Dendezeiro - A planta de onde se tira tudo

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A PLANTA DE ONDE SE TIRA DE TUDO

DENDE Zeiro



DENDE Zeiro

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DENDEZEIRO, A PLANTA DE ONDE SE TIRA TUDO Autor:

Vilson Caetano de Sousa Junior

Fotografia: Rodrigo Siqueira Pesquisa: Magnair Barbosa Marina Bomfim Projeto Gráfico: Ton Friche Revisão: Maria Verônica


A gente não perde nada do dendê. Do dendê a gente aproveita tudo.

(lenira Calheiros)

O dendezeiro ou pé de dendê é muito importante para as comunidades quilombolas. Originária do Continente Africano, as sementes de cores vermelhas amareladas da planta que pode chegar até vinte metros de altura, é chamada também de dendém (na língua kimbundu), Kissede (no Benin) ou simplesmente dendê como conhecemos. Ao contrário do que muita gente pensa, o pé de dendê não nos dá apenas o azeite, conhecido também como azeite de cheiro ou óleo de palma. Dele os quilombolas aproveitam tudo. Como chamou a atenção a quilombola Lenira Calheiros do quilombo Girau Grande. A gente não perde nada do dendê. Do dendê a gente aproveita tudo.


CURIOSIDADE

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Você sabia que a mais de cinco mil anos as pessoas passavam óleos no corpo para protegerem-se, antes mesmo de se preocupar em deixá-los mais brilhantes? Ainda hoje os quilombolas extraem o óleo dos coquinhos (amêndoas) do dendê. Algumas comunidades o chamam de xoxô. O xoxô é passado nos cabelos e no corpo onde é empregado contra bichos de chão e insetos.


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NÃO SE DEIXE ENGANAR Algumas pessoas afirmam que o azeite de dendê faz mal a saúde. MENTIRA. O AZEITE DE CHEIRO É BOM PARA A SAÚDE Ele é rico em Vitamina A, conhecida também como VITAMINA DA BELEZA. A vitamina A ajuda combater infecções e fortalecer os dentes. DENDÊ É BOM TAMBÉM PARA OS CABELOS! Conforme já aprendemos acima. O azeite de dendê possui mais vitamina A do que a cenoura e o tomate.

DENDE NÃO É BOM SOMENTE PARA COMER

O AZEITE DE DENDE TAMBÉM É FONTE NATURAL DE VITAMINA E

O azeite de dendê é o óleo mais produzido e consumido no mundo ora como combustível, ora como cosmético. O dendê fornece base para fabricação de sabão, sabonete, sabão em pó, detergente, amaciante de roupa, xampus, condicionadores, velas, graxas, lubrificantes e combustíveis. Em nível de alimentação, o azeite de cheiro fornece matéria prima para a fabricação


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de p茫es, bolos, tortas, cremes, biscoitos, manteiga vegetal e 贸leo para cozinha e salada. Acredita-se que o azeite seja a gordura mais apropriada para a fritura.


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O AZEITE E A SABEDORIA ANCESTRAL AFRICANA As comunidades quilombolas cada uma à sua maneira guardam um pouco da sabedoria ancestral africana sobre a palmeira de onde se aproveita tudo. Assim, um dos maiores desafios é a preservação destas plantas frente à ameaça de pessoas de fora da comunidade que derrubam o dendezeiro a fim de colher os frutos. Os quilombolas cuidam da planta, pois precisam dela para viver. Matar uma árvore desta para colher um cacho é inadmissível. Isso é não deixar nada para os que virão.


DENDE Zeiro A PLANTA QUE SE APROVEITA DE TUDO As folhas do dendezeiro são utilizadas como cobertura, mas também fornecem matéria prima para fazer cestos, peneiras, chapéus, abanos e outros utensílios. O caule que sustenta as folhas chamado de tala é transformado numa espécie de cesto chamado munzuá, empregado para capturar mariscos e peixes. É com as chamadas talas de dendê que se finaliza uma das mais curiosas maneiras de pescar e mariscar conhecida como camboa, espécie de cercado que atrai os peixes e mariscos, onde estes entram e não conseguem sair. O caule cortado de forma menor é chamado taliscas, ou espeto. Como o próprio nome sugere, comumente é utilizado para espetar peixe antes de ser defumado ou simplesmente secado ao sol sobre uma cama de talas de dendê.


DENDE Zeiro O tronco do dendezeiro serve como móvel. Comum encontrarmos em alguns quilombos este sendo utilizado como suporte de mesa, assento. Certa ocasião encontramos como um instrumento de percussão. O hábito de produzir o vinho extraído desta palmeira e de comer o palmito da planta não se popularizou no Brasil. Talvez por tratar-se de práticas que debilitam e matam a planta. Todas as comunidades quilombolas de Maragojipe extraem azeite de dendê utilizando o pilão. O azeite de pilão é especial.


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Ele é preparado de forma discreta nos terreiros das casas quilombolas. AZEITE DE RODÃO E AZEITE DE PILÃO Nos chamados rodões, a produção do azeite de dendê é coletiva. O óleo é obtido através de uma prensa, espécie de roda. Daí o nome rodão. Atualmente a maioria dos rodões são motorizados. O azeite de pilão é produzido em menor escala e visa atender ao consumo doméstico na maioria das vezes. Na véspera, as sementes são cozidas com um pouco de sal. No dia seguinte, elas são colocadas no pilão onde são esmagadas num trabalho lento e demorado. Uma vez piladas, é hora de lavar o dendê. As sementes são colocadas num recipiente com água. Pacientemente, as mulheres vão fazendo cafuné. O cafuné consiste em separar as fibras do caroço. Vez ou outra o cafuné é interrompido para a retirada cuidadosa da espuma que fica suspensa na água chamada catetê . É o catetê que será levado ao fogo para apurar. Apurar é fazer evaporar a


DENDE Zeiro água do azeite, fazendo restar apenas o óleo. É também receber tempero especial, uma espécie de aromatização feito com folhas de aroeira e cajueiro, dentre outras coisas guardadas como segredo da sabedoria quilombola. Há ainda o bambá, a borra do azeite com o qual se prepara deliciosa farofa. A borra também fornece base para o sabão em barra e é também utilizada na alimentação dos animais.


DENDE Zeiro Depois de lavado, ou melhor, acariciado pelo cafuné, o bagaço é colocado para secar e serve como combustível. O cacho de onde foram extraídas as sementes é chamado de tangunço .O tangunço é imerso em água para apodrecer. Após duas semanas é esmagado e limpo. Posto no sol para secar transforma-se em excelentes vassouras utilizadas na chapa onde se torra a farinha na casa de farinha. Conforme já observamos, das amêndoas ou coquinhos retira-se um óleo de cor clara, utilizado como cosmético e para fins medicinais e má


DENDE Zeiro O AZEITE E A INFLUÊNCIA DA LUA Acredita-se que a lua influencie diretamente a extração do azeite de dendê. Assim se devem observar atentamente as fases da lua para realizar o corte dos cachos do dendê. Quando a lua estiver no céu, chamado de dia claro, não se deve cortar os cachos de dendê. Isso equivale ao que chamamos de quarto crescente quando a lua nasce ao meio dia e se põe a meia noite e ao quarto minguante, quando a lua nasce à meia noite e podemos vê-la até o meio dia. O corte deve ser feito sempre no “dia escuro”, quando a lua não estiver no céu, ou quando ela já houver se escravado. Em outras palavras, quando a lua for nova ou cheia.


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O AZEITE PELO MUNDO A Indonésia é o maior produtor de azeite de O AZEITE PELO MUNDO A Indonésia é o maior produtor de azeite de dendê do mundo, seguido da Malásia e da Tailândia. O Brasil ocupa o décimo primeiro lugar. O Brasil apresentou um projeto para produzir diesel vegetal a partir do azeite de dendê chamado, o PROGRAMA DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DE ÓLEO DE PALMA.


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PARA Feijão

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IENTES INGRED ijão fradinho mado fe rão defu a m 1 kg de a c mas de coco 200 gra leite de e d l m es 300 s grand la o b e c 02 sto Sal a go dendê a gosto e Azeite d e dinho d a r f R o E ã Z ij E FA por r o fe MODO D catado, coloca gua e reserve de bola má Depois ter a ce silha co a a v B a . o s m a u as hor efogar n r u molho n d a r s a o p n r me loca mamais ou o camarão. Co ola e ca b e c e d ve m zido de mistura o junto co a c ê á j d n o e de feijã cresazeite d anela, o o refogado. A p a r t u de o n . Aguar rão. Em ido e colocado o t s o g rr al a ser esco ite de coco e s le irva. cente o utos e s in m s n por algu


DENDE Zeiro da sto Marisca NTES Sal a go E I D E o à o INGR Cominh camarã erde v e d g k o r 1\2 atado Tempe de siri c ueijo g k 2 \ 1 vontade las grandes carang e d g k bo 1\2 03 ce tra s o e d 1\2 kg picadas os médios aratu e d c g k o c 1\2 02 e sururu s d g k s 2 1\ lado ado ates pic erme- ra mão 03 tom v 01 li entões 02 pim os ad lhos pic e alho d s e t n 03 de s o e do a pimentã o o amass , s e t a ho E FAZER s um dos tom o comin ira l a s o o MODO D ç m a igide em ped asse o alho co numa fr . Cor a Cortar m m u A r e. Ar peros bolas. e reserv centar os tem e duas ce o ã m li e coco es e um r it c e a le d e o o c s su co ntar ar o os maris ando. Acresce zar cort li a n fi a r grande r da fogo b ndê. Pa por na marisca m e e d r a e h d zin e ite o o aze rodelas im m lt e ú o r ã o t p en rde. e o pim pero ve m e t o tomate nte com juntame


DENDE Zeiro Coentro Pirão farinha e S e E d T N a r E I a a01 xíc INGRED ldo da m a c a e d l mandioc 300 m oqueca m a d u riscada o o al a gost S de peixe o c o c ite de 200 ml le de camarão as 50 gram o defumad de castanha s a e 50 gram de azeit s e r e lh 03 co da mou o a d a ê aarisc de dendE o defum o da m FAZER ã r ld a a D c m O a o o c MOD pouco d ite de coco, o istura a m m a u t s e o le ida var e Reserv escente m segu ida. Le r t e c a a e b e ê a d a h quec stan ca ou e den mandio e a o e a ca car o azeite d e id t d a a b h do qu olo farin brando ando. C a mão alta a r m b le o , g a o da o d f deseja ar com do fund ue t ia n e c s e c n r s ê a t e acr solt já q onsis zida até sal por último gar à c e o c h c r do e é s t a colocan da vai locar o r in o a a c z li a e a h s Fin da farin ecomen do já possui. R . la e n a pa um to. rão def o a gos o cama icado bem fin p coentro


DENDE Zeiro ipana

oj a marag d o m à a de galinh Moqueca

o com TES o e limp N id E t I a D b E a R ING ango ara de fr íc x ½ 1 0 dos terra os e pica r u d a m limão da s tes médio picadas 03 toma s e s grand 02 cebola o médio picado tã 01 pimen coentro fresco de os ½molho amassad o lh a e d s 03 dente s dedo de moça ta ado n e 03 pim co defum e s o ã r a am o 50g de c e de coc it le e de pilão. d ê a d r n a e íc d x e 01 ite d a de aze 1/2 xicar to Sal a gos


FAZER MODO DE

DENDE Zeiro

reserve. a terra e d o ã o m li oque o alh lave com s , o r, g la n a a r fr e com caco d Limpe o , misture e barro ou ta d n e to a im r p p a Num pequenos de sal e m e o c o u d o ta p r r co a os com um deve esta to prepar já n e a u u q q n o e g sopa ando o fran colher de eixe marin d a m e u s e o v o ç r a e ped restante, ntes. Res la ie o d b e e r c g in a ates, esta demais nte os tom ture ao frango que ju , la o b e da c o, mis e o coentr o tã n e lda, im p rba e a ca a b . a o d o d n a n marin rão retira coloque o a , m io a d c é o m e porte r de Descasqu panela de re a colhe a tu m is u m N r, . e ta reserv squen or uns aquecer p ndê para e e e d ix e e d d e , do o it ã aze ta marina s e o camar e a e d u a q ic p o frang ite de cebola coloque o gua e o le á e e s d l to u m in 3 m nte 20 mipo de 200 e o m c a d m a u im m aprox po, junto co desse tem zinhar por o is c o p e e ix D e . D a coco. tampad no ponto, la r e e n v a ti p s e a e ofa o sal, s nutos com te com far imento e n z e o u c q o a e d u irva ain verifiq jar. avessa e s tr a omo dese m c u n u o , o vire c n a e arroz br de dendê eite ao evar o az L r. a h in z ue co


Glossário

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fogo para evaporar a água. bater dendê – socar no pilão

munzuá- espécie de cesto utilizado para mariscar

bicho de chão- cobras e bichos peçonhentos

talisca- o mesmo que espeto. Pequenas varetas obtidas do caule do dendezeiro

cafuné – o mesmo que lavar o dendê. Esfregar para concluir a separação das fibras do caroço

temperar o azeite – acrescentar folhas aroeira branca e folhas de cajueiro.

catetê- espuma que emerge sobre água durante a lavagem dia claro- quando a lua permanece no céu um período junto com o sol dia escuro- quando a lua se põe quando o sol nasce escravado- poente lavar dendê - ver cafuné

terreiro- área externa da casa


PARA CONTINUAR LENDO:

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PEIXOTO, Afrânio. Breviário da Bahia. Rio de Janeiro: MEC. Conselho Federal de Cultura, 1980. QUERINO, Manuel. A arte culinária na Bahia. Salvador: Livraria Progresso Editora, 1957. Revista Negócios Agrícolas, Ano II, n˚IX, jan\99. Salvador. Ano I n˚1 Dez\97 SOUSA JUNIOR. Vilson Caetano de. Banquete sagrado: notas sobre os de comer em terreiros de candomblé. Salvador: Atalho, 2009. http\\ www.correiogourmand.com.br http\\www.ceplac.gov.br


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