Vilson Caetano de Sousa Jr. , Emília da Cruz Santos e Edite dos Santos Ilustração: Rodrigo Siqueira
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Coleção Histórias Quilombolas
A DONA DAS ÁGUAS Autores: Vilson Caetano de Sousa Jr. , Emília da Cruz Santos e Edite dos Santos Ilustração: Rodrigo Siqueira Pesquisa: Magnair Barbosa e Marina Bonfim Revisão: Lise Mary Arruda
Projeto Gráfico: Renato Ribeiro
Ficha catalográfica elaborada por Cátina M. Santos Cerqueira CRB5/1440
S729
Sousa Júnior, Vilson Caetano de A dona das águas/ Vilson Caetanos de Sousa Júnior. Ilustração: Rodrigo Siqueira, -- Salvador: Brasil com Arte, 2014. 12p.: il.
ISBN: 978-85-66694-15-4 Coleção Histórias Quilombolas; v. 1
1. Contos Brasileiros. 2. Ficção. 3. Cultura afro-brasileira. 4. Cultura. I. Título, II.Santos, Emília da Cruz. III. Santos, Edite dos.
CDD: B869. 3
A Coleção Histórias Quilombolas é um conjunto de publicações fruto da parceria entre a empresa Brasil com Artes e a Enseada Indústria Naval em atendimento às condicionantes da Anuência nº 08/2010 da Fundação Cultural Palmares. Trata-se de um trabalho que reúne histórias que ainda hoje são contadas nas comunidades quilombolas do município de Cachoeira, na Bahia. Transmitidas de geração a geração, essas histórias vinculam saberes, fazeres e visões de mundo destas comunidades. São contadas por adultos, que as ouviram de seus pais e mães quando ainda eram crianças, e continuam sendo atualizadas, dada à sua importância e ao seu significado. A Coleção Histórias Quilombolas reúne três volumes procedentes dos quilombos de Cachoeira: A Dona das Águas, a Mãe do Timbó e o Homem que virava bicho, o bicho que virava homem. São histórias que alguns quilombolas gostariam de ver contadas nas escolas. Estas aqui reescritas, além de novas palavras, podem ajudar o professor a trabalhar temas relacionados à natureza, noções de cidadania e conceitos como identidade, ética e filosofia. 4
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Dona Emília é uma quilombola do Calembá. Ela tem 60 anos e é neta de africanos. Dona Emília ouviu de sua avó várias histórias. Junto com Dona Judite, outra marisqueira do Calembá, Dona Emília nos conta a história da Dona das Águas. A Dona das Águas possui vários nomes: Janaína, Sereia, Mãe D`Água, Yemanjá ou simplesmente “moça bonita”. Ela protege os rios, os mares, os pescadores e as marisqueiras. Segundo Dona Emília, a Dona das Águas mora numa casa muito bonita, um verdadeiro palácio que existe no fundo dos oceanos. A casa de Janaína possui todas as riquezas: corais, estrelas do mar, pedras preciosas. Enfim, é um lindo tesouro! A Dona das Águas é um peixe que brilha como ouro e acompanha os pescadores e as marisqueiras.
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Um dia, quando ainda era pequena, Dona Emília e sua irmã saíram com outras crianças para brincar de canoa. De repente, a sua irmã viu refletir no rio a imagem de uma moça muito bonita. Encantada com a beleza da imagem, a menina se jogou na água e desapareceu. Desesperadas, as outras crianças correram e foram procurar ajuda. Uma turma saiu à procura da garota, mas não a encontrou. Quando todos já estavam voltando para casa, a menina apareceu do outro lado do mangue, toda enxuta. Yemanjá havia levado a garota para conhecer o seu palácio.
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Conta-se também que a sereia ficava sentada sobre uma pedra, no meio do caminho que leva à cidade de Cachoeira. Quando alguns pescadores passavam pela pedra, cantavam: “– Eu vou levar, eu vou levar esse presente para a Dona do Mar. Dona Yemanjá é moça bonita, é um frasco de cheiro, é um laço de fita”. Sempre que voltavam, deixavam um presente para a Dona das Águas. Um pescador que ía para Cachoeira buscar mercadorias encontrou uma mulher sentada numa pedra. Ela lhe encomendou um frasco de perfume e fitas coloridas. No retorno, ao passar pelo local, o pescador se lembrou da encomenda, mas fez pouco caso. Afinal, a moça bonita, que havia lhe encomendado os objetos, não estava mais ali.
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Na viagem seguinte, o pescador encheu a canoa de mercadoria, como sempre fazia, e remou em direção à Cachoeira. No meio do caminho, o céu virou mar. Depois de remar muito, o pescador se desesperou e foi jogando a mercadoria rio abaixo. Até que ele se lembrou da moça bonita sentada sobre a pedra e da cantiga que dizia: “– Eu vou levar, eu vou levar esse presente para a Dona do Mar. Dona Yemanjá é moça bonita, é um frasco de cheiro, é um laço de fita.”
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OBJETIVOS • Valorizar as histórias quilombolas; • Colocar as pessoas em contato com algumas palavras utilizadas pelos quilombolas; • Dar noções do cotidiano das comunidades quilombolas; • Demonstrar como as comunidades quilombolas constroem conceitos e noções relacionadas ao meio ambiente; • Discutir a importância da palavra dita, considerando o valor da oralidade para os povos de matriz africana.
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