta Jurídica, que, gradualmente, deverão vir a ter a cobertura territorial do país. O apoio judiciário, por sua vez, compreende várias modalidades: Dispensa da taxa de justiça e outros encargos com o processo; Nomeação e pagamento de honorários de patrono (advogado); Pagamento de honorários de defensor oficioso (advogado); Pagamento faseado da taxa de justiça e de outros encargos; Nomeação e pagamento faseado de honorários de patrono (advogado): Pagamento faseado de honorários de defensor oficioso (advogado); Atribuição de agente de execução. O apoio judiciário aplica-se a todos as formas de processos, em todos os tribunais, bem como nos julgados de paz e noutras estruturas de resolução alternativa de litígios, estendendo-se, também, aos processos que correm nas Conservatórias (divórcio por mútuo consentimento). O apoio judiciário pode ser facultado a quem propõe uma acção em tribunal ou à pessoa contra quem a acção é proposta, pode ser requerido em qualquer estado da


Alfredo José de Sousa Provedor da Justiça

designado pela Assembleia da República, e tem como principal função defender os direitos liberdades e garantias e interesses legítimos dos cidadãos, assegurando, através de meios informais, a legalidade e a justiça no exercício dos poderes. A Constituição confere a todos os cidadãos, sem qualquer excepção, o direito de queixa ao Provedor de Justiça, que apreciará a questão apresentada e, ainda que sem poder vinculativo, poderá formular uma chamada de atenção, um reparo ou mesmo uma recomendação ao órgão ou entidade competente, aconselhando uma forma de

reparar a ilegalidade ou injustiça verificada. A queixa pode ser apresentada pessoalmente, por carta, fax, correio electrónico ou telefone, expondo os factos de forma clara e identificando a entidade pública reclamada. O recurso a este órgão é gratuito. Para além dos cidadãos poderem apresentar directamente queixas ao Provedor de Justiça, também o podem fazer através do Ministério Público, que as transmitirá de imediato – art. 25º, n.º3 E.P.J. No âmbito de um Protocolo de Cooperação celebrado entre o Provedor de Justiça e a Associação Nacional de Municípios Portugue-

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ses, os cidadãos passaram também a dispor da possibilidade de, junto dos Municípios aderentes, aceder de forma gratuita ao sítio na Internet do Provedor de Justiça, de modo a poderem exercer o direito de queixa. Os Municípios disponibilizam, ainda, assistência no preenchimento do formulário da queixa, sempre que tal for solicitado. Estes são os mecanismos legais que estão ao alcance de todos os cidadãos carenciados para que possam aceder à justiça, em igualdade de circunstâncias com os demais, e dessa forma fazerem valer ou defender os seus direitos.

fotografia | Vitor Costa

O Acesso à Justiça


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Vera Deus

Vestir e comprar em tempos de crise

Conselheira de moda

Quando o ESPAÇO T me pediu para escrever

rior, meias e collants, cintos, lenços e pache-

- O tenebroso que já não se usa, mas mar-

lhorar a nossa imagem sem termos que uti-

caixas porque o mais provável, é que, como

exemplo, escolas de teatro.

um breve texto sobre como podemos melizar muitos recursos, pensei imediatamen-

te que em primeiro lugar, a melhor forma de o fazer é olharmos de outra forma para o que temos no nosso guarda roupa.

Que me perdoem os cavalheiros, mas este texto destina-se maioritariamente às senhoras!

Aqui vão algumas dicas:

Antes de dispararmos a achar que temos

que ir às compras, devemos em primeiro lugar analisar o nosso guarda roupa, organizá-lo e, só depois, com um plano, sair... se for o caso disso.

É incrível o que um guarda roupa organizado pode fazer por si:

A maior parte das vezes o que acontece é que parece que o seu guarda-roupa está a

rebentar pelas costuras mas não tem nada para vestir.

1º Passo – Arrumar a roupa de inverno no verão e vice-versa. Menos por onde escolher leva a uma escolha mais acertada. Depois de lavada ou limpa a seco arrume tudo em

caixas que pode colocar na parte mais inatingível do seu roupeiro. Se não tem espaço,

arrume em malas de viagem e coloque –as por baixo da cama.

Pode colocar paus de canela, que são os meus preferidos, porque libertam um chei-

rinho muito agradável e têm alguma acção anti-traça.

2º passo – Evite cabides de arame que de-

formam a sua roupa, mesmo as camisas de algodão. O ideal será usar cabides de madeira, plástico ou almofadados que ajudam

a que a sua roupa dure mais. Deve ver toda a roupa quando abre o armário , não coloque duas peças no mesmo cabide, a não ser que as use juntas.

3º passo – Organizar!

O mais importante é compartimentar as

suas gavetas com divisórias próprias, caixi-

nhas ou caixas de sapatos que pode forrar se tiver tempo, para separar a roupa inte-

minas. As bijuterias não deve guardar em não as vê é que não se lembra de as usar.

cou uma década, para guarda roupa de, por

Pode pendurá-las na porta do armário, jun-

Então, CORAGEM, vamos mergulhar no rou-

te as usa ou, a minha opção preferida, em

1. Soutiens - Se o peito sai da copa, ou se

tamente com a roupa com que normalmentabuleiros para talheres, em gavetas.

As T’shirts, Pullovers, Sweatshirts e Jeans

pode dobrar por categorias e cores, em pequenas pilhas para evitar desmoronamentos. Pode colocar junto às pilhas os mesmos pauzinhos de canela.

Pendure o maior número de peças possível. É mais fácil do que dobrar e consegue visualizar tudo melhor.

Pendure as calças pelo cós em cabides de molas. Previne que tenha que as passar a ferro constantemente.

Tente, ou criar conjuntos, para as mais preguiçosas, ou organizar por cores que combinem.

Se tiver espaço, o ideal são as prateleiras especiais para colocar os sapatos.

Se não, use organizadores para sapatos que pode pendurar no varão e poupa mais espaço ainda.

Manutenção dos sapatos é muito importante.

4º passo - Seleccionar!

Para seleccionar vamos passar por duas etapas.

Primeiro, vamos ver-nos livres dos importunos e depois do que não nos serve ou nos fica mal.

Uma das alturas em que acho que esta selecção é fundamental é na altura da meno-

pausa, ou após uma gravidez. Manter no

armário a roupa da altura em que se sentia feminina e sexy só a vai deprimir.

O que fazer com a roupa separada?

- O que está estragado e absolutamente irrecuperável, para o lixo.

- O que não serve e está em óptimo estado, pode doar a lojas de caridade, ou vender a lojas de 2ª mão, sempre pode fazer algum dinheiro com estas peças.

peiro e excluir:

as alças mergulham nos ombros, ou perdeu a cor e elasticidade, ou o arame está a sair.

2. Cuequinhas – Que não têm elástico nem cor, ou que estão pequenas de mais.

3. Fatos de banho e Bikinis órfãos, que já não

servem, e ficam esticados até ao limite, ou desbotados.

4. Malhas tricotadas – com buracos de traça,

muitíssimo borboto ou sem forma ( uma ca-

misola deve ter sempre forma, não importa o seu tamanho ).

5. T’shirts – que não têm forma, as muito justas, as muito curtas e as desbotadas.

6. Saias - São mais difíceis de eliminar. Separamo-nos então das que estão estragadas, por exemplo com nódoas e manchas de vinho e estão curtas.

7. Casacos – Os que têm os ombros muito

largos ,os que estão gastos, os que não têm forma, os que têm traça .

8. Calças –As muito justas e os corsários ( tenho um ódio especial por corsários, não ficam bem com nenhum tipo de corpo ) 9. Luvas – Com buracos ou manchas.

10. Sapatos - Pequenos, altos demais, desconfortáveis, pele gasta e sem remédio. 11. Malas – Esquecidas e sujas.

12. Vestidos – Sem forma, justos demais,

curtos demais ( se for a sua forma de vestido

mas estiver manchado, experimente tingir de um tom mais escuro )

13. Bijuteria – Com pedras ou fechos estragados ( as peças que estão óptimas mas não se usam, guarde para a próxima geração )

Para se ver livre do que não lhe serve ou lhe

fica mal, convoque a amiga mais implacável e honesta que tem. Se for realmente sua amiga vai dizer-lhe que realmente não pode mais sair à rua a usar a peça X ou Y.

A roupa que não lhe serve e da qual não se


Vestir e comprar em tempos de crise

Vera Deus

Conselheira de moda

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quer desfazer, é fundamental que a escon-

Tem que experimentar tudo.

roupa interior do que por exemplo, em rou-

ao olhar para uma peça com um tamanho

compras.

O que precisamos é de suporte e forma.

que não é o que veste no momento. COMPRAS

Para fazer compras deve sempre ir com um plano.

Só deve ir às compras depois de organizar o armário e perceber o que realmente lhe faz falta.

Ao comprar, lembre-se sempre do coordenado completo.

Ou compra uma peça para uma órfã, que já

tenha, ou compra o coordenado completo no mesmo dia.

Quem não tem peças que comprou por impulso e ainda estão, sozinhas no armário, com a etiqueta?

Se não lhe apetece experimentar, não vá às Compre a roupa do seu tamanho real, e não do imaginário ou do que gostaria de ter. A

única pessoa que vai ver o seu tamanho real

é quem lhe vende a peça e que provavelmente nunca mais vai encontrar.

Não tenha medo do seu tamanho, o resultado final vai ser sempre melhor.

Só para terminar, considero que a roupa interior é a base de qualquer guarda roupa.

Não serve de nada ter roupa fantástica, com um corte fantástico se a roupa interior não

for a indicada para o seu corpo nem do ta-

pa de marca.

Se o suporte que precisamos não é, talvez a

opção mais sexy , é seguramente a que nos vai fazer sentir melhor.

Considero também que, nos dias que correm, há variadíssimas lojas no mercado com

preços bastante acessíveis, com muitíssima qualidade, e design actual. É perfeitamente possível ter uma imagem absolutamente impecável, com poucos recursos.

Espero que estas dicas sejam uma motivação e inspiração.

manho certo.

Um bom soutien e cuequinha pode mudar radicalmente a forma do seu corpo. E, neste

sentido é mais importante investir em boa

fotografia | Vitor Costa

da, para que não se sinta triste todos os dias,


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Leila Cruz Presidente da Direcção da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência

No ano de 2010, designado pelas mais altas instancias comunitárias como o “Ano Euro-

peu de Luta contra a Pobreza e a Exclusão social”, todas as matérias subjacentes foram debatidas.

Fizeram-se colóquios e criaram-se fóruns

com vista a esclarecer e a informar todos sobre questões tão importantes como a igualdade entre género, o acesso à educação e

formação profissional, trabalho e emprego, o combate à pobreza e exclusão social bem

como a segregação da pessoa portadora de

deficiência, o direito à família, maternidade e paternidade, a convicção religiosa e a opção sexual.

Terminou um ano cheio de boas intenções

com uma mão cheia de instituições públicas, privadas, independentes e figuras públicas a darem a cara por questões que a todos preocupam.

Mas a taxa de desemprego continua a su-

bir e todos os dias são fechadas unidades de saúde pública. Os idosos encontram-se cada vez mais sozinhos, as famílias, mais do que endividadas, não encontram razões objectivas para aumentarem o número de filhos. A cor de pele e um indivíduo bem como a sua

orientação sexual ou política continuam a

ser determinantes para a sua integração social. A fome, a pobreza escondida e o flagelo da droga são uma realidade incontornável.

Temos a obrigação de fazer mais. Não podemos ignorar este imperativo moral sob pena

de deixarmos um parco e envergonhado legado às gerações vindouras. Prolonguemos este slogan pelo tempo que for necessário.

Conjuguemos esforços no sentido de, objec-

tivamente combatermos mais eficazmente toda e qualquer exclusão.

Publicitemos à viva voz a solidariedade universal!

O acesso ao desporto


Leila Cruz

Presidente da Direcção da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência

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fotografia | Nfactos

O acesso ao desporto


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Nfactos

Campanha contra a pobreza


Campanha contra a pobreza

Nfactos

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Nfactos

Campanha contra a pobreza


Campanha contra a pobreza

Nfactos

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Kameraphoto

Nelson D’Aires


Nelson D’Aires

Kameraphoto

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Kameraphoto

Valter Vinagre


Valter Vinagre

Kameraphoto

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Corpo a vestir

Produção: Cláudia Oliveira Fotografia: Vitor Costa Assistido por Manuela Bartosch e Paulo Valle

Modelo | Maria Barbosa

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Modelo | Sandra Ferreira

A Revista Espaço Con(tacto) agradece a colaboração da Câmara Municipal do Porto, na cedência da Piscina Eng. Armando Pimentel.

Corpo a vestir

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Corpo a vestir

A Revista Espaço Con(tacto) agradece a colaboração da Loja Vermelha (Cruz Vermelha) que cedeu os coordenados para esta edição do corpo a vestir.

Modelo | Patrícia Araújo

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Modelo | Sandra Ferreira

Produção: Cláudia Oliveira Fotografia: Vitor Costa Assistido por Manuela Bartosch e Paulo Valle

Corpo a vestir

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DisponĂ­vel em www.espacot.pt



MISSÃO PRODUZIR SOLUÇÕES, SERVIÇOS E PRODUTOS ADEQUADOS ÀS NECESSIDADES DE COMUNICAÇÃO OU NEGÓCIO DOS CLIENTES, SATISFAZENDO OU EXCEDENDO AS SUAS EXPECTATIVAS, A UM PREÇO JUSTO. FAZÊ-LO COM ABSOLUTA RESPONSABILIDADE SOCIAL, AMBIENTAL E ÉTICA.


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Sede Porto: Rua do Vilar, 54 / 54A 4050 – 625 Porto T | (+351) 22 608 19 19/20/21 F | (+351) 22 543 10 41 Telm: 916782792 dci@espacot.pt www.espacot.pt

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A Revista Espaço Con(tacto) nº 17 é uma publicaçãoeditada pela Espaço t, e co-financiado pelo Instituto da Segurança Social, no âmbito do Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social.


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