O Universo do Cordel | The Cordel Universe

Page 1


Curadoria: Franklin Espath Pedroso e Pedro Afonso Fernandes Vasquez

Instituto Cultural Banco Real 11 de julho a 10 de agosto de 2008 Recife - Pernambuco


a Ayrton Senna, que deu ao país uma imagem vitoriosa de seu povo, até o lamento pela morte de Chico Mendes, pela defesa do meio ambiente

Um jeito peculiar de ver o mundo

da Amazônia que sua figura representou. Em

************

à população, no cotidiano das feiras do sertão,

Fabio Colletti Barbosa Presidente - Banco Real

Pernambuco, muitas campanhas de saúde recorreram aos poetas de cordel para transmitir informações essenciais sobre doenças como o cólera e os meios de combatê-las. E não se pode

Podendo remontar suas origens à presença

esquecer que tudo isso é acompanhado pela

árabe na Península Ibérica desde tempos

primorosa criação das xilogravuras que ilustram

medievais, a literatura de cordel é uma

a capa dos folhetos de cordel.

criação popular que parece cortar a história

transversalmente, revelando um jeito peculiar

Hoje, essa literatura típica do Nordeste, trazida

de “contar o mundo”. Por certo, o universo

na bagagem do migrante, faz parte da cultura

medieval de suas origens ainda hoje se encontra

dos nossos maiores centros urbanos em todo

nos romances como o Pavão Misterioso ou a

o Brasil. E em São Paulo como no Recife,

Donzela Teodora, clássicos dessa literatura. Mas

João Pessoa ou Fortaleza, ela continua a nos

na fôrma de seus modelos tradicionais, nossos

mostrar que o povo brasileiro sabe reconhecer

poetas souberam inserir a cor local ao cantar

os valores que apontam para a cidadania, a

não o lamento do condenado ao pé da forca,

responsabilidade social e a sustentabilidade.

mas os feitos guerreiros – louvados ou temidos

Por muito tempo a literatura de cordel foi

– da saga do cangaço. O humor e a sátira

considerada uma criação menor da literatura

como instrumentos de crítica do poder nunca

brasileira. Já é hora de restituir-lhe o lugar que

deixaram de estar presentes nessa literatura, ao

lhe cabe, como parte de nossa cultura capaz

narrar, por exemplo, a chegada de Lampião no

de expressar valores essenciais para o tempo

inferno, assim como a consciência social esteve

em que vivemos. Ao patrocinar a presente

presente a cada vez que um poeta popular

exposição, o Instituto Cultural Banco Real se

tratou da carestia. Como um jornalismo que se

sente honrado em oferecer seus espaços para

volta para o cotidiano para dele extrair lições de

mostrar a arte e a sabedoria do povo nordestino

moral, essa literatura feita pelo povo e para o

que se encontra presente no Universo do Cordel.

povo não cansa de nos surpreender. Longe da decadência a que pareceria condenada pela presença da mídia, a literatura de cordel demonstrou um extraordinário poder de adaptação e modernização. Hoje as famosas pelejas ou desafios entre os poetas podem ser travados pela internet e os temas dos folhetos de acontecido, narrando eventos de interesse para a população, podem incluir desde o louvor


Cordel, criação popular

capa dos folhetos. Ao assegurar a autonomia

************

partir dos anos 70, a ser objeto de estudos e de

Carlos Trevi Coordenador - Instituto Cultural Banco Real

de sua produção, circulação e distribuição no universo popular, a criação do cordel passou, a pesquisas acadêmicas que vieram legitimar sua presença longe de seu meio de origem. Hoje,

A literatura de cordel chegou ao Brasil com

diversas instituições possuem um rico acervo de

os primeiros colonos portugueses, talvez

literatura de cordel, como é o caso da Biblioteca

ainda no século XVI. Corrente na Península

Nacional, da Casa de Rui Barbosa, da Academia

Ibérica, era chamada de pliegos sueltos

Brasileira de Letras, entre muitas outras. Mas

(folhas soltas) na Espanha e de volantes em

essa criação popular tem sua própria Academia

Portugal, reproduzindo a forma dos pequenos

Brasileira de Literatura de Cordel, tendo entre

folhetos com narrativas variadas – sobre temas

seus membros poetas capazes de contar em

tradicionais, moralizantes ou voltados para o

versos a própria história do cordel no Brasil!

maravilhoso, até acontecimentos excepcionais do

cotidiano, como a execução de um condenado

A proposta da exposição “O universo do

– que faziam parte da littérature de colportage

cordel”, idealizada pelos curadores Franklin

levada por vendedores ambulantes entre as vilas

Espath Pedroso e Pedro Afonso Vasquez,

e as cidades européias em dia de feira. Criação

apresenta ao público pernambucano um mundo

literária popular, acostumada ao burburinho do

que envolve não apenas a criação literária

mercado e a um público inculto, sua transmissão

em verso e sua associação com a música, nas

sempre esteve associada à oralidade, como

pelejas e desafios cantados por repentistas,

poesia lida em voz alta ou cantada. Foi sob essa

mas também a criação plástica das xilogravuras,

forma que ela se fixou no Brasil, sobretudo no

muitas vezes produzidas pelos próprios poetas,

Nordeste, até dar origem, em fins do século

como é o caso de J. Borges e José Costa Leite.

XIX e primeiras décadas do século XX, a uma

Para mapear esse universo, a exposição deverá

florescente indústria gráfica para permitir a

traçar uma trajetória da literatura de cordel,

circulação impressa da criação dos poetas locais,

de suas origens aos seus principais gêneros

em folhetos que, em alguns casos, alcançaram

e autores, passando pelas formas da criação

tiragens a que jamais chegaram no Brasil autores

poética definidas segundo o esquema de rima

nacionais ou internacionais.

dos versos, assim como pela criação do taco ou matriz da xilogravura, até chegar aos processos

A literatura de cordel constitui, portanto, um

de impressão e acabamento do folheto. Ao

universo de extraordinária riqueza que, longe

tratar, nesta exposição, de formas de criação

de se esgotar como criação “tradicional”

popular tão características do Nordeste, o

condenada ao desaparecimento pelo

Instituto Cultural Banco Real presta assim uma

desenvolvimento dos modernos meios de

justa homenagem ao seu povo.

comunicação, vem, ao contrário, mostrando a imensa capacidade de renovação que circula nesse mundo de palavras, de música, de imaginação e de criação plástica – sob a forma das xilogravuras que cedo passaram a ilustrar a


Amadeu Amaral do Centro de Folclore e Cultura Popular (responsável pelo desenvolvimento do

Palavra preliminar

inovador sistema de Catalogação de Folhetos

************

Cordel (prolífico cordelista e editor do Dicionário

de Cordel), a Gonçalo Ferreira da Silva, presidente da Academia Brasileira de Literatura de

Franklin Espath Pedroso Pedro Afonso Vasquez

Brasileiro de Literatura de Cordel), e Bráulio Tavares (dramaturgo, compositor, cordelista e ensaísta, autor de Contando histórias em versos: poesia e romanceiro popular no Brasil). Todos esses quatro eminentes especialistas dividiram Para nós, a realização de “O universo do cordel”,

conosco seus conhecimentos em entrevistas

no Instituto Cultural Banco Real, no Recife, se

exclusivas, realizadas com o propósito de reunir

reveste de um significado todo especial que vem

subsídios para a realização desta exposição.

se somar à honra e ao prazer em expor numa instituição que se já transformou em referência

Agradecemos também aos colecionadores que

nacional. Isso porque não só conseguimos alcan-

nos honraram com sua confiança e prodigamen-

çar nossa meta de desenvolver um trabalho em

te nos abriram as portas de suas casas, franque-

torno da literatura de cordel na própria região

ando o acesso às suas preciosas coleções para

que viu nascer esse riquíssimo filão literário,

que pudéssemos compartilhar algumas de suas

como, por feliz coincidência, a exposição ocorre

peças com o grande público. A eles, nosso reco-

justo no momento em que se assinala a passa-

nhecimento e nossa gratidão. Somos igualmente

gem do nonagésimo aniversário de morte de

gratos ao Museu do Homem do Nordeste, da

Leandro Gomes de Barros, pioneiro e mestre in-

Fundação Joaquim Nabuco, e a todo seu compe-

conteste do cordel, falecido nesta mesma cidade

tente corpo funcional.

do Recife em 4 de março de 1918. Devemos também louvar “quem bem merece”: Um projeto dessa natureza só pode, eviden-

todos os envolvidos com a produção de livretos de

temente, ser realizado graças à generosa e

cordel através dos tempos, dos autores e xilógra-

desinteressada contribuição de uma série de

fos aos editores, dos gráficos aos folheteiros que

indivíduos e de instituições, que nos iluminaram

distribuíam o cordel de forma itinerante, dos pes-

com seus conselhos e nos honraram com o em-

quisadores aos professores e dos bibliotecários e

préstimo de peças de suas coleções.

arquivistas aos colecionadores particulares. Enfim, a todos os que neste mais de um século fizeram

Entre os pesquisadores devemos agradecer,

com que o cordel permanecesse vivo e perpetua-

sobretudo, a Delzimar do Nascimento Coutinho,

mente renovado conforme comprovado nas mais

diretora da Divisão de Folclore do Instituto

de 2.000 obras presentes nesta exposição.

Estadual do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (uma

E, finalmente, devemos agradecer ao ­Instituto

das organizadoras do importante congresso

Cultural Banco Real e toda sua equipe, sem a con-

Literatura de Cordel no Grande Rio de 1978),

fiança e o apoio dos quais a mostra “O universo

a Maria Rosário Fátima Pinto, da Biblioteca

do cordel”, não poderia ter sido concretizada.


XVI. Há controvérsia, no entanto, no que diz respeito à designação de cordel para qualificar este tipo de folheto. O Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel nos indica, por exemplo,

O universo do cordel

que este é um termo atribuído pelo pesquisador

************

pendurados em pequenas cordas, cordinhas,

Raymond Cantel, para designar os folhetos da literatura popular, vendidos nas feiras populares,

Pedro Afonso Vasquez

cordões. O termo cordel sedimentou o nome literatura de cordel. Cantel foi professor da

Em memória de

Sorbonne e começou a coletar in loco exemplos

José Laurenio de Melo,

da poesia popular brasileira em 1959, tendo

mestre e amigo

recebido dos repentistas baianos o título afetivo de “embaixador itinerante” de sua arte, que continuou a estudar e a difundir nas duas décadas seguintes, marcadas por freqüentes vindas As origens da literatura de cordel se confundem

ao Brasil. Depois de sua morte, a vasta biblioteca

com as origens do próprio Brasil. Quem asse-

especializada que congregou deu origem ao

gura isto é o professor Manuel Diegues Júnior,

Centro Raymond Cantel de Literatura Popular

ao afirmar: O nome de literatura de cordel vem

Brasileira da Universidade de Poitiers. O termo

de Portugal, e, como todos sabem, pelo fato de

cordel, por ele proposto, enfrentou de início a

serem folhetos presos por um pequeno cordel

resistência de alguns cordelistas e de importan-

ou barbante, em exposição nas casas em que

tes amantes do cordel. A esse respeito, J. Borges

eram vendidos. Com este nome já os assinala

relata que foi procurado pelo importante drama-

Teófilo Braga em Portugal do século XVII, se não

turgo recifense Hermílio Borba Filho que lhe dis-

mesmo antes. Pode-se dizer também que este

se: Estão querendo impor a palavra cordel para

tipo de poesia está relacionado ao romanceiro

tratar de nossos folhetos. Uma invasão cultural.

popular, a ele ligando-se, pois apresenta-se

Vamos iniciar uma frente contra a palavra es-

como romances em poesia, pelo tipo de narra-

trangeira. No Nordeste rural não existe a palavra

ção que descreve. A presença da literatura de

cordel. Comenta J. Borges: Fiquei a pensar. Sabia

cordel no Nordeste tem raízes lusitanas; veio-nos

que a palavra cordel não existia, mas a achei tão

com o romanceiro peninsular, e possivelmente

bonita que não tive coragem de lutar contra ela.

começam estes romances a ser divulgados, entre

Quer o termo tenha sido cunhado por Cantel ou

nós, já no século XVI, ou no mais tardar, no XVII,

simplesmente difundido por ele, o fato é o que

trazidos pelos colonos em suas bagagens.

o sentimento de aceitação e reconhecimento expresso por J. Borges foi compartilhado pela

No que diz respeito às origens ibéricas da litera-

maioria dos produtores e apreciadores de cordel,

tura de cordel brasileira parece haver consenso,

sendo hoje de aceitação universal e tendo dado

muito embora alguns autores, como Veríssimo

origem a derivações como cordelista (o autor de

de Mello, se preocupem em precisar que as

folhetos), cordelaria (a impressora e/ou editora

fontes remotas dos folhetos avulsos recuem à

de folhetos) e cordelteca (a biblioteca especiali-

Alemanha, no século XV, e à Holanda, no século

zada em folhetos).

11


O solo nordestino, o primeiro a ser pisado pelos

as secas periódicas provocando desequilíbrios

lharam aos quatro ventos, chegando às cinco

cujas veias corre tinta de impressão e em cuja

baseado a redação de algumas de suas obras de

Foram temas dados pelo povo ou constituíram

colonizadores – tanto portugueses quanto

econômicos e sociais, as lutas de família, deram

regiões do País. Foi nas ripas duras e suadas dos

face as rugas profundas parecem espelhar os

dramaturgia diretamente em folhetos de cordel,

trabalho individual, posteriormente tornado

holandeses –, revelou ser terreno fértil para o

oportunidade, entre outros fatores, para que se

bancos do pau-de-arara.

sulcos vigorosos das matrizes das xilogravuras.

figurando entre estas: Auto de João da Cruz; O

popular? Esses livros vêm do século XV, do

desenvolvimento dessa arte nascida da aridez,

verificasse o surgimento de grupos de cantado-

O cordelista é o mais perfeito intérprete da lida

castigo da soberba; O homem da vaca e o poder

século XVI, do século XVII e continuam sendo

crescida na carência e que viceja na adversidade.

res como instrumentos do pensamento coletivo,

Hoje, por intermédio da internet, qualquer pes-

descrita por Geir Campos no poema Tarefa:

da fortuna. Na década de 1970, quando era di-

reimpressos em Portugal e Brasil, com um

Manuel Diegues Júnior assim explica a vincula-

das manifestações da memória popular.

soa pode dizer o que quiser a respeito de seja

ção do cordel a essa região: No Nordeste por

12

retor do Departamento de Extensão Cultural da

mercado consumidor como nenhuma glória

lá o que for. Há um século, os autores de cordel

Morder o fruto amargo e não cuspir

Universidade Federal de Pernambuco, Suassuna

intelectual letrada ousou possuir.

condições sociais e culturais peculiares, foi possí-

As coisas mais fortes são aquelas que contrariam

já eram os paladinos da liberdade de expressão,

mas avisar aos outros quanto é amargo,

se empenhou inclusive em liberar recursos finan-

Nenhum desses livrinhos deixou de influir, na

vel o surgimento da literatura de cordel, de ma-

a lógica e todos os prognósticos desfavoráveis.

emitindo nos folhetos suas opiniões sobre po-

cumprir o trato injusto e não falhar

ceiros para viabilizar a publicação de folhetos de

acepção da simpatia. São lidos, decorados,

neira como se tornou hoje em dia, característica

Os fatos mais memoráveis são os improváveis e

lítica, amor, religião, dinheiro, destino e tudo o

mas avisar aos outros quanto é injusto,

cordel. Ao passo que João Cabral reconheceu,

postos em versos, em música, cantados, nos

da própria fisionomia cultural da região. Fatores

os inverossímeis. Assim, contrariando a tudo e

mais que constitui o tecido básico da existência.

sofrer o esquema falso e não ceder

em Descoberta da literatura, que sua iniciação

dois continentes. Alguns pormenores reapare-

de formação social contribuíram para isso: a

a todos, a literatura de cordel floresceu tal qual

Nada escapa ao olho arguto e ao comentário

mas avisar aos outros quanto é falso;

nas letras se deu na infância graças à leitura dos

cem numa ou outra estória, mesmo anterior,

organização da sociedade patriarcal, o surgi-

flor de cacto, beleza nascida em meio ao nada

preciso do cordel. Nada, em qualquer época

dizer também que são coisas mutáveis...

“romances de barbante” que os trabalhadores

numa convergência. Essas modificações são

mento de manifestações messiânicas, o apareci-

para encher a vida de tudo. Não foi em asas de

e em qualquer latitude. O cordel tudo analisa,

E quando em muitos a noção pulsar

lhe pediam que “lesse e explicasse”.

índices da popularidade do livro e sua reper-

mento de bandos de cangaceiros ou bandidos,

passarinho que as sementes do cordel se espa-

de Buda a Jesus Cristo, da princesa Isabel a

– do amargo e injusto e falso por mudar –

Lampião, de Ayrton Sena a Lady Di, da morte

então confiar à gente exausta o plano

Derivada da literatura oral com a qual mantém

de Tancredo Neves à chegada do homem à Lua.

de um mundo novo e mais humano.

ainda hoje vínculos indissolúveis, a literatura

O cordel é o resumo da história universal feito

cussão, entre analfabetos que guardam os te-

de cordel se difundiu nesses agrestes saraus

souros dos contos, facécias, cantigas, fábulas.

O século do cordel

pelo homem do povo, é a enciclopédia da vida

Ninguém ignora a influência exercida pela

rurais em que um leitor complacente dividia

cotidiana escrita à medida exata em que os fatos

literatura de cordel na composição de Morte e

com os companheiros iletrados as aventuras

Silviano Pirauá de Lima (1848-1913) costuma

vão ocorrendo – em “tempo real”, como se diz

vida severina, de João Cabral de Melo Neto, e

narradas num folheto de cordel, como antes os

ser considerado o precursor brasileiro da poesia

hoje, em linguagem de informática.

em O romance d’a pedra do reino e o príncipe

contadores de história de excepcional memória

cantada, o que facilitava a assimilação desta pelo

do Sangue do Vai-e-Volta e em O rei degolado

compartilhavam com suas platéias os poemas

povo. Além de transpor para versos as histórias

O cordelista é um jornalista que escreve em

– ao sol da onça caetana, de Ariano Suassuna

do Romanceiro Popular do Nordeste, antes que

tradicionais, foi dele a idéia da introdução das sex-

versos, é um historiador que descarta o distan-

– estes, significativamente divididos em “capí-

estes fossem fixados por escrito. Como observou

tilhas – mais maleáveis do que as antigas quadras

ciamento acadêmico em obediência aos ditames

tulos denominados folhetos, numa homena-

com grande justeza Câmara Cascudo:

–, bem como da obrigação do adversário de uma

do coração, é um poeta que recusa a torre de

gem aos folhetos do Romanceiro Popular do

marfim para sujar os pés na poeira do chão, é

Nordeste”. Orgulhoso de suas raízes e cioso da

Ninguém decidiu sobre a velocidade inicial

último do contendor. Com tais inovações, Silviano

um profeta que sucumbe aos próprios vaticínios.

valorização da cultura nacional, Ariano Suassuna

desses livrinhos. Saíram do povo ou foram

delineou assim a estrutura da poesia falada e can-

É, em suma, um ente literário completo, em

foi mais longe, assinalando ele próprio ter

incluídos, pela leitura, na oralidade anônima?

tada no Nordeste durante todo o século XX.

Zé Caboclo Retirantes / Migrant | década de 1950 /1950’s | cerâmica / ceramic | 25 x 44 x 10 cm | coleção particular / private collection

peleja cantada de rimar seu primeiro verso com o

13


Coube ao paraibano Leandro Gomes de Barros

e 2006) da Biblioteca de Cordel da Editora Hedra,

suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas pelo

(1868-1918) a primazia da impressão dos

que tenciona editar um total de meia centena de

cordel, vários dias depois do ocorrido, é claro.

folhetos de cordel. De acordo com a professora

antologias, estima em cerca de 2 mil autores e

Tempo de fartura para os cordelistas. “Naquela

Marlyse Meyer, ele: “Começou a escrever folhe-

cerca de 30 mil títulos a produção do cordel em

época enriqueci, era charuto e cerveja todo dia.

tos em 1889 e seus primeiros impressos datam

seu primeiro século de existência. Acervo este

Vendi 11 mil folhetos do Getúlio em três sema-

de 1893”. Dele disse mestre Câmara Cascudo:

que o professor Raymond Cantel qualificou no

nas”, conta Manuel Monteiro, cordelista e um

Viveu exclusivamente de escrever versos po-

Primeiro Congresso Nacional de Literatura Popular

dos mais atuantes divulgadores da poesia po-

pulares inventando desafios entre cantadores,

em Verso, no Rio de Janeiro e em Niterói (1973),

pular na Paraíba.10 A morte de Getúlio pode ser

arquitetando romances, narrando as aventuras

como “o mais importante, no sentido quantitati-

apontada como o ápice de popularidade do cor-

de Antônio Silvino, comentando fatos, fazendo

vo, entre as literaturas populares do mundo”.

del, pois foram vários os cordelistas a tratar do

sátiras. Fecundo e sempre novo, original e espi-

assunto em folhetos todos igualmente campeões

rituoso, é o responsável por 80% da glória dos

O cordel atingiu o apogeu entre as décadas de

de vendas. Contudo, o best-seller dos best-sel-

cantadores atuais. Publicou cerca de mil folhe-

1930 e 1950, difundindo-se por todo o País à

lers – para importar um anglicismo empregado

tos, tirando deles dez mil edições. Esse inesgo-

medida que seus praticantes eram forçados a mi-

apenas para a “literatura de estante” – foi a

tável manancial correu ininterrupto enquanto

grar para os grandes centros urbanos em busca

Peleja entre Cego Aderaldo e Zé Pretinho do

Leandro viveu. Seu exemplo foi seguido por

de melhores condições de vida. Nessa época: Os

Tucum que, afirmam os especialistas, ultrapas-

diversos outros autores, como Francisco Chagas

cordéis traziam notícias do Brasil e do mundo.

sou, em sucessivas edições, os 500 mil exempla-

Batista (1882-1930) e João Melchíades (1869-

Muita gente soube da morte de Lampião e do

res vendidos, o que faz desse folheto, portanto,

1933), e, assim, nas duas primeiras décadas do século XX, a literatura de cordel se expandiu e se consolidou, adquirindo

14

a obra literária brasileira de maior circulação em todos os tempos, já que nem o mago Paulo Coelho alcançou tal tiragem. Resta saber

o perfil básico mantido até hoje, apesar

de quem é o mérito de tal façanha, pois,

das inovações decorrentes da moderni-

em virtude de imprecisão bastante co-

zação dos meios de impressão.

mum no universo do cordel, existem dois autores que podem reivindicar tal feito.

A enorme aceitação do cordel fez com que as edições ultrapassassem com facilidade as dezenas de milhares

Com a palavra, mais uma vez, o professor Diegues Júnior: Conhecemos, pelo menos, duas versões desse desafio: Peleja do Cego

de exemplares, num país em que ainda

Aderaldo com José Pretinho do Tucum, de auto-

hoje os “livros de estante” têm tiragem mé-

ria de Firmino Teixeira do Amaral, datado de 17

dia de apenas 3.000 exemplares. Tal fenôme-

de outubro de 1946; e Peleja do Cego Aderaldo

no fez surgir entre os cordelistas os primeiros

com Zé Pretinho, editado por José Bernardo da

escritores profissionais do Brasil, pois, ainda

Silva, datado de Juazeiro, 15 de junho de 1962.11

que vivendo em condições modestas, não

Esse tipo de imprecisão é bastante característi-

faltavam aqueles que sobreviviam apenas de

co do mundo do cordel em virtude do costu-

sua arte no início do século XX, quando os

me de certos autores “tomarem emprestado”

escritores ainda não conseguiam viver exclu-

ou fazerem novas versões de determinados

sivamente de seus direitos autorais. Joseph

títulos, ou de os editores adquirirem os direitos

Maria Luyten (1941-2006), um dos maiores

de impressão de toda a produção de um autor

responsáveis pela divulgação internacional

dele próprio ou de seus herdeiros. Foi o caso,

do cordel no meio acadêmico, idealizador e

por exemplo, de um dos fundadores do gênero,

diretor (no período compreendido entre 2000

João Martins de Athayde (1880-1959), que teve

Sil Casamento / Marriage | 2008 | cerâmica / ceramic | 74 x 53 x 47 cm | coleção particular/ private collection


sua obra adquirida pelo editor José Stênio da

que o tomou como tema de numerosas teses e

– Você tem que assinar aqui. Sabe ler?

adaptação do paraibano Ariano Suassuna, inspi-

Silva Diniz, ele próprio neto de um dos precur-

estudos universitários, contribuindo dessa forma

Ele respondeu: – Sei sim, senhor.

rada no folheto Proezas de João Grilo de autoria

sores da xilogravura de cordel de Juazeiro do

para uma retomada da produção, embora em

– Então assine aqui.

do poeta pernambucano João Ferreira de Lima,

Norte, José Bernardo da Silva.

escala bem menor do que a da fase áurea.

Ele respondeu: – Eu não sei assinar.

para criar sua obra mais popular. O resultado foi

– Como é que você sabe ler e não sabe assinar?

um sucesso. Os brasileiros riram muito com o

Em alguns casos, os folhetos eram pura e

Ao relembrar sua infância nas quebradas da

Ele disse: – É que eu aprendi ler cordel, apren-

jeito estabanado e as estripulias de João Grilo,

simplesmente pirateados, o que fez com que:

Serra de Santana, Patativa do Assaré assinalou:

di ler tudo. Eu leio nome de tudo na vida, leio

que chegou mais tarde às telas de cinema.15

Para proteger o seu direito à autoria, os autores

Aquilo ali, nos dias de domingo, a diversão era

jornal. Agora não sei assinar porque nunca fui

Com igual sucesso, diga-se de passagem. Este

de cordel desenvolveram ao longo dos anos,

a pessoa que sabia ler, ler para aqueles analfa-

pra escola.

foi um caso no qual a televisão, tida por muitos

uma maneira interessante de assinar os textos

betos ouvirem. Era a distração. Não havia casa

que escreviam. Eles passaram a usar as últimas

para não ter folheto de cordel.13 A esse respeito,

Diversos fatores já foram apontados como

contribuiu ativamente para o resgate e a valori-

estrofes do poema para inserir seus nomes de

consta que certa vez o escritor Orígenes Lessa

geradores da crise do cordel, entre os quais as

zação de uma das mais tradicionais, autênticas e

forma disfarçada. Para isso, faziam da estro-

um dos maiores defensores do cordel, chegou a

transformações sociais subseqüentes à Segunda

características forma de expressão popular.

fe um acróstico, ou seja, um texto em que as

afirmar que “até analfabeto lê folhetos”, porque

Grande Guerra, a popularização do rádio e do

primeiras letras dos versos, lidas verticalmen-

acabavam aprendendo-os de cor, de tanto ouvi-

cinema, a construção de Brasília (para onde

te, formam uma palavra. / Com o tempo esse

los nas vozes dos cantadores. Por outro lado,

afluíram milhares de trabalhadores nordestinos,

recurso passou a ser do conhecimento público,

muitas foram as pessoas que fizeram questão de

lá apelidados de “candangos”), a facilidade dos

Américo Pellegrini Filho, professor da Escola de

e os “ladrões” de folhetos passaram a modificar

aprender a ler movidos pela curiosidade de de-

meios de transporte coletivos propiciadora da

Comunicações e Artes da Universidade de São

e até mesmo a cortar as estrofes que traziam a

cifrar por conta própria as histórias maravilhosas

migração interna, etc. Muitas foram as razões,

Paulo, informa que o cordel passou a ser valo-

Antônio Houaiss, Manuel Diegues Júnior, M.

Aos poucos, os centros de pesquisa do cordel

“assinatura” cifrada; mas esse modo de assinar

criptografadas nos folhetos de cordel. O autor,

mas é inegável que a difusão do rádio e, depois,

rizado por brasileiros depois de um artigo de

Cavalcanti Proença e Sebastião Nunes Batista,

foram se multiplicando, sobretudo em sua região

tornou-se uma tradição do cordel, embora nem

xilogravador e editor J. Borges, que teve parca

da televisão, contribuiu para o declínio da ativi-

Orígenes Lessa na revista Anhembi, publicado

responsáveis pela transformação da Casa de Rui

de origem, o Nordeste, onde se destaca o Museu

todos os escritores o utilizem.

educação formal, foi um dos que aprenderam a

dade, pelo fato de proporcionarem divertimento

em dezembro de 1955, e talvez principalmente

Barbosa num fundamental centro de referência

do Homem do Nordeste (integrante da Fundação

12

16

14

como a grande vilã da cultura regional brasileira,

O reconhecimento do cordel

ler com o cordel. A esse respeito, ele relatou um

para a população iletrada “de graça”, uma vez

depois de outro artigo, do estudioso francês

para o estudo da literatura de cordel. Não se

Joaquim Nabuco), e onde diversas universidades

As décadas de 1960 e 1970, marcadas pelo

caso curioso em depoimento videogravado para

pago o aparelho receptor. Todavia, com sua

Raymond Cantel, publicado no Le Monde, de 21

pode esquecer também da iniciativa anterior da

contam com coleções importantes e mantêm

advento do Governo Militar, pela inflação galo-

a Universidade de Brasília:

insuperável capacidade de adaptação, o cordel

de junho de 1969. A partir de inícios da década

Biblioteca Nacional, que, na década de 1950,

programas de estudo sobre o assunto em seus

logo tirou partido desses “concorrentes” para

de 1970, o assunto virou coqueluche para estu-

constituiu extensa e preciosa coleção de folhetos

cursos de pós-graduação. O aval de escritores

decadência do cordel para o grande público. Por

E tem outros poetas que aprenderam a ler no

se renovar, com o surgimento de versões em

diosos brasileiros, formando-se considerável bi-

(hoje conservada em sua Divisão de Música),

consagrados assim como a incorporação do cor-

outro lado, o fim dos anos 70 assinalou um fenô-

bliografia em que se incluem teses e mais teses.

graças aos esforços do professor Bráulio do

del pela comunidade acadêmica foram, sem dú-

Nascimento, um dos mais respeitados conhe-

vida, importantes, em determinado período, para

pante e pela difusão da televisão, assistiram à cordel. Por sinal, tem um poeta amigo meu

folhetos das mais célebres novelas do rádio e da

meno curioso: a popularidade do

que aprendeu a ler e não sabe escrever. Ele

televisão. Fechava-se assim um curioso circuito:

cordel na comunidade acadêmica,

só sabia ler cordel. Um dia foi enterrar um

obras literárias inspiradoras das radionovelas e

Na esfera oficial, o mais significativo reconheci-

cedores de literatura de cordel. Ainda na esfera

que esse tipo de literatura popular antes despre-

anjinho e lá no cartório o rapaz disse:

das telenovelas retornavam à forma literária por

mento do valor cultural da literatura de cordel

federal, o Museu do Folclore, pertencente ao

zada pela intelectualidade adquirisse respeitabili-

intermédio do cordel. Tal foi o caso, por exemplo,

partiu da Fundação Casa de Rui Barbosa, vin-

Instituto Nacional do Folclore, também vincu-

dade. Mas hoje vivemos um outro momento, em

de A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, e de

culada ao Ministério da Cultura. Logo no início

lado ao MinC, inaugurou, em fins da década

que, paralelamente à inserção do cordel no meio

Gabriela Cravo e Canela, de Jorge Amado, adap-

da década de 1960, por iniciativa do diretor

de 1970, a Biblioteca Amadeu Amaral, exclusi-

universitário, assistimos à consolidação de agre-

tadas com grande sucesso por Caetano Cosme da

do Centro de Pesquisa da instituição, Thiers

vamente dedicada à literatura de cordel e com

miações independentes fundadas pelos próprios

Silva e Manuel d’Almeida Filho, respectivamente.

Martins Moreira, foi criado o projeto Literatura

mais de 15.000 títulos em seu acervo, inclusive

cordelistas para preservar e discutir suas obras de

Popular em Verso, objetivando a realização de

raras peças datadas do século XIX. Fica compro-

forma autônoma. Entre elas, merecem desta-

Dado muito interessante, lembrado pela jorna-

levantamentos bibliográficos, a organização

vado assim que, ao menos do caso específico

que a Academia Brasileira de Cordel (Fortaleza,

lista Denise Ramiro no artigo “A redescoberta

de coleções, a preservação de documentos e

do cordel, as instituições oficiais não demons-

1980), a Academia Brasileira de Literatura de

do cordel”, foi a circunstância de que: Também

a publicação de estudos especializados. Essa

traram qualquer miopia ou esnobismo, sabendo

Cordel (Rio de Janeiro, 1988), o Centro Cultural

impulsionou o cordel o fato de ele ir à Rede

iniciativa contou com a consultoria de prestigio-

reconhecer a contribuição única e inimitável do

dos Cordelistas do Ceará (Fortaleza, 1990), e a

Globo com a minissérie O auto da compadecida,

sos pesquisadores, tais como Orígenes Lessa,

cordel para a literatura brasileira como um todo.

Fundação Nordestina de Cordel (Teresina, 1996).

16

Manuel Eudócio Casamento / Marriage | 2005 | cerâmica policromada / polychrome ceramic | 23 x 43 x 35 cm | coleção particular/ private collection

17


A técnica do cordel

A temática do cordel é tão variada quanto

pesquisador pernambucano Liedo Maranhão:

a própria vida, não existindo limites para a

folhetos de conselhos; folhetos de safadeza ou

A métrica mais empregada na literatura de

inventividade de seus autores. Entre os forma-

putaria; folhetos de propaganda; folhetos de

cordel é a sextilha com versos de sete ou cinco

tos narrativos mais encontradiços figuram os

gracejos; folhetos de cachorrada ou descaração.

sílabas, e esquema rímico organizado da seguin-

romances, derivados do romanceiro ibérico. Os

Entre tantas outras vertentes que englobam,

te forma: a, b, c, b, d, b. A forma mais complexa

romances se dividem em várias categorias, as

sem qualquer exagero, todas as facetas e todas

é a décima, cujo esquema rímico mais corrente

mais comuns sendo: os contos da carochinha ou

as atividades da vida humana, no passado, no

é: a, b, b, a, a, c, c, d, d, c; existindo também

de Trancoso (em referência ao escritor português

presente e até no futuro, já que existem também

folhetos com sete versos. Contudo, nenhum

Gonçalo Fernandes Trancoso [c. 1515-c. 1596],

os folhetos de profecias. Tudo isso faz da litera-

desses esquemas é fechado, já que o cordel se

autor de Histórias de proveito e exemplo); os

tura de Cordel um dos mais fidedignos espelhos

renova continuamente, inclusive combinando

romances de animais encantados; os romances

do Brasil, refletindo os feitos, as angústias e as

sextilhas com décimas e efetuando outras ino-

de tradição religiosa; os romances de anti-heróis;

aspirações de seu povo.

vações similares em sua estrutura. O cordelista

os romances de valentia; os romances de amor e

e pesquisador Gonçalo Ferreira da Silva destaca

os romances de sofrimento.

as seguintes modalidades de literatura de cordel

Para fechar este item, é interessante abusar, mais uma vez, da sapiência do professor

oral e escrita: Parcela ou Carretilha; Quadra;

Muito embora o termo folheto seja emprega-

Manuel Diegues Júnior, pois ele elaborou

Sextilha; Setilha; Mourão; Quadrão; Décimas;

do para denominar todo e qualquer libreto de

uma classificação que combina e sinteti-

Martelo-agalopado (modalidade aperfeiçoa-

cordel, os estudiosos costumam distinguir os ro-

za àquelas feitas, independentemente, por

da no Brasil por José Galdino da Silva Duda);

mances dos folhetos em termos conteudísticos.

Ariano Suassuna e por M. Cavalcanti Proença

Galope-à-beira-mar (modalidade criada pelo

Entre os folhetos, as principais subdivisões são:

(esta concebida para a Fundação Casa de Rui

repentista cearense José Pretinho do Crato);

as pelejas, transcrevendo os desafios travados

Barbosa). Congregando as duas, ele chegou ao

Galope alagoano; Gabinete; Glosa; Mote.

pelos cantadores mais famosos; a discussão,

seguinte sistema classificatório:

17

tida como paródia ou derivação da peleja; os

18

folhetos de acontecido, comparáveis ao con-

1. Temas tradicionais:

ceito de não-ficção empregado para os “livros

a. romances e novelas;

de estante” e, portanto, abarcando enorme

b. contos maravilhosos;

variedade de temas; os folhetos de época ou de

c. estórias de animais;

ocasião, verdadeiras reportagens sobre os mais

d. anti-heróis: peripécias e diabruras;

marcantes acontecimentos nacionais e interna-

e. tradição religiosa.

cionais. Outras subdivisões foram listadas pelo

2. Fatos circunstanciais ou acontecidos: a. de natureza física: enchentes, cheias, secas, terremotos, etc.; b. de repercussão social: festas desportos, novelas, astronautas, etc.;

c. cidade e vida urbana; d. crítica e sátira; e. elemento humano: figuras atuais ou atualizadas (Getúlio, ciclo do fanatismo e misticismo, ciclo do cangacerismo, etc.), tipos étnicos e tipos regionais, etc.; 3. Cantorias e pelejas.

Manuel Eudócio | Rendeira / Lacemaker | década de 1990 / 1990’s | cerâmica policromada / polychrome ceramic | 40 x 36 x 28 cm | coleção particular/ private collection

19


Analisando a produção de Minelvino Francisco

O visual do cordel

Silva, a professora Edilene Matos elaborou a seguinte classificação de suas obras, que aqui

Em sua conformação plástica primeira – ainda

reproduzo por julgá-la aplicável ao universo da

vigente nos dias de hoje, embora não mais

produção cordelística como um todo:

exclusiva –, a literatura de cordel se apresentava sob a forma de “folheto” ou “folheto de

20

1. Folhetos de amor;

trovador” (com oito páginas, cerca de 11 x 16

2. Folhetos de metamorfose;

cm), pois seus autores sempre se autodenomina-

3. Folhetos de encantamento;

ram trovadores. Ou então “romance”, “história”

4. Folhetos religiosos;

quando a narrativa é mais longa e exige 16,

5. Folhetos filosóficos;

32 ou mais páginas.20 Os folhetos de cordel de

6. Folhetos de acontecido;

fatura clássica são facilmente identificáveis em

7. Folhetos de valentia;

virtude das capas características em xilogravura.

8. Folhetos moralistas;

Ao contrário do que se poderia pensar, as capas

9. Folhetos de histórias de animais;

fotográficas antecederam as xilográficas, sendo

10. Folhetos de louvação;

ambas antecedidas pelas capas unicamente

As xilogravuras das capas

11. Folhetos históricos;

tipográficas. Conforme explica a professora

dos folhetos de cordel cau-

12. Folhetos de peleja;

Marlyse Meyer: Atribui-se a João Martins de

sam profunda impressão,

13. Folhetos de astúcia.18

Athayde a introdução das ilustrações na capa,

a ponto de o prestigioso

como modo de chamar atenção do comprador.

crítico de arte Antônio

Diversos autores de literatura de cordel, e dos

Assim, surgiram os clichês de artistas de cinema

Bento ter afirmado ser esta

melhores, não são cantadores. Todavia, como

ou de cartões-postais, poses de namorados

a maior contribuição que o

a literatura de cordel é de base essencialmente

para histórias de amor, ilustrações de filmes de

Nordeste ofereceu ao Brasil

oral sendo com freqüência – sobretudo nos

mocinho para folhetos que narrassem valentia.

no campo das artes plásti-

velhos tempos – lida em voz alta, não é raro en-

Depois a xilogravura passou a constituir-se numa

cas. No campo do cordel,

contrar poetas que são também cantadores. As

gravura, feita num taco de madeira (imburana),

o mais conhecido gravador da atualidade é o

transcrições das mais célebres pelejas constituem

que podia ilustrar diversos folhetos de temas

poeta e xilógrafo pernambucano J. Borges, cuja

itens dos mais procurados, muito embora algu-

análogos. Outras madeiras tradicionalmente

arte mereceu elogios entusiásticos de Ariano

mas dessas supostas transcrições tenham sido

empregadas são: pinho, cedro e cajá, atribuin-

Suassuna, que lhe abriram as portas do mercado

inventadas de todas as peças por um único e

do-se ao gravador Dila a primazia no uso da

internacional, onde realizou exposições individu-

inspirado poeta. O fato é que é impossível disso-

borracha vulcanizada para produzir capas pelo

ais e também estabeleceu singular colaboração

ciar a literatura de cordel da arte dos cantadores

processo de linogravura.

com o escritor uruguaio Eduardo Galeano em Os

21

e repentistas. Assim: Nas cantorias da literatura

nascimentos, obra inaugural da trilogia Memória

oral do Nordeste, encontramos dois tipos de po-

Segundo o estudioso Jeová Franklin: O primeiro

do fogo. Além de J. Borges, dois conterrâneos

esia; um tradicional que está sempre na memó-

folheto conhecido a trazer xilogravura, A história

seus, Dila (José Soares da Silva, nascido em

ria dos cantadores, e que serve justamente para

de Antônio Silvino, foi editado, em 1907, pelo

Surubim em 1937) e José Costa Leite (nascido

encher o tempo, e é chamado de “obra feita”;

poeta Francisco das Chagas Batista na Imprensa

em Sapé, na Paraíba, em 1927, porém radicado

outro é o improvisado, é o repente, o verso do

Industrial no Recife. Belíssima estampa de autor

há mais de meio século na cidade pernambu-

momento, dito à face de um fato momentâneo,

desconhecido, possivelmente baseada em

cana de Condado) possuem o prestigioso título

ou a propósito de uma pessoa presente; este

fotografia posada do célebre cangaceiro. Ela

de Patrimônio Vivo de Pernambuco, revertendo

último é o autêntico improviso, muito comum

impressiona pela fineza de traços e pela riqueza

assim a triste sina brasileira de obter reconhe-

sobretudo no desafio.

de detalhes no estilo da gravura européia.

cimento apenas após a morte. São, em vida,

19

22

21


novo fôlego, dando à luz uma série de novos talentosos poetas. O estereótipo do cordelista armado apenas com uma viola e um punhado de folhetos está com os dias contados. Os pequenos livros de poesia produzidos artesanalmente continuam pendurados com pregadores em feiras populares e ainda são lidos em voz alta por poetas-cantadores, como manda o figurino. Mas a outra face desta literatura já começa a aparecer. A nova geração do cordel, no Nordeste, conta com editoras especializadas, parque gráfico, internet, distribuição nacional e circulação cada vez maior no meio acadêmico.23 Curiosamente, a literatura de cordel que os desinformados julgam anacrônica ou, no mínimo, passadista, encontra na internet uma poderosa reconhecidos como personalidades máximas da

Batista (Juazeiro), Severino Gonçalves de Oliveira

aliada para sua renovação, sua preservação e

cultura do Estado, que também persevera na sa-

(Recife), José Costa Leite (Condado), Minelvino

sua difusão em escala verdadeiramente mundial.

bedoria em reconhecer todas as glórias do setor

Francisco Silva (Itabuna), Ciro Fernandes (Rio de

Klévisson Viana (nascido na região cearense de

com alguma conexão com o Estado, como o fez

Janeiro) e Marcelo Alves Soares (São Paulo).

Sertão Central em 1972) tem se revelado um dos

recentemente (30 de abril de 2008) O Diário de Pernambuco, ao dedicar um caderno especial,

22

pontas-de-lança deste cordel computadorizado

Conclusão risonha e otimista

Nobreza do Cordel, ao paraibano Leandro

e internáutico, mas completamente fiel às mais

23

estritas regras do gênero. Entre janeiro e feve-

Gomes de Barros, para assinalar o nonagésimo

Criado no século XIX em sua forma impressa

reiro de 2003 ele protagonizou uma “peleja vir-

aniversário de seu falecimento no Recife, em 4

– muito embora a cantada fosse de data mais

tual” com Rouxinol de Rinaré (nascido Antônio

de março de 1918.

recôndita –, o cordel encontra novo fôlego no

Carlos da Silva, no município cearense de Rinaré,

século XXI. Sem medo da virada do milênio,

em 1966). Depois, realizou outro embate do gê-

Joseph Maria Luyten, um dos maiores especia-

o cordel soube se adequar aos novos tempos

nero com Bráulio Tavares (nascido em Campina

listas em cordel de todos os tempos e autor de

e utilizar a informática e a internet em seu

Grande, na Paraíba, em 1950), que deu origem

obras como A xilogravura popular brasileira e suas

benefício. Estima-se que já foram publicados

ao folheto Peleja de Bráulio Tavares com Antônio

evoluções e A literatura de cordel em São Paulo,

até o presente mais de 100 mil títulos diferentes

Klévisson Viana, publicado pela sua editora

listou também entre os

e esse total não pára de crescer. O jornalista

Tupynanquim, de Fortaleza, em março de 2006.

principais artistas em

Rodrigo Alves foi dos primeiros a assinalar tal

Bráulio Tavares também já era experiente nessa

atividade neste começo

virada no artigo: “Novo cordel. Com nova safra

modalidade pós-moderna de desafio, pois havia

do século XXI: Abraão

de autores, parque gráfico e visão de mercado,

protagonizado o embate editado pela Gráfica

a literatura popular se reinventa e é um sucesso

Martins, de Campina Grande, em fevereiro

editorial”. Neste, afirmou com justeza: Depois da

de 2003: Peleja de Bráulio Tavares, o Rio da

entressafra, a mutação. Passado um período em

Silibrina, com Astier Basílio, o Arquipoeta das

que quase não se produziu literatura de cordel

Borboremas, longuíssimo cordel de 88 páginas

no Brasil, o gênero ainda mantém um pé na

em grande formato (21 x 15,7 cm). A dupla que,

tradição mas ensaia um passo à frente e ganha

ao menos de meu conhecimento, para ter sido a

Autor desconhecido / Author unknow | Sem título / Untitled | s.d. / undated | madeira / wood | dimensões variadas / variable dimensions | coleção particular / private collection


precursora do gênero, havia travado esse embate

como tantos cariocas e paulistas que

tanto, é um desafio. No caso da literatura de

no ano anterior, conforme explicado na contra-

aderiram ao gênero movidos não mais

cordel nordestina, por exemplo, faz parte da

capa do folheto: Esta peleja foi travada via inter-

pela tradição da terra natal e simples-

tradição do gênero o uso de rimas consoantes.

net, por e-mails, entre setembro e outubro de

mente pela paixão:

Se um folheto de cordel usa rimas toantes, o

2002: verso vai, verso vem. Sem limite de tempo,

conhecedor de cordel pensa logo que o autor

mas sempre com a intenção de fazer o melhor

Alguém disse que doutor É poluição

daquele folheto desconhece a existência des-

verso possível no menor tempo possível.

do cordel

sas regras. Um cordel escrito assim pode até

Como se fosse propriedade

ser um grande poema, mas não se pode dizer

Cumpre assinalar aqui que esses “modernismos”

Encerrada em sete véus

que se trata de um “cordel autêntico”, assim

e a presença dos “doutores” no cordel nem

Parada no tempo e espaço

como um automóvel da Ferrari com motor

sempre são bem recebidos pelos mais tradi-

Cavando seu mausoléu.

Rolls-Royce não é uma “Ferrari autêntica”.26

24

cionalistas, como não foram bem recebidas as inovações de Raimundo Santa Helena ao rechear

Cordel se faz doutor

seus livretos com ilustrações retiradas de jornais

Pois o povo brasileiro

O cordel como valor

superando todos os desafios, entrando em sinto-

e outras referências tidas como espúrias no cor-

Está estudando muito

Dum povo que quer vencer

nia com todos os “modernismos” e surfando em

po do texto de seus poemas. Franklin Maxado,

Para vencer bem ligeiro

Ter todos os seus direitos

todas as ondas virtuais, o cordel continua vivo

duplamente “doutor” sob seu nome de batismo,

A escravidão e o atraso

E pra isso tem de saber.

e bem vivo. Por sinal, a cada dia que passa se

Franklin Vitória de Cerqueira Barreiras Machado,

E a falta de dinheiro.

posto que é formado em Direito e Jornalismo,

24

O fato é que, para além de todas as pendengas,

torna mais verdadeiro e atual o bem-humorado Também outro tabu que cai

comentário de mestre Suassuna a respeito das

chegou a ser diretamente atacado por J. Barros

O cordel hoje renova

É de que só o nordestino

perspectivas do cordel: “Todo ano surge algum

(João Antônio de Barros) no folheto Doutor, que

Não é peça de museu

Pode fazer cordel

sulista aqui dizendo que a literatura de cordel

faz no cordel?, em que, deselegantemente, ele

Teve, tem e terá valor

Cada pessoa tem seu tino

está morrendo. Muitos dos que disseram isso já

afirmava que: “Doutor é poluição / Nos livretos

Entretanto o que se deu

O povo é só um só

morreram, o cordel continua vivo”.27 Pois é: assim

de cordel”. Maxado (nascido na cidade baiana

É que os tempos mudaram

E o poeta o seu destino.25

é, e assim será, ainda por longos e longos anos...

de Feira de Santana, em 1945) respondeu ao de-

Pois a vida não morreu.

safeto no folheto O doutor faz em cordel o que

Bráulio Tavares é quem explicita brilhantemente a

cordel fez em Dr., que vale a pena reproduzir em

O folheteiro tem de ir

solução desse impasse em seu Contando histórias

parte, pois elabora uma síntese da situação atual

Vender em outros lugares

em versos: poesia e romanceiro popular no Brasil:

do cordel, marcada pelo ingresso de

Livrarias, galerias

dois novos contingentes: os citados

Teatros, escolas e bares

O poeta é dono do poema. Cabe a ele deter-

“doutores” e os não-nordestinos,

Pois para não ficar parado

minar as regras a que o poema vai obedecer,

Terá de ter outros andares.

se é que haverá regras. O formato de um poema pode ser totalmente novo, criado a partir

Também o povo da roça

do zero; mas existem também os poemas de

Está vindo pra cidade

forma fixa, de forma consagrada: o soneto,

A própria São Paulo já é

o haicai, a terça rima, a sextilha da literatura

Terra de nordestinidade

de cordel... São poemas pré-formatados, por

Com milhões de conterrâneos

assim dizer: existe uma estrutura de estrofes,

Trabalhando de verdade.

alguns esquemas de rimas e algumas regras de métrica que é preciso obedecer – caso o poeta

É preciso atualização

queira fazê-lo. Ninguém é obrigado a usar

Pra não deixar perecer

essas formas; usá-las corretamente, no en-

Miro Mamulengos / Puppets | 2004 | madeira policromada e chita / polychrome wood and fabric | dimensões variadas / variable dimensions | coleção particular / private collection

25


26

Mestre Vitalino Boi / Ox | década de 1950 / 1950’s | cerâmica / ceramic | 45 x 23 x 45 cm | coleção particular/ private collection

Notas

Bibliografia

1. Manuel Diegues Júnior. “Literatura de cordel”. Em Sebastião Nunes Batista (organizador). Antologia da literatura de cordel. Fortaleza: Fundação José Augusto, 1977, p. 1. 2. Maria Rosário Fátima Pinto (organizadora). Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Literatura de Cordel, 2005, p. 45. 3. Jeová Franklin. Apresentação de J. Borges. Obra seleta. São Paulo: Editora Hedra, 2007, p. 15. 4. Manuel Diegues Júnior. Op. cit., p. 4. 5. Reproduzido em Fernando Ferreira de Loanda. Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro: Orfeu, 1970, p. 155. 6. Ariano Suassuna. O rei degolado – ao sol da onça caetana. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1977, p. 128. 7. Luís da Câmara Cascudo. Literatura oral no Brasil. São Paulo: Global Editora, 2006, p. 179-180. 8. Marlyse Meyer. Autores de cordel. São Paulo: Abril Educação, 1980, p. 8. 9. Luís da Câmara Cascudo. Vaqueiros e cantadores. São Paulo: Global Editora, 2005, p. 347. 10. Denise Ramiro. A redescoberta do cordel. Na era da tecnologia, a poesia popular encontra novos caminhos e vira alternativa de marketing. São Paulo : O Estado de S. Paulo, 2 de novembro de 2004, Caderno 2, primeira página. 11. Manuel Diegues Júnior. Op. cit., p. 5 12. Bráulio Tavares. “Notas sobre o cordel”. Em O flautista misterioso e os ratos de Hamelin. São Paulo: Editora 34, 2006, p. 70-71. 13. Em Luiz Tadeu Feitosa. Patativa do Assaré. A trajetória de um canto. São Paulo: Escrituras, 2003, p. 120. 14. Clodo Ferreira (organizador). J. Borges por J. Borges. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006, p. 13. 15. Denise Ramiro. Op. cit. Primeira página. 16. Américo Pellegrini Filho. Disponível em www.bahai.org. br/cordel/viva.html, janeiro de 2005, p. 1. 17. Gonçalo Ferreira da Silva. Vertentes e evolução da literatura de cordel. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Literatura de Cordel, 2001, p. 41. 18. Edilene Matos. “Os ofícios de Minelvino Francisco Silva”. Em Minelvino Francisco Silva. Obra seleta. São Paulo: Editora Hedra, 2005, p. 13-14. 19. Manuel Diegues Júnior. Op. cit, p. 5. 20. Américo Pellegrini Filho. Op. cit., p. 2. 21. Marlyse Meyer. Op. cit., p. 4. 22. Jeová Franklin. “A rica expressão da fantasia sertaneja”. Em J. Borges por J. Borges, p. 103. 23. Rodrigo Alves. “Novo cordel. Com nova safra de autores, parque gráfico e visão de mercado, a literatura popular se reinventa e é um sucesso editorial”. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, Caderno B, 7 de novembro de 2000, primeira página. 24. Bráulio Tavares & Astier Basílio. Peleja de Bráulio Tavares, o Raio da Silibrina, com Astier Basílio, o Arquipoeta das Borboremas. Campina Grande: Gráfica Martins, 2003, contracapa. 25. Franklin Maxado. Obra seleta. São Paulo: Editora Hedra, 2007, p. 57-58. 26. Bráulio Tavares. Contando histórias em versos: poesia e romanceiro popular no Brasil. São Paulo: Editora 34, 2005, p. 43-44. 27. Denise Ramiro. Op. cit., primeira página.

ASSARÉ, Patativa do. Obra seleta (ensaio crítico de Sylvie Debs). São Paulo: Editora Hedra, 2000. ATHAYDE, João Martins de. Obra seleta (ensaio crítico de Mário Souto Maior). São Paulo: Editora Hedra, 2005. BATISTA, F. das Chagas. Obra seleta (ensaio crítico de Altimar de Alencar Pimentel). São Paulo: Editora Hedra, 2007. BORGES, J. Obra seleta (ensaio crítico de Jeová Franklin). São Paulo: Editora Hedra, 2007. CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura oral no Brasil. São Paulo: Global Editora, 2006. __________. Vaqueiros e cantadores. São Paulo: Global Editora, 2005. CURRAN, Mark. História do Brasil em cordel. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998. DIEGUES JÚNIOR, Manuel. “Literatura de cordel”. Em BATISTA, Sebastião Nunes (organizador). Antologia da literatura de cordel. Fortaleza: Fundação José Augusto, 1977. FEITOSA, Luiz Tadeu. Patativa do Assaré: a trajetória de um canto. São Paulo: Escrituras, 2003. FERREIRA, Clodo (organizador). J. Borges por J. Borges. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006. FRADE, Cáscia (coordenadora). Literatura de cordel no Grande Rio. Rio de Janeiro: Instituto Estadual do Patrimônio Cultural/ Divisão de Folclore, 1978. GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. Cordel: leitores e ouvintes. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. KUNZ, Stanislas. Brésil/Cordel: une anthologie des gravures populaires. Paris: Les Éditions de l’Amateur, 2005. LOANDA, Fernando Ferreira de. Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro: Orfeu, 1970. MAIA, Virgílio. Recordel. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004. MAXADO, Franklin. Obra seleta (ensaio crítico de Antonio Amaury Corrêa de Araújo). São Paulo: Editora Hedra, 2007. MELLO, Frederico Pernambuco de. Guerreiros do Sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa Editora, 2004. MEYER, Marlyse (organizadora). Autores de Cordel. São Paulo: Abril Educação, 1980. MOREIRA, Thiers Martins. Poesia Popular: aulas radiofônicas. Rádio MEC 1963/1964. Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2004. PINTO, Maria Rosário de Fátima (organizadora). Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Literatura de Cordel, 2005. RINARÉ, Rouxinol do. Obra seleta (ensaio crítico de Ribamar Lopes). São Paulo: Editora Hedra, 2007. SILVA, Gonçalo Ferreira da. Vertentes e evolução da literatura de cordel. Rio de Janeiro: Edição do autor, 2001. __________. Lampião: a força de um líder. Rio de Janeiro: Edição do autor, 2005. SILVA, Minelvino Francisco. Obra seleta (ensaio crítico de Edilene Matos). São Paulo: Editora Hedra, 2005. SOARES, José. Obra seleta (ensaio crítico de Mark Dinneen). São Paulo: Editora Hedra, 2007. SUASSUNA, Ariano. O rei degolado – ao sol da onça caetana. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1977. TAVARES, Bráulio. Contando histórias em versos: poesia e romanceiro popular no Brasil. São Paulo : Editora 34, 2005. ___________. A pedra do meio-dia ou Artur e Isadora. São Paulo: Editora 34, 2005. ___________. O flautista misterioso e os ratos de Hamelin. São Paulo: Editora 34, 2006.

___________. Peleja de Bráulio Tavares, o raio da Silibina, com Astier Basílio, o arquipoeta das borboremas. Campina Grande: Gráfica Martins, 2003. ____________. “A ficção científica no cordel”. Em NOLASCO, Edgar Cezar & LONDERO, Rodolfo Rorato (organizadores). Volta ao mundo da ficção científica. Campo Grande: Editora UFMS, 2007. VIANA, Klévisson. Obra seleta (ensaio crítico de José Neumanne). São Paulo: Editora Hedra, 2007. ___________ . Peleja de Bráulio Tavares com Antônio Klévisson Viana. Fortaleza: Tupynanquim Editora, 2006.

Maria Amélia Sem título / Untitled | década de 1980 / 1980’s | cerâmica / ceramic | 75 x 28 x 22 cm | coleção particular / private collection

27


28

TLC (Temistocles Lino da Costa) Vapor / Steamboat | 2007 | madeira policromada e papelão reciclado / polychrome wood and recycled paper | 54 x 100 x 27 cm | coleção particular / private collection

29


(...) O cordel veio da Europa Com a poesia e repente.

A evolução da literatura de cordel

Quando surgiu a Imprensa,

***********

Na inspiração quente

Foi escrito para a gente O que se falava e cantava

Maria Rosário Pinto

(...) Na Península Ibérica, E pela força dos mouros, Arrastavam a voz final Num lamento duradouro,

O objetivo deste estudo é estimular a discussão

E com o som dos ciganos,

sobre a evolução e a permanência da literatura

Cantavam com voz de agouro.

de cordel em nossos dias, com os criadores/autores e estudiosos do cordel e com outros interes-

O poeta, João José dos Santos, Mestre Azulão,

sados no assunto. Somente dessa forma chega-

também se refere às origens do cordel em O que

remos a conclusões que nos possibilitem esboçar

é literatura de cordel? (200-?).

determinadas alternativas e estabelecer diretrizes de maior relevância à divulgação desta literatura.

(...) São heranças européias

As proposições aqui apresentadas serão demons-

De Espanha e Portugal

tradas através dos versos e dos seus autores.

E toda penínssula ibérica Que de um modo geral

A literatura de cordel tem suas origens no ro-

Os europeus imigrantes

manceiro da Península Ibérica e da França, sendo

Vindo das terras distantes

denominada, na Espanha, de pliegos sueltos;

Ao Brasil colonial

em Portugal, folhas volantes, soltas ou avulsas e na França, littérature de colportage. Chegou ao

Em Portugal e Espanha

Brasil por intermédio dos portugueses – originá-

Seus poetas menestréis

ria do cancioneiro lusitano –, tendo sido introdu-

Com versos de quatro e dez

zida na Península Ibérica pelos árabes, que por lá

Por folhas soltas chamadas

chegaram por volta do ano 711 e foram expulsos

E espunham penduradas

no ano de 1492, o que significou oito séculos de

Em cordinhas ou cordéis

dominação e influência cultural. Depois de bastante estudo

Franklin Maxado Nordestino em seu folheto O

E uma análise fiel

cordel do cordel (1982) nos mostra uma panorâ-

Observaram o formato

mica da literatura de cordel desde suas origens,

Em estilo de painel

passando pelos grandes temas e preocupações

Chamavam esta cultura

do cordelista com sua evolução, permanência e

De nome literatura

difusão até nossos dias.

Popular e de cordel

31


(cordéis) – nas feiras populares ou nas casas co-

nos evidencia a força dos folhetos de cordel no

erência dos temas, estilos e conteúdos próprios

Tem os heróis milagreiros,

merciais em que são vendidos. O poeta Franklin

Nordeste brasileiro:

da literatura de cordel. Essa é uma mola que não

Mágicos, cômicos, históricos,

enferruja, nem pára... A estagnação não faz parte

Irônicos ou macumbeiros.

Maxado Nordestino, em seu folheto O cordel do cordel (1982), nos exemplifica:

(...) No nordeste ele ganhou

do mundo dos poetas de cordel, por isso, a sua

tanta popularidade

evolução e permanência no universo literário bra-

(...) Têm de ter um algo mais,

(...) O folheto é mostrado

que os velhos camponeses

sileiro. Um dado significativo no rol de preocupa-

Conhecendo a teoria.

No cordel, que é cordinha,

foram buscar a verdade

ções desses poetas é a educação – eles mantêm

Pois, poeta já é dom

Onde o vate dependura

no folheto de cordel

constante ligação com escolas, universidades e

Que nasce com a poesia.

Seus romances e folhinhas

que o poeta menestrel

demais instituições de ensino, com olhos voltados

E o Cordel do Cordel

Pra vendê-los na Europa,

ia vendar na cidade

para o fomento da literatura de cordel entre os

Não é uma fraseologia!

estudantes, buscando despertar o interesse e pos-

Fazendo sua feirinha

Essa literatura popular – constituída pela poesia

O poeta João José dos Santos, Mestre Azulão,

Cordel não é carretel,

Também o poeta Juvenal Evangelista dos Santos,

também ressalta o Nordeste como celeiro da

tos, obedece a critérios de rigor poético quanto

em Origens da literatura de cordel, nos mostra:

poesia de cordel, ainda em seu folheto O que é

Franklin Maxado nos informa ainda:

E o novo leitor-poeta

literatura de cordel?

Com ele, é que se alinha,

às rimas, às métricas e aos ritmos. Os poetas Zé Maria de Fortaleza, Arievaldo Viana e Klévisson

(...) Porque chamou-se cordel

Viana nos esclarecem, no folheto A didática do

Por ser vendido em cordão

cordel, por que o termo literatura de cordel.

Mas mantém a sua linha.

(...) O cordel tem seus folhetos

Não deixando alinhavado

(...) O Nordeste é o seleiro

Que também são biográficos.

O seu verso e advinha.

Devido lama e poeira

Do cordel e do repente

Têm os que descrevem exemplo,

Ficava alto do chão

Tem humorista e poeta

Mas também os pornográficos,

Mestre Azulão também nos fala sobre o valor do

(...) O folheto popular

Da cultura cordelista

Do velho ao adolescente

E têm os que dão notícias,

cordel como fonte de informação e notícias:

Denominado cordel

É a sua tradição

O humor, a poesia

Parecendo jornais gráficos.

A sua definição

32

sibilitando a formação de novos poetas.

de composição –, impressa sob a forma de folhe-

É a célula que se cria

Segundo Raymond Cantel

A literatura de cordel chega ao Brasil, na baga-

É poesia popular

gem dos colonizadores, por volta do século 16.

Impressa sobre o papel

Atingiu maior expressão na região Nordeste,

Nossos cordelistas são, por natureza, sagazes.

No sangue daquela gente

em função das peculiares condições sociais e

Sempre atentos aos fatos históricos, do cotidiano

É uma literatura

culturais, tais como, a presença de manifesta-

brasileiro e do mundo; às mudanças por que

Cujos temas hoje são

ções messiânicas e do cangaço, os desequilíbrios

passa a sociedade em todos os seus níveis e,

Aproveitados na música

econômicos e sociais provocados, entre outros

também, aos fatos jornalísticos.

Cinema e televisão

fatores, pelas condições climáticas, como as

No seu valor literário

secas periódicas, como continua nos exemplifi-

Desde seus primórdios até nossos dias, a lite-

Está a sua expansão

cando Franklin Maxado Nordestino:

ratura de cordel serve à divulgação de histórias

(...) Esta cultura tem dado Tem os romances de bichos

Informação e ensinos

Misteriosos, mandingueiros,

As escolas do nordeste

Que falam, cantam, casam.

Para adultos e meninos

tradicionais, narrativas que a memória popular Vai da história real

(...) No Brasil ele ficou

vai conservando e transmitindo; são romances ou

Até as lendas e mitos

Chamado de abecê

novelas de cavalaria, contos, lendas, narrativas de

E com essa acepção

Ou de folheto de feira.

guerras, viagens ou grandes conquistas. Narram

Escritores eruditos

Você pode isso ler.

também fatos do cotidiano e acontecimentos

Com essa literatura

E ficou mais no Nordeste

sociais que prendem a atenção da população.

Dão seqüência aos seus escritos

Com seu povo a sofrer.

Os fatores que regem o ato criativo do poeta de O termo cordel está relacionado à forma de

O poeta, Gonçalo Ferreira da Silva, presidente

cordel são: a sensibilidade, a sagacidade, o olhar

exposição desses folhetos – presos em barbantes

da Academia Brasileira de Literatura de Cordel,

observador e, sobretudo, o cuidado com a co-

Manuel Eudócio Banda / Band | década de 1990 / 1990’s | cerâmica policromada / polychrome ceramic | 43 x 70 x 30 cm | coleção particular / private collection

33


Servindo como jornais

(...) Desculpem minha franqueza

Segundo as autoridades

de cordel, dados básicos [19--], folheto em

No improviso se sabe

Que levam das capitais

Ao tratar qualquer questão,

Sanitárias eis aqui

prosa, no qual apresenta uma classificação da

Quem possue melhor talento

Para os sertões nordestinos

Sou cordelista: não tenho

Os cuidados a tomar.

literatura de cordel, desde suas origens, sua

Por isso são convidados

Compromisso com facção.

Pesquisei e converti

evolução até a fase mais contemporânea. Editou

Nas festas de batizados

E segue ressaltando o valor e a credibilidade

Meu verso é minha bandeira,

Em versos simples, diretos,

ainda o folheto Museu do cordel (1999), que

Vaquejada e casamento

das informações contidas nos folhetos de cordel

Exponho de feira em feira

Neste Cordel que escrevi.

nos informa sobre a fundação de um museu de-

e divulgadas em feiras e praças públicas pelos

Minha livre opinião!

dicado à literatura de cordel e xilogravura, com o

Na rapidez do repente

É uma infecção aguda,

objetivo de criar um espaço dedicado a pes-

No pontear da viola

Dentre suas preocupações, o cordelista

Contagiosa, causada

quisas e à promoção de eventos nessa área da

A toada harmoniosa

(...) Repentistas e cordelistas,

­também assume postura esclarecedora e

Pelo Vibrião Colérico,

cultura popular, congregando poetas, xilógrafos,

Tem compaço e tem bitola

São conhecidos demais

­didática sobre campanhas relacionadas à

E que se não for tratada

estudantes e pesquisadores em geral.

Para quem fizer estudo

Seus repentes e cordéis

­política, à educação, à saúde pública e à pre-

Com a urgência devida

São verdadeiros jornais

servação do meio ambiente.

Decreta o fim da fornada!

poetas e cantadores:

Que levam pra todas feiras

Encontra arte pra tudo (...) A fundação de museu

Numa verdadeira escola

Só ao cordel dedicado,

As notícias brasileiras

Ainda nos mostra Manoel Santa Maria em seu

E o poeta segue sua jornada esclarecedora

Aos folhetos, às gravuras

(...) Luiz da Câmara Cascudo

E internacionais

folheto Defenda-se contra o cólera (1992):

sobre as medidas a serem tomadas para evitar a

E ao xilo destinado;

Foi grande folclorista

As velhas fontes e prelos,

Fez um estudo completo

Originais amarelos

Do poeta cordelista

Terão lugar reservado.

Que hoje serve de escola

De sanfona à tira-colo

Desde o ganzá a viola

Inspirado bem na Lira

Do cantador repentista

Com a proteção de Apólo

(...) A central finalidade É preservar a cultura;

34

O cantador de repente,

Dos primeiros cantadores

Autor de xilogravura,

Cegos e analfabetos

Promover expedições

E até negros escravos

Ele não pedia esmolas

E fazer reedições

Que cantavam em desafetos

Pois ali comerciava

Da nossa literatura

Passando estas tradições

Seus folhetos espalhados

Para outras gerações

Que o guia controlava

Filhos, netos e bisnetos

O freguês em recompensa

E sobre as cantorias e pelejas, exaltando figura dos ­contaminação, fechando com a estrofe:

Ele cantava os folhetos

repentistas cantadores, Franklin Maxado nos diz:

O fole fazia o solo

Confiam mais no poetas

Não vou lhes brindar com nada

Porque são muitos fiéis

Artístico no momento.

Desconfiam dos jornais

Serei breve e objetivo

(...) Finalizando, eu espero

(...) Os de pelejas são célebres

De letra e evolução

Delarme Monteiro da Silva também nos mostra

Que mentem nos seus papéis

Para lograr meu intento.

Que este folheto lhe ajude

Como a de Zé Pretinho,

Esta cultura passou

sua preocupação e nos dá notícias da evolução

Dizendo em praças e feiras

Minha função é didática,

Contra o cólera, porém

Cego Aderaldo, Bandeira,

Por uma lapidação

da literatura de cordel através de seus poetas,

Que notícias verdadeiras

No Cordel que ora apresento.

A higiênica atitude

Fabião e Passarinho,

Rádios, jornais, revistas

cantadores, editores e distribuidores, em seu

É sua melhor defesa,

Ana Roxinha, Milanês,

Onde os grandes repentistas

folheto Nordeste, cordel, repente e canção ­[19--].­

Tratando-se de saúde!

Riachão e Canhotinho

Fazem dela profissão

Evidencia a importância social da literatura de

São aquelas dos cordéis Em Grego, no masculino,

Um livro sempre comprava Até chegando ao presente

É importante ressaltar o caráter opinativo do poe-

Era “o cólera”, mas não

cordel, conforme citação abaixo:

ta de cordel, livre de censuras ou compromissos de

Sou filósofo pra entrar

O presidente da Academia Brasileira de

encomendas, como mostra o poeta Manoel Santa

No âmago dessa questão.

Literatura de Cordel, Gonçalo Ferreira da Silva,

Maria em sua última estrofe do folheto Aiatolá

Sou apenas cordelista

preocupado com a difusão do cordel nas escolas

(...) Os repentistas são astros

Komeini e outros carrascos modernos (1989):

De alma, corpo e coração!

e demais meios acadêmicos, publica Literatura

Do maior divertimento

Azulão também fala dos cantadores repentistas:

E falando sobre a figura do cantador, Delarme Monteiro nos diz...

(...) Dos poetas de cordel Foi Leandro, o pioneiro

(...) Havia também um cego

Aqui dentro do Recife


36

Assim foi ele o primeiro

Ali ganhava o meu pão

A distribuir folhetos

De repente me senti

Por este Nordeste inteiro

Jogado na contramão

Leandro Gomes de Barros

Então procurei um jeito

Homem que tinha pujança

– O senhor Delarme, quem é?

(...) O papel subiu de preço

Mas sem perder a esperança e confiança na

Tornou-se objeto raro

literatura de cordel, o poeta Delarme Monteiro

Então eu me aproximei

A tinta rolos e tipos

relata sobre o interesse que o cordel vem des-

A ele fui atender

Tiveram alta é bem claro

pertando em sociólogos, cientistas, estudantes e

João José me perguntou

Então nosso folhetinho

instituições de educação e cultura.

Pra sair do “atolleiro”

O senhor pode dizer

Passou a custar muito caro

Na feitura dos seus versos

Escrevi pra Zé Bernardo

Se aqui vende folheto

Com beleza e segurança

Contando tudo primeiro

Para agente revender

Morreu só deixando rimas

Ele então me convidou

Pra viúva como herança

Pra visitar Juazeiro

(...) Tanto que os sociólogos (...) Já era quase impossível

Então se preocupando

Para o poeta editar

Percorrem todo o Nordeste

(...) De fato com poucos meses

Continuar fornecendo

Gravando e fotografando

João José se aprumou

Livros ao revendedor

Pra dar força ao folclore Que anda cambaleando

Com a morte de Leandro

Lá fizemos um contrato

Conseguiu comprar um prelo

Com as mesmas condições

A viúva precisando

Coisa de muito valor

Uma gráfica montou

Do sistema anterior

Vendeu tudo a Athayde

Fiquei sendo no Recife

De poeta folheteiro

Que já vinha se entrosando

Único distribuidor

Para gossista passou

Com versos de sua lavra

Dos livros de Athayde

Aos poucos se levantando

Pra qualquer interior

Na direção do Athayde

E assim em pouco tempo

A poesia cresceu O acervo de Leandro

No Rio de Janeiro breve Eu não podendo comprir

Um filme vai ser rodado

O meu contrato assinado

O cenário é o Nordeste

Isto para quem chegou

Zé Bernardo inda era vivo,

Que será representado

Puxando uma “cachorrinha”

Comigo ficou zangado

Por poetas violeiros

Comendo no “come em pé”

Mandou fechar o depósito

Cantos de coco embolado

Aos poetas avisei

Meia sôpa com farinha

Do beco do Sirigado

No beco do Sirigado

Prova que a literatura

Ele juntou com o seu

O depósito instalei

De cordel já rainha

O cordel em pouco tempo

Cartas pra outros Estados

Atingiu o apogeu

Com catálogos mandei

(...) Esse filme documento O poeta João José

Está sobre a direção

Ainda continuou

Da jovem Tânia Quaresma

Me refiri ao poeta

A fabricar seus livrinhos

Moça de disposição

João José mas sem maldade

Mas também se afastou

Vive sempre em movimento E quer ver tudo em ação

Athayde adoecendo

(...) Daí então o cordel

Quiz só mostrar pro leito

Vendo a coisa “ficar preta”

Vendeu a tipografia

Recomeçou a ter vida

Com que tal facilidade

Sua gráfica fechou

A José Bernardo da Silva

A freguesia chegando

O cordel dava dinheiro

Que do ramo conhecia

E eu gostando da lida

Aqui dentro da cidade

Levando pro Ceará

Qualquer livro que botasse

Toda a nossa poesia

Era de pronta saída

Os folheteiros antigos Seguiram outros caminhos

E Delarme Monteiro ainda rimando suas observa-

Pois não suportando os preços

ções sobre a fase áurea da literatura de cordel...

Deixaram nossos livrinhos

Ficando sem impressora

E, continua referindo-se ao poeta e editor José

Jogados quase ao relento

Bernardo da Silva, que viria a se tornar um

Foi esta a “fase de ouro”

Pois centenas de poetas

dos maiores editores do Nordeste, criando a

Do poeta de cordel

Dali tiravam o sustento

Tipografia São Francisco.

Até mil nove centos

Isso veio piorar

E sessenta, inda era mel

A nossa situação

(...) Certo dia em meu balcão

Porém depois dessa data

Já não há mais editores

Surgiu um tal João José

Chegava a taça de fel

Próprias pra confecção

Isto para Pernambuco Foi um golpe violento

Pra vender jornal de samba

Eu mesmo senti o golpe

Numa roupinha “sambada”

E a grande decepção

Tamanco velho no pé

Delarme também nos fala sobre a crise sofrida

Trabalhava com Athayde

Perguntou pra meu irmão

pela indústria do papel...

Galdino Sem título / Untitled | década de 1980 / 1980’s | cerâmica / ceramic | 94 x 25 x 40 cm | coleção particular / private collection

E revistas em quadrinhos

De folhetos populares E sua divulgação

Mestre Solon Pastoril / Pastoral | década de 1950 / 1950’s | cerâmica policromada / polychrome ceramic | 30 x 25 x 34 cm | coleção particular / private collection

37


(...) Assim leitor, o cordel

Hoje vemos o cordel ocupando espaços públicos

(...) Com toda televisão,

Sempre ficará lembrado

–, a mídia impressa, radiofônica, televisiva, ci-

Rádios, discos e novelas,

E jamais pode cair

nematográfica, o mercado editorial e também a

O ABC de cordel

Cabe ressaltar a confiança despertada no mer-

O folhetinho rimado

mídia virtual. Fazem parte de pautas jornalísticas

É o jornal e a vela

cado editorial nos trabalhos realizados, pelas

Que pra todo nordestino

as matérias sobre a literatura de cordel e seus

Que ilumina o sertão,

editoras, não somente aquelas que se dedicam,

Tem um bonito passado

autores, ampliam-se as programações de rádio

E, nas cidades, a viela.

exclusivamente, à publicação de folhetos de

em torno dos poetas de cordel e em especial dos

cordel, mas as grandes editoras, que ocupam

Leitor não digo mais nada

cantadores. É cada vez mais freqüente vermos o

O cinema, que anteriormente inspirou as ilustra-

o parque editorial e que hoje se voltam para

Sobre essa promoção

cordel abordado na televisão, seja em seus folhe-

ções de capas de folhetos, hoje trata da poesia

este tipo de publicação, como ainda nos afirma

Da poesia que Tânia

tins (novelas) ou em produções de documentários

de cordel, como tema poético e também de

Franklin Maxado Nordestino:

Faz com tanta animação

sobre o assunto. Estes são mais freqüentes nas

seus roteiros com alguma freqüência, como nos

Porque não tem mais papel

programações de TV por assinatura, o que ainda

mostra Raimundo Santa Helena em seu folheto

(...) Seus poetas são também

Pra fazer a redação

significa uma limitação, se considerarmos que a

intitulado Glauber (1981):

Editores e vendedores.

maioria da população não tem acesso a esse tipo E Delarme encerra seus versos com o clássico acrósti-

de transmissão, dado ao seu elevado custo.

(...) Deixei aqui pro leitor

Saem lendo e cantando, Apagai esta luz, eletricista!

Procurando os leitores

Sem roteiro pra que o refletor.

Que gostam das novidades

Sobre a inserção do cordel nas rádios, Azulão

Sem cenário pra que o operador,

E versos de mil amores.

nos informa:

Diretor, assistente, roteirista,

co, que reafirma sua convicção de poeta de cordel...

Essa dica do cordel

38

povo pelos temas singelos da literatura popular.

Contra-regra, pra que argumentista

A literatura de cordel também está presente na

Lamento profundamente

(...) Todos rádios do nordeste

Pra que cena, pra que trilha sonora.

mídia virtual, seja como páginas de documentos

A minha sorte cruel

Tem programas todo dia

O mocinho, de veras morre agora.

sobre o assunto, seja como publicações de poetas

Rimo só desde os 20 anos

De cantador repentista

Lá no Céu, cad’estrela, uma tocha...

que dela se utilizam para veicular seus folhetos e

Mas só guardei desenganos

Que para o povo anuncia

Vai com Deus, cineasta GLAUBER ROCHA!

mesmo como tema. Vale citar o folheto A internet

E rimas sobre cordel

Como verdadeiras prendas

Cad’amigo que fica, por ti chora...

no reino da rapadura [20--], do cordelista João Batista Melo, nos versos selecionados que seguem:

Qual o sítio ou a fazenda

As correntes migratórias para o sul do País,

Que vai haver cantoria

trouxeram, também em seu caminho, a produ-

A recente produção cinematográfica baseada na obra O auto da compadecida, de Ariano

Certo dia eu tava em casa

ção de folheto, ocasião em que surgem as editoras

E Franklin Maxado reafirma a resistência do

Suassuna, obteve uma das maiores bilheterias do

na minha vida informal

Prelúdio e posteriormente Luzeiro, em São Paulo (SP).

cordel diante da televisão:

País, fato que confirma o interesse da população

lutando no dia-a-dia

pelo tema, deixando, assim, clara, a preferência do

neste momento global

A presença da literatura de cordel nos grandes centros urbanos ameniza, de certa forma, a saudade, que traz consigo o imigrante nordestino. Segue Franklin Maxado Nordestino, evidenciando a transposição dos heróis medievais para os cangaceiros do nordeste brasileiro: (...) Na colônia se criou Com raiz lá no Nordeste. Seus heróis medievais, Foram os cabras da peste Com Lampião pela frente, Se espalhando pelo Leste.

Manuel Eudócio Lampião e Maria Bonita | 2005 | cerâmica policromada / polychrome ceramic | c. 95 x 25 x 29 cm (cada peça) / each piece | coleção particular / private collection

39


quando ouvi alguém gritar:

Genebra, na Suíça. Esses são, alguns exemplos,

E ao falar sobre essa evolução através dos

“Ô poeta venha cá...

da permanência e, mais que isso, da resistên-

modernos meios de comunicação de massas,

chegue aqui no meu quintal...”

cia do cordel, no Brasil e no mundo, como nos

Franklin Maxado nos diz em seu livro O cordel

afirma Azulão, em versos que instigam o estudo

televivo, futuro, presente e passado da litera-

da literatura de cordel:

tura de cordel (1984) – “o folheto de literatura

Era a vizinha do lado

de cordel, assim, bem pode virar uma caixinha

de nome dona Gildete mãe de oito “capetinhas”

(...) Até mesmo o brasileiro

contendo fitas magnéticas”, realizando então a

desses de pintar o sete

Que descobrir a beleza

profecia de Câmara Cascudo que diz:

que queria porque queria

Desta cultura e quiser

que eu fizesse em poesia

Pesquisar esta riqueza

Amanhã, as formas mais primitivas de mani-

algo sobre a INTERNET

Tem que deixar seu país

festações populares passarão também para o

Ir à Sorbone em Paris

litoral e se transformarão em teatro moderno,

Grande exposição francesa

cinema, romances, poemas. Por isso, nunca

Me propus então versar essa jovem genial

desaparecem. Elas se transformam.

que está mudando o mundo

Lá você encontra tudo

de forma fenomenal

Em relação ao cordel

criando Elo e cadeia

Escrito e microfilmado

tornando tudo uma aldeia

Exposto em grande painel

(...) Ele não pode morrer!

neste contexto global

Gravação e microfone

Lanço aqui o desafio

Levado para a Sorbone

Para seus novos poetas,

Pelo o professor Cantel

Que não usam mais o fio

(...) Para muitos ela é visagem espírito da Caipora

40

E Franklin Maxado segue afirmando em versos:

Para dependurar folhetos,

a Sereia dos novos tempos

Quase toda a Europa tem

pelos espaços afora

Cordéis na exposição

que em fração de segundo

Se encontra nas Américas

A utilização de diferentes mídias

consegue dá volta ao mundo

Até mesmo no Japão

para a edição e divulgação

com a notícia na hora

Foram por pesquisadores

da literatura de cordel,

Cordéis de muitos autores

não a alteram em sua

Até mesmo de Azulão

essência. Os versos

Dispondo do seu trabalho

Mas que lhe acendam o pavio

41

de cordel permane-

se tem o mundo à mão se “navega” à vontade

Por mais que os pessimistas insistam em apon-

cem vivos e atuais,

sem medos de colisão

tar o estrangulamento dos espaços públicos

cabendo aos poetas

só com um teclar de dedos

destinados à literatura de cordel, como feiras e

modernos e aos estu-

o mundo perde segredos

instituições públicas, é gratificante verificarmos

diosos da atualidade

e se ganha informação

a resistência desses setores em todo o País, que

responsabilizarem-se por

mantêm viva sua tradição.

esta forma literária.

A preocupação com a manutenção do cordel também é observada em instituições interna-

O cordel está vivo e evoluindo, podendo até

cionais, tais como, os trabalhos realizados pelo

mudar de fisionomia, mas, certamente, manten-

Instituto da Universidade de Poitiers, na França;

do suas características de conteúdo e riqueza

e, o acervo, em língua portuguesa e os traduzi-

nas formas métricas, rítmicas e nas rimas, tendo

dos deixados pelo professor Jean Christinat, em

como resultado a beleza da literatura popular.

Maria Rosário Pinto é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel e responsável pelo acervo de folhetos de cordel da Biblioteca Amadeu Amaral, no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular


Bibliografia Santos, José João dos Santos. O que é literatura de cordel? Japeri: [s.n., 200-]. Melo, João Batista. A internet no reino da rapadura. Niterói: [s.n., 19--]. Nordestino, Franklin Maxado. O cordel do cordel. São Paulo: [s.n.], 1982. _____. O cordel televivo, futuro, presente e passado da literatura de cordel. Rio de Janeiro: Codecri, 1984. Santa Helena, Raimundo. Glauber: cineasta que morreu pelo Brasil. Salvador: [s.n], 1981. Santamaria, Manoel. Aiatolá Komeini e outros carrascos. Araruama: [s.n.], 1989. _____. Defenda-se contra o cólera. Araruama: [s.n.], 1992. Silva, Delarme Monteiro da. Nordeste, cordel, repente, canção. Bezerros: [s.n.,19--].

42

43

José Bezerra, Edimilson & Leandro Beatas / Beatas | 2007 | madeira / wood | dimensões variadas / variable dimensions | coleção particular / private collection


44

The universe of stories on strings

45


46

A different way of viewing the world

Cordel, creation of the people

Foreword

Its roots may well stretch back to the Middle Ages, when the Iberian Peninsula was under Arab rule; cordel literature is certainly a type of folk tale that seems cut across History, with its special way of portraying the world. The medieval universe where it originated is still today apparent in classic romances of this genre, such as Pavão misterioso or Donzela Teodora. But while following its traditional form, the cordel poets of Brazil skillfully introduced local color into their stories, recounting the drylands saga of the Northeast and its outback outlaws, feared and fêted for their feats, rather than lamenting the noose that was the fate of many of them. Wielded as sharp tools criticizing the powerful, humor and satire are always well to the fore in this literature, such as the narrative of the arrival in hell of Lampião − the Sundance Kid of Northeast Brazil. A keen social awareness is quite apparent whenever these poets of the people address scarcity and need. Like journalism exploring its ordinary surroundings in order to draw moral lessons from everyday events, this literature written by the masses for the masses never cease to amaze us. Far from slipping into decline, eclipsed by more sophisticated media and instant communications, cordel literature has shown an extraordinary power of adaptation and modernization. Its famous song duels and challenges known as pelejas or desafios can now be fought over the internet, and the folhetos de acontecido narrate matters of interest to the people that range from praising Formula 1 champion Ayrton Senna for the glories he brought to his homeland through to eulogizing environmentalist Chico Mendes, the rubber-tapper who gave his life to save Amazonia. In Pernambuco State, many healthcare campaigns work with cordel poets whose works are peddled at country fairs, in order to provide vital information on diseases such as cholera and how to avoid them. And it should never be forgotten that all these sub-genres are accompanied by woodcuts, lovingly grooved to illustrate the covers of cordel booklets. Carried by migrants fleeing the droughts of the Northeast, this typical literature has put down cultural roots in urban hubs all over Brazil. In São Paulo or Recife, João Pessoa or Fortaleza, it continues to confirm that the Brazilian people are well aware of the values underpinning citizens’ rights, together with social accountability and sustainability. Long considered the poor country cousin of Brazilian literature, it is high time to restore the cordel to its rightful place, as a cultural expression manifesting values that are crucial for the times in which we live. By sponsoring this Exhibition, the Instituto Cultural Banco Real is honored to host the work and wisdom of the people of Northeast Brazil, presented through the folk art of the cordel universe.

Brought to Colonial Brazil by Portuguese settlers, perhaps as early as the XVI century, cordel booklets were commonplace in the Iberian Peninsula. Known as pliegos sueltos in Spain and volantes in Portugal, their narratives explored a wide variety of topics, ranging from folklore, morality tales and accounts of marvels through to noteworthy events in daily life, such the execution of a condemned man. A form of littérature de colportage, hawked at street fairs by peddlers traveling the length and breadth of Europe, and created by poets of the people for their unlettered publics, these stories in verse were recounted aloud or chanted in bustling marketplaces. This was how they spread through Brazil, flourishing in its harsh Northeast drylands and giving rise to a specialized publishing industry during the XIX and early XX centuries that printed and distributed the works of local folk poets in booklets that sometimes reached print-runs undreamed of by mainstream authors in Brazil and elsewhere in the world. The extraordinarily rich universe of cordel literature is far from fading away, outstripped by modern communications media and overshadowed as a ‘traditional’ type of creation. Much to the contrary, this genre is demonstrating the immense capacity for renewal that permeates this world of words, music, imagination and the creative spirit, expressed through the woodcuts that have long illustrated the covers of cordel booklets. With its independent production, circulation and distribution assured among the people, cordel literature attracted the attention of academic circles from the 1970s onwards, through studies and research projects that were to legitimize its presence far from its simple roots. Today, several highly-respected institutions have built up impressive collections of cordel literature, including the National Library, the Casa de Rui Barbosa Foundation, the Brazilian Literary Academy and the Fine Arts Museum, among many others. This folk art even has its own institution: the Brazilian Academy for Cordel Literature, whose members include poets able to recount in verse the history of cordel literature in Brazil! As conceptualized by its Curators Franklin Espath Pedroso and Pedro Afonso Vasquez, the purpose of The Cordel Universe is to guide the public of Pernambuco State through a world that involves not only literary creation in verse and its association with music, in the song duels and improvisation challenges chanted by quick-thinking repentistas, but also the woodcuts that illustrate their covers, often cut by the poets themselves, including J. Borges and José Costa Leite. In order to chart this unique world, the Exhibition must trace the development of cordel literature back to its roots, exploring its main sub-genres and authors, examining its poetic formats that are defined through the rhyme patterns of their stanzas, in addition to the preparation of its woodcut blocks and the processes used to print and bind these booklets. By hosting this Exhibition of folk arts so characteristic of Northeast Brazil, the Instituto Cultural Banco Real also pays tribute its people.

For us, organizing the Exhibition on The Cordel Universe at the Instituto Cultural Banco Real in Recife is a very special occasion, enhanced by the honor and pleasure of displaying these works at an institution that has become a cultural benchmark. This is because we have not only been able to attain our goal of presenting an overview of cordel literature in the homeland of this rich literary genre, but also do so − through a fortunate coincidence − on the ninetieth anniversary of the death of pioneering cordel master Leandro Gomes de Barros, who passed away in this same city of Recife on March 4, 1918. Quite obviously, a project of this type can be implemented only through generous and selfless contributions from many individuals and institutions, enlightening us with their sage advice and honoring us by lending items from their collections. Outstanding among the researchers we wish to thank are: Delzimar do Nascimento Coutinho, Director of the Folklore Division, State Cultural Heritage Institute under the Rio de Janeiro State Culture Bureau (one of the organizers of the important congress on Cordel Literature in Greater Rio in 1978); Maria Rosário Pinto, from the Amadeu Amaral Library, Folklore and Culture Center (in charge of developing the innovative cordel booklet catalog system); Gonçalo Ferreira da Silva, President of the Brazilian Cordel Literature Academy (a prolific cordel writer and editor of the Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel); and Braulio Tavares (playwright, song-writer, cordel poet and essayist, the author of Contando Histórias em Versos: Poesia e Romanceiro Popular no Brasil). These four eminent specialists shared their knowledge with us in exclusive interviews that provided insights and input for this Exhibition. We would like to thank also the collectors who honored us with their trust and generously welcomed us into their homes, allowing access to their precious collections so that we could share some of these treasures with the public at large. We offer them our acknowledgment and gratitude. We are equally indebted to the Museum of the Man of the Northeast, the Joaquim Nabuco Foundation, and its competent staff. Well-deserved praise is also due to all those engaged in the production of cordel booklets over the years, from writers and woodcut artists through to their publishers; from printers to peddlers distributing these booklets in the course of their travels; from researchers to lecturers; from librarians and archivists to private collectors. In fact, to all those who have kept cordel literature alive for more than a century, constantly renewed as shown through more than 2,000 works featured in this Exhibition. Finally, we thank the Instituto Cultural Banco Real and its staff, without whose trust and support this Exhibition of The Cordel Universe would never have been presented.

************

Fabio Colletti Barbosa Chief Executive Officer - Banco Real

************

************ Franklin Espath Pedroso Pedro Afonso Vasquez

Carlos Trevi Coordinator - Instituto Cultural Banco Real

Autor desconhecido / Author unknow | Nossa Senhora da Conceição / Our Lady of Conception | s.d. / undated | madeira / wood | 115 x 28 x 27 cm

47


The universe of stories on strings ************ Pedro Afonso Vasquez In memoriam José Laurenio de Melo, Master and Friend

48

The origins of Brazil’s cordel literature − stories on strings − are closely entwined with the roots of the nation. This is the view of Professor Manuel Diegues Júnior, who affirms: “The word cordel comes from Portugal, meaning the cord or string on which these booklets were displayed for sale. They were mentioned under this name by Teófilo Braga in Portugal during the XVII century, if not even earlier. It may also be said that this type of poetry is related to the romanceiro, similar to Britain’s chapbooks, recounting romantic tales in poetry. The presence of cordel literature in Northeast Brazil stretches back to Portugal, introduced to the New World with the romanceiro tales of the Iberian Peninsula and distributed in Brazil, perhaps as early as the XVI century, or certainly no later than the XVII century, brought over by settlers in their baggage.” 1 There seems to be widespread agreement about the Iberian origins of Brazil’s cordel literature, although many authors, such as Veríssimo de Mello, have explored even more remote sources of individual booklets extending back to XV century Germany and the Netherlands during the XVI century. However, there is some controversy about the use of the word cordel to classify this type of booklet. For example, the Dicionário Brasileiro de Literatura do Cordel mentions that this is a “term assigned by Researcher Raymond Cantel to describe folk-tales peddled as booklets at street fairs, hung on short cords or strings. The word cordel underpins the name of cordel literature.” 2 Lecturing at the Sorbonne University in France, Professor Cantel began to collect samples of Brazilian folk poetry in loco in 1959, where the troubadour duelists known as repentistas of Bahia State affectionately nicknamed him the “traveling ambassador” of their art, which he continued to study and disseminate during the subsequent two decades, interspersed by frequent trips to Brazil. After his death, the vast specialized library that he had built up gave rise to the Raymond

Cantel Brazilian Folk Literature Center at the University de Poitiers. The word cordel that he proposed initially encountered resistance among some cordelista folk poets and leading connoisseurs of cordel literature. On this aspect, J. Borges reports that he was contacted by Hermílio Borba Filho − a well-known playwright in Recife − who said to him: “They are trying to impose the word cordel on our booklets. A cultural invasion! Let’s set up some opposition to this foreign word. In rural parts of Northeast Brazil, the word cordel does not exist. Noted J. Borges: I started to think. I knew that the word cordel did not exist, but I found it so attractive that I did not have the heart to fight against it.” 3 Whether the term was coined by Cantel or simply disseminated by him, the fact is that the feeling of acceptance and acknowledgement expressed by J. Borges was shared by most cordel producers and connoisseurs. Today it is universally accepted, even giving rise to derivative terms such as ­cordelista (an author of these booklets), cordelaria (the print shop and/or publishing house producing these booklets), and cordeloteca (a library specializing in these booklets). When Portuguese and Dutch colonizers first set foot in the New World, Northeast Brazil offered fertile ground for the development of this art, seeded in dryness, growing in scarcity and thriving in adversity. The links between cordel literature and this region are explained by Manuel Diegues Júnior as follows: “The specific social and cultural conditions reigning in Northeast Brazil underpinned the appearance of cordel literature in the way that it is known today, reflecting the cultural physiognomy of this region. Some of the social formation factors that contributed to this include: the structures of a patriarchal society, the appearance of messianic movements, the appearance of posses of gunslingers (cangaceiros) and brigands, cyclic droughts triggering economic and social imbalances, and long-standing family feuds, all paving the way for the advent of groups of singers who served as the tools of group thought, expressing this cultural heritage.” 4 The strongest things are those that run counter to logic, thriving despite unfavorable prognostications. The most memorable facts are also the most improbably and unlikely. Thus, despite all adversities, cordel literature blossomed like a cactus flower, its beauty unfolding in the midst of nothing to fill life with everything. It was not on the wings of birds that the seeds of cordel literature were scattered to the four winds. Instead, they were borne all over Brazil on the hard and sweat-stained planks of the battered trucks that carried drought-plagued migrants dreaming of easier lives in lusher lands. Today, the Internet allows anyone to say what-

ever they want about anything at all. A century ago, the authors of cordel booklets were already paladins of freedom of expression, presenting opinions in their booklets on politics, love, religion, money, fate and everything else that is woven into the basic fabric of existence. Nothing escapes the keen eye and accurate comments of the cordel booklets. Nothing, any time and any place. They analyze everything, from Buddha to Jesus Christ; from Princess Isabel (who freed Brazil’s slaves in 1888) through to Lampião, the Sundance Kid of Northeast Brazil; from Formula 1 racing champion Ayrton Senna to the late Lady Di; from the death of President-Elect Tancredo Neves to Man’s first step on the Moon. These cordel booklets offer a summary of universal history written by men of the people, forming an encyclopedia of daily life that is composed as events occur – in “real time” to use the modern language of information technology. The cordelista is effectively a journalist who writes in verse, a historian who discards academic aloofness to follow his heart; he is a poet who rejects the ivory tower, preferring to keep his feet firmly on the dusty ground, a prophet who succumbs to his own prognostications. In brief, he is a complete literary being, with printer’s ink running through his veins, and a face whose deep wrinkles seem to mirror the powerful grooves of the woodcuts that illustrate his words. A poet of the people, the cordelista is the best interpreter of the travails described by Geir Campos in the poem entitled Tarefa: Bite into the bitter fruit and not spit but warn others how bitter it is, comply with the unfair agreement unfailingly but tell others how unfair it is, suffer under the false scheme and not yield but warn others how false it is; also say that things can change ... And when the idea throbs through many – the bitter, the unfair and the false to be changed – then entrust to exhausted people the plan for a new and more humane world. 5 No-one is unaware of the influence of cordel literature on the composition of Morte e Vida Severina by João Cabral de Melo Neto, O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta and O Rei Degolado − Ao Sol da Onça Caetana by Ariano Suassuna, significantly divided into “chapters called cordels, in tribute to the folk-tale booklets of Northeast Brazil.” 6 Proud of his roots and conscientious about enhancing the value of Brazilian culture, Ariano Suassuna went even further, noting that he had in fact based the wording of some of his plays directly on cordel booklets, including:

Auto de João da Cruz; O Castigo da Soberba; O Homem da Vaca e O Poder da Fortuna. During the 1970s, when he directed the Cultural Extension Department at the Pernambuco Federal University, Suassuna even strove to release funds to underwrite the publication of cordel booklets. As João Cabral acknowledged in Descoberta da Literatura, his introduction to the world of literature took place in his childhood through reading “stories on strings”, which the workers would ask him to “read and explain.” Rooted in the oral literature with which it still today retains indissoluble links, cordel booklets spread throughout rural gatherings in the agreste backlands of Northeast Brazil, where willing readers shared with their illiterate companions the adventures narrated in cordel booklets, just as the story-tellers of earlier days, stored the folk-tales of Northeast Brazil in their amazing memories, shared with their eager audiences before they were set down in writing, as noted quite correctly by Câmara Cascudo: Nobody decided on the initial speed of these booklets. Did they spring from the people, or where they included in the anonymous myths of oral history through reading? Were the topics chosen by the people, or were they individual works that later slipped into the universe of folk-lore? Dating back to the XV, XVI and XVII centuries, these booklets were reprinted over and over again in Portugal and Brazil, with consumer markets that no lettered intellectual glory would dare to claim. None of these booklets failed to influence, in the acceptance of their charm. Perused and learned by heart, they are turned into verses, set to music and sung on both continents. Minor details may reappear in some story or another, even earlier, in a convergence. These modifications reflect the popularity of these booklets and their repercussions among illiterate listeners, devoted fans who cherished the treasures of these tales, jests, ditties, ballads and fables. 7 The cordel century Usually ranked as the precursors of sung poetry in Brazil, Silviano Pirauá de Lima (18481913) facilitated their assimilation by the masses. In addition to transposing folk-tales into verse, it was his idea to introduce sextains, as these sixline stanzas were more malleable than the older quatrains, in addition to introducing the obligation for cut-and-thrust contenders in improvisation battles to rhyme their first verse with the last verse of their adversary. Through these innovations, Silviano delineated the structure of spoken

and sung poetry in Northeast Brazil throughout the entire XX century. The leading printer of cordel booklets was Leandro Gomes de Barros (1868-1918), born in Paraíba State. According to Professor Marlyse Meyer, he “began to write these booklets in 1889, with his first print-outs dated 1893.” 8 On this matter, Câmara Cascudo commented: “He lived solely through writing folk-verses, encouraging challenges between singers, architecting romances, narrating the narratives of Antonio Silvino, commenting on events and composing satires. Prolific and always new, original and witty, he is still the driving force behind 80% of the glory of today’s singers. He published around 1,000 booklets, with print-runs of 10,000 editions. This inexhaustible wellspring continued to flow steadily as long as Leandro lived.” 9 His example was followed by several other authors, such as Francisco Chagas Batista (1882-1930) and João Melchíades (1869-1933). Consequently, cordel literature expanded and firmed up its status during the first two decades of the XX century, developing the basic profile that it still retains today, despite innovations ushered by the modernization of printed media. Widespread acceptance of cordel booklets resulted in some editions easily outstripping thousands of copies, in a country where “shelf books” have average print runs of only 3,000 copies, even today. This phenomenon resulted in the appearance of the first professional writers in Brazil, among the cordelista folk poets. Although living in modest conditions, many of them drew their livelihoods only from their art during the early XX century, when other writers were still unable to live solely off their author’s rights. One of the leading names behind the international dissemination of cordel literature in academic circles, Joseph Maria Luyten (1941-2006) − the conceptualizer and director between 2000 and 2006 of the Cordel Library brought out by the Editora Hedra publishing house, which proposed to bring out a total of some fifty anthologies − estimates the cordel universe at around 2,000 authors and some 30,000 titles during its first century in existence. This was the permanent collection that Professor Raymond Cantel classified at the I National Congress on Folk Literature in Verse in Rio and Niterói (1973), as “the most important, in quantitative sense, among the folk literatures of the world.” Peaking in popularity from the 1930s through to the 1950s, cordel literature spread throughout Brazil as its practitioners were forced to migrate to major urban hubs, seeking better livelihoods. At that time: “these cordel booklets provided news of Brazil and the world. Many people learned about the death of badlands brigand Lampião and the suicide of Brazil’s President

Getúlio Vargas through these booklets, several days after they occurred, obviously. These were golden days for the cordelista folk poets. “At that time I grew rich, smoking cigars and drinking beer every day. I sold 11,000 booklets on Getúlio in three weeks,” recalls cordelista Manuel Monteiro, one of the most active disseminators of folk poetry in Paraíba State.” 10 The death of Getúlio Vargas seems to mark the peak in popularity of this cordel literature, as several cordelis­ tas explored this topic in booklets that were all best-sellers. However, the real block-buster among all the bestsellers – to import a phrase normally used for “book-shelf literature” – was the printed version of a Song Duel between Cego Aderaldo and Zé Pretinho do Tucum that specialists estimate sold 500,000 copies in a series of editions. Consequently, this booklet holds the alltime circulation record for a work of literature in Brazil, as not even mystic writer Paulo Coelho has managed to reach this figure. However, the true author of this feat is unknown, due to the hazy boundaries characteristic of the cordel universe, where two writers may lay claim to this accomplishment. Once again, Professor Diegues Júnior remarks: “We know at least two versions of this song duel: Peleja do Cego Aderaldo com José Pretinho do Tucum. One is by Firmino Teixeira do Amaral, dated October 17, 1946; and the other is Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho, published by José Bernardo da Silva in Juazeiro and dated June 15, 1962.” 11 This type of vagueness is quite characteristic of the cordel world, as some authors were in the habit of ‘borrowing’ titles or adding new verses, while publishers might also acquire print-rights to the entire output of an author, either from the writer himself or from his heirs. This was what happened, for example, with one of the founders of this genre, João Martins de Athayde (1880-1959), whose body of work was acquired by publisher José Stênio da Silva Diniz, who was incidentally the grandson of José Bernardo da Silva, one of the precursors of cordel woodcuts in Juazeiro do Norte. In some cases, the booklets were quite simply pirated, which meant that: “In order to protect their copyright, the cordel authors developed an interesting way of signing their texts, over the years. They began to use the last stanzas of the poem to include their names in hidden ways. To do so, they wrote the stanza as an acrostic, with the first letters of each line forming a word, when read vertically. Over time, this resource became public knowledge, and booklet ‘thieves’ began to modify and even cut the stanzas with these encrypted ‘signatures’. Nevertheless, this type of signature grew into a cordel tradition, although not used by all writers.” 12 Under the iron fist of Brazil’s military govern-

49


50

ment, assailed by galloping inflation and undermined by television, the popularity of cordel literature waned among the masses during the 1960s and 1970s. On the other hand, the late 1970s saw an odd phenomenon: the status of cordel literature began to rise in the academic world, inspiring countless university studies and degree dissertations, thus spurring a return to production, although on a far smaller scale than during the golden age of this genre. Recalling his childhood on the slopes of the Serra de Santana range of hills, Patativa do Assaré commented: “Back there, on Sundays, the entertainment was gathering around the person who knew his letters, who would read out loud for his illiterate listeners. This was our amusement. There was no home without cordel booklet.” 13 On this aspect, writer Orígenes Lessa, who was one of the leading supporters of cordel literature – once affirmed that “even illiterates read these booklets”, because they end up by learning them off by heart, just from hearing them so often in the voices of the singers. On the other hand, countless people made a point of learning to read, inspired by their eagerness to decipher or themselves the marvelous tales encrypted in the cordel booklets. Author, woodcut artist and publisher J. Borges, whose formal education was sparse, was among those who learned to read from cordel booklets. Talking about this, he recounted an interesting episode in a videotaped statement for the University of Brasília: And there are other poets who learn to read through the cordel. In fact, one of them was a friend of mine who learned to read and was unable to write. He was only able to read cordel booklets. One day a child was being buried and there in the registry office, the man said: “You have to sign here. Do you know how to read? He replied: “Yes I do, Sir.” “Then sign here.” He hesitated: “I don’t know how to sign.” “How come you can read and don’t know how to sign?” He explained: “I learned to read from cordel booklets, I learned to read everything. I read the name of everything in life, I read the newspaper. But I don’t know how to sign, because I never went to school.” 14 Several factors have been blamed for triggering the cordel crisis, including sweeping social transformations that followed World War II, the rising popularity of the radio and movies, the construction of Brazil’s futuristic new capital Brasília (which attracted thousands of laborers from

Northeast Brazil, who were nicknamed candangos), and better public transport facilities carrying waves of migrants all over Brazil. Although there were many reasons, it cannot be denied that the culture of the cordel was weakened by the spread of the radio, soon followed by television, as both media provide free entertainment for the unlettered masses, once the sets were purchased. However, inspired by its indomitable ability to adapt, cordel literature soon established firm links with these “cultural contenders” in an upsurge of renewal fueled by booklet versions of hit radio programs and television soap-operas. This completed a curious circuit: works of literature inspired radio programs and television soap-operas, which then returned to literary form through the cordel booklet. For example, this was the case with A Escrava Isaura by Bernardo Guimarães, and Gabriela Cravo e Canela by Jorge Amado, successfully adapted by Caetano Cosme da Silva and Manuel d’Almeida Filho, respectively. An aspect of much interest is recalled by journalist Denise Ramiro in an article on the rediscovery of cordel literature entitled: A redescoberta do cordel. She noted that: “Cordel literature was also buoyed through the mini-series aired by the Rede Globo television network, based on O Auto da Compadecida, adapted from the work by Paraiba-born Ariano Suassuna, which was in turn inspired by the booklet entitled: Proezas de João Grilo, which was one the most popular works of Pernambucan poet João Ferreira de Lima. The outcome was a great hit, as Brazilians laughed heartedly at the tricks played by clumsy João Grilo, who later appeared on movie-theater screens”, 15 − with just as much success. This was an episode in which television − viewed by many as the archvillain threatening Brazil’s regional cultures − actively contributed to redeeming and enhancing the value of one of the most traditional, authentic and characteristic types of grassroots expression. Acknowledgement of the cordel Lecturing at the Communications and Arts School at the University of São Paulo, Professor Américo Pellegrini Filho notes that the cordel “was valued more highly by Brazilians after an article by Orígenes Lessa appeared in the Anhembi magazine, published in December 1955, and even more after another article by French expert Raymond Cantel, was published in Le Monde, in June 21, 1969. From the early 1970s onwards, this topic became increasingly popular among Brazilian academics, building up a considerable bibliography of academic theses and dissertations.” 16 In the official sphere, the most significant acknowledgment of the cultural value of cordel literature came from the Casa de Rui Barbosa

Foundation, today under the Ministry of Culture. In the early 1960s, at the initiative of the Director of Research Center of this Institution, Thiers Martins Moreira, its Folk Literature in Verse Project was set up to conduct bibliographic surveys, organize collections, preserve documents and publish specialized studies. This initiative was backed by renowned researchers serving as consultants, including Orígenes Lessa, Antônio Houaiss, Manuel Diegues Júnior, M. Cavalcanti Proença and Sebastião Nunes Batista, who were the driving forces behind the transformation that turned the Casa de Rui Barbosa into a major reference center for the study of cordel literature. An earlier initiative by Brazil’s National Library should not be forgotten, building up a large and valuable collection of booklets during the 1950s, which are today conserved in its Music Division, thanks to the efforts of Professor Bráulio do Nascimento, who is one of the most highly-respected connoisseurs of cordel literature. Still at the Federal sphere, the Folklore Museum, which belongs to the National Folklore Institute, also under the Ministry of Culture, inaugurated the Amadeu Amaral Library during the late 1970s, dedicated exclusively to cordel literature, with more than 15,000 titles in its permanent collection, including rare items dating back to the XIX century. This proves that, at least in the specific case of the cordel universe, Government institutions did not demonstrate any short-sightedness or snobbishness, gladly acknowledging the unique and inimitable contribution of the cordel to Brazilian literature as a whole. Little by little research centers specializing in the cordel genre sprang up, particularly in Northeast Brazil, where the Museum of the Man of the Northeast (of the Joaquim Nabuco Foundation) has a good collection, and several universities established important collections, with study programs of this topic at the graduate level. The endorsement of firmly-established writers as well as the absorption of cordel literature by the academic community was undoubtedly important for this type of folk literature to acquire respectability at that time, formerly scorned by the intelligentsia. However, we are today living in very different times when − in parallel to the acceptance of the cordel booklet in the halls of academia − independent groups are also firming up their status, founded by cordelista folk poets to preserve and discuss their works in an independent manner. Outstanding among them is the Brazilian Academy of Cordel Literature (Fortaleza, 1980), the Brazilian Academy of Cordel Literature (Rio de Janeiro, 1988), the Cordelista Folk Poets Culture Center in Ceará State (Fortaleza, 1990), and the Northeast Cordel Foundation (Teresina, 1996).

The technique of cordel verses The meter most widely used in cordel literature is the sextain, with lines of five or seven syllables and a rhyme scheme organized in the following manner: a, b, c, b, d, b. The most complex form is the ten-line stanza, whose most common rhyme scheme is: a, b, b, a, a, c, c, d, d, c; there are also booklets with seven lines. However, none of these schemes are set in stone, as the cordel universe is constantly being renewed, at times blending sextains with ten-line stanzas and introducing other similar innovations to its structure. The researcher and cordelista Gonçalo Ferreira da Silva lists the following types of oral and written cordel literature: “Parcel (Parcela) or Spinner (Carretilha); Quatrain (Quadra); Sextain (Sextilha); Septain (Setilho); Stake (Mourão); Frame (Quadrão); Dextain (Décima); HammerGallop (Martelo-agalopado) (perfected in Brazil by José Galdino da Silva Duda); Seaside-Gallop (Galope-à-beira-mar) (invented by Ceará-born “repentista” José Pretinho do Crato); AlagoasGallop (Galope alagoano); Cabinet (Gabinete); Gloss (Glosa); By-Word (Mote).” 17 The range of themes presented by cordel literature is just as broad as life itself, with no constraints on the inventive spirit of its authors. Among the most common narrative formats are romances, which derive from the romanceiro of the Iberian Peninsula. These romances are divided into several categories, with the most common being the carochinha or Trancoso tales, referring to Portuguese writer Gonçalo Fernandes Trancoso (c. 1515-c. 1596), the author of Histórias de Proveito e Exemplo; tales about enchanted animals; stories rooted in religious traditions; anecdotes featuring anti-heroes; sagas of prowess, love stories, and chronicles of trials and tribulations. Although the word ‘booklet’ has long been used to describe all and any cordel librettos, experts usually distinguish among them by content. Among these booklets, the main sub-divisions are: song battles that transcribe the cut-andthrust challenges chanted by the most famous songsters, not unlike rappers doin’ the dozens; discussions, viewed as parodies or derivatives of song duels; happening booklets that are comparable to the non-fiction concept used for “shelfbooks” and consequently embracing a huge variety of topics; or event booklets, which are real articles reporting on the most newsworthy occurrences in Brazil and abroad. Other subdivisions were listed by Pernambucan researcher Liedo Maranhão: advice booklets, knavish or whorish booklets; advertising booklets; joke booklets; or villainous or rascally booklets. Among many other aspects, they encompass all facets and activities of related to human life both past and present.

With no exaggeration, they even extend into the future through prophecy booklets. All this makes cordel literature into one of the most faithful mirrors of Brazil, reflecting the feats, fears and fantasies of its people. To complete this item, it is interesting to turn once again to the sagacity of Professor Manuel Diegues Júnior, as he drew up a classification that blends and summarizes those prepared independently by Ariano Suassuna and M. Cavalcanti Proença (the latter for the Casa Rui Barbosa Foundation). Blending them together, he reached the following classificatory system: 1. Traditional topics: a. novels and soap-operas; b. marvelous tales; c. animal stories; d. anti-heroes: mishaps and pranks; e. religious tradition. 2. Circumstantial facts or events: a. physical: floods, droughts, earthquakes, etc.; b. social repercussions: sports events, soap-operas, astronauts, etc.; c. towns and urban life; d. critique and satire; e. human element, current or updated figures (Getúlio, cycle of fanaticism and mysticism, Northeast migrant cycle, etc.), ethnic types, regional types, etc.; 3. Chanted challenges or song duels. Analyzing the output of Minelvino Francisco Silva, Professor Edilene Matos drew up the following classification of his works, reproduced here as it seems to be applicable to the universe of cordel output as whole: 1. Booklets on love; 2. Booklets on metamorphoses; 3. Booklets on enchantment; 4. Booklets on religion; 5. Booklets on philosophy; 6. Booklets on events; 7. Booklets on bravery; 8. Booklets on morals; 9. Booklets of animal stories; 10. Booklets of praise; 11. Booklets on history; 12. Booklets of song duels; 13. Booklets of cunning and trickery. 18 Many of the best cordel literature authors are not singers. However, as cordel literature is essentially oral, often read aloud, particularly in olden times, it is quite common to find poets who are also singers. The transcriptions of the most celebrated song duels are among the most

eagerly sought-after items, although some of these alleged transcriptions are pure inventions by a single inspired poet. The fact is that cordel literature cannot be dissociated from the art of the troubadour duelists known as repentistas and other singers. Thus: “In the chanted challenges of the oral literature of Northeast Brazil, there are two types of poetry: one is traditional, stored forever in the memory of the singers, used to fill in the time and called ‘finished work’ (obra feita); the other is the improvised repente, the verses that pop up at the time, inspired by a passing fact or someone in the audience; this is true improvisation, which is very common during the chanted challenges known as desacordos.” 19 The appearance of cordel booklets In its earliest form – still found today, although no longer exclusively − cordel literature appeared “as ‘leaflets’ or ‘troubadour booklets’ (with eight pages measuring around 11 x 16 cm), as their authors always called themselves troubadours. For longer narratives, they were called novels or stories, expanding to sixteen, 32 or even more pages.” 20 Classic cordel booklets are easy to identify by their characteristic woodcut covers. Contrary to what might be expected, cover photographs preceded these woodcuts, with both of them edging out the earliest covers that featured only lettering. As explained by Professor Marlyse Meyer: “The introduction of cover illustrations is attributed to João Martins de Athayde, as a way of catching the attention of buyers. This resulted in cover-plates featuring movie stars or postcards, affectionate couples posed for love stories and illustrations of good-guy movies for tales of valor. After the woodcuts, engravings were used, carved into clubs made from imburana wood, which could be used to illustrate several booklets on similar subjects.” 21 Other types of timber traditionally used include pine, cedar and hog-plum, with engraver Dila believed to be the first to use vulcanized rubber to produce linocut covers. According to expert Jeová Franklin: “The first known booklet to feature woodcuts was A História de Antônio Silvino, published in 1907 by poet Francisco das Chagas Batista at the Imprensa Industrial press in Recife. A lovely print by an unknown hand, it is possibly based on a posed photograph of a well-known cangaceiro brigand. The delicacy of the features is impressive, with a wealth of detail in the style of a European engraving.” 22 The woodcuts on the covers of cordel booklet caused a deep impression, to the point of celebrated art critic Antonio Bento affirming that they are the greatest contribution offered by Northeast Brazil in the field of the plastic arts. The bestknown cordel engraver today is J. Borges, a poet

51


52

and woodcut artist whose art drew enthusiastic praise from Ariano Suassuna. He opened the gates of the international market for his works, where he has held one-man shows and also built up a singular cooperation with Uruguayan writer Eduardo Galeano in Os Nascimentos, the first work in the Memória do Fogo trilogy. In addition to J. Borges, two of his fellow Northeasterners, Dila (José Soares da Silva, born in Surubim in 1937) and José Costa Leite (born in Sapé, Paraíba State, in 1927, but living for more than half a century in Condado, Pernambuco State), have been awarded the prestigious title of Living Heritage of Pernambuco, thus avoiding the sad fate of so many artists who are acknowledged only after their deaths. Still very much alive, they are honored as leading names in the culture of this State, which is also forging ahead along its wise path of acknowledging all the glories of the cordel sector that are connected with this State in some way. For instance, on April 30, 2008, the O Diário de Pernambuco newspaper dedicated a special section in the Cordel Nobility (Nobreza do Cordel) to Paraiba-born Leandro Gomes de Barros, paying tribute to the ninetieth anniversary of his demise in Recife on March 4, 1918. One of the most important cordel specialists of all time and the author of works such as A Xilogravura Popular Brasileira e suas Evoluções and A Literatura do Cordel em São Paulo, Joseph Maria Luyten also listed the following names among the leading artists working at the start of the XXI century: Abraão Batista (Juazeiro), Severino Gonçalves de Oliveira (Recife), José Costa Leite (Condado), Minelvino Francisco Silva (Itabuna), Ciro Fernandes (Rio de Janeiro) and Marcelo Alves Soares (São Paulo). Laughing and upbeat conclusion First appearing in hardcopy during the XIX century – although its sung forms date back to far earlier times – cordel literature took on a fresh lease of life after the turn of the millennium. Skillfully adapting to these new times, it is deploying information technology and the Internet to its own benefit. Estimates reckon that more than 100,000 different titles have already been published, with this total growing steadily. Journalist Rodrigo Alves was among the first to note this about-turn in an article on the new cordel that

explained how this folk literature is reinventing itself as a publishing hit, with new authors, print shops and market views (Novo cordel com nova safra de autores, parque gráfico e visão de mercado, a literatura popular se reinventa e é um sucesso editorial),. He affirms quite correctly that: “After a mid-season slowdown, the change. After a time when cordel literature was hardly produced in Brazil, this genre still has one foot in its traditions, but is starting to move ahead with fresh energy, giving birth to a series of new and talented poets. The stereotyped cordelista carrying only a guitar and a handful of booklets is on the way out. Small books of poetry produced by hand are still pegged out at street fairs, and are still read aloud by singer-poets, as required by custom. But the other aspect of this literature is already beginning to appear. The new cordel generation in Northeast Brazil works with specialized publishing houses and print shops, using the Internet with nationwide distribution, with circulation rising steadily in academic circles.” 23 Oddly enough, the cordel literature that the uninformed might well view as anachronistic or at least bogged down in bygone times, is finding the Internet to be a powerful ally for its renewal, preservation and dissemination at a truly global scale. Born in the sertão drylands of upstate Ceará in 1972, Klévisson Viana is spearheading this computer-savvy cordel, net-surfing while still remaining utterly faithful to the strictest rules of this genre. In January and February 2003, he was a protagonist in a “virtual song duel” with Rouxinol de Rinaré (born Antonio Carlos da Silva in the Ceará town of Rinaré in 1966). He then engaged in a similar challenge with Bráulio Tavares (born in Campina Grande, Paraíba State in 1950), which gave rise to the booklet on this song duel: Peleja de Bráulio Tavares com Antonio Klévisson Viana, which was brought out by his Tupynanquim publishing house in Fortaleza in March 2006. However, Bráulio Tavares was also well experienced in this post-modern type of contest, competing in a virtual cut-and-thrust challenge published by the Gráfica Martins print shop in Campina Grande in February de 2003 entitled: Peleja de Bráulio Tavares, o Rio da Silibrina com Astier Basílio, o Arquipoeta das Borboremas. This extremely lengthy cordel extends through 88 large pages measuring 21 x 15.7 cm. As far as I know, this duo launched this genre through what might well be called an ‘e-challenge’ the previous year, as explained on the back page of the booklet: “This song duel was fought over the Internet, by e-mail, in September and October 2002, sending verses and ripostes. There were no time limits, but the intention was always to write the best possible verse in the briefest period of time.” 24 It must be stressed that these ‘modern fads’

and the presence of highly-qualified academics (called ‘doctors’ in somewhat disparaging reference to their University degrees) in the cordel universe is not always welcomed by confirmed traditionalists − just as the innovations of Raimundo Santa Helena were also not well received, when he packed his booklets with illustrations from newspapers and other references deemed spurious in the body of the texts of his poems. A double ‘doctor’ under his real name of Franklin Vitória de Cerqueira Barreiras Machado, who graduated in Law and Journalism, Franklin Maxado was directly attacked by J. Barros (João Antonio de Barros) in the booklet entitled Doutor, que faz no cordel? In these verses, he scornfully affirmed that: “The graduate is pollution in the cordel booklets.” Born in Feira de Santana in Bahia State in 1945, Maxado parried this thrust with a humorous touch in the booklet entitled O Doutor Faz em Cordel o que Cordel Fez em Dr. It is well worthwhile reproducing some excerpts, offers an inside view of the cordel universe as it struggles to absorb two new elements: academics, as already mentioned; and nonNortheasterners, as many cariocas and paulistas (from Rio de Janeiro and São Paulo) are supporting this genre, inspired more by straightforward passion than the traditions of its homeland: Someone said that academics pollute the cordel As though it were property Swathed in seven veils Frozen in time and space Digging its own grave Cordel makes graduates As the Brazilian people Are studying hard To overcome lightly Slavery, backwardness And the shortage of money Today, the cordel is renewed It is not a museum piece It had, has and will have value However, what happened Is that the times changed As life did not die The booklet peddler must go Sell in other places Bookstores, galleries Theaters, schools and bars To avoid coming to a standstill He must explore other floors. The country people Are also moving to the town São Paulo itself is already

A land of Northeasternness With thousands of Northeasterners Really working. Updating is needed So as not to let perish The cordel as a value Of a people eager to triumph And have all their rights, Which is why they must know Another taboo has fallen Which is that only Northeasterners Can produce the cordel Each person has his ditty There is only one people And the poet has his destiny. 25 The solution to this deadlock is explained brilliantly by Bráulio Tavares in his Contando histórias em versos: poesia e romanceiro popular no Brasil: The poet is the owner of the poem. He must decide on the rules that the poem will obey, and even if there will be rules. The structure of a poem may be completely new, created from nothing; but there are also fixed form poems whose structure is established: the sonnet, haikai, terzarima, and the sextain of cordel literature... There are pre-formatted poems, in a way: there is a stanza structure, some rhyme schemes and some rules of meter that must be followed – if the poet wishes to do so. No one is forced to use these forms; however, using them correctly is a challenge. For the cordel literature of Northeast Brazil, for example, the traditions of this genre require the use of consonant rhymes. If a cordel booklets uses consonant rhymes, an expert in this genre might well think that the author of this booklet is unaware of the existence of these rules. Written in this manner, it might well be a great poem, but could certainly not be called “real cordel”, just as a Ferrari with a Rolls-Royce engine is not a “real Ferrari.” 26 The fact is that, moving beyond all the squabbles and surmounting all arguments, keeping pace with all “modern” fads and surfing all virtual waves, the world of the cordel is still very much alive and kicking. In fact, as each day goes by, the good-humored comment of Ariano Suassuna becomes even more true and up to date, on the prospects for the cordel: “Every year, some Southerner appears, saying that cordel literature is dying. Many of those who have said this have already died, but the cordel remains alive.” 27 Exactly: this is the way it is and will continue to be so for many long years to come...

NOTES

Bibliography

1. DIEGUES JÚNIOR, Manuel. Literatura de Cordel, in BATISTA, Sebastião Nunes (organizer). Antologia da Literatura de Cordel, Fortaleza: Fundação José Augusto, 1977, page 1. 2. PINTO, Maria Rosário Fátima de (organizer). Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Literatura de Cordel, 2005, page 45. 3. FRANKLIN, Jeová. Apresentação de BORGES, J. Obra Seleta. São Paulo: Editora Hedra, 2007, page 15. 4. DIEGUES JÚNIOR, op. cit., page 4. 5. Reproduced in LOANDA, Fernando Ferreira de. Antologia da Nova Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: Orfeu, 1970, page 155. 6. SUASSUNA, Ariano. O Rei Degolado – Ao Sol da Onça Caetana. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1977, page 128. 7. CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura Oral no Brasil. São Paulo: Global Editora, 2006, pages 179/180. 8. MEYER, Marlyse. Autores de Cordel. São Paulo: Abril Educação, 1980, page 8. 9. CASCUDO, Luís da Câmara. Vaqueiros e Cantadores. São Paulo: Global Editora, 2005, page 347. 10. RAMIRO, Denise. A Redescoberta do Cordel. Na Era da Tecnologia, a Poesia Popular Encontra Novos Caminhos e Vira Alternativa de Marketing. São Paulo: O Estado de S. Paulo, November 2, 2004, Caderno 2, front page. 11. DIEGUES JÚNIOR, op. cit., page 5. 12. TAVARES, Bráulio. Notas Sobre o Cordel, in O Flautista Misterioso e os Ratos de Hamelin. São Paulo: Editora 34, 2006, pages 70/71. 13. In FEITOSA, Luiz Tadeu. Patativa do Assaré. A Trajetória de um Canto. São Paulo: Escrituras, 2003, page 120. 14. FERREIRA, Clodo (organizer). J. Borges por J. Borges. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006, page 13. 15. RAMIRO, Denise. op. cit., front page. 16. PELLEGRINI FILHO, Américo. Available at www.bahai.org. br/cordel/viva.html, January 2005, page 1. 17. FERREIRA DA SILVA, Gonçalo. Vertentes e Evolução da Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Literatura de Cordel, 2001, page 41. 18. MATOS, Edilene. Os Ofícios de Minelvino Francisco Silva, in SILVA, Minelvino Francisco. Obra Seleta. São Paulo: Editora Hedra, 2005, pages 13/14. 19. DIEGUES JÚNIOR, op. cit., page 5. 20. PELLEGRINI FILHO, op. cit., page 2. 21. MEYER, Marlyse, op. cit., page 4. 22. FRANKLIN, Jeová. A Rica Expressão da Fantasia Sertaneja, in J. Borges por J. Borges, page 103. 23. ALVES, Rodrigo. Novo cordel. Com Nova Safra de Autores, Parque Gráfico e Visão de Mercado, a Literatura Popular se Reinventa e é um Sucesso Editorial. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, Caderno B, November 7, 2000, front page. 24. TAVARES, Bráulio & BASÍLIO, Astier. Peleja de Bráulio Tavares, o Raio da Silibrina, com Astier Basílio, o Arquipoeta das Borboremas. Campina Grande: Gráfica Martins, 2003, back cover. 25. MAXADO, Franklin. Obra Seleta. São Paulo: Editora Hedra, 2007, pages 57/58. 26. TAVARES, Bráulio. Contando Histórias em Versos: Poesia e Romanceiro Popular no Brasil. São Paulo: editora 34, 2005, pages 43/44. 27. RAMIRO, Denise, op. cit., front page.

ASSARÉ, Patativa do. Obra Seleta. (critical essay by Sylvie Debs). São Paulo: Editora Hedra, 2000. ATHAYDE, João Martins de. Obra Seleta. (critical essay by Mário Souto Maior). São Paulo: Editora Hedra, 2005. BATISTA, F. das Chagas. Obra Seleta. (critical essay by Altimar de Alencar Pimentel). São Paulo: Editora Hedra, 2007. BORGES, J. Obra Seleta. (critical essay by Jeová Franklin). São Paulo: Editora Hedra, 2007. CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura Oral no Brasil. São Paulo: Global Editora, 2006. _________________. Vaqueiros e Cantadores. São Paulo: Global Editora, 2005. CURRAN, Mark. História do Brasil em Cordel. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998. DIEGUES JUNIOR, Manuel. Literatura de Cordel, in BATISTA, Sebastião Nunes (organizador). Antologia da Literatura de Cordel. Fortaleza: Fundação José Augusto, 1977. FEITOSA, Luiz Tadeu. Patativa do Assaré: a Trajetória de um Canto. São Paulo: Escrituras, 2003. FERREIRA, Clodo (organizador). J. Borges por J. Borges. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006. FRADE, Cáscia (coordenadora). Literatura de Cordel no Grande Rio. Rio de Janeiro: Instituto Estadual do Patrimônio Cultural/Divisão de Folclore, 1978. GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. Cordel: Leitores e Ouvintes. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. KUNZ, Stanislas. Brésil /Cordel: Une Anthologie des Gravures Populaires. Paris: Les Éditions de l’Amateur, 2005. LOANDA, Fernando Ferreira de. Antologia da Nova Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: Orfeu, 1970. MAIA, Virgílio. Recordel. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004. MAXADO, Franklin. Obra Seleta. (critical essay by Antonio Amaury Corrêa de Araújo). São Paulo: Editora Hedra, 2007. MELLO, Frederico Pernambuco de. Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa Editora, 2004. MEYER, Marlyse (organizer). Autores de Cordel. São Paulo: Abril Educação, 1980. MOREIRA, Thiers Martins. Poesia Popular: Aulas Radiofônicas. Rádio MEC 1963/1964. Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2004. PINTO, Maria Rosário de Fátima (organizer). Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Literatura de Cordel, 2005. RINARÉ, Rouxinol do. Obra Seleta. (critical essay by Ribamar Lopes). São Paulo: Editora Hedra, 2007. SILVA, Gonçalo Ferreira da. Vertentes e Evolução da Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: Edição do autor, 2001. ________________________. Lampião: a Força de um Líder. Rio de Janeiro: Edição do autor, 2005. SILVA, Minelvino Francisco. Obra Seleta. (critical essay by Edilene Matos). São Paulo: Editora Hedra, 2005. SOARES, José. Obra Seleta. (critical essay by Mark Dinneen). São Paulo: Editora Hedra, 2007. SUASSUNA, Ariano. O Rei Degolado – Ao Sol da Onça Caetana. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1977. TAVARES, Bráulio. Contando Histórias em Versos: Poesia e Romanceiro Popular no Brasil. São Paulo: Editora 34, 2005. ________________. A Pedra do Meio-Dia ou Artur e Isadora. São Paulo: Editora 34, 2005. ________________. O Flautista Misterioso e os Ratos de Hamelin. São Paulo: Editora 34, 2006. ________________. Peleja de Bráulio Tavares, o Raio da Silibina, com Astier Basílio, o Arquipoeta das Borboremas. Campina Grande: Gráfica Martins, 2003. ________________. A Ficção Científica no Cordel, in NOLASCO, Edgar Cezar & LONDERO, Rodolfo Rorato (organizadores). Volta ao mundo da ficção científica. Campo Grande: Editora UFMS, 2007. VIANA, Klévisson. Obra Seleta. (critical essay by José Neumanne). São Paulo: Editora Hedra, 2007. ________________. Peleja de Bráulio Tavares com Antonio Klévisson Viana. Fortaleza: Tupynanquim Editora, 2006.

53


The development of cordel literature ************ Maria Rosário Pinto

54

The purpose of this study is to encourage discussions of the development and continuity of cordel literature today among the creators, authors and students of these stories on strings, as well as others interested in this subject. Only through this approach we will reach conclusions that allow us to sketch out specific alternatives and establish guidelines that are of the utmost importance for disseminating this literature. This study strives to demonstrate its purposes through cordel verses and their authors. Similar to the chapbooks of medieval England, these stories on strings date back to the romancieros of the Iberian Peninsula and France, called pliegos sueltos in Spain; folhas volantes, soltas or avulsas in Portugal and littérature de colportage in France. Brought to Brazil by its Portuguese colonizers and rooted in the cancioneiros of their homeland, they were introduced to the Iberian Peninsula by Arab invaders who swept across the Straits of Gibraltar in 711 and were expelled only in 1492, after eight centuries of political and religious domination and cultural influence. In his booklet analyzing cordel literature entitled O cordel do cordel (1982) Franklin Maxado Nordestino presents an overview of this universe from its earliest days, encompassing major topics and the concerns of this cordelista with its development, continuity and dissemination through to the present day. (...) The cordel came from Europe With poetry and improvised verses When the Press appeared It was written for the masses Spoken and chanted In the heat of inspiration (...) In the Iberian Peninsula With the power of the Moors They dragged out the final note In a lengthy lament And with the sound of the gypsies They sang with the voice of foreboding

Poet João José dos Santos, better-known as Mestre Azulão, also refers to the origins of cordel literature in: O que é literatura de cordel? [200-?]. (...) They are European legacies From Spain and Portugal And the entire Iberian Peninsula That in general Came with European immigrants From distant lands To colonial Brazil In Portugal and Spain Their minstrel poets With verses of four and ten lines On loose sheets Hung for display On cordel strings After much study And a detailed analysis They noted the format In panel style Calling this culture Folk writings And cordel literature This folk literature – consisting of freely composed poetry − was printed out as booklets, complying strictly with poetical precepts in terms of rhyme, meter and rhythm. In the booklet entitled: A Didática do Cordel, poets Zé Maria de Fortaleza, Arievaldo Viana and Klévisson Viana explain the reasons behind the phrase cordel literature. (...) The popular booklet Called cordel Is by definition According to Raymond Cantel Folk poetry Printed on paper It is a literature Whose topics today are Presented in music Movies and television With its literary value Lying in its expansion It ranges from true history Through to legends and myths And with this acceptance Classic authors With this literature Forge ahead with their writings The word cordel comes from the manner in which these booklets are displayed – pegged out on strings (cordels) – and peddled at street

fairs or sold in stores. In his booklet entitled: O Cordel do Cordel (1982), poet Franklin Maxado Nordestino explains: (...) The booklet is displayed On the cordel which is the string Where the poet hangs His novels and leaflets To sell them in Europe Making his own stall Additionally, poet Juvenal Evangelista dos Santos notes in his study of the origins of cordel literature, entitled: Origens da Literatura do Cordel: (...) Why was it called cordel Because it was peddled on strings Because of mud and dust It hung high above the ground For cordel culture This is its tradition Cordel literature reached Brazil with its Portuguese colonizers during the XVI century. It flourished in the Northeast, due to its specific regional and cultural characteristics, such as expressions of messianic beliefs and its cangaço culture, with social and economic imbalances caused by its harsh climate and cyclic droughts among other factors, as exemplified by Franklin Maxado Nordestino: (...) In Brazil it remained Called ABC Or fair booklets You can read this It was more in the Northeast With its suffering people The Chair of the Brazilian Academy of Cordel Literature, poet Gonçalo Ferreira da Silva highlights the power of cordel booklets in Northeast Brazil: (...) In the Northeast it became So popular That aged peasants Sought the truth In the cordel booklets Peddled by the minstrel poet There in the town Poet João José dos Santos, also known as Mestre Azulão, also stresses Northeast Brazil as the nursery of cordel poetry, particularly in his booklet analyzing cordel literature entitled O que é literatura do cordel? (...) The Northeast is the nursery

Of the cordel and improvised verses With comedians and poets From old men to youths Humor, poetry Is the cell created In the blood of those people Brazil’s cordelistas are wise by nature. Always aware of historical facts, and that of many different aspects of daily life Brazil and elsewhere in the world, they keep pace with the changes sweeping through the society at all levels, as well as following the news. From its earliest days through to modern times, cordel literal has disseminated traditional stories and narratives preserved in the memory of the people, handed down from generation to generation. This genre includes knightly romances and tales of chivalry, tales, legends, war stories and accounts of journeys and conquests. They also recount facts related to daily life and examine events in society that catch the attention of the people. The factors guiding the creative spirit of cordel poets are: sensitivity, wisdom, a keen eye and above all careful and coherent treatment of topics, styles and content specific to cordel literature. This is a mainspring that never rusts nor halts… Stagnation if not part of the world of the cordel poets, fueling its development and continuity within the universe of Brazilian literature. An important item on the list of concerns examined by these poets is education – they are in constant contact with schools, universities and other teaching institutions, eager to encourage cordel literature among their pupils and students, striving to build up interest in this unique art form and paving the way for new poets. Franklin Maxado also notes that: (...) The strings hold stories That are also biographical Some describe examples But are also pornographic While others provide news Like graphic newspapers There are animal stories Mysterious and bewitching That talk, sing, marry There are miracle-working heroes Magic, comic, historical Ironic or demonic (...) There must be something extra Knowing the theory As the poet is already gifted Born with poetry And the Cordel of the Cordel Is not phraseology!

The Cordel is not a reel But it follows its line And the new reader poet Like him is aligned Not leaving aligned His verses and guesses Additionally, Mestre Azulão also examines the value of the cordel booklets as a source of information and news: (...) This culture has provided Information and education To schools in the Northeast For adults and children Serving as newspapers Carried from the state capitals To the drylands of Northeast Brazil He also highlights the value and credibility of the information presented in cordel booklets and the news presented in squares and fairs by poets and troubadours: (...) Dueling songsters and cordelistas, Are well-known Their improvised verses and booklets Are real newspapers That bring to all fairs News from Brazil And the world They trust more in the poets Because they are very loyal They mistrust the newspapers Who lie on their pages Saying in squares and fairs The real news Comes from the cordel booklets It is important to stress the opinion-shaping powers of the cordel poet, free from censure or bound by commitments, as explained by poet Manoel Santa Maria in the last verse of his booklet on the (Ayatollah Komeini and other modern butchers) in 1989: (...) Forgive me frankness When dealing with any issue I am a cordel poet: I have no Commitment to any faction My verse is my flag I display from fair to fair My free opinion! Among other concerns, cordel poets also adopt explanatory and educational stances towards campaigns related to politics, education, public health and environmental preservation, among other issues.

In his instructive booklet on how to prevent cholera (Defenda-se contra o cholera), Manoel Santa Maria noted in 1992: I will not offer you anything Artistic at the moment I will be brief and straightforward To attain my purposes My function is educational In the Cordel poem I present In Greek, it was masculine “the cholera”, but I am not A philosopher to enter Into the core of this issue I am just a cordel poet Heart, soul and body! According to the sanitary Authorities, here are The precautions to be taken I researched and converted them Into simple, direct verses In this cordel booklet that I wrote This is an acute infection Contagion caused By the cholera vibrion And if not treated With the necessary urgency It leads to the end of the line! This poet continues on his enlightening way by explaining the measures to be taken in order to avoid infection, closing with this verse: (...) In closing, I hope That this booklet helps you Against the cholera, as A hygienic attitude Is your best defense Caring for your health! Concerned with the dissemination of cordel literature in schools and other academic circles, the Chair of the Academy of Cordel Literature, Gonçalo Ferreira da Silva, published an examination of cordel literature with some basic data (Literatura do Cordel, dados básicos) in 19--, in a prose booklet that classifies cordel literature from its earliest days, examining its development through to its most contemporary phase. He also published a booklet on the Cordel Museum (Museu do cordel) in 1999, which provides information on the establishment of a museum devoted to cordel literature and woodcuts. Its purpose is to establish a facility specializing in research into this field of folklore, promoting related events and gathering together poets, wood-

55


cut artists, students and researchers in general. (...) The foundation of the museum Dedicated only to the cordel To the booklets, to the woodcuts And wooden blocks The old lettering and designs Yellowed originals Will have a special place (...) The main purpose Is to preserve this culture The chanter of improvised verses The designer of woodcuts Organizing expeditions And republishing Our literature Exploring the cut-and-thrust chants known as repentes, Franklin Maxado praises these dueling troubadours: (...) The chanting duelists are famous Like Zé Pretinho, Cego Aderaldo, Bandeira, Fabião and Passarinho, Ana Roxinha, Milanês, Riachão and Canhotinho

56

Not dissimilar to rappers doin’ the dozens, these singers are also praised by Mestre Azulão: (...) The singing duelists are stars Providing much entertainment Through improvisation they show Who has the most talent This is why they are invited To christening parties Rodeos and weddings The speed of their improvised verses And the throb of the guitar The harmonious chant Has pace and rhythm

Anyone wishing to study them Finds art for all In a real school (...) Luiz da Câmara Cascudo Was a great folklore expert Who drew up a full study Of the cordel poet That today serves as lesson From the rattle to the guitar Of the dueling songster From the earliest singers Blind and illiterate And even black slaves Who chanted their misfortunes Handing these traditions To other generations Children, grandchildren and great-grandchildren Until today The writing and development Of this culture has been Polished and honed Radios, newspapers, magazines Where the great dueling troubadours Have their profession Talking about these songsters, Delarme Monteiro says... (...) There was also a blind man With an accordion on a sling Well inspired by the Lyre With the protection of Apollo He chanted the booklets The bellows played the solo He did not ask for alms As there he peddled His displayed booklets That the guide controlled As a reward the customer Always bought a book In his booklet on Northeast, cordel literature, song duels and chants (Nordeste, cordel, repente e canção) dated 19--, Demarme Monteiro da Silva also stresses his concern and explores the development of cordel literature through its poets, singers, publishers and distributors. He underscores the social importance of cordel literature, as shown in the following quotation: (...) Among the cordel poets Leandro was the pioneer Here in Recife He was the first To distribute booklets

Throughout the entire Northeast Leandro Gomes de Barros A man with power In the making of his verses With beauty and security He died leaving only rhymes To his widow as a legacy With death of Leandro His widow was needy She sold everything to Athayde Who was already becoming established With his own verses Slowly rising Towards Athayde Poetry grew The collection of Leandro He joined with his own And very shortly, cordel Literature reached its peak Athayde fell ill And sold his print shop To José Bernardo da Silva Who was familiar with this field Taking to Ceará All our poetry Without a printer They were almost homeless As hundreds of poets Drew their livelihood from this For Pernambuco It was a severe blow I myself felt the blow And the great disappointment I worked with Athayde And earned my daily bread there From improvised verses, feeling I was rowing against the current So I sought a way To get out of the “hole” I wrote to Zé Bernardo Telling him everything Then he invited me To visit Juazeiro There we discussed everything While was very valuable I was appointed in Recife The sole distributor Of the books by Athayde For any place upstate And so I soon

Notified the poets In the Sirigado alley I set up the storeroom Sent letters to other States With catalogs (...) From then onwards, cordel literature Began to revive The customers arrived And I liked the business Any book I put out Promptly vanished He continues, referring to poet and editor José Bernardo da Silva, who was to become one of the largest publishers in Northeast Brazil, setting up the Tipografia São Francisco publishing house. (...) One day at my counter A certain João José appeared In “shabby” clothing Wearing old clogs He asked my brother “Who is Mr. Delarme? So I walked over To assist him João José asked me Can you tell me If you sell booklets here For resale by agents (...) In fact, in just a few months João José was lined up He managed to buy a hand-press And set up a print shop From a leaflet poet He became a publisher This was someone who started out With a handcart Eating from street stalls Plenty of flour-thickened soup Proving that cordel Literature rules I mention the poet João José, but not maliciously I just wanted to show the people How easily Cordel booklets make money Here in the town Moreover, Delarme Monteiro continues with his rhyming observations on the Golden Age of cordel literature... This was the “golden age” For the cordel poet

everything was still honey-sweet until 1960, But after this date The cup of bitterness arrived He also talks about the crisis that swept through the paper industry... (...) Paper prices rose Becoming rare With ink, rollers and typefaces Rising as well, clearly So our leaflets Became very expensive (...) It was already almost impossible For the poet to publish To continue supplying Books to the reseller Under the same conditions As the previous system So unable to comply With my signed contract Zé Bernardo was still alive And was angry with me He ordered the store closed In the Sirigado alley Poet João José Still continued To produce his booklets But he also withdrew As things grew gloomy His print shop closed down The old leaflets sellers Followed other paths As they could not cope with the prices They left our booklets aside To sell samba papers And cartoon booklets This made our situation Even worse As there are no more publishers Specifically producing Booklets for the people And publicizing them But without losing hope and trust in cordel literature, poet Delarme Monteiro reports on the interest prompted by these stories on strings among sociologists, scientists, students and institutions related to education and culture... (...) Even the sociologists Became concerned Traveling throughout the Northeast

Recording and taking photographs To strengthen folklore That was stumbling along In Rio de Janeiro a film Will soon be shot The setting is the Northeast Which will be represented By guitar-playing poets With coconut-scented songs (...) This documentary film Is being directed By young Tânia Quaresma A lively girl Who is always in movement And wants to see everything in action (...) So, reader, cordel booklets Will always be remembered And the rhymed leaflet Will never vanish Which for all Northeasterners Have a lovely past Reader, I say no more About this promotion Of poetry that Tânia Made with such eagerness Because there is no more paper To write on Delarme closes his verses with the classic acrostic that reaffirms his conviction as a cordel poet with the first letter of each line in Portuguese spelling out his own name: (...) Deixei aqui pro leitor Essa dica do cordel Lamento profundamente A minha sorte cruel Rimo só desde os 20 anos Mas só guardei desenganos E rimas sobre cordel Disenchanted, I leave the Eager reader this cordel hint Lamenting deeply A cruel fate, as a Rhymster since the age of twenty Melancholy is all that remains of Each cordel rhyme Waves of migrants traveling Southwards through Brazil brought these booklets with them, resulting in the establishment of the Prelúdio and subsequently the Luzeiro publishing houses in São Paulo. The presence of cordel literature in major

57


urban centers helped ease the nostalgia for their homeland felt by these migrants fleeing from Northeast Brazil. According to Franklin Maxado Nordestino, reflecting the transposition of medieval heroes into the gunslingers (cangaceiros) of Northeast Brazil: (...) The colony created Rooted in the Northeast Its medieval heroes They were the plague rats With Lampião at their head Spreading westwards Today we see cordel literature moving to the fore in public areas: printed media, radio, television, movies, the publishing market and also virtual media. Articles on cordel literature and its authors are included on subject listings for newspaper coverage, with more radio programming slots allocated to the cordel poets and especially the singers. To an increasing extent, cordel literature is addressed on television, at times through soap operas (novelas) or documentaries on this subject. They are also more frequent on cable television, which still imposes a constraint, as most of the Brazilian population does not have access to these broadcasts due to their high cost. Regarding the introduction of cordel literature to the radio Mestre Azulão states:

58

(...) All the radios in the Northeast Have programs every day Of chanting duelists Announcing to the people With real skills At what ranch or farm A songfest will be held Franklin Maxado reaffirms the resistance of cordel literature to television: (...) With all the television Radios, records and soap operas The cordel ABC Is the newspaper and the candle Lighting up the sertão drylands And alleys in the towns Once inspiring the cover illustrations on cordel booklets, the movies today present cordel poetry as a poetic theme that also appears quite frequently in its scripts, as shown by Raimundo Santa Helena in his booklet on Brazilian film maker Glauber [Rocha] dated 1981: Turn out this light, electrician! Without script, why the spotlight? With no set, why the operator

Director, assistant, scriptwriter, producer? Why the storyboard? Why the scene, why the soundtrack The good guy has really died now Up in the Sky a falling star, a touch... Go with God, Movie market Glauber Rocha! Each friend who remain, weeps for you... The recent movie based on the O Auto da Compadecida by Ariano Suassuna, was one of Brazil’s greatest box-office successes, confirming widespread interest in this topic and thus clearly indicating a mass preference for the simple topics of folk literature. The confidence prompted in the publishing market must be stressed, based on works conducted through publishing houses, and not only those specializing exclusively in the publication of cordel booklets, but also major publishing houses in this segment and that are today turning to this type of publication as affirmed by Franklin Maxado Nordestino: (...) Their poets are also Publishers and sellers Reading and singing Seeking readers Who like novelties In verses of a thousand loves Additionally, cordel literature is also found in the virtual media, either as pages of documents on this subject or through the publications of poets who make use of this option to present their booklets, as well as featuring the virtual world as a theme. It is worthwhile mentioning the booklet on the Internet in the kingdom of molasses entitled A internet no reino da rapadura, published in [20--] by cordel poet João Batista Melo, in the selected verses presented below: One day I was at home In my informal life And daily battle At this global moment When I heard someone shout: “Hey, poet, come here... Come here to my yard...” It was my next-door neighbor Called Dona Gildete The mother of eight “little imps” Who get up to the mischief Who just wanted me To write poetry Something about the INTERNET She then proposed that I write verses This brilliant young woman

That is changing the world In a phenomenal manner Creating links and chains Turning everything into a village Within this complex (...) For many it’s the visage And the spirit of Caipora The siren of New Times In the places out there That in a fraction of a second Can travel around the world With the latest news Disposing of his work The world is to hand “Web surfing” at will With no fears of collision Just with a tap of the fingers The world loses secrets And gains information Concern over maintaining cordel literature is also noted among international institutions, such as the studies conducted by the Institute at the University of Poitiers in France; and the collection written in Portuguese and translations left by Professor Jean Christinat in Geneva, Switzerland. These are just a few examples, among others, of the continuity and even more the resistance of cordel literature, in Brazil and elsewhere in the world, as affirmed by Mestre Azulão in verses urging the study of cordel literature: (...) Even Brazilian Discovery in the beauty Of this culture And wanting to research this wealth Must leave his country And go to the Sorbonne in Paris A great French exhibition There you find everything About the cordel Written and microfilmed Displayed on a huge panel Recording and microphone Taken to the Sorbonne By Professor Cantel Almost all Europe has Cordel booklets on display They are found in the Americas And even in Japan Through researchers Cordel booklets by many authors Even by Mestre Azulão No matter how much the doom-sayers high-

light the shrinkage of public spaces set aside for cordel literature, such as fairs and public institutions, it is gratifying to see the resistance of these sectors all over Brazil, keeping this tradition alive. Cordel literature is alive and developing; it may change its appearance, but is certainly maintaining its characteristics in terms of content and wealth of rhymes, rhythms and meters, resulting in this enchanting folk literature. This development through modern mass communications media, Franklin Maxado notes in his book on the Televised Cordel: Future, Present and Past of Cordel Literature (O Cordel Televivo, Futuro, Presente and Passado da Literatura do Cordel), 1984: “the booklets of cordel literature may thus turn into a little box containing magnetic tapes”, thus materializing the Prophecy of Câmara Cascudo who said: “Tomorrow, the most primitive forms of folk expressions will also travel down the coast and will turn into modern theater, cinema, novels, poems. This is why they never vanish. They are transformed.” And Franklin Maxado confirms this in the following verses: (...) It cannot die! I launch the challenge here To its new poets That they should no longer use a string To hang booklets But should light the wick The use of different medias to publish and disseminate cordel literature, does not alter its essence. Cordel verses remain alive and up-to-date, with modern poets and students of modern times accepting responsibility for this literary form. Maria Rosário Pinto Member, Brazilian Academy of Cordel Literature Head, Permanent Collection of Cordel Booklets, Amadeu Amaral Library National Folklore and Culture Center

Bibliography Santos, José João dos Santos. O Que é Literatura de Cordel?. Japeri: [no Nº, 200-]. Melo, João Batista. A Internet no Reino da Rapadura. Niterói: [no Nº,19--]. Nordestino, Franklin Maxado. O Cordel do Cordel. São Paulo: [no Nº], 1982. _____. O Cordel Televivo, Futuro, Presente e Passado da Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: Codecri, 1984. Santa Helena, Raimundo. Glauber: Cineasta que Morreu pelo Brasil. Salvador: [s.n], 1981. Santamaria, Manoel. Aiatolá Komeini e Outros Carrascos. Araruama, [no Nº], 1989. _____. Defenda-se Contra o Cólera. Araruama: [no Nº], 1992. Silva, Delarme Monteiro da. Nordeste, Cordel, Repente, Canção. Bezerros: [no Nº,19--].


Realização Instituto Cultural Banco Real

Cordel comemorativo J. Borges

Concepção e coordenação geral Franklin Espath Pedroso

Vídeo Daniel Zarvos

Curadoria Franklin Espath Pedroso Pedro Afonso Vasquez

Museologia Albino Oliveira

Produção Notion Art Design Produção executiva Katia Machado Pesquisa e entrevistas Pedro Afonso Vasquez Rosane Karp Vasquez Textos Maria do Rosário Pinto Pedro Afonso Vasquez

Cenotécnica José Francisco dos Santos Iluminação Sandro Rogério Ferreira de Morais Seguradora Carrara Seguros Montagem Gil Francisco da Silva Levi Pereira da Silva

Programação visual Regina Cassimiro (Catavento Design Gráfico)

Controladoria financeira Denise Grimming Patrícia Natividade (Pueblo Produção e Gestão Cultural)

Fotos Gustavo Maia Gustavo Moura Pedro Afonso Vasquez

Assessoria jurídica Gustavo Martins de Almeida

AG R A D E CI M E N TO S

Aída Marques Ana Pessoa Angelo Augusto Alcida Brant Bráulio Tavares Bráulio Nascimento Clodo Ferreira Delzimar do Nascimento Coutinho Elisa da Costa Moniz Freire Fernando Leite Giuseppe Baccaro Gonçalo Ferreira da Silva Janete Costa Jarbas Vasconcelos José Rufino Júlia Peregrino Lurdinha Vasconcelos Lúcia Costa Marcos Antônio Bezerra Pinto Maria Clara Rodrigues Maria Fernanda Pinheiro de Oliveira Marta Barroso Mauro Vieira Paulo Villela Pieter Tjabbes Roberta Borsoi Rosinha Campos Silvana Araújo Stela Costa Vânia Brayner

M U LT I M Í D I A

Revisão e padronização de texto Rosalina Gouveia Tradução Carolyn Brissett Tratamento de imagens e impressão Gráfica Santa Marta

Realização Estúdio Preto e Branco Conceituação Luiz De Franco Neto Mauricio Moreira Direção de arte Marlise Kieling Direção tecnológica Murilo Celebrone

e a todos os cordelistas e gravadores que colaboraram para a realização deste projeto M USEUS E I NS T I T U I ÇÕ ES

Academia Brasileira de Letras Academia Brasileira de Literatura de Cordel Centro Cultural Benfica / UFPE Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular Fundação Biblioteca Nacional Fundação Casa de Rui Barbosa Fundação Joaquim Nabuco Instituto Estadual do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro

Instituto Cultural Banco Real Av. Rio Branco, 23 Bairro do Recife Recife - PE tel. 55 81 3224-1110

Museu do Homem do Nordeste Serviço Social do Comércio – Rio de Janeiro União dos Cordelistas de Pernambuco Universidade de Brasília

I N S T I T U TO CU LT U R A L B A N CO R E A L

Presidência Fabio Colletti Barbosa Diretoria Executiva Fernando Byington Egydio Martins José Alfredo Lattaro Michiel Frans Kerbert Conselho Fiscal Elly de Vries Pedro Paulo Longuini Shelley Dalcamim Coordenação Carlos Trevi

MANTENEDOR DO I N S T I T U TO CU LT U R A L B A N CO R E A L

Banco Real S.A. Presidência Fabio Colletti Barbosa


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.