Vovó do Mangue e Vovó do Mato

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M A o N d GUE Ó V O V & VOVÓ do MATO

Vilson Caetano de Sousa Jr. Ilustração: Rodrigo Siqueira 1


©2013 Brasil com Artes Todos os direitos reservados Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte

Coleção Contos Quilombolas

VOVÓ DO MANGUE E VOVÓ DO MATO Autor: Vilson Caetano de Sousa Jr Ilustração: Rodrigo Siqueira Pesquisa: Magnair Barbosa Marina Bonfim Projeto Gráfico: Ton Friche Revisão: Lise Arruda Maria Verônica

S729

Sousa Júnior, Vilson Caetano de. Vovó do mangue e vovó do mato / Vilson Caetano de Sousa Júnior; Ilustrador : Rodrigo Siqueira, -- Salvador: Brasil com Artes, 2013. 24p.: il. ISBN: 978-85-66694-03-1 -- Coleção Contos quilombolas; v.1.

1. Contos Brasileiros 2. Ficção 3. Cultura afro-brasileira. 4. Antropologia. 5. NegrosEducação. I. Título.

CDD: B869. 3


Vovó do Mangue e Vovó do Mato conta histórias a respeito

do

meio

ambiente

e

sustentabilidade

elaboradas por comunidades quilombolas. Trata-se de um livro fruto de oficinas realizadas nas comunidades quilombolas de Baixão do Guaí e Guerém, situadas no município de Maragojipe, na Bahia. O presente trabalho tem como objetivos: demonstrar noções como bioma, ecossistema, biodiversidade, dentre outras, elaboradas pelas comunidades quilombolas; colocar o leitor em contato com o rico e singular vocabulário das comunidades

quilombolas,

a

exemplo

das

palavras apicum, azonado, cofo, gauça, musunga, toco, cujos significados se encontram no final deste livro; valorizar a literatura oral e os demais saberes das comunidades quilombolas.

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Rebeca é uma menina de 11 anos que mora no Quilombo Guerém. O quilombo Guerém é um lugar muito bonito e fica vizinho a mais dois quilombos, o quilombo Baixão do Guaí e o quilombo Girau Grande. Lá tem muitos rios, cachoeiras, matas, lagoas, manguezais e também roças de cana, mandioca, gado.

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A avó de Rebeca chama-se Dona Nina. Dona Nina tem 75 anos. Rebeca perguntou à sua avó: – Vó, o que é que tem lá no mangue? A avó de Rebeca respondeu: – O mangue tem de tudo. Tem plantas, árvores, peixes, camarão. Tem também urubu, gavião, gauças. Tem siri, aratu, caranguejo, guaiamum, ostra, sururu, lambreta. O mangue tem um monte de coisas. Antigamente, tinha até jacaré!

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Rebeca: – Nossa, vó, que curioso! Dona Nina: – O Manguezal é vivo. É como uma casa toda arrumada para o encontro da terra com o mar, das águas doces com as águas salgadas. Dona Nina: – Do mangue, os quilombolas retiram muitas coisas: alimentos, lenha para acender o fogo, defumar o camarão. Muitas coisas mesmo.

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Rebeca – Vó, de quem é o mangue? O mangue tem dono? Dona Nina: – O mangue é de todos nós. Todos temos que cuidar dele. O mangue não tem um dono, mas uma dona, a Vovó do Mangue. Rebeca se lembrou das histórias que escutou das marisqueiras do quilombo Baixão do Guaí. A Vovó vive no mangue, cuida do mangue, toma conta dele. A Vovó do Mangue é boa para quem é boa com o mangue e ruim para quem não cuida dele.

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Rebeca: – Como é, vovó, que se cuida do mangue? Dona Nina: – Não jogando plástico, vidro, não deixando lixo, deixando os filhotes dos animais crescerem, não tocando fogo. Cuidar do mangue é retirar dele apenas o necessário. Vovó do Mangue cuida das mulheres e crianças que mariscam ou pescam no mangue. Às vezes, ela se diverte fazendo as pessoas caminharem por longas horas sem acertar o caminho de volta para a casa.

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Certo dia, uma mulher se esqueceu de levar o fumo de corda para a Vov贸 do Mangue e saiu para musungar. De repente, a mulher se afastou das outras quilombolas.

A

mulher

perdeu

o

farracho, perdeu o cofo e perdeu o caminho de volta. A mar茅 come莽ou a encher. Cansada de andar, ela correu para o apicum, gritando pela Vov贸, que logo lhe devolveu tudo. No outro dia, a mulher retornou com o dente de alho, para passar no corpo, e o fumo de corda pendurado no cofo.

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Uma vez, também, uma quilombola do Baixão do Guaí foi azonada pela Vovó. Ela não conseguia se levantar e já havia catado muito sururu e tirado muita ostra. Quanto mais ela catava, mais achava. Quando a mulher tentava se levantar, o céu tocava em sua cabeça e ela continuava abaixada. Depois de algum tempo, ela se lembrou que só podia ser coisa da Vovó do Mangue.

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Dona Nina: – No mangue, tem a Vovó do Mangue. No rio, a Dona das Águas, e, nas matas, a Vovó do Mato. Rebeca: – Já sei, vovó, a Vovó do Mato cuida do mato. Dona Nina: – Isso mesmo. Os quilombolas levam fumo de corda e mel para ela e colocam num toco.

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– Diz-se que, certa vez, um homem entrou no mato e cortou um monte de árvores. Arrumou a carga no seu jegue e veio para casa. No meio do caminho, o animal desapareceu. Após três dias procurando, encontraram o animal sem a carga nas costas. Todos entenderam que foi a Vovó do Mato que estava dizendo que só devemos tirar da natureza apenas o necessário para viver.

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VOCABULÁRIO

apicum (s.m.) – terra firme à beira dos manguezais azonado (adj.) – azoado, zonzo, doido cofo (s.m.) – espécie de cesto oval farracho (s.m.) – tipo de facão gauça (s.f.) – o mesmo que garça, um tipo de ave aquática musungar (v.t.) – pescar toco (s.m.) – parte do tronco de árvore cortada.

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