Curadoria: Franklin Espath Pedroso e Pedro Afonso Fernandes Vasquez
Instituto Cultural Banco Real 11 de julho a 10 de agosto de 2008 Recife - Pernambuco
a Ayrton Senna, que deu ao país uma imagem vitoriosa de seu povo, até o lamento pela morte de Chico Mendes, pela defesa do meio ambiente
Um jeito peculiar de ver o mundo
da Amazônia que sua figura representou. Em
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à população, no cotidiano das feiras do sertão,
Fabio Colletti Barbosa Presidente - Banco Real
Pernambuco, muitas campanhas de saúde recorreram aos poetas de cordel para transmitir informações essenciais sobre doenças como o cólera e os meios de combatê-las. E não se pode
Podendo remontar suas origens à presença
esquecer que tudo isso é acompanhado pela
árabe na Península Ibérica desde tempos
primorosa criação das xilogravuras que ilustram
medievais, a literatura de cordel é uma
a capa dos folhetos de cordel.
criação popular que parece cortar a história
transversalmente, revelando um jeito peculiar
Hoje, essa literatura típica do Nordeste, trazida
de “contar o mundo”. Por certo, o universo
na bagagem do migrante, faz parte da cultura
medieval de suas origens ainda hoje se encontra
dos nossos maiores centros urbanos em todo
nos romances como o Pavão Misterioso ou a
o Brasil. E em São Paulo como no Recife,
Donzela Teodora, clássicos dessa literatura. Mas
João Pessoa ou Fortaleza, ela continua a nos
na fôrma de seus modelos tradicionais, nossos
mostrar que o povo brasileiro sabe reconhecer
poetas souberam inserir a cor local ao cantar
os valores que apontam para a cidadania, a
não o lamento do condenado ao pé da forca,
responsabilidade social e a sustentabilidade.
mas os feitos guerreiros – louvados ou temidos
Por muito tempo a literatura de cordel foi
– da saga do cangaço. O humor e a sátira
considerada uma criação menor da literatura
como instrumentos de crítica do poder nunca
brasileira. Já é hora de restituir-lhe o lugar que
deixaram de estar presentes nessa literatura, ao
lhe cabe, como parte de nossa cultura capaz
narrar, por exemplo, a chegada de Lampião no
de expressar valores essenciais para o tempo
inferno, assim como a consciência social esteve
em que vivemos. Ao patrocinar a presente
presente a cada vez que um poeta popular
exposição, o Instituto Cultural Banco Real se
tratou da carestia. Como um jornalismo que se
sente honrado em oferecer seus espaços para
volta para o cotidiano para dele extrair lições de
mostrar a arte e a sabedoria do povo nordestino
moral, essa literatura feita pelo povo e para o
que se encontra presente no Universo do Cordel.
povo não cansa de nos surpreender. Longe da decadência a que pareceria condenada pela presença da mídia, a literatura de cordel demonstrou um extraordinário poder de adaptação e modernização. Hoje as famosas pelejas ou desafios entre os poetas podem ser travados pela internet e os temas dos folhetos de acontecido, narrando eventos de interesse para a população, podem incluir desde o louvor
Cordel, criação popular
capa dos folhetos. Ao assegurar a autonomia
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partir dos anos 70, a ser objeto de estudos e de
Carlos Trevi Coordenador - Instituto Cultural Banco Real
de sua produção, circulação e distribuição no universo popular, a criação do cordel passou, a pesquisas acadêmicas que vieram legitimar sua presença longe de seu meio de origem. Hoje,
A literatura de cordel chegou ao Brasil com
diversas instituições possuem um rico acervo de
os primeiros colonos portugueses, talvez
literatura de cordel, como é o caso da Biblioteca
ainda no século XVI. Corrente na Península
Nacional, da Casa de Rui Barbosa, da Academia
Ibérica, era chamada de pliegos sueltos
Brasileira de Letras, entre muitas outras. Mas
(folhas soltas) na Espanha e de volantes em
essa criação popular tem sua própria Academia
Portugal, reproduzindo a forma dos pequenos
Brasileira de Literatura de Cordel, tendo entre
folhetos com narrativas variadas – sobre temas
seus membros poetas capazes de contar em
tradicionais, moralizantes ou voltados para o
versos a própria história do cordel no Brasil!
maravilhoso, até acontecimentos excepcionais do
cotidiano, como a execução de um condenado
A proposta da exposição “O universo do
– que faziam parte da littérature de colportage
cordel”, idealizada pelos curadores Franklin
levada por vendedores ambulantes entre as vilas
Espath Pedroso e Pedro Afonso Vasquez,
e as cidades européias em dia de feira. Criação
apresenta ao público pernambucano um mundo
literária popular, acostumada ao burburinho do
que envolve não apenas a criação literária
mercado e a um público inculto, sua transmissão
em verso e sua associação com a música, nas
sempre esteve associada à oralidade, como
pelejas e desafios cantados por repentistas,
poesia lida em voz alta ou cantada. Foi sob essa
mas também a criação plástica das xilogravuras,
forma que ela se fixou no Brasil, sobretudo no
muitas vezes produzidas pelos próprios poetas,
Nordeste, até dar origem, em fins do século
como é o caso de J. Borges e José Costa Leite.
XIX e primeiras décadas do século XX, a uma
Para mapear esse universo, a exposição deverá
florescente indústria gráfica para permitir a
traçar uma trajetória da literatura de cordel,
circulação impressa da criação dos poetas locais,
de suas origens aos seus principais gêneros
em folhetos que, em alguns casos, alcançaram
e autores, passando pelas formas da criação
tiragens a que jamais chegaram no Brasil autores
poética definidas segundo o esquema de rima
nacionais ou internacionais.
dos versos, assim como pela criação do taco ou matriz da xilogravura, até chegar aos processos
A literatura de cordel constitui, portanto, um
de impressão e acabamento do folheto. Ao
universo de extraordinária riqueza que, longe
tratar, nesta exposição, de formas de criação
de se esgotar como criação “tradicional”
popular tão características do Nordeste, o
condenada ao desaparecimento pelo
Instituto Cultural Banco Real presta assim uma
desenvolvimento dos modernos meios de
justa homenagem ao seu povo.
comunicação, vem, ao contrário, mostrando a imensa capacidade de renovação que circula nesse mundo de palavras, de música, de imaginação e de criação plástica – sob a forma das xilogravuras que cedo passaram a ilustrar a
Amadeu Amaral do Centro de Folclore e Cultura Popular (responsável pelo desenvolvimento do
Palavra preliminar
inovador sistema de Catalogação de Folhetos
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Cordel (prolífico cordelista e editor do Dicionário
de Cordel), a Gonçalo Ferreira da Silva, presidente da Academia Brasileira de Literatura de
Franklin Espath Pedroso Pedro Afonso Vasquez
Brasileiro de Literatura de Cordel), e Bráulio Tavares (dramaturgo, compositor, cordelista e ensaísta, autor de Contando histórias em versos: poesia e romanceiro popular no Brasil). Todos esses quatro eminentes especialistas dividiram Para nós, a realização de “O universo do cordel”,
conosco seus conhecimentos em entrevistas
no Instituto Cultural Banco Real, no Recife, se
exclusivas, realizadas com o propósito de reunir
reveste de um significado todo especial que vem
subsídios para a realização desta exposição.
se somar à honra e ao prazer em expor numa instituição que se já transformou em referência
Agradecemos também aos colecionadores que
nacional. Isso porque não só conseguimos alcan-
nos honraram com sua confiança e prodigamen-
çar nossa meta de desenvolver um trabalho em
te nos abriram as portas de suas casas, franque-
torno da literatura de cordel na própria região
ando o acesso às suas preciosas coleções para
que viu nascer esse riquíssimo filão literário,
que pudéssemos compartilhar algumas de suas
como, por feliz coincidência, a exposição ocorre
peças com o grande público. A eles, nosso reco-
justo no momento em que se assinala a passa-
nhecimento e nossa gratidão. Somos igualmente
gem do nonagésimo aniversário de morte de
gratos ao Museu do Homem do Nordeste, da
Leandro Gomes de Barros, pioneiro e mestre in-
Fundação Joaquim Nabuco, e a todo seu compe-
conteste do cordel, falecido nesta mesma cidade
tente corpo funcional.
do Recife em 4 de março de 1918. Devemos também louvar “quem bem merece”: Um projeto dessa natureza só pode, eviden-
todos os envolvidos com a produção de livretos de
temente, ser realizado graças à generosa e
cordel através dos tempos, dos autores e xilógra-
desinteressada contribuição de uma série de
fos aos editores, dos gráficos aos folheteiros que
indivíduos e de instituições, que nos iluminaram
distribuíam o cordel de forma itinerante, dos pes-
com seus conselhos e nos honraram com o em-
quisadores aos professores e dos bibliotecários e
préstimo de peças de suas coleções.
arquivistas aos colecionadores particulares. Enfim, a todos os que neste mais de um século fizeram
Entre os pesquisadores devemos agradecer,
com que o cordel permanecesse vivo e perpetua-
sobretudo, a Delzimar do Nascimento Coutinho,
mente renovado conforme comprovado nas mais
diretora da Divisão de Folclore do Instituto
de 2.000 obras presentes nesta exposição.
Estadual do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (uma
E, finalmente, devemos agradecer ao Instituto
das organizadoras do importante congresso
Cultural Banco Real e toda sua equipe, sem a con-
Literatura de Cordel no Grande Rio de 1978),
fiança e o apoio dos quais a mostra “O universo
a Maria Rosário Fátima Pinto, da Biblioteca
do cordel”, não poderia ter sido concretizada.
XVI. Há controvérsia, no entanto, no que diz respeito à designação de cordel para qualificar este tipo de folheto. O Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel nos indica, por exemplo,
O universo do cordel
que este é um termo atribuído pelo pesquisador
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pendurados em pequenas cordas, cordinhas,
Raymond Cantel, para designar os folhetos da literatura popular, vendidos nas feiras populares,
Pedro Afonso Vasquez
cordões. O termo cordel sedimentou o nome literatura de cordel. Cantel foi professor da
Em memória de
Sorbonne e começou a coletar in loco exemplos
José Laurenio de Melo,
da poesia popular brasileira em 1959, tendo
mestre e amigo
recebido dos repentistas baianos o título afetivo de “embaixador itinerante” de sua arte, que continuou a estudar e a difundir nas duas décadas seguintes, marcadas por freqüentes vindas As origens da literatura de cordel se confundem
ao Brasil. Depois de sua morte, a vasta biblioteca
com as origens do próprio Brasil. Quem asse-
especializada que congregou deu origem ao
gura isto é o professor Manuel Diegues Júnior,
Centro Raymond Cantel de Literatura Popular
ao afirmar: O nome de literatura de cordel vem
Brasileira da Universidade de Poitiers. O termo
de Portugal, e, como todos sabem, pelo fato de
cordel, por ele proposto, enfrentou de início a
serem folhetos presos por um pequeno cordel
resistência de alguns cordelistas e de importan-
ou barbante, em exposição nas casas em que
tes amantes do cordel. A esse respeito, J. Borges
eram vendidos. Com este nome já os assinala
relata que foi procurado pelo importante drama-
Teófilo Braga em Portugal do século XVII, se não
turgo recifense Hermílio Borba Filho que lhe dis-
mesmo antes. Pode-se dizer também que este
se: Estão querendo impor a palavra cordel para
tipo de poesia está relacionado ao romanceiro
tratar de nossos folhetos. Uma invasão cultural.
popular, a ele ligando-se, pois apresenta-se
Vamos iniciar uma frente contra a palavra es-
como romances em poesia, pelo tipo de narra-
trangeira. No Nordeste rural não existe a palavra
ção que descreve. A presença da literatura de
cordel. Comenta J. Borges: Fiquei a pensar. Sabia
cordel no Nordeste tem raízes lusitanas; veio-nos
que a palavra cordel não existia, mas a achei tão
com o romanceiro peninsular, e possivelmente
bonita que não tive coragem de lutar contra ela.
começam estes romances a ser divulgados, entre
Quer o termo tenha sido cunhado por Cantel ou
nós, já no século XVI, ou no mais tardar, no XVII,
simplesmente difundido por ele, o fato é o que
trazidos pelos colonos em suas bagagens.
o sentimento de aceitação e reconhecimento expresso por J. Borges foi compartilhado pela
No que diz respeito às origens ibéricas da litera-
maioria dos produtores e apreciadores de cordel,
tura de cordel brasileira parece haver consenso,
sendo hoje de aceitação universal e tendo dado
muito embora alguns autores, como Veríssimo
origem a derivações como cordelista (o autor de
de Mello, se preocupem em precisar que as
folhetos), cordelaria (a impressora e/ou editora
fontes remotas dos folhetos avulsos recuem à
de folhetos) e cordelteca (a biblioteca especiali-
Alemanha, no século XV, e à Holanda, no século
zada em folhetos).
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O solo nordestino, o primeiro a ser pisado pelos
as secas periódicas provocando desequilíbrios
lharam aos quatro ventos, chegando às cinco
cujas veias corre tinta de impressão e em cuja
baseado a redação de algumas de suas obras de
Foram temas dados pelo povo ou constituíram
colonizadores – tanto portugueses quanto
econômicos e sociais, as lutas de família, deram
regiões do País. Foi nas ripas duras e suadas dos
face as rugas profundas parecem espelhar os
dramaturgia diretamente em folhetos de cordel,
trabalho individual, posteriormente tornado
holandeses –, revelou ser terreno fértil para o
oportunidade, entre outros fatores, para que se
bancos do pau-de-arara.
sulcos vigorosos das matrizes das xilogravuras.
figurando entre estas: Auto de João da Cruz; O
popular? Esses livros vêm do século XV, do
desenvolvimento dessa arte nascida da aridez,
verificasse o surgimento de grupos de cantado-
O cordelista é o mais perfeito intérprete da lida
castigo da soberba; O homem da vaca e o poder
século XVI, do século XVII e continuam sendo
crescida na carência e que viceja na adversidade.
res como instrumentos do pensamento coletivo,
Hoje, por intermédio da internet, qualquer pes-
descrita por Geir Campos no poema Tarefa:
da fortuna. Na década de 1970, quando era di-
reimpressos em Portugal e Brasil, com um
Manuel Diegues Júnior assim explica a vincula-
das manifestações da memória popular.
soa pode dizer o que quiser a respeito de seja
ção do cordel a essa região: No Nordeste por
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retor do Departamento de Extensão Cultural da
mercado consumidor como nenhuma glória
lá o que for. Há um século, os autores de cordel
Morder o fruto amargo e não cuspir
Universidade Federal de Pernambuco, Suassuna
intelectual letrada ousou possuir.
condições sociais e culturais peculiares, foi possí-
As coisas mais fortes são aquelas que contrariam
já eram os paladinos da liberdade de expressão,
mas avisar aos outros quanto é amargo,
se empenhou inclusive em liberar recursos finan-
Nenhum desses livrinhos deixou de influir, na
vel o surgimento da literatura de cordel, de ma-
a lógica e todos os prognósticos desfavoráveis.
emitindo nos folhetos suas opiniões sobre po-
cumprir o trato injusto e não falhar
ceiros para viabilizar a publicação de folhetos de
acepção da simpatia. São lidos, decorados,
neira como se tornou hoje em dia, característica
Os fatos mais memoráveis são os improváveis e
lítica, amor, religião, dinheiro, destino e tudo o
mas avisar aos outros quanto é injusto,
cordel. Ao passo que João Cabral reconheceu,
postos em versos, em música, cantados, nos
da própria fisionomia cultural da região. Fatores
os inverossímeis. Assim, contrariando a tudo e
mais que constitui o tecido básico da existência.
sofrer o esquema falso e não ceder
em Descoberta da literatura, que sua iniciação
dois continentes. Alguns pormenores reapare-
de formação social contribuíram para isso: a
a todos, a literatura de cordel floresceu tal qual
Nada escapa ao olho arguto e ao comentário
mas avisar aos outros quanto é falso;
nas letras se deu na infância graças à leitura dos
cem numa ou outra estória, mesmo anterior,
organização da sociedade patriarcal, o surgi-
flor de cacto, beleza nascida em meio ao nada
preciso do cordel. Nada, em qualquer época
dizer também que são coisas mutáveis...
“romances de barbante” que os trabalhadores
numa convergência. Essas modificações são
mento de manifestações messiânicas, o apareci-
para encher a vida de tudo. Não foi em asas de
e em qualquer latitude. O cordel tudo analisa,
E quando em muitos a noção pulsar
lhe pediam que “lesse e explicasse”.
índices da popularidade do livro e sua reper-
mento de bandos de cangaceiros ou bandidos,
passarinho que as sementes do cordel se espa-
de Buda a Jesus Cristo, da princesa Isabel a
– do amargo e injusto e falso por mudar –
Lampião, de Ayrton Sena a Lady Di, da morte
então confiar à gente exausta o plano
Derivada da literatura oral com a qual mantém
de Tancredo Neves à chegada do homem à Lua.
de um mundo novo e mais humano.
ainda hoje vínculos indissolúveis, a literatura
O cordel é o resumo da história universal feito
cussão, entre analfabetos que guardam os te-
de cordel se difundiu nesses agrestes saraus
souros dos contos, facécias, cantigas, fábulas.
O século do cordel
pelo homem do povo, é a enciclopédia da vida
Ninguém ignora a influência exercida pela
rurais em que um leitor complacente dividia
cotidiana escrita à medida exata em que os fatos
literatura de cordel na composição de Morte e
com os companheiros iletrados as aventuras
Silviano Pirauá de Lima (1848-1913) costuma
vão ocorrendo – em “tempo real”, como se diz
vida severina, de João Cabral de Melo Neto, e
narradas num folheto de cordel, como antes os
ser considerado o precursor brasileiro da poesia
hoje, em linguagem de informática.
em O romance d’a pedra do reino e o príncipe
contadores de história de excepcional memória
cantada, o que facilitava a assimilação desta pelo
do Sangue do Vai-e-Volta e em O rei degolado
compartilhavam com suas platéias os poemas
povo. Além de transpor para versos as histórias
O cordelista é um jornalista que escreve em
– ao sol da onça caetana, de Ariano Suassuna
do Romanceiro Popular do Nordeste, antes que
tradicionais, foi dele a idéia da introdução das sex-
versos, é um historiador que descarta o distan-
– estes, significativamente divididos em “capí-
estes fossem fixados por escrito. Como observou
tilhas – mais maleáveis do que as antigas quadras
ciamento acadêmico em obediência aos ditames
tulos denominados folhetos, numa homena-
com grande justeza Câmara Cascudo:
–, bem como da obrigação do adversário de uma
do coração, é um poeta que recusa a torre de
gem aos folhetos do Romanceiro Popular do
marfim para sujar os pés na poeira do chão, é
Nordeste”. Orgulhoso de suas raízes e cioso da
Ninguém decidiu sobre a velocidade inicial
último do contendor. Com tais inovações, Silviano
um profeta que sucumbe aos próprios vaticínios.
valorização da cultura nacional, Ariano Suassuna
desses livrinhos. Saíram do povo ou foram
delineou assim a estrutura da poesia falada e can-
É, em suma, um ente literário completo, em
foi mais longe, assinalando ele próprio ter
incluídos, pela leitura, na oralidade anônima?
tada no Nordeste durante todo o século XX.
Zé Caboclo Retirantes / Migrant | década de 1950 /1950’s | cerâmica / ceramic | 25 x 44 x 10 cm | coleção particular / private collection
peleja cantada de rimar seu primeiro verso com o
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Coube ao paraibano Leandro Gomes de Barros
e 2006) da Biblioteca de Cordel da Editora Hedra,
suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas pelo
(1868-1918) a primazia da impressão dos
que tenciona editar um total de meia centena de
cordel, vários dias depois do ocorrido, é claro.
folhetos de cordel. De acordo com a professora
antologias, estima em cerca de 2 mil autores e
Tempo de fartura para os cordelistas. “Naquela
Marlyse Meyer, ele: “Começou a escrever folhe-
cerca de 30 mil títulos a produção do cordel em
época enriqueci, era charuto e cerveja todo dia.
tos em 1889 e seus primeiros impressos datam
seu primeiro século de existência. Acervo este
Vendi 11 mil folhetos do Getúlio em três sema-
de 1893”. Dele disse mestre Câmara Cascudo:
que o professor Raymond Cantel qualificou no
nas”, conta Manuel Monteiro, cordelista e um
Viveu exclusivamente de escrever versos po-
Primeiro Congresso Nacional de Literatura Popular
dos mais atuantes divulgadores da poesia po-
pulares inventando desafios entre cantadores,
em Verso, no Rio de Janeiro e em Niterói (1973),
pular na Paraíba.10 A morte de Getúlio pode ser
arquitetando romances, narrando as aventuras
como “o mais importante, no sentido quantitati-
apontada como o ápice de popularidade do cor-
de Antônio Silvino, comentando fatos, fazendo
vo, entre as literaturas populares do mundo”.
del, pois foram vários os cordelistas a tratar do
sátiras. Fecundo e sempre novo, original e espi-
assunto em folhetos todos igualmente campeões
rituoso, é o responsável por 80% da glória dos
O cordel atingiu o apogeu entre as décadas de
de vendas. Contudo, o best-seller dos best-sel-
cantadores atuais. Publicou cerca de mil folhe-
1930 e 1950, difundindo-se por todo o País à
lers – para importar um anglicismo empregado
tos, tirando deles dez mil edições. Esse inesgo-
medida que seus praticantes eram forçados a mi-
apenas para a “literatura de estante” – foi a
tável manancial correu ininterrupto enquanto
grar para os grandes centros urbanos em busca
Peleja entre Cego Aderaldo e Zé Pretinho do
Leandro viveu. Seu exemplo foi seguido por
de melhores condições de vida. Nessa época: Os
Tucum que, afirmam os especialistas, ultrapas-
diversos outros autores, como Francisco Chagas
cordéis traziam notícias do Brasil e do mundo.
sou, em sucessivas edições, os 500 mil exempla-
Batista (1882-1930) e João Melchíades (1869-
Muita gente soube da morte de Lampião e do
res vendidos, o que faz desse folheto, portanto,
1933), e, assim, nas duas primeiras décadas do século XX, a literatura de cordel se expandiu e se consolidou, adquirindo
14
a obra literária brasileira de maior circulação em todos os tempos, já que nem o mago Paulo Coelho alcançou tal tiragem. Resta saber
o perfil básico mantido até hoje, apesar
de quem é o mérito de tal façanha, pois,
das inovações decorrentes da moderni-
em virtude de imprecisão bastante co-
zação dos meios de impressão.
mum no universo do cordel, existem dois autores que podem reivindicar tal feito.
A enorme aceitação do cordel fez com que as edições ultrapassassem com facilidade as dezenas de milhares
Com a palavra, mais uma vez, o professor Diegues Júnior: Conhecemos, pelo menos, duas versões desse desafio: Peleja do Cego
de exemplares, num país em que ainda
Aderaldo com José Pretinho do Tucum, de auto-
hoje os “livros de estante” têm tiragem mé-
ria de Firmino Teixeira do Amaral, datado de 17
dia de apenas 3.000 exemplares. Tal fenôme-
de outubro de 1946; e Peleja do Cego Aderaldo
no fez surgir entre os cordelistas os primeiros
com Zé Pretinho, editado por José Bernardo da
escritores profissionais do Brasil, pois, ainda
Silva, datado de Juazeiro, 15 de junho de 1962.11
que vivendo em condições modestas, não
Esse tipo de imprecisão é bastante característi-
faltavam aqueles que sobreviviam apenas de
co do mundo do cordel em virtude do costu-
sua arte no início do século XX, quando os
me de certos autores “tomarem emprestado”
escritores ainda não conseguiam viver exclu-
ou fazerem novas versões de determinados
sivamente de seus direitos autorais. Joseph
títulos, ou de os editores adquirirem os direitos
Maria Luyten (1941-2006), um dos maiores
de impressão de toda a produção de um autor
responsáveis pela divulgação internacional
dele próprio ou de seus herdeiros. Foi o caso,
do cordel no meio acadêmico, idealizador e
por exemplo, de um dos fundadores do gênero,
diretor (no período compreendido entre 2000
João Martins de Athayde (1880-1959), que teve
Sil Casamento / Marriage | 2008 | cerâmica / ceramic | 74 x 53 x 47 cm | coleção particular/ private collection
sua obra adquirida pelo editor José Stênio da
que o tomou como tema de numerosas teses e
– Você tem que assinar aqui. Sabe ler?
adaptação do paraibano Ariano Suassuna, inspi-
Silva Diniz, ele próprio neto de um dos precur-
estudos universitários, contribuindo dessa forma
Ele respondeu: – Sei sim, senhor.
rada no folheto Proezas de João Grilo de autoria
sores da xilogravura de cordel de Juazeiro do
para uma retomada da produção, embora em
– Então assine aqui.
do poeta pernambucano João Ferreira de Lima,
Norte, José Bernardo da Silva.
escala bem menor do que a da fase áurea.
Ele respondeu: – Eu não sei assinar.
para criar sua obra mais popular. O resultado foi
– Como é que você sabe ler e não sabe assinar?
um sucesso. Os brasileiros riram muito com o
Em alguns casos, os folhetos eram pura e
Ao relembrar sua infância nas quebradas da
Ele disse: – É que eu aprendi ler cordel, apren-
jeito estabanado e as estripulias de João Grilo,
simplesmente pirateados, o que fez com que:
Serra de Santana, Patativa do Assaré assinalou:
di ler tudo. Eu leio nome de tudo na vida, leio
que chegou mais tarde às telas de cinema.15
Para proteger o seu direito à autoria, os autores
Aquilo ali, nos dias de domingo, a diversão era
jornal. Agora não sei assinar porque nunca fui
Com igual sucesso, diga-se de passagem. Este
de cordel desenvolveram ao longo dos anos,
a pessoa que sabia ler, ler para aqueles analfa-
pra escola.
foi um caso no qual a televisão, tida por muitos
uma maneira interessante de assinar os textos
betos ouvirem. Era a distração. Não havia casa
que escreviam. Eles passaram a usar as últimas
para não ter folheto de cordel.13 A esse respeito,
Diversos fatores já foram apontados como
contribuiu ativamente para o resgate e a valori-
estrofes do poema para inserir seus nomes de
consta que certa vez o escritor Orígenes Lessa
geradores da crise do cordel, entre os quais as
zação de uma das mais tradicionais, autênticas e
forma disfarçada. Para isso, faziam da estro-
um dos maiores defensores do cordel, chegou a
transformações sociais subseqüentes à Segunda
características forma de expressão popular.
fe um acróstico, ou seja, um texto em que as
afirmar que “até analfabeto lê folhetos”, porque
Grande Guerra, a popularização do rádio e do
primeiras letras dos versos, lidas verticalmen-
acabavam aprendendo-os de cor, de tanto ouvi-
cinema, a construção de Brasília (para onde
te, formam uma palavra. / Com o tempo esse
los nas vozes dos cantadores. Por outro lado,
afluíram milhares de trabalhadores nordestinos,
recurso passou a ser do conhecimento público,
muitas foram as pessoas que fizeram questão de
lá apelidados de “candangos”), a facilidade dos
Américo Pellegrini Filho, professor da Escola de
e os “ladrões” de folhetos passaram a modificar
aprender a ler movidos pela curiosidade de de-
meios de transporte coletivos propiciadora da
Comunicações e Artes da Universidade de São
e até mesmo a cortar as estrofes que traziam a
cifrar por conta própria as histórias maravilhosas
migração interna, etc. Muitas foram as razões,
Paulo, informa que o cordel passou a ser valo-
Antônio Houaiss, Manuel Diegues Júnior, M.
Aos poucos, os centros de pesquisa do cordel
“assinatura” cifrada; mas esse modo de assinar
criptografadas nos folhetos de cordel. O autor,
mas é inegável que a difusão do rádio e, depois,
rizado por brasileiros depois de um artigo de
Cavalcanti Proença e Sebastião Nunes Batista,
foram se multiplicando, sobretudo em sua região
tornou-se uma tradição do cordel, embora nem
xilogravador e editor J. Borges, que teve parca
da televisão, contribuiu para o declínio da ativi-
Orígenes Lessa na revista Anhembi, publicado
responsáveis pela transformação da Casa de Rui
de origem, o Nordeste, onde se destaca o Museu
todos os escritores o utilizem.
educação formal, foi um dos que aprenderam a
dade, pelo fato de proporcionarem divertimento
em dezembro de 1955, e talvez principalmente
Barbosa num fundamental centro de referência
do Homem do Nordeste (integrante da Fundação
12
16
14
como a grande vilã da cultura regional brasileira,
O reconhecimento do cordel
ler com o cordel. A esse respeito, ele relatou um
para a população iletrada “de graça”, uma vez
depois de outro artigo, do estudioso francês
para o estudo da literatura de cordel. Não se
Joaquim Nabuco), e onde diversas universidades
As décadas de 1960 e 1970, marcadas pelo
caso curioso em depoimento videogravado para
pago o aparelho receptor. Todavia, com sua
Raymond Cantel, publicado no Le Monde, de 21
pode esquecer também da iniciativa anterior da
contam com coleções importantes e mantêm
advento do Governo Militar, pela inflação galo-
a Universidade de Brasília:
insuperável capacidade de adaptação, o cordel
de junho de 1969. A partir de inícios da década
Biblioteca Nacional, que, na década de 1950,
programas de estudo sobre o assunto em seus
logo tirou partido desses “concorrentes” para
de 1970, o assunto virou coqueluche para estu-
constituiu extensa e preciosa coleção de folhetos
cursos de pós-graduação. O aval de escritores
decadência do cordel para o grande público. Por
E tem outros poetas que aprenderam a ler no
se renovar, com o surgimento de versões em
diosos brasileiros, formando-se considerável bi-
(hoje conservada em sua Divisão de Música),
consagrados assim como a incorporação do cor-
outro lado, o fim dos anos 70 assinalou um fenô-
bliografia em que se incluem teses e mais teses.
graças aos esforços do professor Bráulio do
del pela comunidade acadêmica foram, sem dú-
Nascimento, um dos mais respeitados conhe-
vida, importantes, em determinado período, para
pante e pela difusão da televisão, assistiram à cordel. Por sinal, tem um poeta amigo meu
folhetos das mais célebres novelas do rádio e da
meno curioso: a popularidade do
que aprendeu a ler e não sabe escrever. Ele
televisão. Fechava-se assim um curioso circuito:
cordel na comunidade acadêmica,
só sabia ler cordel. Um dia foi enterrar um
obras literárias inspiradoras das radionovelas e
Na esfera oficial, o mais significativo reconheci-
cedores de literatura de cordel. Ainda na esfera
que esse tipo de literatura popular antes despre-
anjinho e lá no cartório o rapaz disse:
das telenovelas retornavam à forma literária por
mento do valor cultural da literatura de cordel
federal, o Museu do Folclore, pertencente ao
zada pela intelectualidade adquirisse respeitabili-
intermédio do cordel. Tal foi o caso, por exemplo,
partiu da Fundação Casa de Rui Barbosa, vin-
Instituto Nacional do Folclore, também vincu-
dade. Mas hoje vivemos um outro momento, em
de A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, e de
culada ao Ministério da Cultura. Logo no início
lado ao MinC, inaugurou, em fins da década
que, paralelamente à inserção do cordel no meio
Gabriela Cravo e Canela, de Jorge Amado, adap-
da década de 1960, por iniciativa do diretor
de 1970, a Biblioteca Amadeu Amaral, exclusi-
universitário, assistimos à consolidação de agre-
tadas com grande sucesso por Caetano Cosme da
do Centro de Pesquisa da instituição, Thiers
vamente dedicada à literatura de cordel e com
miações independentes fundadas pelos próprios
Silva e Manuel d’Almeida Filho, respectivamente.
Martins Moreira, foi criado o projeto Literatura
mais de 15.000 títulos em seu acervo, inclusive
cordelistas para preservar e discutir suas obras de
Popular em Verso, objetivando a realização de
raras peças datadas do século XIX. Fica compro-
forma autônoma. Entre elas, merecem desta-
Dado muito interessante, lembrado pela jorna-
levantamentos bibliográficos, a organização
vado assim que, ao menos do caso específico
que a Academia Brasileira de Cordel (Fortaleza,
lista Denise Ramiro no artigo “A redescoberta
de coleções, a preservação de documentos e
do cordel, as instituições oficiais não demons-
1980), a Academia Brasileira de Literatura de
do cordel”, foi a circunstância de que: Também
a publicação de estudos especializados. Essa
traram qualquer miopia ou esnobismo, sabendo
Cordel (Rio de Janeiro, 1988), o Centro Cultural
impulsionou o cordel o fato de ele ir à Rede
iniciativa contou com a consultoria de prestigio-
reconhecer a contribuição única e inimitável do
dos Cordelistas do Ceará (Fortaleza, 1990), e a
Globo com a minissérie O auto da compadecida,
sos pesquisadores, tais como Orígenes Lessa,
cordel para a literatura brasileira como um todo.
Fundação Nordestina de Cordel (Teresina, 1996).
16
Manuel Eudócio Casamento / Marriage | 2005 | cerâmica policromada / polychrome ceramic | 23 x 43 x 35 cm | coleção particular/ private collection
17
A técnica do cordel
A temática do cordel é tão variada quanto
pesquisador pernambucano Liedo Maranhão:
a própria vida, não existindo limites para a
folhetos de conselhos; folhetos de safadeza ou
A métrica mais empregada na literatura de
inventividade de seus autores. Entre os forma-
putaria; folhetos de propaganda; folhetos de
cordel é a sextilha com versos de sete ou cinco
tos narrativos mais encontradiços figuram os
gracejos; folhetos de cachorrada ou descaração.
sílabas, e esquema rímico organizado da seguin-
romances, derivados do romanceiro ibérico. Os
Entre tantas outras vertentes que englobam,
te forma: a, b, c, b, d, b. A forma mais complexa
romances se dividem em várias categorias, as
sem qualquer exagero, todas as facetas e todas
é a décima, cujo esquema rímico mais corrente
mais comuns sendo: os contos da carochinha ou
as atividades da vida humana, no passado, no
é: a, b, b, a, a, c, c, d, d, c; existindo também
de Trancoso (em referência ao escritor português
presente e até no futuro, já que existem também
folhetos com sete versos. Contudo, nenhum
Gonçalo Fernandes Trancoso [c. 1515-c. 1596],
os folhetos de profecias. Tudo isso faz da litera-
desses esquemas é fechado, já que o cordel se
autor de Histórias de proveito e exemplo); os
tura de Cordel um dos mais fidedignos espelhos
renova continuamente, inclusive combinando
romances de animais encantados; os romances
do Brasil, refletindo os feitos, as angústias e as
sextilhas com décimas e efetuando outras ino-
de tradição religiosa; os romances de anti-heróis;
aspirações de seu povo.
vações similares em sua estrutura. O cordelista
os romances de valentia; os romances de amor e
e pesquisador Gonçalo Ferreira da Silva destaca
os romances de sofrimento.
as seguintes modalidades de literatura de cordel
Para fechar este item, é interessante abusar, mais uma vez, da sapiência do professor
oral e escrita: Parcela ou Carretilha; Quadra;
Muito embora o termo folheto seja emprega-
Manuel Diegues Júnior, pois ele elaborou
Sextilha; Setilha; Mourão; Quadrão; Décimas;
do para denominar todo e qualquer libreto de
uma classificação que combina e sinteti-
Martelo-agalopado (modalidade aperfeiçoa-
cordel, os estudiosos costumam distinguir os ro-
za àquelas feitas, independentemente, por
da no Brasil por José Galdino da Silva Duda);
mances dos folhetos em termos conteudísticos.
Ariano Suassuna e por M. Cavalcanti Proença
Galope-à-beira-mar (modalidade criada pelo
Entre os folhetos, as principais subdivisões são:
(esta concebida para a Fundação Casa de Rui
repentista cearense José Pretinho do Crato);
as pelejas, transcrevendo os desafios travados
Barbosa). Congregando as duas, ele chegou ao
Galope alagoano; Gabinete; Glosa; Mote.
pelos cantadores mais famosos; a discussão,
seguinte sistema classificatório:
17
tida como paródia ou derivação da peleja; os
18
folhetos de acontecido, comparáveis ao con-
1. Temas tradicionais:
ceito de não-ficção empregado para os “livros
a. romances e novelas;
de estante” e, portanto, abarcando enorme
b. contos maravilhosos;
variedade de temas; os folhetos de época ou de
c. estórias de animais;
ocasião, verdadeiras reportagens sobre os mais
d. anti-heróis: peripécias e diabruras;
marcantes acontecimentos nacionais e interna-
e. tradição religiosa.
cionais. Outras subdivisões foram listadas pelo
2. Fatos circunstanciais ou acontecidos: a. de natureza física: enchentes, cheias, secas, terremotos, etc.; b. de repercussão social: festas desportos, novelas, astronautas, etc.;
c. cidade e vida urbana; d. crítica e sátira; e. elemento humano: figuras atuais ou atualizadas (Getúlio, ciclo do fanatismo e misticismo, ciclo do cangacerismo, etc.), tipos étnicos e tipos regionais, etc.; 3. Cantorias e pelejas.
Manuel Eudócio | Rendeira / Lacemaker | década de 1990 / 1990’s | cerâmica policromada / polychrome ceramic | 40 x 36 x 28 cm | coleção particular/ private collection
19
Analisando a produção de Minelvino Francisco
O visual do cordel
Silva, a professora Edilene Matos elaborou a seguinte classificação de suas obras, que aqui
Em sua conformação plástica primeira – ainda
reproduzo por julgá-la aplicável ao universo da
vigente nos dias de hoje, embora não mais
produção cordelística como um todo:
exclusiva –, a literatura de cordel se apresentava sob a forma de “folheto” ou “folheto de
20
1. Folhetos de amor;
trovador” (com oito páginas, cerca de 11 x 16
2. Folhetos de metamorfose;
cm), pois seus autores sempre se autodenomina-
3. Folhetos de encantamento;
ram trovadores. Ou então “romance”, “história”
4. Folhetos religiosos;
quando a narrativa é mais longa e exige 16,
5. Folhetos filosóficos;
32 ou mais páginas.20 Os folhetos de cordel de
6. Folhetos de acontecido;
fatura clássica são facilmente identificáveis em
7. Folhetos de valentia;
virtude das capas características em xilogravura.
8. Folhetos moralistas;
Ao contrário do que se poderia pensar, as capas
9. Folhetos de histórias de animais;
fotográficas antecederam as xilográficas, sendo
10. Folhetos de louvação;
ambas antecedidas pelas capas unicamente
As xilogravuras das capas
11. Folhetos históricos;
tipográficas. Conforme explica a professora
dos folhetos de cordel cau-
12. Folhetos de peleja;
Marlyse Meyer: Atribui-se a João Martins de
sam profunda impressão,
13. Folhetos de astúcia.18
Athayde a introdução das ilustrações na capa,
a ponto de o prestigioso
como modo de chamar atenção do comprador.
crítico de arte Antônio
Diversos autores de literatura de cordel, e dos
Assim, surgiram os clichês de artistas de cinema
Bento ter afirmado ser esta
melhores, não são cantadores. Todavia, como
ou de cartões-postais, poses de namorados
a maior contribuição que o
a literatura de cordel é de base essencialmente
para histórias de amor, ilustrações de filmes de
Nordeste ofereceu ao Brasil
oral sendo com freqüência – sobretudo nos
mocinho para folhetos que narrassem valentia.
no campo das artes plásti-
velhos tempos – lida em voz alta, não é raro en-
Depois a xilogravura passou a constituir-se numa
cas. No campo do cordel,
contrar poetas que são também cantadores. As
gravura, feita num taco de madeira (imburana),
o mais conhecido gravador da atualidade é o
transcrições das mais célebres pelejas constituem
que podia ilustrar diversos folhetos de temas
poeta e xilógrafo pernambucano J. Borges, cuja
itens dos mais procurados, muito embora algu-
análogos. Outras madeiras tradicionalmente
arte mereceu elogios entusiásticos de Ariano
mas dessas supostas transcrições tenham sido
empregadas são: pinho, cedro e cajá, atribuin-
Suassuna, que lhe abriram as portas do mercado
inventadas de todas as peças por um único e
do-se ao gravador Dila a primazia no uso da
internacional, onde realizou exposições individu-
inspirado poeta. O fato é que é impossível disso-
borracha vulcanizada para produzir capas pelo
ais e também estabeleceu singular colaboração
ciar a literatura de cordel da arte dos cantadores
processo de linogravura.
com o escritor uruguaio Eduardo Galeano em Os
21
e repentistas. Assim: Nas cantorias da literatura
nascimentos, obra inaugural da trilogia Memória
oral do Nordeste, encontramos dois tipos de po-
Segundo o estudioso Jeová Franklin: O primeiro
do fogo. Além de J. Borges, dois conterrâneos
esia; um tradicional que está sempre na memó-
folheto conhecido a trazer xilogravura, A história
seus, Dila (José Soares da Silva, nascido em
ria dos cantadores, e que serve justamente para
de Antônio Silvino, foi editado, em 1907, pelo
Surubim em 1937) e José Costa Leite (nascido
encher o tempo, e é chamado de “obra feita”;
poeta Francisco das Chagas Batista na Imprensa
em Sapé, na Paraíba, em 1927, porém radicado
outro é o improvisado, é o repente, o verso do
Industrial no Recife. Belíssima estampa de autor
há mais de meio século na cidade pernambu-
momento, dito à face de um fato momentâneo,
desconhecido, possivelmente baseada em
cana de Condado) possuem o prestigioso título
ou a propósito de uma pessoa presente; este
fotografia posada do célebre cangaceiro. Ela
de Patrimônio Vivo de Pernambuco, revertendo
último é o autêntico improviso, muito comum
impressiona pela fineza de traços e pela riqueza
assim a triste sina brasileira de obter reconhe-
sobretudo no desafio.
de detalhes no estilo da gravura européia.
cimento apenas após a morte. São, em vida,
19
22
21
novo fôlego, dando à luz uma série de novos talentosos poetas. O estereótipo do cordelista armado apenas com uma viola e um punhado de folhetos está com os dias contados. Os pequenos livros de poesia produzidos artesanalmente continuam pendurados com pregadores em feiras populares e ainda são lidos em voz alta por poetas-cantadores, como manda o figurino. Mas a outra face desta literatura já começa a aparecer. A nova geração do cordel, no Nordeste, conta com editoras especializadas, parque gráfico, internet, distribuição nacional e circulação cada vez maior no meio acadêmico.23 Curiosamente, a literatura de cordel que os desinformados julgam anacrônica ou, no mínimo, passadista, encontra na internet uma poderosa reconhecidos como personalidades máximas da
Batista (Juazeiro), Severino Gonçalves de Oliveira
aliada para sua renovação, sua preservação e
cultura do Estado, que também persevera na sa-
(Recife), José Costa Leite (Condado), Minelvino
sua difusão em escala verdadeiramente mundial.
bedoria em reconhecer todas as glórias do setor
Francisco Silva (Itabuna), Ciro Fernandes (Rio de
Klévisson Viana (nascido na região cearense de
com alguma conexão com o Estado, como o fez
Janeiro) e Marcelo Alves Soares (São Paulo).
Sertão Central em 1972) tem se revelado um dos
recentemente (30 de abril de 2008) O Diário de Pernambuco, ao dedicar um caderno especial,
22
pontas-de-lança deste cordel computadorizado
Conclusão risonha e otimista
Nobreza do Cordel, ao paraibano Leandro
e internáutico, mas completamente fiel às mais
23
estritas regras do gênero. Entre janeiro e feve-
Gomes de Barros, para assinalar o nonagésimo
Criado no século XIX em sua forma impressa
reiro de 2003 ele protagonizou uma “peleja vir-
aniversário de seu falecimento no Recife, em 4
– muito embora a cantada fosse de data mais
tual” com Rouxinol de Rinaré (nascido Antônio
de março de 1918.
recôndita –, o cordel encontra novo fôlego no
Carlos da Silva, no município cearense de Rinaré,
século XXI. Sem medo da virada do milênio,
em 1966). Depois, realizou outro embate do gê-
Joseph Maria Luyten, um dos maiores especia-
o cordel soube se adequar aos novos tempos
nero com Bráulio Tavares (nascido em Campina
listas em cordel de todos os tempos e autor de
e utilizar a informática e a internet em seu
Grande, na Paraíba, em 1950), que deu origem
obras como A xilogravura popular brasileira e suas
benefício. Estima-se que já foram publicados
ao folheto Peleja de Bráulio Tavares com Antônio
evoluções e A literatura de cordel em São Paulo,
até o presente mais de 100 mil títulos diferentes
Klévisson Viana, publicado pela sua editora
listou também entre os
e esse total não pára de crescer. O jornalista
Tupynanquim, de Fortaleza, em março de 2006.
principais artistas em
Rodrigo Alves foi dos primeiros a assinalar tal
Bráulio Tavares também já era experiente nessa
atividade neste começo
virada no artigo: “Novo cordel. Com nova safra
modalidade pós-moderna de desafio, pois havia
do século XXI: Abraão
de autores, parque gráfico e visão de mercado,
protagonizado o embate editado pela Gráfica
a literatura popular se reinventa e é um sucesso
Martins, de Campina Grande, em fevereiro
editorial”. Neste, afirmou com justeza: Depois da
de 2003: Peleja de Bráulio Tavares, o Rio da
entressafra, a mutação. Passado um período em
Silibrina, com Astier Basílio, o Arquipoeta das
que quase não se produziu literatura de cordel
Borboremas, longuíssimo cordel de 88 páginas
no Brasil, o gênero ainda mantém um pé na
em grande formato (21 x 15,7 cm). A dupla que,
tradição mas ensaia um passo à frente e ganha
ao menos de meu conhecimento, para ter sido a
Autor desconhecido / Author unknow | Sem título / Untitled | s.d. / undated | madeira / wood | dimensões variadas / variable dimensions | coleção particular / private collection
precursora do gênero, havia travado esse embate
como tantos cariocas e paulistas que
tanto, é um desafio. No caso da literatura de
no ano anterior, conforme explicado na contra-
aderiram ao gênero movidos não mais
cordel nordestina, por exemplo, faz parte da
capa do folheto: Esta peleja foi travada via inter-
pela tradição da terra natal e simples-
tradição do gênero o uso de rimas consoantes.
net, por e-mails, entre setembro e outubro de
mente pela paixão:
Se um folheto de cordel usa rimas toantes, o
2002: verso vai, verso vem. Sem limite de tempo,
conhecedor de cordel pensa logo que o autor
mas sempre com a intenção de fazer o melhor
Alguém disse que doutor É poluição
daquele folheto desconhece a existência des-
verso possível no menor tempo possível.
do cordel
sas regras. Um cordel escrito assim pode até
Como se fosse propriedade
ser um grande poema, mas não se pode dizer
Cumpre assinalar aqui que esses “modernismos”
Encerrada em sete véus
que se trata de um “cordel autêntico”, assim
e a presença dos “doutores” no cordel nem
Parada no tempo e espaço
como um automóvel da Ferrari com motor
sempre são bem recebidos pelos mais tradi-
Cavando seu mausoléu.
Rolls-Royce não é uma “Ferrari autêntica”.26
24
cionalistas, como não foram bem recebidas as inovações de Raimundo Santa Helena ao rechear
Cordel se faz doutor
seus livretos com ilustrações retiradas de jornais
Pois o povo brasileiro
O cordel como valor
superando todos os desafios, entrando em sinto-
e outras referências tidas como espúrias no cor-
Está estudando muito
Dum povo que quer vencer
nia com todos os “modernismos” e surfando em
po do texto de seus poemas. Franklin Maxado,
Para vencer bem ligeiro
Ter todos os seus direitos
todas as ondas virtuais, o cordel continua vivo
duplamente “doutor” sob seu nome de batismo,
A escravidão e o atraso
E pra isso tem de saber.
e bem vivo. Por sinal, a cada dia que passa se
Franklin Vitória de Cerqueira Barreiras Machado,
E a falta de dinheiro.
posto que é formado em Direito e Jornalismo,
24
O fato é que, para além de todas as pendengas,
torna mais verdadeiro e atual o bem-humorado Também outro tabu que cai
comentário de mestre Suassuna a respeito das
chegou a ser diretamente atacado por J. Barros
O cordel hoje renova
É de que só o nordestino
perspectivas do cordel: “Todo ano surge algum
(João Antônio de Barros) no folheto Doutor, que
Não é peça de museu
Pode fazer cordel
sulista aqui dizendo que a literatura de cordel
faz no cordel?, em que, deselegantemente, ele
Teve, tem e terá valor
Cada pessoa tem seu tino
está morrendo. Muitos dos que disseram isso já
afirmava que: “Doutor é poluição / Nos livretos
Entretanto o que se deu
O povo é só um só
morreram, o cordel continua vivo”.27 Pois é: assim
de cordel”. Maxado (nascido na cidade baiana
É que os tempos mudaram
E o poeta o seu destino.25
é, e assim será, ainda por longos e longos anos...
de Feira de Santana, em 1945) respondeu ao de-
Pois a vida não morreu.
safeto no folheto O doutor faz em cordel o que
Bráulio Tavares é quem explicita brilhantemente a
cordel fez em Dr., que vale a pena reproduzir em
O folheteiro tem de ir
solução desse impasse em seu Contando histórias
parte, pois elabora uma síntese da situação atual
Vender em outros lugares
em versos: poesia e romanceiro popular no Brasil:
do cordel, marcada pelo ingresso de
Livrarias, galerias
dois novos contingentes: os citados
Teatros, escolas e bares
O poeta é dono do poema. Cabe a ele deter-
“doutores” e os não-nordestinos,
Pois para não ficar parado
minar as regras a que o poema vai obedecer,
Terá de ter outros andares.
se é que haverá regras. O formato de um poema pode ser totalmente novo, criado a partir
Também o povo da roça
do zero; mas existem também os poemas de
Está vindo pra cidade
forma fixa, de forma consagrada: o soneto,
A própria São Paulo já é
o haicai, a terça rima, a sextilha da literatura
Terra de nordestinidade
de cordel... São poemas pré-formatados, por
Com milhões de conterrâneos
assim dizer: existe uma estrutura de estrofes,
Trabalhando de verdade.
alguns esquemas de rimas e algumas regras de métrica que é preciso obedecer – caso o poeta
É preciso atualização
queira fazê-lo. Ninguém é obrigado a usar
Pra não deixar perecer
essas formas; usá-las corretamente, no en-
Miro Mamulengos / Puppets | 2004 | madeira policromada e chita / polychrome wood and fabric | dimensões variadas / variable dimensions | coleção particular / private collection
25
26
Mestre Vitalino Boi / Ox | década de 1950 / 1950’s | cerâmica / ceramic | 45 x 23 x 45 cm | coleção particular/ private collection
Notas
Bibliografia
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Maria Amélia Sem título / Untitled | década de 1980 / 1980’s | cerâmica / ceramic | 75 x 28 x 22 cm | coleção particular / private collection
27
28
TLC (Temistocles Lino da Costa) Vapor / Steamboat | 2007 | madeira policromada e papelão reciclado / polychrome wood and recycled paper | 54 x 100 x 27 cm | coleção particular / private collection
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(...) O cordel veio da Europa Com a poesia e repente.
A evolução da literatura de cordel
Quando surgiu a Imprensa,
***********
Na inspiração quente
Foi escrito para a gente O que se falava e cantava
Maria Rosário Pinto
(...) Na Península Ibérica, E pela força dos mouros, Arrastavam a voz final Num lamento duradouro,
O objetivo deste estudo é estimular a discussão
E com o som dos ciganos,
sobre a evolução e a permanência da literatura
Cantavam com voz de agouro.
de cordel em nossos dias, com os criadores/autores e estudiosos do cordel e com outros interes-
O poeta, João José dos Santos, Mestre Azulão,
sados no assunto. Somente dessa forma chega-
também se refere às origens do cordel em O que
remos a conclusões que nos possibilitem esboçar
é literatura de cordel? (200-?).
determinadas alternativas e estabelecer diretrizes de maior relevância à divulgação desta literatura.
(...) São heranças européias
As proposições aqui apresentadas serão demons-
De Espanha e Portugal
tradas através dos versos e dos seus autores.
E toda penínssula ibérica Que de um modo geral
A literatura de cordel tem suas origens no ro-
Os europeus imigrantes
manceiro da Península Ibérica e da França, sendo
Vindo das terras distantes
denominada, na Espanha, de pliegos sueltos;
Ao Brasil colonial
em Portugal, folhas volantes, soltas ou avulsas e na França, littérature de colportage. Chegou ao
Em Portugal e Espanha
Brasil por intermédio dos portugueses – originá-
Seus poetas menestréis
ria do cancioneiro lusitano –, tendo sido introdu-
Com versos de quatro e dez
zida na Península Ibérica pelos árabes, que por lá
Por folhas soltas chamadas
chegaram por volta do ano 711 e foram expulsos
E espunham penduradas
no ano de 1492, o que significou oito séculos de
Em cordinhas ou cordéis
dominação e influência cultural. Depois de bastante estudo
Franklin Maxado Nordestino em seu folheto O
E uma análise fiel
cordel do cordel (1982) nos mostra uma panorâ-
Observaram o formato
mica da literatura de cordel desde suas origens,
Em estilo de painel
passando pelos grandes temas e preocupações
Chamavam esta cultura
do cordelista com sua evolução, permanência e
De nome literatura
difusão até nossos dias.
Popular e de cordel
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(cordéis) – nas feiras populares ou nas casas co-
nos evidencia a força dos folhetos de cordel no
erência dos temas, estilos e conteúdos próprios
Tem os heróis milagreiros,
merciais em que são vendidos. O poeta Franklin
Nordeste brasileiro:
da literatura de cordel. Essa é uma mola que não
Mágicos, cômicos, históricos,
enferruja, nem pára... A estagnação não faz parte
Irônicos ou macumbeiros.
Maxado Nordestino, em seu folheto O cordel do cordel (1982), nos exemplifica:
(...) No nordeste ele ganhou
do mundo dos poetas de cordel, por isso, a sua
tanta popularidade
evolução e permanência no universo literário bra-
(...) Têm de ter um algo mais,
(...) O folheto é mostrado
que os velhos camponeses
sileiro. Um dado significativo no rol de preocupa-
Conhecendo a teoria.
No cordel, que é cordinha,
foram buscar a verdade
ções desses poetas é a educação – eles mantêm
Pois, poeta já é dom
Onde o vate dependura
no folheto de cordel
constante ligação com escolas, universidades e
Que nasce com a poesia.
Seus romances e folhinhas
que o poeta menestrel
demais instituições de ensino, com olhos voltados
E o Cordel do Cordel
Pra vendê-los na Europa,
ia vendar na cidade
para o fomento da literatura de cordel entre os
Não é uma fraseologia!
estudantes, buscando despertar o interesse e pos-
Fazendo sua feirinha
Essa literatura popular – constituída pela poesia
O poeta João José dos Santos, Mestre Azulão,
Cordel não é carretel,
Também o poeta Juvenal Evangelista dos Santos,
também ressalta o Nordeste como celeiro da
tos, obedece a critérios de rigor poético quanto
em Origens da literatura de cordel, nos mostra:
poesia de cordel, ainda em seu folheto O que é
Franklin Maxado nos informa ainda:
E o novo leitor-poeta
literatura de cordel?
Com ele, é que se alinha,
às rimas, às métricas e aos ritmos. Os poetas Zé Maria de Fortaleza, Arievaldo Viana e Klévisson
(...) Porque chamou-se cordel
Viana nos esclarecem, no folheto A didática do
Por ser vendido em cordão
cordel, por que o termo literatura de cordel.
Mas mantém a sua linha.
(...) O cordel tem seus folhetos
Não deixando alinhavado
(...) O Nordeste é o seleiro
Que também são biográficos.
O seu verso e advinha.
Devido lama e poeira
Do cordel e do repente
Têm os que descrevem exemplo,
Ficava alto do chão
Tem humorista e poeta
Mas também os pornográficos,
Mestre Azulão também nos fala sobre o valor do
(...) O folheto popular
Da cultura cordelista
Do velho ao adolescente
E têm os que dão notícias,
cordel como fonte de informação e notícias:
Denominado cordel
É a sua tradição
O humor, a poesia
Parecendo jornais gráficos.
A sua definição
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sibilitando a formação de novos poetas.
de composição –, impressa sob a forma de folhe-
É a célula que se cria
Segundo Raymond Cantel
A literatura de cordel chega ao Brasil, na baga-
É poesia popular
gem dos colonizadores, por volta do século 16.
Impressa sobre o papel
Atingiu maior expressão na região Nordeste,
Nossos cordelistas são, por natureza, sagazes.
No sangue daquela gente
em função das peculiares condições sociais e
Sempre atentos aos fatos históricos, do cotidiano
É uma literatura
culturais, tais como, a presença de manifesta-
brasileiro e do mundo; às mudanças por que
Cujos temas hoje são
ções messiânicas e do cangaço, os desequilíbrios
passa a sociedade em todos os seus níveis e,
Aproveitados na música
econômicos e sociais provocados, entre outros
também, aos fatos jornalísticos.
Cinema e televisão
fatores, pelas condições climáticas, como as
No seu valor literário
secas periódicas, como continua nos exemplifi-
Desde seus primórdios até nossos dias, a lite-
Está a sua expansão
cando Franklin Maxado Nordestino:
ratura de cordel serve à divulgação de histórias
(...) Esta cultura tem dado Tem os romances de bichos
Informação e ensinos
Misteriosos, mandingueiros,
As escolas do nordeste
Que falam, cantam, casam.
Para adultos e meninos
tradicionais, narrativas que a memória popular Vai da história real
(...) No Brasil ele ficou
vai conservando e transmitindo; são romances ou
Até as lendas e mitos
Chamado de abecê
novelas de cavalaria, contos, lendas, narrativas de
E com essa acepção
Ou de folheto de feira.
guerras, viagens ou grandes conquistas. Narram
Escritores eruditos
Você pode isso ler.
também fatos do cotidiano e acontecimentos
Com essa literatura
E ficou mais no Nordeste
sociais que prendem a atenção da população.
Dão seqüência aos seus escritos
Com seu povo a sofrer.
Os fatores que regem o ato criativo do poeta de O termo cordel está relacionado à forma de
O poeta, Gonçalo Ferreira da Silva, presidente
cordel são: a sensibilidade, a sagacidade, o olhar
exposição desses folhetos – presos em barbantes
da Academia Brasileira de Literatura de Cordel,
observador e, sobretudo, o cuidado com a co-
Manuel Eudócio Banda / Band | década de 1990 / 1990’s | cerâmica policromada / polychrome ceramic | 43 x 70 x 30 cm | coleção particular / private collection
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Servindo como jornais
(...) Desculpem minha franqueza
Segundo as autoridades
de cordel, dados básicos [19--], folheto em
No improviso se sabe
Que levam das capitais
Ao tratar qualquer questão,
Sanitárias eis aqui
prosa, no qual apresenta uma classificação da
Quem possue melhor talento
Para os sertões nordestinos
Sou cordelista: não tenho
Os cuidados a tomar.
literatura de cordel, desde suas origens, sua
Por isso são convidados
Compromisso com facção.
Pesquisei e converti
evolução até a fase mais contemporânea. Editou
Nas festas de batizados
E segue ressaltando o valor e a credibilidade
Meu verso é minha bandeira,
Em versos simples, diretos,
ainda o folheto Museu do cordel (1999), que
Vaquejada e casamento
das informações contidas nos folhetos de cordel
Exponho de feira em feira
Neste Cordel que escrevi.
nos informa sobre a fundação de um museu de-
e divulgadas em feiras e praças públicas pelos
Minha livre opinião!
dicado à literatura de cordel e xilogravura, com o
Na rapidez do repente
É uma infecção aguda,
objetivo de criar um espaço dedicado a pes-
No pontear da viola
Dentre suas preocupações, o cordelista
Contagiosa, causada
quisas e à promoção de eventos nessa área da
A toada harmoniosa
(...) Repentistas e cordelistas,
também assume postura esclarecedora e
Pelo Vibrião Colérico,
cultura popular, congregando poetas, xilógrafos,
Tem compaço e tem bitola
São conhecidos demais
didática sobre campanhas relacionadas à
E que se não for tratada
estudantes e pesquisadores em geral.
Para quem fizer estudo
Seus repentes e cordéis
política, à educação, à saúde pública e à pre-
Com a urgência devida
São verdadeiros jornais
servação do meio ambiente.
Decreta o fim da fornada!
poetas e cantadores:
Que levam pra todas feiras
Encontra arte pra tudo (...) A fundação de museu
Numa verdadeira escola
Só ao cordel dedicado,
As notícias brasileiras
Ainda nos mostra Manoel Santa Maria em seu
E o poeta segue sua jornada esclarecedora
Aos folhetos, às gravuras
(...) Luiz da Câmara Cascudo
E internacionais
folheto Defenda-se contra o cólera (1992):
sobre as medidas a serem tomadas para evitar a
E ao xilo destinado;
Foi grande folclorista
As velhas fontes e prelos,
Fez um estudo completo
Originais amarelos
Do poeta cordelista
Terão lugar reservado.
Que hoje serve de escola
De sanfona à tira-colo
Desde o ganzá a viola
Inspirado bem na Lira
Do cantador repentista
Com a proteção de Apólo
(...) A central finalidade É preservar a cultura;
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O cantador de repente,
Dos primeiros cantadores
Autor de xilogravura,
Cegos e analfabetos
Promover expedições
E até negros escravos
Ele não pedia esmolas
E fazer reedições
Que cantavam em desafetos
Pois ali comerciava
Da nossa literatura
Passando estas tradições
Seus folhetos espalhados
Para outras gerações
Que o guia controlava
Filhos, netos e bisnetos
O freguês em recompensa
E sobre as cantorias e pelejas, exaltando figura dos contaminação, fechando com a estrofe:
Ele cantava os folhetos
repentistas cantadores, Franklin Maxado nos diz:
O fole fazia o solo
Confiam mais no poetas
Não vou lhes brindar com nada
Porque são muitos fiéis
Artístico no momento.
Desconfiam dos jornais
Serei breve e objetivo
(...) Finalizando, eu espero
(...) Os de pelejas são célebres
De letra e evolução
Delarme Monteiro da Silva também nos mostra
Que mentem nos seus papéis
Para lograr meu intento.
Que este folheto lhe ajude
Como a de Zé Pretinho,
Esta cultura passou
sua preocupação e nos dá notícias da evolução
Dizendo em praças e feiras
Minha função é didática,
Contra o cólera, porém
Cego Aderaldo, Bandeira,
Por uma lapidação
da literatura de cordel através de seus poetas,
Que notícias verdadeiras
No Cordel que ora apresento.
A higiênica atitude
Fabião e Passarinho,
Rádios, jornais, revistas
cantadores, editores e distribuidores, em seu
É sua melhor defesa,
Ana Roxinha, Milanês,
Onde os grandes repentistas
folheto Nordeste, cordel, repente e canção [19--].
Tratando-se de saúde!
Riachão e Canhotinho
Fazem dela profissão
Evidencia a importância social da literatura de
São aquelas dos cordéis Em Grego, no masculino,
Um livro sempre comprava Até chegando ao presente
É importante ressaltar o caráter opinativo do poe-
Era “o cólera”, mas não
cordel, conforme citação abaixo:
ta de cordel, livre de censuras ou compromissos de
Sou filósofo pra entrar
O presidente da Academia Brasileira de
encomendas, como mostra o poeta Manoel Santa
No âmago dessa questão.
Literatura de Cordel, Gonçalo Ferreira da Silva,
Maria em sua última estrofe do folheto Aiatolá
Sou apenas cordelista
preocupado com a difusão do cordel nas escolas
(...) Os repentistas são astros
Komeini e outros carrascos modernos (1989):
De alma, corpo e coração!
e demais meios acadêmicos, publica Literatura
Do maior divertimento
Azulão também fala dos cantadores repentistas:
E falando sobre a figura do cantador, Delarme Monteiro nos diz...
(...) Dos poetas de cordel Foi Leandro, o pioneiro
(...) Havia também um cego
Aqui dentro do Recife
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Assim foi ele o primeiro
Ali ganhava o meu pão
A distribuir folhetos
De repente me senti
Por este Nordeste inteiro
Jogado na contramão
Leandro Gomes de Barros
Então procurei um jeito
Homem que tinha pujança
– O senhor Delarme, quem é?
(...) O papel subiu de preço
Mas sem perder a esperança e confiança na
Tornou-se objeto raro
literatura de cordel, o poeta Delarme Monteiro
Então eu me aproximei
A tinta rolos e tipos
relata sobre o interesse que o cordel vem des-
A ele fui atender
Tiveram alta é bem claro
pertando em sociólogos, cientistas, estudantes e
João José me perguntou
Então nosso folhetinho
instituições de educação e cultura.
Pra sair do “atolleiro”
O senhor pode dizer
Passou a custar muito caro
Na feitura dos seus versos
Escrevi pra Zé Bernardo
Se aqui vende folheto
Com beleza e segurança
Contando tudo primeiro
Para agente revender
Morreu só deixando rimas
Ele então me convidou
Pra viúva como herança
Pra visitar Juazeiro
(...) Tanto que os sociólogos (...) Já era quase impossível
Então se preocupando
Para o poeta editar
Percorrem todo o Nordeste
(...) De fato com poucos meses
Continuar fornecendo
Gravando e fotografando
João José se aprumou
Livros ao revendedor
Pra dar força ao folclore Que anda cambaleando
Com a morte de Leandro
Lá fizemos um contrato
Conseguiu comprar um prelo
Com as mesmas condições
A viúva precisando
Coisa de muito valor
Uma gráfica montou
Do sistema anterior
Vendeu tudo a Athayde
Fiquei sendo no Recife
De poeta folheteiro
Que já vinha se entrosando
Único distribuidor
Para gossista passou
Com versos de sua lavra
Dos livros de Athayde
Aos poucos se levantando
Pra qualquer interior
Na direção do Athayde
E assim em pouco tempo
A poesia cresceu O acervo de Leandro
No Rio de Janeiro breve Eu não podendo comprir
Um filme vai ser rodado
O meu contrato assinado
O cenário é o Nordeste
Isto para quem chegou
Zé Bernardo inda era vivo,
Que será representado
Puxando uma “cachorrinha”
Comigo ficou zangado
Por poetas violeiros
Comendo no “come em pé”
Mandou fechar o depósito
Cantos de coco embolado
Aos poetas avisei
Meia sôpa com farinha
Do beco do Sirigado
No beco do Sirigado
Prova que a literatura
Ele juntou com o seu
O depósito instalei
De cordel já rainha
O cordel em pouco tempo
Cartas pra outros Estados
Atingiu o apogeu
Com catálogos mandei
(...) Esse filme documento O poeta João José
Está sobre a direção
Ainda continuou
Da jovem Tânia Quaresma
Me refiri ao poeta
A fabricar seus livrinhos
Moça de disposição
João José mas sem maldade
Mas também se afastou
Vive sempre em movimento E quer ver tudo em ação
Athayde adoecendo
(...) Daí então o cordel
Quiz só mostrar pro leito
Vendo a coisa “ficar preta”
Vendeu a tipografia
Recomeçou a ter vida
Com que tal facilidade
Sua gráfica fechou
A José Bernardo da Silva
A freguesia chegando
O cordel dava dinheiro
Que do ramo conhecia
E eu gostando da lida
Aqui dentro da cidade
Levando pro Ceará
Qualquer livro que botasse
Toda a nossa poesia
Era de pronta saída
Os folheteiros antigos Seguiram outros caminhos
E Delarme Monteiro ainda rimando suas observa-
Pois não suportando os preços
ções sobre a fase áurea da literatura de cordel...
Deixaram nossos livrinhos
Ficando sem impressora
E, continua referindo-se ao poeta e editor José
Jogados quase ao relento
Bernardo da Silva, que viria a se tornar um
Foi esta a “fase de ouro”
Pois centenas de poetas
dos maiores editores do Nordeste, criando a
Do poeta de cordel
Dali tiravam o sustento
Tipografia São Francisco.
Até mil nove centos
Isso veio piorar
E sessenta, inda era mel
A nossa situação
(...) Certo dia em meu balcão
Porém depois dessa data
Já não há mais editores
Surgiu um tal João José
Chegava a taça de fel
Próprias pra confecção
Isto para Pernambuco Foi um golpe violento
Pra vender jornal de samba
Eu mesmo senti o golpe
Numa roupinha “sambada”
E a grande decepção
Tamanco velho no pé
Delarme também nos fala sobre a crise sofrida
Trabalhava com Athayde
Perguntou pra meu irmão
pela indústria do papel...
Galdino Sem título / Untitled | década de 1980 / 1980’s | cerâmica / ceramic | 94 x 25 x 40 cm | coleção particular / private collection
E revistas em quadrinhos
De folhetos populares E sua divulgação
Mestre Solon Pastoril / Pastoral | década de 1950 / 1950’s | cerâmica policromada / polychrome ceramic | 30 x 25 x 34 cm | coleção particular / private collection
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(...) Assim leitor, o cordel
Hoje vemos o cordel ocupando espaços públicos
(...) Com toda televisão,
Sempre ficará lembrado
–, a mídia impressa, radiofônica, televisiva, ci-
Rádios, discos e novelas,
E jamais pode cair
nematográfica, o mercado editorial e também a
O ABC de cordel
Cabe ressaltar a confiança despertada no mer-
O folhetinho rimado
mídia virtual. Fazem parte de pautas jornalísticas
É o jornal e a vela
cado editorial nos trabalhos realizados, pelas
Que pra todo nordestino
as matérias sobre a literatura de cordel e seus
Que ilumina o sertão,
editoras, não somente aquelas que se dedicam,
Tem um bonito passado
autores, ampliam-se as programações de rádio
E, nas cidades, a viela.
exclusivamente, à publicação de folhetos de
em torno dos poetas de cordel e em especial dos
cordel, mas as grandes editoras, que ocupam
Leitor não digo mais nada
cantadores. É cada vez mais freqüente vermos o
O cinema, que anteriormente inspirou as ilustra-
o parque editorial e que hoje se voltam para
Sobre essa promoção
cordel abordado na televisão, seja em seus folhe-
ções de capas de folhetos, hoje trata da poesia
este tipo de publicação, como ainda nos afirma
Da poesia que Tânia
tins (novelas) ou em produções de documentários
de cordel, como tema poético e também de
Franklin Maxado Nordestino:
Faz com tanta animação
sobre o assunto. Estes são mais freqüentes nas
seus roteiros com alguma freqüência, como nos
Porque não tem mais papel
programações de TV por assinatura, o que ainda
mostra Raimundo Santa Helena em seu folheto
(...) Seus poetas são também
Pra fazer a redação
significa uma limitação, se considerarmos que a
intitulado Glauber (1981):
Editores e vendedores.
maioria da população não tem acesso a esse tipo E Delarme encerra seus versos com o clássico acrósti-
de transmissão, dado ao seu elevado custo.
(...) Deixei aqui pro leitor
Saem lendo e cantando, Apagai esta luz, eletricista!
Procurando os leitores
Sem roteiro pra que o refletor.
Que gostam das novidades
Sobre a inserção do cordel nas rádios, Azulão
Sem cenário pra que o operador,
E versos de mil amores.
nos informa:
Diretor, assistente, roteirista,
co, que reafirma sua convicção de poeta de cordel...
Essa dica do cordel
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povo pelos temas singelos da literatura popular.
Contra-regra, pra que argumentista
A literatura de cordel também está presente na
Lamento profundamente
(...) Todos rádios do nordeste
Pra que cena, pra que trilha sonora.
mídia virtual, seja como páginas de documentos
A minha sorte cruel
Tem programas todo dia
O mocinho, de veras morre agora.
sobre o assunto, seja como publicações de poetas
Rimo só desde os 20 anos
De cantador repentista
Lá no Céu, cad’estrela, uma tocha...
que dela se utilizam para veicular seus folhetos e
Mas só guardei desenganos
Que para o povo anuncia
Vai com Deus, cineasta GLAUBER ROCHA!
mesmo como tema. Vale citar o folheto A internet
E rimas sobre cordel
Como verdadeiras prendas
Cad’amigo que fica, por ti chora...
no reino da rapadura [20--], do cordelista João Batista Melo, nos versos selecionados que seguem:
Qual o sítio ou a fazenda
As correntes migratórias para o sul do País,
Que vai haver cantoria
trouxeram, também em seu caminho, a produ-
A recente produção cinematográfica baseada na obra O auto da compadecida, de Ariano
Certo dia eu tava em casa
ção de folheto, ocasião em que surgem as editoras
E Franklin Maxado reafirma a resistência do
Suassuna, obteve uma das maiores bilheterias do
na minha vida informal
Prelúdio e posteriormente Luzeiro, em São Paulo (SP).
cordel diante da televisão:
País, fato que confirma o interesse da população
lutando no dia-a-dia
pelo tema, deixando, assim, clara, a preferência do
neste momento global
A presença da literatura de cordel nos grandes centros urbanos ameniza, de certa forma, a saudade, que traz consigo o imigrante nordestino. Segue Franklin Maxado Nordestino, evidenciando a transposição dos heróis medievais para os cangaceiros do nordeste brasileiro: (...) Na colônia se criou Com raiz lá no Nordeste. Seus heróis medievais, Foram os cabras da peste Com Lampião pela frente, Se espalhando pelo Leste.
Manuel Eudócio Lampião e Maria Bonita | 2005 | cerâmica policromada / polychrome ceramic | c. 95 x 25 x 29 cm (cada peça) / each piece | coleção particular / private collection
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quando ouvi alguém gritar:
Genebra, na Suíça. Esses são, alguns exemplos,
E ao falar sobre essa evolução através dos
“Ô poeta venha cá...
da permanência e, mais que isso, da resistên-
modernos meios de comunicação de massas,
chegue aqui no meu quintal...”
cia do cordel, no Brasil e no mundo, como nos
Franklin Maxado nos diz em seu livro O cordel
afirma Azulão, em versos que instigam o estudo
televivo, futuro, presente e passado da litera-
da literatura de cordel:
tura de cordel (1984) – “o folheto de literatura
Era a vizinha do lado
de cordel, assim, bem pode virar uma caixinha
de nome dona Gildete mãe de oito “capetinhas”
(...) Até mesmo o brasileiro
contendo fitas magnéticas”, realizando então a
desses de pintar o sete
Que descobrir a beleza
profecia de Câmara Cascudo que diz:
que queria porque queria
Desta cultura e quiser
que eu fizesse em poesia
Pesquisar esta riqueza
Amanhã, as formas mais primitivas de mani-
algo sobre a INTERNET
Tem que deixar seu país
festações populares passarão também para o
Ir à Sorbone em Paris
litoral e se transformarão em teatro moderno,
Grande exposição francesa
cinema, romances, poemas. Por isso, nunca
Me propus então versar essa jovem genial
desaparecem. Elas se transformam.
que está mudando o mundo
Lá você encontra tudo
de forma fenomenal
Em relação ao cordel
criando Elo e cadeia
Escrito e microfilmado
tornando tudo uma aldeia
Exposto em grande painel
(...) Ele não pode morrer!
neste contexto global
Gravação e microfone
Lanço aqui o desafio
Levado para a Sorbone
Para seus novos poetas,
Pelo o professor Cantel
Que não usam mais o fio
(...) Para muitos ela é visagem espírito da Caipora
40
E Franklin Maxado segue afirmando em versos:
Para dependurar folhetos,
a Sereia dos novos tempos
Quase toda a Europa tem
pelos espaços afora
Cordéis na exposição
que em fração de segundo
Se encontra nas Américas
A utilização de diferentes mídias
consegue dá volta ao mundo
Até mesmo no Japão
para a edição e divulgação
com a notícia na hora
Foram por pesquisadores
da literatura de cordel,
Cordéis de muitos autores
não a alteram em sua
Até mesmo de Azulão
essência. Os versos
Dispondo do seu trabalho
Mas que lhe acendam o pavio
41
de cordel permane-
se tem o mundo à mão se “navega” à vontade
Por mais que os pessimistas insistam em apon-
cem vivos e atuais,
sem medos de colisão
tar o estrangulamento dos espaços públicos
cabendo aos poetas
só com um teclar de dedos
destinados à literatura de cordel, como feiras e
modernos e aos estu-
o mundo perde segredos
instituições públicas, é gratificante verificarmos
diosos da atualidade
e se ganha informação
a resistência desses setores em todo o País, que
responsabilizarem-se por
mantêm viva sua tradição.
esta forma literária.
A preocupação com a manutenção do cordel também é observada em instituições interna-
O cordel está vivo e evoluindo, podendo até
cionais, tais como, os trabalhos realizados pelo
mudar de fisionomia, mas, certamente, manten-
Instituto da Universidade de Poitiers, na França;
do suas características de conteúdo e riqueza
e, o acervo, em língua portuguesa e os traduzi-
nas formas métricas, rítmicas e nas rimas, tendo
dos deixados pelo professor Jean Christinat, em
como resultado a beleza da literatura popular.
Maria Rosário Pinto é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel e responsável pelo acervo de folhetos de cordel da Biblioteca Amadeu Amaral, no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
Bibliografia Santos, José João dos Santos. O que é literatura de cordel? Japeri: [s.n., 200-]. Melo, João Batista. A internet no reino da rapadura. Niterói: [s.n., 19--]. Nordestino, Franklin Maxado. O cordel do cordel. São Paulo: [s.n.], 1982. _____. O cordel televivo, futuro, presente e passado da literatura de cordel. Rio de Janeiro: Codecri, 1984. Santa Helena, Raimundo. Glauber: cineasta que morreu pelo Brasil. Salvador: [s.n], 1981. Santamaria, Manoel. Aiatolá Komeini e outros carrascos. Araruama: [s.n.], 1989. _____. Defenda-se contra o cólera. Araruama: [s.n.], 1992. Silva, Delarme Monteiro da. Nordeste, cordel, repente, canção. Bezerros: [s.n.,19--].
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José Bezerra, Edimilson & Leandro Beatas / Beatas | 2007 | madeira / wood | dimensões variadas / variable dimensions | coleção particular / private collection
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The universe of stories on strings
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A different way of viewing the world
Cordel, creation of the people
Foreword
Its roots may well stretch back to the Middle Ages, when the Iberian Peninsula was under Arab rule; cordel literature is certainly a type of folk tale that seems cut across History, with its special way of portraying the world. The medieval universe where it originated is still today apparent in classic romances of this genre, such as Pavão misterioso or Donzela Teodora. But while following its traditional form, the cordel poets of Brazil skillfully introduced local color into their stories, recounting the drylands saga of the Northeast and its outback outlaws, feared and fêted for their feats, rather than lamenting the noose that was the fate of many of them. Wielded as sharp tools criticizing the powerful, humor and satire are always well to the fore in this literature, such as the narrative of the arrival in hell of Lampião − the Sundance Kid of Northeast Brazil. A keen social awareness is quite apparent whenever these poets of the people address scarcity and need. Like journalism exploring its ordinary surroundings in order to draw moral lessons from everyday events, this literature written by the masses for the masses never cease to amaze us. Far from slipping into decline, eclipsed by more sophisticated media and instant communications, cordel literature has shown an extraordinary power of adaptation and modernization. Its famous song duels and challenges known as pelejas or desafios can now be fought over the internet, and the folhetos de acontecido narrate matters of interest to the people that range from praising Formula 1 champion Ayrton Senna for the glories he brought to his homeland through to eulogizing environmentalist Chico Mendes, the rubber-tapper who gave his life to save Amazonia. In Pernambuco State, many healthcare campaigns work with cordel poets whose works are peddled at country fairs, in order to provide vital information on diseases such as cholera and how to avoid them. And it should never be forgotten that all these sub-genres are accompanied by woodcuts, lovingly grooved to illustrate the covers of cordel booklets. Carried by migrants fleeing the droughts of the Northeast, this typical literature has put down cultural roots in urban hubs all over Brazil. In São Paulo or Recife, João Pessoa or Fortaleza, it continues to confirm that the Brazilian people are well aware of the values underpinning citizens’ rights, together with social accountability and sustainability. Long considered the poor country cousin of Brazilian literature, it is high time to restore the cordel to its rightful place, as a cultural expression manifesting values that are crucial for the times in which we live. By sponsoring this Exhibition, the Instituto Cultural Banco Real is honored to host the work and wisdom of the people of Northeast Brazil, presented through the folk art of the cordel universe.
Brought to Colonial Brazil by Portuguese settlers, perhaps as early as the XVI century, cordel booklets were commonplace in the Iberian Peninsula. Known as pliegos sueltos in Spain and volantes in Portugal, their narratives explored a wide variety of topics, ranging from folklore, morality tales and accounts of marvels through to noteworthy events in daily life, such the execution of a condemned man. A form of littérature de colportage, hawked at street fairs by peddlers traveling the length and breadth of Europe, and created by poets of the people for their unlettered publics, these stories in verse were recounted aloud or chanted in bustling marketplaces. This was how they spread through Brazil, flourishing in its harsh Northeast drylands and giving rise to a specialized publishing industry during the XIX and early XX centuries that printed and distributed the works of local folk poets in booklets that sometimes reached print-runs undreamed of by mainstream authors in Brazil and elsewhere in the world. The extraordinarily rich universe of cordel literature is far from fading away, outstripped by modern communications media and overshadowed as a ‘traditional’ type of creation. Much to the contrary, this genre is demonstrating the immense capacity for renewal that permeates this world of words, music, imagination and the creative spirit, expressed through the woodcuts that have long illustrated the covers of cordel booklets. With its independent production, circulation and distribution assured among the people, cordel literature attracted the attention of academic circles from the 1970s onwards, through studies and research projects that were to legitimize its presence far from its simple roots. Today, several highly-respected institutions have built up impressive collections of cordel literature, including the National Library, the Casa de Rui Barbosa Foundation, the Brazilian Literary Academy and the Fine Arts Museum, among many others. This folk art even has its own institution: the Brazilian Academy for Cordel Literature, whose members include poets able to recount in verse the history of cordel literature in Brazil! As conceptualized by its Curators Franklin Espath Pedroso and Pedro Afonso Vasquez, the purpose of The Cordel Universe is to guide the public of Pernambuco State through a world that involves not only literary creation in verse and its association with music, in the song duels and improvisation challenges chanted by quick-thinking repentistas, but also the woodcuts that illustrate their covers, often cut by the poets themselves, including J. Borges and José Costa Leite. In order to chart this unique world, the Exhibition must trace the development of cordel literature back to its roots, exploring its main sub-genres and authors, examining its poetic formats that are defined through the rhyme patterns of their stanzas, in addition to the preparation of its woodcut blocks and the processes used to print and bind these booklets. By hosting this Exhibition of folk arts so characteristic of Northeast Brazil, the Instituto Cultural Banco Real also pays tribute its people.
For us, organizing the Exhibition on The Cordel Universe at the Instituto Cultural Banco Real in Recife is a very special occasion, enhanced by the honor and pleasure of displaying these works at an institution that has become a cultural benchmark. This is because we have not only been able to attain our goal of presenting an overview of cordel literature in the homeland of this rich literary genre, but also do so − through a fortunate coincidence − on the ninetieth anniversary of the death of pioneering cordel master Leandro Gomes de Barros, who passed away in this same city of Recife on March 4, 1918. Quite obviously, a project of this type can be implemented only through generous and selfless contributions from many individuals and institutions, enlightening us with their sage advice and honoring us by lending items from their collections. Outstanding among the researchers we wish to thank are: Delzimar do Nascimento Coutinho, Director of the Folklore Division, State Cultural Heritage Institute under the Rio de Janeiro State Culture Bureau (one of the organizers of the important congress on Cordel Literature in Greater Rio in 1978); Maria Rosário Pinto, from the Amadeu Amaral Library, Folklore and Culture Center (in charge of developing the innovative cordel booklet catalog system); Gonçalo Ferreira da Silva, President of the Brazilian Cordel Literature Academy (a prolific cordel writer and editor of the Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel); and Braulio Tavares (playwright, song-writer, cordel poet and essayist, the author of Contando Histórias em Versos: Poesia e Romanceiro Popular no Brasil). These four eminent specialists shared their knowledge with us in exclusive interviews that provided insights and input for this Exhibition. We would like to thank also the collectors who honored us with their trust and generously welcomed us into their homes, allowing access to their precious collections so that we could share some of these treasures with the public at large. We offer them our acknowledgment and gratitude. We are equally indebted to the Museum of the Man of the Northeast, the Joaquim Nabuco Foundation, and its competent staff. Well-deserved praise is also due to all those engaged in the production of cordel booklets over the years, from writers and woodcut artists through to their publishers; from printers to peddlers distributing these booklets in the course of their travels; from researchers to lecturers; from librarians and archivists to private collectors. In fact, to all those who have kept cordel literature alive for more than a century, constantly renewed as shown through more than 2,000 works featured in this Exhibition. Finally, we thank the Instituto Cultural Banco Real and its staff, without whose trust and support this Exhibition of The Cordel Universe would never have been presented.
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Fabio Colletti Barbosa Chief Executive Officer - Banco Real
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************ Franklin Espath Pedroso Pedro Afonso Vasquez
Carlos Trevi Coordinator - Instituto Cultural Banco Real
Autor desconhecido / Author unknow | Nossa Senhora da Conceição / Our Lady of Conception | s.d. / undated | madeira / wood | 115 x 28 x 27 cm
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The universe of stories on strings ************ Pedro Afonso Vasquez In memoriam José Laurenio de Melo, Master and Friend
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The origins of Brazil’s cordel literature − stories on strings − are closely entwined with the roots of the nation. This is the view of Professor Manuel Diegues Júnior, who affirms: “The word cordel comes from Portugal, meaning the cord or string on which these booklets were displayed for sale. They were mentioned under this name by Teófilo Braga in Portugal during the XVII century, if not even earlier. It may also be said that this type of poetry is related to the romanceiro, similar to Britain’s chapbooks, recounting romantic tales in poetry. The presence of cordel literature in Northeast Brazil stretches back to Portugal, introduced to the New World with the romanceiro tales of the Iberian Peninsula and distributed in Brazil, perhaps as early as the XVI century, or certainly no later than the XVII century, brought over by settlers in their baggage.” 1 There seems to be widespread agreement about the Iberian origins of Brazil’s cordel literature, although many authors, such as Veríssimo de Mello, have explored even more remote sources of individual booklets extending back to XV century Germany and the Netherlands during the XVI century. However, there is some controversy about the use of the word cordel to classify this type of booklet. For example, the Dicionário Brasileiro de Literatura do Cordel mentions that this is a “term assigned by Researcher Raymond Cantel to describe folk-tales peddled as booklets at street fairs, hung on short cords or strings. The word cordel underpins the name of cordel literature.” 2 Lecturing at the Sorbonne University in France, Professor Cantel began to collect samples of Brazilian folk poetry in loco in 1959, where the troubadour duelists known as repentistas of Bahia State affectionately nicknamed him the “traveling ambassador” of their art, which he continued to study and disseminate during the subsequent two decades, interspersed by frequent trips to Brazil. After his death, the vast specialized library that he had built up gave rise to the Raymond
Cantel Brazilian Folk Literature Center at the University de Poitiers. The word cordel that he proposed initially encountered resistance among some cordelista folk poets and leading connoisseurs of cordel literature. On this aspect, J. Borges reports that he was contacted by Hermílio Borba Filho − a well-known playwright in Recife − who said to him: “They are trying to impose the word cordel on our booklets. A cultural invasion! Let’s set up some opposition to this foreign word. In rural parts of Northeast Brazil, the word cordel does not exist. Noted J. Borges: I started to think. I knew that the word cordel did not exist, but I found it so attractive that I did not have the heart to fight against it.” 3 Whether the term was coined by Cantel or simply disseminated by him, the fact is that the feeling of acceptance and acknowledgement expressed by J. Borges was shared by most cordel producers and connoisseurs. Today it is universally accepted, even giving rise to derivative terms such as cordelista (an author of these booklets), cordelaria (the print shop and/or publishing house producing these booklets), and cordeloteca (a library specializing in these booklets). When Portuguese and Dutch colonizers first set foot in the New World, Northeast Brazil offered fertile ground for the development of this art, seeded in dryness, growing in scarcity and thriving in adversity. The links between cordel literature and this region are explained by Manuel Diegues Júnior as follows: “The specific social and cultural conditions reigning in Northeast Brazil underpinned the appearance of cordel literature in the way that it is known today, reflecting the cultural physiognomy of this region. Some of the social formation factors that contributed to this include: the structures of a patriarchal society, the appearance of messianic movements, the appearance of posses of gunslingers (cangaceiros) and brigands, cyclic droughts triggering economic and social imbalances, and long-standing family feuds, all paving the way for the advent of groups of singers who served as the tools of group thought, expressing this cultural heritage.” 4 The strongest things are those that run counter to logic, thriving despite unfavorable prognostications. The most memorable facts are also the most improbably and unlikely. Thus, despite all adversities, cordel literature blossomed like a cactus flower, its beauty unfolding in the midst of nothing to fill life with everything. It was not on the wings of birds that the seeds of cordel literature were scattered to the four winds. Instead, they were borne all over Brazil on the hard and sweat-stained planks of the battered trucks that carried drought-plagued migrants dreaming of easier lives in lusher lands. Today, the Internet allows anyone to say what-
ever they want about anything at all. A century ago, the authors of cordel booklets were already paladins of freedom of expression, presenting opinions in their booklets on politics, love, religion, money, fate and everything else that is woven into the basic fabric of existence. Nothing escapes the keen eye and accurate comments of the cordel booklets. Nothing, any time and any place. They analyze everything, from Buddha to Jesus Christ; from Princess Isabel (who freed Brazil’s slaves in 1888) through to Lampião, the Sundance Kid of Northeast Brazil; from Formula 1 racing champion Ayrton Senna to the late Lady Di; from the death of President-Elect Tancredo Neves to Man’s first step on the Moon. These cordel booklets offer a summary of universal history written by men of the people, forming an encyclopedia of daily life that is composed as events occur – in “real time” to use the modern language of information technology. The cordelista is effectively a journalist who writes in verse, a historian who discards academic aloofness to follow his heart; he is a poet who rejects the ivory tower, preferring to keep his feet firmly on the dusty ground, a prophet who succumbs to his own prognostications. In brief, he is a complete literary being, with printer’s ink running through his veins, and a face whose deep wrinkles seem to mirror the powerful grooves of the woodcuts that illustrate his words. A poet of the people, the cordelista is the best interpreter of the travails described by Geir Campos in the poem entitled Tarefa: Bite into the bitter fruit and not spit but warn others how bitter it is, comply with the unfair agreement unfailingly but tell others how unfair it is, suffer under the false scheme and not yield but warn others how false it is; also say that things can change ... And when the idea throbs through many – the bitter, the unfair and the false to be changed – then entrust to exhausted people the plan for a new and more humane world. 5 No-one is unaware of the influence of cordel literature on the composition of Morte e Vida Severina by João Cabral de Melo Neto, O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta and O Rei Degolado − Ao Sol da Onça Caetana by Ariano Suassuna, significantly divided into “chapters called cordels, in tribute to the folk-tale booklets of Northeast Brazil.” 6 Proud of his roots and conscientious about enhancing the value of Brazilian culture, Ariano Suassuna went even further, noting that he had in fact based the wording of some of his plays directly on cordel booklets, including:
Auto de João da Cruz; O Castigo da Soberba; O Homem da Vaca e O Poder da Fortuna. During the 1970s, when he directed the Cultural Extension Department at the Pernambuco Federal University, Suassuna even strove to release funds to underwrite the publication of cordel booklets. As João Cabral acknowledged in Descoberta da Literatura, his introduction to the world of literature took place in his childhood through reading “stories on strings”, which the workers would ask him to “read and explain.” Rooted in the oral literature with which it still today retains indissoluble links, cordel booklets spread throughout rural gatherings in the agreste backlands of Northeast Brazil, where willing readers shared with their illiterate companions the adventures narrated in cordel booklets, just as the story-tellers of earlier days, stored the folk-tales of Northeast Brazil in their amazing memories, shared with their eager audiences before they were set down in writing, as noted quite correctly by Câmara Cascudo: Nobody decided on the initial speed of these booklets. Did they spring from the people, or where they included in the anonymous myths of oral history through reading? Were the topics chosen by the people, or were they individual works that later slipped into the universe of folk-lore? Dating back to the XV, XVI and XVII centuries, these booklets were reprinted over and over again in Portugal and Brazil, with consumer markets that no lettered intellectual glory would dare to claim. None of these booklets failed to influence, in the acceptance of their charm. Perused and learned by heart, they are turned into verses, set to music and sung on both continents. Minor details may reappear in some story or another, even earlier, in a convergence. These modifications reflect the popularity of these booklets and their repercussions among illiterate listeners, devoted fans who cherished the treasures of these tales, jests, ditties, ballads and fables. 7 The cordel century Usually ranked as the precursors of sung poetry in Brazil, Silviano Pirauá de Lima (18481913) facilitated their assimilation by the masses. In addition to transposing folk-tales into verse, it was his idea to introduce sextains, as these sixline stanzas were more malleable than the older quatrains, in addition to introducing the obligation for cut-and-thrust contenders in improvisation battles to rhyme their first verse with the last verse of their adversary. Through these innovations, Silviano delineated the structure of spoken
and sung poetry in Northeast Brazil throughout the entire XX century. The leading printer of cordel booklets was Leandro Gomes de Barros (1868-1918), born in Paraíba State. According to Professor Marlyse Meyer, he “began to write these booklets in 1889, with his first print-outs dated 1893.” 8 On this matter, Câmara Cascudo commented: “He lived solely through writing folk-verses, encouraging challenges between singers, architecting romances, narrating the narratives of Antonio Silvino, commenting on events and composing satires. Prolific and always new, original and witty, he is still the driving force behind 80% of the glory of today’s singers. He published around 1,000 booklets, with print-runs of 10,000 editions. This inexhaustible wellspring continued to flow steadily as long as Leandro lived.” 9 His example was followed by several other authors, such as Francisco Chagas Batista (1882-1930) and João Melchíades (1869-1933). Consequently, cordel literature expanded and firmed up its status during the first two decades of the XX century, developing the basic profile that it still retains today, despite innovations ushered by the modernization of printed media. Widespread acceptance of cordel booklets resulted in some editions easily outstripping thousands of copies, in a country where “shelf books” have average print runs of only 3,000 copies, even today. This phenomenon resulted in the appearance of the first professional writers in Brazil, among the cordelista folk poets. Although living in modest conditions, many of them drew their livelihoods only from their art during the early XX century, when other writers were still unable to live solely off their author’s rights. One of the leading names behind the international dissemination of cordel literature in academic circles, Joseph Maria Luyten (1941-2006) − the conceptualizer and director between 2000 and 2006 of the Cordel Library brought out by the Editora Hedra publishing house, which proposed to bring out a total of some fifty anthologies − estimates the cordel universe at around 2,000 authors and some 30,000 titles during its first century in existence. This was the permanent collection that Professor Raymond Cantel classified at the I National Congress on Folk Literature in Verse in Rio and Niterói (1973), as “the most important, in quantitative sense, among the folk literatures of the world.” Peaking in popularity from the 1930s through to the 1950s, cordel literature spread throughout Brazil as its practitioners were forced to migrate to major urban hubs, seeking better livelihoods. At that time: “these cordel booklets provided news of Brazil and the world. Many people learned about the death of badlands brigand Lampião and the suicide of Brazil’s President
Getúlio Vargas through these booklets, several days after they occurred, obviously. These were golden days for the cordelista folk poets. “At that time I grew rich, smoking cigars and drinking beer every day. I sold 11,000 booklets on Getúlio in three weeks,” recalls cordelista Manuel Monteiro, one of the most active disseminators of folk poetry in Paraíba State.” 10 The death of Getúlio Vargas seems to mark the peak in popularity of this cordel literature, as several cordelis tas explored this topic in booklets that were all best-sellers. However, the real block-buster among all the bestsellers – to import a phrase normally used for “book-shelf literature” – was the printed version of a Song Duel between Cego Aderaldo and Zé Pretinho do Tucum that specialists estimate sold 500,000 copies in a series of editions. Consequently, this booklet holds the alltime circulation record for a work of literature in Brazil, as not even mystic writer Paulo Coelho has managed to reach this figure. However, the true author of this feat is unknown, due to the hazy boundaries characteristic of the cordel universe, where two writers may lay claim to this accomplishment. Once again, Professor Diegues Júnior remarks: “We know at least two versions of this song duel: Peleja do Cego Aderaldo com José Pretinho do Tucum. One is by Firmino Teixeira do Amaral, dated October 17, 1946; and the other is Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho, published by José Bernardo da Silva in Juazeiro and dated June 15, 1962.” 11 This type of vagueness is quite characteristic of the cordel world, as some authors were in the habit of ‘borrowing’ titles or adding new verses, while publishers might also acquire print-rights to the entire output of an author, either from the writer himself or from his heirs. This was what happened, for example, with one of the founders of this genre, João Martins de Athayde (1880-1959), whose body of work was acquired by publisher José Stênio da Silva Diniz, who was incidentally the grandson of José Bernardo da Silva, one of the precursors of cordel woodcuts in Juazeiro do Norte. In some cases, the booklets were quite simply pirated, which meant that: “In order to protect their copyright, the cordel authors developed an interesting way of signing their texts, over the years. They began to use the last stanzas of the poem to include their names in hidden ways. To do so, they wrote the stanza as an acrostic, with the first letters of each line forming a word, when read vertically. Over time, this resource became public knowledge, and booklet ‘thieves’ began to modify and even cut the stanzas with these encrypted ‘signatures’. Nevertheless, this type of signature grew into a cordel tradition, although not used by all writers.” 12 Under the iron fist of Brazil’s military govern-
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ment, assailed by galloping inflation and undermined by television, the popularity of cordel literature waned among the masses during the 1960s and 1970s. On the other hand, the late 1970s saw an odd phenomenon: the status of cordel literature began to rise in the academic world, inspiring countless university studies and degree dissertations, thus spurring a return to production, although on a far smaller scale than during the golden age of this genre. Recalling his childhood on the slopes of the Serra de Santana range of hills, Patativa do Assaré commented: “Back there, on Sundays, the entertainment was gathering around the person who knew his letters, who would read out loud for his illiterate listeners. This was our amusement. There was no home without cordel booklet.” 13 On this aspect, writer Orígenes Lessa, who was one of the leading supporters of cordel literature – once affirmed that “even illiterates read these booklets”, because they end up by learning them off by heart, just from hearing them so often in the voices of the singers. On the other hand, countless people made a point of learning to read, inspired by their eagerness to decipher or themselves the marvelous tales encrypted in the cordel booklets. Author, woodcut artist and publisher J. Borges, whose formal education was sparse, was among those who learned to read from cordel booklets. Talking about this, he recounted an interesting episode in a videotaped statement for the University of Brasília: And there are other poets who learn to read through the cordel. In fact, one of them was a friend of mine who learned to read and was unable to write. He was only able to read cordel booklets. One day a child was being buried and there in the registry office, the man said: “You have to sign here. Do you know how to read? He replied: “Yes I do, Sir.” “Then sign here.” He hesitated: “I don’t know how to sign.” “How come you can read and don’t know how to sign?” He explained: “I learned to read from cordel booklets, I learned to read everything. I read the name of everything in life, I read the newspaper. But I don’t know how to sign, because I never went to school.” 14 Several factors have been blamed for triggering the cordel crisis, including sweeping social transformations that followed World War II, the rising popularity of the radio and movies, the construction of Brazil’s futuristic new capital Brasília (which attracted thousands of laborers from
Northeast Brazil, who were nicknamed candangos), and better public transport facilities carrying waves of migrants all over Brazil. Although there were many reasons, it cannot be denied that the culture of the cordel was weakened by the spread of the radio, soon followed by television, as both media provide free entertainment for the unlettered masses, once the sets were purchased. However, inspired by its indomitable ability to adapt, cordel literature soon established firm links with these “cultural contenders” in an upsurge of renewal fueled by booklet versions of hit radio programs and television soap-operas. This completed a curious circuit: works of literature inspired radio programs and television soap-operas, which then returned to literary form through the cordel booklet. For example, this was the case with A Escrava Isaura by Bernardo Guimarães, and Gabriela Cravo e Canela by Jorge Amado, successfully adapted by Caetano Cosme da Silva and Manuel d’Almeida Filho, respectively. An aspect of much interest is recalled by journalist Denise Ramiro in an article on the rediscovery of cordel literature entitled: A redescoberta do cordel. She noted that: “Cordel literature was also buoyed through the mini-series aired by the Rede Globo television network, based on O Auto da Compadecida, adapted from the work by Paraiba-born Ariano Suassuna, which was in turn inspired by the booklet entitled: Proezas de João Grilo, which was one the most popular works of Pernambucan poet João Ferreira de Lima. The outcome was a great hit, as Brazilians laughed heartedly at the tricks played by clumsy João Grilo, who later appeared on movie-theater screens”, 15 − with just as much success. This was an episode in which television − viewed by many as the archvillain threatening Brazil’s regional cultures − actively contributed to redeeming and enhancing the value of one of the most traditional, authentic and characteristic types of grassroots expression. Acknowledgement of the cordel Lecturing at the Communications and Arts School at the University of São Paulo, Professor Américo Pellegrini Filho notes that the cordel “was valued more highly by Brazilians after an article by Orígenes Lessa appeared in the Anhembi magazine, published in December 1955, and even more after another article by French expert Raymond Cantel, was published in Le Monde, in June 21, 1969. From the early 1970s onwards, this topic became increasingly popular among Brazilian academics, building up a considerable bibliography of academic theses and dissertations.” 16 In the official sphere, the most significant acknowledgment of the cultural value of cordel literature came from the Casa de Rui Barbosa
Foundation, today under the Ministry of Culture. In the early 1960s, at the initiative of the Director of Research Center of this Institution, Thiers Martins Moreira, its Folk Literature in Verse Project was set up to conduct bibliographic surveys, organize collections, preserve documents and publish specialized studies. This initiative was backed by renowned researchers serving as consultants, including Orígenes Lessa, Antônio Houaiss, Manuel Diegues Júnior, M. Cavalcanti Proença and Sebastião Nunes Batista, who were the driving forces behind the transformation that turned the Casa de Rui Barbosa into a major reference center for the study of cordel literature. An earlier initiative by Brazil’s National Library should not be forgotten, building up a large and valuable collection of booklets during the 1950s, which are today conserved in its Music Division, thanks to the efforts of Professor Bráulio do Nascimento, who is one of the most highly-respected connoisseurs of cordel literature. Still at the Federal sphere, the Folklore Museum, which belongs to the National Folklore Institute, also under the Ministry of Culture, inaugurated the Amadeu Amaral Library during the late 1970s, dedicated exclusively to cordel literature, with more than 15,000 titles in its permanent collection, including rare items dating back to the XIX century. This proves that, at least in the specific case of the cordel universe, Government institutions did not demonstrate any short-sightedness or snobbishness, gladly acknowledging the unique and inimitable contribution of the cordel to Brazilian literature as a whole. Little by little research centers specializing in the cordel genre sprang up, particularly in Northeast Brazil, where the Museum of the Man of the Northeast (of the Joaquim Nabuco Foundation) has a good collection, and several universities established important collections, with study programs of this topic at the graduate level. The endorsement of firmly-established writers as well as the absorption of cordel literature by the academic community was undoubtedly important for this type of folk literature to acquire respectability at that time, formerly scorned by the intelligentsia. However, we are today living in very different times when − in parallel to the acceptance of the cordel booklet in the halls of academia − independent groups are also firming up their status, founded by cordelista folk poets to preserve and discuss their works in an independent manner. Outstanding among them is the Brazilian Academy of Cordel Literature (Fortaleza, 1980), the Brazilian Academy of Cordel Literature (Rio de Janeiro, 1988), the Cordelista Folk Poets Culture Center in Ceará State (Fortaleza, 1990), and the Northeast Cordel Foundation (Teresina, 1996).
The technique of cordel verses The meter most widely used in cordel literature is the sextain, with lines of five or seven syllables and a rhyme scheme organized in the following manner: a, b, c, b, d, b. The most complex form is the ten-line stanza, whose most common rhyme scheme is: a, b, b, a, a, c, c, d, d, c; there are also booklets with seven lines. However, none of these schemes are set in stone, as the cordel universe is constantly being renewed, at times blending sextains with ten-line stanzas and introducing other similar innovations to its structure. The researcher and cordelista Gonçalo Ferreira da Silva lists the following types of oral and written cordel literature: “Parcel (Parcela) or Spinner (Carretilha); Quatrain (Quadra); Sextain (Sextilha); Septain (Setilho); Stake (Mourão); Frame (Quadrão); Dextain (Décima); HammerGallop (Martelo-agalopado) (perfected in Brazil by José Galdino da Silva Duda); Seaside-Gallop (Galope-à-beira-mar) (invented by Ceará-born “repentista” José Pretinho do Crato); AlagoasGallop (Galope alagoano); Cabinet (Gabinete); Gloss (Glosa); By-Word (Mote).” 17 The range of themes presented by cordel literature is just as broad as life itself, with no constraints on the inventive spirit of its authors. Among the most common narrative formats are romances, which derive from the romanceiro of the Iberian Peninsula. These romances are divided into several categories, with the most common being the carochinha or Trancoso tales, referring to Portuguese writer Gonçalo Fernandes Trancoso (c. 1515-c. 1596), the author of Histórias de Proveito e Exemplo; tales about enchanted animals; stories rooted in religious traditions; anecdotes featuring anti-heroes; sagas of prowess, love stories, and chronicles of trials and tribulations. Although the word ‘booklet’ has long been used to describe all and any cordel librettos, experts usually distinguish among them by content. Among these booklets, the main sub-divisions are: song battles that transcribe the cut-andthrust challenges chanted by the most famous songsters, not unlike rappers doin’ the dozens; discussions, viewed as parodies or derivatives of song duels; happening booklets that are comparable to the non-fiction concept used for “shelfbooks” and consequently embracing a huge variety of topics; or event booklets, which are real articles reporting on the most newsworthy occurrences in Brazil and abroad. Other subdivisions were listed by Pernambucan researcher Liedo Maranhão: advice booklets, knavish or whorish booklets; advertising booklets; joke booklets; or villainous or rascally booklets. Among many other aspects, they encompass all facets and activities of related to human life both past and present.
With no exaggeration, they even extend into the future through prophecy booklets. All this makes cordel literature into one of the most faithful mirrors of Brazil, reflecting the feats, fears and fantasies of its people. To complete this item, it is interesting to turn once again to the sagacity of Professor Manuel Diegues Júnior, as he drew up a classification that blends and summarizes those prepared independently by Ariano Suassuna and M. Cavalcanti Proença (the latter for the Casa Rui Barbosa Foundation). Blending them together, he reached the following classificatory system: 1. Traditional topics: a. novels and soap-operas; b. marvelous tales; c. animal stories; d. anti-heroes: mishaps and pranks; e. religious tradition. 2. Circumstantial facts or events: a. physical: floods, droughts, earthquakes, etc.; b. social repercussions: sports events, soap-operas, astronauts, etc.; c. towns and urban life; d. critique and satire; e. human element, current or updated figures (Getúlio, cycle of fanaticism and mysticism, Northeast migrant cycle, etc.), ethnic types, regional types, etc.; 3. Chanted challenges or song duels. Analyzing the output of Minelvino Francisco Silva, Professor Edilene Matos drew up the following classification of his works, reproduced here as it seems to be applicable to the universe of cordel output as whole: 1. Booklets on love; 2. Booklets on metamorphoses; 3. Booklets on enchantment; 4. Booklets on religion; 5. Booklets on philosophy; 6. Booklets on events; 7. Booklets on bravery; 8. Booklets on morals; 9. Booklets of animal stories; 10. Booklets of praise; 11. Booklets on history; 12. Booklets of song duels; 13. Booklets of cunning and trickery. 18 Many of the best cordel literature authors are not singers. However, as cordel literature is essentially oral, often read aloud, particularly in olden times, it is quite common to find poets who are also singers. The transcriptions of the most celebrated song duels are among the most
eagerly sought-after items, although some of these alleged transcriptions are pure inventions by a single inspired poet. The fact is that cordel literature cannot be dissociated from the art of the troubadour duelists known as repentistas and other singers. Thus: “In the chanted challenges of the oral literature of Northeast Brazil, there are two types of poetry: one is traditional, stored forever in the memory of the singers, used to fill in the time and called ‘finished work’ (obra feita); the other is the improvised repente, the verses that pop up at the time, inspired by a passing fact or someone in the audience; this is true improvisation, which is very common during the chanted challenges known as desacordos.” 19 The appearance of cordel booklets In its earliest form – still found today, although no longer exclusively − cordel literature appeared “as ‘leaflets’ or ‘troubadour booklets’ (with eight pages measuring around 11 x 16 cm), as their authors always called themselves troubadours. For longer narratives, they were called novels or stories, expanding to sixteen, 32 or even more pages.” 20 Classic cordel booklets are easy to identify by their characteristic woodcut covers. Contrary to what might be expected, cover photographs preceded these woodcuts, with both of them edging out the earliest covers that featured only lettering. As explained by Professor Marlyse Meyer: “The introduction of cover illustrations is attributed to João Martins de Athayde, as a way of catching the attention of buyers. This resulted in cover-plates featuring movie stars or postcards, affectionate couples posed for love stories and illustrations of good-guy movies for tales of valor. After the woodcuts, engravings were used, carved into clubs made from imburana wood, which could be used to illustrate several booklets on similar subjects.” 21 Other types of timber traditionally used include pine, cedar and hog-plum, with engraver Dila believed to be the first to use vulcanized rubber to produce linocut covers. According to expert Jeová Franklin: “The first known booklet to feature woodcuts was A História de Antônio Silvino, published in 1907 by poet Francisco das Chagas Batista at the Imprensa Industrial press in Recife. A lovely print by an unknown hand, it is possibly based on a posed photograph of a well-known cangaceiro brigand. The delicacy of the features is impressive, with a wealth of detail in the style of a European engraving.” 22 The woodcuts on the covers of cordel booklet caused a deep impression, to the point of celebrated art critic Antonio Bento affirming that they are the greatest contribution offered by Northeast Brazil in the field of the plastic arts. The bestknown cordel engraver today is J. Borges, a poet
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and woodcut artist whose art drew enthusiastic praise from Ariano Suassuna. He opened the gates of the international market for his works, where he has held one-man shows and also built up a singular cooperation with Uruguayan writer Eduardo Galeano in Os Nascimentos, the first work in the Memória do Fogo trilogy. In addition to J. Borges, two of his fellow Northeasterners, Dila (José Soares da Silva, born in Surubim in 1937) and José Costa Leite (born in Sapé, Paraíba State, in 1927, but living for more than half a century in Condado, Pernambuco State), have been awarded the prestigious title of Living Heritage of Pernambuco, thus avoiding the sad fate of so many artists who are acknowledged only after their deaths. Still very much alive, they are honored as leading names in the culture of this State, which is also forging ahead along its wise path of acknowledging all the glories of the cordel sector that are connected with this State in some way. For instance, on April 30, 2008, the O Diário de Pernambuco newspaper dedicated a special section in the Cordel Nobility (Nobreza do Cordel) to Paraiba-born Leandro Gomes de Barros, paying tribute to the ninetieth anniversary of his demise in Recife on March 4, 1918. One of the most important cordel specialists of all time and the author of works such as A Xilogravura Popular Brasileira e suas Evoluções and A Literatura do Cordel em São Paulo, Joseph Maria Luyten also listed the following names among the leading artists working at the start of the XXI century: Abraão Batista (Juazeiro), Severino Gonçalves de Oliveira (Recife), José Costa Leite (Condado), Minelvino Francisco Silva (Itabuna), Ciro Fernandes (Rio de Janeiro) and Marcelo Alves Soares (São Paulo). Laughing and upbeat conclusion First appearing in hardcopy during the XIX century – although its sung forms date back to far earlier times – cordel literature took on a fresh lease of life after the turn of the millennium. Skillfully adapting to these new times, it is deploying information technology and the Internet to its own benefit. Estimates reckon that more than 100,000 different titles have already been published, with this total growing steadily. Journalist Rodrigo Alves was among the first to note this about-turn in an article on the new cordel that
explained how this folk literature is reinventing itself as a publishing hit, with new authors, print shops and market views (Novo cordel com nova safra de autores, parque gráfico e visão de mercado, a literatura popular se reinventa e é um sucesso editorial),. He affirms quite correctly that: “After a mid-season slowdown, the change. After a time when cordel literature was hardly produced in Brazil, this genre still has one foot in its traditions, but is starting to move ahead with fresh energy, giving birth to a series of new and talented poets. The stereotyped cordelista carrying only a guitar and a handful of booklets is on the way out. Small books of poetry produced by hand are still pegged out at street fairs, and are still read aloud by singer-poets, as required by custom. But the other aspect of this literature is already beginning to appear. The new cordel generation in Northeast Brazil works with specialized publishing houses and print shops, using the Internet with nationwide distribution, with circulation rising steadily in academic circles.” 23 Oddly enough, the cordel literature that the uninformed might well view as anachronistic or at least bogged down in bygone times, is finding the Internet to be a powerful ally for its renewal, preservation and dissemination at a truly global scale. Born in the sertão drylands of upstate Ceará in 1972, Klévisson Viana is spearheading this computer-savvy cordel, net-surfing while still remaining utterly faithful to the strictest rules of this genre. In January and February 2003, he was a protagonist in a “virtual song duel” with Rouxinol de Rinaré (born Antonio Carlos da Silva in the Ceará town of Rinaré in 1966). He then engaged in a similar challenge with Bráulio Tavares (born in Campina Grande, Paraíba State in 1950), which gave rise to the booklet on this song duel: Peleja de Bráulio Tavares com Antonio Klévisson Viana, which was brought out by his Tupynanquim publishing house in Fortaleza in March 2006. However, Bráulio Tavares was also well experienced in this post-modern type of contest, competing in a virtual cut-and-thrust challenge published by the Gráfica Martins print shop in Campina Grande in February de 2003 entitled: Peleja de Bráulio Tavares, o Rio da Silibrina com Astier Basílio, o Arquipoeta das Borboremas. This extremely lengthy cordel extends through 88 large pages measuring 21 x 15.7 cm. As far as I know, this duo launched this genre through what might well be called an ‘e-challenge’ the previous year, as explained on the back page of the booklet: “This song duel was fought over the Internet, by e-mail, in September and October 2002, sending verses and ripostes. There were no time limits, but the intention was always to write the best possible verse in the briefest period of time.” 24 It must be stressed that these ‘modern fads’
and the presence of highly-qualified academics (called ‘doctors’ in somewhat disparaging reference to their University degrees) in the cordel universe is not always welcomed by confirmed traditionalists − just as the innovations of Raimundo Santa Helena were also not well received, when he packed his booklets with illustrations from newspapers and other references deemed spurious in the body of the texts of his poems. A double ‘doctor’ under his real name of Franklin Vitória de Cerqueira Barreiras Machado, who graduated in Law and Journalism, Franklin Maxado was directly attacked by J. Barros (João Antonio de Barros) in the booklet entitled Doutor, que faz no cordel? In these verses, he scornfully affirmed that: “The graduate is pollution in the cordel booklets.” Born in Feira de Santana in Bahia State in 1945, Maxado parried this thrust with a humorous touch in the booklet entitled O Doutor Faz em Cordel o que Cordel Fez em Dr. It is well worthwhile reproducing some excerpts, offers an inside view of the cordel universe as it struggles to absorb two new elements: academics, as already mentioned; and nonNortheasterners, as many cariocas and paulistas (from Rio de Janeiro and São Paulo) are supporting this genre, inspired more by straightforward passion than the traditions of its homeland: Someone said that academics pollute the cordel As though it were property Swathed in seven veils Frozen in time and space Digging its own grave Cordel makes graduates As the Brazilian people Are studying hard To overcome lightly Slavery, backwardness And the shortage of money Today, the cordel is renewed It is not a museum piece It had, has and will have value However, what happened Is that the times changed As life did not die The booklet peddler must go Sell in other places Bookstores, galleries Theaters, schools and bars To avoid coming to a standstill He must explore other floors. The country people Are also moving to the town São Paulo itself is already
A land of Northeasternness With thousands of Northeasterners Really working. Updating is needed So as not to let perish The cordel as a value Of a people eager to triumph And have all their rights, Which is why they must know Another taboo has fallen Which is that only Northeasterners Can produce the cordel Each person has his ditty There is only one people And the poet has his destiny. 25 The solution to this deadlock is explained brilliantly by Bráulio Tavares in his Contando histórias em versos: poesia e romanceiro popular no Brasil: The poet is the owner of the poem. He must decide on the rules that the poem will obey, and even if there will be rules. The structure of a poem may be completely new, created from nothing; but there are also fixed form poems whose structure is established: the sonnet, haikai, terzarima, and the sextain of cordel literature... There are pre-formatted poems, in a way: there is a stanza structure, some rhyme schemes and some rules of meter that must be followed – if the poet wishes to do so. No one is forced to use these forms; however, using them correctly is a challenge. For the cordel literature of Northeast Brazil, for example, the traditions of this genre require the use of consonant rhymes. If a cordel booklets uses consonant rhymes, an expert in this genre might well think that the author of this booklet is unaware of the existence of these rules. Written in this manner, it might well be a great poem, but could certainly not be called “real cordel”, just as a Ferrari with a Rolls-Royce engine is not a “real Ferrari.” 26 The fact is that, moving beyond all the squabbles and surmounting all arguments, keeping pace with all “modern” fads and surfing all virtual waves, the world of the cordel is still very much alive and kicking. In fact, as each day goes by, the good-humored comment of Ariano Suassuna becomes even more true and up to date, on the prospects for the cordel: “Every year, some Southerner appears, saying that cordel literature is dying. Many of those who have said this have already died, but the cordel remains alive.” 27 Exactly: this is the way it is and will continue to be so for many long years to come...
NOTES
Bibliography
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The development of cordel literature ************ Maria Rosário Pinto
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The purpose of this study is to encourage discussions of the development and continuity of cordel literature today among the creators, authors and students of these stories on strings, as well as others interested in this subject. Only through this approach we will reach conclusions that allow us to sketch out specific alternatives and establish guidelines that are of the utmost importance for disseminating this literature. This study strives to demonstrate its purposes through cordel verses and their authors. Similar to the chapbooks of medieval England, these stories on strings date back to the romancieros of the Iberian Peninsula and France, called pliegos sueltos in Spain; folhas volantes, soltas or avulsas in Portugal and littérature de colportage in France. Brought to Brazil by its Portuguese colonizers and rooted in the cancioneiros of their homeland, they were introduced to the Iberian Peninsula by Arab invaders who swept across the Straits of Gibraltar in 711 and were expelled only in 1492, after eight centuries of political and religious domination and cultural influence. In his booklet analyzing cordel literature entitled O cordel do cordel (1982) Franklin Maxado Nordestino presents an overview of this universe from its earliest days, encompassing major topics and the concerns of this cordelista with its development, continuity and dissemination through to the present day. (...) The cordel came from Europe With poetry and improvised verses When the Press appeared It was written for the masses Spoken and chanted In the heat of inspiration (...) In the Iberian Peninsula With the power of the Moors They dragged out the final note In a lengthy lament And with the sound of the gypsies They sang with the voice of foreboding
Poet João José dos Santos, better-known as Mestre Azulão, also refers to the origins of cordel literature in: O que é literatura de cordel? [200-?]. (...) They are European legacies From Spain and Portugal And the entire Iberian Peninsula That in general Came with European immigrants From distant lands To colonial Brazil In Portugal and Spain Their minstrel poets With verses of four and ten lines On loose sheets Hung for display On cordel strings After much study And a detailed analysis They noted the format In panel style Calling this culture Folk writings And cordel literature This folk literature – consisting of freely composed poetry − was printed out as booklets, complying strictly with poetical precepts in terms of rhyme, meter and rhythm. In the booklet entitled: A Didática do Cordel, poets Zé Maria de Fortaleza, Arievaldo Viana and Klévisson Viana explain the reasons behind the phrase cordel literature. (...) The popular booklet Called cordel Is by definition According to Raymond Cantel Folk poetry Printed on paper It is a literature Whose topics today are Presented in music Movies and television With its literary value Lying in its expansion It ranges from true history Through to legends and myths And with this acceptance Classic authors With this literature Forge ahead with their writings The word cordel comes from the manner in which these booklets are displayed – pegged out on strings (cordels) – and peddled at street
fairs or sold in stores. In his booklet entitled: O Cordel do Cordel (1982), poet Franklin Maxado Nordestino explains: (...) The booklet is displayed On the cordel which is the string Where the poet hangs His novels and leaflets To sell them in Europe Making his own stall Additionally, poet Juvenal Evangelista dos Santos notes in his study of the origins of cordel literature, entitled: Origens da Literatura do Cordel: (...) Why was it called cordel Because it was peddled on strings Because of mud and dust It hung high above the ground For cordel culture This is its tradition Cordel literature reached Brazil with its Portuguese colonizers during the XVI century. It flourished in the Northeast, due to its specific regional and cultural characteristics, such as expressions of messianic beliefs and its cangaço culture, with social and economic imbalances caused by its harsh climate and cyclic droughts among other factors, as exemplified by Franklin Maxado Nordestino: (...) In Brazil it remained Called ABC Or fair booklets You can read this It was more in the Northeast With its suffering people The Chair of the Brazilian Academy of Cordel Literature, poet Gonçalo Ferreira da Silva highlights the power of cordel booklets in Northeast Brazil: (...) In the Northeast it became So popular That aged peasants Sought the truth In the cordel booklets Peddled by the minstrel poet There in the town Poet João José dos Santos, also known as Mestre Azulão, also stresses Northeast Brazil as the nursery of cordel poetry, particularly in his booklet analyzing cordel literature entitled O que é literatura do cordel? (...) The Northeast is the nursery
Of the cordel and improvised verses With comedians and poets From old men to youths Humor, poetry Is the cell created In the blood of those people Brazil’s cordelistas are wise by nature. Always aware of historical facts, and that of many different aspects of daily life Brazil and elsewhere in the world, they keep pace with the changes sweeping through the society at all levels, as well as following the news. From its earliest days through to modern times, cordel literal has disseminated traditional stories and narratives preserved in the memory of the people, handed down from generation to generation. This genre includes knightly romances and tales of chivalry, tales, legends, war stories and accounts of journeys and conquests. They also recount facts related to daily life and examine events in society that catch the attention of the people. The factors guiding the creative spirit of cordel poets are: sensitivity, wisdom, a keen eye and above all careful and coherent treatment of topics, styles and content specific to cordel literature. This is a mainspring that never rusts nor halts… Stagnation if not part of the world of the cordel poets, fueling its development and continuity within the universe of Brazilian literature. An important item on the list of concerns examined by these poets is education – they are in constant contact with schools, universities and other teaching institutions, eager to encourage cordel literature among their pupils and students, striving to build up interest in this unique art form and paving the way for new poets. Franklin Maxado also notes that: (...) The strings hold stories That are also biographical Some describe examples But are also pornographic While others provide news Like graphic newspapers There are animal stories Mysterious and bewitching That talk, sing, marry There are miracle-working heroes Magic, comic, historical Ironic or demonic (...) There must be something extra Knowing the theory As the poet is already gifted Born with poetry And the Cordel of the Cordel Is not phraseology!
The Cordel is not a reel But it follows its line And the new reader poet Like him is aligned Not leaving aligned His verses and guesses Additionally, Mestre Azulão also examines the value of the cordel booklets as a source of information and news: (...) This culture has provided Information and education To schools in the Northeast For adults and children Serving as newspapers Carried from the state capitals To the drylands of Northeast Brazil He also highlights the value and credibility of the information presented in cordel booklets and the news presented in squares and fairs by poets and troubadours: (...) Dueling songsters and cordelistas, Are well-known Their improvised verses and booklets Are real newspapers That bring to all fairs News from Brazil And the world They trust more in the poets Because they are very loyal They mistrust the newspapers Who lie on their pages Saying in squares and fairs The real news Comes from the cordel booklets It is important to stress the opinion-shaping powers of the cordel poet, free from censure or bound by commitments, as explained by poet Manoel Santa Maria in the last verse of his booklet on the (Ayatollah Komeini and other modern butchers) in 1989: (...) Forgive me frankness When dealing with any issue I am a cordel poet: I have no Commitment to any faction My verse is my flag I display from fair to fair My free opinion! Among other concerns, cordel poets also adopt explanatory and educational stances towards campaigns related to politics, education, public health and environmental preservation, among other issues.
In his instructive booklet on how to prevent cholera (Defenda-se contra o cholera), Manoel Santa Maria noted in 1992: I will not offer you anything Artistic at the moment I will be brief and straightforward To attain my purposes My function is educational In the Cordel poem I present In Greek, it was masculine “the cholera”, but I am not A philosopher to enter Into the core of this issue I am just a cordel poet Heart, soul and body! According to the sanitary Authorities, here are The precautions to be taken I researched and converted them Into simple, direct verses In this cordel booklet that I wrote This is an acute infection Contagion caused By the cholera vibrion And if not treated With the necessary urgency It leads to the end of the line! This poet continues on his enlightening way by explaining the measures to be taken in order to avoid infection, closing with this verse: (...) In closing, I hope That this booklet helps you Against the cholera, as A hygienic attitude Is your best defense Caring for your health! Concerned with the dissemination of cordel literature in schools and other academic circles, the Chair of the Academy of Cordel Literature, Gonçalo Ferreira da Silva, published an examination of cordel literature with some basic data (Literatura do Cordel, dados básicos) in 19--, in a prose booklet that classifies cordel literature from its earliest days, examining its development through to its most contemporary phase. He also published a booklet on the Cordel Museum (Museu do cordel) in 1999, which provides information on the establishment of a museum devoted to cordel literature and woodcuts. Its purpose is to establish a facility specializing in research into this field of folklore, promoting related events and gathering together poets, wood-
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cut artists, students and researchers in general. (...) The foundation of the museum Dedicated only to the cordel To the booklets, to the woodcuts And wooden blocks The old lettering and designs Yellowed originals Will have a special place (...) The main purpose Is to preserve this culture The chanter of improvised verses The designer of woodcuts Organizing expeditions And republishing Our literature Exploring the cut-and-thrust chants known as repentes, Franklin Maxado praises these dueling troubadours: (...) The chanting duelists are famous Like Zé Pretinho, Cego Aderaldo, Bandeira, Fabião and Passarinho, Ana Roxinha, Milanês, Riachão and Canhotinho
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Not dissimilar to rappers doin’ the dozens, these singers are also praised by Mestre Azulão: (...) The singing duelists are stars Providing much entertainment Through improvisation they show Who has the most talent This is why they are invited To christening parties Rodeos and weddings The speed of their improvised verses And the throb of the guitar The harmonious chant Has pace and rhythm
Anyone wishing to study them Finds art for all In a real school (...) Luiz da Câmara Cascudo Was a great folklore expert Who drew up a full study Of the cordel poet That today serves as lesson From the rattle to the guitar Of the dueling songster From the earliest singers Blind and illiterate And even black slaves Who chanted their misfortunes Handing these traditions To other generations Children, grandchildren and great-grandchildren Until today The writing and development Of this culture has been Polished and honed Radios, newspapers, magazines Where the great dueling troubadours Have their profession Talking about these songsters, Delarme Monteiro says... (...) There was also a blind man With an accordion on a sling Well inspired by the Lyre With the protection of Apollo He chanted the booklets The bellows played the solo He did not ask for alms As there he peddled His displayed booklets That the guide controlled As a reward the customer Always bought a book In his booklet on Northeast, cordel literature, song duels and chants (Nordeste, cordel, repente e canção) dated 19--, Demarme Monteiro da Silva also stresses his concern and explores the development of cordel literature through its poets, singers, publishers and distributors. He underscores the social importance of cordel literature, as shown in the following quotation: (...) Among the cordel poets Leandro was the pioneer Here in Recife He was the first To distribute booklets
Throughout the entire Northeast Leandro Gomes de Barros A man with power In the making of his verses With beauty and security He died leaving only rhymes To his widow as a legacy With death of Leandro His widow was needy She sold everything to Athayde Who was already becoming established With his own verses Slowly rising Towards Athayde Poetry grew The collection of Leandro He joined with his own And very shortly, cordel Literature reached its peak Athayde fell ill And sold his print shop To José Bernardo da Silva Who was familiar with this field Taking to Ceará All our poetry Without a printer They were almost homeless As hundreds of poets Drew their livelihood from this For Pernambuco It was a severe blow I myself felt the blow And the great disappointment I worked with Athayde And earned my daily bread there From improvised verses, feeling I was rowing against the current So I sought a way To get out of the “hole” I wrote to Zé Bernardo Telling him everything Then he invited me To visit Juazeiro There we discussed everything While was very valuable I was appointed in Recife The sole distributor Of the books by Athayde For any place upstate And so I soon
Notified the poets In the Sirigado alley I set up the storeroom Sent letters to other States With catalogs (...) From then onwards, cordel literature Began to revive The customers arrived And I liked the business Any book I put out Promptly vanished He continues, referring to poet and editor José Bernardo da Silva, who was to become one of the largest publishers in Northeast Brazil, setting up the Tipografia São Francisco publishing house. (...) One day at my counter A certain João José appeared In “shabby” clothing Wearing old clogs He asked my brother “Who is Mr. Delarme? So I walked over To assist him João José asked me Can you tell me If you sell booklets here For resale by agents (...) In fact, in just a few months João José was lined up He managed to buy a hand-press And set up a print shop From a leaflet poet He became a publisher This was someone who started out With a handcart Eating from street stalls Plenty of flour-thickened soup Proving that cordel Literature rules I mention the poet João José, but not maliciously I just wanted to show the people How easily Cordel booklets make money Here in the town Moreover, Delarme Monteiro continues with his rhyming observations on the Golden Age of cordel literature... This was the “golden age” For the cordel poet
everything was still honey-sweet until 1960, But after this date The cup of bitterness arrived He also talks about the crisis that swept through the paper industry... (...) Paper prices rose Becoming rare With ink, rollers and typefaces Rising as well, clearly So our leaflets Became very expensive (...) It was already almost impossible For the poet to publish To continue supplying Books to the reseller Under the same conditions As the previous system So unable to comply With my signed contract Zé Bernardo was still alive And was angry with me He ordered the store closed In the Sirigado alley Poet João José Still continued To produce his booklets But he also withdrew As things grew gloomy His print shop closed down The old leaflets sellers Followed other paths As they could not cope with the prices They left our booklets aside To sell samba papers And cartoon booklets This made our situation Even worse As there are no more publishers Specifically producing Booklets for the people And publicizing them But without losing hope and trust in cordel literature, poet Delarme Monteiro reports on the interest prompted by these stories on strings among sociologists, scientists, students and institutions related to education and culture... (...) Even the sociologists Became concerned Traveling throughout the Northeast
Recording and taking photographs To strengthen folklore That was stumbling along In Rio de Janeiro a film Will soon be shot The setting is the Northeast Which will be represented By guitar-playing poets With coconut-scented songs (...) This documentary film Is being directed By young Tânia Quaresma A lively girl Who is always in movement And wants to see everything in action (...) So, reader, cordel booklets Will always be remembered And the rhymed leaflet Will never vanish Which for all Northeasterners Have a lovely past Reader, I say no more About this promotion Of poetry that Tânia Made with such eagerness Because there is no more paper To write on Delarme closes his verses with the classic acrostic that reaffirms his conviction as a cordel poet with the first letter of each line in Portuguese spelling out his own name: (...) Deixei aqui pro leitor Essa dica do cordel Lamento profundamente A minha sorte cruel Rimo só desde os 20 anos Mas só guardei desenganos E rimas sobre cordel Disenchanted, I leave the Eager reader this cordel hint Lamenting deeply A cruel fate, as a Rhymster since the age of twenty Melancholy is all that remains of Each cordel rhyme Waves of migrants traveling Southwards through Brazil brought these booklets with them, resulting in the establishment of the Prelúdio and subsequently the Luzeiro publishing houses in São Paulo. The presence of cordel literature in major
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urban centers helped ease the nostalgia for their homeland felt by these migrants fleeing from Northeast Brazil. According to Franklin Maxado Nordestino, reflecting the transposition of medieval heroes into the gunslingers (cangaceiros) of Northeast Brazil: (...) The colony created Rooted in the Northeast Its medieval heroes They were the plague rats With Lampião at their head Spreading westwards Today we see cordel literature moving to the fore in public areas: printed media, radio, television, movies, the publishing market and also virtual media. Articles on cordel literature and its authors are included on subject listings for newspaper coverage, with more radio programming slots allocated to the cordel poets and especially the singers. To an increasing extent, cordel literature is addressed on television, at times through soap operas (novelas) or documentaries on this subject. They are also more frequent on cable television, which still imposes a constraint, as most of the Brazilian population does not have access to these broadcasts due to their high cost. Regarding the introduction of cordel literature to the radio Mestre Azulão states:
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(...) All the radios in the Northeast Have programs every day Of chanting duelists Announcing to the people With real skills At what ranch or farm A songfest will be held Franklin Maxado reaffirms the resistance of cordel literature to television: (...) With all the television Radios, records and soap operas The cordel ABC Is the newspaper and the candle Lighting up the sertão drylands And alleys in the towns Once inspiring the cover illustrations on cordel booklets, the movies today present cordel poetry as a poetic theme that also appears quite frequently in its scripts, as shown by Raimundo Santa Helena in his booklet on Brazilian film maker Glauber [Rocha] dated 1981: Turn out this light, electrician! Without script, why the spotlight? With no set, why the operator
Director, assistant, scriptwriter, producer? Why the storyboard? Why the scene, why the soundtrack The good guy has really died now Up in the Sky a falling star, a touch... Go with God, Movie market Glauber Rocha! Each friend who remain, weeps for you... The recent movie based on the O Auto da Compadecida by Ariano Suassuna, was one of Brazil’s greatest box-office successes, confirming widespread interest in this topic and thus clearly indicating a mass preference for the simple topics of folk literature. The confidence prompted in the publishing market must be stressed, based on works conducted through publishing houses, and not only those specializing exclusively in the publication of cordel booklets, but also major publishing houses in this segment and that are today turning to this type of publication as affirmed by Franklin Maxado Nordestino: (...) Their poets are also Publishers and sellers Reading and singing Seeking readers Who like novelties In verses of a thousand loves Additionally, cordel literature is also found in the virtual media, either as pages of documents on this subject or through the publications of poets who make use of this option to present their booklets, as well as featuring the virtual world as a theme. It is worthwhile mentioning the booklet on the Internet in the kingdom of molasses entitled A internet no reino da rapadura, published in [20--] by cordel poet João Batista Melo, in the selected verses presented below: One day I was at home In my informal life And daily battle At this global moment When I heard someone shout: “Hey, poet, come here... Come here to my yard...” It was my next-door neighbor Called Dona Gildete The mother of eight “little imps” Who get up to the mischief Who just wanted me To write poetry Something about the INTERNET She then proposed that I write verses This brilliant young woman
That is changing the world In a phenomenal manner Creating links and chains Turning everything into a village Within this complex (...) For many it’s the visage And the spirit of Caipora The siren of New Times In the places out there That in a fraction of a second Can travel around the world With the latest news Disposing of his work The world is to hand “Web surfing” at will With no fears of collision Just with a tap of the fingers The world loses secrets And gains information Concern over maintaining cordel literature is also noted among international institutions, such as the studies conducted by the Institute at the University of Poitiers in France; and the collection written in Portuguese and translations left by Professor Jean Christinat in Geneva, Switzerland. These are just a few examples, among others, of the continuity and even more the resistance of cordel literature, in Brazil and elsewhere in the world, as affirmed by Mestre Azulão in verses urging the study of cordel literature: (...) Even Brazilian Discovery in the beauty Of this culture And wanting to research this wealth Must leave his country And go to the Sorbonne in Paris A great French exhibition There you find everything About the cordel Written and microfilmed Displayed on a huge panel Recording and microphone Taken to the Sorbonne By Professor Cantel Almost all Europe has Cordel booklets on display They are found in the Americas And even in Japan Through researchers Cordel booklets by many authors Even by Mestre Azulão No matter how much the doom-sayers high-
light the shrinkage of public spaces set aside for cordel literature, such as fairs and public institutions, it is gratifying to see the resistance of these sectors all over Brazil, keeping this tradition alive. Cordel literature is alive and developing; it may change its appearance, but is certainly maintaining its characteristics in terms of content and wealth of rhymes, rhythms and meters, resulting in this enchanting folk literature. This development through modern mass communications media, Franklin Maxado notes in his book on the Televised Cordel: Future, Present and Past of Cordel Literature (O Cordel Televivo, Futuro, Presente and Passado da Literatura do Cordel), 1984: “the booklets of cordel literature may thus turn into a little box containing magnetic tapes”, thus materializing the Prophecy of Câmara Cascudo who said: “Tomorrow, the most primitive forms of folk expressions will also travel down the coast and will turn into modern theater, cinema, novels, poems. This is why they never vanish. They are transformed.” And Franklin Maxado confirms this in the following verses: (...) It cannot die! I launch the challenge here To its new poets That they should no longer use a string To hang booklets But should light the wick The use of different medias to publish and disseminate cordel literature, does not alter its essence. Cordel verses remain alive and up-to-date, with modern poets and students of modern times accepting responsibility for this literary form. Maria Rosário Pinto Member, Brazilian Academy of Cordel Literature Head, Permanent Collection of Cordel Booklets, Amadeu Amaral Library National Folklore and Culture Center
Bibliography Santos, José João dos Santos. O Que é Literatura de Cordel?. Japeri: [no Nº, 200-]. Melo, João Batista. A Internet no Reino da Rapadura. Niterói: [no Nº,19--]. Nordestino, Franklin Maxado. O Cordel do Cordel. São Paulo: [no Nº], 1982. _____. O Cordel Televivo, Futuro, Presente e Passado da Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: Codecri, 1984. Santa Helena, Raimundo. Glauber: Cineasta que Morreu pelo Brasil. Salvador: [s.n], 1981. Santamaria, Manoel. Aiatolá Komeini e Outros Carrascos. Araruama, [no Nº], 1989. _____. Defenda-se Contra o Cólera. Araruama: [no Nº], 1992. Silva, Delarme Monteiro da. Nordeste, Cordel, Repente, Canção. Bezerros: [no Nº,19--].
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Cordel comemorativo J. Borges
Concepção e coordenação geral Franklin Espath Pedroso
Vídeo Daniel Zarvos
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