Revista Espaço Ecológico

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REVISTA UMA 10, Nยบ Nยบ 1110- 2018 2018 UMAAULA AULADE DESUSTENTABILIDADE SUSTENTABILIDADEEEMEIO MEIOAMBIENTE AMBIENTE || ED. ED. 11,

BICA Espaรงo de aprendizagem para crianรงas e adolescentes CAMINHOS DA PARAร BA tira cidades do isolamento e mostra as belezas naturais



EDITORIAL

A 11ª edição da Revista Espaço Ecológico rio Gramame. A entrevista da edição é com o méapresenta como destaque principal uma discussão dico, clínico geral e pós-graduado em nutrologia, sobre a importância do contato da criança com Abimar Buriti. Ele condena o excesso de intervena natureza, uma forma direta de construir uma ções terapêuticas e defende uma dieta tendo como consciência ecológica desde cedo. É a natureza base o que vem puro através da natureza, como feiconcebida como um espaço educacional. É ainda a jão, arroz, batata e frutas. Tem também uma maeducação ambiental, como contribuinte do desentéria sobre o escultor Jurandir Maciel, que utiliza volvimento infantil, sendo apresentada de forma material reciclado como matéria-prima, ajudando lúdica e também empírica aos pequenos pesquisana preservação do meio ambiente. Outro assunto dores, por meio de brincadeiras e de interação com abordado é sobre a identificação e combate do deros espaços naturais. A revista também traz uma ramamento irregular de esgoto nas galerias plumatéria onde apresenta o Parque Zoobotânico Arviais que estão poluindo a praia de Manaíra, em ruda Câmara, a Bica, em João Pessoa, como um João Pessoa, numa ação envolvendo o Ministério espaço de aprendizagem para crianças e adolesPúblico Federal, o Ministério Público Estadual, o centes. Ainda nessa mesma Governo do Estado, por meio direção temática, a revista da Sudema e Cagepa, e a PrefeiExpediente traz uma bela reportagem tura de João Pessoa. A Revista os An 14 sobre a Escola Viva Olho do ico Espaço Ecológico aborda ainlóg Eco Revista Espaço Tempo (Evot), fundada por da assuntos como os três proDireção Executiva Maria dos Anjos Gomes, jetos da Paraíba finalistas da 1ª Gualberto Freire mais conhecida como MesEdição do Prêmio ODS Brasil, tra Docí, que visa junto com além de um texto sobre o ProJornalista Responsável nes Nu crianças salvar a vida do rio dre xan grama Caminhos da Paraíba Ale 7 Gramame. Na Evot, a crian543 B e as belezas naturais de Forte DRT-P ça aprende em contato com o Velho, em Santa Rita. áfic Gr jeto Pro Diagramação e a natureza como proteger o PAPB ESTAM estampapb@gmail.com Foto capa: Ilka Cristina ernet Fotos: arquivo pessoal, int e assessorias


Fotos: Patrícia Cantisani

Parque Zoobotânico Arruda Câmara

BICA É ESPAÇO DE APRENDIZAGEM PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES SOBRE MEIO AMBIENTE

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Por Patrícia Cantisani

igado à Secretaria de Meio Ambiente (Semam) da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), o Parque Zoobotânico Arruda Câmara, Bica, é hoje um dos espaços mais utilizados, na Paraíba, para a formação em Educação Ambiental de crianças e adolescentes. O setor de Educação Ambiental da Bica oferece aulas de campo, trilhas ecológicas, palestras, oficinas , brincadeiras e jogos ecológicos que proporcionam o aprendizado e o contato direto com a natureza. As crianças e adolescentes descobrem

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a função de cada espécie na natureza e tornam-se mais conscientes sobre a importância da preservação do Meio Ambiente. O educadores ambientais do Parque são responsáveis por grande parte das atividades oferecidas às crianças e adolescentes, trabalhando com o intuito de que, no futuro, eles sejam difusores do conhecimento e protetores da natureza. Por ano, o setor atende, em média, cerca de 30 mil estudantes, do jardim de infância ao ensino médio, trazidos por escolas públicas e privadas, como também por instituições como igrejas, associações e organizações não governamentais – ONGs, do município e cidades

circunvizinhas, que buscam na Bica o conhecimento prático dos ensinamentos. Para a coordenadora de Educação Ambiental da Bica, bióloga Neide Martins, “uma das maneiras mais eficientes de promovermos a conscientização sobre o meio ambiente é estimulando a brincadeira, a interação das crianças e adolescentes com a natureza. Brincando e interagindo somos capazes de compreender e assimilar os conteúdos de uma maneira mais leve, incorporando novas práticas no nosso dia a dia”, concluiu. Algumas das atividades, promovidas pelos educadores ambientais, incluem palestras que abordam


a importância e a forma de realizar a reciclagem; trilhas, que apresentam percursos onde os monitores estimulam os indivíduos a curiosidade e a interpretação; jogos ecológicos educativos, com temática sobre Meio Ambiente; eco-oficinas, que trabalham a produção de artefatos decorativos com uso de resíduos naturais (flores, frutos e sementes) e reutilização de resíduos sólidos com fins educativos; aulas de campo com caminhada por trilhas ecológicas (fauna e flora), seguida por alguma atividade prática ou interações com os animais. Todas essas atividades possibilitam o contato direto, ou a máxima proximidade possível, dos visitantes com animais vivos, especialmente adaptados para interagirem com as pessoas. Além de espaços para atividades ao ar livre e práticas educacionais, o Parque possui um zoológico com mais de 500 animais, entre exóticos e silvestres, como onça pintada, puma concolor, elefante, raposas e araras, entre outros, que encantam as crianças, que, por meio do contato e conhecimento, aprendem a respeitar os animais. O Parque possui ainda área de lazer com playground, quiosques, pedalinhos, quadriciclos e trenzinho como opção de passeio para a criançada. O diretor da Bica, Jair Azevedo, destacou que o Parque é referência para a população da cidade e região metropolitana. “A Bica dispõe de um espaço de lazer de fácil acesso utilizando o transporte coletivo. É uma das áreas verdes mais procuradas pelos moradores de João Pessoa, além de ser referência para

SERVIÇO pesquisadores de diversas universidades, que buscam aqui o conhecimento prático sobre preservação e recuperação de animais silvestres”, concluiu. Com extensa área verde, que mede 26,8 hectares e preserva resquícios de Mata Atlântica, onde se pode observar, numa área central da cidade, espécies raras como o Jacarandá, Jequitibá, Oiticica, Castanheira-do-maranhão, dentre outras, o Parque é considerado um local acolhedor, de fácil acesso e uma das melhores opções de lazer. A Bica é visitada por pessoas que procuram um local, em meio à natureza, para realizar passeios, brincadeiras ou piqueniques com os filhos, em especial, no Dia das Crianças, no 12 de outubro, quando o Parque recebe uma média de 12 mil visitantes, a grande maioria de pais acompanhados de suas crianças, que comparecem ao local para comemorar a data.

Para atendimento realizado por educadores ambientais, que é gratuito, os interessados devem entrar em contato, por meio do telefone 3218-9817, para obter mais informações e realizar agendamento. O Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica) está situado na Avenida Gouveia Nóbrega, s/n° - Róger, aberto de terça à domingo, das 8h às 17h (bilheteria até 16h), com entrada a R$ 2,00, por pessoa, sendo que crianças até 7 anos não pagam, nem os idosos. Mais informações através do telefone 3218-9817.

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Foto: Ilka Cristina

De braços abertos para a

NATUREZA N

Por Alexandre Nunes

ada mais saudável para uma criança do que descobrir o mundo em meio à natureza e tendo a oportunidade de se esparramar no chão, brincar com areia, barro, lama, em meio às formigas, calangos, zig-zig, gafanhotos, numa infância livre para experimentar todas as sensações, cheiros, sabores, cores e formatos. Quem não guarda dentro de si algum cenário da infância, quando viveu uma relação intensa com a natureza? Quem não guarda na memória os alegres banhos de rio, de comer frutos colhidos diretamente das árvores frutíferas, de correr pelos campos, de se perder na bela visão de borboletas e flores, além dos bichinhos do mato?

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O olhar atento às experiências infantis indica que as crianças gostam de brincar na rua, desejam brincar com a água, gostam de subir em árvores, ter contato com os animais. Por isso é preciso proporcionar espaços arborizados com sombra e ar fresco e criar situações planejadas em que as crianças possam aprender a se relacionar com a água, com as árvores, com os animais. As crianças aprendem a respeitar e proteger os seres da natureza ao se relacionarem de forma íntima com ela. Isso é educação ambiental e formação de uma consciência ecológica desde a mais tenra idade. Formar um jovem com consciência ecológica e ambiental faz parte de um processo um pouco lento e que tem que ser iniciado desde cedo. O incentivo deve vir quando seu filho ainda é uma criança.

Todo e qualquer contato com a natureza, nessa fase, será fundamental para um futuro mais consciente. Os ambientalistas do futuro podem surgir de uma relação saudável das crianças de hoje com a natureza, num momento em que começa a se configurar como real a possibilidade de uma devastação irrecuperável da flora, da fauna e dos rios. Atualmente, a maioria das crianças brasileiras, um percentual de 84%, nasce e vive em contextos urbanos, de acordo com o IBGE. Nas cidades, são poucos os espaços naturais preservados e com acesso livre para as crianças. Já nas áreas rurais, o problema está no ambiente degradado e insalubre para as crianças, devido ao uso extensivo de agrotóxicos nas plantações, às queimadas e ao desmatamento, o que leva à contaminação do solo,


da água e do ar. Mesmo assim, é preciso encontrar alternativas para evitar o distanciamento das crianças com a natureza, criando mecanismos de reaproximação. Também é preciso trabalhar o contato da criança com a natureza para que seja uma experiência educativa, já que a interação dos pequenos com a natureza pode ser determinante para a saúde física, mental e emocional que desenvolverão. Uma das alternativas é aprender a reciclar desde cedo. Neste sentido, o caminho é ensi-

nar a criança sobre os processos de reciclagem e os seus benefícios. Isso faz parte da conscientização dos pequenos, pois está deveras ligado à preservação do meio ambiente. É também indispensável ensinar a criança a evitar o desperdício, principalmente de comida. Ela deve aprender que a alimentação vem da natureza e que consome muitos recursos naturais para produzi-la. Estragar comida ou qualquer outra coisa é desperdiçar recursos naturais e, para cuidar melhor do meio ambiente, é preciso ensinar

a criança a valorizar alimentos e falar para ela de onde eles vêm. Ainda na pré-escola, a criança deve aprender a preservar. A educação para uma vida sustentável também começa cedo. A natureza deve ser apresentada às crianças com suas belezas e fragilidades. A curiosidade é algo que deve ser despertado na criança e, por isso, é importante abordar assuntos ligados à uma realidade concreta, a exemplo do cultivo de uma horta, onde a criança participe do plantio, dos cuidados, da colheita, e do consumo das verduras e legumes. Foto: Ilka Cristina

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“Subir nas árvores para colher as frutas e comer, tomar banho de chuva, correr atrás dos pirilampos à noite. Tudo isso me faz lembrar a minha infância.” Professora aposentada Maria do Socorro Barbosa Travassos

Criança e natureza O contato com a natureza é visto como um grande aliado no crescimento e desenvolvimento da criança. A professora aposentada Maria do Socorro Barbosa Travassos, 80 anos, comprova com um rico depoimento sobre a sua infância em São Gonçalo, no município de Sousa, no Sertão paraibano, que ambientes ricos em áreas verdes e espaços livres para o brincar, promovem saúde física, mental e ajudam o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais, motoras e emocionais durante a infância, com reflexos positivos por toda a vida. Ela é da opinião que as crianças que brincam em diferentes ambientes naturais são mais ativas fisicamente. “Subir nas árvores para colher as frutas e comer, tomar banho de chuva, correr atrás dos pirilampos à noite. Tudo isso me faz lembrar a minha infância. Nada mais livre na natureza do que tomar banho de chuva embaixo das biqueiras ou correndo na rua, em meio à enxurrada d’água. Na minha infância, ss brincadeiras eram sadias e de muito contato com a natureza. também

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construíamos brinquedos com as coisas da natureza, como as “galinhas” feitas com palitos e as frutinhas do melão São Caetano e as “vaquinhas” de bucheira. também fazíamos os currais com as varinhas extraídas dos galhos secos das árvores”, relembra. Socorro Travassos comenta que, atualmente, as crianças são estimuladas ao consumo de brinquedos caros, bonitos e artificiais, que muitas vezes só isolam as crianças uma das outras, porque possibilitam uma relação superficial e de natureza virtual, através na internet. Ela acredita que as crianças que crescem em contato com o ambiente natural desenvolvem um senso de consumo crítico e consciente e são mais propensas a se tornarem consumidores adultos mais bem informados e propensos a assumirem um estilo de vida mais consciente ambientalmente. “No meu tempo, as crianças muitas vezes confeccionavam seus próprios brinquedos. Eu mesmo fazia minhas bonecas de pano, com retalhos e algodão. Já os meninos adoravam correr atrás

de uma bola de meia feita por eles mesmos. As crianças eram livres, cresciam sadias, sem as malícias da vida urbana atual. Brincar na natureza estimula a criatividade, favorece os vínculos sociais e aguça todos os sentidos”, observa. A professora aposentada do departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba acrescenta que a infância saudável e livre que teve, em constante contato com a natureza, foi responsável pela escolha de sua carreira profissional. “Por ser louca pela natureza escolhi estudar geografia, me especializando na área de geofísica. Com 8 anos de idade, eu já era observadora da natureza, a qual me inspirava momentos de concentração. Mais à frente, eu e outras colegas íamos todas as tardes à barragem do açude para observar o belo pôr-do-sol de São Gonçalo. O nascer do sol também era objeto da minha atenção. Era lindo quando o sol aparecia de manhã saindo por trás de um serrote. O mesmo acontecia com a lua, que também surgia aos pés do serrote. A natureza sempre me proporcionou a experiência do belo”, reconhece. A identificação de Socorro Travassos com a natureza, segundo


ela, deixou sua alma limpa e cheia re, no livro “Interações: onde está de paz. “Além da natureza pura a arte na infância?”, a natureza traz do campo, eu tive contato com os em si desafios físicos e estéticos que campos cultivados em São Gonçamobilizam as crianças a se aventulo, ou seja, a natureza trabalhada rar. Segundo a consultora nas áreas pelo homem, uma outra riqueza. de educação e artes, todos os lugaAs videiras, as parreiras, os coqueires são espaços de aprender, como rais, os laranjais, os mangueirais, os cidades, florestas, quintais, todos pomares e as hortas, além da pisciterritórios a serem investigados, cultura e a zootecnia, tudo isso era com árvores, rios, clareiras, praças, outra riqueza para o meu aprenpraias. “A natureza é um manancial dizado infanto-juvenil. Foto: Ilka Cristina Sem contar que eu meu pai era técnico rural do DNOCS, uma espécie de agrônomo prático e botânico. Ele trabalhava com um dos maiores botânicos que já passaram pela Paraíba, o alemão Philipp von Luetzelburg, que realizou extensas explorações botânicas no Nordeste”, revela. Socorro garante que o contato direto com a natureza proporciona à criança um aprendizado mais ativo de possibilidades para a formação e explorador. “A gente tinha muito estética, não só para as crianças, contato com a natureza. Lá mesmo como para todos os seres humanos”, onde eu nasci e me criei, em São complementa. Gonçalo, município de Sousa, eu O depoimento de Socorro e outras crianças corríamos livres Travassos corrobora com a tese depelas estradas de barro, cercada por fendida pela escritora. “Quando eu árvores frondosas, em belas alameia para a escola passava numa cerdas. Após as corridas, a gente checa viva, em frente a uma casa, com gava nos rios, ou seja, nos canais, muitas trepadeiras, principalmenpara tomar banho. A gente catava te as chamadas primavera, cheias juá para comer, em baixo dos juflores e borboletas. O caminho da azeiros. As vacas eram soltas nos minha escola era lindo. Na escola, pastos e era comum elas botarem todo o jardim era protegido por a gente para correr. Levei muita cercas vivas de pitangueiras, cheias carreira dos bois. Isso aumentava a de pitangas. No interior do jardim resistência física da gente. As criantinha um gramado com pequenos ças se criavam soltas em meio aos canteiros de flores silvestres e roanimais. A gente também aprendia seiras, além de pitangueiras. Ali, desde cedo o valor das ervas e dos naquele Jardim, na hora do recreio, frutos que a gente encontrava nos brincávamos de toca, esconde-escampos, colhia e comia, a exemplo conde e academia. No jardim tamdo coco catolé, jatobá e canapu. bém tinha um mastro bem granDe acordo com Stela Barbiede e todos os dias hasteávamos o

pavilhão nacional e cantávamos o hino da bandeira e o hino nacional. Quando saíamos de 11 horas arriávamos à bandeira”, detalha Socorro. Ela conta que, no caminho de volta para casa, tinha também muitos tamarindeiros, que ofereciam muita sombra e também seus frutos, os quais serviam para fazer um refresco delicioso. “A rua em frente à escola era cheia de Acácia, a coisa mais linda do mundo, numa alameda bem grande. Esqueci de dizer, mas na escola tenha lindos pés de flamboyant. Mais à frente tinha a usina, que fornecia eletricidade para toda a comunidade. Na frente da escola também passava o rio Piranhas. E logo depois dele vinha a Capela de São Gonçalo e, na esquina, a casa com a cerca viva de primavera, flores e borboletas. Não esqueço nunca das belas manhãs que marcaram na lembrança a minha ida para a escola”, afirma. Socorro Travassos relata que, quando chovia muito e o açude sangrava, as professoras levavam as crianças para ver a lâmina d’água com os peixes saltitando. “Tudo era motivo de alegria. As ruas de São Gonçalo eram belas Alamedas e em frente a cada casa tinha os canteiros de flores, com muitas roseiras. Não havia muros, mas cercas vivas e cada morador cuidava dos seus canteiros. De uma ponta a outra da rua você via todas as casas, com muito verde e muitas flores”, conclui a professora, cujo depoimento comprova que a natureza é importante no desenvolvimento infantil e no futuro intelectual, emocional, social, espiritual e físico do adulto. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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CAMINHOS DA PARAÍBA

tira cidades do isolamento e mostra as belezas naturais

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Por Alexandre Nunes

uem pensar em fazer uma incursão pelos recantos mais bonitos e preservados da Paraíba, tem hoje a melhor malha viária do Nordeste. Além de incluir os municípios paraibanos na rota do

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desenvolvimento, o Programa Caminhos da Paraíba levou o Estado à condição do único do Nordeste que possui acesso asfáltico a todas as cidades, dentro do seu próprio território. O Programa Caminhos da Paraíba foi criado pelo governador Ricardo Coutinho para apoiar o desenvolvimento socioeconômi-

co do Estado, por meio da realização de um elenco de obras voltados para modernização e ampliação do sistema rodoviário estadual e desta forma melhorar a logística do transporte em todos os municípios paraibanos, oferecendo conforto, segurança e menor custo, tanto para cargas, como para passageiros.


O engenheiro Deusdete Queiroga Filho, secretário de Estado da Infraestrutura, Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia, faz questão de destacar que o Governo do Estado retirou 54 cidades do isolamento asfáltico, por meio do maior programa de infraestrutura em estradas já executado na Paraíba. O Programa Caminhos da Paraíba possibilitou a execução de 128 obras viárias, significou um investimento de R$ 1,5 bilhão, resultando em 2.600km de estradas novas ou de estradas recuperadas. “Hoje, todos os 223 municípios da paraíba são interligados por asfalto. É preciso ressaltar que um programa dessa dimensão praticamente não recebeu dinheiro da União, foi dinheiro do Estado da Paraíba para o contribuinte da Paraíba”, acentua. Para o diretor superintendente do DER, Carlos Pereira de Carvalho e Silva, o maior programa de investimentos em estradas da história viária da Paraíba tem um cunho eminentemente social, além de econômico. “Econômico, porque liga uma cidade que estava isolada do mundo, e evidente que qualquer mercadoria que saísse ou chegasse nela tinha um frete muito mais caro, por ser mais difícil o transporte, pela falta de estrada asfaltada. Em segundo lugar, no ponto de vista social, quantas vidas não se perdem às vezes porque uma ambulância não pode chegar a tempo para atender um doente, porque não tem estrada. Quantos doentes morreram no caminho de uma cidade maior, porque a ambulância não chegava; quantos médicos deixaram de atender pacientes numa cidade pequena, porque não tinham como chegar lá, e isso graças a Deus está resolvido”.

Secretário Deusdete Queiroga Filho

ESTRADA PARA O TURISMO ECOLÓGICO E PARA O DESENVOLVIMENTO Numa terra onde só se morre de fome se for preguiçoso, só faltava uma estrada asfaltada para nos tirar do isolamento e melhorar cada vez mais a nossa vida nesse paraíso. O comentário foi feito pela marisqueira Maria José Félix de Oliveira, 58 anos, conhecida como Maria do Bar. Ela tem, em sua casa, um pequeno estabelecimento que, nos finais de semana, oferece galinha de capoeira com feijão verde, cozidos no fogo de lenha, às pessoas que trafegam na Rodovia do Turismo, a PB-011, que liga a BR101 ao distrito de Forte Velho, em Santa Rita. A galinha de capoeira é criada solta por Maria José, nos aceiros do

manguezal, e o feijão verde é colhido no roçado cultivado por ela e seu marido de 75 anos, na comunidade de Ribeira de Cima, nas proximidades de Forte Velho. “Achei maravilhoso o governo trazer uma estrada dessa para a zona rural. O movimento no meu bar melhorou, porque as pessoas têm mais facilidade para chegar aqui. Tenho visto bastante turista aparecendo para conhecer Forte Velho, após a estrada asfaltada. Sempre alguém dá uma parada aqui para comer uma galinha de capoeira, um feijão verde, um caranguejo ou um marisco no coco”, acrescenta. Maria José lembra que, quando REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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a estrada era de barro e, quando alguém adoecia, principalmente durante o inverno, a saída era socorrer a pessoa de barco para a cidade de cabedelo, porque a estrada se tornava intransitável e era arriscado o doente morrer no caminho. “Os carros ficavam atolados no inverno e, no verão, os frequentadores daqui tinham que engolir muita poeira. Ninguém quase andava por aqui. As pessoas não vinham aqui, e o movimento era só com o povo que mora na comunidade, ou seja, quase zero. Agora melhorou, Graças a Deus”, comemora. Maria é uma mulher disposta para o trabalho. Acorda com os primeiros raios de sol e, quando não ajuda o marido na lida do roçado, pega seu pequeno barco e navega maré a dentro em busca do marisco, isso quando não adentra no mangue para pegar caranguejo. Foi dessa forma que ela criou seus quatro filhos que hoje moram no outro lado da região estuarina, em João Pessoa. “Aqui só mora eu meu marido. Vivemos uma vida tranquila na roça. Meu marido planta feijão, macaxeira, milho, batata-doce, enquanto eu sou proprietária de um barco e caio na água para pegar marisco. Sou cadastrada na colônia de pescadores como marisqueira. A vida aqui dá essa tranquilidade e várias opções para a pessoa trabalhar e sobreviver. Aqui é um paraíso. Dizer que chegando aqui vai morrer de fome é mentira, porque não morre. Aqui tem o marisco, o caranguejo, o siri, tudo você pega. Tem o roçado para plantar e colher e as criações de galinha, ou seja, é só fazer uma farofa e o almoço está pronto. Só se for gente muito preguiçosa”, afirma. Maria está entre os aproximadamente 120 mil habitantes de

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Santa Rita beneficiados com a implantação e pavimentação da rodovia de Forte Velho, a PB-011, que liga o Distrito de Forte Velho com a BR-101, a 100ª rodovia entregue pelo Governo do Estado, através do Programa Caminhos da Paraíba. A obra recebeu investimentos de mais de R$ 17 milhões. A estrada dá acesso à praia fluvial de Forte Velho, em Santa Rita, uma área paradisíaca que fica numa região estuarina banhada pelos rios Sanhauá e Paraíba, onde foi construído o primeiro forte do Estado, no século XVI. Fica nas proximidades de Lucena e da praia do Jacaré, em Cabedelo.

Um sonho de mais de 50 anos da população

Aristóteles de Mendonça Falcão, 62 anos, casado, com filhos, netos, bisnetos, nasceu em Forte Velho, de onde nunca saiu. Ele é outro morador da região que comemora a chegada da estrada asfaltada, um sonho acalentado pela população local há mais de 50 anos. “Toda minha vida foi aqui em Forte Velho. Sou nascido e criado aqui. Por sinal, eu nasci onde hoje é a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio de Forte Velho, que antes era o casarão da minha família, que tem quase dois séculos nesta localidade. Sou filho de Raimundo Falcão, bas-


tante conhecido no Litoral Norte da Paraíba e cuja família predomina politicamente no município de Lucena”, detalha. Aristóteles explica que na sua infância em Forte Velho, o pequeno povoado vivia num total isolamento, e a questão do transporte era de muito sofrimento. “Para estudar, eu tinha que ir de barco a vela. Saia daqui para Cabedelo e, às vezes, perdia até a hora dos estudos, porque na realidade a vela do barco era de pano e quando o vento estava fraco a viagem atrasava. Só quando o vento estava bom era que a gente chegava mais rápido. Estudei aqui até o terceiro ano primário, depois com muito sacrifício no transpor-

te conclui o primário, o ginásio e o científico, em Cabedelo. Foi quando parti para fazer faculdade em João Pessoa, mas sempre continuei aqui em Forte Velho. Hoje sou formado e, como professor, ensino aqui. Sou o diretor da escola estadual há quatro anos, mas já era para estar aposentado”, comenta. Ele é proprietário há 23 anos de um dos mais procurados recantos de Forte Velho, o Bar do Ary, uma espécie de bar e restaurante instalado numa área paradisíaca de onde se avista a comunidade de Costinha, em Lucena, e a cidade de Cabedelo. Nas proximidades, os barcos em formato de ônibus atracam nos trapiches e desembarcam centenas de

Aristóteles de Mendonça Falcão, 62 anos, casado, com filhos, netos, bisnetos, nasceu em Forte Velho, de onde nunca saiu. Ele é outro morador da região que comemora a chegada da estrada asfaltada. pessoas vindas de Cabedelo e Lucena, principalmente nos finais de semana, mas segundo Aristóteles Falcão, a maioria dos turistas chegam atualmente a Forte Velho pela nova rodovia, entregue no ano passado pelo governador Ricardo Coutinho. “Antes meus fregueses vinham em embarcações de Cabedelo e Costinha, com tempo determinado para o retorno. Com a estrada asfaltada REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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começaram a aparecer os turistas. As pessoas vem de carro e aí não tem hora para voltar. E o bom é isso, você vir passar o dia, sem depender de horário de transporte. Com isso, o movimento melhorou para quem tem bar ou qualquer tipo de comércio, principalmente nos finais de semana e feriados”, comemora. Aristóteles Falcão acredita que com a estrada, toda a região que é bastante produtiva na agricultura será beneficiada e com fortes perspectivas de desenvolvimento. Ele acrescenta que enquanto na estrada de barro, quando estava boa, se gastava mais de uma hora para chegar à sede do município, hoje, com o asfalto, se gasta apenas 25 minutos até Santa Rita. “Antes, para socorrer alguém que adoecia era difícil com a estrada ruim. Antigamente mulheres aqui, na época que estavam para descansar, eram transportadas de canoa, a remo. Tinha mulher que descansava dentro da canoa, porque era duas horas de viagem pelo braço de mar. Na metade do caminho descansavam, porque o balançado era demais. As pessoas doentes às vezes morriam no caminho. Agora com a estrada é rapidinho, tem gente que gasta 25 minutos. Na minha visão, o governo é nota dez por construir essa estrada. Por isso, se o governador chegar hoje aqui, todo mundo o abraça”, ressalta.

Um caminho para o futuro

De acordo com o superintendente do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Carlos Pereira, a obra de Forte Velho tem um valor turístico grande e muitas interligações para fazer com o Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará. “Foi aqui em Forte Velho que nasceu a história da Paraíba e tinha que ser aqui a 100ª estrada entregue por

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Superintendente, Carlos Pereira

este governo. Investimos mais de R$ 17 milhões nessa estrada bonita, bem-feita e que melhora a vida da população e o desenvolvimento do turismo local”, concluiu. O agricultor Reginaldo Duarte de Oliveira, 62 anos, reconhece a importância da estrada de Forte Velho e elogia a decisão do governador Ricardo Coutinho de construir uma rodovia especificamente numa zona rural. “Com essa estrada agora é só tranquilidade e sossego. A vida melhorou 100% e ficou mais fácil transportar e vender manga e feijão verde durante a safra. Muitos governantes prometeram maravilhas e não fizeram a estrada. Ricardo não prometeu, mas quando entrou para o governo construiu o asfalto”, observa. Já João Emiliano da Silva, 66 anos, também agricultor, relata que era ainda criança quando chegou na região. “Aqui era só mato. Antigamente só tinha a trilha do caminho. Ele lembra que a principal

forma de transporte era o cavalo e o pessoal levava as cargas do roçado para a feira de Santa Rita, onde ia vender coco, manga, feijão e macaxeira. “Era assim. Hoje não, agora está uma beleza. Criei meus quatro filhos aqui com todo esse sufoco de não ter acesso, sofrendo um pouquinho. Mas a vida é assim, a gente tem que sofrer mesmo. O importante é que a gente venceu e hoje em dia a maioria está casado, em suas casas. Só tem um solteiro que mora comigo e minha esposa Maria”, continua. O aposentado trabalha na roça, com a mulher e o filho, onde planta feijão, batata e macaxeira. “O que me dá vontade de plantar, eu planto. Hoje está muito mais fácil levar a mercadoria para o comércio, mesmo que a gente tenha que pagar uma condução para transportar. Aqui é bom para se morar. É uma tranquilidade, aqui é um paraíso e agradeço ao governo por essa estrada”, finaliza.


Foto: Secom-PB e MPF

MPF e órgãos ligados ao estado e à prefeitura firmam TAC para melhorar balneabilidade da praia de Manaíra

O

Ministério Público Federal (MPF) firmou recentemente termo de ajustamento de conduta (TAC) com órgãos ligados ao Governo do Estado da Paraíba e à Prefeitura Municipal de João Pessoa, com o objetivo de melhorar a balneabilidade da praia de Manaíra, afastando os fatores que têm contribuído com a poluição do local, melhorando a qualidade ambiental da área e as condições de saúde e bem-estar da população.

O projeto piloto prevê varredura completa na rede de águas de chuvas do bairro de Manaíra para identificar derramamento irregular de esgoto nas galerias pluviais. O TAC contempla ainda checagem de interconexão subterrânea das redes pluvial e de esgoto, com montagem de plantas eletrônicas e georreferenciadas, sobreposição das duas plantas para identificar os pontos de aproximação e contato entre as redes, realização de ‘cateterismo’ com uso de equipamento JetScan, além da abertura do pavimento e

correção das interconexões identificadas pelo equipamento. Também será feita remoção de lixo e outros obstáculos das galerias de esgoto e pluviais, além da desobstrução das desembocaduras que lançam águas na praia.

Íntegra do TAC

Segundo o procurador da República Antônio Edílio Magalhães Teixeira, a checagem nas galerias será feita de forma intensa. “Creio que a situação será resolvida, por tamponamento, multa ambiental, REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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Foto Wikipédia

por interdição e por tomada de medidas no campo criminal (crime ambiental). Mas, antes disso, será dada a oportunidade aos responsáveis pelos prédios e residências do bairro de fazerem, eles próprios, a correção. Já a partir do próximo mês, todos serão notificados a checar os respectivos imóveis para saber para onde o esgoto está indo. Em seguida, será feita a varredura para corrigir as ligações clandestinas”, explicou o procurador. “Esse trabalho é, basicamente, uma verificação e eliminação dos despejos clandestinos de esgoto doméstico diretamente na rede pluvial. Muitas vezes, esse despejo clandestino ocorre sem o próprio proprietário do imóvel saber que está, clandestinamente, jogando seu esgoto nas praias de João Pessoa”, acrescentou. Ainda de acordo com o pro-

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curador, o trabalho vai iniciar por Manaíra, por ser o bairro mais complicado em termos de poluição. Antônio Edílio Magalhães Teixeira, acrescenta que a despoluição da praia de Manaíra vai ser usada como parâmetros para outras ações. “Estou feliz pelo compromisso de todos os órgãos aqui presentes. Esse trabalho dando certo em Manaíra, vai ser realizado nas demais praias de nosso litoral. Todos os donos de imóveis que estiverem causado poluição serão alertados para checarem suas residências ou empresas para fazerem a correção na rede de esgoto”, destacou. A Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) iniciou, no último dia 5 de novembro, a notificação dos usuários da orla de João Pessoa, para que verifiquem se o esgoto doméstico, industrial, como também as águas servidas estão

sendo corretamente direcionados à rede de esgotamento sanitário. O primeiro bairro a receber o comunicado foi Manaíra e cerca de sete mil imóveis devem ser notificados. O presidente da Cagepa, Hélio Cunha Lima, explica que, nesta primeira fase, os clientes do bairro de Manaíra foram notificados a verificar se há despejo irregular de esgoto nas galerias pluviais e se as águas provenientes da chuva e de rebaixamento de lençol freático estão sendo direcionadas indevidamente para o sistema de esgotamento sanitário. “O usuário deverá corrigir a ligação, caso haja alguma eventual irregularidade, até o dia 31 de dezembro deste ano, sob pena de responsabilização e sanções”, afirma o gestor. A partir de 2 de janeiro até 31 de março de 2019, um grupo de trabalho formado por profissionais dos órgãos envolvidos no TAC exe-


cutará uma varredura completa nas redes de águas de chuvas e de esgotos do bairro de Manaíra para identificar o derramamento irregular de dejetos nas galerias pluviais e na rede de esgotos, a partir daí, realizar a limpeza e desobstrução das tubulações. “Importante destacar que ligações indevidas nos sistemas operados pela Cagepa e pela Secretaria de Infraestrutura de João Pessoa caracterizam crime ambiental e o infrator está sujeito a multas, interdição do imóvel, fechamento da saída do esgoto, além de outras penalidades. Os demais bairros da orla pessoense também devem receber a fiscalização, posteriormente”, pontua o presidente. Para João Vicente Machado Sobrinho, superintendente da Sudema, o que ocorre com a assinatura do TAC “é a consolidação de um plano de trabalho engendrado pela Cagepa, Sudema e Prefeitura Municipal, no sentido de unir os esforços para despoluir nossas praias, porque o melhor produto turístico que a Paraíba tem para vender é o seu litoral”. “Nós vamos fazer um trabalho conjunto, científico e, com certeza, nós iremos localizar [ligações clandestinas]. Tenho certeza que feito isso [correções nas ligações de esgoto clandestinas e limpeza da rede de captação pluvial] há 99,9% de chance das praias estarem limpas e a gente ter um grande produto turístico para oferecer”, frisou João Vicente. “Estamos consolidando uma ação que já tem muito tempo que caminha e não tínhamos chegado

objetivamente a uma conclusão. João Pessoa é conhecida por suas belas praias, nossa melhor oferta turística, sem dúvida. E hoje a Sudema integra o TAC para colocar em prática todas as discussões que ocorreram anteriormente. Acredito que, com esse trabalho conjunto, conseguiremos despoluir Manaíra”, pontuou o superintendente. Já o secretário de Meio Ambiente de João Pessoa, Abelardo Jurema Neto, disse que com a execução do TAC, sai ganhando João Pessoa e o estado como um todo, não apenas na sustentabilidade ambiental, mas também na sustentabilidade turística. “Aqui [no TAC], falou mais alto a política ambiental, deixando de lado a política partidária e, assim, ganha toda a população. Certamente, teremos as praias limpas, com balneabilidade mais eficaz, apresentando para o turista o que nós temos de mais belo, de mais saudável, de mais atrativo, que são nossas praias”, pontuou. Ainda de acordo com Abelardo, o próprio TAC já aponta que Sudema, Cagepa, Seman e Seinfra irão agir conjuntamente para que haja uma fiscalização maciça nessas galerias pluviais e demais re-

des clandestinas de esgoto, “para que a gente possa, de forma literal, limpar essas galerias e tornar nossas praias muito mais saudáveis do que hoje estão”. Prazo - O TAC prevê prazo até 15 de abril de 2019 para que seja enviado relatório final ao Ministério Público Federal sobre as ações e soluções implementadas. “O trabalho de planejamento foi feito em conjunto com vários órgãos e com o trade turístico, por isso acreditamos que tem um potencial de que tudo dê certo com Manaíra, para replicarmos o modelo para as outras praias do estado, resolvendo de uma vez por todas o problema de falta de balneabilidade”, concluiu Antônio Edílio. Órgãos que participaram do TAC – Assinaram o TAC, além dos procuradores do MPF Antônio Edílio Magalhães Teixeira e Werton Magalhães Costa, bem como Hélio Cunha Lima, João Vicente e Abelardo Jurema, os seguintes representantes: Gilberto Carneiro da Gama (procurador-geral do Estado da Paraíba), Adelmar Azevedo Régis (procurador-geral do Município de João Pessoa), Cássio Augusto Cananéa Andrade (secretário de Infraestrutura de João Pessoa) e Pedro Nóbrega Cândido (da Comissão de Direito Ambiental da OAB/PB). O diretor executivo do Espaço Ecológico, o ambientalista Gualberto Freire também esteve presente à reunião e pode assistir de perto todo o debate das autoridades envolvidas na questão que faz parte do Inquérito Civil 1.24.000.000072/2009-14. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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UMA ESCOLA PARA SALVAR O RIO Foto: Olho do Tempo

O

Por Elizabeth Souza e Laianna Janu

bairro Gramame, localizado na zona sul de João Pessoa, por muito tempo foi conhecido como zona rural, mas essa realidade mudou após o processo de urbanização enfrentado pela região. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Gramame, em 2000, possuía 6,2 mil habitantes. Em 2010, esse número quadruplicou, regis-

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trando 24,9 mil habitantes. É nessa área que também está localizado o rio Gramame, responsável por 70% do abastecimento da região da Grande João Pessoa. Com o crescimento populacional e industrial, o rio passou a sofrer forte poluição, colocando em risco o abastecimento de água da capital paraibana. Engajada nas causas a favor do meio ambiente, a Escola Viva Olho do Tempo (Evot), também localizada na região, visa, junto com crianças e adultos do Gramame, salvar a vida do rio.

Maria dos Anjos Gomes, mais conhecida como Mestra Docí é a fundadora da escola. Natural de Salvador (BA), ela veio de uma família humilde. “Eu nasci na Bahia, mas nunca me senti baiana. Sou da época da cegonha e ela me deixou em Salvador, mas veio cochichando comigo: ‘Você não é daqui, não, mas vou te deixar aqui. Quando você crescer, vai embora”, conta a mestra. A incerteza sobre qual lugar devia ir foi solucionada com a ajuda de um despachante da rodoviária.


“Cheguei à rodoviária e perguntei qual era a cidade mais calma que ele conhecia que eu iria pra lá. Então ele me disse que o lugar mais calmo era João Pessoa porque só havia dois ônibus e eles iam vazios. A partir daí, decidi que meu destino seria essa cidade”, conta. Mestra Docí veio para João Pessoa, onde fez o mestrado em Educação para Adultos, trabalhou em livraria e, em 2004, fundou a Escola Viva Olho do Tempo. “Como eu sou uma pessoa de poucas necessidades, o dinheiro que ganhei eu tinha comprado uns terrenos que não sabia nem pra quê, liguei pra uma amiga em Recife (PE) e disse a ela que queria vender tudo para comprar um espaço onde crianças pudessem sonhar, e assim o fiz. Procurei em João Pessoa um lugar que eu pudesse me abrigar com a minha ideia e encontrei o Gramame, onde pude dar início à escola”. A relação de Mestra Docí com o rio Gramame surgiu como uma necessidade de reparar um episódio que, inocentemente, lhe ocorreu ainda na infância. “Uma das coisas que me fizeram ancorar aqui foi o olho d’água do Gramame, eu tinha um compromisso com ele. O lugar em que eu morava em Salvador era alagado e em uma época de eleição surgiu um vereador com o argumento que ali não era lugar apropriado pras pessoas viverem, então o bom seria entulhar aquela área. As pessoas ficaram encantadas com aquilo porque queriam morar em terra firme, e eu fui uma das pessoas que ajudaram a aterrar um olho d’água na busca de sanar aqueles alagamentos, e isso, pra mim, foi muito violento. Como aqui em Gramame nós tínha-

“Se você disser a uma criança que o rio é importante ela não vai compreender bem, mas se você disser o quão importante é um abraço, isso ela entende. O quão importante é dar um cheiro no olho, isso ela entende. Dessa forma, ludicamente, você começa a explicar o que é um rio e o seu papel” Mestra Docí mos um olho d’água, vi nessa oportunidade uma forma de devolver ao universo o que eu destruí um dia de forma irresponsável”, revela. A partir daí, começou o compromisso de Mestra Docí com a proteção do rio Gramame. Logo em seguida, surgiu a necessidade de fazer com que as crianças também compreendessem a importância do rio e da natureza, assim como é importante um abraço. “Se você disser a uma criança que o rio é importante ela não vai

Fotos: Lisy Silva

compreender bem, mas se você disser o quão importante é um abraço, isso ela entende. O quão importante é dar um cheiro no olho, isso ela entende. Dessa forma, ludicamente, você começa a explicar o que é um rio e o seu papel”, explica a mestra. E as crianças aprendem mesmo. Os primos Lucas Silva e Ana Beatriz da Silva, ambos com 15, e Emilly Letícia, 13, estudantes da Evot, são prova de que o aprendizado acontece. “A gente se instrui de muita coisa aqui através de lendas”, conta Beatriz. Eles narram histórias do Peixe Mero e da Cobra Grande. Todos contam sobre a relação entre as pessoas e o rio. Na primeira, o Peixe Mero engole um pote de uma moradora e, impossibilitado de se alimentar de boca aberta, deixa o rio com mau cheiro até um pescador retirar o pote e Mero nadar em volta do barco em sinal de agradecimento. Já na segunda história, a Cobra Grande é a protagonista. Vivendo no rio Gramame, ela assusta moradoras que lavavam roupas nas margens; quando põe a cabeça para fora d’água as moradoras correm deiREVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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xando para trás as peças de roupa. “No dia seguinte quando elas voltaram para pegar o sabão e o resto das coisas, a cobra grande estava enrolada na ponte. Dizem que ela pesava muito, mas mesmo assim, apesar do peso, a ponte está intacta. A cobra saiu de lá e agora está nas matas. Não está mais no rio, porque o rio está poluído e ela não consegue ter contato com o rio. Essa foi a lenda que eu ouvi. A cobra está esperando o rio ficar limpo para poder voltar para sua casa”, narrou Emilly. “O contato com a natureza aprendido aqui mudou meus comportamentos na vida. Quando a pessoa percebe a importância que a natureza tem e o rio também, muda. Mudei para mim e passei a mudança para minha família também”, disse Lucas, lembrando de diversos episódios em que as crianças coletaram o lixo de outras pessoas na rua, causando um certo incomodo nessas que ‘deixaram cair’ o resíduo sólido na via pública. E para atrair essa criançada que já está mudando as coisas na comunidade, Mestra Docí não precisou ir de casa em casa. As obras quando foram iniciadas já chamavam atenção por si só, e as crianças, curiosamente, ao encontrarem as portas abertas, entravam para descobrir o que havia ali, e quando Docí deparava-se com elas, perguntava qual era a escolaridade e os sonhos de cada uma delas. Assim, a Evot foi criando vida.

Parceria com o MP

O envolvimento com a preservação do rio Gramame passou a ser peça fundamental, assunto constante das conversas, até ser percebida a necessidade de recorrer a órgãos competentes que também pudessem abraçar a causa. “Certa vez, fomos em uma fábrica para conversar e entender o que poluía

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o rio e um dos gerentes disse pra mim: ‘como a senhora sabe que a gente polui? Prove!’, e eu realmente não sabia que eles poluíam, aquela frase foi uma luz pra mim, porque ninguém pode acusar o outro sem provas. Juntei o meu pessoal, fui embora e agradeci pelo gerente ter dado aquela luz maravilhosa. Foi quando veio a ideia de recorrer ao Ministério Público, porque ele, sim, poderia provar alguma coisa, aí fizemos o primeiro TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] e depois vieram as outras ações em defesa do rio”, relembra a mestra. Hoje, o Ministério Público Federal (MPF), em parceria com o Ministério Público da Paraíba (MPPB), desempenha um importante papel em prol da revitalização do rio Gramame. “O MPF é essencial nessa causa. Todas as nossas demandas e queixas são acolhidas por ele que vai em busca de solucioná-las e isso é muito bom”, ressalta Docí. De acordo com o procurador regional dos Direitos do Cidadão, José Godoy Bezerra de Souza, na proteção ao rio Gramame, além de contar com a parceria de diversos órgãos, o MPF conta, principalmente, com a parceria da comunidade que vive às margens do rio. “Em relação a isso, destaco o trabalho da Evot que vem desempenhando ações bastante interessantes que envolvem o rio. É um trabalho que considero exemplar para a defesa de uma causa por parte da sociedade civil organizada, e esse grupo se junta aos órgãos públicos em prol da revitalização do rio que é o grande objetivo do trabalho realizado pelo MPF e pelo MPPB”, destaca o procurador. Com todo o desempenho realizado pela Evot e os órgãos parceiros, hoje a população sabe o que acontece no rio. “Estamos na busca de como dizer, de forma correta,


Fotos: Lisy Silva

à população de João Pessoa, que é preciso nos unirmos, não contra às fábricas, não contra o distrito industrial, mas nos unirmos para que eles saibam cuidar de seus lixos, para que não poluam o meio ambiente. E entendemos que as crianças podem ser um veículo de comunicação muito bom, elas conseguem levar coisas boas para casa, então ensine a uma criança e ela educa os pais”, ensina a Mestra Docí.

Tarefa de casa bem feita

As mães Daniela dos Santos e Adreana de Oliveira já receberam puxões de orelha dos filhos. “Meus filhos me controlam muito dizendo: ‘mãe, o lixo tem que separar’, e agora, o rapaz que trabalha reciclando lixo passa lá em casa e já pega tudo separadinho. É uma mudança muito tranquila para mim e eu sei que tô ajudando né?! Tanto ele, quanto a mim mesma, porque a Terra é uma só”, explica Daniela. Adreana Oliveira também narra diálogos que acontecem em

Hoje, o Ministério Público Federal (MPF), em parceria com o Ministério Público da Paraíba (MPPB), desempenha um importante papel em prol da revitalização do rio Gramame

casa, alguns até provocados por ela: “‘mainha, a senhora sabe que não pode né?’ ‘O quê? Isso aqui é só uma besteirinha’ eu digo, para ver se eles tão aprendendo mesmo. ‘Besteirinha nada! A senhora sabe quantas tartarugas já morreram por conta de saco plástico e garrafa pet?’”, conta a mãe. “E eles me controlam muito na água também, dizem para eu não gastar que a água tá muito pouca”, revela. Mãe de cinco filhos, Adreana conta que realizar dias de limpeza no entorno da comunidade também contribui para o processo de

conscientização ecológica. “Sempre tem uma ação para juntar um pessoal e ir limpando nas praças até o rio, em todo o caminho e dentro do rio também. O pessoal sobe nos caiaques e pega um monte de garrafa pet”, conta a mãe. Sem placas de lixo - A Evot instruiu crianças que hoje fazem a diferença na comunidade e também ajudam a escola. É o caso de Maria da Penha Teixeira de Souza, mais conhecida como Peinha. Hoje, com 27 anos, a jovem ingressou na escola quanto tinha 13 anos de idade. “Meu contato com a Evot foi através da participação em rodas. A escola sendo construída e a gente vendo esse movimento acontecer, vinhamos pra cá participar de atividades, Mestra Docí ouvia os nossos sonhos e ia anotando um a um, e a partir disso foi surgindo a oferta de cursos, oficinas”, conta Peinha. Um dos resultados obtidos com as ações desempenhadas pela Evot é a forma como as famílias também passam a cuidar da comunidade, a partir do que aprendem em casa com as crianças. “Não tem como a família não absorver tudo isso, porque elas são envolvidas de forma tão natural que a própria família vai percebendo e sendo envolvida também. Aqui na região, por exemplo, você não vai encontrar uma placa de ‘não jogue lixo no chão’, porque não é necessário. As crianças vão aprendendo que o jogar lixo no chão não é legal e aquilo vai ferir a natureza. Então as famílias são influenciadas a isso também”, completa Peinha. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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Foto: Olho do Tempo

Atualmente, Maria da Penha é coordenadora pedagógica aprendiz, além de ser responsável pelo museu, biblioteca e patrimônio cultural da Evot. “Das rodas que participava aqui, saíram vários educadores e eu sou um deles e isso brota de um sentimento comum a todos que fazem a parte da escola. É possível perceber nas crianças o querer e o gostar de estar aqui, o que contribui com um aprendizado natural e agradável. Eu vejo a escola como um lugar de produção de sementes, estamos juntos nesse movimento produzindo várias sementes, e elas próprias vão se alimentando”, relata Maria da Penha. Assim como Maria da Penha, o educador Ivanildo Duarte Filho também é outro exemplo de morador da região que resolveu dar apoio à Evot. “Cheguei aqui envolvido pela

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curiosidade. Conheci Mestra Docí e o que me chamava atenção é que ela me perguntava quais eram meus sonhos e partilhava comigo os sonhos dela”, conta Ivanildo. Com 16 anos de atividade junto à escola, atualmente Ivanildo é educador e coordenador da parte de meio ambiente da Evot. Confiante em relação ao futuro esperado através das atividades desempenhadas pela escola no presente, Ivanildo afirma: “Ansiamos pela revitalização do rio Gramame, a escola se mantém com sonhos e o nosso é esse: entregar o rio para a sociedade tal como ela merece. O rio Gramame quer viver em águas limpas, e essa é nossa fala, nosso grito”. A escola, que se mantém através de doações (http://www. olhodotempo.org.br/doe/) e editais publicados, trabalha com três pilares básicos: educação, cultura

e meio ambiente, e é um projeto modelo para o Brasil. Já recebeu o Título de Excelência pelo Itaú e foi patrocinada duas vezes pelo Criança Esperança. Hoje, a Escola Viva Olho do Tempo possui 130 crianças de 6 a 15 anos que somam forças na luta pela preservação da região e do rio. “Aqui, trabalhamos com eles teatro, informática, dança, todo esse movimento é em função de duas coisas: o ser humano e o rio. O nosso objetivo é permitir que essas crianças amanhã sejam mulheres e homens bons, primeiro com eles mesmos, porque somos educados a sermos bons para o outro e péssimos com a gente. A partir daí, vão poder cuidar do rio Gramame, porque eu quando aprendo a cuidar de mim, posso cuidar do outro”, ensina a Mestra Docí.


Espaço Animal ANIMAIS TAMBÉM PRECISAM SE ADAPTAR AO HORÁRIO DE VERÃO

Assim como as pessoas, há animais que também demoram para se adaptar ao horário de verão. Algumas pessoas demoram para se adaptar ao horário de verão, e com os animais não é diferente. Sonolência e alteração no apetite são alguns dos efeitos da mudança no relógio –que, neste ano, entrou em vigor à meia noite de sábado para domingo (4). Com o deslocamento do nascer e pôr do sol, a rotina do animal pode ser afetada pela mudança de temperatura em horários de refeições ou passeios, por exemplo. O ideal é manter a rotina. Mas alguns animais podem precisar de ajuda para se acostumar –o que leva ao menos uma semana. No caso dos animais que só fazem as necessidades na rua, por exemplo, os passeios podem ser mais demorados. Além disso, eles podem preferir se alimentar em ou-

tro horário do que o normalmente oferecido, influenciados pela temperatura mais amena.

TREINO

Treinar o animal antes da entrada em vigor do horário de verão ajuda na adaptação. Isso inclui passeios e refeições fora dos horários de rotina —e podem evitar alterações no comportamento ou latidos excessivos com a mudança no relógio. Outra recomendação é manter bebedouros pela casa e renovar a água constantemente, já que os animais podem ficar mais preguiçosos e procurar lugares mais frescos.

CALOR

Com a aproximação do verão e o aumento das temperaturas, a dica é manter o animal hidratado e protegido de queimaduras, pulgas e carrapatos.

CONFIRA ABAIXO NOVE DICAS DA PETZ E PREPARE-SE PARA O VERÃO – Intensifique os cuidados contra picadas de insetos, pulgas e carrapatos, pois as temperaturas altas formam um ambiente ideal para a proliferaçãoa deles. – Foque na hidratação, deixando a água sempre fresca e disponível. Nos passeios, leve cantil ou use os bebedouros de parques e lojas mais vezes. – Evite passear e atividades físicas em horários mais quentes, das 10h às 16h, quando o asfalto pode causar queimaduras nos coxins, as “almofadinhas” das patinhas dos animais. – Durante as caminhadas, faça pausas em local fresco para oferecer água e borrifar um pouco dela pelo corpo do animal. – No passeio de carro, mantenha a ventilação e, em caso de viagens longas, faça paradas para o animal se refrescar. – Use filtro solar específico para animais no focinho, extremidades das orelhas e barriga para evitar câncer de pele. – Para os animais que ficam em quintal ou varanda, é importante manter um local fresco, com sombra, para que possam se proteger do calor e das chuvas de verão. – Para aqueles que vão ao litoral ou que moram em cidades que têm praia, é preciso prevenir contra a dirofilariose. Procure o veterinário para indicação de vacina ou uso de vermífugo para prevenção. – Carteira de vacinação deve estar em dia, pois há mais contato entre os animais, eles saem mais para passear, além da temporada de chuvas, que pode trazer risco de leptospirose. Fonte: Anda - Blog Bom Pra Cachorro – Folha de S. Paulo REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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Nutrologia

e alimentação saudável O médico, clínico geral e pós-graduado em nutrologia, Abimar Buriti, explica em entrevista o que é a Nutrologia e o que ela trata. Ele também destaca quais os prós e contra dos alimentos industrializados e se a cura do corpo pelo corpo, na medicina preventiva, funciona. Abimar Buriti ainda comenta sobre os limites do corpo e da mente e as variações do ciclo sono-vigília. O especialista em nutrologia ainda explica se o excesso de intervenções terapêuticas traz a cura e se a obsessão pela longevidade leva o ser humano a desrespeitar o limite de uma vida saudável. Ele ainda fala se tem como evitar o efeito sanfona na perda e ganho de peso e o que deve constar em uma alimentação saudável. Espaço Ecológico - Dr. Abimar Buriti, sua especialidade é nutrologia. De que forma o senhor poderia definir o seu trabalho, a sua formação? Abimar Buriti - Nutrologia ainda é uma área bastante desconhecida pela população. Inclusive, a população, via de regra, faz uma interpretação errada do trabalho de nutrologia. Muitas vezes, se associa o uso

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da nutrologia com o emagrecimento e com a hipertrofia muscular. Boa parte dos pacientes que procuram o consultório, acha que nosso serviço é ou emagrecer ou tornar a pessoa musculosa, quando na verdade não se trata apenas disso. Isso seria limitar uma área bastante abrangente. A nutrologia trata do estudo dos alimentos e dos nutrientes, aplicado as mais diversas práticas e doenças.

Então, a gente estuda os melhores alimentos, nutrientes, minerais e vitaminas, para pacientes que têm doenças do coração, doenças respiratórias e Alzheimer, de forma a prolongar a vida, aumentar a longevidade, diminuir a quantidade de doenças e otimizar o uso dos medicamentos que são prescritos. Via de regra, no meu consultório, o uso de medicamentos só é feito de forma mais natural. Eu sempre tenho predileção por fitoterápicos, podendo aderir a medicina alopática, cartesiana, de medicamentos convencionais quando necessário. Mas, aquela visão que as pessoas têm da nutrologia aplicada estritamente a fins estéticos, a mim pelo menos não encanta. Eu acho que é limitar bastante uma área extremamente bonita da medicina, capaz de trazer saúde, combater a doença, trazer longevidade, e aplicar ela estritamente a fins estéticos. Espaço Ecológico - Quais os prós e os contras os alimentos industrializados? Abimar Buriti - Hoje em dia a gente tem um sério problema com relação ao uso dos alimentos e que também se estende aos medicamentos, que é o excesso de intervenções químicas. Não sei porque o ser humano cada vez mais tem fugido dos alimentos naturais e migrado para os alimentos enlatados, embutidos, industrializados, o que traz uma série de prejuízos, tendo em vista a quantidade de conservantes e de químicas que são utilizadas para que esses produtos sejam acondicionados em suas embalagens e tenham aumentado o período de validade. Para perceber isso, basta ler a embalagem do produto. Você pega uma batata na feira, vai comer ela e não tem nada escrito na embalagem. A gente pega uma fruta na feira e vai ingeri-la, também não vai


ter nada escrito na embalagem. Se a gente pega um biscoito, vai ter lá dezenas de conservantes químicos que são externos ao nosso corpo e que vão findar por causar doenças. Eu sou adepto da alimentação mais natural possível. Muitas vezes a gente se depara com dietas em que constam elementos industrializados, como biscoitos integrais, cookies integrais, em que a química utilizada é muitas vezes duvidosa. Eu acho que ninguém tem coragem de botar a mão no fogo e dizer que aqui no Brasil todos os produtos integrais são de fato integrais. Eu acho que ninguém tem coragem de dizer que o processamento do leite é 100% perfeito. Se a gente for ler as regras de segurança que o Brasil determina para industrialização de alimentos, o nível de permissividade com defensivos agrícolas que se mistura dentro dos alimentos é muito grande. Isso consta dentro do que é aceito pela lei do nosso país. O azeite de oliva não é puro. O azeite de oliva do Brasil aceita mistura. Ele não é 100% azeite de oliva. Então, assim, a gente vive em um universo de industrialização e fugindo do que é natural e do que é bom aos nossos olhos e caminhando para um universo de confiança cega em produtos industrializados, que nem sempre vão fornecer o que dizem e que quando fornecem o que dizem, o que é dito não é capaz de nos trazer saúde. Espaço Ecológico - Então o correto é consumir alimentos naturais? Abimar Buriti - Na minha opinião sim, muitos médicos não cumprem com o que dizem. São poucos que dizem e cumprem. Dentro do consultório, na minha vida pessoal, a minha determinação pessoal é que tudo seja o mais natural possível. Eu não sou a favor de dieta com biscoito de não sei o quê. Eu sou a favor de feijão, arroz, batata, frutas; sou a

Médico Abimar Buriti

A gente estuda os melhores alimentos, nutrientes, minerais e vitaminas, para pacientes que têm doenças do coração, doenças respiratórias e Alzheimer, de forma a prolongar a vida, aumentar a longevidade, diminuir a quantidade de doenças e otimizar o uso dos medicamentos que são prescritos favor do que vem puro através da natureza. A cura do corpo pelo corpo na medicina curativa e preventiva realmente funciona? Eu acredito piamente na medicina preventiva, acredito que seja a forma mais barata e inteligente de espalhar saúde. O ato de medicar, de dá um medicamento muitas vezes se torna eterno. A gente se depara via de regra com milhares de pacientes que usam medicamento para depressão para o resto da vida, que usam medicamento para pressão pelo resto da vida, que usam medicamento para diminuir o colesterol pelo resto da vida e, quando eu vejo isso, às vezes eu fico meditando: rapaz, é tão caro a gente ter que ser medicado, ser remediado pelo resto da vida. Eu acredito que o bom medicamento é aquele que cura, que a pessoa toma e não precisa tomar de novo, pois ficou bom. E não que fique sendo medicado pelo resto da vida. Acredito que a cura pode ser feita de forma constante, de forma natural, com uso de medicamentos quando eles são estritamente necessários, entretanto, mais barato, mais inteli-

gente, mais prazeroso. A medicina deve ser preventiva. O ideal é que nós não cheguemos a adoecer. De que adianta a gente buscar o resto da vida sendo remediado, quando o ideal é que nem sequer seja preciso tomar o remédio? Espaço Ecológico - Dr. Abimar quais os limites do corpo, da mente, as variações do ciclo, sono vigília, e os melhores horários para realizar atividades? Abimar Buriti - Olha só, isso é uma coisa bastante importante, porque as pessoas têm esquecido que o corpo tem limites. Na prática de esportes, a gente vê isso com frequência, a gente vê atletas que se lesionam, atletas que são muito mais fortes do que eram antes. A gente vê o atleta de ponta, de 30 anos atrás, as dimensões do corpo dele eram metade do que é hoje em dia. Essas pessoas de hoje superaram os limites do corpo às custas de química. Então, boa parte ali faz uso de esteroides e de ilícitos e muitas vezes são pegos em antidoping pela ânsia de não respeitar os limites do corpo. Essa ânsia tem se estendido à população, que também não tem respeitado os próprios limites, muitas vezes por questões estéticas ou por mero prazer. Importante que o ser humano não esqueça que somos animais e nosso corpo ainda é preso a regras. Então, o ser humano precisa se alimentar, dormir e acordar na hora correta. Tudo isso é regulado por mecanismos internos do corpo e que não variam de acordo com os nossos interesses. Nós nascemos assim. A melatonina, o hormônio necessário para o sono, será liberado à noite. O cortisol, que nos faz despertar, será liberado pela manhã, e isso aí é imutável. É preciso que a gente tenha o respeito a essas regras, porque quando a gente desrespeita, a doença começa a surgir. Eu estou REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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dizendo que é essencial que nós tenhamos respeito pela reparação do corpo, que é feita à noite, no sono profundo, gerado pelo hormônio chamado melatonina. Espaço Ecológico - O que o senhor poderia dizer em relação a genética enquanto fator limitante ou determinante? Abimar Buriti - Muitas vezes o paciente vê a genética como um fator que o limita. A gente vê o paciente que chega e diz meu pai foi diabético, então eu tenho tendência a ser diabético. E eu sempre uso o exemplo: rapaz meu pai ganhou na mega sena, quer dizer que eu vou ganhar também. A genética pode ser vista como um fator de ajuda, ou de empecilho, mas não pode ser vista como um fator determinante. O fato do meu pai ser diabético, não quer dizer que eu serei. Quer dizer o seguinte: que eu vou ter que ter mais atenção com a minha alimentação, com os meus hábitos de vida, para que jamais eu fique diabético. O fato do meu pai não ter diabetes, não quer dizer que eu estou livre e que eu posso comer tudo, que jamais eu vou ficar diabético. Então, temos que ver a genética como uma aliada, no sentido de traçarmos metas e diretrizes para que consigamos construir uma vida saudável, uma vida longeva, uma vida plena, sem correr o risco de fazer com que os detalhes genéticos sejam impeditivos e a gente se impeça de crescer. Espaço Ecológico - Dr. Abimar o excesso de intervenções terapêuticas traz de fato a cura? Abimar Buriti - A sociedade atualmente é cheia de excessos. Então, a gente tanto tem os excessos das pessoas que buscam as doenças, através da alimentação e dos hábitos inadequados, como tem o excesso das pessoas que buscam a saúde. A

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Uma alimentação saudável tem que ser equilibrada entre os micros e macros nutrientes gente se depara também com pessoas com excesso de intervenção, com pessoas que fazem exames todo mês, com pessoas que vão a diversas especialidades médicas todos os meses e muitas vezes percebemos que a ação excessiva de intervenção medicamentosa termina gerando problema. Então, a gente tem paciente com dor em uma articulação que toma diclofenaco constantemente e isso agride seu estômago e ele toma omeprazol constantemente e o uso do omeprazol dificulta a absorção de vários nutrientes, o que faz com que esse paciente tenha osteoporose, e o osso volta a doer novamente, de forma que se cria uma bola de neve e essa bola de neve não acaba bem, porque o excesso, quando não bem conduzido, traz doença. Entretanto, quando esse excesso é feito de forma consciente, sem vicio e com orientação, ele vai conduzir a um caminho frondoso e vai trazer a longevidade, a cura e a saúde. Espaço Ecológico - A obsessão pela longevidade leva o ser humano a desrespeitar o limite de uma vida normal? Abimar Buriti – Olhe, nós precisamos ter uma distinção entre o que é longevidade e o que é estar vivo por muito tempo. Quando eu penso em longevidade, eu penso na longevidade saudável, eu penso no ser humano que quer viver cem anos saudável em plenas condições de viver, de se comunicar, de exercer

as funções do seu dia a dia; quando eu imagino uma pessoa longeva, eu não imagino uma pessoa acamada, aquele cidadão em estado de coma que necessita dos outros para limpar seu corpo, para os mínimos afazeres. Eu acredito o seguinte: se nós temos uma vida equilibrada, uma vida sem vícios, uma vida natural, uma vida bem conduzida, teremos sim longevidade saudável. Eu acho que o caminho é esse. Espaço Ecológico - De que forma o equilíbrio e a harmonia são determinantes para a gente encontrar ou obter uma vida saudável? Abimar Buriti - Em tudo é necessário equilíbrio e harmonia. Do desequilíbrio e desarmonia surgem todos os problemas. E eu agora retorno ao exemplo do diclofenaco, do omeprazol e osteoporose. Quando nos deparamos com um paciente desse tipo, precisamos entender que aí tivemos um desequilíbrio que gerou os demais. Então, se esse paciente tivesse sido devidamente assistido, tivesse tomado medicamentos que não ofendessem o seu estômago, tivesse praticado atividades, fisioterapia e hidroterapia, ou medida não medicamentosa, que tirassem sua dor, talvez ele não tivesse deflagrado a gastrite e talvez não tivesse deflagrado a osteoporose. Ou seja, decorre do desequilíbrio e da desarmonia um único elemento, um único comprimido de diclofenaco trouxe a desarmonia, trouxe a doença, e vai abreviar a vida do paciente. A partir do momento que a gente trabalha de forma harmônica, o contrário acontece. Onde existe doença surge a cura. Inclusive, eu acredito que essa cura deva vir de forma mais natural possível. Nós podemos fazer uso de medicamentos fitoterápicos, medicamentos naturais, de medicamentos feito de plantas, de medicamentos em cáp-


sula, comprimidos, mas que sejam feitos de material bioidênticos. O que são materiais bioidenticos? São princípios químicos produzidos a imagem e semelhança do que o próprio corpo produz, de forma que o corpo identifica esses comprimidos como algo feito por ele e não como uma droga sintética externa. No nosso consultório, via de regra, nossa predileção é pelos medicamentos fitoterápicos, naturais e bioidênticos. Espaço Ecológico - Dr. Abimar, tem como evitar o efeito sanfona na perda e ganho de peso? Abimar Buriti - Tem sim. O efeito sanfona é combatido de duas formas. Primeiro, pela hipertrofia muscular, o paciente que engorda e perde peso, engorda e perde peso, tem esse efeito minimizado, quando ele perde gordura e ganha músculo. O ganho de músculo aumenta o metabolismo do paciente que mantém o seu peso baixo. Entretanto, em alguns casos, o ganho do músculo não é suficiente para deter o efeito sanfona e em alguns casos é necessário que se faça estudos de exame do paciente para determinar onde existem pontos de equilíbrio. Vamos supor que o paciente esteja ganhando peso, porque a tireoide não funciona bem, já que ele tem hipotireoidismo. Então, é necessário que esse paciente seja medicado para que a tireoide seja corrigida. Vamos dizer que o paciente tenha um ganho de peso, porque tenha resistência a insulina, ele é pré-diabético, é necessário que a resistência à insulina seja tratada, para que ele não ganhe peso. Então, tudo vem da harmonia e do equilíbrio. Para combater o efeito sanfona, temos que ganhar o músculo e combater cada item que esteja desequilibrado. O que eu sou contra é com o excesso de intervenções que estão sendo

feitas com pacientes que não precisam de intervenção. Então, muitas vezes se usam hormônios esteroides como testosterona para que o paciente ganhe músculos e perca peso à custa de esteroides anabolizantes sintéticos, em pacientes que não precisam. E isso aí eu considero errado, não que eu seja contra o uso do hormônio, eu sou contra o uso do hormônio em quem não precisa. O paciente que tem indicação de hormônio tem que tomar, mas quem não precisa não tem que tomar apenas para fins estéticos, porque isso também traz doença e se relaciona com o efeito sanfona. Espaço Ecológico - Uma alimentação saudável deve constar de que? Abimar Buriti - Uma alimentação saudável tem que ser equilibrada entre os micros e macros nutrientes. Os macros nutrientes, grosseiramente falando, são os carboidratos, as gorduras e as proteínas. Por proteína entende-se carnes, por gorduras entende-se azeite de oliva. Existe a gordura derivada de grãos como amendoim e castanha e, por carboidratos, entende-se que os bons são os complexos como a batata doce, arroz integral, inhame, macaxeira. A alimentação equilibrada tem que trazer uma proporção correta entre esses nutrientes, de forma que, dentre os macronutrientes fornecidos, os micronutrientes sejam respeitados. E entende-se por micronutrientes, vitaminas, minerais e sais. Então, qual a boa dieta? Existe uma fórmula que corresponda uma boa dieta para todos? Não, não existe. Cada ser humano vai ter uma necessidade especifica, de acordo com o seu corpo e com suas atividades diárias. A boa dieta é a que consegue acertar essas necessidades e acertar as proporções de macro e micronutrientes para que a saúde seja atingida da forma mais eficiente possível.

Espaço Ecológico – De que forma a questão meio ambiente, a natureza, ajuda a manter esse equilíbrio que o senhor tanto falou? Abimar Buriti - No dia a dia, a natureza nos dá toda determinação necessária para que entendamos como devemos proceder. O acordar precisa ser ao raiar do sol. À noite precisamos estar livres da luz. A atividade física e a prática de exposição diária ao sol aumentam os níveis de produção de vitamina D. A prática do esporte e a socialização aumentam a produção de endorfinas. Então, assim, a natureza nos dá todas as regras para que entendamos que temos hora de dormir, acordar. Se expor ao sol e a natureza também fornece o que é necessário. Eu sou um adepto da vida ao ar livre, sou um amante da vida nas cidades pequenas e nos sítios, então, eu adoro andar em meio a natureza, adoro fazer minhas trilhas e quando estou fazendo minhas trilhas, independente de onde eu esteja, às vezes eu vejo uma manga e como; às vezes eu vejo uma jabuticaba e como; às vezes eu vejo umbu e como. E eu acho que aquilo ali é um sinal. Não que eu fique comendo todas as frutas que tem no caminho, mas eu acho que é um sinal que a natureza está ali ao nosso dispor e que é nosso dever fazer uso do que Deus nos envia. Eu não sei porque as pessoas acham mais natural andar na rua e parar no Mc Donalds para comer e achar tão estranho se eu estou andando dentro de um sítio e como uma manga. A natureza oferece o que é necessário, o mundo está ao nosso redor oferecendo o que é de bom. O ser humano é que tem deturpado a realidade e tem vivido em um mundo de quatro paredes, um mundo de concreto e um mundo de Mc Donalds e fast foods. O ser humano tem deturpado aquilo para que ele foi criado. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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FORTE V Forte Velho, situado no estuário do Rio Paraíba, em Santa Rita, está na rota da Trilha dos Potiguaras, ao lado das praias de Barra de Camaratuba, Barra de Mamanguape e Baía da Traição. Trata-se do segundo núcleo de povoamento mais antigo do Estado. Foi erguido em Santa Rita o primeiro forte da região, o Forte de São Felipe e São Tiago, e o Mirante do Atalaia (ou Forte Velho), que servia como ponto de observação dos portugueses para identificarem possíveis piratas franceses em busca de pau brasil.

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A

ntes da conquista da Paraíba, toda a região estuarina do rio Paraíba e a costa Centro–Norte paraibana faziam parte do território de caça e de coleta dos índios potiguaras. Naquela época, a costa paraibana era muito visitada por corsários franceses que, ao se tornarem aliados dos potiguaras, extraíam o valioso pau-brasil, das florestas da região. Forte Velho está situada na desembocadura do rio Paraíba, às margens do canal que separa a Ilha da Restinga, do Município de Santa Rita. A vila do Forte Velho foi fundada pelo general espanhol Diego Flórez de Valdés, em 1584, que ali ergueu o primeiro forte destinado a ajudar na conquista da Paraíba (Forte de São Filipe), a qual só ocorreu um ano depois, em 1585. Valdés detinha poderes autorizados pela Coroa Espanhola que, na época, estendeu seus domínios sobre Portugal e suas colônias em virtude da União Ibérica e, por causa disso, ele dotou Forte Velho de uma alcaidaria (prefeitura) e confiou a feitoria — antes de se retirar para a Europa — aos cuidados do capitão de infantaria, Francisco de Castrejón, seu patrício. Além do Mirante do Atalaia, Forte Velho ainda conta com rico arquipélago de ilhas, como as Ilhas Tiriri, Stuart, Andorinhas, além da Ilha da Restinga, verdadeiro patrimônio natural do município de Santa Rita.

Foto: Secom-PB

TURISMO ECOLÓGICO EM SANTA RITA

A praia estuarina da Ribeira, com marina, hostel, local para eventos, trilhas e caminhadas, é outra opção que o turista pode ter acesso pela estrada asfaltada de Forte Velho. No local podem ser contratados passeios de barcos no entorno das ilhas estuarinas e o turista pode até se encantar com a natureza intocada da Ilha Stuart, no estuário do rio Paraíba.

Ilhas estuarinas

Restinga - A Ilha da Restinga é formada pelo acúmulo de solo trazido pelo Rio Paraíba. Isso explica a sua riqueza geológica e a presença de diversos tipos de ecossistemas,


VELHO como mangue, estuário, resquícios de mata atlântica, lagoas e mata de restinga. A Ilha da Restinga é um dos pontos turísticos mais interessantes do Litoral da Paraíba. São 530 hectares de terreno plano situado no Rio Paraíba, entre os municípios de Santa Rita, a oeste, e Cabedelo, a leste. O local fica a 1,2km do Oceano Atlântico, próxima a Foz do Rio Paraíba e do Porto de Cabedelo. Stuart - A ilha Stuart, localizada no estuário do rio Paraíba, pertencente ao município de Santa Rita, apresenta uma superfície de 550 hectares (5,5 km²), boa parte dos quais terrenos alagadiços próprios de manguezal. Em 2005, a po-

pulação era de 52 pessoas, divididas entre treze famílias. Segunda em importância e melhores condições de habitação das ilhas do rio Paraíba, depois da Restinga, Stuart é parte de uma complexa rede de canais e ilhas que apresentam potencial para atividades ecoturísticas, como caminhadas, trilhas, passeios de caiaque e observação da natureza, pois dispõe de meio ambiente rico e ainda bem preservado, com matas, lagoas, manguezais e praias fluviais. O “Cemitério Inglês”, seu maior patrimônio histórico, encontra-se lançado ao esquecimento, sem cuidados de preservação, praticamente invadido pelas águas do rio e pela

areia. Consta que até 1928 ali só eram sepultados anglicanos, já que os não católicos que faleciam na Paraíba tinham o sepultamento negado pela igreja, sendo então velados na ilha Stuart. Para ter acesso à ilha é preciso pegar barcos a motor, a partir do distrito de Forte Velho ou da Praia do Jacaré, ou navegar em caiaques alugados ou canoas rústicas utilizadas pelos ilhéus. No mapa Província di Paraíba, do cartógrafo italiano Andreas Antonius Horatius, consta sobre Stuart a denominação “Ilha das Melancias”. Tiriri - A Ilha Tiriri, também conhecida como Ilha do Tiriri, está situada no estuário do Rio Paraíba, em Santa Rita. Tiriri é a terceira em dimensão das ilhas paraibanas, depois das ilhas da Restinga e Stuart, e faz parte do complexo sistema de canais do estuário. Tiriri está localizada defronte a João Pessoa, capital do Estado, e sob suas águas turvas encontra-se a barca italiana Antonietti, encalhada em um banco de areia desde 1873, e também o barco francês Chargeau d’Flote, que encalhou em 1712. Em Tiriri chegou a funcionar a primeira fábrica produtora de cimento da América Latina, no século XIX, cujas ruínas podem ser vistas ainda hoje. O cimento de Tiriri não teria sido descoberto, contudo, se não fosse um feliz acaso. Entre 1887 e 1890, o português Antônio Varandas de Carvalho andava pela ilha acompanhado de um colega inglês quando a dupla parou para descansar. De repente, Varandas notou que a lama acumulada no varapau em que se apoiava para perscrutar os mangues secava com certa rapidez, obtendo consistência de argamassa. Pesquisas posteriores revelaram que Tiriri era, nada menos, que um imenso veio de pedra calcária de muito boa qualidade. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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Foto: A União/Marcos Russo

Vila do Forte Velho

Segundo o historiador Ademar Vidal, antes da fábrica de cimento funcionar, já morava em Tiriri o químico inglês Thomas G. Downes. Meses depois chegou o forneiro Cornell C. T. Fitzgerald e o mecânico Charles A. Harrinson, acompanhado do gerente Jean B. La Vallée, um franco-inglês casado com uma francesa. Também fazia parte dos seletos moradores da ilha, o engenheiro civil gaúcho Luís Felipe Alves, casado com uma norte-americana, bem como o técnico brasileiro José Pinto de Oliveira, formado pela Universidade de Filadélfia (EUA). Essa comunidade majoritariamente estrangeira habitou na ilha até 1902. No começo do século XX, Tiriri despertou a curiosidade do botânico Philipp von Luetzelburg, que em 1922, incumbido pela Inspetoria Federal de Obras contra as Secas (atual DNOCS), descobriu 227 espécies de plantas no solo da ilha. Sobre tal achado, há no Dicionário Corográfico da Paraíba, escrito por Coriolando de Medeiros, em 1950, a seguinte menção sobre a riqueza florística da ilha: (...) pertencente ao município de Santa Rita e formada pelo rio

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Gargaú, ao deitar-se à margem esquerda do Paraíba, a ilha, parece, foi um pedaço destacado do continente, pois o seu solo é fertilíssimo, e a sua flora, tão variada que o sábio botânico Luetzelburg, visitando o local, colheu assunto para um artigo, dizendo estar ali um verdadeiro jardim botânico. Tiriri tem fauna semelhante às das outras ilhas do estuário do rio Paraíba, o que inclui aves, crustáceos, eventuais répteis e pequenos roedores e diversos tipos de peixes. Em 2006, um levantamento mais preciso da avifauna do estuário do rio Paraíba revelou a ocorrência de 89 espécies de aves endêmicas ou migratórias. Nenhum levantamento de espécies da fauna terrestre existentes na ilha foi feito até os dias atuais.

Andorinhas

A Ilha das Andorinhas é uma ilha fluviomarinha situada na desembocadura do rio Paraíba, também no município de Santa Rita. Localiza-se na ponta norte da Ilha Stuart, no canal que separa esta da Ilha da Restinga, e é a menor das cinco mais importantes ilhas estuarinas paraibanas. Com 15 hectares

de superfície (0,15 km²), Andorinhas é parte de uma complexa rede de canais e ilhas que formam a foz do rio Paraíba. Junto com a ilha Stuart, a ilha das Andorinhas — à época denominada “ilha dos Porcos” — era de propriedade do inglês Francisco Jordão Stuart, que as vendeu a uma senhora de nome Francisca Maria da Conceição, em 1856. A fauna e a flora de Andorinhas são as mesmas comuns às demais ilhas estuarinas do Paraíba, o que inclui aves, crustáceos e diversos tipos de peixes. Em 2006, um levantamento da avifauna do estuário revelou a ocorrência de 89 espécies de aves endêmicas ou migratórias, tornando a ilha um santuário para repouso e nidificação de muitas espécies. A vegetação está praticamente intacta e é formada unicamente por um extenso e luxuriante manguezal bem preservado. De propriedade particular, não há água potável, construções, luz nem população residente. Também não há nenhuma forma de acesso à ilha, como atracadouro ou pier. Tal isolamento contribui para que Andorinhas continue em estado natural e longe da intervenção humana. (Fonte: Wikipédia)


PARAÍBA TEM TRÊS PRÁTICAS FINALISTAS DA 1ª EDIÇÃO DO

Fotos: Secom-PB

PRÊMIO ODS BRASIL

A

Por Anézia Nunes

pós um longo caminho de avaliação, composto por diversas etapas, percorrido até a divulgação das práticas finalistas da 1ª Edição do Prêmio ODS Brasil, a Paraíba consegue emplacar os projetos Paraíba Unida pela Paz e Legos: um modelo inovador para soluções de saúde em regiões em desenvolvimento, pelo Governo do Estado, e o projeto Centro Municipal de Compostagem “Fábrica de Solos”, pelo município de Picuí, no Curimataú paraibano. As três práticas contribuem para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O Prêmio ODS Brasil tem por objetivo incentivar, valorizar e dar visibilidade a práticas que contribuam para o alcance dos objetivos

e metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, no território brasileiro. O Prêmio contribuirá também para a formação de um “banco de práticas” que servirá de referência na implementação e disseminação da Agenda 2030. A Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) faz parte de um Protocolo Internacional, assinado por 193 países, na Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU), em setembro de 2015, onde o Governo Brasileiro assumiu o compromisso de adotar um modelo de desenvolvimento sustentável, com metas a serem alcançadas até 2030. Avaliação - Entre os dias 07 de maio e 16 julho de 2018, 1.038 inscrições foram recebidas pela SEGOV, de todas as partes do Brasil, divididas em 4 categorias. Destas, após avaliação dos critérios objeti-

vos estabelecidos no Regulamento do Prêmio e no Guia de Apresentação da Prática, 729 práticas foram validadas nas seguintes categorias: Governo (211); Com Fins Lucrativos (139); Sem Fins Lucrativos (256); e Ensino, Pesquisa e Extensão (123). A etapa final de avaliação do Prêmio ODS Brasil consiste no julgamento das práticas finalistas por um Júri de especialistas da questão do desenvolvimento sustentável de diversas matizes da sociedade brasileira, composto por nove representantes das áreas relacionadas às categorias do certame. A classificação das três práticas vencedoras, por categoria, será conhecida na Cerimônia de Premiação, que ocorrerá em dezembro próximo, no Palácio do Planalto – Brasília/DF. Paraíba Unida pela Paz – O projeto Paraíba Unida pela Paz tem como principal foco promover a REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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paz social, por meio de um modelo de gestão em segurança pública adotado no Estado que aposta na participação de toda a sociedade no processo de redução da criminalidade, principalmente os homicídios. Vale salientar que a Paraíba foi o único estado da federação a registrar seis anos consecutivos de redução de homicídios. Os resultados obtidos pelo Programa Paraíba Unida pela Paz são atribuídos às diversas operações executadas pelas Forças de Segurança da Paraíba, à qualificação do efetivo e aos investimentos em infraestrutura, logística e tecnologia. Com isso, houve uma melhoria da prestação do serviço para que os resultados positivos acontecessem. Os índices de criminalidade, as ações de enfrentamento e os resultados obtidos são monitorados de perto pela Secretaria da Segurança e Defesa Social e analisados em reuniões semanais com os gestores das Forças de Segurança no Estado e, mensalmente, em reunião com o governador. O modelo de gestão adotado na Paraíba procura atuar de acordo com a mancha criminal para estancar problemas específicos e pontuais. A ideia é copiar as boas práticas das áreas em que as ações são exitosas e aplicá-las em outras áreas que não têm obtido bons resultados. Outro ponto importante é o combate à circulação ilegal de arma de fogo na Paraíba. O Estado contabiliza uma média de mais de 3 mil armas de fogo apreendidas por ano, o que significa a apreensão de 21 mil armas de fogo, de 2011 a 2017. Na Paraíba foram apreendidas, em 7 anos, 12,8 toneladas de entorpecentes, com uma média de 5 Kg de drogas apreendidas por dia. O número de mortes decorrentes de confronto policial é o quarto menor no país.

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A Paraíba também conta com um Laboratório de Soluções Inteligentes voltado para a segurança. O sistema permite radiocomunicação criptografada, com 40 pontos de repetição, capaz de oferecer um sinal de qualidade e com alta disponibilidade para os órgãos operativos de Segurança Pública. A tecnologia digital permite fornecer localizações exatas. Mais de R$ 33 milhões estão sendo investidos, no total, para a implementação do sistema de radiocomunicação digital na Paraíba, incluindo 47 sítios de repetição

para levar sinal claro e com alta disponibilidade para todas as forças de segurança - Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Sistema Penitenciário e Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e 5.600 rádios, sendo 4 mil portáteis, 1.300 móveis e 332 fixos, com capacidade de expansão conforme demanda dos usuários. De acordo com o Anuário Brasileiro da Segurança Pública 2018, a Paraíba registrou uma queda acumulada de homicídios de 28%, de 2012 a 2017. Segundo o mesmo es-


tudo publicado em 2012, a Paraíba tinha em 2011 a terceira maior taxa de homicídios por grupo de 100 mil habitantes do Brasil. O valor era de 44 mortes naquele ano. O Anuário informa ainda que a taxa de mortes violentas intencionais na Paraíba apresentou uma redução de 3,5% em 2017 em relação ao ano de 2016, passando de 33,1 mortes por grupo de 100 mil habitantes para 31,9. Foi a quarta maior redução verificada no Nordeste. Em números absolutos, foram registradas 1.324 vítimas em 2016 e 1.286 em 2017.

Rede de Cardiologia Pediátrica – O Projeto que, na lista, aparece com o nome Legos: um modelo inovador para soluções de saúde em regiões em desenvolvimento, foi iniciado em 2011, em parceria com a ONG Círculo do Coração, com o objetivo de identificar as crianças cardiopatas no Estado e acabar com a lista de crianças que necessitavam realizar cirurgia cardíaca e entravam na lista nacional de regulação para realizar o procedimento. A Rede de Cardiologia Pediátrica (RCP) já atendeu 221.934 crianças e realizou um total de 1.340 cirurgias. Os investimentos na Rede de Cardiologia Pediátrica já ultrapassaram os R$ 40 milhões, tendo em vista que o investimento anual é de R$ 6 milhões. O Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires é referenciado para o atendimento da rede, porque além de ter uma sala de telemedicina instalada é equipado com o que há de mais moderno e com uma equipe preparada para receber pacientes que precisam de atendimento de alta complexidade, a começar pelas cirurgias de crianças cardiopatas. A implantação a Rede de Cardiologia Pediátrica na Paraíba representa um grande avanço do Governo do Estado na área de saúde. Antes, as crianças com problemas cardíacos tinham que ser levadas para outros Estados, porque na Paraíba não existia um serviço especializado, mas agora a realidade é outra, a criança recebe todo atendimento aqui na Paraíba, desde o momento do diagnóstico da patologia até a cirurgia e o acompanhamento médico necessário. O programa utiliza a telemedicina para manter os profissionais em rede e dar acesso a atendimento de alta complexidade em todas as regiões do estado. Também realiza

a Caravana do Coração, atividade que percorre, durante 13 dias, 13 municípios em todas as regiões do Estado (2 mil km percorridos por edição) e atende, em média, 2 mil crianças e gestantes de alto risco. O programa também realiza a Caravana do Coração, atividade que percorre, durante 13 dias, 13 municípios em todas as regiões do Estado (2 mil km percorridos por edição) e atende, em média, 2 mil crianças e gestantes de alto risco. Na última edição, a sexta, realizada em julho passado, mais de 2 mil profissionais foram capacitados para realizar atendimentos nos seus municípios e foram atendidas 1.800 pessoas. Fábrica de Solos - A equipe técnica da Secretaria Municipal de Assistência Social de Picuí, logo que tomou conhecimento do Prêmio ODS Brasil, inscreveu a “Fábrica de Solos” para concorrer ao prêmio, pois trata-se de uma prática inovadora na região, visto que não havia, até então, nenhuma iniciativa pública voltada para o manejo sustentável dos resíduos sólidos. O projeto vem proporcionando alternativa de pesquisa e enriquecimento do curso de Agroecologia do IFPB Campus Picuí, na medida em que alunos e professores dispõem de espaço para pesquisa e intervenção junto à população local, com projetos de extensão participativa e contextualizada com as demandas socioambientais do local. O Centro Municipal de Compostagem “Fábrica de Solos” atende ao critério 15 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que consiste em “proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda da biodiversidade. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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ESCULTOR UTILIZA MATERIAL RECICLADO COMO MATÉRIA-PRIMA E AJUDA NA PRESERVAÇÃO AO MEIO-AMBIENTE

S

Por Alexandre Nunes

eu ofício é retratar e eternizar personalidades de diversos segmentos, como da música, da história e da arte, e também preservar a natureza. É que, além da inspiração e criatividade, o artista plástico e escultor Jurandir Maciel usa como matéria-prima, para a execução de suas peças, restos de metais recolhidos do lixo por catadores, a exemplo do bronze e do alumínio, assim também como outros materiais reciclados. As obras esculpidas por Jurandir Maciel são monumentos que estão presentes em praças públicas e múltiplos espaços da cultura do Brasil. Tudo isso começou quando o artista ainda era criança e já apresentava uma inquietude natural de quem tem espírito criativo. Ele não tinha paciência de esperar até que os pais tivessem condições para comprar determinado presente.

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Artista plástico escultor J. Maciel “Desde criança, eu sempre tive essa necessidade, não só por não ter condições financeiras de comprar muitas coisas, mas porque os meus projetos mesmo de brinquedo, quando criança, eram muito imediatistas. Se eu pedisse a minha mãe para comprar tal coisa, sabia que ia demorar. Então, o melhor era eu mesmo fazer. Eu saía catando coisas por dentro de casa, no quintal, perguntava ao vizinho, ou mesmo ia no lixo e catava lá o que eu pre-

cisasse, um arame, um prego, uma lata e, com isso, inventava meus brinquedos como, por exemplo, um carrinho de lata”, recorda. Com isso, J. Maciel, como é popularmente conhecido, descobriu o caminho das pedras, ou seja, sabia o caminho de como conseguir as coisas e quando começou a fazer esculturas, 22 anos atrás, percebeu que escultura para praça pública tem que ser feita com material permanente, duradouro e forte, para que o vandalismo não possa depredar com facilidade. O artista plástico escultor J. Maciel é pernambucano do Recife. Ele iniciou sua trajetória profissional na década de 1980, quando conceituou todo o seu trabalho na preservação ao meio-ambiente, através do desenvolvimento sustentável. Sua fundição artesanal e seu atelier ao ar livre ficam situados no bairro de Ouro Preto, em Olinda. E é neste espaço situado em meio a zona ru-


ral, fugindo um pouco da agitação da região metropolitana do Recife, que o escultor J. Maciel faz seu trabalho. Em João Pessoa, na Paraíba, o escultor criou o Museu J. Maciel, um lugar que vale a pena conhecer, onde o artista expõe as réplicas em gesso das muitas estátuas de bronze que produziu, mas também mostra peças esculpidas em pedra e outros materiais. As peças retratam importantes personalidades do Nordeste e do Brasil. J. Maciel revela que tem, aqui na Paraíba, em torno de umas 11 esculturas em praça pública, a maioria delas em bronze reciclado. Já em alumínio reciclado, em João Pessoa, Maciel tem apenas a estátua de Nossa Senhora da Penha, que mede 6 metros de altura e está na Praia da Penha. Ela foi produzida com o alumínio resultante do derretimento de milhares de latinhas de cerveja e refrigerante, além de panelas velhas amassadas. Tudo alumínio que veio do lixo. Ele usou para fazer a escultura, em torno de quatro toneladas de alumínio. “Agora mesmo, estou fazendo a estátua de um cristo crucificado, para Alagoas. Estou usando 10 toneladas de alumínio para esta peça, que vai ficar com 12 metros de altura. Além disso, também estou fazendo uma santa com 5 metros de altura, que vai utilizar em torno de 4 toneladas de alumínio”, informa.

Com relação às suas preferências artísticas, Jurandir Maciel observa que ainda não teve esse luxo de preferir. “Eu me considero um trabalhador, não um artista. Então, pelas demandas que Deus tem me dado para o meu ganha-pão, tenho produzido diferentes trabalhos e as minhas preferências ficam um pouco ocultas. No entanto, o que mais gosto de retratar são as formosas mulheres, como podem ver no museu, tanto em bronze como em pedra e em mármore e outros materiais reciclados. Então, essa seria a minha preferência, ou seja, trabalhar com a figura humana é o que eu gosto mais”, revela. Jurandir esclarece que o museu é um espaço para exposição e também para venda. Ele acrescenta que seu trabalho tem outros segmentos com a utilização de material reciclado, como as estatuetas de belas mulheres, todas em mármore ou em pedra.Um dos trabalhos de maior relevo utilizando essa técnica de recomposição de pedra foi o que produziu em homenagem ao amigo e também escultor, o mestre Francisco Brennand. J. Maciel esculpiu numa pedra monolítica o rosto de Brennand, com 2,20 metros de altura. Jurandir ressalta que o que mais atrai os visitantes do museu são as esculturas, principalmente as que representam os valores da Paraíba, a exemplo da representação de Ariano Suassuna, todo em bronze

e no tamanho natural. “As pessoas interagem com essa figura. Elas levam essa lembrança, porque aqui no museu temos pessoas que vem de diversos estados e de diversos países nos visitar. Também temos aqui monumentos representando Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Livardo Alves, Augusto dos Anjos, Marechal Floriano Peixoto e o arcebispo que trabalhou por mais de 30 anos na Paraíba, Dom José Maria Pires, que foi retratado para o Hospital Metropolitano de Santa Rita, a pedido do Governo do Estado”, especifica. O artista faz um chamamento à população para conhecer o museu, que abre suas portas à visitação a partir das 9h30 e vai até às 12h, fechando para o almoço. Reabre às 15h e fecha 17h30, com o pôr-do-sol. “Convido a todos que queiram vir visitar ao museu para fazê-lo, pois não vão só encontrar o museu, mas também uma coisa belíssima que é o pôr-do-sol visto da balaustrada do Hotel Globo, que fica aqui olhando para o rio Sanhauá. É uma bela paisagem, aonde vamos ver também toda a reserva dos manguezais com quilômetros e mais quilômetros de vista. Aqui no Centro Histórico também temos a Igreja São Frei Pedro Gonçalves, que é belíssima e de uma arquitetura secular. Trata-se de uma importante peça religiosa, com seu acervo sacro dentro dela e aberto à visitação”, exorta. REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO |

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14 ANOS

Uma aula de Sustentabilidade e Meio Ambiente

Programa Espaço Ecológico | FM 105.5 | Todos os sábados das 8h às 9h www.espacoecologiconoar.com.br 36  | REVISTA ESPAÇO ECOLÓGICO

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