UMA AULA DE SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE - ED. 16 | SETEMBRO/2019
A importância da Mata do Buraquinho para o clima de JP
Cardiologista fala sobre natureza e saúde do coração
EDITORIAL
A 16ª edição da Revista Espaço Ecológico traz um re sobre as atividades de reciclagem e substituição das assunto de significativa importância para quem quer filâmpadas fluorescentes por lâmpadas LED e ainda a car antenado com ações que contribuem para a preserforma de compostagem e desperdício de água e enervação do meio ambiente. Trata-se da compostagem, um gia elétrica no TRT. Ainda nesta edição, Ronilson José jeito inteligente de lidar com o lixo orgânico e uma das da Paz escreve sobre os serviços ambientais da Mata do formas de reciclagem. Na reportagem, Claudiana Maria Buraquinho, e o professor Antonio Gualberto Filho puda Silva Leal, doutora em Engenharia Civil na área de blica artigo sobre mobilidade e acessibilidade urbana. gestão de resíduos sólidos, explica quais são os benefíO jornalista Nonato Nunes traz um belo relato sobre as cios da compostagem e como é realizado esse procesorigens de Cabedelo e o professor fluminense Carlos so. As páginas amarelas trazem uma entrevista com o Walter Porto sobre as origens dos povos amazônicos. médico cardiologista Helman CamAlém disso, a revista publica pos Martins, que explica as novas textos sobre temas como: Os 4 Expediente tecnologias capazes de diagnosticar R’s a Sustentabilidade 4.0, Zero - 15 Anos Revista Espaço Ecológico com antecedência aquelas pessoas Desperdício, Poda Programaque vão ter doenças cardiovasculada, Espaço Animal, Mães IndíDireção Executiva res. Outra matéria interessante da genas, Sabão Ecológico, Manire Fre o ert Gualb revista é a que detalha o processo de guezal e Preceitos Ecológicos 326 (83) 9 8808-1 implantação da logística sustentável do Padre Cícero. As opiniões, Jornalista Responsável no Tribunal Regional do Trabalho, ideias, conceitos e posicionadre Nunes xan Ale 13ª Região. Na matéria, o engenheiro mentos expressos nos textos, DRT-PB 5437 Jackson Bertamoni de Lima explica são de inteira responsabilidaGráfico o que é logística sustentável e discorde de seus autores. Diagramação e Projeto b@gmail.com ESTAMPAPB - estampap Foto Capa: Freepick ernet, Ilka Fotos: arquivo pessoal, int JP e assessorias Cristina, SecomPB, Secom
Compostag A
Por Alexandre Nunes
compostagem é um jeito inteligente de lidar com o próprio lixo. É o que afirma Claudiana Maria da Silva Leal, doutora em Engenharia Civil na área de gestão de resíduos sólidos. Ela acrescenta que a compostagem é derivada da reciclagem do resíduo orgânico. “É muito triste constatar em todos os lugares, principalmente aqui no Brasil, que o resíduo orgânico ainda é compreendido como um problema, ou seja, como se fosse um rejeito”, lamenta. Claudiana explica que, na verdade, o resíduo orgânico é uma solução. “Os solos estão cada vez mais desnutridos e se tivéssemos um processo de compostagem trazendo resíduo orgânico, nessa transformação em compostagem, para ser retornado ao solo, teríamos segurança alimentar com produção orgânica, onde inclusive os agrotóxicos seriam uma peça mais restrita”, argumenta. A especialista sustenta que se nós tivéssemos a visão, a ação e a educação ambiental, o resíduo orgânico seria de suma importância no processo de reciclagem, porque
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ele é na verdade 50% de todo o resíduo doméstico produzido. “Se tivéssemos todo resíduo orgânico direcionado para alinhar o solo em nutrição, já tínhamos resolvido 50% dos nossos resíduos de forma sustentável e em benefício da alimentação, ou seja, da segurança alimentar”, observa. Claudiana ressalta quais os cuidados que se deve ter com os resíduos utilizados na compostagem. “Toda matéria orgânica se transforma em nutrientes para o solo. Existem alguns elementos como peixe, animais, queijos, que algumas pessoas acreditam que não devem ser compostados. Todo material orgânico pode ser compostado. Entretanto, existe os tipos, a forma e o método da compostagem. Então todos os elementos orgânicos da natureza podem ser compostados sim. Agora, para cada um exige uma forma, um método”, previne. Ela conta que em 2013 foi em um congresso e conheceu o exemplo de uma fazenda sustentável que fazia compostagem de papel higiênico. “Eu nunca tinha escutado isso, nem tinha nenhuma leitura sobre isso, porque o que a gente pensa é que o papel higiênico é um material patogênico. No entanto,
Foto: Wikipédia
e sua importância no processo de
a compostagem também consegue combater muitos patógenos. É saber o que você vai compostar e o método que você vai escolher. É só fazer esse alinhamento do elemento”, comenta. Claudiana ilustra o assunto com um exemplo simples de compostagem. Quando estava no doutorado, ela trabalhou, em Alagoa
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reciclagem
Grande, uma forma de compostagem com o material do matadouro. “É um material rico em nutrientes e que as pessoas não acreditam que a gente consegue compostar. Outro exemplo muito simples é o cemitério, uma grande composteira. Só que lá temos que ter os cuidados, pois lá não tem o controle, não tem os encaminhamentos com os méto-
dos corretos, apenas é colocado o material no solo. Aí tem toda uma questão de resíduos que precisam ser cuidados. Citei essa questão só para dar um exemplo de que todo material orgânico se transforma”, justifica. A especialista acrescenta que a reciclagem só estará completa quando for feita a compostagem. Ela comenta que quando as pessoas dizem que fazem coleta seletiva, estão fazendo reciclagem. Entretanto, se não considerarem o resíduo orgânico, estão fazendo apenas metade do processo. Claudiana explica de que forma as pessoas iniciam o processo de compostagem e como devem fazer para ter uma composteira em casa ou no apartamento. “A natureza ensina a fazer a compostagem e nós não prestamos atenção. Você tem uma árvore e, no outono, suas folhas caem. Em seguida caem as flores e depois caem os frutos. Você tem um leito embaixo do solo e todo esse material vai sendo colocado de forma natural em camadas. Se você fizer um acompanhamento de uma árvore durante um período do ano, perceberá a transformação do solo com essas camadas. O que que acontece na verdade é a natureza ensinando que aqueles materiais não são resíduos e sim nutrientes do solo, que vão alimentar a própria árvore. Tem muitas pessoas que varrem as folhas de junto das árvores e jogam fora”, lamenta. Claudiana Leal esclarece que as pessoas produzem muito resíduo orgânico. “A natureza nos ensina, mas nós, por meio da tecnologia, precisamos acelerar o processo, porque produzimos muito mais resíduo do que podemos dar conta para compostar e transformar em adubo. Existem vários tipos, formas e métodos de compostar. Ela revela que quando estava estudando no
Claudiana Maria da Silva Leal, doutora em Engenharia Civil na área de gestão de resíduos sólidos.
Rio Grande do Sul teve acesso a um livro do professor Caio de Teves Inácio, no qual tratava de sua experiência com a compostagem dos resíduos do restaurante da Universidade Federal de Santa Catarina e dos resíduos de podas das árvores da instituição. “Baseado no trabalho do Professor Caio, o Ministério do Meio Ambiente publicou, em 2017, o Manual de Orientação: Compostagem Doméstica, Comunitária e Institucional de Resíduos Orgânicos, onde orienta que a gente siga fazendo a compostagem, porque nossos resíduos estão indo para um local inadequado”, relata. A especialista revela que o método que o Professor Caio desenvolveu, o mesmo que ela apoia e também faz, é um método de compostagem sem revolvimento. Quando chegou em João Pessoa, Claudiana encontrou um professor chamado Pedro Paulo, do Campus Cabedelo do Instituto Federal da Paraíba, que também já estava fazendo compostagem sem revolvimento. Os dois juntaram teoria e prática e começaram a fazer várias pesquisas e projetos já com o método de compostagem sem revolvimento. Trata-se de um método que REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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Foto: Silva Alves
pode ser aplicado em casa, só que menorzinho. E como é que acontece? Copiando a natureza, de novo. “Primeiro coloca uma camada de graveto, ou seja, de material mais lenhoso, como se você estivesse copiando a natureza. Depois, você começa a colocar aquela camada de resíduo orgânico que você tem em casa, que a gente chama de colorido, que são os restos de alimentos do almoço, da preparação, do que sobra das cascas de frutas e verduras. Em seguida, você coloca uma camada de material mais escuro, que a gente chama de material marrom, onde
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ele vai dar aquela quebra, onde você trabalha o nitrogênio e carbono. E daí segue alternando as camadas. É como se a gente tivesse fazendo uma lasanha”, detalha. A pesquisadora explica o papel das minhocas no processo de compostagem. “Esse processo é conhecido como vermicompostagem. De acordo com estudos, as minhocas bem avermelhadas e chamadas californianas têm uma propriedade de digerir os resíduos orgânicos. Elas transformam os resíduos orgânicos em húmus. Quando você faz vermicompostagem, tem que ter cui-
dado, porque para cada estilo existe um método. Então, quando, por exemplo, você coloca as minhocas na compostagem, não pode colocar elementos que agridam os animaizinhos. Se você coloca algo que vai impactar o desenvolvimento delas, a tendência e que adoeçam e morram”, alerta. Segundo explica Claudiana, as pessoas às vezes inserem as minhocas na compostagem, mas colocam restos de carne e queijo que ofendem a saúde desses animais. “Quando você tem um processo de compostagem chamado vermicompostagem, tem que ter muitos critérios do que vai colocar para as minhocas se alimentarem. As minhocas só se alimentam bem de frutas, verduras e legumes, materiais mais digestivos para elas. As minhocas sentem terríveis dores e cólicas e acabam morrendo, se você coloca restos de carne na vermicompostagem”, reitera. Ela esclarece que as minhocas aceleram o processo de transformação dos resíduos em 30%. Então, quando você coloca um determinado volume de resíduos, no final do processo você tem somente 30% do material. “Olha como revolve o resíduo. Você tinha 100% de resíduo e no fim fica só com 30%. Só nesse processo de compostagem com as minhocas houve uma redução de líquidos e o resíduo orgânico já foi embora 70%”, detalha. Claudiana acrescenta: Agora, por que é que a gente tem tanto problema? É porque as pessoas misturam os resíduos orgânicos com rejeito e fica aquele volume enorme de resíduos e não há essa transformação e é um problema terrível nos municípios, no estado e no país. A compostagem deveria ser um elemento base em nossa sociedade”. A pesquisadora explica que quando faz gestão de resíduos em qualquer empresa, em qualquer local ou escola, sempre inicia pela
compostagem. “Primeiro ensino a separar o resíduo orgânico. Mostro que, em alguns lugares, ele é mais de 50% e faço a reciclagem dele. O restante não tem o que fazer, é uma parte rejeito e outra parte é reciclável, como papel, metal, vidro, para os catadores. Na verdade, deveríamos capacitar os catadores para que eles fizessem a compostagem, ou alimentassem animais”, arremata.
Ela está trabalhando na implantação da coleta seletiva no condomínio onde mora. “Já localizamos uma catadora que leva o resíduo orgânico. Não podemos fazer compostagem aqui, porque o prédio não tem espaço para isso, mas a gente separa e a catadora leva o material orgânico. O resíduo orgânico pode ser compostado ou usado para alimentar animais, mas o importante é não enviar o resíduo
como rejeito para o aterro sanitário”, recomenda. Claudiana considera a educação ambiental como um fator importante e fundamental no processo de compostagem. “Você não dá um passo positivo na gestão de resíduos sem a educação ambiental, porque as pessoas não sabem o que fazer. Quando você diz para fazer a coleta seletiva, as pessoas não sabem, porque foi implantado na mente de todas as pessoas que reciclagem é só separar os resíduos secos recicláveis, mas os orgânicos, os úmidos, para muitas pessoas, são considerados não recicláveis e prejudiciais para quem lida com eles. Isso é uma inverdade, porque o resíduo orgânico é mais reciclável do que os demais”, complementa. Ela comenta que o tempo de duração de uma compostagem vai depender do processo e do volume. “O resíduo orgânico é muito rápido para compostar. Se você tem um cesto de lixo em casa e bota resíduo orgânico, de um dia para o outro ele se transforma quase em um líquido e vai desaparecendo. Ele é muito rápido para reciclar, enquanto uma garrafa PET, por exemplo, para reciclar tem uma longa viagem. Ela ainda vai para o catador e deste para o reciclador, que por sua vez leva para uma empresa até transformar, mas o resíduo orgânico é rápido”, completa. Na opinião da especialista, o que falta é efetivamente a educação ambiental e não é só educação ambiental da população não, mas dos gestores. “Temos gestores que negligenciam, não dão nem atenção a esse processo”, constata. Claudiana Leal reforça a importância das escolas no desenvolvimento da educação ambiental, principalmente para a aplicação do processo de compostagem. “Se todas as crianças aprendessem e as escolas aplicassem, nós íamos ter daqui a 10 anos esse processo implantado”, presume. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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Fotos: Niaranjan do Ó
Semam reutiliza galhos recolhidos durante
Poda Programada
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eduzir a produção de resíduos e tornar os processos de arborização urbana sustentáveis. É com esse objetivo que a Secretaria de Meio Ambiente (Semam) da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) trabalha na compostagem dos resíduos coletados durante a Poda Programada. A Poda Programada é realizada pelas equipes da Semam, em diversos pontos da cidade, seguindo os padrões da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU), retirando o mínimo possível de galhos das árvores. Esses galhos são triturados na mesma hora em que são retirados das árvores e seguem para o Viveiro Municipal de Plantas Nativas. Lá recebem um tratamento na compostagem para serem usados no preparo das mudas do plantio urbano.
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A compostagem transforma a matéria orgânica em adubo natural. Esse composto pode ser usado na agricultura, em jardins e plantas, no plantio urbano, substituindo o uso de produtos químicos. No Viveiro Municipal os resíduos, recolhidos durante a Poda Programada, são empilhados em um local onde há ocorrência de sol e sombra. Os viveiristas utilizam esse material, misturado com terra e barro, no preparo das mudas de árvores nativas. O secretário de Meio Ambiente, Abelardo Jurema Neto, ressaltou que a compostagem é um, de vários processos, em que a Semam atua tendo como foco principal a sustentabilidade. “Além de econo-
mizarmos, porque não precisamos comprar adubo químico, geramos o mínimo de resíduo, fazendo da Poda Programada uma ação extremamente importante para a manutenção do patrimônio ambiental da nossa cidade”, concluiu. Todo o processo é supervisionado pelo biólogo Carmelo Edson da Nóbrega, coordenador do Viveiro Municipal e é realizado por pelo menos três viveiristas, que são responsáveis por reparar as mudas de árvores. O Viveiro Municipal de Plantas Nativas fica na Rua Embaixador Sérgio Vieira de Melo, s/nº - Valentina Figueiredo, em frente ao Sesc Gravatá e funciona das 7h às 12h, de segunda a sexta-feira.
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urbana Mobilidade e acessibilidade
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mobilidade urbana é um atributo das cidades que diz respeito à facilidade de deslocamento dos seus habitantes. E a acessibilidade, por sua vez, explica como as pessoas com restrições físicas podem utilizar com segurança, conforto e autonomia os equipamentos urbanos e as edificações da cidade. As diversas atividades realizadas no do dia a dia exigem de seus habitantes deslocamentos que podem ser realizados através de caminhada, em veículo próprio ou transporte público, através do qual grande parte da população se desloca em busca das oportunidades que a cidade oferece. Porém quando se trata de transportar gente o serviço não se restringe apenas em levá-las de um local a outro com rapidez, mas também oferecer acessibilidade, conforto e segurança. Porque as pessoas precisam caminhar de suas casas ao ponto de parada, acessar o ônibus e chegando ao terminal novamente caminhar até o seu destino final. É por conta disso que a mobilidade deve consistir num conjunto de eficientes equipamentos urbanos formado pela calçada, ponto de parada e veículo. Mas para o serviço ser satisfatório, é necessário que esse conjunto consista numa rota acessível, que deve ser livre de obstáculos ou barreiras para os usuários, principalmente para os idosos e as pessoas com deficiência. Vamos então mostrar ao leitor como deve ser cada um desses elementos, para que se possa oferecer mobilidade e acessibilidade através de um serviço de transporte público de qualidade.
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Calçadas
Andar a pé constitui a forma mais direta de provimento individual de meio de transporte. E isso justifica a necessidade das calçadas oferecerem condições adequadas de segurança e autonomia para as pessoas que se utilizam desse meio de locomoção, que é o mais elementar dentre os demais meios de deslocamento na cidade. Mas ao se observar a condição das calçadas em grande parte das cidades brasileiras, encontram-se situações que comprometem a acessibilidade para todos os usuários. Pois existem obstáculos que nem sempre são perceptíveis, mas que constituem barreiras severas que limitam ou mesmo impossibilitam o deslocamento das pessoas idosas, deficientes, gestantes, anões, obesos e crianças, além daquelas que, temporariamente, apresentam redução de mobilidade. As barreiras existentes nas calçadas da maioria das cidades – e em João Pessoa não é diferente - dificultam a locomoção e põem em risco todos os usuários na medida em que se veem obrigados a caminhar pela via destinada aos veículos expondo-se assim ao risco de atropelamento. Os principais obstáculos encontrados são as calçadas estreitas e com inclinação transversal acentuada, as rampas de acesso às garagens que impedem o caminhar, veículos estacionados, entulhos de construção, além de plantas com espinhos que podem acidentar, principalmente, crianças e idosos. Some-se a isso a ocupação das calçadas pelo comércio, que as transforma em vitrines para mercadorias das mais variadas espécies e tamanhos. Rampas e veículos
Risco de atropelamento
Outro agravante é a má qualidade do revestimento das calçadas que quando comparando com a pavimentação das ruas, percebe-se que há uma atenção maior com o veículo do que com o ser humano. Pois enquanto as vias são asfaltadas e sem obstáculos, os revestimentos das calçadas geralmente são de pedras ou blocos de concreto que dificultam o caminhar e provocam trepidação causando desconforto, tanto para usuário de cadeira de rodas como para os carrinhos de bebê. Porém, a consequência mais grave é a deterioração desse revestimento que se soltam devido às raízes das árvores ou mesmo a má qualidade do serviço realizado, gerando o risco de tropeços e escorregões que podem provocar quedas para as mulheres que usam sapatos de salto alto, mas principalmente para os idosos, para quem uma queda geralmente traz graves consequências, sendo inclusive uma das causas de morte para aqueles acima de setenta e cinco anos de idade. As calçadas devem ser de placas de concreto resistente, com características antiderrapantes e de alta resistência à abrasão. Devem possuir rampas de acesso com formas e dimensões de acordo com as normas técnicas de referência. E dispor de medidas que auxiliem a drenagem das águas pluviais para evitar alagamentos. A implantação dos canteiros deve ser feita de forma que não prejudique a acessibilidade do passeio e usando espécies vegetais que não tragam riscos de acidentes para os transeuntes. É importante lembrar que as calçadas existem para serem usadas por pessoas e não como área de estacionamento para veículos. E por fim se faz necessário esclarecer, a quem cabe o dever de indenizar em caso de dano ao transeunte. A responsabilidade da conservação da calçada é do Estado ou do proprietário do imóvel? A pergunta fica no ar.
Ponto de parada
O ponto de parada de ônibus é outro elemento que faz parte da mobilidade urbana, funcionando como a interface entre o passageiro e o ônibus. É o local onde ocorre o embarque e desembarque das pessoas, devendo para isso oferecer segurança, autonomia e conforto para todos, principalmente para as pessoas com mobilidade reduzida. Mas para atender essa exigência o ponto de parada deve oferecer abrigo com cobertura para proteger as pessoas do sol e da chuva, assentos seguros e confortáveis, bem como o espaço adequado para os passageiros em cadeira de rodas. Vejamos dois exemplos de paradas de ônibus em diferentes cidades. Ponto de parada adequado
Prof. Dr. Antonio Gualberto Filho
A realidade mostra que, em boa parte das cidades brasileiras, as paradas de ônibus nem sempre são acessíveis e seguras, podendo variar desde um abrigo coberto com assento em uma calçada de piso regular, até um simples poste com uma placa indicativa de parada, com o entorno consistindo numa área de terra com mato e sem abrigo para proteger do sol. As paradas onde quer que sejam devem, no mínimo, abrigar as pessoas do sol e da chuva bem como fornecer informações sobre os destinos e horários dos ônibus, inclusive em Braille.
Desrespeito com os usuários
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Ônibus
Acessar um ônibus urbano é um desafio que pode representar para muitas pessoas um difícil exercício de superação de barreiras, devido às características arquitetônicas do ponto de parada e do seu entorno. Mas essa situação se agrava quando o ônibus tem o piso elevado, forçando o passageiro a subir uma alta escada, pelo fato da carroceria ser montada sobre um chassi de caminhão. Alguns passageiros ainda encontram dificuldades adicionais para circular no seu interior devido à maneira como os assentos são organizados, podendo a situação ser agravada em face da presença da catraca que, literalmente, espreme as pessoas. Todos esses obstáculos formam um conjunto de barreiras quase intransponíveis, principalmente para os obesos. Contudo existe o ônibus de piso rebaixado que oferece uma condição confortável para todos os passageiros, principalmente para aqueles que têm mobilidade reduzida. Isso porque, a rampa de acesso incorporada à estrutura física do ônibus rebaixado facilita a entrada e saída para todos além de dispensar o auxilio do cobrador - que se faz necessário quando o ônibus tem piso elevado – reduzindo assim o tempo de embarque e desembarque desses passageiros especiais.
Ônibus de piso rebaixado
Ônibus de piso elevado
Em síntese, para que haja mobilidade urbana capaz de possibilitar aos habitantes o usufruto das oportunidades que a cidade oferece, os gestores devem disponibilizar um serviço de transporte público que ofereça pontualidade, frequência, conforto e segurança para todos os passageiros incluindo-se, obviamente, os idosos e as pessoas com deficiência. Para essas, é necessário saber onde moram, qual o destino usual e as
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restrições necessidades especificas, de modo que o serviço tenha capilaridade capaz de apanhar o passageiro o mais próximo possível de sua origem e deixá-lo igualmente próximo do seu destino, oferecendo rotas com calçadas de qualidade, pontos de paradas confortáveis e seguros e ônibus com piso rebaixado, estabelecendo assim padrões de acessibilidade, conforto e segurança dignos para a população.
DICAS NATURAIS PARA EVITAR XIXI DE CÃES E GATOS EM CASA
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s seus animais de estimação têm o péssimo hábito de fazer xixi em qualquer lugar? Então confira essas ótimas dicas para acabar com essa “marcação de território” É muito comum cães e gatos deixarem as suas marcas pela casa através da urina. Quando isso acontece, adeus tapete, vaso de planta e até sofá que, muitas vezes, vão para o lixo, já que o hábito de “marcar território” se torna recorrente e acaba estragando móveis e objetos de decoração da casa. E por mais que se limpe, utilizando produtos perfumados, o odor da urina continua perceptível para o cão, que possui entre 120 e 300 milhões de células olfativas, enquanto que nós, humanos, temos em torno de 5 milhões. Se você sofre com isso, dê uma olhadinha nessa opção natural, que promete eliminar qualquer odor perceptível para os cães e gatos.
Vinagre, um grande aliado!
O primeiro passo, antes de usar qualquer produto, é limpar o xixi. Para isso, use uma mistura de vinagre com álcool. Por ter uma grande quantidade de ácido acético, o vinagre age como um potente eliminador de odores. O ideal, neste caso, é usar o vinagre de vinho branco ou de álcool, que não possuem corantes e aromas, podendo também ser usados em tecidos. No caso de superfícies lisas, misture meia xícara de vinagre com meia de álcool e espalhe sobre o local, deixando agir por 5 minutos. Em seguida, retire com um pano. Se o local for um sofá ou tapete, aplique a mistura com um pano ou escova. Depois é só retirar com outro pano limpo. Também é possível limpar utilizando vinagre com bicarbonato. Para isso, misture dois copos de vinagre branco com dois copos de água morna e 4 colheres de bicarbonato. Passe a solução sobre o local e depois retire com um pano. Atenção: O vinagre e o álcool não são apropriados para serem usados em revestimentos de verniz e cera porque podem prejudicar a textura.
Receita repelente
Foto: Freepick
Após a limpeza com o vinagre, você pode aplicar o seguinte produto: misture meio litro de álcool com 1 colher (sopa) de cânfora e meia xícara de essência de citronela. Coloque em um borrifador e aplique no local onde o animal costuma fazer xixi. Esta mistura possui um odor muito forte, que acaba funcionando como um “repelente” para os cães e gatos. Eles até se aproximam do local pelo hábito, mas ao sentirem o cheiro, saem de perto rapidinho. A vantagem desta receita é que, como tem a citronela, ela também acaba afastando insetos indesejados, principalmente os pernilongos. Fonte: Pensamento Verde - Fernanda Correia
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OS 4 R’s DA SUSTENTAB
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ara aqueles que estão que estão vendo a expressão “Sustentabilidade 4.0” pela primeira vez, inicio com uma breve noção do que venha a ser este conceito: trata-se de uma proposta de nova mentalidade (mindset) para o desenvolvimento sustentável, pautado na visão sistêmica da vida e na complexidade da sociedade. Uma vez que aceitemos a necessidade de formação de um novo mindset sobre a Sustentabilidade como um todo, devemos estar de acordo também que a evolução e a revolução estão na forma de ENXERGAR a realidade e de PENSAR sobre tudo o que está posto e engessado historicamente. Para que possamos dar os primeiros passos na direção de uma nova mentalidade sobre a Sustentabilidade, julgo importante relem-
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brar que já existem pelo menos 7 Rs trabalhados há bastante tempo, sendo eles: • Repensar • Recusar • Reduzir • Reparar • Reutilizar • Reciclar • Reintegrar Esta proposta de trabalho pautado em apenas um ou vários destes Rs tem sido fundamental para todas as conquistas e mudanças de hábitos até aqui, porém, elas ainda guardam uma relação fortemente associada ao modelo de sociedade do consumo-descarte, e não parecem ter sido suficientes para afetar massivamente as pessoas ou a estimular quebra de paradigmas. Talvez haja uma explicação semântica se entendermos que apesar de os 7Rs serem verbos e, portanto, indicarem AÇÃO, eles não apontam quais os agentes responsáveis por tais ações em si, embora eu e você saibamos que eles se aplicam a todos nós. Posso dizer que nos falta a chamada para o “R de responsabilidade”. Entendo, portanto, que precisamos de algo mais direto, assertivo e que aponte as devidas responsabilidades, no sentido não apenas da mudança de hábitos, mas sim na mudança de paradigmas e modelos de sociedade. Com base nisso, minha proposta está endereçada aos agentes específicos da sociedade, cujos propósitos, objetivos e/ou condutas deverão ser repensados de preferência de forma concomitante.
São eles:
1. As pessoas comuns; 2. Os empresários; 3. Os gestores governamentais e não-governamentais; e 4. Os juristas e legisladores. Para cada um desses agentes, uma missão (oportunamente também iniciadas com a letra “R”) para dar início a uma verdadeira mudança, rumo a Sustentabilidade: 1. Reconexão Pessoal 2. Remodelagem Empresarial 3. Representatividade Institucional 4. Renovação Legal Para entendermos um pouco melhor, descrevo na sequencia uma breve ideia sobre cada um destes Rs.
RECONEXÃO PESSOAL
Diz respeito à Sustentabilidade no seu sentido mais amplo, tanto por convidar todas as pessoas (sociedade civil, empresários, gestores públicos, políticos, artistas, seja qual for a caixinha em que se colocarem) a se reconectarem com a natureza, quanto por se tratar de uma ressignificação do valor da VIDA em todas as suas formas. Considerando que em um dado momento da história da humanidade perdemos nossa essência e passamos a perceber a natureza como um mero produto (ou recurso natural), sobre o qual temos domínio e que está à nossa disposição para ser usado de qualquer jeito, é chegado o momento de nos reconectarmos e repensarmos nossas escolhas e ações cotidianas, lembrando que somos dependentes dessa natureza e que não podemos continuar negligenciando-a, explorando-a e destruindo-a. Então podemos sim dizer que todas as ações são de grande re-
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levância, desde o simples canudinho que você recusa, até as ações maiores como reavaliar o foco de seus anseios pessoais sobre o que deseja para a própria vida, ou ainda no caso dos gestores públicos e privados em suas decisões que afetam toda uma comunidade. Contudo, para que isso seja percebido como relevante, é necessário abrir a mente para a importância do sistemismo e da atuação em rede, além de conseguirmos vencer o comportamento imediatista que muitas vezes nos desmotiva para a ação. A visão sistêmica da vida é o que devemos buscar com a máxima urgência por meio de amplo processo colaborativo de Ecoalfabetização onde todos, inclusive os adultos, deverão aprender a “ler” o meio ambiente e reaprender a viver dentro de um ecossistema planetário.
E quem deve fazer tudo isso?
Todos nós e por todos os meios, caminhos e lugares, entendendo que não podemos mais terceirizar nossas responsabilidades aos ambientalistas, às leis, às instituições ou a qualquer “salvador do planeta” que nos apareça. Devemos buscar uma auto percepção menos individualista – aquela que te faz se questionar como é possível ajudar sendo tão pequeno – e muito mais colaborativa e de atuação em rede, que é aquela capaz de te trazer para um lugar relevante dentro de um sistema onde cada elemento é fundamental e indispensável. Nesse sentido um bom ponto de partida é se perguntar sobre seu lugar no mundo nesse momento: Será que eu estou agindo como sujeito consumidor-descar-
tador? O que eu poderia deixar de consumir a partir de hoje? O que eu poderia deixar de descartar e/ ou encaminhar para a reciclagem? O que eu poderia passar a produzir por conta própria? O que posso oferecer de bom para o Planeta e para a vida em sociedade no lugar de somente extrair tudo para mim? Que tal um exercício cujo objetivo é passar de consumidor-descartador de tudo para produtor-reciclador de alguma coisa? Comece com algum item em sua própria casa.
REMODELAGEM EMPRESARIAL
Eu não deveria precisar mencionar aqui que estamos na era da informação e que empresário algum poderá alegar que desconhece as urgências ambientais do planeta – ou pelo menos de sua cidade –, nem tampouco a imprescindibilidade de construir uma boa reputação perante a opinião pública, fornecedores e clientes no que se refere à sustentabilidade. É inaceitável que empresas ainda continuem insistindo em velhos modelos insustentáveis, “dando um jeitinho” ou simplesmente tentando burlar as leis para não cumprirem suas obrigações ambientais e sociais. Temos visto no Brasil grandes empresas perderem credibilidade e terem sua reputação manchada por motivações que vão desde a morte de centenas de pessoas por um rompimento de barragem, até a morte de um cachorro assassinado por um segurança que certamente não teve a devida orientação do setor de Gestão de Pessoas (ou RH, como queiram), que por sua
Escritora Magda Helena Maya www.magdamaya.com.br @magdamaya.ambiental
vez também não deve considerar as questões ambientais relevantes, pois nunca foram Ecoalfabetizados. Você poderia até me questionar: porque o “R” das empresas não é o de Responsabilidade? A resposta é simples e direta: como a responsabilidade deve ser de todas as pessoas e todas as instituições, preferi falar de remodelagem de negócios e reputação, porque isso as empresas conseguem valorar como investimento, algo muito estratégico no setor empresarial. Além disso, para uma empresa conseguir construir uma boa reputação, é preciso antes de tudo que ela seja responsável durante muito tempo, afinal reputação não é algo que se constrói da noite para o dia. Ou será que as empresas ainda acham que o famigerado greenwashing é sustentável ao longo do tempo? Empresas precisam entender que a pressão por uma nova conduta ambiental não ficará restrita ao “canudinho” e cedo ou tarde todos os consumidores entenderão que o canudinho, os copinhos descartáveis e as sacolas plásticas são apenas a ponta do iceberg. Sobre isso, agora fiquei me perguntando: o que será que a indústria de embalagens anda fazendo para substituir o plástico de quase tudo o que está disponível para a venda? REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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SERVIÇOS AMBIENTAIS DA
MATA DO BURAQUINHO A
Foto Janduir Júnior
Por Ronilson José da Paz
Mata do Buraquinho, é um remanescente de Mata Atlântica localizado dentro do Município de João Pessoa, possui uma extensão aproximada de 520 hectares, sendo por conta disto considerada uma das maiores reservas de Mata Atlântica em perímetro urbano no Brasil, sendo por isto atribuído ao município, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO’92), no Rio de Janeiro, o título de “Segunda Cidade Mais Verde do Mundo”, ficando atrás apenas de Paris, na França.
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Originalmente, a Mata do Buraquinho era conhecida como Sítio Jaguaricumbe, que tinha como limites do poente até o Palácio da Redenção, atual sede do Governo do Estado, atingindo os arredores da Lagoa do Parque Solon de Lucena. Com o decorrer do tempo, a área original sofreu grande redução, principalmente devido a vendas e desapropriações, até que em 1907 foi adquirida pelo governo do Estado da Paraíba, com o objetivo de canalizar água para o abastecimento da população. Como a principal fonte dessa água eram poços escavados na mata, ela ficou conhecida como a “mata do buraquinho”. Localizada à cerca de quatro quilômetros da orla marítima de
João Pessoa, a Mata do Buraquinho detém alguns atributos que embora passem desapercebido pela população de forma geral, sem esta mata as condições climáticas da cidade mudaria drasticamente. Serviços ambientais ou serviços ecossistêmicos referem-se aos benefícios que as pessoas obtêm da natureza direta ou indiretamente, através dos ecossistemas, a fim de sustentar a vida na Terra. São divididos em: Serviços de provisão: os produtos obtidos dos ecossistemas. Exemplos: alimentos, água doce, fibras, produtos químicos, madeira. Serviços de regulação: benefícios obtidos a partir de processos naturais que regulam as condições
ambientais. Exemplos: absorção de CO2 pela fotossíntese das florestas; controle do clima, polinização de plantas, controle de doenças e pragas. Serviços culturais: São os benefícios intangíveis obtidos, de natureza recreativa, educacional, religiosa ou estético-paisagística. Serviços de suporte: Contribuem para a produção de outros serviços ecossistêmicos: Ciclagem de nutrientes, formação do solo, dispersão de sementes. Avaliação Ecossistêmica do Milênio (ONU, 2005) Do mesmo modo que foi observado por Odilon Groxiatti Tudini, em sua dissertação de mestrado em Geografia, que estudou “A ar-
borização de acompanhamento viário e a verticalização na Zona 7 de Maringá-PR”, defendida em 2006, a Mata do Buraquinho é um importante ecossistema para João Pessoa, tendo em vista que executa os seguintes serviços ambientais: a) Purifica o ar por meio da fixação de poeiras e gases tóxicos e pela reciclagem de gases por meio dos mecanismos fotossintéticos; b) Melhora o microclima de João Pessoa, por meio da retenção da umidade do solo e do ar e pela geração de sombra, evitando que os raios solares incidam diretamente sobre as pessoas; c) Reduz a velocidade do vento; d) Influencia o balanço hídrico, favorecendo infiltração da água no solo e provocando evapotranspiração mais lenta; e) Abriga a fauna, propiciando uma variedade maior de espécies, consequentemente influenciando positivamente para um maior equilíbrio das cadeias alimentares e de pragas e agentes vetores de doenças; f) Amortece os ruídos dos trânsito intenso no local; g) Age sobre o bem estar físico e psíquico da população, que tem um espaço garantido para a contemplação da Natureza; h) Exala fragrâncias agradáveis às pessoas, além de refrescar o ambiente; i) Suaviza o aspecto visual em contraste com o concreto exuberante de João Pessoa. Além desses serviços ambientais, a Mata do Buraquinho executa uma melhora da paisagem urbana de João Pessoa além, além de, comprovadamente, depurar as águas do Rio Jaguaribe O Poder Público, ciente da importância ecológica da Mata do Buraquinho, para amenizar clima de João Pessoa manter a reserva hí-
drico do local, que ainda é consumida por parte da população, cuidou em proteger esta mata. Já em 1989, o governo federal designou esta mata como área de preservação permanente, em 2000, foi a vez da UNESCO decretá-la como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e, o Governo Estadual decretá-la como Jardim Botânico, em 2006, com a sanção da Lei da Mata Atlântica, e seu regulamento aprovado em 2008, a mata adquiriu novos aspectos de proteção, por fim em 2014, o Governo Estadual decretou toda a área como unidade de proteção integral Refúgio de Vida Silvestre, conferido à área um status maior de conservação.
Tipo de área protegida Suporte Legal Área de Preservação Permanente Decreto Federal nº 98.181, de 26 de setembro de 1989 Reserva da Biosfera da Mata Atlântica UNESCO, 2000 Mata Atlântica Lei Federal nº 11.428, de 2 de dezembro de 2006 Decreto Federal nº 6.660, de 21 de novembro de 2008 Jardim Botânico Decreto Estadual nº 21.264, de 28 de agosto de 2000 Refúgio de Vida Silvestre Decreto Estadual nº 35.195, de 23 de julho de 2014 É importante que a população conheça a Mata do Buraquinho para que possa ser capaz de valorar e valorizar os seus atributos e entender a necessidade de sua conservação e preservação.
Ronilson José da Paz IBAMA-PB, João Pessoa. ronilsonpaz4@gmail.com REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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Foto: Wikipédia
Mangue
o berço da vida m 18 | REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO
ezal
marinha
O
mangue saudável é o que produz e fornece alimento para o pescador ribeirinho e para o catador de caranguejo, com o peixe, o camarão e outros crustáceos que abriga. Se o mangue está saudável, vai ter mais peixe e caranguejo. O mangue saudável apresenta um ambiente equilibrado, vegetação intocada e a presença de aves aquáticas. O mangue degradado é aquele que, entre outros danos, recebe em suas águas a sujeira do lixo e do esgoto, além da depredação causada pela presença humana. É preciso encontrar formas de proteger os recursos pesqueiros dos manguezais. O mangue doente apresenta um percentual acima de 20% de árvores mortas e a lama e a água com problemas na quantidade de sal. A salinidade num manguezal deve ser em torno de 26%, já que recebe o tempo todo água salgada das marés. O manguezal é um dos santuários da vida e, por isso, precisa está preservado e saudável para abrigar as espécies marinhas que encontram nesse recanto da natureza um verdadeiro berço da vida, pois é lá que elas se alimentam e se reproduzem. Os manguezais estão presentes na Oceania, na Ásia, África e Américas, colonizando as costas tropicais e subtropicais desses continentes. Esse ecossistema ocorre, no Brasil, desde o Cabo Orange no Amapá, até a cidade de Laguna em Santa Catarina. No manguezal acontece o encontro da água salgada do mar com a água doce do rio e é por isso que ele é classificado pelos especialistas como um estuário, ou seja, como um espaço transitório entre os ambientes terrestre e marinho e que possibilita um local rico em matéria orgânica e nutrientes. O manguezal tem uma fauna bem característica, composta por caranguejos como o uçá, guaiamum e aratu, e aves que se alimentam de peixe, poliquetos e caramujos. Dentre as espécies encontradas, destacam-se vários tipos insetos como borboletas, lavadeiras, libélulas, abelha, mutucas e maruins; crustáceos como cracas, siri-azul, marinheiro, chama-maré e camarãozinho-canhoto; moluscos como caramujo do mangue, samanguaiá e macoma. Também tem peixes como tainha, robalo, sardinha, bagre, savelha, parati e acará; répteis como o jacaré; aves como atobá, binguá, anhinga, joão-grande, maguari, socozinho, garça branca grande, garça branca pequena, garça azul, socoí, socó, colheiro, marreca anamaí, irerê, frango d’água, frango d’água azul, piaçoca, maçarico-de-coleira, anu do brejo, alma-de-gato, saci, martim-pescador grande, pica-pau pequeno, viuvinha, sebinho-do-mangue; e mamíferos como o preá e a capivara. Durante a noite, o guaxinim e a lontra costumam visitar os mangues para caçar os caranguejos e outros invertebrados. O ecossistema é o local dos alevinos nascerem e se desenvolverem, antes de seguirem para o mar, por isso é que o mangue é considerado um berçário natural. O manguezal também serve de pouso para aves migratórias. Quanto à flora, o mangue apresenta espécies vegetais típicas do ecossistema, como Rhizophora mangle (mangue vermelho); Avicennia schaueriana (mangue siriuba); Laguncularia racemosa (mangue branco) e Spartina alterniflora (capim paraturá), sendo esta última uma gramínea que ocorre nas margens, à frente da vegetação lenhosa.
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CARDIOLOGISTA FALA SOBRE NATUREZA E SAÚDE DO CORAÇÃO Cardiologista Helman Campos Martins também fala sobre as tecnologias capazes de antecipar o risco e diagnosticar com antecedência aquelas pessoas que vão ter doenças cardiovasculares
Em entrevista, o cardiologista Helman Campos Martins fala sobre natureza e saúde do coração e quais são as principais doenças daquele órgão vital para o ser humano. O cardiologista também comenta sobre as tecnologias capazes de antecipar o risco e diagnosticar com antecedência aquelas pessoas que vão ter doenças cardiovasculares. Outro assunto que o Dr. Helman destaca é se o uso de ômega 3 pode prevenir as doenças cardiovasculares e quais são os hábitos alimentares que devemos cultivar. O cardiologista ainda explica porque apreciar a natureza numa caminhada e realizar exercícios físicos ajuda para termos uma boa saúde. O Dr. Helman conclui sua entrevista comentando sobre às intervenções cirúrgicas, principais avanços na cardiologia e um conselho para quem quer reduzir o risco de doenças cardiovasculares e, consequentemente, viver mais e melhor.
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Espaço Ecológico - Quais são as principais doenças do coração? Dr. Helman - As doenças cardiovasculares são as que mais matam. A principal delas é o infarto agudo do miocárdio. Essa doença atinge cerca de 150 mil brasileiros por ano de mortalidade, ou seja, que morrem por infarto. Então, medidas preventivas são importantíssimas para prevenir a morte, como atividade física regular associada a perda de peso, ficar longe do ta-
bagismo, redução do colesterol e diminuição do estresse, além do controle da diabetes, uma doença que acelera muito a doença aterosclerótica, e da hipertensão arterial, quer dizer, precisamos combater esses fatores de risco para evitar lá na frente as complicações maiores. Espaço Ecológico - Hoje existem tecnologias capazes de antecipar esses riscos e diagnosticar com antecedência aquelas pessoas que vão ter doenças cardiovasculares? Dr. Helman - É o grande desafio. Existem pessoas que não têm sintoma característico como, por exemplo, a dor no peito, que sinaliza algum problema no coração, ou palpitações. Então é nosso desafio identificar precocemente esses pacientes que podem desenvolver um quadro maior, como o quadro de infarto. Existem exames funcionais como a ergometria, o teste de esteira, a cintilografia do miocárdio, a angiotomografia, mas principalmente a avaliação clínica que é muito importante. Alguns pacientes, alguns subgrupos com pacientes diabéticos, pacientes idosos podem não ter, de maneira clara, a manifestação clínica. Aí está o grande desafio que é identificar pacientes vulneráveis e com um maior risco cardiovascular. Esses pacientes merecem uma atenção especial para que a gente identifique precocemente para tratar as complicações, antes que elas aconteçam. Espaço Ecológico - Costuma-se falar que o uso de ômega 3 pode prevenir as doenças cardiovasculares. Realmente faz efeito e quais são os hábitos alimentares que devemos cultivar? Dr. Helman - A questão do ômega 3 vem da avaliação que os esquimós, que têm uma dieta praticamente à base de peixe, rico em ômega 3, não
desenvolvem doenças cardiovasculares. A partir daí, entendeu-se que uma dieta rica em ômega 3, ômega 6, poderia ter um efeito protetor. Infelizmente, as evidências científicas são muito pobres no sentido de confirmar. Inclusive, nas diretrizes americanas e europeias colocam essa suplementação com ômega 3 como não indicada. Então, não é uma verdade científica utilizar de maneira sistemática o ômega 3 na prevenção cardiovascular. Espaço Ecológico - Com relação a nossa alimentação, o que nós devemos realmente consumir e evitar? Dr. Helman - O excesso de gorduras saturadas, aquela gordura de origem animal que é muito maléfica, além de um tipo de gordura muito encontrado em recheios de biscoitos, a gordura trans, que tem como efeito inflamar os vasos e potencializar o aparecimento da arteriosclerose. Então, uma dieta rica em frutas e verduras, alimentos com baixa quantidade de gordura animal e grãos, são alimentos indicados para prevenir doenças cardiovasculares no futuro. Espaço Ecológico - E a partir de que quantidade isso é prejudicial, podemos definir? Dr. Helman - Em relação ao colesterol, recomenda-se que não mais que 200 miligramas de colesterol por dia na dieta. Então, o ideal é que seja feita uma análise nutricional para se mensurar. Mas, com bom senso, já é um ato muito importante. Espaço Ecológico - Apreciar a natureza numa caminhada e realizar exercícios físicos ajuda para termos uma boa saúde do coração? Dr. Helman - Isso está bem definido, bem determinado. A atividade
AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES SÃO AS QUE MAIS MATAM. A PRINCIPAL DELAS É O INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO. ESSA DOENÇA ATINGE CERCA DE 150 MIL BRASILEIROS POR ANO DE MORTALIDADE, OU SEJA, QUE MORREM POR INFARTO
física regular pelo menos três vezes por semana - idealmente, cinco vezes por semana - previne doenças cardiovasculares. Estamos vivendo um problema recente com o desenvolvimento das grandes metrópoles em relação à poluição do ar. Então, você fazer atividade física em ambiente poluído, isso seria prejudicial. Estudos mostram, principalmente estudos em cidades da China, que há uma relação direta da poluição atmosférica com as doenças cardiovasculares, principalmente aquela poluição decorrente dos combustíveis fósseis, quando as pequenas partículas causam inflamação dos vasos, aumento da hipertensão arterial, do risco de trombose, de formar coágulo no coração e causar o infarto. Então, comparou-se fazer atividade física REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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em ambiente poluído e não fazer. Mesmo assim, é melhor fazer no ambiente poluído do que ter a vida sedentária. Mas a recomendação é que sejam evitadas vias de trânsito muito pesado, porque esse ar poluído pode causar problemas à saúde de maneira direta. Isso é comprovado em vários estudos científicos e a recomendação que se evite, ou se não for possível evitar, utilize-se máscara de proteção inalatória, para que isso não cause absorção pelo organismo e suas consequências. Espaço Ecológico - Alguém que toma uma decisão de iniciar uma caminhada, uma atividade física, que cuidados ele deve ter? Dr. Helman - Vejo com muita preocupação o paciente que passou a vida toda sedentária, está com 45, 50 anos, e está para fazer um programa de corridas sem uma orientação e uma avaliação prévia. A recomendação é que a partir dos 35 anos faça uma avaliação cardiológica, faça um teste funcional, como um teste de esforço. Vai ficar a critério do cardiologista para que se possa liberar esse paciente para os exercícios de forma mais segura. A outra questão é que a gente tem visto muito nas academias a utilização de determinadas medicações que aumentam o metabolismo. São os chamados termogênicos, com apelo de perda de peso rápido e melhora da performance física. Essas medicações a base de altas doses de cafeína podem causar arritmias cardíacas e eventualmente a morte, contração da coronária e espasmo coronariano. Então, o conselho que nós damos é para que eles não utilizem esses termogênicos, que podem causar muitos malefícios, não só para pacientes de idade, como também em jovens.
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Espaço Ecológico - O conceito popular de que o infarto é fulminante em jovens e menos grave nas pessoas mais velhas é verdadeiro? Dr. Helman - Acontece que algumas situações quando a doença arterosclerótica está presente, ou seja, quando as placas de gordura estão comprometendo de maneira crônica o fluxo das coronárias, isso frequentemente acontece mais nos idosos, o organismo vai se adaptando, criando uma rede de colaterais e vai suprindo as áreas irrigadas. Nos jovens isso é infrequente. Realmente, no jovem há o infarto súbito, com formação de coágulo, ou seja, uma placa de gordura que estabilizou e formou um coágulo, causou o infarto e não tem aquela rede colateral pronta para suprir aquele cenário. Isso pode acontecer realmente, mas isso depende de cada caso e da artéria que está comprometida. Então, a gente não pode falar de maneira universal que o infarto de jovem mata menos ou mais, depende do tipo do infarto. Espaço Ecológico - Ninguém discute que fatores como diabetes, cigarro, vida sedentária, colesterol elevado influem na ocorrência dos ataques cardíacos. Inclusive, isso o senhor está explicando. De acordo com a sua experiência clínica, que força tem as emoções nesta patologia? Dr. Helman - O estresse é um fator de risco consolidado. Tem aquele paciente tipo A, que luta pela sobrevivência, mas às custas de muito estresse, muita raiva e constrangimento. Isso faz mal para o coração. Talvez o estresse seja o fator de risco mais difícil de controlar, principalmente nesses momentos que vivemos ultimamente. Efetivamente, o estresse funciona como um gatilho
para desencadear, por exemplo, um quadro de infarto. Espaço Ecológico - O primeiro sintoma do infarto é a elevação da pressão arterial? Dr. Helman - O primeiro sintoma é uma dor no peito constitutiva, mal definida, que você não localiza com a ponta do dedo, que não piora com a respiração, que pode irradiasse para a mandíbula, ombros, membros, dorso, eventualmente na região do estômago, que persiste. Dura em torno mais de 20 minutos. É uma dor que muitas vezes é acompanhada de sinais como sudorese fria, náuseas. Essa dor deve ser valorizada e quanto mais rápido for ao hospital maior chance de sobrevivência desse paciente e as chances de tentar reverter esse processo, seja uma medicação para dissolver o coágulo, que é o trobolítico, seja pela angioplastia, se consegue desobstruir e implantar os stents que normalizam o fluxo da coronária. Espaço Ecológico - Fala-se muito que no momento de um ataque cardíaco deve-se colocar um comprimido de AS. Procede? Dr. Helman - Estudos antigos mostram que apenas um comprimido de aspirina infantil, cor de rosa e mais simples e barata, é capaz de reduzir a mortalidade em torno de 24%. Aspirina ou AS é a medicação para ser feita na fase pré-hospitalar mais eficaz para reduzir a mortalidade do infarto. Espaço Ecológico - Quanto às intervenções cirúrgicas, quais são os principais avanços na cardiologia atualmente? Dr. Helman - No cenário atual, a cardiologia intervencionista faz um cateterismo cardíaco e você conse-
gue desobstruir as artérias e colocar próteses para manter o vaso aberto. Essas próteses hoje são inteligentes e liberam medicação no local do implante, para evitar que essa obstrução volte. E surge agora as próteses bioabsorvíveis que não tem metal, que você implanta, aciona a medicação no local e, com dois anos, o organismo absorve totalmente essa prótese. Então isso é um avanço da tecnologia que está em evolução e já disponível no Brasil, para nossa população. Outro aspecto importante é o tratamento das válvulas cardíacas, via cateterismo, chamada TAVI. Você consegue implantar próteses e substituir válvulas cardíacas calcificadas que é muito frequente no idoso. A condição cirúrgica dele é de alto risco, mas você consegue implantar essa prótese e com três dias o paciente está casa e sem nenhum corte. Espaço Ecológico - Em que horário as caminhadas devem ocorrer, cedo da manhã ou no final da tarde? Dr. Helman - No passado gerou-se uma polêmica quando houve um comentário sobre os pacientes que caminham pela manhã de que teriam um maior risco de infarto. De fato, no período da manhã há um aumento da agregação plaquetária e o sangue fica um pouco mais grosso, mas o malefício do sedentarismo é muito maior do que a caminhada. Então, a recomendação é que caminhe em horários frios, ou seja, no começo da manhã, à tarde e à noite. Nos horários quentes, o risco de desidratação torna a caminhada com risco maior. Então naturalmente é preciso que a pessoa seja avaliada previamente e caminhe, o máximo que puder, em horários que não sejam quentes.
Espaço Ecológico - Qual a avaliação que o senhor faz sobre as doenças coronárias em João Pessoa? Dr. Helman - Nós vivemos um momento de restruturação no Hospital Universitário Lauro Wanderley, organizando a autocomplexidade cardiovascular. inclusive com cirurgia cardíaca, angioplastia, cateterismo cardíaco, marca-passo cardíaco, para que atenda a população pelo SUS e de uma maneira plena. Vai ser um reforço importante para a saúde pública fazer os procedimentos que são únicos no estado pelo SUS, como por exemplo o ecocardiograma transesofágico. Estamos avançando e espero que seja possível ofertar à população mais esse serviço que possa tratar os pessoenses e os paraibanos. Espaço Ecológico - Que mensagem o senhor gostaria de deixar para quem quer reduzir o risco de doenças cardiovasculares e consequentemente viver mais e melhor? Dr. Helman - Uma atividade física regular. João Pessoa é uma cidade verde, a questão da poluição ainda não é um grande problema para a gente. Então, a recomendação é que façam uma atividade física regular pelo menos três vezes por semana, que possam ser avaliados pelo seu cardiologista periodicamente, para averiguar eventuais situações que precisam ser corrigidas, e que procurem viver a vida mais tranquila possível, porque o estresse também é um fator de risco importante. O coração é um órgão que precisa ser bem tratado. As campanhas de prevenção de AIDS e câncer são muito importantes, mas nada mata mais do que o coração, e mata no auge da atividade profissional e familiar. Então, o nosso alerta é para que olhe mais para o seu coração, cuide bem e com carinho, desde a sua dieta. Fuja do cigarro, faça atividade física e vamos viver mais e melhor.
VEJO COM MUITA PREOCUPAÇÃO O PACIENTE QUE PASSOU A VIDA TODA SEDENTÁRIA, ESTÁ COM 45, 50 ANOS, E ESTÁ PARA FAZER UM PROGRAMA DE CORRIDAS SEM UMA ORIENTAÇÃO E UMA AVALIAÇÃO PRÉVIA. A RECOMENDAÇÃO É QUE A PARTIR DOS 35 ANOS FAÇA UMA AVALIAÇÃO CARDIOLÓGICA, FAÇA UM TESTE FUNCIONAL, COMO UM TESTE DE ESFORÇO. VAI FICAR A CRITÉRIO DO CARDIOLOGISTA PARA QUE SE POSSA LIBERAR ESSE PACIENTE PARA OS EXERCÍCIOS DE FORMA MAIS SEGURA.
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Os primeiros colonizadores da Paraíba fundaram o forte de São Felipe e São Tiago num local que acreditavam se tratar de uma ilha, mas que na verdade era um “pequeno cabo”
U
Por Nonato Nunes
m mapa do cartógrafo Andreas Horatiy, do período em que a Paraíba era governada pelos holandeses, pode ser a chave para uma questão peculiar relacionada ao nome pelo qual era conhecido o atual município de Cabedelo. Publicado pela primeira vez em 1698, a carta geográfica de Horatiy não traz a palavra “Cabedelo” [“pequeno cabo”] como toponímico do lugar onde estava situado o então “forte
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DE ILHA Mapa 1591: Cabedelo como ilha
Margarida”, de conformidade com o estabelecido pelos que passaram a administrar a capitania em nome da Companhia das índias Ocidentais [WIC, sigla em holandês]. A curiosidade desse mapa é a de que em vez do nome Cabedelo aparece “Ilha Margarida” [1634-1654], ou “I. Margarii”, como está na carta [veja que o nome do forte batiza todo aquele perímetro geográfico], e “Gamboa” [ou “Quamboa”, na grafia do mapa de Horatiy]. O cartógrafo desfaz, desta forma, uma confusão antiga a qual desnorteou muitos estudiosos. A questão é que a “ilha da Restinga”, a primeira da entrada da barra [sentido norte-sul], conforme alguns estudiosos, já teria se chamado “ilha da Gamboa”. Esse erro é desfeito pelo mapa de Andreas Horatiy, conforme vimos no parágrafo acima. Um outro importante mapa da época foi concebido pelo cartógrafo alemão George Marcgrave [1610-1644]. Publicado em
Mapa de 1647: do cartógrafo alemão Ge
1647, o mapa do alemão apenas indica o forte Margarida [grafado “F. Marguerita”], sem dar maiores detalhes, como o fez o seu colega Horatiy, quando teve o cuidado de pôr na sua carta as duas grafias com as quais, provavelmente, era conhecida a região no entorno do forte: ilha Margarida/Gamboa. E mesmo existindo essa diferença entre ambos os cartógrafos quanto ao primitivo topônimo do que depois passaria a ser mais conhecido como Cabedelo, nada obsta o entendimento de que Marcgrave também conhecesse a região do entorno do forte com as mesmas denominações dadas por Horatiy. O termo “Cabedelo”, como topônimo daquela área, é usado poucas vezes no “Sumário das Armadas” [de autor desconhecido]. O texto encerra o trabalho de conquista das terras paraibanas, por Martim Leitão, em 1587. Uma explicação plausível para isso talvez esteja na incerteza do autor do Su-
A CABO
eorge Marcgrave
Mapa Andreas Horatiy: publicado em 1698
mário se aquela pequena porção de terras, que avançava mar adentro, era realmente uma ilha ou se tratava de uma península [pequeno cabo]. O mesmo se pode observar na “História do Brasil”, de 1627, do frei Vicente do Salvador. Assim como o autor do Sumário, frei Vicente fez pouquíssimo uso do termo Cabedelo para designar a região onde fora levantado o primeiro forte paraibano. Como missionário nas terras da jovem colônia, o frei devia conhecer bem a área, mas curiosamente, o seu texto não faz referência a uma “ilha da Gamboa”. Por alguma razão ainda sem explicação, tanto o autor do Sumário quanto o frei Vicente não fazem referência à ilha da Gamboa. Ambos, no entanto, se referem à mesma área geográfica como ilha. A dúvida dos protoautores paraibanos talvez tenha uma explicação no curso feito pelo rio Jaguaribe. Um mapa das missões, de 1591, mostra o mesmo rio, na altura da atual praia de Tambaú, se dividin-
do em dos braços. Um segue o seu curso normal até desaguar na praia do Bessa; o outro se inclina para a esquerda, indo desaguar no rio Sanhauá. Os mapas de Marcgrave e Horatiy não definem com nitidez o real percurso do Jaguaribe, embora o mapa do segundo cartógrafo mostre o rio Jaguaribe [“R. Ieguariba”, no mapa] praticamente formando uma ilha, pois o curso d’água do Jaguaribe é mostrado no mapa praticamente dividindo a porção de terras ao norte da massa de terras mais ao sul. Quando comparado com o mapa das missões, a carta de Horatiy parece conter erros de orientação quanto ao percurso do rio. No primeiro o rio aparece dividido em dois braços, formando, realmente, uma ilha, o que não se sucede com a carta de 1698. Mas ambas fixam a certeza de que o curso do Jaguaribe deu razão a incertezas quanto à situação geográfica de Cabedelo: ilha ou cabo. Ao que parece venceu a segunda, e prevaleceu o “pequeno cabo”.
O PRIMEIRO FORTE O primeiro forte erguido na barra do rio Paraíba data de 1584 e se chamou São Felipe e São Tiago. Coube ao general espanhol Diego Flores Valdez a primazia de ter sido o primeiro a tentar implantar ali uma povoação, a qual contava com 110 arcabuzeiros espanhóis e 50 portugueses. Diz o frei Vicente do Salvador: “O forte se situou logo uma légua da barra da parte do norte, defronte da ponta da ilha, mas, por não fugirem os soldados, com o largo rio, que fica em meio, que por ser bom sítio, que é baixo,e de ruim água, do qual ficou por alcaide o capitão Francisco Castrejon, e dele deu homenagem ao general Diogo Flores, e se lhe pôs o nome de S. Filipe e Santiago; no dia dos quais santos se fez à vela o general caminho de Espanha, onde chegou a salvamento.” Esse é o mesmo local onde se encontra hoje a fortaleza de Santa Catarina. Segundo o historiador baiano Pedro Calmon, que esteve em Cabedelo em julho de 1949, a fortaleza foi reconstruída em 1712.
PARA SABER MAIS HISTÓRIA DO BRASIL, Pedro Calmon, vols. 1 e 2, Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 1949 HISTÓRIA DO BRASIL, Frei Vicente do Salvador, 1627 SUMÁRIO DAS ARMADAS, de autor desconhecido, século 16 GEORGE MARCGRAVE, cartografia de 1647, Prefeitura de Paraíba e Rio Grande ANDREAS HORATIY, Provincia di Paraiba, 1698 CAPITANIA DA PARAIBA, DE 1591 REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO NA PARAÍBA PROMOVE AÇÕES DE LOGÍSTICA SUSTENTÁVEL Processo de compostagem no TRT 13ª Região
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S
Por Alexandre Nunes
ó é sustentável aquilo que atende, ao mesmo tempo, aos três pilares da sustentabilidade, também conhecido como bottom line, ou seja, se atende o lado social, o lado econômico e o lado ambiental. Se um desses três não for atendido, não é sustentável. A afirmação é do chefe da Seção de Gestão Socioambiental do TRT 13º Região, Jackson Bertamoni de Lima. Ele é engenheiro químico e de Segurança do Trabalho e explica o que é a logística sustentável e de que forma é realizada no Tribunal Regional do Trabalho, na Paraíba. Segundo esclarece Jackson Bertamoni, a logística sustentável é um sistema que se preocupa com a sustentabilidade desde o momento em que se faz uma aquisição de um bem ou de um serviço, passando pelo seu uso de um jeito racional, seja ele algo que as pessoas consomem, como energia elétrica, por exemplo, ou algo que as pessoas se preocupam com o descarte, no final da vida útil do produto. “Quem trata da logística sustentável tem que se preocupar, desde o momento em que planeja uma aquisição de um bem ou de um serviço, até o momento de dar um destino final para esse bem, para a carcaça de algum bem que ele consumiu, e sempre levando em conta que a sustentabilidade se apoia em um tripé, que é composto pelo aspecto econômico, social e ambiental, ou seja, para você ser sustentável, você tem que prestar muita atenção se o consumo daquele tipo de produto, daquele bem, daquele serviço, é economicamente, socialmente e ambientalmente viável”, minudencia.
TRT 13ª Região Jackson Bertamoni orienta que a pessoa, ao se colocar diante de uma série de opções, tem que prestar atenção no lado econômico do consumo daquele bem ou daquele serviço. “Então, esse é um aspecto do tripé, o lado econômico. O outro apoio desse tripé, o segundo, é o aspecto social, ou seja, se o produto ou serviço é socialmente inclusivo. Então, você tem que prestar atenção também se a sociedade aceita isso, se aquele bem está favorecendo a comunidade circunvizinha, se está colaborando com a comunidade que o cerca. No terceiro ponto, que é o lado ambiental, é preciso ver se o bem ou serviço é ambientalmente correto, se não vai poluir demais o ambiente quando você for descartar, se é possível descartar aquilo de um jeito ecologicamente correto, se foi necessário devastar alguma floresta ou se você teve que danificar alguma coisa no meio ambiente, seja rio, solo, se poluiu o meio ambiente. Então, esses são três aspectos muito importantes”, observa. Jackson Bertamoni mostra de que forma a logística sustentável surgiu no Tribunal Regional do
Trabalho. Ele conta que tudo começou quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a portaria 201/2015 que determinou que todos os órgãos da Justiça no Brasil, não só da Justiça do Trabalho, deveriam implantar o seu Plano de Logística Sustentável (PLS), com indicadores mínimos. “Nós, aqui no TRT, temos 26 indicadores mínimos, que são aqueles determinados pelo CNJ. Começamos o PLS em 2017, com o monitoramento do consumo de papel, descartáveis, energia elétrica e água, além de diversos outros itens. Aqui no tribunal, através de um ato da administração, foi implantado o Plano de Logística Sustentável e criada uma comissão gestora desse plano que tem a função de monitorar, avaliar e também propor ações, como treinamento, reuniões, conscientizações e busca de alternativas e meios de viabilizar o processo de logística sustentável”, acresce. Ele revela que o TRT tem metas de redução de alguns desses serviços e itens de consumo, além de outros itens como qualidade de vida dos nossos servidores dentro do ambiente de trabalho. “A gente
tem algumas metas para melhorar, como por exemplo na questão de ginásticas e pausas monitoradas por fisioterapeuta e exames periódicos de saúde. Então, dentro desses 26 indicadores que a gente monitora, temos bens e serviços e outros itens que consideramos, e o CNJ também considera, que são importantes, pelo menos neste primeiro momento quando o PLS ainda está amadurecendo em toda a Justiça, principalmente na Justiça do Trabalho do Brasil, como um todo”, complementa. O engenheiro revela que, atualmente, o tribunal está com projetos de implantação de placas fotovoltaicas para captar a energia e diminuir o consumo da eletricidade que vem de usina hidrelétrica e, eventualmente, de termoelétrica. “Felizmente, o custo dessas placas de captação de energia solar está reduzindo. Há bem pouco tempo isso ainda era uma coisa muito cara e agora está se viabilizando bastante. Inclusive, tenho conhecimento de residências que já estão implantando suas placas fotovoltaicas para captar a energia. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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Com relação à captação de água da chuva, Jackson informa que nas novas instalações do Fórum Maximiano Figueiredo, na BR-230, uma parcela da água da chuva já é coletada e armazenada em cisternas. “Também já estamos com interesse de captar água da chuva em pelo menos uma das nossas varas do trabalho, no interior da Paraíba. Isso vai depender muito da situação orçamentária do Poder Judiciário para os próximos anos”, prossegue. Ele informa que no prédio sede do TRT, ao lado da Praça da Independência, em João Pessoa, está sendo testado um sistema de compostagem. “É um sistema pequeno, com algumas caixas. Basicamente, damos um tratamento adequado para as cascas de frutas e vegetais que os servidores consomem durante o período de trabalho. As cascas que resultam desse lanche, ao invés de irem para uma lixeira comum e sobrecarregar o aterro sanitário, são tratadas aqui mesmo e colocadas dentro de caixas que temos para compostagem e, em seguida, colocamos serragem de madeira e, em três meses, aquela casca de vegetal que foi para compostagem vira adubo orgânico, ou seja, um humus que depois é aproveitado nos jardins da instituição”, detalha. O engenheiro argumenta que a compostagem contribuiu para diminuir a pressão sobre o aterro sanitário. “É uma pequena parcela, não é muita coisa, cerca de 300 a 400 gramas de resíduo orgânico por dia, mas é um passo importante, porque eu não observo apenas essa questão do volume, mas o fato do experimento também desenvolver no nosso servidor uma ideia de sustentabilidade, já que desperta para quem está participando do programa uma vontade e um interesse em participar e perceber que a pequena ação que ele faz contribui para o meio ambiente”, ressalta. Além da compostagem, a Seção de Gestão Socioambiental do
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ALÉM DA COMPOSTAGEM, A SEÇÃO DE GESTÃO SOCIOAMBIENTAL DO TRT TAMBÉM PROMOVE AÇÕES DE SEPARAÇÃO DO LIXO SECO DO ÓRGÃO. “SEPARAMOS PAPEL, PLÁSTICO, METAL E MADEIRA E TEMOS UM ACORDO DE COOPERAÇÃO COM UMA COOPERATIVA DE CATADORES.
TRT também promove ações de separação do lixo seco do órgão. “Separamos papel, plástico, metal e madeira e temos um acordo de cooperação com uma cooperativa de catadores. Eles vêm aqui periodicamente pegar esse material que já não tem mais serventia para o tribunal. Em outras palavras, costumamos dizer que isso é um lixo, mas isso tem valor para alguém. Essa cooperativa vai levar, reciclar e poder transformar isso em renda para os catadores. O chefe da Seção de Gestão Socioambiental do TRT 13ª Região explica o processo de substituição das lâmpadas fluorescentes por lâmpadas LED. “Tínhamos muitas lâmpadas fluorescentes, mas o presidente no tribunal já determinou que vamos substituí-las por lâmpadas LED à medida que as lâmpadas fluorescentes forem queimando. As lâmpadas LED são mais econômicas, têm uma maior durabilidade e não têm um problema tão grande de descontaminação, como exige a
lâmpada fluorescente. As lâmpadas fluorescentes que vamos descartando não podem ser jogadas no ambiente de qualquer maneira. O tribunal tem uma obrigação de dar um destino correto a esse material e por isso contratou uma empresa habilitada para descontaminar essas lâmpadas”, acrescenta. Jackson Bertamoni reconhece que muitos são os desafios para o futuro, mas que a Justiça do Trabalho está alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e à Agenda 2030 da ONU, principalmente ao ODS 16, que é “Paz, Justiça e Instituições Eficazes”. “Na minha opinião é nesse ODS que a Justiça do Trabalho está mais alinhada. Também podemos dizer que deveríamos prestar atenção no ODS 12 que é “Consumo e Produção Responsáveis”. Também deveríamos atentar para o ODS 8 “Trabalho Decente e Crescimento Econômico”, que é também um dos focos da Justiça do Trabalho, acrescentando ainda, claro, uma prestação célere de serviço ao jurisdicionado, além de fazer com que o nosso servidor desenvolva uma consciência ambiental responsável, com uma atenção no nosso entorno, ou seja, na nossa comunidade circunvizinha”, conjectura. Na parte social, Jackson destaca a realização de feiras de produtos orgânicos, uma realizada toda quarta-feira, das 7 da manhã até às 10 horas, no estacionamento do TRT, em João Pessoa, e outra nas novas instalações do Fórum Maximiliano Figueiredo, na BR-230, nas quintas-feiras, das 8 horas às 10 horas da manhã. São produtores rurais de hortaliças e frutas que não utilizam agrotóxicos no plantio e que, por isso, comercializam produtos orgânicos para os servidores do tribunal, para os moradores da comunidade do entorno do TRT e trabalhadores de outras empresas e escritórios existentes nas redondezas das feiras ecológicas.
MÃES INDÍGENAS Fotos: Camila Pessoa/Secom-PB
Hospital Geral de Mamanguape destaca a importância das indígenas na doação de leite materno
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ocalizado no Litoral Norte da Paraíba, região que possui mais de 30 aldeias indígenas, o Hospital Geral de Mamanguape, por meio do Posto de Coleta de Leite Humano (PCLH), desenvolve ações de saúde com foco no aleitamento materno, integrando as comunidades indígenas do Vale do Mamanguape. Desde a inauguração do PCLH, em 2015, cerca de 74 litros de leite foram doados pelas indígenas residentes nos municípios da Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto. Amanda Priscilla, supervisora assistencial e profissional responsável pelo posto do complexo hospitalar, destacou que atividades de incentivo à doação e amamentação fazem parte da rotina da unidade de saúde, mas são intensificadas em campanhas como o Agosto Dourado. “Durante todos os meses, desenvolvemos ações com o objetivo de sensibilizar sobre a importância
do aleitamento materno e também sobre a doação. Agradecemos às comunidades indígenas que, desde o início do nosso posto de coleta, contribuem doando leite materno”, declarou. Já Reginaldo Lota, diretor-geral do HGM, destacou a relação da unidade de saúde com os indígenas do Vale do Mamanguape. “Estamos inseridos em uma região com um vasto número de aldeias, o que faz com que os povos indígenas representem grande parte dos nossos assistidos. Através dos nossos projetos de humanização, das atividades desenvolvidas pelo Posto de Coleta de Leite Humano e de uma boa comunicação com os caciques da região, tentamos sempre melhorar a assistência oferecida, respeitando as diferentes culturas, levando informação e trocando experiências”, destacou. Em parceria com os Distritos Sanitários Especiais Indígenas, o HGM participará, ainda este mês,
de eventos relativos ao Agosto Dourado. Já a programação organizada pela instituição de saúde, envolve palestras e workshops. Durante este período, estudantes da área da saúde e colaboradores do HGM, participam de atividades, como a palestra conduzida pela consultora em amamentação Sônia Galiza, que destaca a importância da amamentação exclusiva. O Hospital Geral de Mamanguape, dispõe atualmente de 70 leitos, sendo 10 deles de UTI, três salas de cirurgia, três salas de parto, e oferece aos pacientes exames laboratoriais, eletrocardiograma e raio-x, além de uma maternidade. A unidade de saúde presta atendimentos aos moradores dos municípios que compõem a região do Vale do Mamanguape: Rio Tinto, Pedro Régis, Mamanguape, Baía da Traição, Capim, Cuité de Mamanguape, Curral de Cima, Itapororoca, Jacaraú, Marcação e Mataraca. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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APRENDA A FAZER SABÃO COM ÓLEO DE COZINHA USADO
Para você fazer o seu próprio sabão em barra, os ingredientes e os materiais necessários são:
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ão jogue mais o óleo usado para preparar os alimentos na pia ou no lixo, pois quando o resíduo cai na rede de esgoto contribui para a contaminação do solo e da água, ou seja, polui o meio ambiente. Então, o que fazer com o óleo usado? Uma boa alternativa é
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Ingredientes transformá-lo em sabão com uma pegada ecológica mais leve. Embora o sabão seja biodegradável, ou seja, decomposto por micro-organismos presentes na natureza, ele sempre causa algum impacto. Entretanto, a receita a seguir possibilita a obtenção de um produto com o menor impacto possível ao meio ambiente.
– 1 quilo de óleo de cozinha usado; – 140 mililitros de água; – 135 gramas de soda cáustica em escamas (concentração superior a 95%); – 25 mililitros de álcool (opcional); – 30 gramas de aromatizantes, preferencialmente óleos essenciais sem parabenos e ftalatos na composição (opcional).
Materiais
– Recipientes para o molde do sabão (formas específicas, bandejas de plástico ou embalagens longa vida); – 1 colher de pau; – 1 par de luvas para lavar louças; – 1 máscara descartável; – óculos de proteção; – 1 balde grande; – 1 recipiente pequeno
Modo de preparo
Em primeiro lugar, coloque os óculos de proteção, as luvas e a máscara. A soda cáustica é altamente corrosiva e deve ser manuseada com muito cuidado. Vamos ao passo a passo: 1. Esquente a água até que ela fique morna (em torno de 40°C). Feito isso, despeje-a em no recipiente pequeno e coloque a soda cáustica lentamente e em pequenas porções no mesmo recipiente, misturando sempre a cada adição. Nunca adicione água fria sobre a soda! A ordem dos ingredientes também deve ser respeitada: colocar soda sobre a água, e nunca a água sobre a soda – isso provocar uma reação forte e causar acidentes. É muito importante utilizar um balde ou recipiente plástico
de material grosso e resistente, e nunca utilizar garrafas PET para fazer a diluição da soda, pois elas não suportam a temperatura que a reação atinge, podendo romper e vazar esse material extremamente corrosivo. Mexa com a colher de pau até diluir completamente a soda, de modo que não haja mais escamas. Atenção: não utilize recipientes de alumínio descartável em conjunto com a soda cáustica e certifique-se de que eles sejam suficientemente altos, pois essa dissolução pode efervescer e causar espuma. 2. Depois de retirar as impurezas do óleo (é possível fazer isso com uma peneira), esquente-o um pouco (a uma temperatura de 40°C) e adicione-o ao balde que será utilizado para colocar todos os demais ingredientes. Em seguida, insira a soda bem lentamente, em pequenas porções e misturando continuamente. Esse cuidado aumenta a sua segurança, pois a reação com a soda cáustica libera muito calor, além de produzir um sabão de boa qualidade – se você colocar a soda de uma única vez ou muito rápido sem a agitação adequada, o sabão pode empelotar e ficará difícil reverter isso. 3. Misture somente o óleo e a soda por cerca de 20 minutos. A consistência final ideal deve ser parecida com a do leite condensado. É necessário respeitar esse tempo de mistura para que haja a reação entre óleo e a soda. 4. Após esse tempo de mistura, tem início o momento ideal para adicionar os demais ingredientes. Coloque o aromatizante e conservante (caso queira). Misture bem até que esses ingredientes se incorporem plenamente à mistura. 5. Caso a massa final de sabão esteja muito líquida, insira o álcool lentamente e mexa bem por dez minutos para que a mistura não empelote. Nessa etapa, a massa de sabão ganhará consistência rapidamente. É recomendável que a forma em que será colocado sabão já esteja preparada e próxima. Agora é despejar no recipiente que você separou e aguardar o processo de cura (de 20 a 45 dias). 6. Pronto! Agora é só cortar e você terá pedaços de sabão para usar no seu dia a dia. Recomenda-se, ainda, deixar em processo de cura (de 20 a 45 dias), de preferência em um recipiente opaco, que fique num lugar fresco e sob abrigo do Sol. Esse processo visa garantir a reação completa da soda cáustica, além de permitir ao sabão perder a umidade excessiva. Esse tempo poderá variar de acordo com as condições climáticas locais. Exemplo: se o clima estiver mais chuvoso, pode ser que sejam necessários mais dias; ocorre o contrário caso o tempo esteja mais seco. Finalizado o processo de cura, é possível medir o pH do sabão. Utilize um papel tornassol (Receita testada pela equipe do eCycle). Fontes: Akatu e eCycle
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A Amazônia é nossa. De quem mesmo?
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Por Carlos Walter Porto-Gonçalves*
debate acerca da Amazônia, tal como no final dos anos 1980, volta a arder. Imagens invocando a “Amazônia em chamas” voltam a ocupar o debate tal e como chegaram a fazer do Planeta Terra a “Personalidade do Ano” da Revista Time, em 1988. Nesse mesmo ano, no dia 22 de dezembro, era assassinado um dos principais defensores da Amazônia, Chico Mendes (1944-1988) que, com sua liderança, introduzira no debate um ator até então ausente: os Povos da Floresta. De fato, com o protagonismo dos Povos da Floresta o debate da Amazônia se complexificou. Uma das questões mais importantes do debate a respeito da Amazônia diz respeito à sua internacionalização. A presença no debate dos Povos da Floresta lança uma nova luz a respeito dessa temática. A começar pelo fato que a Amazônia, desde que se deu o encontro/desencontro colonial, está internacionalizada. Como se sabe, os portugueses trataram de controlar a foz do Amazonas enquanto os espanhóis, ao Sul, controlaram a foz do rio da Prata. Das mais de 200 línguas faladas dos
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povos indígenas que ocupam milenarmente as Amazônias pouco se fala e nos países que se forjaram com soberania territorial sobre a região predominam cinco línguas, todas coloniais: o espanhol, o português, o francês (Guiane), o holandês (Suriname) e o inglês (Guiana). Olvida-se no debate que a região é ocupada há 19 mil anos como na Formação Cultural Chiribiquete (na atual Amazônia colombiana) e há 11 mil e 200 anos no Sítio da Pedra Pintada, em Monte Alegre, no Pará, na Amazônia brasileira. E, atentemos, a floresta hoje tão debatida só ocupa a atual extensão territorial de aproximadamente 8 milhões de Km² depois da última glaciação Würm (13.000 a 18.000 anos A.P.). Nesse período, segundo a Teoria dos Refúgios (Aziz Ab’Saber e Vanzolini), a floresta estava reduzida a alguns sítios restritos (refúgios) e, só depois do recuo da última glaciação (Würm), é que, com o aumento da pluviosidade no planeta, a floresta se expandiu até alcançar o imenso território que hoje abarca, a ponto de exercer um papel importante na dinâmica metabólica do planeta, sobretudo no que diz respeito à dinâmica hídrica com suas implicações climáticas. Assim, a floresta, na extensão territorial hoje conhecida,
tem menos de 13 mil anos sendo que a região já era ocupada antes há, pelo menos, 19 mil anos. Eis uma das verdades que os Povos da Floresta trazem ao debate. E, mais, que a coevolução entre seres humanos e natureza (valha o eurocentrismo) que na Amazônia se desenvolveu se deu sem que a natureza permanecesse intocada, como se costuma colocar o debate nos termos do pensamento hegemônico. Nada de intangibilidade, para os Povos da Floresta a natureza jamais foi intocada. Afinal, ninguém vive tanto tempo numa região, seja ela qualquer, sem saber coletar, sem saber pescar, sem saber caçar, sem saber agricultar, sem saber curar-se (inventar medicinas), sem saber se proteger das intempéries (inventar arquiteturas), em suma, sem saber/fazer (know how, savoir faire). Enfim, o que os Povos da Floresta demandam é o respeito à sua dignidade enquanto Povos para que se estabeleça um verdadeiro diálogo de saberes, pois têm muito a aprender com outros conhecimentos, assim como a ensinar. À época em que Chico Mendes ainda estava vivo o slogan “A Amazônia é Nossa” era brandido à direita a e à esquerda. Em mais de uma vez pude vê-lo perguntar “Nossa de
quem?” completando, em seguida, que a Amazônia estava ocupada por latifundiários que não respeitavam os Povos da Floresta e suas demandas de demarcação territorial. Costumava denunciar que a maior pressão e ameaça contra a Amazônia e seus povos estava, de um lado, na expansão das grandes fazendas de gado, na conivência do estado que não cuidava do patrimônio fundiário público e, assim, alimentava a grilagem de terras e, de outro lado, na migração de camponeses pobres expulsos de suas regiões no Sul, Sudeste e Nordeste do país em função de uma política de colonização que substituía a necessária Reforma Agrária. A maior parte desses camponeses migrantes ignorava a complexidade metabólica da reprodução da floresta e, ainda que em menor proporção do que o avanço do gado, da soja e da mineração, também contribuía para a dilapidação desse enorme patrimônio de diversidade biológica e hídrica. E que essas práticas políticas contavam com o apoio dos países centrais que, inclusive, apoiavam governos que se estabeleceram contra seus povos, como as várias ditaduras. Para todo esse bloco de poder nacional-internacionalizado, a Amazônia era vista como um vazio demográfico, conceito colonial, que ignorava sua ocupação ancestral. Assim, matar e desmatar são práticas que se complementam. A Amazônia é a região brasileira de maior número de assassinatos no campo desde que, em 1985, passou-se a registrar esse tipo de ocorrência, conforme a Comissão Pastoral da Terra. Que a consciência que vivemos uma mesma Casa Comum, o Planeta, não seja um argumento verdadeiro ingenuamente invocado. Sim, a Amazônia tem implicações globais e, assim, tudo que nela se passa é de interesse da humanidade. No entanto, o sistema interestatal que comanda as relações do direito internacional não deve ignorar o poder de fato
que exercem as grandes corporações transnacionais que, hoje, disputam a exploração da região, seja com base no paradigma fordista produtivista extrativista tradicional, que quer ver a floresta no chão para explorar seu solo e seu subsolo, seja com base no paradigma da nova revolução biotecnológica e da financeirização que quer a floresta em pé, mas sob seu controle, seja com as corporações da indústria bioquímica, seja com a falácia do mercado de carbono. Grande parte do destino da Amazônia está atado à política dos Estados que sobre ela exercem soberania. E, para isso, consideremos que a Amazônia é uma região periférica de países periféricos e, assim, tem seu destino em grande parte decidido fora dela, como soe acontecer às regiões periféricas e, ainda mais, às regiões periféricas de países periféricos e, mais ainda, aos grupos/ classes sociais em situação de subalternização dessas regiões periféricas de países periféricos. Eis as múltiplas escalas de poder que não podemos olvidar. Consideremos, ainda, que há um enorme acervo de conhecimentos como patrimônio que esses povos elaboraram durante milênios e que hoje é vivido por centenas de povos indígenas, por centenas de comunidades que se tornaram livres cimarroneando-se/aquilombando-se e por diversas campesinidades que vivem pela floresta e seus rios. Não olvidemos que, em média, um hectare de floresta produz de 40 a 70 toneladas de biomassa/ano, produtividade essa que não é alcançada por nenhum desenvolvimento tecnológico (1 hectare de soja com alta tecnologia e grande consumo de energia fóssil produz, no máximo, 5 toneladas/ano/ha). Essa enorme produtividade biológica primária foi um trunfo que essas populações souberam lançar mão para exercer sua liberdade e com ela desenvolveram um relevante acervo de conhecimentos. Essa biomassa, no entanto, não é de um único fruto, como quer
Carlos Walter PortoGonçalves é professor titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense. Coordenador do LEMTO – Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades – da Universidade Federal Fluminense. Autor de vários artigos e livros publicados no Brasil e no exterior entre o quais: Geo-grafías; movimientos sociales, nuevas territorialidades y sustentabilidad. Ed. Siglo XXI, México e Amazonía, encruzilhada civilizatoria: tensiones territoriales en curso. Ed. IPDRS, La Paz, Bolivia.
a cultura da monocultura. Não, um hectare da floresta amazônica tem uma diversidade de espécies maior que toda a região de clima temperado do planeta. Eis outra verdade que esses povos oferecem para um diálogo de saberes horizontal, não hierárquico e que requer a descolonização do pensamento hegemônico. Assim, mais que G-7 ou mesmo pelo conjunto de estados que exercem soberania sobre a Amazônia nenhum destino que venha a ser dado à Amazônia deve prescindir da palavra e do conhecimento que seus povos detêm. E esse conhecimento necessita das condições metabólicas de reprodução da vida que como, sabemos, não é só biológica, mas também cultural e, por isso, necessita do reconhecimento de seus territórios para que suas territorialidades se reproduzam. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |
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ZERO DESPERDÍCIO: VEJA SETE ALIMENTOS QUE VOCÊ DEVE COMER COM CASCA Foto: Pixaby
As cascas podem conter vitaminas, minerais e fibras
O
consumo de alguns alimentos com casca é uma ótima de forma de conseguir aproveitar todos os nutrientes e ainda evita o desperdício. As cascas podem conter vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes. Para te ajudar a entender quais alimentos consumir com casca e os benefícios, os profissionais da Taeq prepararam uma lista. Confira:
1- Cenoura: quando consumida com casca é uma
fonte de betacaroteno, um antioxidante que pode ser convertido em vitamina A e que combate a atuação dos radicais livres.
2- Kiwi: a casca da fruta possui três vezes mais antioxidantes que a polpa. Na hora de preparar sucos ou saladas de frutas vale manter a casca do kiwi. 3- Batata: a casca da batata é fonte de fibras e minerais – fósforo, potássio e zinco – fundamentais para saúde. A batata é um alimento super versátil, que você pode comer cozida, grelhada, frita, ensopada, entre outras. Os benefícios de consumir com casca vale para todos os tipos de batatas: inglesa, doce, baroa, yacon, etc. 4- Maçã: a casca da fruta é uma fonte de fibras e an-
tioxidades. Lembre-se de manter a casca quando co-
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mer in natura ou adicionar em receitas (bolos, geleias, doces, etc).
5-Abobrinha: a casca da abobrinha tem uma con-
centração grande de fibras e vitaminas. Você pode preparar pastas, molhos, risotos, massas ou até a abobrinha assada ou frita na airfryer.
6- Tomate: na hora de cozinhar, algumas pessoas têm
o costume de tirar as sementes e a casca do tomate. Mas, o ideal é manter a casca e as sementes. A casca do tomate é uma das principais fontes de licopeno – antioxidante conhecido por auxiliar na prevenção do câncer (em especial, o de próstata). Além disso, é na casca que se concentram as fibras do alimento, e esse nutriente é importante para manter o bom funcionamento do sistema digestivo.
7- Berinjela: a casca de berinjela é rica em vitaminas
A, C do complexo B e em minerais, como cálcio, potássio e zinco, além de possuir o antioxidante antocianina (ótimo para combater os radicais livres). Os especialistas da Taeq alertaram que só pode consumir berinjela com casca cozida, pois crua ela pode ser tóxica para o organismo, por possuir a substância solanina (um tipo de toxina natural do fruto). Fonte: IBahia
PRECEITOS ECOLÓGICOS DE PADRE CÍCERO 1. - Não derrube o mato nem mesmo um só pé de pau. 2. - Não toque fogo no roçado nem na caatinga. 3. - Não cace mais e deixe os bichos viverem. 4. - Não crie o boi nem o bode soltos; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer. 5. - Não plante em serra acima nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca a sua riqueza. 6. - Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva. Represe os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta. 7. - Represe os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta. 8. - Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só. 9. - Aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca. 10. - Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo terá o que comer. Mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só. Fonte: Blog do Padre Cícero - Daniel Walker Foto: wikipédia
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