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Jornal do Colégio JORNAL DO COLÉGIO ETAPA – 2016 • DE 27/05 A 09/06
ENTREVISTA
“O Direito abre sua cabeça de tal forma que transforma você em cidadão.” Yan Rodrigues dos Santos formou-se em 2015 em Direito, na São Francisco-USP. Para estudar no Etapa, mudou-se aos 14 anos e veio morar sozinho em São Paulo. Fala do papel das suas rotinas e de suas escolhas, do que fez na faculdade e das opções que pretende seguir. E dá algumas dicas aos alunos atuais.
Yan Rodrigues dos Santos
JC – Desde quando você pensava em seguir Direito? Yan – Desde que me entendo eu gosto de Humanidades. Mas eu não tinha certeza de que queria Direito. Meu interesse cresceu no colegial. Foi gradual – no 1o ano veio a ideia de fazer Direito, que cresceu no 2o ano e tornou-se, no 3o ano, absoluta certeza.
Quando você veio estudar aqui? No 1o ano do Ensino Médio. Vim de Atibaia para estudar em São Paulo. Escolhemos o Colégio Etapa porque eu já estudava pelo sistema Etapa.
Com que idade você se mudou para São Paulo? Eu tinha 14 para 15 anos. Foi um chororô. Minha mãe não queria de jeito nenhum que eu viesse sozinho por ser muito novo. Com apoio de meu pai acabei vindo e morei sozinho até o 3o colegial. Aí minha irmã veio fazer cursinho no Etapa. Ela é mais velha, veio morar comigo. Isso deixou minha mãe mais tranquila.
nheço ninguém, não tenho parente nenhum aqui, que cidade estranha”. Nada disso. Minha cabeça estava no dia seguinte – se ia ter prova, precisava estudar.
Você se acostumou fácil com prova todo dia? Na minha opinião é a grande virtude do Colégio Etapa. Minha sugestão aos alunos atuais é para darem valor a essa metodologia de avaliação diária. Ela é fundamental e faz a diferença entre o Colégio Etapa e todos os outros colégios. Foi o que me fez explodir no vestibular e assim por diante. Quando entrei na faculdade, do que mais senti falta foi de uma avaliação diária.
Então você achou tranquilo seguir esse sistema? Não, foi muito difícil e, no 3o ano, foi um absurdo. Na metade do ano falei: “Não aguento mais, isso é muito pesado, não sei se vou resistir”. Mas, olhando agora, em retrospectiva, o sistema de provas diárias é infalível.
Como era sua rotina de estudos no Etapa? Era difícil estar sozinho na cidade?
No 3o ano você mudou alguma coisa no seu método de estudo?
De manhã vinha para o colégio – aprendia com facilidade, não tive problemas. Depois voltava para casa para estudar. Eu não tinha tempo para ficar pensando: “Nossa, que solidão, não co-
Não, porque eu já tinha me acostumado a estudar todos os dias. A única coisa que mudou no 3o colegial foi a iminência do vestibular, com aquela pressão natural.
ENTREVISTA
Carreira – Direito
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SOBRE AS PALAVRAS
“Ovelha negra da família” CONTO Apólogo brasileiro sem véu de alegoria – Antônio de Alcântara Machado
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VOCÊ SABIA QUE...
As grandes navegações ARTIGO Fungo descoberto em castanheiras pode ter atividade bactericida
ENTRE PARÊNTESIS
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Cesto de pães ESPECIAL
Manhã Interativa Aplicativo Fila Fácil
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ENTREVISTA
Você chegou a pensar na possibilidade de não passar direto do 3o ano? Eu tinha resultados favoráveis nos simulados e fui para a luta com a segurança que o colégio me proporcionou.
No colégio, além das aulas, você participou de outras atividades? Fiz um curso de Filosofia, fiz informática, fiz francês. E não perdia os simulados abertos no cursinho.
Você participou de olimpíadas? Eu participava, mas não tinha muita competência. Ganhei um bronze na Olimpíada Brasileira de Física, mas sempre que chegava na 3a fase da OBM eu percebia que não era a minha.
Como você foi na Fuvest? Entrei na São Francisco em 4 lugar – mas isso não dava privilégios. Uma vez dentro, todos são iguais. E acho bom que seja assim. o
Como foi seu início na faculdade? Eu tentei dar continuidade à metodologia de estudo diário que tinha no colégio. Mas como não tinha provas diárias, o método de estudo foi se alterando gradualmente. Até que chegou uma hora em que eu percebi que tinha de mudar. Entrou o tripé universitário, intensivo, cultura, extensão. Iniciei várias atividades extracurriculares. Fiz iniciação científica da metade do 2o ano até a metade do 3o, fui professor de inglês no CCAA, dei aulas em um cursinho no Bom Retiro para a comunidade coreana. Depois prestei para o Arcadas Vestibulares, cursinho popular da São Francisco, que usa o sistema Etapa inclusive. Fiquei mais de um ano. Lá fui professor de Matemática e gostava muito de dar aulas.
Qual foi o tema de sua iniciação científica? Estudei a imprescritibilidade do crime de racismo no Brasil. Foi uma ótima iniciação científica. Apresentei minha tese no Simpósio de Iniciação Científica Internacional da USP. Foi muito bacana.
O que você destacou nessa pesquisa? Em primeiro lugar me saltou aos olhos o fato de que o crime de racismo é o único que não prescreve pela Constituição Federal. Ele é também inafiançável. O fato de ser o único crime que não prescreve tem uma carga simbólica muito grande. Você pode ser condenado daqui a 50 anos por um crime que praticou hoje, o que é uma aberração do sistema penal. Foi isso que me chamou atenção e me fez querer estudar a razão de os constituintes de 88 terem tornado imprescritível o crime de racismo. Eu sou meio temerário, no fim das contas acabei me tornando meio crítico disso, porque é desproporcional. Só outro crime é imprescritível, o atentado contra a ordem pública e as instituições do Estado e sociedade. São crimes de terrorismo, genocídio, com uma carga de violência tão grande que é desproporcional ao racismo, com todo o respeito.
Além dessa tese, o que você fez que gostaria de realçar? Fiz intercâmbio na França. Fiquei um ano na Universidade de Nantes. Fui sem bolsa, com a cara e a coragem – e suporte de minha família. Eu queria uma experiência nova. E no meu
projeto de intercâmbio coloquei uma continuidade do projeto de iniciação científica. Eu acho que isso é que me fez ganhar a vaga do intercâmbio. Um período sensacional, não só em termos acadêmicos, mas também em termos culturais, pessoais. Você amadurece de maneira brutal.
O que você estudou em Nantes? Fiz matérias mais globais como Direito Administrativo e Direito do Trabalho.
Os créditos de Nantes valeram para a USP? Consegui menos créditos do que eu gostaria, mas mesmo assim consegui me formar em cinco anos.
De volta a São Paulo, o que você fez? Depois do intercâmbio eu fiquei completamente concentrado em me formar.
Que matérias você estudou na São Francisco? No 1o ano tive as matérias básicas, Direito Civil, parte geral, Direito Penal, parte geral, Direito Penal, parte específica já no segundo semestre. Direito Constitucional Fundamental, Introdução ao Estudo do Direito, Introdução à Filosofia, Teoria Geral do Estado, Formação das Instituições Jurídicas no Brasil.
No 2o ano, como foi? As matérias mais difíceis foram as do 2o ano. Direito Financeiro, continuação do Direito Penal, Metodologia para Redação de Monografia Jurídica. Não quero nem lembrar do 2o ano, pesadíssimo. No 3o ano tive Filosofia do Direito, Direito Societário, Direito do Trabalho, de Falências, Comercial, Empresarial, Concorrencial. Tem Direito Penal durante todo o curso e você vai aprofundando.
No 5o ano você teve a opção de fazer optativas? Fiz todas as optativas que pude. Como o meu objetivo era terminar em cinco anos e precisava de créditos, eu fazia todo o período diurno, estagiava, e todo o período noturno, de segunda a sexta-feira. Queria me formar de todo jeito.
No 5o ano, onde você fez estágio? Logo que voltei, iniciei um estágio de seis meses em Arbitragem Internacional no escritório Luis Otavio Baptista. Eu queria mexer um pouco com Direito Internacional. Afinal de contas, eu tinha acabado de voltar da França.
Na prática, o que você fazia? Além de traduzir um livro de Direito Internacional e Comercial, ajudava no escritório com as liminares. A gente trabalhou num grande processo de arbitragem que envolvia a empresa estatal angolana Endiama, de extração de minérios, em litígio com o Estado de Angola. O Estado de Angola contratou nosso escritório para defendê-lo.
Depois desses seis meses no escritório, você fez mais estágios? Terminei esse estágio em dezembro. Em janeiro de 2015 entrei em outro estágio no fórum João Mendes.
ENTREVISTA Como foi esse novo estágio? Quando você se realiza, se encontra. Para mim foi um divisor de águas, foi um prazer esse trabalho. Começava às 14 horas, mas meio-dia eu estava lá. Terminava às 18 horas, mas às 19 e 30 eu ainda estava lá.
Você trabalhava com juízes? Sim. Os estagiários trabalham diretamente com juízes, promotores de justiça, defensores públicos. A minha mesa estava ao lado da mesa do juiz. Eu trabalhava com ele, era a melhor coisa do mundo. A gente discutia os casos, a jurisprudência, a doutrina. Minha sugestão aos alunos que vão entrar agora é dar preferência aos estágios públicos. Vocês vão aprender muito mais, vão ter maior contato com autoridades, magistrados, defensores públicos. Foi depois que entrei no estágio público que tive certeza de que era o que queria para o resto da minha vida.
O que foi marcante nessa experiência? A independência, o grau de raciocínio. Estar na parte do Estado e não na área privada significa aplicar o Direito independentemente dos interesses individuais.
Você passou pelo exame da OAB? Não tive preocupação com o exame da OAB, porque não quero ser advogado. Prestei o exame depois de formado e passei sem precisar estudar.
O que você está fazendo hoje? Acabei de passar num concurso de oficial de promotoria no Ministério Público do Estado de São Paulo. Vou começar a trabalhar, estou esperando ser nomeado.
O que faz o oficial de promotoria? Trabalha com o promotor. O oficial está para o promotor assim como o técnico judiciário está para o juiz de Direito. Ele vai cuidar de autos conclusos, da intimação de partes, do sistema e-SAJ (Sistema de Automação da Justiça).
Você pretende continuar estudando para a magistratura? Vou passar três anos estudando para o concurso da magistratura. A Constituição de 1988 previu que todos os concursos da magistratura iam requerer três anos no mínimo de experiência jurídica. Isso para impedir juízes muito novinhos.
Como está o mercado de trabalho? O mercado de trabalho de Direito não está bom, mas está muito melhor do que o de outras áreas. É difícil ver formados
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na São Francisco que não consigam colocação. Para quem sai da São Francisco não existe dificuldade. Só vai ter dificuldade quem não tiver feito estágio. O estágio conta inclusive para colocação no mercado de trabalho.
Que matérias do colégio se revelaram mais importantes no seu dia a dia? Tem uma matéria que eu acho fundamental para formação de juízes, que é História – do Brasil, do Mundo e Geral. Vai fazer o seu diferencial lá na frente. Seja no concurso público, seja no escritório. É sua bagagem cultural.
Quais são suas recordações do colégio? O colégio foi sensacional. Uma organização impecável. Eu adorava o colégio. O melhor colégio em que eu estudei. Mil vezes melhor que a faculdade. Uma coisa importante era o material, a didática das apostilas e de tudo que as acompanhava. Estudei no sistema Etapa a vida inteira, me acostumei com o material, que recebia como um presente. Ele dá segurança, ajuda. Gostava muito das palestras. Tenho saudades, tenho vontade de voltar aqui para assistir às palestras de História. Gostava muito da Gincana Cultural, era muito divertida. E aqui eu fiz grandes amigos, que levo até hoje.
O que você pode dizer sobre a escolha por Direito? Basta abrir o jornal em qualquer dia da semana para ver a importância que tem o Direito na sociedade brasileira e no mundo contemporâneo. O Direito abre a sua cabeça de tal forma que transforma você em cidadão. Uma coisa é você ser uma pessoa passiva, recebendo tudo aquilo que a sociedade e o Estado lhe oferecem. Outra coisa é você receber com olhos críticos, poder correr atrás dos seus direitos e cumprir seus deveres sabendo de suas obrigações perante o Estado, perante a sociedade. E perante você mesmo.
O que mais você gostaria de passar para nossos alunos? Quero dizer que é importante seguir o coração na escolha da carreira. Mas é importante também levar em consideração outros fatores. É preciso levar em consideração fatores financeiros, residenciais, orientação da família. Eu poderia ter feito a escolha errada, mas não teria o menor problema em voltar atrás e tentar tudo de novo. Tive um colega formado em Medicina fazendo Direito. Isso eu acho o mais bonito, ele reconheceu que não era aquilo que queria para si mesmo, enfrentou a volta para a faculdade, a mudança. No noturno da São Francisco tinha muito isso, pessoas já formadas, de idade, buscando base jurídica para ajudar no trabalho.
SOBRE AS PALAVRAS
“Ovelha negra da família” A expressão significa “filho que não tem bom comportamento”. A história dessa expressão surgiu do milenar trabalho do pastoreio. Em todo rebanho há sempre um animal de trato difícil, que não acompanha os outros, e o pastor não consegue evitar que o animal se desgarre. Este é denominado “ovelha negra”. Por metáfora, a expressão passou a ser aplicada na família para designar filhos que não tinham bom comportamento.
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CONTO
Apólogo brasileiro sem véu de alegoria Antônio de Alcântara Machado
O
trenzinho recebeu em Magoari o pessoal do matadouro e tocou para Belém. Já era noite. Só se sentia o cheiro doce do sangue. As manchas na roupa dos passageiros ninguém via porque não havia luz. De vez em quando passava uma fagulha que a chaminé da locomotiva botava. E os vagões no escuro. Trem misterioso. Noite fora noite dentro. O chefe vinha recolher os bilhetes de cigarro na boca. Chegava a passagem bem perto da ponta acesa e dava uma chupada para fazer mais luz. Via mal e mal a data e ia guardando no bolso. Havia sempre uns que gritavam: – Vá pisar no inferno! Ele pedia perdão (ou não pedia) e continuava seu caminho. Os vagões sacolejando. O trenzinho seguia danado para Belém porque o maquinista não tinha jantado até aquela hora. Os que não dormiam aproveitando a escuridão conversavam e até gesticulavam por força do hábito brasileiro. Ou então cantavam, assobiavam. Só as mulheres se encolhiam com medo de algum desrespeito. Noite sem lua nem nada. Os fósforos é que alumiavam um instante as caras cansadas e a pretidão feia caía de novo. Ninguém estranhava. Era assim mesmo todos os dias. O pessoal do matadouro já estava acostumado. Parecia trem de carga o trem de Magoari. Porém aconteceu que no dia 6 de maio viajava no penúltimo banco do lado direito do segundo vagão um cego de óculos azuis. Cego baiano das margens do Verde de Baixo. Flautista de profissão dera um concerto em Bragança. Parara em Magoari. Voltava para Belém com setenta e quatrocentos no bolso. O taioca guia dele só dava uma folga no bocejo para cuspir. Baiano velho estava contente. Primeiro deu uma cotovelada no secretário e puxou conversa. Puxou à toa porque não veio nada. Então principiou a assobiar. Assobiou uma valsa (dessas que vão subindo, vão subindo e depois descendo, vêm descendo), uma polca, um pedaço do “Trovador”. Ficou quieto uns tempos. De repente deu uma cousa nele. Perguntou para o rapaz: – O jornal não dá nada sobre a sucessão presidencial? O rapaz respondeu: – Não sei: nós estamos no escuro. – No escuro? – É. Ficou matutando calado. Claríssimo que não compreendia bem. Perguntou de novo: – Não tem luz? Bocejo.
– Não tem. Cuspada. Matutou mais um pouco. Perguntou de novo: – O vagão está no escuro? – Está. De tanta indignação bateu com o porrete no soalho. E principiou a grita dele assim: – Não pode ser! Estrada relaxada! Que é que faz que não acende? Não se pode viver sem luz! A luz é necessária! A luz é o maior dom da natureza! Luz! Luz! Luz! E a luz não foi feita. Continuou berrando: – Luz! Luz! Luz! Só a escuridão respondia. Baiano velho estava fulo. Urrava. Vozes perguntaram dentro da noite. – Que é que há? Baiano velho trovejou: – Não tem luz! Vozes concordaram: – Pois não tem mesmo.
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Foi preciso explicar que era um desaforo. Homem não é bicho. Viver nas trevas é cuspir no progresso da humanidade. Depois a gente tem a obrigação de reagir contra os exploradores do povo. No preço da passagem está incluída a luz. O governo não toma providências? Não toma? A turba ignara fará valer seus direitos sem ele. Contra ele se necessário. Brasileiro é bom, é amigo da paz, é tudo quanto quiserem: mas bobo não. Chega um dia e a coisa pega fogo. Todos gritavam discutindo com calor e palavrões. Um mulato propôs que se matasse o chefe do trem. Mas João Virgulino lembrou: – Ele é pobre como a gente. Outro sugeriu uma grande passeata em Belém com banda de música e discursos. – Foguetes também? – Foguetes também. – Be-le-za! Mas João Virgulino observou: – Isso custa dinheiro. – Que é que se vai fazer então? Ninguém sabia. Isto é: João Virgulino sabia. Magarefe chefe do matadouro de Magoari, tirou a faca da cinta e começou a esquartejar o banco de palhinha. Com todas as regras do ofício. Cortou um pedaço, jogou pela janela e disse: – Dois quilos de lombo! Cortou outro e disse: – Quilo e meio de toucinho!
CONTO Todos os passageiros magarefes e auxiliares imitaram o chefe. Os instintos carniceiros se satisfizeram plenamente. A indignação virou alegria. Era cortar e jogar pelas janelas. Parecia um serviço organizado. Ordens partiam de todos os lados. Com piadas, risadas, gargalhadas. – Quantas reses, Zé Bento? – Eu estou na quarta, Zé Bento! Baiano velho quando percebeu a história pulou de contente. O chefe do trem correu quase que chorando. – Que é isso? Que é isso? É por causa da luz? Baiano velho respondeu: – É por causa das trevas! O chefe do trem suplicava: – Calma! Calma! Eu arranjo umas velinhas. João Virgulino percorria os vagões apalpando os bancos. – Aqui ainda tem uns três quilos de coxão mole! O chefe do trem foi para o cubículo dele e se fechou por dentro rezando. Belém já estava perto. Dos bancos só restava a armação de ferro. Os passageiros de pé contavam façanhas. Baiano velho tocava a marcha de sua lavra “Às armas cidadãos!” O taioquinha embrulhava no jornal a faca surrupiada na confusão. Tocando a sineta o trem de Magoari fundou na estação de Belém. Em dois tempos os vagões se esvaziaram. O último a sair, foi o chefe muito pálido.
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Belém vibrou com a história. Os jornais afixaram cartazes. Era assim o título de um: “Os passageiros no trem de Magoari amotinaram-se jogando os assentos ao leito da estrada”. Mas foi substituído porque se prestava a interpretações que feriam de frente o decoro das famílias. Diante do Teatro da Paz houve um conflito sangrento entre populares. Dada a queixa à polícia foi iniciado o inquérito para apurar as responsabilidades. Perante grande número de advogados, representantes da imprensa, curiosos e pessoas gradas, o delegado ouviu vários passageiros. Todos se mantiveram na negativa menos um que se declarou protestante e trazia um exemplar da Bíblia no bolso. O delegado perguntou: – Qual a causa verdadeira do motim? O homem respondeu: – A causa verdadeira do motim foi a falta de luz nos vagões. O delegado olhou firme nos olhos do passageiro e continuou: – Quem encabeçou o movimento? Em meio da ansiosa expectativa dos presentes o homem revelou: – Quem encabeçou o movimento foi um cego! Quis jurar sobre a Bíblia mas foi imediatamente recolhido ao xadrez porque com a autoridade não se brinca.
VOCÊ SABIA QUE... ... Vasco da Gama teve grande importância não só para a história de Portugal como para a própria expansão cultural europeia? Nascido em Sines, Portugal, em 1469, Vasco da Gama foi encarregado pelo rei Manuel I de abrir uma rota marítima até as Índias (terras produtoras de especiarias) em 1497. O intuito era atenuar a vantajosa posição conquistada pela Coroa espanhola com o descobrimento da América; além, é claro, de fazer uso do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 entre os dois países, o qual garantia a Portugal o direito de exploração de praticamente todo o mundo oriental. Por muito tempo acreditou-se que a expedição tivesse margeado a costa africana até chegar ao cabo da Boa Esperança. Hoje sabe-se que Vasco da Gama se valeu de uma sofisticada estratégia para escapar das correntes contrárias do golfo da Guiné: a “volta do mar”, traçado este que aproveitava a hoje denominada corrente do Brasil. Esse nome, aliás, não é por acaso. Alguns historiadores apostam que já nessa viagem os portugueses perceberam evidências de uma nova terra a ser explorada. A chegada das embarcações portuguesas à Índia, em 1498, foi o primeiro contato direto da civilização europeia com a indiana, um marco fundamental para o decorrer da
história: estávamos na época das grandes navegações, época essa em que os europeus almejavam descobrir, conquistar e ocupar as mais diversas áreas, seja na África, Ásia ou América. AS GRANDES NAVEGAÇÕES
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ARTIGO
Fungo descoberto em castanheiras pode ter atividade bactericida Peter Moon
A
castanha-do-brasil ou castanha-do-pará é objeto de estudo de diversos grupos de pesquisa em todo o país. Um dos objetivos dos estudos é entender como evitar a contaminação das castanhas por espécies de mofo ou bolor que produzem substâncias tóxicas. Um subproduto inesperado dessas pesquisas é a descrição de uma nova espécie de fungo, o Penicillium excelsum, uma das mais de 350 espécies do gênero Penicillium, o mesmo de onde se extraiu originalmente a penicilina, o primeiro dos antibióticos. Publicado no periódico PLoS ONE, o trabalho é liderado pela bióloga e pesquisadora Marta Hiromi Taniwaki, do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), de Campinas, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, com o apoio da Fapesp. A castanheira-do-brasil (bertholletia excelsa) é uma árvore amazônica que pode alcançar mais de 50 metros de altura. A planta produz ouriços que amadurecem e caem no chão da floresta, partindo-se e liberando suas sementes, as castanhas. O Brasil lidera a produção mundial. No Acre, o maior produtor nacional, as sementes são conhecidas como castanha-do-acre. Já na Bolívia, o segundo maior produtor, o nome é almendra (amêndoa), noz amazônica ou noz boliviana. No resto do planeta, a noz comestível da castanheira amazônica é a Brazil nut, a noz do Brasil. Devido ao desmatamento, desde 1998 a castanheira-do-brasil é considerada uma espécie vulnerável à extinção, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. Sua extração é proibida por lei. A castanha-do-brasil é um produto importante na pauta de exportações da indústria extrativista da Amazônia. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção brasileira em 2013 foi de 38 mil toneladas. Os maiores consumidores são os Estados Unidos e a China. Já a União Europeia proibiu em 2000 a importação das castanhas. O embargo foi devido à presença de aflatoxinas, que são toxinas produzidas por algumas espécies de fungos, em concentrações acima do permitido pela regulação sanitária europeia. Estudos mostram que, em altas concentrações, as aflatoxinas podem atacar o fígado, causando necrose, cirrose hepática, edema e câncer. Hoje se sabe que a formação das toxinas pelos fungos nas castanhas se deve às condições de umidade na floresta e ao tempo de estocagem até as sementes atingirem um nível seguro de umidade. Castanhas que são secas à temperatura de 60 graus e mantidas em estoques apropriados apresentam menos fungos e menor possibilidade de conter
as toxinas do que aquelas armazenadas sem os mesmos cuidados. Após todos esses estudos e esforços ao longo da cadeia de extração e processamento da castanha, em 2011 a Europa levantou o embargo e voltou a comprar nossas castanhas. Ao mesmo tempo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também estabeleceu limites máximos para as aflatoxinas na castanha-do-brasil, a fim de proteger o consumidor. De acordo com Marta Taniwaki, o objetivo principal de seu trabalho com as castanhas-do-brasil era verificar a ocorrência de fungos produtores de aflatoxinas. “Além disso, estávamos interessados em conhecer a micobiota, os fungos presentes na castanha e no ecossistema amazônico ao redor das castanheiras”, explica Taniwaki. A pesquisa determinou a predominância das espécies dos gêneros Aspergillus e Penicillium no ecossistema das castanheiras, “sendo que várias espécies de Aspergillus foram capazes de produzir toxinas nos testes in vitro e nas castanhas. Alguns desses trabalhos já foram publicados, outros ainda virão em breve.” Um primeiro dividendo inesperado da pesquisa foi a descrição, em 2012, de um novo fungo, o Aspergillus bertholletius. Agora, com a descrição do P. excelsum, as surpresas continuam. “A descoberta de uma nova espécie
ARTIGO de Penicillium da floresta amazônica foi surpreendente. É uma amostra da grande biodiversidade amazônica ainda pouquíssimo explorada.” A espécie P. excelsum foi isolada a partir de amostras coletadas no Amazonas e no Pará, na floresta, em fazendas, em mercados e nas processadoras da castanha. O novo fungo foi detectado em quase todo o ecossistema das castanheiras. Ele estava presente em amostras de folhas, de cascas, de castanhas, dos ouriços, nas flores e no solo. O P. excelsum foi igualmente identificado nas abelhas que fazem a polinização das flores da castanheira, assim como em formigas. “A espécie vai se propagando por todo o ambiente em torno da castanheira.” Para isolar a nova espécie, mais de 200 amostras foram coletadas, colocadas em placas de vidro com meio de cultura apropriado e deixadas por cinco dias em estufas à temperatura de 25 graus. “Foram mais de mil isolamentos”, explica Taniwaki. “Depois de cinco dias na estufa o fungo se desenvolve e forma uma colônia.” Para saber qual seria aquela espécie de bolor, diversos processos foram empregados, nenhum com resultados conclusivos. “A morfologia da colônia e a microscopia mostrou que esta espécie era diferente de todas as que conhecíamos. Parecia se tratar de uma nova espécie.” A comprovação veio de estudos moleculares realizados por Maria Helena Fungaro, na Universidade Estadual de Londrina, e por Jens Frisvad, na Universidade Técnica da Dinamarca. A descrição final da nova espécie foi feita por John Pitt, no CSIRO Food Nutrition, a agência de pesquisa científica de alimentos da Austrália.
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Esta nova espécie de Penicillium não é a primeira a ser detectada no ecossistema das castanheiras. Segundo Taniwaki, as espécies P. glabrum e P. citrinum já foram isoladas das castanhas-do-brasil. P. citrinum produz a micotoxina citrinina, uma substância nefrotóxica com potencial para causar danos aos rins. P. glabrum produz a citromicetina, com atividade bactericida. “A diferença entre antibiótico e micotoxina é que o primeiro combate os microrganismos e a última os animais e os humanos”, explica. Diversas espécies de fungos do gênero Penicillium produzem antibióticos que têm a propriedade de combater infecções causadas por vírus, bactérias e outros fungos. A descoberta de tais propriedades se confunde com a descoberta do primeiro antibiótico, a penicilina. Em 1928, o inglês Alexander Fleming estudava as propriedades das bactérias estafilococos em seu laboratório no Hospital St. Mary, em Londres. Em setembro daquele ano, ao retornar ao laboratório após um mês de férias, Fleming percebeu que uma de suas culturas de estafilococos estava contaminada por um fungo e, nos pontos de contato onde a colônia circundava o fungo, ela havia sido destruída. Ao investigar aquele mistério, Fleming acabou isolando a substância produzida pelo fungo do gênero Penicillium que exterminava bactérias. Batizou-a com o nome de penicilina. “Ainda não sabemos se esta nova espécie produz alguma substância metabólica de interesse para a indústria farmacêutica”, afirma Taniwaki. “Mas vamos investigar.” Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, abr./2016.
(ENTRE PARÊNTESIS)
Cesto de pães Um garoto saiu à rua com um cesto de pães para vender. Na primeira casa a freguesa lhe pediu: – Quero a metade do que você tem aí mais meio pão. Na segunda casa a freguesa também lhe pediu: – Quero a metade do que você tem aí mais meio pão. Na terceira casa a freguesa, para variar, lhe pediu: – Quero a metade do que você tem aí mais meio pão. Com isso os pães acabaram. Pergunta-se: quantos pães havia no cesto?
RESPOSTA x−3 pães no cesto. 4
O que implica x = 7.
x−1 f − 2
x 1 x−1 pães. Depois da 1ª freguesa, o garoto ficou com x − d + n pães, isto é, com 2 2 2 x−1 2 + 1 p pães, isto é, com 2 2
Depois da 2ª freguesa, o garoto ficou com
Seja x o número de pães que havia no cesto.
Mas então os pães se acabaram. Logo
x−7 pães. 8
x−7 = 0. 8
Depois da 3ª freguesa, o garoto ficou com
x−3 f − 4
x−3 4 + 1 p pães, isto é, com 2 2
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ESPECIAL
Manhã Interativa Evento reúne alunos e professores para atividades com jogos.
A
lunos da Educação Infantil ao quinto ano do Ensino Fundamental trouxeram seus jogos favoritos para brincar e compartilhar experiências com colegas e professores na Manhã Interativa do Colégio Etapa. A finalidade do evento realizado no mês de abril foi promover a integração entre os estudantes. A atividade, que acontece duas vezes por ano, transformou o colégio em um grande salão de jogos. A iniciativa foi positiva para o desenvolvimento da comunicação, pensamento estratégico e trabalho em equipe. A próxima edição será no segundo semestre do ano, com o tema “leitura”, ocasião em que os alunos irão desenvolver atividades relacionadas aos livros trabalhados em sala de aula. Veja a galeria de fotos disponível na área do Colégio Etapa.
Aplicativo Fila Fácil Ferramenta diminui tempo de espera dos pais na saída dos alunos em até 60%.
C
om a finalidade de otimizar o tempo de espera dos motoristas, organizar a saída e garantir a segurança dos alunos na saída do Colégio Etapa, desde o dia 14 de março o aplicativo Fila Fácil está disponível para usuários da Apple Store e Google Play. Uma recente pesquisa feita com os pais que utilizam o aplicativo apontou que 80% concordam que o Fila Fácil diminuiu o tempo de espera, e 70% afirmam que o aplicativo
ajudou a organizar a fila de carros. “A iniciativa é ótima e ajuda na segurança”, disse a mãe Regina Akemi Yamamoto. Para receber o aplicativo, basta cadastrar-se na área exclusiva do Colégio Etapa e fazer download. Uma vez cadastrado, o usuário responsável registra o aluno que deve buscar. Após isso, o estudante é direcionado para a baia de acesso de veículos e o motorista recebe uma notificação de que o aluno está pronto para o embarque.
AGENDA CULTURAL
Jornal do Colégio
São Paulo – Clube de Cinema (quintas, das 19h às 21h, sala 65) 02.06 – Whiplash: em busca da perfeição (Damien Chazelle: 2014). 09.06 – A pele de Vênus (Roman Polanski: 2013). São Paulo – Clube de Debate (mensal, das 19h às 21h50min, sala 87) 06.06 – “É apenas uma piada: liberdade de expressão tem limite?” São Paulo – Clube do Livro (quinta, das 19h às 21h, sala 65) 23.06 – Macbeth (William Shakespeare). Valinhos – Clube de Cinema (sextas, das 14h05min às 16h05min, sala 209) 03.06 – Vênus Negra (Abdellatif Kechiche: 2010). 10.06 – O leitor (Stephen Daldry: 2008).
Jornal do Colégio ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1 987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP JORNALISTA RESPONSÁVEL: Egle M. Gallian – M.T. 15343