Revista Espaço Ecológico - Edição 09

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ENTREVISTA Mauro Nunes fala sobre sustentabilidade

TRANSPORTES Cidades brasileiras dependem e precisam priorizar as pessoas

AÇÃO SOCIAL Instituto Alpargatas em prol da educação

REVISTA UMA AULA DE SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE | ED. 09, Nº 09 - 2018

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Um tema para a agenda política



EDITORIAL

A cada edição, a Revista Espaço Ecológico consultor de Planejamento Organizacional, que prioriza matérias que atestam uma preocupação faz uma análise sobre o tema “Sustentabilidade, em veicular um conteúdo de alta qualidade, na uma visão de futuro” e fala sobre a “robotização” busca sempre de colocar o seu leitor em primeiro dos meios de produção, que pode gerar lugar. desemprego, diminuir a renda familiar e criar, Mais uma vez na vanguarda e sempre no futuro, uma classe de pessoas sem função antenada com o que há de novo no mundo laborativa, que o especialista chama de “os globalizado e que causa impactos diretos ou inúteis”. indiretos no meio ambiente, a Revista Espaço A revista foca bem na questão da Ecológico traz, em sua edição atual, uma sustentabilidade e traz ainda matéria da Câmara matéria sobre a questão do transporte nas Municipal de João Pessoa, mostrando que cidades brasileiras que, além dos problemas sustentabilidade, assim como a preservação de mobilidade urbana e poluição, mostram ser de rios e vegetação, além de estratégias para dependentes dos combustíveis. coleta de resíduos e reciclagem, são temas A matéria mostra o cenário de caos e de de matérias no Poder Legislativo pessoense. profundo impacto resultante da paralização O tema sustentabilidade ambiental também dos caminhoneiros, que interrompeu o aparece numa matéria sobre as políticas públicas abastecimento dos postos de combustíveis, desenvolvidas pela Semam para preservar a levando a população a uma disputa por gasolina. biodiversidade de João Pessoa. Além disso, apresenta alternativas para o A implantação de um modelo vegano na transporte de cargas e sugere que o Brasil precisa Escola Nativa, em João Pessoa; o lançamento estimular suas cidades a fazer como as cidades do Canal Espaço Ecológico no YouTube; um chinesas, que começaram a inovar nos projetos artigo sobre Direito Animal; matéria sobre a de vias públicas – redesenhando espaços urbanos difusão da tecnologia social do biodigestor; com foco nas interações entre as pessoas, e não reportagem sobre o glaucoma, a segunda maior no transporte motorizado. causa de cegueira no mundo; Já a matéria de capa artigo sobre a evolução da da revista apresenta economia circular; matéria Expediente uma análise bastante sobre práticas sustentáveis - 14 Anos Revista Espaço Ecológico atual, ao mostrar como no Conde; artigo sobre Areia a sustentabilidade Vermelha. Estes são outros Direção Executiva ambiental precisa ser assuntos interessantes e atuais ire Fre o ert Gualb um tema para a agenda disponibilizados para o leitor Jornalista Responsável política dos candidatos da Revista Espaço Ecológico. xandre Nunes Ale nas próximas eleições. Mas A revista não se prende DRT-PB 5437 o tema sustentabilidade a dar visibilidade a fatos Gráfico também aparece numa corriqueiros, mas trabalha Diagramação e Projeto reportagem sobre o seriamente as questões ESTAMPAPB com ail. gm b@ pap Instituto Alpargatas e numa am ligadas ao meio ambiente, est et ern int l, soa pes o uiv arq entrevista especial com o com suas resenhas, análises e Fotos: economista Mauro Nunes, entrevistas. e assessorias


AREIA VER EDUCAR MAIS PARA D O

belo litoral paraibano foi abençoado pela natureza com uma peculiar dádiva ecológica: a coroa de Areia Vermelha, que surge ao sabor dos altos e baixos das marés locais, protegida do mar aberto por arrecifes, formando um riquíssimo ambiente marinho que, ao emergir das águas, revela piscinas naturais e formações coralíneas de rara beleza. Ocorre que esse valioso bem tornou-se tão integrado ao cotidiano da população local, como atração turística, que muitos o consideram mais um recanto de praia a ser ocupado à vontade, como outras tantas faixas de areia que o mar cobre e descobre todos os dias, descurando-se assim de sua delicadeza e fragilidade singulares. Assim, o passar dos anos trouxe um aumento extraordinário da frequência de visitantes naquele pedaço de ilha do paraíso: moradores locais, acostumados a usufruir dessa paisagem para seu lazer, e turistas encantados em descobri-la e incorporá-la ao seu imaginário de sonho de verão. Obviamente, essa massa de visitantes muitas vezes não está acostumada a observar certas regras básicas de preservação ambiental, assim como o grupo de

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um lazer pouco responsável, tal iniciativa vem se consolidando ao longo do tempo. Desde então, os Ministérios Públicos recomendaram a edição de uma norma de regramento de transição sobre o acesso àquele sítio ecológico, a qual perdurou por vários anos, com ajustes deva Sil ia finidos posteriormente em nth Cy : Fotos termos de ajustamento de conduta. Vale registrar que a tônicomerciantes ambulantes que a ca maior do plano emergencial acompanha para lhes proporcionar concebido pelas autoridades esmaiores comodidades. E o resultaduais sempre fora a educação tado dessa mistura agitada é bem ambiental, para conscientização da previsível: poluição, destruição de população frequentadora, de modo corais, propagação de espécies esa alertá-la de que também era titutranhas, etc. lar do direito difuso ao equilíbrio Embora desde 2002 o Governo ambiental. do Estado tenha criado ali um ParMais recentemente, esse regraque Estadual Marinho (PEMAV) e mento evoluiu, ainda com atuação proibido atividades comerciais no catalisadora do Ministério Público local, nada saía do papel até 2006, Estadual, de modo que o Poder quando o Ministério Público FedeExecutivo, finalmente, assumiu ral e o Estadual atentaram para essa a empreitada de efetivamente imrealidade e promoveram junto às plementar a referida unidade de autoridades do executivo uma das conservação e restringir em defiprimeiras inciativas concretas de nitivo o acesso de comerciantes à ordenação emergencial do fluxo de ilha. Tal evolução abrangeu ainda visitantes no local, disciplinando o uma maior restrição da presença acesso de pessoas e embarcações, de pessoas e embarcações a motor além de impor controle ao comérsobre as áreas mais frágeis, o que cio naquela ilha arenosa. gerou, como era se esperar, alguA despeito das reações de almas reações acaloradas dos que guns, notadamente os que tiveram imaginavam ter direito adquirido restringida sua atividade econômia usufruir daquele local como bem ca, e mesmo dos acostumados com entendessem.


RMELHA DESFRUTAR MELHOR De fato, para alguns moradores mais abastados das imediações, passar com jetski sobre delicados corais seria uma atividade essencial para sua subsistência e nela não poderiam admitir interferências de autoridades públicas. Já os comerciantes ambulantes de lá queriam ter sido ouvidos antes de terem proibidas atividades poluentes absolutamente irregulares, sob argumento de que, se o Poder Público tolerara tal ilicitude, geraria o direito dos responsáveis a continuar poluindo indefinidamente. Essas e outras posturas – existe de tudo por aí! – parecem derivar mesmo de uma lacuna educacional existente na sociedade local, a qual deveria buscar se informar – ou ser informada compulsoriamente – sobre os prejuízos de longo prazo a serem suportados pela coletividade com a progressiva degradação de seus recursos naturais e também sobre as vantagens que a limitação e ordenamento de sua exploração podem trazer a todos. Penso que Areia Vermelha é um caso que comprova essa impressão, à medida em que, ao longo do tempo, com os devidos esclarecimentos aos interessados, as resistências foram se reduzindo até se ter hoje uma consciência coletiva mais avançada acerca da necessidade de proteção do local. Com efeito, os gritos de resistência ao ordenamen-

to da ocupação da ilha tornaram-se sussurros distantes quase desvanecendo à luz da melhor razão. Talvez já estejam sendo percebidos por todos os resultados animadores das mudanças, como a redução do lixo e da proliferação de bagres invasores naquelas águas que deveriam ser mantidas transparentes como o mais fino cristal. Recentemente, o Ministério Público Federal demandou, enfim, ao Estado da Paraíba, a regularização jurídica da área com a cessão de sua gestão pela Secretaria de Patrimônio da União ao ente estadual, bem como a efetiva divulgação do plano de manejo, já concluído para a unidade de conservação, o qual deverá consolidar as diretrizes que orientarão o acesso e proteção àquele maravilhoso ecossistema, de modo a que continue a nos maravilhar ad infinitum. O município de Cabedelo, por sua vez, já promoveu cessão de área

próxima para implantação da sede do Parque, de modo que seja possível dali se irradiarem diversas medidas protetivas e educativas, com o intuito de arraigar cada vez mais nos hábitos locais a ideia de que um relacionamento mais respeitoso entre cidadão e natureza traz inúmeros benefícios mútuos. Logo, aguarda-se uma breve solução dessas pendências mediante uma conjunção de esforços (da União, do Estado e do Município) para que o Parque possa agora se tornar uma realidade concreta e duradoura. E o lema da nova unidade de conservação deve ser mesmo educar mais para desfrutar melhor, preservando esse presente paradisíaco que os mares nos ofertam para que não o repassemos a futuras gerações como um deserto de dejetos manchando suas águas azuis. Por José Guilherme Ferraz da Costa, Procurador da República na Paraíba

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SUSTENTABILIDADE

é norte de trabalhos do Instituto Alpargatas em prol da educação há 15 anos Com ações de incentivo a prática esportiva qualificada e resgate da cultura popular, braço de responsabilidade social da dona da Havaianas promove melhoria na educação pública 6  | REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO

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or acreditar no poder transformador da educação, a Alpargatas reuniu suas iniciativas na área de responsabilidade social em prol da melhoria das escolas públicas e fundou o Instituto Alpargatas (IA) em 2003. Em 15 anos de atuação, já beneficiou mais de 1 milhão de crianças, adolescentes e jovens em projetos com enfoque em prática esportiva qualificada, resgate da cultura popular, voluntariado e valorização da educação e seus pro-

fissionais. As ações são realizadas em todas as escolas públicas municipais de ensino fundamental das 11 cidades da Paraíba, Pernambuco e Minas Gerais, onde estão concentradas as fábricas da companhia. O tema da sustentabilidade sempre permeou os trabalhos em todos os projetos desenvolvidos. Mas desde 2017, ganhou mais força graças à parceria com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) na territorialização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nas escolas. “O Instituto Alpargatas faz um trabalho extraordinário de disseminação dessa agenda com resultados efetivos de transformação dessas comunidades. São ícones e precursores nessa abordagem”, afirma a professora Inalda Beder, consultora da PNUD para a agenda de desenvolvimento.


Berivaldo Araújo, diretor-executivo do Instituto Alpargatas

O Instituto é autor e disponibiliza tecnologia social através de programas interdisciplinares e multiculturais totalmente sistematizados e aptos a disseminação e replicação de suas práticas, reconhecidas nacional e internacionalmente.

No ano passado, todos os projetos inscritos no Prêmio de Educação – categorias Professor Nota 10 e Gestão Nota 10 tratavam sobre o tema da sustentabilidade. “O IA assinou memorando de entendimento com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD e incluiu práticas que empreende ações inovadoras e criativas na rotina de 406 escolas públicas em consonância com os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável. Uma das ações, em nível nacional, foi incluir a temática no Prêmio Nacional de Educação que reconhece talentos em três categorias (aluno, professor e gestão ), em 11 municípios brasileiros, nos estados da Paraíba, Pernambuco e Minas Gerais”, afirma Berivaldo Araujo, diretor-executivo do Instituto Alpargatas. Foram os mais variados trabalhos. A Escola Municipal Padre

Antonino, de Campina Grande (PB), ficou em primeiro lugar entre todos os projetos desenvolvidos no ano passado na categoria Professor Nota 10, do Prêmio de Educação, promovido pelo Instituto Alpargatas para valorizar as ações criadas ao longo do ano com o trabalho “Pilhas e Baterias - Brincando, Cuidando e Aprendendo”. A escola decidiu trabalhar com o descarte correto de pilhas e baterias para discutir temas relacionados à água, no decorrer da preparação para a Conferência do Meio Ambiente. Foi a possibilidade de abordar questões acerca das reservas de água existentes no subsolo e de sua qualidade e sobre os riscos de poluição com pilhas e baterias. Já a Escola Municipal de Ensino Fundamental Corina de Azevedo Barbosa, de Ingá (PB), resolveu aproveitar que o brincar consiste em uma atividade muito significativa para as crianças, pois possibilita diversas descobertas, para promover a conscientização ambiental através de jogos, brinquedos e brincadeiras com materiais recicláveis, contribuindo com os indicadores e metas da Agenda 2030 e seus ODS. Com esse projeto, que levou o nome de “Jogue limpo: O lúdico como facilitador sustentável”, a escola ficou em segundo lugar no Prêmio. A “Trilha Ecológica Integrada: Combate a Ociosidade, Preconceito e Valorização da Identidade Local”, Ubiratan Valeriano Paulo de Olivei-

ra da escola Escola Major José Barbosa Monteiro, de Ingá (PB), ficou em terceiro lugar no ano passado. O objetivo central do projeto era combater os casos recorrentes de ociosidade entre os alunos, mas abordou também temas sensíveis como auto-rejeição, depressão, isolamento, obesidade, preconceito e outros tipos de discriminação. As atividades desenvolvidas desencadearam uma oportunidade de destacar a falta da valorização da riqueza natural local, como as Itacoatiaras e Serra Velha que são usadas para a prática de trilhas, assegurando uma vida saudável e promovendo o bem-estar para todos, em todas as idades. “Esses projetos são só alguns exemplos recentes de como trabalhamos com os temas ligados à sustentabilidade. Os projetos foram todos multidisciplinares e levaram a grande mobilização da comunidade escolar. Um dos intuitos do prêmio é também a formação de um banco de boas práticas para disseminação, mobilização dos diversos segmentos da sociedade e do poder público, por meio das políticas públicas para o fortalecimento da educação, assim como o fomento de práticas que contribuam para o empoderamento e o desenvolvimento sustentável, por meio da territorialização dos ODS”, conclui o diretor-executivo do Instituto Alpargatas. Segundo Berivaldo Araújo, o Instituto é autor e disponibiliza tecnologia social através de programas interdisciplinares e multiculturais totalmente sistematizados e aptos a disseminação e replicação de suas práticas, reconhecidas nacional e internacionalmente, por sua viabilidade pedagógica, efetividade, métricas e impactos relevantes em prol da melhoria da educação e contribuição para as políticas públicas educacionais.

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CONDE

inova turismo com práticas sustentáveis que protegem o meio ambiente e promovem identidade cultural

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Por Hallysson Patrício

Foto: Freepick

município de Conde, no Litoral Sul da Paraíba, é dono de algumas das mais belas rotas turísticas do país e garante, tanto a praticantes do turismo de sol e mar, do turismo rural ou de vivência, e também de aventura, paisagens naturais, diversidade cultural e gastronomia que atraem visitantes de inúmeros países. A Costa do Conde, no Litoral Sul do estado, guarda em seu território, além das mais belas praias do Litoral paraibano, entre as quais as praias de Coqueirinho e Tamba-

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ba, destacadas internacionalmente, também o que pode ser considerado um verdadeiro laboratório de práticas sustentáveis onde se integram projetos e processos que protegem o meio ambiente e promovem a consciência ecológica, favorecem a integração produtiva na perspectiva de fortalecer os recursos renováveis e criam condições para a multiplicação de pequenos negócios direcionados à geração de emprego e renda com qualidade de vida. O destaque desse “laboratório” que tem chamado bastante atenção dos turistas que visitam a cidade é o Sítio Tambaba. Um espaço inovador e aconchegante, onde é possível

encontrar uma grande diversidade de produtos, a maioria produzida pelos próprios moradores da região, gerando emprego e renda na comunidade e fortalecendo a biodiversidade e a cultura local. O Secretário de Turismo Aristóteles Souto Maior, afirma que o Sítio Tambaba é considerado um modelo de Turismo Sustentável. “Hoje, o Sítio Tambaba faz parte do nosso roteiro de visitação que mesmo em período de baixa estação, temos uma média de 50 a 100 visitas, que são divididas em micro-ônibus, passeios de buggys e visitantes que vem em seus próprios veículos de passeio”, destacou.


O turismo sustentável salvaguarda o ambiente, os recursos naturais da região e garante o crescimento econômico das atividades desenvolvidas no local, suprindo as necessidades das presentes e futuras gerações. Seguindo este conceito, a Prefeitura de Conde, por meio das Secretarias de Turismo e Agropecuária e Pesca e em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-PB), desenvolveu um trabalho com os moradores da região com o objetivo de buscar novas formas de atrair os visitantes ao local, criando um novo espaço expositivo para o consumo na cidade e ao mesmo tempo proporcionando aos moradores novas oportunidades de trabalho e movimentação da economia no município. “Promovemos um encontro no sítio e, conversando com a população, vimos a necessidade de um suporte técnico para fortalecimento do turismo na região, e, a partir das demandas que eram apresentadas, pudemos traçar um projeto onde seria preservada a natureza, além de toda a cultura local. Em conjunto com o SEBRAE, promovemos cursos de capacitação tanto para os moradores da área, como para as pessoas que trabalham fazendo o transporte de turistas pelo local”, disse Aristóteles. Hoje, o turismo sustentável aparece como uma alternativa ao turismo de massa, pois preocupa-se com a questão ambiental, cultural e social dos locais, planejando as visitas de forma organizada e que não atrapalhe o cotidiano das pessoas e da região, buscando sempre mi-

nimizar os impactos, fazendo com que os moradores estejam inseridos socialmente e economicamente nas atividades locais. Avaliando todas as oportunidades apresentadas, a Prefeitura de Conde, em parceria com o SEBRAE, promoveu o primeiro curso de Condutores em Eco trilhas, Turismo Urbano e Rural, um curso inédito na região, que trouxe como principal objetivo uma melhor qualificação das pessoas que trabalham no transporte de turistas, dando-lhes um maior suporte para atendimento aos visitantes que procuram o município em busca de outras atividades como o turismo de vivência e experiência na região. O município de Conde trabalha o turismo de natureza, o turismo rural e o ecoturismo, que são considerados os mais sustentáveis, ou seja, o turismo desenvolvido em harmonia com o local que deve ser protegido por todos para que não sofra com impactos negativos

causados por uma má gestão das políticas públicas para este setor. A Prefeita de Conde, Márcia Lucena reforça que o turismo sustentável no município tende a crescer cada vez mais, tendo em vista a grande diversidade de culturas na região. “O Conde é um município riquíssimo em cultura; são aldeias indígenas, quilombos, assentamentos, além de uma zona rural que enche os olhos. Temos que trabalhar o turismo de todas as formas possíveis, mas sempre dando a oportunidade aos moradores e proFotos: Altair Castro dutores locais, para que tudo seja desenvolvido de forma correta e em parceria com a comunidade. Havendo sempre este trabalho em grupo, as rotas do turismo sustentável em Conde firmam seu espaço”, afirmou a prefeita. Márcia aproveita a oportunidade da entrevista para convidar as pessoas a conhecerem a rota turística de Conde, incluindo a visita ao Sítio Tambaba. “Vale muito a pena vivenciar esta experiência no Sítio, onde são produzidos os deliciosos Doces Tambaba, além de conhecer as histórias do lugar, ficar sob as sombras das árvores, provar as cachaças artesanais e conhecer um pouco mais da nossa cultura e das nossas belezas naturais. O Sítio Tambaba, hoje, representa o início de uma nova fase no turismo em Conde. O turismo que vai além das praias, que humaniza e aproxima os turistas do calor humano do povo condense. Vale muito a pena conferir”, convida Márcia Lucena. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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UM NOVO CONCEITO EDUCACIONAL Escola Nativa implanta modelo vegano 10  | REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO

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preocupação com o meio ambiente e com a própria saúde são temas presentes no dia a dia em diversas fases da nossa vida, inclusive no ambiente escolar. Não é incomum ver que cada vez mais escolas públicas e privadas dedicam algum momento dos seus calendários e das suas programações para esses temas. No entanto, pela urgência dessas questões – devido à crescente degradação ambiental que ameaça o habitat de tantos animais, e inclusive a vida do próprio ser humano -, recentemente as escolas estão aprofundando suas abordagens na busca de um ambiente sustentável. A Escola Nativa, em João Pessoa, surgiu em 2018 com esse propósito. Os valores do veganismo e do abolicionismo animal guiam a escola em todos os seus aspectos; desde a ausência de alimentos ou materiais de origem animal em sua vivência até um plano pedagógico inteiramente voltado para o respeito aos animais, a valorização da vida e da diversidade e a sustentabilidade.


A Nativa busca um modelo educacional novo, baseado em uma metodologia democrática, para desenvolver o senso crítico e autonomia dos alunos. Dessa forma, a equipe acredita que será possível formar cidadãos que questionam – e futuramente combatem – os hábitos que incentivam a exploração animal. Além disso, a escola acredita que a educação animalista, como assim denomina esse novo modelo ajuda a desenvolver nos indivíduos empatia e respeito desde cedo, sendo possível então, tratar também de temas que envolvem as relações humanas, abrangendo questões de gênero, cor, orientação sexual, etc. – sempre buscando a defesa dos direitos de todos os grupos, não importa quão diversos eles sejam.

Localizada no Jardim Oceania, à beira mar, a escola iniciou suas atividades direcionadas à educação infantil, incluindo um contato diário com a natureza nos mínimos detalhes. A alimentação vegana natural, o contato com plantas e animais do entorno fazem a diferença na construção do conhecimento e da socialização dos alunos. A equipe conta com psicóloga, fonoaudióloga, nutricionista, além de pedagogas e auxiliares e o apoio de terapeutas naturais, professores de musicalização e expressão corporal. Surgindo com essa equipe capacitada e guiada pelos valores mencionados, a Nativa dá um passo adiante no conceito de educação ambiental e procura inspirar outros a fazer o mesmo, seja em sala de aula ou outros ambientes, cada um a sua maneira, em direção de um mundo mais justo com todas as espécies.

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SUSTENTABILIDADE AM

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Mata Atlântica ocupa uma área de 11,66% da área total do Estado da Paraíba, configurando 6.578,51 km². O território da capital João Pessoa possui uma área de 211,474 km² e, assim como toda a região costeira do Estado da Paraíba, encontra-se dentro do domínio da Mata Atlântica, mais especificamente formada por um tipo florestal denominado Mata dos Tabuleiros. A riqueza de fauna e flora do bioma Mata Atlântica torna João Pessoa uma cidade rica em biodiversidade. Para o secretário de Meio Ambiente, Abelardo Jurema Neto, o balanço da política ambiental da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) é positivo. “Não há ação na Secretaria de Meio Ambiente (Semam) que não

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tenha como objetivo garantir a preservação e ampliação do nosso patrimônio ambiental, de olho nas atuais e nas futuras gerações. Temos sido incansáveis na promoção das ações de recuperação, ampliação e preservação de áreas verdes, que se refletem na qualidade de vida da população. Onde temos árvores temos bairros com temperaturas mais amenas, contribuímos para preservação dos nossos aquíferos, isso sem falar na beleza da paisagem da cidade”, concluiu. Todas as ações da Semam – do Licenciamento Ambiental à Fiscalização – são orientadas para que o meio ambiente seja preservado e recuperado. Além das ações diárias, a política ambiental da cidade de João Pessoa segue um planejamento que prevê o plantio e a manutenção

de árvores em áreas degradadas e áreas urbanas, desenvolvimento de projetos específicos, a exemplo do João Pessoa Carbono Zero e do lançamento do primeiro Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa. João Pessoa Carbono Zero – Lançado em abril de 2017, o programa permeia todas as ações da Semam e contém o planejamento da política ambiental da cidade, com foco na redução das emissões de dióxido de carbono. As ações têm um caráter prático, como as atividades de recuperação ambiental das nascentes dos rios, plantio e distribuição de mudas de árvores nativas e ainda o reordenamento dos estabelecimentos comerciais da orla da cidade, para que se adequem aos critérios e normas das leis ambientais, durante o licenciamento.


públicas MBIENTAL Políticas desenvolvidas pela Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa – Desde março de 2018 a cidade de João Pessoa possui um instrumento imprescindível para elaboração das políticas públicas de meio ambiente. O Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) foi elaborado pelos técnicos da Semam, com apoio da Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur) e da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb) e suporte do Iclei – Governos Locais pela Sustentabilidade. O Inventário é pré-requisito para o estabelecimento de políticas públicas de gestão das mudanças climáticas e estabelece o perfil de emissões da cidade. Funciona como um pré-requisito para o estabelecimento de propostas de redução de danos e também para a formulação das políticas públicas de gestão das mudanças climáticas.

Semam contribuem para preservar a biodiversidade de João Pessoa

Balanço do plantio – Em 2017 a Semam promoveu o plantio de 53 mil e 760 mudas de árvores nativas, sendo 40 mil e 500 em áreas de mata ciliar (perto dos rios), parques e áreas de proteção permanente. Nas praças, canteiros de ruas e avenidas, escolas, Centros de Referência em Educação Infantil (Crei) e condomínios foram plantadas13

mil 260 mudas de árvores. Para este ano deve ser plantadas e distribuídas 40 mil mudas de árvores. No período 2013-2016 foram plantadas 123 mil 427 mil mudas. A produção é feita no Viveiro Municipal de Plantas Nativas, que fica na Rua Embaixador Sérgio Vieira de Melo, s/nº - Valentina Figueiredo, em frente ao Sesc Gravatá. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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A evolução da economia circular

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om a revolução industrial ocorrida a partir de 1760, a produção em série de bens e serviços trouxe significativas transformações econômicas e sociais, tendo sido um acontecimento de grande importância para a civilização moderna e contemporânea. O desenvolvimento industrial ao longo dos últimos séculos tem acarretado graves consequências ao meio ambiente devido ao acúmulo de resíduos sólidos, decorrentes do consumo e descarte dos produtos industrializados. Entretanto, este aumento no consumo por parte da sociedade traz diversos benefícios, tais como a inclusão de pessoas no setor produtivo da indústria, ampliação do acesso da população aos bens de consumo, aumento de receita das empresas e aquecimento da encomia global. Entretanto, a elevação considerável de rejeitos produzidos neste consumo gera um grande volume de resíduos que não possuem destinação adequada.

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Esses graves problemas gerados pela evolução da fabricação de bens de consumo fazem com que a economia mundial tenha sido construída dentro de um modelo linear de negócios baseado em extrair, transformar, produzir, utilizar, descartar e, às vezes, reciclar ou incinerar (MCDONOUGH et al., 2003; ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2012). Dessa forma, este modelo possibilitou o aumento da eficiência na produção e permitiu a descoberta de novas tecnologias, visando produzir, consumir e depois eliminar. Diante desses problemas gerados após o descarte dos produtos, surgiu o novo conceito do ciclo de produção, a economia circular, também conhecida como economia restaurativa, é um conceito que tem origem na década de 70 e pressupõe a ruptura do modelo econômico linear (extrair, transformar e descartar), cujo objetivo é, ao final do processo, fazer o reciclo dos produtos ou de parte deles, ou ainda recolocá-los no mercado.

Fonte: Adaptado de EU (2015)

Como pode ser visto na imagem acima a matéria prima entra no processo produtivo, sendo planejada através do design, ferramenta utilizada para projetar o produto, no seu ciclo de vida, passando pela fase de produção, distribuição, consumo, descarte e reciclagem, e após a reciclagem o mesmo material volta novamente a fabricação, tornando a utilização da matéria prima cíclica minimizando o descartado do resíduo ao meio ambiente. Esse tema economia circular surgiu há várias décadas, entretan-


to, as discussões sobre sua implementação são recentes, particularmente no Brasil. Este tema emergiu fortemente em 2012, quando a Fundação Ellen MacArthur publicou o primeiro de uma série de relatórios intitulados “Em direção a uma economia circular” (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2012). Segundo Ellen MacArthur Foundation (2012) a economia circular é um conceito baseado na inteligência da natureza, indo em contrapartida ao processo produtivo linear. Este conceito preconiza o processo circular, onde os resíduos são insumos para produção de novos produtos. No meio ambiente, restos de frutas consumidas por animais se decompõem e viram adubo para plantas. Esse conceito também é chamado de cradle to cradle (do berço ao berço), onde não existe a ideia de resíduo, e tudo é continuamente nutriente para um novo ciclo. O referido modelo propõe uma nova consciência de produção e de consumo. No novo conceito de economia circular, a criação de um produto tem ciclos múltiplos de uso, reduzindo a dependência de materiais e eliminando o desperdício. A proposta de implementação deste modelo, tem como finalidade o aproveitamento de todos os materiais utilizados no processo de produção para que circulem de forma eficiente e que sejam recolocados na produção, sem perda da qualidade. Desta forma, a economia circular pode ser dividida em dois grupos de materiais, os biológicos, que são projetados para a reinserção na natureza, e os técnicos que exigem investimento em inovação para desmontá-los e recuperá-los.

Fonte: Ellen Macarthur (2015)

Nesta ótica, de acordo com Azevedo (2017), o objetivo desta economia está centrado no desenvolvimento de processos e produtos projetados para um uso racional dos recursos naturais, reduzindo o consumo e fazendo com que sua recuperação seja viável (através do reuso, reforma, remanufatura ou reciclagem). Este processo se chama economia regenerativa (ou restauradora), buscando reincorporar os materiais aos ciclos produtivos ou biológicos. Sendo assim, o design torna-se uma ferramenta importante e balizadora para a concepção de projetos que venham compatibilizar o uso de tecnologias limpas aliadas ao desenvolvimento de produtos sustentáveis. Para Manzini e Vezzoli (2002), o design para a sustentabilidade deve levar em consideração os requisitos ambientais e a análise do ciclo de vida no design de produto, mantendo o equilíbrio entre o sistema produtivo e as necessidades do bem-estar social. O design para a sustentabilidade também otimiza os processos e a vida útil dos produtos, tendo como finalidade a redução dos impactos ambientais. O Design Circular (design +

economia circular) é o desenvolvimento do produto considerando o reaproveitamento de todos os seus componentes. O desenvolvimento em círculos exige fluxos de trabalho de processo inovador em design, visão sistêmica ampliada, bem como uma seleção de novos métodos de trabalho. A nova linha de pesquisa em Design Circular concentra-se sobre a implementação de estratégias de design em processos internos, tais como a do berço ao berço. Visando esses novos conceitos e metodologias de produção,o projeto circular requer um foco crescente do produto para fluxos de materiais, processos de produção, bem como os aspectos de utilização e reutilização. Por Camille Barbosa de Aquino Mestranda Design e diretora da CDM Design e Consultoria Empresarial

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CAOS Cidades

brasileiras dependem de transporte motorizado As cidades brasileiras, além dos problemas de mobilidade urbana e poluição, passam a ser dependentes dos combustíveis

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ma revolução urbana com foco nas pessoas é o que o Brasil precisa para fugir do modelo que prioriza o transporte motorizado, que tantos danos traz às cidades, danos à qualidade do ar e à saúde da população. Na verdade, o Brasil precisa fazer mais do que reduzir a dependência do transporte individual e priorizar o transporte público para conseguir cumprir o compromisso de redução de emissão de gases do efeito estufa, assumido no Acordo de Paris, ratificado pelo país em 2016. Outra coisa, pelo fato de, no Brasil, predominar o transporte rodoviário, as cidades brasileiras, além dos problemas de mobilidade urbana e poluição, passam a ser dependentes dos combustíveis fósseis e isso não pode continuar ocorrendo, basta ver o cenário de caos e de profundo impacto resultante da paralização dos caminhoneiros, que interrompeu o abastecimento dos postos de combustíveis, levando a população a uma disputa por gasolina. Diante desse cenário, alguns especialistas apresentam o transporte de cargas por ferrovias como uma alternativa segura, econômica e ecologicamente sustentável e um dos mais utilizados nos países desenvolvidos. Sua retomada poderia ser uma opção no Brasil, que já possui uma malha ferroviária, embora que modesta, de apenas cerca de 29 mil km de extensão, divididos em 12 concessões, que estão sob a responsabilidade de 10 concessionárias. Esse tipo de transporte não só existe, como já é responsável pela movimentação de 25% de toda a carga transportada no Brasil. Se esse tipo de modal fosse expandido, o escoamento da produção de grãos e outros tipos de produtos teriam seus preços reduzidos, principalmente pelo barateamento do frete e a rapidez do abastecimento.


Outra opção considerada limpa é transporte hidroviário que, no Brasil, é realizado nas modalidades fluvial e marítima, consiste no transporte de mercadorias e de passageiros por barcos, navios ou balsas. Um dos modais mais importantes para a indústria e para a logística no Brasil é o transporte marítimo, que ainda não tem todo o seu potencial devidamente utilizado pela extensão litorânea de 9.198 km. O fluvial é o mais econômico e limpo, no entanto é o menos utilizado no país. Há regiões, entretanto, que dependem quase que exclusivamente desta modalidade, como é o caso da Amazônia, onde as distâncias são grandes e as estradas ou ferrovias inexistem. Este modo de transporte cobre o essencial das matérias primas (petróleo e derivados, carvão, minério de ferro, cereais, bauxita, alumínio e fosfatos, entre outros).

Transporte de cargas por ferrovias é uma alternativa segura, econômica e ecologicamente sustentável

Exemplo da China O Brasil precisa estimular suas cidades, principalmente a partir das cidades de porte médio, a fazer como as cidades chinesas, que começaram a inovar nos projetos de vias públicas – redesenhando espaços urbanos com foco nas interações entre as pessoas, e não no transporte motorizado. Em 2016, a cidade de Shanghai divulgou o Guia de Projeto de Vias de Shanghai, publicação semanal que sinalizou uma mudança nos valores centrais do desenvolvimento urbano: saem os carros, entram as pessoas. O guia destacava os pedestres e ciclistas, anteriormente deixados de lado, e previa a redução adequada do espaço para veículos. O objetivo foi priorizar formas mais lentas de transporte, dando espaço para pedestres e garantindo o livre fluxo de bicicletas de forma a proporcionar um ambiente mais agradável aos usuários de formas mais ativas de transporte. Acometidas por congestionamentos e poluição, as cidades chi-

Foto: Pixaby

nesas estão explorando modelos de transporte mais sustentáveis. Algumas já se tornaram líderes globais no assunto, como Hangzhou, a sudoeste de Shanghai, que ganhou um prêmio internacional em 2017 por seu programa municipal de compartilhamento de bicicletas. Mais recentemente, Shenzhen, ao norte de Hong Kong, também ganhou notoriedade mundial ao eletrificar toda a sua frota de ônibus. Em 2004, a China iniciou a construção em grande escala de trens urbanos e corredores de ônibus. No terceiro trimestre de 2017, 29 cidades chinesas já tinham algum tipo de trem urbano – categoria que inclui metrôs, veículos leves sobre trilhos (VLT), monotrilhos e sistemas automatizados (APMs, na sigla em inglês) – com 118 linhas que percorrem 3.862 quilômetros e transportam 17,68 bilhões de passageiros por ano. Os sistemas de trens urbanos de Shanghai e Pequim são

mais extensos que os de Londres e mais movimentados que os de Nova York e Paris. O transporte sobre trilhos, no entanto, tem alto custo. O Banco Mundial recomenda que as nações em desenvolvimento adotem o modelo de corredores de ônibus (BRT, na sigla em inglês), com capacidade média. No início de 2018, sistemas de BRT já estavam funcionando em 32 cidades chinesas. Em ao menos outras dez, estavam em estágio de planejamento, projeto ou construção. Essas características fazem o corredor de BRT atender 28.000 passageiros por hora no sentido mais congestionado – mais do que a maioria dos metrôs e mais do que qualquer sistema de veículo leve sobre trilhos no mundo. Em 2011, o sistema de BRT de Guangzhou ganhou o Prêmio de Transporte Sustentável e o Prêmio “Lighthouse” da ONU. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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Sustentabilidade Ambiental: um tema para a agenda política

U

Por Alexandre Nunes

m assunto que precisa entrar na agenda de debates, num ano de eleições, é a gestão ambiental sustentável. As pautas ambientais nunca são destaques em debates presidenciais, nem tampouco entra na pauta, como assunto relevante, nas campanhas de governadores, senadores e deputados federais e estaduais, apesar de fazerem parte de programas partidários. Quando se toca no assunto, é sempre com um discurso que o meio ambiente é um empecilho para o desenvolvimento, ou seja, que é impossível conciliar crescimento econômico e conservação dos recursos naturais. Com isso, a dimensão ambiental da gestão pública vem acumulando fortes desgastes e não se constrói uma proposta de projeto nacional de desenvolvimento em que a gestão ambiental tenha um lugar de destaque. É necessário entrar, na agenda dos debates, tópicos relevantes como a adoção de medidas para evitar o desmatamento ocasionado pela expansão da fronteira agrícola. É também preciso debater o impacto ambiental das atividades de mineração. Outro assunto importante é debater quais as formas mais viáveis e limpas de geração de energia. Outro ponto a ser debatido é o de evitar a flexibilização da legislação ambiental em todos os níveis da federação, seja municipal, estadu-

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al ou federal, e tornar menos permissiva a regulamentação dos usos diretos ou indiretos dos recursos naturais. Atualmente, o Brasil, para aliviar suas contas externas, depende dos produtos de mineração e do agronegócio, atividades produtivas ambientalmente impactantes, já que o país que não produz diversos bens de consumo, a exemplo de peças para montadoras de carros, eletrodomésticos, celulares e computadores, aumentando a importação desses bens. A expansão da fronteira agrícola e seus desmatamentos e a mineração com a poluição de corpos de água deixam passivos ambientais perigosos para as futuras gerações. Um exemplo disso foi o acidente ocorrido em 2015, no município de Mariana, em Minas Gerais, com o rompimento da barragem Fundão, da mineradora Samarco, que liberou cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, que causou a morte dos rios, destruiu a fauna e a flora de uma extensa região. Um tema que ainda caminha à margem do debate político e que pouco aparece nos programas partidários, o meio ambiente precisa ganhar espaço nos planos de governo para for-

talecer o debate de temas como: segurança hídrica; sustentabilidade; novo código florestal; segurança alimentar e a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Também precisam está nos holofotes da agenda dos candidatos questões como a preservação ambiental, saneamento básico, redução das emissões brasileiras. Um levantamento realizado no período de agosto a setembro de 2014, durante a campanha elei-


toral, e publicado em 2015, na forma de artigo científico, pelo doutor em Sociologia Antônio Teixeira de Barros, mostra quatro modalidades de adesão de partidos políticos a uma agenda ecológica. Segundo detalha o cientista político, a primeira modalidade de adesão consiste na inclusão do tema no corpo do programa partidário. A segunda refere-se à oferta de espaços específicos dos websites destinados ao assunto, como núcleos e secretarias socioambientais. A terceira contempla a oferta de cursos online de educação ambiental. A quarta consiste na divulgação de noticiário sobre temas ambientais. Alguns partidos aderem a apenas uma dessas estratégias, enquanto outros combinam mais de uma delas ou todas. Antônio Teixeira de Barros revela que dos 32 partidos pesquisados, 20 incluem temáticas da agenda ambiental em seus websites, ou seja, 62,5%. Quanto à incorporação do tema no programa partidário por meio de capítulo ou tópico in-

tegral dedicado aos temas ecológicos e ambientais, enquadram-se apenas 16 partidos. Dos partidos pesquisados, 12 legendas não aderiram à agenda ambiental. “A ampla adesão partidária aos temas ecológicos mostra que a agenda verde se tornou uma questão política estabelecida e um tema transpartidário, além da divisão esquerda x direita”, resume. Ele acrescenta que a centralidade do papel do Estado é um aspecto que chama atenção nas propostas constantes nos programas partidários. O Estado aparece como guardião das políticas de preservação, indutor da sustentabilidade e de uma nova cultura ambiental, além de agente de construção de uma nova ordem econômica. “As dimensões da sustentabilidade são acionadas de modo distinto, com maior ênfase na sustentabilidade econômica ou em outras dimensões, como social, cultural ou ecológica, conforme o perfil partidário. Os partidos desenvolvimentistas, por exemplo, acentuam a sustentabilidade econômica, enquanto os conservacionistas priorizam a sustentabilidade ecológica. Os sistêmicos, por sua vez, enfatizam a sustentabilidade cultural e social”, conclui. Este ano, cabe sugerir a formulação de três grandes questões para serem objeto de atenção na agenda ambiental dos candidatos: 1 - Metade da população brasileira sequer tem acesso a esgoto e, do esgoto coletado, metade não é tratado. Estima-se a necessidade de R$ 304 bilhões em investimentos para

que a meta da universalização do saneamento básico no Brasil seja atingida. Como compatibilizar a necessidade de recursos, numa conjuntura cujo investimento em infraestrutura tem sido visivelmente decrescente e, principalmente, diante da ausência de políticas públicas que possam garantir um direito básico para a saúde de milhões de brasileiros? 2 - Dois dos fatores que mais pesam nas emissões brasileiras são desmatamento e emissões agrícolas. Como compatibilizar a lógica do desenvolvimento de uma economia claramente agroexportadora e que se apoia em monoculturas extensivas com os compromissos internacionais assumidos, principalmente os relativos ao Acordo de Paris e, além disso, garantir investimentos à transição para uma economia de baixo carbono e para o enfrentamento do aquecimento global? 3 - Em 2010, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos previa a extinção dos lixões em 4 anos e a necessidade de que cada um dos mais de cinco mil municípios brasileiros contasse com um Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. Por nenhum dos dois pontos ter sido cumprido em tempo hábil, a obrigatoriedade do fim dos lixões ficou para 2021 e dos Planos Municipais para 2020. Como compatibilizar uma necessidade das mais básicas, cuja pauta é muito mais que ambiental, é verdadeiramente de saúde pública, com um plano factível de implementação de uma promessa do Estado brasileiro à sua população? As três questões envolvem a necessidade de um debate não apenas em nível de gestão federal, mas também estadual e municipal e seria bastante oportuno que elas fossem incluídas na agenda verde de todos os candidatos que concorrem às eleições deste ano, principalmente os que se habilitam ao cargo de gestor, na esfera federal ou estadual. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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Projeto de Extensão do IFPB incentiva o desenvolvimento de

FONTES ALTERNATIVAS através da difusão da tecnologia social do

BIODIGESTOR E m 2017 o IBGE apontou que 12,3 milhões de domicílios usaram lenha ou carvão como combustível para cocção. Este percentual representa um crescimento de 11% com relação aos 11,1, milhões verificados no ano anterior, este acréscimo foi devido ao aumento no botijão de gás de 16,4% no ano, sendo o maior percentual desde 2002. Além dos problemas energéticos o produtor rural está preocupado com os preços de defensivos agrícolas, que devem ter um aumento de 10% a 15% na safra 2018/2019. A estimativa é do Rabobank e é consequência da redução na oferta de matérias-primas e produtos importados da China. Em meio às crises energéticas e econômicas, as propriedades rurais familiares, podem mitigar a dependência energética e de insumos agrícolas convencionais e buscar mais um caminho para sua sustentabilidade e empoderamento socioeconômico, através da implantação de Biodigestores.

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Nesta perspectiva surgem as Tecnologias Sociais, tidas enquanto técnicas, métodos ou artefatos produzidos na interação com a comunidade, tal que apresentem efetivas soluções a demandas de uma localidade, quando incorporada como política pública, são representativas de vínculos entre Estado e Parcerias Sociais. O Biodigestor é uma Tecnologia Social, trata-se de um equipamento que se compõe basicamente, de uma câmara fechada na qual uma biomassa (em geral dejetos de animais) é fermentada sem a presença de ar. Como resultado desta fermentação ocorrem a liberação de biogás e a produção de biofertilizante. Segundo DEGANUTTI 2002, o biogás é essencialmente constituído pelo gás metano (CH4), com valores médios na ordem de 55% a 65%, e por dióxido de carbono (CO2) com aproximadamente 35% a 45% de sua composição, encon-

trando-se ainda, em menores proporções, gás sulfídrico e nitrogênio. Seu poder calorífico está diretamente relacionado com a quantidade de metano existente na mistura gasosa. O biofertilizante pode ser usado como adubo orgânico para fortalecer o solo e para o desenvolvimento das plantas. Não apresenta mau cheiro, é rico em nitrogênio (substância muito carente no solo), e o processo de digestão anaeróbia elimina as bactérias aeróbias existentes nas fezes. Seguindo o movimento das Tecnologias Sociais se tornarem um elo entre Estado e a sociedade civil, principalmente no meio rural, o


IFPB Campus Santa Rita promoveu a difusão tecnológica de Biodigestores em contexto comunitário. A construção do primeiro biodigestor foi realizada na cidade de Lucena – PB, em um assentamento rural, no sítio de um produtor orgânico, selecionado devido ao histórico de produção sustentável aliada a necessidade energética e de Biofertilizante para adubação orgânica, tornando-se uma Unidade Demonstrativa da Tecnologia Social. O Biodigestor escolhido para a construção foi do tipo indiano com selo de água, a inovação foi a modificação da campânula, geralmente de ferro, por fibra de vidro e alguns ajustes no encaixe do gasômetro. Na primeira etapa foi realizado

um Minicurso e treinamento sobre necessidades e dimensionamentos de Biodigestores, esta atividade ocorreu inserida na programação do Encontro de Extensão do IFPB realizado em 2017 na cidade de Lucena – PB, destinado a discentes, produtores rurais e comunidade interessada no tema. O Projeto foi fomento pelo IFPB Campus Santa Rita através do Edital de Extensão nº 01/2017 PROBEXC PROJETO, viabilizando o início da construção do primeiro biodigestor piloto. Em geral os biodigestores devem ser construídos a 15 metros de distância da casa para facilitar a distribuição do Biogás, o Biodigestor

construído foi posicionado a 17 metros da casa e próximo ao curral, para facilitar o manejo da Biomassa. Em seguida foi iniciada a Construção da câmara de digestão e parede divisória, sendo a Câmara de Biodigestão o Cilindro onde ocorrerá a Biodigestão Anaeróbia, os microorganismos irão decompor a matéria orgânica transformando-a em biogás e biofertilizante e a Parede Divisória encontra-se dividindo o cilindro do Biodigestor em duas subcâmaras, fazendo o material circular por todo interior da câmara de fermentação, garantindo o Tempo de Retenção Hidráulica(TRH). Logo após foi dado início a Construção do selo d’água composta por três partes, parede interna, que separa a água do selo, da mistura de fermentação, Fosso local do espaço entre as duas paredes do selo de água, onde o gasômetro se movimenta e parede externa que separa a água do selo do meio ambiente.

A principal característica do Biodigestor Modelo Indiano é possuir uma campânula como gasômetro, a qual pode estar mergulhada sobre a biomassa em fermentação, ou em um selo d’água que foi o modelo escolhido neste projeto. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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A campânula é o local onde fica armazenado o Biogás, neste projeto foi utilizado uma caixa de água comercial de 2.000 L para armazenamento e posterior distribuição do Biogás. Por fim a instalação de um Biodigestor não se traduz em apenas à utilização de uma fonte alternativa de energia. Vários benefícios indiretos estão associados tais como: Bem-estar social; Benefícios Econômicos; Saúde da Família; Profilaxia do Rebanho; Produtividade Agrícola; Preservação dos Recursos Naturais (Saneamento Ambiental na agropecuária).

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‘’Eu já estava querendo construir um Biodigestor para utilizar o Biofertilizante na horta e o projeto do IFPB trouxe o treinamento e o material para construção do Biodigestor. Isso irá me ajudar, por que não irei mais comprar esterco na adubação e o Biogás vai servir na cozinha, além de proteger o meio ambiente ‘’ afirma seu Dedé, o parceiro social do Projeto. Segundo André Luiz, o coordenador e idealizador do Projeto, o IFPB Campus Santa Rita estimulou a difusão de Tecnologias Sociais através da Extensão Rural em contexto comunitário, incentivada pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, fomentando Arranjos Produtivos

Locais, aliada a conservação dos recursos naturais, proporcionando geração de renda e fontes de energias alternativas. Mais do que a capacidade de implementar soluções para determinados problemas, esta difusão tecnológica pode ser vista como um método que permita impulsionar o processo de empoderamento da cidadania para os produtores , para habilitá-los a disputar, nos espaços públicos, as alternativas de desenvolvimento que se originam das experiências inovadoras e que se orientam pela defesa dos interesses das maiorias e pela distribuição de renda e preservação socioambiental.


UMA VISÃO DE FUTURO O economista Mauro Nunes, consultor de Planejamento Organizacional, faz uma análise sobre o tema “Sustentabilidade, uma visão de futuro”, em entrevista ao Espaço Ecológico. Ele comenta sobre a necessidade dos Parques Eólicos no Nordeste e na Paraíba, destacando que quaisquer novas edificações implantadas, já a partir de agora, deverão estar devidamente equipadas com energia solar para todos os usos. Outro assunto que o economista vai comentar é sobre a “robotização”, que gera desemprego e diminui a renda familiar. Mauro Nunes vai concluir sua entrevista com um alerta sobre o que deverá ocorrer entre o final da década de 30 e começo da de 40 deste século, quando surgirá com “forte evidência” uma “classe de pessoas”, as quais estão denominando hoje de “os inúteis”.

Espaço Ecológico - Mauro falando em sustentabilidade e visão de futuro, os parques eólicos no Nordeste são uma necessidade? Mauro Nunes - Sem dúvida nenhuma, porque se fizermos uma avaliação rápida em relação às tendências da energia, o parque eólico teria condições de Economista Mauro Nunes oferecer uma energia alternaenergia que seja bem menor do que tiva. As energias hoje estão muito a energia de hoje. Uma realidade caras, inclusive no Brasil, que tem hoje é que já estamos vendo a imcomo principal fonte a energia geplantação de parques eólicos em várada através da água, quer dizer, rias áreas do Nordeste e em outras a hidroenergia. Então, queremos regiões do país. E se falar no muntransformar isso em algo que seja do, você pode observar que países mais acessível à população, à renda desenvolvidos, aqueles que fizeram dos menos beneficiados, para que planejamento para se desenvolver, eles consigam pagar uma taxa de

todos eles estão aplicando e investindo fortemente em parque eólico. Espaço Ecológico - Mauro, as novas edificações implantadas, já a partir de agora, ou seja, este ano, deverão estar devidamente equipadas com energia solar para todos os usos. Isso é o caminho também? Mauro Nunes - Com certeza é o caminho. Estamos nos referindo a futuro. As mudanças que vêm ocorrendo de alguns anos para cá foram tantas que impactam fortemente na vida das pessoas. Uma das alternativas propostas inclusive por especialistas é que construtoras comecem a trabalhar a construção de suas REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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obras com a implantação de acessórios e equipamentos para termos a energia solar. Inclusive, tem alguns textos feitos por mim e publicados em mídias sociais sobre o assunto. Espaço Ecológico - O que fazer enquanto a robotização que ainda não se instalou completamente vier a substituir emprego, ocasionando uma menor renda familiar, isso será uma realidade futura? Mauro Nunes - Isso é uma realidade futura tão forte, que vocês vão perceber que entre a década de 40 até chegar a década de 50 deste século que estamos vivenciando agora, o século 21, será criada uma classe que vai fazer parte das estatísticas, lamentavelmente chamada de pessoas inúteis. O que são pessoas inúteis? São aquelas que serão substituídas pela modernização dos equipamentos na indústria, na agricultura, na pecuária. Em todos os segmentos produtivos haverá substituição. A tendência é que um robozinho venha substituir até aquele indivíduo que hoje trabalha recebendo as pessoas nas instituições. A robotização é algo muito evidente, muito claro, e o processo já está começando. Aqui no Brasil está muito lento ainda, mas se você for a países como o Japão, China, Irlanda, Alemanha, Holanda e Portugal, eles já estão evoluídos e avançados nessa área. Qual vai ser a tendência de quem é produtor? É substituir a mão-de-obra que ele tem por um robô, porque ele vai fazer um investimento e vai simplesmente pagar a manutenção do robô. Parece uma coisa risível, mas não é. Não vamos brincar com as questões do futuro, porque já brincamos demais com o futuro e o futuro está aí na nossa frente, incomodando e perturbando muita gente. Espaço Ecológico - Nos próximos

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A tendência é que um robozinho venha substituir até aquele indivíduo que hoje trabalha recebendo as pessoas nas instituições. 15 anos, já que estamos falando de futuro, por volta de 2035, será a data final do plano de desenvolvimento sustentável. O que os governos pensam sobre esse prazo? Mauro Nunes - Eu digo até que os governos pensam sobre esse prazo de uma forma lamentável. Sabemos que a modernidade está se instalando nos locais onde os governos têm uma mentalidade desenvolvimentista e organizacional. Eles sabem o que querem e o que vai acontecer. Naqueles governos em que essas coisas raramente são vistas, a exemplo do governo brasileiro, a situação é terrível, porque ele nem planejamento tem, não tem absolutamente nada. Quer dizer, não há como pensar em energia eólica, energia solar, robotização, substituição de pessoas na atividade produtiva, se esse governo for apenas ritualista, que fica a maior parte do seu tempo em discussões estéreis sobre como mudar a Constituição, como fazer uma mudança na lei trabalhista. Os outros governos não estão fazendo coisas dessa natureza não. Eles antes de fazer pensam e raciocinam. Eles têm a equipe técnica com capacidade e competência suficiente para prever o que vai acontecer no futuro. Espaço Ecológico - Vamos falar agora sobre a água. As águas que estão chegando através da trans-

posição do rio São Francisco são bens finitos, enquanto a população cresce geometricamente e tende a resistir mais anos de vida na Terra. Tem como fazer essa equação funcionar? Mauro Nunes - Existe uma forma. Inclusive, como estamos falando no rio São Francisco, que é um projeto de transposição que durou 18 anos, mais ou menos, para água chegar até aqui. Agora chegou e está disponibilizada. Na verdade, ainda não chegou totalmente, porque tem outras áreas para serem atendidas no Nordeste Setentrional. Então, é preciso examinar claramente como vamos fazer para utilizar e não perder essa água. Qual é o bem mais importante que existe no mundo e que é finito? É a água. Não tem outra coisa não. Sem água você não vive. Então, existe a necessidade de se criar as condições para que essa água que chegou aqui seja utilizada da forma mais proficiente possível, mais comedida e de maneira a aproveitar todo o seu potencial, não apenas para consumo doméstico, como para o processo de industrialização, que tem várias formas de utilizar a água, como também na agropecuária. E a alternativa apontada pelos estudiosos, e eu tenho lido muito a respeito disso, inclusive sobre ideias do grande educador Paulo Freire acerca do assunto, é que o estudo do tema água seja parte integrante do currículo escolar no ensino fundamental. E isso é uma coisa que deve ser aplicada imediatamente. Essa água que chegou agora tem que ser bem aproveitada. Então, primeiro, tudo tem que passar por um processo sociopedagógico, através do professor, junto com o aluno. A ideia que estou propondo é que se comece esse processo através do Ensino Médio, junto com os professores que ministram aulas, e que se implante já a partir daí com eles e


posteriormente transfira para todas as escolas, primeiramente com as escolas de governo, porque facilitaria o processo e, posteriormente, para todas as escolas. A ideia é implantar, no currículo, como utilizar adequadamente a água que você tem disponibilizada todos os dias. Espaço Ecológico - Isso é um processo de educação ambiental, deveria também está presente os conceitos de como evitar o desperdício de água, serviço de alimentos, coleta seletiva. É isso que você prega? Mauro Nunes - Sim, também, com certeza. A utilização da água, quando eu digo otimização da água, é um processo de otimizar o uso da água, você utilizar de forma que a geração atual use a água sem prejudicar o uso pela geração futura. Isso é um pouco o conceito de desenvolvimento sustentável. Como é que você consegue a sustentabilidade? A água é um bem finito e precisamos ter muito cuidado ao utilizá-la, porque se de repente eu utilizo toda a água existente, a geração futura vai ficar com o quê? Sem água não se sobrevive. Tudo isso que você se referiu cabe dentro do processo até curricular recomendado por Paulo Freire. É preciso incluir, principalmente nas escolas de Ensino Médio, o currículo da utilização adequada da água com toda sua potencialidade. Espaço Ecológico - Estamos conversando sobre sustentabilidade e visão de futuro. Que outro tópico, ou seja, que outra atividade produtiva você enxerga que estará prejudicada no futuro, dentro dessa visão que estamos conversando? Mauro Nunes - Os carros não serão como hoje. Então, aí já começa o primeiro processo. Você diz: como é que vamos nos mover? Eu respondo que através de carros voadores

Sem água não se sobrevive. Tudo isso que você se referiu cabe dentro do processo até curricular recomendado por Paulo Freire. É preciso incluir, principalmente nas escolas de Ensino Médio, o currículo da utilização adequada da água com toda sua potencialidade. e drones. Os pesquisadores estão evoluindo os drones para futuramente atender ao transporte de pessoas. Drone pode ser hoje um voo caro. Você ir para algum lugar por drone, é como ir por avião. Os drones são aqueles equipamentos pequenos que você pode utilizar para ir de um local a outro com a maior facilidade de locomoção e com uma repercussão muito grande no sistema de transporte. O carro voador hoje já é uma realidade. Ele já existe experimentalmente e estão apenas reduzindo o seu preço para que se torne um valor de mercado que as pessoas tenham condições de adquirir. Mas o carro vai ser completamente diferente. Sua forma de se deslocar, de sua casa para o trabalho, vai ser completamente distinta. Hoje você já tem metrô, mas nas cidades mais desenvolvidas. Quer dizer, é uma alternativa, mas metrô é muito caro, principalmente para instalar. Então, a tendência é a lo-

comoção ser em drones e em carros voadores. Quando falamos isso, algumas pessoas acham que estamos malucos pensando essas coisas agora, mas é exatamente o que vamos ter no futuro. Peter Drucker, um consultor nessa área de sustentabilidade, escreveu 35 obras a respeito de organização, criatividade, inovação e tal. Faleceu com 97 anos e deixou a ideia seguinte: “já que nós não podemos prever o futuro, ninguém pode prever o futuro, vamos construí-lo desde já”. Então, criar robô, por exemplo, é o futuro que está sendo inventado, mas a criação do robô tem dois aspectos, para qualquer coisa tem dois aspectos, tem um que é altamente positivo e tem outro que é relativamente negativo. O aspecto negativo é a perda dos empregos existentes pela substituição dos robôs. O que fazer com essas pessoas que passarão a ser consideradas, como já falamos anteriormente, uma classe de pessoas inúteis, a partir da década de 40 deste século? Vai ser preciso criar programas especiais, facilitar alguns processos em que haja o uso dessas pessoas, porque o robô, não há a menor dúvida, vai substituir muitas pessoas e muitas atividades produtivas, seja na indústria, seja no comércio ou na agropecuária. Espaço Ecológico - Após apresentar uma visão tão realista do que vamos enfrentar no futuro, fique à vontade para a sua mensagem final. Mauro Nunes - As pessoas pensam, quando pensam têm ideias e essas ideias devem ser avaliadas e colocadas para que um grupo maior de pessoas discutam. Aproveito para homenagear o criador desse belíssimo projeto conhecido como Espaço Ecológico. Acho o projeto uma beleza, e isso realmente é o futuro. Muito obrigado. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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Espaço Animal A

sorte com que os animais vêm sendo maltratados pelas autoridades públicas e pela população em geral tem propiciado discussões acadêmicas, bem como debates entre defensores e ONGs de proteção animal, assim como tem implicado em aprovação de alguns bons projetos de lei em prol desses seres. Esse cenário tem, de fato, sensibilizado alguns gestores públicos, legisladores e as pessoas de um modo geral, arregimentando defendentes animalistas por toda a extensão do Brasil. Mostra dessa movimentação na direção do zelo e do cuidado que todos devem ter em relação aos animais, fazendo valer, dessarte, os impositivos encontrados na Constituição da República, exterioriza-se, ilustrativamente falando, no inciso VII do § 1° de seu art. 225, quando, então, o constituinte de 1988 já proibia, desde lá, a conduta humana cruel em face da fauna, protegendo todos os animais silvestres e domésticos de infortúnios praticados por pessoas desavisadas. Nessa direção protetiva, a Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba deu um passo importante ao aprovar no dia 25/04/18, unanimemente, o Projeto de Lei n.° 934/2016, que cria o Código de Direito e Bem-Estar Animal paraibano. O texto codificado trás excelentes determinações que darão um alento aos animais da Paraíba, uma

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vez que sua incidência é de abrangência estadual. O vanguardismo da novel legislação aponta, em certos trechos, o conceito de maus-tratos, cobrindo um vácuo legislativo existente no direito animalista brasileiro, haja vista o art. 32 da Lei n.° 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais) estabelecer como crime a conduta de maus-tratos sem, contudo, esclarecer o respectivo conceito, deixando ao alvedrio da autoridade policial/ judicial definir se a situação que se lhe apresenta configura-se (ou não) maus-tratos.

A definição do que pode retratar maus-tratos nasceu de 9 (nove) reuniões/audiências públicas havidas entre 29/10/2015 e 26/04/16, quando se fizeram presentes a sociedade civil e algumas entidades de classe e órgãos governamentais, a exemplo da Comissão de Direito Animal da OAB-PB, do Núcleo de Extensão em Justiça Animal da UFPB (NEJA/UFPB), do Conselho Regional de Medicina Veterinária da Paraíba (CRMV-PB), da Comissão de Direito e Bem-Estar Animal da UFPB, da polícia ambiental, de professores e pesquisadores da


UFPB e da UEPB, de defensores(as) e ONGs de proteção animal, dentre outras. Esses atores animalistas expuseram suas dificuldades com o trabalho, resgate e proteção dos bichos, ocasionando a delimitação da caracterização de maus-tratos que, agora, consta do Código paraibano. São mais de 45 incisos expondo as possíveis condutas identificadoras de maus-tratos a animais, como, por exemplo, manter animais em lugares anti-higiênicos ou que lhes impeçam a respiração, o movimento ou o descanso; obrigá-los a trabalhos excessivos ou superiores às suas forças; abandoná-los em qualquer circunstância, recém-nascidos, jovens ou idosos, estando ou não sãos, doentes ou mesmo feridos; abater para o consumo ou fazer trabalhar os animais em período gestacional; envenenar animal, ocasionando-lhe ou não a morte; praticar atos zoófilos; etc. Além desse tema, o Código aborda outros assuntos de relevância ao impor ao Poder Público, tal como já determinado pelas Constituições Federal (art. 225) e Estadual (art. 227), a necessária criação de políticas públicas de conscientização ética da guarda responsável de animais domésticos, devendo promover campanhas midiáticas semestrais que conscientizem o público da necessidade de esterilização, de vacinação periódica e de que o abandono, pelo padecimento infligido ao animal, configura, em tese, prática de crime ambiental na forma da lei federal específica. Uma inovação que também merece destaque diz respeito ao fato de que o texto assevera que os

Outros pontos culminantes da codificação estabelecem a proibição da permanência, utilização e/ou exibição de animais de qualquer espécie em circos, espetáculos e eventos instalados ou realizados no Estado da Paraíba animais são seres sencientes e nascem iguais perante a vida, devendo ser alvos de políticas públicas governamentais garantidoras de suas existências dignas, a fim de que o meio ambiente, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida dos seres vivos, mantenha-se ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações. Nesse momento, o princípio da igual consideração de interesses é enaltecido pelo legislador ordinário paraibano. Outros pontos culminantes da codificação estabelecem a proibição da permanência, utilização e/ou exibição de animais de qualquer espécie em circos, espetáculos e eventos instalados ou realizados no Estado da Paraíba, bem como garante a escusa ou objeção de consciência à experimentação animal, quando, por exemplo, autoriza o estudante de medicina humana ou veterinária, por obediência à sua consciência e no exercício do direito à sua liberdade de pensamento, crença

ou religião, se opor à violência contra todos os seres viventes, ainda que se trate de experimentação científica envolvendo animal e autorizada por lei federal. Como se vê, ter-se-á, a partir do Código de Direito e Bem-Estar Animal da Paraíba, um bom lastro jurídico de proteção aos animais desse Ente Federado, podendo o texto ser invocado para que os direitos desses seres sejam respeitados por todas as pessoas e entidades públicas e/ou provadas. Essa movimentação em prol do respeito à vida também é protagonizada pela Comissão de Direito Animal da OAB e pelo NEJA/ UFPB, assim como pelo CRMV-PB e entidades de proteção animal ao trazerem a João Pessoa o VI Congresso Mundial de Bioética e Direito Animal, oportunizando pesquisadores do mundo inteiro estarem em solo pessoense, discutindo o que há de mais adiantando na matéria concernente à proteção jurídico-animalista. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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O evento acontecerá no Espaço Cultural José Lins do Rêgo nos dias 26, 27 e 28/09/18, possibilitando os(as) interessados(as) escreverem artigos científicos e pôsteres, participarem de minicursos temáticos e, obviamente, assistirem às mesas-redondas formadas pela nata mundial da bioética e do direito animal. Para tanto, basta acessar o endereço eletrônico do evento e navegar pelas intuitivas abas: www.saudeedireitoanimalufpb.com.br. Outras ações vêm sendo promovidas pelo NEJA/ UFPB com a oferta, à população, de seminários e cursos de direito animal, objetivando disseminar o conhecimento entre os populares acerca da senciência animal, tal como afirmado pela declaração sobre a “Consciência em Animais Humanos e Não Humanos”, proclamada publicamente em Cambridge, Reino Unido, em 7/07/12, na Francis Crick Memorial Conference on Consciousness in Human and non-Human Animals, no Churchill College da Universidade de Cambridge. Foram vários neurocientistas, neurofarmacologistas, neurofisiologistas, neuroanatomistas e neurocientistas computacionais cognitivos que assinaram essa declaração após reavaliarem os substratos neurobiológicos da experiência consciente e comportamentos relacionados em animais humanos e não humanos, chegando à conclusão que não somente animais vertebrados, como também alguns invertebrados têm consciência da vida similar à que tem o humano, experimentado, dessa forma, a dor

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e o sofrimento conscientemente, tal como as pessoas experienciam. Ainda internacionalmente falando, as conquistas animalistas têm logrado avanços. Mostra disso revela-se nas alterações dos ordenamentos jurídicos da Alemanha, Áustria, França, Suíça e Portugal que aprimoraram o status jurídico dos bichos, destinando-lhes direitos e, em muitos casos, determinando que eles são os próprios sujeitos desses mesmos direitos, criando condições para que os bichos pleiteiem em juízo as suas demandas. Aqui no Brasil, o Projeto de Lei n.° 6799, de autoria do Deputado Ricardo Izar, foi aprovado no âmbito da Câmara dos Deputados em 12/12/17, sendo remetido para apreciação pelo Senado Federal no dia 19/04/18, tendo como objetivo alterar parte da Lei n.° 9.605/98 (crimes ambientais) e, desse modo, determinar que “Os animais não humanos possuem natureza jurídica sui generis e são sujeitos de direitos despersonificados, dos quais devem gozar e obter tutela jurisdicional em caso de violação, vedado o seu tratamento como coisa”.

A aprovação, em definitivo, pelo Senado revelará um adiantamento na luta pela garantia de uma vida mais adequada para todos os seres viventes, inclusive para os animais. Esse, um pedaço do quadro, por assim dizer, por que passa a luta animalista em terra nacional e internacional, demonstrando, em certa medida, o grau de despertamento consciencial que vem invadindo as mentes humanas no que diz respeito ao respeito à vida, considerada em seus múltiplos aspectos.

Por Francisco José Garcia Figueiredo, Advogado Animalista e presidente da Comissão de Direito Animal da OAB/PB


A conservação do meio ambiente tem sido pauta na CMJP Sustentabilidade, preservação de rios e vegetação, além de estratégias para coleta de resíduos e reciclagem, são temas de matérias no Legislativo Pessoense

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Por Clarisse Oliveira/CMJP

preservação e conservação do Meio Ambiente tem se tornado uma preocupação constante para os parlamentares da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP). Prova disso são as diversas matérias legislativas propostas para desenvolver sustentabilidade, estratégias na coleta lixo e, claro, preservação da natureza, como arborização, água e rios da Capital. “A Câmara legisla em favor de todos os aspectos da cidade e da vida da população de João Pessoa, e o

Meio Ambiente é parte fundamental da nossa Capital, uma das mais arborizadas do mundo. Mas mais do que isso, o tema hoje é sinônimo de desenvolvimento e saúde, de modo que nós, vereadores, estamos sempre atentos a essa pauta”, comentou o presidente da Câmara, vereador Marcos Vinícius (PSDB). Já é Lei, em vigor na cidade, a Política Municipal de Práticas Sustentáveis, que prevê a realização de ações com o objetivo de conscientizar a população sobre educação ambiental renovável e ainda contribuir para a redução de custos com energia elétrica pela Administração Pública. Dentre as práticas citadas

na Lei, destacam-se: a utilização de energias renováveis e a captação, armazenamento e aproveitamento das águas pluviais nas edificações e empreendimentos municipais. Para o autor da iniciativa, vereador Thiago Lucena (PMN), a lei vai além da preservação do meio ambiente, vai em busca dos novos costumes modernos de otimização de recursos. “A Lei não visa somente à promoção da sustentabilidade e valorização do meio ambiente, ele vai ao encontro do princípio da economicidade da Gestão Pública. E com essa economia promovida, poderemos redirecionar o dinheiro para outras áreas”, afirmou. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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Também já é Lei o Programa Nova Árvore, que incluiu no Código de Posturas do Município o dever do plantio de uma nova árvore a cada remoção realizada para que não seja desfigurada a arborização da cidade. Segundo a autora do Projeto de Lei, vereadora Sandra Marrocos (PSB), é uma iniciativa simples de reposição de árvores retiradas para manter a vida arbórea da cidade. A Capital já pode contar com locais apropriados para o descarte de lâmpadas e com o Programa Municipal de Gestão de Pneumáticos inservíveis. Ambas matérias do vereador Bruno Farias (PSB) já são Leis e promovem a preservação do meio ambiente. A primeira determina a obrigatoriedade de manutenção de postos de coleta para o recebimento de lâmpadas que contenham mercúrio. Esse recebimento deve ser realizado pelos estabelecimentos que comercializem esse tipo de produto. Já a segunda matéria dispõe sobre a reutilização de pneumáticos inservíveis em obras públicas de infraestrutura. De acordo com a norma, fica o Poder Executivo autorizado a reutilizar pneus que não servem mais a serem destinados à rodagem ou recapeamento em obras de infraestrutura municipal, como na construção de muros de arrimo; fossas sépticas; barramentos; estruturas de escoamento pluvial; ornamentação de praças, parques e jardins; construção de lixeiras e outras destinações de interesse público que sejam socialmente relevantes e ambientalmente adequadas. “Vimos a necessidade de melhorar a gestão dos resíduos da indústria pneumática, assim como, do ganho social e econômico com sua reutilização em obras de infraestrutura, o que representará redução

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ÁGUA Projeto tramita sobre promoção da recuperação e manutenção dos rios da Capital e das matas ciliares.

significativa de custos, além, claro, do ganho social na qualidade de vida dos munícipes, especialmente em comunidades mais carentes de obras infraestruturais”, justificou Bruno Farias.

Matérias em tramitação Sobre arborização, tramita na CMJP projeto que prevê a realização de campanha permanente de incentivo à arborização de ruas, avenidas, praças e jardins da Capital com o objetivo de conscientizar a comunidade sobre a importância da preservação das áreas verdes, além de incentivar a plantação de mudas de árvores. Segundo o autor do projeto, vereador Bruno Farias, há inúmeros benefícios que a arborização urbana pode trazer para as cidades. “A arborização é essencial a qualquer planejamento urbano e tem funções importantíssimas como: propiciar sombra, purificar o ar, atrair aves, diminuir a poluição sonora, constituir fator estético e paisagístico, diminuir o impacto das chuvas,

contribuir para o balanço hídrico, valorizar a qualidade de vida local, assim como valorizar economicamente as propriedades ao entorno e ainda atuar fator educacional”, elencou. Já Tibério Limeira (PSB) tem uma proposta para que seja informado em obras públicas dados sobre o número de árvores derrubadas para que aquela obra fosse feita, assim como informações sobre o replantio necessário para se recuperar a vegetação destruída. Para o autor, a medida vai combater o desmatamento ambiental.

Água Com o objetivo de garantir a qualidade da água e o bem-estar social, tramita na Casa projeto de autoria do vereador Tanílson Soares (PSB), que dispõe sobre a obrigação do Município de promover a recuperação e manutenção dos rios da Capital, assim como da vegetação das margens, chamadas de matas ciliares. De acordo com o autor, a matéria vai ao encontro da preocupação


com preservação do meio ambiente, que está cada vez mais presente no mundo. “Esse projeto chegou a nós devido as várias reclamações de problemas com a poluição de rios e em bairros que ainda não recebem o serviço de esgotamento. Isso ocasiona além da poluição do ambiente, a proliferação de doenças, principalmente nos bairros com população carente”, justificou, ressaltando que é uma necessidade de manutenção primária dos direitos do cidadão. Outra matéria da vereadora Sandra Marrocos dispõe sobre a captação, conservação e uso racional da água na Capital. O projeto pretende alterar o Código de Obras do Município estabelecendo normas que potencializem a conservação, o uso e formas de captação da água pluvial nas edificações, assim como a conscientização dos usuários sobre a importância do uso racional desse recurso. “Considerando a gravidade da situação e a necessidade de mudança dos paradigmas conceituais sobre o uso de água na nossa cidade, bem como com o desperdício e consumo predatório, o projeto busca oferecer uma contribuição para que as novas edificações da Capital sejam construídas de forma ecológica e ambientalmente corretas, reduzindo o excessivo e desnecessário gasto de água”, justificou Sandra Marrocos. Já o vereador Professor Gabriel (PSD) quer analisar a qualidade da água fornecida em escolas, creches, Unidades de Pronto Atendimento, hospitais e Unidades de Saúde da Família como forma de assegurar o consumo seguro da água, de forma a não oferecer riscos à saúde dos frequentadores desses espaços. As praias também não ficam de fora da preservação. Tramita

RESÍDUOS Iniciativa prevê que os resíduos sólidos sejam destinados para as cooperativas e/ou associações de catadores legalmente estabelecidas no Município.

projeto de Tibério Limeira (PSB) de combate à poluição das praias com o objetivo de promover o bem-estar da população; a proteção, preservação e recuperação das praias; valorização do meio ambiente; compreensão dos elementos referenciais da paisagem característica e equiparação de interesses de instituições atuantes na promoção do meio ambiente.

Coleta de Resíduos e reciclagem O vereador Bruno Farias é autor de projeto que determina aos geradores e organizadores de eventos públicos a obrigatoriedade de realizarem os serviços de coleta seletiva dos resíduos sólidos secos produzidos durante os eventos. A iniciativa ainda prevê que os resíduos sejam destinados para as cooperativas e/ou associações de catadores legalmente estabelecidas no Município. Visando a aumentar e facilitar o reaproveitamento de resíduos sólidos, o vereador Leo Bezerra (PSB) propõe a criação do Centro de Trei-

namento em Técnicas de Coleta de Resíduos Sólidos da Prefeitura de João Pessoa. Segundo o autor, a proposta é voltada para o ensino e desenvolvimento de atividades de orientação e prática da coleta seletiva na Capital. Também é de Bruno Farias a proposta de criação de um Mapa de Conflitos Ambientais na Capital. Segundo o parlamentar, a intenção é identificar no Município os mais diversos conflitos ambientais oriundos de pautas de movimentos ambientalistas na Capital. Segundo a propositura, será elaborado um mapeamento qualitativo dos conflitos ambientais da cidade a partir da identificação, caracterização e classificação de casos que violem o direito ao meio ambiente. “A intenção é que o mapeamento funcione como um instrumento de defesa dos direitos e também de elaboração e execução de políticas públicas voltadas à sustentabilidade e à democratização da apropriação dos territórios e condições naturais de grupos política e economicamente fragilizados” destacou o autor. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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Brasil tem aproximadamente 900 mil pessoas com glaucoma, diz OMS Fotos: Ortilo Antonio

“Os sintomas da doença são bem variáveis e isso acontece por conta do tipo da doença. Alguns casos são completamente assintomáticos”

Médica oftalmologista Carla Pereira

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Por Anézia Nunes

Glaucoma é um conjunto de diversas doenças distintas que envolvem a pressão intraocular associada à neuropatia óptica. Por conta disso, ele possui características bem específicas, em que ocorre um dano no nervo óptico, parte do olho que carrega a informação visual até o cérebro, causando a perda progressiva (se não tratada) e irreversível da visão. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o glaucoma é a segunda maior causa de cegueira

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no mundo, ficando atrás apenas da catarata. Estima-se que a prevalência da doença no mundo é de aproximadamente 1 a 2% já no Brasil, a estimativa é de que 900 mil pessoas são portadoras da doença. Para ter acesso ao atendimento com o médico oftalmologista (especialista qualificado para identificar o glaucoma), o usuário do SUS deve passar pela Unidade de Saúde da Família (USF), que é a porta de entrada para os serviços da rede pública de saúde, onde terá sua consulta marcada com o oftalmologista. As consultas podem acontecer no Cais de Jaguaribe, Hospital Universitário Lauro Wanderley, Hospi-

tal Edson Ramalho e outros serviços conveniados. Além dos procedimentos, os usuários do SUS também têm acesso gratuitamente aos colírios para o tratamento do glaucoma, que são disponibilizados nas clínicas que realizam as consultas. A médica oftalmologista Carla Pereira enfatiza que é importante procurar um médico especializado em cuidados de visão, no caso, o oftalmologista, que é quem está habilitado para detectar o Glaucoma. “Os oftalmologistas, pela sua especialização e formação, bem como pelo âmbito do que podem diagnosticar e tratar, diferem dos especialistas em optometria que atuam em ótica. Os pacientes vão para o optometrista achando que estão sendo examinados e o que ele faz são apenas os óculos. Em consequência disso, os pacientes que tem glaucoma deixam de ter a doença detectada e o glaucoma vai evoluindo”, enfatiza Carla Pereira.

Causas do Glaucoma A oftalmologista explica que, na maioria das vezes, o glaucoma é causado pelo aumento da pressão intraocular (PIO) do indivíduo. Mas, segundo ela, como isso acontece? A parte anterior dos olhos produz continuamente um líquido chamado humor aquoso que preenche toda a parte da frente do órgão. Após isso, ele deixa o olho através de canais localizados na córnea e na íris. Quando esses canais são bloqueados ou parcialmente destruídos, a PIO pode aumentar. Com esse aumento, o nervo óptico pode ser danificado e como esses danos podem ser progressivos, o campo de visão pode ser afetado gradativamente. As causas desse aumento na pressão do olho ainda não são co-


nhecidas, porém especialistas acreditam que um ou mais desses fatores listados a seguir podem influenciar: colírios dilatadores; drenagem restrita ou bloqueada em seu olho; uso de corticoides; má circulação ou redução sanguínea no nervo óptico; pressão arterial alta ou elevada.

Sintomas e tratamento Carla Pereira explica quais os principais sintomas do Glaucoma e forma de tratamento. “Os sintomas da doença são bem variáveis e isso acontece por conta do tipo da doença. Alguns casos são completamente assintomáticos. Já outros podem apresentar outros sintomas que não a perda da visão”, ressalta a oftalmologista. Ela acrescenta que existe o Glaucoma de ângulo aberto, no qual grande parte das pessoas não apresenta sintomas até o início da perda da visão. Com o decorrer dos anos, acontece a perda gradual da visão periférica lateral. Existe também o Glaucoma de ângulo fechado, no qual o paciente apresenta dor grave e repentina no olho; visão diminuída ou embaçada; náuseas e vômitos; olhos avermelhados e olhos com aparência inchada. Já no Glaucoma congênito, a maioria desses sintomas é notada quando a criança ainda tem poucos meses de vida. Nesse caso, os principais sintomas são nebulosidade na parte frontal do olho; aumento de um olho ou em ambos; olhos vermelhos; sensibilidade à luz e lacrimação em excesso. Fatores de risco – “O glaucoma possui um caráter hereditário, onde familiares de quem possui a doença tem mais chances de desenvolvê-la também. Porém, além desse fator de risco, há ainda outros

que podem influenciar o seu aparecimento”, esclarece Carla. A oftalmologista lista alguns fatores de risco, a exemplo da pressão intraocular elevada; idade acima de 60 anos ou acima de 40 anos (para casos de glaucoma agudo); afrodescendente tem mais tendência a desenvolver a doença, principalmente acima dos 40 anos; Histórico familiar apresenta risco de até 6 vezes mais do desenvolvimento da doença; doenças como diabetes, problemas cardíacos, hipertensão e hipertireoidismo; doenças no olho, como tumores, descolamento de retina e inflamações; uso prolongado de medicamentos à base de corticosteróides. Tratamento para o Glaucoma – Carla Pereira acrescenta que por mais que o Glaucoma não tenha cura, há diversas formas de tratamento para que a perda da visão seja controlada e também para que a qualidade de vida do paciente seja a melhor possível. “Além disso, o tratamento deverá ser individualizado, considerando fatores como a gravidade do glaucoma, idade do paciente, histórico familiar, espessura da córnea. Diagnóstico – A ocorrência de glaucoma só pode ser detectada após exames oftalmológicos realizados pelo oftalmologista. Por isso, é super importante que você vá ao

menos uma vez no ano no médico, para realizar os diversos exames que diagnosticam não só essa doença, mas várias outras também. Quanto mais cedo diagnosticado o glaucoma, melhores são as chances de seu tratamento. Dentre os exames que o médico poderá realizar estão o de acuidade visual que detecta alterações na visão; o exame de pupila que detecta lesão nas vias ópticas, incluindo o nervo óptico; exame com lâmpada de fenda que avalia o interior e o exterior do olho; tonometria que confere a pressão intraocular; fotografia do nervo óptico que documenta a aparência do nervo óptico, além de ser muito útil em sua monitoração; nervo óptico que mede a escavação e a palidez; gonioscopia que avalia o ângulo da câmara anterior do olho; campo visual que verifica a perda de campo visual do paciente.

ATENDIMENTO PELO SUS

Cais de Jaguaribe 3218-9804 Hospital Universitário Lauro Wanderley (83) 3216-7042 Hospital Edson Ramalho (83) 3218-7978 REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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Espaço ecológico lança canal no YouTube com foco jornalístico na

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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Por Alexandre Nunes

m novo produto com a marca do Espaço Ecológico. Trata-se de um canal no YouTube lançado no dia 19 de maio, durante o programa radiofônico Espaço Ecológico, que é levado ao ar todo sábado, de 08h às 09h, na rádio Tabajara FM 105.5. Semanalmente será veiculado um vídeo no canal do YouTube, com visualização também na página principal do Portal Espaço Ecológico, pelo link www.espacoecologiconoar.com.br , seguindo a mesma missão do programa no rádio, do site e da revista, que possuem como foco jornalístico a educação ambiental. A apresentação dos vídeos será feita pela jornalista Maria Eduarda, a Madu, e a produção e direção é de Jonathan Dias. Nesse novo canal, o Espaço Ecológico veicula temas sobre educação, meio ambiente, bem-estar, dicas de como reduzir,

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reciclar, reutilizar, além de mostrar roteiros ecológicos e a rica culinária paraibana. A edição inicial trouxe entrevistas com a equipe de jornalistas que há 14 anos leva educação em forma de ecologia para sua casa. Os profissionais atuam no programa de rádio, no portal, na revista e, agora, no Canal Espaço Ecológico. No vídeo, o diretor executivo do Espaço Ecológico, Gualberto Freire, conversou com a apresentadora Maria Eduarda e explicou que o projeto Espaço Ecológico nasceu de um momento de uma extrema felicidade quando uma criança ligou para o programa Show da Tarde, da Rádio Tabajara, durante uma entrevista com Alexandre Coronago, falando sobre o clone. “Na ocasião identifiquei que a criança tinha 11 anos e morava no bairro do Cristo, em João Pessoa. Ela queria saber como é que faz um clone. Nesse momento, entendemos que o rádio é um instrumento de educação e, como eu já havia per-

cebido em minhas andanças, inclusive como diretor da Sudema, que não tinha um programa de educação ambiental no rádio da Paraíba, convidei os jornalistas e criamos o Programa Espaço Ecológico”, continuou. Gualberto enfatizou que foi aí que nasceu a ideia de levar ao ar, como tem sido feito há 14 anos, um programa de educação ambiental, todos os sábados na rádio Tabajara. Com relação à nova iniciativa da marca Espaço Ecológico, um canal no YouTube, Gualberto destacou que a Internet é o espaço do momento e do futuro no mundo da comunicação e que o Espaço Ecológico, sempre antenado com as inovações, criou mais uma opção para oferecer à população. “Acredito que com essa equipe que estamos formando, vai ser realmente o momento de consolidar a marca Espaço Ecológico, através do rádio, do site, da revista e do canal no YouTube. Acredito que o trabalho e a competência que vocês têm


Mais um produto da marca Espaço Ecológico, agora no canal YouTube

Em entrevista a repórter Maria Eduarda, o diretor executivo do Espaço Ecológico, Gualberto Freire fala do novo projeto

é que vai ser o sucesso no novo instrumento de educação ambiental do Espaço Ecológico no canal YouTube. Desejo todo sucesso a vocês. A bola é de vocês”, concluiu. Em seguida, o vídeo traz alguns depoimentos de componentes da equipe jornalística. O primeiro é do apresentador do Programa Espaço Ecológico, Clemilson Sousa. Ele comentou que está há 14 anos fazendo parte de uma grande equipe. “Aproveitando essa nova mídia que é o YouTube, quero dizer da minha satisfação em fazer parte dessa equipe maravilhosa, que se preocupa a cada dia em trazer, através do rádio, agora pelo YouTube e também por meio da revista e do portal, as melhores informações sobre como tratar melhor o nosso planeta, cuidar do ambiente em que vivemos. O programa também tem um cunho educativo e informativo. Vamos juntos, então, na luta em prol do nosso planeta. Queremos um planeta sustentável para as gerações

futuras que, com certeza, virão e serão bem aceitas”, declarou. O editor geral do programa radiofônico, Berlim Carvalho, explicou que foi integrado à equipe do Programa Espaço Ecológico, a partir do seu segundo ano. “Até então, não tinha familiaridade na defesa do meio ambiente. Me tornei não apenas o editor do Espaço Ecológico, mas também um defensor da natureza. Aprendi que o nosso presente depende da preservação ambiental, como também as futuras gerações precisarão que nós preservemos o meio ambiente, para que elas tenham um futuro melhor, aqui no nosso planeta. O Espaço Ecológico está no meu coração e faz parte da minha vida. Tem uma frase que sempre usamos no Espaço Ecológico que é o meio ambiente mais próximo de você”, ilustrou. O jornalista Alexandre Nunes, que é responsável pela editoria geral do portal e da revista Espaço Ecológico, falou sobre a performance do Espaço Ecológico

na Internet. “O portal Espaço Ecológico hoje já alcança 16 milhões de acessos. tem mais de 45 mil matérias publicadas sobre os mais diversos assuntos, todos ligados ao meio ambiente, e temos diariamente a publicação de 12 matérias e 16 canais semanais interagindo com autoridades e especialistas do Brasil e até de outros lugares do mundo”, ressaltou. Já a designer Ilka Cristina, responsável pela concepção gráfica e diagramação da Revista Espaço Ecológico, disse que a revista é mais um projeto do Espaço Ecológico que vem com a mesma proposta de sempre pensar nas questões em que haja sustentabilidade ambiental, em que haja uma melhor qualidade de vida para as pessoas. “Então, quando a gente elabora a revista, o que vai de fotografia, de texto, de uma melhor visualização, tem como objetivo alcançar o que há de melhor em termos de resultado final, até porque o nosso objetivo é sempre oferecer um produto de qualidade”, garantiu.

REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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14 ANOS

Uma aula de Sustentabilidade e Meio Ambiente

Programa Espaço Ecológico | FM 105.5 | Todos os sábados das 8h às 9h www.espacoecologiconoar.com.br 36  | REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO

www.facebook.com/EspacoEcologico


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