Artigo sono da alma e estado intermediário

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ESCOLA TEOLÓGICA DE SEMEADORES Este artigo é dedicado à responder às questões levantadas durante o estudo do livro do apocalipse, especificamente na frase “E tenho as chaves da morte e do inferno” Ap. 1:18, pelo Doutor e Pastor Kaique Nicolau da Igreja Assembleia de Deus do Campo do Taboão, as quais passo a descrever abaixo: “Após a morte, Cristo desceu ao inferno para pregar a palavra e as pessoas que o aceita são levadas ao céu”; “O que subiu é o mesmo que desceu e deu dons aos homens”; “Ao partirmos desta terra para a glória do Pai, não com corpo glorificado, mas não estaremos dormindo, mas acordado, e ainda não veremos a face de Deus”; “Quem morrer já estará no Hades/Inferno já queimando no fogo ardente desde este tempo presente; “Não estaremos dormindo porque as pessoas estavam acordadas para que Cristo pregasse a palavra e ou então Ele as acordou”!?; “Nós estaremos dormindo em Cristo e só acordaremos no juízo final”; “Quais são as linhas de pensamentos?”

Palavras chaves: Chave do céu, sono da alma e descida no hades.

INTRODUÇÃO O estudo da escatologia bíblica está inserido na teologia sistemática e tem seu ponto realmente culminante na compreensão do desfecho dos propósitos de Deus, nela revelada. A linguagem escatológica é rica em figuras de linguagem e símbolos, que nos cativa e nos leva a uma reflexão e investigação profunda sobre seus significados e o que representam nos propósitos Divinos. Em razão de sua linguagem e simbolismos, a teologia escatológica é permeada de diversas linhas de pensamentos, que muitas vezes deixam a teologia bíblica para assumirem um papel eminentemente de teses, daí a importância de se voltar para as Escrituras Sagradas e nela encontrar sua própria interpretação. É importante que aquele que deseja se dedicar aos estudos escatológicos dedique algum tempo para compreender os Métodos de Interpretações: alegórico, literal ou histórico gramatical, bem como suas Escolas: Alexandrina ou Antioquia, pois estes métodos e escolas do pensamento irão lhe auxiliar, de modo a compreender pontos difíceis e entender melhor as razões pelas quais muitas vezes os métodos e escolas se divergirão na interpretação, e em outras oportunidades serão complementares e assim por diante. Passemos então a responder as questões levantadas as quais estão inseridas na Teologia Sistemática, na Cristologia, Hamartiologia, Soteriologia e Escatologia.

Professor Altair Antonio da Silva

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ESCOLA TEOLÓGICA DE SEMEADORES A DESCIDA DE CRISTO NO SEIO DA TERRA Encontramos a seguinte descrição no Evangelho de São Mateus que assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o filho do homem, três dias e três noites no seio da terra (Mt 12:40). Isto significa dizer que ficou desde o alvorecer da quinta-feira até o domingo, no coração da terra, tendo as portas de seu tumulo serrada. Vale dizer que Cristo não ficou apenas na terra, porém, desceu às partes mais baixas da terra, conforme escrito em Efésios 4:8. Em uma linguagem mais poética desse período está escrito em Salmos 16:10, acerca da não permanência de Cristo nesse lugar “...não deixará minha alma no inferno, sheol, lugar de habitação dos mortos..”, que à época era composto por dois ambientes eternos e inescapável, o primeiro um paraíso dos salvos e o segundo era o local de sofrimento onde estavam os perdidos (Lc 16:19-31), onde agora só existe o segundo ambiente, o local de sofrimento. O que Cristo fez durante o período de sua morte? No dia de pentecostes Atos 2:27, Pedro cita o Salmo 16:10, “porque não deixará a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santos veja a corrupção”, porém a palavra inferno no grego “hades” e a palavra hebraica “sheol” significam tumulo ou morte, “o estado de morte”, assim seu corpo não seria decomposto, pois o corpo de Cristo não ficou no sepulcro, como o de Davi. Quem subirá ao Céu [trazer do céu] Quem descerá ao abismo [levantar a Cristo dentre os mortos] Rm 10:6-7, Dt 30:13, esta retorica eram proibidas, pois era uma declaração contrária à fé, assim Paulo teria afirmado que Cristo desceu ao inferno, para que não fossem feitos esses questionamentos, porém, o sentido era de que Cristo teria ido a um lugar de punição dos ímpios, expresso pelo termo grego geenna, antes, teria ido para o abismo, do grego abyssos, significando profundezas (Gn 1:2; 7:11, 8:2, Dt 8:7) ou âmbito dos mortos (Sl 70, 71), contrapondo a céu, com o significado de inatingível e inacessível ao homem. Quanto a frase “desceu às regiões inferiores da terra” (Ef 4:8-9), assim, referindo que Cristo do céu, desceu à terra, isto em seu nascimento, desse modo o apostolo afirmou que aquele que subiu na ascensão é o mesmo que desceu à terra em sua encarnação. As palavras de Pedro em 1Pedro 3:18-20 “foi e pregou aos espíritos em prisão”, nos pensamentos de alguns tomam o sentido de que Cristo foi ao inferno e pregou aos espíritos que alí estavam, dando a eles uma nova oportunidade de conversão e arrependimento. Iremos comentar sobre esse ponto um pouco mais abaixo em outros tópicos. ORIGEM DA FRASE DESCEU AO INFERNO

O credo apostólico traz a frase “foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao inferno e ao terceiro dia ressuscitou”, o qual não foi aprovado, como o Credo de Nicéia e o de Calcedônia, porém tomou forma no período de 200 Dc. Até 750 Dc, ocorre que antes não Professor Altair Antonio da Silva

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ESCOLA TEOLÓGICA DE SEMEADORES havia esta frase, até que apareceu na versão de Rufino em 390 DC, e nas versões posteriores a 650 Dc. Todavia Rufino entendia que Jesus havia apenas descido à sepultura, da forma grega hades, aos invés da forma hebraica geena, inferno ou lugar de punição. Calvino entendia que a descida de Cristo ao inferno, significava que seu sofrimento ia além da morte física, pois teria experimentado a severidade da vingança de Deus, aplacando sua ira na satisfação do julgamento. Heidelberg em seu catecismo afirma que a descida de Cristo está relacionada a angustia e sofrimento pela qual passou, e isto em nosso lugar, de modo que devemos, nas tribulações ter confiança, pois ele padeceu por nós. Westminster, o Catecismo Maior interpreta que a descida ao inferno, refere-se ao estado de humilhação de Cristo, de maneira que após sua morte, foi sepultado e continuou no estado de morto e sob o poder da morte até o terceiro dia, em que ressuscitou. O ESTADO DA ALMA PÓS-MORTE – SONO DA ALMA (PSICOPANIQUIA) Esta doutrina nega a exitência consciente da alma depois da morte, e na época da reforma foi defendido pelo anabatistas, de modo que Calvino escreveu o tratado intitulado Psychopanychia contra eles. Também os seguidores de Edward Irving e os russelitas e os sectários da aurora do milênio nos Estados Unidos, afirmam que o corpo e a alma descem à sepultura, a alma num estado de sono ou de não existência, ou também conhecido como aniquilacionismo da alma, portanto, negam também a existência de inferno ou sofrimento eterno. Com a finalidade de comprovar usam as seguintes passagens bíblicas, afirmando que a morte é descrita como sono, Mt 9.24; At 7.60; 1 Co 15.51; 1 Ts 4.13, não do corpo, mas da alma e que estariam assim os mortos, inconsciente, Sl 6.5; 30.9; 115.17; 146.4; Ec 9.10; Is 38.18, 19. Desta forma nega a existência da alma de uma consciência. Quanto ao sofrimento logo após a morte não seria possível, conforme, Mt 7.22, 23; 25.37-39, 44; Jo 5.29; 2 Co 5.10; Ap 20.12, 13, para isto levam em consideração a ausência de relatos de experiência.

CONTRARIEDADES DO SONO DA ALMA O sono é algo característico de um corpo físico e não da alma, que é imaterial, portanto, não mencionado pelas Escrituras Sagradas, ademais a morte é a separação da vida e da existência desse mundo e de suas atividades. As Escrituras Sagradas retrata os crentes em comunhão com Deus e com Jesus imediatamente após a morte, Lc 16.19-31; 23.43; At 7.59; 2 Co 5.8; Fp 1.23; Ap 6.9; 7.9; 20.4. Destarte a inconsciência descrita nas Biblia Sagrada salienta que no estado de morte, o homem não tem mais parte nas atividades desse mundo, e não que não se lembra mais ou que esteja incosciênte, de modo que o corpo volta ao pó. Professor Altair Antonio da Silva

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ESCOLA TEOLÓGICA DE SEMEADORES Quanto a necessidade de esperar um julgamento final para iniciar o sofrimento ou a recompensa, este dia não é necessário, pois no juízo haverá apenas a leitura da sentença e justiça de Deus.

PENSADORES DO EXTINCIONISMO E IMORTALIDADE O extincionismo foi ensinado por Arnóbio e pelos socianianos, e pelos filósofos Locke e Hobbes e afirmam que o homem é mortal, porém a alma foi privada da imortalidade em razão do pecado, de modo que será destruída e retirada sua consciência, deixando de existir, por não ter crido em Jesus, sendo portanto um dom de Deus. Alguns defensores dessa doutrina afirmam que na verdade permanece apenas uma idéia do sofrimento por um período limitado. Para isto, selecionam textos bíblicos afirmando que a imortalidade é inerente apenas a Deus 1 Tm 6.16; não encontrando suporte para imortalidade da alma do homem a não ser como um dom de Deus alcançada por meio de Cristo, Jo 10.27, 28; 17.3; Rm 2.7; 6.22, 23; Gl 6.8; de modo que os sem Cristo serão reduzidos à não existência ou aniquilados Mt 7.13; 10.28; Jo 3.16; Rm 6.23; 8.13; 2 Ts 1.9. CONTRARIEDADES DO ANIQUILACIONISMO Deus de fato é imortal por excelência, porém não se pode confundir a imortalidade dada ao homem por meio de sua alma na criação, quer seja crente ou impio, por outro lado não podemos confundir imortalidade com a vida eterna, que é o dom de Deus em Jesus Cristo, para os que nele crer, não podendo entender que os termos “morte”, “destruição” e “perecer” denotam uma redução à não existência. As Escrituras Sagradas afirmam a existência pós morte, tanto dos justo quanto dos ímpios Ec 12.7; Mt 25.46; Rm 2.8-10; Ap 14.11; 20.10, porém com uma diferença significante, os impios sofrerão eternamente cônscios de sua dor, porém em graus diferentes Lc 12.47, 48; Rm 2.12, não se pode confundir a ideia de morte com a aniquilação ou extinção., pois o termo morte infere que o homem está espiritualmente morto antes de cair presa da morte física, mas isso não envolve perda do ser ou da consciência, Ef 2.1, 2; 1 Tm 5.6; Cl 2.13; Ap 3.1, assim a aniquilação não pode ser entendida como uma punição, que implica em consciência de sofrimento e demérito. . POSSIBILIDADE DE SALVAÇÃO NO ESTADO INTERMEDIÁRIO Essa doutrina foi defendida no século dezenove, por Mueller, Dorner e Nitzsch na Alemanha, por Godet e Gretillat na Suíça, por Maurício, Farrar e Plumptre na Inglaterra, e por Newman Smythe, Munger, Cox, Jukes e vários outros teólogos de Andover nos Estados Unidos.

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ESCOLA TEOLÓGICA DE SEMEADORES Os defensores deste pensamento afirmam que é possivel a salvação mediante Cristo e que ninguém será condenado sem está segunda oportunidade, que é dada mesmo pós morte, no estado entre a morte e a ida para o destino final, onde irão somente os que resistirem a oferta da graça, sendo certo que nem todos a receberão, porém todas as crianças a receberão. Para isto fundamentam em 1 Pe 3.19 e 4.6, posto que Cristo no período entre sua morte e ressurreição pregou aos espíritos no hades. Sendo a incredulidade a motivaçao única para condenação, Jo 3.18, 36; Mc 16.15, 16; Rm 10.9-12; Ef 4.18; 2 Pe 2.3, 4; 1 Jo 4.3. CONTRARIEDADE DE SALVAÇÃO NO ESTADO INTERMEDIÁRIO Em que pesem o esforço deles nessa defesa, somente provam que a fé em Cristo Jesus é o único meio de salvação e que a incredulidade é um grande pecado, pois o regeita conscientemente, soma-se ainda nesse sentido, que não é preciso esperar o além morte para ser condenado, pois segundo as Escrituras Sagradas os homens sem Cristo já estão condenados Mt 13.31, 32; 1 Co 14.24-28; Fp 2.9-11. Portanto, o estado pós morte é inalterado quanto à sua sentença, veja-se Lc 16.19-31, Ec 11.3; Jo 8,21, 24; 2 Pe 2.4, 9; Jd 7.13, 1 Pe 3.19. Além do mais é farta as passagens que descreve que o homem é julgado pelo que fez em carne e não no estado intermediário, pois lá não é possível produzir obras ou mudar as açoes do passado ou futuro, Mt 7.22, 23; 10.32, 33; 25.34-46; Lc 12.47, 48; 2 Co 5.9, 10; Gl 6.7,8; 2 Ts 1.8; Hb 9.27. Além do mais as Escrituras Sagradas não apontam supostos previlegiados que lhes serão dadas novas oportunidades de salvanção ou até mesmo que crianças terão esta oportunidade, Rm 1.32; 2.12; Ap. 21.8. Caso isto for considerado não teria motivo para a existência de profetas, ou o ministério evagenlistico de Cristo, ou até mesmo o exercicio da ativiade missionária, haja vista que no pós morte o homem após conhecer de seu destino poderia mudar de opinião, assim, colocaria por terra a necessídade de se ter fé, haja vista nesse estado não seria por fé, mais por vista. Assim notamos então as contrariedades desse ensino do estado intermediário.

CONSIDERAÇÕES Este artigo não esgota o assunto sobre este tema tão importante, ainda há muito o que se falar sobre ele, porém, acredito que servirá nos trazer um pouco de clareza e nos motivará a buscar um pouco mais, conhecer sobre obra tão importante realizada por Cristo Jesus. O que Cristo Jesus fez por nós é tão intenso e profundo, que nos faz acrescentar à nossa fé a esperança e a certeza, que nada pode detê-lo, e hoje está à direita de Deus, e todo poder nos céus e na terra retornaram para Ele. Sim, digo que retornaram pois a infinitude de seu poder e divindade não lhe foram tiradas, mas Ele a sí próprio se despiu para mais tarde tornaProfessor Altair Antonio da Silva

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ESCOLA TEOLÓGICA DE SEMEADORES lo a tê-lo, e pelo Espirito Santo foi feita as primícias dos mortos na ressurreição e nele esperamos também. Glórias a Deus, a Cristo Jesus, que é Senhor sobre Céus e Terra e tem a chave, autoridade, sobre a vida e a morte.

REFERENCIAS BÍBLIOGRAFICAS

ALMEIDA, João Ferreira de: Bíblia Sagrada BERKHOF, Louis: Teologia Sistemática. Ed. Luz para o caminho PENTECOST, J. Dwight, Manual de Escatologia: Ed. Vida NOVAH, Maria Salette da Silva, Apocalipse, livro aberto CABAL, Elienai: Comentário Bíblico: Efésios, 3ª Ed. – Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1999 GRUDEM, Wayne, Teologia Sistemática Atual e Exaustiva, Ed. Vida. São Paulo. Professor Altair Antonio da Silva

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